A Produção Cultural do Corpo Profa. M.a. Thaysa Braide (IFPE) Autoras
Profa. Dra. Guacira Lopes Louro Profa. Dra. Silvana V. Goellner
Doutora em Educação; Professora da Doutora em Educação; Professora
Unicamp visitante na UFPel “O corpo é histórico”
Um corpo é também o seu entorno; é
um conjunto de músculos, ossos, vísceras etc., mas também é a roupa e os acessórios, as intervenções que nele se operam, os sentidos que nele se incorporam, a educação de seus gestos... Representação “A linguagem não apenas reflete o que existe. Ela própria cria o existente e, com relação ao corpo, a linguagem tem o poder de nomeá-lo, classificá-lo, definir-lhe normalidades e anormalidades.” Pedagogias do corpo: filmes, músicas, revistas, livros, redes sociais, propagandas etc. Pensar o corpo dessa forma pressupõe saberes ancorados em determinados referenciais teóricos e políticos. Séculos XVIII e XIX Nesse tempo, o corpo adquire relevância nas relações que se estabelecem entre os individuos - moral das aparências. (p. 35) “Foi no biológico que, no somático, no corporal que antes de tudo investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade biopolítica.” (FOUCAULT apud Goellner, 2013) - legitimação de uma educação corporal, visando a tornar o corpo útil e produtivo Homem-máquina Séculos XVIII e XIX Lugares sociais baseados no corpo: tamanho do cérebro definindo nível de inteligência, aparência do rosto definindo aptidão laboral, feições identificando transtornos mentais, classificando criminosos etc. Métodos disciplinares: aparelhagens para a correção de anatomias, banhos de mar, medições e classificações dos segmentos corporais, desvios sexuais, classificação das paixões, higiene etc. “A ciência, uma vez que deve ser executada por seres humanos, é uma atividade de cunho social. Seu progresso se faz por meio do pressentimento, da visão e da intuição. Boa parte das transformações que sofre ao longo do tempo não corresponde a uma aproximação da verdade absoluta, mas antes a uma alteração das circunstâncias culturais, que tanta influência exercem sobre ela. Os fatos não são fragmentos de informação puros e imaculados; a cultura também influencia o que vemos e o modo como vemos. Além disso, as teorias mais criativas com freqüência são visões imaginativas aplicadas aos fatos, e a imaginação também deriva de uma fonte marcadamente cultural.” (Gould, 1991)
“Dados, quantificações, estatísticas, são necessários para se chegar
a uma resposta científica. No entanto, a forma como esses dados são usados pode servir para uma busca pelo desconhecido ou para “provar” uma teoria ou ideologia pré-concebida. Basta ignorar os dados que não corroborem com a teoria e usar os que corroboram para “provar” o que se pensa.” (Wesolowski, “Nas raças mais inteligentes, como é o caso dos parisienses, existe uma grande número de mulheres cujo cérebro se aproxima mais em tamanho ao do gorila que ao do homem, mais desenvolvido. Essa inferioridade é tão óbvia que ninguém pode jamais contestá-la; apenas seu grau é digno de contestação. Todos os psicólogos que estudaram a inteligência feminina, bem como os poetas e os romancistas, hoje reconhecem que as mulheres representam as formas mais inferiores da evolução humana e que estão mais próximas das crianças e selvagens que de um homem adulto. Elas se destacam por sua inconstância, veleidade, ausência de ideias e de lógica, bem como por sua incapacidade de raciocínio. Sem dúvida existem algumas mulheres que se destacam, muito superiores ao homem mediano, mas são tão excepcionais quanto o aparecimento de qualquer monstruosidade, como um gorila com duas cabeças; portanto, podemos deixá-las completamente de lado. […] O dia em que, olvidando as ocupações inferiores que a natureza lhes atribuiu, as mulheres abandonarem o lar e participarem de nossas lutas, uma revolução social terá início, e tudo que sustenta os sagrados laços familiares desaparecerá (Le Bon, 1879). Papel da Educação Escola: espaço privilegiado para atuar na instrução e na interiorização de hábitos e valores que possam dar suporte à sociedade em construção. Preparação moral e física: corpos capazes de expressar e exibir os signos, as normas e as marcas corporais da sociedade neoliberal, inclusive as distinções de classe. Dois lados de uma moeda: reforço de normas e resistência. Papel da Educação Sujeito Neoliberal
Corpo pautado pela lógica do rendimento,
da produtividade e da individualização das aparências. Assume a forma de controle-estimulação: “Fique nu... mas seja magro, bnito e bronzeado!” Possibilidade de Agência
“Nem a cultura é um ente abstrato a nos
governar nem somos meros receptáculos a sucumbir às diferentes ações que sobre nós se operam. Reagimos a elas, aceitamos, resistimos, negociamos, transgredimos tanto porque a cultura é um campo político como o corpo, ele próprio é uma unidade biopolítica.” (p. 41)