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As pr of es s oras do praze r

da dé cada de 70
aos me ios digit ais .
Quando observamos as estatísticas do prazer a nova onda do feminismo, tem se tornado uma
feminino nos perguntamos se a mulher se lib- bandeira política e não apenas um bem de con-
ertou alcançando os parametros neo-liberais de sumo. A autonomia sexual representa um passo
sucesso. Se liberou sexualmente para transar rumo a práticas de liberdade para as mulheres;
quando e com quem quiser. O que a impediu de um instante para se reconciliarem consigo mes-
libertar orgasmicamente? mas e se afastam de suas inseguranças.
Aos 89 anos, a norte-americana Betty Dodson, Este curso é o resultado do desejo de partilhar
ícone do feminismo, dá oficinas de sexo em sua anos de estudos sobre o prazer feminino e um
casa em Nova York. Desde os 5 anos de idade curso on line, é uma estratégia de difusão de
Dodson se masturba. Foi praticando orgias que saberes. São quatro anos, 8 cidades no Brasil e
percebeu a a maioria das mulheres fingem or- no mundo, mais de 150 mulheres, e muitas pá-
gasmo e prazer. A a sexóloga agradece sua vida ginas de pesquisa. Para curar minhas feridas
saudável a sua mãe, e alerta para os danos que os que o patriarcado deixou e através da sexuali-
pais causam cada vez que repreendem um filho dade positiva do feminismo pró sexo trazer infor-
por se tocar: “Se lhe dizem que isso é nojento, mações empoderadora do prazer para o maior
a primeira lição sobre sexo é negativa, quando número de mulheres. Para termos certeza do que
é um dos aspectos mais importantes no cresci- queremos precisamos estar sexualmente real-
mento de uma pessoa, e que obtenha prazer dis- izados, assim evitamos buscar jogos de poder
so”. Aos 35 anos, quando seu casamento aca- para compensar nossa impotência orgástica
bou, a segunda onda feminista eclodiu. Dodson
percebeu que havia deixado de lado um aspecto
que agarrou como sua bandeira de luta: a liber-
ação sexual das mulheres.
A profissão de empoderadora, coach, educado-
ra e sacerdotisa do prazer não é nova. Mas com
Que m que br ou minha s ex ualidade?
Nossa construção cultural nos afasta do orgas- A educação sexual e o empoderamento sexual
mo. Nosso segmento pélvico sofre de um encour- são um lugar para encontrar conforto com nossos
açamento resultado de uma resposta coletiva às próprios corpos. A informação nos traz recursos
opressões culturais e repressões sexuais e ma- para entender nossa sexualidade. Parar de perd-
chistas. Que atingem homens e mulheres pela via er a virgindade, para encontrar o orgasmo. Para
da masculinidade tóxica, e da construção do cor- redescobrir os nomes das relações com nossos
po socialmente escrito. “menino não rebola, não corpos.
chora” “menina não sobe em árvore, fecha pern-
inha”. O estímulo do citoris está vinculado ao auto res-
peito, ao prazer. A masturbação é uma chave de
Até o século IXX a igreja católica sugeria orgamos autocuidado e descobertas pessoais. A mais com-
para diminuir a tensão , é apenas após essa data pleta zona erógena do corpo, contém 8 mil termi-
que o orgasmo passa ser associado com a epi- nações nervosas, e conexão com mais de 15 mil.
lepsia e a histeria. E assim a literatura reconheci- A função principal do clitoris é oferecer estimulos
da passa tratar o clitoris como inútil. Freud inven- sexuais, e orgasmos femininos. O clitoris é tão
tou o conceito de orgasmo vaginal. Associando a desconhecido, que mesmo sua versão mais pop-
sexualidade da mulher madura à penetração, e ular, o modelo 3D, às vezes é desconhecido dos
relegando o clitoris ao ostracismo. Doutor Freud médicos.
considerava que a mulher que não atingisse o or-
gasmo com penetração, precisava de tratamen- O feminismo é um saber subalterno. A construção
to. Segundo ele, “A eliminação da sexualidade cli- cultural do feminismo está vinculada à história da
toridiana é uma pré-condição necessária para o clínica. O sujeito de transformação que inicia o
desenvolvimento da feminilidade”, opinou Freud, nome feminismo política não era o corpo da mul-
“já que é imatura e masculina em sua natureza” her e sim os patológicos. Um médico afirma em
Doutor Freud era um inimigo do orgasmo. Talvez e em 1871 que a tuberculose, perde a masculini-
sua teoria sobre inveja do pênis, fale mais sobre dade. Essa feminilização é chamada de feminismo.
si próprio e a inveja do clitoris. No século XIX a feminilização do corpo masculi-
no tuberculoso. É Alexandre Dumas que confere
O orgasmo e o mapa de saúde. Orgasmos fre- o nome feminista aos homens que eram a favor
quentes fazem bem para pele, sono e reduz stress. dos direitos políticos das mulheres no movimen-
Eu venho convidar você hoje a ter uma relação to de sufragistas. Mesmo as feministas carregam
próxima com seu clitoris. E suas bucetas. É muito na etimologia do nome de sua luta o vínculo com
comum as pessoas serem curiosas sobre sexu- uma patologização do feminino no corpo.
alidade. Desde de 2015 eu tenho lido e escutado
muito sobre sexualidade. E descoberto sobre a Nesse contexto nosso corpo, o corpo feminino tem
subjetividade humana. É entendido como nossos sido um território que habitamos sem mal con-
prazeres são estímulos distintos para cada um de hece-lo. O que proponho aqui é um hackeamento
nós. Mas eu tenho observado a transformação de do nosso território. O nosso corpo e a perspecti-
muitas pessoas num aspecto, quanto mais ple- va com a qual o encaramos. Não podemos morar
nos somos como seres sexuais, mais completos numa casa que não sabemos onde ficam os pra-
somos enquanto ser humano. tos, numa cidade que não sabemos andar de ôni-
bus. É hora de nos conhecermos! É a hora de
Vejo muitas mulheres culpadas por serem quem resgatarmos nossos corpos e nossa sexualidade!
são, por sentirem desejo. Culpas incutidas por
homens, parentes, namorados, maridos. Um es-
critura cultural. Nossa sexualidade não está que-
brada. Nossa virgindade não foi perdida. Nos foi
ensinado que a sexualidade é algo que vem de
outras pessoas. Para menina, é uma construção
sobre a vergonha que devemos ter sobre nosso
corpo. “Fechas as pernas”, “Tira a mão daí” ”Para
de cheirar isso aí”, “menina não faz isso” ”slut-
shame”, ‘nossa você que transar de novo ``’’você
já transou com tantas pessoas?” “nossa mas você
fez ménage?” “credo mas você gosta de mulher?”
”perdeu a virgindade tão cedo?”. Existem muitas
formas de criar um corpo culpado. Quando con-
versamos, conhecemos mais histórias que nos
fazem similares. E mais natural a sexualidade
parece para nós. A contenção cotidiana de nossa
expressividade instaura em nós mulheres a inca-
pacidade crônica de viver orgasmos plenos, por
conseguinte uma insatisfação também crônica.
o cor po
do praze r

Out r os cor pos


Embora a filosofia e biologia de genero tenha evoluído cada vez mais mas num sentido humanista, ten-
do a des binarização como alternativa, na prática médica os sujeitos falantes intersexo não são medica-
mente tolerados . A função da medicina é heteronormativa-lo binariamente como homem ou mulher “
curando a anomalia”, e o’acordo da ciência é cirurgia normativa o mais rápido e harmonização, patol-
ogizando uma especificidade do corpo que é como nascer com olhos verdes ou negros. A norma é de
de acordo com o tamanho do pênis tornar a pessoa de genitália ambígua homem ou mulher, quanto
maior o pênis mais chance de ser penis quanto menos mais chances de virar clitoris. A questão é: os
médicos/estado/jurisdição – ou mesmo os pais – têm o direito de tomar essa decisão em nome do su-
jeito falante?
Até hoje a medicina castra mulheres se achar que sua clitóras é muito grande ao ponto de parecer um
pequeno pênis. Aparentemente a família se incomoda com a estética da genital de seus filhos, tudo deve
parecer ” normal”, ou seja , dominado pelo padrão da invisibilidade. Esses bebês e crianças castradas
por estéticas, sem que sentissem nenhum tipo de dor , passam a ter dores e problemas nervosos de-
pois da remoção. Essas pessoas tornam-se incapazes de sentir prazer sexual pelo resto de suas vidas.
Para os pais acharem que ela tem uma vagina bonitinha e os médicos são os açougueiros dessa bar-
bárie. Existem mais merms, herms e ferms que albinos hoje sendo castrados pela ciência da normali-
dade. Uma a cada duas mil crianças é considerada sexualmente anormal para que o binarismo exista
e o patriarcado prospere. A cirurgia estética de órgãos genitais em crianças é um problema de direitos
humanos tão sério como a castração de meninas africanas e muçulmanas inclusive em solo europeu,
sobretudo na Inglaterra, como bem se sabe.
Mais de 56 mil brasileiros têm uma morfologia genital e ou hormonal e existência cromossômica im-
passível de ser identificada como homem ou mulher, o que só prova que essa designação é uma no-
menclatura arbitrária em favor de uma economia erótica falo centrada hetero capitalista. Anne Faus-
to-Sterling, professora de Biologia Molecular da Universidade de Brown, no estado americano de Rhode
Island, e especialista no tema, garante que o número é o dobro: um bebê em cada 1, 5 mil. A bióloga
Sterling defende, a existência de cinco sexos, sendo eles o masculino, o feminino, o “herm” (de herma-
froditas, pessoas que possuem formações de testículos e de ovários ao mesmo tempo), o “ferm” (pes-
soas com ovários e alguma expressão da genitália masculina) e o “merm” (indivíduos com testículos e
algo da genitália feminina).
Um menino que nasce cromossomicamente , com um penis considerado pequeno demais para os pa-
drões estéticos médicos: menor que dois centímetros, mesmo com bolsa escrotal completa. Será cas-
trado, em lugar de seu genital masculino será colocado um buraco penetrável, que ele pode transformar
em vagina com uma vaginoplastia aos 18 anos. Esse bebe irá crescer tomando hormônios femininos, e
será inscrito na sociedade como mulher. Essa crueldade está vinculada à estética. É um dos exemplos
mais cruéis de arbitrariedade patriarcal heterocapitalista falocêntrica, que atinge bebês homens. Não é
só o corpo feminino que sofre, mas qualquer corpo que possa ser feminizável. O trabalho de Preciado
inaugura uma ruptura epistemológica do dildo, porque quer colocar na claridade o que o falocentrismo
tem praticado, e a injustificação semiótica dessas violências. Um filósofo chamar o dildo de substituto
semiotico do penis, é uma forma de dar visibilidade aos direitos humanos dos intersexo.
Assim o corpo político do prazer feminino está em corpos masculinos que podem ser feminilizados sem
sua permissão ou consciência. Cultura do estupro e consentimento estão antes da cama, em compor-
tamentos médicos e jurídicos. Falar de prazer feminino é papo sério. Nossa anorgasmia feminina oci-
dental, a castração de clitoris e de bebes intersexo estão intimamente conectadas.
Clitór is
O corpo da mulher tem sorte. Nós possuímos o único órgão do corpo humano, cuja única função é dar
prazer quando estimulado. Um órgão dedicado ao prazer: o clitóris. Aquele pequeno clitóris que vemos
externamente em nosso corpo, é a ponta do Iceberg de um órgão bem maior, que fica no interior de
nossos corpos, o que vemos é apenas a glande. Cerca de 2 a 10 centímetros de clitóris estão escondi-
dinhos lá dentro do nosso corpo. Acredita-se que a maior parte das mulheres atinge o orgasmo vaginal
pelo clitóris, embora as mulheres também possam ter orgasmos estimulando por exemplo: o “fórnix an-
terior” o “ponto A” ; ou a glândula skene o ponto G. As estatísticas mostram que apenas 25% das mul-
heres conquistam orgasmos vaginais. A glande do clitoris possui 8 mil terminações nervosas e conexão
com mais 15 mil. Enquanto o penis tem apenas 4 mil.
O clitóris anatomicamente, se assemelha a um pênis, ele se alonga e enche de sangue quando está
excitado. Em 1545 Charles Estienne descreve um clitoris que ele disseca, de formato ainda incorreto
anatomicamente, ele descreve o clitóris como um órgão da vergonha da mulher, conferindo uma cono-
tação médica pejorativa com relação ao clitoris, o prazer feminino. O clitóris foi descoberto, e redesc-
oberto, algumas vezes pelos homens. No ano de 1559 Renaldus Colombo descobre o clitoris com o
nome de “Amor Veneris, vel Dulcedo Appellatur’’. Foi o segundo anatamista a descrever a clitoras de-
pois de Hipocrates, como um orgão lindo e muito útil; seus textos, todavia, no processo de estrutura das
revoluções científicas ficaram esquecidos diante dos de seu mestre; Vesalius, quem permaneceu na
história, e assim este conhecimento desaparece. Apenas cem anos depois Regnier de Graaf vai reen-
contrar nossa amiga a clitóras acreditava piamente na necessidade do órgão pois sem ele uma mulher
jamais se convenceria de ser mãe. Na antiguidade até a idade média, acreditava-se que a mulher pre-
cisava ter orgasmos para conseguir engravidar.
Mas então mais uma vez a clitóras desaparece dos livros de anatomia aceitos pela comunidade cientí-
fica por mais 200 anos. Em 1844 George Kobelt publica uma série de ilustrações excelentes que torna
impossível pra comunidade científica ignorar o clitoris, outras ilustrações entre verídicas e um pouco
fantasiosas começam pulular nos livros de anatomia, em 1900 Gray’s Anatomy a biblia médica, pos-
sui uma clitóras , todavia na edição de 1947 a clitóras já tornou desaparecer. O médico Charles Goss
elimina o órgão em sua edição É importante pensar nas mudanças que as mulheres viveram durante o
período de guerra, acessando trabalhos que desde a transição do capitalismo apenas homens podiam
acessar, a fim de manter as mulheres como mão de obra reprodutora, e cuidadora escrava da casa fil-
hos família.
Me pergunto de onde Freud tirou a idéia de jerico que a mulher tem inveja do pênis. ” se o pênis é uma
espingarda a clitóras é uma metralhadora com capacidade de disparo significativa”.Dado que a moral
em geral obnubila a razão, a moral cristã passa interferir nos laudos médicos, que param de sugerir a
fricção com óleos perfumados na vagina, o clitóris passa a ser um órgão que a besta colocou na mulher
segundo Rabelais um médico renascentista. Podemos dizer que o Renascimento é a idade das trevas
para o corpo feminino.
Na caça às brujas, uma clitoras grande era considerada uma marca da besta. Mais para frente a ciên-
cia para ser aceitável se transforma em anomalia ou doença. A excitação sexual era descrita como algo
que destruía o equilíbrio mental da fêmea. E a masturbação era patologia, bem como sexo oral e lesbi-
anismo causavam de morte a icterícia segundo os hipócritas da época.
EJACULAÇÃO
FEMININA
E J A C UL O, L OG O O C OR P O NÃ O É B I NÁ R I O
“Esta expulsão convulsiva de fluidos ocorre sempre no zênite de orgasmo e simultaneamente para ele. Se
você tiver a oportunidade de observar o orgasmo dessas mulheres, pode-se ver que grandes quantidades
de líquido claro e transparente são expelidos em surtos não da vulva mas da uretra. No começo eu pensei
que fosse o esfíncter da bexiga defeituoso por causa da intensidade do orgasmo. A expulsão involuntária
de urina é relatada na literatura sexual. Todavia, o fluido foi examinado e não é de natureza urinária. Estou
inclinado a acreditar que a referida “urina” que é expulsa durante o orgasmo feminino não é urina, mas ape-
nas secreções das glândulas de correlação intra uretral com a zona erógena ao longo da uretra na parede
vaginal anterior. Além disso, as profusas secreções que saem com orgasmo não tem função de lubrificação,
ou de outra forma eles seriam produzido no início da relação sexual e não no auge do orgasmo” - Ernest
Gräfenberg*
Em 1895, um artigo científico em Scientific Amer- masturbação profissional feminina, antes de gan-
ican – “Woman and the Wheel” – tratava uma har popularidade com massagens tântricas, ter-
questão: saber se as mulheres deveriam, ou não, apias orgásmicas nas mãos de pornoklastas, já
ter permissão para andar de bicicleta devido sua era uma velha conhecida dos psicanalistas que
morfologia. tratavam toda uma classe de mulheres chamadas
de histéricas. Nicolaus Fontanus inclusive chega
A ciência mainstream é inimiga das mulheres, vem afirmar que a ejaculação é um sintoma da mulher
patologizando, ou silenciado tudo aquilo que não se histérica que é péssimo para moral e saúde femi-
adequa aos parâmetros do heterocapitalismo falo- nina, já que assemelha a vagina a um pênis. Uma
crata. Os órgãos genitais secundários para medici- afirmação que é mais um juízo de valor que uma
na, portanto, são aqueles que não prestam para re- descoberta médica creditável.
produção, a ciência considera inútil os órgãos que
não servem para reprodução. Assim existe uma cis- A glândula Skene que é responsável pelos fluidos
ão na linguagem entre genitais internos e externos femininos é sempre um dos primeiros órgãos a
que designa o corpo. As partes referentes à repro- serem retirados do corpo da fêmea em casos de
dução: os órgão reprodutores primários, e aqueles situações como incontinência urinária. Como con-
que chamamos secundário cumprem função de ta Diana Torres em um vídeo Taller sobre os po-
dar prazer, e ou lubrificação para mulher. Ou seja, deres da próstata feminina de um caso de uma
dar condições físicas para que ela queira e possa aluna sua ejaculadora nata que foi castrada pelo
ser penetrada de maneira agradável, o os órgão médico com a desculpa que sua ejaculação era
que dão recompensa para que mesmo sabendo incontinência urinária.
que ela enfrentará nove meses de azia, cansaço
e vontade de fazer xixi, além de necessidade de Durante o século XIX o desejo feminino era consid-
alargar os músculos perineais, e engrossar a pele erado doença. A cura era uma massagem clitori-
do mamilo, ela ainda assim queira copular garan- ana até a mulher alcançar o orgasmo, ou como era
tindo a perpetuação da espécie, são os que são chamado paroxismo histérico. Em 1880, o médico
chamados secundários. Acho muito difícil que as inglês Joseph Mortimer Granville inventou o vibra-
mulheres se convenceram, ou ainda mais dese- dor movido à manivela. Em 1869 o médico George
jariam ser mães sem gozar da experiência orgás- Taylor criou o “The manipulator”, nosso velho ami-
mica, se não fosse a demonização do prazer da go: o vibrador, com intuito de garantir sua habili-
caça às bruxas, e o genocídio feminino, somado as dade de atender mais pacientes. Enfim, não é difí-
propagandas do pós-guerra. O que para mim diz cil notar a urgência criativa de nossos doutores do
que mesmo quando avaliados de maneira repro- vidro, que era um tema popular, e um tratamento
dutiva, os órgão genitais da mulher com funções acessível a quem pudesse pagar.
de prazer são sine qua non para a natureza.
O que chamamos de sexo se resume em muito
«Otros autores lo dividen en órganos esenciales y pouco. Quinze minutos de bolinação em busca de
órganos accesorios, tomando como órganos esen- algo que se convencionou a chamar de orgasmo,
ciales las gónadas femeninas los ovarios y como quando nossos ancestrais teriam rituais de com-
órganos accesorios los conductos, glándulas sex- promissos de dias, em busca de encontros eróti-
uales adicionales y los genitales externos» cos plenos.
Acho interessantíssimo pensarmos que Freud irá Nossos déficits não estão só no passado pesqui-
dizer que a mulher que apenas tem orgasmo clito- sadores da Chapman University, da Universidade
riano tem uma sexualidade infantil, quando a única de Indiana e do Instituto Kinsey descobriram que
e exclusiva função do clitóris é dar prazer a mul- 95% dos homens heterossexuais disseram “Geral-
her, como papilas gustativas aos humanos, ou seja mente ou sempre orgasmo”, sendo sexualmente
manter-nos vivos, ninguém poderia se não sen- íntimos, mas apenas 65% das mulheres heteros-
tisse prazer, logo não se perpetuar a espécie. A sexuais disseram o mesmo.
Ejaculação
Muitos artigos médicos afirmam que aquilo que chamamos de squirting é apenas urina: mas uma uri-
na diluída, e alterada; com quantidades marginais de PSA (antígeno prostático), que por um acaso sai
pela glândula de skene, e não pela uretra, mas que possuem as mesmas substâncias que a urina. Que
a bexiga estava vazia e se incha minutos antes do orgasmo com ejaculaçãwo. São só os juízos de val-
or que operam aqui como juízos médico-científico para chamar uma coisa de “quantidade marginal”, e
afirmar que uma substância A é a mesma que uma substância B mesmo que entre elas exista:
* uma diluição
* uma alteração composicional (não explicada)
* uma substância a mais: líquido de porra psA (em quantidades marginais).
Todavia desde 1978 sabe-se que as glândulas parauretrais das mulheres são idênticas às masculinas,
que ambas as glândulas têm a capacidade de ejacular e que o fluido ejaculado é praticamente o mes-
mo. Foi concluído, com testes laboratoriais e autópsias, e comprovado repetidas vezes com resultados
irrefutáveis. Porque essa informação ainda é tão pouco divulgada?
A ejaculação não dá necessariamente mais prazer, e orgasmos mais ultimate para as mulheres. Nen-
huma mulher deve se sentir menos feminista por não ejacular. O importante aqui não é uma corrida de
performance mas entender que a próstata feminina existe, que este órgão pode expelir ejaculação fem-
inina, que o líquido é antígeno prostático. Que isso era aceito na África e Índia como parte regular da
sexualidade. E que é uma forma de prazer que foi sequestrada da mulher, é uma dívida histórica, um
ato político de cuidado e governamentalidade de si.
Não estou dizendo que não é um prazer intelectual enorme ejacular, principalmente como metáfora
política-como quando apago as palavras burocracia, paramilitary, fronteira, colonialismo depois de uma
masturbação pública, mas estou esclarecendo que nosso orgasmo fluido é funcional, e sua função é
expelir fluidos e evitar inflamações. Se você é mulher tem glândula skene, se tem glândula skene é
possível que você ejacule, então você deve como cuidado de si estimular seu corpo. Como ser falante
penso que está mais do que na hora dos orgasmos femininos deixarem de ser discretos, não só sono-
ramente, é o momento de ensoparmos lençóis e colchões.

Toda mulher possui glândula skene e portanto a faculdade de ejacular ao estar excitado se estiver estim-
ulando esta parte, a mesma estiver inchada, o canal não estiver contraído e ao longo do dia ele tive se
hidratado bem, algumas descobrem sozinha, umas com ajudas do parceires, outras em oficinas! Se as
parceires souberem estimular elas mesmas podem ensinar!
O que é glândula Sk e ne?
É uma área que sempre existiu, mas que recebeu o nome do cientista que resolveu estudá-la, desc-
oberta originalmente por Gräfenberg são glândulas de correlação intra uretral com a zona erógena
ao longo da uretra na parede vaginal anterior, são tubos que deságuam na uretra e se assemelham
a próstata do homem. O que é este líquido ? Antígeno prostático, enzima PSA!

Segundo Alexander Skene “Quando descobri essas glândulas pela primeira vez, presumi que eram
folículos mucosos que tinham um tamanho incomum acidental no objeto examinado, mas depois de
investigá-los em mais de cem sujeitos diferentes e de encontrá-los constantemente presentes e tão
uniformes em tamanho e posição, percebi que eles mereciam um lugar separado na anatomia de-
scritiva”

Como eu me e ncont r o?
“Digamos que a próstata esteja localizada ao redor Kama Sutra (século XVI D.C). Neste texto fala-se
da uretra (que é o tubo que conecta o bexiga com em esperma ou kama-Salila (usado como sinôn-
o exterior) e que está enraizada nela. Isso ocorre imo) como o líquido expulso homens e mulheres
em paralelo ao vagina e que está posicionado a durante o sexo. Ao longo de todo o texto é dado
cerca de dois centímetros da entrada deste. Essas a esta importância primordial líquido para saber,
são as coordenadas para que você possa achar por exemplo, os tipos de homens e mulheres que
seu lugar. É muito simples de fazer, você só preci- existem com base no odor ou sabor da sua den-
sa colocar os dedos na sua vagina quando estiver sidade kama-Dalila. Também é fundamental para
excitada (algumas, dependendo do tamanho de fazer poções e pomadas de feitiço de amarração
sua próstata é possível que você não vai precisar da pessoa amada. Kama-Salila é algo como “Paix-
nem mesmo disso) e pressione com os dedos a ão da Água”, embora possa ser traduzido ” água
próstata seu osso púbico. Você vai notar que há da vida “. Exaltando a ideia que vida e prazer an-
uma parte que é mais densa e que ao contrair os dam de mãos dadas.
músculos da vagina não contrai (porque não é um
músculo). Além disso, se você movê-lo para os la- É só depois do período vitoriano que a ejaculação
dos, é como indescritível. É muito bonito receber feminina vira fenômeno fantasma. Em algumas
nosso novo órgão pela primeira vez recuperado e tribos matriarcais de Ruanda as meninas são en-
uma das melhores técnicas para conectá-lo com sinadas em rituais básicos de iniciação sexual a
o nosso cérebro.” ejacular pelas mais velhas, as meninas que não
sabem ejacular ainda não estão prontas para o
Ao enfiarmos o dedo no interior da vagina nes- matrimônio. No filme “Água Sagrada” é possível
sa posição, é possível encontrar um tubo que tem contemplar que em Ruanda, o país com o maior
da grossura e tamanho de uma falange de dedo número de mulheres no parlamento ( é importante
mindinho até a largura de um penis médio e o ta- lembrar que o país vive numa pseudo-ditadura e
manho de um penis pequeno. Ao equilibrar o duto que o poder deste parlamento é restrito, todavia,
-que tem formato cilíndrico e textura de cartilagem as mulheres nele têm sanado problemas de saúde,
de orelha-, entre os dedos girando e pressionando saneamento básico e genocídio e estupro femini-
a mão podemos atingir muito prazer no de maneira mais favorável que o parlamento
anterior com menos representatividade feminina)
Não, não é xixi, é esbranquiçado, e não amarelo a ejaculação feminina é considerada sagrada. O
e tem um odor e sabor distinto do xixi, nada con- prazer sexual que as mulheres vivenciam parece
tra o xixi, mas não é xixi. Existe relação entre esta conferir-lhes performances políticas mais empod-
glândula e o ponto G? Vamos começar esclare- eradas. Gerando uma conexão tênue, entre o em-
cendo que uma área G em proporção ao tamanho poderamento sexual da mulher e sua performance
do corpo humano ela tem entre 2 e 5 centímetros social no mundo.
e incha durante a excitação, sim existe relação en-
tre a área G e a glândula Skene! Como qualquer Conhecer seu corpo é uma prática fundamental
órgão do corpo, quanto mais estimulada com mais da ética do cuidado de si, não confie na ciência
facilidade se obtêm uma resposta, basicamente a mainstream, desconfie dos médicos. Falar sobre
mulher que quer ejacular só precisa bater muita sexualidade: pornôklastia. Difundir o conhecimen-
siririca! Não acredite na patologização da ciência to, uma prática que a queima de brujas se extin-
contra o seu corpo, especificidades não devem ser guiu e é preciso ser retomada. O patriarcado nos
consideradas anomalias, e se não tivessem quei- oprimir nos fez crer que nosso prazer era pequeno,
mados cem mil “brujas” é certo que mais mulheres metafísico, discreto, mas não ele pode chegar a
saberiam sobre como ter orgasmos e ejaculação. um litro. E não é freak, a pornografia mainstream
apresenta nossa ejaculação como uma aberração,
Textos de Hipócrates mencionam a ejaculação pedago-pornografizar, pornoklastar é uma forma
feminina como fenômeno comum. Existem textos de se inscrever como subjetividade ejaculante num
Hindus também sobre ejaculação femininas, o contexto sagrado e politico, como uma ética do
Ananga Ranga, escrito muitos séculos depois do cuidado de si.
Sue Nhamandu
Esquizoanalista.
Mestre em filosofia scholar bolsista Erophiloso-
phie Erasmus Mundus Jean Jaures e autônoma
de Barcelona.
Vencedora do premio select de arte e educação
2018

CONTATO
(11) 9989-83156
bucetyka@gmail.com
bucetyka@gmail.com
@casabucetyka
@bucetyka

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