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1. (Unesp 2018) Para Descartes, o corpo é uma máquina que pode ser completamente
entendida em termos da organização e do funcionamento de suas peças. Uma pessoa saudável
seria como um relógio bem construído e em perfeitas condições mecânicas; uma pessoa
doente seria como um relógio cujas peças não estão funcionando apropriadamente. Mas em
uma concepção holística de doença, a enfermidade física é apenas uma das numerosas
manifestações de desequilíbrio do organismo. Além disso, a primeira diferença óbvia entre
máquinas e organismos é o fato de que as máquinas são construídas, ao passo que os
organismos crescem. Essa diferença fundamental significa que a compreensão de organismos
deve ser orientada para os processos da estrutura orgânica. A questão, portanto, será: pode
haver uma ciência que não se baseie exclusivamente na medição, uma compreensão da
realidade que inclua qualidade e experiência, e que possa ainda ser chamada científica? A
ciência, em minha opinião, não precisa ficar restrita a medições e análises quantitativas.
b) Explique o significado de doença sob um ponto de vista holístico. Qual é a relação entre
mecanicismo e análise quantitativa?
Resposta:
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2. (Unesp 2015) Seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada pela quase
totalidade dos estudiosos como criação própria do gênio dos gregos. Sendo assim, a
superioridade dos gregos em relação aos outros povos nesse ponto específico é de caráter não
puramente quantitativo, mas qualitativo, porque o que eles criaram, instituindo a filosofia,
constitui novidade que, em certo sentido, é absoluta. Com efeito, não é em qualquer cultura
que a ciência é possível. Há ideias que tornam estruturalmente impossível o nascimento e o
desenvolvimento de determinadas concepções – e, até mesmo, ideias que interditam toda a
ciência em seu conjunto, pelo menos a ciência como hoje a conhecemos. Pois bem, em função
de suas categorias racionais, foi a filosofia que possibilitou o nascimento da ciência, e, em
certo sentido, a gerou. E reconhecer isso significa também reconhecer aos gregos o mérito de
terem dado uma contribuição verdadeiramente excepcional à história da civilização.
Baseando-se no texto, explique por que a definição apresentada de “filosofia” pode ser
considerada eurocêntrica. Explique também que tipo de ideias apresentaria a característica de
impedir o desenvolvimento do conhecimento científico.
Resposta:
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3. (Unesp 2015) Do ponto de vista do Iluminismo, a ilusão deixa de ser uma simples deficiência
subjetiva, e passa a enraizar-se em contextos de dominação, de onde a ilusão deriva e se
incumbe de estabilizar. O preconceito – a opinião falsa, não controlável pela razão e pela
experiência – revela seu substrato político. É no interesse do poder que a razão é capturada
pelas perturbações emocionais, abstendo-se do esforço necessário para libertar-se das paixões
perversas, e para romper o véu das aparências, que impedem uma reflexão emancipatória.
Deixando-se arrastar pelas interferências, a razão não pode pensar o sistema social em sua
realidade. Prisioneira do dogmatismo, que nem pode ser submetido ao tribunal da experiência
nem permite a instauração desse tribunal, a razão está entregue, sem defesa, às imposturas da
religião e de todos os outros dogmas legitimadores.
Resposta:
O papel das ideologias é dar um sentido legitimador para as contradições sociais, a fim de que
pareçam coerentes e até desejáveis. Assim, as ideologias produzidas pela classe dominante,
possuem um papel vital no condicionamento da razão humana dentro do espaço social. Esta
condição imposta à consciência submete a razão a um domínio, tornando-a impotente e
legitimando a dominação de uma classe que lucra, de algum modo, sobre a outra, criando um
cativeiro. Sob tal cativeiro, fica impossível traçar vias para consolidar valores democráticos,
acessíveis a todos, assim como construir uma sociedade menos desigual e mais equitativa.
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A reflexão emancipatória é alcançada quando se percebe que as ideologias não coincidem com
a realidade. Para que isto seja possível é necessário deixar de lado os dogmas impostos pela
classe dominante, transcender os preconceitos e criar uma consciência de si enquanto ser
existente na realidade coletiva. Por meio da emancipação da razão se é possível propor
projetos honestos e democráticos para a transformação social.
a) Explicite o tema filosófico abordado no texto e sua relação com a criação do mundo.
Resposta:
a) O tema a que ele se refere é a questão metafísica acerca da natureza do bem e do mal.
Segundo ele, o bem e o mal são resultado da ação humana, e não da vontade divina.
b) David Hume, ao demonstrar os males do mundo, não se utiliza de deduções lógicas, mas do
efeito de ações que causam algum tipo de mal-estar para o homem. Ou seja, o mal é resultado
da experiência humana. Além disso, ele não apela para explicações metafísicas e religiosas
para categorizar esse mal. Ou seja, o seu empirismo o conduz também a uma atitude de
ceticismo. Essa visão é oposta ao racionalismo cartesiano, bem como ao idealismo platônico,
uma vez que não há, segundo Hume, qualquer noção inata de bem e de mal no homem.
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Resposta:
a) O desenvolvimento da sociedade moderna, que levou ao estabelecimento de estruturas
sociais e políticas burguesas, possibilitou, ainda, a construção de ideias que interpretassem
essas novas estruturas, levando ao advento de uma moral burguesa, base do ideário defendido
pelas Revoluções Burguesas. Essa nova moral que passou a predominar parte de uma
concepção de que as dinâmicas sociais, assim como as diferenças existentes entre os
indivíduos, constituem o resultado da ação dos homens de acordo com seus interesses a partir
de processos sociais que são, na maioria das vezes, opressores, e não da vontade divina de
nenhum ser sobrenatural. Assim, a interpretação das sociedades desvinculada de percepções
mistificadas, em conjunto com a interpretação dos fenômenos naturais através do
pensamento científico, também fortalecido com o processo de desenvolvimento da sociedade
moderna, resultaram em um afastamento dos homens em relação ao pensamento religioso,
na medida em que a razão humana se tornou o mecanismo através do qual esses homens
passaram a buscar o entendimento do mundo que os cercava. Essa nova forma de
pensamento se refletiu nas mudanças políticas ocorridas nesse período, com o
estabelecimento de governos democráticos e laicos, baseados na capacidade humana de
autogerir-se de forma juridicamente igualitária.
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6. (Unesp 2015)
Texto 1
Karl Popper se diferenciou ao introduzir na ciência a ideia de “falibilismo”. Ele disse o seguinte:
“O que prova que uma teoria é científica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada”. Para
ele, nenhuma teoria científica pode ser provada para sempre ou resistir para sempre à
falseabilidade. Ele desenvolveu um tipo de teoria de seleção das teorias científicas, digamos,
análoga à teoria darwiniana da seleção: existem teorias que subsistem, mas, posteriormente,
são substituídas por outras que resistem melhor à falseabilidade.
Texto 2
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Resposta:
7. (Unesp 2018)
Texto 1
Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito de seus semelhantes e está, por sua vez,
obrigado a respeitar todos os demais. A humanidade em si mesma é uma dignidade, pois um
ser humano não pode ser usado meramente como um meio (instrumento) por qualquer ser
humano.
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Texto 2
Ao se assenhorar de um Estado, aquele que o conquista deve definir as más ações a executar
e fazê-lo de uma só vez, a fim de não ter de as renovar a cada dia. Deve-se fazer as injúrias
todas de um só golpe. Quanto aos benefícios, devem ser concedidos aos poucos, de sorte que
sejam mais bem saboreados.
Resposta:
a) A ética kantiana é universalista ao ter como elemento central o indivíduo e sua relação com
os demais, exatamente como ele apresenta em seu imperativo categórico. Isso está alinhado
com o iluminismo na medida em que valoriza o indivíduo e a razão, inspirando inclusive a ideia
de Direitos Humanos universais.
8. (Unesp 2015) A ciência é uma atividade na sua essência antidogmática. Pelo menos deveria
sê-lo. A ciência, em particular a física, parte de uma visão do mundo que é, de acordo com a
terminologia utilizada por Arquimedes, um pedido que se faz. É assim porque pedimos para
que se admita, à escala a que pretendemos descrever os fenômenos, que o mundo assuma
uma determinada forma. Os outros pedidos e postulados têm de se inserir, tão pacificamente
quanto possível, nesse pedido fundacional. Mas nunca perderão o estatuto de pedidos.
Transformá-los em dogmas é perturbar a ciência com atitudes que lhe deveriam ser
totalmente estranhas.
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(Rui Moreira. “Uma nova visão da natureza”. Le Monde Diplomatique, março de 2015.
Adaptado.)
Baseando-se no texto, explique qual deve ser a relação entre ciência e verdades absolutas.
Explique também a diferença entre uma visão de mundo baseada em “pedidos” e uma visão
de mundo dogmática.
Resposta:
A ciência “pede” que se admita que o mundo assuma uma determinada forma, isso significa
que o conhecimento científico tem um caráter hipotético e dinâmico, diferente da visão
dogmática que impõe uma interpretação inflexível, não baseada em experimentos dos
fenômenos. Um pedido na concepção metodológica da ciência soa como uma “suponhamos”,
abrindo assim portas para o levantamento de hipóteses capazes de se aproximar do mundo
real.
9. (Unesp 2018) Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião
estabelecida por decreto e ensinada como uma doutrina, sem contestação. O dogmatismo é
uma atitude autoritária e submissa. Autoritária porque não admite dúvida, contestação e
crítica. Submissa porque se curva a opiniões estabelecidas. A ciência distingue-se do senso
comum porque esta é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas,
enquanto a ciência baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na
exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a
realidade.
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Resposta:
Texto 1
A verdade é esta: a cidade onde os que devem mandar são os menos apressados pela busca do
poder é a mais bem governada e menos sujeita a revoltas, e aquela onde os chefes revelam
disposições contrárias está ela mesma numa situação contrária. Certamente, no Estado bem
governado só mandarão os que são verdadeiramente ricos, não de ouro, mas dessa riqueza de
que o homem tem necessidade para ser feliz: uma vida virtuosa e sábia.
Texto 2
Um príncipe prudente não pode e nem deve manter a palavra dada quando isso lhe é nocivo e
quando aquilo que a determinou não mais exista. Fossem os homens todos bons, esse preceito
seria mau. Mas, uma vez que são pérfidos e que não a manteriam a teu respeito, também não
te vejas obrigado a cumpri-la para com eles. Nunca, aos príncipes, faltaram motivos para
dissimular quebra da fé jurada.
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Resposta:
No texto 1 Platão desenvolve a tese de que cidade seria melhor administrada pelo “Filósofo
Rei”, nesta teoria desenvolvida no livro “A República” o filósofo é o melhor administrador por
ser aquele que possui conhecimento da “verdade” que se identifica com o Bom, o Bem e o
Belo que residem no Mundo das Ideias. Ele (Filósofo Rei) seria o único capaz de guiar os
habitantes da cidade na busca do melhor desenvolvimento de cada um segundo suas aptidões
naturais, ou seja, o bem que reside dentro de cada indivíduo pode ser alcançado e permitir
uma vida feliz a todos. A virtude do governante centra-se na busca da concretização do bem a
todos os habitantes da cidade. Não sendo o filósofo guiado por interesses particulares, ele se
torna o administrador ideal para a cidade. Já no texto 2, Nicolau Maquiavel, em seu livro “O
Príncipe”, desenvolve uma tese que rompe com lógica estabelecida entre ética e poder. Seu
pressuposto de que os homens são maus, faz com que o príncipe deve buscar manter o poder
mediante estratégias que não possuem ligação com o comportamento virtuoso. Elementos
como virtú (entendida como impetuosidade, coragem) e fortuna (entendida como ventura,
oportunidade), somado a um conhecimento da moralidade dos homens, são recursos que
permitem ao governante agir de modo calculado, não objetivando o desenvolvimento de uma
bondade natural nos homens como acredita Platão, mas tendo como foco a condução dos
homens rumo a uma melhor condição de vida que não siga necessariamente o caminho da
virtude enquanto retidão moral.
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Texto 2
Com base nos textos apresentados, comente a oposição entre o pensamento mítico e a
corrente filosófica do empirismo.
Resposta:
O texto 1 coloca que a explicação mítica da realidade foi o recurso disponível aos homens
daquela época para poder compreender a realidade que os cercava. Neste período a realidade
exterior ao mundo natural somente poderia ser conhecida por meio de explicações que
tivessem a magia, o sobrenatural como base fundante. Desta forma, somente aqueles que se
dedicavam exclusivamente a esta atividade poderiam, ser aqueles capazes de compreender os
desígnios dos deuses. Os sacerdotes representavam os intermediários entre os dois mundos
(humano e divino). Assim, a autoridade de sua palavra era por si só critério suficiente para
estabelecer “verdades” míticas que serviam como forma de explicação para os fenômenos
naturais.
No texto 2, diferente da explicação mítica, o empirismo, tendo como principais teóricos: John
Locke, Francis Bacon e David Hume, não recorre à autoridade da mesma maneira que os mitos,
para explicar os fenômenos. Esta corrente de pensamento rejeita que o conhecimento seja
inato, descarta, não considera como válido aquilo que não pode ser aferido, verificado, aquilo
que não for evidente. A verdade reside não mais na autoridade de quem fala, mas na
evidência, na constatação, naquilo que pode ser captado pelos sentidos. O suprassensível é
negado, pois não é passível de investigação, verificação.
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12. (Unesp 2017) Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após
geração, seres humanos estão aprisionados. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta
fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros há um caminho em que homens transportam
estatuetas (pequenas estátuas) de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as
coisas. Por causa da luz da fogueira, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna
as sombras das estatuetas transportadas atrás de um muro, mas sem poderem ver as próprias
estatuetas nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros
imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Que aconteceria, indaga Platão, se
alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado?
Resposta:
13. (Unesp 2017) Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira gera-
se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo –, enquanto a virtude moral
é adquirida em resultado do hábito. Não é, pois, por natureza, que as virtudes se geram em
nós. Adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. As coisas que temos de
aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os homens tornam-se
arquitetos construindo e tocadores de lira tocando esse instrumento. Da mesma forma,
tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura etc.
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Responda como a concepção de Aristóteles sobre a origem das virtudes se diferencia de uma
concepção inatista, para a qual as virtudes seriam anteriores à experiência pessoal. Explique a
importância dessa concepção aristotélica no campo da educação.
Resposta:
Para Aristóteles, as virtudes não se originam de maneira natural nos seres humanos, mas a
partir do hábito, ou seja, a partir da sua prática constante é que as virtudes se desenvolvem, o
que contraria a concepção inatista, segundo a qual estruturas naturais da consciência humana,
independentes de qualquer experiência anterior, determinariam o desenvolvimento de
algumas características. No campo da educação, o pensamento aristotélico fundamenta a
percepção de que o desenvolvimento intelectual pode ser alcançado a partir do processo
educacional.
Texto 2
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Resposta:
15. (Unesp 2017) A revolução científica não consiste somente em teorias novas e diferentes
sobre o universo astronômico, sobre o corpo humano ou sobre a composição da Terra. A
revolução científica é uma revolução da ideia de saber e de ciência. Trata-se de um processo
complexo que encontra seu resultado mais claro na autonomia da ciência em relação às
proposições de fé e às concepções filosóficas. A ciência é ciência experimental (baseada em
experiências concretas). É a ideia de ciência metodologicamente regulada e publicamente
controlável que exige as novas instituições científicas, como as academias e os laboratórios. E é
com base no método experimental que se funda a autonomia da ciência, que encontra as suas
verdades independentemente da filosofia e da fé.
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Resposta:
A revolução científica representa uma ruptura com os dogmas religiosos que até então
fundamentavam as concepções acerca do processo de obtenção do conhecimento. Ao
estabelecer o método científico, baseado na experimentação sistemática e na previsão de
fenômenos a partir de leis gerais, como paradigma para a produção do conhecimento, a
revolução científica consolidou a autonomia da ciência frente a fé religiosa, uma vez que
superou a subordinação da produção científica frente às determinações da Igreja, das
autoridades religiosas e dos escritos bíblicos.
16. (Unesp 2014)
Texto 1
Você quer ter boa saúde e vida longa para você e sua família? Anseia viver num mundo onde a
dor, o sofrimento e a morte serão coisas do passado? Um mundo assim não é apenas um
sonho. Pelo contrário, um novo mundo de justiça logo será realidade, pois esse é o propósito
de Deus. Jeová levará a humanidade à perfeição por meio do sacrifício de resgate de Jesus. Os
humanos fiéis viverão como Deus queria: para sempre e com saúde perfeita.
Texto 2
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Resposta:
O texto 1 aborda a questão da religião transmitindo tranquilidade ao ser humano ao propor
um caminho que os conduzirá rumo à satisfação de todas suas necessidades. A condição
necessária para isto é a adesão a Deus, ou seja, a fidelidade a Deus garantirá uma vida feliz
para aqueles que resolveram ser submissos a Ele.
No texto 2 o psicanalista Sigmund Freud apresenta uma argumentação que o discurso religioso
é um discurso que se fundamenta nos sentimentos, desejos e ilusões do ser humano. Para
Freud o discurso religioso apela para a infância, à falta de maturidade, falta de autonomia
intelectual e afetiva. Neste sentido, as ilusões em relação ao uma melhor condição de vida
repousam sobre uma mística no qual a razão é deixada de lado. O texto 1 coloca que a
satisfação dos desejos serão plenamente atendidos caso nos submetamos a uma “providência”
maior, onde poderemos ter saúde, justiça e uma vida digna sem termos de nos responsabilizar
pelas escolhas que fizermos. Já no texto 2, Freud propõe que o desenvolvimento da
maturidade deve ser fruto de uma “educação para a realidade”, ou seja, uma educação que
coloque o homem de posse de si, sendo racional para a compreensão de sua condições e que
seja integralmente responsável pela satisfação dos seus desejos e aspirações, assumindo as
consequências de suas decisões.
17. (Unesp 2013) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira – fonte da luz de onde
se projetam as sombras – e alguns homens que carregam objetos por cima de um muro, como
num teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no fundo da
caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito
como num cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às
caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das figuras na tela.
Resposta:
A Alegoria da Caverna quer dizer, utilizando uma imagem fictícia, como era a realidade da
cidade de Atenas ou de todas as cidades. Tal realidade é que os homens vivem suas vidas
encantados com imagens, ou seja, eles vivem suas vidas encantados com aquilo que mantém
apenas a aparência da realidade. Não apenas o homem está nessa situação de enfeitiçado,
porém ele também está preso impedido de chacoalhar para fora dessa situação. O filósofo é
quem consegue se livrar do feitiço e depois quebrar os grilhões que o impedem de sair desse
estado. É fundamental, segundo a alegoria, realizar esse movimento para fora da caverna para
conceber que a aparência explicitada pelas imagens não revela muito sobre a verdade
descoberta sob a luz existente fora da caverna. A aparência é apenas um simulacro produzido
na caverna, a essência é uma descoberta feita livre do confinamento neste antro que os
homens vivem, chamado “cidade”.
Texto 1
Entre os que se consideram a parte civilizada da Humanidade, que fizeram e multiplicaram leis
positivas para a determinação da propriedade, ainda vigora esta lei original da natureza e, em
virtude dessa lei, o peixe que alguém apanha no oceano torna-se propriedade daquele que
teve o trabalho de apanhá-lo, pelo esforço que o retira daquele estado comum em que
natureza o deixou. Deus, ao dar o mundo em comum a todos os homens, ordenou-lhes
também que trabalhassem. Aquele que, em obediência a esta ordem de Deus, dominou,
lavrou e semeou parte da terra, anexou-lhe por esse meio algo que lhe pertencia, a que
nenhum outro tinha direito.
Texto 2
Ora, nada é mais meigo do que o homem em seu estado primitivo, quando, colocado pela
natureza a igual distância da estupidez dos brutos e das luzes funestas do homem civil, é
impedido pela piedade natural de fazer mal a alguém. Mas, desde o instante em que se
percebeu ser útil a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade,
introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas
transformaram-se em campos que se impôs regar com o suor dos homens e nos quais logo se
viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas.
Resposta:
Texto 1
Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser uma instituição divina, além dos fins
temporais que justificam a ação política, visa outros fins superiores, de natureza espiritual. O
Estado deve dar condições para a realização eterna e sobrenatural do homem. Ao discutir a
relação Estado-Igreja, admite a supremacia desta sobre aquele. Considera a Monarquia a
melhor forma de governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua virtude, desde que
seja bloqueado o caminho da tirania.
Texto 2
Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual, ao explicar “como o homem deve
agir”, cria sistemas utópicos. A nova política, ao contrário, deve procurar a verdade efetiva, ou
seja, “como o homem age de fato”. O método de Maquiavel estipula a observação dos fatos, o
que denota uma tendência comum aos pensadores do Renascimento, preocupados em
superar, através da experiência, os esquemas meramente dedutivos da Idade Média. Seus
estudos levam à constatação de que os homens sempre agiram pelas formas da corrupção e
da violência.
Resposta:
A primeira concepção é por princípio uma concepção política teológica. O poder político é
instituído por Deus e a finalidade da ação política é a salvação. O Estado, por conseguinte,
deve se conformar de tal maneira que permita, ou melhor, condicione o homem a viver em
função do fim maior, em função da eternidade representada na salvação. São Tomás é
evidentemente um católico, considerando a primazia de sua religião sobre quaisquer
necessidades mundanas, organizando o poder político e a ação do cidadão de tal maneira que
reflita apropriadamente os dogmas da Igreja.
20. (Unesp 2017) É esse o sentido da famosa formulação do filósofo Kant sobre o imperativo
categórico: “Aja unicamente de acordo com uma máxima tal que você possa querer que ela se
torne uma lei universal”. Isso é agir de acordo com a humanidade, em vez de agir conforme o
seu “euzinho querido”, e obedecer à razão em vez de obedecer às suas tendências ou aos seus
interesses. Uma ação só é boa se o princípio a que se submete (sua “máxima”) puder valer, de
direito, para todos: agir moralmente é agir de tal modo que você possa desejar, sem
contradição, que todo indivíduo se submeta aos mesmos princípios que você. Não é porque
Deus existe que devo agir bem; é porque devo agir bem que posso necessitar – não para ser
virtuoso, mas para escapar do desespero – de crer em Deus. Mesmo se Deus não existir,
mesmo se não houver nada depois da morte, isso não dispensará você de cumprir com o seu
dever, em outras palavras, de agir humanamente.
Resposta:
O imperativo categórico kantiano se baseia na universalidade moral, haja vista que concebe
como ação moral aquela que pode valer como lei universal, constituindo um dever que seria
fundamentado em uma razão também universal. A ética kantiana dispensa justificativas de
caráter religioso pois, para Kant, a moral possui fim em si mesma, ou seja, a ação moral
justifica a si mesma pelo fato de ser moral, não necessitando de nenhuma outra justificativa e
sendo uma ação por dever.
21. (Unesp 2017) Quase sem exceção, os filósofos colocaram a essência da mente no
pensamento e na consciência; o homem era o animal consciente, o “animal racional”. Porém,
segundo Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, sob o intelecto consciente está a
“vontade inconsciente”, uma força vital persistente, uma vontade de desejo imperioso. Às
vezes, pode parecer que o intelecto dirija a vontade, mas só como um guia conduz o seu
mestre. Nós não queremos uma coisa porque encontramos motivos para ela, encontramos
motivos para ela porque a queremos; chegamos até a elaborar filosofias e teologias para
disfarçar nossos desejos.
Explique a importância da concepção do homem como “animal racional” para a filosofia. Como
o conceito de “vontade inconsciente”, proposto por Schopenhauer, compromete a confiança
filosófica na razão?
Resposta:
O pensamento filosófico iluminista aponta a racionalidade como uma característica que
atribui a essência humana aos indivíduos. Essa concepção parte do princípio de que os
instintos e os desejos aproximariam os indivíduos dos outros animais, uma vez que seriam
fruto da irracionalidade, afastando o homem de sua natureza humana, inferiorizando-o. A
racionalidade seria, partindo da perspectiva iluminista, aquilo que possibilita ao homem existir
e ter consciência de que existe, não limitando sua existência aos seus aspectos biológicos.
Assim, a razão seria o que permite ao homem a elevação espiritual e o domínio sobre a
natureza. No entanto, o conceito de “vontade inconsciente” formulado por Schopenhaurer
levanta um questionamento acerca do otimismo iluminista em relação à razão, na medida em
que concebe a natureza humana como sendo marcada pelos conflitos entre as pulsões
inconscientes e o uso da razão. Isso se daria porque a “vontade inconsciente” não seria
conduzida pela razão, mas por desejos incontroláveis, ideia que rompe com o pensamento
tradicional de que todas as ações humanas são fundamentadas no uso da razão.
22. (Unesp 2013) Preguiça e covardia são as causas que explicam por que uma grande parte
dos seres humanos, mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia,
ainda permanecem, com gosto, e por toda a vida, na condição de menoridade. É tão
confortável ser menor! Tenho à disposição um livro que entende por mim, um pastor que tem
consciência por mim, um médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso me esforçar.
A maioria da humanidade vê como muito perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado
rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram para si de bom grado a sua supervisão.
Após terem previamente embrutecido e cuidadosamente protegido seu gado, para que estas
pacatas criaturas não ousem dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem andar, os
tutores lhes mostram o perigo que as ameaça caso queiram andar por conta própria. Tal
perigo, porém, não é assim tão grande, pois, após algumas quedas, aprenderiam finalmente a
andar; basta, entretanto, o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las por completo
para que não façam novas tentativas.
(Immanuel Kant, apud Danilo Marcondes. Textos básicos de ética – de Platão a Foucault, 2009.
Adaptado.)
O texto refere-se à resposta dada pelo filósofo Kant à pergunta sobre “O que é o Iluminismo?”.
Explique o significado da oposição por ele estabelecida entre “menoridade” e “autonomia
intelectual”.
Resposta:
Estas aulas do professor Franklin comentam com primor a ideia de autonomia presente no
texto sobre o Iluminismo de Kant:
O ser humano é a flor do céu que desabrochou na Terra. Sua semente foi plantada por Deus,
sua bela imagem foi projetada por Deus e seu perfume agradável foi também presenteado por
Deus. Não devemos perder essa bela imagem nem o agradável perfume. Nosso belo
desabrochar é a manifestação da glória de Deus.
Texto 2
Os textos citados apresentam concepções filosóficas distintas sobre o lugar do ser humano no
universo. Discorra brevemente sobre essas diferenças, considerando o teor antropocêntrico
dos textos.
Resposta:
24. (Unesp 2017) À medida que a ciência se mostrou capaz de compreender a realidade de
forma mais rigorosa, tornando possível fazer previsões e transformar o mundo, houve a
tendência a desprezar outras abordagens da realidade, como o mito, a religião, o bom senso
da vida cotidiana, a vida afetiva, a arte e a filosofia. A confiança total na ciência valoriza apenas
a racionalidade científica, como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas que o
homem se faz e a única capaz de resolver os problemas humanos.
Com base na ideia de “verdade absoluta”, explique a diferença entre mito e ciência.
Considerando a expressão “confiança total na ciência”, explique como o próprio conhecimento
científico pode se transformar em mito.
Resposta:
A diferença entre mito e ciência consiste no modo a partir do qual cada um entende que se dá
o processo do conhecimento acerca da realidade: enquanto no mito esse processo se
fundamenta no sobrenatural e no dogmatismo, na ciência é a experimentação metódica e a
formulação de teorias e leis gerais que possibilita o conhecimento. Com o aumento da
importância da ciência como paradigma da vida humana e do universo, sobretudo a partir do
século XIX, passou a predominar a ideia de que apenas o conhecimento científico possuiria
legitimidade e seria capaz de fornecer uma verdade absoluta. No entanto, a confiança total na
ciência pode levar a um processo contraditório no qual ocorre a mitificação da ciência, na
medida em que busca-se explicações científicas para aspectos da condição humana que
escapam ao entendimento da mesma e/ou entende-se as produções da ciência como verdades
absolutas inquestionáveis, ou seja, como dogmas.
É possível perguntar se a felicidade deve ser adquirida pela aprendizagem, pelo hábito ou por
alguma espécie de adestramento ou se ela nos é conferida por alguma providência divina.
Mesmo que a felicidade não seja dada pelos deuses, mas, ao contrário, venha como um
resultado da virtude e de alguma espécie de aprendizagem ou adestramento, ela parece
contar-se entre as coisas mais divinas; pois aquilo que constitui o prêmio e a finalidade da
virtude se nos afigura o que de melhor existe no mundo, algo de divino e abençoado. A
resposta à pergunta que estamos fazendo é evidente pela definição de felicidade, pois
dissemos que ela é uma atividade virtuosa da alma.
Texto 2
De acordo com estudo realizado por cientistas britânicos, nós somos mais felizes quando
conseguimos um desempenho melhor do que o esperado diante do dilema risco-recompensa.
Imagens escaneadas do cérebro embasaram a pesquisa, mostrando que o prazer é detectado
em áreas do órgão ligadas ao bem-estar. Após correlacionar os dados, os pesquisadores
chegaram a uma equação matemática. Para construir o modelo matemático, a equipe analisou
os resultados de 26 pessoas que realizaram uma tarefa em ensaios repetidos, tendo que
escolher entre os caminhos de recompensas monetárias garantidas ou arriscadas. Os cérebros
dos participantes também foram escaneados por meio da ressonância magnética funcional. Ao
final, chegou-se à conclusão de que as expectativas anteriores e recompensas futuras se
combinam para determinar o atual estado de felicidade.
Qual texto corresponde a uma visão metafísica e qual corresponde a uma visão científica sobre
o tema da felicidade? Justifique sua resposta.
Resposta:
O texto 1 corresponde à visão metafísica, uma vez que analisa a felicidade a partir de uma
reflexão que relaciona a sua obtenção às ações virtuosas, transcendendo, portanto, a
experiência empírica concreta. Já o texto 2 corresponde à visão científica, pois reflete sobre a
felicidade de forma mecanicista, na medida em que prioriza seus aspectos biológicos e busca
prever seus efeitos a partir de relações matemáticas.
26. (Unesp 2013) Ninguém pode deixar de reconhecer a influência da teoria do bom selvagem
na consciência contemporânea. Ela é vista no presente respeito por tudo o que é natural
(alimentos naturais, remédios naturais, parto natural) e na desconfiança diante do que é feito
pelo homem, no desuso dos estilos autoritários de criação de filhos e na concepção dos
problemas sociais como defeitos reparáveis em nossas instituições, e não como tragédias
inerentes à condição humana.
Resposta:
Filosoficamente, a “teoria do bom selvagem” não existe. O que existe é a teoria do estado
natural que Locke, Rousseau e outros filósofos engendraram. Nessas teorias o homem é
considerado ser, diferentemente de Hobbes, simplesmente animal, ou melhor, é considerado
estar definido apenas por seu instinto animal. Desse modo, definido apenas pelo seu instinto
animal, o homem não é nem bom, nem mau, ou seja, ele não possui nenhum conjunto de
valores que serviriam de referência para um julgamento moral do seu caráter. É
posteriormente quando o homem deixa de ser selvagem e passa a ser sociável que os valores
transformam o juízo, permitindo a afirmação da bondade e da maldade. Então, de certa
maneira a ideia mesma de “bom selvagem” pode ser vista como contraditória. Porém, o
romantismo se apropriou dessa imagem do selvagem para falar de um homem livre das
características deploráveis do homem civilizado, como a ganância, a inveja, a desonestidade,
etc.
27. (Unesp 2012) A ciência moderna tem maior poder explicativo, permite previsões mais
seguras e assegura tecnologias e aplicações mais eficazes. Não há dúvida de que a explicação
científica sobre a natureza da chuva comporta usos que a explicação indígena não comporta,
como facilitar prognósticos meteorológicos ou a instalação de sistemas de irrigação. Para a
ciência moderna, a Lua é um satélite que descreve uma órbita elíptica em torno da Terra, cuja
distância mínima do nosso planeta é cerca de 360 mil quilômetros, e que tem raio de 1 736
quilômetros. Para os gregos, era Selene, filha de Hyprion, irmã de Hélios, amante de Endymion
e Pan, e percorria o céu numa carruagem de prata. Tenho mais simpatia pela explicação dos
gregos, mas devo reconhecer que a teoria moderna permite prever os eclipses da Lua e até
desembarcar na Lua, façanha dificilmente concebível para uma cultura que continuasse
aceitando a explicação mitológica. Os astronautas da NASA encontraram na superfície do
nosso satélite as montanhas observadas por Galileu, mas não encontraram nem Selene nem
sua carruagem de prata. Para o bem ou para o mal as teorias científicas modernas são válidas,
o que não ocorre com as teorias alternativas.
Cite o nome dos dois diferentes tipos de conhecimento comentados no texto e explique duas
diferenças entre eles.
Resposta:
Glauco – São mesmo belíssimos, Sócrates, os governantes que modelaste como um escultor!
Texto 2
Texto 1
Texto 2
Se você, do nada, começar a sentir enjoo, mal-estar, queda de pressão, sensação de desmaio
ou dores pelo corpo, pode ter se conectado a energias ruins. Caso decida procurar um médico,
ele possivelmente terá dificuldade para achar a origem do mal e pode até fazer um diagnóstico
errado. Nessa hora, você pode rezar e pedir ajuda espiritual. Se não conseguir, procure um
centro espírita e faça a sua renovação energética. Pode ser que encontre dificuldades para
chegar lá, pois, no primeiro momento, seu mal-estar poderá até se intensificar. No entanto, se
ficar firme e persistir, tudo desaparecerá como em um passe de mágica e você voltará ao
normal.
A recomendação apresentada por Zibia Gasparetto sobre a cura espiritual é compatível com as
concepções cartesianas descritas no primeiro texto? Explique a compatibilidade ou a
incompatibilidade entre ambas as concepções, tendo em vista o mecanicismo cartesiano e a
diferença entre substância espiritual e substância material.
Resposta:
30. (Unesp 2016) O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica
aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da
natureza e as origens desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas
míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de
um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente
oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de
um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se
presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais do pensamento
mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao
sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior
ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os
iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente.
Resposta:
31. (Unesp 2012) “O homem é o lobo do homem” é uma das frases mais repetidas por aqueles
que se referem a Hobbes. Essa máxima aparece coroada por uma outra, menos citada, mas
igualmente importante: “guerra de todos contra todos”. Ambas são fundamentais como
síntese do que Hobbes pensa a respeito do estado natural em que vivem os homens. O estado
de natureza é o modo de ser que caracterizaria o homem antes de seu ingresso no estado
social. O altruísmo não seria, portanto, natural. No estado de natureza o recurso à violência
generaliza-se, cada qual elaborando novos meios de destruição do próximo, com o que a vida
se torna “solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, na qual cada um é lobo para o outro,
em guerra de todos contra todos”. Os homens não vivem em cooperação natural, como fazem
as abelhas e as formigas. O acordo entre elas é natural; entre os homens, só pode ser artificial.
Nesse sentido, os homens são levados a estabelecer contratos entre si. Para o autor do
Leviatã, o contrato é estabelecido unicamente entre os membros do grupo, que, entre si,
concordam em renunciar a seu direito a tudo para entregá-lo a um soberano capaz de
promover a paz. Não submetido a nenhuma lei, o soberano absoluto é a própria fonte
legisladora. A obediência a ele deve ser total.
Caracterize a diferença entre estado de natureza e vida social, segundo o texto, e explique por
que a é atribuída a Hobbes a concepção política de um “absolutismo sem teologia”.
Resposta:
O estado de natureza pode ser considerado como um estado de natural insegurança, na
medida em que impera a “guerra de todos contra todos” na luta pela sobrevivência. Em
oposição, o estado de vida social é caracterizado pela segurança. Na medida em que todos
transferem ao soberano, mediante o contrato social, o direito do uso legítimo e exclusivo da
força, o soberano se torna a fonte da segurança civil. Dado que os homens não podem quebrar
o contrato social para não caírem em contradição, Hobbes afirma que ninguém pode
questionar o poder do soberano. É nesse sentido que Hobbes é considerado como idealizador
de um absolutismo sem teologia, por considerar que o poder do soberano é advindo do
contrato social, sem fazer qualquer referência a uma fonte divina.
32. (Unesp 2016) Suponhamos, pois, que a mente é um papel em branco, desprovida de todos
os caracteres, sem nenhuma ideia; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto
estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase
infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo,
numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva
fundamentalmente o próprio conhecimento.
Qual é a interpretação de Locke sobre as ideias inatas? Explique quais foram as implicações do
pensamento desse filósofo no que se refere à metafísica.
Resposta:
33. (Unesp 2012) Vigora entre educadores e intelectuais brasileiros uma correta e justificável
ojeriza às ditaduras de direita. Infelizmente, o mesmo vigor não é encontrado quando se trata
de ditaduras de esquerda. As notícias de perseguições, prisões, greves de fome, fuzilamentos e
fugas envolvendo opositores às duras ditaduras esquerdistas são ignoradas. Quando fica
impossível deixar de falar a respeito, são comuns alegações de que há exagero da imprensa ou,
pior, sugestões de que os dissidentes são egoístas que, em nome do individualismo, ameaçam
um regime que deveria servir de exemplo. São as velhas táticas de questionar a liberdade de
imprensa quando as notícias são desfavoráveis e de desmerecer o opositor, em vez de
enfrentar as opiniões contrárias com argumentos.
(Janaína Conceição Paschoal. Cuba é uma grande Guantánamo. Folha de S.Paulo, 14.02.2012.)
O texto descreve um conflito de natureza ideológica. Apresente uma definição que seja
adequada para o conceito de “ideologia”, tal como ele é empregado pela autora, e comente
uma diferença básica entre uma “ideologia de direita” e uma “ideologia de esquerda”.
Resposta:
Ideologia é uma espécie de planificação do discurso. É uma ignorância a respeito dos excessos
e faltas da razão que imobiliza o posicionamento do sujeito de modo que ele se torna incapaz
de reavaliar e criticar suas afirmações.
Existem ideologias mais para direita e mais para esquerda, isto é, existem ideologias que são
mais extremas e outras mais brandas. Entre liberais e socialistas existe um espaço muito
menor que entre fascistas e comunistas, por exemplo. Se tomarmos duas ideologias que
recaíram em ditaduras e regimes totalitários – o fascismo e o comunismo –, podemos perceber
uma grande diferença na concepção de Estado. Para a primeira o Estado existe e o indivíduo o
serve, para a segunda o Estado serve as necessidades individuais de acordo com as
capacidades destes. Porém, para simplificar podemos generalizar uma seguinte diferenciação:
ideologias de direita geralmente buscam ser ou conservadoras ou reacionárias, e ideologias de
esquerda ou progressistas ou revolucionárias.
34. (Unesp 2016) Não é preciso uma grande arte, uma eloquência muito rebuscada, para
provar que os cristãos devem tolerar-se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso
considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão? O chinês? O
judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos todos filhos do mesmo Pai e
criaturas do mesmo Deus? Penso que poderia surpreender a obstinação de alguns líderes
religiosos se lhes falasse: “Escutem-me, pois o Deus de todos esses mundos me falou: há
novecentos milhões de pequenas formigas como nós sobre a terra, mas apenas o meu
formigueiro é bem-visto por Deus; todos os outros lhe causam horror desde a eternidade; meu
formigueiro será o único afortunado, e todos os outros serão desafortunados”. Eles me
agarrariam então e me perguntariam quem foi o louco que disse essa besteira. Eu seria
obrigado a responder-lhes: “Foram vocês mesmos”. Procuraria em seguida acalmá-los, mas
seria bem difícil.
Qual foi o nome atribuído ao mais importante movimento filosófico francês do século XVIII?
Explique a importância do texto de Voltaire para o desenvolvimento desse movimento
filosófico e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia da
ONU em 1948.
Resposta:
Texto 2
Basta, portanto, que os homens sejam considerados coisas para que se tornem manipuláveis,
submetidos à ditadura racionalizada moderna que encontra seu apogeu no campo de
concentração. Assim, a nova crise da razão é interna e traz subitamente à luz, no cerne da
racionalização, a presença destrutiva da desrazão. Já não é apenas a suficiência e a
insuficiência da razão que estão em causa, é a irracionalidade do racionalismo e da
racionalização. Essa irracionalidade pode devorar a razão sem que ela se dê conta.
Considerando a análise realizada por Edgar Morin sobre as tendências irracionais da razão,
explique sua importância para uma crítica ao otimismo positivista diante da ciência.
Resposta:
Para Morin, a concepção positivista de aplicar a ciência de forma “racional” para regulamentar
a sociedade e para enfrentar os problemas sociais leva, contraditoriamente, a ações irracionais
e eticamente problemáticas, que impossibilitam o progresso proclamado pelo positivismo.
Nessa perspectiva, a crítica ao ideal positivista que concebe a ciência como instrumento de
promoção da evolução das sociedades seria válida para o autor, haja vista os problemas sociais
gerados a partir dessa lógica.
36. (Unesp 2012) De certo modo, a primeira fonte de ruptura com o antropocentrismo se
encontra na teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, a assim chamada revolução
copernicana. A segunda grande ruptura é provocada pelo que se poderia chamar, em analogia
com a primeira, de revolução darwiniana, resultado da obra de Charles Darwin, A origem das
espécies pela seleção natural, onde este formula sua famosa teoria da evolução das espécies.
Resposta:
37. (Unesp 2016) A discussão sobre a relação arte-sociedade levou a duas atitudes filosóficas
opostas: a que afirma que a arte só é arte se for pura, isto é, se não estiver preocupada com as
circunstâncias históricas, sociais, econômicas e políticas. Trata-se da defesa da “arte pela arte”.
A outra afirma que o valor da obra de arte decorre de seu compromisso crítico diante das
circunstâncias presentes. Trata-se da “arte engajada”, na qual o artista toma posição diante de
sua sociedade, lutando para transformá-la e melhorá-la, e para conscientizar as pessoas sobre
as injustiças e as opressões do presente.
Resposta:
A escola de Frankfurt analisa a produção cultural, que engloba a produção artística, a partir de
interesses mercadológicos que se articulam dentro da dinâmica capitalista e acabam por
retirar o caráter analítico e crítico dessas produções. Nesse sentido, a mesma lógica se aplica
no entendimento da arte como possuindo valor em si mesma, pois a “arte pela arte” aparece
sem vinculação social, podendo contribuir para a manutenção de uma ordem social injusta,
haja vista que não propõe nenhum questionamento ou reflexão crítica acerca da sociedade. A
arte engajada, por sua vez, teria um caráter oposto ao da arte produzida pela indústria
cultural, uma vez que inclui em sua proposta o olhar social crítico, o posicionamento político e
a possibilidade de transformações.
38. (Unesp 2012) As freiras da Congregação das Pequenas Irmãs da Sagrada Família, de
Cascavel (PR) e, em particular, a Irmã Kelly Favareto, poderão aparecer com os véus que
cobrem cotidianamente suas cabeças na foto da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A
decisão é da Justiça Federal, que aceitou recurso da Irmã contra a Resolução do Conselho
Nacional de Trânsito que proíbe, por razões de segurança, que na foto da CNH o condutor
apareça usando óculos, bonés, gorros, chapéus ou qualquer outro item que cubra parte do
rosto ou cabeça, dificultando sua identificação. “Eu só ando de véu, que é um sinal de
consagração a Deus, não é um acessório que posso tirar quando quiser”, alegou a Irmã.
(Evandro Fadel. Freira ganha direito de usar hábito na foto da CNH. O Estado de S.Paulo,
10.02.2012. Adaptado.)
Resposta:
É um tanto estranho pedir simplesmente, sem qualquer definição anterior, que se comente o
significado filosófico de um fato noticiado. A filosofia não é algo tão coeso para possuir um
significado tão preciso, tão simples de se fazer referência e, sendo assim, são possíveis várias
abordagens distintas. Porém, aparentemente, deseja-se ressaltar nesta pergunta de vestibular
a questão referente à liberdade do cidadão, ou seja, sua relação com o Estado e com as Leis.
No caso brasileiro, nossa Constituição permite o culto e sua manifestação livre, todavia
devemos nos perguntar sempre sobre a laicidade dos poderes, isto é, sobre a indiferença do
Estado e suas Leis a respeito da religião de cada indivíduo. Enfim, o Estado poderia beneficiar
um cidadão ao tomar uma decisão que o favoreça simplesmente devido sua religião? Apesar
de a argumentação da freira criar uma relação de necessidade entre o véu e seus hábitos, ou
seja, que ela deveria habitualmente usá-lo e não pode, simplesmente, tirá-lo para uma
fotografia, o poder poderia favorecê-la baseando-se neste argumento religioso? Essas ideias
sobre a liberdade dos cidadãos e a laicidade do Estado se desenvolveram e foram
propagandeadas na modernidade durante o período do movimento Iluminista. John Locke
(1632-1704) e Montesquieu (1689-1755), por exemplo, pensaram sobre as relações entre o
Estado, as Leis e o cidadão e consideram com frequência as questões referentes à laicidade do
poder e à liberdade do sujeito.
2012 começa sob a vibração positiva de uma Lua crescente em Áries logo no dia 1.º. Áries é o
signo que tem tudo a ver com o início de algo e traz muita garra, coragem e esperança. Ainda
na primeira semana, Mercúrio, das comunicações, forma um aspecto harmonioso com Saturno
e Netuno, evidenciando um momento de descobertas, diálogo e de primeiros passos coletivos
na consolidação de um sonho ou projeto comum, de muitos povos e sociedades. Acordos
internacionais e negociações de paz podem ser feitos em um momento feliz e que promete
bom desenvolvimento.
Texto 2
O Irã lançou ontem mísseis de cruzeiro melhorados, que podem ameaçar navios americanos,
durante um exercício naval que simula o fechamento do estreito de Hormuz – por onde passa
cerca de um sexto da produção de petróleo mundial. O míssil Ghader (capaz, em farsi) foi
desenvolvido com o objetivo de atacar navios de guerra e proteger o litoral do país. Duas
unidades foram disparadas ontem da costa iraniana em um teste.
(Irã testa míssil que ameaça frota dos EUA. Folha de S.Paulo, 03.01.2012.)
Os dois textos, publicados no início de 2012, apresentam incompatibilidade lógica entre as
formas pelas quais abordam a realidade. Responda quais são os pressupostos ou pontos de
vista assumidos por cada um deles e explique os motivos dessa incompatibilidade.
Resposta:
– Pode-se deduzir, da influência dos órgãos, uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos
cerebrais e o desenvolvimento das capacidades morais e intelectuais?
– Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as capacidades que lhe são
próprias; ora, não são os órgãos que produzem as capacidades, mas as capacidades que
conduzem ao desenvolvimento dos órgãos.
O Espírito, se encarnando, traz certas predisposições, admitindo-se, para cada uma, um órgão
correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma
causa. Se as capacidades se originassem nesses órgãos, o homem seria uma máquina sem
livre-arbítrio e sem responsabilidade dos seus atos. Seria preciso admitir que os maiores
gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos
especiais.
(Allan Kardec. O livro dos espíritos [texto originalmente publicado em 1848], 2011. Adaptado.)
Texto 2
Lobo temporal é o nome da região do córtex cerebral onde são processados os sinais sonoros.
“Deduzo que a habilidade de produzir música também deve estar lá”, afirma o neurologista
alemão Helmut Steinmetz, um dos pesquisadores da Universidade Henrich Heine, de
Dusseldorf, Alemanha, responsáveis pela descoberta de que os músicos têm o lobo temporal
esquerdo maior que o dos outros indivíduos. Steinmetz e seu parceiro Gottfried Schlaug
compararam, em exames de ressonância magnética, o cérebro de trinta músicos com os de
outros trinta indivíduos. Em todos, o lobo temporal esquerdo é um pouco maior que o direito,
mas essa diferença chega a ser duas vezes maior entre os músicos.
Resposta:
O conceito de Inatismo estabelece que a mente humana possui estruturas que são inatas, ou
seja, que existem no indivíduo independentemente e anteriormente a qualquer experiência ou
impressão. Assim, algumas habilidades e aptidões seriam inatas ao indivíduo. Com efeito, a
concepção de Kardec apresentada no texto se aproxima do conceito do inatismo a partir da
ideia de que o espírito apresenta algumas predisposições naturais que independem da
encarnação no corpo físico, sendo, portanto, predisposições inatas que não dependem das
experiências sensíveis. O texto de Jobim, por sua vez, também pode ser entendido através do
conceito de Inatismo, na medida em que aponta que certas estruturas do corpo humano, que
são biologicamente inatas e, portanto, também independem de qualquer experiência sensível,
determinam habilidades e aptidões. No entanto, apesar de as duas visões apresentadas nos
textos apresentarem a possibilidade de interpretação a partir do Inatismo, elas se diferenciam
entre si uma vez que Jobim parte de um pressuposto de determinação biológica para
fundamentar sua ideia, enquanto que Kardec atribui um caráter sobrenatural e religioso à
existência das características naturais.
Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por
ambos, eles tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria
conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao
outro. E disto se segue que, quando um invasor nada mais tem a recear do que o poder de um
único outro homem, se alguém planta, semeia, constrói ou possui um lugar conveniente, é
provável de esperar que outros venham preparados com forças conjugadas, para desapossá-lo
e privá-lo, não apenas do fruto de seu trabalho, mas também de sua vida e de sua liberdade.
Por sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros.
Texto 2
Anarquismo é a doutrina segundo a qual o indivíduo é a única realidade, que deve ser
absolutamente livre e que qualquer restrição que lhe seja imposta é ilegítima. Costuma-se
atribuir a Proudhon (1809-1865) o nascimento do Anarquismo. Sua principal preocupação foi
mostrar que a justiça não pode ser imposta ao indivíduo, mas é uma faculdade do eu individual
que, sem sair do seu foro interior, sente a dignidade da pessoa do próximo como a sua própria
e, portanto, adapta-se à realidade coletiva mesmo conservando a sua individualidade.
Qual foi a solução proposta por Hobbes para a resolução do problema exposto no texto 1?
Explique a principal diferença entre Hobbes e a doutrina anarquista de Proudhon quanto à
organização política.
Resposta:
O texto I trata dos homens em estado de natureza, caracterizado pela guerra constante que
impossibilita a garantia do direito à vida e à propriedade. A solução proposta por Hobbes para
a superação desse estado é o estabelecimento, entre os indivíduos, de um contrato social, a
partir do qual todos se submeteriam à limitação de sua liberdade em favor do poder regulador
do Estado, que seria a única autoridade com legitimidade que possibilitaria a existência da
sociedade civil a partir da garantia do direito à vida e à propriedade. A diferença entre a teoria
proposta por Hobbes e a doutrina anarquista consiste na questão da necessidade da existência
de um Estado com poder normativo em relação às ações dos indivíduos. Enquanto Hobbes
considera a existência do Estado enquanto instituição que limita a liberdade como
indispensável para a existência da sociedade civil, Proudhon entende que a justiça não pode
ser verdadeira se necessita ser imposta, devendo os indivíduos gozar de liberdade absoluta,
uma vez que os laços sociais e cognitivos que possibilitam a vida em sociedade de forma
harmônica teriam origem no próprio indivíduo.
42. (Unesp 2011) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna de Platão (A República), que
se refere ao célebre mito da caverna e seu significado no pensamento platônico.
Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que
dissemos, comparar o mundo que a visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a
ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus
objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás
sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto a mim, tal é minha
opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a custo, mas não se
pode percebê-la sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas as
coisas; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida
pública.
Resposta:
Nós estamos diante de um trecho que compõe um dos mais famosos da história da filosofia e
cujas tarefas, as do filósofo, estão delineadas em forma de alegoria. A primeira tarefa a ser
entendida é que a caverna é o nosso mundo, o mundo onde esquecemos de tudo – supõe
Platão – enquanto todos nós já tivéssemos vivido como puro espírito contemplando o mundo
das ideias. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos correspondem a uma
ocasião para despertar nas almas as lembranças adormecidas. Deste modo, a sombra significa
o amor pela doxa (amor pela opinião), pelas opiniões que existem no mundo das sombras, de
onde os acorrentados ainda não tiveram capacidade de se libertarem. Quanto à luz do sol, é
exatamente o oposto, uma vez que já libertos das correntes, ao contemplar fora da caverna a
verdadeira realidade passa da opinião à ciência, ou melhor, ao amor pela filosofia. Ao que vê a
luz do Sol, cabe, segundo Platão, ensinar e governar. Trata-se da ação política, da
transformação dos homens em sociedade, desde que as mesmas estejam voltadas para a
contemplação do modelo do mundo das ideias.
43. (Unesp 2011) “Três maneiras há de preservar a posse de Estados acostumados a serem
governados por leis próprias; primeiro, devastá-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir
que vivam com suas leis, arrancando um tributo e formando um governo de poucas pessoas,
que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade, a garantia mais segura da posse é a ruína.
Os que se tornam senhores de cidades livres por tradição, e não as destroem, serão destruídos
por elas. Essas cidades costumam ter por bandeira, em suas rebeliões, tanto a liberdade
quanto suas antigas leis, jamais esquecidas, nem com o passar do tempo, nem por influência
dos favores que receberam.
Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, sem promover desavença e
desagregação entre os habitantes, continuarão eles a recordar aqueles princípios e a estes irão
recorrer em quaisquer oportunidades e situações”.
Partindo de uma definição de moralidade como conjunto de regras de conduta humana que se
pretendem válidas em termos absolutos, responda se o pensamento de Maquiavel é
compatível com a moralidade cristã. Justifique sua resposta, comentando o teor prático ou
pragmático do pensamento desse filósofo.
Resposta:
O pensamento de Maquiavel é célebre por ter rompido com a moralidade cristã da época – é
bom lembrar que estamos falando da época do Renascimento, quando as explicações
religiosas começam a ceder espaço para o pensamento racional, baseado na capacidade
humana de explicar o mundo. Deste modo, Maquiavel é racional e totalmente pragmático,
elaborando um tratado político – “O príncipe”, do qual provavelmente foi retirado esse
excerto – que funciona como uma espécie de manual, com conselhos extremamente práticos e
realistas para se obter e manter o poder, sem menção a qualquer restrição de ordem moral.
Texto I
Por isso também nós, desde o dia em que soubemos, não cessamos de rezar por vós e pedir a
Deus que vos conceda pleno conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligência
espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em
tudo, dando fruto de toda obra boa e crescendo no conhecimento de Deus, animados de
grande energia pelo poder de sua glória para toda a paciência e longanimidade. Com alegria,
agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de participar da herança dos santos no reino
da Luz. Que nos livrou do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado, no qual
temos a redenção: a remissão dos pecados.
(Bíblia Sagrada. Epístola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no século I.)
Texto II
Olhe ao redor deste universo. Que imensa profusão de seres, animados e organizados,
sensíveis e ativos! Examine, porém, um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida,
os únicos seres dignos de consideração. Que hostilidade e destrutividade entre eles! Quão
incapazes, todos, de garantir a própria felicidade! Quão odiosos ou desprezíveis aos olhos de
quem os contempla! O conjunto de tudo isso nada nos oferece a não ser a ideia de uma
natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou cuidado materno, sua prole
desfigurada e abortiva.
(David Hume. Diálogos sobre a religião natural, texto escrito em 1779. Adaptado.)
Compare ambos os textos e comente uma diferença entre eles no que diz respeito à
concepção de natureza humana e uma diferença referente à concepção de moralidade.
Resposta:
O texto I integra a Epístola de Paulo do Novo Testamento, literatura cristã, e revela uma
concepção divina do Universo, marcado por uma ordem moral e com sentido. A antropologia
cristã entende o homem como criatura (criação de Deus), como ser em estado de guerra
(pecado original), porém, agraciado pela mensagem de Cristo que ofereceu um sentido moral
à existência humana.
O texto II, do filósofo David Hume, nascido em Edimburgo, representante do empirismo inglês,
aparece a visão do homem natural (e não sobrenatural), cuja existência é marcada pelo caos e
pela desordem que resultam de suas inclinações para o egoísmo, hostilidade destrutividade.
Para o filósofo, adotamos regras de moral e de justiça, não com bases abstratas, mas com
sentidos pragmáticos, em outras palavras, as decisões éticas e morais são sempre relativas a
uma situação específica e a um determinado momento histórico, não se fundando em nenhum
princípio eterno e universal.
45. (Unesp 2011) Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto
se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitarem-se
com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar ou embelezar seus
arcos e flechas, a cortar com pedras agudas algumas canoas de pescador ou alguns
instrumentos grosseiros de música – em uma palavra: enquanto só se dedicavam a obras que
um único homem podia criar e a artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram
tão livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza.
O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno,
lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo.
Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero
humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: “Defendei-vos de acreditar nesse impostor; estareis perdidos se esquecerdes
que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”.
Cite a principal diferença estabelecida por Rousseau entre a vida em estado de natureza e a
vida na sociedade civil, e explique o significado dessa diferença no âmbito da filosofia política.
Resposta:
Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais sintéticas e adequadas definições
acerca do Iluminismo. Justifique essa importância comentando o significado do termo
“menoridade”, bem como os fatores sociais que produzem essa condição, no campo da
religião e da política.
Resposta:
47. (Unesp 2011) “Em troca dos artigos que enriquecem sua vida, os indivíduos vendem não só
seu trabalho, mas também seu tempo livre. As pessoas residem em concentrações
habitacionais e possuem automóveis particulares com os quais já não podem escapar para um
mundo diferente. Têm gigantescas geladeiras repletas de alimentos congelados. Têm dúzias de
jornais e revistas que esposam os mesmos ideais. Dispõem de inúmeras opções e inúmeros
inventos que são todos da mesma espécie, que as mantêm ocupadas e distraem sua atenção
do verdadeiro problema, que é a consciência de que poderiam trabalhar menos e determinar
suas próprias necessidades e satisfações”.
(Herbert Marcuse, filósofo alemão, 1955.)
Resposta:
Marcuse faz uma breve descrição da vida moderna (especialmente no contexto do pós-guerra,
mas vale também para a nossa vida contemporânea) para caracterizar a sociedade que daí
emerge como baseada no consumo. Neste sentido, o progresso técnico funciona como uma
mola propulsora desta sociedade, retroalimentando-a, criando novos produtos para suprir
novas necessidades. Este mundo, que se apresenta ao indivíduo como dado, não lhe
proporciona outras escolhas que não aquelas que façam parte da engrenagem da sociedade. E
aí reside a contradição deste modelo, pois ele se apresenta como produto da liberdade dos
indivíduos, dando a falsa impressão de que vivemos num mundo no qual temos acesso a todo
tipo de opinião e no qual também podemos expressar a nossa, quando na verdade apenas
reproduzimos e vemos reproduzidos os ideais que sustentam o consumo e a sociedade que se
baseia nele. Deste modo, a noção de liberdade presente no texto estaria na tomada de
consciência pelo indivíduo de sua real situação dentro desta sociedade de consumo e, a partir
daí sim, ele poderia fazer suas próprias escolhas baseadas nas “suas próprias necessidades e
satisfações”. Somente assim o indivíduo seria capaz de desfrutar plenamente de sua liberdade.
48. (Unesp 2011) “E a verdade, o que será? A filosofia busca a verdade, mas não possui o
significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas
movimento incessante, que penetra no infinito. No mundo, a verdade está em conflito
perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas
relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao
intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo. Eis
porque a filosofia não se transforma em credo. Está em contínuo combate consigo mesma”.
Com base no texto, responda se a verdade filosófica pretende ser absoluta, justificando sua
resposta com uma passagem do texto citado. Ainda de acordo com o fragmento, explique
como podemos compreender os conflitos entre filosofia e religião e cite o principal movimento
filosófico ocidental do período moderno que se caracterizou pelos conflitos com a religião.
Resposta:
Jaspers, logo no início do seu texto, deixa evidente que a verdade filosófica não pretende ser
absoluta: “A filosofia busca a verdade, mas não possui o significado e substância da verdade
única”. Ainda, logo em seguida afirma que: “Para nós [filósofos], a verdade não é estática e
definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito”. E é justamente por ir neste
sentido, isto é, por rejeitar verdades absolutas, que a filosofia invariavelmente se confronta
com a religião. Caso notório no pensamento ocidental é o surgimento do Iluminismo, no
século XVIII, que, embora ressaltasse a importância da tolerância, criticava o irracionalismo e
defendia a difusão do conhecimento científico – baseado na experiência e na observação -,
questionando a autoridade da Igreja, que até então era quem ditava as bases do
conhecimento humano.
49. (Unesp 2010) Em 399 a.C., o filósofo Sócrates é acusado de graves crimes por alguns
cidadãos atenienses. (…) Em seu julgamento, segundo as práticas da época, diante de um júri
de 501 cidadãos, o filósofo apresenta um longo discurso, sua apologia ou defesa, em que, no
entanto, longe de se defender objetivamente das acusações, ironiza seus acusadores, assume
as acusações, dizendo-se coerente com o que ensinava, e recusa a declarar-se inocente ou
pedir uma pena. Com isso, ao júri, tendo que optar pela acusação ou pela defesa, só restou
como alternativa a condenação do filósofo à morte.
Com base no texto apresentado, explique quais foram os motivos da condenação de Sócrates à
morte.
Resposta:
É importante, antes de mencionar os motivos pelos quais condenaram Sócrates à morte, dizer
que quando falava, era dono de um estranho fascínio. Requisitado por muitos jovens, passava
horas discutindo na praça pública, assim, interpelava a todos assumindo ser ignorante e fazia
perguntas aos que julgavam entender sobre um determinado assunto colocando qualquer um
em tal situação que não havia um outro jeito a não ser reconhecer sua própria ignorância. Com
isso Sócrates além de discípulos, conseguiu inúmeros inimigos. Sócrates foi acusado de
corromper a mocidade e desconhecer os deuses da cidade, por isto, foi condenado à morte. A
história de sua condenação, defesa e morte é contada num dos mais belos diálogos de Platão,
Apologia de Sócrates.
50. (Unesp 2010) Em 19 de fevereiro de 1616, o Santo Ofício passou aos seus teólogos as duas
proposições que resumiam o núcleo da questão para que fossem examinadas. As duas
proposições eram as seguintes: a) ‘Que o Sol é o centro do mundo, sendo consequentemente
imóvel de movimento local’. b) ‘Que a Terra não está no centro do mundo nem é imóvel, mas
move-se por si mesma’. Cinco dias depois, todos os teólogos de acordo, sentenciaram que a
primeira proposição era tola e absurda em filosofia e formalmente herética, enquanto
contrastava com as sentenças da Sagrada Escritura em seu significado literal e segundo a
exposição comum dos Santos Padres e dos doutores em teologia.
O texto descreve os motivos que levaram à condenação do filósofo Galileu Galilei por uma
instituição religiosa. Responda qual foi a instituição que o condenou e explique os motivos
dessa condenação.
Resposta:
Galileu Galilei (1564-1642), italiano, físico, matemático e filósofo, lecionou nas universidades
de Pisa e Pádua. Escreveu O ensaidor, Diálogos sobre os dois máximos sistemas do mundo e
Discurso sobre duas novas ciências. Foi responsável pela superação do aristotelismo quanto a
questão do movimento estabelecendo uma diferença entre movimento qualitativo e
quantitativo. Enquanto Aristóteles via qualidades (corpos pesados e leves), Galileu descobre
relações e funções. Sua vida foi marcada pela perseguição política e religiosa por defender a
substituição do modelo ptolomaico do mundo (geocentrismo) pelo modelo copernicano
(heliocentrismo), deste modo, tais pensamentos iram contra a interpretação literal da Bíblia
pela Igreja Católica, onde a Terra era, até então, o centro do Universo. Por defender o
heliocentrismo foi condenado pela Inquisição – dedicada, sobretudo a supressão da heresia no
seio da Igreja Católica – , seus livros foram proibidos a não ser nos países convertidos pelo
protestantismo e foi pela mesma obrigado a abjurar publicamente suas ideias, sendo
confinado em prisão domiciliar a partir de 1633.
51. (Unesp 2010) Segundo John Locke, filósofo britânico do século XVII, a mente humana é
como uma tábula rasa, uma folha em branco na qual a experiência deixa suas marcas.
Responda a qual escola filosófica ele pertenceu e explique duas de suas características.
Resposta:
John Locke está junto Thomas Hobbes, George Berkeley e David Hume entre as figuras mais
famosas e conhecidas da filosofia inglesa dos séculos XVI e XVIII, por isso eram chamados de
empiristas ingleses. Na verdade, o empirismo é uma característica muito marcante da filosofia
inglesa. Na Idade Média, por exemplo, temos Roger Bacon e Guilherme de Ockham e mais
próximos de nós Bertrand Russel. Os empiristas afirmam que a razão, com seus princípios, seus
procedimentos e suas ideias, é adquirida por nós pela experiência. Em grego, experiência se
diz empeiria, donde, empirismo, conhecimento empírico, isto é, conhecimento adquirido por
meio da experiência.
Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. Os
objetos exteriores excitam nossos sentidos e vemos cores, sentimos sabores e odores,
ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc.
As ideias trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são
levadas à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos.
52. (Unesp 2010) Nas Grandes Antilhas, alguns anos após a Descoberta da América, enquanto
os espanhóis enviavam comissões de investigação para indagar se os indígenas possuíam ou
não alma, estes últimos dedicavam-se a afogar os brancos feitos prisioneiros para verificarem
através de uma investigação prolongada se o cadáver daqueles estava ou não sujeito à
putrefação. Esta anedota simultaneamente barroca e trágica ilustra bem o paradoxo do
relativismo cultural: é na própria medida em que pretendemos estabelecer uma discriminação
entre as culturas e os costumes, que nos identificamos mais completamente com aqueles que
pretendemos negar.
Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’ dos seus
representantes, mais não fazemos que copiar-lhes suas atitudes típicas. O bárbaro é em
primeiro lugar o homem que crê na barbárie.
Resposta:
Os critérios são relativos porque respondem a uma visão unilateral quanto aos valores
culturais ocidentais. Para o autor a verdadeira “barbárie” consiste em não aceitar uma
determinada cultura em prol de uma visão ocidental e supostamente civilizatória. O conceito
de “bárbaro”, relaciona-se, na concepção de Lévi-Strauss na não aceitação da contradição. A
noção de civilização implica a superação das diferenças em prol de um entendimento e
interpretação de diversas culturas, propiciando, desta maneira, a supremacia da ideologia
ocidental.
Quanto mais as classes exploradas, o “povo”, sucumbem aos poderes existentes, tanto mais a
arte se distanciará do “povo”. A arte pode preservar a sua verdade, pode tornar consciente a
necessidade de mudança, mas apenas quando obedece à sua própria lei contra a lei da
realidade. A arte não pode mudar o mundo, mas pode contribuir para a mudança da
consciência e impulsos dos homens e mulheres que poderiam mudar o mundo. A renúncia à
forma estética é abdicação da responsabilidade. Priva a arte da verdadeira forma em que pode
criar essa outra realidade dentro da realidade estabelecida – o cosmos da esperança. A obra
de arte só pode obter relevância política como obra autônoma. A forma estética é essencial à
sua função social.
Texto 2
Foi com estranhamento que crítica e público receberam a notícia de que a escritora paulista
Patrícia Engel Secco, com a ajuda de uma equipe, simplificou obras de Machado de Assis e de
José de Alencar para facilitar sua leitura. O projeto que alterou partes do conto O Alienista e
do romance A Pata da Gazela recebeu a aprovação do Ministério da Cultura para captar
recursos com a lei de incentivo para imprimir e distribuir, gratuitamente, 600 000 exemplares.
Os livros apresentam substituição de palavras e expressões com registro simplificado, como,
por exemplo, a troca de “prendas” por “qualidades” em O Alienista. “O público-alvo do projeto
é constituído por não leitores, ou leitores novos, jovens e adultos, de todos os níveis de
escolaridade e faixa de renda”, afirmou Patrícia. Autora de mais de 250 títulos, em sua maioria
infantis, ela diz que encontra diariamente pessoas que não leem, mas que poderiam se
interessar pelo universo de Machado e Alencar se tivessem acesso a uma obra facilitada.
KUSUMOTO, Meire. “De Machado de Assis a Shakespeare: quando a adaptação diminui obras
clássicas”. http://veja.abril.com.br, 12.05.2014. Adaptado.
Resposta:
A teoria estética de Herbert Marcuse baseia-se nos princípios marxistas, realizando, contudo,
uma crítica à visão ortodoxa desta teoria. Segundo a teoria estética marxista a obra de arte é
um todo que representa a visão de mundo de determinadas classes sociais. Desta forma, a
obra de arte possui a função política de criar uma consciência, porém esta criação é
direcionada, intencional segundo os marxistas ortodoxos.
Para Marcuse, a obra de arte possui uma função política em si mesmo, ou seja, ela é uma
representação de uma visão de mundo que visa comunicar, abrir possibilidades, não
necessariamente direcionar a visão daqueles que apreciar a obra. Assim, a obra de arte é
autônoma por si e não necessita de direcionamento. Ela rompe com a consciência dominante
por meio da experiência individual. Esta experiência é libertadora na medida em que leva o
apreciador a sentir e refletir seu significado, comparando o que lhe foi proporcionado com sua
própria experiência de mundo.
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08/25/2016
Em "Filosofia da Ciência"
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Em "Filosofia Contemporânea"
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