Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAMPUS SALGUEIRO
BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO
FILOSOFIA E ÉTICA
1º PERÍODO
MATERIAL COMPLEMENTAR
FILOSOFIA
SALGUEIRO
2013.1
Sumário
Por humano temos que entender aquela realidade radical que é seu ser, a
forma humana original que corresponde a um valor presente dentro do homem e que
apela por sua realização. Para construir um diálogo é necessário que os pólos do
diálogo tenham um ponto de referência comum e uniforme e que ambas as partes
respeitem e não lesionem tal valor. Esse valor, sendo idêntico em ambos, viabiliza a
convergência dialética das posições.
O Critério da Verdade
Uma frase de Marx pode servir de confirmação do acima exposto porque afirma
que a consciência do homem é um fruto da sociedade onde vive: “Não é a consciência
dos homens que determina seu ser, é, pelo contrário, seu ser social que lhes
determina sua consciência”. Na verdade, o homem torna-se mais efeito de como a
sociedade o plasma do que fruto de sua natureza; de fato, o homem nasce em base à
realidade da própria natureza, mas é formado pela sociedade. Os adultos envolvem a
criança, interferindo com a palavra, com os gestos, com o pensamento, com a emoção
e a moral que aprenderam dos antepassados, sem lhe dar ocasião de aprender a
moral em base à própria experiência. Por conseqüência é sempre a opinião alheia que
clona ou plasma a forma de ser, de ver, de decidir e de agir. Com base neste modelo
aprendido, o indivíduo caminha pela vida e pelo mundo continuamente preocupado
em responder segundo a expectativa dos outros e, quando contesta, busca unir-se a
um grupo que o aprova. Os adultos transmitem às crianças os modos da própria
consciência, e é por isso que se torna indispensável provocar o restabelecimento de
contato com as normas e a forma da própria natureza. Esse é o único caminho para
levar o ser humano a rever o modelo social vigente e, ao entendê-lo, poder reconstruir
uma sociedade mais humana. Sem entender o humano em sua essência, essa tarefa
torna-se impossível.
Nossa língua tem origem em duas línguas-mãe: o grego e o latim. O grego deu
origem à palavra filosofia. O significado do termo salienta melhor o amor (filein) pelo
verdadeiro saber (sofia). Nesse sentido, a Filosofia corresponde ao saber que
fundamenta todo o conhecimento humano.
Os juízos racionais sempre devem ser conformes aos objetos para distinguir as
diferenças e encontrar o ponto de igualdade que serve para resolver um problema em
muitos. A razão é a técnica de administrar os primeiros princípios da mente buscando
a integração e o nexo entre realidade externa e verdade interna. A razão é o
instrumento que estrutura o saber do intelecto.
Conclusão
Se o conhecimento pretende ser um valor para ajudar a resolver os problemas
do homem no planeta, ele não pode ser reduzido a uma confusão entre opinião e
verdade como está acontecendo em escritos e aulas. Tornou-se indispensável
encontrar o núcleo ou raiz da própria essência humana para intuir aquele princípio
inteligente que formaliza o saber adequado para humanizar. Esse princípio ou causa
denomina-se alma, essência ou Em Si ôntico e sua luz ou faculdade é o intelecto,
porque o intelecto é quem vê e lê esse princípio e o diferencia e discrimina
selecionando o útil e funcional para sua identidade.
Para que a Psicologia possa tocar o horizonte da psique pura e saber como se
move a atividade psíquica em sua forma original, fora de condicionamentos e
esquemas absorvidos no decurso da história, um pesquisador ou cientista não pode
contentar-se em compreender todos os comportamentos dos homens que se verificam
na experiência do mundo e descrevê-los cientificamente, eventualmente com a ajuda
de experimentos. Segundo Husserl, todos os fenômenos que se mostram, tanto os
que aparecem na língua comum, no agir, no sofrer humano ou em qualquer ato
pertinente à tipologia empírica, ainda que sejam determinados em parte pela
causalidade psicofísica, “não tocam a psique na sua interioridade autêntica que, para
ser atingida, requer a redução fenomenológica”.
O caminho que nos leva à evidência da atividade psíquica original requer uma
consciência que perceba e decifre todas as linguagens organísmicas. Acima de
métodos e acordos convencionais, o cientista da psique necessita de uma consciência
exata ou coincidente à identidade do ser humano e este se auto-revela através das
variações e linguagens do próprio corpo, que é o livro da mente. A objetividade só é
possível se soubermos perceber e decifrar tudo o que o objeto-corpo traduz e informa.
Necessitamos saber o que a vida íntima pretende ensinar com as doenças físicas e
psíquicas, que informação a mente pretende dar com os sonhos e até com toda a
fenomenologia parapsíquica, e isso não se consegue saber apenas por informações
externas verbais ou por uma educação que nos adaptou à cultura aprendida através
de livros e instruções externas.
O médico, como profissional, não está preparado para essa função, porque o
objeto da Medicina é a fenomenologia somática, seu método é experimental dedutivo
e demonstrativo, e a sua intervenção é instrumental, porque se utiliza de
medicamentos e instrumentos.
Quando o ser humano é adaptado aos modelos sociais impostos, ele tende a
projetar formas rígidas de comportamento e sacrifica o próprio fluxo vital variável.
Quando se aprende a contrariar a forma de ser da vida humana se sublima o sacrifício
como meio de salvação. Porém, se o homem contraria seu modo de ser ou sua
natureza, ele não só constrói a doença em si mesmo, mas também projeta uma
ciência que, em vez de ser antropocêntrica, é sociocêntrica, visto que é baseada em
opiniões que impossibilitam cultivar os reais valores da vida em prol de salvar a
opinião social. Para constatar isso, basta estudar os códigos de leis elaborados.
A Objetividade e a Subjetividade
Supondo que o sujeito possa projetar algo de subjetivo em sua versão, e tal
projeção não corresponda ao real, ele não está propondo a verdade, e sim emitindo
opiniões duvidosas ou falsas.
O critério imposto pela cultura é um critério construído pela história e que pode
servir para exercitar conhecimento quando o objeto é adequado ao método
empregado. Porém, se arbitrariamente se universaliza o valor do método único,
simplesmente se impõem limites para o avanço científico, e tal procedimento bloqueia
a evolução humana, propriedade intrínseca da natureza do homem. O homem, em sua
essência, tende a crescer, criar, expandir-se e não apenas repetir e se fixar.
Conhecer o real significa conscientizar aquilo que nos age, ler em mim próprio
o modo como o real se faz na interação do contato. A exatidão está na percepção da
comunicação semântica. Antes de raciocinar se faz necessária a coincidência entre
consciência e organismo.
Uma vez estabelecido o nexo entre ser e saber torna-se evidente que o
conhecimento humano verdadeiro é uma projeção antropocêntrica. O centro unitário
de onde emana o verdadeiro saber para o homem é sua identidade e, se
contrariarmos esse núcleo ou ofendermos essa raiz que nos dá a identidade, ela
produz desordem. Toda vez que nos posicionamos contra nossa identidade
percorremos o caminho de nossa anulação por enveredamos ao não-ser. Ao
mantermo-nos fiéis a esse núcleo quando agirmos, ele regulará a nossa ordem, a
nossa saúde e o nosso crescimento. O ponto de referência unitário que sustenta e
justifica o percurso do nosso saber é a identidade do nosso ser. Não contradizer o real
unitário torna-se a lei inviolável para que ele seja o ponto de partida no jogo dialético.
É no Em Si que nos identifica que encontramos a convergência de qualquer discussão
divergente. O princípio fundamental do pensamento lógico é o princípio ontológico da
identidade. A identidade aponta a convergência do meu modo de ser comigo mesmo.
Tudo que é distônico ou impróprio ao modo como sou constituído não reflete a
verdade para o homem e, portanto, é negação humana. A não-contradição é o
princípio que determina a não negar o valor humano quando se constrói saber, para
que o saber se torne serviço ao ser e humanize.
Se dois juízos são contraditórios entre si, eles não podem ser ambos
verdadeiros, e nem tampouco podem ser ambos falsos. Se um é falso, o outro é
necessariamente verdadeiro. Outro princípio que é determinante na mente é o
princípio da argumentação ou do silogismo: se duas coisas são iguais a uma terceira,
necessariamente são iguais entre si. Se A=C e B=C, A=B.
A Estrutura da Ciência
O intelecto é ato que conhece e opera no interior do ser, é ele que intui e lê a
ação da alma, entende o que o ser é, e, a cada contato efetuado pelo ser, este se
deixa variar e o intelecto, lendo a variação, identifica a informação do real. O intelecto
primeiramente sabe que existe e sempre colhe por evidência interna o que sabe; por
conseqüência ele faz-se de critério da verdade, porque, ao ler as variações que
ocorrem no próprio ser, sabe qualquer outro que se revela em si próprio. É sempre no
interior de si próprio que ele encontra e conhece qualquer realidade.
Se, por um lado a filosofia busca a compreensão das últimas causas, a ciência,
em base a elas, procura elucidar as causas próximas. Se a filosofia tem a função de
esclarecer o ser, a verdade e o bem, a ciência versa sobre o aspecto verdadeiro de
um determinado ente (físico, biológico, matemático etc.). A ciência procura explicitar a
causa verdadeira de qualquer fenômeno físico, biológico, ou a verdadeira fórmula para
resolver o problema matemático. A filosofia procura definir a verdade e a ciência se
serve desse conhecimento para apontar a causa verdadeira dos fenômenos, ou
melhor, estuda como se revela a verdade na ciência, no respectivo objeto estudado.
A ciência é o saber com o ser, o mesmo ser que uma vez é, e uma vez se vê.
O intelecto é aquele que repropõe o uno, porque ele, como ser, organiza a
matéria permanecendo fora (é transcendente) da matéria. Os sentidos escrevem, mas
o intelecto abstrai o sentido que se reflete nos sentidos. O intelecto, no momento em
que é, já se apresenta constituído em uma ordem, e é esta ordem inteligente que
evidencia a identidade do ser humano. O homem em seu interior é mente, é
inteligência e o corpo é a expressão desta ordem mental.
Por outro lado, na ciência se recorre com freqüência ao senso comum, mas
quando se apela à experiência de todos para fundamentar a ciência, é
necessário verificar se o consenso comum é constante e universal, ou seja, se ele
sempre existiu e é presente em todos os povos. Porque, se há um senso comum
presente só em certa crença religiosa, em certa raça ou só em certa nação, não se
sustenta a evidência da natureza humana. Além dessas exigências, torna-se
necessário examinar se aquilo que é considerado do senso comum não contradizos
princípios racionais da inteligência e se taisexperiências do senso comum concordam
com as regras da lógica universal.
A ciência humana deve ter preeminência sobre a ciência tecnológica, para que
a técnica seja colocada a serviço do homem e não subjugar e escravizar o
homem pelo uso da técnica. A técnica é um produto do homem e não é justo que o
produto anule o seu criador, o homem. Isso é uma inversão de valores.
Hoje, entre os perigos que ameaçam a ordem da vida, o que mais se salienta
como corrosivo é a mídia, porque a mídia é um instrumento que toca diretamente a
vida humana. Quando a consciência não reflete a ordem que identifica a vida humana,
a mídia coloca o homem ao léu da última opinião e se transforma num instrumento de
manipulação, porque as opiniões são usadas para apontar endereços que nunca são
confirmados pelas imagens apresentadas. Há uma contradição entre o que se informa
como solução de problemas e o conteúdo das imagens, que repetitivamente,
repropõem a degradação. Já sabemos que, com base no inconsciente, os seres
humanos são conduzidos de um modo e se tornam conscientes de um outro. No
caso da mídia, temos o mesmo princípio em ação, porque se propõe uma informação
consciente em contradição ao estímulo inconsciente. Esse estímulo é dado
mediante a repetição de imagens ofensivas à vida humana.
A Ética da Opinião
As normas éticas baseadas na fé, ainda que amparadas e ditadas pelo “único
Deus”, justificam guerras e desavenças. Por fim, cada grupo considera a própria fé a
correta e a melhor. A constituição de cada país, na qual está contida a lei pétrea, tem
como justificativa que todo poder emana do povo e, em geral, admite-se o dito
popular: “a voz do povo é a voz de Deus”. O que acontece de fato é que as normas
escritas são impostas pela maioria do grupo que assume o poder ou por um ditador
que assumiu o poder mediante a força. Os códigos elaborados variam de uma nação a
outra e muitas leis têm origens motivadas pelo medo e pela insegurança que as
condutas ostensivamente desumanas provocam.
Colocar-se contra é anular o próprio projeto de vida a ser construído. É por isso
que para se resolver é necessário evoluir de modo inteligente a ponto de encontrar o
equilíbrio entre as exigências sociais e as próprias necessidades vitais. Nossa
inteligência é proporcional, e não absoluta. Se ataco a sociedade, posso ser eliminado
e privado da liberdade; se contrario a ordem da vida, posso adoecer e regredir até
morrer. Por ato ético bom ou por moral correta, entende-se que a decisão e a forma de
comportamento sejam as mais adequadas, na situação, para manter a vida íntegra do
sujeito e aperfeiçoá-la, segundo sua identidade pessoal.
O Critério Ético
Pelo critério da lei, o indivíduo é responsável ou deve responder por tudo o que
deveria saber. Pelo critério da religião, ele é responsável pelo que tem
consciência. Pelo critério da natureza ou da vida humana, o indivíduo é responsável
por como é a realidade. Diante da sociedade e da religião, pode-se admitir certa
inocência, mas o ser humano não pode inocentar-se diante da própria vida ou de seu
ser: ou ele se compreende e age conforme as normas de sua vida ou paga o
preço dos erros contra ela. A vida não desculpa e nem perdoa, ela exige exatidão de
conhecimento e correta administração, porque o erro contra ela acarreta dano
ou perda da mesma.
Vimos que há uma moral ou uma ética que estabelece os princípios da relação
da vontade com a própria vida, com o próprio valor individual a ser conservado e
desenvolvido. Todo ato ético bom beneficia o egoísmo vital, e todo o ato ético mau
ofende e prejudica a ordem da vida, causando doenças etc.
Há, porém, regras morais que se originam da relação com os outros. Essas
regras sempre implicam a vontade e as variáveis sociais. As variáveis sociais podem
regular e alterar o valor da decisão voluntária: por exemplo, um ato bom, em relação à
decisão do indivíduo, pode transformar-se em um ato mau devido a uma circunstância
social. Por exemplo, o sexo em praça pública realizado por duas pessoas que se
amam e são casadas assistido por crianças é inconveniente para ambas as partes,
devido ao possível escândalo e ao mau exemplo ocasionado em decorrência do
local inapropriado para tal ato.
Outra variável social que modifica uma ação que pode ser boa, mas que,
devido à intenção de quem a efetua se transforma em má pode ser percebida
no seguinte exemplo: fazer oferta aos doentes só para ser visto pelos outros equivale
a mentir para receber aplausos. A ação pode ser boa, mas a intenção é perversa. Uma
obra boa feita com a intenção de enganar torna-se má. Na relação com os outros,
sempre se deve olhar o que é conveniente para ambas as partes: eu e os outros. O
mal é ofensa à natureza e esta agrega muitos indivíduos, mas a natureza é uma
inteligência que em si é ordem e organiza a matéria sem ser matéria.
A Dupla Moral
A lei tem por finalidade o bem do próprio corpo social. Para esse bem é
indispensável estabelecer a medida na distribuição de valores e até de honras. A
necessidade da aquisição da alimentação própria e das necessidades pessoais
sempre deve preceder a procriação. A educação não pode restringir-se à aquisição da
cultura para o exercício da profissão, mas, além da tecnologia, a educação deve
abranger o trabalho de humanização, em que cada um necessita
responsabilizarse pela própria evolução pessoal, com a finalidade de oferecer um
contributo de melhoria social.
Para nós cidadãos, a prudência nos ensina que não convém propor ideologias
de combate ao sistema vigente, porque pretender combater e reformar a
sociedade, antes de revisar a própria consciência para torná-la mais exata é uma
pretensão infundada. As ideologias antagônicas sempre reciclaram a sociedade em
conflitos e esse não é o princípio do equilíbrio da inteligência humana.
Antes de qualquer nova ideologia temos que resolver uma equação: Salvar o
valor pessoal sem agredir e desmontar os valores sociais. A sociedade é
uma constante incubadora de valores fixos, mas é também um útero aberto de
vitalidade. Para resolver a socialização sem impedir a construção do valor pessoal,
cada um de nós necessita de uma evolução de consciência, de uma capacidade crítica
de inteligência para descobrir como se resolver, salvando o valor da subjetividade da
própria pessoa e conviver com o social independentemente de como ele é. Trata-se de
adotar uma dupla moral, já prognosticada há tempo pelo filósofo Bergson. A dupla
moral tem função de resolver a pessoa no ambiente. A pessoa, resolvendo o próprio
valor, consente uma melhoria na ordem social. São os indivíduos que evoluem em
inteligência, que contribuem para uma eficiência social e reforçam a evolução
natural. O indivíduo se radica na sociedade e a sociedade é feita de indivíduos.
A pessoa inteligente deve saber que a lei não pode ser perfeita nem justa, e
nem mesmo poderá ser o protótipo do bem, mas quando é sustentada pelo poder do
grupo que a aprova, convém respeitá-la, ainda que, no próprio íntimo, não se faça por
convicção. Simplesmente trata-se de adaptar-se dentro da medida exigida, com
diplomacia, mesmo que se faça fingindo em adotá-la como solução única.
A dupla moral leva a distinguir entre a exigência da lei externa e o valor interior
da própria natureza individual. Saber como equacionar com equilíbrio esses dois
valores é a solução para conviver e se construir. A inteligência intui o que se faz
necessário selecionar da sociedade para investir em benefício próprio e assim cultivar
os dotes que a natureza nos deu. Isso é possível sem ofender as leis e sem atacar a
sociedade. O respeito provisório da lei redunda em solução melhor para viver. O
indivíduo que melhor se resolve no contexto social em cada nova situação, oferecerá
elementos de melhoria futura para a sociedade. Saber viver e conviver é o melhor
modo para crescer.
FILOSOFIA E SER HUMANO
Ao nascermos nos é dada uma vida humana com a tarefa de nos construirmos
como pessoas. Na essência, o ser humano é mente e é princípio formal inteligente
porque é dotado de uma capacidade de definir a si próprio. A pessoa se define
conforme o ente histórico acontece. Nascemos segundo a natureza, mas podemos
nos construir fora do endereço da natureza.
Por natureza entende-se tudo o que tem origem, tudo o que surge por
nascimento; significa tudo o que a ação da mente põe ou faz nascer e escorre ou
age por si. O termo é aplicável em escalas diferentes, por exemplo: natureza animal,
natureza vegetal, natureza humana etc. Ao usarmos o termo natureza nesse
texto, sempre a entendemos como natureza humana.
Como o indivíduo nasce situado num ambiente, ele é sujeito responsável tanto
diante da lei social como pela sua vida pessoal; essa responsabilidade o
compromete a agir tanto em conformidade com a lei quanto em conformidade com
suas necessidades vitais. Ele é necessitado a responder tanto pelas normas
jurídicas quanto pela própria existência. Sabendo se resolver diante dessas exigências
ambivalentes, ele terá como resultado a saúde e o próprio crescimento.
O animal não é pessoa porque lhe falta essa tipologia de inteligência que
permite o uso da liberdade. A liberdade é uma possibilidade indefinida, o animal
se sente já definido em seu modo de agir. A pessoa necessita desenvolver a própria
inteligência e, para isso, precisa aprender como se mover diante da dupla
moral, mediante a qual o sujeito respeita as leis sem ofender a dignidade do valor
pessoal.
Só contribui para o bem dos outros aquele que constrói bem a si mesmo.
Aquele que constrói bem a própria pessoa realiza em si um primado de perfeição e se
torna instrumento de evolução a todos os que a ele se relacionam. Portanto, quem
persegue esse caminho contribui para o bem de toda a humanidade.
A Pessoa e a Sociedade
Por outro lado, a maturidade da pessoa a levará a ver que, se alguma coisa
não está certa, de nada adianta culpar os outros. Culpar os outros sempre
corresponde a eximir-se da responsabilidade de ajudar a resolver a situação. Tudo o
que acontece no externo surge de nossa interioridade e todos somos agentes desse
interior. Sempre que a pessoa se põe a criticar os outros, ela permanece cega e
incapaz de descobrir a origem da alienação histórica que nos faz sofrer.
Quando o indivíduo recorre a uma adaptação fictícia aos modelos sociais, ele
terá ocasião de aprender tudo e, com isso, progredir, fazendo-se continuamente.
A nossa sociedade supervaloriza a prodigalidade ou a “caridade”, mas não
percebe que, ao repetir a generosidade sem responsabilizar o dependente capaz, ela
colabora de um certo modo para anular o crescimento pessoal de adultos que repetem
sempre os mesmos erros contra si mesmos.
A mídia pode impor uma visão dos fatos que não é verdadeira: por exemplo, eu
posso ser humano em relação ao necessitado, mas não posso prostituir-me e ser
cúmplice de seus erros. Não é possível aceitar que o não trabalho produza
evolução. A mídia, sem que seus agentes queiram, pode atrofiar o progresso. Um
exemplo está no caso do excesso de propaganda, pois esta rouba o equilíbrio
da interioridade da pessoa, que se deixa investir por um vazio de conteúdo sem
vantagem de vida.
A manipulação das pessoas não toca a liberdade física, mas as táticas usadas,
desde os modos de montar uma vitrine até as formas mais sofisticadas para aguçar a
curiosidade, visam construir escravos interiores. Trata-se de um investimento que visa
ao consumismo da personalidade. A rede sofisticada já agrega todos os meios para
adaptar as pessoas àquilo que na sociedade se reputa de valor em ser.
Introdução:
O Homem e a Terra
O homem é um filho desta terra, dela ele se alimenta e em seu corpo reproduz,
de modo sintético, a ordem deste planeta. Há uma continuidade complementar entre o
homem e o planeta. O homem é o “humus” da terra, por ser a mente capaz de
responsabilizar- se pelo cultivo e organização do planeta. Esta organização está em
função de aperfeiçoar o ambiente para efetuar seu próprio crescimento. A medida
que regula a ordem adequada ao ambiente, é seu próprio organismo.
Ecologia Antropocêntrica
O feto depende da mãe tanto para se nutrir de oxigênio e alimento, como para
manter a temperatura adequada a seu desenvolvimento. Sua vida depende da vida e
da situação da mãe. As situações de saúde ou de insanidade da mãe afetam o bebê.
As variações emotivas da mãe provocam variações ou reações no feto.
A própria vida íntima da figura materna repassa informações que, assimiladas
pelas células, estruturam modelos reativos e comportamentais no futuro homem. As
primeiras informações assimiladas pré-orientam as subsequentes e o reforço molda o
próprio caráter. Em base a isto sabe-se que a primeira pessoa que proporciona à
criança segurança e amparo induz a uma identificação por incapacidade de
autonomia. A criança para corresponder afetivamente começa a copiar tudo o que o
adulto aprova, exige ou subentende.
Nosso saber não necessita salvar e nem construir um novo planeta, mas
precisa garantir um ambiente no planeta que não ofenda e destrua a nossa vida.
Sem compreender as regras da própria vida, sem saber ler todas as mensagens e
depoimentos do próprio organismo, escritos por nossa alma inteligente, não
saberemos organizar o ambiente sem que este ofenda a ordem de nosso corpo. O
ambiente é extensão do corpo, é a morada do homem e este útero, para ser
organizado segundo as exigências evolutivas do habitante, exige que o
homem conheça a ordem ou a organização da própria vida, da própria identidade
psico-orgânica. Um eu cego no que se refere ao autoconhecimento, não pode
pretender resolver o ambiente enquanto a consciência não reflete a identidade do
próprio ser. No sonho e na fantasia passam informações que nossa razão perdeu o
código de interpretação. O fato é que nós somos pelo quanto refletimos e isto em
âmbito de pensamento, de fantasia ou sonho, porque a fantasia e os sonhos são
configurações que expõem informações que são necessárias para compreender nosso
modo de ser e agir.
Hoje, ainda há quem afirme que os poucos vulcões existentes poluem num ano
o equivalente à poluição efetuada pelo homem durante dez anos. São
dados estatísticos, em muitos casos suspeitos, mas deixam entender que não é
apenas o homem que interfere no planeta e que o poder de regeneração deve ser
grande.
Toda vez que as decisões e as ações forem distônicas ao próprio modo de ser
humano, o procedimento redundará em desvantagem no processo de construir
o próprio valor pessoal. O ser, o saber e o agir necessitam estar em nexo e coerência
para não ofender o valor humano estabelecido pela natureza. A moral é sempre um
procedimento que se torna função adequada à realização do próprio valor pessoal,
sem a necessidade de ofender o bem comum.
A pessoa não pode tornar-se apenas um esquema dos valores sociais, mas
necessita resgatar a própria autenticidade mediante uma evolução de inteligência ou
mudança de consciência, através da qual se aprende a encontrar o equilíbrio entre os
valores sociais, os valores vitais e individuais. O núcleo da pessoa autêntica é o eu
Verdadeiro. Hoje com a confusão entre saber verdadeiro e opinião, se faz necessária
uma ciência e uma ética fundamentada no valor da pessoa autêntica. Sem esta base,
ou sem a purificação das aderências impróprias da consciência, o resgate do
conhecimento humano fica comprometido! Não basta raciocinar com lógica para fazer
ciência, é necessário fundamentar o saber na identidade do próprio ser humano.
O líder não pode prevaricar, não pode ser subjugado por opiniões, por
gratificações afetivas porque o líder só é líder se for um condutor de sucesso. Quando
o líder erra a res prevalece e o Dominus entra em caos.
Hoje, na política a res publica prevalece sobre os líderes políticos dos poderes
constituídos. A massa da população se impõe na exigência e na violência, em base a
impulsos sem ordem ao bem comum.
O líder ou Dominus é o maior não por imposição ou agressão, mas é o maior
por saber providenciar a ordem comum para si e para ou outros. Ele se salienta pela
competência em saber construir o bem de modo humano. Portanto ele é o primeiro a
ter que esmerar-se em conhecer o núcleo que identifica o humano para organizar um
clima de bom relacionamento e cooperação, ou melhor, uma sociedade que cultive
o humanismo.
Os latinos usavam uma frase: ubi maior, minor cessat (na presença do grande,
o menor cala), já que entendiam como maior aquele que por superioridade de saber,
intuição e competência não recorre a imposição, mas sabe ser com habilidade,
providencia para muitos. Esta frase é complementada por outra: Suaviter in modo,
fortiter in re (o maior e suave em seu modo de ser, mas é forte no saber e no decidir
organizar).
ESSÊNCIA: é aquilo que especifica e define um modo ou forma de ser. É aquilo pelo
qual algo tem ser. O ser é o ato e a essência é a forma.
PESSOA: é o ser por si, é constituído de inteligência e organismo, não é nem alma,
nem corpo, e sim o conjunto. Alma é essência, mas não pessoa, porque a pessoa se
constituiu mediante o ente histórico individualizado. A pessoa é o ente indiviso em si e
distinto de todo o resto e, por ser inteligente, é responsável por seus atos.
PSIQUE ou ALMA: é o uno dinâmico que se dá todo reunido, é indiviso e sem partes
e independe de tempo e espaço. A ação psíquica age através da intencionalidade, do
pensamento, da razão, da vontade, bem como da imaginação, dos sonhos, emoções
etc.
RAZÃO: é a faculdade que faz comparações, emite juízos e estabelece relação entre
os juízos. A razão verifica o igual e mediante dedução e indução faz lógica. Razão e
consciência são instrumentos do intelecto.
VIRTUDE: virtus = força do espírito, denodo. A virtude é o ato racional do espírito que
regula a ordem dos impulsos naturais. Mediante esta ordem se estabelece o meio
termo (virtus in medio) ou a justa medida entre o excesso e a deficiência. A justiça é o
meio termo ou a justa medida entre direitos e deveres. Na sociedade, o meio termo
que estabelece o justo é a lei, na vida é a identidade do ser. Aristóteles considera
a justiça como a virtude política, porque ela é o meio termo ou a medida justa entre a
tirania e a anarquia. A justiça equilibra riqueza e pobreza, culpa e castigo, proveitos e
perdas etc. A fortaleza é o justo meio entre a insensibilidade e a devassidão, entre a
emoção e a razão. A prudência é a virtude da precação e do comedimento porque
segue a medida da mente. A prudência dá a justa medida entre o atrevimento e a
maluquice. No caso da riqueza, a prudência é o meio termo entre a prodigalidade e a
avareza etc. O homem prudente é moderado, precavido, comedido.