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Curso: Psicologia – 1° Período

Disciplina: Estudos Integrativos I


Assunto: Diferença entre ciência e senso comum
Professor (a): Robson
Estudante: Livia Emiliano

Massapê- CE, 26/03/2022


1. INTRODUÇÃO:

Pelo menos até a Idade Média quem dominava a verdade era a Igreja. Era
ela a única capaz de explicar os fenômenos físicos. Com o Renascimento, a ciência
começou a ganhar espaço e a Igreja questionada. O fazer ciência acontece com a
observação da realidade, com o levantamento de hipóteses e a comprovação de tais
ideias. Segundo a perspectiva de Luz (1988), ‘Para a racionalidade moderna, a partir
do século XVIII, só há uma grande certeza, um dogma: o da ciência como caminho
único para a obtenção da verdade. Portanto, para o processo de sua produção.’’
(p.36). Hoje, a ciência tem papel fundamental na nossa sociedade, pois é através dela
que conseguimos prever furacões, ou planejar um avião, por exemplo.
Já o senso comum vai representar a realidade em que estamos inseridos,
nossas crenças, costumes e atividades sociais. Para Platão, a opinião, ou senso comum,
deixou de ser referência política e, ainda segundo ele, seria um engano e não
necessariamente corresponderia à verdade.
No entanto, é válido pontuar que ambos os conhecimentos têm importância
na vida do ser humano, a Ciência, com a comprovação dos fenômenos físicos e o saber
cientifico, e o senso comum com a facilitação da ‘vida real’. Logo, faz-se necessário o
debate e estudo sobre os dois conhecimentos, seja no âmbito acadêmico ou no social.

2. SENSO COMUM X CONHECIMENTO CIENTIFICO:

Existem muitos cientistas que desprezam o conhecimento do senso comum,


acreditando que só tem veracidade e utilidade aquilo produzido em laboratório, ou seja,
aquele conhecimento que passa pelo Método Cartesiano. Porém, para Oliveira (2000,
p.77), o conhecimento cientifico não é superior ao conhecimento comum em todas as
instancias da vida, ambos resolvem problemas nos campos lhe são próprios, destacando,
ainda, que por mais rigoroso que o cientista seja com relação ao senso comum, quando
não está em seu campo de pesquisa, é também um homem comum e que faz uso do
conhecimento do senso comum em seu cotidiano.
Nesse contexto, podemos perceber que, por mais importante que o saber
cientifico seja, ele não necessariamente será usado em todos os âmbitos social. Por
exemplo, na escola o professor pede para resolvermos de lápis e sem a ajuda da
calculadora um cálculo complicado, que possa envolver logaritmo, mínimo múltiplo
comum (MMC) ou até mesmo um super cálculo de física que englobe inúmeros
conceitos.
Na vida real não é bem assim, nós utilizamos a calculadora em 99,9% das
vezes em que fazemos um cálculo, nós não precisamos comprovar de onde vem tal
número ou tal fundamento. Mas o que quero dizer com isso? O saber cientifico, apesar
de sua importância, não é o único no qual o ser humano deve se basear, não somos
robôs, não precisamos saber com exatidão cada conceito em que nos é pedido.
Entretanto, é válido destacar que precisamos dele para não cair em Fake
News, como é entendido por Lopes (1999, p.108) ao afirmar que ‘o domínio do
conhecimento cientifico é necessário, principalmente, para nos defendermos da retórica
cientifica que age ideologicamente em nosso cotidiano. Para vivermos melhor e para
atuarmos politicamente no sentido de desconstruir processos de opressão.’
Dessa forma, fica evidente a importância dos dois saberes caminharem lado
a lado. Um leva o outro, e não podemos nos basear apenas em um lado da equação.
Enquanto o saber cientifico é importante para áreas como a medicina, a automobilistica
e a área das pesquisas, o senso comum é importante para a vida real, o cotidiano e tudo
que se implica à ele.

2.1 – CIÊNCIA:

Quando se fala em ciência, é necessário muito mais do que saber o porque a


cor da folha de uma arvore é verde, ou saber que a terra gira em torno no sol, e não ao
contrário. São necessários teses, experimentos e comprovações. A ciência não deve se
basear em opiniões, ela deve ser neutra e objetiva.
A ideia de que as coisas precisavam ser comprovadas ganhou força com a
Revolução Cientifica, que ocorreu durante o século XVII e persiste até hoje. Com o
passar dos anos, a ciência conseguiu legitimidade na sociedade, tanto que grande parte
do que acreditamos hoje tem comprovação científica, como os remédios, os cálculos
que no futuro farão um avião ser um avião e ou construirão um edifício. No entanto, a
ciência não estaria no lugar que esta hoje se não fosse pelo senso comum. Por exemplo,
a ideia de fazer um carro surgiu da necessidade de locomoção, das necessidades
humanas. Dessa forma, ciência e senso comum andam de mãos dadas a muito tempo.
Nesse sentido, na década de 1940, com o desdobramento das guerras
mundiais, a ciência passou a ser motivo de questionamentos, os países que estavam em
guerra usaram seus conhecimentos científicos para a construção de bombas nucleares,
misseis e outros, fazendo com que o mundo se questione se a ciência é usada apenas
para o bem social. Para Marx, a ciência tem atuado de forma ideológica, para suprir as
necessidades do capitalismo, os cientistas não são neutros, e se deixam levar pelos
grandes governantes, causando a destruição da natureza, por exemplo. Assim, a ciência
não caminha só, o senso comum é cada vez mais visível, pois o saber cientifico é usado
quando o homem necessita de algo. Para Ferrari (1982, p.22), ‘a ciência é um conjunto
de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto
limitado, capaz de ser submetido á verificação’’.
Assim, é importante não levar a ciência como uma verdade absoluta, por
não existe verdade absoluta e as sociedades estarem sempre em constantes mudanças. O
que foi aceitável ontem, pode não ser mais hoje, como, por exemplo, o uso de animais
para testes laboratoriais. Com o movimento ‘Cruelty free’ muitas empresas passaram a
não utilizar mais animais na testagem de seus produtos.
Ademais, é válido ressaltar que, mesmo não sendo uma verdade absoluta,
faz-se necessário seguir alguns ‘conselhos’. Em 2020, quando uma pandemia atingiu o
mundo e ele se viu isolado, com medo e sem saber o que era verdade ou não, foi a vez
dos falsos cientistas e do negacionismo cientifico entrarem em ação.
Muitos líderes políticos, além de coach’s e artistas estavam contra as
medidas sugeridas por estudiosos da área, fazendo com que a sua influência guiassem
aqueles que estavam nadando em desinformações.
Em primeiro lugar, é preciso analisar a aceitação da sociedade sobre o
negacionismo científico e o questionamento de alguns pensamentos, como o
terraplanismo. No Brasil, o atual presidente, Jair Bolsonaro, vai contra a ciência desde o
inicio de sua campanha eleitoral, fazendo com que muitos brasileiros sigam seus passos.
Em tempos de crises, como foi observado durante a pandemia, esse negacionismo se
traduziu na aceitação de intervenções sem validação cientifica, como o uso de remédios
sem a aprovação de médicos da área, ou a autorização e sugestão da Organização
Mundial de Saúde (OMS), levando o Brasil à um número maior de mortes do que países
que aceitaram as recomendações dos órgãos responsáveis, como a Argentina e a
Austrália.
Para Camargo ( 2020, p.2), ‘ os processos do negacionismo apresentam
cinco características, todas observadas ao longo dos últimos meses nas discussões
públicas sobre a pandemia: 1) identificação de conspirações; 2) uso de falsos experts;
3)seletividade, focalizando em artigos isolados que contrariam o conselho científico; 4)
criação de expectativas impossíveis para a pesquisa; e 5) uso de deturpações ou falácias
lógicas’. Assim, para evitar a proliferação de discursos negacionistas devem ser ouvidos
os argumentos apresentados pelos expertos (e evitados os falsos expertos) não só
epidemiologistas, infectologistas, sanitaristas, mas também cientistas sociais,
educadores, psicólogos.

2.2- SENSO COMUM:

O senso comum configura- se como o conhecimento adquirido com o passar


das gerações, com a cotidianidade, com as necessidades humanas. É através dele que
atravessamos a rua sem precisar fazer um cálculo matemático que nos diria exatamente
onde devemos atravessar, e quantos minutos ou segundos levaria para isso. Temos a
ciência para isso. Nas nossas atividades do dia a dia, tomamos pequenas decisões que
não precisam de comprovações, nem reflexões. Nesse sentido, Lopes (1999, p. 143)
afirma que o conhecimento adquirido através do nosso cotidiano é a ‘soma de nossos
conhecimentos sobre a realidade que utilizamos de um modo efetivo na vida cotidiana,
sempre de modo heterogêneo.’
É notório que o senso comum veio antes da ciência, pois foi através dele que
surgiram os saberes populares, como a culinária, as ervas medicinais – muito usadas
ainda hoje em algumas culturas, e as práticas políticas, os pensamentos e as culturas.
Segundo Gramsci (1981) fazemos parte de uma realidade que não possui uma
concepção de mundo crítica e coerente, mas sim uma concepção de senso-comum,
transmitida de geração em geração e que, muitas vezes, é influenciada por crenças
religiosas, e em doutrinas que não são esquecidas. Sobre esse pensamento, é necessário
que compreendemos a diferença entre o senso- comum e o pensamento crítico.
Muitas vezes, interpretamos a vida cotidiana de maneira não reflexiva, podendo
nos confundir com crenças e valores que acreditamos. Através de um pensamento
ingênuo, não crítico e conservador, que resiste a mudanças.
Torna-se evidente o porquê de certa resistência dos indivíduos em assumir um
pensamento crítico, que substitua o senso comum. Através do primeiro é possível a
abertura de novos pensamentos, não pautados no individualismo e na opinião própria –
não que a opinião própria não seja importante mas, veja bem, tal opinião deixa de ser
válida quando fere um outro indivíduo. Logo, a subjetividade de uma pessoa não deve
ser menosprezada, mas deve ser superada. Segundo Gramsci (1981), o bom senso é o
núcleo sadio do senso comum. Assim, quando uma pessoa é estimulada no exercício de
compreensão e solidariedade crítica torna-se capaz de estabelecer pensamentos sábios
que irão contribuir para com a sociedade.
Assim, há a necessidade do pensamento se adaptar com a nova realidade. Por
exemplo, nos últimos anos, a pauta LGBT+ vem ganhando cada vez mais espaço nos
debates. Isso se dá, principalmente, pela cultura patriarcal e preconceituosa que estamos
inseridos e familiarizado.
De acordo com Badaró ( 2005), a formação do senso crítico está vinculada a uma
alteração qualitativa da maneira de pensar e compreender o mundo. Assim, a opinião
que já está em nossas mentes deve ser desconstruída e deve dar lugar à construção de
um novo conhecimento. Para que esse novo conhecimento, ou bom senso, seja
alcançado a educação e a ciência, verdadeira e neutra, devem ser uma das principais
fontes de conhecimento da sociedade.
Em um dos piores momentos do mundo, durante a Segunda Guerra Mundial,
quando os campos de concentração foram criados e muitas pessoas consideradas não
arianas morreram, o senso comum se fez mais correto do que a ciência. Hitler
influenciou inúmeras pessoas ao levantar a pauta da supremacia ariana, trazendo à tona
o senso comum, que passou a ser mais significativo para os alemães do que o senso
crítico e o saber científico, que afirmava que todos eram iguais.
A opinião que estava sendo empregada na mente da Alemanha teve que ser
mudada e, hoje, inúmeros alemães têm vergonha de seu trágico passado. Assim, o
passado se tornou um tipo de livro de história para a construção de um novo
pensamento, com uma visão de mundo diferente da que tínhamos a algumas décadas
atrás.
Portanto, é necessário um certo cuidado quanto ao senso comum. Mesmo se
caracterizando como parte importante do cotidiano, ele pode ser um obstáculo para o
desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva e justa. Tem que se levar em conta,
não apenas as coisas boas e as facilidades que ele trás, mas também os preconceitos e as
inseguranças que o homem tem ao se ver em uma situação que envolva o coletivo.
É necessário deixar de lado o ‘eu’ e começarmos a pensar em como nossas
atitudes, costumes e crenças afetam o outro. Não estou dizendo para nos deixarmos de
lado, jamais, apenas para começarmos a adquirir um pensamento de coletividade. Que
englobe todas as camadas da sociedade, sem excluir ou jugar ninguém. Construindo,
assim, o pensamento crítico, que caminhará junto com a ciência.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ROCHEL CAMARGO, K.; MEDINA COELI, C. A difícil tarefa de informar.


PHYSIS. REVISTA DE SAÚDE COLETIVA, v.30, n.2, p.1-5, 2020.

FERRARI, Alfonso Trujillo. Metodologia da Pesquisa Científica. São Paulo:


McGraw-Hill, 1982

OLIVEIRA, R.J. Bachelard: o filósofo professor ou o professor filósofo In


OLIVEIRA, R.J. A escola e o ensino de ciências. São Leopoldo: Ed. UNISINOS,
p. 59-101, 2000.

Gramsci, A. (1981). Concepção dialética da história. (4a ed.), Civilização


Brasileira.

LUZ, MADEL, T. Natural, racional, social: Razão médica e racionalidade


científica moderna. Rio de Janeiro: Campus, 1988, pp. 15-41.

LOPES, A.C. Saberes em relação aos quais o conhecimento escolar se constitui:


Conhecimento científico; conhecimento cotidiano. In LOPES. A.C. Conhecimento escolar:
ciência e cotidiano. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1999

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