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O capítulo 10 da carta de Paulo aos Romanos, versículos 8-21, diz:

“A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que
pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração
se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura
diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre
judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o
invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram?
e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?
como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos
que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho;
pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e
o ouvir pela palavra de Deus. Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo, pois
Por toda a terra saiu a voz deles, E as suas palavras até aos confins do mundo. Mas
digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em
ciúmes com aqueles que não são povo, Com gente insensata vos provocarei à ira. E
Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos
que por mim não perguntavam. Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos
a um povo rebelde e contradizente.”.

uma leitura rápida aqui pode dar a impressão de que a salvação venha por invocar o
nome do senhor mas eu não creio que seja o que estás o que está sendo dito aqui porque
o invocar é uma consequência do cre que o versículo 14 como invocaram aquele em
quem não creram vivem lá em cima primeiro ele falou que com a boca se faz a
confissão para a salvação no versículo 10 visto que com o coração se crê para justiça e
com a boca se faz confissão para a salvação porque a escritura disco todo aquele que
nele ele confessar não todo aquele que nele crê não ousou dar a ele invocar não todo
aquele que nele crê tudo começa pela fé na parte que diz respeito ao homem tudo
começa no cre depois do crei então vai invocar o nome do senhor aquele que crê e aí é o
que falo versículo 13 porque todo aquele que invocar o nome do senhor será salvo como
pois invocaram aquele em quem não creram e como creram naquele de quem não
ouviram e como viram se não há quem pregue e complicaram se não forem enviados e
aqui a gente tem que ir ao contrário para entender a ordem das coisas primeiro alguns
são enviados pelo senhor a pregar e é importante lembrar disso que até mesmo a
disposição de pregar o evangelho não vem do homem mas deve ser de deus quando
paulo passando com existem uma passagem atos capítulo e passando pela frísia e pela
província da galáxia foram impedidos pelo espírito santo de anunciar a palavra na ásia
ora puramente lógica racional não faz sentido porque afinal eles não estavam saindo
para pegar para levar a palavra como é que o espírito santo poderia impedi los e levar a
palavra porque a origem do empregado deve partir necessariamente deus não sair mas
ele continua no versículo 7 de atos 16 e quando chegaram à mídia intentava e para
betina mas o espírito de jesus não permitiu as razões nós não conhecemos aqui mas deus
estava no controle de tudo tanto é que depois provavelmente por paulo que estavam com
ele fala que é paulo que escolheu silas para fazer essa viagem como paulo silas não
estavam em sintonia com o espírito de deus quiser no lugar de jesus não permitiu então
deus agora precisa mandar uma mensagem muito clara paulo agora eu vou mostrar pra
você onde você tem que sair vem 19 paulo teve noite uma visão em que se apresentou
um varão da macedônia ele roubou e dizendo passa mas a da macedônia e ajuda nos
logo depois dessa visão procuramos partir para a macedônia concluindo que o senhor
nos chamava para anunciar o evangelho então agora é uma uma coisa não tinha muita
gente interpreta isso como então eu preciso ter uma visão um barão da droga para
também projetam mas isso é porque ele não estava entendendo o que deus ela
mandando ano então de uma mensagem que agora não tem como não entender a visão é
uma é uma é uma correção de rumo aqui na realidade eu creio não necessariamente que
todo cristão deva ter uma visão de um varão na macedônia para poder sair do evangelho
mas aqui me parece que a terceira terceira coisa que acontece porque nas duas primeiras
paulo não teve o discernimento de entender qual era a vontade do senhor então aqui
quando fala o contrário romanos 10 com formosos as coisas boas isso aqui é deus quem
prepara os pés daqueles que vão levar a sua mensagem não forem enviados de deus
precisa enviar depois daquele que não ouviram como pois invocaram aquele que não
quererão percebe de onde vem a fonte no final mas a fonte que parte de deus desde o
momento em que ele prepara os perde o momento que eles chama desde o momento em
que ele envia e assim por diante até a palavra chegar nos ouvidos daquele que vai querer
e obviamente também vai ser uma obra do espírito santo e é por isso que é muito
estranho quando nós ouvimos alguns irmãos bem intencionados e dizem não à igreja me
enviou o evangelho lá na é muito bom tê los na china mas é o espírito santo que envia o
espírito santo que indeniza não existe nenhuma organização ou junta de homens como
tico uma junta de missões o trabalho da missão tal então a junta de missões me ordenou
para pregar o evangelho ao lugar isso não tem fundamento bíblico aquele que
evangeliza ele é movido os seus pés são movidos pelo senhor somente deve ser movida
pelo senhor só vontade deve ser gerada pelo senhor o senhor é quem vai cuidar de tudo
para que ele chegue até a pessoa que está precisando necessariamente uma multidão de
10 mil pessoas porque pode ser um só como o espírito santo pegou felipe e [Música] até
o caminho ia pra casa um caminho onde haviam eu louco e disse que estava deserta
tinha um ali para ouvir a mensagem do evangelho da boca de felipe o espírito santo que
o transportou nunca é demais 17 eu sempre errado a fé é pelo dia e ouvir a palavra de
deus a palavra de deus mas o ciclo diz que é a capacidade de 11 é pela palavra de deus é
a palavra de deus que desperta de abrir os ouvidos da pessoa ela poderia eu sempre
penso naquela passagem que o senhor fala para o surdo né e é ele quem vai fazer uma
pessoa realmente escutar o que vai fazer com que a pessoa ou sua capacidade tem que
vir de deus e nem isso é importante também lembrar que a palavra de deus está
envolvida por isso uma pregação do evangelho você pode contar muitas histórias
fazendo fazem muitas ilustrações fazer interessante até a mensagem é claro que não
pode fazer nada pessoas converter pode fazer alguma coisa não dormir durante a
pregação mas tem que ter a palavra de deus tem que ter palavra de deus ainda que ela
não precisa ser necessariamente vamos abrir em romanos capítulo talvez seja porque eu
interno não sabia que roubamos não sabe o que é capítulo não sabe que nesse clube mas
tem que ser dita a palavra de deus isso pode até ser feito ano passado quando a pessoa
está falando a sua mensagem e deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho
unigênito para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna dizer que está
em romper 16 mas isso que foi dito é a palavra de deus que vai abrir os ouvidos do
incrédulo apelação do espírito vai abrir os ouvidos de que ele possa entender a
mensagem possa então qualquer que seja a obrigação a mensagem o assunto tem que
existir passagens da palavra de deus costuradas na mensagem do pregador do evangelho
por isso que aqueles aqueles calendários alguém passar mas o calendário pessoal mas o
versículo a palavra de deus ali tem a palavra de deus e tem poder tem poder palavra de
deus em poder sempre quando quando era garoto havia 15 be falava shazam e de
repente saiu voando era uma palavra mágica que estava poder o super-herói voar ou
coisa assim na realidade ela claro isso é uma mãe tempo pouco mais é isso que a palavra
de deus faz ela vai gerar na pessoa vai ser aplicada pelo espírito santo ela vai viver a
vida já que ele estava morto os seus delitos e pecados incapaz até de crew ouviu de
entender incapaz até de sentir o peso dos seus pecados a palavra de deus que a água e
joão 3 a água ali quando fala da água e do espírito quem não nascer davino espírito essa
água da palavra de deus é que vai dar vida daquela pessoa crê em nuvem ou daquela
pessoa recentemente os cientistas pegaram uma semente de tamareira dos tempos de de
jesus ela tem cerca de dois mil anos a cemento encontraram algum túmulo alguma coisa
mulher enterrada uma tamareira que inclusive não existe e eles não existe mais a já foi
extinto aquela aquela da maneira específica para espécies específicas eles conseguiram
fazer com que ela protásio então a gente na escola usava aquele algodão uma semente
de feijão algodão vai ser porque no período até o bodão tinha que pôr água a semente a
ficar seca ali durante um século vai acontecer nada com ela mas no momento que você
você já se um pouco de água sobre aquela semente de feijão o dia seguinte estava ela se
abrindo e nascendo uma planta de feijão ali naquele naquele algodão água tem esse
poder ea água é a palavra de deus água que vai regar a pregação daquele terror de eliza
o apóstolo vinha falando de israel e abriu essa esse parêntese aqui pra falar do
evangelho sendo enviado e ele volta agora no versículo 18 mas digo por ventura não
ouviram cinco certo pois por toda a terra saiu a voz deles nas suas palavras até aos
confins do mundo mas digo o evento israel não soube primeiramente diz moisés eu vos
meter e em ciúmes com aqueles que não são um povo com gente insensata vos provocar
e ainda uma vez esse versículo fez muito sentido para mim estava numa fila na livraria
em são paulo comprando uma bíblia na livraria evangélica e havia um judeu na minha
frente e comprando um lp dar de presente para a amiga dele amigo secreto amigo
invisível no trabalho e ele virou pra mim vou explicar por que eles estavam num tempo
bem nada porque ele estava numa livraria evangélica que era judeu ele só tenha entrado
para comprar o disco pra amiga dele porque a amiga evangélica mas ele não ele não
acreditava na bíblia ele começou a falar um monte de coisas que escutam e aí como eu
tentei falar do evangelho para ele já na mesma hora executou na isso a gente joga fora
essa parte do evangelho a bíblia a gente joga fora senão não tem valor nenhum e tal e aí
o senhor trazemos não consegui abrir uma conversa com eles iam atrás de mim de
licença e pegou a bíblia abril em daniel 9 leu daniel 9 quando fala da profecia do
messias e quando fala será tirado e então o povo de destruir a cidade e o tempo ele virou
para o jovem falou assim quem é esse que seria tirada a esse é o messias quando é que o
tempo foi destruída ea cidade conhecida nos anos 70 o garoto começou não não pode
ser não é não é possível não é impossível não não ele largou o lp no balcão e saiu
correndo a livraria dizendo que não era possível não podia ser e aí esse irmão em cristo
é senhor virou pra mim e falou assim os porém ciúme com o povo se transferir nos
meter em ciúmes com aqueles que não são como com gente sensata pois provocaria a
ira ele virou para mim falou assim quando você quando o evangelho tocam judeu ele
reage com ciúme porque reais com ciúme porque aquilo que era um privilégio muito
grande que deus deu ao povo judeu seus oráculos a lei e tudo mais se transformou em
motivo de orgulho eles acabaram se orgulhando daquilo ficando orgulhosos e
desprezando assim como se aquilo fosse uma coisa que ele tenha conquistado e que não
tivesse sido dada com graça pra eles porque ainda que a gente sempre fala de lei e
facilidade onde o pensamento foi só por graça que deus escolheu uma nação que não era
tão pouco que não era povo o velhinho de jacó como fala na bíblia e entregou para ele
todos aqueles privilégios a quem já foi graça que me foi uma atitude de graça dada por
deus de separá los e colocá los num curral ainda que fosse um curral de leis e
mandamentos de ordenanças mas com isso o separava de toda a idolatria e de toda a
iniqüidade que existia no mundo pagão então deus como que isolou aquele povo por
graça quando você coloca no um balão lá uma pessoa que tem problema de pegar
doenças muito fácil me coloco no lugar nono lugar totalmente isolado totalmente
esterilizado daquela não seja contaminada contendo lado de fora deus fez isso por graça
com o povo mas ele se orgulharam achando que aquilo era obra deles e aquilo era o de
alguma maneira de ter conquistado aquilo então isso aqui é quando fala nos meter em
ciúmes com aqueles que não são fogo com gente sensata do povo quer e ainda então os
judeus até hoje eles odeiam cristãos e não cristãos de goi é uma palavra pejorativa
utilizam antes esse nome a cristãos o versículo 20 apenas que é uma é uma condensação
aqui do que é graça até deter unb acredita em jesus como seu salvador lembre se de que
foi achado pelos que me não buscavam foi manifestado aos que por mim não
perguntavam uma corrente na da graça é somente mais um dia um dia um dia eu então
coloco nessa parte do homem para esquecer o nome dessa corrente teológica mesmo
mesmo um dia eu tomei a decisão de jesus olha só foi achado pelos que movem que
minam buscavam manifestados que por mim não perguntavam então como forçado
como foi manifestado por pura graça três minutos depois do conto contundência
adquirir os livros também para android e iphone

PREFÁCIO

Desde minha conversão em 1978 tenho me dedicado à evangelização usando diferentes


meios e maneiras. Quatro décadas dão alguma experiência, mas não é só experiência
que conta quando o assunto é evangelizar. O cristão nada mais é que um instrumento, e
por mais afinado e polido que esteja ele não emitirá som que preste a menos que esteja
nas mãos de um bom músico. Esse músico é o Espírito Santo de Deus, que é quem
prepara o evangelista, envia e prepara igualmente aquele que irá escutar a mensagem de
salvação.

Foi assim com Cornélio, o centurião romano. Ele já devia ter tido contato com a Palavra
de Deus, pois era um prosélito, isto é, um gentio convertido ao judaísmo. Podemos dizer
que ele era um homem nascido de novo, porém ainda não salvo, e pessoas assim você
encontra aos montes no ocidente cristianizado. Por que digo que era nascido de novo,
mas não salvo? Porque Paulo em Romanos deixa muito claro que não existe no homem
natural qualquer inclinação para buscar a Deus. “Como está escrito: Não há justo, nem
um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à
uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10-
12).

Mas se assim é, como poderia Cornélio ser “piedoso e temente a Deus, com toda a sua
casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus.” (At 10:2)?
Porque ele tinha recebido vida quando teve contato com a Palavra do Antigo
Testamento, pois o novo nascimento, descrito em João 3, ocorre quando o Espírito
Santo aplica a água da Palavra (Ef 5:26) numa alma e infunde vida nela. Só então a
pessoa, que antes estava morta em delitos e pecados (Ef 2:1) é vivificada o suficiente
para sentir o peso de seus pecados e buscar a Deus. Mas ela ainda terá que ouvir o claro
evangelho para realmente se converter e receber o selo do Espírito Santo, como
aconteceu depois com Cornélio. Embora não exista uma regra quanto ao tempo que
pode levar do novo nascimento ao selo do Espírito Santo, é certo que quando Deus
começa uma obra em alguém ele vai até o fim.
Repare que a mensagem de Pedro a Cornélio e aos que o acompanhavam trazia os
pontos básicos de uma pregação do evangelho, que são o anúncio da paz que permite ao
que crê não ter mais a Deus como seu inimigo, e que essa paz só pode ser encontrada
em Jesus. Pedro fala então da morte de Jesus na cruz, sua ressurreição e sua volta futura
como “Juiz dos vivos e dos mortos”. Então é feito o apelo para que creiam, pois “todos
os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”.

“A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este
é o Senhor de todos); esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando
pela Galileia, depois do batismo que João pregou; como Deus ungiu a Jesus de Nazaré
com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os
oprimidos do diabo, porque Deus era com ele. E nós somos testemunhas de todas as
coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusalém; ao qual mataram,
pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e fez que se
manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós,
que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dentre os mortos.
E nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz
dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que
nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome. E, dizendo Pedro ainda
estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.” (At 10:36-
44).

O QUE É PREGAR O EVANGELHO

Pregar o evangelho é primeiro ter em mente que “as armas da nossa milícia não são
carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os
conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando
cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 10:4). Embora o assunto
específico de Paulo neste capítulo fosse outro, o princípio que ele estabelece aqui é útil
em muitas circunstâncias, principalmente na evangelização.

Primeiro, porque o cristão não milita usando de esforços, energia e inteligência


humanas, mas movido pelo Espírito Santo. Nenhuma universidade ou seminário
humano faz um evangelista, pois é um dom dado pelo próprio Senhor, que “concedeu...
uns para evangelistas” (Ef 4:11). Ainda que nem todos tenham o dom, todo cristão é
exortado a fazer “o trabalho de um evangelista” (2 Tm 4:5).

Segundo, a destruição dos conselhos ou argumentos não se dá por raciocínios falazes


construídos por ciência humana, mas pelo poder intrínseco à Palavra de Deus, pois “o
evangelho... é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). Se
alguém não for convencido pela Palavra de Deus aplicada pelo Espírito na alma, Palavra
esta da qual o evangelista é apenas um portador, não haverá conversão genuína.

É graças a essa mesma Palavra que muitas pessoas acabam se convertendo em


pregações de homens ímpios que só estão interessados em arrancar dinheiro delas. Pois
no momento em que esses mesmos homens, provavelmente incrédulos, lê um versículo
da Palavra de Deus, é como se ele lançasse sobre sua audiência uma bomba atômica que
ele mesmo jamais teria capacidade de construir. Por isso é bom sempre ter em mente
que se algum dia você foi convertido a Cristo, isso não foi por causa da “igreja” que
frequentou ou pelo pregador que pregou. Foi a Palavra de Deus que exerceu seu poder
sobre sua alma quando foi aplicada pelo Espírito Santo.

O cristão sábio saberá levar “cativo todo o entendimento à obediência de Cristo”, ou


seja, evitará ao máximo sair do foco. Um incrédulo quando colocado “na parede” irá
querer escapar lançando bombas de fumaça para longe de si para atrair o cristão para
questões que não têm a menor importância da perspectiva do Evangelho. Por isso pregar
o evangelho a alguém é um exercício de tautologia, isto é, dizer sempre a mesma coisa
de diferentes maneiras, e não meramente satisfazer a curiosidade humana ou saciar
algum desejo de paz, tranquilidade, prosperidade, saúde etc. para a vida aqui. Levar o
entendimento cativo é pregá-lo na cruz como Cristo foi pregado, e certificar-se de que
seu ouvinte não saia dali até que possa sair nova criação, ressuscitado com Cristo pela fé
nele.

Pregar o evangelho é ajudar seu ouvinte a chegar naquele ponto em que ele de si mesmo
possa confessar com sua boca que crê em Jesus e tem nele o seu Senhor. Não se trata de
mandá-lo repetir algum mantra ou script decorado do tipo “EU... eu... CREIO... creio...
EM JESUS... em Jesus...”. Ele não precisa repetir as palavras que você pregou, mas tê-
las nascidas em seu próprio peito, como alguém que realmente se apoderou delas. “Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si
mesmo por mim.” (Gl 2:20).

Pregar o evangelho é ajudar seu interlocutor a chegar ao ponto de considerar-se morto


com Cristo e participante da mesma graça de Deus que... “...sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em
nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos, e,
juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo
Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em
bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois
somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2:4-10).

QUANDO A SOBERBA ATRAPALHA

Um grande empecilho na pregação do evangelho é o pregador adotar uma postura de


superioridade e olhar de cima para baixo para as pessoas que pretende evangelizar.
Quando pensamos na posição elevada da qual o Senhor Jesus desceu para poder nos
alcançar, deixamos a soberba de lado e ficamos mais pacientes em aguardar que nosso
interlocutor compreenda a mensagem. Descemos ao nível onde ele está e demonstramos
interesse com aquilo em que ele está interessado. Como foi o caso da abordagem que o
Senhor Jesus fez da mulher à beira do poço de Samaria.

No capítulo 4 do Evangelho de João encontramos Jesus conversando com a mulher


samaritana, algo estranho para aquela época e lugar, e a própria mulher reconhece isso:
“Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque
os judeus não se comunicam com os samaritanos).” (Jo 4:9). Ao final do relato vemos
que seus discípulos também ficaram surpresos de Jesus conversar com ela. “vieram os
seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher” (Jo
4:27). A Samaria era uma região habitada por gentios convertidos ao judaísmo, os quais
acabaram adotando uma versão sua adotando uma versão sua da religião judaica. Os
samaritanos tinham os seus próprios sacrifícios, os seus próprios rituais, o seu próprio
templo, o seu próprio monte onde adorar, os seus próprios sacerdotes. Para qualquer
judeu aquilo não passava de uma imitação barata do judaísmo. Por esta razão os judeus
sentiam aversão pelos samaritanos, e os discípulos do Senhor não fugiam à regra. Como
qualquer judeu de seu tempo, eles traziam no peito a semente da intolerância, o que fica
mais evidente ainda no capítulo 9 do evangelho de Lucas, quando discutiam entre si
qual deles seria o maior: “E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria
o maior.” (Lc 9:46).

ORGULHO E ALTIVEZ

O primeiro efeito colateral de uma fé cristã imatura é sentir-se superior às outras


pessoas. Por isso é bom lembrar do desprezo com que os fariseus olhavam para os que
não pertenciam à sua classe religiosa: “Porventura, creu nele alguém dentre as
autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é
maldita.” (Jo 748-49) — diziam eles, achando-se superiores ao que ignoravam a Lei
mosaica. Faz até sentido alguém achar que seja coisa quando em religiões que pregam a
salvação dos melhores e por seus próprios méritos e esforços. Mas o que dizer do
evangelho, que anuncia a salvação, não aos melhores, mas aos piores pecadores? Se
você é salvo por graça, por meio da fé, e isto não vem de você ou de seus méritos, vai se
gabar de quê? Os coríntios estavam altivos e soberbos por causa de seus dons e o
apóstolo deu a eles uma repreensão que também serve para os que se acham melhores
que os incrédulos: “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas
recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1
Co 4:7).

INASCESSIBILIDADE

A intolerância levará você a se separar daqueles que não pensam como você. Não falo
aqui da separação do mal e dos pecados dessas pessoas ou de seus costumes contrários à
vontade de Deus, mas do isolar-se e tornar-se inacessível a elas. Já imaginou se Jesus se
isolasse dos pecadores e nem conversasse com eles? O que teria sido da mulher
samaritana? O que teria sido de você e de mim? Nos primeiros séculos da era cristão
havia pessoas que entenderam errado o que Jesus disse sobre os seus não serem deste
mundo. Por isso se isolavam em montanhas, grutas e outros lugares remotos para não
terem qualquer contato com as pessoas comuns, com os pecadores. Existe até um caso
curioso de um homem chamado Simeão Estilita, que viveu no ano 400 d.C., o qual
passou trinta anos morando sobre uma coluna de dezessete metros de altura. Era essa a
maneira de ele permanecer separado dos que não eram cristãos, mas obviamente ele
dependeu da boa vontade de pessoas vivendo ao rés do chão que lhe levavam comida, a
qual ele puxava com uma corda até o alto de sua coluna.

Sabemos que nos séculos que se seguiram à criação da Igreja os homens inventaram
diferentes maneiras de se manterem fisicamente separados dos pagãos e até de cristãos
considerados leigos pelos que se consideravam clérigos. Existe toda a história dos
monastérios, das ordens de monges e até hoje é encontrado, principalmente no
cristianismo protestante que foi levado para os Estados Unidos, uma corrente de
cristianismo rural. Muitos cristãos acham que o cristão deva morar no campo, longe das
cidades. Mas a verdade é que isto é totalmente contrário até ao que encontramos no
Novo Testamento. Ali vemos indo para cidades populosas, porque eram as pessoas a
razão de eles estarem no mundo. Não faria sentido levar as boas novas a vacas, galinhas
e cavalos.

Até mesmo antes da formação da Igreja encontramos Jesus habitando em Cafarnaum, e


não havia um lugar mais estratégico para Jesus morar, pois a cidade ficava às margens
do Mar da Galileia e exatamente onde passava a Rota da Seda que ligava a China ao
Egito, passando pela Ásia Central. Por ali passavam pessoas de muitos povos, línguas e
nações transportando mercadorias de um lado para outro. Quando chegamos aos tempos
da Igreja, cobertos pelo livro de Atos dos Apóstolos e pelas Epístolas, aprendemos que
os cristãos deviam se manter separados do mal e pecado, mas acessíveis ao pecador.
Não era o contato com o pecador o problema, e sim o contato com o pecado. Como
alguém disse certa vez, “o perigo não está em o navio estar no mar, mas em o mar
entrar no navio”.

O Senhor Jesus, Deus e Homem, podia muito bem se colocar no topo de uma pilastra de
dezessete metros de altura e não deixar ninguém chegar perto, ninguém tocá-lo. Mas ele
tinha vindo buscar e salvar pecadores, e não fugir deles. Estava onde estavam os
pecadores, ele ia até os pecadores, ele chamava os pecadores a si. Os religiosos fariseus
não entendiam e constantemente o acusavam de comer com pecadores. A grande
comissão que encontramos no evangelho — “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho
a toda criatura” (Mc 16:15) — era taxativa para que os que fossem de Cristo saíssem
em busca do pecador, e não que ficassem esperando por ele. Paulo também falava em
“Para anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós” ( 2 Co 2:16).

OPRESSÃO PASSIVA

Outra característica da intolerância religiosa é a opressão passiva, que é o espírito de


crítica e zombaria. Quando um cristão se acha superior aos demais, principalmente por
não entender a graça de Deus e acreditar que seja melhor por seu zelo e obediência a
uma série de regras, ele passa a zombar de todos os que não pensam como ele. Se ele
reconhecesse que só é o que é por graça e misericórdia de Deus, deixaria de ser um
crítico e usaria seu tempo e energia levando o evangelho aos incrédulos ou instruindo os
fracos na fé. O problema é que, quando sucumbimos a esse espírito de intolerância, a
existência de incrédulos nos faz sentir superiores e não nos animamos muito a mudar
isso. Quanto mais incrédulos, menor a concorrência para o nosso ego.

Essa opressão passiva pode ocorrer por meio de interferência nas leis, na política, na
educação e na sociedade como um todo. É comum encontrarmos cristãos que se acham
donos do mundo e querem impor a obediência à Bíblia a todos, crentes ou incrédulos. O
resultado disso são as manifestações inflamadas e violentas contra práticas como aborto,
casamento gay e outras coisas contrárias à vontade de Deus. Mas será que o mundo não
era assim também nos dias dos apóstolos, dominado pelo paganismo romano com suas
práticas libertinas? No entanto não vemos os primeiros cristãos tentando combater esses
costumes fora da esfera da Igreja e nem interferindo no governo de sua época para
obrigar que todos seguissem uma moral cristã. Ao contrário, eles levavam a sério o que
o Senhor Jesus ensinou, quando disse: “Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que
era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o
mundo vos odeia.” (Jo 15:19). Em sua relação com o mundo e seus sistemas a única
coisa que se requer de um cristão é que ele não deixe de fazer o bem sempre que estiver
ao seu alcance, e que respeite as autoridades que são constituídas por Deus, sejam elas
justas ou injustas, corruptas ou tementes a Deus. Evangelizar não é obrigar as pessoas a
serem cristãs por decreto, e nem transformar o mundo em um lugar melhor para se
viver. Evangelização é missão de resgate para tirar as pessoas do mundo e encaminhá-
las a Cristo.

A ingerência em política e assuntos seculares acontece principalmente entre aqueles que


defendem a Teologia do Pacto ou da Aliança e não enxergam a distinção entre Igreja e
Israel, acreditando que devem levar o evangelho como forma de estabelecer o reino de
Deus aqui na terra para depois Cristo voltar. Os efeitos colaterais desse tipo de
pensamento você encontra ao longo de toda a história, com as chamadas “guerras
santas” que visavam fincar a bandeira da fé cristã em todo o mundo. A ideia de que
cabe aos cristãos evangelizar o mundo inteiro e preparar o terreno para só depois Cristo
vir reinar mostra a ingenuidade desses. Nos últimos dois mil anos o que vimos foi
exatamente o contrário. A Europa, que nos últimos séculos foi predominantemente
cristã é hoje o maior celeiro de ateísmo e ceticismo do mundo. As Américas devem
seguir o mesmo caminho de secularização até que quase nada reste de fé cristã. Não sou
eu quem diz isso, é o próprio Senhor Jesus ao perguntar: “Quando porém vier o Filho
do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18:8).

A pressão feita por cristãos para tornar compulsória a obediência à Palavra de Deus tem
efeito contrário. Hoje muitos voltam as costas para qualquer mensagem do evangelho
por terem sido duramente castigados por cristãos insensíveis que quiseram impor sua
própria cultura e modo de vida. No entanto, quando abrimos o capítulo 4 do Evangelho
de João encontramos o próprio Senhor Jesus sentado ao lado de uma mulher, não apenas
uma mulher incrédula ou pecadora, mas uma samaritana que seguia uma versão pirata e
deturpada do judaísmo, religião que Deus havia instituído e era tão cara a todo judeu.
Ele não evitou a mulher, ele não zombou de sua vida devassa, ele não deu um passo
para trás quando revelou ter ela tido cinco homens e o homem com quem vivia sequer
era seu marido. Ele não ameaçou a mulher com fogo e enxofre, e nem deu a ela uma
lista de coisas que devia ou não fazer. Nos evangelhos nós o vemos ameaçando com
fogo e enxofre os orgulhosos e religiosos fariseus, nunca o pecador contrito, fosse ele
um ladrão, como o que encontrou na cruz, adúltero, como a mulher prestes a ser
apedrejada, ou corrupto como os muitos publicanos que o seguiam. Com os religiosos
sim, com aqueles que confiavam em sua própria religião, boas obras e reputação, ele era
duro no falar. “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois
do que há em abundância no coração, disso fala a boca... Serpentes, raça de víboras!
como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 12:34; 23:33).

OPRESSÃO ATIVA

O último nível da intolerância é a opressão ativa que, assim como a opressão passiva,
pode ir da simples ingerência na política e sociedade para dificultar a vida daqueles que
não têm a mesma fé, até à perseguição e morte, como aconteceu nos tempos da
Inquisição e ainda acontece em algumas partes do mundo. Mais uma vez a origem é o
orgulho de se considerar melhor e maior que os outros, além do desejo de conquistar e
exercer poder sobre as pessoas.
O evangelho de Lucas diz que os discípulos encontraram alguém que expulsava
demônios em nome de Jesus, e o proibiram de fazê-lo por não fazer parte do grupo de
discípulos. “Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho
proibimos, porque não te segue conosco.” (Lc 9:49). Jesus os repreendeu por isso. Lá
também diz que quando chegaram a uma aldeia de samaritanos, e estes não recebem a
Jesus, Tiago e João perguntaram ao Senhor se deviam fazer cair fogo do céu para
queimar aquele povo. Mais uma vez são repreendidos por Jesus, que diz: “Vós não
sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas
dos homens, mas para salvá-las.” (Lc 9:55-56). Você consegue imaginar o meigo João
que encontramos em outras passagens e no estilo de suas epístolas querendo jogar uma
bomba atômica na cabeça dos que se opunham? Não se iluda, assim é todo ser humano.

Voltando ao episódio do encontro de Jesus com a mulher samaritana, o Senhor inicia a


conversa mostrando-se interessando por sua busca por água e criando assim empatia.
Ele demonstra conhecer suas necessidades, reconhece ser humano como ela e
necessitado de água, pois tinha sede, mas também revela que tem algo a oferecer. Pouco
a pouco ele ajuda a mulher a reconhecer seus pecados e a desejar a água viva que ele
oferece. A passagem não nos diz que ele tenha bebido água em algum momento da
conversa, e vejo nisso também um exemplo para o evangelista. Quando estamos
empenhados nessa obra tão importante para que fomos designados até as necessidades
básicas passam para um segundo plano. Sempre me lembro da passagem no livro de
Neemias, quando ele estava empenhado com o remanescente judeu de reconstruir o
testemunho de Deus no lugar onde o próprio Deus havia colocado o seu Nome. Em um
determinado momento o inimigo, querendo atrapalhar o trabalho, o convida para um
encontro nas aldeias do vale de Ono. Neemias envia um mensageiro com a resposta:
“Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra,
enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?” (Ne 6:3). Agora eu pergunto: Você já se
deu conta da grande obra que tem para realizar enquanto ainda está neste mundo?

Ao conversar com a mulher samaritana à beira do poço Jesus deixa claro que a água
natural obtida com esforço humano para satisfazer as necessidades humanas é efêmera.
Seus benefícios duram pouco tempo, não são permanentes. Por outro lado, a água viva
que ele oferece se transforma, naquele que a recebe, em uma fonte que jorra para a vida
eterna, não apenas para esta vida e suas breves necessidades.

O que todo evangelista deve ter sempre em mente é que a água viva não se obtém por
religião, esforço humano, jejuns, sacrifícios, técnicas de meditação ou mudança de
comportamento. Trata-se de um dom ou dádiva de Deus e requer, primeiro, que a
pessoa reconheça sua incapacidade de obtê-la por si própria e, segundo, que a pessoa
não apenas a peça, mas que peça à pessoa certa: Jesus. E é o que a mulher samaritana
faz: “Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-
la” (Jo 4:15). Apesar de reconhecer sua necessidade e pedir à pessoa certa, ela ainda
continua misturando coisas naturais com espirituais. Ao crer em Jesus a pessoa não
recebe um poço ou oceano, mas uma fonte de água viva que jorra continuamente. O
Espírito Santo de Deus vem nela, algo que só é possível porque Jesus morreu na cruz
levando o juízo que eu e você merecíamos por causa dos nossos pecados.

Quando a mulher pede dessa água viva, Jesus revela algo mais. Até aqui vimos que a
salvação e as verdadeiras bênçãos espirituais não são obtidas por esforço próprio, que
seus benefícios são eternos e não estão limitados às nossas necessidades temporárias,
como saúde e prosperidade, que a fonte legítima dessa salvação e das bênçãos que a
acompanham é Jesus, e que é preciso pedir a coisa certa à pessoa certa. Embora a
mulher tenha consciência de sua necessidade e incapacidade de ajudar-se a si mesma,
ainda falta algo: a consciência de pecado.

Por isso Jesus diz a ela para ir chamar o marido, e a mulher responde que não tem
marido. Aquele que conhece todas as coisas revela aquilo que ela já sabia: ela teve cinco
homens e o atual não é seu marido. Todo ser humano em sua condição natural é como
essa carente mulher samaritana, com seu cântaro vazio, mergulhada no pecado e
buscando fazer qualquer coisa para ser feliz. Porém, a cada tentativa e a cada novo
relacionamento ela só consegue afundar ainda mais em sua tristeza e sai de cada
experiência com um vazio cada vez maior. Ali está ela, tão envergonhada de seu estado
que o evangelho diz que é a sexta hora quando ela vai ao poço. Que importância tem a
hora para ter sido registrada aqui? Buscar água era uma atividade das mulheres, que
costumavam ir ao poço cedo de manhã. Mas à sexta hora, que equivalia ao meio-
dia, não havia ninguém ali. Será que ela escolhia aquele horário quando o lugar estava
vazio por ter vergonha de sua condição? Seja como for, ela agora estava sozinha com
Jesus, e é assim que recebemos a salvação: em um encontro pessoal com ele, sem
intermediários e distrações. Mas, quando o pecado da mulher vem à tona, ela usa o
mesmo argumento que usamos quando confrontados com nosso pecado.

O ateu Karl Marx estava certo ao dizer que a religião é o ópio do povo. O ópio é um
potente narcótico que anestesia a dor e impede que a pessoa perceba que existe um
problema. Quando não sentimos dor achamos que a doença foi embora. É fácil observar
que o diálogo de Jesus com a mulher samaritana à beira do poço passou por alguns
estágios, e ela vinha respondendo bem até Jesus levantar a questão de sua vida devassa.
Quando colocados diante de nossos pecados, imediatamente apelamos para o ópio da
religião na tentativa de anestesiar nossa consciência. “Senhor, vejo que és profeta” (Jo
4:19), começa ela numa tentativa de ganhar a simpatia daquele que tudo vê. Ela logo se
esquece de seu interesse pela água viva, e se coloca na defensiva. Muda de assunto e
passa a falar de religião para desviar o foco de seus pecados. É como se dissesse, “eu
tenho uma religião... porque nossos pais adoraram neste monte”.

Defender-se é uma característica humana, e quando você evangeliza percebe que esta
reação é sinal de que a pessoa foi confrontada com sua condição de pecadora. Ela pode
tanto levantar a bandeira de uma religião de boas obras, como comparar-se a outros que
sejam piores para assim se achar melhor. Além de apontar o dedo, algo muito comum
em nosso dias quando o descalabro de muitos pregadores e clérigos criou uma multidão
de pessoas com total aversão ao cristianismo. Adão, ao ser confrontado, alegou que a
culpa de sua desobediência era da mulher que Deus tinha lhe dado. Eva culpou a
serpente. Desde então quando não estamos culpando alguém por nosso pecado, estamos
tentando esconde-lo com a precária cinta feita com as folhas da figueira das boas obras
conseguidas por esforço próprio, como fizeram Adão e Eva. Mas Deus precisou matar
um animal inocente para com sua pele fazer uma roupa que cobrisse de forma adequada
a nudez de Adão e a Eva. Duas passagens nos ajudam a entender a razão de Deus
precisar cobrir algo que falta no homem. Uma está no livro do profeta Daniel, na frase
escrita na parede do palácio de Belsazar quando Deus fez soar o gongo de seu reinado e
de sua vida no mundo em razão de suas impiedades: “E tu, Belsazar... não humilhaste o
teu coração, ainda que soubeste tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu...
Pesado foste na balança, e foste achado em falta... Naquela noite foi morto Belsazar,
rei dos caldeus.” (Dn 5:22-30). A outra está em Romanos 3:23: “Porque todos pecaram
e carecem da glória de Deus”. A versão inglesa usa no lugar da palavra “carecem” a
expressão “come short” que pode ser melhor entendida quando você atira uma flecha
no alvo e ela cai na terra alguns metros antes. Assim é a condição do homem aos olhos
de Deus: as suas boas obras são tão curtas quanto o cinto de folhas de Adão e Eva; tão
aquém do pesso exigido quanto as obras de Belsazar; tão curtas quanto um tiro de flecha
que cai antes do alvo. Temos em português uma expressão que demonstra bem essa
condição do ser humano: “Tentou, tentou, tentou e morreu na praia”.

Quando digo que o ser humano tenta usar a religião como desculpa para se justificar,
entenda que, por “religião”, estou falando de qualquer boa ação ou atividade mística
que os homens praticam na tentativa de ganhar o favor de Deus e ser aceitos por ele. O
religioso gosta de falar de suas boas ações para se justificar e aplacar a aversão que
Deus tem ao pecado. Não percebe que isso só pode ser resolvido com o sangue de uma
vítima inocente — Jesus — que veio ao mundo morrer e derramar seu sangue como
propiciação por nossos pecados. “Propiciatório” era o nome da tampa de ouro que
cobria a Arca da Aliança, conforme é descrito em Êxodo 25. O sacerdote de então
precisava sacrificar um animal inocente e entrar no Santo Lugar, o aposento mais
interior do Templo, levando uma bacia com o sangue do animal sacrificado. Uma vez lá
dentro, ele borrifava o sangue sobre aquela tampa ou propiciatório que ficava sobre a
Arca da Aliança.

Dentro da Arca estavam as tábuas de pedra da lei dadas a Moisés. Trata-se da mesma lei
que nos condena, pois diz para não fazermos aquilo que somos incapazes de evitar,
como a cobiça, que é pecar por pensamento. O fato de existir uma tampa de ouro
coberta do sangue de uma vítima inocente vedando a arca onde estava essa lei mostra
que Deus podia ser propício para com o pecador. Pois agora o sangue de Jesus está
colocado entre Deus e as nossas culpas, e é só com base nesse sangue que você pode ser
salvo de seus pecados e do juízo divino. Religião nenhuma pode fazer isso, e é bom que
você tenha isso sempre em mente quando sair a evangelizar. Muito do que chamam de
evangelismo por aí nada mais é do que proselitismo católico ou protestante visando
conquistar mais membros para uma religião e aumentar sua receita com dízimos e
ofertas.

Boa parte da resistência ao evangelho, às boas novas, à Bíblia, que é a Palavra de Deus,
e até mesmo aos cristãos, tem uma razão de ser. Temos dois mil anos de história de uma
cristandade decadente, mas orgulhosa de seus feitos, colocando-se mais como um
empecilho do que como um auxílio à salvação de pecadores. Basta vermos que o Senhor
sente náuseas do último estágio do testemunho cristão no mundo para fazermos ideia de
que coisa boa não é. Espero que isto sirva para você não sair por aí todo orgulhoso por
representar uma organização religiosa criada por homens e chamada de “igreja”,
quando a verdadeira Igreja, o corpo de Cristo, é formada por todos os salvos por ele:

“E ao anjo da igreja que está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel
e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio
nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem
quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de
nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;
aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e
roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas
os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo;
sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha
voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” (Ap 3:14).

Hoje são tantas as religiões ditas cristãs que você sempre encontrará mais gente dizendo
que já tem uma religião do que céticos e ateus declarados. Muitos que se dizem cristãos
irão defender sua religião com uma energia que nunca usam para defender o nome de
Jesus. A história registra o tanto de guerras que foram deflagradas em nome de Cristo e
de pessoas que foram mortas ao longo desses dois mil anos, sempre usando como
pretexto a Palavra de Deus. É por isso que quando vamos falar do evangelho a alguém,
não é de todo sem fundamento que a pessoa resista, e muitos têm razão de desejarem
distância das boas novas. São tantas as vozes neste mundo que as pessoas já nem sabem
quais são as boas novas, de tanto que a mensagem do evangelho foi corrompida nos
últimos dois mil anos. Na maioria das vezes são pessoas levando um evangelho
misturado com leis e obras, mas felizmente o Espírito Santo ainda é capaz de aplicar um
filtro no que dizem e deixar passar apenas aquilo vem direto da Palavra de Deus, a
Bíblia, para atingir o coração.

No Novo Testamento temos vários discípulos do Senhor dando excelentes exemplos de


evangelização, mas certamente é ele — Jesus — quem melhor levou as boas novas. Se
você perguntar qual foi o maior evangelista de todos os tempos já saberá o que irei
responder: Aquele que levou as boas novas à perfeição, pois ele era a personificação das
próprias boas novas, da boa notícia. A palavra evangelho nada mais é do que isso, boas
novas, a notícia de que o Filho de Deus veio ao mundo na pessoa de Jesus Cristo. Ele se
fez Homem, se fez carne, foi feito por Deus pecado em nosso lugar, morreu numa cruz
para pagar pelos pecados dos que nele creem, ressuscitou e hoje está no céu. As boas
novas anunciam que Deus providenciou um Salvador, um meio de nos tirar dessa
enrascada tremenda na qual o pecado nos colocou. Até os anjos sabiam disso quando
anunciaram sua chegada ao mundo:

“Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam,
durante as vigílias da noite, o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles,
e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes
disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para
todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o
Senhor.” (Lc 2:8-11).

Existe uma explicação para o fato de todo ser humano ser um desencontrado neste
mundo, sentindo-se vazio como se sempre faltasse alguma coisa em sua vida. Você
encontra isso em todo lugar, em todas a culturas e classes sociais. A razão dessa
insatisfação está no fato de Deus ter criado o homem com um propósito definido e
muitos não saberem disso. Se fabrico uma caneta o meu objetivo é ter um instrumento
para escrever. Se um par de óculos, é para enxergar melhor; uma cadeira é para me
sentar; um sapato para eu calçar. Tudo tem um propósito definido e o ser humano
também tem um propósito definido por Deus. Enquanto eu não descobrir que propósito
é esse para minha vida, fica evidente que só posso me sentir um inútil, vivendo num
vazio e desprovido perspectiva. De onde vim? O que estou fazendo aqui? Para onde
vou? O papel do evangelista é ajudar as pessoas a encontrarem as respostas para estas
perguntas tão importantes. E é isso que Jesus, o maior Evangelista de todos os tempos,
faz com a mulher samaritana à beira do poço.
Ao mesmo tempo em que acompanhamos sua conversa com a mulher, descobrimos uma
aula de evangelismo com lições importantes para quem se dedica a testemunhar de
Jesus neste mundo. A primeira lição é de como pregar o evangelho; a segunda é do que
pregar ou como fazer esse evangelho chegar até uma alma mostrando em quê consiste
esse evangelho, essas boas novas. E a terceira lição nos fala da razão de se evangelizar,
do objetivo por detrás de uma pessoa ser salva. Estas três perguntas têm respostas no
capítulo 4 do Evangelho de João, que aconselho você a ler atentamente para poder
identificar as respostas a estas três questões: Como pregar, o que pregar e para que
pregar as boas novas.

O modo de pregar o evangelho é de suma importância, e muitas vezes os próprios


cristãos trocam os pés pelas mãos e espantam as pessoas, ao invés de ajudá-las a
compreender, aceitar o evangelho e crer no evangelho. Na passagem da samaritana à
beira do poço encontramos duas vezes a palavra “importa” ou “era necessário”,
dependendo da versão de sua Bíblia. Jesus “deixou a Judéia, e foi outra vez para a
Galiléia. E era-lhe necessário passar por Samaria.” (Jo 4:3-4). A mesma expressão
aparece novamente no versículo 24: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o
adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:24).

Os historiadores dizem que naquela época os judeus não viajavam à Galileia passando
por Samaria. Quando um judeu precisava viajar da Judéia para a Galileia ele dava a
volta passando por uma região chamada Pereia, onde fica o ponto do rio Jordão no qual
João Batista batizava, e de lá eles seguiam para a Galileia. Um judeu podia até
conversar com um incrédulo, com um pagão romano, mas evitava falar com
samaritanos. Não era permitido a um judeu entrar na casa de um gentio e muito menos
de um samaritano. Os gentios, por serem pagãos, mas os samaritanos por representarem
uma afronta para o judeu, por terem deturpado a religião judaica.

Mas quando o texto bíblico nos diz que importava, ou era necessário, que Jesus
passasse por Samaria, a pergunta é: Por que era tão importante e necessário? Porque
tinha uma mulher ali que ele queria salvar. Ele estava disposto a ir aonde nenhum judeu
iria, só para salvar essa mulher. E chegando lá ele conversou com ela, simpatizou com
ela em suas dificuldades e se fez quase igual a ela em suas necessidades. Ela tem sede,
ele também. Se fosse para os discípulos passarem por ali eles provavelmente teriam
escolhido outro caminho.

Existe no mundo hoje uma corrente muito forte chamada autoajuda e a maioria das
religiões são formas de autoajuda, de as pessoas se ajudarem a si mesmas para serem
salvas. A mulher samaritana estava pensando nessa direção quando Jesus lhe água viva.
Ela achava que ele falasse da água material, e que iria obtê-la daquele mesmo poço de
onde saía a água potável. “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde,
pois, tens a água viva?” (Jo 4:11). Ela observa que ele não tinha a ferramenta e a
técnica para tirá-la do poço, nem um cântaro para colocá-la. Jesus queria mesmo que a
reação fosse essa para mostrar a ela que ele estava falando de uma água que é
impossível ao homem obter por seus próprios meios. O Senhor está procurando chamar
a atenção dela para uma coisa chamada graça, o favor imerecido que supre aquilo que
ao homem é impossível obter. Jesus queria mostrar que o que Deus estava preparando
para ela é que ela fosse salva por graça somente. Essa água viva se transformaria numa
fonte jorrando para a vida eterna, e era neste sentido que ele buscava despertar sua
consciência. Primeiro, para a necessidade que ela tinha, uma necessidade que até ali ela
nem mesmo havia percebido. Ele começa mostrando que aquela água natural não podia
satisfazer, por ser efêmera e seu efeito durar por um momento. Mas a água que tinha a
oferecer iria satisfazer a sede daquela mulher para sempre e eternamente. Primeiro sua
consciência precisava ser despertada para a necessidade, então para a incapacidade de
ela própria conseguir essa água para a vida eterna, e também que existia algo que era
um empecilho no processo: o pecado.

Estas três coisas — necessidade, incapacidade e pecado — deve estar presente em toda
pregação do evangelho. A pessoa precisa reconhecer sua necessidade, porque se ela não
souber que precisa de salvação, para que iria querer um Salvador. Depois reconhecer
sua incapacidade, porque se não existir esse elemento ela vai achar que a salvação pode
ser obtida por algum esforço de sua parte, como esmolas, dízimos, filiação a uma igreja,
oração, jejuns etc. Finalmente ela precisará reconhecer o seu pecado, que é o que faz
separação entre ela e Deus. Para aquela mulher Jesus não precisava explicar o pecado e
sua origem, mas para um ouvinte do século vinte e um talvez você precisa voltar ao
livro de Gênesis para deixar claro onde começou a desgraça humana por um só ato de
desobediência e rebelião. E por que motivo? Porque Eva acreditou na conversa de
Satanás travestido de serpente de que se ela e Adão comessem daquele fruto proibido
seriam como Deus.

É somente a partir daí que um ouvinte das Boas Novas irá reconhecer que Deus proveu
algo em graça para salvá-lo, e foi exatamente o que aconteceu à mulher. “Disse-lhe a
mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui
tirá-la.” (Jo 4:15). Agora ela fez o pedido certo, ela pediu a coisa certa para a pessoa
certa. Ela reconheceu sua necessidade e sede espiritual, e reconheceu sua incapacidade
porque não está tentando tirar essa água por seus próprios meios. Quanto ao pecado, sua
consciência está despertada porque ela sabia muito bem de sua condição. Quantas
pessoas se sentem inquietas, se sentem incompletas, se sentem vazias e buscam em
muitas coisas o complemento que acham que vai ser suficiente para preencher sua vida.
Com aquela mulher não tinha sido diferente. Ela teve cinco homens em sua vida e
estava agora no sexto relacionamento, e nenhum deles foi realmente um marido.
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Vivemos numa sociedade onde as pessoas dão grande valor a relacionamento, somos a
geração das redes sociais e dos namoros online. As pessoas costumam dizer que estão
tendo um relacionamento, que sonham encontrar o par perfeito. É claro que isto aí é
correto, é muito bom, mas é importante que a pessoa entenda que nada neste mundo
preenche o coração do ser humano, nada, absolutamente coisa alguma preenche
totalmente, satisfaz totalmente, todas as coisas nesta vida são fonte de água natural.
Nada é a verdadeira água que Cristo dá. Todas são fontes de água natural, é a água que
satisfaz por um pouquinho, depois perde efeito e você vai ter que procurar outra água, aí
bebe mais um pouco, ela já tinha bebido cinco aqui, estava bebendo a sexta água no
sentido de relacionamentos e nenhuma delas tinha satisfeito essa mulher. Dá-me Senhor
dessa água, ela pede. Pede a coisa certa para a pessoa certa.

É isto que todos nós devemos fazer. Se você se sente, se você sabe que existe um vazio
em você, se você sabe que você tem algum problema com Deus, peça a coisa certa à
pessoa certa. E esta pessoa certa é Jesus que não é inacessível. Por mais que as pessoas
possam ser inacessíveis a gente neste mundo, ele não é inacessível. Ele é o único que
disse vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei.
Vinde a mim, ele não disse vá à igreja X, à religião Y, vá ao pastor fulano, ao padre
sicrano, ao guru beltrano, não, vinde a mim. Ele abriu a porta, vinde a mim. Qualquer
pessoa importante, qualquer celebridade nesse mundo, se você recebesse um email
dessa pessoa dizendo vem aqui me visitar: uau, o cara está me convidando para ir na
casa dele visitá-lo, ele é uma celebridade, ele é uma pessoa importantíssima, que
privilégio! E aqui nós estamos falando do filho de Deus, o criador do universo
convidando cada pessoa, cada pecador, vinde a mim. Aquele que não tinha escrúpulos
para se sentar ao lado de uma mulher pecadora, de uma mulher que tinha vergonha de ir
à fonte de manhã cedo, à hora que não tinha ninguém mas ele estava ali pronto para
conversar com ela, aquele que não tinha problema para conversar com essa mulher. Nós
temos problemas para conversar com as pessoas.

Se a gente passa na calçada e vê um bêbado caído, todo fedido lá, vomitando,


dificilmente a gente vai passar lá e conversar com ele. A gente desvia, sente um certo
asco, uma certa coisa, todo ser humano tem isso, mas o Senhor não, de maneira
nenhuma. Ele deixou o céu e desceu a este mundo na forma humana e foi até o mais
fundo do poço aqui, foi à morte e a morte mais terrível e mais humilhante que podia
existir. Ele lá pregado nu numa cruz no madeiro sofrendo todo impropério, sofrendo
tudo dos homens e depois se transformando num pára-raio para receber o juízo de Deus.
Sofrendo durante três horas nas mãos dos homens e depois três horas nas mãos de um
Deus santo, para nos salvar. Ele é aquele que se interpôs entre o pecador que merecia o
juízo de Deus, de um Deus justo, para não deixar que este juízo caísse sobre o pecador.
Ele é aquele que agora convida, que todo aquele que crê nele, que o aceitar como
salvador, tem a salvação garantida, está salvo eternamente.

Na arca da aliança, todos já viram algum desenho, alguma gravura da arca, a arca da
aliança que os israelitas levavam no deserto e depois foi guardada no templo em
Jerusalém tinha dentro dela as tábuas da Lei, aquelas tábuas de pedra que Moisés
recebeu a Lei, os dez mandamentos no monte e foram guardadas nessa arca. A Lei de
Deus que muita gente tenta seguir, não matarás, etc. a Lei de Deus só condena o
homem. Por quê? Por que todo ser humano pode até tentar não roubar, não matar, mas
quando nós encontramos o Senhor Jesus nos evangelhos dizendo que se eu pensar em
matar eu já matei, se eu pensar em adulterar já adulterei, acabou. O último mandamento
da Lei de Deus dizia não cobiçarás, ou seja, nem pense em fazer. Então não há como, a
Lei foi dada para mostrar que o homem pecador é incapaz de salvar-se a si mesmo.

E dentro dessa caixa de madeira revestida de ouro havia essas tábuas da Lei. Sobre esta
caixa, que era a arca, havia uma tampa de ouro puro com duas figuras de anjos,
querubins esculpidos na tampa e essa tampa de ouro puro chamava-se propiciatório e no
Novo Testamento nós encontramos Jesus sendo chamado de propiciação pelos nossos
pecados. Este propiciatório, o que era essa tampa? O sacerdote de Israel quando tinha
que oferecer sacrificios pelos pecados do povo ele sacrificava um animal inocente, que
não tinha nada a ver com os pecados daquele povo, pegava o sangue daquele animal
numa bacia e entrava lá na presença de Deus onde ficava essa arca, separada de tudo,
tinha um véu e tudo mais, ele pegava com a mão e espirrava o sangue da bacia sobre
essa tampa de ouro. Então essa tampa de ouro ficava cheia de sangue de animais
sacrificados. Dentro, as tábuas da Lei que condenam o homem pecador. No meio, uma
tábua de ouro maciço coberta de sangue. Em cima, Deus. Era como se Deus estivesse
colocando o seguinte: ele não vai chegar a esta condenação se existir o sangue
intermediando, o sangue no meio.
E hoje toda pessoa que crê em Jesus como seu salvador, o sangue que foi derramado na
cruz fica valendo para esta pessoa, limpando o pecado dessa pessoa. Normalmente o
que ensina o Novo Testamento é que o pecador foi substituído na cruz do calvário por
Cristo, então, a minha culpa, a culpa que eu devia pagar ele pagou no meu lugar. Deus o
julgou e o condenou por que ele assumiu a minha culpa como se ele disesse não, o
pecado do Mario deixa comigo, eu pago. Deus o condenando ali Deus não pode mais
me condenar. E se você hoje aqui escutando o evangelho crer no Senhor Jesus como o
seu salvador, o valor e a eficácia desse sangue derramado na cruz, desse sacrifício feito
na cruz passa a valer pra você. E aquele que crê em Jesus teve a sua pena paga de forma
substitutiva por ele na cruz.

Essa mulher teve despertada a consciência dela quanto a necessidade que ela tem e
quanto à incapacidade que ela tem, tanto é que ela pede a Jesus por essa água. Mas
agora ele manda ela chamar o marido e traz à tona o pecado. Ela fala não tenho marido,
porque os cinco que teve não eram seus maridos e o homem com quem vive agora não é
seu marido. Se você quer ser salvo dos seus pecados, que é o que realmente separa você
de Deus, é necessário que a sua vida seja escancarada diante de Cristo. É claro que ele
tudo vê, ele tudo sabe. Confesse a ele que você é um pecador, que você é uma pecadora.

Lembro-me de uma história que me foi contada, de uma pessoa que teve um sonho que
Jesus ia visitar a sua casa e ele fica muito preocupado, então vai na sala e tira tudo da
sala que pudesse desagradar a Deus e leva para a cozinha e quando Jesus entra na sua
sala ele fala quero ver sua cozinha e ele fala espere só um minuto e corre para a cozinha,
tira todas as coisas e joga para o quarto. Então Jesus disse que quer ver o quarto e vai
entrando e a pessoa vai jogando as coisas para dentro e acaba levando tudo para o sótão
e pões todas aquelas coisas ruins dentro de um baú, tranca o báu e Jesus vai até o sótão e
diz quero ver o baú. O baú? Sim, o baú. Está bem, e quando ele abre o baú, o baú está
vazio.

Quando nós nos colocamos diante da luz de Deus, diante da pessoa do Senhor Jesus
Cristo com todos nossos pecados expostos, sem restrição, não há mais nada para
esconder, ele vem e nos lava perfeitamente, nos limpa perfeitamente, nos justifica
perfeitamente de todos os nossos pecados. Isso é ser salvo, essa é a salvação que Deus
oferece. E essa mulher agora tem os seus pecados revelados mas faz o que todo ser
humano faz nesta hora, que nem aqueles bichinhos quando você levanta a pedra e está
cheio de insetos embaixo. Escorpião, barata, aranha, bichos da noite, do escuro, você
levanta a pedra e o que elas fazem? Correm para debaixo de outra pedra, eles não
querem a luz, eles fogem. E essa mulher foge, ela vai fugir como? Ela vai usar o recurso
que todo ser humano usa quando confrontado com os seus pecados. Ah, eu tenho
religião. Ela vai voltar-se para a religião agora e fala Senhor, vejo que és profeta. Muda
completamente o rumo da conversa. Nossos pais adoraram neste monte e vós dizeis que
é em Jerusalém o lugar que se deve adorar. Ela leva a conversa para a religião. Como
que ela diz: olha eu já adoro aqui neste monte, dizem que é em outro lugar mas a gente
adora aqui.

O homem quer sempre ser religioso por que o que é a religião? A religião é você tentar
fazer alguma coisa que aplaque a ira de Deus. Você tentar ser bom para ir para o céu.
Você tentar fazer alguma boa obra para eliminar o seu carma, você faz caridade para
eliminar os pecados de uma suposta vida anterior, de outra encarnação. Não é nada
disso. A religião é o homem tentando religar-se, vem da palavra latina religare, religar-
se com Deus. O homem não religa nada com Deus, quem é ele para religar alguma
coisa? Deus infinitamente superior, Deus infinitamente longe do homem. Se a iniciativa
não partir de Deus não há salvação. É o Senhor Jesus quem toma a iniciativa dessa
conversa, ele que toma iniciativa de oferecer a água, é ele que toma a iniciativa de
revelar a ela a necessidade, revelar a ela os seus pecados e é ele quem vai tomar a
iniciativa de salvá-la. Enquanto ela se esconder debaixo do manto da religião não há
como. A religião se apresenta de duas formas diferentes, existe uma terceira forma que
não é evidentemente a religião, mas vamos chamar assim, a maneira de se aproximar de
Deus.

A primeira forma é aquela que tem a orígem no homem e seu fim no homem, o que é
isso? Eu procuro fazer o melhor de mim, melhor que eu posso - até um ateu é assim -
ele pode dizer que não tem religião mas diz que faz o melhor que pode, para que? Para
ter uma vida melhor. Eu procuro fazer o melhor de mim para eu ter o melhor para mim.
Começa no homem e termina no homem. O outro tipo de fé é aquele que começa em
Deus e termina no homem. Eu vou crer em Jesus para ser salvo, ter a vida eterna e ser
abençoado, ser próspero nessa vida, ganhar bem, nunca ficar doente. Começa em Deus
mas o seu fim é no homem. E agora nós vamos ver o Senhor Jesus falar para a mulher -
nós vimos como pregar o evangelho, o que é o evangelho e para que pregar o
evangelho.

Para que uma alma precisa ser salva? Ele vai dizer para ela no versículo 21:”Disse-lhe
Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém
adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a
salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o
adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade.” Deus é Espírito e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e
em verdade. Essa é a resposta para que o homem foi criado? Para ser adorador de Deus.
Essa é a religião verdadeira que começa em Deus, eu sou salvo pela fé em Jesus Cristo
que morreu na cruz para levar os meus pecados. Salvos para que? Para Deus, para
glorificar Deus, para adorar a Deus, louvar a Deus, por que foi para isto que ele me fez.

Se uma caneta que foi feita para escrever e você tentar usá-la como chave de fenda não
vai funcionar, ela vai quebrar, vai estragar. Uma cadeira que foi feita para ser cadeira, se
você usar para outra função não vai funcionar também. Nós fomos feitos para sermos
adoradores de Deus. E agora essa mulher vai receber a revelação máxima e é claro que
esse adorardor de Deus, é importante entender aqui também que Deus procurar
adoradores que o adorem em espírito e em verdade, por que ele fala isto? Por que os
judeus adoravam em verdade. Os judeus adoravam num templo verdadeiro, na cidade
verdadeira que Deus tinha estabelecido, Jerusalém, da maneira verdadeira com os rituais
verdadeiros e Cristo reconhecia tudo isso. Como Messias que tinha vindo para Israel
quando ele curava alguém ele mandava a pessoa ir ao templo apresentar sacrifícios.
Quando ele entrou no templo e viu os mercadores ele falou que a casa do Pai tem que
ser uma casa de oração e eles estavam transformando aquilo em um covil de ladrões, em
mercado. Então ele reconhecia tudo aquilo como realmente a verdade que Deus tinha
dado para os judeus adorarem.
Porém, em outra passagem ele diz esse povo me adora com os lábios mas o seu coração
está longe de mim. Eles adoravam em verdade mas não em espírito. Os samaritanos por
sua vez não adoravam nem em verdade nem em espírito por que inventaram a sua
própria forma de adorar, adotaram aquilo que achavam melhor que deviam adotar e
adoravam. Deus quer que aquele que é salvo o adore em espírito e em verdade. O que é?
Em verdade segundo as Escrituras. Não obviamente as do Antigo Testamento onde
eram sombras das coisas que viriam mas nas epístolas dos apóstolos. Isso é adorar em
verdade. Como o cristão deve adorar ali? Ah, ele deve dançar. Tem dança ali, vamos
procurar dança ali, não, não tem dança. Esta semana recebi um email de uma pessoa
perguntando sobre o ministério da dança para pregar o evangelho dançando. Tem isso
em algum lugar da doutrina dos apóstolos? Não. Então não existe, não é em verdade.
Isto é fazer como os samaritanos, adotar as coisas ao seu bel prazer e juntar e criar
alguma coisa e achar. Em espírito e em verdade. Essa é a forma de adoração que Deus
busca os adoradores. Essa é o ápice da adoração cristã e qualquer coisa fora disto não é
o que está aqui. O ponto alto do encontro dessa mulher com o Senhor Jesus está no
versículo 25 quando ela fala que sabe que o Messias viria e anunciaria tudo e ele diz
para ela: Eu sou.

Esta expressão Eu Sou é a mesma usada por Jeová para se revelar para Moisés. Além
dele se revelar como o Messias aqui, ele está se revelando a essa mulher que ele é Deus,
Deus criador de todas as coisas. Eu sou. Esta frase ele fala depois, quando ele vai ser
preso no jardim do Getsêmani e os soldados caem de costas no chão tamanho era o
poder do que ele estava falando. Eu sou Deus, ele falou. Ele estava se revelando como
Deus. Jesus é Deus, Deus feito carne, Deus vindo ao mundo. Eu sou, eu que falo
contigo. Aí chegam os discípulos e a mulher larga o cântaro, no versículo 28, e foi à
cidade contar o que tinha acontecido aos homens da cidade. Essa mulher que até a
pouco estava envergonhada até da sua situação vai para a cidade e fala encontrei alguém
que me falou tudo o que eu fiz, colocou âs claras a minha vida. Ela não tem mais medo,
não tem mais receio, ela teve um encontro pessoal com Cristo, é este encontro que todo
ser humano precisa ter. E os discípulos, o que estão fazendo? Aqueles que lá atrás
estavam discutindo quem seria o maior, aqueles que lá atrás estavam perguntando se
queria que jogassem fogo para queimar as pessoas, aqui eles estão preocupados com
eles, estão preocupados com comida.

Aquela mulher tinha acabado de aprender que a água natural não ia matar a sede dela,
que Jesus tinha uma água muito melhor para ela e agora ele vai falar para esses
discípulos que ele tem um alimento que é muito melhor do que a comida. No versículo
34 ele diz o seguinte: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e
realizar a sua obra.” Eles estão preocupados com comida e o Senhor Jesus está falando
que a comida é fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra. E aquela mulher larga o seu
cântaro e vai fazer o que? Se ocupar da verdadeira comida. Fazer a obra de Deus. Ela
vai correndo para a aldeia, para a cidade que ela morava, falar de Jesus para aquelas
pessoas. Ela diz encontrei o Messias, encontrei o Cristo, porventura não é este o Cristo?
Ele disse tudo de mim. Essa é a transformação que acontece na vida de uma pessoa
salva, ela quer fazer a obra de Deus, ela quer contar, quer conquistar.

Tem uma frase de Hudson Taylor, um inglês que viveu no século XIX, foi um dos
primeiros missionários britânicos para a China e quando chegou na China ele descobriu
que ficar de terno, gravata e cartola nas ruas da China pregando o evangelho era uma
furada por que o pessoal prestava mais atenção nele do que na mensagem que ele
falando por que os chineses naquela época vestiam aquelas roupas de chineses, chapéu
de cone, e ali tinha um homem que parecia um ET de terno e gravata e cartola na rua
pregando o evangelho. Ele percebeu que aquilo atrapalhava, não era viável continuar
assim, o que ele fez? Mandou fazer roupas chinesas, se vestiu como um chinês,
começou a visitar as casas dos chineses, andar com os chineses e então os chineses
começaram a se converter. Começaram a prestar atenção na mensagem dele, não mais
na roupa dele. E o que aconteceu? A missão inglesa que o tinha enviado à China o
expulsou da missão por que ele tinha quebrado as regras. Não podia ir para a China e
vestir outra roupa que não fosse a roupa inglesa, que era superior, era mais evoluída do
que a roupa dos chineses. E Hudson Taylor foi um dos responsáveis pela maior
evangelização da China e acabou fundando uma missão chamada Missão para o interior
da China e levou o evangelho nos lugares onde ninguém queria ir, todos queriam ficar
ali na beira mar, no litoral, mas ele levou o evangelho no interior da China e até hoje se
encontra cristãos no interior da China que são, por assim dizer, descendentes espirituais
de Hudson Taylor, da mensagem evangélica que ele levou. E ele disse uma coisa
interessante: alguns se orgulham de serem sucessores dos apóstolos, eu prefiro ser
sucessor da mulher de Samaria, pois enquanto os apóstolos estavam preocupados em
buscar comida ela largou o seu cântaro por causa do seu zêlo em buscar almas.

Quando nós que cremos no evangelho, cremos no Senhor Jesus, temos zêlo, temos amor
pelas almas, buscamos almas. Quando olhamos para o maior evangelista que jamais
existiu, o Senhor Jesus Cristo, olhamos para a sua disponibilidade, olhamos para o seu
desejo de ir onde estava o pecador, as pessoas olham para o evangelho de uma forma
diferente. Tirarmos a cartola, tirarmos o terno, por assim dizer, e pedirmos água por que
aquela pessoa está pedindo água, necessita de água, esse pregou o evangelho, esse é o
exemplo que nós temos para o evangelho. E essa mulher é o exemplo de todos nós,
necessitados, incapazes totalmente de nos salvarmos a nós mesmos, desejosos agora
quando ouvimos a palavra do evangelho, a palavra da salvação, desejosos dessa água e
tendo um encontro pessoal com Cristo depois de reconhecermos a nossa situação de
extremo pecado e não termos mais nenhum escrúpulo em deixar isto aberto para que
Deus realmente faça a obra em nós, nos perdoe todos os pecados e nos salve.

COMO PREGAR O EVANGELHO

Recebi sua carta e me alegro por seu interesse de pregar a Palavra de Deus. Não existe,
por assim dizer, uma técnica para se pregar a Palavra de Deus, pois quando a
apresentamos, é o Espírito Santo que faz tudo. Ele convence o pecador do pecado e o
leva a crêr. Nós não podemos convencer ninguém, mas podemos ao menos não
atrapalhar e evitar que nossos ouvintes durmam. E para este aspecto existem algumas
técnicas.

Creio que existem duas maneiras de se fazer uma boa pregação. Uma é escolher um
tema, por exemplo, “A Morte”, e discorrer sobre o tema, mostrando ao mesmo tempo
versículos da Palavra de Deus que tratem do assunto. Outra maneira é escolher uma
passagem das Escrituras, por exemplo, a história de Zaqueu, e explicá-la. Em qualquer
dos casos, é bom que se mantenha a Bíblia aberta na passagem que será tomada como
passagem principal e se faça as citações de outras passagens de memória.

Evidentemente, a maior parte do que escrevo refere-se a pregação para incrédulos.


Quando se trata de ministrar a crentes, então é bom que se vá de um versículo ao outro,
pedindo aos ouvintes que procurem os trechos em suas Bíblias.

Algo importante numa pregação é que ela tenha começo meio e fim. Paulo escreveu:
“Vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo
as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (1 Co 15.3,4). “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus
Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). “Levando cativo todo o entendimento à
obediência de Cristo” (2 Co 10.5).

Cristo era o tema da pregação de Paulo, e o ouvinte era levado a Cristo. Paulo não
pregava cura de doenças, resolução de problemas matrimoniais, provisão de
necessidades materiais, recebimento de poder e tantas outras coisas que ouvimos alguns
falsos pregadores oferecerem em nossos dias. Paulo pregava Cristo. A pregação do
evangelho deve seguir o seguinte roteiro:

1. O homem é pecador. (como, por que, desde quando, etc.)


2. O homem necessita de um Salvador. (como, por que, quando).
3. A salvação não está dentro do homem ou em suas obras.
4. Cristo veio, morreu e ressuscitou para salvar os pecadores (como, por que,
quando)
5. O ouvinte precisa ser salvo; precisa de Cristo.
Imagine-se como alguém tomando o pecador pela mão e fazendo-o chegar até Cristo e,
depois de haver explicado o que Cristo é, deixando-o a sós com o Salvador e saindo de
perto. O bom pregador não é o do qual dizem: “Como ele prega bem”, mas “Que bom é
o que ele pregou”. Quando o pregador sai de cena, as pessoas precisam se lembrar
apenas de suas palavras, e não dele.

Por esta razão não gosto muito dos “testemunhadores profissionais”, aqueles que
andam de lugar em lugar contando os horrores de sua vida passada e como ele agora
está santo. Embora existam muitos testemunhos sinceros de conversão, hoje em dia há
muitos que fizeram do testemunho uma profissão e acabam tendo orgulho da vida que
levavam antes, quando eram viciados, bandidos ou coisa assim. Gostam da fama que
tais coisas trazem, pois muitos crentes, que não vão ao cinema e nem assistem televisão,
gostam de ouvi-los para satisfação da carne, ouvindo pregações que mais falam de
crimes, drogas, sexo, etc. do que da Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Lembre-se sempre,
é Cristo que você deve apresentar ao pecador.

Se tem dificuldade em falar em público, nada melhor do que o treino. Quando estiver
falando em público, procure olhar sempre para a cabeça dos últimos ouvintes e,
eventualmente para uma ou outra pessoa nos olhos. Nunca pregue olhando para a
primeira fileira, pois os de trás se sentirão como não fazendo parte do que você fala, ou
seja, não está falando com eles. Procure praticar pregando sozinho. Quer outras dicas
práticas?

 Nunca fale de braços cruzados, mãos nos bolsos ou escondendo as mãos.


 Fale como você falaria normalmente e não como quem está fazendo um discurso
político.
 Não queira usar palavras difíceis e nem utilize palavras “evangélicas”. Você
está falando com incrédulos.
 Use um vocabulário que seu público entenda. Quando disser “A Palavra diz...”,
será que eles sabem que “Palavra” é essa?
 Não pregue uma denominação, organização ou igreja, porque nenhuma delas
pode salvar.
 Na pregação o menos é mais. Não queira ir de Gênesis a Apocalipse porque
basta ao pecador saber apenas uma coisa para ser salvo. Pregue isso.
 Não queira parecer o que você não é.
 Não fique acusando as pessoas como se você fosse perfeito e elas um lixo.
 Não fique fazendo comparações entre os salvos e os incrédulos, entre pessoas
que vão à igreja e as que não vão, que se vestem de um determinado modo ou
não. Você está ali para apresentar Cristo a eles.
 Não pregue modo de vida, porque se um incrédulo parar de fumar, beber,
prostituir, roubar etc. ele ainda assim continuará no caminho do inferno por não
ter a Cristo.
 Fale pausadamente de modo que as pessoas entendam o que você está dizendo.
Use o silêncio de vez em quando para sublinhar o que acabou de dizer.
 Seja normal. Não faça parecer que para ser cristão é preciso ficar pulando,
urrando e dando murros numa Bíblia.
 Não tente imitar a voz de algum pregador do rádio ou da TV. Já vi pregadores de
uma denominação cujo líder fala com voz rouca falarem também com voz rouca
forçada. Outros, de uma denominação cujo líder é carioca, carregam no sotaque
do Rio, mesmo tendo nascido em Piracicaba.
 Seja simples, seja humilde, deixe a soberba e a agressividade em casa. É o
pecado que Deus odeia, não os pecadores.
Finalmente, antes, durante e depois disso tudo, ORE. Aproveite para ver a sequência de
vídeos abaixo que explicam como Jesus pregou para a mulher samaritana: por que
pregar, a quem pregar e para quê pregar.

QUEM DEVE TESTEMUNHAR DE CRISTO

É uma grande responsabilidade de cada crente no Senhor Jesus Cristo, a de levar a


outros irmãos aquilo que o Senhor nos tem dado conhecer. Deus não apenas quer que os
homens sejam salvos. Ele “quer que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). Como você mesmo escreveu, depois de salvos
temos muito a aprender da preciosa Palavra de Deus. E foi para isto que o Senhor deu
dons aos homens, “querendo o aperfeiçoamento dos santos” (Ef 3.12).

Cada cristão é responsável por testemunhar de Cristo e esta responsabilidade é dada


numa medida especial àqueles que receberam o dom de evangelista. Vemos a ordem dos
dons claramente indicada em Atos 11 onde os evangelistas pregam o evangelho
(vers.19-20), pessoas crêem (vers. 21), recebem um irmão com o dom de pastor (vers.
22-24) que os reúne como faz o pastor às ovelhas, cuidando delas e exortando-as a
permanecerem unidas ao Pastor que é Cristo. Vem então a necessidade de alimento mais
sólido para aquelas almas e Paulo (além do próprio Barnabé) vêm exercer o dom de
mestres ou doutores (vers. 25-26) ensinando-os.

Quando um evangelista sai, ele vai levar o evangelho. Quando um evangelista reúne
seus irmãos e convida incrédulos, ele está pregando o evangelho. Mas isto é bem
diferente da igreja se reunir, não para os incrédulos, mas para Deus; para se ocupar com
Cristo. Vemos ser esta a atividade da igreja, quando se reúne, em Atos 2.42. Ali não
encontramos evangelismo. Perseveravam na doutrina dos apóstolos (que hoje temos nas
epístolas), na comunhão (com o Senhor e uns com os outros), no partir do pão (na ceia
do Senhor, lembrando a Sua morte) e nas orações. Veja você que são todas atividades
exclusivas daqueles que crêem.

Embora em reuniões assim possa haver incrédulos, não são eles o alvo da reunião. O
alvo é o Senhor que deve estar ocupando a posição de destaque. Dessa forma vemos que
numa reunião de ensino (perseveravam na doutrina dos apóstolos) não é um que dirige
ou que faz tudo. Em 1 Coríntios 14.26-40 vemos a descrição de uma reunião assim.
“Falem dois ou três profetas e os outros julguem”; “Porque todos podereis profetizar”;
“As mulheres estejam caladas”; “as coisas que vos escrevo são mandamentos do
Senhor”, etc. São ordens claras de como deve ser uma reunião ao nome do Senhor,
tendo apenas o Espírito Santo a dirigir e usar quem Ele quiser.

O mesmo sucede na Ceia do Senhor, embora ali não seja o lugar apropriado para o
ensino ou admoestação. O ponto alto é a lembrança do Senhor morto e o pão que “nós”
partimos (1 Co 10.16) deixa claro que não se trata de um pão que “os líderes” partem.
Qualquer cristão tem o privilégio de se levantar e agradecer pelo pão e pelo vinho,
assim como qualquer cristão tem o direito de trazer uma oração de louvor ou sugerir um
hino a ser cantado. O mesmo sucede quando os crentes se reúnem em igreja ou
assembléia para oração.

Mas infelizmente muitos cristãos são privados de aprender mais, ou mesmo de


exercerem seus dons nas reuniões, porque a cristandade adotou o modelo romano de
reunião, tendo sempre um homem à frente. Mas, para aqueles que buscam reunir-se nos
moldes que Deus colocou, Ele sempre lhes será suficiente. Você crê nisto?

O QUANTO PRECISO ESTAR PREPARADO PARA EVANGELIZAR?

A rigor, para evangelizar, tudo o que você precisa saber é o que Paulo diz em sua
epístola ao resumir o que é a mensagem do Evangelho:

“Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também
recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes
tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.”
1 Co 15

As pessoas irão dizer que você precisa estudar, fazer teologia, ou então dirão que a
Bíblia é muito difícil de se entender sem o auxílio de um clero e que é melhor você
deixar isso para quem entende. Exigir de alguém que conheça mais do que a simples
mensagem do evangelho é o mesmo que dizer para não evangelizar, pois quando é que
alguém pode dizer que já sabe tudo sobre a Bíblia?

Veja o caso da menina, serva de Naamã. Era uma criança apenas, de outra sociedade, de
outra cultura, de outra civilização, escrava da mulher de um general. Se ela achasse ser
necessário uma preaparação especial para poder falar a alguém de outro povo, nível
social, cultura etc, jamais teria testemunhado à sua senhora que a cura estava com o
profeta em Samaria. Mas na simplicidade de sua pessoa, de seu preparo e de seus meios,
Deus acabou sendo glorificado ao máximo.

E assim deveria ser sempre. O meu ministério vale tanto quanto uma garrafa de vacuo
(sem o vasilhame, é claro) se não for algo recebido de Deus. E se vier de Deus, não
tenho nada que tocar trombetas, pois o recebi apenas; não havia em mim nada além de
um vaso vazio que Deus quis usar por graça apenas.

Veja que interessante esta passagem: “E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por
semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além
do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro. Porque, quem
te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te
glorias, como se não o houveras recebido?” (1CO 4:6, 7)

Se temos algum ministério, seja o que for, foi porque recebemos, por graça, não por
esforço ou capacidade própria. E se recebemos, por que nos gloriarmos como se não o
tivéssemos recebido? (como se tivesse se originado em nós?).

Como então identificar um ministério vindo de Deus? Fazendo o teste de João Batista:
Se para nós importa que Ele cresca e eu diminua, então estou querendo dar glória a
Deus. Mas se eu quiser ficar com os aplausos, Deus permitirá que eu fique com os
aplausos... dos homens. Todavia é a aprovação de Deus que conta. Muito do que hoje é
aplaudido como grandes ministérios se mostrará palha inflamável quando chegarmos no
céu, diante do Tribunal de Cristo que irá nos recompensar segundo tudo o que fizermos
aqui para Ele. Por outro lado, muito do que é feito no segredo da comunhão com Deus
brilhará eternamente para a glória de Deus.

Em 2 Samuel 23:8 há uma lista dos valentes de Davi, homens que foram fiéis a ele e
não o abandonaram em seu exílio. O primeiro da lista é praticamente desconhecido e
não há nada sobre ele além deste e de provavelmente mais um versículo em Crônicas.
Pode crer que serão incógnitos assim que ocuparão os primeiros lugares na lista
daqueles que foram realmente fiéis a Cristo quando Ele distribuir o galardão ou
recompensa a cada um dos Seus.

A IGREJA NÃO EVANGELIZA?

Evangelização não é a atividade da igreja. Deixe-me explicar melhor antes que você me
entenda mal. O fato da igreja estar no mundo evidentemente leva os homens a
conhecerem a conhecerem o Evangelho e faz até mesmo com que os anjos conheçam a
multiforme sabedoria de Deus. Porém o trabalho de pregar o evangelho é dos crentes
individualmente. Cada cristão é responsável por testemunhar de Cristo e esta
responsabilidade é dada numa medida especial àqueles que receberam o dom de
evangelista.

Vemos a ordem dos dons claramente indicada em Atos 11 onde os evangelistas pregam
o evangelho (vers.19-20), pessoas crêem (vers. 21), recebem um irmão com o dom de
pastor (vers. 22-24) que os reúne como faz o pastor às ovelhas, cuidando delas e
exortando-as a permanecerem unidas ao Pastor que é Cristo. Vêm então a necessidade
de alimento mais sólido para aquelas almas e Paulo (além do próprio Barnabé) vêm
exercer o dom de mestres ou doutores (vers. 25-26) ensinando-os.

Quando um evangelista sai, ele vai levar o evangelho. Quando um evangelista reúne
seus irmãos e convida incrédulos, ele está pregando o evangelho. Mas isto é bem
diferente da igreja se reunir, não para os incrédulos, mas para Deus; para se ocupar com
Cristo. Vemos ser esta a atividade da igreja, quando se reúne, em Atos 2.42. Ali não
encontramos evangelismo. Perseveravam na doutrina dos apóstolos (que hoje temos nas
epístolas), na comunhão (com o Senhor e uns com os outros), no partir do pão (na ceia
do Senhor, lembrando a Sua morte) e nas orações. Veja você que são todas atividades
exclusivas daqueles que crêem.

Embora em reuniões assim possam haver incrédulos, não são eles o alvo da reunião. O
alvo é o Senhor que deve estar ocupando a posição de destaque. Dessa forma vemos que
numa reunião de ensino (perseveravam na doutrina dos apóstolos) não é um que dirige
ou que faz tudo. Em 1 Coríntios 14.26-40 vemos a descrição de uma reunião assim.
“Falem dois ou três profetas e os outros julguem”; “Porque todos podereis profetizar”;
“As mulheres estejam caladas”; “as coisas que vos escrevo são mandamentos do
Senhor”, etc. São ordens claras de como deve ser uma reunião ao nome do Senhor,
tendo apenas o Espírito Santo a dirigir e usar quem Ele quiser.

O mesmo sucede na Ceia do Senhor, embora ali não seja o lugar apropriado para o
ensino ou admoestação. O ponto alto é a lembrança do Senhor morto e o pão que “nós”
partimos (1 Co 10.16) deixa claro que não se trata de um pão que “os líderes” partem.
Qualquer cristão tem o privilégio de se levantar e agradecer pelo pão e pelo vinho,
assim como qualquer cristão tem o direito de trazer uma oração de louvor ou sugerir um
hino a ser cantado. O mesmo sucede quando os crentes se reunem em igreja ou
assembléia para oração.

Marcos 16:15-16: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.

Esta ordem foi primeiramente dada aos apóstolos ainda em seu caráter de judeus
pregando as boas novas do Reino e deve ser lida no contexto de Mateus 24:14 “E este
evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações,
e então virá o fim.”

O evangelho do Reino tinha o caráter do anúncio feito por João Batista:”Arrependei-vos


que é chegado o reino de Deus” e voltará a ser pregado após o arrebatamento da igreja,
quando um remanescente judeu fiel se converter nos sete anos que precederão a volta de
Cristo para reinar.

Neste sentido, os apóstolos tiveram pouco tempo para obedecer àquele “Ide por todo o
mundo”, considerando que após a morte e ressurreição de Jesus eles passaram a pregar
o evangelho da graça, cuja mensagem é: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”. O
remanescente judeu fiel, este sim, irá pregar o evangelho do reino por todo o mundo
para todas as nações antes do fim.

O evangelho da graça, por sua vez, não será pregado em todo o mundo como é o caso da
ordem dada quanto ao evangelho do Reino. A igreja será arrebatada antes que o mundo
todo escute o “crê no Senhor Jesus e serás salvo”, ficando a cargo dos judeus
convertidos dar continuidade ao trabalho de anunciarem a Jesus a todo o mundo, porém
num caráter muito mais associado ao trabalho dos apóstolos judeus de antes da
fundação da igreja em Atos 2.

Você pode ler mais sobre essa distinção aqui:


http://www.respondi.com.br/2005/07/o-evangelho-ser-pregado-em-todo-o.html
http://www.respondi.com.br/2005/06/o-que-o-evangelho-do-reino.html

Tudo isso leva ao cerne de sua dúvida: Qual é o papel da Igreja no evangelismo? Na
verdade estamos tão acostumados a ver as denominações como “obras evangelísticas”
que nem nos damos conta de que os primeiros cristãos, quando se reuniam como
assembléia ou igreja, não se reuniam para pregar o evangelho aos incrédulos, mas
“perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas
orações”. Outra tradução diz: “E perseveravam no ensino e comunhão dos apóstolos,
no partir do pão e nas orações” (J.N.D.) At 2:42

Portanto, a atividade de pregar o evangelho não é da assembléia ou igreja, mas do


evangelista, muito embora todas as coisas estejam conectadas. Não haveria igreja se não
existissem aqueles que saem para pregar aos incrédulos. E estes não sairiam se o próprio
Jesus não tivesse distribuído os dons visando a edificação da igreja:

Ef 4:11 “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”.

Primeiro vêm os apóstolos e profetas (do Novo Testamento) que tiveram a missão de
lançar os alicerces ou fundamentos da Igreja, sendo Cristo a pedra angular. Estes já não
existem em nossos dias, pois o alicerce já foi lançado. Falo sobre este assunto
aqui: http://www.respondi.com.br/2007/01/como-saber-se-um-apstolo-genuno.html

Então vemos os outros três dons, dentre eles o de evangelista. Deu para perceber que o
evangelismo não é um trabalho corporativo, ou seja, da igreja ou assembléia como se
fosse uma organização evangelística? O evangelismo é uma tarefa do dom de
evangelista, algo que Cristo dá a indivíduos, não a uma coletividade ou corporação.
Veja a ordem das coisas e o exercício desses dons nesta passagem:

At 11:19-21 “Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de
Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a
palavra, senão somente aos judeus. Havia, porém, entre eles alguns cíprios e
cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando
o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se
converteu ao Senhor”.

Aqui você vê o trabalho dos evangelistas, que é ir anunciar o evangelho para as pessoas
se converterem ao Senhor, não a alguma religião, denominação ou mesmo a um grupo
de irmãos. A área de atuação do evangelista é o mundo, não os irmãos em Cristo.

At 11:22-24 “Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e


enviaram Barnabé a Antioquia; o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se
alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração;
porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao
Senhor”.

Agora é a vez do pastor. Cabe a ele cuidar e pastorear as ovelhas, alimentá-las de leite,
exortá-las a perseverar no Senhor, ajudá-las a se unirem ao Senhor. O pastor ajuda a
manter as ovelhas juntas em torno de Cristo, o verdadeiro Pastor. Agora sim vemos uma
assembléia se formando em Antioquia.

At 11:25-26 “Partiu, pois, Barnabé para Tarso, em busca de Saulo; e tendo-o achado,
o levou para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e
instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram
chamados cristãos”.

Vem agora o trabalho do mestre ou doutor, exercido aqui por Paulo, que é o de ensinar e
edificar os irmãos. Barnabé reconhece a limitação de seu dom (pastor) e sai em busca da
ajuda de outro dom (Paulo, mestre ou doutor), embora o plural indique que Barnabé
também participa do ensino naquela assembléia.

Lembre-se de que quando falo pastor aqui não estou me referindo ao cargo ou profissão
que a cristandade inventou com esse nome, geralmente um homem colocado à frente de
uma congregação para pregar o evangelho, pastorear e cuidar das ovelhas, e ensinar
doutrina, como se tivesse ele próprio todos os dons de evangelista, pastor e mestre.

No trecho acima de Atos 11 vimos uma iniciativa individual dos evangelistas em levar
as boas novas, o reconhecimento de uma assembléia (Jerusalém) de que havia irmãos
necessitados de um pastor em Antioquia (daí Barnabé é enviado com esta missão) e
finalmente os próprios irmãos em Antioquia revelando sua necessidade de conhecer
mais e outro irmão, Paulo, indo em seu socorro.

É assim que as coisas funcionam. Aqueles que pregam o evangelho saem pregando sem
consultarem ou serem enviados por alguma junta de homens, organização ou “igreja”.
Muito embora eles possam receber o apoio, encorajamento e até auxílio material dos
irmãos, é do próprio Senhor, que lhes deu o dom de evangelista, que recebem sua
comissão. Na volta eles trazem as alegres novas dos que se converteram e que agora
serão congregados pelo Espírito ao nome de Jesus. Veja o que escreveu J. N. Darby a
respeito:

“Um evangelista é servo de Cristo, não da assembléia; mas onde quer que ele esteja,
ele pertence à igreja. Se não existir uma assembléia reunida onde ele está, então ele
está ali só, mas se existir uma assembléia ele faz parte dela. E a primeira coisa que ele
deve considerar é estar congregado para Cristo. Digamos que eu vá para a Galácia e o
Senhor converta cinquenta pessoas. Eles estão congregados a Cristo, não à assembléia
da qual eu vim. Um evangelista serve para a edificação do corpo de Cristo, no sentido
de que ele traz as almas e as adiciona. Como você poderia formar uma igreja sem
pessoas, sem tijolos (ou, devo dizer no sentido das escrituras, sem “pedras”?). Todavia,
a este respeito devo tomar o máximo cuidado com duas coisas: de uma pessoa se
separar em espírito dos santos, ou de uma assembléia pensar que a obra dessa pessoa
é da assembléia. Creio ser de grande importância que o obreiro deva ser claramente
servo de Cristo; mas se o seu trabalho for feito no espírito de separação dos santos,
não posso estar de acordo. Um evangelista não necessariamente congrega pessoas a
alguma coisa além de Cristo; pessoas com um pleno conhecimento de sua redenção. Se
não tiverem a Cristo e um pleno conhecimento da redenção, elas não poderiam
progredir de outra maneira”. J. N. D.

Outro comentário que encontrei é de outro irmão também do século 19 congregado ao


nome do Senhor (só encontrei suas as iniciais H. P. B.), dando sua opinião sobre uma
assembléia que estava querendo promover uma reunião regular com um dos que
pregava o evangelho para que ele apresentasse de antemão seus planos e depois os
resultados de seu trabalho:

“Isso deixaria de considerar muito daquilo que o evangelista é chamado a fazer. Será
que Filipe, por exemplo, teria informado de antemão os irmãos de Samaria de que
iria fazer sua jornada em um lugar deserto? Todavia, uma objeção ainda mais séria a
uma idéia assim está no fato de que, se um evangelista criar o hábito de apresentar de
antemão sua obra aos seus irmãos, é certo que haverá diversidade de opiniões e um
zelo vindo de uma variedade de sugestões. Acaso, quando isto acontece, não são
justamente aqueles com a menor experiência no trabalho de ganhar almas os que
mais impõem o modo como eles acham que as coisas devem ser feitas?Dificilmente o
evangelista deixaria de ser influenciado e talvez até mesmo limitado por essas opiniões
e conselhos, e não é difícil enxergar os tristes resultados de um plano como esse” H. P.
B. - 1898

Dentro das denominações a obra do evangelho é vista como uma atividade da “igreja”
como um todo, não apenas do evangelista, e daí a confusão. Então surgem aqueles
apelos de que a igreja precisa ganhar almas para Cristo, no qual está subentendido que
não é apenas um trabalho da denominação, como também tem o objetivo de angariar
mais membros para a denominação.

Na verdade, a grande maioria dos chamados “cultos” cristãos (tirando os mercadores da


fé e fazedores de milagres da TV) são na realidade pregações do evangelho. Dia após
dia os que frequentam aquela “igreja” são convidados a virem à frente aceitar a Cristo.
Depois são enviados relatórios à sede dando conta de quantos novos “membros” foram
acrescentados.

Eu mesmo já vi um evangelista fazer um convite para uma população carente com as


palavras: “Quem quiser aceitar a Cristo venha a frente para sair na fotografia”.
Obviamente todo mundo queria sair na foto e o relatório que o “evangelista” enviou à
sede teve números bastante expressivos de “conversões”. Como em algumas
denominações esses obreiros ganham pontos ou prestígio pelo número de novos
membros que conquistam, não é difícil imaginar que alguém vá inventar conversões
para obter benefícios.

Eu me lembro de quando me congregava com os irmãos de uma pequena congregação


denominacional no início de minha vida de convertido. Éramos menos de dez pessoas e
não havia um “pastor” da denominação, mas as pregações eram feitas por um irmão
“leigo”. Quando cheguei passei a ajudá-lo. Nosso objetivo era sempre o de trazer
pessoas para os “cultos” e a mensagem era sempre evangelística.

Lembro-me de uma noite quando não apareceu nenhum incrédulo e ficamos sem saber o
que fazer. Não tínhamos idéia de que o evangelismo não é uma atividade da igreja como
um todo, mas dos evangelistas, e muito menos de que os cristãos se congregam para
Cristo, não para os incrédulos. A atividade normal da assembléia é a adoração na ceia
do Senhor, a oração e a ocupação com a doutrina dos apóstolos, conforme vimos em
Atos 2.

Creio que sua dificuldade está nas idéias que você trouxe das denominações e que criam
essa confusão toda. Portanto, se você sente de Deus o chamado para pregar o evangelho,
vá em frente e pregue. As pessoas que se converterem serão exortadas a se congregarem
para o Senhor e ao Seu nome somente, e farão isso na assembléia mais próxima.

Mas tenha sempre em mente que a pregação do evangelho não é o anúncio de um lugar
para as pessoas se reunirem; não é uma pregação de uma comunidade de irmãos, ou de
um grupo no qual elas se sentirão incluídas. Pregar o evangelho é anunciar a Cristo e
Sua obra na cruz. Não é anunciar a cura do corpo ou a libertação das dívidas, mas é
mostrar o poder do sangue derramado na cruz para nos purificar de todos os nossos
pecados. Um evangelho sem sangue não é o puro evangelho da graça de Deus, pois
“sem derramamento de sangue não há remissão” Hb 9:22. No momento em que uma
pessoa crê no Salvador ela já passa a fazer parte do Corpo de Cristo que é a igreja,
independente se irá se congregar ou não em algum lugar.

Ela não precisará ser batizada por um determinado grupo para fazer parte do corpo de
Cristo. Ela também não precisará ser “rebatizada” se já tiver sido batizada em nome de
Jesus (isto é, com a delegação que veio dele ou “em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”), e nem precisará começar a se congregar ou a participar da ceia do Senhor para
ser um membro do corpo. É por ser membro do corpo de Cristo que ela pode desfrutar
desse privilégio.

Lembre-se: cada pessoa salva por Cristo é acrescentada por Ele à Igreja, que é o Seu
corpo, não por um “pastor”, um ritual ou uma carterinha de membro. E ela não é
acrescentada a “uma igreja” ou à “igreja do pastor fulano”, mas à “igreja de Deus, que
ele adquiriu com seu próprio sangue” At 20:28. “E cada dia acrescentava-lhes o
Senhor os que iam sendo salvos”, ou em outra tradução,”e todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”.

COMO EVANGELIZAR MEUS FILHOS?

Você demonstrou estar preocupada com sua filha que é jovem e se recusa a ouvir você
falar do evangelho. Ela está simplesmente seguindo a onda atual, que é querer mostrar
independência e autossuficiência (inclusive nas coisas eternas). O jovem não tem senso
de finitude como tem um idoso, pois acredita que a morte é a exceção, não a regra da
vida. Na cabeça da maioria das pessoas, quem morre é sempre o outro. Por isso o jovem
não se preocupa muito com as coisas eternas, pois a imagem que tem é que isso é coisa
de velhos. Obviamente é, porque o idoso sabe que seu relógio está agora em contagem
regressiva.

De qualquer modo não se desespere e nem considere sua filha um caso perdido.
Lembre-se de que não faz muito tempo você mesma estava tão perdida e alheia às
coisas de Deus quanto ela, talvez não de modo a verbalizar sua incredulidade, mas
mesmo assim tão perdida quanto. Muitas esposas, esposos, pais e filhos crentes não
terão a oportunidade de testemunhar a conversão de seus queridos enquanto estiverem
vivos, mas acabarão encontrando-os no céu. Agarre-se à promessa feita por Paulo ao
carcereiro de Filipos:

“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me
salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” At
16:30-31

Procure conversar com ela e falar do evangelho de forma clara e simples. O evangelho é
basicamente o que você encontra nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15, que Cristo
morreu e Cristo ressuscitou. Muito cuidado para não despejar em sua filha um
caminhão de versículos que possam até ser bonitos e motivadores, mas que não dão
qualquer pista do caminho da salvação.

Por exemplo, um versículo campeão até entre incrédulos é “O Senhor e o meu pastor,
nada me faltará” (Sl 23:1). Bíblias abertas na sala de casas ou escritórios costumam
estar na página deste Salmo, pois muitos enxergam isso como um “pé de coelho”, tipo
um amuleto para dar sorte. O que a maioria das pessoas vê no versículo é apenas a parte
que diz “nada me faltará”, pois é o que agrada ao ser humano.

Mas poucos pensam nas implicações de se afirmar “o Senhor é o meu Pastor”, pois não
sabem que para Cristo realmente ser o Pastor de alguém é preciso que essa pessoa seja
ovelha dele, tenha se reconhecido pecadora e se prostrado por fé aos pés do Salvador,
arrependida de seus pecados e confiando que o seu sangue derramado na cruz foi
suficiente para limpá-la, e sua ressurreição a provisão de Deus para justificá-la.

Afirmar meramente “o Senhor é o meu Pastor”, sem realmente crer nele, é colocar-se
de modo informal e exterior sob o senhorio de Cristo, ou seja, adotar para si todas as
responsabilidades que recaem sobre aqueles que não ignoram os desígnios de Deus.
Sabe aquelas frases de filmes policiais, “tudo o que você disser poderá ser usado contra
você”?. Pois é, tal pessoa, mesmo que não se converta de verdade, ao afirmar “o Senhor
é o meu Pastor” estará se colocando sob a responsabilidade da passagem que diz:

“E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a
sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas
dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for
dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”
(Lc 12:47-48).

Outra página campeã das Bíblias abertas na sala é o Salmo 91: “Aquele que habita no
esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. O Salmo segue com
diversas promessas para aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, como proteção
dos inimigos, das doenças, do medo e terror, da morte, do mal, da praga, além da
sensação de poder que transmite frases como”mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua
direita, mas não chegarão a ti”, ou”pisarás o leão e a cobra, calcarás aos pés o filho
do leão e a serpente”.

Ou seja, se a pessoa não entender com clareza que “Aquele que habita no esconderijo
do Altíssimo” é o próprio Senhor Jesus, o Único que tem direito a essa posição, e que
é somente estando nele que alguém pode ter tais promessas, acabará lendo esse Salmo
como se fosse um mantra ou uma fórmula mágica não muito diferente das usadas em
feitiçarias.

É preciso lembrar que, em se tratando de promessas bíblicas, “todas quantas promessas


há de Deus, são NELE (em Jesus) sim, e por ELE (por Jesus) o Amém, para glória de
Deus” (2 Co 1:20). A menos que a pessoa esteja pela fé em Cristo, salva e perdoada por
ele, não poderá contar com quaisquer promessas bíblicas, por mais bonitas e
motivadoras que possam parecer.

Você já disse que sua filha não quer nem ouvir falar de Jesus, mas não se deixe levar
por aquilo que uma pessoa incrédula diz, porque obviamente nenhum de nós queria
ouvir falar de Cristo antes de nossa conversão. Se parecíamos querer, isso nada mais era
do que educação, curiosidade ou alguma influência religiosa que via a Jesus como mais
um dentre os muitos “gurus”, “santos” e “iluminados” da história, como era o meu caso
antes de minha conversão.

Alguém sugeriu (dizem ter sido São Francisco de Assis): “Pregue o evangelho e, se
precisar, use palavras”. Com isto ele quis dizer que em alguns casos, e principalmente
quando as palavras parecem não fazer mais efeito, o testemunho de uma vida cristã
pode falar mais alto do que muito falatório. Isto é o que ensina Pedro em sua carta ao
falar das mulheres crentes casadas com homens incrédulos, que obviamente não gostam
muito de ouvir da Palavra de Deus:

“Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que
também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos
sem palavra; Considerando a vossa vida casta, em temor. (1 Pe 3:1-2)

Mas eu entendo que neste caso essa mulher provavelmente já tenha falado de Cristo
para seu cônjuge, porém para evitar atritos acabe “pregando” depois com seu modo de
proceder.

Lembre-se sempre de que o evangelho (as boas novas de que Cristo morreu para pagar
nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação) “é o poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê” (Rm 1:16) e “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do
espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão
nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb 4:12-13).

Portanto, é importante que em algum momento a pessoa tenha escutado a Palavra, pois
o poder não está em quem prega a Palavra, mas na própria Palavra. É um poder
sobrenatural e colocado em ação numa alma por meio do Espírito Santo, como a espada
que tudo penetra e deixa evidente cada detalhe das vísceras do pecador. Ao entrar em
contato com a Palavra a consciência do pecador não fica imune a esse contato. Apesar
de Deus ter entregue a seres humanos a tarefa de divulgar as boas novas, todo o
processo de conversão vem de Deus, não do homem, para que toda a glória também seja
dada a Ele.
Existem algumas dicas práticas para se levar alguém da família a ter contato com a
Palavra de Deus. Uma é sutilmente introduzir alguns versículos evangelísticos na
decoração de sua casa, colocar um calendário de versículos evangelísticos na parede da
cozinha, “esquecer” algum folheto ou livro em algum lugar da casa (o banheiro é ótimo
para isso) e sempre regar todas essas estratégias com muita oração.

Quando eu tinha dez anos de idade peguei um evangelho de Marcos que caiu
literalmente de paraquedas na rua de casa, depois que um avião de alguma missão
sobrevoou a cidade despejando centenas de evangelhos amarrados em paraquedas de
papel de seda. Este evangelho eu li várias vezes (de curiosidade) e ainda permaneceu
comigo muitos anos depois de minha conversão. Aquela semente certamente ficou
plantada em meu coração para germinar treze anos depois, quando Deus usou outros
instrumentos e pessoas para me levar à conversão. Na maioria das vezes nem
percebemos de quantas maneiras Deus vai afunilando nosso caminho até nos
encontrarmos com Cristo.

Folhetos com mensagens evangelísticas são poderosos instrumentos para levar a Palavra
de Deus onde não é possível chegar com uma mensagem audível, ou seja, pregar
diretamente à pessoa. Eu me lembro de um caso de conversão em que um homem com
um sapato que o incomodava pegou na rua o primeiro pedaço de papel que encontrou,
dobrou-o e o enfiou no sapato para proteger o pé do prego que incomodava. Quando
chegou em casa e tirou o sapato descobriu que o papel era uma mensagem do
evangelho. Leu e se converteu.

Há sempre maneiras de se evangelizar. Eu colaboro com uma editora para a qual escrevi
vários dos folhetos evangelísticos que você encontra à venda neste link. Todos os anos
eu presenteio os moradores e funcionários de meu prédio com um calendário com
versículos bíblicos, além de CDs com “O Evangelho em 3 Minutos” (eu mesmo gravo
meu uso e você pode baixar e gravar o áudio deste link, não tenho para venda ou
distribuição) ou um livreto de mensagens evangelísticas chamado “Calendário Boa
Semente”. Em duas grandes empresas onde trabalhei presenteava os aniversariantes de
minha seção com um exemplar da Bíblia ou do Novo Testamento. No site da Sociedade
Bíblicaexiste uma Bíblia Econômica que custa menos que uma passagem de ônibus.

Portanto, se a sua filha não lhe dá chance de você evangelizá-la diretamente, faça isso
usando mensagens impressas. Creio que um dos aspectos bastante positivos da
evangelização pelos vídeos do Evangelho em 3 Minutos é que eles alcançam pessoas
que de outra forma seriam avessas ao evangelho. Aquilo que alguém poderá recusar-se
ao escutar ou ler em público talvez escute quando estiver sozinho em seu quarto e longe
de olhares curiosos. Muitos têm medo de demonstrar que estão interessados no
Evangelho porque isto pode parecer sinal de fraqueza para seus amigos incrédulos. E de
fato é, pois a menos que reconheçamos nossa fraqueza, incapacidade e condição de
perdidos, jamais iremos aceitar o socorro que vem de Deus.

Mas não espere que a evangelização de sua família seja um mar de rosas. Pode esperar
por conflitos, pois o próprio Senhor previu que seria assim.

“Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; Porque
daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.
O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a
filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra” (Lc 12:51-53).

Mesmo assim é sua missão evangelizá-los, e sempre em oração, temor e confiança


diante de Deus. Se alguém ainda recusa-se a aceitar o evangelho é porque “o deus deste
século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).

Não existem fórmulas para pregar o evangelho, e nem vejo fundamentação bíblica para
a famosa prática de “ir à frente orar com o pastor” de alguma igreja evangélica (mais
sobre isto aqui). Mas é sempre bom ter em mente estes versículos que, tanto resumem o
evangelho, como demonstram o caminho prático para aquele que crê:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o
seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse
salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:16-18).

“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a
justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação Porque a Escritura diz: Todo
aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:9-11).

QUE BÍBLIA LER COM MEUS FILHOS

Sua dúvida é que versão da Bíblia em português utilizar para ler com seus filhos,
considerando a linguagem arcaica da tradicional Versão João Ferreira de Almeida.
Muitos pais sentem essa dificuldade, preocupados que seus filhos não venham a
entender a leitura ou que precisem recorrer constantemente ao dicionário para entender
algumas palavras. Você ainda demonstrou preocupação pelo fato de alguns utilizarem a
versão arcaica em suas falas como forma de imprimir pompa e se orgulharem de usarem
um vocabulário rebuscado.

Na verdade o português usado nas modernas versões da Bíblia de João Ferreira de


Almeida é bem diferente da primeira edição, esta sim difícil de entender por trazer um
português arcaico. Veja um exemplo do último capítulo de Lucas:

“Entonces lhes abrio o fentido, pera que entendeffem as efcrituras. E diffelhes: Affi eftá
efcrito, e affi foi neceffario que o Chrifto padeceffe, e a o terceiro dia dos mortos
refufcitaffe. E que em feu nome arrependimento e remifiaó de peccados em todas as
naçoésfe prégaffe; começando defde Hierufalem. E deftas coufas fois vosoutros
teftemunhas. E vedes aqui, a o prometido de meo pae fobre vosoutros mando: [ilegível]
ficaevos na cidade de Hirufalem, até que do alto com potencia [ilegível]
reveftidos” (Lc 24:45-49). (O Novo Testamento completo você encontra neste link)

Como pode ver, muita coisa já mudou no idioma das versões atuais, embora as versões
Almeida Revista e Corrigida e Almeida Fiel sejam as que mais permanecem fiéis à
tradução original do século 15. Meus filhos foram criados lendo desde a infância a
Almeida Revista e Corrigida, e ao invés de isso impedir sua compreensão da Palavra,
foi justamente o que os ajudou a desenvolver um vocabulário que está além do que é
usualmente encontrado nos jovens da mesma idade (hoje estão com mais de 30 anos).

Portanto, não se preocupe com a questão da dificuldade da linguagem porque isso é


perfeitamente contornado, pois a essência do que eles precisam saber para serem salvos
e conhecerem o Senhor é perfeitamente compreensível em qualquer versão. E se
precisarem de um dicionário isso será ótimo, pois dicionários são feitos para
aumentarmos nosso vocabulário.

É claro que quando ainda forem muito pequenos você poderá escolher para eles livros
bíblicos para crianças com versículos simplificados, mas é bom ter cuidado pois muitos
escritores para crianças não são convertidos e cometem erros grosseiros nesses livros.
Mas a leitura de livros infantis e paráfrases não substitui a leitura da Palavra de Deus.
Procure também ler com eles a Bíblia, se possível diariamente, ajudando-os na
compreensão das palavras difíceis.

Em casa tínhamos o costume de ler diariamente dois capítulos da Bíblia (um do Antigo
e um do Novo Testamento), mas isso também podia variar para um capítulo ou parte
dele, dependendo da época e da disponibilidade de todos. Enquanto a agenda diária da
família permitiu fazer fazer isso de manhã, foi o que fizemos, mas depois acabamos
adotando a noite como o momento da leitura. Era algo sagrado: terminávamos de jantar
e nos sentávamos todos na sala, primeiro cantando um hino e depois lendo dois ou três
versículos cada um, inclusive as crianças quando começaram a serem capazes de ler.
Quando eu viajava a trabalho minha esposa mantinha a leitura funcionando sem
interrupção. Depois da leitura eles podiam retomar seus afazeres, como os estudos ou o
entretenimento. Os frutos daquelas leituras “compulsórias” meus filhos colhem até
hoje.

É triste ver quantos pais dão pouca prioridade para a leitura bíblica em família, sempre
com o argumento de não terem tempo, ou que as crianças não gostam disso, não
abandonam o videogame ou o computador etc. Eu contesto tais argumentos. Se em
minha família funcionou, deve funcionar em outras também. Se os membros de uma
família têm tempo suficiente para assistirem juntos um jogo inteiro de futebol, um
episódio da novela ou um filme com quase duas horas de duração, como dizer que não
há tempo para ler a Bíblia em família?

E quem disse que crianças não gostam da leitura da Bíblia? Enquanto ainda não sabem
ler os pais podem ler para elas e explicar o que leram como quem conta uma história.
Crianças adoram quando adultos contam histórias para elas. E quando elas aprendem as
primeiras letras, são as mais motivadas a mostrar que sabem ler e os pais devem
incentivá-las a isso. Meu filho, ainda pequeno, costumava copiar e imprimir versículos
que depois cortava e grampeava como um pequeno caderno, ao qual chamava de “Mini
Bíblia”. Quando recebíamos visitas ele fazia questão de ler sua “Mini Bíblia” para as
visitas.

A questão toda está na formação do hábito. Ajudamos nossos filhos a criarem hábitos,
como o tipo de alimento que comem no café da manhã ou nas outras refeições, os
horários para escola, diversão, lição, escovar dos dentes, dormir etc. A leitura bíblica
diária em família deve ser incluída como um hábito na agenda familiar.

Portanto, sugiro que continue usando a Bíblia na versão João Ferreira de Almeida
Revista e Corrigida, ou a Almeida Fiel como a leitura de base em sua família.
Alternativamente pode usar a Almeida Atualizada, que tem um vocabulário um pouco
mais simplificado, mas se mantém quase igual às outras. Há versões mais modernas,
como a Nova Versão Internacional (NVI) que costumo usar quando gravo meus vídeos
do Evangelho em 3 Minutos, mas isto só por ela trocar “tu” por “você” ou “vós” por
“vocês”. Como os vídeos e áudios ficariam muito carregados de pompa na linguagem
mais arcaica, optei pela simplificação. Mas sempre confiro antes comparando a NVI
com a Almeida Corrigida, pois a NVI distorce algumas passagens. Quando isso ocorre,
crio uma versão híbrida para facilitar o entendimento sem perder o significado original.

COMO INICIAR UMA CONVERSA?

Existem diferentes maneiras de se evangelizar, como a pregação pública ou a


distribuição de folhetos impressos ou textos e vídeos pela Internet. Mas uma maneira
eficaz é também a conversa pessoal, e vemos diversas vezes ela acontecer na Bíblia,
como no caso do Senhor com Nicodemos e com a mulher samaritana, ou de Felipe com
o eunuco.

A dificuldade pode estar em se iniciar uma conversa ou dirigi-la para o evangelho, caso
ela já tenha sido iniciada para falar de assuntos diversos. Em minha última viagem dos
EUA para o Brasil sentei-me ao lado de um cientista canadense que gostava de
conversar e vi nisso uma oportunidade de falar a ele da salvação pela fé em Jesus.

Por ser bastante culto ele já conhecia a Bíblia e também muitos outros livros, religiões e
filosofias. Nossa conversa foi toda em inglês com uma ou outra palavra em espanhol,
pois ele falava 5 idiomas, inclusive um idioma africano nativo por ter morado e
trabalhado como geólogo em um país da África.

Enquanto conversávamos eu mentalmente buscava o Senhor por uma oportunidade de


falar do evangelho. Acredito que seja este o sentido do “Orai sem cessar” (1 Ts 5:17) e
outras passagens que falam de uma contínua atitude de oração e dependência de Deus.

Tendo viajado a mais de 50 países, ele falou que em sua lista ainda faltava embrenhar-se
nas selvas de Nova Guiné para conhecer os ex-canibais em seu habitat. Foi aí que
enxerguei uma oportunidade, e esta é uma maneira bíblica de se iniciar uma conversa.

O Senhor, quando fez contato com a mulher samaritana, não começou logo de cara
dizendo que ela vivia em pecado e precisava se converter. Antes ele buscou saber qual
era o interesse dela naquele momento (água) e começou daí, colocando-se na condição
de humildade (“dá-me de beber”) para depois despertar nela o desejo de uma
“água” melhor: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de
beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4).

Lembrei-me de um livro que li há quase 30 anos, “O Totem da Paz”, de Don


Richardson, um autor também canadense que viveu como missionário na Nova Guiné
entre os sawis, uma tribo que na época (anos 60) ainda era de canibais. Como o cientista
ao meu lado mencionou seu desejo de conhecer os estranhos costumes dos nativos da
Nova Guiné, contei a ele do apuro passado pelo autor do livro que, depois de decifrar a
língua da tribo e conseguir se comunicar com eles falando-lhes do evangelho, viu a
possibilidade de ser transformado no próximo jantar dos aborígenes.
Ao contrário de ficarem impressionados com Jesus e seu sacrifício, os nativos passaram
a considerar Judas um herói. Na cultura da tribo, quando alguém conseguia conquistar a
amizade e a total confiança de uma pessoa, para depois traí-la, essa habilidade era
grandemente valorizada e o traidor chamado de herói. Antes que você ache esse
costume exótico, não se esqueça de que nós brasileiros somos famosos por nossa
exaltação da malandragem. Os indígenas tinham até um nome para isso: “engordar o
porco para o dia da matança”. O missionário logo percebeu que a hospitalidade com que
ele, a esposa e os filhos tinham sido recebidos na tribo só podia indicar que não faltava
muito para virarem comida dos canibais, e isso o deixou desesperado.

Mas a situação reverteu-se quando, durante a tentativa de ataque por uma tribo vizinha,
o chefe da tribo inimiga atravessou o campo de batalha carregando um bebê e o
entregou ao chefe da tribo onde morava o missionário. Este pegou um bebê de sua
própria tribo e o entregou ao outro chefe e depois se abraçaram. A guerra iminente
transformou-se em uma grande festa e amizade entre as tribos outrora inimigas.

Aquele era outro costume que o missionário não conhecia: Quando uma tribo entregava
um bebê para a outra, aquilo tinha o caráter de um tratado de paz. Enquanto o bebê
fosse mantido vivo e saudável na outra tribo esta não podia ser atacada, e vice-versa.
Por isso as crianças, chamadas de “crianças da paz” ou “filhos da paz”, eram tratadas
como príncipes. Sua sobrevivência era o seguro que tinham de que podiam viver livres
de ataques.

Don Richardson viu naquilo a oportunidade para mostrar o sentido do evangelho e


reuniu os anciãos da tribo para falar-lhes de como Deus havia enviado o seu Filho ao
mundo para nos salvar. Como o Filho ressuscitou e agora vive para sempre, Deus não
irá mais “atacar” (ou condenar) aqueles que, pela fé, receberem o Filho ressuscitado.

Muitos nativos entenderam o verdadeiro sentido do evangelho e se converteram. Judas


passou de herói a bandido, pois aos olhos dos nativos não havia gente pior do que
alguém que fizesse mal ao “filho da paz”.

Contando a história dos costumes de uma tribo que o cientista desejava conhecer, ou
seja, partindo de seu próprio interesse, apresentei o evangelho e sua reação foi deixar
claro que era ateu e que não acreditava em um mundo espiritual. Para ele a noção de
“vida eterna” estava em passar seus genes às próximas gerações. Ele, que durante anos,
chegou a lecionar a teoria da evolução numa universidade, espantou-se por eu não
acreditar em tal teoria (que ele afirma já não ser mais vista como teoria pela ciência).

A conversa então tomou o rumo do ateísmo e do evolucionismo, e cabe aqui um alerta:


Nunca se deixe levar pela direção ditada pelo seu interlocutor. Mesmo que que
aconteça, como aconteceu comigo, procure vez ou outra introduzir novamente a
mensagem do evangelho na conversa. O incrédulo não quer escutar o evangelho e
sempre irá apresentar algum argumento que mantenha você ocupado e uma das
“bombas de fumaça” mais utilizadas será mexer com seu ego e fazer você partir para a
defesa de suas posições pessoais.

Lembre-se de que você não está ali para defender sua honra, reputação, argumentos,
religião etc. Você está ali para apresentar a ele o evangelho da salvação. Não é uma
competição em que você se empenha para ganhar o debate, mas levá-lo a perder a
condenação eterna. É mister que ele ouça a mensagem do evangelho. Se você convencê-
lo de que existe um Deus e de que a teoria da evolução está errada, tudo o que você terá
conseguido é mais uma pessoa que irá para o lago de fogo acreditando na existência de
um Deus Criador. O objetivo da evangelização não é tentar provar a existência de Deus
e nem lutar contra uma teoria científica. A mensagem do evangelho é simples:

1Co 15:1-4 Também vos notifico, irmãos, O EVANGELHO que já vos tenho
anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual
também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes
em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: QUE CRISTO
MORREU POR NOSSOS PECADOS, SEGUNDO AS ESCRITURAS, E QUE FOI
SEPULTADO, E QUE RESSUSCITOU AO TERCEIRO DIA, SEGUNDO AS
ESCRITURAS.

Talvez você ache que esta breve mensagem (acima em maiúsculas) seja muito pouco
para convencer um ateu evolucionista, mas se pensa assim é porque ainda não entendeu
que o poder para a salvação não está em seus argumentos, mas
no EVANGELHO (BOAS NOVAS), e o evangelho resume-se em “Cristo morreu por
nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação” e tudo mais que está embutido aí,
ou seja, a totalidade da Palavra de Deus. Se ele crer nisto com o tempo o resto virá no
pacote.

Rom_1:16 Porque NÃO ME ENVERGONHO DO EVANGELHO DE CRISTO, pois


é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também
do grego.

Ao contrário do que muitos pensam, Paulo NÃO está dizendo “não me envergonho DE
PREGAR O EVANGELHO”, mas “não me envergonho DO EVANGELHO”. A
diferença é enorme.

Por causa da timidez, você pode se envergonhar de sair numa praça distribuindo notas
de cem dólares para as pessoas, mas você jamais se envergonharia das notas de cem
dólares em si, pois sabe o valor delas. Mas, mesmo que você fosse a pessoa mais
desinibida do mundo, teria vergonha de sair pela praça distribuindo notas de cem
dólares desenhadas à mão em papel higiênico, pois nem você e nem ninguém levaria a
sério um dinheiro assim. É do evangelho que Paulo não se envergonha, não do ato de
pregá-lo.

Portanto, o poder não está na sua argumentação, na sua oratória, na sua desenvoltura, na
sua sabedoria, nos diplomas de teologia que coleciona ou no seu conhecimento do grego
e do hebraico etc. O PODER ESTÁ NO EVANGELHO, nesta simples mensagem de
que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. É isso que
vai atingir o coração do incrédulo como um raio, porque é do céu que virá a energia e o
poder para fazê-lo.

Por isso ao longo de toda a nossa conversa, que deve ter durado umas duas horas, eu
nunca deixei de reintroduzir com diferentes palavras, analogias e em diferentes
momentos a mesma mensagem: “Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para
nossa justificação”. Esta notícia é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que
crê, e quando diz “primeiro do judeu, e também do grego (gentio)” está afirmando que
a mesma mensagem serve tanto para os que buscam sabedoria (gregos) como para os
que buscam sinais (judeus) (1 Co 1:22). Para ambos basta o evangelho, o resto
(sabedoria, sinais ou seja lá o que for) é só glacê, mas o que salva mesmo é o bolo.

Como a conversa obviamente foi cheia de argumentos pró e contra o ateísmo e o


evolucionismo, cuidei de responder mas sempre ciente de que não seriam minhas
respostas ou contra-argumentos que tocariam o coração de meu interlocutor, mas sim o
EVANGELHO (como já expliquei). Veja abaixo os principais pontos que conversamos,
colocados aqui muito resumidamente:

Argumento: “Sou ateu”.

Resposta: Ateus não existem, pois Deus colocou a eternidade no coração do homem.
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do
homem” Ec 3:11 ARA. Alguém só se torna ateu pela negação daquilo que traz no
coração, que é um conhecimento inato de Deus. Por isso não perco meu tempo tentando
argumentar longamente com um ateu e o trato como qualquer outra pessoa, sabendo que
lá no fundo ele sabe que Deus existe. Ele SABE que é pecador e precisará dar contas de
seu pecado a Deus.

---

Argumento: “Todas as religiões buscam por sensações, seja em transes, meditações,


orações ou até alucinógenos”. Ele falava dos diferentes indígenas que conheceu e
mencionou querer visitar os seguidores do “Santo Daime” da Amazônia, que bebem um
alucinógeno (Timothy Leary pregava o uso do LSD para isso) como forma de alcançar
outros níveis de consciência.

Resposta: O cristianismo não está baseado no que eu sinto mas na PESSOA em quem
eu creio, que é Cristo. Ainda que eu não tenha qualquer sensação, veja qualquer
manifestação ou ouça alguma voz ou trovoada, posso crer porque “a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hb
11:1). É aí que o evangelista pentecostal tem dificuldade, por sua fé estar tão carregada
de visões, manifestações, curas, sensações etc. Uma pessoa esclarecida não vai se deixar
levar por pretensos “testemunhos” da TV. Quer um conselho? Evangelize com o puro
evangelho.

---

Argumento: “Existem religiões mais antigas que o cristianismo e o próprio judaísmo,


que já falavam de Adão e Eva, do dilúvio, dos sacrifícios etc.”

Resposta: É claro que tudo isso já era conhecido antes mesmo de Moisés escrever o
Pentateuco! Afinal, todo esse conhecimento, ainda que muitas vezes distorcido, tem
uma única origem: Deus. Todos os povos ainda retêm reminiscências do Éden, do
dilúvio e de muitas outras coisas que foram passadas de geração a geração. Tal
argumento não invalida o cristianismo, mas só ajuda a mostrar sua veracidade. Se
nenhum outro povo antigo tivesse falado dessas coisas aí poderíamos pensar que tudo
não passa de criação de Moisés. Outra dica: Evite bater de frente com os argumentos
dos incrédulos, mas pegue neles algum elemento comum e parta daí, como Paulo fez
com o “altar ao Deus desconhecido” dos gregos, ao invés de gastar saliva falando mal
das centenas de falsos deuses que eles adoravam (Atos 17:23). O próprio Don
Richardson (autor de “O Totem da Paz”) tem um livro excelente sobre o assunto, “O
Fator Melquisedeque”.

---

Argumento: “A ciência já provou a evolução por todas as evidências já encontradas nas


diferentes camadas geológicas”.

Resposta: Este pensamento não é científico, porque a ciência nunca pode chegar a uma
conclusão sem uma experimentação, ou seja, ver acontecer, medir, cheirar, pesar etc.
Isto é impossível de ser conseguido na teoria da evolução. Além disso todo cientista
deve ter a mente aberta, pois ciência é como moda: na década de 70 achávamos estar na
última moda, usando calças boca-de-sino listradas e cabelos longos ou black-power.
Hoje rimos das fotos. Daqui a 40 anos os cientistas irão rir das fotos de muitas
conclusões que tiraram em 2013 achando que elas eram a última bolacha do pacote.

---

Argumento: “Você é cristão porque nasceu em um país cristão e foi condicionado a


acreditar que existe um Deus e tudo mais. Se tivesse nascido num país muçulmano seria
muçulmano e se tivesse nascido na Índia acreditaria em muitos deuses”.

Resposta: Em todas as sociedades as pessoas se convertem a Cristo, independente da


cultura em que foram criadas. O mesmo argumento do ateu, porém, vale para o ateísmo.
Alguém só é ateu por ter nascido em uma sociedade judaico-cristã fortemente
influenciada pelo pensamento grego que incluía em sua filosofia o ateísmo de
Protágoras e o ceticismo de Aristóteles, que escreveu que “os homens criam deuses à
sua própria imagem”.

---

Argumento: “Se você crê na Bíblia então deveria vender sua filha como ensina o
Pentateuco ou apedrejar seu filho”.

Resposta: Sim, eu faria isso dentro do contexto, da cultura e das circunstâncias do


Pentateuco, mas como vivo hoje dentro do cristianismo (a dispensação da graça de
Deus) não devo fazê-lo. Mesmo o pensamento ateísta se baseia na cultura judaico-cristã
para decidir o que é certo e o que é errado. O que faz um ateu pensar que seja errado
vender a filha como escrava ou apedrejar um filho? De onde tirou tal ideia? Há muitas
coisas que aqui e agora aceitamos como normais que jamais seriam normais em uma
sociedade ou época diferente. Na sociedade moderna ocidental que se afasta a passos
largos da moral cristã é normal homens e mulheres terem relações sexuais fora do
casamento, mas isto seria impensável no Afeganistão. Porém lá e em outros lugares é
perfeitamente normal para os radicais islâmicos castrar meninas, extraindo
seu clítoris para não sentirem prazer, algo abominável aos olhos ocidentais. Para
entender melhor o assunto “escravidão” e a passagem citada por meu interlocutor, veja
este link http://www.respondi.com.br/2013/02/a-biblia-incentiva-venda-da-filha-
como.html

---

Talvez neste ponto você esteja esperando eu dizer que o cientista ao meu lado caiu em
prantos, reconheceu-se pecador e se converteu a Cristo. Não, nada disso aconteceu, mas
quando ele disse que jamais acreditaria nas coisas que lhe falei, disse a ele que Deus
poderia fazer com que cresse no evangelho, e aí ele não teria como escapar. Quando
pregamos o evangelho não devemos nos preocupar com os resultados, pois existe
ALGUÉM que está mais preocupado com isso do que nós jamais poderíamos estar. É
Deus quem convence um pecador e é Deus quem salva, portanto devemos deixar nas
mãos dele. Não devemos querer converter as pessoas com nossa oratória ou capacidade
de persuasão, porque se conseguirmos ela terá se convertido apenas exteriormente e
pelo poder da carne, não do Espírito Santo de Deus.

É errado querer colecionar números e troféus, do tipo “tantas pessoas se converteram


com minha pregação” ou “pesquei um peixe grande” (alguns usam esta expressão para
se gabar de ter convertido algum rico ou famoso). Quando lemos Paulo dizer “Eu
plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus” 1 Co 3:6 entendemos que
ninguém faz a obra de Deus sozinho. Se aquele homem porventura vier a se converter
aquele nosso encontro eu posso ter sido apenas mais uma pedrinha em um grande
moisaico de pessoas que Deus usou. Talvez ele tenha escutado o evangelho de sua mãe
ou na escola dominical, mais tarde recebeu um folheto evangelístico de alguém ou
ouviu uma pregação no rádio ou... as possibilidades são infinitas e ninguém deveria
querer se gabar de ter sido o único meio usado por Deus.

Eu particularmente acho que a mensagem encontrou algum cantinho no coração e na


mente de meu interlocutor e sua reação demonstrou isso. Quando uma pessoa é
confrontada com o evangelho da graça sua reação é a mesma de Adão e Eva no Éden:
fazer para si aventais de folhas de figueira para cobrir sua nudez diante de Deus. Os
inúteis aventais de folhas geralmente são costurados por boas obras apresentadas pela
pessoa que ouve o evangelho, algo do tipo “eu vou à igreja”, “eu ajudo os pobres” etc.
No caso de meu interlocutor ateu percebi um avental de folhas quando ele começou a se
justificar dizendo que, apesar de não acreditar em Deus, tinha um senso de
espiritualidade no sentido de deixar seu DNA para a posteridade e praticar yoga todas as
manhãs, fazer meditação e procurar ser uma boa pessoa e salvar o planeta. Achei esse
avental um bom sinal de que sua consciência havia sido alcançada e oro para que meu
amigo de viagem um dia também chegue ao destino final que Cristo me reservou por
sua obra na cruz: o céu.

EVANGELIZANDO COM FOLHETOS

Os folhetos são instrumentos maravilhosos principalmente em nossa época quando


muitos não dispõe de tempo para parar e ouvir uma pregação. O folheto vai junto com a
pessoa até que ela terá que esperar por algo como ônibus, médico, etc, e se lembrará do
folheto em seu bolso. Ali Deus poderá falar com a pessoa. Creio que isto é um grande
auxílio para a dificuldade que você tem de conversar com as pessoas ou mesmo de
pregar em público.

É um erro pensarmos que todos os cristãos devem pregar em público. Muitos têm o dom
de evangelista, mas isto não significa que têm facilidade em pregar para muitas pessoas.
O dom de evangelismo é para evangelizar e a forma mais eficaz de fazê-lo é pelo
contato pessoal. Falar de Cristo a uma só pessoa, no Espírito, é mais eficaz do que
pregar carnalmente a uma grande multidão. Há muitos políticos hábeis com os discursos
e com palavras persuasivas, mas nem por isso são instrumentos de Deus.

Não se preocupe em pregar em público se acha que não tem tal habilidade. Para falar
em público é necessário que se tenha a habilidade ou talento de um orador, o que muitos
não têm. Alguns líderes denominacionais obrigam seus discípulos a pregarem em praça
pública. O resultado disto eu pude presenciar quando vi um homem com problemas
graves de fala (ele era fanhoso) pregando em uma praça pública. Era impossível
entender o que dizia e servia apenas como motivo de gozação para os que passavam.
Isto não é para a glória de Deus.

Tenho certeza de que ele seria muito mais bem sucedido se reconhecesse o seu
problema com a fala e passasse a divulgar o evangelho por meio de folhetos ou de cartas
escritas à seus amigos e conhecidos.
Portanto, irmão, procure fazer a obra com as ferramentas que dispõe. Se tem uma boa
oratória, use-a. Se não, procure outros meios. Há muitas maneiras de se divulgar o
evangelho e tenho certeza de que você encontrará aquela que Deus quer para você.

Apenas uma observação quanto ao uso de folhetos. Hoje muitas cidades proíbem a
prática da panfletagem nas ruas e há leis e multas para isso. Uma distribuição
indiscriminada, como se faz com propaganda, irá sujar as ruas e não estará de acordo
com a lei. O melhor mesmo é entregar um folheto pessoalmente a alguém,
acompanhado de uma palavra amiga. Não é o número de folhetos distribuídos que deve
contar, mas a qualidade da distribuição.

Alguns cristãos acreditam que só devemos evangelizar da maneira como os primeiros


cristãos evangelizavam, isto é, pregando em ruas, praças, salões ou residências. Isso
excluiria meios modernos, como distribuição de folhetos e muito menos mensagens em
mídias eletrônicas. Obviamente não vemos uma evangelização por folhetos nos tempos
bíblicos porque o papel talvez não fosse conhecido na Palestina do primeiro século,
apesar de já ter surgido no Oriente onde foi inventado. Nos tempos bíblicos os textos
eram escritos manualmente em placas de argila, tábuas de madeira, placas de metal,
peles de animais e papiros, uma espécie de papel rudimentar. A imprensa viria bem
depois (apesar de ter sido inventada no Oriente antes de Gutemberg).

Se hoje nos limitássemos a utilizar os meios (mídias) do Antigo e Novo Testamento


nossas Bíblias viriam em rolos de peles, pois onde você lê “livro” na Bíblia o original
significa “rolo”. A importância da evangelização não está na mídia utilizada, mas na
mensagem. Hoje evangelizamos usando multimídia, além do papel, mas já ouvi
argumentos de irmãos contrários à utilização da Internet por ser um meio que reúne
muita perversão. O mesmo pode ser dito da mídia papel e do livro. Entre em uma
biblioteca e você encontrará uma Bíblia ao lado de um livro de doutrina pagã ou um
romance erótico. Do mesmo modo a Web é também uma vasta livraria e, porque o
mundo jaz no maligno, até mesmo a pura e santa Palavra de Deus será encontrada nas
mesmas mídias (ou meios, como papel etc.) utilizadas pelo inimigo de nossas almas.

A maravilha do folheto evangelístico, que hoje também pode ser produzido na forma de
mensagens breves em mídia eletrônica além de áudio ou vídeo, está na rapidez como ele
coloca um pecador diante da Palavra de Deus. Habacuque 2:2 diz: “Então o Senhor me
respondeu, e disse: Escreve a visão e torna bem legível sobre tábuas, para que a possa
ler quem passa correndo”. Originalmente essas tábuas ou “tabletes” talvez fossem de
madeira ou argila, mas o foco estava na facilidade como podiam transmitir a mensagem.
Assim é o folheto evangelístico e a própria Bíblia que hoje pode ser encontrada em
forma de “tablete” nas mãos de cada pessoa que possua um smartphone ou tablet.

Mas, voltando especificamente à mídia papel, o que fazer quando a evangelização


usando folhetos impressos é proibida? Na verdade é preciso diferenciar as coisas. Há
lugares onde a evangelização é proibida, independente do meio utilizado, como
acontece em alguns países islâmicos. Mas há lugares, inclusive no Brasil, onde a
panfletagem é proibida, independente se tenha cunho evangelístico ou comercial para a
venda de produtos, imóveis, serviços etc. Somos ensinados a obedecer as autoridades,
por isso é preciso sabedoria e cuidado no modo como evangelizamos para não
transgredirmos alguma lei, não contra a evangelização, mas contra o meio utilizado.

Se eu estiver em um lugar onde exista uma lei dizendo ser proibido evangelizar de
camisa preta, terei o cuidado de usar uma camisa branca. Estarei evangelizando sem
desrespeitar a lei. Mas se a lei disser que é proibido evangelizar de qualquer maneira,
então serei obrigado a transgredir esse mandamento de homens para me ater ao
mandamento de Deus, que diz: “Pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo” (2
Tm 4:2). Pedro, que fora preso por pregar o evangelho, deixou claro que não iria parar
de evangelizar, dizendo às autoridades: “Mais importa obedecer a Deus do que aos
homens.”(At 5:29).

Mas o cristão sábio procurará andar neste mundo sem causar escândalo “Portai-vos de
modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus...
Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja
censurado” (1 Co 10:32; 2 Co 6:3), fazendo a obra tendo sempre em mente a
admoestação do Senhor: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto,
sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” (Mt 10:16).

Infelizmente alguns gostam de ser perseguidos porque isso faz com que se sintam
mártires, e costumam citar: “Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus
padecerão perseguições.” (2 Tm 3:12). Pessoas assim acham que quando não estão
sendo perseguidos é porque não estão fazendo a obra de Deus. No caso da
evangelização por folhetos em lugares onde a panfletagem é proibida devemos nos
lembrar da passagem: “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou
malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece como
cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.” (1 Pe 4:15-16).
Assim, se algum cristão for advertido, multado ou preso por distribuir folhetos em local
proibido é bom perguntar a si mesmo se está sofrendo perseguição por sua fé ou por ter
violado a lei.

Em algumas denominações religiosas existe uma pressão grande pela evangelização e às


vezes o objetivo nem é a conversão de pecadores a Cristo, mas o aumento do
faturamento da “igreja”. Seus membros são coagidos a evangelizar às vezes com
ameaças de perda da salvação ou de maldição. É muito usado o versículo de Ezequiel
3:18 que fala de Deus cobrando do profeta o sangue do ímpio que morrer sem ter sido
avisado de sua impiedade. Se observar o contexto verá que tudo ali tem a ver com o
profeta Ezequiel, a quem foi dada aquela ordem relacionada a uma missão específica
para a qual Deus o enviava como atalaia para Israel. Quem achar que o contexto não é
importante e que a passagem vale para qualquer um então sugiro que saia na rua,
procure uma prostituta e case-se com ela, porque foi isso que Deus ordenou que o
profeta Oseias fizesse: “Vai, toma uma mulher de prostituições” (Os 1:2).

Eu já distribuí muitos folhetos nas ruas, mas sem ser mandado por ninguém que não
fosse o desejo colocado por Deus em meu coração. É errado ordenar que alguém saia
por aí pregando o evangelho se essa pessoa ainda não teve um exercício com Deus a
respeito disso e nem está sendo dirigida por ele. Eu utilizo a Internet para evangelizar,
mas seria errado eu exigir de outros a mesma coisa. Se faço isso é porque senti como
sendo algo que o meu Senhor queria que eu fizesse, e se meu irmão não faz do mesmo
modo é porque deve ter um exercício diferente com seu Senhor. Acredito que no céu
ficaremos surpresos quando descobrirmos que irmãos e irmãs que raramente eram vistos
estavam engajados muito mais na conversão de almas do que muitos que moram nos
púlpitos.

Podemos até ter desejo de fazer algo, mas devemos ser dirigidos pelo Senhor, e não por
um irmão ou uma organização. Se você acha que não existe “contra indicação” em
pregar o evangelho, então ficará surpreso com esta passagem: “E, passando pela Frígia
e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a
palavra na Ásia.” (At 16:6). Um cristão que faz algo que não seja sob a direção do
Espírito Santo estará fazendo isso na carne. Cada um deve ter o seu próprio exercício
para com Deus de como evangelizar, e querer se intrometer no modo como o Senhor
deseja usar um irmão não me parece aconselhável, principalmente quando me lembro
do que o Senhor disse a Pedro:

“E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava... disse a
Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu
venha, que te importa a ti? Segue-me tu.” (Jo 21:20-22).

Hoje em minha cidade é proibido distribuir folhetos nas ruas ou fazer panfletagem, seja
de mensagens do evangelho, seja de propaganda comercial. Uma vez a Editora
Verdades Vivas foi notificada porque alguém tinha comprado e distribuído folhetos no
centro da cidade e a calçada ficou cheia de folhetos recusados. Para evitar a multa foi
preciso explicar para a prefeitura que a distribuição não era da editora, mas de pessoas
que compravam o material. No próprio folheto estava claro que o material não era para
ser usado de forma a sujar as calçadas.

Em nosso país ainda não existe proibição à evangelização, mas existe proibição conta
panfletagem em algumas cidades e também em lugares como aeroportos, escolas e
shopping centers, independente de ser evangelho ou propaganda. Não acredito ser
correto transgredir a lei para entregar folhetos nesses lugares, mas não sou eu quem vai
impedir alguém de fazer isso, pois essa é uma questão entre aquele que distribui e seu
Senhor. Mas sempre é possível cumprir a lei (evitando a panfletagem) e mesmo assim
evangelizar as pessoas nesses lugares. Ao invés de espalhar folhetos para todo lado,
pode ser bem mais eficaz levar alguns no bolso para dar a alguém com quem temos
contato direto, como a balconista, o frentista do posto de gasolina, a pessoa sentada ao
lado no ônibus etc. Em casos assim é possível valorizar o folheto dizendo coisas como
“Tenho um presente para você” ou “Esta mensagem aqui me ajudou muito e poderá
ajudar você também”.

Às vezes deixo um folheto dentro da revista de bordo do avião ou “esquecido” junto


com as revistas em algum consultório. A leitura tem mais valor se a pessoa ficar curiosa
por saber o que é aquilo. Eu me lembro de estar na rodoviária de São Paulo e um senhor
ao meu lado visivelmente querendo me entregar um folheto (tinha um maço em sua
mão), mas todo tímido. Eu, da minha parte, ainda era incrédulo e estava louco de
curiosidade para ler o que ele tinha na mão, mas pelo jeito ele não teve coragem. Aí ele
se levantou e “esqueceu” um folheto no banco, o qual evidentemente acabei lendo. Não
me converti por efeito direto daquele folheto, mas algum tempo depois e hoje consigo
lembrar de várias situações semelhantes e posso ver que faziam parte do processo de
afunilamento no qual Deus estava me colocando até me levar a Cristo.

A pregação oral do evangelho, em ruas, praças, escolas, salões etc., é sempre bastante
eficaz. Já fiz evangelização em ruas, porém essa atividade tem ficado cada vez mais
difícil por causa dos escândalos causados por pregadores de certas denominações que
mais parecem querer mandar todo mundo para o inferno do que apresentar o céu às
pessoas. Mas se alguém sentir-se chamado pelo Senhor para pregar a céu aberto é
importante fazê-lo. Muitas pessoas se convertem ao ouvirem o evangelho assim e, mais
uma vez, cada um deve dar contas ao seu Senhor e não a homens.

Quando trabalhava no centro de São Paulo costumava gastar parte de meu horário de
almoço para ouvir um pregador no calçadão perto do Teatro Municipal. Ao contrário
daqueles que costumamos ver por aí, que ficam dando socos na Bíblia e fazendo voz de
monstro para assustar os transeuntes, esse falava do evangelho com uma paixão e um
brilho no olhar que realmente cativava as pessoas. Falava do amor, da salvação, do
perdão, da obra de Cristo. Conversei com ele algumas vezes e me contou que havia se
convertido lendo uma Bíblia que um Testemunha de Jeová deixara em seu carro.
Mesmo lendo aquela Bíblia com seu texto adulterado pela Sociedade Torre de Vigia,
que nega a divindade de Cristo, acabou crendo em Jesus, Deus e Homem.

Ele não era um pregador “profissional” ou mandado por alguma “igreja”, mas tinha o
dom e aproveitava seu horário de almoço para pregar. Curiosamente ele estava sendo
processado pelo presidente de uma farmacêutica multinacional cuja sede ficava por ali e
não aguentava mais ouvir o evangelho cujo som era canalizado até o último andar de
seu edifício. Entrou com uma ação alegando que ele usava amplificador de som sem
autorização da prefeitura, mas ele recorreu provando que tudo o que possuía era uma
voz potente.

O que é melhor para evangelizar: mídia impressa ou digital?

A discussão sobre qual a melhor mídia para se evangelizar vai perdendo sentido quando
vemos tudo e todos cada vez mais conectados. Tenho alguma experiência nas duas
áreas, pois já distribui milhares de folhetos durante muitos anos, porém tenho visto
melhores resultados com as mídias eletrônicas.

Em 1979, logo após minha conversão, produzi meus primeiros folhetos. Como já fui
desenhista, os folhetos eram em quadrinhos, em um estilo dark tipo os quadrinhos do
Batman, e me lembro vagamente das mensagens. Só consegui imprimir uma pequena
quantidade e ainda em papel jornal, por causa do custo. Dez anos mais tarde eu estaria
trabalhando numa ONG literária — a Editora Verdades Vivas — que produzia milhões
de folhetos e outras literaturas, a maior parte enviada gratuitamente a solicitantes de
todo o país.

Então veio o computador e experimentei criar mensagens em formato digital no


computador de meu filho em casa. O problema era que precisaria distribuir em disquetes
e só quem tivesse um computador padrão MSX poderia ver. Por razões óbvias o projeto
não foi adiante. Depois, com a ajuda de meu filho Lucas Persona, surgiu o folheto
“Escolinha Dominical”, produzido no MSX, impresso em uma impressora jato de tinta
de 200 dpi, multiplicado em cópias xerox e distribuído para crianças.

Comprei um PC 486 e o folheto virou “Histórias de Verdade”, inicialmente ainda em


cópias xerox, depois publicado em gráfica, primeiro como um folheto grande e depois
em formato revista que era distribuída trimestralmente por correio a cerca de mil e
quinhentas pessoas, o que tinha um custo muito superior ao de hoje com evangelização
por meios eletrônicos. O trabalho todo era uma iniciativa pessoal, então era importante
sempre encontrar maneiras de otimizar meus recursos, como fazia ao experimentar
diferentes formatos e tamanhos de revista.
A versão impressa foi publicada até 1999. Antes disso, em 1996, já tinha lançado a
versão digital de “Histórias de Verdade” como site bilíngue. O site com mais de mil
páginas e visitas de mais de 70 países foi duas vezes contemplado com matéria no
Caderno de Informática da Folha de São Paulo. Foi considerado uma inovação na
época. Quem evangeliza deve estar antenado com seu tempo como estavam os homens
que Davi escolheu para ajudá-lo a reinar: “...dos filhos de Issacar, conhecedores da
época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos
sob suas ordens” (1 Cr 12:32).
A ideia foi criar o site sem qualquer conotação ou decoração religiosa e as pessoas só
descobriam que era um site evangelístico quando liam alguma das histórias. Aprendi
com um britânico, Tony Whitaker, um dos primeiros evangelistas na Web que havia
criado uma revista online chamada Soon para ajudar pessoas com informações de como
morar e trabalhar na Inglaterra. Havia muita informação útil naquela revista, mas
também muitas histórias evangelísticas, e ele me ensinou que pessoas estão interessadas
em coisas que são relevantes para elas, como histórias reais que são
excelentes ganchos para se evangelizar. Afinal, o próprio Senhor usava parábolas e
histórias, não usava? Na época o site era feito em html e fui ajudado na tarefa por
Cristóvão Pereira de Barros.

Por isso o “True Stories” ou “Histórias de Verdade” foi criado como um site para
ajudar estudantes a aprender inglês, com histórias de textos bilíngues em duas colunas.
Essa “fachada para inglês ver” também abria portas para matérias em jornais e revistas
sobre Internet que não publicariam material religioso. Mas no fundo o site é
evangelístico, com histórias de conversão ou mensagens evangelísticas aproveitando
notícias de interesse na mídia. A história “Morte no trem de alta velocidade”, sobre um
acidente de trem na Alemanha, virou um caso à parte, pois alguém nos Estados Unidos
viu e pediu minha ajuda para localizar uma amiga, a única norte-americana entre as
vítimas. Nem mesmo a família sabia para onde ela teria sido levada e a gravidade.
Descobri hospitais na região, fiz contatos, e finalmente um médico entrou no circuito
para ajudar, encontrou a mulher ferida e até foi visitá-la no hospital.

Obviamente os religiosos de carteirinha não podiam admitir uma iniciativa de


evangelização tão fora dos padrões “cristãos”. Fui criticado por uma leitora de língua
inglesa que escreveu dizendo que meu site nem parecia ser um site cristão. É claro que
não, porque para alcançar pagãos você precisa estar disposto a subir à Colina de Marte e
ao Areópago para falar aos idólatras atenienses sobre aquele “Deus Desconhecido” (At
17) para o qual eles construíram um pedestal. Outra leitora, também de língua inglesa,
me esconjurou por ter publicado duas histórias nos dias seguintes à morte de duas
celebridades: uma sobre Madre Teresa e outra sobre a Princesa Diana. Segundo essa
leitora “cristã” aquelas mulheres não eram exemplo para os “crentes”. Obviamente ela
não entendeu que a celebridade servia apenas de gancho para levar o incrédulo a ouvir
de Jesus.

Em 1998 comecei a traduzir um breve comentário bíblico do canadense Norman Berry,


o “Chapter-a-Day”, que era publicado no site e enviado de segunda a sexta por e-mail a
mais de seis mil assinantes do boletim eletrônico. E quando eu digo de segunda a sexta
estou falando de uma época quando ainda não havia ferramentas como as disponíveis
hoje para você já subir um grande número de mensagens e o sistema fazer a distribuição
cada uma em sua data. Eu enviava mesmo um e-mail por dia, e quando viajava a algum
lugar onde não havia conexão, meus filhos cuidavam da tarefa. Mais tarde uma irmã
canadense traduziu o “Chapter-a-Day” para o francês e essa área do site virou trilíngue.
Norman Berry partiu para estar com o Senhor em 2001 e meu boletim deixou de ser
enviado em 2002, permanecendo a versão online.

Uma iniciativa que foi também inovadora para a época era que as histórias eram
publicadas também em áudio. A pessoa podia clicar e ouvi-las narradas em português
ou inglês, esta ultima gravada por dois irmãos da América do Norte, Peter Rule e
Gordon Whitaker. Como armazenar áudio exigia servidores caros, armazenei os meus
em um servidor grátis de Hong Kong. Quando a China tomou de volta Hong Kong
meus arquivos de áudio sumiram, talvez por receio dos donos do servidor de lidar com
material cristão. Detalhe: eu tinha formatado meu computador e me esqueci de fazer
backup. Perdi os áudios.

Depois vieram outros sites e blogs, à medida que eu traduzia ou produzia material. Em
2005 criei o site “O que respondi”, publicando todas as cartas e e-mails que eu tinha
guardado em arquivo de papel e disquetes desde 1988. Em 2008 foi a vez de iniciar os
vídeos de “O Evangelho em 3 Minutos”, curiosamente inspirados no trabalho de uma
pessoa espírita de quem recebi um link da página onde ela publicava leituras que fazia
de Allan Kardec. Pensei comigo: “Se ela se dedica tanto para divulgar o espiritismo,
por que não posso fazer o mesmo para divulgar a Verdade do Evangelho da Graça de
Deus?”.

Eu já tinha algum know-how adquirido com minha “TV Barbante”, um canal criado em
2006 e voltado à comunicação e ao empreendedorismo. Aquele canal me rendeu uma
matéria no jornal “O Estado de São Paulo” e um convite para encontrar pessoalmente
Chad Hurley, um dos fundadores do Youtube, em sua primeira viagem ao Brasil numa
reunião dos primeiros youtubers na sede da Google em São Paulo. O único
constrangimento era que a soma das idades dos participantes não chegava à minha
idade...

Apesar de “O Evangelho em 3 Minutos” ser desde o princípio em formato texto, áudio


e vídeo, foi só a partir de 2014 que comecei a transformar os textos do “O que
respondi” em áudio e vídeo. Hoje é comum eu receber pedidos do tipo: “Pode fazer um
vídeo para responder minha dúvida?”. A geração TV já não lê, mas mesmo assim
cuidei de transformar todos os textos de “O Evangelho em 3 Minutos” e “O que
respondi” em livros que são distribuídos gratuitamente em formato e-book e vendidos
em formato impresso sem ganhos com direitos autorais. (e-books grátis aqui e livros
impressos aqui)

Hoje o canal “O que respondi” ultrapassa em muito o número de acessos do canal “O


Evangelho em 3 Minutos”, embora este seja evangelístico e aquele supostamente para
responder a dúvidas de crentes em Jesus. Eu digo supostamente porque descobri que a
grande maioria dos cristãos nominais não faz ideia do que seja o evangelho da graça de
Deus por seguirem algum tipo de religião baseada em boas obras, leis e regras.
Acredite, é raro encontrar um cristão hoje que possa dizer com certeza: “Tenho a
salvação e a certeza de jamais irei perdê-la”. A maioria acha que pode perder sua
salvação se pecar, se deixar a igreja, não pagar o dízimo, não guardar a Lei de Moisés e
coisas assim.

Talvez você me pergunte se nunca me preocupei que este trabalho na Internet pudesse
criar empecilhos em meu trabalho de palestrante empresarial. Sim, desde o começo me
preocupei com isso até aprender a entregar tudo nas mãos do Senhor. Afinal, meus
clientes são apenas instrumentos que Deus usa para suprir minhas necessidades
materiais contratando meus serviços. Mas pelo menos por duas vezes eu soube de
empresas que não quiseram me contratar porque um gerente ou diretor achou que eu
fosse algum tipo de “padre” ou “pastor” que poderia querer usar o tempo da palestra
para evangelizar, o que não costumo fazer. Mas hoje fico feliz quando depois de uma
palestras alguns vêm dizer que acompanham meus vídeos do Evangelho.

Como tenho aprendido na prática, apesar de apenas metade da população ter acesso à
Internet, acredito que a mídia impressa não é páreo para a mídia digital. As estatísticas
costumam considerar “famílias sem Internet” como se fossem imóveis, mas deixam de
levar em conta a mobilidade dos diferentes membros de uma mesma família que podem
estar conectados na escola, no trabalho, em lan houses, pelo próprio celular em algum
ambiente público com WiFi ou por meio de amigos, parentes e vizinhos.

E mesmo quando isso não acontece, sempre tem alguém disposto a transformar aquilo
que está na Web em uma mídia eletrônica viável, pois hoje TVs e outros aparelhos
eletrônicos têm entrada para USB ou tocam DVD e CD. Também sei de muitos que
imprimem meus textos evangelísticos ou adquirem os livros impressos de “O Evangelho
em 3 Minutos” e “O que respondi” para presentear (os livros em formato e-book são
gratuitos). Até o momento são 14 livros publicados. Veja o que as pessoas me
escrevem:

“Gravei todos os vídeos seus no YouTube, coloquei no pendrive, coloco o mesmo na


televisão para mostrar a todas as pessoas que me visitam, a maioria gosta e gravo para
elas assistirem em casa. Mais da metade não tem internet em casa”. “Envio ao menos
uma vez por semana o Evangelho em 3 Minutos aos meus contatos via WhatsApp”.
“Criei um grupo e mando sempre no WhatsApp, tem dado muito certo”. “Gravo o
evangelho em 3 minutos no pendrive e empresto a amigos, principalmente quem dirige
muito ou viaja”. “Meu esposo faz isso. Eu gravo e ele dá para as pessoas no serviço
dele. E quando viajamos levamos e vamos dando em cada cabine do pedágio”.

É impossível comparar alcance de mídia impressa com mídia eletrônica considerando


apenas a porcentagem de pessoas conectadas. O potencial da eletrônica está na
viralização exponencial. Já distribui milhares de folhetos em ruas, praças, etc., mas
muita gente joga fora sem ler, enquanto outros leem antes de jogar. Nas grandes cidades
a panfletagem nas vias públicas hoje é ilegal, e quando trabalhava na editora Verdades
Vivas fomos intimados a pagar uma multa por terem encontrado muitos de nossos
folhetos pelas ruas da cidade. Felizmente conseguimos recorrer demonstrando que a
editora não fazia a distribuição, apenas fornecia os folhetos.
A mensagem impressa alcança no máximo um leitor, e quem distribui folhetos sabe que
a taxa de rejeição é proporcional ao nível social das pessoas. As classes mais altas são
as que mais rejeitam, e às vezes ao invés de um “Muito obrigado” a pessoa diz outra
coisa para você ou, como já aconteceu comigo, amassa ou pica o folheto na sua frente
para demonstrar sua insatisfação.

Quando a mensagem é eletrônica ela não apenas alcança quem não pegaria um folheto
na rua, mas um que acabará lendo no isolamento de seu quarto quando não tem ninguém
olhando. Enquanto o que leu e gostou do folheto impresso dificilmente passa a
mensagem adiante, mídia eletrônica é fácil de compartilhar. Talvez você seja um dos
que não aguentam mais receber cartões, vídeos, mensagens, piadas etc. no WhatsApp e
Facebook. Pois é, já deu para perceber que no meio eletrônico é fácil uma mensagem
viralizar. E aí até os opositores ajudam. Tenho recebido contatos que ouviram falar de
meu trabalho por causa de Testemunhas de Jeová que fazem vídeos para me criticar.

Mas, e quem não tem Internet, como receberá uma mensagem eletrônica? Por rádio e
TV. O “Evangelho em 3 Minutos” já está nessas mídias sendo transmitidos por
terceiros. Sei por mensagens que recebo, como a da esposa de um presidiário que
escreveu para dizer que seu marido ouve as mensagens no rádio de pilhas que tem na
cela. Já recebi notícia de conversão de ouvinte do “Evangelho em 3 Minutos” num
programa de rádio comunitária, e também de um que comprou um DVD num camelô
em São Paulo.

Um outro ponto a favor da evangelização usando meios eletrônicos é a facilidade e


rapidez de resposta. Você dá um folheto na rua, a pessoa lê e fica interessada em saber
mais. Mas ela terá de se lembrar disso quando chegar em casa, escrever uma carta,
comprar envelope, pegar a fila dos Correios, selar e enviar. Se ela recebeu uma
mensagem por meio eletrônico pode fazer contato imediatamente enquanto seu interesse
ainda está quente. E aí entra um fator que é comum tanto à mídia impressa como digital,
que é a resposta e o contato formal ou pessoal.

Quando trabalhava numa empresa em São Paulo costumava ficar sem almoçar ou comer
apenas um salgado uma vez por semana. Era quando eu usava o tempo do almoço para
correr à Santa Casa e visitar quarto por quarto entregando folhetos evangelísticos.
Nunca fui barrado e nem obrigado a entrar apenas em horários de visitas, talvez por
nesse dia eu ir sempre de camisa branca, calça cor creme bem clarinha e uma pasta de
couro marrom. Não, eu nunca usei estetoscópio no pescoço.

Minhas visitas tinham de ser rápidas para voltar rapidamente à empresa, por isso
entregava rápido os folhetos e seguia para o quarto seguinte. Mas um dia aprendi o
quanto o contato pessoal é importante. Entrei num quarto onde havia só um jovenzinho
magrinho numa cama, e seu corpo despido revelava dezenas de cicatrizes de cirurgias.
Os membros atrofiados mostravam que ele já não podia se locomover. Pelo que entendi
sofria de alguma doença degenerativa óssea que exigia cirurgias periódicas. Dei o
folheto dizendo “Esta é uma mensagem para você”, virei-me rapidamente para sair e ele
perguntou: “Você não vai dizer nada? Não vai contar uma história de Jesus?”. Parei,
voltei e gastei o resto de meu tempo contando histórias de Jesus. Quando me encontrar
com ele no céu vou perguntar se gostou das histórias.
COMO ME PREPARAR PARA EVANGELIZAR

Todo cristão deveria estar preparado e disposto a falar do evangelho, conforme nos
ensina Pedro em sua carta: “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e
estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos
pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Nem todos têm o dom de
evangelista, mas podem comunicar o evangelho de alguma maneira. Timóteo
provavelmente não tinha o dom de evangelista quando Paulo o exortou: “Tu, porém, sê
sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista” (2
Tm 4:5).

Para todos os efeitos devemos ter em mente que o único capaz de convencer um
pecador do pecado e da justiça, levando-o a crer no Salvador, é o Espírito Santo.
Portanto nenhuma técnica de persuasão irá convencer verdadeiramente uma pessoa.
Algumas denominações enviam seus pastores para treinamentos de persuasão porque o
que buscam não é abrir os corações dos ouvintes para o evangelho da salvação, mas
entrar em suas mentes e manipulá-los para abrir seus bolsos.

Se não podemos fazer nada para salvar um pecador com nossa pregação, podemos fazer
muito para que a mensagem de salvação chegue até ele sem ruídos e interferências a fim
de a Palavra de Deus ser transformada em vida e salvação em sua alma. Pregar o
evangelho é uma interação na qual o papel do pregador é ajudar o ouvinte a fazer um
diagnóstico de sua condição e apresentá-lo a Cristo como o Salvador. Um bom roteiro é
a pregação de Pedro a Cornélio e seus companheiros no livro de Atos. Cornélio não era
um pagão, mas um prosélito, isto é, um gentio convertido ao judaísmo. A Palavra de
Deus já havia atingido sua alma e lhe incutido vida, porém ainda não era um homem
salvo por não conhecer a obra de Cristo para salvá-lo. Então Pedro apresenta os pontos
principais de sua mensagem que aparece em Atos 10:34-44:

“Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de
pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é
aceitável.” (At 10:34-35). Até aqui o que Cornélio já sabia, pois como dizia no início
do capítulo, ele era um homem “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que
fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus.” (At 10:2). Então Pedro
traz uma novidade para Cornélio: “Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de
Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor
de todos.”(At 10:36). Não existe um evangelho à parte do Nome de Jesus, porque
nenhum outro nome foi dado entre os homens para que sejamos salvos. Por isso se a sua
pregação falar de um milhão de verdades da Bíblia e deixar de fora o nome de Jesus,
tudo o que ele é e fez, você só aborreceu seus ouvintes.

Agora Pedro dá mais detalhes sobre essa Pessoa, Jesus, de quem Cornélio devia ter
ouvido falar sem saber exatamente quem era ele ou o que fez: “Vós conheceis a palavra
que se divulgou por toda a Judeia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo
que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do
diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra
dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no
madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a
todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é,
a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos
mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de
vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu
nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados. Ainda Pedro falava estas
coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.”(At 10:

Repare em todos os elementos da pregação de Pedro, primeiro trazendo para o centro da


mensagem o Nome de Jesus, então deixando claro ter ele sido o escolhido de Deus, por
meio de quem o Espírito de Deus deu provas disso. Então ele fala da morte e
ressurreição de Cristo, pois não é possível um evangelho que não tenha sangue, já que é
o sangue que purifica o pecador de seus pecados. O papel de Jesus como o Juiz que virá
é o tema seguinte para deixar claro que haverá um juízo e condenação para aqueles que
rejeitarem a graça de Deus, mostrando também que esse Juiz não será alguém que
desconheça o que é ser humano, mas o próprio Jesus em carne e ossos. Finalmente o
anúncio e convite de que todo aquele que nele crê recebe a remissão ou retirada dos
pecados.

A passagem da conversa de Jesus com a mulher samaritana em João 4:1 também


apresenta um roteiro para o evangelista:

A primeira lição da passagem é que pregar o evangelho é uma ação urgente e você
precisa passar por cima de seu desejo de autopreservação de imagem e pensar na
perdição à beira da qual seu interlocutor pode estar porque a vida de qualquer um neste
mundo está sempre por um fio. É verdade o ditado popular de que “para morrer basta
estar vivo”. Por isso em João 4:4 diz, de Jesus, que “era-lhe necessário passar por
Samaria”. Não era o caminho usual para um judeu da época, que geralmente preferia
evitar a Samaria e contorná-la. Mas para Jesus era “necessário passar por Samaria”,
pois ali havia ali uma alma preciosa necessitada de salvação e, por assim dizer, “ao
ponto” para ouvir as boas novas.

Jesus não se apresenta como um Super-Homem, à semelhança de alguns cristãos que


querem passar uma imagem de perfeitos, poderosos e capazes de agarrar o diabo na
unha em uma luta corpo a corpo. Você não é um lutador de UFC num ringue, você é um
socorrista tentando salvar uma alma da condenação. Por isso na passagem vemos Jesus
“cansado do caminho” (Jo 4:6) e demonstrando estar com sede. Ele desce ao nível da
mulher samaritana e não se coloca acima dela com aquele olhar de desprezo típico do
fariseu cheio de justiça própria no templo quando se comparava com o publicano
pecador em Lucas 18:9-14. Jesus até mesmo pede água a ela: “Dá-me de beber” (Jo
4:7).

“Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida” (Jo 4:8) vemos que
Jesus está só quando conversa com a mulher, e isso nos ajuda a entender a necessidade
de se ter alguma privacidade principalmente no caso de uma evangelização pessoal. É
fácil percebemos o quanto o excesso de pessoas pode atrapalhar quando vemos a reação
dos discípulos no versículo 27: “E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se
de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas?
ou: Por que falas com ela?”. A razão é que “os judeus não se comunicam com os
samaritanos” (Jo 4:9), e por isso os discípulos de Jesus, que eram judeus, eram
naturalmente preconceituosos e poderiam tratar a mulher com desprezo e discriminação,
não apenas por não ser judia, mas também por sua condição moral.
Evangelizar sózinho traz algumas vantagens, como evitar que um companheiro seu
desconstrua todo uma estratégia que você construir para levar o ouvinte ao ponto de
uma conclusão e tomada de decisão. Nessa hora um parceiro de pouco entendimento
pode puxar o assunto para algo que não tem nada a ver e acabar tirando o ouvinte da
frente da cruz aonde você o tinha levado. Estar sozinho, ou no máximo em dois, pode
evitar aquela impressão que o ouvinte tem de estar cercado por um bando de hienas,
cada uma rindo de sua ignorância da Bíblia e querendo tirar um pedaço para depois
apresentar de troféu, do tipo “Eu ganhei aquela alma para Cristo!”.

Até aqui Jesus havia chamado a ATENÇÃO da mulher de diferentes formas. Agora,
diante da surpresa dela de um judeu estar conversando com uma samaritana, ele
aproveita para apresentar uma oferta que irá despertar seu INTERESSE. “Se tu
conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele
te daria água viva.” (Jo 4:10). Ela não apenas tem seu interesse despertado, como
retruca com um impedimento prático de receber o que Jesus oferece. “Disse-lhe a
mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água
viva? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio
dele, e os seus filhos, e o seu gado?” (Jo 4:11-12).

Lembre-se de que ao iniciar uma conversa evangelística você estará falando de coisas
eternas e celestiais com um interlocutor incrédulo que estará pensando em termos
temporais e terrenos. É preciso criar aquilo que em comunicação chamamos de
“rapport”, ou seja, uma conexão para os dois entrarem no mesmo clima e propósito.
Quem é do tempo da conexão de Internet discada ainda se lembra do barulhinho que o
modem fazia antes de conectar. Naquele momento o seu modem conversava com o
modem do provedor para estabelecer os parâmetros da troca de dados. Isso é o rapport
ou a sincronização de propósitos na comunicação.

Chega a hora de Jesus introduzir o PROBLEMA na conversa: “Qualquer que beber


desta água tornará a ter sede” (Jo 4:13), o qual decorre da SITUAÇÃO da mulher que
claramente tinha percebido a falta de água e a necessidade de buscá-la. Todo ser
humano têm naturalmente uma sede existencial por perceber em si um vazio que nada
pode preencher, pois é do tamanho de Deus. O ser humano não entende qual é a origem
desse vazio e nem como fazer para preenchê-lo de forma definitiva, mas antes mesmo
de explicar a razão do vazio Jesus procura despertar o DESEJO pela solução:

“Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu
lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. Disse-lhe a mulher:
Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-
la.” (Jo 4:14-15).

Este é o momento de colocar o dedo na ferida, isto é, colocar o PROBLEMA sob o


holofote para a pessoa não achar que está lidando apenas com alguma mensagem
motivacional de uma vida melhor. O grande problema de todo ser humano tem sua raiz
no PECADO que entrou na Criação com a queda de Adão e Eva e com isso arruinou a
raça humana. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” (Rm 5:12). O
PROBLEMA e suas CONSEQUÊNCIAS devem ser claramente apresentados, mas não
só isso — é preciso levar o ouvinte a sentir isso na própria pele. Por isso Jesus diz: “Vai,
chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-
lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que
agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.” (Jo 4:16-18).

Como costumamos dizer, “a batata quente” agora está na mão de seu interlocutor que
agora precisa lidar com isso. Enquanto uma pessoa não se reconhece pecadora não há
como reconhecer em Cristo o Salvador. Afinal, Jesus deixa bem claro em Marcos 2:17:
“Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar
os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Alguns pregam uma hora
dizendo da necessidade de seu interlocutor ser salvo e em nenhum momento explicam
de que ele precisa ser salvo. Então não se esqueça de deixar bem claro que seu ouvinte
tem um problema que precisa ser resolvido, e foi para isso que Cristo veio.

Pregar o evangelho não é passar a mão na cabeça do ouvinte com frases do tipo “Você é
especial... Você precisa evoluir... Você precisa desenvolver... Você é um diamante bruto
que precisa ser lapidado... Deus vai lhe dar a vitória...”. Já pensou um médico diante
de um paciente com câncer dizer que é só um arranhão? Não, o pecado — a condição
natural do ser humano que o levará à morte e condenação eterna — precisa ficar muito
patente, ainda que ao fazer isso você possa ser considerada a pessoa mais politicamente
incorreta do mundo.

Quando colocado diante do seu pecado e da consequente condenação, que aquela


mulher conhecia muito bem por serem os samaritanos conhecedores das Escrituras do
Antigo Testamento, seu interlocutor vai querer fugir da raia. Talvez pergunte como vai
sua família (que traduzido é “vái cuidar da sua vida e não se intrometa na minha”), ou
pergunte onde foi que você estudou para conhecer tão bem a Bíblia (que traduzido é
“quero alisar seu ego para você parar de prestar atenção no meu”), ou até diga que
isso que você está falando seria bom a Fulana escutar (como se estivesse preocupado
com mais alguém além de livrar a própria pele daquela conversa).

Tudo isso não passa de uma tentativa de fuga, e a mulher samaritana irá fazer isso
usando, primeiro de um elogio à guisa de reconhecimento: “Senhor, vejo que és
profeta”. Em seguida ela faz uma afirmação de caráter social, teológico e doutrinário
para levar o assunto para longe de si mesma: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós
dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar” (Jo 4:19). Jesus poderia ter
caído na conversa e corrido atrás da bomba de fumaça que ela lançou para desviar dela
própria e de seu pecado que urgia uma solução, e de Jesus que devia ser sempre o centro
de toda conversação. Ele faz questão de mostrar que tudo o que ela sabia até ali já não
iria valer, além de frisar a urgência da situação em que uma mudança precisava ser
adotada imediatamente. Além disso, depois de uma breve explanação sobre adoração
ele a conduz de volta ao cerne da questão que é a própria Pessoa de Cristo:

“'Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a
salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai
procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade.' 'Eu sei', respondeu a mulher, que há de vir o
Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas'. Disse-lhe
Jesus: 'Eu o sou, eu que falo contigo'.” (Jo 4:22-26).
É importante lembrar que este episódio ocorre antes da cruz, portanto o que interessa
aqui é que ela reconheça ser ele o Messias ou Cristo que fora prometido pelos profetas.
Naquele momento era ainda o Evangelho do Reino que estava sendo pregado, como o
de João Batista que anunciava a chegada do Rei de Israel e convidava: “Arrependei-vos
que o Reino é chegado!”. Após a morte e ressurreição de Jesus os discípulos passariam
a pregar o Evangelho da Graça que é o que pregamos hoje: “Crê no Senhor Jesus e
serás salvo” (At 16:31).

Lembre-se de que seu ouvinte não é um cristão convertido, então muitos termos e
expressões não farão qualquer sentido para ele. Ao invés de dizer “A Palavra nos
diz...” prefira “Na Bíblia diz...”. Não precisa exigir que seu ouvinte procure passagens
na Bíblia, porque isso poderá distraí-lo e perder o que você está querendo dizer. Prefira
você mesmo citar versículos de memória ou lendo de sua Bíblia. Se a evangelização for
pessoal, talvez uma ou outra vez você possa estender a Bíblia e apontar com o dedo
pedindo: “Leia aqui”. A importância dos versículos é evidente: O que irá convencer o
pecador é a Palavra de Deus, e não seus raciocínios e argumentos. O poder é dela, não
do pregador.

“O evangelho de Cristo... é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...
Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos
salvos, é o poder de Deus... Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos,
lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus... Para que a vossa fé não
se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (Rm 1:16; 1 Co 1:18,
24; 2:5)

Todos gostamos de ouvir histórias e elas ajudam a fazer o ouvinte retomar o foco se o
pensamento já estiver voando para longe de sua pregação. Por isso introduza alguma
história interessante em sua pregação. Existem muitos livros com exemplos para
pregadores, ou você pode pegar um de sua experiência ou até uma notícia de jornal e
usá-la à guisa de parábola para o que deseja dizer. Foi o que Jesus fez quando ouviu
alguns comentando do que seria o equivalente ao telejornal da época: “Naquela mesma
ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos
misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais
que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem
padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes,
todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a
torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de
Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos
igualmente perecereis.” (Lc 13:1-5).

Repare que, assim como fez para iniciar a conversa com a mulher samaritana à beira do
poço, Jesus partiu de um assunto que estava fresco na memória dos judeus e era objeto
do comentário de todos ali. Paulo fez algo assim quando iniciou sua pregação em
Atenas. Ele toma como ponto de partida o pedestal vazio que os gregos dedicavam ao
“Deus Desconhecido” e passa a falar desse “Deus” que eles desconheciam mas Paulo
conhecia bem.

Fuja da abstração o mais que puder. Se o uso de figuras do Antigo Testamento pode ser
de muito proveito e ensino para crentes que já conhecem a realidade dessas figuras no
Novo Testamento, para um incrédulo, que não conhece nem um nem outro, isso será um
enigma indecifrável. Você só irá confundi-lo.

Nem pense em transformar as boas novas do Evangelho em uma lista de “faça isso, não
faça aquilo”. Se você foi evangelizado com algo assim sinto dizer que não foi
evangelizado, mas “judaizado”. É melhor fazer a lição de casa e crer na graça de Deus
antes de sair por aí fazendo prosélitos para sua religião. Grande parte das religiões
cristãs pregam um misto de fé e obras da Lei, mas isso não é o Evangelho da Graça e
basta ler a carta aos Gálatas para perceber. O Evangelho da Graça é Graça em contraste
com a Lei. Não é por seguir uma lista de compromissos que um pecador recebe a
salvação e ninguém de sã consciência iria acreditar em um evangelho, cujo significado é
“boas novas” ou “boa notícia”, que exija atender a uma lista de deveres. Isso não seria
uma boa notícia de jeito nenhum. Nem preciso dizer que pregar o evangelho não é
convidar alguém para “ir à igreja” ou para congregar onde quer que seja. É o Espírito
Santo quem congrega aqueles que Cristo acrescenta ao seu próprio corpo, não ao rol de
membros de alguma denominação religiosa.

Resista ao máximo à tentação de ensinar doutrina e desvendar as profundezas da


Palavra de Deus querendo impressionar seus irmãos em Cristo com o tanto que você já
aprendeu. Lembre-se de que você está falando com incrédulos e estes estão tão mortos
quanto a descrição dada por Paulo no início do capítulo 2 de Efésios: “...mortos em
ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo,
segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da
desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da
ira, como os outros também.” (Ef 2:1-3). Tudo o que você deseja e deve fazer é
conseguir que esses mortos ouçam a Palavra de Deus que é a única capaz de lhe dar
vida e chamá-lo para fora de seu túmulo. Um morto não entende nada, está morto. A
chave do sarcófago é a fé em Cristo como Salvador, e tudo o que você precisa explicar é
como Jesus tomou o lugar de seus ouvintes morrendo numa cruz para pagar seus
pecados.

Uma vez eu estava conversando com uma jovem e perguntei a ela se sabia qual era seu
destino eterno, para onde ela iria após a morte. Ela disse que acreditava ir para o céu, e
eu perguntei a razão de sua crença. Ela disse que era uma pessoa boa, que não fazia mal
a ninguém, procurava seguir uma religião e coisa e tal. Então falei do evangelho da
graça e de como ela, como pecadora perdida, nada poderia fazer para escapar da pena e
do juízo aos quais estava destinada por causa do pecado. Mas mostrei como Deus a
amava tanto que dera seu Filho para morrer numa cruz substituindo-a no juízo. Agora
Deus oferecia o perdão de todos os seus pecados e a salvação graciosamente se ela tão
somente cresse em Jesus como Salvador.

Quando terminei perguntei: “Entendeu como ser salva?”. Ela respondeu: “Ah, sim,
agora entendi!”. Então perguntei para onde ela iria se morresse e respondeu que agora
tinha certeza de que iria para o céu. Perguntei o que lhe dava tal certeza e ela disse que
era uma pessoa boa, que tratava bem a todos, seguia uma religião... Então falei tudo de
novo de outra maneira, e depois mais uma outra vez de outra maneira com exemplos
diferentes e não sei quantas vezes repeti a velha história de diferentes maneiras. Até
hoje não sei se ela chegou a crer no Salvador.
O que eu quero dizer com isso é que enquanto uma pessoa não se converter a Cristo
você pode repetir a mesma coisa centenas de vezes que para ela sempre será a primeira
vez. Da vez anterior aquilo terá entrado por um ouvido e saído pelo outro sem atingir a
consciência. A ideia de pregar o evangelho é usar a técnica da tautologia. A palavra
“tautó” vem do grego e significa “o mesmo” e a palavra “logos” significa “assunto” ou
“conhecimento”. Portanto tautologia é dizer sempre a mesma coisa de maneiras
diferentes, usando diferentes exemplos. É isso que faz o pregador do evangelho. Sua
mensagem nunca será inédita e você não deve cair na tentação de inventar algo novo.

Evite também tentar impressionar seus ouvintes que já são cristãos, exibindo o
conhecimento que você adquiriu. Não são eles o seu alvo. Se os convertidos acharem
que já ouviram o que você está dizendo, ótimo, porque assim não existe o perigo de
errar. Talvez eles se impressionem com a forma e roupagem diferente como você
apresentou, mas a história deve ser sempre a mesma. Então repita, repita, repita a velha
história da cruz como diz o hino “A velha história”, de autoria de William Howard
Doane (1832-1915) e Katherine Hankey (1834-1911), extraído do Hinário “Cantor
Cristão”:

Contai-me a velha história, do Grande Salvador


De Cristo e Sua glória, de Cristo e seu amor
Com calma e com paciência; pois quero penetrar
À altura do mistério: que Deus nos pode amar.

Falai-me com doçura, do amante Redentor


Falai com sentimento pois sou um pecador!
Querendo consolar-me, em tempos de aflição
Sempre essa velha história; dizei do coração.

Se o brilho deste mundo, toldar do céu a luz,


Narrai a mesma história; da graça de Jesus
E quando enfim a glória do mundo além raiar,
Contai-me a velha história que veio aqui salvar.

EVITANDO O CONFRONTO ABERTO

A evangelização deve ser feita com sabedoria e sempre evitando a confrontação. Aquele
que evangeliza precisa sempre ter em mente que deseja conquistar almas para Cristo,
não afugentá-las ou ganhar uma discussão. Se evangelizar com um coração sincero e em
graça, e for dirigido pelo Espírito a fazê-lo em frente a bares, baladas, boates etc., eu
não vejo mal. Errado é fazer isso em tom acusatório, reprovando os que estão entrando
ali como se aquilo fosse o que iria fazer com que fossem para o inferno. O homem não
precisa fazer nada para ir para o inferno, basta continuar como está.

Eu mesmo já preguei o evangelho na rua em esquina de bar no interior e Goiás, como


também entrava em bares para distribuir folhetos, colando um big sorriso no rosto e
fazendo a cara mais simpática que podia. Alguns me fuzilavam com o olhar, outros me
convidavam para uma pinga e eu simplesmente dizia “Obrigado, agora não”.

Pouco depois de minha conversão eu viajava pelo interior com o irmão que me
evangelizou e paramos para tomar café em um boteco de beira de estrada. Tomamos o
café ao lado do pessoal bebendo pinga e cerveja, e se divertindo na mesa de sinuca. Esse
irmão reparou num grande cartaz que havia na parede do bar, com o slogan: “Coca-
Cola dá mais vida!”. Então ele leu o cartaz bem alto e em tom de interrogação:
“COCA-COLA DÁ MAIS VIDA?!” Tão alto que o bar silenciou e todos olharam para
ele. E continuou:

“COMO PODE DAR MAIS VIDA SE ATÉ FAZ MAL PARA A


SAÚDE?!” (Todos de cara vermelha de álcool prontamente concordaram com a cabeça,
e estava feita a conexão). “VOCÊS SABEM O QUE DÁ MAIS VIDA?” (Todos
fizeram que não com a cabeça, curiosos para saber). “O QUE DÁ MAIS VIDA É
CRISTO, PORQUE MORREU NA CRUZ PARA DERRAMAR SEU SANGUE
PARA NOS PURIFICAR DE NOSSOS PECADOS. CRENDO NELE VOCÊ
RECEBE MAIS VIDA, A VIDA ETERNA!”.

Rapidamente distribuímos alguns folhetos evangelísticos e saímos do boteco antes que a


ficha caísse totalmente na cabeça dos beberrões e algum decidisse nos fazer engolir uma
garrafa de Coca-Cola. Naquele tempo elas ainda eram de vidro.

Muito do que você vê sendo pregado por aí não é o evangelho da graça, e algumas
pregações não são feitas com sabedoria. Lembro-me de um amigo incrédulo que estava
com seus pedreiros no andaime ajudando a rebocar sua construção, quando um
“obreiro” de alguma igreja parou na rua e começou a gritar um evangelho do tipo “Deus
vai dar a você uma nova vida”, obviamente não falando de vida eterna, mas de
prosperidade.

“Com minha pregação já tirei da enxada um homem que hoje trabalha na prefeitura.
Tirei da enxada outro que hoje é comerciante. Tirei da enxada mais um....” ao que meu
amigo interrompeu e disse: “Meu caro, se você continuar tirando gente da enxada quem
é que vai plantar o feijão para você comer?”

Infelizmente o que vemos às vezes é mais uma atitude de provocação e crítica do que o
evangelho da graça pregado por alguém preocupado com a salvação de pecadores.
Evangelho que convide alguém a largar um vício não é evangelho; evangelho que
convide alguém a ser curado de uma doença do corpo não é evangelho; evangelho que
prometa uma vida fácil neste mundo não é evangelho; e evangelho que tente ganhar
discussão para sair de peito estufado e queixo erguido não é evangelho. Evangelho sem
sangue não é evangelho, pois o verdadeiro evangelho é que Cristo veio ao mundo salvar
pecadores, e todo aquele que nele crê tem a vida eterna.

Devemos trazer sempre o mesmo espírito do apóstolo Paulo, quando respondeu ao rei
que o interrogava:

“Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos
os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias.” (At 26:29).
Que Paulo não foi em nada agressivo e nem quis criar ira nos que o ouviam nós
podemos ver pela reação dos que estavam ali: “A essa altura, levantou-se o rei, e
também o governador, e Berenice, bem como os que estavam assentados com eles; e,
havendo-se retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada tem feito
passível de morte ou de prisão. Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem
bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César.” (At 26:30-32)
Li uma notícia de um rapa que parou em frente a uma casa onde estava tendo uma festa
com muita bebedeira e gritaria e começou a pregar o “seu evangelho”, que obviamente
não foi nem um pouco oportuno para os que estavam se embriagando na festa. Tanto é
que um deles saiu e esfaqueou o pobre rapaz até à morte.

Por isso é bom entender que é possível pregar o evangelho sem ser agressivo e
respeitando certas regras de convivência e civilidade. Se você entrar em um velório em
um país de radicais muçulmanos e começar a gritar versículos bíblicos mandando que se
arrependam e difamando Alá, estará apenas garantindo seu velório ao lado do defunto.
Portanto em certos ambiente você pode entregar um folheto com uma mensagem bíblica
sem fazer estardalhaço. Hoje é possível até distribuir CDs e pendrives com mensagens
evangelísticas e quem receber irá gostar do presente. Ao menos até descobrir o que está
gravado neles.

DEVEMOS PREGAR O EVANGELHO A CRISTÃOS?

A menos que você esteja empenhado em levar o evangelho a alguma tribo de nativos
isolados nas Américas ou África, ou ainda a populações predominantemente islâmicas
ou orientais, o mais provável é que estará pregando o evangelho a cristãos nominais. O
mundo ocidental foi cristianizado há séculos e o nome de Jesus não é novidade para
ninguém nestas partes do mundo.

Portanto, seu público, por assim dizer, será diferente daquele que os apóstolos ou os
primeiros discípulos encontravam em seus esforços evangelísticos há dois mil anos. Ou
eles pregavam a pagãos, que nunca tinham ouvido falar de um Deus único e muito
menos do nome de Jesus, ou a judeus, que possuíam ao menos o conhecimento de Deus,
porém ainda precisavam saber que em Jesus se cumpriam todas as Escrituras que hoje
chamamos de Antigo Testamento. É destas duas classes que Paulo fala em Gálatas 2:7:
“Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava
confiado, como a Pedro o da circuncisão...”.

O mais próximo que temos de uma pregação a cristãos no Novo Testamento é o caso de
Simão, o mago, em Atos 8:9-24. Seria bom você ler a passagem toda, mas basicamente
ali encontramos um homem que ouviu o evangelho da boca de Filipe e creu, ao menos
intelectualmente, no que Filipe dizia do reino de Deus e do nome de Jesus. Ats 8:13 “E
creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os
sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito”.

Repare que ele foi batizado, como a maioria da população ocidental hoje é, e “ficou de
contínuo com Filipe”, como muitos hoje vivem na companhia daqueles que lhes
pregaram a Palavra de Deus ou de outros convertidos. A isto chamamos hoje de
cristandade, a “grande casa”, mencionada em 2 Timóteo 2, na qual há vasos para honra
e para desonra, crentes verdadeiros e falsos.

Embora a passagem de Atos 8 seja breve, podemos ver que por algum tempo Simão
teve essa “vida cristã” na companhia de samaritanos que tinham genuinamente se
convertido a Cristo. Enquanto Simão vivia seu cristianismo exterior misturado com
aqueles que eram genuínos e receberiam o Espírito Santo, a notícia da conversão de
samaritanos chegou a Jerusalém e Pedro e João foram visitá-los, quando também
tiveram a oportunidade de testemunhar que aos samaritanos Deus também concedia o
Espírito Santo. (Obs. O livro de Atos é um período de transição, portanto ali
encontramos diferentes classes de pessoas -- judeus, gentios e samaritanos -- recebendo
o Espírito em ocasiões e de maneiras distintas, uns antes de serem batizados nas águas,
outros depois).

Mas voltando a Simão, o fim da história revela que, apesar de ter crido exteriormente e
estar participando dos privilégios do cristianismo, ele era um falso professo que nem
mesmo ousava pedir, de si mesmo, perdão a Deus por sua ganância de querer pagar para
receber o Espírito Santo e depois lucrar com isso. O caso dele é muito semelhante ao
dos judeus que tiveram contato com Jesus, os quais são descritos em Hebreus 6 e entre
os quais inclui-se Judas, o traidor.

Heb 6:4-6 “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados [Judas foi], e
provaram o dom celestial [Judas provou], e se tornaram participantes do Espírito
Santo [o Espírito estava com os discípulos, mas não neles]. E provaram a boa palavra
de Deus [Judas não perdeu um sermão de Jesus], e as virtudes do século futuro [o
poder de curar e expulsar demônios que foi dado aos outros apóstolos, foi dado a Judas
também], E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim,
quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério”.

Repare que a passagem não fala de pessoas que realmente creram e foram salvas de seus
pecados, mas apenas participantes dos privilégios do cristianismo como é hoje o
cônjuge incrédulo de alguém verdadeiramente salvo. 1Co 7:14 “Porque o marido
descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de
outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.

Portanto, hoje ao pregar o evangelho, você estará pregando a cristãos. Eles já foram
mais que expostos ao nome de Jesus, sem muitos deles nunca terem entendido ou crido
no evangelho. É um conhecimento apenas intelectual, na maioria das vezes misturado
com muitos erros herdados do catolicismo, do protestantismo e do pentecostalismo. Que
erros são estes?

O primeiro que me vem à mente é a ideia absurda de que você é salvo fazendo parte de
alguma igreja. Esta ideia foi popularizada pelo catolicismo romano e mais tarde
abraçada por segmentos protestantes, principalmente neo-pentecostais. Raciocine assim:
O que é a igreja? Biblicamente falando (e não no sentido denominacional) é o corpo de
Cristo, o conjunto dos que foram salvos por Cristo. Localmente ela é representada onde
estiverem dois ou três congregados pelo Espírito, no meio dos quais o Senhor promete
estar. Não é uma organização ou instituição, mas o corpo místico de Cristo manifestado
de forma visível nos salvos por ele.

Agora vamos ao absurdo do conceito de a salvação estar na igreja: como poderia


alguém ser salvo pelos salvos? Sim, pois se alguém diz que você só pode ser salvo se
estiver em uma determinada companhia de cristãos, à qual dá o nome de “igreja”, a
salvação já não está no Salvador, mas nos salvos por ele. Mas será que a Palavra de
Deus diz que devemos estar em algum lugar? Sim, devemos estar em Cristo.

2Co_5:17 Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo.
Portanto, ao pregarmos o evangelhos a cristãos devemos deixar claro que a igreja não
garante a salvação, pois a igreja é o conjunto dos salvos. Não é a igreja que salva
pecadores, mas é Jesus quem salva a igreja, o conjunto de pecadores salvos por Jesus.

Ef 5:25-27 Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar,
purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo
igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível.

Tit_2:14 O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e
purificar para si um povo seu especial,

Certamente nenhum apóstolo ou discípulo do primeiro século precisou enfrentar um


problema como este, de pregar o evangelho para pessoas que achavam que, por estarem
inseridas em um determinado agrupamento de cristãos, estariam por isso a salvo da
perdição eterna.

O mais perto que podemos ver disso, além do caso de Simão, o mago, são os
destinatários da epístola aos Hebreus. Ali temos cristãos, nominais ou genuínos, aos
quais é endereçada uma carta para mostrar a superioridade do sacrifício e sacerdócio de
Cristo em relação às sombras dos sacrifícios e sacerdócio do judaísmo. As palavras
“melhor” e “melhores” aparecem onze vezes na epístola, e no final aqueles judeus-
cristãos são convidados a saírem fora do arraial judaico para se encontrarem com Cristo
e compartilharem de sua rejeição.

Heb 13:10-13 Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao
tabernáculo. Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo
sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também
Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos,
pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério.

Hoje existe um “arraial” claramente visível na cristandade. Basta reparar no quanto de


judaísmo existe impregnado em alguns grupos cristãos para entender. Templo, altar,
vestes especiais, liturgia, sacerdotes, dízimo, incenso, música instrumental no louvor,
levitas etc. são elementos emprestados do judaísmo. Assim como o autor da epístola aos
Hebreus fez um apelo a todos aqueles judeus-cristãos para que se apartassem de vez do
judaísmo, cabe também convidar hoje os cristãos a saírem do arraial; a saírem a Cristo
fora desse sistema judaico que Deus já deu por encerrado e que muitos cristãos ainda
insistem em piratear. Nenhum de nós pode identificar quem é ou não verdadeiramente
salvo, pois “o Senhor conhece os que são seus”, mas ao pregarmos o evangelho é bom
discernir se estamos pregando a pessoas completamente alheias às Escrituras, ou a
pessoas que até sejam versadas nelas, como eram os hebreus, porém dentro de uma ótica
de um judaísmo cristão.

Repare que até aqui já tratamos de dois aspectos de crenças falsas encontrada entre
cristãos nominais: a salvação por meio da igreja e a salvação por meio de rituais e
costumes emprestados do judaísmo. Em muitas religiões da cristandade estas duas
coisas andam juntas. Porém as religiões pentecostais introduziram mais um ingrediente
nessa salada do mundo cristianizado, e este é a incerteza da possessão garantida de
salvação, o que basicamente é a mesma coisa que a salvação por obras.

A ideia é mais ou menos esta: Você é salvo quando crê em Jesus, porém para
permanecer salvo precisará cumprir uma série de requisitos, os quais variam de
frequentar uma determinada denominação, ser batizado de uma determinada maneira,
ou andar vestido dentro de um determinado padrão de “moda evangélica”.

Algumas vertentes mais sofisticadas desse evangelicalismo sutilmente introduziram a


salvação pelo senhorio, que basicamente é ser salvo, mas sem permanecer salvo, a
menos que esteja sob o senhorio de Cristo, isto é, em um contínuo arrependimento e sob
a direção do Senhor. O cristão só poderá considerar se realmente salvo quando chegar
no final de sua jornada aqui ou se for hipócrita o suficiente para se iludir de que é 100%
guiado pelo Senhor.

Mais uma vez a salvação acaba dependendo do homem, de sua obediência e


perseverança, e não da obra completa de Cristo na cruz do calvário e da promessa
inequívoca da Palavra de Deus, que nos dá a segurança de descansarmos em uma obra
que do começo ao fim depende unicamente de Deus:

Flp_1:6 Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;

1Ts_5:9 Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação,
por nosso Senhor Jesus Cristo,

De tudo concluímos que, apesar de o evangelho ser simples e resumir-se às boas novas
de que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação, e
sabendo que ele é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, quem evangeliza o
mundo cristianizado poderá precisar ajudar a drenar a mente do evangelizado para
excluir toda a lama teológica acumulada durante séculos de catolicismo romano,
protestantismo e pentecostalismo, para então derramar a água pura da Palavra de Deus.

1Co 15:3-4 Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

Rom_1:16 Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus


para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.

Mas, considerando que essas vertentes cristãs -- catolicismo, protestantismo e


pentecostalismo -- também trazem em seu bojo a doutrina de que a salvação é pela fé
em Cristo e em seu sacrifício consumado na cruz, como saber separar o que é lama e o
que é água da mensagem recebida e incorporada por alguém cristianizado? Procurando
filtrar aquilo que exalta a Deus daquilo que exalta o homem.

O evangelho puro -- Cristo morreu, Cristo ressuscitou -- exalta unicamente a Deus,


que enviou o seu Filho para salvar. O evangelho misturado, que vai desde dizer que
você é salvo por suas boas obras, até dizer que é salvo pela fé mas se mantém salvo pela
perseverança, exalta o homem, porque no final a salvação terá sido uma conquista
do salvo e não um presente recebido por graça imerecida.
No verdadeiro céu os redimidos por Cristo darão toda glória a Deus e ao Cordeiro e
cantarão um novo cântico: “Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque
foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua,
e povo, e nação” (Ap 5:9). No imaginário céu da religiosidade cristã, seus esforçados
adeptos cantarão o velho cântico de Caim: “Digno sou... porque por meio do fruto
daquilo que com meus esforços plantei, cuidei e colhi aqui neste mundo conquistei e
garanti o favor divino”.

Talvez aqui você diga que falando assim estou ofendendo católicos, protestantes e
pentecostais. Considerando que no final não haverá católicos, protestantes ou
pentecostais, mas Deus será tudo em todos (1 Co 15:28) não vejo a utilidade de se tentar
defender coisas e rótulos que um dia deixarão de existir por terem sido inventadas por
homens. Não é a Deus que você quer glorificar? Não é a Cristo que quer apresentar às
pessoas para que sejam salvas? Então “por que gastais o dinheiro naquilo que não é
pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me
atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” (Is 55:2).

O BRASIL AINDA PRECISA SER EVANGELIZADO?

Você menciona que o Brasil, assim como outros países ocidentais, é


predominantemente cristão (católicos, evangélicos etc.) e sua dúvida é se um país assim
deve ser evangelizado, já que todos conhecem o evangelho.

É claro que o Brasil precisa ser evangelizado, porém de um modo diferente daquele
utilizado para evangelizar uma tribo de índios ou um país muçulmano. É um engano
achar que a população de um país cristianizado como o Brasil já conheça o evangelho.
As pessoas conhecem a religião, mas não o evangelho da graça de Deus.

No fundo, pagãos, muçulmanos, espíritas, católicos, evangélicos etc. acreditam mesmo


numa salvação por obras, e não pela simples fé no Salvador Jesus. Pergunte a qualquer
pessoa na rua o que é preciso para ser salvo e ela responderá que é preciso ser bom.
Poucos percebem que o padrão é Deus (ou Jesus, o Homem perfeito) e que jamais
alcançarão tal padrão.

A Lei dada a Moisés (os 10 mandamentos e as três centenas de preceitos que os


acompanhavam) veio justamente para provar a incapacidade do homem de andar
segundo o padrão divino.

Você deve estar surpreso por eu ter incluído “evangélicos” como pessoas que acreditam
numa salvação por obras, mas a realidade é essa. Os evangélicos costumam ter uma
mensagem pronta na ponta da língua que diz “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”,
porém depois vêm os “anexos” a este contrato: batismo, ser membro de uma
denominação, dar o dízimo, vestir-se de maneira tal, etc.

Pergunte a um evangélico pentecostal se é possível ele perder a salvação e ele


provavelmente responderá que sim, se deixar de obedecer a Deus. Considerando que
desobedecemos o tempo todo até por pensamento, uma salvação assim seria impossível
a qualquer ser humano.
A grande maioria deles professa crer na salvação pela fé, mas crêem mesmo é na
manutenção dessa salvação pelas obras, o que não é diferente da fé católica, espírita ou
muçulmana, por exemplo. Ou seja, se eu me comportar bem, vou para o céu. Se me
comportar mal, vou para o inferno. Não é isso o que você encontra na doutrina dos
apóstolos.

Veja mais aqui:

http://www.respondi.com.br/2010/04/um-crente-pode-perder-sua-salvacao.html
http://www.respondi.com.br/2005/06/afastei-me-de-jesus-o-que-fazer.html
http://www.respondi.com.br/2007/05/possvel-ter-certeza-de-ir-para-o-ceu.html
http://www.respondi.com.br/2007/12/salvao-e-pela-graca-somente.html
http://www.respondi.com.br/2010/02/posso-ser-cortado-depois-de-crer.html
http://www.respondi.com.br/2010/02/para-ser-salvo-preciso-ir-frente-orar.html
http://www.respondi.com.br/2008/06/o-que-fazer-quando-nao-sinto-presenca.html
http://www.respondi.com.br/2008/01/e-pecado-considerar-se-salvo.html
http://www.respondi.com.br/2005/05/no-presuno-voc-dizer-que-est-salvo.html
http://www.stories.org.br/textos/scg.html
http://www.stories.org.br/textos/nunca.html

Portanto, se você crê realmente em Jesus como seu Salvador, vá adiante e evangelize as
pessoas, anunciando um evangelho sem mistura e baseado na graça de Deus e no
sacrifício já consumado de Jesus na cruz. Ali ele pagou por TODOS os nossos pecados
para não precisarmos pagar eternamente por eles.

Mas se você não tem certeza de sua própria salvação ou acredita que pode perdê-la por
algum motivo, então ainda não creu no evangelho de Cristo, mas numa mescla de
evangelho de Cristo e dos homens. Além disso não está considerando seu velho homem
mortificado, mas está confiando que ainda pode tirar algo de bom desse que foi
considerado por Deus um cadáver putrefato e que Paulo chamou de “corpo dessa morte”
em Romanos. Sugiro que leia atentamente a carta de Paulo aos Gálatas.

NÃO DEVO PREGAR O EVANGELHO A TODOS?

Você pergunta se devemos discriminar pessoas ao pregarmos o evangelho, pois


encontrou cristãos que se baseiam em Mateus 7:6 para pregar apenas a determinadas
pessoas e não a todas elas. A passagem diz: “Não deis aos cães as coisas santas, nem
deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-
se, vos despedacem”.

O versículo 6 é um complemento aos versículos 1 a 5, que dizem que não devemos


julgar.

Mat 7:1-5 Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que
julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a
vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave
que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu
olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então
cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
O versículo 6 mostra que esse “não julgueis” não se aplica em todos os casos, pois o
versículo 7 nos manda ter o discernimento de julgar aqueles que são propensos a pisar
nas coisas santas. Trata-se de pessoas que tratam com desprezo as coisas de Deus. Se
por um lado devemos pregar o evangelho a todos, sem distinção, devemos também ser
sábios para evitar aqueles que reagem à nossa pregação de forma a denegrir as coisas de
Deus.

Se você está, por exemplo, em uma conversa com um grupo de pessoas, ao vivo ou
virtualmente, e fala de Cristo a elas, e uma delas começa a usar isso como motivo de
deboche, o melhor é se afastar dessa pessoa e deixar de falar a ela, pois cada palavra sua
só servirá de munição para ela gerar dúvidas nos outros ouvintes.

ESTOU SOB MALDIÇÃO POR NÃO TER PREGADO O EVANGELHO?

Você anda angustiado porque sente que devia ter pregado o evangelho a um amigo que
enveredou para o crime, porém não o fez. Para piorar as coisas alguém citou a você a
passagem de Ezequiel em que Deus requer o sangue do profeta caso ele não avise o
ímpio de sua impiedade:

Eze 3:18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem
falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele
ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.

O rapaz acabou assassinado numa cobrança de dívida entre marginais e você diz que
está sendo “martirizado, por ter tido a oportunidade e não ter sido capaz de aproveitá-
la”, e completa: “Estou bem deprimido por isso. O que devo fazer? Existe possibilidade
do perdão de Deus?”.

Primeiro, saiba que o perdão de Deus lhe foi garantido no dia em que você creu em
Jesus, pois TODOS os seus pecados foram pagos por ele lá na cruz. Você jamais
encontrará no Novo Testamento um salvo pedindo perdão a Deus. Pedimos perdão
quando nos convertemos e depois disso confessamos nossos pecados para desfrutarmos
do perdão que já nos foi garantido pela obra de Cristo. O perdão já temos; os pecados
precisamos confesssar.

Ats_10:43 A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem
receberão o perdão dos pecados pelo seu nome.

1Jo 1:7-9 Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.... Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos
purificar de toda a injustiça.

No final colocarei alguns links que falam em detalhes sobre a segurança do crente.
Voltando ao caso do rapaz que morreu, pode ter certeza de que ele teve sua chance de
ser salvo, pois ninguém parte daqui sem isso. Deus mesmo terá providenciado que ele
escutasse o evangelho de alguém, portanto não se martirize por isso.

O versículo de Ezequiel que seu amigo citou, como se agora você estivesse sob
maldição por ter deixado de falar do evangelho ao rapaz que foi assassinado, é muito
usado pelas denominações. O objetivo é pressionar seus membros a “ganharem almas”
pelo medo, o que tem uma segunda intenção embutida: aumentar a arrecadação da
“igreja”. Não seja ingênuo ao ponto de acreditar que existe boa fé na maioria das
religiões que há por aí.

Quando em Mateus 10 Jesus enviou os discípulos exclusivamente “às ovelhas perdidas


da casa de Israel”, avisando para que não fossem aos samaritanos, mas se limitassem
aos judeus, ele os estava enviando ao povo mais religioso do planeta. E era justamente a
religião que iria se opor a Cristo e a tudo o que viesse de Deus, como aconteceu durante
séculos de história da Igreja, com as piores perseguições aos cristãos sinceros tendo sido
promovidas pelo clero cristão contra aqueles que queriam obedecer a Deus, e não a
homens.

Isso não mudou, e a advertência de Jesus aos discípulos serve para nós hoje: quando no
meio religioso, devemos nos colocar na posição de ovelhas ao meio de lobos e sermos
prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Inofensivos porque não é o
papel do cristão agir violentamente mesmo contra outros cristãos que o perseguem. Mas
prudentes como as serpentes, para não nos deixarmos enganar pelos lobos.

Mat 10:16-17 Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede
prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos
homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas
sinagogas [as congregações dos judeus];

Lembre-se de que já em Atos 20 o apóstolo Paulo advertiu aos anciãos da igreja em


Éfeso que os lobos entrariam no rebanho para destruir as ovelhas, assim como homens
que dentre eles mesmos só teriam interesse em atrair discípulos após si. Esse tempo que
o apóstolo previu é hoje.

Mas voltando à passagem de Ezequiel que você citou, vou transcrevê-la aqui ampliada
para você perceber o contexto.

Eze 3:14 Então o espírito me levantou, e me levou; e eu me fui amargurado, na


indignação do meu Espírito; porém a mão do SENHOR era forte sobre mim.
Eze 3:15 E fui a Tel-Abibe, aos do cativeiro, que moravam junto ao rio Quebar, e eu
morava onde eles moravam; e fiquei ali sete dias, pasmado no meio deles.
Eze 3:16 E sucedeu que, ao fim de sete dias, veio a palavra do SENHOR a mim,
dizendo:
Eze 3:17 Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha
boca ouvirás a palavra e avisa-los-ás da minha parte.
Eze 3:18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem
falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele
ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
Eze 3:19 Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu
mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.
Eze 3:20 Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a
iniqüidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste,
no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas
o seu sangue, da tua mão o requererei.
Eze 3:21 Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente
viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.
Eze 3:22 E a mão do SENHOR estava sobre mim ali, e ele me disse: Levanta-te, e sai
ao vale, e ali falarei contigo.

Se observar o contexto da passagem verá que tudo ali tem a ver com o profeta Ezequiel.
É com ele que Deus está falando e é a ele que está enviando para uma missão específica.
Porém, sob a direção do Espírito de Deus, Ezequiel não sai simplesmente por aí falando
para todo mundo, porém fica sete dias mudo (vers. 15). A palavra “pasmado” tem, no
original, o sentido de “mudo de espanto”. Ele não falou durante sete dias! Por que não?
Porque ele estava sob a influência do Espírito de Deus e tinha visto coisas tremendas e
era hora de permanecer calado.

Então ele recebe uma missão específica, tão específica quanto foi a missão que o Senhor
deu aos discípulos quando os enviou apenas às “ovelhas perdidas de Israel”, advertindo
para que não pregassem aos samaritanos. Algum discípulo que decidisse de vontade
própria ir pregar aos samaritanos, achando que seria um desperdício eles não ouvirem a
mensagem ou sentindo-se sob o risco da maldição que aqui é lançada sobre Ezequiel se
não pregasse, estaria claramente desobedecendo o Senhor.

Então o Senhor diz especificamente a Ezequiel que ele foi designado para ser atalaia
(nome dado ao vigia da torre que gritava quando vinha o inimigo) sobre a casa de
Israel. Portanto a ordem é dada especificamente a uma pessoa (Ezequiel) para uma
função específica (Atalaia) e para um povo específico (Israel). Se você não se chama
Ezequiel e não recebeu de Deus a missão específica de pregar a Israel, então fica
claro que a ordem não foi dada a você.

Era tão séria a missão que Ezequiel recebeu que sobre ele pesava a responsabilidade de
não falhar, ou teria de dar conta do sangue dos que morressem em sua iniquidade. E que
iniquidade era essa? Ter Israel se afastado do Deus verdadeiro para ir após seus próprios
ídolos; ter Israel endurecido seu coração e não querer nem escutar a voz de Deus. Se ler
o início do capítulo verá que, à semelhança da missão específica que receberam os
discípulos de Jesus, Ezequiel não deveria ir pregar aos gentios, mas exclusivamente a
Israel:

Eze 3:4 E disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as
minhas palavras.
Eze 3:5 Porque tu não és enviado a um povo de estranha fala [gentios], nem de língua
difícil, mas à casa de Israel;
Eze 3:6 Nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não
possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos.
Eze 3:7 Mas a casa de Israel não te quererá dar ouvidos, porque não me querem dar
ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração.

Quer uma ordem mais clara do que essa? Apenas esta passagem já seria suficiente para
você ver que a ordem não foi dirigida a você, pois se fosse não era nem para você
pregar para o rapaz que morreu. Acaso era ele da casa de Israel? Provavelmente não, e
aqui Deus deixa bem claro: “Tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de
língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranha fala e de língua
difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te
dariam ouvidos” (vers. 5-6).
Embora tenhamos a responsabilidade e o privilégio de anunciar as boas novas às
pessoas, isso não é para ser feito em um espírito de que você perderá a salvação se não o
fizer, como se sobre você recaísse uma maldição. Falar do evangelho é uma
consequência do gozo que temos em nosso coração, da certeza da salvação que
recebemos unicamente por graça, e do amor que nos constrange a querer que outros
também sejam salvos. Grande parte dos cristãos hoje nem sequer tem a certeza dessa
salvação e acabam pregando mais para garanti-la do que por amor dos perdidos.

Sim, você pode ficar espantado com o que estou dizendo, mas perceba que quando os
religiosos de plantão jogam o fardo dessa passagem de Ezequiel sobre seus seguidores,
o fazem como se eles estivessem sobre a obrigação de fazerem esse tipo de obra para
garantirem a salvação (ou ficarem livres de maldição). A mensagem implícita é algo do
tipo: se você não ganhar almas para Cristo, não será salvo ou perderá sua salvação.

Aí o infeliz cristão sai carregando esse fardo e vai para uma praça pregar como quem
quer agredir os transeuntes. Grita, dá socos no ar, praticamente xinga o pecador e nem
se lembra de falar do amor de Deus que está pronto para salvá-lo. O pregador
improvisado aprendeu que é seguindo uma lista de obrigações que sua denominação lhe
deu que será (talvez) salvo.

Como geralmente nem ele sabe se está seguindo todas elas (a menos que seja muito
pretensioso e soberbo), nem ele tem certeza da salvação. Se assim for, como alguém
pode falar do que não tem certeza? O que ele irá responder se um interlocutor mais
esclarecido lhe perguntar: “Você tem certeza dessa salvação que está me anunciando?
Tem certeza de que ela é eterna, ou acredita que poderá perdê-la a qualquer momento?
Essa salvação é pela fé em Jesus e em sua obra na cruz, ou é tornando-me membro de
sua denominação e seguindo uma lista de preceitos e doutrinas?”.

Pergunte a dez pessoas que professam ser crentes em Jesus se elas poderiam perder a
salvação e verá que muitas dirão que sim. Ouviram o “outro evangelho” (Gl 1:6) do
qual Paulo fala aos Gálatas, que ensina que só poderão ser salvas se perseverarem,
fazendo direitinho as obrigações (obras) que sua denominação lhe dá para cumprir.
Começaram pelo Espírito (quando creram) e terminaram pela carne, na tentativa de se
garantirem por meio de suas próprias obras (Gl 3:3).

É evidente que recai sobre cada cristão a responsabilidade de pregar o evangelho aos
perdidos e ensinar os salvos conforme o dom que recebeu de Deus, porém não com má
vontade, mas de boa mente. Paulo usa a figura do sangue, numa alusão à ordem dada a
Ezequiel, não como uma lei, mas como um princípio no sentido de não ser culpado por
ter negligenciado a missão que Deus lhe confiou.

Ats 20:25-27 E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o
reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que
estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho
de Deus.

Mas será que Paulo teria perdido a salvação se tivesse falhado nessa missão de avisar os
Efésios dos perigos que viriam após sua partida? É claro que não! Ele perderia o
galardão, mas jamais a salvação, que lhe estava assegurada, não pelas coisas que ele
fazia, mas pela obra que Jesus fez.

1Co 9:16-17 Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é
imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o
faço de boa mente, terei prêmio [galardão]; mas, se de má vontade, apenas uma
dispensação me é confiada.

Portanto, fique tranquilo. Nenhuma maldição recai sobre você e nem seria possível você
ter cumprido a missão que foi confiada a Ezequiel de ser um atalaia sobre Israel. Você
pode sim usar a passagem de Ezequiel como um princípio ou encorajamento para
evangelizar, mas não como uma lei ou ordem direta para você.

Normalmente é assim que devemos ver o Antigo Testamento: como princípios que
podem nos ajudar em nosso andar cristão, mas sabendo que já não estamos sob a Lei,
que traz consigo maldição, e que devemos “manejar bem a Palavra da verdade” (2 Tm
2:15), isto é, colocando cada coisa no seu devido lugar, para não incorrermos no erro
muito comum da cristandade que é tirar versículos do contexto. Por cometerem esse
erro é que você ainda encontra por aí tantas coisas que só faziam sentido na antiga
dispensação da Lei, como templos, altares, sacerdotes, músicos, levitas, dízimos,
vestimentas cerimoniais, doutrinas de prosperidade material etc.

Se começar a tomar ao pé da letra as missões que Deus deu aos seus profetas no Antigo
Testamento, então é melhor arrumar a mala para partir para Nínive (nem imagino onde
fica), como Deus ordenou a Jonas, e comece a procurar uma meretriz para se casar com
ela, como Deus ordenou ao profeta Oséias.

Jon 1:1-2 E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te,
vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à
minha presença.

Osé 1:2-3 O princípio da palavra do SENHOR por meio de Oséias. Disse, pois, o
SENHOR a Oséias: Vai, toma uma mulher de prostituições, e filhos de prostituição;
porque a terra certamente se prostitui, desviando-se do SENHOR. Foi, pois, e tomou a
Gômer, filha de Diblaim, e ela concebeu, e lhe deu um filho.

DEUS PODE USAR UM FALSO CRISTÃO PARA EVANGELIZAR?

É claro que tudo pode ser usado por Deus para os Seus propósitos, mas o fato de algo
ser usado não significa que seja bom. Deus usou uma mula para falar com Balaão, mas
não acredito que isto signifique que os cristãos podem parar de falar da parte de Deus já
que Ele poderia usar mulas para isso.

Vemos também muitos usando a Bíblia para proveito próprio e, mesmo assim, acabarem
sendo usados na conversão de alguém ou em algo para a glória de Deus. Porém isso não
diminui a responsabilidade de quem agiu errado. Lembro-me de José falando a seus
irmãos, quando se revela a eles como governador do Egito: “E José lhes disse: Não
temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim;
porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar
muita gente com vida.” Gn 50:19, 20 Portanto Deus pode usar até a extrema maldade do
homem para transformar isso em bênção para outros e em glória para Si.
Não podemos nos esquecer de que vivemos numa época de apostasia (abandono da
Verdade) e isso irá piorar muito após o arrebatamento da igreja, o que pode acontecer a
qualquer momento. Procure ler as cartas de Timóteo no contexto profético de tempo.
Ambas falam da “casa de Deus” (o aspecto governamental da igreja, ou a parte que
cabe aos homens cuidarem).

Na primeira são dadas instruções... “...para que saibas como convém andar na casa de
Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.” I Timóteo 3:15 Esta
fala de como a casa de Deus deveria ser.

Na segunda fala de como ela ficou. “Ora, numa grande casa não somente há vasos de
ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para
desonra.” II Timóteo 2:20 É uma casa onde há de tudo e a responsabilidade dos que
buscam a Verdade é se afastarem do erro (leia o contexto) para se reunirem com aqueles
que o fazem de coração puro (ou purificado desses erros). O trecho fala de separação.

A primeira fala ainda, em seu contexto histórico, dos “últimos tempos”, um período
mais extenso: “MAS o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão
alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;” I
Timóteo 4:1 Isso já acontece há muitos séculos.

A segunda fala dos “últimos dias”, um período breve e final. (eu uso
a www.bibliaonline.com.br para minhas buscas) “SABE, porém, isto: que nos últimos
dias sobrevirão tempos trabalhosos.” II Timóteo 3:1 Na continuação é dado o estado
dos cristãos (é importante entender que não está falando de pagãos ali, mas de cristãos
nominais:

Vers. 2 - Porque haverá homens amantes de si


mesmos[1], avarentos[2], presunçosos[3], soberbos[4], blasfemos[5], desobedientes a
pais e mães[6], ingratos[1], profanos[2],
Vers. 3 - Sem afeto
natural[3], irreconciliáveis[4], caluniadores[5], incontinentes[6], cruéis[1], sem
amor para com os bons[2],
Vers. 4 - Traidores[3], obstinados[4], orgulhosos[5], mais amigos dos deleites do que
amigos de Deus[6],
Vers. 5 - Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
Se observou, temos 3 grupos de 6 características (666) que levam para o homem que
tem aparência de piedade (parece um carneiro), mas nega a eficácia dela (fala como um
dragão Apocalipse 13:11). É preciso entender que a oposição maior aos convertidos no
final virá da própria cristandade organizada, “a mulher” de que nos fala o Apocalipse.

É interessante como neste trecho de II Timóteo Paulo fala de pessoas levadas por
concupiscências (desejos) por homens com as características acima. É o que vemos aos
montes hoje nas ditas igrejas que oferecem curas, milagres, dinheiro, romance e tudo o
que o ser humano mais deseja, com segundas intenções. Note também que esta foi a
última carta que Paulo escreveu e ele termina dizendo que foi abandonado por todos.
Vivemos num tempo de abandono da Verdade (apostasia), principalmente da Verdade
revelada a Paulo (que você não encontra em outros lugares das Escrituras).
8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os
gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo,
9 E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos
esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo;10 Para que agora,
pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e
potestades nos céus, (Efésios 3:8-10)

TUDO BEM PREGAR UM EVANGELHO DISTORCIDO?

Você pergunta se está tudo bem pregar um evangelho imperfeito, mas isso vai depender
do grau e tipo de imperfeição desse evangelho que é pregado. A mensagem do
evangelho é tão simples que até para torná-la imperfeita é preciso algum trabalho. Veja
o que é o evangelho aqui: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o
qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a
palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1
Co 15:1-4).

Posso dar a você um copo de leite imperfeito e essa imperfeição ser apenas por
existirem algumas impurezas ou porque o leite já começou a azedar. Pode fazer algum
bem ou algum mal, mas não irá matá-lo. Mas posso dar também leite de ótima
qualidade, numa embalagem moderna e colorida, porém contendo algumas gotas de
estricnina que irá matá-lo em questão de minutos. Portanto é sempre bom buscar “o leite
racional, não falsificado” (1 Pe 2:2) e ficarmos alertas contra distorções que possam
levar à morte espiritual. As falsificações mais comuns do evangelho são aquelas que
misturam à água da Palavra (Jo 3:5; Ef 5:26), ou “leite”, se preferir a figura do outro
versículo, boas obras, rituais e privações ou flagelos, como forma de se alcançar a
salvação.

Mas nunca devemos nos esquecer de que Deus é poderoso até para usar uma gota da
Palavra da Verdade misturada num oceano de impurezas para incutir vida nova numa
alma perdida em delitos e pecados. Nos anos 1980 conheci um excelente pregador de
rua que frequentava o calçadão no centro de São Paulo. No intervalo para o almoço eu
costumava parar para ouvi-lo, pois pregava o evangelho com uma clareza, convicção e
amor no olhar que deixava qualquer um com água na boca. Sua voz era tão potente e
cristalina que ele estava sendo processado pelo presidente de uma multinacional que
achava que ele usava amplificação em sua fala.

Ele me contou que tinha se convertido quando era motorista de táxi e ganhou uma
Bíblia edição “Novo Mundo” da Sociedade Torre de Vigia, que no original inglês nada
mais é que uma King James piorada. As Testemunhas de Jeová pegaram a tradicional
King James em inglês e alteraram as passagens que falam da divindade de Cristo e
outras mais para adaptá-la aos seus ensinos, como se fosse uma nova tradução feita a
partir de originais gregos e hebraicos. Em seu descanso ele parava o táxi numa sombra e
lia, lia, lia, até o Espírito Santo tocar seu coração. Mesmo em meio às doutrinas
malignas que os editores tinham introduzido no texto, havia água pura o suficiente para
tocar uma alma.

Mas isso de maneira nenhuma isenta de responsabilidade quem corrompe a Palavra de


Deus ou prega um evangelho distorcido. Em Gálatas o apóstolo Paulo chama de
“anátema”, que significa “maldito”, quem prega um evangelho distorcido, e o assunto
de sua carta era o evangelho que alguns estavam pregando um evangelho que incluía a
guarda da Lei para receber a salvação.

“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de
Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam
e querem transtornar [corromper ou perverter] o evangelho de Cristo. Mas, ainda que
nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho
anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo
digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja
anátema.” (Gl 1:6-9).

A maioria das pessoas que ouviu o evangelho deve ter recebido a mensagem misturada
com algumas impurezas, mais por ignorância de quem prega do que por maldade. Deus
pode sim transformar aquela água em vinho, símbolo de vida e alegria. Até mesmo o
pior mercenário num púlpito, quando abre a Bíblia e fala passagens da Palavra de Deus,
pode ser usado pelo Espírito Santo para tocar o coração de alguém, porque o poder está
na Palavra de Deus, e não na pessoa que a prega ou no lugar onde foi pregada.

Uma pessoa que conheça a Bíblia saberá discernir um evangelho falso de um


verdadeiro. Geralmente o falso vem numa embalagem tão bonita e apetitosa que faz seu
receptor baixar a guarda e tomar o veneno. O falso não tem sangue e irá falar de sentir-
se bem, mudança de vida, prosperidade financeira, proteção contra todos os males desta
vida, sorte no amor e muitas outras coisas que apelam para os desejos comuns de todos
os seres humanos. Alguns parecem vender a ideia de que você se transformará num
Super-Homem ou Mulher-Maravilha, de tanto poder que terá à sua disposição. Gostam
de usar passagens como “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não
chegará a ti” (Sl 91:7), como se o evangelho fosse um poderoso amuleto, não para ser
ouvido e crido, mas para ser levado atrás da orelha como se fosse um ramo de arruda.

Mas evangelhos assim não tem nada do sangue derramado para expiar nossos pecados,
nada da obra substitutiva de Jesus, o Cordeiro de Deus, para nos salvar eternamente.
Pode ser uma mensagem apenas social, religiosa ou de mudança de sorte ou conduta, e
quem não entender o que é realmente o cerne do verdadeiro evangelho pode cair na
conversa e comprar gato por lebre. Como se costuma dizer, o livro se compra pela capa,
não é mesmo? Parece ser este o caso de alguém que me escreveu seduzido pela capa ou
embalagem de boas maneiras das pessoas que costumam levar até ele um evangelho
distorcido, que diz ser Jesus um “deus” menor, nega a Trindade e prega uma salvação
terrena obtida por meio de boas obras e da filiação à sua organização religiosa.

COMO EVANGELIZAR UM ADEPTO DA NOVA ERA

A Nova Era não tem nada de nova, pois é apenas uma embalagem genérica na qual
podem ser encontradas quaisquer filosofias, crenças, religiões e práticas muitas vezes
milenares. Mas o sentido é menos de um recipiente de compartimentos estanques, e
mais de um liquidificador no qual você prepara uma vitamina espiritualista com os
ingredientes que mais lhe agradam, às vezes até conflitantes e contradizentes entre si.

Dependendo da preferência da pessoa você encontrará nessa vitamina um pouco de


gnosticismo, agnosticismo, animismo, ateísmo, deísmo, esoterismo, espiritismo,
hedonismo, humanismo, monoteísmo, politeísmo, misticismo, panteísmo, politeísmo,
teosofia, naturalismo, xamanismo, taoismo, budismo, islamismo, xintoísmo,
transcendentalismo, macrobiótica, vegetarianismo, cabalismo, yoga, meditação
transcendental, hinduísmo, tarô, astrologia, esoterismo, búzios, numerologia, gnose,
acupuntura, homeopatia, fitoterapia, autoajuda, magia, adivinhação, evolução,
parapsicologia... a lista é interminável.

A diferença entre todas essas correntes e o cristianismo puro encontrado na Bíblia é


bastante simples: Todas essas filosofias exaltam o homem; o cristianismo exalta a Deus.
Todas essas filosofias dizem de diferentes maneiras que você precisa fazer algo para
chegar a um estado espiritual melhor; o cristianismo ensina que você não é capaz de
fazer coisa alguma, e que Deus enviou o seu Filho ao mundo para morrer por você e
pagar o seu pecado. Esses erros nunca dão a você certeza alguma de ter alcançado seu
objetivo; o cristianismo deixa claro que você pode ter a salvação eterna aqui e agora,
bastando para isso OUVIR a Palavra de Deus e CRER naquele que Deus enviou,
para POSSUIR a vida eterna, NÃO ENTRAR em juízo e PASSAR DA MORTE
PARA A VIDA no exato momento em que creu:

Joã 5:24 Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra,
e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação,
mas PASSOU DA MORTE PARA A VIDA.

Satanás tem milhares de anos de experiência em enganar os seres humanos. Evangelizar


um incrédulo é uma coisa; evangelizar um simpatizante da Nova Era e suas filosofias
satânicas é outra. No primeiro caso você tende a se concentrar na condição do pecador,
na solução de Deus (a cruz) e no destino eterno, o que é a abordagem correta. No
segundo caso somos tentados a entrar no terreno do inimigo para discutir suas ideias, e é
aí que mora o perigo, pois isso contamina. Acabamos enredados pelas ramificações de
seus pensamentos e quando nos damos conta estamos presos em seu terreno de
argumentos espirais.

Minha sugestão: traga a cobra para a penha. Quando você quer matar uma serpente, o
melhor lugar é levá-la para uma rocha lisa e limpa de arbustos. Ali ela fica totalmente
exposta e você pode bater à vontade. A serpente é satanás e suas doutrinas; a Rocha é
Cristo.

Os arbustos das doutrinas satânicas irão tentar prender você uma espiral de discussões
que farão mais mal do que bem, tanto a você (por ficar exposta a essas doutrinas) como
à pessoa que está tentando evangelizar (que se sentirá cada vez mais segura por poder
fazer afirmação de suas doutrinas satânicas).

Portanto, fuja de ser arrastado pela tentação de aprender mais da doutrina do outro para
poder contestá-la. Traga a conversa para Cristo na cruz, para a obra definitiva, o sangue
derramado, a remissão dos pecados, a ressurreição. A síntese do evangelho é o que você
encontra nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15:

Cristo morreu e Cristo ressuscitou.

1Co 15:1-5 Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o
qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos
se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia,
segundo as Escrituras.

Resumindo: não deixe o outro falar, mas faça perguntas diretas do tipo “O que
acontecerá se você morrer hoje?”, “E como se apresentará a Deus com seus pecados?”,
“Qual o único documento sobre Jesus escrito por testemunhas pessoais que conviveram
com ele?” etc. O outro pode querer racionalizar e dar as explicações das filosofias que
segue, mas na hora da cabeça no travesseiro todo ser humano sabe que precisará se
encontrar com Deus e sabe que seus pecados são um impedimento. Todo ser humano
que não foi salvo teme a morte, pois a obra de Cristo também tem por objetivo nos
resgatar desse medo:

Heb 2:14-15 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele
participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império
da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por
toda a vida sujeitos à servidão.

Prv 30:18-19 Estas três coisas me maravilham; e quatro há que não conheço: O
caminho da águia no ar; O CAMINHO DA COBRA NA PENHA; o caminho do navio
no meio do mar; e o caminho do homem com uma virgem.

POSSO USAR MÚSICA PARA EVANGELIZAR?

Você está certíssimo quando diz que qualquer coisa pode se transformar em idolatria,
seja ela música, blog etc. Eu mesmo tenho vigiado para evitar que meus vídeos e blogs
se transformem em um ídolo. Às vezes alguns olhares reprobatórios de alguns irmãos
me ajudam a manter essas coisas domesticadas.

Quando meus filhos eram pequenos e morávamos em São Paulo com um orçamento
bem pequenininho, senti saudades de meus tempos de aeromodelista, hobby que
pratiquei até mais ou menos os 18 anos. Mas com o orçamento apertado, como justificar
para minha esposa a compra de um aeromodelo, motor e tudo mais? Como justificar que
iria deixá-la nos finais de semana tomando conta dos filhos pequenos enquanto eu
estaria na pista de aeromodelismo do Ibirapuera me divertindo?

Simples! Decidi que o aeromodelismo poderia ser um excelente meio de evangelização


se eu pintasse sob a asa do avião um “Cristo Salva”. Aí todos que olhassem para cima
veriam. É claro que a bronca de minha esposa fez cair a ficha e eu percebi que aquilo
nada mais era do que egoísmo de minha parte. Eu estava pensando em mim, não no
evangelho, e estava usando a ideia de evangelizar como pretexto para voltar ao hobby.

A música e qualquer outra coisa pode ter o mesmo efeito sobre nós se nos deixarmos
levar por ela ou tentarmos “santificar” nossa própria vontade, ou seja, tentar pintar de
evangelismo algo que é, na verdade, nosso próprio desejo.

Não quero dizer com isso que Deus não possa usar alguma habilidade nossa ou coisa
que gostamos de fazer para a sua glória. Claro que pode. No Antigo Testamento nós
vemos Deus escolhendo os artistas que deveriam cuidar da decoração do tabernáculo
(Ex 38:22-23). Vemos Davi escolhendo homens hábeis em conhecer os tempos e as
estações para estarem ao seu lado no governo do Reino (1 Cr 12:32). E vemos todos os
dias Deus usando a voz de uns para pregar, os pés de outros para levá-los até onde há
necessitados da Palavra e a escrita de muitos para preservar o que Deus lhes ensina pelo
Espírito.

Mas não devemos nos enganar, porque nosso coração é terrivelmente mesquinho e
egoísta, e é dele que procedem todos os males que o Senhor descreveu, inclusive a
vontade própria pintada com cores de santidade.

Eu já escrevi sobre a música nestes links:

http://www.respondi.com.br/2009/07/qual-musica-certa-para-o-louvor.html
http://www.respondi.com.br/2010/04/o-cristao-pode-louvar-com-instrumentos.html
http://www.respondi.com.br/2009/03/que-hinos-voce-e-os-irmaos-cantam-nas.html
http://www.respondi.com.br/2005/05/devemos-usar-instrumentos-musicais-na.html
http://www.respondi.com.br/2005/06/o-que-acha-da-msica-gospel.html

Quanto ao que você mencionou do carro de boi, isto é, levar o testemunho de Deus de
uma maneira que o mundo costuma fazer, é preciso um pouco cuidado na hora de
aplicar este princípio a todas as situações. Na passagem em 2 Samuel 6 os israelitas
decidiram trazer de volta a Arca da Aliança, resgatada das mãos dos filisteus,
transportando-a à maneira dos filisteus.

Evidentemente aquilo estava completamente errado, pois havia instruções bem


específicas de como transportar a Arca, e isso era para ser feito por meio de varais
colocados nos ombros dos levitas. Na passagem eles a transportam em um carro de bois,
contrariando a vontade de Deus. Por estar sendo carregada de maneira imprópria, a Arca
pendeu e Uzá tentou ampará-la com as mãos, sendo morto no ato.

Digo que é preciso cuidado na hora de tentar aplicar a passagem a tudo, pois se o
fizermos acabaremos concluindo que levar o evangelho, ou seja, o testemunho de Cristo
neste mundo, está limitado à pregação oral ou manuscrita. Não poderíamos usar
impressos, já que são um meio inventado muitos séculos depois e amplamente utilizado
no mundo, inclusive para pornografia. Não poderíamos usar calendários com fotos
coloridas, pois é um meio também muito utilizado em propaganda. Não poderíamos
usar rádio, TV, Internet, telefone etc. porque tudo isso é a maneira que o mundo utiliza
para comunicar suas ideias.

Creio que a lição da passagem pode ser aprendida e aplicada a muitas situações, mas é
preciso sabedoria. Digo isto porque ali eles estavam usando uma maneira totalmente
contrária às instruções precisas de Deus sobre o assunto. E se tivessem seguindo tim-tim
por tim-tim as instruções de Deus poderiam errar em alguma outra parte. Por que? Veja
o exemplo a serpente de bronze. O próprio Deus ordenou que os israelitas a fizessem em
Números 21, portanto ninguém poderia supor que existisse alguma coisa de errado em
considerar aquele objeto santificado, isto é, separado para Deus. Porém os israelitas
acabaram transformando aquilo em objeto de culto e ela precisou ser destruída em 2
Reis 18:4 porque levou o povo à idolatria.
Creio que se Deus tivesse permitido que a Arca estivesse por aí ela acabaria se
transformando em um ídolo. Na Etiópia existe um templo onde seus sacerdotes dizem
estar a Arca (embora nunca mostrem). Regularmente eles fazem uma procissão com
uma réplica que é adorada pelo povo e aquilo, em termos de idolatria, nada fica devendo
às procissões de Nossa Senhora Aparecida. Portanto o mal não está na coisa em si, mas
naquilo que fazemos com ela. O ídolo, em si mesmo, nada é.

Quanto à música, existem muitos músicos profissionais que são cristãos, como também
existem muitos operários e comerciantes cristãos. Cada um deverá exercer sua profissão
na medida da sua consciência. Se o profissional perceber que seu olho ou mão o faz
desviar, deve arrancá-lo, como no exemplo que o Senhor deu nos evangelhos.

Às vezes é possível adequar a profissão de modo a não desagradar o Senhor ou mesmo


evitar um mau testemunho. Por exemplo, existe um campo amplo para músicos em
propaganda (praticamente todo comercial de rádio ou TV tem música). Filmes,
desenhos animados, cursos multimídia e até telejornais têm música de fundo. Há
também ambientes com música ao vivo, como restaurantes e hotéis onde geralmente são
tocadas músicas românticas (não há nada de errado com uma música romântica ou com
o romantismo entre um homem e uma mulher, que é o tema de Cantares).

Cabe ao músico profissional cristão orar e pedir a direção do Senhor até onde deve ir em
sua profissão. Isso vale para todas as profissões, pois as mesmas indagações terão um
cristão que trabalha numa fábrica de cigarros ou armas, um comerciante que venda
produtos prejudiciais ou que o faça de forma ilegal (às vezes chamamos de “comércio
informal”), e um advogado na hora de defender um cliente ou promotor na hora de
acusar um réu. Eu mesmo tenho que lidar com esses problemas de consciência, por isso
hoje não atendo determinados segmentos (tabaco, armas, partidos políticos e
organizações religiosas, incluindo suas rádios, TVs e editoras).

Sua dúvida é mais abrangente, pois inclui a ideia de evangelizar usando a música. Ore e,
se perceber que é da vontade do Senhor, siga em frente. Mas fique atento para ver se
esse desejo não é apenas pintar um “Cristo Salva” sob a asa do avião, como era no meu
caso. Não queira santificar sua vontade própria, porque aí a coisa não vai funcionar.

Há muitos cristãos que visitam escolas, orfanatos, asilos e prisões e levam sua música
como meio de atrair o interesse das pessoas para o evangelho que costumam pregar
nessas ocasiões. Neste caso a música funciona mais como a foto colorida do calendário
que tem versículos, ou como a abertura da conversa que o Senhor teve com a mulher na
beira do poço, quando pediu a ela um copo de água, assunto que a interessava no
momento (Jo 4), ou como o altar ao “Deus desconhecido” que Paulo usou para puxar
conversa e pregar o evangelho aos gregos (At 17:23).

Nos dois casos foram utilizados elementos comuns ao dia-a-dia das pessoas apenas para
chamar sua atenção para a mensagem que vinha depois. Isso, em comunicação e
publicidade, é chamado de A.I.D.A - Atenção, Interesse, Desejo, Ação. Chamamos a
atenção da pessoa, que pode ser com uma música, uma foto bonita, um tema do
interesse dela etc. Depois despertamos seu interesse e desejo por nossa mensagem até
levá-la a uma ação. Percebe que acabei de utilizar uma técnica utilizada na publicidade
para explicar uma apresentação do evangelho?
Embora alguém possa chamar isso que acabo de fazer de “carro de boi”, não há como
fugir do fato de que a comunicação humana se dá nestes estágios. A diferença é que, nas
coisas de Deus, nós somos meros instrumentos. O verdadeiro “músico” que persuade
deve ser o Espírito Santo a convencer as pessoas do pecado e do juízo e as levam a crer
no Salvador.

Portanto, minha sugestão é que busque saber a vontade do Senhor para sua vida e
profissão, e ele certamente lhe dará a direção a seguir dentro de algo que não seja
meramente pintar um “Cristo Salva” em seu avião. Mas acabo de me lembrar de um
corredor de automóveis que pintava um “Cristo Salva” em seu carro e isso tinha um
grande efeito nos outros corredores e no público que assistia às corridas. Não posso
julgá-lo, pois não sei o exercício que ele tinha com seu Senhor. Mas meu coração está
perto o suficiente de mim para eu saber quando estou querendo enganar a Deus.

Aproveite conversar com outros irmãos sobre a questão da música. Conheço um que às
vezes toca com amigos músicos ou, profissionalmente em restaurantes. Talvez ele possa
ajudá-lo a entender melhor como é que lida com isso. Mas sempre que você encontrar
um irmão fazendo algo de alguma forma, entenda que aquilo é um exercício que ele tem
com Deus e não uma regra de ação que possa servir para você também. Neste sentido
me ocorrem duas passagens:

Joã 21:21-22 Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será?Disse-lhe
Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.

Rom 14:22-23 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele
que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.Mas aquele que tem dúvidas, se
come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.

O problema é maior quando o músico profissional cristão decide usar música para
evangelização de forma profissional, porque daí estará mais sujeito a cair no erro. Tudo
o que fazemos profissionalmente é ditado pelo mercado, por suas necessidades, desejos
e expectativas. Alguém que pregue o evangelho profissionalmente está sujeito a pregar
somente aquilo que as pessoas gostariam de ouvir. Quem publica livros e Bíblias
profissionalmente precisará vigiar, ou acabará publicando má doutrina e Bíblias de
versões ruins porque será o desejo do mercado. E quem vende sua música no mercado
gospel acabará vendendo aquilo que o povo quer comprar, o que nem sempre é aquilo
que Deus deseja. Resumindo, quando o dinheiro toma as rédeas da obra de Deus a coisa
sempre tem um final trágico.

Além disso, o músico cristão que atua profissionalmente é obrigado a “engolir sapos”
quando é contratado para tocar em lugares onde jamais frequentaria de vontade própria,
como “igrejas” de pregadores que fizeram da fé um mercado lucrativo ou que professam
má doutrina.

POSSO USAR DANÇA PARA EVANGELIZAR?

“Os filisteus chamaram os sacerdotes e os adivinhadores, dizendo: Que faremos nós


com a arca do SENHOR? Fazei-nos saber como a tornaremos a enviar ao seu lugar.
(...) Agora, pois, tomai e fazei-vos um carro novo, e tomai duas vacas com crias, sobre
as quais náo tenha subido o jugo, e atai as vacas ao carro, e tirai delas os seus
bezerros e levai-os para casa. Então tomai a arca do SENHOR, e ponde-a sobre o
carro, e colocai, num cofre, ao seu lado, as figuras de ouro que lhe haveis de oferecer
em expiação da culpa, e assim a enviareis, para que se vá”. 1 Samuel 6:2-8

Essa foi a maneira que os sacerdotes e adivinhos dos filisteus ordenaram que fizessem
para que a Arca da Aliança fosse devolvida a Israel, depois de todos os aborrecimentos
que ela trouxe àquele povo. Até aí tudo bem, pois os filisteus não tinham qualquer
obrigação de saber como Deus tinha ordenado que o Seu testemunho fosse levado neste
mundo. A Arca fica algum tempo na casa de Abinadabe até Davi decidir buscá-la. E
como Davi faz isso?

“E levantou-se Davi, e partiu, com todo o povo que tinha consigo, para Baalim de
Judá, para levarem dali para cima a arca de Deus, sobre a qual se invoca o nome, o
nome do SENHOR dos Exércitos, que se assenta entre os querubins. E puseram a arca
de Deus em um carro novo, e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Gibeá; e
Uzá e Aió, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. E levando-o da casa de
Abinadabe, que está em Gibeá, com a arca de Deus, Aió ia adiante da arca. E Davi, e
toda a casa de Israel, festejavam perante o SENHOR, com toda a sorte de instrumentos
de pau de faia, como também com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com
pandeiros, e com címbalos. E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca
de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do SENHOR
se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à
arca de Deus. E Davi se contristou, porque o SENHOR abrira rotura em Uzá; e
chamou àquele lugar Perez-Uzá, até ao dia de hoje. E temeu Davi ao SENHOR naquele
dia; e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR?” 2 Samuel 6:2-9

Apesar de Deus ter dado instruções detalhadas de como a Arca da Aliança devia ser
carregada, Davi preferiu imitar o modo como os filisteus fizeram e isso trouxe juízo
sobre Israel. Em 1 Crônicas encontramos Davi desejando outra vez transportar a Arca,
mas agora do modo correto.

“E Davi convocou a todo o Israel em Jerusalém, para fazer subir a arca do SENHOR
ao seu lugar, que lhe tinha preparado... E disse-lhes: Vós sois os chefes dos pais entre
os levitas; santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do SENHOR
Deus de Israel, ao lugar que lhe tenho preparado. Porquanto vós não a levastes na
primeira vez, o SENHOR nosso Deus fez rotura em nós, porque não o buscamos
segundo a ordenança.... E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus sobre os seus
ombros, pelas varas que nela havia, como Moisés tinha ordenado conforme a palavra
do SENHOR”. 1 Crônicas 15:2-15

Não consegui assistir até o fim o vídeo que você enviou, que mostra um grupo de dança
tentando passar uma mensagem que inclui movimentos violentos, pulsos cortados e
supostos espancamentos, mas nenhuma palavra. Creio que essa forma de testemunhar
das coisas de Deus está mais para o carro de boi dos filisteus do que para o modo como
Deus ordenou que a Sua Palavra fosse transmitida neste mundo, o qual é muito simples:

“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. Rom 10:17Não diz
que “a fé vem pela dança ou dramatização”.
Você poderá alegar que desde os primórdios do mundo Deus se fez ouvir através de sua
Criação, que os céus anunciaram a Sua glória etc., e isso é correto. Acontece que hoje
Deus nos fala de outro modo, e é desse modo que devemos ouvir o que Ele nos diz e
passar adiante a Sua Palavra.

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” Hebreus 1:1

Hoje temos o testemunho do Filho de Deus e temos a Palavra profética que nos foi
deixada pelos apóstolos e profetas.

“E temos, mui firme, a PALAVRA dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos,
como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da
alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que
nenhuma PROFECIA da Escritura é de particular interpretação. Porque
a PROFECIA nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens
santos de Deus FALARAM inspirados pelo Espírito Santo”. 2 Pedro 1:19-21

“PROFECIA” significa algo que foi PROFERIDO ou FALADO da parte de Deus.

Agora você envia o vídeo e quer saber minha opinião sobre o uso da dança como meio
de comunicar a Palavra de Deus. Eu diria que precisaríamos alterar o versículo acima
para adaptá-lo ao modo, por assim dizer, “filisteu” de fazer as coisas. É minha vez de
perguntar: veja se faz sentido para você a leitura do mesmo trecho da seguinte forma:

“E temos, mui firme, a DANÇA dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como
a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva
apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma DANÇA da
Escritura é de particular interpretação. Porque a DANÇA nunca foi produzida por
vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus DANÇARAM inspirados
pelo Espírito Santo”.

A idéia de dança e dramatização como a do vídeo que enviou me faz lembrar de mais
dois versículos:

1 Co 9:26 “Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como
batendo no ar”.

1 Co 14:9 “Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem
inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar”.

Foi isso o que vi no vídeo: gente batendo no ar e gente falando ao ar. E tudo isso num
estilo filisteu emprestado deste mundo numa tentativa de atrair a carne com aquilo que a
carne já está habituada. A idéia não é nova. Constantino, quando oficializou o
cristianismo no Império Romano trocou a roupa dos deuses romanos e os rebatizou com
nomes dos apóstolos. Assim os pagãos poderiam se sentir em casa, adorando os mesmos
deuses que adoravam antes e fazendo de conta que eram cristãos. Quando os rituais
africanos foram trazidos ao Brasil pelos escravos, foi feito o mesmo sincretismo com os
“santos” do catolicismo.

A MULHER NA EVANGELIZAÇÃO
O que acha dessas 'pastoras' que pregam no Youtube?

https://youtu.be/MaE8_tzVX6Q

Você escreveu dizendo que gosta de ouvir minhas mensagens no Youtube, mas também
gosta de assistir vídeos de mulheres cristãs ali para aprender mais da Palavra. Porém seu
marido disse que me ouviu dizer que a mulher não pode ensinar publicamente, e agora
está na dúvida se deve ou não continuar seguindo essas pregadoras. Você ainda
perguntou como poderia falar de Cristo às pessoas sem atropelar o ensino das Escrituras
e sem sair de sua posição de mulher.

Se você falar de Cristo dentro da esfera que Deus determinou para as mulheres não vejo
nada de errado nisso. Vemos Deus usando muitas mulheres na Bíblia, evidentemente
dentro da posição que lhes era devida. Ester, no seu falar ao rei, fez mais pelo povo de
Israel do que muitas mulheres que querem atropelar a posição de discrição e submissão
que lhes é devida. Temos até o exemplo de mulheres que ganham seus maridos para
Cristo sem pronunciar palavra, só pelo seu comportamento. Tem muita feminista por aí
que iria odiar o que tenho em mente para dizer, por isso é melhor que Deus lhes diga em
sua Palavra:

"Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que
também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos
sem palavra; considerando a vossa vida casta, em temor. O enfeite delas [ou seja, o que
as torna atraente e notável] não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias
de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no
incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. Porque
assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus, e
estavam sujeitas aos seus próprios maridos; como Sara obedecia a Abraão, chamando-
lhe senhor; da qual vós sois filhas, fazendo o bem, e não temendo nenhum espanto." (1
Pe 3:1-6).

Mulheres podem testemunhar de Jesus desde que não tomem a frente em pregações
públicas para ensinar doutrina. É assim que entendo. Uma coisa é apresentar Jesus às
pessoas, ou fazer um anúncio de sua morte e ressurreição, como fez Maria Madalena
quando enviada pelo Senhor para falar da ressurreição aos outros discípulos. Outra coisa
bem diferente é se posicionar como pregadora pública ou "pastora", como fazem
algumas mulheres nos púlpitos ou em vídeos na Web.

Existe uma esfera que é apropriada às mulheres para testemunhar do Salvador, como
fazia Priscila sob a autoridade de seu marido Áquila em Atos. Apolo era "instruído no
caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão a
respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de João. Ele, pois, começou a falar
ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áqüila, tomaram-no consigo e,
com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus." (At 18:25-26).

Acredito que Priscila tivesse até maior entendimento das Escrituras que seu marido, e
por isso é citada primeiro em algumas passagens. Eu imagino os três numa conversa em
torno da mesa como um jogo de vôlei, com Priscila levantando a bola e seu marido
Áquila cortando e fazendo ponto. Marido e mulher juntos fazem um excelente time para
falar do evangelho, cada um mantendo seu lugar e contexto, com o marido encabeçando
o jogo.

A Palavra de Deus prevê uma esfera de ensino adequado às mulheres em Tito 2:3-5:
"Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não
caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de
instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem
sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra
de Deus não seja difamada.".

Mas talvez nem todas essas mulheres que você escuta no Youtube estejam só ensinando
as mais jovens a serem fieis aos seus maridos, cuidarem de seus filhos, tudo dentro de
uma perspectiva cristã. Também nem todas elas estão falando mensagens devocionais
de conforto espiritual para mulheres, ou contando histórias bíblicas para crianças, como
devem ter feito a mãe e avó para o pequeno Timóteo. Talvez essas mulheres, algumas
até adotando títulos errôneos de "pastora", "bispa" e "apóstola", estejam explicando a
Bíblia e suas doutrinas, o que faz delas mulheres agindo em insubordinação à Palavra de
Deus que as proíbe de ensinar.

Existem muitas mulheres que escreveram bons livros com mensagens devocionais de
conforto espiritual, histórias para crianças, biografias de personagens da Bíblia e
também dicas práticas para a mulher cristã no relacionamento com o marido e educação
dos filhos. Tenho em casa uma excelente biografia de Eliseu em tom devocional
("Elisha, God's Messenger of Grace") escrito por Mrs. O. F. Walton, um nome com
vários títulos na Amazon de livros dirigidos a mulheres, crianças e adolescentes. O
nome dela era Amy Catherine Walton, e viveu entre 1849 e 1939. O "Mrs." antes das
iniciais e sobrenome do marido indica que era casada com Octavius Frank Walton.

Autoras como essa não saíram do lugar que Deus designou para elas para exercerem seu
dom. Se você gravar um vídeo ou áudio lendo o que essas autoras escreveram eu não
entenderia como se estivesse saindo da posição que Deus determinou às mulheres.
Existem boas gravações de histórias bíblicas narradas por mulheres, ou mesmo poemas
e hinos escritos por mulheres que hoje cantamos às vezes sem saber sua origem.

Fanny Crosby, que viveu no século 19, deixou uma série de letras de hinos que hoje
ocupam lugar de destaque nos hinários usados entre cristãos, mas pouca gente sabe que,
apesar de cega, sua produção de hinos e poemas era tão grande que os editores usavam
diferentes pseudônimos, a maioria masculinos, para lançar seus livros e poder
comercializá-los. Entre seus hinos mais famosos estão: "Blessed Assurance," "All the
Way My Savior Leads Me," "To God Be the Glory," "Pass Me Not, O Gentle Savior,"
"Safe in the Arms of Jesus," "Rescue the Perishing," and "Jesus Keep Me Near the
Cross.". Talvez eles façam parte do hinário que você usa, porém com nomes em
português.

Hoje quando uma mulher se propõe a apresentar o que escreve ou lê na Web ela pode
sofrer com a falta de compreensão de alguns, por isso ela precisa também ter sabedoria
no modo como faz. Ainda que o assunto seja adequado para uma mulher falar, de
mulher para mulher, estamos falando agora de uma rede pública. Mas alguém poderia
argumentar que uma livraria que exponha os livros de uma autora cristã também estaria
tornando pública a sua obra, o que não posso contestar.

Mas acho que é possível perceber quando uma mulher assume uma posição de
independência do marido ao pregar em público ou ensinar homens dentro de um escopo
que não lhe cabe. Aí ela estará agindo totalmente fora de sua posição e nenhum galardão
irá colher disso, por mais que Deus possa usar sua Palavra para converter pessoas.
Entenda sempre que o vaso não é nada, e o poder todo vem da Palavra de Deus.

Quando uma mulher assume uma posição pública de independência e invade áreas que
podem ser consideradas de ensino de doutrina, por ser a mulher mais suscetível ao erro
e ao engano de Satanás, como foi Eva, ela sem saber pode estar introduzindo heresias
destruidoras em seu discurso e desviando a muitos da verdade. A mulher sábia saberá
ler e interpretar corretamente a passagem de 1 Timóteo. Mas aquela que atropelar esta e
outras que falam do lugar da mulher nas escritura e se posicionar publicamente como
"pastora", "bispa", "apóstola" ou "pregadora", só por isso já terá demonstrado sua total
incapacidade de ensinar, visto que nem ela aprendeu ainda o seu lugar.

"A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro,
foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada,
caiu em transgressão." (1 Tm 211-14).

RECURSOS VISUAIS NA EVANGELIZAÇÃO DE CRIANÇAS

O que acha de recursos visuais para criancas na escola dominical?

https://youtu.be/8ndV1nVQCYw

Você quer saber o que eu acho de recursos visuais usados para crianças na escola
dominical, como vídeos, tetro de fantoches, peças teatrais etc., e se isso poderia ajudá-
las a entender melhor a mensagem do evangelho.

Já fiz teatrinho de marionetes para crianças e depois me arrependi, porque ficou muito
divertido falar do juízo de Deus de forma engraçadinha, quando é um assunto muito
sério. Além disso percebi que o interesse maior ficou no visual dos bonecos e não na
mensagem, que é o que deve predominar em toda apresentação do evangelho. Então
cabe a quem usar de recursos assim fazê-lo com sabedoria.

Não vejo problemas em usar certos recursos visuais, como objetos tangíveis para
chamar e prender a atenção das crianças. A atenção delas é bastante volátil, mas sua
curiosidade faz com que mantenham os olhos fixos em um objeto qualquer esperando
saber a razão de ele estar sendo mostrado ali.

É possível, por exemplo, usar um galho de árvore para falar do lenho lançado na água
para fazer o machado flutuar em 2 Reis 6. Pode-se também mostrar uma tangerina para
falar do fruto do Espírito de Gálatas 5, que é um, mas com muitas características. Uma
ovelhinha de pelúcia serve para falar do Salmo 23 e de muitas outras passagens
envolvendo ovelhas. Uma panela com um pouco de farinha serve para contar a história
da viúva de Sarepta em 1 Reis 17.

Uma pequena moringa de barro, cheia de bijuterias, cria um grande efeito ao ser
quebrada na frente das crianças para revelar o "tesouro em vasos de barro" de 2
Coríntios 4:7. Sementes variadas servem para ilustrar histórias que falam de sementes,
um pezinho de feijão cultivado no algodão mostra como a semente precisa morrer para
criar muitas outras sementes. Uma vez ministrei uma pregação para crianças enrolado
num tecido velho, sujo e podre, que perdia pedaços à medida que rasgava, para falar do
filho pródigo.

Tenho sempre uma história na manga para contar a crianças de algum lugar onde esteja
visitando. Por exemplo, se tiver uma Bíblia de capa preta, beira dourada e fita
marcadora vermelha, aponto para a beira dourada e começo a deixá-las curiosas para
saber como é o céu onde há tesouros escondidos em Cristo. Então mostro a capa preta e
falo de nossa condição de pecadores sujos e perdidos, incapazes de entrar no céu
(aponto para a beira dourada) enquanto a Palavra de Deus está "fechada" para nós.
Como chegar lá?

É aí que aponto para a fita vermelha e pergunto se as crianças sabem o que é que tem
cor vermelha. Alguma criança acaba falando de sangue, e pego o gancho para falar do
poder purificador do sangue de Cristo derramado na cruz. Então pego a fita vermelha do
marcador e abro a Bíblia com grande pompa, para mostrar que é o sangue de Cristo que
nos purifica de todo pecado e nos dá acesso ao céu (a beira dourada) porque esse sangue
nos deixa brancos como a neve (as páginas internas). Obviamente sempre abro numa
página onde existe um versículo significativo para encerrar a mensagem.

E se não tenho uma Bíblia assim disponível? Bem, aí uso algo que costumo levar em
todo lugar: minha mão. Uso de meu punho fechado para perguntar se não se parece com
uma grande rocha, como um monte rochoso, induzindo as crianças a dizerem que sim.
Então vou levantando três dedos um a um e pergunto se eles sabem o que aconteceu em
um monte rochoso chamado Calvário onde foram fincadas três cruzes.

As crianças imediatamente fazem a associação de meu punho com a crucificação, e


pode ter certeza de que elas estão visualizando a cena muito bem. Então vou
perguntando quem estava nesta cruz (aponto para o dedo do meio), e quem estava nas
outras duas. Falo do malfeitor que se converteu e de como foi imediatamente aceito pelo
Senhor Jesus (dois dedos se entrelaçam nesta hora num abraço).

Então mostro meu polegar e como ele é gordo comparado aos outros dedos, e falo que
que assim é o pecador cheio de pecados. Aí mostro o dedo mindinho para falar de como
passamos a ser como um bebê quando nascemos de novo. Para finalizar pergunto a elas
se sabem o que significa o polegar para cima e elas sabem que é positivo, algo bom. E o
polegar para baixo? Negativo, ruim. Céu e inferno.

Percebe que podemos usar de coisas muito simples para atrair a atenção das crianças?
Crianças têm uma excelente imaginação. Dê a uma criança uma caixa de sapato vazia e
um barbante e em minutos ela estará puxando um caminhãozinho. Até para falar aos
seus discípulos o Senhor Jesus tomou de um menino e colocou no meio deles dizendo
que deviam ser como crianças para entrar no reino dos céus. Em outra ocasião ele usa
uma moeda. A própria ceia do Senhor foi instituída com duas coisas tangíveis, pão e
vinho, para representar sua morte. O tabernáculo no deserto, com todos os seus
utensílios, eram representações tangíveis de coisas celestiais.

Em comunicação e marketing existe um conceito chamado AIDA, que são as iniciais de


Atenção, Interesse, Desejo e Ação. Uma boa mensagem do evangelho, seja para
crianças ou adultos, deve começar chamando a Atenção (começando com uma história
qualquer, um objeto, uma notícia), depois criar Interesse, levar ao Desejo e finalmente
convidar os ouvintes a uma Ação, que neste caso é a de crer em Jesus. Veja que o
auxílio visual deve apenas chamar a Atenção. O Interesse, o Desejo e a Ação devem ser
criados pela narrativa, e tenha sempre em mente que Evangelho sem sangue não é
Evangelho.

Algumas pessoas usam desenhos animados de histórias bíblicas para entreter as


crianças, mas na minha opinião é um erro, pois eles são feitos muitas vezes por
incrédulos visando lucro e trazem muitas distorções. Você conhece a parábola do filho
pródigo, e deve saber também que quem sai correndo ao encontro do filho é o pai, que
lhe dá um abraço apertado. Num desenho animado da mesma parábola quem saía da
casa correndo para encontrar o filho era um cãozinho, que pulava em seus braços e
lambia seu rosto. Pode ser muito bonitinho para um desenho animado, mas destrói a
parte mais bela do ensinamento da parábola.

Juntando tudo, ainda acredito que nada pode substituir uma história bem contada,
mesmo sem recursos audiovisuais muito elaborados. O Senhor e seus discípulos
contaram histórias que estão aí até hoje, e elas não apelavam para os sentidos da carne,
mas principalmente para a consciência. Hoje o Espírito Santo está no mundo tocando as
consciências, O poder está na PALAVRA de Deus, aplicada pelo Espírito Santo, e não
nos recursos que possamos usar.

"Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o
Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier,
convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não creem
em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque
já o príncipe deste mundo está julgado." (Jo 16:7-11).

Mas não pense que exemplos e objetos podem ser usados apenas na evangelização de
crianças. Conheci um idoso que costumava frequentar as reuniões de estudo bíblico
numa cidade vizinha. Embora não participasse ativamente das reuniões, gostava de
ouvir a Palavra de Deus, cantava os hinos junto com os irmãos e dava o seu "Amém"
quando alguém terminava de orar. Mas parecia faltar algo, parecia faltar uma
compreensão real da obra que Cristo consumou na cruz. Faltava dar um passo de fé,
reconhecendo-se pecador e crendo Cristo, o Salvador.

Uma vez ele veio para uma conferência bíblica em minha cidade, trazido por seu filho.
Na escola dominical que ministrei às crianças, não reparei nele, mas o Espírito Santo
sim. Para ilustrar o que falava, levei um pequeno vaso com uma flor. O texto era 1
Pedro 1:24: “Toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva.
Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E
esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.”.
Tendo nas mãos aquela plantinha, falei da fragilidade de nossa vida neste mundo.
Bastaria aquele vaso ficar sem água ou ser exposto ao sol quente e aquela bela flor logo
se transformaria em palha seca pronta para ser queimada. E, em nosso caso, a morte e a
condenação eterna eram coisas inevitáveis se não aceitássemos a solução que Deus
providenciou: Cristo morrendo para pagar nossos pecados.

Deixei claro para as crianças que bastava crer em Cristo para receber a salvação
gratuita, e que isso precisava ser feito o quanto antes. Nunca sabemos quando nossa
vida irá murchar e secar como a flor. Tendo dito isto, mostrei a elas outra plantinha
semelhante, porém completamente seca. Era uma figura marcante do pecador sem
Cristo.

Quando terminei de falar, cantamos mais alguns hinos, fiz uma oração e saí do salão. Já
no corredor, fui surpreendido por uma mão que pousou em meu ombro e alguém me
chamou pelo nome. Voltei-me para ver aquele senhor que tantas vezes eu tinha
encontrado nas reuniões. Agora, porém, seus olhos estavam úmidos e seu semblante
irradiava alegria. As duas únicas palavras que me falou naquele momento com voz
embargada continuam frescas em minha memória:

– Agora entendi! – disse ele.

Eu sabia que muitas outras coisas estavam incluídas naquelas poucas palavras. Elas
podiam muito bem significar “Agora cri”, “Agora aceitei a Cristo como meu Salvador”,
“Agora sei que sou um pecador salvo”, “Agora reconheço que ele levou sobre a cruz os
meus pecados”, “Agora sou feliz!” ou “Agora tenho paz”. Qualquer uma dessas
expressões tinha um só significado: Deus operando no coração de uma alma aos pés do
Salvador. Eu estava diante de um homem velho que acabava de sair de uma pregação
para crianças com uma vida nova e radiante. Seu corpo, já gasto pelos anos, era de um
velho, mas seu olhar denunciava o que ele agora realmente era: uma criança em Cristo.

Ainda pude encontrar aquele senhor outras vezes, até o dia em que seu filho me
telefonou para avisar que ele acabara de partir para o céu. Na noite anterior havia
fechado seus olhos para dormir e foi abri-los outra vez, não mais neste mundo, mas na
presença do seu Salvador. Então, ao invés de dizer, “Agora entendi”, ele podia dizer
“Agora vi!”.

“Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a terra. E
depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne, verei a Deus. Vê-
Lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros o contemplarão.” Jó 19.25-27

COMO EVANGELIZAR UM JUDEU

Como convencer um judeu da Trindade?

https://youtu.be/ftqjvztMkZE

Você escreveu dizendo que está tentando evangelizar um judeu, mas ele não aceita a
Trindade. Então pergunta: "Como fazer para convencê-lo de que Deus é Pai, Filho e
Espírito Santo?". Se você convencer seu amigo judeu de que Deus é Pai, Filho e
Espírito Santo ele será apenas mais um perdido no lago de fogo que sabe disso em seu
intelecto. Afinal, a maioria das pessoas da cristandade, que foi batizada em nome da
Trindade Pai, Filho e Espírito Santo, responderia corretamente a um teste acadêmico
sobre isso sem nunca ter crido verdadeiramente no Salvador.

Pregar o Evangelho não é convencer alguém das doutrinas fundamentais do


cristianismo, e sim levar a pessoa à cruz, ao crucificado, à fé em Jesus, o único que pode
limpar todos os pecados do pecador. Foi para isso que ele morreu naquele madeiro de
maldição, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. O ensino das doutrinas vem
depois. Quando evangelizar alguém, tenha sempre em mente esta passagem:

"Estas três coisas me maravilham; e quatro há que não conheço: O caminho da águia no
ar; O CAMINHO DA COBRA NA PENHA; o caminho do navio no meio do mar; e o
caminho do homem com uma virgem." (Pv 30:18).

O que tem de maravilhoso no caminho da cobra ou serpente na penha? Ali é possível


vê-la por completo, serpenteando rápida em busca de um arbusto onde possa se ocultar,
exposta aos predadores, sem nada que possa camuflá-la. Penha significa rocha e Rocha
é Cristo. A cobra representa a mesma serpente que enganou o homem e continua
enganando todos os que ainda estão na incredulidade, pois andam segundo o príncipe
deste mundo, o espírito que atua nos filhos da desobediência (Efésios 2).

Entenda que o evangelismo começa com você lidando com duas coisas: a serpente e a
Rocha. Concentre-se nestas duas coisas e você não irá errar, pois não irá se deixar levar
pelos argumentos de seu interlocutor. Este estará sob o domínio da serpente e irá querer
levar a conversa para o mais longe possível da Rocha.

Sabe como você mata uma cobra? Não é tentando acertá-la na cabeça enquanto ela está
no meio dos arbustos ou do capim alto, porque ela acabará escapando. Você não faz
ideia de como uma cobra é rápida quando decide correr, ou melhor dizendo, fugir
serpenteando. A técnica então é usar uma vara ou enxada para primeiro arrastá-la para o
terreno aberto, de preferência uma rocha, porque ali não terá como se esconder entre
ramos e folhas. Ela ficará exposta e vulnerável o suficiente para você mirar e acertar
direto sua cabeça, que é onde fica o veneno que causa torpor e morte em suas vítimas.

Quando você começa a evangelizar alguém a pessoa é propensa a querer se esconder


entre os arbustos dos argumentos humanos, das suas próprias obras, das acusações
contra todas as barbaridades feitas por cristãos nos últimos dois mil anos e mais um
milhão de coisas. Não se intimide com isso e nem perca seu tempo querendo ensinar a
Bíblia a ela; traga sempre a conversa para a Rocha, que é Cristo, e fique batendo sempre
na mesma tecla da obra na cruz, porque enquanto a pessoa não crer isso não lhe
parecerá ser uma repetição.

Aos coríntios, que eram gregos que gostavam de perder tempo filosofando, Paulo
deixou claro que a mensagem que levou a eles foi simples e direta: "Também vos
notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e
no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-
lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o
que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que
foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." (1 Co 15:1-4).
Uma vez, evangelizando uma jovem, perguntei para onde ela iria se morresse naquele
momento. Respondeu que não sabia, mas que procurava viver uma vida honesta, não
fazer mal a ninguém etc. então preguei o evangelho a ela deixando claro que a salvação
é somente pela fé em Cristo, e não por boas obras, e crendo nele ela podia ter a certeza
de vida eterna. Então perguntei: "Entendeu?", ao que ela respondeu que sim. Perguntei
se ela tinha certeza de que iria para o céu e ela também respondeu que sim. Então
perguntei: "Em quê você se baseia para ter essa certeza?". Ela respondeu: "Procuro fazer
o melhor que posso, não prejudicar ninguém... etc. etc.".

Comecei de novo repetindo tudo e fiz a mesma pergunta e ela respondeu do mesmo
jeito. Tentei outra vez e o resultado foi igual. A cada vez que eu lhe falava da salvação
por graça ela não percebia que eu estava repetindo e respondi a mesma coisa, de uma
salvação que ela acreditava ser por sua conduta. Portanto não se preocupe em ficar
martelando o mesmo prego, batendo na mesma tecla, porque enquanto ela não crer
aquilo entrará por um ouvido e sairá pelo outro. Como acontecia com os religiosos
judeus para os quais Jesus parecia estar falando em sânscrito quando lhes mostrava o
caminho da salvação:

"E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz,
nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que
ele enviou não credes vós. Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam. Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter
nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para
terdes vida... Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim
escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?...
Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes... Mas, porque vos
digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo
a verdade, por que não credes? Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós
não as escutais, porque não sois de Deus... Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras
que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque
não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a
minha voz." (Jo 5:37-40, 46-47; 6:36; 8:45-47; 10:25-27).

A fórmula é apresentar a Cristo e sua obra completa na cruz, sua morte e ressurreição, e
não esperar que seu interlocutor faça um curso de Bíblia. Quando os judeus
questionaram o cego que tinha sido curado, inclusive acusando Jesus de ser pecador, sua
resposta diz tudo: "Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego,
agora vejo." (Jo 9:25). A salvação é pela fé na Pessoa e obra de Cristo, e não pelo
acúmulo de conhecimento sobre quem ele é.

O jornalista especializado em economia diz que o valor das Bitcoin, a criptomoeda


digital, subiu ou caiu e você acredita. Acaso já viu uma bitcoin? Pegou uma na mão?
Não, mesmo assim você crê no testemunho do especialista. O evangelho autêntico exige
que a pessoa creia em Cristo, a quem essa pessoa nunca viu, mas que chega até ele pelo
testemunho dos apóstolos nas páginas das Sagradas Escrituras. O apóstolo João
escreveu:

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi
manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que
estava com o Pai, e nos foi manifestada); o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos."
(1 Jo 1:1-3).

Portanto, a evangelização é toda ela baseada na Palavra de Deus revelada aos apóstolos
e no testemunho desses mesmos apóstolos. Não no que eles poderiam ter dito de si
mesmos, mas no que falaram e escreveram de Jesus, o Cristo de Deus. E nunca perca de
vista que o poder para a conversão do pecador não estará na sua oratória, no seu
testemunho de vida, nas técnicas de persuasão que você possa usar. O testemunho está
na Palavra de Deus e é por isso que deve citá-la continuamente, mesmo sem citar o
livro, capítulo ou versículo em que está aquela citação.

Temos o costume de dizer a um incrédulo que nunca teve um contato com a Bíblia ou
com a terminologia cristã coisas do tipo, "A Palavra diz em 1 Coríntios...", pois uma
pessoa menos informada não saberá entender o que significa essa tal "Palavra" e achará
que "Coríntios" é time de futebol. Simplesmente fale do jeito que você sempre fala de
forma clara para a pessoa entender:

"Cara, veja que maravilha o que Jesus prometeu! Ele disse que quem ouve a palavra
dele, e crê em Deus que o enviou, tem a vida eterna, não passará pelo juízo, mas passou
da morte para a vida! E ele disse isso porque Deus amou tanto — mas tanto mesmo! —
as pessoas, que entregou o seu próprio Filho para ser morto, para que todo o que crê
nele não seja condenado, mas tenha a vida eterna! Isso mesmo, Deus não enviou seu
filho ao mundo para julgar o mundo — pelo menos não desta vez — mas para salvar. E
isso porque quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus! Que tal crer nisso?".

Ainda que eu não tenha feito nenhuma citação de livro, capítulo e versículo, você saberá
reconhecer que tudo isso está na sua Bíblia. Você não precisa ter uma Bíblia enorme
aberta na mão, estar de terno e gravata, e fazer voz mansa de padre com sotaque alemão,
ou berrar como fazem alguns pastores achando que as pessoas são surdas. Fale com a
sua voz, com o seu sotaque, do jeito que você fala todos os dias. Porque o poder não
está em você, está na Palavra de Deus que você vai pulverizar sobre seu interlocutor
introduzindo aqui e ali passagens da Bíblia mesmo que ele não perceba de onde você as
tirou.

Lembre-se: "O evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê... De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir [ou capacidade de ouvir] pela
palavra de Deus... Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que
espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas
e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há
criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar." (Rm 1:16; 10:17; Hb 4:12-13).

Veja como Paulo deixa claro que não tinha sido dele o poder, a persuasão ou as palavras
que levaram os cristãos de Corinto, na Grécia, a se converterem a Cristo quando Paulo
teve contato com eles da primeira vez em Atos 18. Mais tarde aos coríntios, já
convertidos e orgulhosos do conhecimento que tinham, ele escreveria fazendo questão
de refrescar a memória deles:
"E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui
com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós,
senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor,
e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para
que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." (1 Co
2:1-5).

Mais uma coisinha: Quando alguém para quem você pregou se converter, não saia por
aí se gabando do "peixe" que pegou, nem faça uma marca na coronha de sua espingarda
ou cole um adesivo na lateral de seu avião de guerra como fazem pescadores, caçadores
e soldados. A mensagem do Evangelho é cumulativa e a pessoa pode ter escutado lá
atrás, quando criança, de uma mãe, tia ou avó, depois recebeu um folheto na rua, leu,
deu pouca atenção, mas a pulga ficou lá adormecida atrás da orelha, então vieram mais
alguns inputs de diferentes pessoas e situações, até você ter pingado a gota d'água.

"Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o
que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por
isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o
crescimento." (1 Co 3:5-7).

]Voltando à sua dúvida de como evangelizar seu amigo judeu, o Cordeiro sacrificado é
o melhor ponto de partida para se pregar a um judeu, mais até do que a um pagão que
precisará antes saber que Deus existe. O judeu já tem toda a bagagem intelectual
religiosa relacionada ao Cordeiro e aos sacrifícios que apontavam para o "Eis o
Cordeiro de Deus", a única frase que João Batista precisou dizer para perder dois de
seus próprios discípulos para Jesus. André, um deles, só precisou dizer a seu irmão
Simão "Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)" e pronto. (João 1:35-41). Eles,
que tinham sido criados no judaísmo, já tinham todas as peças na memória para
completar o quadro, algo que um gentio ou pagão não teria.

Antigamente eu costumava comprar e distribuir um folheto (Sociedade Brasileira de


Folhetos ou Imprensa Bíblica talvez) que tinha por título "Onde está o sangue?". Nele
um judeu anônimo e convertido a Cristo contava sua história de angústia e ansiedade.
Nunca mais vi esse folheto e acredito que nem seja mais publicado em português, por
isso vou traduzir aqui o texto do original inglês:

Onde está o Sangue?

Nasci na Terra Santa, há quase setenta anos. Quando criança, aprendi a ler a Lei, os
Salmos e os Profetas. Frequentei a sinagoga e aprendi hebraico dos rabinos. No começo
acreditei no que me disseram, que a nossa era a verdadeira e única religião, mas, à
medida que cresci e estudei a Lei mais atentamente, fiquei impressionado com o lugar
que o sangue tinha em todas as cerimônias delineadas lá, e eu estava igualmente
impressionado pela ausência absoluta disso nas tradições do judaísmo moderno.

Costumo ler Êxodo 12 e Levítico 16-17, e os capítulos deste último em especial me


fizeram tremer, enquanto pensava no grande Dia da Expiação e no lugar que o sangue
ocupava. Dia e noite um verso tocaria meus ouvidos. "É o sangue que faz expiação pela
alma" (Levítico 17:11). Eu sabia que tinha transgredido a lei. Eu precisava de expiação.
Ano após ano, naquele dia, eu batia em meu peito quando confessava minha
necessidade, mas era preciso sangue e não havia sangue!

Em minha angústia, finalmente, abri meu coração para um rabino culto e respeitado. Ele
me disse que Deus estava bravo com o Seu povo. Jerusalém estava nas mãos dos
gentios, o templo fora destruído, e uma mesquita muçulmana construída em seu lugar. O
único lugar na terra em que ousaríamos derramar o sangue do sacrifício, de acordo com
Deuteronômio 12 e Leviticus 17, fora profanado, e nossa nação espalhou-se. Era por
isso que não havia sangue. Deus mesmo havia fechado o caminho para realizar o
serviço solene do grande dia da expiação. Agora devíamos recorrer ao Talmude e
descansar nas instruções e confiar na misericórdia de Deus e nos méritos dos patriarcas.

Tentei ficar satisfeito, mas não consegui. Algo parecia dizer que a lei continuava
inalterada, mesmo que nosso templo tivesse sido destruído. Nada além de sangue
poderia expiar a alma. Não nos atreveríamos a derramar sangue por expiação, a não ser
no lugar escolhido pelo Senhor. Teríamos nós ficado sem qualquer expiação? Este
pensamento me encheu de horror. Em minha angústia consultei muitos outros rabinos.
Eu só tinha a grande pergunta: "Onde posso encontrar o sangue da expiação?"

Um ancião judeu disse: "Durante a semana da Páscoa, meus irmãos judeus, vocês terão
afastado todo fermento de suas casas; Vocês comerão o "motsah" (bolachas sem
fermento) e o cordeiro assado. Vocês irão assistir aos cultos na sinagoga e realizar o
ritual e as instruções do Talmud, mas vocês esquecem, meus irmãos, que vocês têm
tudo menos o que Jeová exigiu em primeiro lugar. Ele não disse: "Quando vejo o
fermento guardado, ou quando vejo vocês comerem o motsah, ou o cordeiro, ou irem à
sinagoga", mas a palavra dele foi: "Quando eu vir o sangue, passarei por vocês" (Êxodo
12:13). Ah, meus irmãos, vocês não podem substituir nada por isso. Vocês devem ter
sangue, sangue, SANGUE! "

"Sangue". É uma palavra terrível para quem reverencia o Talmude e ainda não tem o
sacrifício. Ele fala constantemente sobre o sangue, mas "o sangue" está faltando no
judaísmo de hoje.

Uma noite eu estava caminhando por uma das ruas estreitas da cidade, quando vi um
sinal anunciando uma reunião para judeus. A curiosidade me fez entrar. Tão logo me
sentei, ouvi um homem dizer: "O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo
pecado" (1 João 1: 7). Foi minha primeira introdução ao cristianismo, mas eu escutei
sem fôlego quando o homem que falava explicou como Deus havia declarado que "sem
derramamento de sangue não há remissão" (Hebreus 9:22), mas que Ele havia dado Seu
Filho unigênito, o Cordeiro de Deus, para morrer, e todos os que confiam no Seu sangue
são perdoados de todas as suas iniqüidades. Aquele era o Messias de Isaías 53; era o
Sofredor do Salmo 22. Ah, meus irmãos, finalmente achei o sangue da expiação.
Confiei nisso, e agora eu adoro ler o Novo Testamento e ver como todas as sombras da
lei se cumprem em Jesus. Seu sangue foi derramado pelos pecadores. Ele satisfez a
Deus, e é o único meio de salvação para judeus ou gentios.

Traduzido de: "Where is the blood?"

por Mario Persona


DEVEMOS OU NÃO PREGAR ARREPENDIMENTO

Devemos ou nao pregar arrependimento?

https://youtu.be/wQEDFKm5wGU

Você leu um texto ou viu um vídeo onde eu dizia que o evangelho pregado aos judeus
começava falando de arrependimento, mas quando era pregado aos gentios só falava de
crer em Cristo. Todavia você encontrou nos capítulos 17 e 26 de Atos passagens que
pareciam indicar outra coisa, pois ali o arrependimento parece ter sido pregado para a
conversão de gentios.

A palavra grega usada para arrependimento tem dois sentidos. Um é o de sentir remorso
pelo que fez, e é este o arrependimento que se exigia dos judeus. Primeiro, na pregação
de João Batista, por terem se afastado da Lei de Deus e criado tradições que
invalidavam os mandamentos de Deus, e depois, na pregação em Atos, por terem
matado o Messias de Israel.

"E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos
demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e
recebereis o dom do Espírito Santo." (At 2:37-38).

"O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho
Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele
determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos
desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou
dentre os mortos, do que nós somos testemunhas... E agora, irmãos, eu sei que o fizestes
por ignorância, como também os vossos príncipes. Mas Deus assim cumpriu o que já
dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de
padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos
pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, e envie ele a
Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado." (At 3:13-20).

Já em Atos 17, quando Paulo prega aos gentios em Atenas, entendo que o sentido era
outro, pois ali o assunto era a idolatria. Então quando eu disse que existem dois sentidos
para a palavra arrependimento, o outro é o de mudança de atitude, pois aqueles gentios
pagãos não poderiam conhecer o Deus verdadeiro se continuassem adorando seus
ídolos.

"Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em


tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de
vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS
DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu
vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu
e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos
humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida,
respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face
da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua
habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não
está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como
alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo, pois,
geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou
à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta
os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se
arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça,
por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre
os mortos." (At 17:22-31).

Repare que em sua mensagem Paulo não chega nem mesmo a mencionar o nome de
Jesus quando fala de ressurreição, pois precisava antes pavimentar o caminho para
aqueles pagãos entenderem que há um só Deus. Eles precisavam primeiro escutar isso,
algo desnecessário de se pregar a um judeu que já era instruído a crer em um único
Deus. Os gentios também precisavam saber que não poderiam abraçar o Deus
verdadeiro sem antes reconhecer que estiveram até então adorando deuses falsos. Então
esse tipo de pregação é de "puxar o tapete", ou seja, para que eles deixassem (se
arrependessem) de confiar nos ídolos para se converterem ao Deus vivo.

A outra passagem que você citou, em Atos 26:20, fala de obras dignas de
arrependimento, ou seja, que são consequência de uma conversão real. Obviamente
sempre que alguém se converte é levado ao arrependimento, seja ele judeu ou gentio,
porque todos têm de que se arrepender, e isso faz parte do sentimento de vergonha pela
nossa condição. A diferença está na mensagem aos judeus que tinha esse aspecto que
expliquei.

"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei
primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos
gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de
arrependimento." (At 26:19-20).

Arrepender-se é ir contra a natureza humana, que quer sempre estar com a razão. Para
se arrepender você precisa admitir que falhou, e seu ego não vai gostar nada disso. Você
pode até fazer algo para reparar o dano e mesmo assim não estar arrependido, como
quando paga uma multa de trânsito. Você sente-se mal pelo dinheiro que gastou, mas
não pela infração que cometeu.

Existe também um terceiro tipo de arrependimento que é necessário quando pecamos.


Nosso primeiro impulso é jogar a culpa em alguém, e isso não vem de hoje. Eva jogou a
culpa na serpente: “A serpente me enganou, e eu comi.” (Gn 3:13). Adão culpou a
mulher e o próprio Deus: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da
árvore, e comi.” (Gn 3:12). Colocar a culpa no outro é um instinto carnal, mas julgar a
si mesmo e se considerar culpado só é possível como resultado da graça operada por
Deus na alma, algo contrário à natureza humana. Então em todas as situações o
verdadeiro arrependimento deve partir de Deus, não do homem. A este cabe apenas
acatar aquilo que Deus está operando em sua alma.

Três coisas nos levam ao arrependimento, e repare que nenhuma delas vem do homem,
mas de Deus: a bondade de Deus, o juízo futuro vindo de Deus e a tristeza segundo
Deus:
"Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade,
ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).

"Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em
que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu
certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (At 17:30-31).

“Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para
arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não
padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera
arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo
opera a morte.” (2 Co 7:9-10).

O arrependimento genuíno é um exercício profundo de alma, como descreve o profeta


Jeremias, e aqui você percebe que ele aparece depois da conversão, e não antes: “Na
verdade que, depois que me converti, tive arrependimento; e depois que fui instruído,
bati na minha coxa; fiquei confuso, e também me envergonhei; porque suportei o
opróbrio da minha mocidade.” (Jr 31:19).

O arrependimento verdadeiro gera uma mudança de atitude, mas o falso é apenas uma
fuga das consequências, como acontece com o bandido que se diz arrependido só
porque foi preso. Ao tratar com os fariseus e saduceus, que só tinham aparência de
piedade, João Batista os alertou da necessidade de demonstrar o arrependimento na
prática: “Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que mostre
o arrependimento!” (Mt 3:7).

Um arrependimento genuíno não leva a pessoa a fugir de Deus, mas a permanecer na


presença dele em total reconhecimento de sua culpa. Os judeus que levaram a mulher
adúltera para ser apedrejada por Jesus fugiram quando suas consciências foram tocadas
pela Palavra do Senhor: "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que
atire pedra contra ela." (Jo 8:7).

A mulher, por sua vez, permaneceu diante daquele que tinha poder e autoridade para
apedrejá-la como mandava a Lei. No entanto recebeu palavras de perdão e graça. "E,
endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher,
onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém,
Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais." (Jo
8:10-11).

COMO EVANGELIZAR QUANDO SE TEM DIFICULDADE DE COMUNICAÇÃO

Como evangelizar se tenho dificuldade em me comunicar?

https://youtu.be/jydfGt2Cc_c

Você escreveu perguntando como falar do evangelho a alguém, se tem dificuldade em


se comunicar. Também perguntou se a solução seria convidar a pessoa a ir a alguma
igreja ou congregação. Não, evangelizar não é convidar alguém para ir a uma igreja,
embora pessoas tenham escutado a Palavra de Deus em igrejas e tenham se convertido,
não por causa da igreja ou do pregador, mas por causa do poder que há na Palavra de
Deus.

Lembre-se sempre disto, não é você, sua capacidade de oratória ou sua experiência e
cultura cristã que fazem alguma diferença na conversão de um pecador. O Segredo é "o
evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Rm
1:16). Uma pessoa com boa oratória pode tornar uma apresentação interessante, um
contador de histórias evitar que a audiência durma, e alguém com boa dicção e voz
potente fazer com que todos escutem com clareza. Mas o poder mesmo está na Palavra
de Deus, então apenas um versículo da Bíblia que você venha a citar em sua conversa
poderá fazer toda a diferença. O poder está ali.

Quando, no capítulo 8 do livro de Atos, Filipe evangelizou o eunuco numa estrada


deserta ele não convidou o eunuco a ir a alguma igreja, mas simplesmente apresentou
Cristo a ele. O eunuco lia um trecho das Escrituras do Antigo Testamento, mais
especificamente o livro do profeta Isaías, e foi desse ponto de partida que Filipe
começou sua mensagem evangelística. O eunuco creu, foi batizado pelo próprio Filipe,
e não por alguma igreja ou religião, e seguiu seu caminho. O Espírito Santo certamente
iria dar a ele a direção do que fazer a seguir.

Uma conversa informal com alguém pode ser a oportunidade para você falar de Cristo
para aquela pessoa. Uma vez vi um irmão usar o método de Jesus em João 2 para falar
do evangelho a um funcionário da companhia de água e esgoto que tinha vindo ligar a
água em sua casa. Enquanto o homem instalava o relógio medidor, esse irmão puxou
conversa: "Sabia que eu também trabalho com água?" Em seguida citou o versículo de
Efésios 5:26 que compara a Palavra de Deus à água purificadora.

O assunto "água" era de interesse daquele funcionário, assim como era daquela mulher
samaritana à beira do poço no capítulo 2 do Evangelho de João, do mesmo modo como
o assunto que ocupava a mente do eunuco era o texto de Isaías 53, ou o pedestal
dedicado "Ao Deus Desconhecido" que Paulo usou em Atos 17 para pregar aos
atenienses pagãos. Quando você pega o gancho em alguma coisa de interesse do seu
interlocutor já conquistou a atenção dele.

Evangelizar não é convidar alguém a ir a alguma igreja, mesmo porque igreja é uma
reunião dos salvos, não dos perdidos. Evangelizar é convidar a pessoa a ir a Cristo. Se
você tem dificuldade para falar, aprenda ao menos o que é a mensagem simples do
evangelho, como aquela que poderia ser falada a uma criança.

Outra boa ideia é andar com alguns folhetos evangelísticos no bolso, e se tem vergonha
de entregá-los diretamente às pessoas, procure "esquecê-los" dentro de revistas em salas
de espera ou na bolsa da poltrona à frente, no ônibus ou avião. Ou faça ainda como
costumo fazer com pessoas com quem não tenho tempo de falar: Simplesmente anoto
num pedaço de papel 3minutos.net e digo para visitarem o endereço. Muitos podem
fazer isso do próprio celular.

No vídeo a seguir você pode ter uma ideia de uma mensagem breve que até uma criança
pode entender, crer, aprender e passar adiante. Ali eu basicamente digo que todos
nascemos pecadores, que por sermos pecadores merecemos o juízo de Deus, mas que
Deus nos amou de tal maneira que para não nos condenar entregou o seu Filho para
morrer numa cruz para pagar por nossos pecados, e foi isso que Jesus fez na cruz,
ressuscitando ao terceiro dia. Agora aqueles que creem nele, aqueles que recebem Jesus
no coração, recebem também a salvação eterna.

COMO EVANGELIZAR SEM NEGLIGENCIAR O PAPEL DE ESPOSA E MÃE

Como evangelizar sem negligenciar meu papel de esposa e mae?

https://youtu.be/LrbNXDAzDAg

Você escreveu dizendo que é cristã e sabe que a Bíblia fala que temos de fazer boas
obras. Mas o problema é que, por ser casada e ficar em casa o tempo todo cuidando do
lar e de seu filho, não sobra tempo para sair às ruas distribuir folhetos evangelísticos
como é exigido na igreja onde congrega. Segundo você, nas pregações ali fala-se muito
em não se acomodar, e em se fazer boas obras. Estaria Deus descontente por você ficar
em casa o tempo todo?

Estes dias escutei no som do carro uma pregação muito edificante em inglês, de um
irmão chamado Douglas Buchanan que está congregado ao nome do Senhor nos Estados
Unidos. O título da mensagem era "Descendentes Espirituais" e acredito que tem tudo a
ver com sua dificuldade.

O mundo religioso tem uma agenda que nem sempre é a agenda de Deus, e quando
algum pastor ordena a seus fieis que abandonem suas responsabilidades para com a
família para saírem às ruas evangelizando, é preciso ser astuto e avaliar qual é realmente
o interesse dele. Na maioria das vezes você descobrirá que ele não está realmente
interessado na salvação das pessoas, e sim em aumentar a receita de sua igreja com mais
dízimos e ofertas de novos membros. Muito do que se faz no mundo religioso visa
números porque, como diz aquele trocadilho de humor, "Templo é dinheiro".

Esta passagem tem tudo a ver com o assunto: "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais
vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a
fé que tiveram." (Hb 13:7). Esta tradução é melhor que a outra que diz "lembrai-vos de
vossos pastores", pois a palavra "pastor" teve seu significado tão adulterado pela
existência hoje de um clero nas igrejas, que alguém pode achar que esteja falando
daquele homem no púlpito. "Guias" mostra melhor a que está se referindo.

O trem tem seus guias chamados trilhos para evitar que a composição corra por terreno
comum; a rua tem suas guias chamadas meio-fio para determinar onde ela começa e
termina; e nós cristãos temos nossos guias que nos pregaram a palavra de Deus, isto é,
nos mostraram onde estavam os trilhos para que não levássemos uma vida
descarrilhada.

Uma outra tradução diz "atentando para a sua maneira de viver", mas isto também nos
dá um entendimento limitado do que está sendo dito. "Considerando atentamente o fim
da sua vida" está melhor, mas acredito que outra versão traga ainda mais luz:
"Observem bem o resultado da vida que tiveram". Isto quer dizer que não é apenas o
começo e meio da vida de alguém que deve nos impressionar, mas principalmente o
fim, os resultados de uma vida de fé. Mas mesmo assim se nos concentrarmos na
imitação da maneira de proceder de alguém que terminou sua vida com um bom
testemunho, estaremos perdendo de vista o motor desta passagem, a origem de tudo: a
fé. "Imitai a fé que tiveram".

Voltando ao que disse o pregador na gravação que ouvi, sua mensagem era sobre o
poder da fé de alguém que consegue contaminar dezenas, centenas ou milhares de
pessoas, como se causasse uma grande uma epidemia do bem. Não se trata
necessariamente da maneira de agir de alguém, que pode até servir de exemplo para
seguirmos, mas principalmente da fé contaminante. A exortação é para imitarmos a fé
que tiveram.

Quando ocorre uma epidemia os cientistas correm contra o tempo para detectar duas
coisas: o "paciente zero", aquele que deu origem ao surto, e o "vetor", o ser vivo capaz
de transmitir o agente infectante, de maneira ativa ou passiva. É dessa epidemia que o
autor de Hebreus está falando. A fé de um "paciente zero" pode contaminar a muitos,
como aconteceu com Timóteo, que foi contaminado pela fé primeira de sua avó e depois
de sua mãe.

"Trazendo à memória A FÉ NÃO FINGIDA que em ti há, a qual habitou PRIMEIRO


em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti. Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o
tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem
fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus." (2 Tm 1:5; 3:14-15).

Na mensagem o pregador contou que estava de viagem e parou em uma cidade só para
procurar o cemitério e a sepultura de um homem que nunca conheceu pessoalmente,
mas de quem só tinha ouvido falar. Não foi uma tarefa fácil, pois o cemitério era
enorme e o homem tinha morrido no século 19 ainda jovem e solteiro. Porém em seu
curto espaço de vida, sua fé foi o "vírus" causador uma epidemia do bem que disparou
toda uma sequência de eventos que levaram muitos a crer em Cristo, começando com
sua noiva, com quem nem mesmo teve tempo de se casar. Antes de morrer ele pediu ao
seu melhor amigo que se casasse com ela.

Então a pregação seguia dizendo que naquele salão, onde todos estavam, havia alguns
que eram descendentes espirituais da fé daquele homem e talvez nem soubesse. E havia
muitos outros que não estavam ali ou já tinham partido para estar com o Senhor. O foco
da mensagem estava em mostrar o quão poderosa pode ser a fé de alguém, por menor
que tenha sido sua atuação visível nas ruas ou nos púlpitos, ao ponto de possibilitar toda
uma geração de salvos.

A maioria dos salvos não se converte em grandes concentrações e cruzadas


evangelísticas, embora nesses eventos possam acontecer muitas conversões. A maioria
das conversões ocorre em lugares e situações longe das vistas públicas, mas em lugares
como a "estrada deserta que desce de Jerusalém a Gaza" (At 8:26). Filipe era um que
estava "sempre preparado para responder com mansidão e temor a qualquer que vos
pedir a razão da esperança que há em vós" (1 Pe 3:15), e só quando estivermos na
presença do Senhor é que iremos descobrir quantos no norte da África, para onde o
eunuco retornava, foram contaminados pela fé do eunuco que tinha sido contaminado
pela fé de Felipe.

Na mensagem o pregador deu também o exemplo de Abigail, e de como aquela mulher


sábia e fiel a Deus impediu que Davi obedecesse aos seus instintos carnais de vingança
e cometesse uma loucura. Abigail o ajudou a ter uma melhor perspectiva do que estava
acontecendo e a esperar que Deus resolvesse uma situação que de outra forma não teria
solução. A fé de Abigail arrefeceu a ira de Davi (falei algo sobre essa passagem numa
pregação do evangelho com o título "Delação super-premiada").

Todavia, o exemplo que mais chamou minha atenção foi o de Boaz. Afinal, quem teria
"contaminado" Boaz com uma fé genuína e cheia de graça como a fé da avó e da mãe de
Timóteo? Boaz casou-se com a moabita Rute, após esta ter ficado viúva de seu primeiro
marido e permanecido com a sogra Noemi, quando esta retornou para Israel depois de
um período de esperanças frustradas na terra de Moabe. A história toda você encontra
nos capítulos 2 ao 4 do Livro de Rute.

Rute e sua sogra Noemi foram morar em Belém, e para saciar a fome, Rute passou a
colher cereais nos campos de Boaz, que era parente do falecido marido de Noemi. Em
Israel não era considerado roubo alguém entrar no campo de outro e colher alimento
com as mãos. Isso permitia que pessoas viajassem numa época quando não existiam
restaurantes na beira da estrada. Deuteronômio 23:24-25 diz: "Quando entrares na vinha
do teu próximo, comerás uvas segundo o teu desejo, até te fartares, porém não as levarás
no cesto. Quando entrares na seara do teu próximo, com as mãos arrancarás as espigas;
porém na seara não meterás a foice.".

Era isso que Rute fazia para prover alimento para si e para sua sogra, e Boaz agiu com
extrema graça para com ela, não apenas ordenando a seus ceifadores que facilitassem
para ela obter uma quantidade maior de cereais, mas também decidindo casar-se com
ela. Isso pode parecer pouca coisa, mas lembre-se de que Rute era moabita, um povo
amaldiçoado por Deus. Agir com graça para com um inimigo do povo de Israel não era
necessariamente algo comum.

Mas Rute havia sido contaminada pela mesma fé e graça que habitavam no coração de
sua sogra Noemi, e o mesmo acontecia com Boaz, um homem rico e poderoso que,
todavia, tinha uma fé simples e cheia de graça que herdou de sua mãe. Somente pessoas
que foram impactadas com graça saberão como agir em graça para outras pessoas, ainda
que sejam como Rute, de um povo amaldiçoado por Deus. Afinal, humanamente
falando Boaz não tinha nada de que se orgulhar de seu passado, pois sua mãe era Raabe,
a ex-meretriz. Da linhagem gerada pela união de Boaz e Rute viria nascer tempos
depois Jesus, o Salvador do mundo.

Deus age em graça por meio da fé de pessoas que entenderam realmente o que é graça e
são capazes de desfrutar dela e contaminar a outros com sua fé. Não são os fariseus
legalistas, orgulhosos e intransigentes que Deus usa como vetores dessa fé salvífica,
mas pessoas de fé, alcançadas por graça, e você é uma delas, bem aí onde está fazendo o
importante trabalho que Lóide e Eunice fizeram com o pequeno Timóteo. Muitas
mulheres fizeram coisas em suas vidas e carreiras que acharam ser mais importantes do
que ficar em casa cuidando dos filhos, mas nenhuma teve o nome registrado para
sempre nas páginas das Escrituras..
Por isso continue "contaminando" seu filho com essa sua fé no recato do seu lar e não
dê ouvidos àqueles que querem dizer a você que isso é pouco e que deveria estar nas
ruas evangelizando. Para o olhar humano a fé que habitou primeiramente em Lóide e
também em Eunice poderia parecer desprezível, mas graças à fé dessas duas mulheres
temos Timóteo e duas das mais encorajadoras e instrutivas cartas de Paulo.

Se tiver facilidade com o inglês poderá ouvir a mensagem que mencionei no link a
seguir: "Descendentes Espirituais".

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