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I – HOMILÉTICA

“Como maçãs de ouro em salva de prata, assim é a palavra dita há

seu tempo”. Pv 25:11

1. Definição

O termo homilética deriva do substantivo grego "homilia", que significa

literalmente "associação", "companhia", e do verbo homileo, que significa

"falar", "conversar". O Novo Testamento emprega o substantivo homilia em

1 Coríntios 15.33 - “... as más conversações corrompem os bons costumes”.

Mas foi a partir do século IV que os pregadores cristãos começaram a

estruturar suas mensagens, seguindo as técnicas da retórica grega e da

oratória romana. Com efeito, porém, desde o primeiro século da Era Cristã,

esta influência estrutural da homilética já começava a ser sentida no

Cristianismo. Não é de se surpreender, portanto, que a maioria dos

teólogos cristãos primitivos compunha-se dos que aceitavam as teorias

gregas e romanas, pois muitos deles eram filósofos neoplatônicos

convertidos ao Cristianismo ou estavam sob a influência dessas idéias

(conforme foi o caso de Justino Mártir, de Clemente de Alexandria, de

Orígenes, de Agostinho, de Ambrósio e muitos outros).

Mas foi no periodo do Iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII, que

algumas disciplinas teologicas receberam nomes gregos, como,

dogmática, apologética e hermenêutica.

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O alemão Stier, foi quem propôs Kerictica como nome que é uma

derivação de keryx, qual o significado é “arauto”. Já Sikel sugerio haliêutica,

oriundo de halieos, que significa “pescador”.

O termo "homilética" tornou-se assim universalmente conhecido

como a disciplina teologica que estuda a ciência, a arte e a técnica de

analisar, estruturar e entregar a mensagem do evangelho.

"A homilética é ciência, quando considerada sob o ponto de vista de seus

fundamentos teóricos (históricos, psicológicos e sociais); é arte, quando

considerada em seus aspectos estéticos (a beleza do conteúdo e da forma);

e é técnica, quando considerada pelo modo específico de sua execução ou

ensino."

O termo "homilética" tem suas raízes etimológicas em 3 palavras da

cultura grega:

1. Homilos, que significa "multidão", "turma", "assembleia do povo" (cf. At

18.17);

2. Homilia, que significa "associação", "companhia" (cf. 1 Co 15.33); e

3. Homileo, que significa "falar", "conversar" (cf. Lc 24.14s.; At

20.11,24.26).

2. Origem da Homilética

Não podemos falar sobre Homilética, sem antes fazer um fundo histórico

da retórica e oratória.

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Desde os tempos mais remotos, quando o homem começou o convívio

social, ouve a necessidade de por nomes as coisas e organizar suas idéias.

Ele vem desenvolvendo os meios de comunicação oral e logo após veio à

necessidade da escrita. No principio utilizavam os pictogramas (figuras

simbólicas), depois vieram os ideogramas (sinais que representam idéias),

mais tarde vieram os hieróglifos (desenhos que representavam sons

vocais), e por fim as letras (sinais que representa sons vocais).

3. A origem da Conversa

A convivência social, que levou o homem a criar palavras e frases levou o

mesmo a reproduzir a conversa, isto é, a troca de idéias. Os gregos a

chamavam de “homilia” já os romanos chamavam de sermonis que significa

conversa.

4. A origem do Discurso

Das mesmas necessidades da palavra e da conversa originaram-se o

discurso. Não se sabe a origem exata, mas se tem uma idéia de como

surgiu: justamente quando alguém teve a necessidade de “aumentar a sua

voz” para se comunicar com o grupo, provavelmente a família. Quando um

pai tentava comunicar sua idéia ou quando um comandante militar queria

comunicar as suas ordens falava mais alto, surgindo, assim, o “discurso”.

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5. A origem da Retórica

Quando surgiu a democracia na Grécia, os cidadãos se reuniam nas

praças para participarem diretamente das discussões e das liberações

públicas sobre os problemas cotidianos comuns. Não tardou a se perceber,

que os cidadãos falantes, com fluência verbal, aqueles que se expressava

mais adequadamente, sempre ganhavam destaque, alem de conseguir

dominar a situação, influenciando a opinião alheia e saindo vitoriosos em

suas teses. Não era só isso, além de tudo, caíam na graça do povo, sendo

admirados por todos e acabavam por galgar os melhores cargos públicos

na sociedade. Não demorou muito para surgir os grandes mestres como:

Demóstenes, Sócrates, Platão, Aristóteles e outros que se espalharam por

todo país.

Mais sem dúvida foi Demóstenes o maior orador grego de extraordinária

eloquência, contemporâneo de Filipe da Macedônia, que através das

filípicas, Orações violentas, atacavam a sua política, denunciando-lhe as

intenções de dominar a Grécia. Demóstenes tornou-se o maior orador

grego depois de vencer uma série de dificuldades físicas, como respiração,

dicção, articulação e postura, além de falar baixo e de ter pouca resistência,

não lhe creditavam as condições mínimas para que pudesse atingir seu

objetivo de tornar-se orador.

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A determinação

Ao iniciar sua preparação, isolou-se num local onde ninguém pudesse

perturbá-lo para que sua concentração e meditação fossem completas. A

sua dicção foi corrigida com seixos que colocava na boca e com os quais

procurava pronunciar as palavras de forma mais correta possível;

discursava na praia vencendo o barulho das ondas; correr, subindo

montanhas íngremes, recitando trechos de autores gregos para

desenvolver o fôlego, etc. Outros maus hábitos, como o de levantar os

ombros quando fava foi também corrigido com disciplina rígida. O

resultado de seus esforços foi gratificante. Ele conseguiu aquilo que

almejava.

Assim, a democracia grega não só influenciava o comportamento político

de seu povo, mas passava a influir também na educação, determinando

uma nova filosofia educacional.

Definição

O vocábulo retórico (do Grego, “rhetor”, orador numa assembleia) tem

sido interpretado como a arte de falar bem ou a arte de oratória, isto é, a

arte de usar todos os meios e recursos da linguagem com o objetivo de

provocar determinado efeito nos ouvintes.

Os gregos sofistas a dividiam em três grupos:

• Política

• Forense

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• Epidíca (demonstrativa)

A retórica teve início no ano de 465 a.C. Dois homens dotados de grande

inteligência e poder verbal começaram a ensinar o povo a se defender, por

meio da palavra bem construída, dos ataques dos tiranos de Siracusa.

Tísias e Córax resolveram escrever o primeiro tratado sobre a arte de falar

bem, instruindo as vítimas usurpadas de suas propriedades e de outros

direitos a sustentarem suas razões nos tribunais da cidade, com firmeza,

com destemor, com argumentos sólidos e técnicas apropriadas. Tíssias

tornou-se discípulo mais famoso de Córax.

Quando Córax lhe cobrou as aulas ministradas, Tíssias recusou a pagar,

alegando que, se fora bem instruído pelo mestre, estava apto a convencê-lo

de não cobrar, e, se este não ficasse convencido, era porque o discípulo

ainda não estava devidamente preparado, fato que desobrigava de

qualquer pagamento. O resultado é que Tíssias ganhou a questão.

REGRAS DO DISCURSO CRIADAS POR CÓRAX

Córax formulou uma série de regras para dividi o discurso em cinco

partes:

• Proêmio (prólogo)

• Narração

• Argumento

• Observações adicionais

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• Peroração (epílogo)

A regra estabelecida por Córax tinha como objetivo proteger o povo dos

tiranos que utilizavam da oratória para tirarem proveito próprio. Por isso

que a palavra “demagogo” significa “guia do povo” ou “líder popular”, logo

passou a significar, pejorativamente, aquele que ilude que engana o povo,

que trapaceia com o povo. Sócrates se opôs a retórica dos sofistas por

causa do utilitarismo deles e de sua falta de ética, mas reconheceu que ela

poderia se revestir de significado.

Aos poucos a nova arte foi ganhando brilho e graça fazendo parte da

formação cultural dos jovens da época. Alastrou-se pelo mundo e ganhou

foros de sacralidade nos tempos de ouro da cultura grega, com

Demóstenes, Péricles e Sócrates, quando mais uma vez foi usada para a

pregação do que existe de grandioso no espírito humano.

6. A origem da Oratórica

A origem da oratória está fortemente associada às causas nobres, como a

construção do império do direito contra a violência das armas, a afirmação

da dignidade humana, a construção do bom governo, a busca do bem, do

belo e do justo.

Obs. A retórica inventada pelos gregos chegou ao mundo romano com o

nome de oratória e para o campo religioso com o nome de homilética. Mas

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a partir do século IV a.C, retórica e oratória tornaram-se sinônimos para o

discurso profano e homilética para o campo sacro.

7. A Homilética antes da Homilética

A homilética cristã é historicamente herdeira da tríplice hierarquia

judaica: rei — sacerdote — profeta.

Pode-se dizer dos Sacerdotes que estes praticavam uma homilética da cele-

bração do cotidiano. O sermão sacerdotal atua, em geral, como recapitula-

ção da memória fundante de Israel e convocação à prática dos preceitos

dados por Deus e registrados nos escritos sagrados — Torá (Lei), dos Nebiim

(Profetas) e dos Ketubim (Escritos).

Quanto aos Reis-pregadores, tratava-se de uma homilética da sabedoria

familiar. Na Bíblia Hebraica, constata-se a responsabilidade homilética de

chefes de família, de clãs e de reis. O papel de pregador não se restringia

aos reis. Também era responsabilidade dos “anciãos de Israel”, isto é, dos

chefes de família, explicar para os seus familiares e agregados o sentido das

festas e das cerimônias religiosas que, como povo, celebrava anualmente.

Por essa prática homilética as tradições e a cultura religiosa eram transmiti-

das de geração a geração.

Quanto aos Profetas, sua homilética é a da contestação e da esperança. A

homilética profética judaica se manifestava de duas maneiras: no anúncio

das promessas divinas e nas denúncias de eventuais desvirtuamentos em

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relação à vontade divina. Deve-se acrescentar, a respeito dos profetas, que

sua pregação não se restringia ao discurso oral. Muito de sua pregação se

efetivava por meio de atos simbólicos, do gestual, do vestuário (ou ausência

dele) e do seu próprio estilo de vida. Os profetas se comunicavam verbal-

mente (alguns chegavam a gritar, cf. Is 40.6), alguns poucos escreviam suas

mensagens, mas, “falado ou escrito, o seu discurso, feito de palavras e de

frases, se desdobrava em outra linguagem, a dos sinais, dos gestos”. Por-

tanto “a palavra dos profetas era também ‘gestual’; as suas proclamações

oratórias eram pontilhadas de atos significativos rasgando mantos (1 Rs

11.30 – 32), brandindo chifres de ferro (1 Rs 20.35 – 43), casando com prosti-

tutas (Oséias), dando nomes-mensagens aos filhos (Is 7.3; 8.3; 7.14; 8.3s),

andando nus e descalços (Is 20), lavando cintos no Eufrates (Jr 13.1 – 11),

quebrando jarros (Is 19), carregando cangas no pescoço (Jr 27), trancando-

se em casa, mudos e atados (Ez 3.24 – 64), cortando fios da barba e do

cabelo (Ez 5.1 – 3), comendo alimento de miséria (Ez 12.17 – 20), para citar-

mos uns poucos exemplos.

Da profecia bíblica, a práxis homilética herdou a solidariedade para com

o povo oprimido e o engajamento no serviço de uma Palavra que trans-

cende o orador o discurso verbal, chegando mesmo a expressar-se espeta-

cularmente por meio de atos simbólicos significativos, com vistas à trans-

formação da realidade.

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8. A Homilética Cristã

A análise da práxis homilética de Jesus, dos apóstolos e dos primeiros

líderes cristãos, ajudará na compreensão do conceito de pregação cristã.

Jesus: uma homilética da (con)vivência.

Conforme relato das comunidades dos evangelistas Lucas e Marcos, prin-

cipalmente, o próprio Jesus teria afirmado que sua missão consistia numa

tarefa homilética (ver Lc 4.18 – 19 e Mc 1.38 – 39). Em síntese, Jesus era um

pregador itinerante.

Pelos registros evangélicos, nota-se que Jesus pregava com simplicidade

sobre uma grande variedade de temas e que conquistava a simpatia dos

seus interlocutores. Nas páginas dos evangelhos, Jesus é sempre encon-

trado pregando: quer sejam pregações formais nas sinagogas; pregações

ocasionais nas praias, pelos caminhos, sobre as montanhas e vales; ou pre-

gações individualizadas dirigidas a pessoas com quem se encontrava nas

casas, nas praças, alhures e algures.

Note-se o uso que Jesus fazia da linguagem imagética, do raciocínio ana-

lógico, das figuras de linguagem, particularmente as metáforas, da cenogra-

fia, das possibilidades acústicas, da linguagem corporal, etc. A maneira

como seus discursos surpreendem, despertam o interesse, apresentam o

contraponto ideológico e rendem o auditório são dignos de nota.

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A interpretação mais notável que os evangelhos fazem do estilo homilé-

tico de Jesus é o registro do Sermão da Montanha (Mt 5). A homilética de

Jesus não seria tão notável, entretanto, se estivesse restrita somente ao

nível do discurso. A força persuasiva da sua pregação é reforçada por seu

modo de vida. A novidade da homilética de Jesus está, portanto, na sua prá-

xis, isto é, na maneira como ele combina palavra e ação: é, portanto, uma

homilética da vivência e da convivência.

Pedro: uma homilética da emoção e da persistência.

O sermão de Pedro, no dia de Pentecostes (At 2.14 – 36), se caracteriza

pela ausência do elemento subjetivo; pelo mérito conferido à obra do Espí-

rito Santo; pelo apelo à história e à profecia, como base da fé; pela citação

abundante das Escrituras; pela proclamação direta do evangelho (culpabili-

dade humana e salvação mediante a morte e ressurreição, ascensão e glori-

ficação de Jesus). Pedro evoca os escritos proféticos para fundamentar sua

prédica. A seguir, interpreta a palavra profética a partir da vida e dos ensi-

namentos de Jesus. Mais do que re-interpretar o texto sagrado, o próprio

Jesus é apresentado como o Messias a respeito de quem os textos sagrados

se referem.

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A pregação nos primeiros séculos: uma homilética familiar e

eloquente.

Ao longo de três séculos, a pregação teria apresentado distinto pro-

gresso. O caráter menos técnico de pregações como as de Pedro, deu lugar

a uma forma mais sistematizada de discurso; o ensino, que era principal-

mente expositivo, tornou-se lógico e claramente demarcado; a homilia,

que tinha caráter informal, foi substituída pelo sermão, muito mais formal;

os argumentos até então simples e suficientes, baseados unicamente nas

Escrituras, agora carecem da complementação da opinião humana por

causa do aumento da erudição do público; a essa influência intelectual

acrescente-se o efeito da cultura retórica. Nesse período, a prédica se

caracterizou definitivamente como parte integrante da expressão litúrgica

das comunidades cristãs.

Cultura geral, conhecimento dos textos bíblicos e de autores clássicos,

conhecimento dos princípios da gramática e da retórica, bem como da exe-

gese bíblica (com os limites da época, naturalmente, pois a noção de exe-

gese era diferente do que a modernidade consagrou por meio do método

histórico-crítico), traduzidas num discurso acessível e apaixonadas,

proferidas no contexto celebrativo da comunidade cristã, fizeram de prega-

dores como Jerônimo, Ambrósio e Agostinho, referência homilética para as

futuras gerações de pregadores cristãos.

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9. A homilética medieval

A pregação na Idade Média: uma homilética mendicante

O período de nove séculos que formam a Idade Média, que vai desde a

queda do Império Romano (séc. V), até o nascimento do mundo moderno

(séc. XV), é marcado pela propagação do cristianismo por toda a Europa.

Nele se dá a transição do fim da Patrística e o começo da Escolástica.

A Idade Média foi marcada por um tipo de racionalidade muito peculiar,

por um lado, e por uma mística inusitada, por outro. A homilia — como dis-

curso familiar, simples e íntimo — foi substituído pelo discurso tópico

(temático), bem ao gosto dos melhores pregadores gregos, e nos moldes da

filosofia escolástica.

Em contrapartida na Escolástica, dissemina-se uma mística que contagia

o povo e alarma a hierarquia, que ficou conhecida como movimento das

ordens mendicantes. Dentre seus maiores expoentes está Francisco de

Assis (1182 – 1226). Francisco de Assis preferia pregar a céu aberto para as

multidões que se ajuntavam ao seu redor, em lugar de fazê-lo nas igrejas,

mesmo aquelas que se ofereciam para acolhê-lo. Sua pregação se distanci-

ava do intelectualismo e do dogmatismo rígidos do seu tempo e procurava

apresentar Cristo “de todo o seu coração”, convidando seus ouvintes para

seguirem a Cristo como ele mesmo o fazia. Essa postura não o protegia das

superstições que grassavam nas camadas populares, a despeito da ortodo-

xia do alto clero.

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Tais eram os pregadores místicos: faziam votos de pobreza e de casti-

dade, entusiásticos e dedicavam-se à pregação em linguagem própria da

região (enquanto o alto clero preferia o latim), e frequentemente buscavam

inspiração na natureza e apelavam para o exemplo de Jesus, enfatizando

sua humildade e pobreza. “Se os Escolásticos eram luz sem coração, os Mís-

ticos eram coração sem luz”.

10. A homilética reformada

A pregação na Reforma: uma homilética professoral

Para Whilhelm Pauck, “nada é mais característico do Protestantismo do

que a importância que ele dá à pregação”. Muito embora a prédica sempre

tenha sido importante na história do cristianismo, ela nunca teve papel tão

central como no período da Reforma Protestante do século XVI.

Para os reformadores, particularmente Martinho Lutero (1483 – 1546) e

João Calvino (1509 – 1564), a Igreja se encontra onde a Palavra de Deus é

corretamente pregada e ouvida e os sacramentos são corretamente admi-

nistrados e recebidos.

Assim, surge uma nova concepção do termo “ministro”, este é, agora, o

minister verbi divini (servo da Palavra de Deus). Os reformadores se referiam

costumeiramente ao “ministro” ordenado como “pastor”, mas mais

frequentemente como “pregador” (Prediger ou Praedikant). O povo em geral,

se referia aos ministros como “pregadores”.

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No tempo de Lutero, era prática comum pregar-se um livro da Bíblia

todo, domingo após domingo. Segundas e terças-feiras pregava-se sobre

uma parte do catecismo, do decálogo, do credo, da oração do Senhor ou

sobre os sacramentos. O sermão de quarta-feira centrava-se no evangelho

de Mateus e nas quintas e sextas, expunham-se as epístolas. O evangelho

de João oferecia a base para o sermão dos ofícios realizados aos sábados.

Os reformadores se viram às voltas com a ignorância do povo em geral e

do clero em particular. Para enfrentar esse desafio, foram tomadas provi-

dências para que o púlpito se convertesse em um meio de instrução. A

ênfase da homilética reformada não era, portanto, convercionista, nem pre-

tendia provocar emoções ou sentimentos, mas inspirava discursos cada vez

mais catequéticos e doutrinários. O tom da tarefa do ministro clérigo torna-

se predominantemente didático, mesmo a administração dos sacramentos

é acompanhada por algum tipo de instrução.

Uma possível síntese da doutrina da prédica reformada pode assim ser

expressa, no entendimento de Michael Rose como: (1) a primazia da palavra

oral em relação aos outros meios de graça; (2) a Palavra de Deus deve con-

solar e libertar a consciência moral do ser humano por meio da prédica

evangélica; (3) somente a Cristo se deve pregar (solus Christus praedicandus);

(4) a pregação da Palavra se destina ao indivíduo; (5) integração ou nexo

entre pregação, culto e espaço público; e (6) troca do meio de pregação

mais acentuadamente visual para uma comunicação mais acentuadamente

auditiva, linguística.

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11. A Homilética na pós-Reforma

A pregação no pós Reforma: uma homilética apologética e iluminada

Após a ruptura eclesiástica resultante da excomunhão de Martinho

Lutero do quadro sacerdotal da igreja romana, a igreja cristã ocidental

enfrentou os séculos subsequentes dividida e dividindo-se.

A homilética nos séculos da pós-Reforma (XVII e XVIII) é marcada pelo

Movimento Tridentino (Contra-Reforma), o Pietismo (movimento de

afervoramento religioso na igreja luterana no século XVII, iniciado na

Alemanha por Spener) e o Iluminismo.

A retomada da ortodoxia romana, pelo movimento da Contra-Reforma,

promoveu, em contrapartida, a reafirmação da ortodoxia reformada. Nesse

período a prédica ocupava-se da reafirmação e da instrução da reta dou-

trina, em contraposição a “outros conteúdos doutrinais, principalmente os

católicos”, o que significa dizer que “a edificação ou a nutrição da fé não

tinham um papel tão decisivo”. Trata-se, portanto de uma pregação apolo-

gética marcada por disputas teológicas e controvérsias doutrinárias, tanto

por parte da igreja romana como das protestantes — uma enfática guerra

de ortodoxias.

Outro movimento que influenciou a práxis homilética a partir do século

XVIII foi o avivamento religioso inglês. Na primeira metade do século XVIII,

teve início um movimento liderado George Whitefield (1714 – 1770) e por

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John Wesley (1703 – 1791) e que pretendia “reformar a nação e, em particu-

lar, a igreja; para espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra”.

Desprestigiada pela igreja oficial, a prática homilética desse movi-

mento se notabilizou pela realocação dos púlpitos para as praças e

outros lugares públicos fora das fronteiras eclesiásticas. Também o

auditório seleto dos templos foi substituído pela massa excluída pela igreja

oficial. A pregação passou a ser dirigida aos pobres, aos trabalhadores das

minas, aos escravos, aos prisioneiros, aos desempregados, e à multidão

que vagava pelas ruas em busca de esperança e do pão cotidiano.

12. A homilética moderna

A pregação no tempo das missões: uma homilética conversionista e

estrangeira

Os séculos XIX e XX ficaram marcados, pelo menos nas igrejas protestan-

tes, pela obra missionária estrangeira mundial. Tanto o movimento missio-

nário como o filantrópico do princípio do século XIX foram resultado do avi-

vamento evangélico deflagrado pela geração de John Wesley.

Não obstante os prejuízos e preconceitos culturais, políticos e econômi-

cos, decorrentes das missões estrangeiras, ouve interessantes atuações de

missionários que, de alguma forma, se converteram aos que pretendia con-

verter, e passaram a lutar ao seu lado para preservar-lhes a dignidade,

como foi o caso de David Livingstone (1813 – 1873).

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De todas as formas, o evangelho chegava às regiões mais distantes do

globo, pregado por missionários que, além da Bíblia, traziam consigo toda

uma bagagem cultural e ideológica que se confundia com o próprio Evange-

lho. O resultado foi uma ação missionária imperialista, cuja ênfase conversi-

onista impunha a ideologia dos pregadores. Muitos faziam isso convicto de

que sua cultura de origem havia sido levantada por Deus para dominar o

mundo, outros, por sua vez, sequer tinham consciência de que o evangelho

que pregavam tinha muito mais do que sotaque estrangeiro.

A pregação no tempo das revoluções: uma homilética das libertações, dos

carismas e das mídias

As transformações iniciadas no século XVIII se intensificaram de tal forma

nos séculos XIX e XX que Hobsbawn passou a designar esse período como à

“era das revoluções”: políticas, economia, culturas, tecnologias, entre

outras. Dentre esses acontecimentos, como observou Manuel Castells,

destaca-se, no final do século XX, o processo de globalização, que promove

a interdependência econômica global; o colapso do estadismo soviético,

que alterou significativamente a geopolítica global; mas, principalmente, a

“revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação”, que

está “remodelando a base material da sociedade”.

A prática homilética experimentada nesse período não ficou indiferente e

engajou-se igualmente colocando seu produto, isto é, suas prédicas, a ser-

viço das revoluções ou das contra-revoluções. Desse período, merecem

serem destacadas, além da tradicional, as propostas Homilética dos setores

progressistas da igreja, além das propostas dos movimentos carismático-

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pentecostais e, mais recentemente, dos neopentecostais com suas incur-

sões pela mídia. Podemos, assim, distinguir didaticamente uma homilética

das libertações, uma homilética dos carismas e uma homilética das mídias.

1. Homilética contemporânea

Após esta breve revisão histórica, conclui-se que não poderia haver uma

definição única para a homilética, porque não há de fato uma só homilética.

O que se tem são homiléticas. Em cada época, o discurso religioso procurou

cumprir seu papel da maneira que julgava ser a mais adequada, influenci-

ando e sendo influenciado por seu tempo. Naturalmente, as gerações

homiléticas sucessoras ora se sentiam herdeiras das anteriores, ora as

rejeitavam como filhas rebeldes. Mas de uma forma ou de outra, não pude-

ram se livrar completamente de suas influências e de suas raízes.

A práxis homilética é essencialmente dependente de seu contexto

histórico-temporal. Por isso, o pregador, ou o teólogo, “deve percorrer um

duplo caminho: o do pensamento ascendente e o do pensamento

descendente” — este serviço, o pregador o faz mediante o que ele chamou

de, “anúncio de um acontecimento por vir e anúncio do que está aconte-

cendo”.

Karl Barth teria sido o primeiro a se referir às três formas da Palavra de

Deus: pregada (ou proclamada), escrita e revelada. Na analogia trinitária de

Barth, cada forma da Palavra se relaciona com uma das pessoas da Trin-

dade: Deus, o Pai Criador com a Palavra revelada, Deus, o Filho Reconcilia-

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dor com a Palavra escrita e o Espírito Santo Redentor com a Palavra procla-

mada — esses três, no entanto, são uma única e só Palavra de Deus. Por-

tanto, Karl Barth eleva a prédica à categoria de Palavra de Deus, no mesmo

nível da Palavra escrita e da Palavra revelada.

Um novo elemento é acrescentado por Dietrich Ritschl, para quem o que

há de especial com a prédica é que esta “oferece o que o mundo não pode

oferecer”, na medida em que “cada sermão deve expressar a vontade graci-

osa de Deus em Cristo Jesus para estar em solidariedade com os pecado-

res”. A novidade do pensamento de Ritschl está na compreensão de que

“nós [os pregadores] não convertemos os outros, mas temos que nos con-

verter aos outros”. Nesse sentido, a homilética, em lugar de se ocupar da

oratória, deveria se ocupar de um tipo de escutatória, para que a prédica

possa ser transformada pela cumplicidade com a experiência (o “pecado”)

da comunidade para a qual é pregada.

Note-se que, de uma forma ou de outra, no acontecimento homilético,

está sempre presente a relação entre o pregador, a revelação e a vida das

pessoas no seu contexto cultural e cotidiano. Para a conceituação da homi-

lética, portanto, é preciso considerá-la em relação ao seu tempo e lugar.

Para concluir, pode-se dizer, então, que a homilética é o exercício que cada

omeleta faz na tentativa de comunicar e atualizar a Palavra de Deus para o seu

tempo e a sua gente, convertendo-se à Palavra, ao seu tempo e à sua gente, per-

manentemente.

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II – A PREGAÇÃO

• Pregação é a exposição simplificada do plano da salvação de Deus para o

homem.

• É o correto manuseio da verdade sagrada com o objetivo de cortar

retamente a escritura.

• A transmissão oral da verdade com o objetivo de persuadir.

• A pregação é a manifestação do Verbo encarnado, a partir do verbo

escrito, por meio do verbo falado.

• Pregação é a comunicação ou transmissão oral da divina verdade com o

fim de persuadir as pessoas, alvo de nossa mensagem. Pregar sem a graça

e a unção é desperdiçar tempo e oportunidade, talento e cultura.

Homilética sem a unção do Espírito Santo é palha seca, comida sem sal e

sem tempero, é como carro sem gasolina.

1. Elementos da Pregação

1.1. O Assunto

Tomando o assunto o pregador precisa conhecer bem o que está

falando, sem o domínio do assunto não inspirará confiança nos seus

ouvintes. A confiança ajuda e facilita a aceitação dos argumentos do

pregador, por isso todo pregador necessita ser estudioso e bom

pesquisador.

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O pregador sem convicção (só com a técnica homilética) é como um

falsário, um verdadeiro vigarista da palavra, que usa a mentira (em

ilustrações de atos que nunca aconteceram) como força persuasiva.

“Quando um homem não sabe a que porto quer chegar, nenhum

vento é o vento certo”. Sêneca

1.2. As Palavras

O pregador precisa ser amigo da gramática e de um bom dicionário a fim

de conhecer o significado das palavras na oração, a ortografia e as pessoas

da oração.

Segundo a oratoria a prorpiedade das palavras consiste no conhecimento

exato de sua forma ( morfologia oral e escrita), origem (etimologia),

significado atual ( semântica ou semiologia)e significado contextual

(sintaxe).

A diferença entre quem ensina e quem prega está em que o professor

convence pela lógica, pela verdade em si. O pregador necessita envolver

seus ouvintes numa atmosfera emocional, que facilita uma sábia decisão

por Cristo pelo despertar da imaginação e dos sentidos. O pregador precisa

vibrar de emoção com a mensagem que prega vivenciar a palavra que

anuncia no poder do Espírito Santo.

23
“Seja sua fala, melhor do que o silêncio ou então fique calado.”

Dionísio

1.3. O Texto

Modernamente texto é versículo, frase, o capítulo, ou apenas uma

palavra que o pregador toma por tema para o sermão. Todas as pregações

devem originar-se da leitura ou citação de texto da Bíblia pelos seguintes

motivos:

• A mensagem sem respaldo bíblico é como um trem sem trilhos porque

“um texto sem contexto pode ser mero pretexto”. O pregador deve ter

sabedoria ao escolher o seu texto bíblico e saber utilizá-lo.

• O pensamento de um pregador deve ser bem ordenado, para que a

mensagem seja simples, mas eficaz.

• Procurar não gritar é bem sugestivo, pois o grito demonstra aos ouvintes

falta de argumentos.

III – O PREGADOR

“O Deus Todo-Poderoso tinha apenas um filho e este


se tornou pregador”. Anônimo

24
O pregador precisa antes de falar de Deus aos homens, falar dos homens

a Deus. Ele precisa ter uma vida libada de oração. A aparência do pregador

deve ser alegre, simpática, inspirada, agindo favoravelmente nos seus

ouvintes, pois essa é à hora de falar, e os ouvintes esperam uma palavra

ungida que toque os seus corações e almas. Faz-se necessário que o

pregador tenha um bom conhecimento da homilética, e ser cheio da graça

de Deus. É claro que o conceito público sobre as qualidades de um

pregador é muito relativo, pois depende muito da capacidade de

julgamento do ouvinte. Poucos sabem distinguir um sermão de uma arenga

e a grande maioria prefere palha a alimento. Para certas camadas sociais, o

pregador é ótimo se ele apela para as emoções, se impressiona pelos

chavões, pelas frases de efeito, pelos gestos dramáticos, embora vazios de

conteúdo. Infelizmente, foi na retórica que a palavra “demagogo” adquiriu o

sentido pejorativo de enganador do povo. A homilética não está imune

também a demagogia.

1. Requisitos Pessoais

a) Antes de tudo deve-se conhecer a Cristo pessoalmente em experiência e

filiação;

b) Amar o conhecimento: conhecimento com humildade, sinceridade e

devoção.

c) Piedade: é necessário que o pregador viva em íntima comunhão com

Deus e se dedique ao estudo da Palavra de Deus – “exercita-te na piedade“ (I

Tm 6.3,4);

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d) Dons Naturais: Raciocínio claro, rápido, vigoroso e lógico; imaginação

fecunda e criadora; voz cheia e harmoniosa; sentimentos profundos;

expressão entusiástica e enérgica;

e) Cultura: o pregador deve ter uma boa e sólida cultura geral tanto bíblica

como secular;

f) Habilidade: consiste este requisito no processo de colecionar, escolher

e dispor o material da pregação. Este processo é o segredo da arte de

pregar e, como todas as artes, esta exige um grande e demorado esforço.

“Pregue o Evangelho em todo o tempo. Se necessário


use palavras”. Francisco de Assis

2. Características do Pregador

No escopo espiritual:

a) Precisa ser regenerado (João 3.3);

b) Precisa possuir uma chamada divina (CI 4.17; II Tm 4.5);

c) Precisa sempre se manter aprovado por Deus (II Tm 2.15), pela Igreja,

pelo Pastor e pelo Ministério.

No lar:

a) Ser Moderado

b) Ser compreensível

c) Ser responsável

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d) Ser o exemplo

e) Ser carinhoso

Na sociedade:

a) Ter um bom testemunho

b) Não ser ignorante

c) Ter um espírito ajudado

d) Ser uma luz

e) Ser cortês (em palavras e maneiras)

Na igreja:

a) Irrepreensível

b) Observador

c) Apresentável

d) Humilde

e) Sincero

No escopo ministerial (em relação ao pastor):

a) Ser compreensivo

b) Ser obediente

c) Ser consciente da sua posição

d) Orar pelo pastor

Em relação ao Ministério:

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a) Cultivar amizades

b) Não fazer acepção de pessoas

c) Demonstrar sempre a verdadeira humildade

d) Ajudar os companheiros

e) Interceder a Deus pelo Ministério

No escopo individual (em relação a Deus):

a) Manter uma vida de oração

b) Manter uma vida de renúncia

c) Não se exaltar

d) Sempre dar glória a Deus

e) Ser um porta-voz da vontade de Deus

Em relação à Bíblia:

a) Deve conhecer a Bíblia

b) Deve examinar a Bíblia

c) Deve crer na Bíblia

d) Deve usar a Bíblia

e) Deve ser fiel à Bíblia

Em relação ao preparo:

a) Deve estar sempre pronto para o arrebatamento

b) Deve aprimorar os seus conhecimentos gerais e bíblicos

c) Deve ser submisso ao Espírito Santo

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d) Deve ser equilibrado

e) Deve ser despir de preconceitos teológicos

Perfil psicológico:

O pregador tem que ser uma pessoa equilibrada mental e

emocionalmente. Ele vai revelar por suas palavras esse equilíbrio. A

psicologia da linguagem ensina-nos que as palavras não são portadoras

apenas de idéias, mas de emoções, de temperamentos que revelam

motivações até inconscientes. As ideias acompanhadas de emoções

(alegria, tristeza, ira, amor, coragem, medo, otimismo, frustração,

realização, derrota, vitória, etc.) revelam o temperamento (agressivo,

submisso, introvertido, extrovertido, etc.) e as motivações (conscientes ou

inconscientes). Há pregadores que transmitem mais a sua personalidade

quando pregam, do que ideias. Por isso para os assistentes esclarecidos, o

púlpito se transforma, às vezes, mais num divã de psicanálise (onde o

pregador oferece abundantes dados de sua personalidade doentia) do que

numa fonte de orientação sadia (onde o pregador oferece a luz, a

espiritualidade e a inspiração de Deus). Há pregadores que falam mais de si

do que das verdades de Deus que os ouvintes foram buscar.

29
3. A Postura, O Corpo e a Roupa

A postura do pregador é de suma importância diante do auditório. Esta

postura deve ser cultivada, a fim de que, elegante e educadamente, tenha o

pregador uma postura natural, livre de hábitos prejudiciais.

O corpo deve estar naturalmente ereto e todos os movimentos devem

ser conscientes; colocar as mãos nos quadris, cruzar os braços, por às mãos

no bolso é deselegância. Os gestos das mãos e dos dedos devem ser

naturais, disciplinados.

A roupa do pregador deve dignificar sua posição de Ministro da Palavra

de Deus. Devem-se usar roupas decentes, roupas que demonstrem zelo,

asseio e ordem. O pregador deve zelar por toda a aparência: as unhas, a

gravata, etc.

4. A Voz

VOZ – DICÇÃO – VOCABULÁRIO

A voz é um dos cartões de visita. Ela é muito importante e vai fazer com que o

auditório aceite o discurso. Para que o pregador obtenha sucesso com a sua voz,

é preciso primeiro conhecê-la. O modo como você começa as frases, forma

vogais, faz pausa, tudo isso é muito importante para um bom desempenho da

pregação. O exercício mais importante é a leitura em voz alta. Leia para você

mesmo. Mas quais são os elementos que o pregador deve trabalhar na voz para

melhorar a dicção?
30
Existem alguns fatores que podem ser analisados separadamente:

a) Volume: este elemento está associado à modulação do discurso. Caso

sua apresentação dure mais de 3 minutos é necessário modular o volume

vocal (falar mais alto e mais baixo, mais depressa e mais devagar). Em

pequenos intervalos, de 45 segundos a 1 minuto e meio, fale mais baixo e

mais lentamente. Lembre-se, porém, que sempre a sua voz deve ser ouvida

por todo o auditório. Após este intervalo, volte ao seu ritmo normal de

forma brusca e energética. Isto vai tornar suas apresentações mais

atraentes. Tome cuidado com a implementação desta técnica, ela requer

muito treino para que você obtenha êxito. Porém, ao falar mais alto, a sua

voz tende a sair mais fina e desarmoniosa, exigindo bastante cuidado.

b) Andamento e Ritmo : este elemento está associado a quão rapidamente

você articula as palavras e sons, ou seja, sua dicção. Para melhorar bastante

neste fator, recomendamos que todos os “quebra-línguas” que seguem

adiante sejam treinados e lidos com fluência. Na realização destes

exercícios sugerimos que cada quebra-língua seja lido 3 vezes seguidas,

rapidamente, em voz alta, sem titubear (pare para respirar quando for

necessário). O segredo reside em começar a pronunciar fonemas no lugar

de palavras.

Dos requisitos indispensáveis para o sucesso da pregação, “a voz“ é o

principal. Sendo assim, o pregador deve cultivar o uso correto da sua voz.

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EXERCÍCIO

1) Brito britou brincos de brilhantes, brincando de britador.

2) Um pé de gabiroba “bem gabirobadinho”, quem bem o desengabirobar,

bom desengabirobador será.

3) Tagarelarei / Tagarelarás / Tagarelará / Tagarelaremos /Tagarelareis /

Tagarelarão.

4) Céu está enladrilhado; quem o desenladrilhará? Quem o desenladrilhar,

bom desenladrilhador será.

5) Grude da gruta gruda a grua de gringa que grita e, gritando,grimpa a

grade da garota grandiosa.

6) Quando lhe fala da falha, falha-lhe a fala.

7) Luíza lustrava o lustre listrado; o lustre lustrado luzia.

8) Franqueia-se o frango frito frio, frigorificado à francesa, no frigorífico do

frade;

9) Arcebispo de Constantinopla será desarcebispoconstantinopolizado;

quem o desarcebispoconstantinopolizará? Quem o

desarcebispoconstantinopolizar, bom desarcebispoconstantinopolizador

será.

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IV – O SERMÃO

1. A Estrutura do Sermão

a) Deve ser breve

b) Deve ser apropriado

c) Deve ser interessante

d) Deve ser simples

2. O Movimento do Sermão

a) Deve possuir uma ordem própria nas divisões

b) O cuidado de transição de um pensamento para outro

c) As divisões devem ser pertinentes com as necessidades presentes

d) As divisões devem eliminar toda digressão desnecessária

3. A Peroração do Sermão

a) A recapitulação

b) Narração

c) Persuasão

d) Convite

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4. Como Fazer um Sermão

4.1. Construção

a) O pregador decide com que idéia vai começar

b) O pregador decide com idéia deve findar

c) O pregador dever estudar os pontos intermediários

d) O sermão precisa ter uniformidade

e) O sermão precisa ter simetria

f) O sermão precisa ter transição

4.2. A Escolha do Texto

a) Devemos evitar a escolha de passagens da Bíblia que contenham

palavras de homens ímpios ou de Satanás;

b) Devemos evitar a escolha de textos de linguagem pomposa;

c) Devemos escolher textos com linguagem clara;

d) Devemos evitar textos extravagantes, isto é, passagens que despertam

repugnância física ou mortal, ou que provoquem gracejos ou hilaridade, e

ainda que descrevam cenas de vida sexual íntima;

e) Escolha textos que tenham objetividade para a congregação, passagens

que tragam lição, estímulo, solução aos problemas do povo.

34
4.3. Ordem Numérica dos Sermões

a) Os pontos principais são indicados, por algarismos romanos. Ex. I, II, III,

IV, V, etc.

b) Os subpontos são indicados pelos algarismos arábicos. Ex: 1, 2, 3, 4, 5,

etc.

c) Os pontos dos subpontos são indicados por letras minúsculas, como: a, b,

c, d, etc.

d) À ordem do esboço deverá se processar conforme a ilustração abaixo:

Tema (Deve ser centrado)

Texto (deve ser alinhado à esquerda)

Introdução

I. (Primeiro ponto principal)

1. subponto

a. ponto de subponto

2. subponto

3. subponto

II. (Segundo ponto principal)

1. subponto

2. subponto

a. ponto do subponto

b. ponto do subponto

35
3. subponto

III. (Terceiro ponto principal)

1. subponto

2. subponto

Conclusão. (Deve ser escrita de forma breve e clara)

4.4. Pontos a Serem Observados

a) O propósito do sermão é alcançar um objetivo. Os argumentos do

sermão não devem ser extensos, ou prolixos;

b) O pregador não deve cansar o auditório, mas mantê-lo interessado e

atento durante todo o sermão.

5. Os Temas dos Sermões

a) Fugir de temas triviais (vulgar) e frívolos (fútil ou leviano)

b) Escolher temas de fácil comunicação

c) Definir-se por temas que produzem benções

d) Escolher temas apropriados à época, lugar e ocasião

e) Escolher temas fáceis de serem desenvolvidos

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5.1. Tipos de Temas

a) Tema em forma de pergunta

b) Tema em forma de uma palavra ou uma frase

c) Tema em forma de uma declaração

d) O tema histórico

e) Tema imperativo

5.2. Classificação dos Assuntos

a) Doutrinários: Estes são os temas que abordam doutrinas, tais como:

dízimo, justificação, arrependimento, fé, regeneração, providência divina,

obra do Espírito Santo, santificação, graça, etc. As pregações desta

qualidade são sempre didáticas porque ensinam a doutrina. Ainda há os

temas polêmicos ou apologéticos, quem têm por fim a defesa da doutrina e

dos princípios evangélicos ou cristãos;

b) Morais: Estes estão relacionados com a conduta, as virtudes e a vida

cristã. O objetivo das pregações morais deve ser o de convencer o povo a

praticar os ensinamentos e os princípios do Evangelho de Cristo;

c) Históricos: As pregações dentro deste assunto oferecem excelentes

lições da vida humana nas suas relações com Deus e com a sociedade, pois

há uma estreita relação entre a história bíblica e a história profana;

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d) Biógrafos: Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Davi, Daniel, Paulo e tantos

outros nos sugerem magníficas pregações, cheias de lições espirituais e

morais;

e) Experimental: A experiência dos antigos crentes nos serve de lições

magníficas, tanto nos erros, como nos acertos;

f) Ocasionais: São as pregações cujos temas variam de acordo com as

circunstâncias ou evento.

Podemos definir alguns, como:

Espécies de Sermão

❖ Sermão textual (o texto)

❖ Sermão expositivo (a porção)

❖ Sermão temático (a passagem)

❖ Sermão ilativo (uma inferência)

❖ Sermão extemporâneo (palavra)

❖ Sermão para ocasiões especiais (uma frase)

6. As três formas principais de Sermão

Tradicionalmente, as obras homiléticas diferenciam três tipos de sermão:

o sermão temático (também chamado de sermão de tópico), cujos

argumentos resultam do tema, independentemente do texto; o sermão

textual, cujos argumentos principais são tirados do texto bíblico; e o

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sermão expositivo, cujos argumentos giram em torno da exposição

exegética completa do trecho bíblico em pauta.

Atualmente, esta classificação está sendo questionada por ser artificial,

confusa, inútil, teórica e restritiva, pois qualquer mensagem bíblica é:

temática, por ter um tema principal; textual, porque se baseia em um ou

alguns textos bíblicos; e também expositiva, visto que expõe as ideias da

Palavra de Deus. "Cada sermão, pelo seu texto, pelo seu tema, pela sua tese

e pela sua argumentação, torna-se uma peça original, única, específica, que

não comporta classificação genérica em particular. É verdadeira perda de

tempo o que se tem feito nesse sentido".

Reconhecemos que existem várias maneiras de se classificarem os

sermões. Poderíamos agrupar as mensagens conforme seu conteúdo ou

assunto principal, sua estrutura, seu método psicológico (indutivo,

expositivo) ou ainda sua categoria eclesiástica (evangelísticas, exortativas,

doutrinárias, de avivamento, devocionais, inspirativas, consoladoras,

nupciais, natalícias, cívicas, fúnebres, festivas etc.).

7. As partes que compõem um Sermão

7.1. Os elementos gerais do Sermão

Os elementos gerais (ou funcionais) que compõem o sermão, conforme a

divisão correta é:

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 Título

 Tema

 Texto

 Introdução

a) Exórdio

b) Introdução central

c) Intróito

 O corpo do sermão - divisões, subdivisões e transições

 Aplicação do Sermão

 A conclusão do Sermão

7.2. As diretrizes básicas da enunciação

Alguém poderá então perguntar: Por que tantos elementos funcionais na

composição do sermão? Estabelecer uma ideia central como âmago do

sermão nem sempre é fácil, especialmente quando se trata de sermões

textuais e expositivos. É aí, segundo a divisão correta, que necessariamente

deve o pregador fixar sua mente e a de seus ouvintes sobre as palavras,

frases e cláusulas do título, do tema e do texto. Somente assim eles terão

percepção correta do assunto em discussão.

TÍTULO: Sua função é chamar a atenção, interessar e atrair as pessoas. Não

devemos confundir tema com título, o título dá nome ao conteúdo e o tema

40
dá nome ao assunto em discussão. O título deve ser bem sugestivo,

interessante e relacionar-se com as situações e necessidades da vida. Não

deve ser extravagante, negativo. O título pode ser, segundo a divisão

correta, local, geral ou intermediário. Local, quando se prende apenas a um

assunto; geral, quando encabeça outros títulos; intermediário, quando é

uma parte apenas do título geral, também podendo ser chamado de título

parcial.

TEMA: É a síntese do assunto em discussão. Dentro do sermão em síntese é

exatamente esta a posição do tema. Sua posição técnica no sermão

encontra-se entre o título e o texto. A função do tema é sintetizar o assunto

e personificá-lo. Por isso, tema é o nome do assunto que será tratado ou a

síntese do conjunto dele, enquanto que o assunto (corpo do sermão) vai ser

a argumentação (ou conteúdo do tema). Quando o tema é geral, pode

servir de título. Em alguns casos, isso é natural. Exemplo: Numa dissertação

sobre a morte de Cristo, o tema geral seria A morte de Cristo, enquanto que,

nesse caso, o título viria depois com a seguinte frase: Os sofrimentos de

Cristo. Com efeito, portanto, o tema viria primeiro e o título depois, sem que

alterasse as regras do procedimento. Mas, no contexto prático, o título deve

vir mesmo, em primeiro lugar.

TEXTO: Refere-se à passagem bíblica em síntese ou no seu todo, usado

pelo pregador para fundamentação do sermão. Dependendo da natureza

do sermão, o texto pode sofrer alterações no uso da pronúncia.

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INTRODUÇÃO: É a parte inicial do corpo do sermão, a plataforma de acesso

ao ponto central da argumentação. O propósito da introdução é despertar

a atenção do povo e desadiar-lhe o pensamento de tal modo que se

interesse ativamente pelo assunto. Quando a introdução é mal feita, a tese

se desenvolve defeituosa. Os oradores mais exigentes dividiam a

introdução em três partes, a saber: a) Exórdio (prelúdio), Introdução central

(plataforma), intróito (entrada). Com efeito, a parte final da introdução deve

ser chamada de “o intróito”, visto ser ela a que dá entrada no corpo do

sermão propriamente dito.

CORPO DO SERMÃO: É o conjunto de fatos, de ideias, de provas ou de

argumentos arrolados pelo pregador. Deve ser bem apresentada e ao

mesmo tempo mesclada com o sabor da graça de Deus. Dependendo da

cultura geral ou ambiental, esta parte do sermão pode ser chamada de:

Descrição, Narração Dissertação

Exposição Oração Explanação

Argumentação Tese Proposição

Prédica Assunto Tópico central

Calor da eloquência Âmago da oratória Centro da pregação

Corpo do discurso Desenvolvimento Tratado

Conteúdo da passagem , etc.

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Os objetivos do sermão são dois: Persuadir e dissuadir. O alvo do

pregador ou mesmo da mais humilde testemunha de Cristo, é salvar e

edificar os crentes. Para persuadir os ouvintes e levá-los à salvação ou

edificação espiritual, todas as formas de sermão podem ser usadas.

APLICAÇÃO DO SERMÃO: É um dos elementos mais importantes do

discurso. Mediante esse processo, obtem-se o resultado negativo ou

positivo daquilo que é pregado ou ensinado. A aplicação desse sermão

deve ser de acordo com o tipo da mensagem que pregamos. Definimos a

aplicação como sendo o apelo, ou melhor, posição correta, o convite

oferecido aos ouvintes. Esta parte é a penúltima peça do sermão,

antecedendo assim a conclusão do discurso. O objetivo da aplicação no

sermão visa o resultado positivo daquilo que ministramos. Por exemplo:

quando pregamos a palavra da salvação aos pecadores, a aplicação deve

ser o convite (o apelo).

CONCLUSÃO DO SERMÃO: No sentido homiliasta é uma síntese de todas

as verdades que foram ditas no sermão. A conclusão torna-se a parte mais

gratificante do sermão para o pregador, pois, segundo se diz, é o momento

quando o pregador se obriga a fazer uma síntese de tudo o que disse, não

só para destacar e fazer lembrar as verdades principais, mas para ajudar os

ouvintes a se beneficiarem da mensagem. Por essa razão, ela deve ser

breve. Lamentavelmente, alguns pregadores, porém, se esquecem da

43
importância da conclusão, e, como resultado, seus sermões, embora

cuidadosamente preparados nas outras partes, fracassam no ponto crucial.

Portanto, aconselha-se, por outro lado, uma boa conclusão; ela pode, às

vezes, suprir as deficiências de outras partes do sermão, ou servir para

aumentar o seu impacto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARINHO, Robson Moura. A arte de pregar. Vida Nova, 2008.

ULRICH, Hans Reifler. Pregação ao Alcance de Todos. Vida Nova

SILVA,Severino Pedro. Homilética: O pregador e o sermão. CPAD, 1992

AUGUSTO, Cesar Socorro. Tenho que Preparar um Sermão. AD Santos

Editora.

LOPES, Hernandes Dias. Pregação Expositiva sua Importância para o

Crescimento da Igreja. Hagnos, 2008.

SILVA, Plinio Moreira. Homilética: A Eloquência da Pregação. AD Santos

Editora

COSTA, Ermisten Mais Pereira. Curso Introdutório de Homiletica

VIDA NOVA. CD-Rom “A Bíblia Em Ação – Pregando com os mestres”.

UNESCO. Como Falar Bem em Publico-programa de Qualificação.

Disponível em: http://cibi.org.br/658-novos-modelos-de-pregação.htm.

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