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PADRÕES DE BELEZA

O corpo é a maior forma de expressão do ser humano, sua personalidade,


suas vontades, tudo isso pode ser passado pela forma como o corpo se
comporta e com o que se parece. O ser humano em sua totalidade é histórico e
assim também é seu corpo, sucumbindo a regras que lhe libertam ou
aprisionam de acordo com as vontades da sociedade. Culturalmente os
padrões corporais se adaptam, padrões estes que são pautados em religião,
política e capital, moldados principalmente pelas pessoas que detinham o
poder em cada momento da história.
Na Grécia Antiga muito do que foi tido como concepção de corpo vem de seus
filósofos mais reconhecidos, Platão e Aristóteles, que tinham ideias diferentes
sobre a forma como o corpo é visto. Platão pregava a dicotomia entre o corpo e
a alma, sendo a alma um instinto superior, ligado diretamente a sabedoria,
enquanto o corpo podia vir a se tornar um empecilho. Já Aristóteles dizia que o
corpo e a alma precisam estar em harmonia, já que um depende diretamente
do outro para existir. Ambos, por mais que tivessem ideais diferentes do que
era a concepção de corpo, chegavam a mesma conclusão, de que o corpo
precisava ser bem cuidado, com exercícios e boa alimentação, já que era o que
aquele momento da história exigia, levando em consideração que a Grécia foi a
fundadora dos jogos olímpicos e em Sparta as batalhas eram de grande valor.
Na idade média, os corpos de tornaram menos sexualizados, já que a igreja
tratava todo e qualquer impulso sexual como pecado, usando o corpo como um
receptáculo sagrado que deve guardar sua alma. O modelo teocêntrico,
valorizava a vida eterna descrita na bíblia, o clero tinha um poder monumental
e controlava quase todas as áreas da vida das pessoas, incluindo a forma
como se viam e como a luxuria é considerada um dos pecados capitais, não
era incomum que as pessoas renunciassem a suas vaidades pela salvação da
alma. (Cassimiro; Galdino; Sá, 2012).
Com o Renascimento, o luxo passou a ser mais valorizado, homens e mulheres
usando joias e cores mais vívidas, com roupas que valorizavam mais os seios
e quadris, assim como cinturas mais finas e sempre valorizando o que era
desconsiderado na idade média, tornando cada vez mais comum o uso de
espartilhos, perfumes e perucas perfeitamente arrumadas. No século XIX, mais
especificamente a partir do reinado da rainha Vitoria, onde se iniciou a Era
Vitoriana na Inglaterra, os padrões passaram a ser mais elegantes e a rainha
tornou-se um marco das cartilhas de beleza da época. (Suenaga; Lisboa; da
Silva; de Paula, 2012).
A partir dos anos 60, com grandes movimentos feministas, a moda passou a
ser um pouco mais flexível, onde mulheres puderam usar cabelos curtos e
calça, enquanto já era mais comum que homens usassem cabelos longos e
estampas mais florais, mesmo assim, ainda existia um papel muito bem
definido para cada gênero. Os anos 90 entram de modo avassalador, com suas
modelos de passarela exibindo corpos magros, com seios avantajados e
pernas longas. Atualmente o padrão segue sendo ditado por quem tem mais
poder de influência, só que esse mesmo padrão está cada vez mais fluido,
graças aos avanços científicos, o crescimento do mundo digital e popularização
dos procedimentos estéticos. Existe uma certa globalização do padrão de
beleza, graças as mídias sociais, tornando o padrão não mais local, mas sim
existindo em uma escala global, tendo em cada país suas particularidades
(Suenaga et al. 2012)
Como sociedade é comum o estado constante de comparação, tanto pessoal
quanto comparando os outros entre si. Os padrões de beleza são artifícios
criados para que haja um modelo a ser seguido e muitas vezes não alcançado.
No Brasil, hoje em dia, tem-se em média um gasto de quase R$ 4 bilhões de
reais em salas de cirurgia plástica, em busca do cuidado coma a aparência,
isso sem falar na indústria de consumo em massa, que existe no mundo dos
cosméticos e produtos de beleza.
Nos dias atuais, o corpo que é buscado tem características especificas, mesmo
que alguns detalhes sejam diferentes. O jovem, branco, atlético/musculoso,
segura o pilar do padrão ocidental, onde até mesmo o envelhecer é visto como
negativo, já que a ´´pele de porcelana´´, mesmo que seja irreal, é o padrão
buscado. Com um modelo de pressão social moldado em culpa, pessoas que
não estão dentro do padrão são consideradas desleixadas e acusadas de não
se importarem com a própria aparência, já que qualquer um pode ser bonito se
houver um esforço para tal.
Em contrapartida, é de extrema importância para o individuo que haja
padronização. Falando em termos cognitivos, é fundamental para o
desenvolvimento humano que exista uma maneira de identificar grupos, visto
que está diretamente ligado a forma que desenvolvemos nossos mecanismos
de defesa. É vital que se possa identificar perigos e se preparar para cada tipo
de interação social baseado no que se tem à primeira vista. Por exemplo,
podemos facilmente reconhecer um grupo que gosta de andar de skate, outro
que gosta de sertanejo, outro grupo que prefere indie/hippie, todas essas
padronizações acabam facilitando a compreensão de mundo particular de cada
um.
Mas também é fundamental para a construção do padrão de beleza que
existam os desviantes, que se opõe a ele propositalmente, para que haja um
equilíbrio, mesmo que ser desviante também se encaixe em um padrão.
Pessoas que decidem por deixar os pelos corporais, obesos, os que decidem
assumir seus cabelos brancos e marcas de idade, todos são exemplos de
padrões de divergentes, que escolhem confrontar o que o sistema diz, por não
se sentirem confortáveis dentro do padrão comum.
Levando em conta a psicologia social põe-se em vista algumas questões sobre
os padrões de beleza, como por exemplo: os estereótipos criados e os
preconceitos acerca da aparência das pessoas. Tendo como base a teoria da
representação social, vemos uma espécie de ditadura de escolhas, onde são
lhe dadas opções, mas também são despejadas punições se a escolha não se
encaixar no padrão.
O racismo, tem em sua base um pouco do preconceito criado pelo padrão de
beleza europeu, quando eles encontram pessoas tão diferentes e as enxergam
de forma tão distante de si, fora desse modelo predefinido de acordo com sua
sociedade, existe um estranhamento e uma desvalorização daquela
divergência, onde tem-se a ideia de inferioridade da diferença.

Referencias
BRASÍLIO, Liza Aparecida. Um olhar sócio-histórico sobre a beleza: das
amarras à alteridade. 2007. 129 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, 2007. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/106274>.

https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/revistametanoia/
4_GERALDO_CONFERIDO.pdf
https://siaibib01.univali.br/pdf/Camila%20Suenaga,%20Daiane%20Lisboa.pdf
https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/16630/1/
TCC_FlaviaBastian%20%283%29.pdf

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