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Relatório

Introdução às Ciências Sociais


Licenciatura em Psicologia
Ano Letivo 2021 / 2022

O CORPO NA TEORIA ANTROPOLÓGICA

Docente
Drº. António Montiel

Discentes
Nº 29665 - Alice Gonçalves
Nº 29871 – Matilde Correia
Nº 29891 – Afonso Martins
Nº 29895 – Leonor Alves
Nº 29896 – Daniel Sequeira

Turma 6.2 e 7.1


“O CORPO: UMA VISÃO DA ANTROPOLOGIA E DA FENOMENOLOGIA”
Platão acreditava na dicotomia corpo-alma. Tudo o que era alusivo ao corpo era
considerado negativo, irracional, impulsivo, virado para o material. O corpo era responsável
pela decadência, pelo desejo e pela paixão. A alma por sua vez era pura, divina e não
precisava dos sentidos para existir. A finalidade era dominar o corpo através da alma. Com o
Renascimento o corpo passa a ser visto com a dicotomia corpo-objeto.
Na antropologia, o corpo não é só visto como biológico e psicológico, mas também
como social e cultural. A sociedade influencia os indivíduos a fazer aquilo que considera
correto, e mesmo com a existência das particularidades individuais, o homem faz o que a
sociedade lhe impõe. Assim, podemos considerar o corpo como um instrumento social.
Na fenomenologia, o corpo próprio tem intencionalidade, e nele os sentidos
relacionam-se através da perceção. O corpo deve ser visto como corporeidade que supera o
dualismo psicofísico e só depois disso conseguirá ser verdadeiramente compreendido. O
corpo é o meio onde a expressão se realiza. O corpo sente, As sensações, as perceções
constituem uma unidade inseparável.
Embora o significado de corpo seja diferente entre as duas, ambas concordam que o
corpo deve ser visto como um corpo total, social e próprio e que este é dotado de expressão e
perceção. É a sociedade onde vivemos, a educação que recebemos as experiências que
vivenciamos que nos moldam, que nos condicionam, que nos impõem o viver social, e nesse
sentido pode-se afirmar que o corpo entre muitas outras características é próprio, é vivido, é
total, é social.
COMO SE FAZ O CORPO
A CONSTRUÇÃO DA ANTROPOLOGIA: DA ANTROPOLOGIA FÍSICA À
ANTROPOLOGIA DA SAÚDE
De início, a corporalidade distinguia os campos pertencentes ao que era animal do que
era humano. Quando se começou a usar uma teoria evolucionista, começou-se a distinguir o
que era selvagem do que era civilizado. Desta forma, sociedades anteriormente selvagens,
evoluíram até serem sociedades civilizadas.
Com o intuito de encontrar aqueles que prevaleciam numa sociedade que se
encontrava em transformação constante, estudaram-se os usos e os costumes ao invés de se
usar o evolucionismo biológico como forma de justificar um evolucionismo social.
Havia uma universalidade na apreciação da beleza, que é fundada no facto de que as
estruturas cognitivas humanas estarem organizadas de forma a aceitar o sentido das
proporcionalidades e o equilíbrio das formas.
Wald diz-nos que, no geral, a apreciação da beleza se encontra no subconsciente do
humano e que isso o faz associar beleza a bondade e fealdade a maldade.
A antropologia era capaz de encontrar no corpo uma oportunidade de se renovar. Se o
corpo humano escapa à taxionomia para definir a singularidade da sua humanidade, também
consegue escapar a ser definido pela racionalidade, dado a sua vida subjetiva e simbólica não
ser totalmente limitada pela capacidade do intelecto. Dessa forma, o corpo então desafia a
antropologia e obriga-a a questionar-se enquanto projeto científico.
Ao longo do artigo o autor, Álvaro Campelo, convida-nos a refletir o corpo, em todas
as suas abrangências, a sua fisicalidade, a sua corporalidade, a sua ambiguidade, a sua
diversidade (social, cultural, emocional, ecológica), a sua fragilidade, a sua normalidade e
anormalidade.
A noção do corpo deixa de ser rígida e passa a ser uma experiência dinâmica,
envolvente, em que tudo se relaciona com tudo, o biológico, o emocional, o cultural, o
económico e o social. Todas estas componentes se ligam e interagem umas com as outras,
levando o corpo a descobrir e redescobrir, a pensar e repensar, a sua corporalidade.
Estudar o corpo não é linear, não é objetivo, não é conclusivo, o corpo é único, é
singular, é indomável, constrói-se a cada momento, reconstrói-se perante a mudança. O corpo
é cada vez mais o lugar do momento, onde se encena, se executa e se exibe, a perspetiva
individual e social sobre o poder e a comunicação.
A visão redutora do corpo está ultrapassada, ele não é dócil, nem apenas um elemento
onde os sentidos se revelam, nem somente a fonte empírica de conhecimento ou o palco onde
se analisam as representações socias. Não. Ele é a provocação à norma, é um espaço mútuo de
aprendizagem, em que para entender o corpo temos de conhecer e ser sensíveis ao contexto.
Ele é uma entidade móvel, maleável, repleta de conceitos e conhecimentos adquiridos que se
constrói a cada vivência, a cada experiência, a cada momento.

UM ENSAIO SOBRE O CULTO AO CORPO NA CONTEMPORANEIDADE


A valorização do corpo no mundo contemporâneo tem sido alvo de muito debate. O
culto ao corpo, que é característico desta época, tem sido praticado de forma exacerbada. Ao
longo do tempo mudámos a nossa forma de nos relacionar com os nossos corpos, procuramos
aproximarmo-nos do ideal de beleza estabelecido, a cultura apropria-se dos nossos corpos e
reconstrói-os de modo a serem socialmente aceites. Parece que cabe à medicina atender às
nossas necessidades e desejos, queremos dominar os fenómenos do corpo, mantê-lo sob
controle. Os media no geral fazem-nos acreditar que as nossas imperfeições se devem à
negligência pessoal. A saúde e a boa forma, são conceitos distintos que se confundem, a busca
do corpo perfeito nunca termina, existe sempre um aspeto a aperfeiçoar, estes padrões
inalcançáveis só levam a desgostos. A tentativa de alcançar o corpo ideal, sugere a negação do
futuro pois é no corpo que o tempo deixa marca. A realização pessoal nesta sociedade, está
muito relacionada com a aparência e status, fazendo do corpo objeto de regular preocupação e
investimento.
É inegável que temos de cuidar do nosso corpo, o problema reside na proliferação dos
padrões inatingíveis e na condenação das pessoas que não estão dentro do padrão.
Devemos refletir na nossa perspetiva sobre o corpo na atualidade.
Este artigo incide sobre quatro questões bastante pertinentes:
 Que relação estamos a construir com o nosso corpo na atualidade dos dias de hoje?
 Onde nos vai levar a busca diária do corpo perfeito?
 Seremos capazes de superar qualquer problema e corresponder a qualquer expetativa?
 O conhecimento do corpo, a liberdade de pensamento, de ações, traduz-se num
aumento efetivo de escolhas?
O caminho que o corpo percorreu ao longo história científica e filosófica vem mostrar
como o corpo é um conceito, aberto, polémico e multifacetado. O corpo contemporâneo
precisa de ser melhorado, ampliado, ajustado, modificado, e até mesmo criado. O culto que se
torna uma obrigação, o ritual que se torna rigoroso e diário. Conceitos como disciplina, força
de vontade implicam que qualquer um pode atingir o padrão de beleza em vigor. Mudar,
modelar, remodelar, construir, acrescentar, retirar, torna-se tanto um dever quanto uma
necessidade. O corpo é o palco de paradoxos e conflitos, busca a singularidade e ao mesmo
tempo nega a alteridade (o que é diferente).
A questão da liberdade ampliada é deveras intrigante, vejamos, criamos um conceito, uma
visão de corpo perfeito, que em vez de nos libertar, envolve-nos num conjunto de
necessidades que oprimem, de escolhas que se tornam obrigatórias, em que a recusa, a
negligência, o fugir ao padrão, à norma não é de todo aceitável.
Ele que é: o espelho da nossa alma, do nosso pensamento, das nossas escolhas, da nossa
liberdade, que dizemos que não está preso, afinal está preso…é refém do conceito que
criamos.
QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO
A diferenciação, a marginalização, a discriminação, temas que influenciam e vigoram
na atualidade, falamos sobre eles, sentimos que são errados e que devem ser eliminados, mas
no dia a dia não nos conseguimos libertar das suas amarras. O que pode fazer a sociedade
civil para que a diferenciação, a marginalização, a discriminação sejam eliminadas das
relações sociais?

O corpo tornou-se cada vez mais um lugar no qual e através do qual encenamos,
executamos e exibimos as nossas perspetivas individuais. Assim sendo, pode-se afirmar que
quando perdemos ou alteramos algumas dessas características deixamos de ser “nós” e
passamos a ser outra pessoa?

Que relação estamos a construir com o nosso corpo na atualidade dos dias de hoje?
Onde nos vai levar a busca diária do corpo perfeito? Seremos capazes de superar qualquer
problema e corresponder a qualquer expetativa? O conhecimento do corpo, a liberdade de
pensamento, de ações, traduz-se num aumento efetivo de escolhas?

Referências
Campelo, Á. (2020). Universidade Fernando Pessoa — CRIA (Centro em Rede de
Investigação em Antropologia). Modos de fazer. Edição Citcem, 231-252. DOI:
https://doi.org/10.21747/9789898970237/mod
Comparin, K. A.; Schneider, J.F. (2000). O Corpo: Uma visão da antropologia e da
fenomenologia. Revista Faz Ciência, (S.l.), vol (6), 1, 173. Doi: 10.48075/rfc. v6i1.7407,
https://e-revista.unioeste.br/index.php/fazciencia/article/view/7407
Dantas, J. B. (2011) – UVA, Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, Brasil.
Vol (11), 3, 898-912.1

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