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Metodologia Científica

Bibliografia: Metodologias Qualitativas na Sociologia. Haguette, Teresa Maria Frota. 12 ed.


Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 2010

Aspectos introdutórios
Questões epistemológicas

Profº Mauricio Pinto de Godoy


1
A ciência moderna com seus quatro séculos de desenvolvimento,
responsável pelo progresso material atingido pelas sociedades
avançadas de hoje, não se mostrou capaz de exterminar as
desigualdades sociais e os sofrimentos humanos delas
decorrentes.
Na maioria das vezes ela tem funcionado como instrumento do
poder, como aliada da opressão e coatora das liberdades
humanas.
Isso ocorre, porque, sendo social, ela representa um processo
social como tantos outros, sujeito às vicissitudes das formas de
organização societária e aos percalços da influência dos
produtores sobre o uso dos seus produtos.
(Apesar de seus ideais de neutralidade e objetividade, ideais que
refletem a racionalidade do ser humano, a ciência está presa à
contradição de ser uma produção do homem, de sua grandeza e
de suas misérias).
2
Francis Bacon (1561-1626) representa um marco histórico na
fundamentação e instrumentalização da forma de fazer
ciência. Dele é a convicção de que o conhecimento humano
só é possível através da mediação dos sentidos, sendo a
consciência, ou a mente, uma tabula rasa na qual são
impressos os dados do real.

A esta visão convencionou-se chamar de empirismo.

Adepto desta corrente foi também John Locke (1632-1704).

3
Com René Descartes (1596-1650), o método empirista foi
contestado na tentativa de restaurar o papel da razão e da
reflexão.
“A razão precede a convivência dos sentidos com o dado
empírico uma vez que o homem foi agraciado por Deus com
um aparato que lhe confere o poder de ter ideias a priori, ou
seja, prescindindo de contatos diretos com o real através dos
sentidos”.
A crença neste pressuposto levou Descartes a desenvolver as
técnicas de reflexão. Desse modo, a maneira apropriada de
fazer generalizações sobre a realidade seria pelo método
dedutivo. Essa visão passou a se chamar de racionalismo.
4
Immanuel Kant (1724-1804) em oposição as ideias
anteriores, compreende que a possibilidade de
conhecimento do real limita-se à observação do seu
comportamento e de suas relações, ou seja, do objeto
fenomenal.

Concebe o homem como um ser consciente e por sua vez,


imprime as leis ao real.

(OBS.: estava lançada a grande controvérsia epistemológica –


até o século XVIII as discussões epistemológicas parecem se
situar em campo neutro, onde as preocupações com a
objetividade do conhecimento ocupam o maior espaço).
5
Século XIX, se inaugura a individualização das ciências sociais e
com isso se instaura o “Problema político” dentro das
metodologias em voga: o positivismo de Augusto Comte (1798-
1857) e a dialética marxista, desdobramento da dialética
hegeliana.
Esta segunda, defensora da primazia da razão sobre os sentidos,
mas, com modificações: ideia de totalidade, de movimento
(história) e da contradição.
A diferença marcante entre Marx e Hegel, este enfatiza a teoria
(ou, contemplação do mundo), aquele, se preocupa com a práxis.
Marx retira a dialética do mundo das ideias e politiza-a. Aplica-a
ao processo de desenvolvimento social: o materialismo histórico e
o materialismo dialético.
6
O materialismo histórico defende que não é a consciência do
homem que determina sua existência, mas, ao contrário, é
sua existência social que determina sua consciência.

Desta forma o materialismo histórico, ao enfatizar a


determinação das condições materiais de existência sobre a
consciência do homem, traz implícita a ideia de que o
contato com o real – trabalho produtivo ou intelectual – é
fator sine qua non do conhecimento.

7
Enquanto o materialismo histórico representa o veio teórico
que explica o andamento do real, ou da sociedade, a
dialética representa o método de abordagem deste real
esforçando-se por compreender o fato da historicidade
humana, por analisar a prática efetiva do homem empírico e
por fazer a crítica das ideologias.

8
O positivismo, ao se distanciar das questões metafísicas,
debruçou-se sobre o método de conhecer, concebendo o
fato como autônomo e verdadeiro levando a um
parcelamento do real nas investigações de problemas
passíveis de serem percebidos e constatados.

Com isso, distanciou o real do sujeito cognoscente,


privilegiando o fato que se tornou soberano, distanciou
também, o real da teoria prévia, que sempre informa o
objeto do conhecimento.

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O século XX presenciou um brutal desenvolvimento das
chamadas metodologias de pesquisa, partindo sempre do
pressuposto de que o real é cognoscível. Aspecto que tanto o
marxismo quanto o positivismo são acordes.

No entanto, para o marxismo, esse real é objetivo e


contraditório, para o positivismo, objetivo e não
problemático.

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O forte componente humanista da teoria marxista – além de seu
poder explicativo – atraiu os cientistas sociais comprometidos
com a justiça e equidade.
O método positivista se adaptou como uma luva à análise das
sociedades opulentas mascarando conflitos e enfatizando o
consenso como cimento entre as micro e as macroestruturas
sociais.
Ao expor em toda a sua crueza os mecanismos de funcionamento
do sistema capitalista, Marx desnudou as imagens
“modernizantes” de seu percurso de exploração e miséria,
apontando para as determinações inevitáveis da pobreza e da
dominação.
Ao positivismo restou o apego à quantidade, sempre mais
facilmente obtida.
11
O apelo marxista tem levado quase sempre ao compromisso
político enquanto o apelo positivista se restringe aos
aspectos aparentemente neutros da objetividade no ato de
conhecer.

É esta omissão de compromisso com a justiça e a equidade


que faz do positivismo um servo da injustiça e da opressão.

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As questões epistemológicas e metodológicas nas ciências
sociais estão subordinadas às teorias explicativas que o
pesquisador elege como responsáveis pelo funcionamento
da sociedade. Por trás dela situa-se sua visão de mundo, sua
ideologia, que fornecerá o substrato da sua crença na forma
como a sociedade se mantém – na inevitabilidade dessa
manutenção ou na possibilidade e necessidade de uma
transformação.

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Essas teorias devem ser avaliadas em termos de seu poder
explicativo sobre alguns aspectos da realidade. E diante
disso, focaliza-se aquilo que, para as ciências sociais, mais
interessa:

a) Como uma sociedade se mantém e se transforma, quais os


mecanismos que ligam as micro e as macroestruturas; b)
qual papel da ação humana na história; c) quais os fatores
principais que dinamizam a história; d) como fazer para
conhecer a sociedade.

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Na pesquisa social as técnicas são secundárias. A questão
que se coloca para o cientista social, não é o domínio dos
métodos e técnicas de pesquisa social, mas suas escolhas
que de modo direto definem sua própria visão de mundo.

Isso é um pré-requisito fundamental para a analise do real,


para a interpretação das experiências alheias que o configura
como protagonista ativo das transformações.

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As metodologias qualitativas são exemplos de reação contra
o paradigma estrutural, quase sempre associados a modelos
quantitativos de análise.

É preciso deixar claro que esta reação não representa


oposição total às macroanálises e, sim, o reconhecimento de
que a sociedade é constituída de microprocessos, que no seu
conjunto, configuram as estruturas maciças, atuando e
conformando a ação social individual.

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Referências bibliográficas

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias Qualitativas na


Sociologia. 12ªed. Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 2010

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