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Diego Balbueno

RESENHA PARA A MATÉRIA DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA

SCHAEFFER, Francis A. Como Viveremos. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. 223p.

O autor do livro, Francis A. Schaeffer foi um escritor, teólogo, filósofo e pastor presbiteriano.
Nasceu em Germantown, Pensilvânia em 30/01/1912 e morreu de câncer em 15/05/1984.
Schaeffer popularizou, no contexto moderno, uma perspectiva puritana e reformada.

O autor inicia seu livro falando sobre o desenvolvimento da sociedade a partir de alguns
povos. A sociedade Romana baseou a construção de sua sociedade, assim como os gregos,
nos deuses, mas em deuses finitos e limitados, deuses que na verdade possuíam uma
humanidade ampliada, ao invés de serem de fato, divindades. Esses deuses dependiam da
sociedade para existirem, ao invés de serem os pilares dela. Logo, quando a sociedade romana
ruiu, os deuses ruíram juntamente com ela.

Após isso, Roma decidiu basear sua sociedade em um deus humano, os césares. Mas como
um deus humano é um fraco alicerce, Roma ruiu. Hoje ainda, vemos a sociedade moderna se
baseando em deuses fracos e falsos para se sustentar. Não é atoa que ela tem desmoronado
cada vez mais.

Diante disso, demonstra-se a força do cristianismo e de uma cosmovisão baseada em um Deus


infinito-pessoal e supracultural, que deixou normas, fundamentos, regras, valores,
conhecimentos que o homem por si só não poderia obter. Os cristãos tinham um referencial
absoluto na revelação de Deus. Por isso os cristãos foram mortos por Roma.

A partir deste momento, Schaeffer passa a argumentar em cima dos movimentos histórico-
culturais, iniciando na idade média até os dias de hoje. A Idade Média, também conhecida
como Idade das Trevas, não foi totalmente de trevas até o surgimento do iluminismo. Pelo
contrário, uma grande piedade por parte da Igreja se seguiu, onde ela insistia para que os fiéis
fossem generosos e trabalhassem arduamente (algo que depois foi resgatado pela reforma).
Assim como a evolução cultural da sociedade.

Mas aquilo que era bom foi o que causou sua “ruína”. Aquilo que começou na piedade da
igreja, redundou em a autoridade da igreja se sobrepor à das escrituras. O desenvolvimento
cultural resultou em homens pensando livremente a ponto de se entenderem como centro do
universo. Isso tudo causado pelo iluminismo/humanismo.
A renascença apresentou um destaque à natureza e a apreciação dela. Assim como apresentou
uma perspectiva do homem no centro de toda as artes e da realidade, mas como individuo
autônomo e independente. Esse período valorizou sobremaneira o indivíduo em detrimento do
coletivo, sobretudo na religiosidade. Vemos isso na sociedade moderna, o individuo tendo um
valor muito maior que o valor coletivo.

A reforma lidou com os mesmos problemas básicos que a renascença, entretanto, com
respostas e resultados completamente diferentes. Como por exemplo, salientar que a Bíblia é a
única fonte de autoridade última e que a salvação é somente por meio de Cristo. O ponto é
que, onde o ensino Bíblico vai, ali há efeitos sobre a sociedade. Ainda que os reformadores e
as igrejas reformadas tenham errado em muitos momentos, a reforma trouxe muitos ganhos
para a sociedade. Um grande desenvolvimento virá para a sociedade como um todo a partir da
reforma, e tudo aquilo que foi conquistado e, ou, mais bem desenvolvido, vai perder forma
quando o ensino cristão reformado não é considerado.

O iluminismo buscou um desenvolvimento do ser-humano, tendo como base o próprio ser-


humano. A ideia desse “sistema” era o de trazer liberdade e progresso ao homem, mas como
tal movimento, ainda que parecido com o movimento da reforma, considerou fazer tudo isso
sem Deus, na verdade acabou trazendo sujeição a um sistema sem absolutos, que poderia
mudar a qualquer momento. O que de fato aconteceu.

Em conjunto com a reforma, e altamente influenciada por ela, a Ciência moderna passa a ter
forma. Sendo que os próprios cientistas da época diziam, ser devido a cosmovisão de mundo
cristã, ser possível a ciência evoluir, pois assim, haveria a certeza que seria possível encontrar
algo objetivo na natureza.

A metodologia do existencialismo e a dicotomia não permeou apenas a filosofia, mas chegou


também à teologia, onde os próprios teólogos afirmavam que Deus estava morto. E tudo o que
restava eram meras palavras de conotação religiosa, mas sem conteúdo de fato religioso.

Essa metodologia foi adotada primeiramente pela filosofia, então foi disseminada pela arte. A
perda da esperança passou a ser disseminada através também da música, tornando cada vez
mais uma declaração intelectual, sendo assim, antiarte. E por último essa metodologia
fragmentada se disseminou através da cultura geral (poesia, conto, drama e cinema).

Gradualmente o modo cristão de se pensar foi enfraquecendo, com isso, a maioria das pessoas
adotou uma visão reduzida a dois valores: paz pessoal e prosperidade. Paz pessoal significa
ser deixado em paz e não ser incomodado pelos problemas alheios, já a prosperidade significa
abundância material.

Considerando esses dois valores, surge um modelo de governo autoritário manipulador, que
preenche o vácuo deixado pela perda dos princípios cristão que outrora regeram a sociedade.
Em busca da paz pessoa e da prosperidade a sociedade esperará e até ansiará por um governo
que garanta, ou prometa garantir, isso.

Quando uma sociedade renuncia a uma cosmovisão cristã, dificilmente conseguirá resistir a
um governo autoritário. Enquanto uma mentalidade cristã vai se degradando em uma
sociedade, a liberdade igualmente vai perdendo forma. Não há muitas opções, ou o povo se
sujeita ao líder autoritário, ou se volta à mentalidade cristã.

O livro é muito bom, traz um panorama da história do mundo “civilizado” no que tange ao
pensamento e a maneira de se pensar. Esse é daqueles livros que o leitor precisará ter interesse
pelo tema, mas não exige grande bagagem anterior para entendê-lo. Ele é indicado para
alunos, professores, pastores, todo o tipo de gente que queira entender do porquê estarmos
onde estamos como sociedade pensante.

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