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CULTURA E SOCIEDADE

Cultura significa tudo que é feito, aprendido ou compartilhado por membros de uma sociedade: valores,
crenças, comportamentos, símbolos, línguas e objetos materiais. Sociedade significa um grupo de pessoas que
vivem em um território definido e que compartilham uma cultura. Evidentemente, cultura é um componente
fundamental de toda sociedade.
A cultura influencia crenças e comportamentos. Alguém que mora no Brasil provavelmente tem hábitos
diferentes de pessoas que moram em outros países – nos Estados Unidos, na China, na Índia ou na França. A
cultura influencia não apenas a língua, mas até a linguagem corporal das pessoas, a forma como se
cumprimentam e os valores considerados importantes.

A teoria funcionalista ensina que a cultura contribui para uma ordem social contínua, pois transmite a forma
como as pessoas devem se comportar em determinadas situações. A cultura também permite com que as pessoas
se beneficiem dos sucessos realizados por gerações passadas.

A Teoria do Conflito de Karl Marx, por outro lado, sustenta a ideia de que a cultura justifica a desigualdade.
De acordo com o pai do socialismo, a classe dominante, isto é, a burguesia, produz uma cultura que promove
seus próprios interesses e que, simultaneamente, reprime os do proletariado.

Cultura material e não material


Cultura é algo que se aprende e que varia muito de sociedade para sociedade. Os seres humanos passam a
aprender a respeito de sua cultura assim que nascem, pois, na maioria dos casos, seus pais os educam para que
adotem os valores da sociedade.
Apesar das muitas diferenças entre culturas, todas são constituídas por dois elementos fundamentais: cultura
material e cultura não material.

Cultura material engloba os objetos físicos de uma sociedade: as ferramentas, a tecnologia, as vestimentas, os


meios de transporte, etc. Por exemplo, alguns símbolos da cultura material do Brasil são o telefone celular, o
computador, o iPod, etc.
Um componente da cultura material que foi adotado por diversas sociedades é o uso de joias para indicar que
uma pessoa é casada. Por exemplo, no Brasil e nos Estados Unidos, usa-se um anel no dedo anelar da mão
esquerda. Em sociedades não industrializadas, constituídas por poucos habitantes, isso é desnecessário, pois
quase todas as pessoas se conhecem e sabem quem é e quem não é casado. Em certas regiões da Índia, as
mulheres usam um colar para indicar que são casadas.

Cultura não material compreende os aspectos intangíveis de uma cultura: os valores e crenças que influenciam
seus membros e que os diferenciam dos indivíduos que constituem outras sociedades.
Os elementos culturais
Cultura é a língua, os símbolos, as normas, os valores, as crenças, os rituais e os artefatos que fazem parte de
toda sociedade.
A língua é a forma de comunicação que permite que, por meio de palavras, informações sejam transmitidas a
um indivíduo ou a um grupo de pessoas. A língua é transmitida de geração em geração. A maioria dos cientistas
sociais acredita que a forma como uma sociedade utiliza a língua revela o que seus membros consideram
importante. A comunicação não verbal – expressões faciais e movimentos corporais – também fazem parte da
cultura.

Toda cultura é repleta de símbolos. Estes evocam, representam ou substituem algo abstrato ou ausente, e
geralmente despertam reações e emoções entre as pessoas que os consideram significativos. Alguns objetos são
símbolos importantes. Por exemplo, uma bandeira nacional simboliza um país e possui uma conotação
patriótica. A maioria das religiões também possui símbolos. Apesar de serem apenas objetos, os símbolos
possuem grande importância para seus seguidores. Por exemplo, queimar a bandeira de um país é considerado
um grande desrespeito, apesar de se estar queimando apenas plástico ou tecido.   

As sociedades também possuem símbolos não verbais – gesticulações ou movimentos feitos com as mãos, os
braços ou outras partes do corpo, que transmitem ideias e emoções. Uma certa gesticulação feita nos Estados
Unidos significa “OK”, mas no Brasil, significa algo completamente diferente, sendo considerada obcena e
ofensiva. 

As culturas também variam muito quanto às suas normas e formas de comportamento. Normas são princípios e
preceitos: são as expectativas da sociedade – a forma como se espera que seus membros se comportem em
dadas circunstâncias. Dependendo da cultura, as normas podem variar muito. Por exemplo, nos Estados Unidos,
é um sinal de respeito olhar nos olhos de outra pessoa enquanto se conversa com ela. Já em muitos países
asiáticos, o inverso é verdadeiro: não olhar diretamente para uma pessoa enquanto se fala com ela é considerado
um sinal de educação e respeito.

As normas de uma sociedade mudam com o passar do tempo. No século passado, muitas sociedades mudaram
suas visões sobre diversos assuntos de grande importância: por exemplo, os direitos das mulheres e das
minorias. Um número maior de mulheres passou a adentrar o mercado de trabalho, o divórcio se tornou mais
aceitável socialmente e membros de minorias passaram a sofrer menos discriminação.

Os valores de uma sociedade são os princípios ou os padrões aceitos: certo ou errado, bom ou ruim.
Dependendo da sociedade, os valores podem variar muito. Por exemplo, no Brasil, muitas mulheres consideram
que ser magra é sinônimo de beleza: a maioria das modelos profissionais é magra. Já em Gana, são consideras
belas as mulheres robustas, não as magras.
É importante ressaltar que uma mesma cultura pode apresentar valores conflitantes. Isto é, os membros de uma
sociedade podem não agir conforme seus próprios valores. Por exemplo, uma sociedade como um todo pode
valorizar a caridade e a ajuda aos pobres, mas muitos de seus membros podem não estar dispostos a
compartilhar parte de sua riqueza com os menos afortunados. Os sociólogos fazem distinção entre o que as
pessoas fazem e o que elas dizem. A cultura real constitui os valores e normas que uma sociedade segue. Já
a cultura ideal é um conjunto de comportamentos que a sociedade considera positivo, mas que não
necessariamente é seguido por seus membros.

As crenças são as opiniões adotadas com fé e convicção e que são sustentadas pelos valores de uma sociedade.
Por exemplo, a sociedade norte-americana crê no direito da livre expressão: no direito de uma pessoa falar o que
quiser a respeito de seu país e do seu governo sem ter medo de sofrer represálias.

Rituais ou cerimônias culturais variam de sociedade para sociedade. Os rituais marcam as transições da vida:
refletem e transmitem, de geração em geração, as normas de uma cultura. As cerimônias de formatura são um
exemplo de tais rituais.

Em algumas sociedades, comemoram-se os períodos de transição da vida. Por exemplo, em algumas sociedades,
comemora-se o primeiro ciclo menstrual da mulher.

Em muitas culturas, os homens têm suas próprias cerimônias de iniciação. Uma das mais famosas é
a circuncisão. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria dos bebês de sexo masculino é circuncidada poucos
dias após o nascimento. Se o menino é judeu, é realizada, no oitavo dia de seu nascimento, uma cerimônia
religiosa em que ele é circuncidado. Entre os Masai, uma tribo da África Oriental, a circuncisão serve como
teste de bravura.

Os artefatos – objetos manufaturados –constituem outro importante elemento da cultura. Em sociedades mais
simples, os artefatos são as ferramentas utilizadas para o trabalho, as cabanas construídas para habitação e as
vestimentas típicas de seus habitantes.

Hierarquia de Culturas

Diversidade cultural significa a existência de várias culturas e de diferenças culturais: toda sociedade possui
sua própria cultura. Mas diversidade cultural pode existir também dentro da própria sociedade. É o que ocorre
quando há subculturas e contraculturas.
Em sociedades onde há uma grande diversidade de pessoas, há, geralmente, um grupo que é maior ou mais
poderoso que os outros. Isto é, uma sociedade é constituída por uma cultura dominante e por subculturas e
contraculturas.
A cultura dominante
A cultura dominante de uma sociedade é o grupo constituído pelo maior número de pessoas ou o grupo que
exerce mais poder sobre os outros.

É importante ressaltar que um grupo não precisa ser constituído pela maioria dos habitantes de um país para que
seja a cultura dominante. Na África do Sul, por exemplo, havia quatro vezes mais negros do que brancos.
Contudo, sob o apartheid, regime de segregação racial e dominação, que esteve vigor de 1948 a 1991, a
população branca controlava o país, política e economicamente. Era, portanto, a cultura dominante da África do
Sul.

Subcultura
Uma subcultura é um grupo que vive de forma diferente do que a classe dominante, mas que não se opõe a ela.
Uma subcultura é uma cultura que existe dentro de outra. Por exemplo, o espiritismo é uma subcultura que
existe no Brasil – um país predominantemente cristão. Os seguidores das Igrejas Protestantes do Brasil também
constituem uma subcultura, pois a maioria da população brasileira é católica. É importante ressaltar que
membros de tais subculturas também fazem parte da cultura dominante. Todavia, também possuem sua própria
cultura, tanto material como não material, que constitui uma subcultura.

A religião não é o único elemento que define uma subcultura. Localização geográfica, idade, ideias políticas,
status financeiro e preferência sexual também são fatores que podem constituir subculturas.

Contracultura
Uma contracultura é um grupo cujos valores se opõem aos da cultura dominante. Uma contracultura pode ser
violenta ou pacífica. Por exemplo, os hippies brasileiros da década de 1960 constituíam uma contracultura, pois
eles se opunham a muitos dos valores compartilhados pela maioria da população brasileira. Os hippies eram, em
geral, pacíficos, mas se opunham a vários elementos da cultura dominante, como o casamento e a acumulação
de riquezas.
A maioria dos integrantes de contraculturas, como os hippies e os grupos que organizam protestos, é geralmente
adolescente ou jovem. O motivo desse fenômeno é que a juventude é uma época em que muitas pessoas vivem
uma crise de identidade e buscam novas experiências. Cedo ou tarde, a maioria dos membros de contraculturas
se adapta aos valores e normas da classe dominante.

Interações Culturais
Há sociedades em que coexistem diversas culturas. É quase inevitável que haja desentendimentos, preconceitos
e até conflitos entre membros de diferentes culturas. Contudo, é possível que aprendam e viver em harmonia e
que uma cultura passe a apreciar as outras. É necessário que haja coexistência entre as diferentes culturas de
uma sociedade porque é praticamente impossível mantê-las isoladas. A interação entre elas é inevitável. É
importante, portanto, que a existência de diversas culturas enriqueça e fortaleça a sociedade, e não, que
represente uma fonte de conflitos e desentendimentos entre seus membros.

Assimilação e multiculturismo
A assimilação é o fenômeno em que a cultura dominante absorve grupos culturais, subculturais e
contraculturais. Assimilação significa que uma subcultura ou contracultura adota os valores e hábitos da cultura
dominante.

Hoje, passou-se a aceitar a ideia de que é possível que haja coexistência ente culturas sem que haja assimilação.
Essa perspectiva, denominada multiculturismo, respeita as diferenças culturais em vez de exigir que a cultura
dominante assimile as demais. O multiculturismo ensina que é importante que certos valores culturais sejam
compartilhados por toda a sociedade, mas que é também desejável que haja diferenças culturais. Por exemplo,
hoje, em certas escolas nos países ocidentais, os alunos aprendem que sua cultura não é a única e nem superior
às outras e que há muito a aprender das demais culturas.

Etnocentrismo
Etnocentrismo é o fenômeno que ocorre quando um indivíduo ou um grupo de pessoas discrimina os membros
de outra cultura.

Um dos efeitos negativas do etnocentrismo é o menosprezo de culturas cujos padrões morais sejam diferentes.
As culturas que se consideram mais avançadas que as demais podem tentar impor seus valores sobre as demais.
O etnocentrismo pode, portanto, se tornar uma fonte de hostilidade, preconceito e conflito entre membros de
diferentes culturas.
Por exemplo, alguns indivíduos podem considerar absurda a adoração às vacas que ocorre na Índia. Mas esse
fenômeno é de grande importância para a cultura indiana e não deve ser ridicularizado por membros de outras
culturas.

Vale notar que os missionários que viajam para outros países para converter a população local para o
cristianismo praticam uma forma de etnocentrismo: incentivam pessoas a trocar sua religião por outra.
Um país que é frequentemente acusado de fomentar o etnocentrismo é os Estados Unidos. Os norte-americanos
dão imenso valor aos avanços tecnológicos, à industrialização e à acumulação de riquezas. Para muitos norte-
americanos, as culturas que não valorizam os avanços tecnológicos e o capitalismo são “atrasadas” ou “não
civilizadas”. Tal ponto de vista constituiu etnocentrismo: afirma categoricamente que o estilo de vida preferível
é o urbanizado e o industrializado.

Por outro lado, um repúdio à cultura norte-americana também constitui uma forma de etnocentrismo. Muitos
europeus consideram que a cultura europeia é superior a dos Estados Unidos e que os norte-americanos são
materialistas, arrogantes e intelectualmente inferiores aos europeus. Evidentemente, muitos norte-americanos
não concordam com esse ponto de vista.

Uma forma de etnocentrismo que pode ser bastante problemática é o nacionalismo. Esse fenômeno ocorre
quando uma nação se considera superior às outras. A Alemanha Nazista serve como exemplo de como o
nacionalismo pode resultar em terríveis consequências.

Relativismo Cultural
O relativismo cultural é um ponto de vista oposto ao etnocentrismo. Relativismo cultural significa observar os
sistemas culturais sem que haja qualquer tipo de visão etnocêntrica. Os relativistas culturais buscam
compreender os valores e as normas de outras culturas de forma objetiva. Relativismo cultural significa não
considerar nenhuma cultura superior ou inferior às outras. Significa reconhecer que todas as culturas possuem
prós e contras e que não devemos presumir que nossa cultura seja melhor que as demais.  

Exemplificando: na Índia, os conceitos de namoro, amor e casamento são bastante diferentes do que no Brasil.
Na Índia, o conceito de amor é importante, mas os pais escolhem os cônjuges de seus filhos. Os critérios para tal
escolha são: preparo educacional, religião, casta e família. Na sociedade indiana, acredita-se que o amor entre
marido e mulher se manifestará após o casamento. Na perspectiva etnocêntrica brasileira, o conceito de
casamento arranjado é um anacronismo, que limita o poder de escolha e, consequentemente, a felicidade do
casal. Um relativista cultural brasileiro não criticaria o conceito de casamento na Índia e concordaria que os
casamentos arranjados exercerem uma importante função social no país. 

Tanto o relativismo cultural como o etnocentrismo levantam muitas questões difíceis no mundo globalizado de
hoje. Não é fácil determinar se devemos ou não condenar as práticas de outras culturas que consideramos
ofensivas ou abomináveis. Por exemplo, na China, na Coreia e em outros países asiáticos, carne canina é uma
iguaria. Muitos brasileiros, principalmente aqueles que amam os cães, abominam tal fenômeno. Temos o direito
de condenar esse aspecto da cultura asiática? Por que é justificável abater vacas e porcos e não cães?

Evidentemente, há certas práticas de outras culturas que são mais facilmente condenáveis. Por exemplo, em
certas culturas, uma mulher que cometeu um ato que “desonrou” sua família pode ser executada pelos seus
próprios familiares. Em certas culturas, o conceito de uma mulher “desonrar” sua família significa recusar um
casamento arranjado, ter relações sexuais com alguém que não seja seu marido, ter relações homossexuais ou
ser estuprada.

Choques Culturais
Mesmo os relativistas culturais não estão imunes ao choque cultural. Choque cultural significa a surpresa, a
desorientação e o medo que as pessoas podem sentir quando se defrontam com uma nova cultura.
Por exemplo, muçulmanos muito religiosos vivenciam um choque cultural quando visitam a Europa Ocidental e
veem pessoas se beijando em público e mulheres que se vestem com roupas que não cobrem todo o corpo.

Cultura Global e Difusão Global


Difusão cultural é o processo por meio do qual traços culturais são difundidos. Um traço cultural pode ser
difundido tanto dentro da própria cultura como entre as demais. À medida que há mais interação entre culturas,
aumenta a difusão cultural.

Um exemplo de difusão cultural: vários aspectos da cultura norte-americana – os hambúrgueres do McDonald’s,


a Coca-Cola, os produtos da Apple, como o iPhone e o iPad – se tornaram muito populares ao redor do mundo.
Ao mesmo tempo, alimentos típicos de países orientais – como o sushi – passaram a ser muito apreciados e
consumidos em países ocidentais.

Alguns sociólogos preveem que o mundo caminha em direção à cultura global, que significa a ausência de
diversidade cultural. As culturas passam a se assemelhar graças à difusão cultural. De fato, praticamente toda
cultura é influenciada por outras. A difusão cultural ocorre graças ao comércio internacional, aos movimentos
migratórios, às conquistas de terras e ao turismo.
A difusão cultural geralmente ocorre em regiões onde habitam pessoas de diferentes culturas. A interação entre
elas gera difusão cultural. À medida que o mundo se torna mais globalizado, aumenta a difusão cultural. Nos
últimos anos, cresceu muito o turismo internacional. O crescimento dos meios de comunicação internacionais,
principalmente da Internet, tem ajudado a criar uma cultura global. Graças à Internet e às mídias sociais, nunca
houve tanto contato entre pessoas de todo o mundo, que representam uma grande variedade de culturas.   

Contudo, mesmo que alguns aspectos da cultura tenham sido globalizados, a grande maioria das sociedades se
mantém fiel às suas raízes culturais.

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