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BÍBLIA SEM MISTÉRIOS 

Tehilim (Salmos)

A  autoria  da  maioria  dos  salmos  é  atribuída  ao  rei  David,  o  qual  teria 
escrito  pelo  menos  74  poemas.  Asafe  é  considerado  o  autor  de  12 
salmos.  Os  filhos  de  Corach  escreveram  em  torno  de  9  salmos  e  o  rei 
Salomão  ao  menos  dois.  Hemã,  com  os  filhos  de  Corach,  bem  como 
Etã e Moisés, Abraão e Adão escreveram no mínimo um cada.  

Livro de Salmos 

O livro dos ​Salmos (= Sl) contém orações e cânticos produzidos pela experiência
religiosa de uma comunidade que adora. O adorador, nos ​Salmos, toma a palavra
para dirigir-se a Deus e repartir as experiências e as aspirações mais profundas da
alma: lutas e esperanças, triunfos e fracassos, adoração e rebeldia, gratidão e
arrependimento; particularmente, o clamor que surge da enfermidade, da pobreza,
do exílio, da injustiça e de toda espécie de calamidades e misérias que atingem a
humanidade.

O nosso Senhor Jesus Cristo utilizou os ​Salmos durante o seu ministério. Assim
o vemos, por exemplo, por ocasião da tentação no deserto (Mt 4.6; cf. Sl 91.11-12)
ou nos ensinamentos do Sermão do Monte (Mt 5.7, cf. Sl 18.25; Mt 5.35, cf. Sl 48.2;
Mt 7.23, cf. Sl 6.8). Além disso, os Evangelhos relatam que, nas suas últimas
palavras na cruz, Jesus citou duas vezes os ​Salmos (Mt 27.46 e Sl 22.1; Lc 23.46 e
Sl 31.5).

Através da história, os ​Salmos têm servido de inspiração tanto para a


comunidade judaica como para a comunidade cristã. O povo de Israel expressou a
sua fé entoando-os no templo de Jerusalém, e o Judaísmo os tornou parte
essencial do culto na sinagoga. A Igreja os adotou tal como estavam e, ao

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recebê-los, os incorporou à fé cristã, dando-lhes um sentido cristocêntrico. As
expectativas messiânicas, originalmente centradas no rei da linhagem de Davi,
foram identificadas com Jesus Cristo (At 2.30-31).

O livro de ​Salmos, compilado por ocasião do regresso do exílio na Babilônia,


com base em antigas coleções, inclui salmos que datam de um período que abarca
mais de seis séculos, desde os inícios de Israel até a era pós-exílica; além disso, foi
o hinário que os judeus utilizaram durante a reconstrução do templo de Jerusalém,
conhecido como o Segundo Templo, depois do exílio na Babilônia. O nome
hebraico do livro é ​tehilim, plural de ​tehila, que significa “cântico de louvor”. O
título em português “Salmos” deriva da Vulgata, onde recebe o nome de ​Liber
Psalmorum ou “Livro dos Salmos”. O latim, por sua vez, o toma da Septuaginta
(LXX), na qual esse livro se chama ​Psalmoi ou “Cânticos para Instrumentos de
Corda”, apesar de apenas alguns deles se identificarem no texto hebraico como
“cânticos para instrumentos de corda” (em hebraico, ​mizmor)​ . Em certas ocasiões,
dá-se ao livro o nome “Saltério”, palavra derivada do grego ​psalterion, que é o
nome do instrumento de cordas (lira) que se usava na antiga Grécia para
acompanhar os cânticos.

A poesia hebraica

A poesia hebraica teve grande popularidade em todo o antigo Oriente Próximo.


Numerosos exemplos desse gênero literário chegaram a nós de Canaã (cujos
músicos e cantores tinham fama internacional) bem como do Egito e da
Mesopotâmia. É evidente a contribuição que, nesse sentido, Israel deu ao mundo
cultural do seu tempo. A poesia israelita existe em grande quantidade na Bíblia. Ver,
como exemplo desse gênero, o Cântico de Moisés (Êx 15), o Cântico do Poço (Nm
21.17-18), o Cântico de Débora (Jz 5) e o Lamento de Davi pela morte de Saul e
Jônatas (2Sm 1.19-27). Mesmo assim, a Bíblia se refere às antigas coleções
poéticas das quais se conservaram apenas fragmentos, como “O livro das Guerras
do Senhor” (Nm 21.14) e “O livro dos Justos” (Js 10.13 e 2Sm 1.18). Mas a maior
parte da obra poética do antigo Israel se encontra no livro de ​Salmos.

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O estilo da poesia hebraica não se assemelha ao estilo da poesia na nossa
língua. As suas estruturas são semelhantes às dos outros povos semitas da
antiguidade. Possivelmente, de todas as formas peculiares de gênero poético
hebraico, o “paralelismo” seja a mais fácil de ser reconhecida numa tradução em
português. A estrutura paralela era uma das formas favoritas de se criar a beleza
literária. A poesia hebraica não possui rima, que se usa, normalmente, na poesia em
português; no seu lugar, o paralelismo oferece uma espécie de “rima de idéias”.

Em geral, distinguem-se três formas de paralelismo:

(a) Paralelismo sinonímico, que consiste em expressar duas vezes a mesma


ideia com palavras diferentes, como em Sl 15.1:

Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo?

Quem há de morar no teu santo monte?

(b) Paralelismo antitético, que é formado pela oposição ou pelo contraste entre
duas idéias ou imagens poéticas; p. ex., Sl 37.22:

Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra;

e serão exterminados aqueles a quem amaldiçoa.

(c) Paralelismo sintético, que se dá quando o segundo membro prolonga ou


termina de expressar o pensamento enunciado no primeiro membro acrescentando
elementos novos, como em Sl 19.8:

Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração;

O mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos.

Às vezes, o paralelismo sintético apresenta uma forma particular, que consiste


em desenvolver a idéia repetindo algumas palavras do verso anterior. Então,
costuma-se chamá-lo de paralelismo progressivo, como no caso de Sl 145.18:

Perto está o Senhor de todos os que o invocam,


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de todos os que o invocam em verdade.

Gêneros literários nos Salmos

Uma leitura atenta dos ​Salmos aponta uma série de características de forma e
conteúdo que permitem classificá-los em grupos, de acordo com o seu gênero
literário. Por outro lado, a identificação desses gêneros é muito importante para
compreender os salmos adequadamente.

Podemos distinguir no ​Saltério​ as seguintes categorias de salmos:

(a) ​Hinos, utilizados no louvor a Deus (8; 15; 19.1-6; 24; 29; 33; 46—48; 76; 84; 93;
96—100; 103—106; 113—114; 117; 122; 135—136; 145—150). Estão incluídos nessa
categoria dois subtipos de salmos: os hinos de entronização, que celebram Deus
como Rei de toda a criação (47; 93; 96—100), e os cânticos de Sião, que expressam
devoção a Jerusalém e ao seu santuário (46; 48; 76; 84; 87; 122).

(b) ​Lamentos ou ​súplicas, tanto individuais, em súplicas de auxílio diante de


alguma aflição física ou moral (3—7; 9—10; 12—14; 17; 22; 25—26; 28; 31; 38—39;
41—43; 51; 54—59; 61; 63—64; 69—71; 77; 86; 88; 94; 102; 109; 120; 130; 139—143),
como coletivos, quando todo o povo implora ajuda em momentos de calamidade
nacional, tais como uma seca, uma epidemia ou uma grave derrota militar (44; 60;
74; 79—80; 83; 85; 90; 123; 125—126; 129; 137).

(c) ​Cânticos de confiança, nos quais se expressa a certeza da ajuda iminente de


Deus (11; 16; 23; 27; 62; 131).

(d) ​Ações de graças, expressões de gratidão pela ajuda recebida (30; 32; 34;
40.1-10; 63; 65; 67; 75; 92; 103; 107; 111; 116; 118; 124; 136; 138).

(e) ​Relatos de história sagrada, que narram as intervenções redentoras de Deus


(78; 105—106; 135—136).

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(f) ​Salmos reais, que podem ser de diversos gêneros e que eram usados em
ocasiões especiais da vida do rei, tais como a sua coroação, o seu casamento ou
alguma ação militar (2; 18; 20—21; 28; 45; 61; 63; 72; 84; 89; 101; 110; 132; 144).

(g) ​Salmos sapienciais ou ​didáticos, que são meditações sobre a natureza da


vida humana e das ações divinas (1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127—128; 133).

(h) ​Salmos de adoração e louvor (15; 24; 50; 66; 68; 81—82; 108; 115; 118; 121;
132; 134).

(i) ​Salmos de peregrinação, que os peregrinos entoavam a caminho de


Jerusalém ou no seu regresso à Cidade Santa (84; 107; 122).

(j) ​Salmos de gênero misto​ (36; 40).

(l) ​Salmos acrósticos, que utilizam estruturas poéticas baseadas no alfabeto


hebraico; cada verso começa com uma letra sucessiva do alfabeto (9—10; 34; 119).

(m) ​Imprecações​ (Ver mais adiante).

Estrutura e numeração dos Salmos

O ​Saltério está dividido em cinco livros, sendo que cada um termina com uma
doxologia. Apesar de, hoje, essas doxologias serem numeradas como vs. de um
salmo, na realidade, são elementos independentes que encerram cada um dos
livros, com exceção do Livro V, no qual o último salmo é a doxologia, que, por sua
vez, encerra toda a coleção. A organização dos livros e das doxologias é como
segue:

Livro I Salmo 1.1—41.12 Doxologia 41.13

Livro II Salmo 42.1—72.17 Doxologia 72.18-19

Colofão 72.20

Livro III Salmo 73.1—89.51


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Livro IV Salmo 90.1—106.47 Doxologia 106.48

Livro V Salmo 107.1—149.9 Doxologia 150.1-6


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Esse arranjo talvez queira imitar o Pentateuco: os cinco Livros corresponderiam
aos cinco rolos da Lei. É evidente que a compilação dos salmos nessas cinco
grandes divisões é o resultado de um complexo processo de composição, o que
explica a representação de alguns deles (cf. 14 e 53; 40.13-17 e 70; 57.7-11 e 108.1-5;
60.6-12 e 108.7-13).

A numeração dos salmos no texto hebraico difere da utilizada nas versões grega
(LXX) e latina (Vulgata). Essa diferença se deve ao fato de que alguns salmos foram
divididos, e outros foram unidos. Assim, p. ex., os Salmos 9 e 10 do hebraico
correspondem ao Salmo 9 das versões grega e latina, enquanto que os Salmos 114
e 115 da LXX correspondem ao 116 do texto hebraico. Nesta edição, os salmos são
citados de acordo com a numeração hebraica. O quadro seguinte apresenta, em
forma comparada, ambas as numerações:

Texto hebraico Versão grega (LXX)

1a8 1a8

9 9.1-21

10 9.22-39

11 a 113 10 a 112

114 113.1-8

115 113.9-26

116.1-9 114

116.10-19 115

117 a 146 116 a 145

147.1-11 146

147.12-20 147
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148 a 150
148 a 150

Títulos hebraicos dos Salmos

Os títulos hebraicos dos salmos contêm diversas informações. Algumas vezes,


fazem referência à pessoa a quem se atribui a composição do poema, pessoa que,
em quase a metade dos casos, é identificada com o rei Davi (3—9; 11—32; 34—41;
51—65; 68—70; 86; 103; 108—110; 124; 131; 133; 138—145). Outros salmos são
atribuídos a Salomão (72; 127), a Asafe (50; 73—83), aos filhos de Corá (42; 44—49;
84—85; 87—88), a Etã (89) e a Moisés (90). Há 49 salmos que são anônimos.

Alguns títulos oferecem informação sobre a música (p. ex., “ao mestre de canto,
com instrumentos de cordas”, 4; 6; etc.). Infelizmente, o significado de numerosos
termos técnicos se perdeu, e não temos como traduzi-los de maneira precisa:
termos como ​Masquil (42; 44; 52—55, etc.), ​Mictam (16; 56—60) e ​Shigaion (7)
parecem referir-se a determinados tipos de salmos. Outros parecem referir-se a
algum instrumento musical, como no caso de ​Neginot (instrumentos de cordas?, 4;
6) e ​Nehilot (flautas?, 5). Outros, por fim, aparecem precedidos da preposição
“sobre” (hebr. ​al​) e parecem ser os nomes da melodia que se usava com
determinado salmo, como, p. ex., ​Aielet-Hashahar (22), ​Alamot (46), ​Gitit (8; 81; 84),
Mahalat (53; 88), ​Mut-Labén (9), ​Seminit (6; 12). Nesta versão, os nomes das
melodias foram traduzidos, como, p. ex., “Corça da manhã” (22), “A pomba nos
terebintos distantes” (56), “Os lírios” (45; 69), “Não destruas” (57—59; 75). A
palavra ​selah, que aparece 71 vezes no texto hebraico dos ​Salmos, significa,
possivelmente, “levantar” e parece indicar um interlúdio musical.

Salmos imprecatórios

Finalmente, não se pode deixar de lado o fato de alguns salmos serem


particularmente desagradáveis aos ouvidos cristãos. Às vezes, os salmistas se
encontram totalmente indefesos diante da maldade, da opressão e da violência e,
por isso, não só clamam ao Senhor, que é o único que pode salvá-los, mas também

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pedem a Deus que faça cair sobre os seus inimigos os piores males. Assim, se
unem num mesmo salmo as súplicas mais ardentes e as mais violentas
imprecações (cf. Sl 58.6-11; 83.9-18; 109.6-19; 137.7-9).

As dificuldades que essas passagens expõem são evidentes, e, por isso, é


necessário compreendê-las situando-as no seu verdadeiro contexto. Para isso, é
preciso recordar, em primeiro lugar, que os salmos foram formados sob o regime
da antiga lei, quando Jesus ainda não havia revelado que o mandamento do amor
ao próximo inclui também o amor ao inimigo (Mt 5.43-48; cf. Rm 12.17-21). Além
disso, os salmos provêm de uma época na qual ainda eram insuficientes e
rudimentares as idéias sobre a vida além da morte e sobre a recompensa reservada
aos justos na vida eterna (ver Sl 6.5, n.). De fato, segundo as idéias correntes entre
os antigos israelitas, as boas e más ações eram recompensadas na vida presente, e
o malvado devia receber o seu castigo o quanto antes, a fim de que se tornasse
manifesto que há um Deus que julga na terra (Sl 58.11).

Finalmente, o cristão não pode deixar de reconhecer a fome e sede de justiça


que se expressam nessas súplicas ao Senhor, para que se manifeste como Juiz
justo (cf. Jr 15.15). O amor aos inimigos não significa indiferença frente ao mal, e,
quando triunfam a injustiça, a violência, a opressão aos mais fracos e o desprezo a
Deus, o cristão pode dizer ao Senhor:

“Exalta-te, ó juiz da terra;

dá o pago aos soberbos.

Até quando, Senhor, os perversos,

até quando exultarão os perversos?” (94.2-3).  

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