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No entanto, de algum modo, toda religião para Nietzsche apresenta uma forma de
diminuição, de força e de vitalidade, na medida em que doa algo de si para o outro.
Nesse sentido, todas apresentariam algum grau de reatividade e o budismo não foge à
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regra. Mas em relação ao cristianismo o budismo aparece como uma religião para o fim
de uma civilização, o contrário da Europa de seus dias. Nietzsche afirmando ser o
budismo a religião do cansaço das civilizações, afirma também estar a Europa Ocidental
longe de alguns propósitos como a serenidade e a mansidão; por isso, o cristianismo, de
uma cultura bárbara não está pronta para a bondade e a serenidade dos homens budistas.
Segundo Nietzsche, o budismo não busca a perfeição; a perfeição é o seu caso.
[[De algum modo, pode-se chegar a alguma aproximação entre esse estado de ‘Nirvana’
e a manifestação do ‘amor fati’ elaborado por Nietzsche. Não há uma transposição de
conceitos, apenas a libertação budista permite pensar em um estado afirmativo como o
gerado pelo ‘amor fati’. [ ] Ao pé da letra, ‘amor ao destino’, ‘amor ao fado’, na
filosofia de Nietzsche significa aceitação integral da vida e do destino humano, mesmo
em seus aspectos mais cruéis e dolorosos. Diga-se, ao eterno retorno: eu digo sim. Algo
um pouco mais complicado, mas que aproxima a circularidade do tempo búdico do
tempo nietzschiano.
O erro do budismo para Nietzsche seria negar a vida, identificar com o nada, a
aniquilação ou nadificação do ‘nibbana’. Mas na verdade, do ponto de vista canônico,
nibbana’ não é algo simplesmente negativo, desde o primeiro sermão se apresenta como
um ideal de liberdade e libertação do sofrimento.
Acontece que, o aspecto mais fundamental do budismo, a sua afirmação na dor, muitos
o fazem envergonhados, escondidos, o que não é o caso budista, que coloca a dor no
plano central de toda sua dogmática. Tudo é dor. E esse propósito budista em afirmar a
dor ontologicamente é que será elogiado por Nietzsche. Este não chega a explorar esse
desencadear do fenômeno da dor em suas Quatro Nobres Verdades, que levarão o
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indivíduo à libertação ou ‘Nirvana’. Esse estado final para o budista não significa um
vazio destituído de valor. É o fim de uma vida levada numa prática da virtude, ou
melhor, da sabedoria.
De algum modo, pode-se chegar a alguma aproximação entre esse estado de ‘Nirvana’ e
a manifestação do ‘amor fati’ elaborado por Nietzsche. Não há uma transposição de
conceitos, apenas a libertação budista permite pensar em um estado afirmativo como o
gerado pelo ‘amor fati’. [ ] Ao pé da letra, ‘amor ao destino’, ‘amor ao fado’, na
filosofia de Nietzsche significa aceitação integral da vida e do destino humano, mesmo
em seus aspectos mais cruéis e dolorosos. Diga-se, ao eterno retorno: “eu digo sim”.
Uma circularidade, enfim.
Importa notar, porém, que a abordagem do budismo realizada por Nietzsche parte da
comparação deste com o cristianismo. Em primeiro lugar, o caráter niilista, nadificador
e pessimista presente em ambas as religiões é o mote de sua crítica. Em seguida vem o
acento grave na compaixão. Schopenhauer é aquele que afirmaria na compaixão uma
depressão dos afetos já que o compassivo ao mesmo tempo que diminui a sua força,
impede o outro de crescer, de reagir. Se ‘Shakyamanibhuda’, o Buda histórico, o
Iluminado, é o buda da compaixão; por outro lado, no cristianismo temos a fé, a
caridade e a esperança, ou seja, compaixão também.
Em todo caso, a compaixão na visão de Nietzsche é uma afeição que deprime, que tira
forças daquele que a concede. Nos estudos de Panaïoti,,este lança uma tese da
compaixão íncita na filosofia nietzschiana, algo como uma configuração da “grande
saúde”].
Pelo fim visado no nada, no ‘Nirvana’, ou em Deus, Nietzsche conecta tudo isso ao
princípio de negação da vida, portanto, do conceito da ‘décadence’
Nietzsche começa a sua elaboração acerca das religiões tomando como parâmetro o
grau de aumento ou de diminuição que estas provocam na vida de cada um. Mais tarde,
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“Buda luta contra ela (condições fisiológicas) por meio da higiene. Serve-
se da vida ao ar livre, da vida nômada; precaução contra todas as
emoções que produzem a bílis e aquecem o sangue; a ausência de
preocupações”.
[ Nietzsche faz ainda uma aproximação entre o “pregador” “das montanhas, dos lagos e
prados” e a de um Buda. Sua manifestação, a desse Jesus búdico, é como a de um Buda
e afastada daquele “fanático da agressão”, Paulo de Tarso, e [ inimigo moral dos
teólogos e dos sacerdotes]. ]