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Mas o que é um buddha e um bodhisattva?

Antes de listar os exemplos, pode ser de alguma ajuda relembrar: o


que quer dizer buddha? O que quer dizer bodhisattva? Tratam-se de
ideais valorosos. Se entendermos bem o que esses termos sinalizam,
é certo que teremos uma boa inspiração para nossa prática
espiritual.

UM BUDDHA

A palavra “buddha” provém da raiz buddh, que tem de ver com


despertar, com acordar. Logo, um buddha seria alguém plenamente
desperto. Mas desperto para quê? Para a realidade profunda da
existência. Trata-se de alguém cuja visão não tem qualquer
obstrução; alguém que pode ver e entender o universo com perfeita
claridade. Mediante essa sabedoria, um buddha erradica todas as
aflições da mente e ensina outros seres a fazer igual.

Agora, tal sabedoria não constitui o único aspecto de um buddha.


Costumamos falar que todo buddha é alguém que consumou o ápice
da sabedoria e da compaixão. Ambos aspectos são importantes. Isto
é, trata-se de alguém que, motivado por grande amor e consideração
pelos seres, foi desenvolvendo suas habilidades; foi gerando méritos,
adquirindo eloquência, perfazendo ações positivas, fomentando a
compaixão e fortalecendo seus votos a fim de beneficiar incontáveis
criaturas. Ademais de sua vasta sabedoria, portanto, um buddha
seria alguém dotado de extensas qualidades para ensinar todos os
seres. Seria alguém plenamente realizado, exímio em ajudar os
outros a erradicar o sofrimento. Dessa maneira, estamos falando de
uma pessoa que praticou a via espiritual, por muitas e muitas vidas,
até levar o seu potencial à completude.

Por isso fala-se também que um buddha é quem alcançou «anuttara-


samyak-sambodhi» : a Suprema, Perfeita e Completa Iluminação.
Esse é um termo para descrever o estado da Buddhidade – um estado
que representa o ápice da Sabedoria e da Compaixão. É o ápice do
benefício próprio e do benefício alheio.
No buddhismo acredita-se que existam incontáveis buddhas universo
afora. Assim mesmo, sua aparição no mundo é extremamente rara e
preciosa. Este é o nosso mais elevado ideal.

UM BODHISATTVA

Este termo também deriva de uma origem similar. A palavra «Bodhi»


significa despertar; muitas vezes é traduzida como “iluminação”. A
palavra «sattva» significa um ser senciente. Assim sendo, e de modo
muito básico, pode-se dizer que um bodhisattva é um ser em busca
do despertar. Essa é a maneira como o Buddha Sakyamuni se referia
a ele próprio enquanto ainda estava em busca da Iluminação;
enquanto ainda não havia alcançado a buddhidade.

Não obstante, existem algumas singularidades que se aplicam à


noção de bodhisattva. A aspiração de um bodhisattva é pautada por
forte ênfase na compaixão: consiste em um praticante espiritual não
satisfeito em alcançar apenas a própria liberação; seus votos, sua
motivação mais fundamental, é a de continuar se aperfeiçoando até
ser capaz de ajudar incontáveis seres no mesmo processo. O
bodhisattva deseja muito fortemente extinguir o sofrimento dos
seres. E por isso, entende-se que um bodhisattva é um ser em busca
do despertar; não apenas para si, mas para todos os outros!
Essa motivação extensa, essa convicção de longo prazo, essa forte
compaixão que pauta a busca pela Liberação (para si e para os
demais); tudo isso, dá uma dimensão do que caracteriza o
bodhisattva. São praticantes no caminho para a Buddhidade. Em
suma, são pessoas que fizeram votos de realizar as mesmas façanhas
do Buddha. Estão no processo para se tornar buddhas.

Há um verso tradicional que resume bem esse cenário. Ele se chama


“Os Quatro Votos Universais” e corresponde às aspirações básicas
de todos bodhisattvas (isto é, aspirantes à buddha). Esses quatro
votos são:

“Os seres sencientes são inumeráveis,


faço o voto de guiá-los à Liberação.

As aflições mentais são infinitas,


faço o voto de extingui-las por completo.
Os métodos do Dharma são ilimitados,
faço o voto de estudá-los e aprendê-los.

O Caminho de Buddha é insuperável,


faço o voto de trilhá-lo até a realização.”

BODHISATTVAS MAHASATTVAS

Uma vez que tenhamos entendido um pouco sobre a ideia de


bodhisattva, alguém poderia perguntar: “Mas se há tantos
praticantes com essa aspiração de bodhisattva, por que existem
aquelas imagens grandes sempre em destaque?” Alguns vão tão
longe ao ponto de confundir, acreditam que tais imagens sejam
deuses ou deidades distantes. Na verdade não é bem assim. Muitas
das representações, das imagens, que se destacam no buddhismo
são de bodhisattvas-mahasattvas. Isto é, bodhisattvas de altíssimo
nível! Tais representações nos fazem lembrar do exemplo e do legado
daqueles grandes modelos que desejamos seguir. E cabe saber: os
bodhisattvas aqui listados estão nessa elevada categoria.

A palavra «Mahasattva» significa literalmente Grande Ser. Um


Grande Ser, nesse sentido, presume alguém que já alcançou elevados
níveis de sabedoria e compaixão. Portanto, um bodhisattva-
mahassattva seria aquele que já está quase no mesmo nível de um
buddha. Estaria praticamente lado a lado, muito próximo da
realização última.
De modo simplificado, para facilitar o raciocínio:

BUDDHA SAKYAMUNI – O BUDDHA HISTÓRICO


¿Quem foi Buddha Shakyamuni?

Shakyamuni significa “O Sábio dos Sakyas”. Esse foi um título pelo


qual passaram a chamar Siddharta Gautama após sua iluminação.

Buddha Shakyamuni, o buddha histórico e nosso professor original,


nasceu há mais de 2500 anos na Índia. Ele passou a primeira parte
de sua vida em Kapilavastu, capital do modesto reino dos Shakyas,
próximo às cordilheiras do Himalaia. Como príncipe sucessor ao
trono, desfrutou de uma vida próspera; o que, assim mesmo, não o
impediu de se sensibilizar diante do sofrimento alheio e dos
problemas profundos sem resposta aparente. Com idade próxima aos
29 anos, deixou para traz sua terra natal e tudo o que lhe era caro,
para perseguir o caminho espiritual e buscar uma solução definitiva
para a questão do sofrimento humano. Aprendeu com professores da
época, examinou todos os ensinos disponíveis e, insatisfeito com as
respostas que lhe deram, seguiu sua jornada sozinho. Após se
dedicar às práticas mais áusteras possíveis, vislumbrou um modelo
de disciplina que chamaria de “caminho do meio” (majjhima
patipada), diferente das propostas hedonistas e das propostas
ascéticas da época. Depois de anos de prática ele finalmente
encontrou as respostas para a total eliminação do sofrimento: ele
atingiu a Iluminação. Ficou então conhecido como “O Sábio dos
Shakyas”.

Avalokitêśvara – o Bodhisattva da Grande Compaixão


Avalokitêśvara, em sânscrito, pode ser traduzido como “Mestre que
Contempla o Mundo”. Em chinês costuma ser chamado de Guān shì
yīn (觀世音), “aquele que contempla os sons do mundo”; ou Kanzeon
em japonês. Às vezes chamam-no abreviadamente por Guān yīn ou
Kannon, nessas respectivas tradições. O mesmo nome é traduzido
como Chenrezik (སྤྱན་རས་གཟིགས་) em tibetano.Avalokitêśvara é descrito
como o bodhisattva que personifica a grande compaixão e
amorosidade. Sempre atento ao sofrimento dos seres, contemplando
a todos que pode ajudar, ele é retratado como infatigável no seu
trabalho de beneficiar criaturas de todas as direções. Buddha
Śākyamuni o apresentou como incomparável em méritos e vitudes,
bem como na variedade de métodos que emprega para prestar
auxílio. O Sutra Lótus (Saddharmapuṇḍaríka Sūtra) se refere a ele
como capaz de se manifestar de diferentes formas, humildes ou
empoderadas, masculinas ou femininas, humanas e não-humanas, a
fim de encaminhar os seres à Iluminação. Por isso mesmo, inclusive,
algumas de suas representações assemelham-se a um homem e
outras, a uma mulher.

No Kāraṇḍavyūha Sūtra, Buddha retrata a história e os feitos deste


bodhisattva desde tempos imemoriais. Segundo a narrativa, ele seria
uma manifestação espontânea de outro buddha, o qual existira há
inumeráveis eras passadas e que, mesmo após sua completa
realização, continua se manifestando sob a forma de um bodhisattva
para não faltar com auxílio e suporte aos seres necessitados.

Em várias tradições, recomenda-se a prática de recitar o nome de


Avalokitêśvara e nele estabelecer a própria concentração. Isso, tendo
em vista que ao estabelecer uma conexão kármica com o bodhisattva
é possível não apenas emulá-lo, seguindo seu exemplo de compaixão,
mas é também possível receber os benefícios diretos de suas bênçãos:
ou seja, mediante tal conexão, os méritos do bodhisattva poderiam
afluir e amparar o praticante que construiu vínculos consigo.

Kṣitigarbha: o Bodhisattva dos Grandes Votos


O nome Kṣitigarbha, em sânscrito, é a junção dos termos «ksiti», que
significa terra, e «garbha», que significa ventre ou matriz ou
depositário (i.e., algo que origina e que abriga). Entende-se,
portanto, como “Aquele que Abriga a Terra”. O nome é uma
referência à sua qualidade mais singular: os votos firmes e
inabaláveis que ele sustenta em benefício dos seres. Tão sólidos e
extensos quanto a própria terra, esses votos oferecem suporte e
acolhimento aos mais aflitos.
É nas tradições chinesas e japonesas que Kṣitigarbha se tornou
amplamente conhecido. Referem-se a ele como Dìzàng púsà (地藏菩
薩) ou Jizō bosatsu, respectivamente.

No “Sutra sobre os Votos Originais do Bodhisattva Kṣitigarbha”


(kṣitigarbha bodhisattva pūrvapraṇidhāna sūtra), o Buddha
Śākyamuni descreve os feitos e qualidades deste grande ser. Segundo
a narrativa, vida após vida, Kṣitigarbha atuou como filho e filha
obsequiosos, tratando de buscar incansavelmente por formas de
salvar seus pais. Por isso mesmo, ele é tomado como um forte
exemplo de amor filial e gratidão no Buddhismo.

Ainda mais, comoveu-se profundamente ao avistar as formas mais


severas de sofrimento e decidiu, com inabalável firmeza, que se
dedicaria a ajudar os seres abandonados e que adentraria os locais
mais difíceis para auxiliar justamente aqueles que mais sofrem.
Kṣitigarbha, assim, realizou seu tão notório e difícil voto: adentrar
até mesmo os reinos infernais para ajudar os seres que ali se afligem.
São dele as palavras:

“Quando os seres estiverem todos à salvo, poderei então usufruir da


Iluminação. Mas enquanto os infernos não estiverem vazios, eu não
desfrutarei da realização final – a Buddhidade” (眾生度盡,方證菩
提;地獄未空,誓不成佛).

No mesmo sutra, Buddha Śākyamuni explica que o bodhisattva já


tomou este voto há miríades de milhares de milhões de eras atrás e
que, ainda hoje, segue firme em sua empreitada de beneficiar a
todos. Por haver assim acumulado tantos méritos e virtudes, e por ter
uma conexão tão forte com os seres deste mundo, Kṣitigarbha é
apontado por Buddha como um forte benfeitor. Segundo o sutra,
viajantes poderiam concentrar-se no bodhisattva para completar
suas travessias em segurança; e também, pessoas que desejam
beneficiar seus parentes falecidos poderiam, dentre outras opções,
fazer oferendas e homenagens a este grande ser para gerar méritos
que amparem tais familiares. Por essa última razão, deve-se dizer, é
comum encontrar imagens de Kṣitigarbha em cemitérios ou em locais
que abrigam cinzas dentro dos monastérios: concentrando-se no
bodhisattva, as pessoas ali praticam e dedicam méritos aos seus
entes queridos que se foram.

Em sânscrito, «samanta» significa algo universal, que pervade todas


as direções; e «bhadra» seria algo bom, digno, benevolente. Assim,
Samantabhadra é aquele de “Bondade Universal”. Conhecem-no em
chinês como Pǔ xián pú sà (普賢菩薩), ou como Fugen bosatsu em
japonês. No Tibete, seu nome é traduzido como Kun tu bzang po
(ཀུན་ཏུ་བཟང་པོ་).

Samantabhadra é muitas vezes retratado a um dos lados de Buddha


Śākyamuni, representando a ênfase na prática contemplativa e nas
ações virtuosas. Ao outro lado costuma estar Mañjuśrī, o
bodhisattva da grande sabedoria.

No Sutra Avatamsaka, este Bodhisattva da Bondade Universal é


descrito como um praticante de conduta humilde e sumamente
positiva. A despeito de sua elevada realização, ele viajaria pelas dez
direções para continuar fazendo oferendas aos iluminados de todas
as partes, para continuar prestando respeitos e homenagens; enfim,
para continuar servindo. Samantabhadra não abandona nenhuma
das práticas mais básicas, e assim incentiva todos os demais
praticantes a lapidar uma conduta humilde e compassiva, sem ceder
à negligência ou à arrogância.

Seus 10 famosos votos servem como referência para elucidar o


caminho de todos os bodhisattvas. Dentre eles se destacam atitudes
como: respeitar universalmente todos os seres; nunca deixar de fazer
doações e oferendas com generosidade; incentivar as atividades
positivas e celebrar até mesmo os menores progressos alheios;
confessar quaisquer pequenas falhas e corrigi-las de imediato;
jamais deixar de exercitar as práticas dos sábios iluminados; criar
condições para que o Dharma permaneça no mundo e que todos dele
se beneficiem, etc.

Frequentemente retratado sobre um elefante de seis presas, ele


personifica a maestria das Seis Pāramitās – as perfeições de conduta
de todos os bodhisattvas.
O termo «mañju» significa algo belo, esplêndido, maravilhoso; «śrī» é
um termo para auspiciosidade, virtude e poder. Assim, Mañjuśrī
seria “Aquele que é Esplêndido e Auspicioso”. Ele personifica a
própria Perfeição da Sabedoria, lembrando-nos com seu nome que a
sabedoria é o que há de mais esplêndido e auspicioso: se a
cultivarmos, dela virão os benefícios mais elevados.

Na tradição chinesa costumam chamá-lo de Wénshū (文殊); Monju


em japonês. É comumente chamado de Jam pel yang em tibetano
(འཇམ་དཔལ་དབྱངས).

O Bodhisattva da Grande Sabedoria é retratado, tal como


Samantabhadra, sempre a um dos lados de Buddha Śākyamuni. Nos
sutras Mahāyāna, são vários os discursos onde ele aparece
eliminando dúvidas, expondo equívocos, esclarecendo os pontos mais
sutis dos ensinamentos, além de cortar fora todos os tipos de apegos
e visões errôneas. Até por isso, não raro ele se mostra segurando
uma espada de «vajra» nas mãos: representativa da sabedoria que
atravessa todos os obstáculos e liberta os seres de seus
aprisionamentos.
Em algumas imagens ele assume forma monástica, noutras aparece
como um jovem em vestes reais. Por essa razão, também, Mañjuśrī é
geralmente chamado de Príncipe do Dharma. Quase sempre vai
assentado sobre um vigoroso leão, inspirando ao mesmo tempo ares
de leveza e majestosidade.

Com este exemplo em mente, praticantes podem recitar seu nome ou


seu mantra a fim de eliminar os obstáculos no cultivo da sabedoria.
Juntamente com Avalokitêśvara, Kṣitigarbha e Samantabhadra, ele é
um dos quatro mais enfatizados bodhisattvas (especialmente na
tradição buddhista da China).

Mahāsthāmaprāpta: o Bodhisattva do Grande Poder

Em sânscrito, «mahā» significa “grande”; «sthāma» é “poder,


estamina ou força”; e «prāpta» pode ser traduzido como “chegar,
obter, ou estar dotado de”. Assim, Mahāsthāmaprāpta é “Aquele
Dotado de Grande Poder”. O bodhisattva personifica a força da
concentração e da sabedoria, representando o vigor das qualidades
hábeis na superação de todos os males.

Na tradição chinesa costuma ser conhecido como Dàshìzhì (大勢至),


ou Daiseishi em japonês. Já nas escolas tibetanas é mais
frequentemente retratado na figura de Vajrapāṇi (chak na dorje,
ཕྱག་ན་རོ་རྗེ་), o qual seria uma de suas manifestações.

Este Bodhisattva do Grande Poder é frequentemente representado


junto com Avalokitêśvara, cada qual a um lado do Buddha Amitabha
– seu respectivo professor. Em suas mãos é comum de se encontrar
uma longa flor de lótus, símbolo que remete à emancipação, à
transposição de todas as máculas, e à força da sabedoria.

No Śūraṅgama Sūtra, o bodhisattva revela seu método especial de


prática: a constante e firme concentração nas qualidades dos
buddhas. E assim, sugere também aos praticantes que sempre
mantenham suas mentes firmemente estabelecidas na lembrança do
Buddha; desse modo, poderiam naturalmente se tornar cada vez
mais iguais aos Iluminados.
Bodhisattva Maitreya (em sânscrito; Metteyya em pali) é reconhecido
em todas escrituras buddhistas com sendo “o Buddha Futuro”, o
próximo a se Iluminar depois de Buddha Śākyamuni. Seu nome
significa “O Amoroso”. Entende-se que tal será a característica mais
marcante de seu estilo de ensino: sua destacada bondade amorosa,
sua benevolência para com todos os seres.

Em chinês chamam-no de Mílè Púsà (彌勒菩薩), ou Miroku Bosatsu


em japonês. Seu nome vai traduzido como Champa (བྱམས་པ) em
tibetano. E, também nas origens, textos indianos se referem a ele
como “Ajita” (o invencível) – este seria outro de seus epítetos.

Segundo a profecia legada por Buddha Śākyamuni, Maitreya


aparecerá num futuro sumamente longínquo (fala-se até mesmo de
milhares de milhões de anos em algumas fontes). Diferentemente do
cenário áustero enfrentado por Buddha Śākyamuni, Maitreya virá a
este mundo numa época de indizível prosperidade e elevado padrão
ético. No «Sutra Pronunciado pelo Buddha sobre a Completa
Iluminação de Maitreya» (佛說彌勒大成佛經), explica-se que o
buddha-por-vir realizará a difícil tarefa de observar a
impermanência numa época de extensa longevidade, extensas
facilidades e alegrias quase celestiais. Contemplando profundamente
a natureza transitória do mundo, o buddha-por-vir proclamará um
verso:

“Todas as formações são impermanentes,


Essa é a realidade do nascimento e da morte.
Com a cessação de nascimento e morte,
A (real) Felicidade se encontrará na serenidade do nirvana”.
『諸行無常,是生滅法;生滅滅已,寂滅為樂。』

E assim fazendo, trilhará o caminho do monge renunciante. Após


atingir a Buddhidade, ensinará incontáveis seres, encaminhando-os
à Completa Liberação tal como fora feito por seu antecessor
Śākyamuni.

Muitos praticantes buddhistas fazem votos de se encontrar com o


Buddha Maitreya em suas vidas futuras, para aprender com ele e
avançar rumo à Completa Iluminação. Tal costume não é restrito à
tradição Mahāyāna. Como exemplo, pode-se citar o grande mestre
Buddhaghoṣa, autor do tratado «Visuddhimagga» da escola
Theravāda: ele próprio também expressou seu voto de alcançar a
liberação na presença de Maitreya. Segundo os sutras, se um
praticante toma sinceramente refúgio na Joia Tríplice e pratica os
cinco preceitos, fazendo votos de encontrar-se com o futuro buddha,
tal já configuraria uma causa suficiente para realizar sua aspiração.
Tārā: buddha na forma feminina

A Bodhisattva Tārā é especialmente conhecida e reverenciada nas


tradições buddhistas do Tibete, onde recebe também o nome de
Dölma (སོལ་མ,). Em chinês se chama Duōluó Púsà (多羅菩薩), ou Tara
Bosatsu em japonês.

Considerada uma das manifestações de Avalokitesvara, Bodhisattva


da Grande Compaixão, Tārā personifica o ideal feminino na busca
pela Iluminação: ela representa o infinito potencial das mulheres no
caminho espiritual, servindo a um só tempo como modelo de
praticante e protetora dos seres que sofrem. A bodhisattva inspira
também um forte ideal de igualdade, fazendo lembrar que a
Iluminação independe de questões como gênero ou aparência física.

Seu voto mais característico é seguir praticando até alcançar a


Completa Iluminação – sempre na forma de uma mulher. Ela assim o
faz para motivar as praticantes e deixar bem claro que homens e
mulheres devem ser vistos com equidade no Buddhadharma.

Segundo conta sua história, em eras passadas e num local distante, a


Bodhisattva Tārā nasceu como uma princesa de imensa virtude e
sabedoria. Naquela época, ela teve a oportunidade de se encontrar
com um Buddha Perfeitamente Iluminado e começou a praticar o seu
ensinamento. Em pouco tempo seus progressos foram substanciais e
ela rapidamente despertou em si a aspiração de tornar-se, também,
igual ao buddha: despertou a aspiração de iluminar-se
completamente, para ajudar todos os seres. Alguns praticantes, no
entanto, fizeram-lhe uma sugestão curiosa ao tomar conhecimento
desse voto. Dotados de visões parciais, limitantes, sugeriram que ela
devesse dedicar méritos para renascer como homem. “Assim”,
diziam eles, “poderá praticar mais facilmente, encontrará menos
dificuldades, e conseguirá fazer mais progressos”. Ao ouvir essa
sugestão, a princesa (futura Bodhisatva Tārā) percebeu nitidamente
como muitos seres subestimavam a condição feminina; percebeu com
clareza o olhar discriminatório que a tantas pessoas limitava. Ela
pensou: “Até agora, devem ser poucas as pessoas que se
comprometem a alcançar a Perfeita Iluminação num corpo de
mulher”. E assim pensando, para benefício de muitos e muitas, para
promover esse esclarecimento, ela decidiu colocar-se como exemplo:
“Eu despertei a Aspiração da Iluminação (bodhicitta) como uma
mulher. Por todas as minhas vidas ao longo do caminho, eu faço o
voto de renascer como mulher. E na minha última existência, quando
eu alcançar a Buddhidade, aí também, eu serei uma mulher.”

Muitos praticantes recitam o mantra da Bodhisattva, a fim de


conectar-se com seus votos de proteção, restauração e suporte no
caminho espiritual.

Cundī: mãe dos buddhas


Cundī (em sânscrito) é reconhecida como uma das manifestações
femininas de Avalokitêśvara – Bodhisattva da Grande Compaixão.
Em chinês, chamam-na Zhǔntí Fómǔ ( 準提佛母), significando:
“Cundī, mãe dos buddhas”. O mesmo nome se lê «Juntei» em japonês
e «Chunje» em coreano. Já no Tibete, pode ser identificada como
«Skul byed ma» (སྐུལ་བྱྗེད་མ་).

A Bodhisattva Cundī recebe o título de “mãe dos sete bilhões (kotis)


de buddhas”, e por isso mesmo vai fortemente associada à qualidade
de Perfeita Sabedoria (Prajñā-pāramitā). Ou seja, nos ensinamentos
buddhistas frequentemente se repete que a perfeição da sabedoria,
que compreende Śūnyatā e a insubstancialidade dos fenômenos, é
como a “mãe” que dá origem à iluminação de todos os buddhas. Daí
se entende tal associação.

Mais do que isso, a bodhisattva costuma ser representada com 18


braços que carregam diferentes utensílios. Essa representação traz
consigo a lembrança das 18 qualidades singulares que caracterizam
os Buddhas Perfeitamente Iluminados. Contemplar a imagem de
Cundī seria, portanto, como contemplar num só ponto um belo
sumário de todas os fascinantes atributos dos muitos Iluminados.

No “Sutra Proclamado por Buddha sobre a Grande Dharani de


Cundi, a essência da mãe dos Sete Bilhões de Buddhas” (佛說七俱胝
佛母心大准提陀羅尼經, T20n1077), apresenta-se um mantra e
explicações graças às quais esta bodhisattva tornou-se bem popular
no oriente. Conforme ensina o sutra, seu mantra poderia ser recitado
para diferentes fins de apoio: desde proteção, restauração da saúde e
eliminação de obstáculos, até a obtenção de melhores condições
futuras, ajudando o praticante a acumular méritos, encontrar-se
com seres sábios, e progredir rapidamente rumo à Iluminação. O
famoso mantra se pronuncia:
namaḥ saptānāṁ samyak-saṁbuddha koṭināṁ
tad-yathā oṁ cale cule cundi svāhā

______________
* A letra «C» no nome Cundī, ou nas palavras do mantra acima, se
pronuncia como o nosso «TCH»; ou seja, lê-se “Tchundi”.
** Na foto, uma imagem da Bodhisattva Cundi com uma pintura de
Avalokitêśvara mais ao fundo.
Bhaiṣajya-guru-vaiḍūrya-prabhā-rāja, ou “Mestre Supremo da
Medicina do Brilho Cristalino de Lápis-lazúli”, é um dos buddhas
mais amplamente conhecidos dentro da tradição Mahāyana. Em
chinês, chama-no de Yào shī fó (藥師佛); e Yakushi butsu, em
japonês. Em tibetano, recebe o nome de Sanggye Menla (སངས་རྒྱས་སྨན་བླ).
Cura, restauração, liberação quanto às múltiplas formas de
tormento e opressão, auxílio frente às necessidades básicas da vida,
e sucesso nas aspirações mundanas, dentre outros aspectos, são
itens associados aos votos deste Iluminado.

No «Sutra do Buddha da Medicina», a história desse buddha é


descrita por Śākyamuni como resposta direta à pergunta do
bodhisattva Mañjuśrī. Em sua questão, Mañjuśrī pedia ao Buddha
Śākyamuni que discursasse sobre os méritos e virtudes de outros
buddhas para que seres do futuro, ao tomarem conhecimento dessas
qualidades, pudessem eliminar suas obstruções kármicas; para que
pudessem se inspirar e praticar em concordância, obtendo benefícios.
Após citar diferentes buddhas de diferentes direções, o sutra dedica
especial ênfase a explicar os votos e práticas do Buddha da Medicina.

Em linhas gerais, os votos desse Iluminado abrangem os seguintes


pontos:

1) Ajudar seres de todas as direções a alcançar a buddhidade;


2) Aclarar suas mentes para que despertem;
3) Provê-los com suas necessidades materiais;
4) Corrigir suas visões errôneas e guiá-los ao correto caminho;
5) Ajudar os que agiram nocivamente a restaurar sua conduta;
6) Auxiliar a tratar os que sofrem por deficiências ou problemas
físicos;
7) Aliviar os que sofrem de escassez e enfermidades;
8) Prover méritos para que pessoas descontentes com o atual gênero
possam renascer com o gênero almejado;
9) Ajudar a sanar aflições e mazelas mentais;
10) Ajudar a liberar os que sofrem opressão;
11) Aliviar os que sofrem de fome e sede;
12) Amparar com roupas e abrigo os que sofrem com falta de
proteção.

Mediante esses votos, o Buddha da Medicina se destaca por seu


estreito vínculo com todos os seres que sofrem de preocupações
mundanas, assolados por sofrimentos imediatos e muitas vezes
materiais. Em seu sutra, são descritas práticas que se centram na
recordação desse Iluminado a fim de criar méritos, diminuir
obstáculos kármicos e obter, assim, condições de melhoria da vida.
Por essa mesma razão, ele recebe também o título de “Buddha da
Medicina que Afasta Infortúnios e Amplia a Longevidade” (消災延壽
藥師佛). Seu mantra é amplamente conhecido e recitado nas mais
variadas escolas buddhistas.

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