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As fases do pensamento fenomenológico de Binswanger -

Vários dos autores que a gente leu, como esse tatossian e também pita e moreira, dividem a
obra do binswanger em três fases, mais como uma forma didática de compreender como se deu
a evolução do pensamento fenomenológico dele, porém, a gente tem que entender que existe
como se fosse um fio condutor permeando toda a obra do binswanger, onde ele estava
buscando entender qual a melhor forma de descrever a psicopatologia do jeito
fenomenológico. Por isso que vocês vão ver, ele passa por husserl, depois adota as ideias de
heidegger na sua segunda fase e por último, já no finzinho da vida dele, ele vai retomar husserl
Mas mesmo assim a gente quis adotar a divisão das três fases pra ficar de uma forma mais
didática também pra vocês entenderem.

Primeira Fase:

Binswanger queria introduzir a fenomenologia na psicopatologia denominou seus estudos de


fenomenologia na psicopatologia como antropologia fenomenológica, por que Ele desejava que
a antropologia fenomenológica se tornasse o fundamento da psicopatologia e da psiquiatria,
por compreender ser humano a partir de sua existência na história, ou seja, todo organismo
tem sua história o e a abordagem que o binswanger propõe é justamente entender a
psicopatologia a partir da história vivida do indivíduo.

Vocês devem estar se perguntando, mas não foi Jaspers quem introduziu a fenomenologia na
psicopatologia? né, depois do seminário que os colegas apresentaram duas semanas atrás,
Então, o termo fenomenologia havia sido usado por Karl Jaspers no qual a fenomenologia era
mostrada como método de descrição dos vividos conscientes das doenças mentais. Podemos
dizer que Jaspers inaugurou a psicopatologia como um campo específico de saber mas foi
Binswanger quem iniciou a psicopatologia fenomenológica propriamente dita.

por isso que o binswanger é considerado o pai da psicopatologia fenomenológica

Nesse sentido, as principais obras que ele escreveu nesse período são: 1922: Introdução aos
problemas de psicologia geral. 1922: Sobre a fenomenologia, 1928: Mudanças na concepção e
interpretação dos sonhos.

Então são nessas obras que o binswanger parte para uma perspectiva mais fenomenológica,
contrapondo vários aspectos do positivismo da Psiquiatria tradicional, sendo influenciado
pelas ideias de Husserl; …tinha como objetivo tirar a psicopatologia do campo das ciências
naturais

Então o binswanger tinha muito essa questão de contrapor o método das ciências naturais
onde tudo parte da percepção sensível, do externo, né. A contraposição dele é que na
fenomenologia tudo parte da intuição, aquilo que se mostra de imediato na consciência, uma
essência apreensível.
SLIDE DO CAVALO

E pra ilustrar isso, eu trouxe essa obra do franz marc “os grandes cavalos azuis” que o próprio
binswanger fez uma análise dela pra tentar defender esse ponto de vista que eu falei, onde ele
diz que Quando o Franz Marc pinta cavalos azuis, ele apresenta, com isto, uma propriedade do
cavalo, que nunca pode ser encontrada na natureza. (cavalos azuis não existem na natureza)
então o binswanger diz que o pintor viu algo e o expressou de uma forma que a natureza jamais
conseguiria expressar, ou seja, a “essência” propriamente do cavalo, o cavalo em sua
universalidade, abstração, em oposição à ideia generalizada de cavalo. Contraposição entre
percepção sensível e outro tipo de tomada de conhecimento, ou de experiência imediata e
direta de algo." (Tonus & Messas, 2018)

Influências de Husserl

Bom, não podemos falar da primeira fase do Binswanger sem explicitar quais são as influências
do Husserl no pensamento dele né

Só pra retomar aqui pra vocês entenderem melhor, a intencionalidade significa que sempre
que pretendemos ter consciência, temos consciência de algo e essa consciência tem uma
intencionalidade que é manifestada pelo sujeito que pretende conhecer e existe essa distinção
então, entre esse sujeito e o objeto que ele pretende conhecer. Então assim, a intencionalidade
é, essencialmente, o ato de atribuir um sentido; ela é que unifica a consciência e o objeto, o
sujeito e o mundo. Com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura
exterioridade e o sujeito não é pura interioridade, mas a saída de si para um mundo que tem
uma significação para ele.

Esse conceito de intencionalidade é o que permite ao Binswanger estudar o que se constitui a


consciência, e principalmente das alterações psicopatológicas que se originam , ele diz, numa
falha na constituição da experiência que o indivíduo tem do próprio tempo, e aí entra também
aquela questão da temporalidade né. Então esse conceito de intencionalidade permite a
ultrapassagem daquela dicotomia sujeito/objeto, o que facilita a inserção de Binswanger na
discussão do campo psicopatológico.

SLIDE DA CITAÇÃO

Neste sentido, Binswanger (1971a) afirma: O fundamento da psicologia reside, sobretudo, na


percepção do outro, na percepção de um eu estranho ou de outrem, bem mais raro que do
próprio eu. O objeto de pesquisa, aqui, não é mais a apreciação no sentido introspectivo ou na
auto-observação, mas nesse modo de percepção através do qual nós percebemos o caráter
próprio da vida psíquica de outrem (p.

Binswanger Buscar uma apreensão do mundo do psicótico como ele o experiencia.

Para Binswanger (1971a), compreender fenomenologicamente o mundo psicótico não


significa olhar um mundo comum, pois este mundo é formado de maneira diferenciada, pelo
contato com o outro; um mundo que é complicado apreender apenas com uma descrição de
seu paciente. Só seria possível entender este mundo psicótico distanciando-se dos
conhecimentos prévios da psicopatologia. Com esta abordagem fenomenológica, o fenômeno
psicopatológico jamais seria visto isoladamente e sua essência estaria sempre relacionada à
manifestação de cada paciente, do mundo vivido dele.

Terceira Fase

Na terceira e última fase do nosso querido Binswanger faz um retorno aos conceitos
Husserlianos. por que ele achava que apenas a daseinsanálise não era suficiente para descrever
as estruturas da psicose.

O abandono parcial do conceito de Dasein é criticada por alguns autores devido à ideia de que
Binswanger abandona a história de vida e a experiência vivida do paciente para focar na
doença apenas

Seu foco dentro da fenomenologia então se torna a própria subjetividade, e portanto ele não
procura mais descrever o mundo, mas sim tratar o problema da constituição dos mundos do
psicotico

Explorar a constituição da consciência das condições psicóticas, a partir da


intencionalidade e da temporalidade.

Modos de consciência

Retenção, Apresentação e Protensão - Consciência intencional

Consciência está aí junto com o tempo, digamos, ela está fluindo constantemente junto com
essa temporalidade. A consciência pode pensar no futuro e no passado

Aí no adoecimento mental ocorre a alteração dessa temporalidade, o doente mental não pensa
da mesma forma, no mesmo tempo.

Para o autor, a consciência intencional é algo que é alterada e consequentemente altera


também a estrutura temporal da consciência.

Melancolia

O melancólico não se desvincula de seu passado, tendo sua existência dominada pelos
acontecimentos anteriores enquanto o presente perde seu significado por estar
completamente vazio. a melancolia deforma a relação usual entre passado, presente e futuro
ou , como diria Husserl, na retenção, apresentação e protensão),
Mania

A mania é ocorre de forma inversa em relação à melancolia, pois se caracteriza pelo


desaparecimento de toda retenção e protensão. Para o último Binswanger, a diferença entre a
melancolia e a mania é que o melancólico se encontra preso em seu passado e o maníaco, no
presente; logo, o maníaco experiência um constante agora. Além disso, não há a compreensão
de que existe um outro, né, não há a questão da alteridade na conduta maníaca.

Delírio

Aí no Delírio é o seguinte:

então a consciência é um fluxo entre retenção, protenção e apresentação, aí no adoecimento


mental, não tem mais nenhum fluxo, ela para stope.

Por isso que eu coloquei aqui que o Delírio é uma deficiência em tornar legível o texto do
mundo, as relações mundanas, o si mesmo e os outros, então acontece uma experiência
monótona, como se nada de novo vem a consciência. a pessoa se torna passiva ao mundo.

Quando há a mudança naquilo que se percebe como experiência vivida, e na constituição do eu


e do outro, existe uma estranheza de mundo que leva o indivíduo a criar um mundo próprio:
seu próprio delírio.

Sempre quando realizamos uma ação consciente no mundo acabamos nos remetendo à outra
que já fizemos ou que pretendemos fazer, ou talvez a outros eventos isolados que ocorreram
em nossas vidas, ou seja, remetimentos que vão gerando encadeamentos de eventos. E daí no
adoecimento seria visto justamente remetimentos anormais, então talvez seriam relacionadas
coisas entre si que não fazem sentido ou não possuem uma ligação mesmo.

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