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Sua análise sobre a existência recebe o nome de Karl Jaspers abandonou o método tradicional
Dasein, que significa "ser al", no alemão. Neste pelo fenomenológico, ressaltando a importância
sentido, o ser não é algo que possui uma da investigação fenomenológica da experiência
consciência isolada do mundo, mas um ser que
subjetiva de cada pessoa.
está no mundo que estabelece valores e
Para ele, as manifestações psicológicas não
deveriam ser reduzidas somente as suas causas,
mas compreendidas por sua participação afetiva, Neste sentido, sua intenção não é partir das
que considerou como reveladora de uma coisas objetivas como procede a ciência, mas
existência. A construção do mundo de qualquer deixar de lado qualquer teoria anterior sobre as
pessoa pode ser descrita como saudável ou coisas, para que se possa permitir ver as coisas
enferma, isso só pode ser de acordo com sua como nos aparecem em seu pleno sentido.
visão de mundo, não da nossa. O retorno às coisas mesmas constitui a volta as
A diferença entre o ser saudável e o enfermo, vivências mesmas, por serem elas o fundamento
psicologicamente, não corresponde a um tanto das coisas objetivas e das subjetivas.
problema ou uma disfunção, mas a um diferente A fenomenologia tem o intuito de chegar "às
modo de ser e de se projetar no mundo. coisas mesmas", no sentido dos significados delas
Deste modo, não se busca impor à existência constituídos na subjetividade.
uma estrutura teórica alheia, mas deixar que ela
mesma se manifeste, se faça fenômeno. Por essa EXPERIÊNCIA PESSOAL
ótica, o que se mostra não são problemas ou Cada pessoa se relaciona com os fatos por meio
disfunções, mas modos de ser de acordo como de sua experiência e vivências, que se funde com
cada existência se estrutura. Não se privilegia um uma série de lembranças e sentimentos que
modo (sano) sobre outro (enfermo), mas se compõem sua história pessoal. Deste modo, cada
consideram os modos específicos de ser. um atribui diferentes significados para as suas
vivências.
A REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA
Os significados não são estáticos, estão em
A redução é o recurso para chegar ao fenômeno transformação, podemos desenvolver novos
como essência. olhares para um fato que nos aconteceu. Com
Em nossa vida cotidiana, acreditamos que o novos olhares, é possível uma percepção mais
mundo e que as coisas existem por si mesmas, ampla, que olha para os fenômenos e não para
independentemente de nossa presença. Essa os fatos.
atitude ignora a existência da consciência que O fenomenólogo possibilita a pessoa colocar as
tem sentido de tudo o que a nós se apresenta. coisas de seu modo experienciado, não buscando
Para observar o fenômeno como ele se mostra, é elaborar-um diagnóstico, mas para compreender
preciso suspender ou colocar de fora todas as os sentidos de cada um, o modo como cada
nossas concepções prévias e teorias sobre a situação ou fato significa para cada pessoa. Por
natureza. Deste modo poderemos então acessar meio do sentido, é possível compreender o modo
as essências das vivências. de ser de cada pessoa.
A Fenomenologia é uma ciência descritiva das O indivíduo, é um ser em constante construção e
vivências, por meio da descrição ingênua dos transformação, não sendo determinado somente
fenômenos tais como aparecem na consciência, por sua condição física e material, mas por
antes de qualquer reflexão ou conhecimento, ou diversas possibilidades e modos de ser, existir e
de qualquer tentativa de análise sobre eles. de se pronunciar no mundo.
A necessidade de voltar às coisas mesmas vai no Cada pessoa vivencia os fatos de diferentes
sentido de se deixar ver o que aparece na maneiras. Para compreender a pessoa, não basta
experiência. Voltar "às coisas mesmas", segundo somente olhar para os fatos, mas compreender
Husserl, é uma busca pela aparição imediata das como cada fato foi vivenciado para essa pessoa,
coisas que se mostram, sem recorrer à teorias quais significados que ela atribuiu para cada
previamente estabelecidas sobre elas. situação experimentada. Compreender os
fenômenos tal como se mostram a cada pessoa
demanda um olhar aberto e atento para os de algo que imaginamos, sem a presença física
significados de cada um. deste algo.
O procedimento fenomenológico, busca um
envolvimento existencial, um aprofundamento na LOUCURA E RAZÃO
vivência descrita, deixando entre parênteses Alguns séculos atrás, na antiguidade grega, um
qualquer concepção prévia sobre ela. Depois louco era visto como um ser tomado pelo divino,
realiza um distanciamento, para refletir sobre a um mensageiro dos deuses que merecia respeito
vivência, sem perder de vista a própria vivência. e crédito. Hoje, contrariamente, um louco é visto
Trata-se de uma aproximação e um como um problemático, um doente mental,
distanciamento, na busca de um compreender alguém que não merece crédito nem respeito.
mais amplo, investigando os atos intencionais da Estas concepções afetam a interpretação pública
consciência para captar o sentido dos e as interações entre as pessoas.
fenômenos. Olhar fenomenologicamente é A sociedade moderna, desde a conceituação da
perceber o presente, o que está acontecendo e se loucura como doença e problema, na Idade
mostrando neste exato momento, deixando de Média, institucionalizou seu tratamento e
lado os caminhos já conhecidos da tradição, impulsionou todo um estudo sistemático sobre
estando aberto aos riscos dos desconhecidos, a ela, elaborando teorias sobre as doenças, criando
novas e possíveis percepções para compreender laboratórios, centros especializados de estudo,
o que se mostra formação de profissionais, desenvolvimento
medicamentos, aparelhagens e hospícios, para
SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO
controlar e conter o que passou a ser tido como
Para a Fenomenologia, não há diferença entre "problema".
sensação e percepção, pois nunca temos O modo como vemos a loucura associado a
sensações parciais, separadas de cada qualidade, doença, atualmente, tem como base uma
que depois o espírito juntaria e organizaria como concepção de razão. A loucura é proibida porque
percepção de um único objeto. não se encaixa numa forma de ser sob um
Sentimos e percebemos totalidades estruturadas, modelo racional, ela não faz parte da razão que
com significação. Quando olhamos para uma foi supervalorizada, corresponde a outros modos
mesa, percebemos de uma só vez sua cor (ou de ser.
cores), seu formato, suas partes, seus pés, seu
tamanho, sua textura, seu material, seu estilo. A EMOÇÕES E AFETIVIDADE
mesa percebida não é um bloco de qualidades Não há uma separação entre as emoções e o
separadas nem um objeto indeterminado que entendimento que temos das coisas, nosso
espera uma relação intelectual para nomear, mas entendimento é sempre emocionado. É por meio
uma mesa percebida em sua totalidade, tal como dos estados de ânimo que percebemos como as
se mostra à consciência. coisas nos afetam.
Não temos sensações parciais, mas percepções Tudo o que vemos, é visto com um estado de
globais de uma forma ou de uma estrutura. ânimo, e eles abrem para nós significados
Mesmo quando percebemos formas incompletas, existenciais e não meramente lógicos das coisas e
nossa percepção tenta unificar e dar sentido para situações. As emoções falam de coisas diferentes
o que percebemos. A percepção não é causada e, às vezes, até contraditórias em relação aquelas
somente pelos objetos sobre nós, nem somente que pensamos, elas revelam o nosso efetivo
pelo nosso olhar sobre as coisas, mas por meio envolvimento e de nossa situação no mundo. As
da relação entre eles e nós e nós e eles. A emoções não atrapalham nossa informação a
consciência não depende da presença da coisa, respeito do mundo, pelo contrário, as coisas são
podemos ter consciência de algo que vimos ou o que são para nós por meio das emoções que
nos envolvemos a elas. É por meio da afetividade
que nos percebemos como seres singulares.
Através das emoções tudo o que existe ganha
consistência, uma vez que elas revelam como as
coisas nos afetam, como somos tocados por elas.
Não entendemos o sentido das coisas nas
explicações teóricas, em princípios morais ou
legais, mas por meio das emoções. E por meio
das emoções que as coisas aparecem como são,
ganham sua mais plena consistência.
FENOMENOLOGIA E PSICOLOGIA