Neurociências,
educação e
saúde
Diálogos
interdisciplinares
ULTICULTURAL
MULTICULTURAL
Neurociências,
educação e
saúde
Diálogos
interdisciplinares
Fernanda Castro Manhães
Fabio Luiz Fully Teixeira
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza
Organizadores
Neurociências,
educação e
saúde
Diálogos
interdisciplinares
MULTICULTURAL
Copyright © 2020 Brasil Multicultural Editora
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem a
expressa autorização dos autores ou organizadores.
Diretor editorial
Décio Nascimento Guimarães
Diretora adjunta
Milena Ferreira Hygino Nunes
Coordenadoria científica
Gisele Pessin
Fernanda Castro Manhães
Design
Fernando Dias
Foto de capa: Starline / Freepik
Gestão logística
Nataniel Carvalho Fortunato
Bibliotecária
Ana Paula Tavares Braga – CRB 4931
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5672-0005-0
CDD 371.9
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1
Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Fernanda Castro Manhães, Fabio Luiz Fully Teixeira,
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza
2
Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 26
Saulo Machado Moreira Sousa, Andressa do Amaral Machado,
Fabio Luiz Fully Teixeira
3
A relação entre o envelhecimento e a qualidade do sono: uma abordagem teórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Luciano Neves Reis, Fernanda Castro Manhães,
Rosalee Santos Crespo Istoe, Lucas Capita Quarto
4
Neuroeducação: contribuições das neurociências, psicologia e educação para as
práticas pedagógicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Andreza de Souza Almeida, Flávia da Cunha Pereira
5
As contribuições da neurociência no processo de formação de professores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Sebastião Duarte Dias, Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza,
Fernanda Castro Manhães
6
Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 75
Aline do Nascimento Barbosa, Danielle Soares da Silva,
João Luiz Lima Marins, Sinthia Moreira Silva Ribeiro
8
7
A importância da neurociência no processo de aprendizagem. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 88
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza,
Sebastião Duarte Dias, Fernanda Castro Manhães, Ademir Hilário de Souza
8
A metamorfose do corpo na contemporaneidade e a interface com a plasticidade neural. .. .. .. .. .. .. 97
Erika Costa Barreto, Evandro Monteiro de Barros Junior,
Gustavo Santos Crespo
9
Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Juliana da Conceição Sampaio Lóss, Fabio Luiz Fully Teixeira,
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza
10
Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio cognitivo em
indivíduos senescentes: tecnologia e neurociência cognitiva. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 120
José Alexandre, Lívia Vasconcelos de Andrade, Rosalee Santos Crespo Istoe
11
Diálogos transdisciplinares na tríade: neurociência, educação e saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Lídia de Oliveira Paula
12
O corpo como um espaço de linguagem emocional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
Margarete Zacarias Tostes de Almeida, Caroline Ferreira dos Santos,
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza
13
Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma leitura neurocientífica
dos neurônios-espelho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Mariana Fernandes Ramos dos Santos,
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza, Denise Tinoco Novaes Bedim
9
Apresentação
10
interseção entre as ciências do cérebro, educação, saúde e comportamento hu-
mano, surge um novo repensar sobre as práticas pedagógicas correlacionando
os estudos nas áreas de aprendizagem e desenvolvimento humano.
Os organizadores
11
1
Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de
aprendizagem
Fernanda Castro Manhães1
Fabio Luiz Fully Teixeira2
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza3
Considerações iniciais
Quando se questiona a aplicação e intervenção por meio da temática de neuro-
ciências, pensamos em cérebro, estruturas e funções cerebrais, inteligência e con-
sequentemente em aprendizado. Mas afinal, como se aprende? Qual a idade ideal
12
para aprendermos? Como estimular nossas inteligências? Existe relação entre
desenvolvimento cerebral e plasticidade? Como contribuímos para uma apren-
dizagem considerada eficaz com tanta informação diariamente? Todas essas in-
quietudes fazem parte do meio acadêmico e social, uma vez que os estudos da
neurociência no âmbito da educação são alternativas para repensar as práticas
pedagógicas na contemporaneidade. Nesse sentido, no campo da neurociência,
as pesquisas fazem interlocução entre as ciências do cérebro na perspectiva da
neurobiologia do aprendizado.
13
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
O cérebro e a aprendizagem
Os estudos sobre o cérebro humano constituem um fator que motivou
Gardner a elaborar a teoria sobre as inteligências. Apesar das descobertas fei-
tas até o momento, o cérebro e seu funcionamento ainda apresentam muitas
características a serem desvendadas. Caracteriza-se como o principal órgão
do encéfalo, localizado no sistema nervoso central, desempenhando o contro-
le de atividades voluntárias e involuntárias em razão dos estímulos provenien-
tes do meio ambiente (RELVAS, 2009; MAIA, 2011).
14
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
15
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
16
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
Percurso metodológico
O presente estudo foi embasado por uma pesquisa quantitativa, do tipo
descritiva, buscando um levantamento dos trabalhos empíricos e teóricos
produzidos no meio acadêmico sobre o neurociência e educação. Trata-se de
uma revisão bibliométrica, caracterizada pelo estudo da classificação e avalia-
ção e informações peculiares das publicações, com o propósito de identificar
substratos, tendências e o crescimento da produção científica de uma ou mais
áreas de conhecimento.
17
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Resultados
O gráfico 1 apresenta a quantidade de publicações encontradas na base Sco-
pus de acordo com as palavras-chave “neurociência” e “educação” utilizadas.
Percebe-se que 2010 e 2014 foram os anos com mais artigos encontrados,
seguidos de 2016 e 2018.
18
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
Fonte: Scopus (2020).
Observa-se que o Brasil é o que mais publica, com cerca de 324 artigos na
categoria analisada. Destaca-se, também, que Portugal é o 2º lugar na publica-
ção em todo o mundo. Portanto, a produção científica sobre essa temática pre-
cisa ser maior e melhor divulgada, tanto no meio acadêmico e científico como
na sociedade em geral. Ressalta-se a necessidade para criação e indexação de
novas revistas científicas especializadas na área e no processo de aprendiza-
gem. Cabe ressaltar que a neurociência no Brasil tem avançado como pesquisa
e a tendência é que essa área siga a nível mundial, sendo notório que ela foi
uma das áreas do conhecimento com publicações científicas significativas nos
últimos anos, contribuindo para o desempenho nacional no campo científico
(BRITTO; BALDO, 2007).
19
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Pode-se constatar que 85,3% das publicações sobre os assuntos estão nos
artigos científicos, seguidos de artigos de revisão e conferências.
20
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
Ainda nesse sentido, Guerra (2011) destaca que a aplicação das neuroci-
ências no contexto educacional tem limitações. As neurociências podem in-
formar a educação, mas não explicá-la ou fornecer prescrições, receitas que
garantam resultados. Esse dado aponta para uma reflexão constante em que
os pesquisadores no Brasil, a partir do gráfico acima destacado, precisam di-
rimir assuntos de relevância acadêmica com foco na educação seja ela básica
ou superior.
21
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
22
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
23
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Considerações finais
Em linhas gerais, ainda há dúvidas de que há relação entre a teoria das
Inteligências Múltiplas e estudos na área da educação. Dentro desta perspecti-
va plural, Gardner define a existência de oito inteligências, sendo a Linguísti-
ca, Musical, Lógico Matemática, Espacial, Corporal Cinestésica, Interpessoal,
Intrapessoal e a Naturalista. No entanto, são caminhos em processo de cons-
trução, com uma infinidade de abordagens a serem exploradas com outras
áreas do conhecimento. O modelo de Gardner aponta não para a medição
geral e comparação de níveis de inteligência, mas sim para a identificação das
inteligências individuais das pessoas e o desenvolvimento de trabalhos a fim
de incentivar o aprendizado a partir delas, como já pôde ser verificado em
estudos como os de Weller (1999), Haley (2004) e Shearer (2004).
Ao longo dos mais de vinte anos em que a teoria das Inteligências Múlti-
plas foi publicada, diferentes autores buscaram aplicações para as mesmas em
suas áreas de atuação. E mesmo com este real interesse em levar a teoria
a novos estudos empíricos, a principal área com relatos sobre as formas de
aplicação da teoria das inteligências múltiplas vem sendo sua área de origem,
a educação, na qual destacam-se pesquisas sobre formas de aprendizagem em
sala de aula, educação à distância e estudos de literatura.
Referências
AAMODT, S.; WANG, S. Bem-vindo ao cérebro do seu filho: como a mente se desenvolve
desde a concepção até a faculdade. São Paulo: Cultrix, 2013.
BRITTO, Luiz Roberto G.; BALDO, Marcus Vinícius C. Pensando o futuro da neurociência.
Revista USP, São Paulo, n. 75, p. 32-41, set./nov. 2007.
24
1 –Neurociências e o (re)pensar da educação: possibilidades de aprendizagem
GARDNER, H. Frames of mind: the theory of multiple intelligences. New York: Basic Books,
1983.
GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1994.
GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes médicas, 1995.
GROSSI, Márcia Gorett Ribeiro et al. Uma reflexão sobre a neurociência e os padrões de apren-
dizagem: A importância de perceber as diferenças. Debates em Educação, Maceió, v. 6, n.
12, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.28998/2175-6600.2014v6n12p93. Acesso em:
28 mai. 2020.
HALEY, M. H. Learner-Centered Instruction and the theory of multiple intelligences with sec-
ond language learners. Teachers College Record, v. 106, n. 1, 2004.
25
2
Experimentações e modelagem matemática nas
neurociências cognitivas
Saulo Machado Moreira Sousa1
Andressa do Amaral Machado2
Fabio Luiz Fully Teixeira3
Considerações iniciais
A maior maravilha da mente humana talvez seja, além de estabelecer nossa
identidade como espécie por meio da criação das artes e das ciências, ser ca-
paz de criar, modelar e entender a si mesma. Quando falamos das artes em to-
1. Doutor em Física pelo CBPF, Mestre e Bacharel pela UFRJ. Foi pesquisador da International
School for Advanced Studies, International Centre for Theoretical Physics, Università di Trieste
e Université Toulouse III. Foi Professor da UFF e UFRJ. Convidado da ONU no Young Lea-
ders e Prêmio Ministério da Ciência na SBPC.
2. Neuropscicopedagoga. Professora da Pós-graduação em Neurociências e Neuropsicopeda-
gogia da Universidade Iguaçu – Itaperuna. Acadêmica de Medicina e Mestranda em Medi-
cina Tradicional Chinesa. Especialista em Naturopatia e Fitoterapia Chinesa. Neuropsicope-
dagoga Clínica, Hospilar e Institucional.
3. Doutorando em Cognição e Linguagem - UENF, Campos dos Goytacazes, RJ. Professor da
Faculdade de Medicina - UNIG, Campus V, Itaperuna, RJ. Professor/Orientador.
26
das as suas formas, atribuímos sempre o conceito de originalidade. Entretanto,
serão as artes originais no sentido lógico e literal da palavra? Mozart dizia: “As
notas já estão lá. Eu apenas as coloco em ordem”. Nesse sentido, podemos as-
sociar o fato de que um computador, ao sortear notas e pausas em sequencias
ordenadas, iria, em algum momento, ser capaz de produzir a Sonata em Lá
Maior. Da mesma forma, por menor que seja a probabilidade, pincéis de tinta
jogados aos céus poderiam pintar os Girassóis de Van Gogh.
27
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
28
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
No que tange ao bom senso, repetir uma dada experimentação infinitas ve-
zes não é apenas uma tarefa hercúlea, mas impossível. Desta forma, a definição
supracitada de probabilidade é, na verdade, um capricho do formalismo mate-
mático e do seu linguajar. Faz-se necessária uma nova formulação do conceito
de probabilidade mais palpável e razoável dentro dos conceitos da realidade
humana. Surge, então, a probabilidade bayesiana, baseada na nossa inferência
de mundo e no conjunto de conhecimentos sobre um dado sistema, a partir
dos quais estabeleceremos as previsões probabilísticas atreladas ao sistema/
29
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
30
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
31
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
32
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
A fase moderna, que pode ser considerada como se extendendo até a época
atual, se baseia, em termos gerais, em uma neurociência cognitiva lastreada
por tecnologia de imageamento neurológico, sobretudo com foco no siste-
ma nervoso central, e em um embasamento teórico-formal. Tal embasamento
consiste em uma modelagem físico-matemática dos fenômenos nervosos nos
seus mais variados níveis de organização (DAYAN, 2001; ARBIB, 2003; GAZ-
ZANIGA, 2009). No quesito imageamento, ferramentas matemáticas vêm
permitindo enorme capacidade de caracterização e transcrição dos impulsos
33
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Dentro da fase pós-moderna, por assim se dizer, seria a fase mais recente
da neurociência cognitiva. Neste mar de atualizações e aprimoramentos da
tecnologia e técnicas de modelagem, retoma-se não somente a necessidade de
dar embasamento técnico às ciências da cognição humana, mas também de
quantificá-las. Neste âmbito, nasce a psicofísica (GAZZANIGA, 2007; VAN-
DENBOS, 2010), a qual, idealmente, faz a junção quantitativa entre eventos da
mente e da cognição com fenômenos e descrições físico-matemáticas. Embora
um dos ramos mais antigos da psicologia, a psicofísica atual traz consigo uma
grande capacidade de quantificação, lançando mão das ferramentas. A psci-
cofísica vem adquirindo especial relevância, sobretudo no estudo de como o
cérebro gera fluxos de percepção e os organiza em pensamentos e ações.
34
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
35
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Considerações finais
Ao olhar dos autores deste capítulo, fica clara a extrema necessidade do
crescimento conjunto das neurociências cognitivas com o ferramental tecno-
lógico e os formalismos matemáticos que, atualmente, alicerçam não somente
a construção e a física por detrás das tecnologias, mas a própria descrição
da cognição humana. A matemática, como lógica e abstração fundamental,
acaba por não se desprender da subjetividade humana. Enquanto as ciências
exatas têm por base seguir o método científico e descrever objetivamente o
mundo que nos cerca, o pensamento matemático talvez nunca assumirá uma
universalidade completa, sempre vinculado como criação humana e que, de
certo modo, replica nossa condição como seres pensantes. Podemos encarar,
também, a matemática como linguagem e notação das ciências. Galileu Ga-
lilei já diria: “A matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o universo!”.
Sob este foco, a mesma torna-se ainda mais humana. Assim sendo, a aparente
perda de universalidade nos traz uma matemática perfeita para descrever-nos
a nós mesmos, no sentido de modelar a nossa cognição e intelecto. Os leito-
res devem ter se convencido que a matemática dentro das ciências cognitivas
pode, até mesmo, ajudar a entender nossos papéis como seres sociais e no
entendimento de como a nossa própria cultura evolui.
36
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
Referências
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37
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
HAKER, H.; SCHNEEBELI, M.; STEPHAN, K. E. Can Bayesian Theories of Autism Spectrum
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THOMPSON, B.; KIRBY, S.; SMITH, K. Culture shapes the evolution of cognition. Proceed-
ings of the National Academy of Science, Washington, EUA, p. 4530-4535, 2016.
38
2 – Experimentações e modelagem matemática nas neurociências cognitivas
WESNER, M. F.; TAN, J. Contrast sensitivity in seasonal and nonseasonal depression. Journal of
Affective Disorders, Edinburgh, Inglaterra, v. 95, p. 19-28, 2006.
39
3
A relação entre o envelhecimento e a qualidade do sono: uma
abordagem teórica
Luciano Neves Reis1
Fernanda Castro Manhães2
Rosalee Santos Crespo Istoe3
Lucas Capita Quarto4
40
Considerações iniciais
As questões que envolvem o envelhecimento humano estão cada vez mais
presentes nas pesquisas acadêmicas, visto que, desde o século XX, as transfor-
mações no cenário mundial estão sendo marcadas por um aumento progressivo
da população idosa, fenômeno que é denominado por Abreu (2017) como “lon-
gevidade”. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (2017), até o ano
de 2050 o número de idosos no mundo será igual ou maior que o quantitativo
de crianças e jovens.
De acordo com dados das Nações Unidas (2015), a população idosa do Bra-
sil, em 2010, representava 11,7% da população geral, e projeta-se um aumento
desse percentual para 18,8% em 2030 e 29,3% em 2050. O Brasil sofreu uma
grande transformação no seu perfil demográfico a partir de 1970, em que, de
uma sociedade majoritariamente rural e tradicional (famílias numerosas e com
alto risco de morte infantil), passou-se a uma sociedade urbana (menos filhos
e nova estrutura nas famílias brasileiras) (PARANÁ, 2018). A população bra-
sileira era predominantemente jovem, entretanto, desde o início do século XX,
nota-se um contingente de pessoas com 60 anos ou mais de idade (VASCON-
CELOS; GOMES, 2012). Com a crescente presença de pessoas idosas na socie-
dade, Miranda, Mendes e Silva (2016) destacam que o país enfrenta um grande
desafio em inserir o tema do envelhecimento populacional na formulação de
políticas públicas. Conforme a população envelhece, suas escolhas e priorida-
des também se alteram, não sendo possível definir um comportamento padrão.
41
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Delineamento metodológico
O presente capítulo retrata uma revisão de literatura fundamentada por
trabalhos científicos divulgados em periódicos nacionais no tocante à quali-
dade do sono e ao envelhecimento humano, avaliados por intermédio de um
sistema de leituras seletivas: leitura exploratória – análise de critérios de inclu-
são e exclusão estabelecidos; leitura analítica – análise de resumos dos artigos;
42
3 – A relação entre o envelhecimento e a qualidade
do sono: uma abordagem teórica
Resultados
Após o levantamento das principais produções científicas publicadas em
um período de dez anos (2010-2019), foram localizados na base de dados
25 artigos científicos (Google Acadêmico: 8; Scielo: 10; e Web of Science: 7),
dos quais 6 obras atenderam os critérios de inclusão. A leitura interpretativa
dos textos permitiu a obtenção de informações relevantes no tocante ao tema
objeto de estudo. Em relação à sistematização dos dados, foi elaborada uma
representação informativa (Quadro 1), na qual se encontram as variáveis esta-
belecidas: título do artigo, periódico, autores e principais objetivos.
43
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
44
3 – A relação entre o envelhecimento e a qualidade
do sono: uma abordagem teórica
Relações entre
Observar a relação entre
padrão do sono, Beatriz Helena Do
alterações do sono asso
saúde percebida mingos Oliveira; Mô
ciadas à idade, sintomas
e variáveis socio nica Sanches Yassu
Ciênc. Saúde de insônia, sintomas de
econômicas em da; Ana Paula Fabrino
Coletiva apnéia e sintomas de
uma amostra de Bretas Cupertino e
parassonia com variáveis
idosos residentes Anita Liberalesso
socioeconômicas e saú
na comunidade: Neri.
de autopercebida.
Estudo PENSA.
Discussão
45
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
46
3 – A relação entre o envelhecimento e a qualidade
do sono: uma abordagem teórica
isso ocorre, o idoso passa a dormir e acordar mais cedo, e até mesmo passar ter
cochilos diários. Os distúrbios do sono acarretam efeitos negativos na saúde
mental e física do ser humano. No idoso, esses distúrbios geram maior impac-
to, pois podem ser confundidos com algum comprometimento cognitivo ou
alguma demência (SILVA et al., 2017). Oliveira, Yassuda e Cupetino (2010)
associam a insônia a uma menor sobrevida, em virtude da mortalidade oca-
sionada por acidente vascular encefálico, doenças cardíacas, suicídio e cân-
cer. Nesse contexto, os autores ainda dizem que idosos possuem chances duas
vezes maiores de apresentarem insônia que um indivíduo jovem que possua
qualidade do sono.
47
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
48
3 – A relação entre o envelhecimento e a qualidade
do sono: uma abordagem teórica
Considerações finais
A qualidade do sono está entre as queixas mais frequentes dos idosos. As
mudanças morfológicas e fisiológicas provenientes do processo de senescên-
cia podem ser observadas na qualidade do sono do idoso. Conforme foi dis-
cutido no decorrer da pesquisa, as principais alterações do sono relacionadas
ao processo de envelhecimento são a apneia, a insônia e os distúrbios do ritmo
circadiano.
Referências
ABREU, M. C. de. Velhice: uma nova paisagem. 2. ed. São Paulo: Ágora, 2017.
BLOOM, D. E.; CANNING, D.; FINK, G. Implications of population aging for economicgrowth.
Program on the global demography of aging. Working paper, New Jersey, v. 72, n. 64, 2011.
49
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
SANTOS, A. A. et al. Sono, fragilidade e cognição: estudo multicêntrico com idosos brasileiros.
Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 3, 2013.
SILVA, J. V. da. Saúde do Idoso: processo de envelhecimento sob múltiplos aspectos.1. ed. São
Paulo: Látria, 2009.
50
4
Neuroeducação: contribuições das neurociências, psicologia e
educação para as práticas pedagógicas
Andreza de Souza Almeida1
Flávia da Cunha Pereira2
Considerações iniciais
As descobertas em neurociências têm influenciado significativamen-
te a área da educação. Os conhecimentos neurocientíficos têm contribuído
muito com as pesquisas educacionais para a criação de melhores estratégias
pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem.
51
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
52
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
53
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
54
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
Ainda que o cérebro não seja o único responsável pelo processo de apren-
dizagem, Cosenza e Guerra (2011, p. 73) defendem que, para a escolha de me-
lhores práticas educativas, “as estratégias eficientes serão aquelas que atentem
para os princípios do funcionamento do cérebro”. Dessa forma, na tentativa
de aplicar estratégias que tornem a aprendizagem mais eficiente no contexto
escolar, Carvalho (2010) discorreu acerca da importância dos conhecimentos
neurocientíficos serem incluídos na formação dos educadores:
Quantos professores sabem que um simples traba-
lho de memorização de diferentes tipos de textos
exige diferentes níveis de oxigenação do cérebro?
Que quanto mais complexa a atividade proposta e
à medida que se eleva o grau de raciocínio, o fluxo
sanguíneo no cérebro é mais intenso? O professor
tem noção de que sua ação pedagógica desencadeia
no organismo do aluno reações neurológicas e hor-
monais que podem ter influência na motivação para
aprender? Como pode o professor desconhecer a di-
nâmica mente/cérebro? Basta a análise dessas ques-
tões para que se compreenda a importância desse
tipo de informação na adequação de metodologias
de ensino (CARVALHO, 2010, p. 546).
55
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
O surgimento da neuroeducação
A neuroeducação surge no campo das pesquisas a partir de 1970 pelo fato
de serem percebidas algumas dificuldades na aprendizagem dentro do am-
biente escolar, esse problema instigou estudiosos das áreas de psicologia, neu-
rociências e educação a atuarem juntamente para aplicações de estratégias que
oferecessem melhores resultados para a aprendizagem. A motivação desses
pesquisadores de pensarem em como resolveriam essa questão surgiu, por-
que professores recebiam exames neurológicos dos alunos, que apresentavam
problemas de funcionamento cerebral, sem estarem capacitados para agirem
conforme as necessidades apresentadas, e isso pode ter contribuído para com-
prometer ainda mais o processo cognitivo do paciente-aluno (TOKUHAMA-
-ESPINOSA, 2008).
56
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
57
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Dessa forma, por mais que o educador tente alcançar todos os alunos
com o mesmo ensino, não terá resultados positivos se não compreender
que há diferenciação nos modos de aprender, visto que cada um tem a sua
própria percepção e assimilação do conteúdo, além do próprio tempo de
aprendizagem.
58
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
São muitos os porquês para se tentar explicar o motivo pelo qual o que foi
ensinado não foi aprendido, já que diversos fatores podem atravessar o ato de
ensinar e aprender. Diante disso, os educadores devem pensar acerca de novas
formas de ensinar, uma vez que a educação, na contemporaneidade, pode ser
pensada de modo interdisciplinar.
59
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
60
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
Entretanto, a psicologia cognitiva pode ser utilizada como uma ponte para
unir as neurociências à educação, já que essa abordagem se envolve com o
estudo dos processos mentais e pode proporcionar conhecimentos sobre o
desenvolvimento e a aprendizagem com o intuito de auxiliar o ato de ensinar
(LISBOA, 2014).
61
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
62
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
Considerações finais
Como vimos, os conhecimentos neurocientíficos podem contribuir para
que os professores busquem compreender como o aluno aprende e assim ado-
tem um modo mais eficaz de ensinar, escolhendo melhor as estratégias peda-
gógicas para serem aplicadas na sala de aula.
Referências
ALVES, M. Neuroaprendizagem e educação: a multidimensionalidade do ensinar e aprender. In:
PEDRO, Waldir (Org.). Guia prático de neuroeducação. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2018.
63
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
BOS, A. et al. Educational Technology and Its Contributions in Students’ Focus and Attention
Regarding Augmented Reality Environments and the Use of Sensors. Journal of Education-
al Computing Research, v. 57 (7), p. 1832-1848, 2019.
CONSEZA, R.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Ale-
gre: Artmed, 2011.
LURIA, A. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1981.
RIBEIRO, B.; SENA, C. Diálogos entre neurociência e educação: uma aproximação possível.
Revista Científica CENSUPEG, n. 3, p. 64-72, 2014.
64
4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências,
psicologia e educação para as práticas pedagógicas
WALKER, M.; STICKGOLD, R. Sleep, memory and plasticity. Annual Review of Psychology,
Palo Alto, v. 57, p. 139-166, 2006.
65
5
As contribuições da neurociência no processo de formação
de professores
Sebastião Duarte Dias1
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza2
Fernanda Castro Manhães3
Considerações iniciais
Com o advento do avanço tecnológico, pesquisas no campo da neurociên-
cia vêm trazendo consideráveis contribuições para o processo educacional.
Compreender como as atividades cerebrais se relacionam com a conduta e a
66
aprendizagem tem se tornado uma via de mão dupla no sentido de contemplar
as interfaces que protagonizam o papel da neurociência na educação a fim de
buscar o desenvolvimento de uma nova pedagogia.
O que é neurociência?
A neurociência é conceituada como uma área que estuda o sistema ner-
voso central e suas ações no corpo humano (COSENZA, 2011). Está presente
em diferentes espaços do conhecimento e intervém em distintas áreas como
a linguística, medicina e psicologia. Segundo Cosenza (2011), a neurociência
tem como escopo entender como o cérebro aprende e, sobretudo, como a in-
formação circula pelo SNC durante o processo de aprendizagem.
67
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Pois bem, quando apresentada a esta criança outro animal que possua al-
guma parecença, como um cavalo, ela o terá também como cachorro, isto é,
de cor marrom, quadrúpede, com uma cauda, pescoço e nariz molhado, con-
forme mostra a imagem da figura 1.
68
5 – As contribuições da neurociência no processo de formação de professores
O conhecimento prévio nunca mais voltará a ser o que era antes, o que se
chama de assimilação obliteradora. Este fica mais amplo e completo, apesar de
extinguir partes peculiares do conhecimento (MANCINI, 2005).
69
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
seja, ele tem que ser lógico e psicologicamente significativo: o significado ló-
gico depende somente da natureza do conteúdo e o significado psicológico é
uma experiência que cada indivíduo tem. Sendo assim, cada aprendiz faz uma
filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio (PELI-
ZZARI et al., 2002).
Segundo Vygotski:
[...] o aprendizado adequadamente organizado re-
sulta em desenvolvimento mental e põe em movi-
mento vários processos que, de outra forma, seriam
impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é
um aspecto necessário e universal do processo de
desenvolvimento das funções psicológicas cultu-
ralmente organizadas e especificamente humanas
(VYGOTSKI, 2003, p. 118).
70
5 – As contribuições da neurociência no processo de formação de professores
71
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Considerações finais
Uma das promessas mais auspiciosas da neurociência diz respeito ao for-
necimento de material preciso para o avanço das políticas educacionais e da
pesquisa aplicada em sala de aula, sobretudo, quando se considera que ela
pode fornecer os parâmetros adequados à investigação prática e a consequen-
te dissipação de erros e atavismos históricos.
Cumpre salientar, todavia, que a neurociência não deve ser encarada como
uma receita científica e/ou solução pedagógica de um fenômeno sabidamente
complexo e multifacetado; trata-se aqui, sobretudo, da sábia adoção, isto é, do
ingresso de uma pujante ferramenta e não do império de uma nova estratégia,
aliás, aqui cabe incluso uma oportuna e didática analogia, do mesmo modo que
a ferramenta automóvel não sugere o destino almejado ao seu condutor, mas
antes e apenas auxilia o motorista cumprir o seu escopo de modo mais rápido
e seguro, deveras e com efeito, assim também ocorre com a educação que passa
a dispor de um novo utensílio para a persecução de metas outrora desejadas.
72
5 – As contribuições da neurociência no processo de formação de professores
Referências
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes,
2001.
CARVALHO, Fernanda Antoniolo Hammes de. Neurociências e educação: uma articulação ne-
cessária na formação docente. Trabalho, Educação e Saúde, v. 8, n. 3, p. 537-550, 2010.
MORIN, Edgar. O método III: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999.
73
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
SOUSA, Anne Madeliny Oliveira Pereira de; ALVES, Ricardo Rilton Nogueira. A neurociência
na formação dos educadores e sua contribuição no processo de aprendizagem. Revista Psi-
copedagogia, v. 34, n. 105, p. 320-331, 2017.
74
6
Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri
Wallon
Aline do Nascimento Barbosa1
Danielle Soares da Silva2
João Luiz Lima Marins3
Sinthia Moreira Silva Ribeiro4
Considerações iniciais
Ao se analisar a neurociência cognitiva, pode-se obter contribuições mag-
níficas para a área pedagógica, analisando a maneira que o cérebro aprende.
75
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Sendo necessárias pesquisas na área da educação, este trabalho tem por obje-
tivo analisar as principais teorias de Wallon no campo da educação, buscando
demonstrar sua aplicabilidade tanto no âmbito cognitivo, quanto no campo
da neurociência. A neurociência e a educação devem andar lado a lado, num
propósito de sustentação mútua. O valoroso neste processo seria utilização
de métodos pedagógicos propostos por Henri Wallon no intuito de atingir o
máximo da aprendizagem de cada aluno.
Neurociência e Educação
De acordo com Martins e Almeida (2019), a denominação de neurociên-
cia é muito nova, sendo muito utilizada para designar a ciência ligada ao sis-
tema nervoso. Uma definição abrangente também relaciona a neurociência
ao desenvolvimento químico, estrutural, funcional e patológico do sistema
nervoso.
76
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
77
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
78
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
em que diz não a tudo. Nesta fase, afetividade favorece muito a aprendizagem
da criança, uma vez que ela costuma repetir sons e gestos de uma pessoa amá-
vel e carinhosa com ela, sendo o ambiente familiar e escolar primordiais para
o seu desenvolvimento.
79
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
suas relações de criança com o meio vão mudando, movimentos esses que evo-
luem com a idade, crescendo gradativamente o seu papel no desenvolvimento
infantil. Observa-se que os movimentos e os gestos de expressão são repletos de
afetividade, tornam-se a base para as variadas emoções.
80
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
A alegria é uma emoção positiva, sendo uma das primeiras sensações que
se pode observar em um bebê. Já a cólera possui sua raiz na sensibilidade or-
gânica, possuindo, muitas vezes, tamanha intensidade que impede a atividade
do sujeito. E o medo aparece nos primeiros meses de vida da criança, tendo
como fonte as excitações labirínticas.
81
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
O ato de pensar o ser humano como uma máquina, em que tudo que existe
são alavancas (ossos e músculos), nos quais as movimentações ocorrem sim-
plesmente como um cálculo matemático entre forças, segundo Wallon apud
Mahoney e Almeida (2004), não considera as relações afetivas e cognitivas, na
consideração da dimensão motora. Essa concepção humana, próxima a uma
máquina, não leva em conta os elementos internos de uma pessoa, como as
emoções, sentimentos e pensamentos, na realização de movimentos corpo-
rais. Não se deve analisar o ser humano de forma fragmentada.
82
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
83
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
84
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
Considerações finais
Neste trabalho, buscou-se evidenciar a relação entre as teorias de Henri
Wallon com as descobertas na área das neurociências, principalmente sobre o
funcionamento do cérebro no processo cognitivo e de aprendizagem.
85
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
A partir do exposto, é possível concluir, com esta pesquisa, que, com o apoio
da teoria walloniana, é possível que se eduque e conheça crianças de forma a
considerar as características e peculiaridades delas, tendo-se também como pa-
râmetro seus estágios de desenvolvimento. Nisto reside a importância do aces-
so, durante os cursos de graduação, do conhecimento sobre o desenvolvimen-
to, baseado no estudo da criança em seu aspecto integral, sendo pertinente no
repensar das práticas educativas, no respeito ao outro em suas particularidades
e na importância das emoções no processo ensino-aprendizagem.
Referências
DANTAS, Heloysa. A infância da razão. São Paulo: Manole, 1990.
MAHONEY, Abigail Alvarenga. Henri Wallon: psicologia e educação. São Paulo: Edições Loyo-
la, 2012.
86
6 – Neurociência e a constituição da pessoa, segundo Henri Wallon
MARTINS, Jorgiane Cunha Leal; ALMEIDA, Ilda Neta Silva. Contribuições da Neurociência
Cognitiva para a educação no ensino superior. In: Revista Humanidades e Inovação, v. 6,
n. 19, v. 2, 2019.
OLIVEIRAS, Eloisa da Silva Gomes; JURBERG, Marize Bezerra. Psicologia e Educação. Rio de
Janeiro: Editora Consórcio CEDERJ Fundação CECIERJ, v. 1, 2018.
SAMÁ, Suzi; FONSECA, Laerte. Projetos de aprendizagem sob as lentes da neurociência cogni-
tiva: possibilidade para a construção de conceitos estatísticos. Revista Eletrônica de Edu-
cação Matemática, Florianópolis, v. 14, p. 1-16, set. 2019. ISSN 1981-1322. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/revemat/article/view/1981-1322.2019.e62797. Acesso
em: 21 out. 2019.
87
7
A importância da neurociência no processo de aprendizagem
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza1
Sebastião Duarte Dias2
Fernanda Castro Manhães3
Ademir Hilário de Souza4
88
Considerações iniciais
A neurociência é uma ciência multidisciplinar que surgiu com a priori de
investigar o sistema nervoso. Embora haja diversas neurociências, o objeto de
estudo principal é o cérebro. Com isso, a neurociência se tornou meramente
conhecida e valorizada no meio científico, pois ela investiga a individualidade
de cada indivíduo.
89
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Neurociências
O universo biológico humano interno contém milhares de células nervo-
sas que formam o cérebro e o sistema nervoso, estas se comunicam por meio
de pulsos eletroquímicos para produzir atividades como: nossos pensamentos,
sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções men-
tais e físicas, atividades sem as quais seria impossível expressarmos a nossa
riqueza interna e nem perceber o nosso mundo externo, como o som, cheiro,
sabor (RELVAS, 2005).
Segundo Relvas (2011, p. 22), “neurociência é uma ciência nova, que trata
do desenvolvimento químico, estrutural e funcional, patológico do sistema
nervoso. As pesquisas científicas começaram no início do século XIX”. É ex-
tremamente necessário refletir a importância de ter a neurociência aliada à
educação, pois prevalece, dessa forma, o princípio que, em sala de aula, nos
deparamos com indivíduos que aprendem de formas diferentes. A neuro-
ciência nos torna profissionais humanizados e preparados para atuarmos em
sala de aula. É essencial entendermos a diversidade humana, cada indivíduo é
biologicamente único e apresenta suas individualidades e consequentemente
apresenta formas diferentes de aprender, que devem ser respeitadas e estimu-
ladas de forma coerente com suas necessidades.
90
7 – A importância da neurociência no processo de aprendizagem
91
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
92
7 – A importância da neurociência no processo de aprendizagem
nas mais diversas áreas científicas (QUARTO et al., 2018). Os primeiros resul-
tados apresentados na pesquisa se iniciam em 1961, ganhando mais ênfase a
partir de 1991, totalizando, ao todo, 600.532 documentos.
300000
250000
Número de publicação
200000
150000
100000
50000
0
Estados Unidos Reino Unido Alemanha China Canadá
da América
Países
93
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Centre National de la Recherche
Instituições
Harvard Medical School
UCL
Fonte: Scopus (2019).
Considerações finais
É evidente que o processo de ensino-aprendizagem por muito tempo foi
focado apenas na maneira homogênea e mecânica de adquirir conhecimentos.
94
7 – A importância da neurociência no processo de aprendizagem
O que difere o ensino daquele que tem o auxílio da neurociência é a sua na-
tureza, que apresenta uma aprendizagem homogênea com indivíduos hetero-
gêneos, entretanto, quando a educação tem por alicerce a ciência como aporte,
o educador consegue produzir aos alunos ambientes instigantes despertando
as habilidades de cada discente.
Referências
GROSSI, M. G. R. et al. Uma reflexão sobre a neurociência e os padrões de aprendizagem: a
importância de perceber as diferenças. Debates em Educação, Maceió, v. 6, n. 12, jul./dez.
2014.
HOUZEL, S. H. Uma breve história da relação entre o cérebro e a mente. In: LENT, Roberto
(Org.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008, p. 2-17.
QUARTO, L. C. et al. Ergonomia cognitiva: uma análise das publicações por intermédio da bi-
bliometria. Linkscienceplace, Campos dos Goytacazes, v. 5, n. 4, p. 54-73, 2018.
95
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
ROMERO, J.; PASTOR, J. M. Las Universidades Espanolas Bajo La Influencia De Los Rankings.
Regional and Sectorial Economic Studies, Portugal, v. 12, n. 3, 2012.
96
8
A metamorfose do corpo na contemporaneidade e a interface
com a plasticidade neural
Erika Costa Barreto1
Evandro Monteiro de Barros Junior2
Gustavo Santos Crespo3
Considerações iniciais
Indícios de estudos na área das neurociências evidenciam que o córtex ce-
rebral se configura como um complexo mapa corporal capaz de orientar o
indivíduo a respeito do conteúdo e posicionamento de cada parte que compõe
97
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
sua estrutura física. Tais evidências, em sua maioria, partem de descrições clí-
nicas e exames de imagem com pacientes que tiveram algum dos seus mem-
bros amputados e ainda sim podiam ter ilusões e percepções sensoriais acerca
do mesmo, fenômeno classificado como síndrome do membro fantasma.
Materiais e métodos
O presente estudo trata de uma abordagem qualitativa pautada na revisão
de artigos originais que desenvolvida a partir da seleção de artigos e bibliogra-
fias relacionados à questão das mudanças corporais e ao zeitgeist que impõe tal
98
8 – A metamorfose do corpo na contemporaneidade
e a interface com a plasticidade neural
Discussão
O corpo na contemporaneidade
Falar sobre corpo apresenta-se sempre como tarefa árdua, pois seus signi-
ficados, simbolismos e utilidades foram sempre forjados às necessidades e an-
seios de determinados momentos históricos e sempre amparado por um con-
texto social que definiu sua importância e o atravessou com suas demandas.
Sendo o corpo o responsável pela inserção e mediação com o grupo social, é
natural que ele influencie e seja influenciado mutuamente (SILVA, 2002).
99
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
100
8 – A metamorfose do corpo na contemporaneidade
e a interface com a plasticidade neural
a gordura está associada a uma baixa condição moral. Neste sentido, pode-se
mencionar a pesquisa realizada na Universidade da Califórnia, em que coloca-
ram 50 tipos de pessoas: assassino, ladrão, traficante, gordo, baixinho. Pergunta-
ram a mil mulheres com qual se casariam. O gordo foi o último a ser escolhido.
De acordo com Rosário (2005), existe uma força tarefa social que combate
à recusa pela busca da beleza, comportamento frequentemente interpretado
como uma negligência que deve gerar frustrações e baixa autoestima, frequen-
temente doente de adoecimento psíquico e que deve ser combatida de forma
profilática ou de cura.
101
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
e pela aparência que o corpo exibe. O corpo, nesta etapa histórica, atua como
um informador da individualidade.
Plasticidade neural
Os estudos a respeito de como o cérebro representa em si o mundo exter-
no compõem também uma parte significativa da resposta sobre como a ilu-
são de uma individualidade é capaz de se configurar no “eu” interno de cada
ser. Entender tais fenômenos contribui para que seja possível a compreensão
e o tratamento de distúrbios da imagem corporal como a anorexia nervosa,
apraxia, dentre outros.
102
8 – A metamorfose do corpo na contemporaneidade
e a interface com a plasticidade neural
Além disso, existe ainda a ideia de que a responsável pela sensação do fan-
tasma seria uma determinação genética a ser moldada ao longo da vida por
meio da experiência pessoal, que é capaz de modificar a imagem do corpo
(XAVIER, 2015).
103
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Nosso cérebro parece ser capaz de uma plasticidade neuronal que faz com
que este seja capaz de readaptar as mudanças sofridas pela imagem do próprio
corpo, dada sua maleabilidade de reorganizar (NEVES et al., 2017).
104
8 – A metamorfose do corpo na contemporaneidade
e a interface com a plasticidade neural
concha que nosso cérebro cria temporariamente para nossos genes. A imagem
corporal, apesar de sua aparência, durabilidade e permanência, é um cons-
truto transitório interno que pode ser alterado por estímulos contingenciais
(NEVES et al., 2017).
Considerações finais
Já dizia Nietsche que não nos fatigamos de nos maravilhar com a ideia
de que o corpo humano tornou-se possibilidade. O corpo é uma espécie de
escrita viva no qual as forças imprimem vibrações, ressonâncias e caminhos.
O corpo exaltado não é o corpo com qual vivemos, mas sim um corpo
costurado, coberto em mil pedaços remendados. O discurso relativo ao aper-
feiçoamento tem proporcionado uma ligação na carne do homem de proce-
dimentos que escondem em si mesmos promessas messiânicas falando sobre
velhos que permanecem jovens, jovens que não suportam envelhecer e o al-
cance da eterna juventude para todos.
105
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Nosso aparato neuronal, por sua vez, planejado para lidar com as mu-
danças lentas e gradativas impostas ao corpo pelas demandas próprias do
desenvolvimento e processo de envelhecimento, vê-se forçado a acelerar seu
processo de plasticidade neural para adaptar o mapa cortical às frequentes
mudanças ocorridas em decorrência das modificações abruptas e não na-
turais às quais os corpos têm sido expostos para acompanhar a demanda de
uma exigência social.
Referências
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
SILVA, Ana Márcia. A natureza da physis humana: indicadores para o estudo da corporeidade.
In: SOARES, Carmem Lúcia (Org.). Corpo e história. Campinas: Autores Associados, 2001.
106
8 – A metamorfose do corpo na contemporaneidade
e a interface com a plasticidade neural
SILVA, A. O corpo do mundo: algumas reflexões acerca da expectativa do corpo atual. In:
GRANDO, José Carlos (Org.). A (des)construção do corpo. Blumenau: Edifurb, 2002.
XAVIER, Gabriela Salim; PASIAN, Sonia Regina; ALMEIDA, Sebastião Sousa. Avaliação
da Imagem Corporal: Instrumentos Disponíveis no Brasil. Psico-USF, Itatiba, v. 20, n. 3,
p. 529-545, dez. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&-
pid=S1413-82712015000300529&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 31 mai. 2020.
107
9
Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
Juliana da Conceição Sampaio Lóss1
Fabio Luiz Fully Teixeira2
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza3
108
Considerações iniciais
Ao refletir sobre o tema “neurociência”, pode-se verificar que se trata de
uma ciência considerada em crescimento e que tem por objetivo desvendar o
sistema nervoso, o desenvolvimento, a estrutura, a função e as patologias do
SN (sistema nervoso).
109
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Apesar de não ser conhecido nenhum dado específico sobre sua inci-
dência, é uma doença principalmente associada ao sexo masculino, com
110
9 – Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
111
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
A cognição e o cerebelo
A cognição é o ato ou processo de conhecer que envolve atenção, percep-
ção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem, e tam-
bém um processo pelo qual o ser humano interage com os seus semelhantes e
com o meio em que vive. Facilmente, percebemos, por meio da definição des-
crita, que todo o nosso cérebro tem uma implicação direta ou mesmo indireta
nestas funções. É o caso do cerebelo.
112
9 – Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
que os défices cognitivos são mais extensos que os de controle motor em do-
entes com patologia cerebelar (MACHADO et al., 2014).
113
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
114
9 – Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
115
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Dos estudos sobre a problemática aqui tratada, depreende-se que AVC são
a terceira causa de doenças que acometem o funcionamento cerebral, como
elucida o National Institute of Health – HIH (2002, p. 52):
116
9 – Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
Considerações finais
O presente capítulo nos permite concluir que, inicialmente, o papel do ce-
rebelo tem ampla importância no contexto do encéfalo e uma patologia como
a Síndrome de Wallenberg pode ocasionar severos acometimentos cerebela-
res, alterando o funcionamento e manutenção do equilíbrio, tônus muscular,
movimentos voluntários e aprendizagem motora, repisando que tal patologia
tem sua etiologia no Acidente Vascular Isquêmico.
117
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
intactas assumam pouco a pouco as funções das áreas lesadas. Todavia, a re-
cuperação não ocorre quando as lesões atingem os núcleos centrais.
Referências
CARRILLO-ESPER, R. et al. Síndrome de Wallenberg, Caso clínico. Rev. Invest. Med. Sur.
Mex., v. 21, n. 3, p. 141-144, 2014. Disponível em: https://www.medigraphic.com/pdfs/med-
sur/ms-2014/ms143f.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 6. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
ULLOA-ALDAY, J. O. et al. Síndrome de Wallenberg. Med. Int. Mex., Ciudad de México, v. 31,
n. 4, p. 491-498, 2015.
118
9 – Contribuições das neurociências na Síndrome de Wallenberg
119
10
Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio
cognitivo em indivíduos senescentes: tecnologia e
neurociência cognitiva
José Alexandre1
Lívia Vasconcelos de Andrade2
Rosalee Santos Crespo Istoe3
Considerações iniciais
A senescência é o período que antecede à velhice, caracterizado no âmbi-
to biológico pela progressão de desgastes orgânicos e alterações estruturais,
com manifestações em todos os tecidos e órgãos. Esse processo interfere
120
fisiologicamente em qualquer organismo, exercendo dificuldades funcio-
nais, tornando-o mais suscetível a doenças e perda da autonomia (TEIXEI-
RA; GUARIENTO, 2010). No ser humano, ocorrem durante o processo do
envelhecimento, alterações e perdas nos aspectos biológicos e cognitivos, o
que acarretam, dentre outras coisas, dificuldades nas interações sociais. As al-
terações no cérebro humano, decorrentes do envelhecimento, ocorrem devido
a esse processo ser inevitável, contudo, passível de postergação com recursos
da medicina, atividades físicas, mentais e hábitos saudáveis (GOMES-ABRIS-
QUETA; SANTOS, 2006). Dentre essas perdas e alterações, merecem desta-
que as cognitivas, por serem consideradas o abrigo das habilidades intelec-
tuais superiores e da vida em sociedade. Contudo, essas perdas não ocorrem
de forma repentina, caso ocorram, fatores não naturais como traumas físicos,
emocionais ou quadros neuropsiquiátricos podem ser seus geradores.
121
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Neurociência cognitiva
No final da década de cinquenta, ocorreu uma grande revolução em bus-
ca de uma nova ciência da mente. Uma eclosão de pesquisadores com suas
teorias e experiências marcou à época na busca de uma nova ciência que ex-
plicasse o funcionamento da mente, tendo como base a Filosofia, Linguística,
Antropologia, Inteligência Artificial, Psicologia e neurociências. Fundações
como Josiah Macy e Sloan investiram recursos no financiamento desse proje-
to (GARDNER, 2003). O produto desse investimento intelectual e científico
resultou na figura denominada “Hexágono Cognitivo”, objetivando melhor
122
10 – Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio cognitivo
em indivíduos senescentes: tecnologia e neurociência cognitiva
Fonte: www.nce.ufrj.br.
Nessa figura, cabe destacar os vértices e sua base de sustentação (figura 1).
Aqui, chama-se a atenção para as relações entre essas ciências, principalmente
as fortes ligações com as neurociências que parece proposital, encontrar-se na
base desse hexágono, lhe dando toda a sustentação. Percebe-se, também, que
se retirada as neurociências dessa representação, nada restaria para a valida-
ção do investimento na busca de uma nova ciência da mente.
123
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Tecnologia e senescência
A literatura voltada à saúde e comentários a respeito das alterações e per-
das cognitivas em indivíduos que envelhecem vem de longa data. Cícero, 44
a.C., já falava sobre a velhice e a memória:
124
10 – Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio cognitivo
em indivíduos senescentes: tecnologia e neurociência cognitiva
Neste capítulo, embora a ênfase tenha sido nos aspectos fisiológicos, evi-
denciou-se a possibilidade de atividades físicas, dietas e musicoterapia, como
estratégias válidas no auxílio do retardo do declínio cognitivo. Porém, não
ocorreu a previsibilidade de declínio de funções intelectuais superiores, como
memória, função executiva, planejamento, controle inibitório, dentre outras
funções básicas ao raciocínio e adaptação social.
125
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
126
10 – Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio cognitivo
em indivíduos senescentes: tecnologia e neurociência cognitiva
Considerações finais
A intersecção da Neuropsicologia com softwares torna-se necessária devi-
do seu status de ciência que investiga as relações das estruturas cerebrais e suas
funções, principalmente as cognitivas. Nesse caso, os softwares representam o
avanço dos testes neuropsicológicos para avaliação de determinadas funções,
devido sua precisão na avaliação e rapidez em seus resultados. Cabe destacar
que as correlações anatomoclínicas de testes neuropsicológicos são estuda-
das e validadas por experientes especialistas, denominados “juízes” na área
de Neuropsicologia (COSTA et al., 2017). Softwares validados para exames
encontram-se disponíveis no site do Conselho Federal de Psicologia – SA-
TEPSI. Outros, ainda em processo de validação, ficam disponibilizados para
pesquisas.
127
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Referências
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D. et al. (Org.). Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004, p. 244-251.
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Paulo: Editora Edusp, 2003.
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às aulas para realizar sonhos. Pernambuco, 2019. Disponível em: https://www.leiaja.com/
carreiras/2019/09/30/enem-idosos-voltam-aulas-para-realizar-sonhos/. Acesso em: 11 nov.
2019.
KLIMOVA, B.; VALIS, M.; KUKA, K. Cognitive decline in normal aging and its prevention: a
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LIZUKA, A. et al. Can cognitive leisure activity prevent cognitive decline in older adults? A sys-
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em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31020777/. Acesso em: 10 mar. 2019.
MANDLER, G. Origins of the cognitive (r)evolution. Journal of the History of the Behavior-
al Sciences, 38, 339-353. California, USA. 2002. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.
com/doi/abs/10.1002/jhbs.10066. Acesso em: 17 mar. 2019.
128
10 – Investigação de marcadores neuropsicológicos do declínio cognitivo
em indivíduos senescentes: tecnologia e neurociência cognitiva
RAMOS, L. R. Brasil terá sexta maior população de idosos no mundo até 2025. 68ª Reunião da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Agência FAPESP. Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 2016. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/
brasil-tera-sexta-maior-populacao-de-idosos-no-mundo-ate-2025/23513/. Acesso em: 15
mar. 2019.
129
11
Diálogos transdisciplinares na tríade: neurociência, educação
e saúde
Lídia de Oliveira Paula1
Considerações iniciais
A triangulação entre neurociência, Educação e Saúde baseia-se numa re-
visão bibliográfica de caráter crítico, reflexivo e argumentativo com ênfase na
transdisciplinalidade. Partindo do princípio do trabalho clínico envolvendo a
diversidade, Schimidt trouxe à luz a importância do tema e da prática no atendi-
mento, seguindo os princípios propostos pelo Dr. Rudimar Riesgo, Dr. Gilberto
Garcias e Doutora M. Sonia Georgem, que os enfatizaram na área da neurobio-
logia e da genética, sempre no âmbito transdisciplinar (SCHIMIDT, 2013).
130
Assim, os diálogos a serem desenvolvidos entre neurociência, Educação e
Saúde estão embasados nesse importante e emergente conceito. Cabe ressaltar
o brilhante e atual “Manifesto da Transdisciplinalidade”, proposto por Basa-
rab Nicolescu (1999, p. 01), a respeito da antiga visão contínua senhora deste
mundo, em que cita: “De onde vem esta cegueira? De onde vem este desejo
perpétuo de fazer o novo com o antigo?”. Ou seja, o crescimento contempo-
râneo dos saberes no século XXI, com o advento da neurociência, dos estu-
dos científicos sobre saúde e doença, clamam por uma indiscutível quebra de
paradigma na educação como um todo. A mudança é universal e indiscutível
em todas as esferas da vida contemporânea. O filósofo e sociólogo Bauman
cria o termo “Modernidade Líquida” (2000), considerando que nada é sólido,
tudo se dilui. Santos (2014) reflete e sinaliza em artigo que diz respeito à vida,
à obra e às influências de Bauman, o conceito de liquidez, da forma e do pro-
penso a mudar na vida atual. Logo, o conhecimento é uma reconstrução diária
dos adventos neurocientíficos, questões transdisciplinares na área de Ciências
da Saúde, assim como na área de Ciências da Educação, ambas delineadas por
mudanças sociais globais.
131
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
132
11 – Diálogos transdisciplinares na tríade: neurociência, educação e saúde
133
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Critério A: subitem 1
134
11 – Diálogos transdisciplinares na tríade: neurociência, educação e saúde
Fonte: www.tech-me-momoy.com.
135
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
136
11 – Diálogos transdisciplinares na tríade: neurociência, educação e saúde
Portanto, o aporte legal para a pessoa com deficiência, a partir das reivin-
dicações e da pressão diversos grupos sociais que defendem o reconhecimento
da igualdade de acesso prenunciado em diversos documentos legais, tais como
a Declaração dos Direitos da Pessoa com Deficiência (1975), Programa de
Ação Mundial para Pessoas com Deficiência (1982), Congresso de Educação
para Todos em Jotiem (1990), Declaração de Cartagena (1992), Declaração
de Salamanca (1994), Carta para o Terceiro Milênio (1999), Declaração de
Inchean (2015), dentre outros, enfatiza o igual direito de acesso, permanência
e sucesso na promoção de educação de qualidade para todos.
Considerações finais
Compreendendo, dialogando e argumentando esse universo de possibi-
lidades, busca-se conhecimento nas questões: há integralidade, consciência
social e acadêmica das reais limitações da vida diária do indivíduo com de-
ficiência para suas efetivas possibilidades educativas e terapêuticas? Por que
estabelecer como paradigma a transversalidade e não a transdisciplinalidade
no âmbito educativo? Como se define cientificamente seu espectro de com-
prometimento intelectual ou de possíveis habilidades? E seus prognósticos?
Critérios de normalidade? Eis questionamentos duvidosos para perguntas as-
saz complexas, uma vez que as pessoas não são iguais, pensam e agem de mo-
dos diferentes. Um mesmo indivíduo pode agir diferentemente em situações
semelhantes. Como se percebe, o ser humano com sua complexidade é um
enigma a ser desbravado, ainda que a ciência tenha se desenvolvido a passos
largos. Somos seres humanos diferentes pelas nossas semelhanças e os seres
humanos deficientes também, pelas suas semelhanças e complexidades fasci-
nantes. Este capítulo tão complexo e abrangente poderá redefinir conceitos e
paradigmas, expondo expectativas relacionadas à educação, pois ela é a base
de toda sociedade, seja na neurociência, no universo acadêmico de pesquisas,
nas universidades, nos Centros de Saúde, em questões e temas culturais, como
também nas práticas pedagógicas e educação continuada; é um tema sem fim,
mas resultados serão exuberantes à sociedade tão carente de conhecimento se
houver acolhimento da educação com um todo.
137
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Referências
ARAÚJO, A. C.; NETO, F.L. A Nova Classificação Americana Para os Transtornos Mentais- o
DSM-5. Revista Brasileira de Terapia Cognitivo Comportamental, São Paulo, v. 16, n. 1,
p. 67-82, 2014.
BRITO, L. R.; BALDO, M. C. Pensando no futuro da neurociência. Revista USP, São Paulo, n.
75, set./nov. 2007.
MOUSINHI, R.; NAVAS, A. L. Mudanças apontadas no DSM-V em relação aos transtornos es-
pecíficos de aprendizagem em leitura e escrita. Revista Debates em Psiquiatria, São Paulo,
maio/jun. 2016, p. 38-46.
SANTOS, D. M. Zygmunt Bauman: vida, obra e influencias autorais. Cadernos Zymunt Bau-
man, v. 4, n. 8, 2014.
138
12
O corpo como um espaço de linguagem emocional
Margarete Zacarias Tostes de Almeida1
Caroline Ferreira dos Santos2
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza3
Considerações iniciais
Em tempos hodiernos, o stress é um dos assuntos mais apontados como
fator desencadeante de muitos distúrbios emocionais, mentais e, por con-
sequência, comportamentais. As atividades desenvolvidas pelos humanos
139
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
140
12 – O corpo como um espaço de linguagem emocional
Fundamentação teórica
Na trama identitária, além de uma organização biológica, o corpo revela
o que temos de mais particular, a singularidade; entretanto, paradoxalmente,
constitui-se como um objeto particular e social, por exibir as dimensões iden-
titárias pessoais, bem como socioculturais, simultaneamente. Nessa esteira,
atento ao princípio Habeas corpus4, Jeudy (2002, p. 14) salienta que
[...] a ideia comum de que, se nosso corpo nos per-
tence, isso ocorre na medida em que somos sujeitos
do objeto que ele representa, o que faz persistir uma
dúvida acerca da realidade. Será que experimenta-
mos essa realidade quando nosso corpo é tratado
como objeto ou quando cremos ser o sujeito das sen-
sações que o animam?
4. Habeas corpus significa “que tenhas o teu corpo”, e é uma expressão originária do latim.
Habeas corpus é uma medida jurídica para proteger indivíduos que estão tendo sua liberda-
de infringida, é um direito do cidadão e está na Constituição brasileira. “Nasce com formato
próximo ao atual na Magna Carta de João sem Terra em 1215, consagrando-se no Habeas
Corpus Act de 1679. No Brasil, surge expressamente no Código de processo Criminal de
1838. Hoje, a Constituição Federal, em seu art. 5.º, LXVIII prevê que conceder-se-á habeas
corpus sempre que alguém sofre ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (FULLER; JUNQUEIRA,
MACHADO, 2013, p. 307).
141
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
142
12 – O corpo como um espaço de linguagem emocional
Nos dias atuais, vivemos uma fase de buscas pessoais, exigindo dos atores
sociais responsabilidades para exercerem sua individualidade e compreende-
rem as múltiplas faces que se apresentam numa sociedade plural, da qual faze-
mos parte como cidadãos.
143
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
relação de significação entre alguma coisa e outra coisa, por meio de palavras,
ou de outras manifestações linguísticas quaisquer. A partir de então, o corpo
apresenta-se como um signo que remete ao real a representação simbólica do
contexto cultural e social de uma dada época, com todo seu aparato comu-
nicacional, pensamento, cultura e a própria linguagem em si, na imbricada
trama da subjetividade como patrimônio da ética, da estética, da política e da
história, como um fenômeno cultural (ALMEIDA, 2015, p. 25). Nesse sentido,
trazer à baila a função simbólica como mais uma forma de entender o real
também possibilita compreender que
[...] significar, em primeiro lugar, as obras humanas
que se exprimem em uma civilização, [...] passou a
significar a relação que os humanos, socialmente or-
ganizados, estabelecem com o tempo e com o espaço,
com outros humanos e com a natureza; [...] agora,
cultura torna-se sinônimo de história [...], portanto,
é a relação dos humanos com o tempo e no tempo
(grifo nosso).
144
12 – O corpo como um espaço de linguagem emocional
origem grega, psique – cujo significado é alma, e sóma, que significa corpo,
entendendo, assim, que a doença psicossomática embrica alma/psicológico,
acarretando em consequências físicas ao corpo.
145
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Considerações finais
Mediante uma densa avaliação na literatura que abalizou este estudo, in-
fere-se que a interdependência entre o corpo e a mente é dada pela associa-
ção inseparável entre os acontecimentos geradores de emoções, comparados
metaforicamente a um “software”, que será processado no “hardware”. Assim
sendo, seguindo a analogia, o corpo pronuncia-se como uma capacidade
limitada para lidar com eventos traumáticos psicológicos, fatores estressores
geradores de cansaço excessivo, levando o corpo ao sofrimento e exaustão
emocional, principal fator do desencadeamento de uma doença de ordem
psicossomática.
146
12 – O corpo como um espaço de linguagem emocional
Referências
ALMEIDA, Margarete Zacarias Tostes de. O corpo mestiço em Marabá como patrimônio mu-
sealizado: Sexualidade, Interculturalidade e Educação Tese de Doutoramento em Ciência,
Museologia e Patrimônio. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO,
2015.
CHARTIER, Roger. História intelectual e história das mentalidades. In: CHARTIER, Roger
(Org.). A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
CHARTIER, Roger. Introdução. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: CHAR-
TIER, Roger (Org.). A história cultural entre práticas e representações. Col. Memória e
sociedade. Trad. Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos
XIV e XVIII. Trad. Mary Del Priore. Brasília: EdUnb, 1999.
CORBIN, Alain. A influência da religião. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean Jaques; VIG-
ARELLO, Georges (Orgs.). História do corpo: da revolução à grande guerra. v. 2. Petrópolis:
Vozes, 2008.
DEJOURS, Christophe. O corpo entre a biologia e psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas,
1988.
FREUD, Sigmund. FREUD: Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Pequenas coleções das
obras de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1973.
JEUDY, Henri Pierre. O corpo como objeto de arte. Trad. Tereza Lourenço. São Paulo: Liber-
dade, 2002.
OLIVEIRA, Thalia P. C. de; LIMA, Karolayne B. de; FREITAS, Fabiana G. Barbosa de. As doen-
ças psicossomáticas como causa do câncer de mama em mulheres. Revista Saúde & Ciência
online, v. 8, n. 2, mai.-ago, 2019, p. 33-39. Disponível em: http://www.ufcg.edu.br/revista-
saudeeciencia/index.php/RSC-FCG/article/view/826/431. Acesso em: 19 dez. 2019.
VILHENA, Junia de; NOVAES, Joana de Vilhena (Orgs.). Corpo, para que te quero? Usos, abu-
sos e desusos. Rio de Janeiro: PUC-Rio; Appris, 2012.
147
13
Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma leitura
neurocientífica dos neurônios-espelho
Mariana Fernandes Ramos dos Santos1
Cristina de Fátima de Oliveira Brum Augusto de Souza2
Denise Tinoco Novaes Bedim3
Considerações iniciais
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está cada vez mais presente em
nosso cotidiano. Com isso, observa-se uma maior concentração de escolas in-
clusivas, o que fomenta estratégias para promover o sujeito com TEA de forma
148
ampla, desde a aprendizagem curricular à aprendizagem para a vida e, assim
sendo, sua autonomia.
Neurociência e autismo
Conhecida como a ciência do cérebro, a neurociência busca compreender
fenômenos múltiplos, entre eles o comportamento humano, partindo de uma
premissa funcional, ou seja, como este organismo (sujeito) funciona e as des-
cobertas que dele podem se beneficiar ao longo do desenvolvimento.
149
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
150
13 – Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma
leitura neurocientífica dos neurônios-espelho
Neurônios-espelho
Entende-se por neurônios-espelho o aqueduto cerebral responsável pela
interação social humana, sendo estes o aparato que nos dá a compreensão do
comportamento do outro e da imitação do mesmo. Riech (2002) atribui que
estes neurônios tratam das dimensões que interagem, configurando a apren-
dizagem humana, e classifica-as em: orgânica, sociocultural, afetiva e intelec-
tual. O autor salienta que nesta estruturação cooperativa, existem elementos
sensoriais, perceptivos, cognitivos e motores que habilitam o sujeito a apren-
der. Ou seja, as funções destes neurônios são amplas.
151
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
152
13 – Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma
leitura neurocientífica dos neurônios-espelho
Autismo e aprendizagem
Para que a aprendizagem seja alcançada, faz-se necessária a aplicabilidade
de conhecimentos de grande significância e a neurociência vem ao encon-
tro desta necessidade criando possibilidades de atividades que culminam em
associações neurais visando trabalhar os comprometimentos identificados e
maximizar as habilidades observadas. “A aprendizagem se traduz pela forma-
ção e consolidação das ligações entre as células nervosas. É fruto de modifi-
cações químicas e estruturais no sistema nervoso de cada um” (COSENZA;
GUERRA, 2011, p. 38).
153
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
154
13 – Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma
leitura neurocientífica dos neurônios-espelho
Serra (2018) destaca algumas perguntas que podem ser feitas pelos alfabe-
tizadores para avaliação deste percursor de linguagem: há algum engajamento
afetivo quando você sorri para o seu aluno? O sorriso vem acompanhado do
olhar? Quando há mudança de intensidade ou tonalidade da voz, esse com-
portamento é notado pela criança? O sorriso existe e é compatível com as
estimulações ambientais, ou ocorrem sem motivos aparentes? A autora ainda
destaca a postura reforçadora dos pais para com os filhos no desenvolvimento
deste tipo de percursor, sendo importante também a estimulação em ativida-
des de socialização para desenvolver a aprendizagem.
155
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
Considerações finais
Segundo o parâmetro da neurociência, entre os comprometimentos, des-
taca-se o comprometimento dos neurônios-espelho. Estes são responsáveis
pela interpretação do comportamento dos outros a partir de uma ativação
nas representações motoras. Por conta deste comprometimento, há prejuízos
na socialização, sendo necessário o estímulo de atividades que trabalhem tais
comprometimentos, dentro da proposta que não seja reduzida somente em
intervenção medicamentosa. Há a necessidade de que tenhamos intervenções
em espaços coletivos em prol de trabalhar um dos maiores sintomas significa-
tivos no autismo, que tem relação com a interação social e a leitura que se faz
do outro, uma vez que tais comprometimentos trazem implicações de grande
significância na aprendizagem no que se refere à interpretação e leitura do
outro e nas diferentes posições no mundo, pelos perfis de sujeitos diferentes.
Assim sendo, é relevante que ações como estas, que se direcionam por
meio de um olhar neurocientífico pautado na neuroplasticidade e na inclu-
são, tomem conta de propostas importantes que envolvam tanto o desenvolvi-
mento humano como as diferentes formas de acessar a aprendizagem, tendo a
possibilidade de discussão da inclusão das mesmas no projeto terapêutico sin-
gular e no projeto educacional individualizado. São planos de metas contextu-
alizados ao sujeito e a sua subjetividade, que trabalham formas de autonomia
e independência, em uma aprendizagem para além do currículo formal. Uma
aprendizagem para a sua própria vida.
156
13 – Autismo e imitação na proposta da aprendizagem: uma
leitura neurocientífica dos neurônios-espelho
Referências
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Brain and Language, Houston, 89, 370-376, 2014.
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gre: Artmed, 2011.
GÓMEZ, A. P. Educação na era digital: a escola educativa. Porto Alegre: Penso, 2015.
RIZZOLATTI, G.; CRAIGHERO, L. The Mirror Neuron System. Annu. Rev. Neurosci., Colo-
rado, v. 27, p. 169-192, 2004.
157
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
SERRA, Deyse. Alfabetização de Alunos com TEA. 1. ed. Vol. 1. Rio de Janeiro: E-NUPPES
Editora, 2018.
158
Índice remissivo
159
Neurociências, educação e saúde: diálogos interdisciplinares
160
Índice remissivo
Memória 12, 22, 26, 33, 51, 56, 59, 81, 103, 107, 110, 122, 123, 124,
110, 113, 122, 123, 124, 125, 140, 147, 154
126, 130, 148, 152 Práticas 8, 9, 11, 22, 49, 50, 51, 52, 53,
Mente humana 11, 24, 25, 26, 30, 31, 56, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 84,
35, 52, 104, 129 135, 140, 145, 151
Metodologia 25, 50, 57, 58, 87, 89, 93 Processo 9, 11, 17, 18, 22, 23, 27, 29,
Modelagens 26 30, 39, 42, 43, 44, 46, 47, 48, 49,
Motivação 51, 53, 54, 60 50, 52, 53, 54, 56, 59, 60, 61, 64,
Motricidade 74, 75, 81, 83 65, 66, 67, 68, 69, 72, 74, 75, 78,
Múltiplas 12, 13, 14, 22, 23, 55 80, 81, 82, 83, 84, 86, 87, 88, 89,
90, 92, 93, 96, 100, 102, 104,
N 109, 110, 113, 118, 119, 125,
Neurociência 9, 11, 15, 16, 17, 18, 20, 133, 134, 139, 141, 143, 144,
21, 22, 23, 29, 31, 32, 58, 60, 62, 147, 148, 151, 152, 153
63, 64, 65, 68, 69, 70, 71, 72,
Q
73, 74, 75, 85, 86, 87, 88, 89, 90,
93, 94, 107, 113, 116, 118, 121, Qualidade de vida 39, 42, 46, 47, 48,
122, 128, 129, 130, 134, 135, 107, 123, 138
136, 147, 148, 149, 151, 152,
154, 155 R
Neuroeducação 49, 55, 61, 62, 63
Representação 25, 31, 41, 99, 100, 101,
Neurologia 21
102, 113, 119, 121, 141, 142
Neurônios 12, 32, 50, 51, 59, 102, 110,
111, 113, 130, 146, 147, 149, S
150, 154
Neuroplasticidade 34, 102, 103, 113, Saber 25, 52, 54, 62, 68, 89, 90, 93,
129, 147, 151, 154 106, 110, 113, 134
Nutrição 53 Sala de aula 14, 22, 57, 58, 60, 61, 65,
70, 88, 90
P Saudável 40, 43, 44, 119, 138
Saúde 8, 9, 21, 39, 40, 42, 43, 44, 45,
Pedagogia 56
46, 47, 48, 62, 98, 103, 106, 107,
Pedagógicas 8, 9, 11, 22, 49, 50, 52, 54,
119, 120, 122, 127, 128, 129,
56, 58, 59, 61, 62, 63, 68, 135,
130, 134
148, 151
Sensação 40, 44, 101, 102, 107
Pensamento 8, 12, 25, 26, 30, 31, 34,
Significado 68, 143, 150
54, 56, 71, 78, 85, 110, 122, 141,
Significativa 18, 22, 67, 69, 71, 72, 96,
142, 143, 149
100, 142
Percepção 26, 27, 29, 32, 56, 62, 69,
Sono 8, 33, 38, 40, 41, 42, 43, 44, 45,
110, 130, 140
Perspectivas 23, 47, 50, 127, 138 46, 47, 48, 53
Plasticidade 11, 75, 79, 95, 96, 100, T
102, 104
Possibilidade 32, 33, 57, 65, 67, 85, Tecnologia 31, 32, 118, 120
161
Esta obra foi composta nas tipologias Minion Pro/Coolvetica e foi impressa
em papel Pólen-soft® 80 grs./m2, na primavera de 2020.
A presente obra contribui para o de-
bate sobre estudos recentes acerca das
neurociências, da educação e da saúde e
sua relação com as práticas pedagógicas
na contemporaneidade e áreas afins, pro-
porcionando informações acadêmicas e
científicas, alicerçando novas descobertas
e horizontes. Na perspectiva interdiscipli-
nar, ancorados em pesquisas que fazem
interseção entre as ciências do cérebro,
educação, saúde e comportamento hu-
mano, surge um novo repensar sobre as
práticas pedagógicas correlacionando os
estudos nas áreas de aprendizagem e de-
senvolvimento humano.
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