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1.

CONCEITO DE RECURSO
2. FUNDAMENTOS DO DIREITO DE RECORRER
3. PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS
4. ATOS SUJEITOS A RECURSO
5. TÉCNICAS DE JULGAMENTO
6. SUCEDÂNEOS DE RECURSOS
7. PRESSUPOSTOS PARA UM JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE POSITIVO
7.1 PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS
7.2 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS
8. PROCESSAMENTO DOS RECURSOS

1. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS
2. EMBARGOS INFRINGENTES DE OFÍCIO (incidente de colegialidade)
3. CONFLITO DE COMPETÊNCIA
4. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDA REPETITIVAS (IRDR)
5. DA RECLAMAÇÃO
6. DA REMESSA NECESSÁRIA

1. NOÇÕES GERAIS
2. EXTENSÃO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS
3. PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO
4. ADMISSIBILIDADE
5. PROCESSAMENTO
6. EFEITO INTERRUPTIVO
7. EFEITO INFRINGENTE

1. CONCEITO
2. PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO
3. PETIÇÃO COM AS RAZÕES DA APELAÇÃO
4. PRAZO PARA INTERPOR E PARA RESPONDER
5. DOCUMENTOS QUE DEVEM INSTRUIR O RECURSO
6. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

7. EFEITOS ORDINÁRIOS DA APELAÇÃO


I – EFEITO DEVOLUTIVO
II – EFEITO SUSPENSIVO

8. OUTROS EFEITOS DA APELAÇÃO


I – EFEITO TRANSLATIVO
II – EFEITO SUBSTITUTIVO

9. CONTRA-RAZÕES
10. ENCAMINHAMENTO AO TRIBUNAL:
11. PROCESSAMENTO NO TRIBUNAL

I – AGRAVO DE INSTRUMENTO
(CPC, arts. 1.015 a 1.020)

1. CONCEITO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO


2. INTERPOSIÇÃO DO RECURSO
3. PEÇAS OBRIGATÓRIAS
4. EFEITO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
5. COMUNICAÇÃO AO JUIZ DA CAUSA
6. PROVIDÊNCIAS A CARGO DO RELATOR
7. RESUMO IMPORTANTE
8. AGRAVO RETIDO (curiosidade)

II – DO AGRAVO INTERNO
(art. 1.021 do CPC/15)

9. CONCEITO DE AGRAVO INTERNO


10. OBJETIVO DO RECURSO
11. PROCESSAMENTO
12. PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO
13. PETIÇÃO DO AGRAVO INTERNO
14. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
.
DOS RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES
ESCLARECIMENTOS INICIAIS
1 – RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL(artigo 1.027 e 1.028)
1.1 CONCEITO
1.2 CABIMENTO
1.3 INTERPOSIÇÃO
1.4 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
2 – RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINARIO(arts. 1.029 a 1.035)
2.1 CONCEITO DOS DOIS RECURSOS
2.2 CABIMENTO
2.3 INTERPOSIÇÃO
2.4 EFEITOS DOS RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO
2.5 CARACTERÍSTICAS COMUNS AOS DOIS RECURSOS
2.6 EMBARGOS DECLARATÓRIOS PARA PREQUESTIONAMENTO
2.7 INERPOSIÇÃO CONJUNTA DOS DOIS RECURSOS
2.8 A PETIÇÃO E SEU PROCESSAMENTO

a. Exposição de fato e de direito;


b. Demonstração de cabimento do recurso;
c. Razões para a reforma ou anulação da decisão atacada.
d. Pedido de reforma ou anulação da decisão atacada.

2.9 PARTICULARIDADES DO RECURSO ESPECIAL


2.10 PARTICULARIDADES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

3 – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO


(art. 1.042, do CPC)

3.1 FINALIDADE DO AGRAVO


3.2 PROCESSAMENTO
3.3 INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO

4 – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
(artigo 1.043, do CPC)
4.1 CONCEITO
4.2 CABIMENTO
4.3 REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE
4.4 PROCESSAMENTO

DO JULGAMENTO DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIO E ESPECIAL REPETITIVOS


(arts. 1.036 a 1.041)
1. CONCEITO
2. PROCESSAMENTO
3. SOBRESTAMENTO DOS PROCESSOS IGUAIS
4. EFEITOS DO JULGAMENTO
5. APLICAÇÃO DO JULGAMENTO DO RECURSO REPETITIVO
AÇÃO RESCISÓRIA
(artigo 966 a 975, CPC)
1. CONCEITO
2. DIFERENÇA ENTRE RECURSO E AÇÃO RESCISÓRIA
3. PRESSUPOSTOS DA AÇÃO RESCISÓRIA
4. CABIMENTO
5. LEGITIMIDADE (art. 967)
6. PETIÇÃO INICIAL (art. 968)
7. RESPOSTA DO RÉU
8. PROCEDIMENTO
9. SENTENÇA RESCIDENDA EM FASE DE EXECUÇÃO
10. ETAPAS DO JULGAMENTO
11. NOVO JULGAMENTO

1. CONCEITO DE RECURSO
É o direito da parte requerer, antes de formada a coisa julgada, em uma relação
processual em curso, a reforma, invalidação ou esclarecimento de uma decisão judicial.
Advirta-se que só é cabível recurso de processos que estejam em andamento.
Se o processo já foi encerrado e sobre ele já ocorreu a coisa julgada, só se pode impugnar
tais decisões através de ações impugnativas próprias tais como a ação rescisória, a ação
anulatória, a ação declaratória de inexistência de relação jurídica (actio ou querela
nullitatis) e o mandato de segurança.

2. FUNDAMENTOS DO DIREITO DE RECORRER


a) Inconformismo humano:
b) Falibilidade humana:
c) Abuso de poder:

3. PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS

a) Duplo grau de jurisdição:


b) Taxatividade:
c) Unirrecorribilidade ou singularidade:
d) adequação:
e) Fungibilidade:
f) Vedação à “reformatio in pejus”:

4. ATOS SUJEITOS A RECURSO


a) decisão interlocutória: ato judicial sem que acarrete a extinção do processo.
b) sentença: ato judicial de juízo monocrático que implica na extinção do processo
c) decisão monocrática: ato judicial proferido por um único membro de um órgão
colegiado.
d) acórdão: ato judicial de órgão colegiado, que julga recurso ou ação originária
de segunda instância.
Atenção: os despachos ordinatórios são irrecorríveis.
5. TÉCNICAS DE JULGAMENTO

a) juízo de admissibilidade (conhecimento/recebimento ou não)


b) juízo de mérito (provimento ou não):

6. SUCEDÂNEOS DE RECURSOS

7. PRESSUPOSTOS PARA UM JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE POSITIVO

7.1 PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS

a) interesse:
a-1) recurso contra motivação:
a-2) necessidade de sucumbência:
b). legitimidade:

7.2 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS

a) recorribilidade:
b). tempestividade:
c) adequação (o recurso “certo”):
d) preparo:
O preparo deve ser recolhido integralmente, entretanto se for recolhido a menor,
o recorrente deve ser intimado a complementá-lo, circunstância em que se não o fizer
em 5 (cinco) dias, será julgado DESERTO, ou seja, o recurso NÃO SERÁ
RECEBIDO (art. 1.007, § 2°, CPC/15).
A DESERÇÃO do recurso é penalidade que deve desde logo ser aplicada pelo órgão
jurisdicional a exercitar em primeiro plano o juízo de admissibilidade.
e) forma (regularidade e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do
direito a recorrer): o respeito a forma prevista em lei é também requisito de
admissibilidade do recurso na medida em que a legislação aplicável a exija. Assim, o
recurso de apelação só possui a forma escrita, não sendo admissível sua interposição
oral, ainda que a sentença tenha sido proferida em audiência.

e.1) Desistência: ato através do qual o recorrente, após a interposição do


recurso, manifesta-se no sentido de que não pretende o julgamento do recurso
(art. 998, CPC/15).
e.2) Renúncia: ato através do qual antes de recorrer, a parte prejudicada,
que teria em tese legitimidade para recorrer, manifesta o seu desinteresse em
fazê-lo.
e.3) Perda do objeto: acontece quando um evento posterior faz com que
o julgamento de mérito do recurso deixe de ser necessário.

8. PROCESSAMENTO DOS RECURSOS


a) Recurso seja manifestamente inadmissível:
b) Recurso Prejudicado:
c) Recurso que não tenha impugnado os fundamentos da decisão: hipótese
em que o fundamento do recurso é genérico, sem especificar de maneira clara os
fundamentos que contraria a decisão recorrida.
d) Recurso está em confronto com Súmula, jurisprudência dominante no
Tribunal, no STF ou outro Tribunal Superior. Se a decisão recorrida está em
confronto com jurisprudência consolidada dos tribunais superiores, não se deve deixar
prosperar a irresignação porque já é previsível o que ocorrerá quando o recurso chegar
àquele tribunal. Se dessa decisão o recorrente não se conformar, poderá interpor agravo
interno para que o colegiado possa apreciar o acerto ou desacerto da decisão monocrática
e) Recurso em confronto com acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos. Se já há decisão proferida em julgamento de casos repetitivos, não tem
sentido deixar prosseguir um recurso do qual já se sabe qual o seu desfecho. Seria um
contra senso, um desperdício de tempo, enfim, uma inutilidade.
f) Recurso em confronto com entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. Da mesma
forma que o argumentado acima.
Das decisões proferidas pelo Relator caberá RECURSO DE AGRAVO
INTERNO para o colegiado, no prazo de 15 (cinco) dias, mas se este recurso for
considerado procrastinatório, por ser manifestamente inadmissível ou infundado, o
Tribunal condenará o recorrente em multa de 1% (um por cento) a 5% (cinco por
cento) do valor da causa, condicionado qualquer outro recurso ao pagamento
desta (art. 1.021, caput e § 4°, CPC/15).
Lembramos também que com o advento da antecipação de tutela, o relator do
recurso também poderá utilizar o chamado EFEITO ATIVO, que consiste em conceder
ou deferir por liminar aquilo que foi negado em primeira instância pelo ato judicial
recorrido. Exemplo: se o autor de uma ação pede liminar ao juiz para evitar que seu
nome seja inserido no SCPC e o juiz nega, pode ser interposto agravo de instrumento e
o relator poderá conceder o efeito ativo a fim de determinar que não seja feita qualquer
restrição ao crédito do recorrente (art. 1.019, I, CPC/15).
Todo acórdão conterá ementa, que é uma suma das considerações que se pode
extrair do julgamento. Uma vez lavrado o acórdão suas conclusões serão publicadas no
órgão oficial em até 10 (dez) dias (art. 943, CPC/15).
1. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS
O novo Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/15) cria diversos mecanismos para
uma mudança da cultura processual no Brasil. Um desses desafios é a valorização dos
precedentes jurisprudenciais, como forma de atender o princípio da segurança jurídica,
da celeridade e da razoável duração do processo.
Instrumentos como os julgamentos de recursos especiais e extraordinários
repetitivos e o incidente de assunção de competência, dentre outros, são mecanismos
que visam uma uniformização da aplicação das leis federais pelos juízes e tribunais com
muito mais segurança jurídica e igualdade na aplicação da lei para todos os cidadãos.
Com o intuito de valorizar a jurisprudência o Novo CPC estabelece expressamente
que “os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente” (art. 926). Ou seja, os tribunais não devem permitir divergências internas sobre
questões jurídicas idênticas, como se cada magistrado ou turma julgadora não fizesse
parte de um mesmo sistema.
O papel do STJ e do STF sai reforçado na nova sistemática processual tendo em
vista que suas súmulas ou acórdãos proferidos em julgamento de recursos extraordinário
e especial repetitivos vincularão todos os juízes que não poderão ignorar a existência
desses precedentes (art. 927).
O novo estatuto processual traz outras novidades, tais como a criação do Incidente
de Assunção de Competência (IAC) e do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
(IRDR), como forma de valorizar a jurisprudência dos tribunais estaduais e os tribunais
regionais federais. O IAC será utilizado quando estiver em julgamento relevante questão
de direito, com grande repercussão social e sem múltipla repetição (art. 947). Se houver
múltiplas repetições, será o caso de utilização do IRDR (art. 976).
Ademais, o Novo CPC reforça o papel do relator nos tribunais que por decisões
monocráticas poderão decidir processos, sem a necessidade de julgamento colegiado,
nas ações cujo tema já tiverem jurisprudência consolidada (art. 932, IV e V).
A valoração dos precedentes jurisprudenciais é garantia do princípio da isonomia
tendo em vista que casos iguais serão julgados de forma igual.
O sistema de precedentes já existia no nosso ordenamento jurídico desde 1993,
quando foi inserido o parágrafo 2º ao art. 102 da Constituição Federal, estabelecendo
que “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas
ações diretas de inconstitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração publica direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal”. Outro exemplo que se pode invocar
são as sumulas vinculantes e os acórdãos proferidos em julgamento de casos repetitivos
pelo STJ e STF. Contudo, apesar de já haver resquícios do sistema híbrido anterior ao
Novo CPC, é óbvio que o sistema de precedentes sai agora muito mais fortalecido pelas
novas regras insculpidas no CPC/15.
Assim, o Novo Código de Processo Civil ao dar tratamento privilegiado aos
precedentes Judiciais faz um mescla entre o nosso tradicional sistema jurídico, baseado
fundamentalmente no “civil law”, para acolher fragmentos do “common law”. Há uma
visível mudança de paradigma, pois saímos do estágio em que a lei era a fonte primária
do direito (CPC/73), para admitir a jurisprudência como fonte relevante do direito
(CPC/2015).
Inaugura-se uma nova era em que o resultado de uma demanda pode ter alguma
previsibilidade. O processo tende a deixar de ser um típico “jogo de loteria” onde ninguém
pode ter, a priori, nenhuma certeza de qual resultado se pode esperar da demanda. Para
casos iguais, já será possível antever a decisão em face dos precedentes eventualmente
existentes.

2. EMBARGOS INFRINGENTES DE OFICIO (incidente de colegialidade)

Muito se falou sobre o fim dos embargos infringentes no Novo CPC, porém o que
vemos é a sua sobrevivência sob uma nova roupagem e com outra finalidade, vejamos.
O art. 942 contém a previsão de que se o resultado do julgamento da apelação não
for unânime, o julgamento deverá ter prosseguimento, na mesma sessão ou em outra a
ser designada, com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros
o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
Aplica-se a mesma sistemática de julgamento de ação rescisória quando o resultado
for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu prosseguimento ocorrer em órgão
de maior composição previsto no regimento interno; bem como no julgamento de agravo
de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito (art.
942, § 3°).
De outro lado, o legislador fez uma ressalva para estabelecer que não se aplica esta
técnica de julgamento para nos casos envolvendo o incidente de assunção de
competência e ao de resolução de demandas repetitivas, bem como quanto tratar-se de
remessa necessária e nos resultados não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário
ou pela corte especial (art. 942, § 4°).
Como percebemos os embargos infringentes não mais existem da forma como era
previsto no CPC/73, porém ganhou uma sobrevida com outro nome: agora poderão ser
chamados de “embargos infringentes de ofício” ou, quem sabe, de “julgamento ampliado
de votação não unânime” ou talvez de “remessa necessária de votação não unânime” ou
mesmo “incidente de colegialidade”.
Cumpre esclarecer que os embargos infringentes regulados no CPC/73, só chegava
ao tribunal por iniciativa da parte que pretendesse submeter a decisão não unânime ao
colegiado. Pela sistemática do Novo CPC a iniciativa é da lei e é impositiva e independente
de qualquer vontade, implicando dizer que qualquer julgamento de apelação não unânime
terá que ser submetido ao colegiado para reexame. Significa dizer que o julgamento não
unânime obrigará o presidente da turma a convocar novos membros (que não
participaram o primeiro julgamento), para, em número suficiente para que o resultado
possa ser reformado, promova um outro julgamento na mesma ou em futura sessão.
Vejamos outro detalhe importante. No disciplinamento do CPC/73, os embargos
infringentes só seriam cabíveis contra decisão não unânime que tivesse reformado
sentença de mérito. Pelo Novo CPC caberá a remessa em todo e qualquer julgamento de
apelação que não seja unânime.
Em conclusão: considerando que o julgamento da apelação é realizado por três
desembargadores (relator, revisor e terceiro juiz), implica dizer que qualquer julgamento
por dois a um, implicará na divergência que impõe ao presidente da turma a
obrigatoriedade de prorrogar o julgamento, através da convocação de outros julgadores
para, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Os defensores da sobrevivência dos embargos infringentes dizem que é importante
a sistemática adotada tendo em vista que as decisões dos tribunais não sendo unânimes,
poderiam suscitar dúvidas no jurisdicionado sobre quem de fato estará certo, razão
porque o julgamento ampliado evitará que permaneça qualquer dúvida no ar.

3. CONFLITO DE COMPETÊNCIA
Cumpre esclarecer desde logo que ocorre conflito de competência quando dois ou
mais juízes se declaram competente para conhecer de um determinado processo (conflito
positivo); ou, ao reverso disso, quando dois ou mais juízes se declaram incompetentes
para o mesmo processo (conflito negativo).
Quando o conflito é suscitado entre juízes vinculados ao mesmo tribunal, não há
maiores problemas porquanto este será o órgão competente para julgar e processar o
incidente. O problema surge quando são envolvidos juízes de tribunais diferentes (um
juiz federal e outro estadual, por exemplo). Nessa circunstância é preciso verificar as
disposições constitucionais aplicáveis à espécie (ver CF, art. 201, I e art. 105, I, letra d).
Para solucionar a questão o Novo CPC prevê a instauração do incidente processual
chamado de conflito de competência cujo regramento está previsto nos arts. 951 a 958.
Diz o Código que o conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das
partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz. Diferentemente do CPC/73, o Ministério
Público somente atuará nos processos previstos no art. 178, mas terá qualidade de parte
nos conflitos que suscitar (ver art. 941 e parágrafo único).
Por uma questão de lealdade e boa-fé a lei processual não permite seja suscitado o
conflito pela parte que, no processo, arguiu incompetência relativa, contudo nada obsta
que a parte que não o arguiu suscite a incompetência (art. 952).
O conflito de competência deverá ser suscitado diretamente no tribunal competente.
Se for suscitado pelo juiz, isto deverá ser processado mediante oficio. Se for pelas partes
ou pelo Ministério Público, deverá ser provocado por petição e, em ambos os casos,
instruídos com os documentos necessários a comprovação do conflito (art. 953).
Depois de distribuído o incidente no tribunal, o relator determinará a oitiva dos
juízes em conflito ou, se um deles for suscitante, apenas do suscitado. As informações
deverão ser prestadas no prazo assinalado pelo relator (art. 954).
No caso de conflito positivo de competência, o relator poderá, de ofício ou a
requerimento de qualquer das partes, determinar o sobrestamento do processo e, nesse
caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em
caráter provisório, as medidas urgentes (art. 955).
Autoriza o CPC que o relator possa julgar monocraticamente o incidente quando sua
decisão se fundar em súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do próprio tribunal; ou ainda, se for baseada em tese firmada em julgamento
de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência (art. 955, parágrafo
único).
Decorrido o prazo para prestação de informações, tendo elas ocorrido ou não, será
aberto prazo de 5 (cinco) dias ao Ministério Público e, em seguida, o incidente será levado
a julgamento (art. 956).
Com o julgamento monocrático ou colegiadamente, o tribunal declarará qual o juízo
será competente, pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juízo
incompetente (art. 957).
Por fim trata a lei processual dos conflitos entre órgãos fracionários de um mesmo
tribunal, estabelecendo que o julgamento deverá ser conforme dispuser o regimento
interno do tribunal em questão (art. 958).

4. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDA REPETITIVAS (IRDR)

Esta é mais uma novidade do Novo CPC com a finalidade uniformizar decisões sobre
mesma questão, evitando com isso a insegurança jurídica até outrora reinante de
decisões diferentes para casos exatamente iguais.
Muitos têm argumentado que o novo CPC acabou com o chamado “livre
convencimento motivado” que era albergado expressamente no CPC/73 (art. 131).
Outros doutrinadores entendem que não.
Veja-se que independente de permanecer sob o critério do juiz a valoração da prova
(art. 371 do CPC/15), é certo que a liberdade do julgador foi bastante reduzida na exata
medida em que nenhum julgador poderá ignorar os precedentes jurisprudenciais
existentes (art. 927 do CPC/15), bem como não poderá utilizar fundamentos genéricos
para suas decisões ou mesmo ignorar os argumentos das partes, sob pena de nulidade
(art. 489, § 1°do CPC/15).
Nessa linha de proceder é que ressalta a importância do IRDR como garantia de,
independente de qual juiz vai julgar a causa, o resultado será igual por vinculação de
todos os juízes aos precedentes já firmados pelo seu tribunal.
Em breve síntese: o objetivo do IRDR é uniformizar entendimento sobre questões
da vida prática que se repetem nos tribunais. Escolhe-se um caso, utiliza-se ele como
paradigma, processa-se o seu julgamento e a decisão proferida será aplicada a todos os
processos em andamento e a todos os processos futuros que venham a ser proposto
naquela base territorial.
O incidente pode ser instauração através de pedido que será dirigido ao presidente
de tribunal, podendo ser provado pelo juiz ou relator, através de ofício ou pelas partes,
Ministério Público ou Defensoria Pública, através de petição (art. 977).
Os requisitos para a instauração do incidente são os seguintes (art. 976):

a. existência de vários processos com a mesma controvérsia sobre a mesma


questão unicamente de direito;
b. risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica com decisões divergentes
sobre o mesmo tema;
c. inexistência nos tribunais superiores de recurso afetado para definição de
tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.
É importante frisar ainda que os tribunais deverão dar ampla divulgação à existência
de processos pendentes de julgamento por esta sistemática para com isso possibilitar a
todos os interessados que acompanhem e participem, se for o caso, do julgamento (art.
983).

5. DA RECLAMAÇÃO

O instituto da reclamação já existia no nosso ordenamento jurídico por


determinação constitucional, tanto com relação ao STF (CF, art. 102, I, letra l e art. 103-
A, § 3°) quanto com relação ao STJ (CF, art. 105, I, letra f).
O novo CPC ampliou sua aplicação estendendo sua aplicação para todos os tribunais
brasileiro, com a finalidade de preservar a competência do tribunal; garantir a autoridade
das decisões do tribunal; garantir a observância de decisão do Supremo Tribunal Federal
em controle concentrado de constitucionalidade; garantir a observância de enunciado de
súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade; garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de
precedente proferido em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção
de competência; e finalmente, garantir a observância de acórdão proferido em
julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de
assunção de competência (art. 988, I a IV).
O incidente pode ser provocado pela parte interessada ou pelo Ministério Público
(art. 988, caput). Mesmo não sendo provocado pelo Ministério Público, este participará
do processo como custos legis, tendo vista do processo por 5 (cinco) dias, após o decurso
do prazo para informações e para o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato
impugnado (art. 991).
O relator ao despachar a reclamação poderá requisitar informações à autoridade
contra a qual foi imputado a prática do ato e, se necessário, determinará a suspensão do
processo ou do ato impugnado para evitar dano irreparável. Além disso, mandará citar a
parte beneficiária da decisão impugnada que poderá apresentar contestação no prazo de
15 (quinze) dias (art. 989).
Julgando procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão exorbitante de seu
julgado ou determinará medida adequada à solução da controvérsia e, através de ordem
expedida pelo presidente do tribunal, a decisão deverá ser cumprida imediatamente,
independentemente da lavratura do respectivo acórdão (arts. 992 e 993).
Atenção: não é admissível reclamação proposta após o trânsito em julgado da
decisão reclamada; ou ainda, proposta para garantir a observância de acórdão de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em
julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando ainda não
esgotadas as instâncias ordinárias (art. 988, § 5°).

6. DA REMESSA NECESSÁRIA

É importante esclarecer por primeiro que a remessa necessária não é um recurso,


mas a reapreciação da sentença por força de imposição legal. Tanto é assim que não está
sujeito a preparo ou a prazo, não comporta razões ou contra-razões das partes, nem
mesmo recurso adesivo, apesar de submeter a sentença proferida em primeiro grau a
reexame pela instância superior, podendo a sentença ser reformada e substituída pelo
acórdão, se o tribunal tiver outro entendimento no tocante ao objeto da lide, exatamente
como se fosse um recurso (mas não é).
O sistema legislativo brasileiro sempre previu a existência desse instituto como um
benefício em favor da Fazenda Pública, pois funciona como uma espécie de duplo grau
de jurisdição obrigatório, submetendo a decisão proferida em primeiro grau a um novo
julgamento, mesmo que o ente público não tenha recorrido.
Quer dizer, mesmo que a Fazenda Pública não interponha apelação contra a decisão
de primeiro grau que lhe foi desfavorável, o juiz está obrigado a remeter os autos ao
tribunal ao qual esteja vinculado, para que sua decisão seja, por assim dizer, validada
(art. 496).
Podemos dizer que a remessa necessária tem efeito suspensivo tendo em vista a
dicção da lei ao dizer claramente que a sentença só produzirá efeitos depois de
confirmada pelo tribunal (art. 496, caput).
Em razão do valor da condenação ou do proveito econômico obtido contra a Fazenda
Pública, excetua-se dessa obrigatoriedade a sentença que versar sobre valor inferior a:

a. 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e


fundações de direito público;
b. 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as
respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que
constituam capitais dos Estados;
c. 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações de direito público.
Deixa de existir também a obrigatoriedade da remessa necessária quando a
sentença, independente de valor envolvido, estiver em conformidade com:

a. súmula de tribunal superior;


b. acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c. entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas
ou de assunção de competência;
d. entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.
Embora o instituto da remessa necessária tenha sofrido muitas críticas ao longo do
tempo, ele permanece no regramento do novo CPC, ainda que mitigado.
A justificativa para a permanência deste instituto, reprise-se, está no propósito de
ofertar à Fazenda Pública maior proteção, pois ao defender e garantir mais segurança as
decisões contra os entes públicos, ainda que por vias tortas estar-se-ia protegendo a
própria coletividade.
1. NOÇÕES GERAIS
Discutia-se no plano doutrinário o caráter recursal dos embargos declaratórios e
eminentes autores se colocavam em correntes contrárias, uns em atitude formal, outros
em postura mais flexível.
Os que não viam no instituto “própria ou rigorosamente” um recurso, assim o
entendiam porque por via dele só é lícito ao juiz declarar a sentença já proferida, não
podendo, portanto, inovar, ou seja, não podendo modificar em ponto algum a mesma
sentença.
Não obstante isso, nosso legislador o vislumbrou como recurso e esta é também
nossa visão, isto porque existe, nos embargos de declaração, a pretensão de corrigir uma
decisão que causa algum prejuízo a parte, tendo em vista que a obscuridade, a
contradição, ou a omissão trazem danos aos demandantes.

2. EXTENSÃO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS


Na vigência do CPC/73 existia a dúvida quanto à extensão dos embargos
declaratórios: poderiam ser interpostos contra decisões interlocutórias ou somente contra
sentença? Isso se dava em função da literalidade do contido no revogado art. 535, pois
o mesmo falava que cabia embargos de declaração somente “contra acórdão e sentença”.
Hoje esta questão está superada tendo em vista que o CPC/15 foi expresso ao
consignar claramente que “cabem embargos de declaração contra qualquer decisão
judicial” (art. 1.022, caput). Se a lei diz que cabem embargos de declaração contra
“qualquer decisão” significa dizer que as “decisões” interlocutórias podem ser
questionadas através deste remédio jurídico.
É importante que o legislador tenha consignado de maneira expressa o cabimento
de embargos declaratórios contra qualquer decisão por várias razões. Apenas para
exemplificar, o manejo deste tipo de recurso contra decisões interlocutórias vai reduzir o
número de agravos de instrumentos tendo em vista que sendo esclarecidas dúvidas
processuais pelo juiz da causa, é muito provável que a parte se satisfaça com os
esclarecimentos e, assim, deixe de manejar outro recurso qualquer o que, sem nenhuma
sombra de dúvida colabora com o princípio da celeridade processual e da razoável
duração do processo.
Em síntese: O recurso de embargos de declaração é um recurso cabível contra toda
e qualquer decisão judicial, não havendo restrição quanto ao seu cabimento. É cabível de
decisão interlocutória, sentença, acórdão, decisão monocrática proferida com base no art.
932 do novel codex.

3. PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO


Diferentemente dos outros recursos, os embargos serão opostos, no prazo de 5
(cinco) dias, conforme determina o art. 1.023 do CPC/15, sendo indiferente qual seja o
ato atacado, ou seja, tanto em primeira instância como em segunda, o prazo será o
mesmo.
Ademais, os embargos de declaração independe do recolhimento de custas por
expressa determinação legal (art. 1.023, caput, parte final).

4. ADMISSIBILIDADE
As hipóteses de admissibilidade dos embargos de declaração vêm expressas nos
incisos do art. 1.022, CPC/15: esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; suprir
omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento; e, corrigir erro material.
Assim, percebe-se claramente que a finalidade precípua deste recurso é o
aprimoramento da prestação jurisdicional, esclarecendo obscuridade, eliminando
contradição, suprimindo omissões e corrigindo erro material.

a. Obscuridade: a decisão judicial precisa ser límpida, clara, compreensível,


completa. A ausência de clareza e de difícil compreensão na decisão gera
obscuridade, que deve ser combatida por meio do recurso de embargos de
declaração.
b. Contradição: o outro vício refere-se à contradição na própria decisão
proferida pelo magistrado. Não se trata aqui de contradição entre decisões
diferentes e diversas constantes no processo. O contrassenso e a
incoerência acarretam decisões contraditórias, que dificultam até a
execução da decisão judicial.
c. Omissão: no tocante à omissão, considera-se omissa a decisão quando o
juiz deixa de se pronunciar sobre ponto ou questão a requerimento ou ex
officio, nos termos do inciso II. O acréscimo da expressão ex officio
demonstra que o recurso de embargos de declaração também serve para
arguir as questões de ordem pública, que não foram apreciadas, embora
se permita ao magistrado analisá-la de ofício.
d. Erro material: a modalidade de erro material, como requisito de mérito
deste recurso, também foi incluído pelo legislador. Cumpre esclarecer que
o erro material ocorre quando, por exemplo, na sentença grafou-se o nome
das partes erroneamente ou apresentou algum erro de cálculo.

5. PROCESSAMENTO
A competência para receber, processar e julgar os embargos de declaração é do
próprio magistrado cuja decisão estará sendo atacada. Por se tratar de decisão
unipessoal, mesmo nos tribunais o relator estará dispensado de levá-lo a julgamento no
colegiado do qual faz parte.
De igual forma, se os embargos forem opostos contra decisão proferida pelo
colegiado, aí sim deve, obrigatoriamente, ser julgados pelo colegiado.
O prazo para julgamento dos embargos de declaração é de 5 (cinco) dias, embora
se trate de prazo impróprio, já que dirigido ao magistrado. O descumprimento deste prazo
não acarreta nenhuma consequência jurídica pela natureza do seu prazo. No tribunal,
também o magistrado tem prazo de 5 (cinco) dias para levá-los em mesa na sessão logo
subsequente. Ao não fazê-lo, a consequência jurídica é a inclusão em pauta do recurso
de embargos de declaração, que poderá ser acompanhando pelas partes no dia da sessão.
A inclusão em pauta dos embargos de declaração é uma vitória para os advogados
e serventuários da justiça. Os advogados terão ciência do dia certo do julgamento deste
recurso e o serventuário se desincumbirá da função de informação diária acerca do
possível julgamento de todos os recursos de embargos de declaração.

6. EFEITO INTERRUPTIVO

Embora os embargos de declaração não tenham efeito suspensivo, a sua


interposição interrompe o prazo para eventual interposição de outros recursos e atinge
todas as partes e eventuais terceiros.
A interrupção e a suspensão dos prazos são distintas. Na interrupção, os prazos
podem ser recontados a partir do primeiro dia após o término do efeito da interrupção,
não computando os dias consumidos pela oposição dos declaratórios. A suspensão de
prazos, diferentemente, cessa o prazo em curso e volta a contar apenas os dias que
sobejar. No caso da interrupção, a regra é sempre interromper o prazo para todos que
participam do processo, exceto no caso de intempestividade, como já previa o CPC/73.
No caso de intempestividade seria a única exceção. Tal raciocínio não se estende as
hipóteses diversas de não conhecimento do recurso, como equivocadamente se tem
mostrado algumas parcas decisões.

7. EFEITO INFRINGENTE
Ainda que por vias transversas O Novo CPC fez prevê a hipótese de embargos
declaratórios com efeito infringentes ao estabelecer no § 2° do art. 1.023, que “o juiz
intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre
os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão
embargada”.
Esse é o chamado efeito infringente que poderá resultar do provimento do recurso.
Logo, por força do princípio do contraditório e da ampla defesa, o embargado terá a
oportunidade, de impugnar os embargos no prazo que a lei estabelece.
O Novo CPC nada mais fez do que adequar essa regra já conhecida da doutrina e
da jurisprudência, que determinava a intimação do embargado sob pena de violação ao
princípio do contraditório. A verdade é que não pode a parte ser surpreendida com a
alteração da decisão anterior, sem, contudo, ter a oportunidade de se manifestar.
Quer dizer, se há possibilidade de alteração do resultado do julgado no caso de
eventual acolhimento dos embargos, a observância do contraditório nesses casos é de
rigor, sob pena de violação da garantia constitucional de contraditório e da ampla defesa.
Assim, caberá ao juiz ou relator determinar a intimação da parte contrária sempre que o
objeto dos embargos de declaração tenham potencial para alterar o conteúdo da decisão
anteriormente proferida, circunstância em que se diz que estes embargos terão efeitos
infringentes (ver art. 1.023, § 2°).
1. CONCEITO

É o recurso adequado para impugnar a sentença proferida por juiz de primeiro grau,
seja ela definitiva (que resolve o mérito, pois acolhe ou rejeita o pedido do autor, como
disposto no art. 487 do NCPC) ou terminativa (que extingue o processo sem resolução
de mérito nas hipóteses elencadas no art. 486 do NCPC).
Assim, é indiferente se a sentença é terminativa (art. 485, CPC) ou definitiva (art.
487, CPC), se é proferida em processo contencioso ou de jurisdição voluntária, se o
processo é de conhecimento, procedimento especial ou mesmo no processo de execução.
É importante destacar que o Novo CPC ampliou ainda mais os temas que podem ser
abordados na apelação, incluindo as questões resolvidas na fase de conhecimento que
não comportam impugnação por agravo de instrumento. De acordo com o § 1º do art.
1.009: “As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final,
ou nas contrarrazões”.
Ademais, o recorrente deve atentar para a possibilidade de o recorrido alegar essas
matérias (que não comportam agravo de instrumento) em preliminares de suas
contrarrazões, fato que irá ampliar a matéria objeto da apelação inicialmente interposta,
nos termos do § 2º do art. 1.009 do NCPC. Trata-se de observação importante, pois
conflita com o que até então considerávamos como princípios norteadores dos recursos:
a proibição da reformátio in pejus e o princípio da dialeticidade que exigia respeito ao
princípio dispositivo e, portanto enunciava que a petição de interposição do recurso era
suficiente para estabelecer os limites do princípio devolutivo.

2. PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO

A petição de apresentação do recurso de apelação é dirigida ao juízo “a quo”, ou


seja o juiz de primeira instância que prolatou a sentença que se quer reformar ou anular.
Nela o apelante, devidamente qualificado, apresenta seu recurso e requer o
encaminhamento de suas “razões” ao juízo “ad quem”, ou seja, ao Tribunal que irá julgar
a apelação.
Em sendo previsto o preparo pela legislação estadual, o apelante também deve
consignar que junta a sua petição as respectivas guias comprobatórias do recolhimento
das custas, bem como do porte de remessa e retorno dos autos, se houver (art. 1.007,
“caput”, CPC/15).
Mesmo nos casos de preparo insuficiente, o legislador oportunizou ao recorrente a
possibilidade de suprir a deficiência de preparo, para a qual deverá ser intimado (art.
1.007, § 2°, CPC/15). Criou ainda a possibilidade de o relator poder relevar a pena de
deserção, caso o apelado alegue e prove o justo impedimento para o preparo (exemplo:
greve da rede bancária). Nesse caso, cuja decisão é irrecorrível, o relator fixará o prazo
de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo (art. 1.007, § 6°).
Caso o apelado não comprove o preparo no ato de interposição do recurso, inclusive
porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar
o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. Nessa circunstância não se admite a
complementação caso venha a realizar recolhimento insuficiente (art. 1.007, 4° e 5°)
Embora a petição de apresentação do recurso de apelação seja dirigida ao juiz de
primeira instância, onde é protocolizada, as “razões de apelação” (segunda parte do
recurso) são dirigidas ao Tribunal.
3. PETIÇÃO COM AS RAZÕES DA APELAÇÃO

A apelação terá sempre a forma escrita, não existindo na legislação a previsão de


interposição oral ou por quota nos autos, razão pela qual deve ser elaborada uma petição
para sua interposição.
Esta petição com rãs razões da apelação deverá conter, como requisitos mínimos
(art. 1.010):

a. os nomes e a qualificação das partes (esta exigência pode ser relevada se


as partes já estão qualificadas nos autos);
b. a exposição do fato e do direito (relato dos aspectos fáticos e jurídicos que
digam respeito à causa);
c. as razões do pedido de reforma (quando se tratar de error in iudicando) ou
de decretação de nulidade (quando se tratar de error in procedendo); e,
d. o pedido de nova decisão (a parte deverá indicar com clareza o que
pretende ver modificado pelo tribunal).

4. PRAZO PARA INTERPOR E PARA RESPONDER

O prazo para interposição da apelação, assim como para responder ao recursos, é


de 15 (quinze) dias úteis, contados a partir da data em que os advogados, a sociedade
de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são
intimados da decisão (art. 1.003, § 5°, do CPC/15).

5. DOCUMENTOS QUE DEVEM INSTRUIR O RECURSO

Em regra só se permite a juntada de documentos novos nos autos, se disserem


respeito a questões de fato novas ou se não foram suscitadas pela parte em razão de
força maior, conforme autoriza o art. 1.014, do CPC/15.
Esta regra também se excepciona na hipótese de terceiro recorrente, o qual poderá
juntar documentos, posto que não teve oportunidade de fazê-lo anteriormente em
nenhum momento.

6. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

O Novo CPC acabou com o “juízo de admissibilidade” de sorte que pela nova
sistemática, após as formalidades previstas nos §§ 1° e 2°, do art. 1.010, caberá ao juiz
tão somente mandar remeter os autos ao tribunal correspondente, cuja admissibilidade
será feita pelo relator no tribunal.

7. EFEITOS ORDINÁRIOS DA APELAÇÃO

O primeiro efeito automático de todos os recursos é o de obstar o trânsito em


julgado da decisão impugnada. Além deste, a apelação possui efeito devolutivo (ver Novo
CPC, art. 1013); e pode ter também efeito suspensivo (ver Novo CPC, art. 1.012) e
outros, os quais merecem menção mais elaborada, senão vejamos.

I – EFEITO DEVOLUTIVO
O efeito devolutivo é a aptidão que possui o recurso, no caso a apelação de fazer
com que o Tribunal reexamine todas e quaisquer matérias de fato e de direito, suscitadas
em primeira instância pelas partes, desde que a parte recorrente peça o reexame dessa
questão na apelação.
É o chamado princípio “tantum devolutum quantum apelatum”, ou em outras
palavras, se foi objeto do apelo, o seu reexame será transferido ao Tribunal (juízo “ad
quem”).
São consideradas como exceções a regra de que o Tribunal só fará o reexame do
que for objeto do recurso, os seguintes dispositivos legais:

a. O artigo 1.013, do CPC, em seu § 1°, fala dos fatos não abordados
pela sentença.
Esclarece que dentro do âmbito da devolução, o Tribunal examinará livremente
todas as questões de fato suscitadas e discutidas, ainda que o juiz não tenha se
manifestado sobre elas na sentença. Exemplo: em uma ação de indenização cujos
pedidos eram os de danos materiais e danos morais, se o juiz concluir que o fato lesivo
não ocorreu ou que não foi o réu que os praticou, sequer apurará a natureza dos danos
em primeira instância, mas no julgamento da apelação o Tribunal pode reformar a
sentença e considerando que houve fato lesivo praticado pelo réu deve decidir também
se os danos foram materiais e/ou morais e qual é a sua extensão.

a. O artigo 1.013, do CPC, em seu § 2°, refere-se às causas de pedir


ou de resistir não abordadas na sentença.
Determina que, se houve mais de um fundamento para a pretensão ou
defesa, e o juiz não os examinou por inteiro, todos os demais serão devolvidos
ao Tribunal para reexame. Exemplo: na inicial o autor requer a procedência de uma
ação de rescisão contratual por abusividade de várias cláusulas, o juiz julga procedente
com fundamento na abusividade de uma das cláusulas, que previa a renovação tácita do
contrato, o réu apela alegando a improcedência daquele fundamento, o Tribunal, se
entender que o apelante está certo nesse aspecto, deve examinar os demais
fundamentos, ainda que a outra parte não tenha recorrido.
A devolução, nesse caso, ocorre em relação a questões anteriores à sentença, que
apesar de não decididas por esta foram discutidas nos autos e poderiam interferir no
resultado do julgamento.

a. O artigo 938, do CPC, no seu § 1°, trata dos vícios sanáveis.


Caso o Tribunal constate a existência de qualquer nulidade sanável, determinará
em segunda instância (se for possível) a correção do ato processual, intimando as partes
para tanto, e uma vez cumprida a diligência poderá prosseguir o julgamento do recurso.
Em nome da celeridade processual, mesmo que tenha sido proferida uma sentença
meramente terminativa em primeira instância, como por exemplo, uma sentença de
carência de ação por ilegitimidade de parte (que não resolve o mérito), prevalece
modernamente a chamada TEORIA DA CAUSA MADURA, a qual foi adotada por nosso
legislador, ou seja o Tribunal poderá não apenas anular a sentença equivocada, mas
sucessivamente, assumir o julgamento do mérito da demanda, desde que:
c1). a questão seja apenas de direito: ou seja não existem fatos a serem
provados em segunda instância ou se existiam fatos, estes já foram objeto de prova em
primeira instância. Exemplo: quando a demanda discute apenas a legalidade de uma
cláusula contratual.
c2). a lide deve estar em condições de imediato julgamento: ou seja, o
contraditório já deve ter sido exercitado, e as questões foram discutidas entre as partes,
estando o processo em sua fase final.
Ressalte-se que quanto a novas questões de fato, o Tribunal somente poderá
examiná-las e a respeito delas decidir, se o apelante provar que não as suscitou em
primeira instância por motivo de força maior (art. 1.014, CPC/15), já que quaisquer
questões de fato devem se submeter ao princípio do duplo grau de jurisdição, bem como
ao princípio do contraditório, devendo o recorrido ser intimado a se manifestar.
Devemos recordar que diretamente associado ao efeito devolutivo das apelações
está o princípio da vedação da “reformatio in pejus”: princípio doutrinário recursal,
segundo o qual, o Tribunal, quando só uma das partes apelou, está proibido de decidir
de modo a piorar a situação do apelante (já que não há recurso da parte contrária).
Exemplo: se fui condenada em uma ação de indenização a pagar R$ 30.000,00, para o
autor, e só eu apelei, o Tribunal não poderá reformar a sentença para aumentar a
condenação, assim se entender que não procedem as razões do meu recurso, deverá
apenas negar-lhe provimento, deixando, no restante, inalterada a sentença da qual
apenas eu apelei.

II – EFEITO SUSPENSIVO

Em regra a apelação suspende os efeitos da sentença, impedindo que a parte


vencedora exija o seu cumprimento de imediato.
Contudo, há exceções a essa regra, as quais estão dispostas no artigo 1.012, do
CPC, ou seja, hipóteses em que será possível a execução provisória da sentença.
Já o parágrafo 1º do artigo 1.012 excepciona a regra do caput e não
confere o efeito suspensivo às apelações cuja matéria diga respeito às hipóteses
expressamente previstas nos incisos I a VI do parágrafo. Nessas hipóteses o
apelado (vencedor em primeira instância) poderá, quando muito, promover o
cumprimento provisório da sentença.
As hipóteses de sentenças que não tem efeito suspensivo expressamente previstas
no instituto em foco, são aquelas que:

a. homologa divisão ou demarcação de terras;


b. condena a pagar alimentos;
c. extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do
executado;
d. julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
e. confirma, concede ou revoga tutela provisória; e,
f. decreta a interdição.
Advirta-se contudo que em qualquer caso, ou seja, mesmo nas hipóteses descritas
acima, poderá o relator do recurso, em entendendo necessário, por haver risco de
lesão grave ou de difícil reparação, e em caráter excepcional, determinar que a
apelação seja recebida, também em efeito suspensivo (art. 995, parágrafo
único, CPC/15).

8. OUTROS EFEITOS DA APELAÇÃO

Além do efeito devolutivo e suspensivo, é possível identificar outros efeito


decorrentes da apelação, senão vejamos.

I – EFEITO TRANSLATIVO
A apelação também tem o efeito translativo ao permitir que o tribunal possa tomar
conhecimento de todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não
tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado (ver NCPC, art.
1.013, § 1°).
Dentre outras hipóteses, pode ocorrer o efeito translativo quando o tribunal
reformar a sentença de mérito e a causa estiver em condições de ser julgada (causa
madura). Neste caso o próprio tribunal pode dar continuidade ao julgamento sem a
necessidade de devolver os autos a primeira instância (art. 1.013, § 2°).
Ademais, o tribunal pode conhecer todas as matérias de ordem pública, mesmo que
não tenham sido suscitadas no recurso.

II – EFEITO SUBSTITUTIVO

O efeito substitutivo, disposto no art. 1008, é comum a todos os recursos, incluindo


a apelação. Ele é importante para deixar claro que ao final do processo existirá apenas
uma decisão definitiva, sem conflitos internos. Assim o que o tribunal decidiu substitui o
que havia sido determinado pela sentença, mas na parte sobre a qual não houve recurso,
a sentença subsiste.

9. CONTRA-RAZÕES

Tendo sido interposta apelação, o recorrido será intimado para, no prazo de 15


(quinze) dias, apresentar suas contrarrazões, que deverá ser interposta também por
petição de interposição dirigida ao juiz a quo, requerendo o recebimento das
contrarrazões da apelação e o subseqüente envio, ao Tribunal ad quem.
Nas “contra-razões”, o apelado apontando os fundamentos de fato e de direito, deve
requerer ao Tribunal que mantenha a sentença impugnada pela outra parte, salvo se
houver interposição de recurso adesivo, circunstância em que, tendo sido também
vencido, argumentará na petição de apelação adesiva pela alteração da sentença a seu
favor.
Poderá ainda o apelado, em suas contrarrazões, alegar em preliminares o não
preenchimentos dos requisitos de admissibilidade, requerendo que não seja conhecido o
mérito do recurso, por não preencher os requisitos legais.
Se o apelado em suas contrarrazões argüir alguma preliminar, de forma ou de
mérito, o juiz deverá dar oportunidade ao apelante para que possa se manifestar
apresentado suas contrarrazões às contrarrazões.
10. ENCAMINHAMENTO AO TRIBUNAL:
Vindo aos autos as “contrarrazões” do apelo, o juiz deverá determinar que os autos
sejam encaminhados ao Tribunal, independente de qualquer juízo de admissibilidade (art.
1.010, § 3°).

11. PROCESSAMENTO NO TRIBUNAL


Chegando ao Tribunal os autos serão distribuídos imediatamente a um relator que
terá a incumbência de decidi-lo-á monocraticamente, se for o caso de enquadramento
nas hipóteses prevista no art. 932, incisos III a V; ou, não sendo o caso de proferir
decisão monocrática, deverá elaborar seu voto e submetê-lo a julgamento pelo órgão
colegiado (art. 1.011).
Distribuídos, os autos serão imediatamente conclusos ao relator, que, em 30 (trinta)
dias, depois de elaborar o voto, restituí-los-á secretaria, com o respectivo relatório que
é uma síntese do ocorrido nos autos, bem como resumo dos pontos sobre os quais incide
a apelação (art. 931, CPC/15).
Em seguida, os autos serão remetidos ao Presidente do Tribunal, da Câmara ou
Turma (conforme Regimento Interno), e este designará data para a sessão de julgamento
da apelação, que será publicada em pauta própria, junto ao Diário Oficial, observando-se
que dentre a publicação e a sessão de julgamento deve haver o intervalo mínimo de 5
(cinco) dias, para que as partes em desejando se preparem para sustentação oral é uma
síntese do ocorrido nos autos, bem como dos pontos sobre os quais incide a apelação
(art. 935, CPC/15)..
Na data do julgamento, a turma julgadora da apelação será composta por três
juízes: o relator, o revisor (se for o caso) e um terceiro juiz (que em alguns regimentos
é chamado de vogal).
No horário designado, o relator exporá a causa e após, o Presidente dará a palavra
para o advogado do apelante e do apelado, pelo prazo de 15 (quinze) minutos para cada
um, a fim de que sustentem as razões e contra-razões do recurso (art. 937, CPC/15).
Em havendo litisconsórcio, o prazo da sustentação oral será contado em dobro (art.
art. 229, CPC/15), dividindo-se entre os advogados que desejarem fazer a sustentação
oral.
Depois da sustentação oral, se houver, a turma procederá ao julgamento do recurso,
proferindo voto por primeiro o relator e em seguida os demais membros. Se quaisquer
dos magistrados não se sentirem habilitados a proferir de imediato o seu respectivo voto,
poderão pedir vista dos autos, devendo devolvê-lo no prazo de 10 (dez) dias, contados
da data em que o recebeu, e o julgamento prosseguirá na primeira sessão ordinária
subseqüente à devolução, dispensada nova publicação de pauta (art. 940, CPC/15).
Caso o magistrado não devolva os autos no prazo legal, nem solicite a prorrogação
de prazo, o Presidente do órgão julgador requisitará o processo e reabrirá o julgamento
na sessão ordinária subseqüente, com publicação em pauta (art. 940, § 1°).
O julgamento apreciará as matérias na seguinte ordem:

a. primeiramente as questões preliminares: são questões de ordem


processual que devem ser examinadas antes do mérito, pois em sendo
acolhidas podem acarretar a anulação da sentença (art. 938, caput).
Exemplo: a alegação de cerceamento de defesa ocorrida no curso do
processo.
b. Em seguida os vícios sanáveis: pode ocorrer de ser constatado vício
possível de ser sanado. Nesse caso o julgamento pode ser convertido em
diligência, que se realizará, conforme o caso, perante o próprio tribunal ou
no juízo de primeiro grau (art. 938, §§ 1° e 2°).
c. Por fim o mérito da apelação: é o julgamento propriamente dito no qual
serão analisado todas as questões de fato e de direito que tenham sido
deduzidas por ambas as partes. É a aplicação do direito ao caso posto em
apreciação.
Proferidos os votos pelo relator, revisor e pelo terceiro juiz, nessa ordem, o
Presidente anunciará o resultado do julgamento, designado a redação do acórdão pelo
relator, ou sendo este vencido, pelo primeiro magistrado que tenha prolatado o voto
vencedor (art. 941, CPC/15).
Atualmente, os votos, acórdãos e demais atos processuais podem ser registrados
em arquivo eletrônico inviolável e assinados eletronicamente, na forma da lei, devendo
ser impressos para juntada aos autos do processo quando este não for eletrônico (art.
943, CPC/15).
Todo acórdão conterá uma ementa, que é uma suma das considerações que se pode
extrair do julgamento, bem como a parte dispositiva do acórdão que será publicado em
até 10 (dez) dias, no Diário Oficial (art. 943, §§ 1° e 2°, CPC/15), contando-se somente
a partir de então o prazo para interposição de eventuais outros recursos.
Em exceção ao princípio do colegiado, como já vimos ao estudarmos a teoria geral
dos recursos, o RELATOR PODERÁ JULGAR sozinho, através de decisão
monocrática, naquelas situações expressamente previstas no art. 932, do CPC/15.
I – AGRAVO DE INSTRUMENTO
(CPC, arts. 1.015 a 1.020)

1. CONCEITO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO


Agravo de instrumento é o recurso dirigido diretamente ao Tribunal, cabível
especificamente contra as decisões interlocutórias expressamente previstas no art. 1.015
do CPC/15.
Assim, cabe agravo de instrumento, por exemplo, contra as decisões que versarem
sobre tutelas provisórias; mérito do processo; cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário, dentre outras (ver o rol taxativo constante do art.
1.015 do CPC/15).

2. INTERPOSIÇÃO DO RECURSO

O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente por meio


de petição que deverá conter, além dos nomes das partes, a exposição do fato e do direito
no qual se baseia a irresignação do agravante, encerrando com o pedido de reforma ou
de invalidação da decisão e o próprio pedido, além dos nomes e endereços dos advogados
constantes do processo (ver NCPC, art. 1.016).

3. PEÇAS OBRIGATÓRIAS
O agravante deverá juntar OBRIGATORIAMENTE para instruir a petição de
agravo de instrumento as seguintes cópias:

a. da petição inicial,
b. da contestação,
c. da petição que ensejou a decisão agravada,
d. da própria decisão agravada,
e. da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que
comprove a tempestividade,
f. das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado e,
finalmente,
g. a comprovação do recolhimento das respectivas custas e do porte de
retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais.
Cumpre destacar que o inciso II do referido art. 1.017 traz uma importante inovação
ao permitir que, na impossibilidade de instruir a petição do agravo de instrumento com
os documentos necessários, possa o advogado da parte, sob as penas da lei, juntar a
declaração de inexistência destes documentos.
É também permitido ao agravante a juntadas ao recurso das peças ditas facultativas
que, a seu critério, possa ser útil à perfeita compreensão da questão posta em discussão.
Na eventualidade de o recorrente não juntar as cópias necessárias ou mesmo tendo
o recurso algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento,
o relator determinará que a parte promova a regularização, visando com isso o
aproveitamento do ato processual, somente indeferindo o recurso se a parte não cumprir
com essa determinação (ver CPC, art. 932, parágrafo único).

4. EFEITO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Em regra, o agravo de instrumento só terá efeito devolutivo, entretanto o


agravante, alegando urgência e possibilidade de lesão grave ou de difícil reparação,
poderá requerer ao relator do recurso que lhe conceda também efeito suspensivo ou
ainda que conceda a tutela antecipada como efeito ativo (art. 1.019, I, CPC/15).
O relator do agravo é o único competente para deferir ou não o pedido de suspensão
da decisão agravada. Sendo concedido o efeito suspensivo, deverá imediatamente
comunicá-lo ao juiz da causa para que tal decisão seja cumprida imediatamente em
primeira instância.

5. COMUNICAÇÃO AO JUIZ DA CAUSA

Como já mencionado, a petição do agravo de instrumento será dirigida diretamente


ao Tribunal, porém em 3 (três) dias uma cópia da mesma deverá ser juntada aos autos
de primeira instância, acompanhada da relação de documentos que a instruíram e do
comprovante da interposição.
Pelas regras do Novo CPC a comunicação ao juiz da causa só é obrigatória quando
tratar-se de autos físicos, pois sendo autos eletrônicos está comunicação será facultativa
(art. 1.018, § 2°, CPC/15).
O descumprimento desta comunicação, se houver argüição e comprovação pelo
agravado, importará na inadmissibilidade do agravo (art. 1.018, § 3°, CPC/15).
A finalidade de tal comunicação é oportunizar ao juiz de primeira instância a
possibilidade de se retrata.

6. PROVIDÊNCIAS A CARGO DO RELATOR

Uma vez protocolado e distribuído no Tribunal, o Relator, se não for o caso de negar
seguimento ao recurso (ver art. 932, III e IV), determinará seu processamento e,
obrigatoriamente, mandará intimar o agravado para oferecer resposta no prazo de 15
(quinze) dias.
Caso tenha havido pedido de efeito suspensivo ao recurso ou antecipação de tutela
(efeito ativo), o relator poderá decidir de plano, liminarmente, assim que receba o recurso
(art. 1.019, I, CPC/15).
Ademais, o RELATOR PODERÁ JULGAR LIMINARMENTE, em decisão
monocrática, quando o recurso for inadmissível, prejudicado ou não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida (art. 932, III, CPC/15), e também
negar provimento ao recurso que for contrário a jurisprudência dominante dos tribunais
superiores (art. 932, IV), vejamos:

a. Recurso seja manifestamente inadmissível: hipótese em que a parte


recorrente não cumpriu os pressupostos de admissibilidade do recurso e
por isso este não deve ser sequer recebido para exame. Exemplo: recurso
para o qual não houve preparo ou recurso intempestivo.
b. Recurso Prejudicado: hipótese em que fato posterior fez com que o
recurso perdesse o seu objeto. Exemplo: ocorreu desistência do recurso,
renuncia ao direito, ou o juiz se retratou.
c. Recurso que não tenha impugnado os fundamentos da
decisão: hipótese em que o fundamento do recurso é genérico, sem
especificar de maneira clara os fundamentos que contraria a decisão
recorrida.
d. Recurso está em confronto com Súmula, jurisprudência dominante
no Tribunal, no STF ou outro Tribunal Superior. Se a decisão recorrida
está em confronto com jurisprudência consolidada dos tribunais superiores,
não se deve deixar prosperar a irresignação porque já é previsível o que
ocorrerá quando o recurso chegar àquele tribunal. Se dessa decisão o
recorrente não se conformar, poderá interpor agravo interno para que o
colegiado possa apreciar o acerto ou desacerto da decisão monocrática.
e. Recurso em confronto com acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos. Se já há decisão proferida
em julgamento de casos repetitivos, não tem sentido deixar prosseguir
um recurso do qual já se sabe qual o seu desfecho. Seria um contra senso,
um desperdício de tempo, enfim, uma inutilidade.
f. Recurso em confronto com entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência. Da mesma forma que o argumentado acima.
Advirta-se que as decisões proferidas pelo Relator poderá ser questionado através
do RECURSO DE AGRAVO INTERNO para o colegiado, no prazo de 15 (cinco) dias.
Porém, se este recurso for considerado procrastinatório, por ser manifestamente
inadmissível ou infundado, o Tribunal condenará o recorrente em multa de 1% (um por
cento) a 5% (cinco por cento) do valor da causa, condicionado qualquer outro
recurso ao pagamento desta (art. 1.021, caput e § 4°, CPC/15).
Não havendo negativa de seguimento ao agravo de instrumento, e vindo a resposta
do agravado, deverá ser intimado o Ministério Público para no prazo de 15 (quinze) dias
manifestar-se, caso trate-se de hipótese cuja intervenção do Parquet seja obrigatória
(art. 1.019, III, CPC/15).
De qualquer modo, em no máximo 30 (trinta) dias, contados da intimação do
agravado, deverá ser designada data para julgamento (art. 1.020, CPC/15).
Sendo a hipótese de agravo de instrumento, transitado em julgado o acórdão que
julgou o recurso, os autos serão devolvidos à primeira instância, bem como será ordenado
ao juízo “a quo”, o cumprimento do que fora deliberado pelo Tribunal.

7. RESUMO IMPORTANTE

Para interpor o agravo de instrumento, o agravante deverá observar as seguintes


recomendações:
a) o prazo é de 15 (quinze) dias úteis, contados da intimação do advogado ou da
sociedade de advogados que representa a parte (NCPC, art. 1.003, caput e § 5°);
b) é interposto através de petição dirigida diretamente ao tribunal competente;
c) a petição deverá conter a exposição do fato e do direito; as razões do pedido de
reforma da decisão; e o nome e o endereço completo dos advogados das partes;
d) instruir a petição do agravo, obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que motivou a decisão agravada, da própria decisão agravada,
da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado;
e) poderá, ainda, facultativamente, juntar à petição de interposição outras peças do
processo que possam ser importantes para o reconhecimento do direito do agravante;
f) finalmente, deverá juntar à petição o comprovante do recolhimento das custas, bem
como o pagamento das despesas de porte e retorno (se for o caso).

8. AGRAVO RETIDO (curiosidade)

No disciplinamento do revogado CPC/73 havia a figura do agravo chamado de retido


que poderia ser escrito ou mesmo oral. Essa figura desapareceu no CPC/2015 tendo em
vista a existência somente do agravo de instrumento para enfrentar as decisões
interlocutórias.
A existência do agravo retido tinha como objetivo evitar a preclusão da matéria
decidida. Nesse caso a parte manifestava diretamente ao juiz da causa sua contrariedade
através do recurso, declarando seu desejo de que o mesmo permanecesse nos autos,
para que em havendo sentença que lhe pudesse ser desfavorável, o Tribunal, em
apelação e preliminarmente, pudesse conhecer e julgar o agravo que tinha ficado retido
nos autos.
Na sistemática do atual CPC isto é dispensável porque todas as decisões proferidas
pelo juiz, suscetível de causar danos as partes e que não sejam possíveis de serem
enfrentadas por agravo de instrumento, não são coberta pelo manto da preclusão,
podendo ser suscitadas como preliminares da apelação ou das contrarrazões do apelado
(ver art. 1.009, § 1°).

II – DO AGRAVO INTERNO
(art. 1.021 do CPC/15)

9. CONCEITO DE AGRAVO INTERNO


O agravo interno é o tipo de recurso a ser interposto contra decisão monocrática
proferida pelo Relator em recursos no âmbito de quaisquer dos Tribunais.
Só a título de curiosidade cabe esclarecer que na vigência do CPC/73 este recurso
era chamado pela doutrina de “agravo inominado” porque o art. 545 e 557 do CPC
revogado referia-se a este recurso apenas pelo nome de “agravo”. Anteriormente à
reforma do CPC/73, era chamado de “agravo regimental” porque sua origem se encontra
nos regimentos internos dos diversos tribunais, já que o vetusto CPC na sua origem, não
previa nenhuma espécie de impugnação contra a decisão monocrática do relator.

10. OBJETIVO DO RECURSO


O objetivo desse recurso é submeter a decisão monocrática do relator ao colegiado
do qual o mesmo faz parte.
Justifica-se tal recurso tendo em vista que o poder do relator foi substancialmente
aumentado com a vigência do Novo Código de Processo Civil. Basta ver as diversas
hipóteses em que o próprio relator pode julgar monocraticamente os recurso distribuídos
a sua relatoria (ver art. 932).

11. PROCESSAMENTO
Será processado conforme o disciplinamento constante do regimento interno do
respectivo tribunal.
12. PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO
O prazo para interposição será de 15 (quinze) dias nos termos do estabelecido no
art. 1.070. Igual prazo terá o agravado para responder aos termos do recurso,
permitindo-se ao relator a possibilidade de retratação (art. 1.021, § 2°).

13. PETIÇÃO DO AGRAVO INTERNO


Na sua petição de agravo interno o recorrente deverá impugnar especificadamente
os fundamentos da decisão agravada, deixando claro quais são os pontos da decisão que
estão sendo impugnados e por quais razões.
Deverá ter o cuidado de não repetir os argumentos postos no recurso original, ou
seja, naquele que motivou a decisão monocrática. Deverá impugnar a decisão do relator
e apontar eventuais desacertos, sob pena de ver o seu recurso caracterizado como
manifestamente inadmissível. Da mesma forma que é vedado ao relator limitar-se à
reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo
interno (art. 1.021, §§ 1° e 3°).

14. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Se o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente


em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o
agravante a pagar ao agravado multa fixada entre 1 (um) e 5 (cinco) por cento do valor
atualizado da causa (art. 1.021, § 4°, do NCPC).
Atente-se para o fato de que a aplicação da multa está condicionada a que o órgão
julgador unanimemente considere o recurso manifestamente inadmissível ou
improcedente. Quer dizer, o simples fato de o recurso ser julgado improcedente não é
motivo para aplicação da multa. Repita-se: só se for considerado manifestamente
inadmissível ou manifestamente improcedente e, ainda assim, por votação unânime.
Ademais, a interposição de qualquer outro recurso fica condicionado à realização do
depósito prévio do valor da multa fixada, exceto a Fazenda Pública e o beneficiário de
gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final (art. 1.021, § 5°, do NCPC).
A finalidade desta previsão é impedir, ou pelos menos reduzir, a possibilidade de
interposição de recursos meramente protelatórios. Ou seja, visa coibir o uso abusivo do
direito de recorrer.
DOS RECURSOS PARA OS TRIBUNAIS SUPERIORES

ESCLARECIMENTOS INICIAIS
Neste módulo vamos tratar dos recursos aos tribunais superiores (STJ e STF), quais
sejam: recurso ordinário (arts. 1.027/1.028); recurso especial e recurso extraordinário
(arts. 1.029/1.035); e, do agravo em recurso especial e em recurso extraordinário (art.
1.042), além dos embargos de divergência (arts. 1.043 e 1.044).

1 – RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL


(artigo 1.027 e 1.028)

1.1 CONCEITO

É um tipo de recurso dirigido ao STF (CF, art. 102, II) ou STJ (art. 105, II), conforme
o caso, que vai funcionar como uma espécie de “apelação” nas causas julgadas em única
instância pelos tribunais, nos termos como previsto no art. 1.027, I e II.
O objetivo do recurso ordinário constitucional é o de permitir que ações originárias
dos Tribunais tenham uma verdadeira segunda instância, representada pela possibilidade
de amplo reexame das matérias decididas anteriormente (tanto de fato quanto de
direito).
Por ser um tipo de recurso regulado na Constituição Federal, a doutrina denomina
de recurso ordinário constitucional, até mesmo para diferenciá-lo do recurso ordinário
trabalhista (espécie de apelação na Justiça do Trabalho).

1.2 CABIMENTO

O recurso ordinário cabe de pronunciamentos oriundos de tribunais, em razão de


sua competência originária, na área civil, sempre que o pronunciamento original possua
conteúdo “denegatório”, nos termos estabelecidos no art. 1.027 do CPC, vejamos.

a. Mandato de segurança, habeas data ou mandado de injunção


denegados em única instância pelos Tribunais
Superiores: competência do STF (artigo 102, II, “a”, CF e artigo
1.027, I, do CPC). Exemplo: o mandado de segurança contra ato de
Ministro de Estado é originariamente julgado pelo STJ (artigo 105, I, b,
CF), logo cabe recurso ordinário contra o acórdão que houver denegado a
ordem nesse “mandamus”, sendo o RO dirigido ao STF.
b. Mandato de segurança denegado pelos Tribunais Regionais
Federais Tribunais estaduais: competência do STJ (artigo 105, II,
“b”, CF e artigo 1.027, II, “a”, do CPC). Exemplo: o Mandado de
Segurança contra ato do governador compete originariamente ao Tribunal
de Justiça do estado, o qual se denegar a ordem poderá ser objeto de
recurso ordinário para o STJ.
c. Causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo
internacional e de outro lado Município ou pessoa residente ou
domiciliada no país: competência do STJ (artigo 105, II, “c”, CF e
artigo 1.027, II, “b”, do CPC). Exemplo: se o FMI propõe ação contra o
Estado de São Paulo, buscando o pagamento de um empréstimo, perante
a Justiça Federal (artigo 109, II, CF), sendo o RO encaminhado ao STJ.

1.3 INTERPOSIÇÃO

A petição de interposição do recurso deverá ser endereçada ao Presidente do


Tribunal que proferiu a decisão denegatória. As razões recursais deverão ser anexadas à
petição de interposição, devendo ser dirigidas ao STF ou STJ, conforme o caso.
O prazo para a interposição do recurso ordinário constitucional será, como regra,
15 (quinze) dias (ver NCPC, art. 1.003, § 5°). Será também de 15 (quinze) dias o prazo
para o recorrido apresentar suas contrarazões (ver NCPC, art. 1.028, § 2°).
No ato de interposição o recorrente deverá comprovar o recolhimento das custas
exigidas, bem como de outras despesas, sob pena de ver seu recurso ser declarado
deserto (ver NCPC, art. 1.007). Se for beneficiário da gratuidade de justiça, deverá
informar tal fato indicando com precisão em quais folhas do processo se encontra a
decisão concessiva.

1.4 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Cumpridas todas as formalidades, o Presidente do Tribunal recorrido encaminhará


o recurso ao STJ ou STF, independente de juízo de admissibilidade (art. 1.028, § 3°).
No STJ ou STF, conforme o caso, aplica-se quanto ao juízo de admissibilidade as
regras do regimento interno do respectivo tribunal.
2 – RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINARIO
(arts. 1.029 a 1.035)

2.1 CONCEITO DOS DOIS RECURSOS


O Recurso Especial e o Recurso Extraordinário são recursos constitucionais, uma
vez que foram instituídos por nossa Carta Magna, que estabelece também as hipóteses
de cabimento e os requisitos específicos de admissibilidade. São recursos de caráter
excepcional, criados em prol do interesse social de se preservar o ordenamento jurídico
de violações ou interpretações inadequadas, buscando a uniformização de sua exegese.
Enquanto o RECURSO ESPECIAL é o recurso previsto no artigo 105, de nossa Carta
Magna, e que se presta a dar adequado cumprimento, interpretação ou aplicação à lei
federal, o RECURSO EXTRAORDINÁRIO, está previsto junto ao artigo 102, daquele
mesmo texto e está dirigido a preservar nosso ordenamento constitucional, seja coibindo
sua violação, seja uniformizando sua interpretação.

2.2 CABIMENTO

O Recurso Especial é cabível para reapreciação das causas decididas, em única ou


última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: contrariar tratado ou lei federal,
ou negar-lhes vigência; julgar válida lei ou ato do governo local contestado em face de
lei federal; ou der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal (CF, art. 105, III).
Já o Recurso Extraordinário é cabível para que o Supremo Tribunal Federal possa
reapreciar as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
contrariar dispositivo desta Constituição; declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
lei federal; julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição; e, julgar válida lei local contestada em face de lei federal (CF, art. 102,
III).

2.3 INTERPOSIÇÃO

Em ambos os casos o recurso deve ser interposto por petição dirigida ao presidente
ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas, que conterão: a
exposição do fato e do direito; a demonstração do cabimento do recurso interposto; e as
razões do pedido de reforma da decisão recorrida (NCPC, art. 1.029, caput).
O prazo para a interposição tanto do recurso especial quanto do recurso
extraordinário será de 15 (quinze) dias (ver NCPC, art. 1.003, § 5°). Será também de 15
(quinze) dias o prazo para o recorrido apresentar suas contrarazões (ver NCPC, art.
1.030, caput).
No ato de interposição o recorrente deverá comprovar o recolhimento das custas
exigidas, bem como de outras despesas, sob pena de ver seu recurso ser declarado
deserto (ver NCPC, art. 1.007). Se for beneficiário da gratuidade de justiça, deverá
informar tal fato indicando com precisão em quais folhas do processo se encontra a
decisão concessiva.

2.4 EFEITOS DOS RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO

O efeito do recurso, tanto do Especial, quanto do Extraordinário, é apenas


devolutivo, no âmbito da controvérsia sobre a lei federal ou sobre a Constituição, não
tendo o poder de suspender a decisão atacada, sendo por isso plenamente possível a
execução provisória do julgado (art. 995 do NCPC).
Quando houver possibilidade de risco de dano grave ou de difícil reparação o relator,
tanto no STJ quanto no STF, estará autorizado atribuir efeito suspensivo ao recurso
Especial ou Extraordinário, mediante requerimento do interessado (art. 995, parágrafo
único c/c art. 1.029, § 5°, do NCPC). Se o recurso ainda estiver dependente do juízo de
admissibilidade pelo tribunal a quo, esta atribuição é do presidente ou vice-presidente do
tribunal recorrido (art. 1.029, § 5°, III, do NCPC).

2.5 CARACTERÍSTICAS COMUNS AOS DOIS RECURSOS

Ambos os recurso possuem características em comum quanto à sua


admissibilidade, quais sejam:

a. O esgotamento das instâncias ordinárias;


b. Prequestionamento;
c. Não servem para questionar a “justiça” do julgamento;
d. Não servem para mero reexame de provas ou fatos;
e. Não cabimento se a decisão recorrida se conforma com a jurisprudência do
Tribunal “ad quem” (STJ ou STF);
f. Obrigatoriedade de interposição simultânea de recurso especial e
extraordinário quando couberem conjuntamente (violação simultânea ao
ordenamento jurídico federal e constitucional);
Examinemos um a um esses aspectos em comum a fim de posteriormente
adentrarmos as hipóteses e particularidades de cada um desses recursos.
a) Esgotamento das instâncias ordinárias:
Consiste na obrigatoriedade de que a decisão judicial que se quer atacar não seja
mais recorrível nas instâncias ordinárias, tendo sido utilizados todos os recursos
até então cabíveis, antes de se recorrer ao STJ ou ao STF.
b) Prequestionamento:
O prequestionamento é o debate anterior do tema da causa, com a
manifestação expressa do órgão prolator da decisão impugnada sobre a
interpretação da lei federal ou de dispositivo constitucional, ou em outras
palavras, haverá prequestionamento quando o juízo “a quo” adotou
explicitamente tese a respeito do tema em face do qual se recorre. O
prequestionamento visa simultaneamente evitar a supressão de instância, o que
ocorreria se a matéria fosse acolhida pelo STJ ou STF sem ter sido debatida nos
tribunais locais, bem como evitar que a parte contrária seja surpreendida com o
novo tema, sem que tivesse oportunidade de debatê-lo nas instâncias ordinárias.
c) Não cabimento desses recursos para questionar a “justiça” da
decisão recorrida:
Tanto na hipótese de Recurso Especial para o STJ, quanto na de Recurso
Extraordinário para o STF, temos que não há nos dois casos instrumentos
ordinários de impugnação, mas sim meios de proteção ao ordenamento jurídico
federal e constitucional, razão pela qual se discute nessa sede a violação a esses
sistemas e não a justiça ou injustiça da decisão outrora proferida. No recurso
especial e extraordinário há um interesse que se sobrepõe ao individual, que é o
interesse social de assegurar a integridade do ordenamento, razão pela qual não
basta a mera sucumbência ou prejuízo da parte para justificar sua interposição.
Assim sendo no Recurso Especial a questão federal e no Recurso Extraordinário a
questão constitucional é que justificarão a interposição de tais recursos.
d) Não cabimento para reexame de provas ou fatos:
Como já dito os recursos especial e extraordinário se prestam a discutir apenas
as questões jurídicas autorizadas em nossa Carta Magna, quais sejam, questões
relacionadas à aplicação da legislação federal e aos dispositivos constitucionais.
Assim, eles não se prestam para o reexame da matéria de fato, as quais devem
ter sido solucionadas pelas instâncias ordinárias, quando procederam à tarefa da
subsunção do fato à norma pertinente. O STF e o STJ não servem como novas
instâncias ordinárias e por isso o mero reexame de provas desvirtuaria sua função
especial. É nessa dimensão que se entende a Súmula 279 do STF: "Para simples
reexame da prova não cabe recurso extraordinário", o adjetivo simples, aí, dando
a conotação ora sustentada. Nesse mesmo sentido também a Súmula 454 do
STF: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso
extraordinário”. O STJ também editou a Súmula 7 de seguinte teor: “a pretensão
de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.
e) Não cabimento se a decisão recorrida se conforma com a
jurisprudência do tribunal ad quem:
Seja em sede de recurso especial ou de recurso extraordinário se a interpretação
do juízo “a quo” se harmoniza com a interpretação jurisprudencial do juízo “ad
quem” os recursos em questão não serão admitidos, tendo em vista a inexistência
de controvérsia ou violação ao ordenamento seja infraconstitucional ou
constitucional, circunstância em que o recurso seria absolutamente inútil.
f) Obrigatoriedade de interposição simultânea dos recursos
extraordinário e especial, na hipótese de duplo cabimento:
Caso a decisão atacada possua fundamentos infraconstitucionais e constitucionais,
e qualquer deles seja suficiente para sustentá-la, será obrigatória a interposição
simultânea dos recursos extraordinário e especial.

2.6 EMBARGOS DECLARATÓRIOS PARA PREQUESTIONAMENTO

A jurisprudência do STJ, através da Súmula 98 admite expressamente a utilização


de Embargos Declaratórios como meio de se fazer o prequestionamento da matéria a ser
debatida em futuro recurso perante aquele Tribunal, a saber: “Embargos de declaração
opostos com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório”.
A jurisprudência reinante no STJ e no STF vem se firmando no sentido de que
mesmo na hipótese de não acolhimento dos Embargos Declaratórios, quando de fato
houve omissão do juízo “a quo” deve ser considerada prequestionada a matéria (Recurso
Extraordinário nº231.452/PR – Relator Ministro Sepúlveda Pertence - 1ª Turma STF –
j.31/08/2004 – DJ 24/09/2004), entretanto o mesmo não ocorrerá se a questão foi
suscitada pela primeira vez em sede de Embargos Declaratórios.
Havia no STF a tese de que seria admissível o prequestionamento ficto, tanto que
editaram a súmula 356 do STF, de seguinte teor: “O ponto omisso da decisão, sobre o
qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso
extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.
Cumpre esclarecer que prequestionamento ficto é aquele que será considerado
válido se a parte interpôs os embargos de declaração perante o órgão competente diante
da omissão judicial, mesmo que o tribunal a quo não se manifeste sobre os mesmos.
É importante destacar que o Novo CPC positivou a tese do prequestionamento ficto,
ao preceituar em art. 1.025: “Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o
embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de
declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes
erro, omissão, contradição ou obscuridade.”
Esclarecendo melhor:
O recurso de embargos de declaração é um recurso que pode buscar o
prequestionamento da matéria, desde que as partes tenham suscitado a matéria
previamente no recurso que foi julgado pelos tribunais de segundo grau. Contudo, o
desprovimento dos embargos de declaração permite que no recurso especial alegue-se,
preliminarmente, violação ao art. 535 do CPC/73, que equivale hoje ao art. 1.022 do
Novo CPC. Ao julgar o recurso especial, o Tribunal poderá dar provimento com base nesse
artigo para anular o acórdão recorrido e, consequentemente, o tribunal de segundo grau
julgar novamente o recurso de embargos de declaração esclarecendo a omissão
apontada.[1]

2.7 INERPOSIÇÃO CONJUNTA DOS DOIS RECURSOS

A Súmula 126 do STJ, disciplina que: “É inadmissível recurso especial quando o


acórdão recorrido assenta em fundamento constitucional e infraconstitucional, qualquer
deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
extraordinário”.
O contraponto dessa súmula, no âmbito do recurso extraordinário, reside
na Súmula 283 do STF, que considera que: “É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso
não abrange todos eles”
Com relação à compatibilização desses dois recursos, dispõe o art. 1.029, caput, do
Novo Código de Processo Civil que o recurso extraordinário e o recurso especial,
nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o
presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas.
Com relação ao prazo, prevalece a regra geral de 15 (quinze) dias para ambos,
conforme previsto no art. 1.003, § 5° do Novo Código de Processo Civil, tanto para
interpor quanto para responder.
Isto significa que, diante de uma decisão contra a qual seja, em tese, cabível recurso
especial e recurso extraordinário, correrá, simultaneamente, para a parte vencida, o
prazo para interposição de ambos os recursos.
O art. 1.031 do Novo Código de Processo Civil é que trata, efetivamente, da
compatibilidade de processamento simultâneo de ambos os recursos.
De acordo com o que dispõe o retro citado art. 1.031, se forem admitidos na origem
ambos os recursos, os autos serão remetidos primeiramente ao Superior Tribunal de
Justiça. Somente após o julgamento do recurso especial (art. 1.031, § 1º) é que os autos
serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal, para apreciação do recurso extraordinário,
se este não estiver prejudicado.
A regra, portanto, é a de que o recurso especial será sempre apreciado antes do
recurso extraordinário, podendo este último restar prejudicado pela decisão do primeiro,
quando, por exemplo, a decisão recorrida for reformada ou anulada pelo Superior Tribunal
de Justiça.
Na hipótese de o relator do recurso especial considerar que o recurso
extraordinário é prejudicial em relação àquele, por exemplo, quando se estiver
questionando a constitucionalidade da mesma lei federal que se diz violada (em
decisão irrecorrível), o relator sobrestará o seu julgamento e remeterá os autos
ao Supremo Tribunal Federal, para julgar o extraordinário em primeiro lugar (art.
1.031, § 2).
Entretanto, dispõe o § 3º do mesmo art. 1.031 que, se o relator do recurso
extraordinário não o considerar prejudicial (também em decisão que é irrecorrível),
devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça, para o julgamento do recurso especial.

2.8 A PETIÇÃO E SEU PROCESSAMENTO

Deve ser feita uma petição de apresentação do recurso, endereçada ao Presidente


ou Vice-Presidente do Tribunal recorrido (conforme Regimento Interno), e outra que
acompanha a primeira, mas já dirigida ao Tribunal Superior, contendo as razões de
recurso, que devem conter, conforme expressa previsão do art. 1.029, do NCPC, o
seguinte:

e. Exposição de fato e de direito;


f. Demonstração de cabimento do recurso;
g. Razões para a reforma ou anulação da decisão atacada.
h. Pedido de reforma ou anulação da decisão atacada.
Quando a Secretaria do Tribunal receber a petição, abrirá vistas ao recorrido a fim
de que este, desejando, ofereça contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias, após o
qual com as contrarrazões ou sem elas, os autos serão conclusos para realização do
juízo de admissibilidade pelo tribunal recorrido (art. 1.030, § 1º, do NCPC).
Se admitido o recurso os autos, poderão ou não ser remetidos ao STJ ou ao STF,
dependendo da existência de multiplicidade de recursos sobre aquela questão ou não no
Tribunal “a quo”.
Veremos mais adiante, que por medida de economia processual, a multiplicidade
de recursos (tanto no Recurso Especial, quanto no Recurso Extraordinário) pode
determinar a suspensão do processamento dos recursos idênticos (artigos 1.036, do
NCPC), subindo apenas um recurso, escolhido pelo Tribunal “a quo” como o que melhor
representa a controvérsia, ficando os demais sobrestados, conforme veremos mais
detalhadamente adiante.
Caso não seja hipótese de multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e
sendo o Recurso admitido, os autos serão remetidos ao STJ ou ao STF (conforme seja
Recurso Especial ou Recurso Extraordinário, lembrando que se houver interposição
simultânea, em regra, primeiramente irá ao STJ e depois ao STF).
Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá, contra
a decisão do presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, agravo nos próprios
autos, no prazo de 15 dias, para o tribunal competente (STJ ou STF) para
apreciar o recurso, conforme o caso (art. 1.042, “caput” c/c art. 1.003, § 5°, do
NCPC).
Lembramos que caso o relator não admita o agravo, negue provimento ou
reforme de imediato o acórdão recorrido, ainda caberá interpor agravo interno,
agora no prazo de 15 (quinze) dias, ao órgão competente para o julgamento do
recurso (art. 1.021 do NCPC).
Após a subida do recurso, no Tribunal “ad quem”, o Relator fará novo juízo de
admissibilidade, e sendo o recurso admitido, havendo hipótese de intervenção obrigatória
do Ministério Público (art. 178 do NCPC) será concedida vista ao Parquet, no prazo
determinado no Regimento Interno, para prolação de parecer e em seguida, voltando os
autos ao Relator este pedirá dia para julgamento, sendo tal pauta publicada no órgão
oficial.
O julgamento do recurso será tomado pela maioria absoluta dos seus membros,
assim, no STJ bem como no STF. Como cada Turma é composta de 5 (cinco) Ministros
(sendo que no STF existem apenas duas Turmas e no STJ existem seis Turmas) é
necessário que três deles votem no mesmo sentido, sendo o quórum mínimo para
instalação do julgamento o de 3 (três) Ministros.

2.9 PARTICULARIDADES DO RECURSO ESPECIAL

O recurso especial é o recurso interposto perante o Superior Tribunal de Justiça a


fim de se discutir a interpretação do direito no que concerne à lei federal.
A competência, como dito, está inserta em seu próprio conceito, é exclusiva
do Superior Tribunal de Justiça, não existindo recurso especial em qualquer outro
âmbito.
As hipóteses de cabimento estão expressamente previstas pelo artigo 105, III,
de nosso texto constitucional, a saber:
“Art.105. ............................................................................
III- julgar, em recurso especial, as causas decididas em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais, Tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e território, quando a decisão recorrida:
a). contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhe vigência;
b). julgar válida lei ou ato de governo local, contestado em face de lei
federal;
c). der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.”
Não obstante as hipóteses de cabimento do Recurso Especial pareçam bastante
semelhantes, pois todas direta ou indiretamente dizem respeito à interpretação desse
ordenamento, há que se distinguir entre cada uma delas, pois “contrariar lei” é dar
cumprimento diverso do que seria o correto, enquanto negar-lhe vigência consiste em
declará-la ou entendê-la erroneamente como revogada (alínea “a”).
Já quanto a julgar válida lei ou ato local contestado em face da lei federal pode
significar tanto atribuir uma aplicação incorreta como entender por revogada a lei federal,
mas sempre em confronto com uma norma local (alínea “b”). Nesta hipótese é muito
comum que a Constituição Federal seja também atingida, pois é esta que distribui as
competências legislativas, e por isso devemos alertar que sendo a Constituição Federal
atingida o caso não será apenas de recurso especial, mas sim de recurso extraordinário
(artigo 102, III, “d”, da Constituição Federal).
A última hipótese de cabimento (alínea “c”) diz respeito a divergência
jurisprudencial entre tribunais diversos, posto que na hipótese de divergência entre
Turmas do mesmo Tribunal o remédio correto seria provocar o tribunal de origem à
“uniformizar sua jurisprudência” (art. 926) e não o recurso especial, como já também
ressaltado pela Súmula 134 do STJ, a saber: “A divergência de julgados do mesmo
tribunal não enseja recurso especial”.
Devemos observar também que a decisão atacada pelo recurso especial deve ter
sido proferida por um Tribunal (seja um Tribunal Regional Federal ou por um Tribunal de
Justiça), não sendo cabível na hipótese dos Colégios Recursais (órgãos de segunda
instância dos Juizados Especiais), conforme Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso
especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”.
Os requisitos de admissibilidade do Recurso Especial são os requisitos gerais de
todos os recursos (interesse, legitimidade, tempestividade, adequação, preparo, etc.) e
aqueles que ele compartilha com o Recurso Extraordinário (esgotamento dos outros
recursos, prequestionamento, alegação de direito, havendo fundamento constitucional, a
interposição simultânea de recurso extraordinário, etc), entretanto, na hipótese de
divergência jurisprudencial, há outros requisitos específicos (artigo 105, III, “c”, CF),
a saber:

a. A divergência deve ser entre Tribunais diferentes, não podendo ser


interna;
b. A interpretação que se quer fazer prevalecer através do Recurso
Especial não pode já ter sido superada ou alterada pelo próprio
Tribunal que a aplicava;
c. Juntada de certidão dos acórdãos ou cópia autenticada ou ainda
citação de repositório de jurisprudência oficial ou credenciada,
inclusive em mídia eletrônica em que tiver sido publicada a decisão
divergente, ou também pela reprodução do julgado disponível na
Internet (com indicação da fonte), transcrevendo os trechos
conflitantes e indicando as circunstâncias que tornam os casos
semelhantes; e,
d. O STJ não pode ter firmado entendimento equivalente ao da
decisão recorrida (Súmula 83, do STJ).
Atualmente circunstância relevante acerca do Recurso Especial e do Recurso
Extraordinário, ocorre quando se verifica a MULTIPLICIDADE DE RECURSOS (art.
1.036, do NCPC), ou seja, quando existirem perante o mesmo Tribunal diversos
recursos especiais ou extraordinários com fundamento em idêntica questão de direito e
neste caso o legislador determinou um procedimento de economia processual a fim de
evitar que tais recursos se acumulem perante o Superior Tribunal de Justiça ou perante
o Supremo Tribunal Federal, conforme veremos no modulo 7.

2.10 PARTICULARIDADES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

O recurso extraordinário é o recurso interposto perante o Supremo Tribunal Federal


a fim de se discutir a interpretação do direito no que concerne ao texto constitucional.
A competência, como dito, está inserta em seu próprio conceito, é exclusiva
do Supremo Tribunal Federal, não existindo recurso extraordinário em qualquer outro
âmbito.
As hipóteses de cabimento estão expressamente previstas pelo artigo 102, III,
de nosso texto constitucional, a saber:
“Art.102. ............................................................................
III- julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:
a). contrariar dispositivo desta Constituição;
b). declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c). julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.”
Não obstante as hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário pareçam
bastante semelhantes, pois todas direta ou indiretamente dizem respeito à interpretação
constitucional, há que se distinguir entre cada uma delas, pois “contrariar dispositivo” é
dar cumprimento diverso do que seria o correto (alínea “a”), enquanto declarar a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (alínea “b”) significa negar sua vigência em
face da Constituição.
Julgar válida lei ou ato local contestado em face da Constituição pode significar
tanto atribuir uma aplicação incorreta como entender que a lei em questão foi
recepcionada pelo texto constitucional (alínea “b”).
A última hipótese de cabimento (alínea “c”) diz respeito a conflito entre lei local e
lei federal, que é resolvido em face de interpretação constitucional em razão de ser nossa
Carta Magna quem determina a divisão de competências.
Nossa Carta Magna, através da Emenda Constitucional de nº45/2004 acrescentou
um novo requisito de admissibilidade exclusivo dos Recursos Extraordinários, qual seja a
demonstração da REPERCUSSÃO GERAL das questões constitucionais discutidas no
caso (artigo 102, §3º, CF).
O Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 1.035, regulou a questão definindo
como “repercussão geral”, em seu § 1º, a existência ou não de questões relevantes
do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os
interesses subjetivos do processo.
A repercussão geral é examinada exclusivamente pelo STF, em julgamento público
e fundamentado. O procedimento através dos quais os Ministros se manifestam a
respeito da repercussão geral é eletrônico, sendo o Relator do recurso, o primeiro a se
manifestar, tudo na forma do art. 323, do RISTF.
Apenas em caráter ilustrativo, citamos decisão recente em que o STF se manifestou
positivamente sobre a existência de repercussão geral em recursos que envolviam a
discussão dos expurgos inflacionários incidentes sobre Cadernetas de Poupança
decorrentes do Plano Collor (RE 591.797-RG – STF).
O recorrente deve ao comprovar o cabimento do recurso, defender preliminarmente
a existência de repercussão geral e o Relator do recurso pode admitir, na análise da
repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado (art.
1.035, § 4º, do NCPC).
Presume-se de forma absoluta a repercussão geral quando o Recurso
Extraordinário se voltar contra decisão que houver contrariado súmula ou
jurisprudência dominante do STF ou tenha reconhecido a inconstitucionalidade
de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da Constituição Federal
(NCPC, art. 1.035, § 3°, I e II).
Caso seja negada a repercussão geral do recurso extraordinário, esta
decisão é irrecorrível e valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que
passarão a ser indeferidos liminarmente, salvo eventual revisão da tese (art. 1.035, § 8º,
do NCPC).
Ainda em prol da “filtragem” de recursos inúteis, nosso legislador também
regulamentou no âmbito do Recurso Especial e do Recurso Extraordinário a questão
da MULTIPLICIDADE DE RECURSOS, ou seja, os recursos extraordinário e especial
repetitivos, que merecerá um capítulo especial conforme veremos (arts. 1.036 a 1.041).

3 – AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO


(art. 1.042, do CPC)[2]

3.1 FINALIDADE DO AGRAVO

A finalidade deste recurso é fazer subir o recurso especial ou extraordinário ao qual


tenha sido negado seguimento pelo tribunal de origem.
Quer dizer, se o Tribunal recorrido negar seguimento ao recurso especial ou ao
recurso extraordinário, isto é, obstar que o mesmo suba ao STJ ou ao STF, nos termos
como previsto no inciso V do art. 1.030, caberá agravo nos próprios autos, no prazo de
15 (quinze) dias, em petição que será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal a quo (ver regimento0 interno do tribunal em questão).

3.2 PROCESSAMENTO

Recebido o recurso, o agravado será intimado para oferecer resposta no mesmo


prazo de 15 (quinze) dias, podendo instruí-la com os documentos que entenda necessário
e, em seguida, se não houver juízo de retratação, os autos subirão automaticamente ao
Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal, conforme o caso, onde será
apreciado o seu cabimento (ver NCPC, Art. 1.042, §§ 3° e 4°).
No tribunal superior o agravo será julgado, conforme dispõe o respectivo regimento
interno, podendo ser realizado em conjunto com o recurso especial ou extraordinário. Se
for julgado em conjunto, isto é, o agravo com o próprio recurso, as partes deverão ser
intimadas para eventual sustentação oral (ver NCPC, art. 1.042, § 5°).
Caso tenha sido interposto tanto o recurso especial quanto o recurso extraordinário
e ambos tenham sido inadmitidos, deverá o interessado interpor dois agravos, isto é, um
agravo para cada recurso não admitido (ver NCPC, art. 1.042, § 6°).

3.3 INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO

O agravo contra decisão denegatória de seguimento ao recurso especial ou


extraordinário será processado nos próprios autos e, como o processo estará no Tribunal
de origem, é necessário que se faça através de uma petição de interposição endereçada
ao Presidente do Tribunal que negou seguimento e outra com as próprias razões do
recurso.
É importante destacar que independe do pagamento de custas e despesas postais,
aplicando-se a ele o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos, inclusive
quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação (ver art. 1.042, § 2°,
do CPC/15).

4 – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
(artigo 1.043, do CPC)

4.1 CONCEITO
Os embargos de divergência é o recurso através do qual se busca impugnar decisão
proferida por uma das Turmas do STJ ou do STF, quando esta colidir com decisão de
outra Turma ou Seção do mesmo Tribunal, em caso idêntico ao que se julga.
Isso demonstra a função social desse recurso, o qual promove a pacificação
jurisprudencial nos chamados Tribunais de superposição (STJ e STF), pois obviamente se
cabe ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal interpretar em última
instância o direito federal assim como o constitucional, parece-nos lógico que o mesmo
se espere dos órgãos internos dessas Cortes de Justiça, mantendo coerência em seus
julgados.
É fácil concluir que o fundamento maior dos Embargos de Divergência é o de
preservar a segurança jurídica, evitando que aquelas máximas Cortes atribuam soluções
distintas à questões similares.
Repare que o objetivo dos embargos de divergência é o de extirpar julgamentos
divergentes dentro do STJ e do STF, não constituindo hipótese deste recurso qualquer
divergência em relação a outros tribunais.

4.2 CABIMENTO
Os embargos de divergência, como já dito são cabíveis apenas no âmbito do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, na hipótese de acórdão que
decida um recurso extraordinário (STF) ou um recurso especial (STJ), havendo
divergência entre este acórdão e outro proferido naquela mesma Corte (art. 1.043, I e
III, do Código de Processo Civil).

4.3 REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

Os embargos de divergência exigem, no tocante ao procedimento de sua


admissibilidade, como qualquer outro recurso, sua tempestividade, legitimidade,
interesse, preparo e regularidade formal, assim como a inexistência de qualquer fato
impeditivo ou extintivo do direito de recorrer.
O prazo para a interposição dos embargos de divergência, tanto no
Supremo Tribunal Federal como no Superior Tribunal de Justiça, é de 15 dias
(art. 1.003, § 5°).
Naturalmente o prazo é contado da publicação da ementa do acórdão no órgão
oficial, salvo manifesto conhecimento da parte da decisão embargada, como por exemplo,
quando há retirada dos autos do cartório antes da mencionada publicação.
O recorrente deve apresentar os Embargos de Divergência em petição escrita
dirigida à autoridade judiciária competente, indicando os pontos fáticos e legais
divergentes, fazendo prova da divergência e, finalmente, fazendo o pedido de
prevalência da decisão indicada.
A prova da divergência pode ser feita com cópia autêntica do acórdão ou dos
acórdãos apresentados para confronto ou mediante citação da sua publicação em
repositório de jurisprudência, oficial ou autorizado, ou ainda, com reprodução do julgado
disponível na rede mundial de computadores, indicando a respectiva fonte, de modo
compreensível, os trechos que demonstram a divergência, com a menção das
circunstâncias que identificam serem iguais os fatos e a natureza jurídica do que os
acórdãos em confronto discutiram, embora apontando soluções diversas.
Os embargos devem ser interpostos contra decisão de Turma, Seção ou da Corte,
no âmbito do STJ, ou de Turmas, quando for interposto no Supremo Tribunal Federal,
sendo fundamental a demonstração da divergência.
Os embargos de divergência só podem ser interpostos pela parte vencida ou pelo
Ministério Público, nos processos em que funcionar.
A parte vencida, inicialmente, tem ampla legitimidade para apresentar os embargos
de divergência, mesmo que tenha sido revel durante toda a fase de conhecimento ou
somente na fase recursal, posto que a revelia não impede o ingresso da parte a qualquer
tempo em juízo, ressalvando-se apenas esta acompanhará o processo a partir do ponto
em que se encontra.

4.4 PROCESSAMENTO

A interposição dos embargos de divergência no STJ interrompe o prazo para


interposição do recurso extraordinário (art. 1.044, § 1°).
O processamento dos embargos de divergência deve ser realizado conforme
disciplina o regimento interno do STJ e STF.
O embargante tem o prazo de 15 (quinze) dias úteis para interposição do recurso,
que será distribuído para novo relator, que analisará o cabimento deste recurso,
indeferindo-o ou processando para intimar o embargado para apresentar impugnação no
idêntico prazo de 15 (quinze) dias. Após, o relator poderá novamente proceder a análise
dos requisitos de admissibilidade recursal e, preenchidos os requisitos, requerer inclusão
em pauta para julgamento, cuja competência do órgão dependerá do paradigma juntado
ao recurso.
No caso do Superior Tribunal de justiça, que tem seis turmas, três sessões e a Corte
Especial. Prevê o art. 266 do RI/STJ que (...) “que serão julgados pela Seção competente,
quando as Turmas divergirem entre si ou de decisão da mesma Seção. Se a divergência
for entre Turmas de Seções diversas, ou entre Turma e outra Seção ou com a Corte
Especial, competirá a esta o julgamento dos embargos”.
No Supremo, a competência é obrigatoriamente do Pleno em razão das duas turmas
lá existentes. O advogado terá 15 (quinze) minutos para realização de sustentação oral
e, na sequência, o órgão proferirá o resultado do julgamento para posterior publicação
do acórdão. Dessa decisão, a parte poderá opor embargos de declaração e recurso
extraordinário, cujo prazo foi interrompido quando da interposição dos embargos de
divergência.

[1] MELO, Nehemias Domingos de. Novo CPC Anotado, Comentado e Comparado, 2ª.
ed, Rumo Legal, 2016, p. 932.
[2] Conforme Nehemias Domingos de Melo in Como advogar no cível com o Novo CPC –
Teoria e prática, 2ª ed.. Rumo legal, 2016.
DO JULGAMENTO DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIO E ESPECIAL REPETITIVOS
(arts. 1.036 a 1.041)
1. CONCEITO
O recurso extraordinário ou especial repetitivo nada mais é do que um mecanismo
de julgamento de múltiplos recursos que possuem teses idênticas e tenham como
fundamento idêntica questão de direito, justificando-se assim o julgamento por
amostragem, na exata medida em que, o resultado do julgamento do caso paradigma
será aplicado aos múltiplos recursos baseados em questão idêntica.
Justifica-se a aplicação deste dispositivo quando existirem perante o mesmo
Tribunal diversos recursos especiais ou extraordinários com fundamento em idêntica
questão de direito. Nesse caso, o legislador determinou um procedimento de economia
processual a fim de evitar que tais recursos se acumulem perante o Superior Tribunal
de Justiça ou perante o Supremo Tribunal Federal (art. 1.036, CPC).

2. PROCESSAMENTO
O presidente ou vice-presidente do tribunal de origem (tribunal de justiça ou tribunal
regional federal) escolherá dois ou mais recursos representativo de controvérsia, os
quais serão encaminhados ao STJ ou STF, e os demais permanecerão suspensos
aguardando a decisão a respeito. Caso o Tribunal de origem não tome essa providência,
o STJ ou STF, poderá determiná-la, conforme preceitua o art. 1.036, § 5° do CPC.
O Relator do recurso especial ou extraordinário no STJ ou STF, conforme o caso,
poderá solicitar informações aos Tribunais a respeito da controvérsia e tais informações
devem ser prestadas no prazo máximo de 15 (quinze) dias, podendo também admitir a
manifestação de terceiros a respeito da controvérsia (art. 1.038, I, CPC).
Recebidas as informações e eventuais manifestações de terceiros, será aberta vista
dos autos ao Ministério Público que proferirá parecer, sendo em seguida a esse parecer,
emitido relatório com cópias encaminhadas aos demais Ministros.
O processo será colocado em pauta de julgamento, tendo preferência sobre os
demais, exceto os que envolvam réu preso e os pedidos habeas corpus (art. 1.038, CPC).

3. SOBRESTAMENTO DOS PROCESSOS IGUAIS


Selecionado o recurso representativo da controvérsia, o relator no tribunal superior,
determinará a suspensão de todos os outros processos que versem sobre a mesma
matéria que ficarão sobrestados em cartório até decisão final do julgamento do caso
selecionado no STF ou STJ (art. 1.037, II, CPC).
As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo, a ser
proferida pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão de sobrestamento.
Essa determinação justifica-se para oportunizar às partes a possibilidade de peticionar e
demonstrar para o juiz ou relator que o seu caso tem distinção com a questão que foi
decidida no recurso especial ou extraordinário afetado, requerendo o prosseguimento
regular do seu processo (art. 1.037, §§ 8° e 9°, CPC).
Em respeito ao princípio do contraditório e da ampla defesa a outra parte deverá
ser intimada a se manifestar sobre o requerimento, no prazo de 5 (cinco) dias.
Se for reconhecida a distinção no caso o próprio juiz ou relator dará prosseguimento
ao processo (incisos I, II e IV do § 10 do art. 1.037), ou se foi sobrestado no tribunal,
comunicará a decisão ao presidente ou ao vice-presidente que houver determinado o
sobrestamento, para que o recurso especial ou o recurso extraordinário seja encaminhado
ao respectivo tribunal superior, após a verificação de sua regularidade e admissibilidade
(art. 1.037, § 10, III).

4. EFEITOS DO JULGAMENTO
Julgado o caso paradigma, o resultado deste julgamento será automaticamente
aplicado a todos os processos que ficaram sobrestados esperando a solução da
controvérsia, bem como servirá como paradigma para a análise dos casos futuros, isto é,
aqueles processos que por ventura sejam interpostos futuramente versando sobre a
mesma questão.
É o chamado efeito erga omnes que terá como resultado prático a vinculação das
instâncias ordinárias ao resultado proferido. Significa dizer que o resultado do julgamento
é vinculante, isto é, obriga todos os juízes e tribunais tanto para os casos presentes
quanto para os casos futuros.
Como resultado disso ocorrerá uma significativa redução do número de processo
em tramite nos tribunais superiores, porém isso não é o mais importante. Importante
mesmo é que o julgamento de casos repetitivos visa garantir tratamento isonômico aos
jurisdicionados, tendo em vista que as instâncias ordinárias deverão seguir a orientação
emanada que servirá como norte para quando se depararem com a mesma questão de
direito posta sub judice.
Quer dizer, para casos exatamente iguais, espera-se soluções exatamente iguais.
Com isso elimina-se a insegurança jurídica representada pelas decisões díspares, de
primeira e segunda instância, sobre mesma questão de direito.

5. APLICAÇÃO DO JULGAMENTO DO RECURSO REPETITIVO


Decidido o recurso paradigma e publicado o acórdão, os demais processos que
foram sobrestados terão um dos seguintes destinos:

a. o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento


aos recursos especiais ou extraordinários sobrestados na origem, se a
decisão recorrida coincidir com a orientação fixada pelo tribunal superior
no caso paradigma, evitando que tais processos subam ao STJ ou STF (art.
1.040, I).
b. se a decisão recorrida não estiver em conformidade com o acórdão
paradigma, o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem,
reexaminará o processo de competência originária, a remessa necessária
ou o recurso anteriormente julgado para eventual reconsideração da
decisão anterior (art. 1.040, II).
c. os processos suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição
retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo
tribunal superior (art. 1.040, III).
AÇÃO RESCISÓRIA
(artigo 966 a 975, CPC)

1. CONCEITO

A ação rescisória é uma ação autônoma que tem como escopo a finalidade de
desconstituir decisão já coberta pelo manto da coisa julgada que tenha sido proferida
com vício ou grau de imperfeição de tamanha grandeza, que justifique rever e modificar
o julgado imperfeito ou viciado.
A ação rescisória visa, em última análise, corrigir a eventual injustiça permitindo
seja buscado a decretação da nulidade de uma decisão que, por ter passado em julgado,
tornou-se irretratável e imutável, com graves danos para a coletividade ou para as partes,
em virtude de sua nulidade.[1]

2. DIFERENÇA ENTRE RECURSO E AÇÃO RESCISÓRIA

O recurso é o remédio processual utilizado a fim de requerer nova decisão, até antes
do trânsito em julgado da sentença, sendo sempre interposto dentro de uma mesma
relação processual.
A ação rescisória em contrapartida só poderá ser utilizada quando constituída a
coisa julgada material, tratando-se, portanto, de uma nova relação processual.

3. PRESSUPOSTOS DA AÇÃO RESCISÓRIA

São condições específicas para a propositura de uma ação rescisória, que:


a. Haja decisão de mérito transitada em julgado, ou seja, coisa
julgada material: O novo CPC fala em decisão de mérito porque na
nova sistemática não é só a sentença que pode ser desconstituída
por rescisória, mas também outras decisões de mérito proferido no
processo. Como regra, não é cabível contra sentença meramente
terminativa (art. 485, CPC), tendo em vista que nestes casos a ação pode
ser repetida (por exceção, se a decisão impede a propositura da mesma
demanda, pode ser manejada a rescisória – ver art. 966, § 1°). Registre-
se também que a exigência na ação rescisória é que ocorra o trânsito em
julgado e não o esgotamento de recursos (Súmula 51 do STF), ou seja,
mesmo que a parte tenha perdido prazos recursais, se enquadrar a
situação dentro das hipóteses do art. 966, do CPC, poderá manejar a ação
rescisória (ver art. 966, § 2°).
b. Previsão legal admitindo a rescisão, as quais só podem ser
encontrados na lei. Quer dizer, só se pode manejar a ação
rescisória se a decisão contiver algum erro ou vício dentre aqueles
enumerados taxativamente nos oito incisos do art. 966 do CPC.
c. Propositura dentro do prazo de 2 (dois anos). Esse prazo é
decadencial e contado a partir do trânsito em julgado da decisão
que se pretende ver rescindida (art. 975, do Código de Processo Civil).

4. CABIMENTO

As hipóteses legais de cabimento da ação rescisória são aqueles previstos


taxativamente no art. 966, do Código de Processo Civil, quais sejam:

a. se verificar que foi proferida por força de prevaricação (deixar de fazer ato
para satisfazer interesse pessoal), concussão (exigir vantagem indevida
em razão da função) ou corrupção (solicitar ou receber vantagem ou
aceitar promessa de tal vantagem) do juiz;[2]
b. for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente:
as causa que tornam o juiz impedido estão elencados no art. 144 e a
incompetência absoluta no art. 64, § 1°, ambos vícios insanáveis (não se
confunda impedido com suspeito).
c. resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte
vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de
fraudar a lei: o dolo aqui tratado é o processual, ou seja, aquele destinado
a enganar o julgador; já a coação é obrigar alguém, mediante grave
ameaça, a proceder de forma que não agiria se não tivesse sido coagido;
enquanto que a colusão e a simulação significa o acordo entre as partes
para obter através do processo algo ilegal.
d. ofender a coisa julgada: isso pode ocorrer quando a sentença que se
pretenda rescindir tiver violado coisa julgada anteriormente constituída
anteriormente em outro processo.
e. violar manifestamente norma jurídica: atente-se para o fato de que a
sentença deve violar “manifestamente” norma jurídica cuja jurisprudência
seja consolidada, não se admitido rescisória quando a ofensa a determinar
norma tenha interpretação divergente nos tribunais. Nesse sentido a
sumula 343, do STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal
dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais”. Podemos citar um
exemplo de violação literal à lei: na sentença o juiz declarou a revelia e
verdadeiro os fatos narrados pelo autor em uma ação que versava sobre
direito indisponível, contrariando o artigo 345, II, do Código de Processo
Civil.
f. Contrariar decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido
em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência
de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que
lhe deu fundamento: nesse caso caberá ao autor, sob pena de inépcia,
demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por
hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor
outra solução jurídica (ver § 5, do art. 966).
g. for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória: tome-se
como exemplo os documentos falsos (notas fiscais e recibos) juntados pelo
devedor numa ação de prestação de contas.
h. obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável: prova nova aqui mencionada deve
ser entendida como prova referente aos fatos que orientaram o julgamento
mas que só agora foi conhecida sua existência (prova velha cujo
conhecimento é novo).
i. for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos: ocorre erro de
fato quando a sentença admite como ocorrido fato inexistente ou considera
inexistente fato efetivamente ocorrido. Este erro, só ensejará ação
rescisória se deu causa à conclusão da sentença, e se pode ser apurado
simplesmente pelo exame dos autos, pois a ação rescisória não é meio de
consertar uma instrução deficiente, igualmente não pode ter havido
pronunciamento judicial a respeito do erro. Exemplo: a sentença não
considerou recibos de pagamento que estavam nos autos.
Atente-se para o fato de que as causas que justificam a interposição da ação
rescisória, não visam discutir a justiça ou injustiça da sentença proferida, mas corrigir
graves vícios que macularam a decisão original.
Outro aspecto que releva comentar é que “os atos de disposição de direitos,
praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo,
bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à
anulação, nos termos da lei” (art. 966, § 4°). Quer dizer, nestes casos cabe ação
anulatória e não rescisória.

5. LEGITIMIDADE (art. 967)

A ação rescisória pode ser proposta pela parte ou por seu sucessor a título singular
ou universal (sendo que neste caso está excluída a possibilidade da ação rescisória se
fundamentar em confissão viciada, pois a confissão é ato personalíssimo e só poderia ser
invalidade pelo próprio confitente); por terceiro juridicamente interessado ou pelo
membro do Ministério Público (quando não foi ouvido no processo cuja participação era
obrigatória ou se houve colusão entre as partes).
A legitimidade passiva será de todos aqueles que tenham sido partes vencedoras
no processo original. Quer dizer, será réu na ação rescisória a parte vencedora na
demanda cuja coisa julgada se pretende desconstituir.
É possível a existência de litisconsórcio passivo necessário em duas hipóteses: no
caso de conluio entre as partes para fraudar a lei, já que o Ministério Público deverá
propor a ação rescisória contra ambas as partes da relação processual anterior; e, no
caso de terceiro juridicamente interessado que deverá propor a ação contra o autor e o
réu da ação originária.

6. PETIÇÃO INICIAL (art. 968)

A petição inicial da ação rescisória, como qualquer outra obedecerá aos


requisitos legais do art. 319 e 320 do Código de Processo Civil, entretanto, há
exigências especificas a serem cumpridas pelo advogado.
a. Cumulação de pedido de rescisão e pedido de novo julgamento: É
importante observar que ocorrerão casos em que o Tribunal não poderá
proferir novo julgamento, mas apenas rescindir a sentença anterior, como
ocorre na hipótese de sentença que ofendeu a coisa julgada; corrupção do
juiz (pois todas as decisões, bem como a instrução deverá ser anulada) e
também na hipótese de juiz impedido ou absolutamente incompetente
(todas as decisões serão anuladas, desde o início).
b. Depósito prévio de 5% (cinco por cento) do valor da causa: Este
depósito, que não poderá ser superior a 1.000 (mil) salários-
mínimos, é realizado a título de caução para eventual multa, na hipótese
de ser julgada por unanimidade inadmissível (por não caber ação rescisória
no caso concreto) ou improcedente (mesmo que fosse o caso de rescisória,
os fatos alegados não justificam a rescisão), circunstância em que esse
montante reverterá em benefício do réu, sem prejuízo do ônus da
sucumbência (ressarcimento de custas e honorários advocatícios).
Atenção: Na se aplica a exigência do depósito nas hipóteses de a ação rescisória
ter sido proposta pelo Poder Público (União, Estados ou Municípios); pelo
Ministério Público; Defensoria Pública ou por aqueles que são beneficiários da
gratuidade de justiça.
A ausência do depósito prévio acarretará o indeferimento da petição inicial (art.
968, § 3°, I, do Código de Processo Civil).
Devemos ainda alertar para o fato de que não se deve confundir o valor do
depósito prévio com o valor das custas judiciais, que devem ser recolhidas em
guia própria se a legislação estadual tiver previsão de custas para esse
procedimento.
Ademais, aplica-se à ação rescisória o previsto no art. 332 que prevê as hipóteses
de “improcedência liminar do pedido”.

7. RESPOSTA DO RÉU

O prazo de resposta para o réu será fixado pelo Relator da ação


rescisória e não poderá ser inferior a 15 (quinze), nem superior a 30 (trinta)
dias (art. 970, CPC).
Não há revelia em ação rescisória, nem reconhecimento jurídico do pedido, pois a
questão é de ordem pública, não pertencendo mais à esfera de disponibilidade das partes.

8. PROCEDIMENTO
A ação rescisória observará, no que couber, o procedimento comum, apenas com o
fato de que o Relator irá assumir o lugar do juiz de primeira instância, entretanto não
poderá julgar sozinho, pois este julgamento compete ao colegiado pelo órgão
competente.
A instrução probatória, se necessária, poderá ser delegada ao um juiz de
primeira instância, que deve concluía-la no prazo que será fixado entre 1 (um)
a 3 (três) meses, devolvendo em seguida os autos ao Tribunal (art. 972, CPC).
Encerrada a instrução, será concedida vista às partes para as suas alegações finais,
no prazo de 10 (dez) dias sucessivos, e em seguida ao Ministério Público para que profira
parecer (art. 973).
O julgamento, no Tribunal, se inicia sob o visto do Relator (que será,
preferencialmente, magistrado que não tenha participado do julgamento rescindendo),
providenciando a secretaria cópia do relatório para os membros do colegiado (art. 971).

9. SENTENÇA RESCIDENDA EM FASE DE EXECUÇÃO

A ação rescisória não tem efeito suspensivo, tendo em vista ser uma ação e não um
recurso. Para que dúvidas não pairem o art. 969, do CPC, deixa claro essa assertiva,
vejamos: “A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão
rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.
Embora a ação rescisória não tenha efeito suspensivo o próprio dispositivo legal
supra citado admite a possibilidade de ser concedida tutela antecipada ou cautelar se o
autor requerer e demonstrando a probabilidade do direito e o perigo de dano (ver art.
294 e ss do CPC).

10. ETAPAS DO JULGAMENTO

O julgamento da ação rescisória pelo Tribunal se desmembra normalmente em


três etapas, a saber:

a. Juízo de admissibilidade: o relator verifica se foram preenchidas todas as


condições para a propositura da ação rescisória (hipóteses legais, prazo,
depósito prévio, custas, etc...). Na hipótese da ação rescisória não ser
admitida, por unanimidade, o valor do depósito prévio reverterá em
benefício do réu (art. 974, parágrafo único).
b. Julgamento do mérito da ação (procedência ou não do pedido): o Tribunal
verifica se o autor conseguiu nos autos demonstrar suas razões, enfim se
o pedido procede ou não. Caso os pedidos da ação sejam julgados
procedentes, o Tribunal determinará a restituição do depósito prévio ao
autor, passando ao novo julgamento da matéria. Se a ação rescisória for
julgada improcedente, por unanimidade, o depósito prévio reverterá em
benefício do réu, bem como haverá ainda a condenação do autor a arcar
com o ônus da sucumbência.
c. Novo julgamento: se foi rescindida a sentença anterior, necessário será
prolatar nova decisão para substituir a anterior.

11. NOVO JULGAMENTO

O tribunal proferirá novo julgamento sempre que a ação rescisória for julgada
procedente, eis que uma vez rescindido o julgado anterior, a antiga sentença deixou de
existir no mundo jurídico, sendo necessário, por isso, um novo julgamento (art.
974, caput).
Esse novo julgamento só não ocorrerá na hipótese de a ação rescisória ser
fundada em violação de coisa julgada anterior, pois neste caso a sentença rescindida
não deveria ter existido e por isso não será substituída por outro julgamento de mérito.
Da mesma forma nas hipóteses de impedimento ou incompetência absoluta, em
virtude da nulidade de todos os atos decisórios do juiz de primeira instância, não será
possível ao Tribunal proferir novo julgamento, uma vez que o processo não estará em
condições para tanto (analogia com a teoria da causa madura).

[1] Nehemias Domingos de Melo in Novo CPC anotado, comentado e comparado, 2ª.
ed. Rumo Legal, 2016, p. 878.
[2] São tipos penais previstos nossarts. 319, 316 e 317, respectivamente, do Código
Penal.

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