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Resenha crítica: VARÃO, Rafiza. A teoria hipodérmica reconsiderada.

In: XXXII
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2009.
Discente: Giovana Paula Oliveira Correia - Mestrado.

Teoria hipodérmica: origem, ascensão, desuso e desdobramentos.

O artigo de Rafiza Varão aborda a história da Teoria Hipodérmica e seus


desdobramentos, antecessores e atuação nos estudos de Comunicação de Massa. Também
conhecida como teoria dos efeitos limitados, ela prevê que uma mensagem enviada afeta todo
o público de massa de uma mesma maneira, não sendo os sujeitos capazes de reflexão, seriam
apenas passivos no processo de comunicação. A teoria também se apresenta como um dos
primórdios das pesquisas de efeito dos meios de comunicação, tópico essencial para
compreensões do mundo onde se encontram sujeitos e organizações ao longo da história
(MARTINO, 2001).
Segundo Rafiza, a Teoria Hipodérmica nasce na perspectiva de um novo contexto
social do século XX, onde as informações eram dispersadas por novos meios de comunicação
e possuíam um grande peso na formação de uma sociedade de massa que constituía diferentes
características e comportamentos, marcados pela industrialização e tecnologia. Simbolizados
pela rádio, TV e cinema, os meios “passam a ser eles próprios o local por excelência da
experiência social compartilhada, construindo, inclusive, nossas realidades [...] despertando
um interesse de pesquisa que acaba por criar um novo campo: o campo da Comunicação”
(p.5).
De acordo com especialistas as principais ideias para a consolidação da teoria foram:
a criação de uma “audiência de massa” para receber as comunicações produzidas pela mídia;
a audiência deveria estar em zonas urbanas e em estado de alienação, para mais fácil
manipulação; e a crença de que as pessoas eram facilmente suscetíveis aos meios de
comunicação, como se tivessem sofrido uma lavagem cerebral (BINEHAM, 1988).
Se analisarmos o contexto da época e a grande transformação causada pelos meios de
comunicação e a industrialização, é possível pensar que a teoria possuía certo sentido lógico,
não necessariamente por desacreditarem da capacidade opinativa dos indivíduos, mas por
exaltarem os meios de comunicação a um patamar de poder grandioso que não poderiam ser
contestados, além de basear-se nos princípios da psicologia behaviorista de estímulo/resposta
provocados pelos meios.
Entretanto, já era de se esperar que, como diversas mudanças ocorridas e novas
construções sociais que marcaram os contextos da Revolução Industrial, as seguintes guerras,
e suas respectivas produções, esse desenho de compreensão da sociedade e da comunicação
de massa sofreria modificações, mas, de todo modo, a teoria abriu portas de discussões e foi
extremamente necessária para o aprofundamentos dos estudos em comunicação, além de
permitir novas perspectivas sobre a sociedade.
Com essa ascensão dos estudos e união das técnicas científicas e fenômenos
comunicacionais, a Teoria Hipodérmica deságua na Escola de Chicago, grupo de pesquisa
com maior influência nos Estados Unidos, entre 1915 e 1940. De acordo com a autora, teve
grande influência nas pesquisas em comunicação, permitindo “a aproximação entre as
ciências sociais e as naturais, que deveriam funcionar segundo as mesmas diretrizes
metodológicas; a observação do comportamento baseada na psicologia behaviorista; o
interacionismo simbólico” (p.3), além de constatar a atuação prática da ciência. Ainda, a
partir da base Hipodérmica, a Escola de Chicago se atentou em estudar as “classes mais
baixas e as comunidades de imigrantes” (p.9), considerados a “massa populacional”.
Antes de seu desuso, as críticas à Teoria Hipodérmica levaram a questionamentos
sobre a passividade dos sujeitos e permitiram o reconhecimento das opiniões pessoais dos
indivíduos ao receberem informações e participarem ativamente de processos
comunicacionais. A partir daí, nos anos 1940, os estudos de Paul Lazarsfeld a respeito da
teoria da influência pessoal no processo de comunicação de massa foram considerados e, de
acordo com a autora, é um dos primeiros estatutos científicos no campo comunicacional.
Outro grande ponto de discussão apontado por Rafiza não diz respeito aos diversos
conceitos que a teoria apresenta, mas sim à superficialidade científica utilizada para
justificá-la na época. Além disso, também reflete sobre os pensamentos “pró-hipodérmica” e
“anti-hipodérmica”, respectivamente, que reconhecem as informações como teoria (mesmo
que não oficializada) e o outro que defende que a mesma nunca existiu..
A autora parte da história do Campo da Comunicação, permeando a construção da
visibilidade e influência da imprensa desde os conteúdos divulgados em jornais, “liberdade
da imprensa”, até o chamado “impacto da comunicação de massa”. Aqui é possível entender
cada tópico como: a consolidação das Ciências da Comunicação e o jornalismo como objeto
de estudo; o estabelecimento da expressão “quarto poder”, que por auxiliar na manutenção da
democracia, integrar a sociedade e agir em prol do interesse público a imprensa deveria ser
livre; e a busca pela compreensão da influência da comunicação de massa na sociedade, pelo
ponto de vista de autores.
Rafiza afirma que esses três tópicos emergem na Teoria Hipodérmica, pois
apresentam “uma preocupação com o conteúdo das mensagens, a ligação forte entre política e
comunicação, e a análise dos meios a partir de uma teoria da sociedade de massa” (p 8).
Reflexão que se mostra muito interessante na consolidação de qualquer teoria ou linha de
pensamento, a evolução de acontecimentos sociais, ou até mesmo fatos isolados, que se unem
formando conjunturas que auxiliam na compreensão de uma determinada sociedade em certo
tempo e espaço, nesse caso o Ocidente.
Inúmeras teorias, em diversos campos da pesquisa científica, precisam ser criadas
para poderem ser contestadas e, assim, formarem bases comparativas e contribuições para o
conhecimento científico. As produções científicas no âmbito social são passíveis de
contestação, sendo assim, mesmo se o que foi inicialmente defendido não seja mais aceito e
justificado, ele serviu como base para reflexão, impugnação, desenvolvimento de novas
linhas de pensamento, modelos, entre outros. Por isso, a Teoria Hipodérmica não pode ser
considerada como mito ou algo irrelevante nos Estudos de Comunicação, pois permitiu a
reflexão de diversos autores no campo da Comunicação de Massa e sua base ainda é estudada
para compreensão cronológica e sintática dos estudos de efeitos de mídia.

Referências
BINEHAM, Jeffery L. "A Historical Account of the Hypodermic Model in Mass
Communication". Communication Monographs 55 (1988): 230-46.

HOHLFELDT, Antonio.; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga. (orgs.), Teorias da
Comunicação. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

VARÃO, Rafiza. A teoria hipodérmica reconsiderada. In: XXXII CONGRESSO


BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2009.

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