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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

Cláudia Cortezia

RESUMO: Fenomenologia e existencialismo e a psicologia.

Professor: Giancarlo de Aguiar

05 de novembro de 2020
A história da Fenomenologia e do movimento fenomenológico é atravessada pela
história de quem a concebeu. Este início está diretamente ligado ao final do século XIX
e a três nomes especificamente: Franz Brentano, Karl Stumpf e Edmund Husserl. Mas
foi a concepção de fenomenologia de Husserl que, verdadeiramente, inicia
o movimento fenomenológico e que, a partir da década de 1910 começa a fazer
seguidores em várias partes do mundo.
A fenomenologia faz o mundo aparecer como fenômeno e é a consciência intencional,
essa consciência “de” alguma coisa, que apreende o fenômeno nas suas várias
possibilidades. É a vivência imediata da consciência, tomada como ato
intencional (uma percepção, uma emoção, uma imaginação, uma recordação, por
exemplo) que visa um objeto, que Husserl adota como ponto de partida para discutir a
questão do conhecimento. “[...] o psíquico não é aparência empírica; é “vivência”,
averiguada na reflexão” (HUSSERL, 1965, p.33). A atividade psíquica é atividade
intencional, reveladora de objetos; e um mesmo objeto pode ser visado através de
uma multiplicidade de vivências distintas: o carvalho na Floresta Negra, conforme o
exemplo de J. H. van den Berg (1994), pode ser visado como uma espécie da
Botânica, como um objeto da percepção, como uma lembrança da árvore que vi
quando estive na Floresta Negra, pode ser visado imaginariamente tomando cores e
formas diferenciadas do carvalho “real”, pode ser apreendido como simplesmente uma
bela árvore sob a qual faremos um piquenique num belo dia de sol... A consciência,
portanto, é condição fundamental (fundamento) do conhecimento. Neste sentido, a
relação sujeito-objeto passa a ser tomada de outra perspectiva, não mais como uma
dualidade, mas sim como uma relação e a Fenomenologia é a forma de acesso ao
fundamento (consciência), que não é nem o homem nem o mundo, mas o acordo
entre ambos.
O existencialismo sofreu influência da fenomenologia (fenômenos do mundo e da
mente), cuja existência precede a essência, sendo dividido em duas vertentes:
existencialismo ateu que nega a existência de uma natureza humana e o
existencialismo cristão que seria a essência humana correspondendo como um
atributo de Deus.
Para os filósofos existencialistas, a essência humana é construída durante sua
vivência, a partir de sua experiência no mundo e de suas escolhas, uma vez que
possui liberdade incondicional.
De acordo com Beaufret (1976, p. 57), ao falarmos existencialismo, o que primeiro
acentuamos é a palavra existência e esta palavra implica numa antiga contraposição
expressa na palavra essência. Essentia, diz este autor, é a transposição direta, no
plano nominal, do verbo esse: ser. A palavra existência está ligada ao termo existere,
que significa sair, sair de um domínio, de uma casa, de um esconderijo; é, portanto,
movimento para fora e por extensão, mostrar-se. O sentido de ek-stase, dado por
Aristóteles, ainda segundo Beaufret, procura evidenciar que a mudança é existência,
isto é, saída de um estado para outro.
Este sentido de existência aponta para o sentido próprio da filosofia como existência
que se constitui enquanto um problema. O que há de estranho no homem é que ele
existe e é esta estranheza que mobiliza os existencialistas na sua reflexão sobre a
existência.
Com essas influências da fenomenologia e do existencialismo desenvolveram-se
vários modelos terapêuticos que podem ser genericamente designados por
psicoterapia existencial e definidos como métodos de relação interpessoal e de análise
psicológica cujo objetivo é o de facilitar na pessoa do cliente um autoconhecimento e
uma autonomia psicológica suficiente para que ele possa assumir livremente a sua
existência (Villegas, 1988). Importa desde já referir que não se constituem como
técnicas de cura da perturbação mental, mas sim como intervenções cuja finalidade
principal é ajudar o crescimento pessoal e facilitar o encontro do indivíduo com a
autenticidade da sua existência, de forma assumi-la e a projetá-la mais livremente no
mundo. Em qualquer caso, o centro é o indivíduo e não a perturbação mental. Esta,
quando presente, é vista como resultado de dificuldades do indivíduo em fazer
escolhas mais autênticas e significativas, pelo que as intervenções terapêuticas
privilegiam a autoconsciência, a autocompreensão e a autodeterminação.
Na psicoterapia existencial enfatizam-se as dimensões histórica e de projeto e a
responsabilidade individual na construção do seu-mundo. Visa a mudança e a
autonomia pessoal. Contudo, vários autores definem a finalidade principal da
psicoterapia existencial de diferentes modos: procura de si próprio (May, 1958);
procura do sentido da existência (Frankl, 1984); tornar-se mais autêntico na relação
consigo próprio e com os outros (Bugental, 1978); superar os dilemas, tensões,
paradoxos e desafios do viver (Van Deurzen-Smith, 2002); facilitar um modo mais
autêntico de existir (Cohn, 1997); promover o encontro consigo próprio para assumir a
sua existência e projetá-la mais livremente no mundo (Villegas, 1989) e aumentar a
autoconsciência, aceitar a liberdade e ser capaz de usar as suas possibilidades de
existir (Erthal, 1999). No essencial, a perspectiva existencial pretende ajudar o cliente
a escolher-se e a agir de forma cada vez mais autêntica e responsável.
Tendo em conta que não existe uma mas sim várias propostas de psicoterapia
existencial, apenas podem delimitar-se objetivos gerais uma vez que cada proposta
tem os seus objetivos específicos (Deurzen-Smith, 1996)
Em síntese, trata-se de facilitar ao indivíduo o desenvolvimento de maior autenticidade
em relação a si próprio, uma maior abertura das suas perspectivas sobre si próprio e o
mundo e, ainda, de ajudar a clarificar como é que poderá agir no futuro de forma mais
significativa. O centro é a responsabilidade da liberdade de escolha do indivíduo. A
palavra-chave é construção, uma vez que se trata de desafiar o indivíduo a ser o
construtor da sua existência.
REFERÊNCIA

P. Ewald. Ariane. Fenomenologia e existencialismo: articulando nexos,


costurando sentidos. Estud. pesqui. psicol. v.8 n.2 Rio de Janeiro ago. 2008

A. CARVALHO TEIXEIRA. JOSÉ. Introdução à psicoterapia existencial.


Análise Psicológica (2006), 3 (XXIV): 289-309

e Silva Jovânia Marques de Oliveira ; Lopes Regina Lúcia Mendonça; Diniz Maria
Normélia Freire. Fenomenologia. Rev. bras.
enferm. vol.61 no.2 Brasília Mar./Apr. 2008

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