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Caso 01: Edgar Morin e a ética

Bibliografia Edgar Morin

Edgar Morin. Nasceu em Paris no dia 8 de julho de 1921. Formado em Sociologia, Direito,
História e Geografia. Em 1961, fez uma longa viagem pela América Latina, quando se
fascinou pelo mundo indígena e pelo mundo afro-brasileiro. Em 1997, é convidado pelo
governo francês a apresentar um plano de sugestões e propostas para a reforma do ensino
secundário e universitário. Já viajou por mais de 30 países participando de atividades de
debates com professores e especialistas das mais diversas áreas.

Edgar Morin é um pensador crítico, reflexivo e muito produtivo, dedica-se ao estudo da


complexidade, termo que apropriou da cibernética e incorporou à sua obra desde a década de
1960. Em suas reflexões sobre ciência e filosofia.

É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos


do campo de estudos da complexidade, que inclui perspectivas anglo-saxônicas e latinas.

Teoria da Complexidade:

[...] a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes


heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num
segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações,
interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico
(MORIN, 2005, p. 13). Morin contrapõe-se ao pensamento reducionista, linear e
simplificador. Destaca as relações e dependências multidimensionais de todos os saberes,
tais como a biologia, a antropologia, a sociologia e a física, e ainda coloca o pensamento
mítico-simbólico-mágico ao lado do racional-lógico-científico.

A Teoria da Complexidade de Edgar Morin inspira a mapear, entender e reconstruir passos


nesse encontro entre ciência, tecnologia, sociedade, ser humano e planeta. Não se pretende
rivalizar ou instigar competição entre estas áreas, mas fazer esforços para integrá-las, para
que caminhem próximas, entrelaçadas, questionando seu papel nas próximas décadas. Levar
essas áreas a descobrir o caminho para que o tão enfatizado “desenvolvimento” possa
realmente assimilar a noção de sustentabilidade da vida em toda sua plenitude, dentro da
visão dos direitos humanos fundamentais e na busca de transcendência e realização plena
do ser humano.

1. Auto-ética e os princípios da Auto-ética- a Ética que vai se fazendo constituir no


sujeito, na sua individuação, que se gesta nas interações desse sujeito com seu
contexto real e vivo, com suas condições históricas e culturais e gera-se no nível da
autonomia individual é o que Morin designa como AutoÉtica. Segundo o autor, inicia-
se situando o ser humano na pré-história do espírito. Aparece aqui uma outra ideia de
ascendência religiosa, aquela de natureza humana. Existe uma barbárie interior que
é própria ao espírito humano e que exige um esforço para ser vencida. Daí a
necessidade de investigar a si próprio, suas motivações, seus valores, suas fraquezas,
desenvolver enfim uma cultura psíquica. Morin chama especialmente atenção para a
necessidade de autoconhecimento, o que pode evitar as estratégias que tem o
espírito para justificar nossos atos moralmente questionáveis, como o auto ilusões,
as mentiras para si mesmo, os esforços de auto justificação. Ele convida então a
compreender a incompreensão, investigando as razões subjetivas e socioculturais que
a provocam e a estudar as possibilidades de compreensão, no sentido de abordar de
forma complexa os conflitos. É esse procedimento que torna possível o perdão, uma
força redentora e regeneradora na direção do outro. Fonte interior: ao indivíduo: agir;
Fonte Externa: cultura, regras coeltivas; Fonte anterior: transmissão viva, genética.
Indivíduo-sociedade-espécie.
Princípios: -Perda da certeza absoluta imposta pela instância transcendente superior;
Enfraquecimento da voz interna: bem e o mal; Na consciência da existência das
contradições e incertezas éticas; a impossibilidade de definir além da vida;
consciência de que a ciência tem finalidade que não são necessariamente morais.
Ética: é um ponto de vista para a pessoa e para os outros;
Moral: decisões do indivíduo.
2. Antropoética- quer recuperar a história de nossa espécie, de nossos ancestrais, dos
acúmulos que fizemos na vida toda, leva em conta o caráter ternário da condição
humana: indivíduo/sociedade/espécie. A ética indivíduo/espécie precisa do controle
mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade – a democracia. A
ética não pode ser ensinada através de lições de moral; as mentes devem ser
formadas com base de que o ser humano é parte da sociedade e parte, ainda, da
espécie, e precisa ter consciência de pertencer à espécie humana, ou seja, a
humanidade como comunidade planetária e o indivíduo possuindo uma cidadania
terrena. “A Antropoética ergue no nível ético a consciência antropológica que
reconhece a unidade de tudo o que é humano na sua diversidade e a diversidade em
tudo o que é unidade; daí a missão de salvaguardar por toda a unidade e a diversidade
humanas”.
3. A sócio-ética- é feita dessa relação entre o indivíduo uno e o outro múltiplo. A sócio-
ética é feita dessa relação entre o indivíduo uno e o outro múltiplo. Ela precede e
transcende a auto-ética, posto que o indivíduo já nasce em uma comunidade repleta
de outros sujeitos e inserida em uma cultura e em um contexto. Historicamente, a
sociedade organizou-se pelos credos, pelas forças, pelos regimes, pela igreja, pela fé
judaico-cristã, pelo poder, pela família patriarcal, pela pátria. A Vida democrática que
sugere nossa contemporaneidade e nossa condição de seres políticos é um artefato
da complexidade social. São instituídos direitos e liberdades, em que os sujeitos
definem escolhas e decisões, formas de viver e conviver. Embaraçam-se nas produções
históricas e culturais, econômicas e sociais que eles mesmos tecem para viver.
4. Bioantropoética é que ela reconhece a vida e a força do ser na sua plenitude.
Reconhece a sua biologia. Reconhece a sua cultura. A natureza biocultural do humano
é, a cada instante, a cada dia, incessantemente recomeçada e reconstituída pelos
esforços do seu próprio ser, do grupo, da sociedade humana. Assim, não se justificam
os cortes separadores entre natureza e cultura, entre bios e antropos. Não somos
seres sobrenaturais, onipotentes, das alturas ou etéreos. Somos vivos, temos vida,
temos a vida e a vida nos tem e vivemos a vida que é nossa e a vida que é de outros
seres.

Visão de sujeito para Morin

O sujeito é compreendido então como um organismo complexo capaz de pensamento. E que


pensa a partir de uma tensão estabelecida entre o princípio de exclusão e o princípio de
inclusão. O princípio de exclusão é antagônico à alteridade e é o responsável pela identidade
singular de cada sujeito.

O sujeito, na visão moriniana de complexidade, é aquele capaz de se autoorganizar e de


estabelecer relações com o outro, transformando-se continuamente. É nessa relação de
alteridade que ele encontra a autotranscendência, superando-se, interferindo e modificando o
seu meio numa auto-eco-organização a partir de sua dimensão ética, que não é imposta
cultural ou universalmente a cada indivíduo, mas reflete as suas escolhas, percepções, valores
e ideais. Trata-se da prática da auto-ética, que inclui uma ética política e pressupõe a
observação de prioridades que Morin chamou de “idéias-guia”.

Para ele a ética não se reduz ao aspecto político, do mesmo modo que este não se reduz à
ética; no entanto, a dialógica que compreende a indissociabilidade e o antagonismo
intrínsecos aos dois termos poderá estar a serviço da humanidade.

Para Morin (1998a), as Idéiasguia prioritárias são:

1- Ética da religação, que inclui o que associa, une e solidariza, opondo-se ao que
disjunta, reduz e fragmenta;
2- Ética do debate, que pressupõe a argumentação e a polêmica, mas rejeita os meios
ilícitos, os insultos e os julgamentos de autoridade;
3- Ética da compreensão, que permite o conhecimento do sujeito como tal, fraterniza as
relações e procura reumanizar o conhecimento político;
4- Ética da magnanimidade, que se contrapõe à vingança, à punição, à barbárie e à
qualquer forma de preconceito, promovendo a clemência e a generosidade;
5- Incitação às boas vontades para a salvação dos seres humanos e do Planeta, incluindo
o apelo a todos os sujeitos, sejam eles sapiens ou demens;
6- Ética da resistência, necessária e fundamental aos tempos de barbárie, como arma
para se chegar ao futuro. A ética, no entanto, só faz sentido na sua aplicação prática.
Nossas atitudes devem ser amorosas, o que implica cuidado que temos com a vida em
suas diversas dimensões: com nosso corpo e nosso espírito, com o planeta e com o
outro.

Uma ética revestida de complexidade é aquela capaz de ver e compreender o outro como
um ser amado em sua dimensão humana, que pressupõe o entender e o sentir, o prosaico e
o poético, as idéias e os sentimentos. É impossível fazermos o que não pensamos e o que
não sentimos! O ser humano é um sujeito relacional, vive em comunidade e é dependente;
por isso, aceitar o outro e compreendê-lo de forma amorosa é uma condição ontológica,
essencial para a sua existência.

Pensamento simples X pensamento complexo

O pensamento simplificador falha, mas ela integra em si tudo o que põe ordem, clareza,
distinção, precisão no conhecimento. Enquanto o pensamento simplificador desintegra a
complexidade do real, o pensamento complexo integra o mais possível os modos
simplificadores de pensar, mas recusa as consequências mutiladoras, redutoras,
unidimensionais e finalmente ofuscantes de uma simplificação que se considera reflexo do
que há de real na realidade. Para Morin, o saber completo é inatingível, o complexo sempre
fará parte do universo e a dúvida sempre estará presente. A complexidade diz respeito aos
diferentes elementos que constituem um todo, sendo esse todo não somente a mera soma
de suas partes, mas sim algo novo criado pela interação destas. É a unidade que cria o
conceito comum, mesmo em objetos antagônicos. É a unidade e a multiplicidade, sendo
partes constituintes do todo.

Morin entende a complexidade como um tipo de pensamento que não separa, mas une e
busca as relações necessárias e interdependentes de todos os aspectos da vida humana.
Trata-se de um pensamento que integra os diferentes modos de pensar, opondo-se aos
mecanismos reducionistas, simplificadores e disjuntivos. Esse pensamento considera todas as
influências recebidas, internas e externas, e ainda enfrenta a incerteza e a contradição, sem
deixar de conviver com a solidariedade dos fenômenos existentes. Enfatiza o problema e não a
questão que tem uma solução linear.

Relações com os idosos na pandemia do covid-19, pelo olhar da complexidade ?

Os momentos vividos durante esta pandemia, ratificaram as dificuldades econômicas, de


saúde, sociais, culturais, éticas e morais envolvidas nas relações com os idosos, aflorados
pela repentina pandemia, abordando a complexidade inerente como problema fundamental
e novo paradigma.

As respostas e ações dos idosos, frente aos fatos vividos durante a pandemia, entrelaçaram-se
com condições físicas, emocionais e culturais de passividade e revolta, incluindo reações
nefastas nos ambientes domiciliares e públicos. Infelizmente, não há preparo da sociedade
para a ‘cultura do envelhecer’, que começa pelo próprio ser em seu contexto de vida. Em
contrapartida, o desafio cultural, sociológico e cívico, 2incita a metamorfose, que não
poderia acontecer senão por meio do desenvolvimento multiforme da sociedade, talvez com
a criação de circunstâncias de decisão planetária para problemas vitais, como viver no
mundo envelhecido.

Isso induz a reforma do pensamento, reorganização das compreensões sobre o ser humano
idoso, que na atualidade se conjunturam com pensamento disperso, disjunto,
compartimentalizado e excludente. Esta reforma é ampla e profunda, paradigmática, cultural,
ética e moral; a numa a ‘cultura do envelhecimento’, a qual propaga e democratiza a poesia
do viver, possibilitando que cada idoso conheça as belezas das emoções, descobrindo suas
próprias verdades por meio de obras primas da vida (morin, poesia, amor). Porém esta
intenção, é impossibilitada caso não exista empenho em eliminar o caráter do
individualismo, da opressão e da exclusão.

“No Pensamento Complexo, o ser humano precisa desenvolver a capacidade de pensar em


conjunto os problemas locais e globais, tornando-se necessário a consideração sobre as
partes na sua relação com o todo e o todo nas suas relações com as partes; não aceitando o
pensamento parcelado ou reducionista, que é incapaz de ver o contexto e a globalidade; pois
simplifica, acarretando na separação dos diferentes aspectos do contexto de vida,
isolamento dos objetos ou fenômenos do seu meio ambiente, levando a incapacidade de
integrar-se ao sistema global.“

Referências:
MORIN E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma reformar o pensamento. São Paulo: Editora
Bertrand, 2012.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: CORTEZ, 2006.

LORENZO, C. O Resenha de “O Método 6: ética” de Edgar Morin. Ciênc. Sáude Coletiva, Rio de
Janeiro, v.13, n.2, p.545-547, 2008.

MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. 4a Ed. Porto Alegre: Sulina, 2011. 

PIMENTA, A. C. Resenha: introdução ao pensamento complexo de Edgar Morin. Revista Cie


ntífica da FHO|UNIARARAS v. 1, n. 2, p.33-37, 2013. http://www.uniararas.br/revistacient if
ica/_document os/art.4-001- 2013.pdf

PETRAGLIA, Isabel Cristina. Complexidade e auto-ética. EccoS–Revista Científica, v. 2, n. 1, p.


09-18, 2000.

HAMMERSCHMIDT, Karina Silveira de Almeida; BONATELLI, Lisiane Capanema Silva;


CARVALHO, Anderson Abreu de. CAMINHO DA ESPERANÇA NAS RELAÇÕES ENVOLVENDO OS
IDOSOS: OLHAR DA COMPLEXIDADE SOBRE PANDEMIA DA COVID-19. Texto & Contexto-
Enfermagem, v. 29, 2020.

MORIN, Edgar. Um festival de incertezas. Paris: Ed. Gallimard, 2020.

TRINDADE, Ana Felícia Guedes et al. Pedagogia poiética para a potência humana: o
reconhecimento, a nutrição e a expansão da potência humana das comunidades aprendentes,
em processos poiéticos colaborativos de reorientação curricular pedagógica cultural, e as
tecituras transdisciplinares das alfabetizações de mundos em rodas de conversações. 2015.
Caso 02: Aristóteles e a Ética

Biografia Aristóteles

Aristóteles nasceu na cidade grega de Estagira. Era filho de Nicômaco, médico da corte do rei
da Macedônia. Seus pais morreram cedo, por isso foi criado por Proxeno, seu tio, que o iniciou
em estudos da medicina, fato que explica seu interesse pela biologia. Na juventude,
Aristóteles decide mudar-se para Atenas e ingressa na Academia de Platão, tornando-se um
dos discípulos mais brilhantes, por desenvolver suas próprias pesquisas e teorias e contestar
em vários pontos as teses de seu mestre. Considerado um dos maiores pensadores do
Ocidente, lá torna-se logo um dos mais destacados alunos, sendo, ao que consta, apelidado de
“A inteligência da Escola” e de “Leitor”. Permanece ligado à Academia até a morte de Platão.
A convite de Hérmias, governador de Atarneu, Aristóteles deixa Atenas e transfere-se para a
cidade acima citada, onde passa a ministrar cursos, continuando os estudos de filosofia e
política. Permanece ali por três anos e, com a morte do velho amigo que o convidara,
transfere-se para Mitilene. O período em que passou entre essas três cidades (Atarneu, Assos
e Mitilene) foi um dos mais fecundos de sua vida, no qual aprofundou os estudos em física,
lógica, moral e retórica. Em 342 a.C., o rei Filipe da macedônia o convida para ocupar-se da
educação de seu filho Alexandre. Aristóteles permaneceu nessa atividade por três anos e a
encerra com a morte do imperador, quando Alexandre assume o poder. Casa-se duas vezes,
tendo uma filha no primeiro casamento. Aristóteles retorna a Atenas e funda sua própria
escola, o Liceu, que recebe este nome por localizar-se nos jardins do templo dedicado a
Apolo Lício. Aristóteles se ocupou de quase todas as ciências conhecidas na Antiguidade,
classificando seus escritos em: ciências teóricas, que se referem ao estudo dos primeiros
princípios de todos os seres (matemática, física e teologia); em ciências práticas, o homem
como agente da ação (ética e política), e as ciências poéticas, aplicação da técnica na
produção de algo (poética e retórica).

Aristotóles e a Ética:

“A ética é uma ciência prática ou uma ciência da práxis humana, isto é, um saber que tem por
objeto a ação. (...) o homem age tendo em vista um fim ou uma finalidade e, portanto, ao
agir, atualiza potências para realizar plenamente sua forma (CHAUÍ, 2002 p. 440).” Esta
finalidade está presente, segundo Aristóteles, em todas as atividades humanas que tem como
alvo a busca do “bem”. No caso da ética, o bem é uma maneira de preparar o indivíduo para
viver na pólis. A política que também é uma ciência prática não se dissocia da ética, elas
apenas se diferenciam pelo fato de a primeira apresentar uma dimensão social, coletiva,
enquanto a outra se restringe ao particular, individual. Aristóteles é o fundador da ética
como “ciência prática”, em contraposição à ética como “ciência teórica” intentada por Platão
. O pensamento ético de Aristóteles, pode-se dizer, é desenvolvido, sobretudo, nas obras:
Ética a Eudemo, Ética a Nicômacos, Política e Grande Ética. A concepção aristotélica do
homem, neste período de transição, situa a alma hierarquicamente acima do corpo, mas sem
dar-lhe qualquer transcendência. O corpo é um instrumento da alma e deve colaborar com
ela na realização da sua tarefa enquanto homem. A alma comanda e o corpo obedece. O
corpo é, total e exclusivamente, feito para o bem da alma.

O bem supremo

Segundo Aristóteles, é aquilo a que todas as coisas aspiram e buscam. Este fim supremo ou
soberano bem não é mais um meio em vista de um fim ulterior, mas é algo buscado por ele
mesmo, em vista do qual todos os outros fins particulares são buscados e subordinados
hierarquicamente. Portanto, o soberano bem é a condição para que os outros sejam bens.
Com essa compreensão, não podemos fazer da riqueza e do prazer, o fim da vida, tornar-nos-
íamos semelhantes a bestas e não exerceríamos a atividade específica de homens. Aristóteles
dita que a felicidade é este bem soberano, porque é algo final e autossuficiente. A Felicidade
é, então, o fim último e perfeito, isto que é jamais visto em vista de outra coisa. Mas é
sempre em vista dele que o homem faz tudo o resto. É o bem supremo e final que torna o
homem feliz. A felicidade faz parte dos bens excelentes e perfeitos e ela é o princípio em vista
do qual nós fazemos todos os nossos atos. E nós dizemos que o princípio e a causa dos outros
bens é algo estimável e divino, único capaz de nos completar.

Política e Ética: A noção aristotélica do bem é, então, uma noção analógica e não unívoca
como a ideia separada do bem por Platão, e a ética é a ciência do bem do indivíduo, como a
política é a ciência do bem na sociedade política. Ética e política implicam-se mutuamente.
Para Aristóteles, assim como para Platão, a ética não pode ser separada da política, à qual ela
parece, às vezes, subordinada. Se, com efeito, o objeto da ética consiste na determinação de
um bem supremo, que é o fim de todas as nossas atividades, e ao redor do qual todos os
outros bens não são senão meios, este objeto é igualmente aquele da política, cuja
finalidade é dirigir-se em vista do bem comum de todas as atividades humanas no interior da
“pólis”. A política é a arte real, ou arquitetônica, que comanda todas as outras, como o
arquiteto comandando aos diversos artesãos na construção do edifício.

A alma está dividida em três partes:

Irracional Vegetativa: É o primeiro degrau e tem como objetivo o de se nutrir e fortalecer,


assim como o da reprodução da espécie. O próprio Aristóteles afirmou sobre a diferença de os
animais quando nascem e em torno de 01 mês já possuem dominadas a maioria de suas
habilidades, contudo o homem quando nasce só depois de 05 anos ele inicia o domínio de suas
habilidades, esse acontecimento seria a maturação da alma intelectiva. Nos vegetais há
somente a alma vegetativa.

Irracional Desiderativa ou Sensitiva: é responsável pela sensação (05 sentidos), apetite


(paixões, desejos), pela nossa noção de movimento (a qual se utiliza dos nossos 05 sentidos
ao mesmo tempo). Através das sensações, o homem tem a possibilidade de compreender o
mundo material ao seu redor.
Racional ou Intelectiva: contém para se ter a reflexão é necessário um corpo amadurecido
(VEGETATIVA) e absorvidas as experiências (SENSITIVA). No caso da alma intelectiva, ela
contém a potencialidade de assimilar a "pura forma" das coisas, ser capaz de se abstrair da
realidade e alcançar um nível universal e eterno.

Areté:  a ética é a ciência que estuda a areté: ação virtuosa, ou a boa ação, ou a excelência
moral na ação.

 Virtudes Éticas: As virtudes éticas são numerosas e bem numerosos são os impulsos e
os sentimentos que a razão deve moderar. As virtudes éticas derivam e são produto
em nós do hábito. Nascem, desenvolvem-se e aperfeiçoam-se pela prática. Para
Aristóteles, as virtudes éticas são aprendidas à semelhança do aprendizado das
diferentes artes, que também são hábitos. A felicidade consiste numa atividade
segundo a virtude. A virtude constitui a excelência do homem, mas ainda não é o
soberano bem. A felicidade não consiste propriamente na virtude, mas na atividade
da virtude, na vida racional, para a qual a virtude nos dispõe. A felicidade consiste,
então, na atividade conforme a virtude, e segundo a virtude mais excelente de todas,
a sabedoria. A alma humana encontra na prática das virtudes, na atividade de suas
faculdades racionais a satisfação por excelência.
A virtude ética é, precisamente, mediania entre dois vícios, dos quais um é por falta
— toda falta é uma privação do prazer e concorre à diminuição de nossas energias
—, o outro é por excesso — todo excesso da ação produz um excesso de prazer a
ponto de obscurecer as luzes da razão e tende a degenerar-se em dor. Neste
momento, é importante perceber, na doutrina de Aristóteles, que a mediania não é
mediocridade, mas sua antítese. O justo meio, de fato, está acima dos extremos,
representando a sua superação e, portanto, um cume, isto é, o ponto mais elevado
do ponto de vista do valor, enquanto assinala a afirmação da razão sobre o
irracional.
 Dianoéticas: Em cima das virtudes éticas, segundo Aristóteles, estão as virtudes da
parte mais elevada da alma racional, chamadas virtudes dianoéticas, virtudes
intelectuais, ou virtudes da razão. Pois bem, duas são as partes ou as funções da alma
racional. A parte científica (intelecto especulativo) tem a ciência como objeto. A
parte calculativa opinativa (intelecto prático) tem o contingente por objeto. Assim, a
primeira conhece as coisas necessárias e imutáveis; permite-nos contemplar as
coisas cujos primeiros princípios são invariáveis. A segunda conhece as coisas
variáveis e mutáveis; permite-nos contemplar as coisas passíveis de variação. A
diferença essencial entre o pensamento prático e o especulativo é que o primeiro é
pensamento impregnado de desejo, que fixa os meios para obter o fim, enquanto o
segundo é o pensamento puro cujo fim é a contemplação.

Eudaimonia: A eudaimonía é descrita como sendo um bem final, pois toda ação humana visa
à realização desse bem que é tido como auto-suficiente e perfeito. E como tal entendemos a
felicidade, considerando-a, além disso, a mais desejável de todas as coisas, sem contá-la
como um bem entre outros. Se assim fizéssemos, é evidente que ela se tornaria mais
desejável pela adição do menor bem que fosse, pois o que é acrescentado se torna um
excesso de bens, e dos bens é sempre o maior o mais desejável. A felicidade é, portanto, algo
absoluto e auto-suficiente, sendo também a finalidade da ação. o bem supremo do homem é
a felicidade. É a atividade da alma conforme a razão e a virtude. É a atividade contemplativa
do intelecto. Por fim, mostraremos brevemente que a verdadeira felicidade do homem bom e
virtuoso está na síntese entre a vida contemplativa e a vida ativa. A finalidade natural de
todos os seres humanos, segundo Aristóteles, consiste em ter uma vida boa, justa e feliz.
Partindo deste princípio, este filósofo propõe investigar qual é o fim ético que todo indivíduo
aspira e quais caminhos ele deve trilhar em direção desta busca.

 Podemos afirmar que Aristóteles tem a visão do homem como um "ser político" em
sociedade, regido por uma ética pautada em virtudes? 

Para reflexão: 

1- A atual pandemia causada pela covid-19 tem alterado substancialmente a nossa rotina.
Estamos sendo demandados a todo momento a sermos virtuosos. Por exemplo, autoridades
da área da saúde clamam pela prudência da população para manter o isolamento social. De
que forma podemos articular esse momento com os conceitos de Ética em Aristóteles
e Eudaimonia e Areté?

2- Revendo nosso caso e nossa política atual, onde a felicidade cada vez mais é pensada
individualmente em detrimento do coletivo, podemos afirmar que estaríamos indo de
encontro a Ética Aristotélica?

Referências:

AMARAL, R. A. P., SILVA, D. A., GOMES, L. I. A eudaimonia aristotélica: a felicidade como fim
ético. Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas, n.1, p.1-20, 2012.
http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/A-eudaimon%C3%ADa-aristot
%C3%A9lica-a-felicidade-como-fim-%C3%A9tico.pdf

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Disponível no endereço para download:


http://filosofiauerj.wordpress.com/2007/05/23/aristoteles-etica-a-nicomaco-e-book/etica-a-
nicomaco-aristotelespdf/

CATUNDA, Roberto Robinson Bezerra. Considerações iniciais sobre a eudaimonía e as


excelências na ética a nicômaco. Polymatheia – Revista de Filosofia. v. IV, n.5, 2008, p.127-
144,2008.http://srvweb.uece.br/polymatheia/dmdocuments/polymatheia_v4n5_consideracoe
s_iniciais_eudaimonia_excelencias.pdf

NODARI, P. C.; CROCOLI, D. J. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Conjectura, v.16, n.1 , p.
193-197, 2011. http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/896/619

PEREIRA, R. S. Alguns pontos de aproximação entre a ética aristotélica e a kantiana.


Trans/Form/Ação, Marília, v.34, n.3, 2011.
http://www.scielo.br/pdf/trans/v34n3/v34n3a04.pdf

SILVEIRA, D. As virtudes em Aristóteles. Revista de Ciências Humanas, v.1, n.1, 2000.


http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/article/view/203/372.
Caso 03: Max Weber e a Ética

Biografia

Karl Emil Maximilian Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo, jurista e economista alemão.
Nascido em uma família de posses liderada por um advogado. Suas grandes obras são, “A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” e "Economia e Sociedade". Dedicou sua vida ao
trabalho acadêmico, escrevendo sobres assuntos variados como o espírito do capitalismo e
as religiões chinesas.
Max Weber nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. Filho de um
jurista e político do Partido Liberal Nacional na época de Bismarck. Estudou nas universidades
de Heidelberg, Berlim e Gotinga. Formou-se em Direito e doutorou-se em Economia e acabou
desenvolvendo obras sobre Sociologia.

A partir de 1893, lecionou em diversas universidades da Alemanha, principalmente em


Heidelberg. Entre 1898 e 1906, ficou afastado do magistério em consequência de crises
depressivas. Nesse período, realizou diversas viagens e dedicou-se ao trabalho acadêmico.

Nesse período de retorno, Weber volta a escrever com intensidade, redigindo inclusive a sua
obra magna — A ética protestante e o espírito do capitalismo. Ele havia deixado a atuação no
campo político há algum tempo, o que também o ajudou a recuperar-se mentalmente.

Max Weber vivenciou a Primeira Guerra Mundial e, em 1919, foi conselheiro da delegação


alemã nas conferências que antecederam o Tratado de Versalhes. A Alemanha perdeu muito
com o acordo, pois teve seu exército reduzido, perdeu território e teve que pagar uma
indenização pelos estragos causados pela guerra.

Ética para Max Weber

A definição de ética para Weber compreende as regras de conduta, rigorosamente,


interiorizadas e transformadas em formas de comportamento por determinado povo, seita,
religião, etc., na vida cotidiana (WEBER, 1982).

Ética da Convicção

O conceito de ética da convicção para Weber se pauta por três princípios fundamentais, a
saber: a ação é incitada pelos sentimentos e por um ideal; a ação não considera as
consequências e, a ação inspira uma crença inabalável nos seus fins. Sua máxima é: tudo ou
nada. As pessoas que se orientam por essa ética, que é própria da religião, agem de acordo
com o que acreditam ser o seu dever, independentemente, dos efeitos que seus atos possam
gerar. Guiadas por seus princípios, tais pessoas não balizam suas ações pelos resultados
esperados. Exemplo: Ir para frente do hospital se posicionar contra o aborto.

Ética da Responsabilidade

Avalia os meios mais apropriados para se atingir os fins almejados, analisando suas
possibilidades de êxito. Os indivíduos que seguem essa ética têm consciência de sua
responsabilidade para com os demais, assim como das implicações que os objetivos
desejados podem acarretar. Sua máxima consiste em afirmar: somos responsáveis por aquilo
que fazemos. O seguidor da ética da responsabilidade, que é própria da política, é considerado
um ser racional porque avalia, entre outras coisas, a irracionalidade do mundo e os efeitos
previsíveis de suas ações. Enquanto o adepto da ética da convicção, convencido de seu ideal,
não se interessa por esses aspectos. Decorre disso, a ética da convicção ser reconhecida, do
ponto de vista da racionalidade, como uma conduta irracional.

Segundo Weber, o sentido ético é a base de uma vida racionalizada, que corresponde a
objetivos muito bem traçados e a utilização dos meios mais adequados para atingi-los. A
conduta ética consiste no fundamento desses procedimentos, uma vez que sua prática visa
alcançar os desígnios esperados, por meio de uma determinada maneira de pensar e agir.
Assim, de acordo com Weber (1998), para se conquistar o resultado almejado, é preciso
adotar certo comportamento, utilizando, dentre os meios disponíveis, os mais apropriados.
Quando trata do tema da irracionalidade do mundo.

Homem de Vocação Política

A conciliação entre as éticas da convicção e da responsabilidade se mostra plausível e salutar,


ao se considerar os termos racional e irracional enquanto contraditórios, e não como
opostos. Decorre disso, a necessidade de aceitar que é somente na relação entre os conceitos
que é possível defini-los e/ou transformá-los. De acordo com esses autores, o cidadão
político seria o sujeito que, por intermédio da argumentação, procuraria os meios capazes de
institucionalizar os conhecimentos e práticas num ambiente democrático. Entretanto, vale a
ressalva de que ambas as ações, seja a ação empreendida pelo líder, seja a realizada pelo
cidadão político, exigem virtudes cívicas. Apesar de opostas a ética das últimas finalidades e
a ética de responsabilidade se tocam e se conciliam diante de um líder com verdadeira
vocação política. Pois mesmo os mais pragmáticos podem, aponta Weber, de forma humana e
comovente, num determinado momento dizer: “Eis-me aqui; se não posso fazer de outro
modo, aqui paro (…) Na medida em que isso é válido, uma ética de fins últimos e uma ética de
responsabilidade não são mais contrastes absolutos e só em uníssono constituem um homem
genuíno – um homem com vocação política.” Ademais “qualquer homem que se arrisque na
política quer poder, isto é, quer se colocar na posição de dominador. O político
invariavelmente está em busca de poder, pois disputar o Estado é disputar a fonte de poder,
seja para fins ideais ou para gozar de prestígio. Esta é uma condição da luta política; fazê-lo é
estar disposto a dominar.

Ação Social – que, por sua vez, “(...) significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo
agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu
curso Weber (1999, 03). De acordo esse autor, uma ação social é um ato praticado com a
intenção de provocar uma reação em uma ou mais pessoas. Consequentemente, a ação de
um indivíduo é pautada pelo comportamento do outro, ou dos outros. Portanto, a ação
social é carregada de sentidos, tanto para o agente, quanto para quem sofreu seus efeitos
(WEBER, 1982). Na visão de Max Weber, a função do sociólogo é compreender o sentido
ações sociais, e fazê-lo é encontrar os nexos causais que as determinam.

A ação social é aquela que é orientada ao outro. No entanto, há algumas atitudes coletivas
que não podem ser consideradas sociais.

Seus tipos:

1. Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é estritamente racional. Toma-se um
fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar
um fim; às atitudes planejadas, norteadas pelos efeitos que deverão ser alcançados; esse tipo
de ação se pauta pelo resultado; partindo de uma análise objetiva e considerando possíveis
consequências, o indivíduo utiliza racionalmente as expectativas e comportamentos dos
objetos ou de indivíduos do mundo exterior como meio para o alcance de um objetivo próprio;

2. Ação social racional com relação a valores, na qual não é o fim que orienta a ação, mas o
valor, seja este ético, religioso, político ou estético; expressa uma atuação concernente aos
valores do indivíduo, que se orienta por seus princípios e estima a fidelidade à convicção ;
caracteriza uma ação na qual o agente age segundo mandamentos ou exigências que acredita
serem dirigidas a ele, independente das consequências possíveis da ação.

3. Ação social afetiva, em que a conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho,
vingança, loucura, paixão, inveja, medo, etc., e compreende uma reação sentimental do
sujeito, quando este é submetido a determinadas circunstâncias; ação dirigida por afetos em
geral ou estados emocionais atuais.

4. Ação social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados.
(Observe que as duas últimas são irracionais). O indivíduo age movido pela obediência a
hábitos fortemente enraizados em sua vida; encontra-se no limite de uma ação orientada pelo
sentido, pois acaba, não raras vezes, sendo expressão de uma reação surda a um estímulo
habitual.

Perguntas:

No vídeo o primeiro é ético da convicção, porque ela se baseou em suas crenças religiosas,
afirmou que Deus que tinha falado a ela. Enquanto no outro vídeo é ética da responsabilidade
porque ele encontrou os melhores meios para atingir os fins, agiu de forma coerente para
salvar os demais.

1) Uma adolescente está grávida e deseja realizar o aborto. A mãe é uma "cristã
assídua/fervorosa", portanto, logo impõe os princípios católicos, dentre os quais está a
preservação da vida, e consequente, abomina o aborto. Ética da convicção, baseado nas
convicções da mãe.

2) Do outro lado está o pai, pensando na filha adolescente e nos resultados que a maternidade
implicará para o  “futuro” dela, devido à precocidade do evento. Coloca-se, então, tudo em
uma balança, e chega-se à conclusão que a melhor opção é, de fato, o aborto.  Ética da
responsabilidade, melhor meio de acordo com o fato.

3) Suponha que você esteja trabalhando em uma mina com dois trilhos. Ao fundo do seu trilho
estão cinco mineiros trabalhando. No trilho que parte para o lado está um mineiro solitário.
Subitamente, um vagão vem descontrolado e você percebe que a velocidade com que o
mesmo vem irá bater e matar os cinco mineiros. Mas, há tempo para uma ação que você pode
tomar: desviar o vagão para o trilho onde está apenas um mineiro. Você resolve, então,
desviar o vagão para o lado que salvará os cinco mineiros, ou seja, salvará um maior número
de pessoas. Ética da responsabilidade, melhor meio de acordo com o fato.

4) No livro “A escolha de Sofia”, o autor Willian Styron relata o caso da personagem está presa
em um campo de concentração com os dois filhos e é forçada a fazer uma escolha. Escolher
um dos filhos para ser mandado para a câmara de gás. Caso não escolhesse nenhum, todos
iriam. Ela escolhe, então, salvar o filho mais forte, uma vez que este teria mais chances de
sobreviver.  Ética da responsabilidade, melhor meio de acordo com o fato.

5) Angela Merkel foi considerada o anjo protetor dos refugiados, porém a chanceler alemã, na
sua política de refugiados, foi acusada de seguir uma ética baseada nos seus preceitos
religiosos (cristã) em prejuízo da ética de preceitos na qualidade de pessoa pública que deveria
representar os interesses da sociedade alemã e da civilização ocidental. Para alguns as boas
intenções de Merkel não justificam os problemas que ela criou, porque embora humanas
põem em perigo gerações futuras, tornando-se numa atitude imoral se prejudica os interesses
do país e da civilização. Ética da convicção, baseado nas convicções da mãe.

Referências:

CORRÊA, Rosália do Socorro Silva. O limite entre a ética da convicção e a ética da


responsabilidade no desempenho policial militar nos centros urbanos. Perspectivas: Revista
de Ciências Sociais, v. 47, 2016.

OLIVEIRA, Carla Montefusco de. Método e sociologia em Weber: alguns conceitos


fundamentais. 2008.

MORAES, Lúcio Flávio Renault de; MAESTRO FILHO, Antonio Del; DIAS, Devanir Vieira. O
paradigma weberiano da ação social: um ensaio sobre a compreensão do sentido, a criação de
tipos ideais e suas aplicações na teoria organizacional. Revista de Administração
contemporânea, v. 7, n. 2, p. 57-71, 2003.

WEBER, Max. A política como vocação. In: WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro:
LTC, 1982, p.97-153.
Caso 05: Hannah Arendt

Bibliografia:

Hannah Arendt (1906-1975) nasceu no subúrbio de Linden, em Hannover, Alemanha, no dia


14 de outubro de 1906. Quando tinha três anos sua família mudou-se para a Prússia. De
origem judia, "Johannah Arendt", foi uma menina precoce. Tinha sete anos quando o pai
morreu, mesmo assim procurou consolar a mãe: “Pense – isso acontece com muitas
mulheres”, disse ela para espanto da viúva. Com 14 anos leu a obra de Kant, Crítica da Razão
Pura.

A pensadora alemã foi apátrida durante 18 anos, entre 1933, ano em que foi para Paris
fugindo da perseguição nazista, e 1951, quando recebeu a cidadania americana. Quebrou
tabus ao ser a primeira mulher a ser entrevistada por Günter Gaus, a ser convidada a dar os
seminários Christian Gauss em Princeton, ao criticar polemicamente a guerra do Vietnã, o
modelo educacional, o movimento sionista, o feminismo, o movimento estudantil.

Entre Origens do totalitarismo (Arendt, 1989, [1951]) e Eichmann em Jerusalém (Arendt,


1999, [1963]), há uma mudança conceitual fundamental no seu pensamento, o que ela
mesma denominou cura posterior. Antes, a experiência do totalitarismo, desconhecida até
então na história, levou Arendt a acreditar que existiria um mal ainda não considerado pela
humanidade, esse mal seria radical. Entretanto, com a cobertura do caso Eichmann para o
New Yorker, realizada em 1961, Arendt percebeu que, por trás da figura pretensamente
perversa do nazista, havia um homem aparentemente normal, mas que não tinha habilidade
para pensar.

Três dimensões éticas à existência humana:

 Labor: Processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie


humana.  Só termina com a morte. Não requer a presença do outro.

 Trabalho: é a atividade de transformar coisas naturais em artefatos, manufaturas,


produtos artificiais etc. O homem impôs à sua própria espécie, isto é, reflexo de um
processo cultural.  Termina quando o artefato se torna útil para a sociedade, mundo.

 Ação: é a necessidade do homem em viver entre semelhantes, sua natureza é


social.  É a única que não pode ser imaginada fora da sociedade dos homens. É
exclusiva do homem, nem um animal é capaz da ação e só a ação depende
inteiramente das constantes presenças de outros.
Agir e pensar:

[...] uma vida sem pensamento seria sem sentido. (Arendt, 1992 , p. 134). Para Arendt (1999),
o pensamento, como uma manifestação do ato de pensar, não é o conhecimento, mas a
habilidade de distinguir o bem do mal, o belo do feio, o bom do ruim. É o pensar de forma
consciente que possibilita a autonomia nas pessoas para que contemplem a sua liberdade de
forma digna e protagonizem as próprias capacidades dos juízos morais. Para Hanna, a
compreensão de um pensar não mais restrito ao ofício do filósofo permite a concepção de
uma moralidade que exige do sujeito o agir ético, que atribui responsabilidade a todos por
suas ações.

O julgamento de Eichmann:

O julgamento de Eichmann deveria ser o maior da história após o julgamento do Tribunal de


Nuremberg, entretanto, Hannah traz à tona a figura de um funcionário mediano, burocrata,
incapaz de refletir sobre seus atos ou de fugir aos clichês burocráticos, de O “monstro da
cabine de vidro”, que representava ser funcionário público honesto e obediente, cumpridor
de metas e da lei, a cada dia de julgamento que se passava, tornava-se mais “arrivista de
pouca inteligência, uma nulidade pronta a obedecer a qualquer voz imperativa, um funcionário
incapaz de discriminação moral – em suma, um homem sem consistência própria, em que os
clichês e eufemismos burocráticos faziam às vezes do caráter”. Eichmann, quando é ouvido no
banco dos réus, tem presente de forma muito tranquila em seu discurso que apenas
“transportava os judeus”, não se sentindo em momento algum o responsável pela morte
deles. A mediocridade de Eichmann espanta, afinal, era incapaz de pensar, de transcender o
que representavam seus atos e atitudes. Tinha para si apenas o cumprimento de uma tarefa,
enaltecendo que a sua maior honra era sua lealdade.

Nesse sentido, encontra-se a banalidade do mal, a que inviabiliza a capacidade para juízos
morais. Trata-se de apenas um burocrata zeloso, seguidor de regulamentos, orgulhoso de
quando completa suas tarefas com êxito, mesmo que essas tarefas sejam encaminhar judeus
para câmaras de gás, valas de morte ou, ainda, campos de concentração.

O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não eram
nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais.
Do ponto de vista de nossas instituições e de nossos padrões morais de julgamento, essa
normalidade era muito mais apavorante.

Banalização do mal:

Para Arendt (1999), o mal é a ausência de pensamento, vinculando-se à capacidade humana


de discernir o bem do mal. A banalidade do mal é quando não mais se percebe o próprio agir,
não consegue se colocar no lugar do outro e ter a dimensão do que representa o próprio ato.

O mal, portanto torna-se banal a partir da superficialidade e da superfluidade. A


superficialidade está contida na ideia de que quanto mais superficial for uma pessoa, maior a
probabilidade de ela ceder aos encantos do mal. Para tanto, utilizam-se os clichês, as frases
feitas, adesão a códigos e expressão e conduta convencionais e padronizadas, que impedem
a percepção da realidade e do consequente pensamento aprofundado.
Como solução, é possível denotar a educação de modo que essas atrocidades não mais se
repitam, ou seja, uma educação para a humanização, como denota Paulo Freire, em que o
sujeito se perceba como de direitos e deveres para com o outro. E nesse sentido, não se pode
deixar de mencionar a questão da alteridade como componente estrutural para a prática
desse discurso. Para Kant (1996, p. 15) “homem é aquilo que a educação dele faz”. O filósofo,
ao retratar a educação como uma ferramenta de transformação social, como um processo de
constante libertação do homem, vem ao encontro da fala de Freire, que denota: “É
exatamente em suas relações dialéticas com a realidade que iremos discutir a educação
como um processo de constante libertação do homem” (FREIRE, 2006, p. 75). A educação é,
portanto, amplamente reconhecida na formação do indivíduo, sendo um dos pilares para o
desenvolvimento de uma sociedade. Sabe-se que a educação já foi utilizada apenas para a
formação das classes dominantes, não apresentando a universalidade que hoje se concebe.

O totalitarismo leva o sujeito a parar de pensar? 

O ato de pensar e refletir apresenta consequências morais, gera discursos consigo mesmo para
que se previna o mal. O totalitarismo, ao fixar formas homogêneas para o agir e o pensar,
priva o ser humano para algo de mais humano que é capaz de fazer: pensar e refletir.

De que forma a banalidade do mal se faz presente na nossa sociedade? 

É possível observar neste espaço, o das redes sociais online, a disseminação de diversos posts
contendo imagens que nos rementem à violência simbólica e discursos de guerra. Hannah
Arendt explica que a violência tem caráter instrumental, a partir disso pode-se perceber uma
mutação dos instrumentos pelo desenvolvimento de novas tecnologias, considerando-se que
a internet e as redes sociais online têm sido as maiores ferramentas de interação humana e
se tratando de formas de violência, não poderia ser diferente. Conforme observado, as
eleições presidenciais de 2018 foram um marco da violência na internet no Brasil e uma razão
para tal pode ser explicada a partir do conceito de banalidade do mal. Embora o termo
“banalidade do mal” tenha sido criado em contexto total.

Qual a relação entre o pensamento e a ação?

O pensamento é uma abertura que se caracteriza por ir além da atividade de conhecer, de


manipular, de instrumentalizar o mundo. O pensamento, na concepção arendtiana, não
pretende uma aproximação manipuladora – tal como o conhecimento – com as coisas do
mundo, mas busca os sentidos de cada coisa ser no mundo. “O pensamento retira-se –
radicalmente e por sua própria conta.

Referências:

ANDRADE, M. A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral: contribuições


arendtianas. Revista Brasileira de Educação, v.15, n.43, p. 109-123, 2010.
www.scielo.br/pdf/rbedu/v15n43/a08v15n43.pdf

FERRAZ, A. S. Cura Posterior: banalidade do mal e a ética do pensar em Hannah Arendt.


Filosofia Unisinos, v.10, n.1, p.5-14, 2009.
KONRAD, L. R. Eichmann em Jerusalém e a banalidade do mal: percepções necessárias para a
urgência de uma educação em direitos humanos. Caderno pedagógico, Lajeado, v. 11, n. 2, p.
50-72, 2014. http://www.univates.br/revistas/index.php/cadped/article/view/909/898

PENACHIONI, J; GUISORDI, P. C; T PRADA, T. A banalidade do mal na atualidade: as redes


sociais online como espaços de guerra. Aurora: Revista de Arte, Mídia e Política, v.9, n.25, p.
76-96, 2016. https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/viewFile/26733/21064

SCHIO, S. M. Hannah Arendt: o mal banal e o julgar. Veritas, v.56, n.1, p.127-136, 2011.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/veritas/article/view/9297/6407.

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