Você está na página 1de 135

Pierre Dufouer

'

-tvzo

ela

apaztqa
TRADUÇÃO DE ODÍLIA DE FREITAS

e r3asanzento

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

CASA DO CASTELO - EDITORA


COIMBRA- 1947
Pode imprimir-se.

Coimbra, 9 de Julho de 1947·

t ANTÓNIO, Bispo de Coi,nóra.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Prefácio
STE livro é dedicado às raparigas que
E sonham com o casamento. Com ele se pre·
tende elucidá-/as acerca da natureza e fins,
dificuldades e alegrias, grandeza e deveres do
nzatrimó11io. AssinJ julga11tos ajudá las
- a prepa ·

rar·se devida1neutc, a escolher o companheiro e a


definir a sua conduta dura1zte o noivado.

Obras excelentes tên� sido pu blicadas sobre estes


assuntos, mas et1z que se dá preferência ao aspecto
filosófico ou 'nora!. Raros são os escritos que os
1ncara1n sob o onto de vista psicológico; c, por
p
s s o, lhe dantos a priutazia neste voltttne.

O texto é dnJido à colaboração du111 ntoralisla,


d1 pais e tnães de família, de rapazes e de rapa·
rigas. Agradecenzos a todos e, particttlarmenll,
aos rapazes e às raparigas, quaisquer suges/ÕIS
ou reparos.

O público recebeu tJ primeira ediç4o mHilo


favordve�menle. Fica,nos-llte agradecidos. Várias
6 Q Lio,-o da Rapariga
-------

raparigas escr4veram-nos dize11do que a lellt�ra


deste livro fora para elas ocasião cf• reflexões
úteis e o ponto de partida d8 decididos esforços
para adquirirem um maior dominio da sua sen­
sibilidade. Os esforços serão recompensa­
nossos
dos se de facto contribuirem para a formação
de excelentes esposas e de melh o res educadoras.
É esse o Hosso dese_jo.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRIMEIR:\ PAR'Tr:

O casamento

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1

Mais belo do que em sonho I. · ·

DANDO sonham con1 o seu futuro


Q casamento, mesmo que tentem
foros de realidade, geraln1ente as rapa­
.dar-lhe

rigas são vítimas das convenções, dos livros


e da sua in1aginação. Tecem belos sonhos,
fazem lindos castelos no ar, que, infelizmente,
se afastam qu ase totalmente da realidade.
Poderemos acusá-las, com r-aiÁo, de rot:pan­
tis.mo; censurá-las por cr iare m numerosas ilu­
sões a propósito <lo casamento, do cônj uge ê
dos filhos. Mas a culpa será verdadeiratnen te
·delas·�
As raparigas tên1 u1na tendên�ia natural
_

para encarar �o casa1nento con1 demasiado


sentimentalismo, e a ntaioria dos romances
etcritos para seu uso são mui to propícios ao
(lesenvolvimento desta n1entalidade. Nestes
livros vivem príncipes encantadores, maridos
e �sposas de tal anodo ideais que na rea­
lidade nao se encontra um eul de% nli
l.

tSCrito co•no se
tudo
.(J caaan1cnto ve1n de
0 Livl"o da Ra;ariga·
IO

dec orr ess e atmosfera c on s tan t e de anla­


en1
bili d ad es e d l i cadeza , num amàr se
e mpre

ardente. . . O r esultado desta deformação sis­


temática é infalível: ·um grande nún1ero de
p
ra arigas o espírito falseado por estas.
com
u
leit r as , sofre ao contacto com o verdadeiro
casamento, uma extraordinária de cepçã o e,
não se adaptando completamente, guarda no
coração, duran te muitotempo, a des ilus ã o e
i
o sofrimento. A r e al d ad e , muito diferente do
sonho longínquo deixa- l h es a nostalgia dum
Eden in1 agi á r io , que outrora encantara o seu
n
e�pírito.
Se é_ incontestáve l
que as raparigas tên1
sobr� o casamento uma concepção dem asia do
sentimen tal e tod a d o çu r
a , é tambétn verdade
que, por outro lado, elas
não 0 concebem
em
toda a sua amplidão e g ra d e z a . Estão lo nge
n
de �escobrir e
de ap reciar d etalhadam e nte
1qu z as autêntica
r e
as
s que nele se ocultam
e �ue u
De s lhe asso ciou. Ao inve stigarmos
�n ats a fundo a mn
a e i r a co m o as raparigas
1magtnan1 o se
u c asam ento de atnanhã, con­
.
cluímos qu e ela
s e s p eram essencialnlente
,
para não dizer
exclusivaniente: o prazer d
e
amar e de ser em a ad as . Tudo,
m imaginan;.
stã
ável , marid o e filhos; e
elas, será agrad
bOS '
á-l os com desvelos e carl. n
prontas a trat
a . rod e á e�
1o s de ternura e de afetç a · ant
Clpadamente 0' '·iril
se refugia•n no seu atuor

·
'
O Casamento li

e forte e sen tetn -se deliciosantente en v�l vi­


das pelo seu cândido reconhecintento.
Estas esperanças não s ão desprovidas de
no h reza nem de generosidade. Ao contrário
dos sonhos dos rapazes etn que so br e s sae tn
as ...vantagens pe s soai s a gozar, os sonhos das
raparigas conduzem-se 1uais espontaneamente
para a felicidade que desejam es pal har e fazer
reinar à sua volta. Reconhecendo-lhes esta
�uperioridade, será permitido sublinhar que
uma tal concepção do amor implica, tantbém,
bastante egoísmo e assenta quase inteiramente
sobre a e s pectat i v a de alegria e de tern u ra .
O mesmo sucede com os sonhos tnaternais
das raparigas: el�s sonham sobretudo e quase
exclusivamente com a felicidade que experi­
mentarão em ser « mamãs �. lntaginam desde
já a fisionomia de seus filhos: serao lindos,
ge n t i s , asseadinhos, inteligentes; as suas refle ­
xões cândidas e as s u a s observações i n gé nu as
e frescas conquistarão í,l siJnpatia e o louvor
de todos ; provocarão a adnliração, u 111 nadinha
de inveja talve:a; e a n1amA sentir-se-á pro­
� »

fundamente orgulhosa d eles ! , .. Que felicí·


dade vesti-los, rodeá-los de cuidados, ve-Ios
crescer, receber os seus afagos t' os seus
beijos!... Positivarnente �s suas criancinhas
serao lUaravilhosaanente bent e duca das ! Enl
nada ae parecerão corn tantas outras que p o r
aí se encontram mal educadas. Qual será a
12 O Liiwo da Rapariga

ra pari g a que não sonho u : c não seria eu que


educaria assim os nieus filhos!,. E . . . , nos
sonhos ... , estes slo espantosamente dóceis
aos conselhos maternais.
Este ctuadro desfigurará por acaso a m en ta li ·
dade da rapariga? Não . serã assim, dum modo
geral, que ela encar a o casan1ento e a mater ­
nidade? Não os considera sobretudo sob o
ponto de vista da ter nu ra e alegria pessoais?
É evidente que estes pensamentos são legí­
tinlos, mas estão longe de esgotar t odas as
-riquezas reais e de encarar o casamento colll
a amplitude convenie nt e . Ele é,. na realidade,
.uma i nst itu ição muito mais importante e infi­
nitamente m ai s bela. Nos desígnios de Deus
não é u nica in en te isso: c abe- l he ainda a missa.o
social e religiosa de manter e dilatar a Cidade
terrestre e o Reino de Deus pela p rocria ção e
educação cristã ·d os filhos:
·

Dir-se·á, talvez, que isto vem a dar no mesmo


� que estes dois a s pect os se confundem pràti ..
camente- o que nao é completamente exacto.
Na medida en1 que os sonhos das raparigas
são animados da 1nentalidade esboçada acinia,
o seu po nt o de vista, devemos confess�-lo,
é quase exclusivamente pessoal e de f�çlo
egoista. Para . corresponder aos desígnios de
Deus, dever-se-á considerar, antes de tudo, a
sua funçAo religiosa e social. Só as raparigas
contribuir para a e
que pe ns am en1 duraçAo
0 CQSQtiiiHfO 13

progresso da Cidade te rrestre e para a exten­


sAo da Igrej a e do Reino de Deus e que,
procurando a alegria, o sen inteiro dese nv ol ­

vimento e a sua fe licida de atendem a estes


motivos de sinte ressados, sómente essas enca­
ram o casamento e m toda a sua ple ni tu dé e
compreend�m tod a a sua beleza. Esta maneira
de considerar o casamento é muito importante
para o seu bo m êxito, tanto conjugal como
social. Para quem apenas anteviu doçura,
doçura de ser esposa, doç u ra de ser mãe, é
mui t o de temer que as desilusões da vida
conj ugal e as rudezas da m aternidade não
alterem profu n da m e nt e estes devaneios sent i ­
mentais e não de struam o entusiasmo dessas
virgens um tanto loucas e demasiado roma­
nescas.
Se, pelo co nt rá rio, forem para o casamento,
na.o em busca do prazer, mas para realizar
uma missão, terão muito mais probabilidades
de superar coraj osamente as dificuldades que
surjam. São, precisamente, as mulheres que
se con sagra m generosa e conscie nciosamente à
sua missa.o de esposa e de mie, que desc o brem
também a a leg ri a e a doç �a Ulo desej ad as .

as raparigas alarguem os seus borizon­


Que
tea, que sonhem cotn um casamento senrlo
mais doce, pelo menos maior, mais sólido,
mais. imponente, mais belo. A vida conjugal
exige um esforço consciente, tenaz e generoso
U Littro J,., Rapariga
14-
-- ------� - --- .------· ---
-

para o desenvolvimento do mar i d



o . par . 0

te su as tar efa s soc1a1s,


tornar cor ajos o e for na s
dec e pções
e isto apesar das desilusões e das
encarada
inevitáveis. A maternidade deve ser
tante.
cotno un1a função social e religiosa impor
ra ­
Deseiar-se-á ser mã.e, não pela atracção ag
dável, mas porque educar os filhos é realizar
a vontade de Deus, salvar a Cidade terrestre
da v el h ice e da ruína, asseg u ra r à Cidad
e

celeste o recrutan1ento de eleitos. Se as iove�s


de hoie se r ec usa s se n1
a ser mães, o fin1 do
século con t aria apenas velhos e tún1ulos;
a Igreja n�o se reconstituiria nen1 de baptiz a­

dos, nem de sacerdotes, nem de Inissionários ;


o Céu ,�eria secar-se a fonte os eleitos.
d
Do casatnento dependen1 altos interesses
sociais e religiosos. Por isso, nada mais natu ...

ral que se continue a encarar cont esperança


e a sonhá-lo co1u a doçura; 1nas que nno des­
curenl,tatnbém, a elevaçAo das suas atnbiçõeS
adaptando-ãs á rnagnifica anlplitude dos planos
de lJcus.
2

ONSIDERADO na plenitude da sua


C perfeição, tal como Cristo o constituiu,
definiremos o casamento c a comunidade
total e harmoniosa de dois seres hutnanos de
sexo diferente». Esta definição, de origem
crista, é também a mais humana que nos
poderá. dar a
-

.filosofia. .
Entre os povos nao cristãos, quer na anti
guidade pagã quer na época contempora.nea,
..

verificamos que o casam en t o é a comunidade


1nais completa que e�iste no seu 1neio. Nao
é, no entanto, total nem em profundidade
nem em duraçlo, pois que todos os po,·os nlo
criatlos sem excepçAo, mesmo no mon1ento
actual, admitent a poligamia como elentento
natural do caaamento.
Ern todos os palscs da Ásia e da Africa, ao
homem é reconhecido o direito de �r várias
mulherea. Sen1 dávida, este direito qunae
.empre e apcna• teórico por falia de fortuna;
contudo, muita• ve�e.a tem efeito• práticos.
:r6 O Lárwo da Rajariga

Salta à vista que, num casamento deste género,


a com u nidade de vida entre marido e mulhe­
res não· pode ser total. O marido te m o cora­
ção repartido. Entre as esposas escol h e uma
Iavorita a quem faz doação do cora çflo que é
um dos eleme ntos principais do casamento;

mas esta doação será, ainda, bem precária.


·Em todo o caso às outras mulhere s, o casa-
mento não gar ante esta uniã o total que
� J

?
po e ia ex i s tir e que, no· cristianismo, deve
:
existir.
Em todos os países não cristãos (e nos meios
neo-pagãos do Ocidente chega·se, até certo
�nto, a esta concepçã o), o Direito vigen�e
tolera o repúdio e o divórcio. De novo, leiS
.e costumes levantam certos obstáculos à sua
realização, como por exemplo ' a obrigação de
a
restituir o dote à mulher. T an to na Ch1. 0
es�
tomo no Co ngo ou m e sm o entre nós, as P
·

soas nlo gostam de dar dinheiro e, por isso


esta obrigaçlo opOe sérias dificuldades à ruturJ\
do cua.mento.. No Congo, o tio materno,
dadelro propnetárto da sobrinha e sen bor ·
.
ve;,;
ote
seu casamento, recebe 0 dinheiro do d
,
Em caso de repúdio deverâ restitui-lo; 01�,
ele só o permitirá quando dai lhe venba alJ'' ill
proveito. Se pretendente lhe oferec:e;:,
um
tangas para deapoaar aobrinba rc-pudl• ,.,,,
a
'
.
nl ca ••"•
_., para a libertar do• laço• d u ,.,
. atr''
l&llteric.r, ele tiver de dar aa)fnll qu
0 CtiSQiftiH/o

marido, o n egócio ficará resolvido. Do u t ro


modo_ opor-se-á. Isto explica como estes casos
de repú d io se tornam relàtivamente raros.
Na realidade, t odos os povos sentiram como
a fragilidade do vínculo conj ugal era nociva
à sociedade, e dificultaran1 o divórcio e o
repúdio. No e n tanto, continua possível e a
mulher encontra-se exposta, até certo ponto,
ao abandono forçado de seus filhos e a ver-se
entregue a outro homem conforme a disposi ...
ção de seu marido ou em proveito pecuniário
_ dos se u s parentes. Sen1elhante casa m ento nao
realiza, portanto, a doação total d e dois seres
hun1anos visto que os próprios t er m os do con­
tra to lhe opõen1 res tr ições e reservas.
Histõricamente foi o Cristianismo que impôs
a todo o Ocidente a concepçao do casamento

m onógam o e indissolúvel. Os dois cônjuges


devem dar-se definitivamente um ao outro:
serão dois, apenas· dois, e para sempre. Assim
a união total dos esposos torna-se posslvel;
a própria estrutura do casamento facilita-a
o obstàculo interno mais imediato à inte­
e
gridade da entrega reciproca- a pluralidade
de esposas � afastado por força do próprio

direito.
Espalhando pela hun1anidade esta doutrina,
e obrigando 08 seus adeptos a \�ive-la, o Crfs­
tiantamo foi um factor de ci vilizaçlo e de
humanidade, e contribuiu para a realizaçlo do
x8 o Lit•ro dt'-- R aparigfJ
��� ------ ----

1nais perfeito casatnento e, por conseguinte, do


n1elhor amor e da maior felicidade nos lares .

Se estudartnos, 1nais
..

de perto, os eletnentos
constituitivos do
casamento cristão, veremos
que ele exige a
vida em co n1un1 dos dois
esposos e ex
ige a sua união integral no plano
espiritual, i
ntelectual, sentilnental f í si co e .

- ?_ casalnento requer em prilueiro


, iugar,- a
u n 1ao da
s almas. Por estas palavras, en
ten­
de-se tudo
o que interessa à vida religiosa e
sobrenatural. O verdaaeiro casamento e
r aliza
esta con1
-

unhão espiritual: ntarido e n1ulher


estão pro
a
ntos a considerar sua vida con1o
uma n1issa.o
que D eus lhes confiou e a acei
tar cor
aiosan1ente
..

os seus deveres. Carlos da


Áustria numa
carta a sua 'noiva a Prin-
ce z·
za na. resum1a nun1a

frase n1agnihca a
.
. .

tarefa que a1nbos que


rian1 realizar através da
sua unia.o·
.. 4( nos d .
Só». F eU ze
everen1os santtflc ar-nos nuu1
·
.

s os lares
til h e1n que os esposos par·
�� das lllCstn
as convicções prof
auxthant m t undas e se
u uamente para .
as realizar!

No caaan1
ento devent pô
P�nsan1ent r-se can cosnunt 08
s
o e as v ntades. Os
o verdndetros
·
0 CtJSQIIJIIIIO

�posos tê m as suas v id as ligadas ; pret ende m


os m es mos fins e buscam-nos unidos, nunt

esforço ú n ico. Um alegra-se com os sucessos


do out ro e aj u d a - o para os alcançar. Se des­
cobre un1 método que julga mais feliz, não o
guarda ciosamente para si, como se estivesse
em face d um rival, mas apre ssa -se a com u ­
nicá-lo ao seu cõnj uge.
Esta comunhão de proj ectos e de esforços é
habitualmente realizada num plano p�tico e
financeiro, e também, por vezes, num plano
e d u cati v o, pelo menos no que diz respeito aos

fins e s se nci ais que desejam e aos meios de os


conseguir. também existir, por outro
Deve
lado, no c ampo puramente intelectual. Esta
comunhão, m uito proveitosa e eficiente, supõe
na mulher uma boa cultura. �fuitas vezes,
infeliz m en te, despreza-s e a formação intelec ..
·
t ual das raparigas; e q u a ntas só lhe ligan1
u1na importância secundária! l:n1a cultura
feminina vast a, no entanto, f avorece, em niui­
tos casos, u n1 êxito m ais delicado do casanten to
e permite aos esposos, à noite, nas horas de
intimidade, trocas de pontos de vista q ue ele­
vant a esposa acima dos cuidados caseir�s e
educativos e o esposo para além das suas preo­
cupações económ icas e profissionais. Estas
horas s:lo proveitosos otomentos de calma e
de fusão, ao mesmo tempo que contribuem
para o enriquecimento mútuo.
20 O /Juro da Rapariga
..

Esta cotnunhao de pensan1entos, este acordo


tácito de vontades, tão desej áveis no casa­
mento, sobretudo quando se trata de detalhes
da vida corrente nlo sa.o eflorescência espon·
ta.nea, mas sim un1 re sultado procurado, estu­
dado e desejado. O h omem encara a vid a
e os seres duma forma muito diferente da

1nulher. Os dois vêen1 o me smo ob jec to mas


com urn a luz e sob un1 aspecto diferentes.
Muito frequentemente, t anto a propósito de
pequenas que stõ es de economia doméstica
como em p ormenores de educação e acerca de
múltiplos p roble m a s da vida cotidiana hlo-de
surgir divergências de o pinião . Isto é um
facto absolutamente no rm a l . O que,é p rec iso ,
entAo, é que cada un1 seja bastante paciente
para escutar o outro, e bastante humilde para
receber das suas palavras toda a verdade e
toda a boa i nten ç lo . Esta contpreensão 1nútua
permitirá, de ordi n ãri o, que a discussão ter­
mine nl.o só num acordo de vontades, mas con­
tribuirá para alargar os pontos de vista e para
um acréscimo de estima e afeição mútuas.·
A troca de ideias exige, nat uralmen te , da
parte d�m e do ut ro , muita lealdade, rectidão,
franqueza, paciência e humildade, tanto na
maneira de formular a sua opinião como na
de �ceitar a do c ônjuge. O ideal do casamento
deveria ser a comunha.o dos dois pensamentos
na busca dos mesmos fins. Levantando-se
O Ct1sa111mto
'

diver�ncias de opinião, é preciso que os


esposos consigan1 por virtude e por esforço,
o entendimento harmonioso.

O casamento, segundo os planos pro...�iden­


ciais, postula, por outro lado, a união dos cora­
ções. Nos primeiros tempos, o amor mútuo é
ardente. E com o decorrer dos anos deveria
radicar-se cada vez mais. A Yida em comum,
o encontro das mesmas dificuldades, os esfor­
ços para alcançar os n1esmos fins, deveriam
favorecer o estreitan1ento duma união cada vez
mais total dos dois seres e dos dois corações.
lnfelizn1entc, porém, não é o que se verüica.
Todos os lares conteçam por um \"erdadeiro
amor mútuo; regra geral, os noivos amam-se
ardentemente; mas, muitas vezes, alguns anos
mais tarde, as esperanças desvanecem -se en1

desilusões. É que o amor, para se intensificar


e progredir, requer dos esposos un1a política
conjugal leal e hábil. Da 1nulher, exige grande
..

esforço, silêncios, concessões, e até sacrifícios.


Nao é altura de expor, pormenorizadamente, os
elementos desta tática: que baste, por. agora,
sublinhar que a esposa deverá mostrar-se
sempre, em todas. as circunstâncias, agradá­
vel, paciente, sorridente e dedicada.
É este o preço da perenidade e fortaleci­
mento do amor no seu lar.
O Lit'I'O da Rapariga

O casan1ento implica, finalmente, un1 a vida


física comun1. \-"'i ·e-se debaixo do n1es1no teto,

partilha-se da mesma n1esa e do mesnto lei to .

Os j ovens esposos - como é sempre de aco n ­

selhar - abandonam o lar paterno com carãc ..


ter definiti\'·o, sem projectos _de regresso:
constituirão um lar para si, dist into do dos
outros, para aí viverem juntos, sín1bolo mate­
rial do que de\·e ser a s ua vida sentitnental e
espiritual - un1a i ntim i dade vi vida por dois.
Entre as realidades da vida fisica co m u n1
há uma intimidade especial, ti pi ca mente con s ·
titutiva do casamento: a união dos corpos.
Sucede, por vezes, que, pará as raparigas, ela
é pou co atraente. Mas confien1 en1 Deu�.
Q u and o se pensa na n1 a n e lra con1o o Criador
estabeleceu a 1naternidade, verificá-se que os
actos que a ela conduzen1, a g rav id ez , o parto,
a amamentação e todos os pequeninos cuida­
dos que a mãe deve d i s p ensar aos seus filhos,
s:lo, Da verdade, u1n benefício para o amor
maternal. Se a tnaternidade tivesse sido orga·
n i z ad a doutro n1odo, se os filhos fossen1 d ado s

às mães por assint di z er já feitos,., co1n cer­


c

teza os atnarian1 menos. O mesn1o se nota na


v ida con i ugal.

A experiência prova qu� a união fisica, rea­

liz ad a seg u ndo os pla n os divinos, intensifica o


amor mútuo dos cônjuges. Esta.. união quando
praticada como D eu s a deseja, ditada pelo
O Casamtulo 23
------ ·----- -- ·-------- -

amor, realizada no amor, testentunho de un1


antor recíproco ardente, cimenta profun�a­
mente a afeição dos cônjuges, faz esquecer os
pequeninos atritos que surgem infaliveln1ente
na vida conjugal, pacifica os pequenos confli­
tos, suaviza os choques, alin1enta fortemente
o an1or mútuo. As raparigas não o compreen­
derão nas priineiras in1pressões, 1uas depois
hão-de averiguar con1o é verdadeiramente um
facto. Se procurassem descobrir a priori, como
é que os anteeedentes, tão pouco poéticos, da
1naternidade, contribuein efectivamente pata
intensificar o atnor da 1nã_e pelos filhos, difi­
cilmente o descobririan1. E, no entanto, é
da experiência cp tidiana: os e�cargos físicos
.excitan1 e desenvolvem o an1or 1naternal. Há
ulilhaces de exemplos. Muito semelhante o
q ue se passa com a união conjugal realizada
como Deus a quer. Penetrada de an1or mútuo,
realizada por an1or, transforma-se en1 fonte de
afeiÇão ·intensa, e es�reita cada vez 1nais os
laços que os u nen1.
Segundo os desígnios providenciais, o casa­
luento constitui, p�rtanto, un1 a com unhão total,
amalgan1ando os esposos em todos os apectos,
espirit ual, intelectual, sentiinental e .físico,
tornand o-os 11111 para a vida inteira. Realiza
a comunh�o 1nais con1pleta que pode existir

entre dois seres hu1nanos e consagra-os un1


ao outro até à tnortc. O catolicismo apre-
o Livro lia Rc/Jariga
�------�-- --- -------

senta in1p ôt' à humanidade u ma concepça0


e

superior do c a san1 ento que é a dum amor


durável e dun1 amor ascendente. NAo admite
0 amor tentporârio nem
o amor r e partido ; para

f'le apenas uma formula é válida: «amo-te, só


a ti, para sem p re •· Impossivel i maginar casa­
mento mai s per fe it o ou amor mais elevado.
Estas uniões, em que a comunhão das alm as ,

dos corações e dos e spíritos é total, slo


relativan1ente raras. l\luitos lares, é preciso
confessá-lo, apenas realizam uma intimidade
incompleta. A. pr ópr i a comunhão física surge
pouco harm ónica, quer por um excesso de sen­
sualidade masculina quer pela frigidez femi­
n ina. Muitas vezes os lares só con s eg uen1 a
harmonia perfeita no aspec to económico, no
desejo comum de angariar fortuna; e, se a
harmonia dos pensamentos não ultrapassa
este aspect o Inateri al, é de lastin1ar. Em
ntuitos lares, também, a comunhão do amor
se tornou indiferente, medíocre e não tardou
a solidão; apenas restam duas vidas ligadas,
em vez duma vida conjugal e fundida.
Conseguir um lar delicadamente har monioso
é uma obra di fí ci l e magnlfica
. Para o reali­
zar, é preciso, primeiro que tudo ter escolhido
bem o c?m�anh�iro �· por outro lado proceder
, -

com tnu1ta Inteligência e virtu


de.
3 ...

M6tuo aperfeiçoamento

casan1ento .não é uma invenção humana,

O é de instituiçao divina.
leceu-o JIUando criou
Deus estabe­
o homem e a
n1 ulher, dotando-os de constituição física e de
psiquisn1os diferentes.
Instituindo-o assin1, Deus fixou-lhe dois fins
bem definidos, anteriores a qualquer escolha
hu n1ana e gravados na própria fisiologia e psi­
cologia dos sexos: o aperfeiçoamento mútuo
dos esposos e o recrutamento da Cidade
terrestre e da Cidade celeste.
O estudo destes dois fins providenciais do
casa1nento compreende três aspectos: o aper­
feiçoainento n1ú tuo, a n1aternidade, a educação.

Geralmente não se diz � aperfeiçoatnento \1


1nas «auxilio» mútuo dos cônjuges. A expres­
s:lo (j( aperfeiçoamento» é, no entanto, prefe­
rível pois evoca um aspecto ntais construtivo.
N Ao devemos dar a este termo o sentido de
conforto, de comodidade, de ben1 estar físico,
O I.;v,.o da Ra}ariga

nent n1esn1o de doçura sentintental, mas siin


de euriqutcinzcnto aclivo de u111tl pcrsounlidadl'
soh lodos ·o,,.· nspt'ctos do ser lllnuano.

As diferenças físicas e p sí q uicas que d ist i n ­


guem o homem da mulher, trazent à sua união
grandes possibilidades de mútuo acabamento.
A o bservaçllo da psicologia d a mulher revela
as seguintes características: inteligencia predo­
nlinantemente i nt u iti va, pressentimento r á pido
que lhe permite adivinhar ücilmente os outros,
mas esta facilidade leva-a., a desconfiar da s
suas intuições e sente uma certa insegu('ança
nos seus pró prio s racioctnios ; sentindo-os por

vezes· ditados por i m pre ssõ es passageiras não

lhes dá inteiro c rédi t o nem plena certeza.


Torna-se-lhe geralm en te difícil, e ela sab e -o ,
apreender s ín t eses, dominar conj u n tos .
A mul h er gosta, até nas pequenina'ª coisas
da vida prática, pelo menos fora da esfera da
competência caseira, de ser guiada e aconse­
lhada. !\;las essa segurança, ess.a est a b ili da de
de raciocínio, as visões de conj unto, nenhun1a
mulher poderia proporcionar-lhas.
O homem, pelo contrário, menos sensível e
menos impressionável, possui um raciocínio
mais firme e n1ais estável.
Muitas vezes não apreende certas particula­
. _
ridades Importantes, mas dispõe de n1aiores
O CasaH1111to

possibilidades para dominar os conjuntos e �s


sínteses. Sob o ponto de vista intelectual, o
homem e a mulher poder:l.o também encontrar
um no outro, um complemento vantajoso e de
tal forn1a que nenhum o encontraria, no Jnesmo
grau, i unto dun1a pessoa do m e s n1 o sexo.

A m ulhe r sente-se fisican1ente frágil e um


tanto timida em face da vida e das suas difi­
culdades. ...o\. exuberância da sua ituaginação
e da sua sensibilidade le,·am-na, com facili­
dade, a po\·oar o presente e o futuro de mil
perigos. Essa vivacidade de reacções veri­
fica-se particularntente na 1nãe que ao pensar
na fraqueza dos filhos, sente a sua impotência
para os pro t ege r sozinha contra os múltiplos
perigos da vida. Por isso, procura o a poio
dun1a ternura f_orte e protectofa. E o homem,
1nais forte e ntenos sensh·el, 1nais calmo e
n1enos apaixonado, melhor equipado para afron ..

tar os perigos da vida, sente igualmente ale­


gria en1 defender e gui.1.r e chega a ser n1otivo
de orgulho para ele proteger a n1ulher que
ama. Portanto, neste aspecto, o homem e a
n1ulher foram feitos um par a o outro.

A m
ulher gosta de ser rodeada de tern yra ;
n�as deseja uma ternura forte, firme, enérgica,
O Livro tia Rapariga

viril. E-lhe agradável e reco nfortante pode r


apoiar - se afectu osamente num b raço sólido,
encontra r-se ao abrigo dum a protecç:to inaba­
lável. Este conforto, este apoio, esta ter­
nura forte, nAo lha poderia dar outra ntulher.
Sómente o homem é capaz disso em bora só até
um certo ponto. Mesmo os melhores só o con­
seguem imperfeitamente,. A necessidade de
ternura na mulher é tão vasta, ta.o intensa, t:lo
profunda que nenhutn homen1, ainda que fosse
o mais dedicado, seria capaz de a satisfazer

totalmente. Não se enche o fundo do mar


com as águas dum lago. No entanto, apesar
de tudo, m elhor do que outra mulher, o homen1
poderá proporcionar-lhe este elemento de força,
de firmeza, de energia, de virilidade que ela
busca através da sua ternura.

A riqueza do coração feminino é superabun­


dante; toda a mulher sente uma satisfação
profunda e uma alegria intensa em comunic ar
a sua afeição e a sua dedicação a alguém,
·

ainda que nada obtenha em troca. Um marido


n1uito seu a cuidar, filhos seus a acarinhar,
que alegria para o seu coração! E como o
homem gosta· bastante de se ver rodeado de
c �idados e de delicadezas, aprecia uma ternura
confiante e abandonada. E assim, mais uma
vez, ela e ele se completam maravilhosamente.
O Casalfllllto
--------- --- -- -------

À tardinha, depois dunt dia de trabalho


árido, ao reg ress ar da vida profissional nun1
mundo de negócios e num antbiente áspero e
austero, o ho nt ent sente necessidade de encon ­
trar em casa paz e serenidade, e vai lá buscar
calor para o coraç ao, calma para o espírito,
ferv o r para a alm a .
Nada há mais agradável para o coração do
que a amabilidade e a te rnu ra , a confian ç a e
a graça, o sorri so e a coragem da com panheira!
Junto dela rec u p er a forças e coragent para
continuar as suas tarefas sociais. Tornar-se
assim , a alma, a 1 uz, a a l egria , a ins piradora
da energia e da constância do homem amado,
é a missão natural dunta esposa verdadeira­
mente d edi cada . Também neste aspecto o
homem e a mulher se encontram feitos um
para o outro para se pro teg er em e au xili aren1
no d es empen h o da sua missa.o.

Este ape rfe i çoa men to dos cônjuges, dum


com a ajuda d o outro, que é um dos fins pro ­
videnciais do casamento, torna- se p os s í v el
pelãs düerenç as da psi cologia masculina e
feminin a. No entanto, será útil sublinhar que
tudo isto são apenas « possibilidad es •· Para
as traduzir em c realid a des .,. , os dois cônjuges
deverão agir com mu i ta inteligência p ara se
compreenderem, con1 muita. força de vontade
--�----- ---

para se ad a p tare nt e lnuuildade para se suporta­


ren1. Na n1edida em que estas virtudes faltarem
as diferenças psicológicas transformar-se-no en1
tnoti ,.o de contrariedades e con fl i to s .

�a tnaneira de encarar o casa1uento, a rapa­


riga não se deve lin1itar a unta concepçAo
den1asiado simplista e purantente sentimental:
utna situação a gern1inar em tudo prazex:. ;
1nas yerá nele un1 dever de estado, uma missa.o
providencial a aceitar e a cuntprir. Ser-lhe-á
necessário levar para o casan1ento n1uita vir­
tude e grandeza de ahna. Quanto n1ais possuir,
ntaiores serão as probabilidades de triunfar.
utn espírito fútil,
. .
-

Se, pelo contrário, tiver


humor yariável, condu t a caprichosa, será un1
obstáculo ao aperfeiçoantento de seu ntarido
e porá en1 risco a harn1onia do seu lar. É pre­
ciso unta forte dose de. v irtude para sorrir a
todos os deveres conjugais e n1aternais, sejàn1
eles quáis forent, para aceitar de bon1 grado a
sua rudeza e, 1nanter-se coraj os a , através da
n1 ultiplicidade ·dos trabalhos diários,. de humor

sempre igual, sünple.s e puro, a colh edora e


con1preensiva, tneiga e dedicada, n1antendo
no seu lar un1 an1biente constante de vida e
alegria.
Estas perspectivas de futuro sorrien1 às
raparigas. Mas para as traduzir en1 realida-
O Ca.samtRio

des, hão-de esforçar-se por adquirir e cul tivar


todas aquelas virtudes. Só e n tão o lar que
fundarem realizará, verdadeiramente, o seu
fim providencial do mútuo aperfeiçoament o
dos cônjuges.
4 ••

 Maternidade

tu ulher são do t ados de

O
HOl\fEM e a
faculd ades f i sio ló gicas com p len1entares.
Além do seu 111 útuo aperfeiçoatnento,
têm a nobre missão de p erp e t u ar a raça
humana e\ aun1entar o n ú n1 ero dos elei tos.
Send o a razão de ser e o filn das cr i atura s , a
participação da fel ic i d a de divina, Deus quer
a multiplicação de inteligências que O co n he ­

çam, de corações que o amem, de vontades


que O sirvatn, de a lmas que pos s am gozá-LO.
Deu s pode ria realizar este plano, criando
Ele próprio, directamente, todos os seres espi­
ritua i s , an gé lic o s o u hun1anos. No que diz
respeito à raça hun1ana, porém, n ã o quis rea­
lizar .sozinho essa o bra, mas chamou o h o m e m
e a n1ulher para c o l a b orarem con1 Ele. Quis
q u e foss e rn o s p ai s a· trazer à vida os seus
filhos, tornando-os p articipan t es tanto das
responsabilidades como da gr a n d ez a e dos
méritos desta missão pr o criadora . O sin1 pies
facto de D e u s ter dotado a vida hu mana de
34
O Li&:ro da Raparig a

fe cund id a de cora ç ão do hon1 em e da


e o
m ulh er de in s t in t o s m arav ilhoso s que têm o
nome de amor p ate rn al e amor mat ern al,
n1 ostra, suficien te m ente, o fim procr ia d or do
c a s am e n t o.

a
Biolog icame nte , n1aternida de é m a g n íf ic
a
e os sábio s que estudam o d e en v olv i men to �
d a c r ia n ç a no s ei o n1 a te r n o , m an if e s ta m tod o s
a sua a d n1iraç � o p o r e s t e f e n ó n1 e n o e xt raor­
d i n á rio .
O desenvolvi me nt o do e 1n b r iã o h u m an o é
um v er d ad e i ro pr o d í g i o u m a av entura quase
lnc rlv e 1 , u m m o d elo d t 1u la
e écn i c a. D u ma ce·
· ' ·

lu i núsc u l a de d o i s c e tés i m os d e Dli líme tro ,


n
nt e
org a.
a1 a pare t
n ero e
A •
n lc a nl e nte ind i fe re n c iad
b an a1 ' sa1. u n1 o r p o eSO ,
c sp P l
·-
t
e an osa n1 en t e co m
c o n1 b 1" l 1oe s d e célu las d i f e r e ncia d as , 05se
a5 •
ares
·

ner, o sas , m usc u l ar


e s , gern1 inais , co m nl i
" l h
os
y

de r �m 1. f tca
"
çõ e s d o s i s t e 1n a 111
n erv o so , co 1
ca ais múltiplos d as ar t éri a s e da s v e i as ,
n
os órg:to s de vi
c��.
s ao , d e au d i ção , (ie de p u raÇeiJI

CJ u e l t r a pa ssam ,
e m u i t o e m ac ab a m en to, lle
per fe u;�o , e m p r o fu s ão d e de t h s ,
'
a l e t u do 0 q
a art e h u 1 n a
. . n a po d e r e a h. z a r . . bios
l
c � ê nc a e o e n g e n h o d s
e t o dos o sa 11or
d e�\ho1e sa.o 1• e
n capaz es d e r e p r od u z1 r a 01 ''"
• li
de st a s m a r a v i l h a o r a
. . s fJ U e o c o r po n1 a t e rn e
c o t 1 d 1a n am e nte .
O Casalntlllo 35

Quem teria traçado os olhos e lhes teria dado


a vista ? · É um facto : o coi·po feminino foi feito

de molde a servir de base a estas elaborações


prodigiosas.

l\{as maternidade não é ..apenas ü n1 fenó­


a
nleno b io lógi c o pois q ue r eali za un1a obra
muito mais extraordinária ainda. Faz apa recer
u m ser vivo, un1a creatura eterna, que nada,

nem a morte, nen1 n1 es m o o fim do m u ndo,


poderã o fazer desaparecer.
A centelha de. vida qu e , graças à colabo­
ração dos pais cintilou hoje, não se extingu irá
jamais e, se durante n1i l é n io s a terra a rrefe ­
cida e deserta p ro s s eg ui r no u n iv e r� o en1
ruínas, o seu rodar insensível, ela côntinuará
sem pre a cintilar . porque essa pe q u eni n a cen­
telha de "\lida que hoje os pais fizeram brotar
- terá a Et e r n idad e .
·.

A fecundidade hu mana Deus a quis para


perpetuar a raça h un1ana, e tnultiplicar o
número dos eleitos. .
Basta reflect i r u n1 pouco para se ilnaginar
o irreparável desastre social e re ligi oso q � e
s e r ia para a Cidade terrestre e p ara a IgreJ a,
a re c u sa absoluta ou quase absoluta da tn a t er ­
n i dade dos lares c r i s tã o s . Nenhu ma delas
O Livro da Raparig a

e d i r se 1n a gene ro s a
poderá viv er ou pr o gr
o ferta de no ,·a s vi d as .
Para aiu dar os ou Y i n te s a me
lho r cotn p ree n­

derem a exc epc ion al d a tn ater­


imp ort.a.ncia
a s e g u i nt e
nidade, foi várias vez es rep etida
experie ncia, en1 pon tos di s t i nto s : enu tnera­
vam -se prim eir o os prin1ogénit os da fa m í lia ;
depo is, entr e este s, pr ocur ava m-s e aq ueles
cuio s pais eram , igua lmen te, prim ogénitos.
Estes inqué ritos deram os resu ltados se­
guintes :

Número total N úmero de prhnoge- N únaero de primoge-


de ouvintes nltos no auditório n ilos filhos de pai
mãe ta mbém primo-
e

génitos

76 20 3
41 21 '·
I
20 10 2
19 6 o
I6o 6o 6
.

316 IIJ 12

, Estes números são duma e l o qu ê n ci a directa,


persuasiva, brutal. Se, no coni unto d os ouvin�
t�s recenseados, o s pa s, há 25 anos t ivessem
i
a sua fam ília a um filho, em vez de
_
hmttado
três, som ente um teria visto a lu z d o dia . Se
esta atitu de \ivesse s i do utu facto, e m du as
geraçõ es s ucessivas tanto da p arte d os avós
37
----:...--- - - -- ------- ---

cotuo dos pais, viverian1 sõtnente 1 2 ouvintes


em vez de 3 1 6, ou seja 1 por 25 !
Pode d izer-se �l l u z destes casos concretos,
q u e é devido à coragen1 de u 1-trapassar o filho
único que existen1 304 pessoas dentre as 316.
Resultad os tão expressi vos e tão frequen tes
dão u n1 relevo intpressio nante ao serviço social
e religio so da ntatern idade.

A n1aternidade estende os seus efeitos a


outro dornínio e contribue, e1n certo aspecto
tnais pessoal desta vez, para o desenvolvimento
dos cônj uges, do « pai » e da « 1nãe • . A pater­
nidade torna ntais profundos o coração e a
consciência do hontetn , enriquece-o levando- o
ao esquecimento de si próprio e ao desinte­
resse. Uma vez pai, o ho 1uen1, dantes tão
egoísta, pensando quase exclusivamente em si,
começa a preocupar-se, sen1 dar por isso, con1
o bem dos seus filhos. E que dizer da ma e "I
Cada un1 de nós conhece a maravil hosa abne­
gação que a n1aternidade suscita no coração
da mulher. Leva-a ao desinteresse total,
u m a dedicação con tínua, a u n1 esq uecin1ento
incomparável de si própria.
A paternidad e e a maternidade obrigan1
·

enérgica, mas suaventente, o honteni e a mulher


a esquecerem-se de si próprios e a dedica­
rem-se. Se é verdade que é por esta capaci-
O Livi"O da Rapariga

dade de e sq u e cime n to de si e de dedicação,


e na.o pelo egoísmo, que se a p recia o valor
h u m an o e cristão dos homens, é e v i dente
como, através d u m m ecanism o t ão m aravilhoso
e agradável, a m bos cbntri b uem para o enri­
.

q u ec i me n t o do coração.

i a n1ais
·

A n1aternidade , n o fut uro casa1nent o,


deixará de ser encarada pela rapariga.
Por isso ela tomará a decisão firn1e de
ace i tar os lins da fecundidade desei ad o s por
Deus ; olhará a maternid ade, não apenas como
uma p r of u n d a s atisf a ç ão pessoal, mas ainda
como a realização du n1a insubstituivel missão
s ocial e religiosa, e desej ará t er m uitos filhos,
tantos q uantos lhe se j a poss ível criar e ed uca r
con venien temente.
5.
A. educaçlo dos fil hos

LÉM
A
do desenYolvi tnento n1 útuo dos
cônj uges, o fi� d esej a do por Deus ao
i nstituir o casan1ento é, co n1 o vimos,
assegurar a per n1 anência e o progresso da
Cidade terrestre e a m ultiplicação dos elei tos.
Para ati ngir este fin1 , conserv·ação e enrique­
cimento da raça hu m ana, autnento do n ú mero
de cristãos e, por conseq uência, de eleitos ,
não basta q ue o s filhos Yen ham áo m u ndo.
A cidade terrestre não vi \"e apenas de crianças ;
necessita para durar e progred i r, de adu ltos,
sãos fis ican1en te, dotados int�lect ualn1ente de
conhecimen tos s u ficientes para o bom cumpri­
m ento do seu n1ister ou profissão, do tados de
v irtu des sólidas e sérias. O que é i nd_i spen­
sá vel p ara o progresso da Igreja, na terra, não
são apen as bap t i zados, m as cristãos e, tanto
q uanto possível, cristãos de Yalor,· prontos a
trabalhar generosanlente, consagran do, sendo
p reci so , t odas as s u a s forças à extensão do
Rei no de Deu s .
O LiiJro da Rapariga ·

Indiv íduos tarados o u e nfer n1 os, iletrados


ou imbecis, im orais sobretudo, norn1 ahnente,
n ão trazem à socie dade h u m ana s enão dificul­
dades e prei u í z os .
Da 1n es m a forn1 a a l gr ei a
e a extensão do Rei no de D e u s s e encontram
lntiman1ente ligadas senão à s aúd e e ao v alor
intelectual dos filhos dos hon1ens, pelo n1 enos
ao seu v alo r tnoral. A ss i m , os progressos
tanto da Cidade terrestre com o da celestial,
· só serão asseg urados pela formação d e ho 1nens
e de cristão8. ..

A procriação física é o primeiro pa s s o de


um longo can1inho a percorrer. A Cid a d e
terrestre e a celeste não ·precisan1 apenas d e
crianças, são- lhes i n dis pen s á v e i s o s hon1 e ns e
mulheres s aud á v ei s tanto física con1o int e ­
lectual e m orahnente . É e s t a a t ar ef a que
incun1be à puericultura e à educação. Inú til
será insistir sobre a sua extrema i mport ância
social e r e l i gios a : ela é c api t a l .
Ora, a mãe é o p rinc i p al artífice. Al g uén1
afinnou COll} certa justiça1 q ue O ho m em se
encontra definitivamente formado aos cinco
anos.
Se n1 d ú vida, i sto não qu er d i z er que a s ua
e d uc ação tenha terminado nesta i dad e , q u e
ele não n1ais se i a su scept i ve l d e aperfe içoa­
nlento no f u tu ro , ou de s e desenc anli nha r ;
por é m apen as se q uer ace n tu ar que a s ori en ­
ta ções es s e n c i ai s são ad q uiridas nest a id a d e.
O CasaiH n:to

O adulto não fará mais, e m suma, d o q ue


desenvolver os germens das qualidades ou dos
defeitos que a pri m eira educação tenha dep o ­
sitado n a c rian ça de cinco anos.
Se, desde a m ais tenra idad r , o habi t uaran1
a viver n u n1a atn1osfera de orde m e d e l i nl ­
peza, através d a disposição singular d o se.u
horário , refeições, jogo s, passeios, repou so, a
criança s u portará co m dificuldade, àmanhã, a
desorden1 na sua vida.
Se, pelo contrário, o anl i m ara 1n , se acataran1
todos os seus capric hos, o b e d e ce n d o aos seus
m enores d e s ej o s , favorecer�m a e c losão e o
de s e n v ol Y i n1e n t o d un1 egoísmo feroz, fechado
para sen1 pre a o a1nor e à dedi caçã o e q u e, no
ca.samento, con1 o nos negócios, apenas pensará
e n1 si próprio. A , criança deve portanto, desde
os seu s prin1eiros anos, e s tar submetida à d i s ­
ciplina de s i pr ó pr ia ; aprender a renu nciar
aos seus gostos, a repartir anl igàv eln1ente as
s uas guloseiiuas e os seus di vertin1entos ; é
e s t e o único n1 étodo para que se d esenvolvan1

nele, àmanhã, verdadeiras c a p a c i da de s de runor


e de dedicação (I).
É portanto exacto afirmar q ue, desde o s
c inco anos, a criança adquire a orientação
essencial do seu carác ter. Desde esta idade

(.1) V�-s e que para obter este resul tado, o m eio


d u m a família n u m e ro s a é prefer ível ao d o filho ún ico.
O L'·.,,,.o da Ra 11ariga
"':...2..
- " -- -
___________ _ • --- ---

nela co1u eça a e s t ar pat e n te o d és pot a c a pr i­


c h o s o , ao qua l tn ais t a r d e tod a a gen te de ve r i a
cede r ·' ou , pelo cont rário, desperta. u nt ca rá c te r
pront o a sacrific ar o s se u s deseJos e a s s u a s
preferênci as ao deve r ao �en1 os o � tros.
� ?
Tu do i s t o n1 ost r a a un portânc1a cap1t al que ,
na obra da educaçã o, re ves te rn o s prin t ei ros
anos de vida da cria nça, e por conseq u ên cia a
pa rt e cons iderá ve l d e v i da à i n fluencia 1 n a t e rn a ,
às o1 :tes e ;\ sol ici tude d a pessoa a q ue n1 a
criança foi inteiramente confiada d u �an te a
i n fâ nci a . Dai res ulta a i m p o r t â n c ia exce pci o­
nal , tanto social como rel igiosa, do pa pel ed u­
cativo da m ãe.
Co n1 parados so bre este d u plo aspecto , a

tn issão feminina par�ce, tanto e n1 i m p o rt â n c i a


h u n1ana conto ent valor cristão, sensivelmente ·

rnais i n1 portante d o q ue as ocupações mas­


c u l inas.
A acti v idade do hon1en1 , pelo 1n enos na
maior pa rt e das profissões, v isa inteiramente
a bens m ateriais. As suas f u nç õ e s são essen ­
cial mente econó rn i cas : extra i , prod uz o u trans­
fo r nt a as tnatérias print as, t rans porta géneros e
organiza o contércio, procurando al c ançar assi m
a cont o d idade e o conforto d a vida h u 1nana,

tendo todas as act i v idades q u ase eÃcl us i va­


Jn ente c on sagra d a s a modelar a n1atéria.
As ocu pações f en1 i n i nas , p e l o co n trá ri o , atin­
ge nl mais d i rec t a m ente o homem e têm por
0 C�lSflllltll/0 43
-----
--- -

fim, antes d e rnais nada, e d ucar a sua aln1 a .


E certo q ue n1 ui tas esposas e ma.es s e e n con ­
t ra nt sobre c a r re ga d as no l a r , cont u nta q uan ti·
d a de enorme de tra b alh os puran1 ente tnatrriai s :
o governo da casa e os c u i d ad os cont as cria n ­
ças absorven1 -nas co mpletamente.
Mas nAo é n1enos v e rd ad e que o c o n t ac t o
imediato cont a alma dos filhos lhes é , por
assim dizer, re s e rv ad o d ura nte o& pri m ei ro s
a nos. ·

São elas q ue tn , a p o u co e p ou c o , lhes en s i n a.


a p rá t ic a d a limpeza, d o pudor, da l ea ld a de ,
da ca ri dade ; são e las q ue1n · obriga a ca �ar o
pequenino linguareiro, quem repr i m e o pequeno
n1entiroso, quem recorda a modéstia ao p equ e ­
nino \" a id o so , quem i ncit.a ao dom ínio de si
próprio o p e q u e n in o q uestionador, quen1 en s in a
ao s er tumult uoso e exuberante a t e r ordent e

a c u m p r i r os seus d e \'· eres ; são elas q u em o


ed uca na delicadeza, q u e n1 abre a s u a a l m a
pa ra a piedade, lhe e n s i n a a o rar a o !\f e n i n o
Jésus e à \" i rge m Maria, lhe fala do céu e o
põe por assim d i z e r, em contacto con1 as mais
belas realidades e con1 os mais eleYados des ­
t i n o s d a vida hu mana ; são elas, numa pa lavra,
que m l he forj a a alma .
A inf l uê ncia da print eira edu cação ntat er n a ,
sobretu do no asp ecto re ligio so, é t ão nlan

f e s t a , qu e gra n d e n ú m ero d e h ome ns, dep oi s


d as te mpe stade s d u nt a Y i d a agit ada , d epo is de
O Lit·•·o tia Rajtlriga

dú,·idas e anesnto de i ncred u lidade, v oltam


mais tarde à Fe e aos cost u mes da sua in fa n­
cia, suprema v itória daquela q ue lhes e n s i no u
e n1 pequeninos a j u ntar as n1aozitas.

1\ rapariga deve pois preparar· se sêria nt e n t e


para o papel, por vezes nt uito i ngr at o, m as
entre todos primordia l, de educadora de corpo s
e de alntas. A tarefa é vasta : que e la se
sinta orguJ hosa e se esforce por se r capaz - de
be m a desem penhar.
6
Em terras de Crista nda de

OSTAR ÍAMOS de n1 os trar, neste capí­

G tulo, q ual foi a infl uência do catolicisn1 o


so bre a evolução hi s tóri ca d a instituição
ntat rhnonial e so bre a própria concepção do
amor. S u rgi u u n1 ferm ento i n tilno de gran­
deza e d igni d ade comunicado à un ião conj ugal
através da i nst i t u içã o do matrimónio-sacra­
mento.
Na antiguidade como nos nossos dias, con1
raras excepções, o catolicisn1o é o ú nico a

inculcar e a i m por aos seus a d e p to s o casa­


m e n to n1 onogam o.
Des ta forn1 a, ele foi i nt e ns a m ent e civilizad o r
e presto u à ht,� m anid ad e um im enso serviço ;
sob o seu in1pulso foi possível a realidade
de um a m or o n de vi bram i n tensam ente as
no t a s mais elevadas
'
e mais especifica1nente
'-

huma n a s .
A socie dade pagã aind a hoj e m anté m a

mulhe r n uma c on d iç ão p rof u nda me nt e inj u sta


e in di gna da sua personalidade hu ntana.
O Lir:ro da Rapariga

O se u desti n o não é s e r a e sc rava o u a


serva do bo1n e m , n1 as a s u a compa n he ira ·
. ,

se1n elh an te a ele pela n atu reza, pert e ncen do


,.... raç a hu m ana co n1 o ele, p e s soa i n telig en te e
l ivre c o m o ele, e c hamada ao mes nt o d esti n o
eterno.
I� e v i dente q ue a nt u lher é d i fe re n t e do
ho1uem , nt as na.o é
inferior ; sâo c o m ...
l he
ple1n en tares. M e n o s dotada do · que e le e m
cert o s as p e c tos , n1elhor noutros, ela é, no
conj unto , s u a igual . No fund o, é ela a verda ­
deira civiliza dora da h u tnanid ade.
O ho mem tem a · s u a força física, o e spírito
i nventiva e �onstrutivo, é capaz de v e ncer os
o ceanos, descobrir os continentes, explorar as
riquezas da terra ; n1as, no q ue respeita aos.
peq ueninos seres fr á ge is q ue sa.o as crianças,
fa ltan do-lhe d e rn asiadan1 ente certa delicadeza
de sen tin1entos é 1nenos apto para formar neles
u n1 a alm a d e l i c ada . D u m modo geral este papel
foi j udiciosamente con f iado à 111 ulher, não só
p orqu e a sua p�icologia oierece vatltagens e
porq ue ten1 m uito 1nais vagar, n1as ainda por­
q u e está i n discu tlvelmente tnelhor }lreparada
para e s sa n1 issao, toda adaptaçã o e brand ura.
Q uando se trata de m elhorar u m a alma, de a
tornar . delicada e rica é n or m almente à m ulher
q ue se ped e a u x ílio.
Uma v erd a dei ra civil ização deve c o nce der
à n1 u lher a s it uação q u e lhe con1 pete, tratã -_la
U Casam nllo 47
--- -- ------- --·

como pessoa h u 1na n a igu al ao homem e colo­


cá- la no seu ve r d a d e i r o l u gar de esposa cola­
borad ora . Es te l u ga r foi q u a s e desc_onhecid o
das civil izações a n t iga s e as civilizações não
cristãs nt od er na s ig n o r a n1 - n o ainda. Algu m as
delas no en tanto evoluen1 para esta concepção
pela influência do e xe mplo cristão. 1\l ustapha
Kétnal, comentando o art i go da n o va c o n s t i ­
t uJçAo tu rc a q ue aboliu a poligan1ia procla­
nlava : c a no v a lei é a lei da civilização lt.
hnpon do ao cas a n1 e n t o a indissolubilidade,
Cristo concedeu ao atnor h u n1 a n o um valor
en or 1n e . O atnor exige, d e fa c to , a doação total
e indestructível. Un1 a tn o r efé 1nero n ão passa
d u m a car i ca t u ra .
Quando se ama, adere-se profundai11 ente ao
ente anf ad o , damo-nos a ele sen1 re s e rv as e
sem rodeios. É assim, n at u ral m en te , que o
e s pí r it o humano concebe o an1or na s u a p ureza
e na sua p le n i t u d e . S u prÍinindo qua l q ue r
p ossibilidade de d i vó r c i o , é o amor nobre,
e lev a d o , p ro f u n d o, total, q ue Cristo q u is q ue
a human idade v i v e s s e. E le o b riga os ho m ens
a re c onh e ce r a prin1 az i a das n o t a s 1nais d u ra ­
douras · e m ais be las da a1n izade sobre as
tendênc ias da carne. Tendo sido o p rime i ro
a inculcar aos homens e a i n1p o r - l h es un1
am or Uío elevado e t ão digno, o catolicisn1 o
foi o prom otor d u m progresso p ara a h u m a ­
nidade ; fo i ele q u e m a e n ri q ue c e u nos séculos
48 0 Li r•ro da Raparig a
�------------------- ------- --

pas sad os e n os f u t u ros co n1 esta n oçã o d o


a m or : doaç ão to
ta l de s i .
Se pas sa r nt o s d o p l ano nat ura l par a o plan o
s o bren atural , c o n s tat a m o s q ue o c a t o l ici s m o
1 e
eno brece m ara v ilho sant ente o c a s a nento
c o nfia ao anto r dos e s p o s os u m a grand e m iss ao.
Cris to fez d o casa men to u m c s a c ra m en t o • .
Dentre os ritos re l i gio so s é utn d os raros
privil egiados, do t a d os d u m a eficiênc ia e s p e ­

cial e d u tn sentido partic u lar. Cristo nad a


mod ificou do se u conteudo nativo. o casa-

E
ntento h u ntano na s ua re al i d ad e n a t ural na
von t ad e dos esposos de se pe r ten cerem m u tua­
me nt e , na ter nura do seu c o ra çã o, no amor
recíproco que foi t o m ado no seu c o nj u n t o e
e le v a d o à dignidade sacratn en tal.
Q u an do os dois cônj u ges se e n tregant livre ­
Inen t e u n1 ao outro no momento df t ro ca d e

consentin1entos na cerimóni a do casamento,


conferem -se n1 utuame nte, pelo mesmo f a cto ,
« ex o pere operato .. , um acrésci mo de graça
santificante, is to é, um aumen to de méri to
neste mundo e de beatit ude no céu. Ainda
mais, pela virtu d e inere nte ao sacra mento ,
n1 e rec em u m acrés ci mo d e graç a sant ifican te
toda s as vezes que, esta ndo em esta do de
graça, re ali zam dent ro do resp eito das leis
di vi nas o dom d e si próp rios , quer nas sua s
rela ções conj ugais, q uer nas dive rsas acti vi-
dad es da su a vid a com u m . '
O Casamento

Por ou tro lado, p or vontade de Cristo, os


. e s p o s o s t êm a i nd a u m a e s p é c ie de crédito
a be r to un1 dir e i t o inal ienáv·el d urante toda a
,

sua vida conj ugal para rece h erem a s graças


ac tuais necessárias o u ú teis ao c u n1 primento
d os seus de v ere s d e estado e à realização da
sua dupla tarefa providencial , o ap e rfe iço a ­
ntento n1útuo e a boa edu cação dos filhos.
Foi-lhes confiada u n1 a « m i s s ão es p e c i a l :
»

a de s i m b o li z ar pe l o exito intimo e profun d o

d o seu lar e p e la sua fecu ndidade generosa,


a u nião estreita e amorosa q uê l iga Cristo à
lgreia. A união c on j uga l é a ssi m cham ada
p el a vontade formal de Cr i s t o a r e p re se n t a r
um gran de m i s t ér io .

E é por causa deste novo d ever 111 ís t ic o que o


casamento é rigorosamente indissolúvel : Crist o
ama a Igreja e está para s e m pre l igado a ela,
se j am qu ais forem os seu s de fe i t o s e as � u as"
fraquezas, tanto nos sofrim en tos e. persegu ições
co mo nos triu nfos.
Do mes mo m od o e spo so e e spo s a se d e v en1
u ma f i d e l i dade inque b rantável tanto n a felici-
dade como na i n fe licid a d e .
·

Estes traços dão u m a ideia d a q uali d ad e


s uperior do amor que o catolicismo s e e sfo r ç a
por inculcar na hum anidade e transferir para
os co st u m e s . Es t e esforço educativo, a alt a
·

concepça.o do amor, d a mulher e d o casamento


que ele criou e propagou, foram u m factor /
.r;o O Li'l"YO da Rap arig a
------- ----- -· - - - - - - - - ---

particularmen te e ficaz de h u m anis m o e de


civilização.
A teol ogia do com a missão
casamento,
elevada q ue confia aos esposos de simbolizar
e de re pre s e ntar ao �ive r no seu lar a união
de Cristo com a Igreja, mostra como é grande
o res p eit o do casamento e d e a1n or e m terras
verdadeiramente cris t ãs.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7
Pe ra •l•m do casa mento

C -\SAMENTO é u tua alta m issão, muito


O
...

mais elevada do q u e im aginam geral­


ntente a s ra p a r i gas ou as n oi va s . Não
é, no e n ta n t o a mais el e v ada vocação que
e x i s te ; u 1n o u tro estado de Y ida o u l tra pas sa
q u er no p la no re ligi o s o q u er no plano h u m a n o :
o celibato por ded ic aç ão . ,

Há v ár i o s géneros de celiba to : _ In as é fácil


agru pá-los segu n d o os n1o tivos que a ele levan1
o u a e l e o b riga n1 . D ist in gu ire m o s o ce l i b a t o
Y ol u n tário e o ce l i ba to forçado : este ú l t i m o,
no In u n d o fe n1ini no é d e v i d o, por vezes, a
razões de saúde ; In as, con1 Inais fre q uência
é devido ao facto de não teren1 encon t rado o
c o m pa n h e i ro desej ado ou d e s ejá v e l . O celi ­
bato vo l u n t ári o pode resu ltar d e duas causas
diferentes e opostas : o e go i s m o sob o rót u lo
d e am or d as comodidades, desej o de l i berdade,
de inde pe ndência, etc . . . ; o u pelo contrário, a
ded icação, o d e se jo d e se tornar m a i s livre
para mel hor se ded icar a De u s e ao p ró xi m o .
O Livro da Rapa,-iga

A celib atária força da, segu ndo a ati tu de de


alma que adopt ar, pode inclu ir-se no celibato
de egois mo se viver na solidão , no rancor, no
pessim is mo ou na .misan tropia ; no celibato de
dedica ção se aceitar o p l ano da Pro vidê ncia
e procurar tirar o m elhor partido po s sível no
serviç o de Deus e dos hom e n s .

Só o celibato-dedicação ultrapassa, em �alor


social e religioso, õ casame nto tal como es"te
livro o descr�ve. O celi b ato egoista não só
lhe é i nfe r io r m as nem tem em si v a lor ·algum
·

quer religioso quer social.


O mesmo se pode dizer de certos casais que
v i v e m num egoi sm o a duo. Não se comparam
aqu i senão o ce l ibat<f dedicação e o casamento
..


em que os dois esposos açeitam as suas mi s sões
providenciais respectivas.
Importa sublin�ar, pr i mei ra m ente , a possi­
bilidade do ser h u m ano v iver e m contin ê ncia
abso luta. C usta a acreditar q ue hoj e ai nd a
hai a pes soas que sustentem que o i ns t in to d a
c ar n e é t ão · irr es i s t í ve l c om o o da nu t rição
.
o u da respi ra ção, devendo ser por iss o n ec es ..

sàriam ent e sat isfe it o .


A lgu m as provas e lementares b ast am, no
e nta n to, para nos faz e ren1 co mpree nder que
n e n hu m a paridade v á lida pode rá se r e s tabe ..

lecid a en tre estes insti n tos .


O Casam utlo 53
..

Deixem , se lhe for possível, de respirar


·

durante cinco m inutos e registem o resul­


tado ! Abstenham-se de beber e de comer
durante tr int a dias ou o máxin1o de sessenta
e vej a m o efeito ! Consulte1n , pelo contrário,
as estatfsticss de n1ortalidade nos conventos
de homens ou de m ulheres : a n1édia da lon­
gevidade destas vidas deixá-las-á surpreen-
·

di das.

Por outro lado, o valor intelectual de quen1


pratica a castidade depende naturalmente dos
seus dons inatos, 1nas, sob pena de contra­
dizer factos, não se pode declará -lo i n fer i or
ao das pessoas casadas. Dezenas d� nlilhares
de padres, de religiosos e de religiosas vivem
em cont inê n cia : a mais elen1entar hon esti dade
científica reconhece que eles não passan1 mal e
que as suas faculdades intelectuais não foram
diminuídas.
Q ue se abandone pois, de vez, � falso dogma
,

da fatalidade do instinto.-- 1\ verdade cien­


tífica obriga, pelo contrário, a proclan1ar a
possibilidade e até mesm o a facilidade da
castidade perpétua, sob a coúdiçâo de se
o rga n i za r u1na regra de vida e de ocupações
apro priadas.
Os Dou tores da Igrej a ensinan1-nos que,
e nt si, o valor religioso do celibato-dedicação

ultrapassa o do casamento. Isto é uma ver­


dade incompreendida hoje e1n dia, n1 esn1 o por
O Livro da Rapariga
. ..

u 1n bont nútn ero de rapazes e raparigas cató­


l icos ; por isso não será inútil mostrar-lhes a

Yerdade.
Qual será o alcance e xacto des ta asserção ?
Dizer q ue o celibato-dedicação vale m ais· � em
si � do q ue o casan1ento não é pretender q u e
o celibato deva ser i ndicado n a prática a todos
os i ndi vid uas nem que q ualquer p essoa que
tenha abraç�do este estado, mes�o por motivo
de ded icação, sej a mais pe rfeita ou 1nais sant a
que a casada. É un1 a sim pies corn par ação de
dois « es tados � con1o tais, sen1 d e t erm i nar q u al­
que r apl�cação concreta.
Um ex�mplo far-no s - á cotn preen d er co n1

faci l idade a q uest ão.


Admite-se fàcilmenteq u e a profi ssã o de
m éd ico ten1 em si u tn valor h u 1nano e so ci al
tnais ele\rado que a de come r ciante . A pr i m e i r a
di rige-se directa n1e nte ao « ho m e m » ; a seg u n da
visa « merc ad oria ,. . P ro ­
mais imedi a-tan1ent e a
fes sa r a me dicina implic a um incita m e n t o à
dedicação , a gratuid ade d o s c uidado s a p r e s ta r
a os p o b re s, os r i sc o s pes soais d e c on t á gi o ; 0
co m é rc i o , e m " si, na. o
c o n1 porta d i re ct a n1 en t e
n�nh�m a des t as ob r igaç õ es , mas e x ige s ó men t e
� J U s tiç a e � hones tidad e n os negóci o s . A p r o -
Iss ão méd 1 ca é p
orta nto rnai s nob re e v a e
l
.
tn a is em si do q ue a c omercial.
� a s p o d e r em os c o ncl i r q
u ue aque la pr o fis s Ao
se1 a a In e l hor p ara t o d o s � Milhõe s de h onl e n
s
O Casam 1,to 55

são i.ncap az e s de ser médicos q uer por falta


de a p t id ões quer por não sentirem vocação
<>u lhes f alt ar a saú.de . Por outro lado, qual ­
.q u e r que s ej a a n ob re z a dos motivos que lhe
.ditaram a e s col h a da sua profissão, um médico
não tem necess à riam en te m ais valor humano
-ou s o c i al do que um comerciante. Q uem
tivesse pe rdi do o espírito da sua profi s s ão
para só descobrir nela o ponto de v is ta finan­
ceiro, valeria menos do que uni comerciante
q ue dirigisse os seus negócios com espírito
s o c i al , para facultar aos seus co n ci d ad ã o s os
produto s necessários, ú teis ou agradá veis, e m
n1elhores c ondiçõ e s .
O q ue a Igrej a ensina no que diz respeito
•o cel ib ato tem portanto u m sentido ben1
n ít ido : com para os estad o s , mas n ão visa as
pessoas que neles vivem.

Tendo sido bem esclarecido o alcance d e sta


a ss e rç ão re st a dem on s tr a r a ve r dad e .

O c eli bato religioso te1n , em si, n1ais valor


do que o casamento, en1 p rimeiro lugar porque
o ferece m ais facilidade de se dedicarem exclu­
sivamente a De us. Se na.o é i mpossível espi­
r i tu a l i z ar. . o in s t into sexual, aceitando-lhe o
prazer dentro d o pla no desej ado pelo Criador,
acontece q u e, no en t a n to , é e x t re m an1 ent e
penoso. A experiência p r o va q u e este in s t i n t o
O LiilYO da Rapariga

apre sent a verd ad eiro perigo de arrastar a ahn a


para o Inaterialisino e para. o sensua lisn1o e
de a des viar das preocup ações espiritu ais. Por
out ro lado, pela própria força dos fac to s, as
inquietaç ões econón1icas, a preocu pação do pão
'
cotidiano adquirem no espírito do esp oso e
da espos a un1 lugar preponderan te : resta -lhes
pouco ten1po para se consagrarem à reflexão
religiosa e � oraçãq : a co1nun hão diária, a
assistência à n1issa durante a semana, a leitura
espiritual tornam-se-lhes n1uitas yezes pràti­
camente impossíveis ; todo s estes factos con­
tribuem fatalmente, salvo vigilância muito
atenta para tornar cada vez n1ais difícil a
.prática intensa da vida religiosa. O celibato,
afastando radicalmente estes obstáculos, ofe- ·

rece i ncontestàveln1 e nte possi bilidades espe­


ciais de se consagrar 1nais a Deus e às suas
obras.
O celibato religioso proprian1ente dito é, por
outro lado, na sua raza.o de ser un1a doação
mais total e mais imediata a Deus.
Os factos provam-no : o rapaz ou a rapariga
que renunciam ao casan1ento e ao amor co n­
j ugal para adaptar voluntàrian1ente o celibato­
-dedicação não o fazem, ordinàriamente por
despeito, nem por falta de sensibi lidade ou
de ternura, mas para não · terem o coraça.o
dividid o e para pod erem dedicar-se n1ais ao
culto d e Deus e a o a po st o lado. Se, pel o c on-
O Casanunto 57

trá rio e nc a rarm os o p e n same n to que leva de


o r d iná r i o rapazes e r a p ari gas a casarem-se,
s om os f or ç ad os areconhecer que o seu móbil
habitual , pelo 1n e nos de o rd e n1 principal , est:í
bast ant e longe do anseio de p r o curar maior
glória de Deus ou a sal v ação das suas almas.
Isto não quer dizer q u e as suas razões sejam
más ou d es pre z í v e i s, ainda que i ss o possa ..
tam bén1 a c ont e ce r por vezes ; mas é certo q ue
o valor re l i gi oso · dos seus In a t i vos é n1enor
q ue o das :cazões que levam outros j ovens a
escolher o c el i ba t o r e l i gi o so .
É a dln i ss í v e l q u e qu anto n1ais elevado for o
o bj ecto du ma profissão, n1aior será a sua digni­
dade. O ra , o celi bato por dedicação ocu pa-se
inteiramente de i n t er e s s e s sobrenat urais e reli­
gi os os ; visa imediatamente a c u l tu ra e o desen·­
volvimento dos v al o res eternos no homem.
O o bj e c t o iinediato do ca same n to, Jonge de
ser condenável, é . no entanto tnenos orie ntado
para o desenvolv iinento es p i r i tua l . . Para o
c e l i b atoé un1 novo n1o tivo. de s u periori dade.
F in a hn e n t e , não sob o ponto de v is ta reli­
gi oso , in as so bre o ponto de vista so cia l , ten1
n1ai s valor p o rq ue oferece maiores possibili­

dades de dedicação aos o utros. O motivo dos


votos de pob�eza, de castidade e de o b ediê n c i a ,
não é, como se j u lga ge ral m e n t e, un1a v o n t ade
de penitência, de mortifica ç ão ou de austeri­
dad e m as, pelo con trário, u m desej o de l i b e r -
sa
O Livro da Rapariga
--- �-- ------- ------

tação. Prete n d e-se a e n1anc i pação d e en cargos


e cu idados, compan heiros i nevitáveis da vid a
Iuatri nionial, não por egoismo neni por co var­
dia, nem por medo das · respon sabil idades e

d os trabalh os inerentes ao estado de esposa


e de m ãe, m as para poder d ar-�e, m ais total­
In ente, ao serviço de D e u s e ao serviço d o
próxitno. A experiência dem onstra-o ; os celi­
batários q u e n. ão t ê nt encargo s d e fa ntília, são
n1enos sensí veis.. às co n tingên cias econón1icas e,
por i sso, têm 1nais tempo, tn ais y agar, u rn a
liberdade n1ais completa e u ma n1 aior lati tude
para se consagrarem sej a . q uando for e onde
q uer q ue sej a a toda obra q u e req ueira dedi­
cação.
A l i berdade de acção e ntre as pessoas casa­
das é m u ito Ine n or por causa, precisamente,
.
dos seus deveres fa1n iliares (I).
Alg uém di�se, cem esp írito e con1 verd ade ,
al u d indo às d ifi culdades q ue têm os pa i s e a s�

( 1 ) Um facto recente é sob e�t ep o n t o d e vista, co mo


aliás n outros, m uito significat ivo. F ora dirigido u m
con vite aos padres e aos znédico s d o país para ire m
aju da r, n os campos d os prisi oneiros
, os cap elãe s e 0
pessoal médico d os S e r viç o s d e Saúde. O pr oj ec to e ra
� ria r varí os turnos p ara q u e o s e n cargos não re cafs se iD
s e m p re so bre a s m esm a s pessoas. Responde ra m a es t �
c onvite t res m é d icos e q ua renta e q uat ro padre s, i st o e
u m por q ui nze, q u ando o núm ero d o s m édico s e d o s
pad res conv id ad os era s e n si vel m e n t e igu al.
O Casam e11to 59
-------____,.�- -- -- - --

mães de fam ília em encontrar tent p o para se


. consagrarem a o bras de e l ev ação f am ili a r, de
ed u c açã o das massas e de apostolado social,

q u e a família seri a sal v a pelos celibatários.


Um exame su p e r ficia l da história das o b ra s
fundadas a favor das famílias, provaria efecti­
vamente q ue grande número delas deve a sua
origem, desenvolvimento e s uce ss o à dedicação
de celib atá ri os .
A Igreja não estará j u sti fiêad a por e n s i n ar
que o celibato-dedicação é, considerando ape­
nas o estado em si mesnto, s uperi or ao casa­
mento ? É j u s to acrescentar-se que, no que
diz respeito a cada um de nós en1 par tic u la r ,
não im po rta tanto considerar este e s t ado de
ma neira absoluta como de nos i n t errogar mo s ,
conforme as nos s a s aptidões e os nossos go s to s
e s e g u n d o as circunstâncias e indicações pro­

v i dê n ci ai s que p ode re mos a d q uiri r, qual será


a nossa vocação, a que estado de vida Deus
nos de sti n a e o género de acti v idade que Ele
es pera de nós.
SEGUNDA PARTE

A ca· m in h o do casa me n to
1
Futura espose

EPOIS de tern1os analisado a naturez a

D do casan1 ento e d ed uzido dos seu s ele­


m entos os fins prov idenciais a que deve
corresponder - aperfeiçoa mento tnútuo dos
esposos e progresso d a Cidade terrestre e do
reino de Deus pela procriação e boa educação
dos filhos - tratare1nos, nesta segun d a parte,
de tudo o que diz respei tq à preparação para
o casamento.
Esta ordem pareceu-nos a 1n ais lógica, e tn bora
certas exigências pareça m In ais plau síveis só
q uando con1 preendern1 os verdadeira m ente a
missão a q ue teren1 os de atender.
Estudare m os, prin1 ei ra n1ente, o tríplice papel
que está reservado à rapariga : esposa, m ãe e edu­
cadora. Falarem os, depois , d o noivo esperado,
da sua escolha j udiciosa e da atitude a observar
para com ele.

Casar-se, para u tna nl u l her, é ace itar a tu is­


s ão de auxiliar o marido sob todos os as pectos
apa riga
O L ivt·o da R
6-��--- ----- ---- -------

a s su as qu ali
d o se u s e r }� e l
·
'
d ad es es pec ific a -
n t e fem .
l n in as ' a m ul he r en contra -se em
tne
me lho res circu n st ân cia s q �
e q u alq u er ho me m
t c
pa ra lhe pro po rci on ar um en� iq � �1en � o m ­
ue i
plem e ntar abso lut an1e nte típic o. E aind a Ind es­
pens ável , para a real izaç ão dest e belo programa ,
que ela na.o ] eve en1 dote u m gran de número
de · defeito s, n1 as, p elo contrá rio, que a s u a
corbe lha de núpcias seja guarnec ida de verda­
deiras virtud es.

Em primeiro lugar, para ser un1a boa esposa


· é preciso ter saúde. Muitas raparigas mos­
tram-se, neste especto, verdadeiran1ente indi­
ferentes . Quantas delas, sob pretextos fúteis,
tais como a estética ou a im pressionabilidade,
se não alim entan1 , in-suficienteme nte ! O seu
reg ime alim entar é a maior parte das ve ze s
extravaga nte, caprichoso, à 1nercê do s seus
apet ites e das suas emoções. Melh or seria
procura rem acin1a de tudo, a conse rva ção do
se u vi go r fís ic o.
A saú �e femi nina não é q uali dade q u e s e
desprez e sem prej uízo d a felicida de n o l ar.
Se a_ e spo s a está m uitas vezes doe nte o u si m ­
pl es me nte ado entad a, é n1 u i to de te n1 e r qu e
.e
e st e e stado se não r ef l i t a n a sua dis p os ição
n o s e u ca rácter ; senti r - se - à f à cil mente d e s a nl­
m a da, abor recida, fatiga d a , queixand o - se a cada
O Casamtlllo

passo : atmosfera pouco propícia à conservação


da boa harmonia. Por outro l a do, contentar­
- se-á com m a ternidades raras ou muito espa­
çadas, o que forçará os esp o s o s a ado pta r na
sua vida íntima um ritmo q u e não d e i x ará de
levant ar d ificuldades à b oa harmonia do lar.
É certo que o marido deve p o der impor u ma
cefta d isc i p li na aos seus sentidos, cont udo
com dificuldade s u portari a uma vida de asce ­
tismo q uase hab�tual. O molde normal do
casamento não é a con tin ê n c ia , mas o uso
moderado e prudente da u nião q ue per mi t e
u m aumento d e amor mútuo e evita m u itas
...

t e nt a ções .
A saúde feminina facilita n e c e s s àr i a m e nte
estes resultados.

A ex p o n t anei dade ingénua da ternura da


esposa e a integridade das suas capacidades
de afei ção f a v o r ec e m m u i t o a boa harmonia
con j u ga l . A q u i lo a q u e o h o m e m a s pi r a, o
que ele de s ej a encontrar no lar, ao regre ss ar
a casa, é u m coração q uente, terno, afect u o so ,

j un to do qual encontre paz e c�nforto, o � de


vá b u s ca r iniciativa ·e coragem. E nt u i t issimo
i m po rt ante que a rapariga não chegue ao casa­
mento já p re v e r t i d a pela vida, depois de ter
desperdiçado no flirt t od a a sua fresc ura e
riqueza de sentimentos. Desperdiçando-se en1
O Li •.rro da Rapa rig a

riga tor nar-se -á q u as e i n ca­


na mo ri cos , a rap a
al e durad oiro, de m i n ue as
pa z d lJ. IU amo r tot
s u a s prob abi
lidade s d e fundar u m lar fel iz e
ded icad o por q ue, atr avés de to das essas av en-
. t u ras, ela busca m uito mai s a sua p ró pria
satisfação sent iment al e o P!aze r de se sen tir
an1ad a do q u e a de tornar feliz os o utro s.
Torna-s e assim , 1nais ou menos i nc apaz de
am ar profu ndan1 ente. A rapariga q ue deseia
f undar u m lar u nido e selado em am or, evitará
aviltar, em avent uras sent imentais sem futuro
e sem e s perança, a prim azia e o c a lor da sua
ternura.

A felicidade rio lar também exige a espo sa d


u m conj u nto d e con hecim entos téc n icos n1 u ito
fi r m e s Na m e dida do possível, deve p o s s uir
.

u m a b oa c ultura intelectual e deve sab çr co m o


_
se gove r na uma casa. Cozinha, cost ura e e q u i­
líbrio financeir o não dev erão ter para el a
· segre do algu m A ignorância d est as co is as,
.

a incapac idade de bem cozinhar e de m an ter


e m or detn o int er i or d o lar muito lo nge d um
m o ti v o de vai dade e s u lta s ó e v iden ci a m m u i o
t �
s im plesm ente, u m a ignor n cia co nd en á v e l
� a �
perita
.

epoca act u al, I mporta que a n1 u lh�r seJ a


· . ·

na adminis traçã o d a cas a . Os fa c to s pro vaJD


.
qu e esta comp etên ci a alivia s e n s1. v. e lmente o
o r ç aiu e nt o fam iliar . A h abi lidade d a e sposa
O . Casam ento

pode proporcionar aos seus u m grau de - con­


forto igual ao q ue uma mulher mais afort unada
mas menos competente o bteria . com mais u m
·
terço o u u n1 q u arto d a receita .
· Nos nossos d ias , em q u e .as fort unas são
essencialmente instáveis e as receitas d e nl u i ­
tos lares estritamente li n1 itadas, a capacidade
de dona de casa reveste-se d e 1;1ma impor­
tância financeira excepcional. Cozinhar, apro­
vei tar bem os restos, cortar e confeccionar
os fatos das crianças , ou n1esmo parte dos
seus, que alivio para as finanças familia­
res ! Que b eneficio também para a paz do lar !
A experiência prova-o : . no fu nd C? , a desar­
monia entre os esposos ou a origen1 d os con­
flitos e ntre o novo lar e os pais o u sogros
·
· andan1 à volta, a m aior parte das vezes, de
q u estões de dinheiro. A competência n este
can1 po é _ não só neGessária mas útil e agra­
dá vel. Cos tun1 a d izer-se q ue os bons 1n aridos
são gulosos. ·ralvez isso não corresponda
sempre à verdade, tn as o certo é q ue a q u ali-
. dade da mesa é um dos elementos q u e os
prende mais eficaztn ente ao lar. A ciência
culinária ten1 não sõ felizes repercussões finan­
ceiras, 1nas ainda van tagens amorosas q u e nao
são para desprezar.
In depende ntemente desta cultura técnica,
absol utamente necessária e ind ispensável à
futura esposa, ser-l he-à preciso, segundo a sua
a
68 0 Livro da Raparig

u 1n a b o a cu ltur� ge al
po si ção s oc i a l ,
r . Os
un1 a m ul he r bo a do na de
ma rid os a p r eci a m
ba sta . Pa ra uma c on­
ca sa 1na s iss o nã o lh es
� des env olv im ent o d e
trib ição mais ef�c az n o
seu mari d o , ela dev e pos suí
r al g un s c onh e ci­

me nto s que vão a lé m d a qu e les e n1 que, a maior


par te das vez es , a cul tura m asc ulina é difi­
cie nte. Q u e repo uso para o e spíri to, que enri­
quecim ento intele ctual, que benef ício ínti mo
não resultar iam das convers as entre os espo­
sos, 'Q.ltrapass ando as preocupa ções econóinica s
m asculinas e os cuidados cas e iros femininos.
Seria bom que, para alétn destes horizont es
limitados, eles pudessen1 encontrar-se em con­
v ers a s mais elev adas, onde cada u m , mos­
t ra n d o a sua m aneira d e v er, pe r m i t i ss e ao
outro enri quecer a s u a visão dos ser es, da
vida e do n1undo . C om ung an d o assim, os doi s,
e m satisfa ções s uperiores, estreitaria m n1ai s os
laços de amiza de e de afecto que os u nem.
Para ser u m a boa e s p o s a a ra p ar i ga te n1 de
cu l tiv ar a vo nta de . A m anh ã no lar, par a tor­
nar a s u a casa em m ansão de paz, de a le gr i a
.
e de c onfor to, p ara se m anter se m pre s orrt·
d� nte, ser - l he-á indispen sável uma do se c on ·
side ráve l d e e ne r g ia e d e coragen1 . A m u lh er
de v e man ter- s e l i nda, at r ae n t e e , s ob r e t u do,
mo ral m e nte enc antador a · deve ser o s or ri s o , a.
ale gri a e o s o l do s e u l r.� T udo i s to par ece
fâcil à s rap ari g as, n o s s e u s s o nh o s , ma s ex i ge ,
O Casamento

na prática, uma virtude sólida. Surgem mil


contrariedades q ue roubam tâo fàcilmente a
corageni e o sorriso do coração e dos lábios
da esposa : incómodos da gravidez, noites mal
passadas à cabeceira dum doente, decepções
mais ou menos pungentes, consecutivas, ao
descobrirem-se os defeitos do homem, excesso
de trabalho devido à m odici d a de de recursos
ou à• quantidade de filhos, fadigas cotidianas
ca � sadas pelos seus gritos e iogos, etc.. ,
E preciso portanto que, desde longe, a rapa­
riga se entregue activamente à formação d o
seu cará cter e da sua vontade ; que se habi t ue
a su perar essas alternativas de sentiinentos,
muito femininas, esses altos e baixos a que
se entrega tão fàcilmente. A rapariga deve
esforçar-se, desde cedo, por se mostrar corajosa,
e igual · através das dificuldades de cada dia .

Àcerca do casa1nento deve for1nar u 1na ideia


realista e forte. Longe de c o n s i st i r numa série
ininterru pta de prazeres sentimentais, de ale­
grias e de facilidades, ele exige muitas con­
cessões, renúncia às distracções preferidas e
aceitação d e fadigas temíveis. Nem sempre
é agradável acompanhar o marido onde el�
deseia ir, ou ficar em casa com ele quando Se
preferia saí r . . . Na da há mais no c i v o para a
rapariga do q ue acost un1ar-se a ver no casa-
o Livro da Raparig a

me nto ap en as u ma
f on te � e go zo o u , • p i or
ain d a, d e · u m a vida
toda fac1 hda des, cheia d e
. .

fest as e d e p razere s Sab er renú ncia r· e de d i­


.

car- se � por t u n am e n te é a mel hor preparaç ã o


para a gr a n de tar efa d o lar .

É d e desej ar, finalm ente, sob o ponto de


vista religio so, q u e a rapari ga c u l t i v e •uma
vida interior intensa. Na maior parte das
esposas j o ve n s , a piedade sofre a r e percus­
s ão do s e u novo género de vida, o que lhes
dá u m a impr'e s são m u i t o n í t i d a d e rec uo espi­
ritual. O fervor feminino anda fortemente
l iga d o à o b s e rv â n c i a d u m ·c er t o n ú m ero d e

p rá t i c a s r e l i gio s a s Ora, acontecf! freq uente·


.

n1 en t e , quer p or falta de t e m p o q u er por neces­


sidades c a s e ir as, q uer pela i nfluê ncia d u m
m a ri d o menos fervoro so, q ue os ex ercíc io s de
p i e d a d e da j ovem es posa se es p ac ea n1 perigo·

samente. •

Não poderá como dant�s · c o n ti n u ar a a ss is t ir


todos os dias à m issa, apro xi mar -se fre q uen te·
mente d a San t a Mesa, a ssi s ti r a c onfere ncias
ou f a z er me dit açõ es.
·

Se ela n ão tiver u ma boa f o rm a ç ã o d e v i d a


i n t e r i o r , é f á c il u m a cert a d e c adênci a re ligiosa.
Par� i mped ir "ist o , a rapariga deve ria de d ica r - se
p art ic ular ment e, não t a n t o . à prátic a d e exer·
c ic i o s religi o sos pr opri a tu e n te dito s, n t a s à
O Casam e11to 7I

aquisição dun1 p rofundo e s p í ri t o de fé : habi­


tuar-se a ver a vontade de Deus em todas e
em ca d a u m a d as s uas ocu pações diárias ; enca­
ra r, por exen1plo, o s e u traba l h o caseiro de
cada dia como se lhe f o ra Í ln p o s to por Deus ;
convencer-se de que, ao realizar r eg u lar e
sitn p le s m en te o seu dever de estado, execu ta
o d e s ejo de D e u s e realiza a s u a p r ó p r i a san­

� i f i c aç ã o
.

Impregnando a vida cotidiana d a vontaçle de


De u s no ciun prin1ento d o s m enores deveres do
seu estado e es fo rç a n d o s e por os satisfazer ·o
-

m e l h or p o ss ív e l com a m or, preparar-se-á adnl i­


ràvelmente para . a espiritu alidade da 1u u lh e r
casada, n1 u ito m ais p r o t e g ida pelo puro espí­
rito de . fé, e evitará u ma boa parté d as d i f i ­

culd ad e s esp i r it u ai s pr e v is t as
.

Se a rapa:riga s e habituar sêriatnente a e s t a


es p i r i t u a l i d a de forte e · se o marido poss u ir

u m a c e r t a forn1ação religiosa, ela vencerá


fàcilmente este passo inevitável no começo d a
�id a c o n juga l e poderá n1 esmo, servindo-se da
s u a própria riq ueza, aj udar o 1n ar i d o a inten­
sificar a sua vida espiri t u a l .

As rap a r ig as sonham nt u ito com o seu futuro


casamento, e en c a ra n1 co n1 a legri a as tarefas
que as ésp e ram. Q u e esses sonhos lhes s ej a m
fonte de a l e gr i a , tanto 1nelhor ! Mas q ue não
sejam apenas devaneios, e q ue contribuam
para u n1 a resolução · concreta e p rá ti c a con1 o
'j2 O LiVf'o da Rapariga
---

é a de se pre pa rar e m de lo nge e acti v a mente


pelo estrito c um primento d e tod os os se u �
de vere s n o lar, e po r u m eif orço per se v era nt
e
de e nrique c imento c ult ural . e religi oso, para
re al i za r a mag ní f i ca m i s sa o de esp osa.
2
F utura mãe

SEGUNDO fim providencia l do casa­

O m ento é a maternidad e com a sua conse­


q uência normal : a edu cação dos filhos.
A n1aternidade é a fonte sagrada donde
en1 anam a permanência e o progresso da
Cidade terrestre e da Igrej a. Deve ser · ao
mesmo tempo generosa e pru dente. Generosa
de m aneira a dar vida a tantos filhos quantos
seja razoàvelmente possível, atendendo sempre
às possibilidades da sua educação co1no homens
e como cristãos ; pru dente, de forma que a mul­
tiplicação dos n ascimen tos e a s u a den1asiada
aproximação não molesten1 a saúde da n1 ãe e
não· ultrapassen1 as possibilidades de educa-
·

ção do lar.
· Ê preciso q ue cada rapariga vá pá ra o casa­
nlento com o desejo intenso de fundar uma
fam ília onde nu merosas crianças vejam a luz

d o dia, segundo o voto ardente da Cidade


terrestre e da Igreja, salvaguardando as exi­
gência·s d u m a boa educação tanto 1n oral cç>mo
O Liv1·o da Rap a riga
74

re l i gi o sa. No e n t a t o
n , n o do � ínio da
i nstr u ..

ç ão, é preciso p r e �e �v a r-s e cu�dados a men t e d e


a nl b ições destne dtda s e sobre t u d o d o desejo
d e r e s t ring i r e x a ge ra da tn e n t e o nú n1ero de
�eus fil hos s o b o pr e t e x o, por v e ze s i n s i ­
t
di o s o , de p e rn1iti r ao fi lh o ele var - s e
único
o e
ac in1a d a c o nd i ç ã d seu s p a i s .

Desej a r filho s, desej á-los no maio r nú m e ro


possi vel, tal d e v e r i a ser a m e nt ali d a de no r m a l
da ra pa r g a que as pira ao casam en to.
i

Ê e v i d ente que a 1n at e r ni d a d e e xi ge um

_grande núme ro d e qualidade s , tant o fls icas


como morais e r e lig ios a s .

Para ser mãe, mãe de m uitos filhos, e para


ser u n1a boa ed ucadora, iril p o rt a , em primeiro
lugar, ter s aúde. As raparigas nen1 sempre
a t en d e m a q ue o seu e stado de s aÚ d e lavo·
rece ou arrulna o vigor dos seus fu t uros filhos.
Uma · saúde fraca ou prej udicada por im pru­
dê n c ias ou n e gli g ên ci a s tornará a m at ernida d e
mais difícil e m ais pe no s a .

Q uanto m ais resistência tiver un1 a tnulher


m elhor s e rá a sa ú d � d e se.us _f ilhos, mais fácil
lhe será a grav idez, 1nenos p e nosa s a s i nun1e·
rá v eis fadiga s c a us adas p elos c u i da d o s d a· s ua
educaçã o .
A ro b ust e z d os f i l hos e vi ta à n1ãe m uit as
v igí lia s e i n q u i e tações : na d a há m a is lan ci ·
O Casanttttfo 75

nante para ela do q ue ver um filho d é b il e .

fraco sen1pre en1 l uta con1 a doença I E se


tn ais t a r de ela a tr i b uí s s e às i m pr u d e ncia s da
j u ven t ud e a perda de unt deles, que rentorsos
a não a tor1nentarian1 !

O pr o b le ma da saúde deve s er encarado seria­


mente. Não se deve malbaratar por sno bismo,
cont noitadas repetidas e fatigantes, nem mesmo
por unta dedicação que ultrapasse a resistência
físiça. E claro que o últin1 o motivo é o m ais
digno do nosso respeito, n1as não é razão plau­
s ivel para arruinar a saúde.
Uma forma excelente de se prepararen1 para
a maternidade e a ed ucação física. A disc i pl in a
que exige u m método s e g u i d o é p or vezes incó­
nloda, mas proporciona _benefícios de energia
tnoral apreciável e vantagens reais para a
saúde.
A ginástica apropriada ao sexo feminino, que -
desenvolva certos m úsculos abdominais, per­
nlitirá evitar vários aborrecimento s na altura
dos partos. As nossas lei toras não deixarão
de d ar à cu l t u ra física o lugar que lhe é
de\'"ido.
Se a rapariga desej a estabelecer no seu lar
u tn r i tm o de naschnentos prudente e ao mesmo

ten1po generoso, rítn1o que só se obten1 licita­


tnente p ela adaptação · das relações conj ugais
aos perío dos d e fe c u ndi daàe e de esterilidade
feminina, é útil que ela tenha, desde ja, u nta
O Livro dG Rajarign

vid a f i s iológica reg u lar. Esta reg u l ar i d a d e �


sina l d u m bon1 e s tado d e saúde g e ral e , m ai s
ta rd e , se rá garan t ia d u m a so l u ção h o n e s t a e
favorá vel a uma boa compreens ão, n e s ta q ue s­
tlo tio d el icad a d a fecund i dade. E m t o d os

os caso s de irre gu larida e , de p o u c a i m po r ..
tancia q u e sej am, a rapariga dev er á c on s ul t a r
o m éd i c o .
Por out ro lado, de v e a costum ar - s e a u
m
certo dom ínio durante es s e s d i a s d e s agrad á­
veis, habituand o-se a mostrar boa c ara a se u
marido e aos filhos, e a m anter -se de hu m o r
ipal, -pormenor que não se dev e de spr e sar
para a feliz har m o n i a do lar e p ar a u ma bo a
educação.
Quantas mães, n es tas alturas, não perden1
todo o controle dos seu s nervos e c a stigam
os filhos sem razão e sem m edida !
. « Lamentar-se _poderá ser bom para qu em se
lamenta ; mas é m u i t o m au p ar a o amor que
ab re a porta e . • • se põe a andar. É evidente
que não nos referi_m os a d oenças em cu i o
decurso a d e d i c a ç ão daq ueles que no s amam ·
se m a n i fes ta i nt ei r an1 ent e ! ,
A do e n ça é u m a coisa q u e m erece ser tomada
en1 consideração . Referim o-nos, a p e n a s, às
i nd is p osi ç õ e s passageiras, inerentes à condi­
ção da mulher. Se as nossas filhas p r e te n de m
q u e o an1or se dê bem no seu lar é prec i so
tornar-lhe a v ida ag ra dáv e l : q u e elas tenham
U Casatne11to 77

cuidado, m ui to cuidado. O an1or é assim ;


se r;n pre as si m fo i.
A s prov açõe s, as doenças , os desgostos
aun1 enta n1-no ; as beliscaduras cotidianas, . as
peq uenin a s tein1osias frequentes, as decep­
ções, os peq ueninos nadas que o feren1, as
r;angas dão-lhe a morte. Ele que é capaz de
trans por montanhas, esmorece e irrita-se por
�q uenos nadas (r). »

Para ser boa 1uãe e boa educadora, a rapa­


�iga deverá iniciar-se seriamente em puericul­
;ura e em pedagogia. O conhecimento teórico
� prático da puericultura, contribuindo para

L boa saúde da criança, facilitará do mesmo

no do a formação do seu carácter.


Uma criança que goza de boa saúde anda
�eralmente bem hum orada e é fácil de educar ;
lassa noites calmas q ue permitem aos pais
lormir em paz. As doenças, pelo contrário,
1obretu do quando frequentes obriga1n, quase
atalmente, a amimar o pequenino doente, situa­
:ão sempre prej u dicial por po uco prolongada
tue seja. É evidente que não é possível evitar
odas as doenças às crianças. No entanto,

{ 1) Madame V éri ne, Le }t oviciat du Mariage1 Paris,


i p es, pp. 28�-282.
..

·
O Livro da Rapariga
'j8

e n t e s po d e n1 afa s t
a lgu n s c u i d a d os i n t el i g ar
ntui t as d if i c u l dad es.
A e d u c aç ã o é u nt a ob ra
c o n1 p li cada.
Cad a crian ç a ten1 o se u c ará c t er pró prio e
req uer ser trata d a d u m a forn1 a a d e q u ad a :
unta 111os tra- se t í mi d a , outr a atrev id a ; e s ta é
alegre , aque la de m asiado sensív el. N ão e x iste
unt m é to do pedagó gico u nifor m e, apl icá vel a
t odo s e s em pr e .

No e n t ant o, q u ai�qu er que se j an1 a.s im pe r­


f ei ç õ es , e s ta ciência o ferece u m certo nú mero
de conhecim entos úteis e de conselhos aprovei­
tá ve i s A ra par i ga faria bem, em vez d e de for-
.

- mar o espírito com l e it u ra_s insignificantes,


sentiment�is ou romane�cas, e m . i nt er e ss ar s e -

por est udos d e ped agogi a p rá t ic a e bem orien-


ta da.
,

Não po deni os, sob este ponto de v ista� �enão


la nt e nt ar profundame nte o gé nero de. for mação
a pl icad o às raparigas que fre q u en ta m os est u­
dos li c ea is o u un i ver si t á rios . O 1no ti voque
i ust ifica o estud o é i n atac áv e l ; é de desej ar,
como já d issen1 os e voltamos a .repetir, q ue
a s ra par igas a d q u i ram unta verda deira c ult ura
i n t ele ct ua l . N unca porén1 esta cult ura p ode
ser ab sol u ta n1 e n te i gu a l à d o s rap aze s , sem
ate n der à me ntalidad e e à m i s s ão fe mini ­
nas . Infelizm ente, q u a n d o s e de u o ac e sso das
rap arigas aos est u dos lice a is e uni vers itá rio s ,
nada e n co n � ra ra m n1elhor_ , do q ue in1 por- lh e
O Casam ento 79

pura e sin1plesm ente� o progratna utiliz ado


pelos rapazes.
O estu do das hun1a nidad es e da u niversi­
dade dever ia d ar à n1 ulher uma for1na ção
intelectual compl eta. Ao lado da cultura espe­
cializada, -necess ária à s ua profiss ão eventu-a l,

deverian1 adquirir con hecin1entos suficiente-


nlente vast_os daq uelas matérias en1 que, nor­
malmente, viverão - a puericultura e a peda-
.

gogta. -

Actualn1ente, isso não entra em linha d e


conta. É certo q u e a instrução q ue receben1
.lhes pertnitirá iniciaren1-se pessoal mente e·
com facilidad.e nestas disciplinas. l\1as, leva­
das pela força da inércia, n1 ui tas delas con:
tentar-se-ão1 em assuntos tão Í111 I:> Ortantes para
o seu futuro familiar, con1 un1 empirisn1o i nato.
Dever-s�-ia atender a que a rapariga, a
m aior parte · dos casos, é uma futura mãe.
A preocupação com esse destino deveria
influir na s ua educação. Os cursos teóricos
não bastan1; U m a boa orientaçl\o prática ofe­
receria, entre o utras vantagens, a da instru­
ção nestes assuntos.
Se como esposa, a n1ulher deve ser corajosa
e possuir unia virtude sólida, isso não l he é
menos preciso cotno m ãe. A maternidade,
como vin1os, desempenha: um 1nu nus socia �
enorme e é bastante penosa. Incóinodos e
fadigas da gravidez e do parto, vigílias e
8o O Livro da Rapariga

inq u ietações nos primeiros anos de educação,


exigem, para serem suportados corajosam ente,
verdadeira energia de vontade.
Não resta dúvida alguma que a educadora
deve possuir o au to-dom ínio dos seus nervos.
A calma, a paciência, o controle dos movi-­
m entos espontâneos, t ê m na educação u ma
grande importância, q uando se trata, por exem­
plo, d e mandar devidatnente o u ter um certo
tac to e tn edida nas reprimendas e castigos.

A
n1 ãe com o a espo sa deve tuanter, no
seu lar, uma atmosfera de são optimismo.
Isto é tão necessário ao d esenvolvimento
moral d a criança como o sol ao seu desen­
volvim ento físico. A criação deste cli ma de
alegria requer, ainda com m aior razão, a cora­
gem e o vigor moral j á tão necessários sob
outros pontos de vista. As raparigas não dei­
xarão passar, portanto, nenhuma ocasião para
ad q u irir em estas virtudes .
Tanto em família como nos seus tr ab al h o s
procurarão dar pro v a s d e corage m e de o p ti ­
mismo . É certo q ue as circu nstân cias econó­
micas actuais não s ão de nature za a fav orec er
e st as virtudes . M uita gente se se nt e de pri ­
m ida e ene rva da.
A rap ar iga reagirá contra este pes si mi s m o,
·
tão no civo ao seu lar de amanh ã c o n1 o de s a-
o CIISIJIII MID 81

gradável para os que a cercam actualmente.


Considerará a OS àcontecimentos COm espírito
de fé, aceitando a vida actual como u ma
tarefa imposta por Deus e adquirindo, através
desta visao sobrenatural, confiança e coragem .
3
 espera do Príncipe Sonhado

RDINÀRIAMENTE, o fün dos estudos

O da rapariga é separado do seu noivado


por algun1 espaço. Este ten1po precioso,
que poderia ser aproveitado tão utiln1ente é
de s per d i ç a d o a 1naior parte das vezes.

Certamente que é legítüuo esperar e desejar


o casa1nento : é a v ocação norn1al da 1nulher.
Tam bém se con1preende que os pensamentos
e os sonhos das ra parigas se prendam a .esta
visão esperançosa. hnport.a , porén1 , que viva 1n
estes anos de espera, se1n inq uietação exces ­
siva e se1n angústia. Por vezes, encontram-se
raparigas _que já antes dos vi nte anos v iven1 ,
obcecadas por s e casaren1 o n1 ais cedo possível
e sofren1 uma verdadeira fobia de ficaretn sol­
t eiras.
Co m preen de-se q ue te matn esse f u t uro , q u e
n ão cor res ponde aos se u s desejos ne n1 às s uas
pro p ensões. Mas deveria n1 evitar entrete r-se
0 Livro da Rapariga

nes ta esp éc i e d e ps i c
o se e n1 face d o cel i ba t
� .

Ê noc iva a preocup aç ão, contí nua e lan cina nte,


do rapa z a encon trar, ou d o noivo
a p rocu rar.
Esta s preo c u paçõ es i n qu ietan tes não te rão
outro res ulta do senã o o sofr im ento, em m u i ­
tos caso s verd ade ira m e nte . infu nda do . A v id a
reserva-no s tanta s ocasi ões e spont ân ea s de
sofr iment o que n ão há n e ce ss i dad e de, volun­
tàriam ente, busca r o utras.
Noventa por cento ' d as raparigas encontram
u m marido ; isto q uer d izer que grande número
daquelas que passam o -tempo a inquietar-se
e a atormentar-se, sofre m inutiln1ente, uma vez
qu e mais tarde também s e realizará para e las
o sonho tão desej ado. Entretanto, duran te
semanas, m eses e tal vez anos, e n t r ist ecer a m a
sua vida c o m receios d es ta natureza.
D e u s sabe se, ao m esn1 o t e m po, não azeda­
ram· o seú t e mperam e n to . Estas preoc upações
contínuas, estas esperas vão provocar, de facto,
um certo d es peito na rapariga. A s ua maneira
de s er m o difica-se ; torn a-se sombria e melan­
c ól ica. No convívio com rapazes, most ra- se
duma alegria que e les s en t e m s uperfi ci al, art i - .

ficial, afectada.
O res u l t ad o mais claro ·e n í t i do des ta ati­
tude é torná-la menos desejável. Uma condu ta
mais cristã fa v o rec e r i a a realização d os seus
desejos. Se ela se abandonasse à Providencia,
confiando o seu !uturo a De us, e procurando
O Casamt.nlo

encontrar nas suas convicções religiosas a

calma e a serenidade, o seu rosto pareceria


ntais .luminoso e 1uais sorridente, o seu carác­
ter mais optimista ; isso seria um benefício
para os seus projectos.
Que a rapariga se esfo r ce, portanto, por afas­
tar da sua alma qual q uer sen tintento de inq u ie­
tação e de angústi a, por viver calmamente e
en1 paz à espera d o Príncipe Sonhado.

Se, apesar de t udo, ele não aparece, uma vida


de mulher pode consegu ir elevado rendimento
e saborear u m a alegria n1 uito íntin1a, desde
que a conlplete con1 u 1n a grande deditação.
Q u a n d o comparam os raparigas envelhecidas,
encorcovadas, com outras mulheres da sua
idade ou �om pessoas de cinquenta .. ou ses ­
senta anos que se dedicatn a obras de educa ...
ção · j uvenil, fica-s� ntu itas vezes maravilhado
com a frescura de alma, o optimismo, a com ­
preensão d e q u e estas dão provas.
As reflexões elogiosas e ent usias tas das
jovens com q uem se ocupam, provam que a
vida destas ntulheres, que no entanto não são
casadas, foi maravilhosamente ocupada sob o
ponto de vista espiritual e social.

E1n vez de passar o tentpo sen1 nada fazer,


ou a ocupar-se con1 peq uenos nadas, conviria
às raparigas e ser-lhes : ia altamente vantaj oso
86 O Lir.tt·o áa Rapa1·iga

q u e co n t i n u a s s e n1 a c ulti var- se. O q u e a pre n­


dera m ·d uran te o s s e u s e s t u d os ger a i s for ma, e m
re s u mo , u tna pe q u e na b agage m .
Nos nosso s d ias, ain da_ fora das hu nl a ni d a ­
d es, as rapariga s a dq u i r e m apen as �on h ec i -
tne nto s s up erf icia is . .

O peso da sua i gnor â; nc i a é consi der á,·e l e


se, dorava n t e , o seu e sforç o cultu ral se re s­
t r i n g ir a l er apenas algun� romances m ode r­
nos ou u n1 a l i t e r at u r a sentim ental de .. v a lo r
n1 edíoc re , o se u e spí rito f i c a r á q ua s e i n c u lt o.
É prec i s o que as r a p a r i gas se decidam de
vez a con t i n u a re m ·por si p r ó p r ias a. s ua forma­
ção i n telec tu a l , e p ro c u ran do a dq u i r i r noções
claras e i d eias gerais s o b r e as q u e s t õ e s que,
ord inària tn e nt e , i n te r e ssam os h o m en s , seus
f u t u ro s n1 a r id o s . Um ho m e m c u l t o i nteressa-se
p e la polí tica, pel a s oc i o logia , pela n1oral e dis­
c u te esses a s s u ntos com i n teresse e prazer.
Se ri a ú ti l às raparigas pos s uir so bre estes
assll:n tos ( algu n s p rin c í pios s egu ro s e bem
estabelecidos .
E cl ar o que, n1.ais t ard e , n ã o devem pre­
te n d e r ser v i r exemp lo sobre todo s estes
de
p on tos, a o se u lll arido, nem e m i ti r e m so cie ­
da d e o rác ulos d e fi n it i vo s ; i s s o se r i a u n1 ve r ­
d a d e i ro pe r igo p ara u tn_a m u lher c u lt a, po rq u e
1n o s t raria po u c a discrição. Mas é co n v e ni ente
t e r, so b re este s pro b l e m a s , u m j u íz o s ão e
conh eci n1 ent os s ér i o s q u e pern1 i ta n1 se g u ir
O Casamtllfo

co1n i n tere s se e i n teligência as disc ussões que


levanten1 e tomar parte modesta e oport u na­
mente.
Para assin1ilar esta cu l t u ra , não basta assis ­
til' a cursos d e fo r ma ç â o gera l ou a confe­
rencias. M u i t a s ra pa ri ga s contentam-se com
ou vir, a p ro v ar e aplaudir.
A cultura requer un1 e s fo rço m ai s pe s s oa l ,
u m verdadeiro e s tud o , u m a leit u r a , de pena
na mão, para fazer u m . sumário daqu ilo a que.
Payot chamava « livros reais ,. (r). Tam bém é
precisa m uita constância. Não se consegue
nada saltitando de c onferên cia para conferên­
·
cia. Uma n1ulher verdadeiran1ente culta só
se forma através dum esforço m etódico e cons­
tante no mesn1o sentido (2).

(1) Para o estudo da Filosofia e do D ire i t o N aturai,


recomendamos especialmente os livros do Cónego
Leclercq , Leçons de Droit Naturel_, 5 vols Namur.
\Ve s m a el-Charli er. Uma rapariga que tenha assimi­
lado a doutrin a d esta o bra, através d,um e s t ud o co n s ­
ciencioso, terá sobre n u m erosas q ue s t õ e s ac.t uais, ideias
modernas, claras e j ustas. Os assuntos estud ad os são
precisam ente aq ueles d e que se ocupam m uito, actual­
mente, os homens.
(2) Um, gra n d e n úmero d e ra p a ri g a s in screve - s e em
d ez cúrsos em O u t u bro, para n ão s e guire m um único
em Fevereiro ! É verdade q u e isso ·lhes permite,
d urante a lgu m a s s e m a n as pelo menos, a l arde a r umas
cem vezes, d u rante as s u as conversas, a orientação dos
seu s est udo s l
88 O Livro da RGpariga

Se na.o fica 1n al à m ulher ter al gu m as noç Oet


dos pr o b le mas próp r i os dos home ns fi car-lhe-á
1n u ito melhor que tenha um c o n hec i m en t o pro­

fundo e e s p ec ial izad o sobre os a s s u n to s es sen­


cial m e nte feminino s, em q ue, de o rd in ár io, o
homem é pouco co m pete nte Espirit ualidade,
.

arte, literatu râ, puericu ltu�a, pe dagogia, cons­


t it u e m para a rap ar iga q ue ac aba de sair do
colégio ou liceu, assuntos para e st u d o parti­
cularm ente ú t ei s .

Nu ma vida de trabalho volu ntário ou neces­


sário� a única atitude ad m is s í v el da parte da
rapari ga , concedendo d i st r ac çã o e ao convívio
a parte legítima, é co n sagrar os seus ócios ao ·

bem dos outros.


A melhor formação para ela � introduzir
na sua vida uma grande dedicação. Isso gran­
gear-lhe-á u m conhecimento não só teórico,
mas· técnico e prático, dó seu f u t uro papel
de esp o s a e de m ãe .

Todos go s tam de ver as r ap ariga s interes­


sar-se activamente pelas créches, p elas con­
sultas médicas das cr ianças, c ol ón i as d e férias,
p el a catequ ese, pelo s patronatos, pela s biblio­
tecas p ar oq u i ai s ou por mo vimen to s alta­
ment e fo r m at iv o s , tais como a Acça.o Ca tól ica.
�x ce pto n o s ca s !l s em q ue v erdadeiras neces­
si d a des familiares se oponha m , é u m d e ve r
O CasaHJtlllo 8g

para a maior parte das jovens aplicar os anos


livres entre o fim dos seus estudos e o casa­
m ento, nas m 1Jltiplas obras q ue não podem
viver senão com o seu precioso auxílio. Além
do benefício espiri tual inerente a toda a dedi­
cação, adquirirão, deste e1nprego do seu tempo,
uma competência de « puericultoras )) e de
ed ucadoras, m u ito preciosa para v seu lar
de amanhã.

En1 resu1no, o tempo de espera do Príncipe


Sonhado não deve passar-se na ociosidade, na
futilidade, na preguiça intelectual, no egoísmo
moral. Deve, pelo contrário, tornar-se agra­
dável e proveitoso em virtude do cuidado e m
aperfeiçoar a s u a cultura intelectual e técnica
e pela prática da caridade para com os outros.
4
Meios de encontro

ARA
P
se casarem é preciso conhecerem -se ;
para se conhecere m é preciso conviverem ;
e para conviverem é preciso, e m p rim eiro
lugar, terem-se encontrado. · onde será que a
candidata ao casamento terá ocasião de des­
cobrir o seu fu turo companheiro ?
São frequez:ttes as q u eixas de raparigas sérias
sobre o pouco interesse e proveito que apre­
sentam a m aior parte dos meios de encontro
entre ra p azes e raparigas. E têm razão.
t>s bons meios de se en c ontrare m deveriant
realizar duas condições : primeiro, seren1 s ufi �
cie nte mente seleccionados, para que haja pro­
babilidades de lá se encon trare m apenas j ovens
de valor equivalente ; depois, peymitir aos rapa­
zes e às raparigas q ue falem e p roce d am nat u ­
ral m ente. Com este duplo cri t é ri o será fácil
apre ciar o valor prático dos _ m eios de apro­
xi m aç ão q ue habitu almen te se oferec ent à
j u vent u d e .
0 Livro da Raparig a

a berta s a t � da a gent e
fes tas d e folguê do
As
. .
,
con d ição . Basta
realizam m uit o mal . a pr1n1e1r a
. �"d o. O s
ter alg u m d i n h e i ro
p ara ser a d m1t
enco � t ram deve ria m se r
j o ve n s que aí se
.

gor ia d e « tod o o bt cho


cla ssif icad o s na cate
careta )) . Por outr o
lado a atmosfera dest as
fe s ta s é ar t ifi c i al .
Vind o de toda a parte,
os conv idados des con hece m-s e �ns aos ou tros.
Disf ar ç a do s e arrebica dos tan to física co mo
moralm ente , dific ilme nte enco ntram um a ssu nto
para conv ersar qJ.Ie fuja da ban al i dad e .

É quase imposs ível entrare m em tom fam i ­


liar ou escapa rem a conver sas fúteis e so bre
tolices . Pode aconte cer que, mesmo lá, se
descubra alguém melhor ; mas, no co n i un to
estas festas são pouco proveitosas para a
j uventu d e que procura u m partido conve­
nien te.
Os bailes fa m i l i ares onde só é perm i t id a a
e n tra d a a convidados escolhidos, têm certa.­
m en t e mais valor. Convid am-se a p e na s aq ueles
que lá preferem ver. Mas estas festa s tamb ém
c.r iam, p or vezes , u m c;tmbi ente a r t i fi c i al que

con traria o con hec im ent o exa cto d uns e d o u ­

tros. .

Há t an1 b em nest as fest as m und anas e par-


. '
tic u lar m e nte
n os b a1· 1 es o u chás d a n ç an t es
o cc
a sl oe s fr e q u e nt
. ...
es de grave s abu s o s .
1 ert o s
co nv i" d ado s e m e s m o conv ida das r e n
dem de m as H t da h o m ena
·

gem às bebi das es tl-


0 CQSQIIIIIIIO 93

tn ulantes. A at mosfera destas reuniões é geral­


mente sufocante e a dansa provoca sede ; mas
a p reoc upação da sua boa reputação, o pudor

dos sentimentos · íntimos e secretos que tão


fàcilmente transparecem nestes mo1n entos de
desabafo fictício, mantêm uma certa m ode­
ração no uso do bufete e sobretudo das
« �

bebidas.
O prolongamento mais que tardio dos diver­
timentos, quando não é uma parte de novo
prazer que, sem os pais saberem, se j unta ao
primitivo convite, constitue um novo inconve­
niente desta espécie de festas. Uma rapariga
não deveria nunca aceder em ir prolongar para
outro lugar, bar, casino, dancing, passeio ao
lua.r, a recepção prevista à qual os pais auto­
rizaram que assistisse. •

Geralmente, depois de algumas Jiora� as


festas atingem u ma espécie de momento pri­
vilegiado, uma espécie de euforia que marca
o auge. Passada esta ocasião, o cansaço apo­
dera-se dos convidados, o ambiente torna-se
pesado, a animação demin ue.
O próprio sucesso da recepção aconselharia
a dar-lhe uns limites relativamente restritos ;

em vez duma impressão · de saturação, os


convidados, ao sairem, levariam a saudade
daquela noit e.
O cuidado duma sã higiene, as exigên.cias
dum repouso suficiente e regular, o receio do
O Li vro da Rapariga
94

e s cân d al o so cial q u e c on s t i t u e n1 e s ta s en tr ad as
preJ u í z o re a 1 c a u s a d o à a l m a
.

fo ra d e hora s , o
por u 1n a v i d a d e gr a
n de d i s s i p aç ã o , d e ve ria m
d a r , à s ra p a r iga s sé ria s , a f irm e r e s o l u çã o d e
n ão a ss is t i r a f e s tas s e não d u rante o te m p o
s ufic ien te para cons er vare m o s e u e n c a nt o , 0
se u eq u i l í brio n e r v o s o, o d o m í n i o de si . pró­
p ri a s q u er nas pala vrás q u e r nos act os .
Osi m ple s facto d e e x c i t a ç � o pr ogre ssiv a
carac te ríst i ca d a fe s ta, torna p e r i go s o pro ­
longá - la d ur an t e m ui to t e � po . A exaltação
s u cede c om a aj uda d a fad iga, u m certo torpor
lângu ido fav orável à e G l o s ão de sentim entos
s u s p e it o s : ati t udes m a i s l â n g u i d a s , ternuras
mais abandonadas, pala vras m enos re s er va da s ,
confidências descabidas, fa m i l i arid a des q.u e
pare ce m m en o s c h oc ant e s n a i n t i m i d a d e que
a u w e n ta.
Cer tas rapari.g as , ener vad as p e l o sucess o o u
a n i m adas p e lo c ha m p a n h e , p e rd e m nessa altura
o co n t ro l e d e si pr ó p r i as e c o m pr om e te m, pela
s u a atit u de e p e l o s s e u s p r o p ó s it o s j unto · de
ra pa z es s ério s q ue as vêm, as s uas esperan ças
d u tn b o n1 cas a1n e n t o. -
Se a b a n d o n a n1 a b ara f un d a geral para se
i s ol are m num gr u p i n h o s im pátic o longe de
q u a lq u e r vigilâ ncia e de todo o c ontrole, por
vezes e n1 l u gar es q u e por seren 1 elega ntes
11ão tê m melh or fama, os perigos são m uitís ­
s i mo n1 aiore s .
V Casam tHio 95

E qua se fatal q ue desde ess e instante até à -

h ora de regresso, se formem pares insepará­


'"eis . ..-\ rapariga, àpesar da s ua ingenuidade
real ou fictícia, deve saber q u e se torna incons­
ciententen te u ma verdadeira ten tação grave
para o seu companheiro. Se e�a não sucutn be,
talvez tenha perante Deu s u m a pesada P?-rt�
da responsabilidade d as faltas que a sna i m pru­
dência pode causar.

Os desportos praticados em com u m , as


excursões feitas con1 gru pos alegres, favorecen1
9 conhecimento In útuo. Bem entendido · q ue
nos referimos aos desportos praticados por
desporto o u por · prazer, e não aos desportos
d e parada que não servem senão para dissi­
In ular ocasiões de exi bicionismo ou de flirt. -

A atitude tomada pelo jogador na derrota o u


no s ucesso, a s s uas reacções perante a s ·oposi ­
ções de carác ter dos seus partidários o u dos
seus ad versários, oferecem u n1 a boa ocasião
de se conhecere m m elhor.

Sob este ponto de vista a con vivência oca­


sionada pelos est u d os cont uns pode ser útil.
A vida académic a onde rapazes e raparigas s e
encontram a cada passo, permite apreciar com
bastante facilidade o valor n1oral e intelect ual
O Livro da Rapariga

assim co m o o c a rá c t er dum condiscípulo .


É ce r t o q ue a v ida universitária é freq uente ­
m e n t e , para u m gra nd e número de rapaze s e
raparigas, ocasião de flirts e de · p ass atem pos
sem q u a l q u e r valor m or a l ; . mas, para as rapa­
riga s sérias e estudiosas, a c a m ara da ge m e a
co nv i vê n c i a cotidiana dos estudos podem ser
uma o c a s i ão de t ra va r conhecim entos, de a pre­
c iar un1 condiscípulo.

As familiares onde se enco ntram


r e u n i õ es
a m igas das irmãs e amigos dos irmãos , s ão a
melhor das ocasiões para se conh ecere m m u t ua ·
mente. (1). Isto é verdade s o b ré t u do q ua n d o
ã
es t a s re uniões são si m pl es e íntim as , e n o
serve m de p retexto para exibiç ões tur bu lent as.
A maneira c o m o um rapaz reage p er an te as
pirra ç as, a sua co m p lacê n cia, i ualda d e d e
g
carác t er, a sua diplomacia, n ão d e i xa r ã o d e s
e

ma n ifes tar ; uma pa la vra d i t a de p as s age m o


u
po ­
m uitas vezes s e m s e p e nsar, um ges t o ex n1
taneo re vel arão à :observadora at e n ta a q ue a.
I

d e scobrir
talvez, surp ree ndi do
f vo r da
(1) a o
n esta circu nstância m ais u m arg u m ent o a a
Fica r-se-à,

u lxuiD es
famllia n um e ros a ; mas don de e m a n a m 05 q � o do:i
parU d
so b re as dtficuldades de e n con t rar 0
d o filbO
. .
ezes,
aeu s son�os , s enlo, a maio r part e . d a s v

dnico ?
O Casa1nento
97

fei ção· de carácter cuidados�tnente dissimu­


lada, ou, pelo contrário, uma virtude escon­
dida.

Excelentes n1eios de encontro, infelizmente


muito raros, seriam a prática da caridade em
comum. Isto fàcilmente se compreende. Pri ­
m eiro, porque a dedicação selecciona e, regra
geral, Somente aqueles que têm um ideal de
generosidade se dedicam ; depois, porque nestes
meios só agem .sem afectação e sem artifícios
aqueles que lá se encontram co_m intenções
puras. Te mos aqui, portanto, uma ocasião
de aproximação entre jovens de mais valor e
uma r ela ti va facilidade para j ulgar, discreta­
mente, do valor e ·da dedicação de cada um.
A rapariga evitará, portanto, deixar - se
influenciar por preconceitos ou su bmeter-se,
com demasiada facilidade, ao ambiente mun­
dano, e deverá escolher j udiciosá.men te os
meios que frequenta.
D esc onfie das festa s com entra da paga e dos
b ailes de socie dade e procure, de preferência,
os lugares onde há mais proba bilidades de ágir
nat uralme nte e, portant o, de poder apreciar
com justiça a verdade.
5
Perigos !

A c on v i v ê n ci a com os rapazes, as rapa­

N �
rig s deve m p re cav er s e contra certos
perigos.
-

O pri meiro é a sua incon1preensão da. psicolo­


gia m asculina. Esta incompreensão expõe-as,
por v ez e s involuntàriamente, a tornarem-se
numa ocasião de tentações sensuais para os
companheiros e a · s ofrere m elas próprias o
seu reflexo. As raparigas são, sob este ponto
de vista, i mensa mente ingénuas. Nao com ­
preendem absolutamen te nada da mentalidade
do homem e imaginam q ue ele idealiza com o
elas, uma concepção puramente sentimental
do amor. Ignoram q ue nele as notas sensuais
vi bram co m facilidade e são faceis de excitar.
Es ta ignorância e esta ingenu idade trad uz-se
na su a maneira de v estir, n o se u porte , e nos
se us propós itos. Procur am faze r-se not ar pelos
rapazes. N enh u m artif tcio de c to ille t e • nem
de garrid ice lhes parece demasiad o. Segu em
doci lm ente a moda, mesm o q u ando ela peca
1 00
O Lir.,-o da Rapariga

por fal ta de d es c r i ça. o . l n1 agi nam d espertar,


assim , a p ena s u ma a t en ç ão s i m p á t i ca , s u sci tar
o am or tal c om o e l as o s o nh am , com n o tas
excl u s ivamen te s e n timen tais.
As reac çõe s
do hom e m d iante destas ati t u ­
des não corre s po nde m a o que elas esperava m ,
s ã o doutra nat u reza, i s t o é, mais sensua is. Elas
j ulgam despert a r o amor mas a maior parte
das vezes apenas excitam o d esej o fís ico .
A sensualidade d o homem .é p a rticularmente
i nflam á vel , mais ou menos tan to como a senti­
mentalidad e na ra pari ga . O temperamento. do
h om e m é semelhante a u ma cabana cobert a
de colmo : uma faúl h a b as ta para lhe pôr o
fogo ; enq uan t o q ue o te m p e ramen to da m ulher,
s o b este asp e c t o , é bem u m a vivenda d e tijo­
l o s e pedra, d e com b u stão m eno s fácil. Todav ia
se ela não qu i ser ser d e v.o ra d a pelo incên­
dio, é pr u den te não pôr o f ô go à cabana do
·

vizinho. .

Esta comparação ae v·e ser t o m ad a à letra.


O perigo é verdad ei ra m ente gra n d e e e xige
i m per io s a m e n t e das ra p a ri gas reserva na to il­
let e , no p or t e e nos p rop ó s i t o s . Não con de na­
m os a e legâ nc i a ; cri ti ca m o s , apenas, o fact o
de ace ntu arem as l in has d o corpo ; não ce ns u­
ra mos a simpl icidad e n e m o à vont ade, mas
rep ro va m o s o a ban don
o e os m odo s de s en vo l­
to s ; não excl u í mo
s o bom en tendimen to e le al
ca m a rad age m
e n t re r a p a z es e ra pa r iga s , m a s.
O Cas al1ttHio IOI

re prova1nos apen as a intbuida de beiJ. os teste -


. ' '
m un hos de tern ura, ante s do noiv ado .
Que a rapariga saib a bem que de.. cada vez
q ue ela valo riza o seu c orpo , é o corpo que
será notad o e desej ado com o despr ezo da sua
personalidade . Assim ela arrasta direct amente
o homem para tentaçõ es sensuai s, tentaçõ es
por pensam ento, por imaginação e por desejos ;
torna-se ocasião de pecado e põe-se ela pró­
pria, in d i re c tame nt e, em perigo. Não preten­
demos impedir que a rapariga' se arrange
. eleganten1ente nen1 que frequente o mundo
n1asculino, nem mésn1o que se mostre gra­
ciosa e sorridente ; mas pe ditnos-lhe, instari­
tenlente, que seja reservada e d i s cret a : isso
contribuirá para que lhe apreciem a aln1a e
torná-la-á mais digna de e s ti m a· e ma is dese­
jada como esposa.

As raparig asque q ueren1 ser boas esposa s


deven1 evitar o flirt. Flirtar não signifi ca
encontrar um rapaz nen1 co n v er s ar com ele,
nem -discut ir q uestões sérias, ne m recrear-se
sãmente em conj unto. Sob este ponto de vista,
o mund o é mau, as « amigas m o s tra m s e inve­
l'> -

josas de b o a vont a de, e m u i to s c h am anl flirt


ao que é apen as conv ívio norm al.
Flirtar é ce d e r ao at ra c t i vo sens í vel e sent i­
mental m ú t uo, isolare m - s e, pren derem ·se um
.[02

ao o u t ro por u ma afeição superficial e sem


duração, trocarem pre�entes quando não t êm
intenções, nem mesrpo nen h u ma esperança
fundada, d e um dia se casare m . O flirl é,
portan to, um jogo sentimental o n de, sem haver
amor, se p ro d igaliza m provas de am o r. O q ue
p re te nde m os amadores do flirt, é o seu pró­
prio d iv e rtimen t o sensível e sentimental, o
enca nto de se enc o n tra�e m a dt�o, rapaz e
rapariga. Procuram o « seu » prazer, não pre­
tend e m « proporcionar p ra zer ,. , ou , se a c on t ece
pretenderem esse fim é apena s acidentalmente
e n a medida em q ue esta atitude lhes sej a
provei tosa . Tais sent i m en t o s , é cla ro, não
têm nada de amor.
O amor é u m a paixão m uito mais profunda :
não é busca pessoal e egoísta de prazer, é uma
doação ; é, a ntes de tudo e s o bre t ud o uma
doaç ão. É certo que não d es pre za a felicidade
pessoal ; mas pretende ao . m esmo tempo e sin-
ceramente, a felici d ade do ser a m ado ; man-
tem-se fiel e delicado na alegria e no prazer,
como nas dificuldades,· provações e nos gran � es
desgostos. Entre os a m adores do f/ir/, pelo
contrário, os revezes afugent am i n s tan t an ea ­
mente o parceiro e afastam -no d u m a co mp a­
nheira triste e desolada. Esta a t i t u d e , s ó po r
si, bas ta para pôr e n1 e v id ê n c i a e s u pe rfic ial i·
da de_ do f/ir!, ond e n ão exi s te nunca u m ver·
d ade iro am or.
O Casamento 1 03

Para j ulgar con1 rectidão e fixar a atitude a


tomar, bas ta faze r o balanço social do flirt e
,.. er quais as c on se quênc i as que traz para aque­

las que o p ra t i cam . N ão poderemos negar q u e


proporciona, quando se oferece a ocasião, cer­
tas s a ti sfaç ões d e orden1 sens ível e se ntimen­
tal, certo sucesso da. vaidad e ; mas isso é u n1
proveito humano m uito 1n e s q ui n ho co n1 parado
com os seus p rej u ízo s.
Pode acontecer, e m b ora seja tn u ito raro, q u e
o flirt cond uza ao casatnen to. Regra geral , a
sua conclusão é be1n d iferente : n u m prazo
relativamente curto, os amadores do flirt,
voltatn -se as costas , regressando aos seus
dive r time n t os ou procurando .novos an1 igos.
O f/ir/ q uase n u n ca resulta em coisa séria, e
s o b r et u do na fundação de u n1 lar q ue tenha

probab i l id ade s de ser feliz.


Pelo contrário, ao q ue ele chega sen1pre, é a
d e s valo r iz a r o senti mento e a en1 botar singular­
m ente a possi bilidade de an1ar. Ha bit u am -se,
·
fàcilmente, a dispensar, sen1 amor, as pr�vas
d o amor. A r a p ariga q u e pratica o flirt aca ba
por c o n c e be r d ú vidas, aliás legítimas, sobre o
valo r destas dec larações o u d es t e s testemu­
n hos. \ieri fi c ando em s i a fals idade e a hipo­
crisia parc ia l das provas de afecto q ue s e dão.,
o u, e m todo o caso, o seu carácter nitidamente
su perficial, a ra par iga cria uma n1entalidade
pe r,·ertida sobre o amor, perde aq uele encanto
104 O Li;Jro da Rapariga

e frescura de coração tão preciosa q u e, aos


olhos d o homem, é um dos seus ma iores
·
atrativ os. Desperta em si própria um cepti ­
cismo, fàcilmente pessimista, que em brev e a
impedirá de acreditar no amor. O flirt d i m i ­
nui a sua confiança e a sua c apacid ad e de
amor.
A n1aior parte das vezes, termina pelo sofri­
mento para a rapariga. Mui to mais sentimen­
tal do que o homem, dedica-se mais d epressa·
e m ais ardentemente. Não raro, deixa -se levar
pelo seu próprio j ogo, e, modificada pelo desej o
d o casamento q ue a espicaça começa a amar ,
o companheiro. Este, pe�o contrário, sendo
m enos sentitnental, pouco se dedica ou nada ;
neste j ogo ele b usca exclusivà mente o seu
prazer. A maior parte da vezes, na hora fatal
· da rup tura, o ho mem retira-se friamente aban­
donando a companheira a u m a verdadeira tor­
t ura d e coração.
Muitas vezes , ta·n1 bén1, o flirt m anc ha a
pureza da rapa riga. As pro vas de afeiç ão que
�e te s te n1 un h a n1 não se n1 antê m nu ma a t m os­
fera de verdade i ra pureza e rec tid ão. Ha b itual­
m ent e, o hon1 e1u , · 1u ai s fàcil m en te arrastado
.
- s
para o prazer, orienta-as , para tn an tfe staç �
d e n a t u reza sensua l . A rap a r i ga qu e d e �rJn·
cíp i o não d esej a ave ntu rar- se nes se ca m inho,
ced e p or d ocili da d e, para não desgo sta r, e,
t a m b ém, atrai do pel a curiosida d e. i\ con tece
O Casam ento 105

mesm o q u e e �ta aventu ra chega ainda mai s


n ão é raro q u e as
longe _ d o q ue i m agi n av a"m , e
raparigas, cedendo à s instâncias d o homem ,
v en ça m a sua repugnância e pouca atracção e .
cheguen1 até à doação de si próprias . É inútil
i nsistir q u anto esta atitude sej a p rofu n da m e n t e
perigosa para elas e para o se u futuro. É c er t o
que estas consequências extren1as do flirt são
relativamente raras ; m as basta - · O fac to d e
acontecerem e d e lesarem gravenlenre u m a
vida i nt eira, para provar o p eri go e o mal
desta co nd u t a.
A rapariga q ue q uer co n s � rv ar, p en sa nd o
no casamento, a frescura, a riq ueza e a deli­
cadeza do seu afecto, guardar- se-á c u id ad o sa­
mente de q u al qu e r flirt.

O convívio com os z:-apazes oferece um outro


p erigo grave : o d e d eixare1n roubar o coração
por quem o não mereça ou p o ssa l eg it i ma :­
mente conquistá-lo. A r a p ari ga, custe o q ue
c u s ta r, não deve aceitar e m u i to menos c orr e s­
ponder a provas de afecto da parte de r a paz� s
ou de homens que ela não q ueira ou nlo pos sa .
' legitimamente des po s a r : rapazes libertinos,
m aridos divorciados, homens c a s a d o s . O cora­
ç!o da rapariga é m u i t o terno e demasiado
v ibran te : é a sua grande e p r o v i d e n c ial
riqueza, e tam bém o seu ponto mais fraco.
IOO O Llwo da Rapariga

N o mundo, aparecer-l he-ão te ntadores que lhe


m a ni fe starã o uma ternura aparente para as

arrastar, a pouco e pouco, a u m a m or peri­


goso ou ilegítimo, l on ge do caminho do dever
e do s seus interesses.
A tática d estes ladrões s e nt i mentai s é s em ­
pre a mesma. Para to m arem a praça, atac ant
o s pontos fracos da mulher - v aidad e , senti ­
ment al i dade , pied ade, dese jo de t e r n ura. Come­
ç am por a lgu ns cumprimentos : uma m u lh er
sente -se sempre lisonj eada por se ver apre­
ciada. Depois utilizam as pequeninas ate n çõ e s
e delicadezas : a senti mentalidade da rapariga
s ensibiliza- se e a g ratid ã o desperta. Agora
ent r am em vias de confidências : « a 1n ulher

· não os compree nde, não _s ão felizes e m casa,


lan1enta m sinceramen te não se terem conhe­
cido n1ais cedo ,. ; d esta �?ez a pi eda d e femi­
nina é posta à prova, ao mesmo tem po q ue a
.s entimental idade e a v aida de. Procu;am e ntão
a ocasião de pres tar quaisquer peque nos ser· .

v iços, oferecer pequeni nos presentes : a rapa ­


r iga não se atreve a rec u s ar con1 recei o- de
,
n1ago ar e não há, aliás, segundo parec e,
nenh u n1 mal e m aceitar. E fica pres a po r
um se ntiine nto mui to respeitáv el - a grat idã o.
Fica presa e torna- s e dóci l. Dora van te não se
atrever á ne m q u ererá de s go s t ar q u em se m o s ·
tro u pa ra com e la, tão am ável, tão de lic ado ,
e· até entã o, tão rese ryado !
· •
O Casamento 107

Esta história repete-se e m milhares de


casos sen1 a menor variante. A pri ncí pi o
u m primeiro beijo, aliás discreto, u ma carí­
cia sobre os cabelos o u nas faces ; os beijos
seguintes são menos prudentes, mais apaixo­
nados ; a rapariga, a princípio surpreend ida,
não o usa recusar-se, aceita, depois já gosta.
O amor desenrola a sua lei psicológíca :
passa do sentimental ao sensí vel, do sensível
ao sens ual, do sensual ao sexual. Na união
legítima ' do casamento, é desta maneira q ue
ele cresce e se torna total, e sp í rito, coração e
corpo. Na � u nião ilegítin1 a é assi m que ele se
avilta e se arrasta à dec ad ê n c ia O i m p r u de n te
.

não cede ao primeiro passo ; a rapariga não


deseja, de resto, os elementos físicos do amor ;
sempre pensou n1anter-se no plano sentituental
e sensível.
. Mas , para não desgostar, porq ue insistem ,
ela chega a entregar-se contra sua vontade,
depois a co ns en t i r na doação, a não ser q ue
coraj osa e dolorosan1ente, ela tenha rompido
a tempo. A atft ude d u tn dia transforma-se
brevemente em hábito, depois en1 servidão.
Conto ela não ·disciplinou o coração _ a prin­
cípio, o q ue teria sido relativamente fácil, p o r ­

q ue ela não soube romper e n ergi ca m e n t e a


n1eio d o caminho, o q u e seria j á mais difícil,
a rapariga é a go ra víti m a dum a m or votado
intrinsecan1ente à dor e à desgraça. Nunca
I.08 O Livro da Rapariga

este amor poderá desabrochar como desejaria.


A vida em comun1 é impossível uma v ez que
u m dos comparsas é casad o ; apenas se pode­
rão ver às escondidas, em entrevistas muito
raras a princípio, e a cu sto de quantas menti­
ras à família !
A maternidade, nen1 é bom pensar nisso,
traria consigo a deshonra ! Todos os dese­
jos do verdadeiro amor, vida em comum,
m aternidade, são irrealizáveis. É o p rópr io
tipo do an1or condenado a n ão ser satisfeito.
E enquanto a pobrezita está assim presa a u m
amor sem saída, feito d e aspirações vãs e de
remorsos, o homem com q uem ela p oderi a
fundar u m lar honesto e feliz passa, talvez, a
seu lado desapercebido, de tal 1naneira o seu
coração está ocupado !
Entretant o, ela sofre os perigos mais sérios
e expõe-se aos piores inconveniente s. Perde a
virgindade e corre, a cada momento, o risco
duma maternida de temível ! O pai de seu
filho, na maior parte dos casos, afastar-se-á
dela e dele, passado- algum t e mpo ; ficará sózi­
nha para valer às s uas neces sidades, ser-lhe-á
prec iso entregar o filho a m a.os estran ha s, oito
ou dez horas por dia, para tra bal h a r d u ra­
mente fo ra de su a ca sa .
A cria nça enqua nto cresc e nã o terá pai para
a u x i lia r a n1ãe na
sua missa.o edu ca dora e
sofrer l he - á as fu
-
nes tas - con se quê ncia s. D uas
O Casame,to 109

vidas ficarão irremedià veln1ente estragadas :


a da mãe e a d o filho.
Para não chegar a estes extretnos, é preciso
evitar os caminhos perigosos : flirts, dedica­
ções, testemunhos d e afeição, beijos . , pre­
• •

missas psicológicas da doação de si própria.


Q u e a rapariga se mantenha, firme e clara,
a este princípio : nada de afeições com.. un1
homem que ela n ão possa desposar. Quer ele
seja casado ou não, q uer ele tenha mesmô uma
idade m uito superio� à sua, pouco importa ; se
ela quiser viver no m u ndo com segurança, e
não correr perigos dissimulados e insidiosos,
que -e ste princípio sej a a sua regra de conduta
absoluta � não admita n unca excepção alguma.

São estes os perigos que a rapariga deve


evitar. Preservará assim o seu futuro tempo­
rai, o seu valor moral e- conservará para o
futuro lar as riquezas do seu coração.
6
Pa,.. aq uelas que podem escolher

A
SITL"'AÇÃO das raparigas perante o
casamento é, evidentemente, mais desfa­
'\'"Orá vel do q u e a d os rapaze�. Estes
casam-se q uando q uerem ; a rapariga não se
casa senão quando é escolhi da. Evidente que
esta afirmação sem reservas é excessiva, porque
muitas vezes ouvimos rapazes q ueixarem-se
de düiculdades em encontrar a rapariga que
eles desejariam para sua esposa. É que 'o
homem sério e reflectido, que quer casar, deseja .
encontrar uma m ulher capaz de ser uma boa
esposa, uma boa mãe e u m a boa edu cadora
de seus filhos. Essa pessoa não é fácil de
encontrar como pen sa !
A rapariga não escolhe directamente, é ver­
dade ; mas, felizmente, não é desprovida de
talento diplomático ( I), du m discernimento e

(1) A p alavra c diplomacia .. n ão é empregada aqui n o


•�tido pejorativo d e m anigincias, d o emprego d e m eios ;
ocultos ou astuciosos. Deverá ser entendida, neste capí-
I I�
O Livro da Rajariga

d u m t acto q u e lh e p er m i t irã o PO! veze s , senão


e sco l he r, pelo menos fa z er - se es colhi da . De\·e­
m os re c onhecer, no e n t a n t o q ue a situação
,

da rapariga em face do casam ento é, n o co nju n t o,


menos fa v oráve l do que a d os rap azes.
Co n t u d o, isso n ão é razão p ara se ab a n d o ­
narem a pessimism os excess ivos ; n e m so bre­
t udo para se i n q u ietarem. As impa ci ente s e
as angu stiadas dim inuem as probabili dades
de serem e scol h idas.

Não está de acordo. com a tradição q ue a


rapariga dê os pri m ei ro s passos e vá por assim
dizer oferecer-se aos rapazes. Isso revelaria,
· aliás, ign orâ n c ia da psicologia. As mercado­
rias a s s i m lançadas no n1 ercado apareceriam,
aos olhos deles, sem grande valor.
O h om em j ulga-se um conquistador ; sente .

prazer e alegria em procurar e d e scobrir por


s i próprio ; sente uma legítima s at isfação Cer­ .

tos rapazes aproveitariam, sem dúvida alguma


as ofertas que as s i m lhes eram feitas ; m as
·

seria, q uase sem pre, para abusar. Tais rapari·


gas na:o lhes apareciam com o possíveis esposas,

t ulo, no s entid o recto, no e mp r ego de meios perfeita·


n
m e te norm ais, c orrectos e
convenientes, para d e spertar
sobre si uma atençã o merecida, e pa ra c hega r a ssi m a
fund ar o lar e hon esto que se
feliz deseja.
O Casam 111/o
- " . --· -
-" -- _ __________1 1_::3
_

c � nt o o c as i õe s de praze r. Aq uel as que,


- .

1u as
i n1 pac ie ntes de suces so, d Ao fàcilntente « sor t e •

a os rapazes, poden 1 esta r q u ase certa s d u m


fracasso .
O q u e o home m p rocu ra , em espec ial, na
rapariga q ue t o n1 arã como esposa, são as q ua ­
Iida des q ue o com pletan1 e n ã o as que ele
pos sue. De sej a encontrar u n1a mulher q ue
poss a auxiliá-lo a desen v oi ver -se e trazer-l he
aq u ela d o ç u ra e aquela del ica deza q u e lhe
.

recordan1 a m ãe e d e q ue ele s en te verda ­


-

d e ira necessidade. · O homem aspira, tan1 b é m ,


a protege r, dando assim à sua força n1asculina,

um emprego feliz e b e nfaz ej o . Tudo is�o prova


a falta: de critério das raparigas q u e , com ati­
t u de s arrapa zadas , maneiras de vestir, gestos
e propósitos de cavalheiro, j ulgam conquistar
oS' homens. Tal vez elas pensen1 despertar.. lhe
a atenção ·dando mostras d u m esp ír it o largo
e moderno. Seguem u m cantinho errado se
esperam arran j ar um marido por esse pro­
cesso.

Os rap azes gostam das rap a rigas p el a sua


belez a -o que é raro, porque el a s n or nl al ­
mente são apenas lindas -:- o u pelo menos
porqu e elas têm um certo encanto. Não é
necessário ser bela para ser eles po sad a : os
casamentos dâo provas disso. Mesmo assim,
1 14 O Liz•ro dn Rapariga
-------
--


m u ito s r apaze s dei� n1 - se sed uzir pel as q u
al i­
dad e s pura tn ente hs1 cas. Mas os noiv os sér
io
não s e f ian1 en\ aparênci as e, n1 ai s do q u e :
beleza e a graça que t end o a fortun a de enc on­
trar apreci a m , proc u ran1 o valor prof undo .
N ão d eveis ficar desolad as se n ão fo
rde s
belas ; para casar b as t a não ser repu lsiv a .
As verdadeira s q ualidades m orais e intel ec­
t u ais valen1 1uais e co n1 p ensam larga n1 ente.
Por outro lado, deveis c uidar da vossa
maneir a de Testir. Os h()lnens gostam das
raparigas vestidas com gosto e co1n el e gâ n cia ,
se bem que não a pre c ie n1 o exagero, as singu­
laridade s , as extravagâncias o u a preocupação
exces siva. É preciso, conforme o bom conselho
d e São F rancisco de Sales, que as r apa r igas
« sejan1 u n1 pouco bonitas » . « Devem permi­
t ir-se -lhe, escreve ele a Madan1e de Chantal,
a lgu ns enfei tes p ara se fazerem v aler » . Elas
repre senta tn , no m un do, a beleza e a graça : os
s eu s fatos , tanto os de c a s a . como os de sair ,
d ever ian1 ser sem pre fresc os e a grad á v e s. Seria
i
aind a prec iso q u e, nessa p re o c upaç ão de esté­
t i ca, u sass em d u m a d iscre ça.o o p or t u n a ; certa s
r a p a r i ga s exag era 1n dem asia dam ente o emprego
das p"i nt uras e d o pó de arroz. A frase de La
deira :
Bru yére perm anec erá eter nam ente verd a
o4( S e as n1 ulhe res foss e1n nat uraln1 en te co �o
mais
ficam artifi cialm ente, seria m as p esso a �
·

i m port unas do m u ndo » .


O Casa m en to
--- - - -- -- - - �-

f: pena q u e não c otn preen dat n as r ef le x õe s


c heias d e bon1 senso dos tnei os tn a scul i n os
po p u l are s sobre as pinturas inestéticas q ue
co bren1 de rid ículo algutn as r a p a ri ga s e In u i ­
tas sen horas de i d ade b a s tan t e r e s p eit á ve l . . .
O cuidado q u e a 111 ul her t e n1 c on s i go é legí­
tin1o. A rra n j a r - se 1n al não é u n1 a virt ude.
Pelo contrário, deve n1 ostrar-se d iscreta1nente
el e gan te, desde q ue n ã o o faça por vaidade,
n1as por dever de estado. «É pernl itido à
rapariga, diz aind a ?ão Francisco d e Sales, ­
procurar agradar a vários desde que i s s o s ej a
són1ente con1 o f i t o de cativar u m para o santo
casan1en to.

Para s e fazer escolher, é preciso n ão parecer


p ed an t e n e n1 sabichona. Mostrar u 1na vasta
erudição n ão é o n1eio de despertar sobre si
a a ten ç ão d e se i a d a . O h o n1 e m gosta d e donl i ­
nar, ten1 receio d u tn a n1 ulher q ue seja 1�1 uito
inteligente e possa do1n i ná-lo , Foge, ta n1 b é n1 ,
das i nte lec t u a is e das pr es u nl id a s q u e faze n1
alarde da sua ciência. Pelo contrário, os rapa­
zes sérios procu ra n1 as raparigas c u j o valor,
sendo verdadeira1n ente real, se In a n t en ha inte­
ligentenl e n te d iscreto. Estes rapazes se n s at o s
atendem ao benefício q u e eles próprios e s e u s
filhos poderão receber através d o c on ta c to d u ma
esposa e d u n1a m ãe verd adeir(ltn ente culta.
1 16 O Lit,ro da Rapariga
---- - - -

As rapari gas q ue o s rap a ze s esco l hoe nt n ao


são aq ue las que dão a in1 press ão, al iás fa lsa
. ,

de se bas tare
. .
1n a s1 prop r1as.
Par a quê revestirem-se com essa nt á sc ara ,
s e no fundo, con1o toda a m ulher, as p iram a
encontrar uma protecção ? Mas, por v ai d ad e '
por timidez ou por orgulho, qu ere m d ar
impress ão de independê ncia e d e que nada
lhes é preciso. I s t o é correr grand e r isco de
não encontrar nunca n1arido, porque o homem
gosta de proteger ; sente uma alegria muito
particular em dar o seu apoio a um ser 1n ais
fraco do q ue ele. Revela, portan to, m elhor ·
p ol í t ic a deixar transparecer essa nece ssidade
de protecção. que existe na mulher ; t e r -se - ã o,
assim, 1nais probabilidades de �bter au diê ncia
t j u nt o daq ueles que pretende1n ca�ar.

A q uelas que os rapazes poden1 escolher não


são as q ue se encontram já pervertidas, as
raparigas que viran1 e le ra n1 muito e adqui­
riranl através d a .lei tu ra dos rotnances moder­
nos, üma e xperi ê nc i a precoce e pessi m i s t a
da vida. Eles queren1 que a sua f utura esposa
t e n h a frescura, alegria, optimismo. � têm
o

. m uita razão. É InaÍS agradável Viver OUnl


ambiente alegre e prazenteiro do que numa
atmosfera desagradável. As raparigas, cuja
o

j uvent ude foi d ura e cheia de provações,


O Casam tnlo

deven1 re ad q ui rir esse op t i nt i s ni o , q ue lhes


nAo é e s po n t â n eo , n u n1 sólido espíri to de fé
que lhes per m i ti rá recordar o passado e enca­
ra r o futuro con1 su bn1issão à vontade d e D e u s .

Esta atitude com unicar-lhes - á coragen1 , força


e o so rri s <? nos lábios, q u a l id a de s , n1 uitíssi m o
preciosas para o s seus desígnios.

D u tn tn odo ge ral os rapazes gos tan1 q ue se


interessent pelas s uas acti v idades. Em vez
de os en tre t er con1 111il e u n1 a banalidades ou
co m . a vossa pessoa, inforn1en1-se d aq u i lo que
fazen1. Se el e s go starenr das s u as ocu pações,
falar-vos - ão delas com gos to. Aprenderão
assim a conhecê -los e terão ocasião de tro car
ideias, d e grangear a s u a s i m pa t i a e a proba­
bili d ad e de que, apreciando-os, eles as consi­
d ere m in t e l i ge n tes e interessantes !

Os rapazes não escolhen1 as au toritárias,


de modos deci d i do s e p alavras s ecas e duras.
Procurarn , pelo .contrário, a graça e a afa bi l i ­
dade e p re fe r e m para esposas ;tq uelas c u j a ele­
gância e discrição ntanifestam estas q u alid a des .

Eles n ão gostant , tam bém, das raparigas


caprichosas o u extravagantes c uj o hun1or d es i -
118 O Livro da Rapariga

gual v aria a cada m omento, que hoje estão


alegres, exuberantes, u m tanto tont as e amatthã
deprin1 idas, so1n brias e pessin1 ís tas . Um h u mor
igual agrad a - lhes n1 ais.

A simplicid ade, a graç a, o sorriso, -a . delica­


deza, a afabili dad e, a fragilidade, a cand ura,
a frescura, aliadas a u rn a sólida virtu de acen­
t u ad a discretan1 ente por uma apresentação
distinta e m aneiras s e nsatas, u m a elegância
real e de bon1 gosto, são ain da o 1n elhor meio
d e se fazer escolher e de ser aquela que os
rapazes ton1 arão de b o m grado para esposa e
para 1n ãe d e seus fi lhos .
7
O n o i vo i d ea l

EGRA geral, a s raparigas ' não podem

R escolher, directa me nte, o seu no i v o� São,


no entanto, senhoras do seu destino -por­
q u e têm a faculdade d e acei tar ou de rec usar
aqueles que as pretendan1 para casa men to.

A maior asneira q ue u n1 a rapariga pode


cometer, será aceitar, com receio de ficar
solteira ou pelo desej o de se casar c u s t e o
q u e custar, o primeiro pretendente que lhe
apareça. Mais vale o celibato do q ue u ni
casan1 ento infeliz. A n1aior parte das rapari­
gas i n1agina o casa m ento, q ualq uer casan1ento,
con1 o u n1 paraíso : imagina que a vida fenli­
nin a ficaria s e m sen tido e q ue, fora do casa ­
mento, não vale a pena ser vivida. Este erro
te n1 levado m u itas a realizar casan1entos hum i ­
lhantes d e q u e s e arrependem depressa. Não
s e rá profundarnente a f li t i v o ou vir m ul h'eres
n o v a s, casadas há seis ou doze meses, d ecla -
O L iz!r O dn J.(apn rig n
1 20
----..
------
- - - --- ---- - - -- - - ---·

n tran1 irre n1 e d i àvel ln en te pe r­


rar q u e Se e n c o
d e s s e n1 vol ta r atrá s n ã o
d i d a s e q ue, se p u
.
ca saria nl ,,..
. .'

Para ev itar q u e, na pri ln e i ra oca siã o se

deixe n1 sed u z i r pelo prhn e i r o l i s o n gead or , a s


rapar ig as d e v e m fi xar con1 pre c i s ã o , a nt e s
de q u al q u e r con v í vio m u nd ano, an tes d e q u al­
q_u er en contro senti n1e n tal, a � c o n d i ç õ e s e sse n ­
ciais a exigir d aq u ele q u e aceitar c o n1 o pos s í ve l
esposo. _

O pri ncípio q u e d e ve guiar e s t a e sc o l h a é


o segu i n te : e 1n pri n1 e i ro lugar e ac i n1 a de
t u d o o q u e conta é o valor pessoal do preten­
d e n t e ; todas as o u tra s cons i d e rações n1 ais ou

m e n o s exteri ores a e l e , tais con1 o beleza física,


for tu na, p o s i ç ã o social, e tc. '·
· . . deven1 pernl a­
necer n u n1 p l a n o s ecu ndário. Es t e s dons não
são p a ra -d e s p r ezar n1 as não con s tituem · o
esse ncial. O q u e n1 a i s i 1n porta é o v a l o r cris­
tão e h u n1 an o , t an to n1 ora l. _ co n1 o i n telectual,
do preten d e n t e, n u n1 a pala vra, a s u a persona­
l i d ade. N u n ca o essencial p o d e.rá ser sacrifi­
c ad o e , se ele falta deve n1 r e n u n c i ar q u aisq uer
q u e sejam a e legâ n cia, a r i q u eza e a pos ição
soc ial do part ido ; pel � con trá rio, q u a n d o o
.
essen cial e s teja assegu rado, 1n es m o q u e o aces·
O Casant tulo 121

o sej a n1 ed í o c re, a u nião p r oj e c t ada deve


s ó ri

se r e x a 1n i n a d a con1 i n teresse.

Antes de consentir n u n1 a c d e c l ara ç ã o de


a m or ,. , antes tnesn1 o de freq u en tar o m u nd o ,
a ra pa ri g a deve exi gir firn1emente certas con ­
dições àqu ele a q u e m aceitar a � corte ,. .

Em p r i in ei ro l ugar, que ele sej a cristão,


c rist ã o por con vicção , e sen1 p re c r i s t ão p rat i ­

cante. Q ue o seu fer v o r re l i g io s o c orre s p o n d a


às e xi gê n c i as legi t i in as d a rapari a e da boa
g
e d u c açã o dos futu ros filhos. Não po1nos etn
d úvida qu a nto é falso i n1 a g i n ar - se q u e todos
os incré d ulos sej am desprov idos de v al o r e
d e interesse. Poden1os encontrar, en tre eles,
almas verdadeiratn ente l e a i s , cuj a d escrenç a
e u n1 a c o n sequ ê nci a do
n1eio familiar e da
educação recebida. Isso não Ílnpede q u e um
c a sa me n to co n1 u n1. ho men1 d escre n te s ús ci t e
no lar
, q u ase fatahnente, conflitos d e cons­
c iê n ci a e o rig i n e sofrimen tos que outra e s c o lh a
teria evitad,o� Na m edida en1 q u e se tên1 con­
vi cções verdadeiran1ente sérias e . pro fu n d as ,
dificilmente se p od erá suportar não as ver
p artilhadas pelo seu m arido. Torna-se claro,
tam bén1 , q u e a d escre nç a do pai fará s urgir,
mais t a rde nos filhos jâ cr e s c i d o s , o angus ­
ti an te proble tn a d a fé ; e l e s perguntarão p or ­
q ue é a n1 a.e piedosa q u a nd o o pai não é
1 22
O Livro da Rap ariga

seq u er prat i ca n t e e d e q ue lado se e ncon trará


a v e rd a d eira ra zã o .
I� o d e acon t ecer, a i n d a , q u e o 1 ari d o n ã o n
par tilhe d a s con vi cções n1 ora i s d e s u a esp osa,
no q ue d i z respe i t o à fec u n d idad e do lar ;
u ma d ivergên c i a de i d e ia s s o bre a n1a neira
de e ncarar u 1na natal i dade se n sata e ao mes m o
t e m po generos a, p o d erá or i g i n ar gra ves e deli ­
cados pr o b l e m as d e consciênci a para a espo sa
cre n t e .
A ceitar o cas a n1 e n to con1 u tn de scren te é,
q uase inevitavel m ente s u sci tar no lar inq u ie­
tações e sofri n1 en tos e, m u i to pro \·àveln1 en te,
ocasião de pecado . .

Nun1 a o bra tão d e licada e de tão d ifícil


êxi to na h arn]. onia c o nj u gal devem ser afas­
t a d o s , �an t o q u a n to p o ssível , to das as causas
fàcil m ente pr� v i s t a s , de atri tos e d e sofri ­
tn ento.
Ma i s v a l e, . p o r tan t o i n1 p o r c o n1 o c o n di ça. o
indisp ensável ao acolhi n1 e n to dun1 a cand i da­
t u ra e v en t u al , a fé católica e o espí rito cris tão
do fut uro n1 ari do . ·

Ta lvez sej a opo rt u n o reco rdar q u e a Igrej a


loo.
na o favo r ece tn u i t o os cas
an1en tos ent re crente s
e n ã o b a p t i z a d os ; an tes de
os a u t orizar exi ge
d o c o n j u ge n ã o c
ren te o d u plo co m pr m i s so

de ��r n1it ir q u e s u a e s p sa pra tiq u e a eligiã o
o r
ca to li ca e o ba pt ism o e ed u ca ç ã o cr i s t ã d e
t o d os os se u s
fil h os.
O Casa m e11to 1 23

A rapari ga d eve n� ostrar-se exigente acerca


do v·erdadeiro valor tnoral do seu preten­
dente e não se dar por satisfei ta neste ponto
senão q uan do a m a neira d e proceder prove a
sua seriedade. Son1os o brigados a la1n en tar
dolorosantente a aberraçã<? de certas ra parigas
q u e aceitan1 rapazes tarados, cotn u n1 passado
bas tan te duvidoso, jogadores, bebedos ou es tro i ­
nas. Poderão elas imaginar q u e o seu pJ;"óprio
e ncan t o e a vida fan1 iliar porão fim a estes
desvarios ? Infelizmente, os factos provam q u e
isso não passa d u n1 a lam entável ilusão. Se m
dúvida , poder-se-à citar un1 ou o u tro q u e
ao deixar u n1 a j u v en t u d e cheia d e avent u ras
se emendou e, por consegui n t e, se torn o u u n1
bom marido ; e ncontran1 os, e n1 contrapartid a,
homens outrora virtuosos que se tornaran1
esposos infieis (I).
São excepções. O ca s a n1 e nt o con1 porta bas­
tantes riscos mesn1 o sem q u e haja âD:.i m o leve.
A prudência, pelo con trário, recon1 en d a q ue
se pon h a m sexnpre todos os trunfos e m j ogo.
É da mais elen1en tar pru dência p ar a a
rapariga 1n ostrar-se intra nsigente q ua n to ao
passa do c orre c t o o u virt uoso do seu fu t u ro
marido.

( I) Para dizer a verdade, neste c a so, a fal t a c a b e a


m aior parte das vezes, n u m a m e d i d a mais o u m e n o s
larga, à própri a es p osa.
124 O Lit•ro da Rapariga

Entre as q ual i d ade s n1orais indispensáveis,


há u m a q ue merece menção m uito par t i cu lar :
é o espirit o de t ra b al ho . - Vale m uitíssim o mais
d e s posar um rapaz d e condiç:lo talvez modesta
nt as dotad o de talento, e sobret udo cor ajoso .
no seu t r a ba l ho, do q ue u n1 Pachá coberto de
oiro, mas de carácter frac o e sem e nergia.
Tanto so b o ponto de vista financeiro do lar
c o n1o para a e d uca ç ã o dos filhos, o pri nteiro
o ferec e 1nelhores ga r an tias d e s u cesso .

Os tne i os b urg u e se s tên1 a te nd ê nc i a para


d a r importância enorn1 e à po s i ç ã o social do
noivo. Esta atitude não é des provi da de fun ­
danlento legíti m o n1 as presta-se, n o entanto,
a a b u sos frequen tes. A posição social não
ten1 valor senão co m o indício e gara n t ia pro­
vável d u n1 a certa cultura i n t e l ec t ua l e d uma
ed ucação m ais a p u rada. Não é, só por si, uma
pro babilidad e m ai or. Rapazes provenientes
d u m 9u tro n1eio· p o de m m u it o bem poss uir,
de facto , u ma c ul tu ra elev ada e uma educa­
�ão esm erad a. Nes t e pon to, co m o en1 tantos
o u tros , não se deve perd er d e vista .a no m a r
ger al d u m a boa esc ol h a : ate nder
ao valo r da
� ?
p ss a e não às con di ç õ
es ext eri ores , res p ei­
ta vex s se nt dú vid a
alg u n1a , n1 as de n1 enor
de sgos t o s pu n ge nt es
con seq uên cia . Q uan tos
na.o sofrerão ce rt a s tn.u lhe
res, profu nda me nte
O Casa1nt11lo 125
------ ---- ------

infelizes con1 o n1arido que o s p a i s de q ual­


qu e r n1odo lhes i m p u s e ra n1 a prete x t o de
c on ser , are m a s u a p osi ção e de nã o des­
·

cere m , q uando o c ora ção as levava para


o u t ro c u j a personalidade t er i a assegurado a
sua fel i ci d ad e , apesar ·da sua posição social
i n fe ri o r
.

No e nt an t o se o v al or p e ss oal do eleito
,

conta em prin1eiro lugar, não se deve esq ue­


cer q ue não d esp o s a tn somente o n1 arido,
mas entram, por esse fa c t o , nutna nova
fantília.
Uma grand e d i f e ren ça social poderia criar
aborrecin1entos a p resen t a n do uni c on v í v i o
penoso na s rel a ções fam iliares. Portanto, deve­
rão ter em . consideração, antes de t udo o mais
mas não exc lu s i v am e n t e, as q u al i da des pes­
soais do ca n d i da to velando cuidadosamente
,

por não se deixarem lograr nen1 cegar por


um amor prematuro.

M u i tas ra p a ri ga s não l i ga n1 i n� p ortân c i a


alguma à i da de do seu pretendente. E u m erro.
Devem e s c o l hê l o u m po uco mais ve l ho
- .

A m a t u r i d a d e moral é o desenvolvimento
físico dos rapazes são mais tardios do que
nas raparigas. Escolhê-lo mu ito novo, o u si m ­
plesm ente n1 ai s novo, corre-se o grav e risco
de- não se enc on trar nele aq uela s eg u r an ç a ,

fir m eza , do m ín io de si próprio em q u e dese­


ja m ap oiar-se .
126 O Livro da Rapariga

Salvo fundadas razões, n ão se despose por­


tanto, u n1 n1 arido 1nu i t o no v o nem n1 esm o

n1ais novo.
Por o u tro lado, se con vén1 de s po sar u m
n1arido mais v elho a d iferenç a d e idades não
de ve ser 111 ui to p ro nu n c i a d a U n1 a d iferen ça
.

s up eri or a dez anos parece, n or m a l me nt e, uma


in1prudência. É exporen1 -se a bast�n te s anos
de viuvez.
Esta afir1nação p od erá fazê-las sorrir ! I s s o
não i n1 pe d e q ue a média da vida n1asculina
sej a mais curta dois ou três anos do que
a fem inina e que no s não enganemos nas
nossas pre v i sõe s pred izendo, no con j unto, às
m u l heres n1 ais novas d ez anos do que seu
tn a r id o , u n1 per í o d o de viuvez de doze a treze
anos.
Que se reflita tam b étn s o bre a sorte dos
filhos. O n1 ar i d o d um a n1 ulher n ov a, mesn1o
con1 bastan te d iferenç a de idade pode ainda ter
filho s nun1 a idade , em q ue, em su ma, ele se não
i n t e r e s sa r.á nl u1to pela s ua e d uc a ção, o que
e n1 q ualq u er dos caso s o fatigará exce ssiv a­
Ine nte . Por o u tro lad o cor rerá o ris co pe ri­
gos o de os ver pri va do s
da pre se nça pate rna
g ad os à adol esc ênc ia
·, no � o1nen to en1 q ue, che
e � J u ve nt ud e , m ai s pr
ec isa n1 d el a.
E pre cis a tue nt e do s q
u i n z e aos vin te e cinc o
�n o_s q u e a influê n cia do
pa i se torn a n1 ais
1n d1 spen s á v el.
O Casam euto 127

As raparigas não gosta1u de encarar pres­


pectivas tão pouco di vertidas, tuas o facto de
não q uereren1 reflectir sobre este assunto e
d e se rec usare 1n a prevê-las, infelizn1 en te não
n1od ifica e n1 nada a· realidade.

É preciso evidenten1en te, e este ponto não


é n1enos i n1 portante q ue os precedentes, q u e
o futuro n1arido goze_ d u m a boa saúde.
En1 certas circ unstâncias , sen1 d ú vida, j usti­
fica -se um casan1ento por dedicação - u m a
enfern1eira, por exen1 plo, poderá por vezes,
desposar u n1 doente, u n1 ferido ou u n1 nt uti­
lado. Mas estes casos são verdadeiratnente
excepcionais. Un1 esposo, � In pai de fa m íl i a
/

tem necessidade d u m a saúde física e m ental


.

v igorosas.
Torna-se n ecessário não se fiare n1 apena�
nas aparências d e saúde do pretendente, é
preciso examina r seriatn ente a fant ília e veri­
fica r o estado de saúde dos seus ascendentes,
dos irtn ãos e i rmãs, dos tios e tias, etc., e
des cobrir os casos event uais de t uberculose,
de neurastenia ou de doença tn ental.
Essas taras desde q ue existan1 d even1 i ncitar
duma n1aneira especial à prudência e à re f lexão.
Se o próprio rapaz tem u ma saúde n1 edíocre e
sobretudo se for t ubercu loso, a rapariga deve
vencer absolutamente os seus sen t i m entos e.
1.28 O Livro da Rapariga

ruesn1 o o seu atn or nascente e renun ciar à


u nião proj ectada. .
O casa1n ento con1 u tn doente traz consigo,
infali veln1ente, dificulàades sen1 nún1ero : penú­
ria financeira, visto que o chefe de família custa
caro e ganha pouco ; atritos conj ugais, porq ue
o esposo req uer atenções e o seu carácter
ressente-se ; deficiências quase certas na saúde
dos fiJhos, arrastando normalmente u 1n longo
cort ejo de cuidados, fadigas e de inq uieta­
ções ; probabilidades duma _menos cuidada
educação, devido à obsessão causada pelo
estado de saúde ou aos riscos sérios da n1orte
pre m atura do pai.

Seria, portan to, pru dente que antecipada­


nlente, antes de q ualq uer convivência, a rapa­
riga c onsiderasse estas circunstâncias, que l he
parecerão, sem d úvida, exigentes ; mas, nunca
será demais repetir, o casamento é un1a coisa
séria e grave e é preciso estar precavido com
todas as probabilidades possíveis de êxito.
Mais vale ficar solteira do q u e ser uma esposa
i nfeliz.
Tal vez haja q uem considere estas exigências
In ui to sensatas e desej e s ubmeter-se-lhe ; mas
pergunte : onde encontrar rapazes que as reali­
zenl ? Haverá ainda raparigas sérias ? pergun·
tam os rapazes. Já não há rapazes sérios,
O Casan�e111o 1 29

pen san1 as raparigas. Estes j ui z os são erró­


neos. Ainda existem n1 ui tas fam ílias verda­
deiramente cristãs, fan1 í l ias nu merosas por
vezes, cuj os filhos corresponden1 às exigê n ­
cias ntais d ifíceis.
8
O noivado

C AL dfi n1 do noi vad o e, por conse ­

Q q u ê n ci a , a a ti t u d e q u e con v é n1 aos
. n OIV OS ?.
.

E absol uta1nente natural que u xu a noiva


gos t e d e s e e ncontrar con1 o seu noiv o e q u e
sinta , e n1 vê-lo fre q u e n t eJnente, u n1 prazer
s e m pre renovado ; 111as e s tas e n tre v ist a s deven1
servir, sobre t u d o para 1nelhor con heceren1 ,
cada vez co n1 n1 a i s s inceridade e m a i s inti­
tna nient e , a possibilidade ou a i m possibili­
d ad e d u tn a u n ião efec t iva q u e garanta u n1 a
vida d e virt u d e ..e de fel icidade. É o ten1po
de r ef l e x ã o q ue precede o con1 pronl isso xnais
irrevogá v e l q u e pode to tnar u n1 ser · hu n1ano ;
trata-se de totnar un1 a posição d e fi n i t i v a ,
q u anto à esc o l ha q u e fizere1n .
Poderá , de facto, s e r - se arrastado por u n1 a
i tnpressão d e n1asiado viva, por u m a at racção
espon tânea, pela sed ução de q u al i d ad e s delna­
siado exteriores, e até 1n esn1o· p e l a dissi nl ula­
ç ão o u pe la fals i d a d e.
0 Livro da /laJn lrig a
--- - - -- - - -- - - -- - - - - - - � - .

adq u i r i r a cer tez a de


É preci so , p orta n t o , .
a ess es e n c a n t o s e x t ern os cor re s p o nde m
q ue
d e carác ter q u e p er nt i ­
ual ida des d e a l m a e
�nt u n1a ver d a d e i ra fel icid a d e no lar p roje c­
tad o . As e n tr evist as
d o s � oi v os n âo d e v erã o
t í n u a de b ei jo s e
dec orrer n u nt a per nt u ta c on
t er n ura .
Essa s p ro va s lea is d e a fei ção q u e s e d is -
pens am sa.o pertn i t id�s e nat u r ais ent re ele s.
Mas não d e v er ã o d eixar-se a bsorver p or e las
a po n to d e es q u e ce r o essencial , isto é, o con­
fron t o d as s u as tendências e do seu carác ter
res pecti vo s.
A n o i v a an tes de t u d o deve averiguar s e a
co n ce pç ã o q u e o s e u n o i v o tem d a v id a está
de h a rn1 on i a con1 a s u a .
Q u a l é, por e x e m p l o , a s u a formação reli­
giosa ? A s u a vi da cristã limi ta-se a assistir
à m issa ao D o m ingo e a freq uen tar, d� longe
e m· longe, os · s acra m en tos ? · ou a s ua vida
andará regida por fortes convicções que influem
nos seus actos e o a uxiliam a e sf orç ar s e por\. -

corrigir o seu cará c ter, a v encer-se para


m el h or c u m pri r os
s e u s deveres cotidianos ?
'
Se a s u a religião é s u perfici al, é d e temer
q ue a e d uca ç ã o cri s t ã dos fil h o s s e re ss i n t a .
_A vida i n t e r i or d a esposa corre o risco de não
encontrar na atitu d e d e seu tn ari d o, o apoio de
q ue t erá neces s i d a d e ; mas, pelo contrário, u m
verdadeiro o bstá c u l o a o s e u aperfeiç_oan1ento.
O Casamento 1 33

Fina ln1ente, é indispensáve_l u m a certa conl u ­


n hã o de id eias nos projectos d e futuro e q u e .
dizem respeito à vida do lar. Se os gostos
fossen1 absolu ta1nente diferentes, a boa harm o ­
nia enco ntraria o bstácu los tal vez insuperáveis
ou e x i gi ri a tais sacrifícios q ue a felici d a de de
u m dos esposos ou m esmo dos dois estaria
seriamente comprometida.
Torna-se necessário que ·os caracteres se
harm onizem.
Do_i s · seres verdadeiramente sérios, profun­
dam ente cristãos, tendo concepções e ambições
relativamente idênticas, podem no ent a nt o , por
divergências p r o f u nd a s, ser im potentes para
se entenderem de m aneira duradoira e encon ­
trarem-se, assim, na im possibilidade de fundar
um lar pacífico e harmonioso.
Em resumo, uma vez que o casamento é a
decisão .mais séria da vida, o tempo çlo noi­
vado deve ser u ti l iz� d o para se conhecerem o

m e lh or possível.

Como ch ega r a este conhecimento m útuo ?


·Primeiro, vendo-se : é preciso q u e os noi vos
possam discutir, através de conversas, os seus
ideais e osseu s - projectos.
. .

Estas c·onversas sem constrangimento são ·

indispensáveis e os pais devem proporcioná­


-las. A frequência destas entrevistas depen -
O Livro da Rapariga
1 34

d erá da proxim i d a de o u - do afasta n1ento do


c a s a n1 e n t o p r o j e ct a
d o.
R egr a geral, os noi vados q ue exce dem um

ano o u mais n ão são de acon selhar.


Ce r t a s c i rc u n stâ n c i a s , tai s corn o e st u_d os
a t er m ina r ou acon tecimen tos i m pre v ist os,
p o d em vir transtornar o s projecto s a n te r i ores
e im p ô r a diam en tos. Nes t e caso, o s noi vos
t erão o c u idado de não se encontrar com
d e m asiada freq u ência.
É i in p os s í v el q ue, vendo-se várias vezes
d ura nte a semana, d u ra n t e meses e m es es,
testemunhand o-se provas de afeiç ão, aliás
legí tin1as entre noi vos, não venham a encon­
t ra r - s e e1n d ific u ldades m orai s .
O amor sofre a s u a l e i psicológica e , fatal­
Inen te, s e o rapaz e a rapariga se encontran1
fre q ue n t e m e n t e e s e testen1 u n h a n1 u m a afei­
ção ar d en t e , terão d ific uldade em recu sar-se à
doaçã o total por p o u co q u e s e p r o l o n g ue esta
s i t u açã o .

Peran te a p ers p e c ti v a d u m noivado pro l on ­

gado, o s intere ssado s devem usar de bas tan te


pr u dên cia para espaçar s u ficien temente as suas
Y is i ta s de m ane ira a
a tin gir este d u plo fiin :
não s e a vent ura rem por cam i n h os perigos os
pa ra a s u a i n t egri da de mora l e não deixarem
d e ali m e n tar a s u a a fei çã o
m (u a .�
Na hipó tes e d u m noiva do curto deYerãonão
a bs ol u t a in e n t e,
l i tn itá -las a pont o de_i nl pe d i r,
O Casam tu/o 1 35
----- - - - -- - - -- -- - - - -----

que vejan1 se foi ben1 fundada ou não a s u a


escolha ; n e s t e caso as entrevistas poderão ser
n1ais (re q u e n t e s .

D u rante estes encon tros procurarão agir con1


naturalidade. l\f ui t a s vezes os n oi v o s n1ostra1n
tendênci a para li s o n ge a r o seu retrato n1 oral,
atribu i ndo-se q u a l id ad e s, talentos o u virtudes
q u e não pos s u e n1, ou, pelo menos, no grau em
q u e o d a.o a entender.
Para quê a t ira r con1 poeira aos olhos e
tentar e ss a intrujice ? Dentro e n1 pouco as
a parênc i a s serão · varri�as, todo esse verniz
s uperficial e s t a l a r á e encontrar-se-ão d ia n t e
d a rea l i d ad e nua e cr ua. Vale i n fi nitan1ente
mais mostraren1-se cont o são, con1 o s e u ver­
d adeiro carácter, com seus d efe it o s e virtu des,
e o seu equilíbrio mais ou menos estável.
É de desej ar que e s t a s entrevistas se reali­
zem en1 fam í l ia e n ão e 1n meios s uperficiais,
tais c o nt o bailes, s arau s , chás dançantes, tea­
tros, cine1nas e distra·cções ; não há
o u tras
nada q ue valha a ca l n1 a e a paz das reuniões
familiares, as reacções dos irn1ãos, irmãs e
pais, a presença do n oivo nas s u as ocupações
e no seu meio normal para melhor o co n h ece r .

Os noivos não deverão de i xar s e absorver -

u nicamente, pela con j ugaça.o d o verbo antar.


Não devem li m i t a r se a conversas pu ra men t e
-

sentimén tais e superficiais. Mas a bo r d a rã o,


com toda a sinceridade, os d iversos pro blem as
136 O Livro da RaparÍI( fl
------ - - --- - - - - -
--.

q u e o ca sa m e n t o tra z c o n s i go ex po n d o se m
.
re tic ê n c ia s , as s uas 1" d etas e os se u s p ro.
j ec tos .

É a bsolu tantente i n d is pens á vel q u e, d ura n


te
o noiv a d o, os fu t u ros esP.osos m os trem cla ra­
mente as suas op i n i õ e s acerca da v id a con j u ga l
e fa m il iar, em e s p e c i a l q uan t o a o n ú n1 ero de
filhos e q ua n to à s ua educação.
So bre e s te ass u nto, devem ser bastan te
e xpl íci t os . Trata-se de sa ber se se c o n tentan1
com e nc a ra r o c a s a m e nt o como u m a si mples
fo rnt a d e prazer n a alegria de v i v e r a duo,
e n trega n d o se ao a m or, o u se o e n cara m como
-

um m e i o de aperfeiçoam en to, com o u m d eve r


d e e s tad o a c u n1 pr i r não se f u r t a n do a sacri­
fícios.
Estão . d ispostos a ter f il h o s ? Perfilha n1 as
m e s m a s id eias q u a n t o à s u a ed u ca ç ã o, e s col h a
d e e scol as e esta belecfm en tos de ensino ?
Tud o i s to s ã o q u es t õ e s e xtr e m a m en t e gra­
ves porq ue se tr� .do fu t u ro ten1poral e
eterno de s e re s h u manos . Un1 d es a co r d o so bre
q ual q ue r destes pontos � ss e n c i a i s s e ria de
moldé a trazer confl itos prof u n d o s en tre os
es p osos.
Mais va le, portan to, �ncará -los e d iscuti-los
d ura n t e o n o i vado, de n1 a n e i ra a evitar o
irr ep ará ve l , e n q u a n to é t e m po d e não se com­
prome teren1 n u n1 casa 1n en t o cujo fu t u ro surgirá
c a rrega d o d e d if i c u l dades i r re 1n e d i á Yeis.
O Casam ento 13 7

Na.o será preferível reparar a tempo di v e r ­


gê ncia s ta.o graves e m vez de as constatar
quando for demasiado tarde ? ! Se surgirem
divergências n1 ui to grandes n1ais vale ro m pe r
a te m po o noivad o d o q ue co r re r o risco d u m a

unia.o infeliz. •

Os noivos devem t rat ar estas q uestões con1


lea ldad e . Se, por u m o u ou tro m o t i vo , o noivo
se re c u s as se , a n o i va poderia, apesar de t udo,
c o n s e g u i r o s seus fins.

Evitaria, e v i de n temente, faze r l h e u n1 i n t e r­


-

rogatório e tn forma. Os n1 i l d e t a l h e s d a vida


.corrente, o en c o n t ro d u m a senhora acompa­
nh 1da de seus fil h os , ao assistiren1 a u n1
s er m ão , passando d iante de l ugares de d i ver­
t ii;n e n t o , a atitude observad á na i n t i tn i dad e
com ela, permitir-lhe-ão verificar ao v i vo a s
_
suas rea c ç õ e s espontâneas perante os gr� v e s
p ro b le m as a e l uc id a r : fec u ndidad e d o l a r,
ed ucação dos filhos, v i da r e l i gio s a, a n1 bições
de f u t u ro, espír i to de fé, d ed icação, t ra balho,
cari dade.
É p or ta n t o abso l u t a mente norn1 a l e n a t u ­
ral que os noivos possam encontrar- se e n1
entrevistas q ue nao exigem b o sq ue s esco n­
d i dos, ne m l u gares d esertos, n e n1 sol idão
a bs o l u t a.
·

Desde o n1 o n1 e n to en1 q u e po s s a m fa lar


l ivren1 e n te e trocar c o m lea l d adé a s suas
i d e ias, o esse n c i al será sal v o.
O Lii'YO da Raparigq
---- - - -- -- - - - - - - - - ---- -------
.
Q u al d e v e ser a atitude dos noi v os e n1 face
un1 do ou tro ?
Pod e n1 , e v id t:)l te m en te, testen1 unhar a s u a
afeição. Todos os tes te m u n hos normais desse
afec to, desde q u e se manten han1 no plano sen­
tinJental ou sen sí vel, são perfei tam ente permi­
t i do s e n tre noi vos.
Se eles se atnant é absol u tan1ente natural
e normal q ue o m anifestem sensiveln1 ente.
Conto diz 111 ui te ben1 São Francisco de Sales :
« o beijo é sinal viyo da u nião dos coraç ões ;
desde sen1pre, por instinto nat ural, ele foi
e1npregado para significar o a tn or perfeito,
isto é, a união dos corações. De n1 aneira que
q uand o s e u nen1 d uas b o ca s num b e ij o é para
t e s te n1 u n har o d e s ej '? d e f u ndir as almas uma
na ou tra para a s u nir numa união perfeita, e
porq u e e m todos os ten1 pos e entre o s In ai ores
san tos do n1undo, o beijo foi o sinal do a1nor
e d a t ern u ra. Mas q u e espécie de u nião repre­
senta ele ?
O beijo representa a u nião espiritual q ue se
dá pela recíproca co 1n un hão d as aln1as ; certa­
In e n te é O h0111 e111 que ama, lUaS an1 a peJa
von tade ».
É portanto u n1 coração o q u e o beijo traz
consigo procuran'do verter toda a sua afeição e
tern ura. Beijos ditados por este azn or, ardente
e res p e i t a d or e s p iri t ua l e terno, são, con1 o se
,

con1preende, legítin1os entre noivos.


O Ctr�aJiu ulo 1 39

Há n1 uitas tn aneiras d e s e b e ij are tn . Pode


ex printir-se através dun1 b ei j o u n1 pro f un do
respeito por aqu ele a q u en1 se dá esse teste­
nl u n ho. Pode, nou tras circu nstn.ncias, t ra n s ­
nl i t i r todo o ardor da s ua a fe i ç :Lo , a ternura
do coração, a l e a l d a de do seu an1or.
lJ n1 beijo po d e , t a n1 b é 1n , t rad u zir u n1 a von­
tad e a p a i x o na d a d e p o ss e o u d e d oa ç ão .
D istinguiremos assi m três espécies : o beijo
r e s pe i t o s o , o beijo afectuóso ou an1oroso e o
beijo passional ou apaixo nado. Enquanto for
expressão d u n1 a ut o r r ea l e profundo sem que
haja m i st u ra de algu n1 deseio consciente ou
v o l u n tário d e se n s ualidade, o beijo é perfeita- .
tnente d ign o e legitin1 o entre noivos. Desde
que, pelo contrário, trad u za u nta b u sc a de pra­
zer pe s soa l e de sensações de gozo ou de
doação, torna-se rep re e n s í v e l . É o · caso do
beij o apaixonado p rol ongado e ardente dado
na boca ; este gesto e x pri m e , ordinàrian1ente,
u n1 d es ej o de posse e de doação nt útua e é,
e n1 q ualq ue r caso, um nteio e u n1 a ocasi ão (I ).

{1) Talvez haj a quem d esej ass e ver-nos condenar


E-em reserva o be ij o e reprová-lo absolutament e. c Na
gra n d e m aiori a dos casos, dizem, corre-se o risco d e se
d�ixarem ir mais l onge ».

Em c on sci!nc ia , nós não podemos adoptar u m a at i ­


tu de tão radi cal. Pri meiro porq ue t e m os o d ever d e
n ã o fal sear as consciências e d e n ã o apresentar com o
s e n d o em s i u m peca d o u ma maneira d e proceder q ue,
..

O Livro da Ra}arign

Ora, se todas as provas de afeição senti­


n1e n tal e sensível são permitidas entre noivos,
t udo o que, pelo co ntrário , constit ui as pre­
missas psicológicas nor mais e com .mais razão
todo o atractivo acentuado para a doaç:io
total re c íp roca, é repreensível e conde n á ve l .
Mas n:lo considerem estas interdições como
proibições arbitrárias de Deus ; elas não slo

conforme o testemunho de São Francisco de Sales, não


é culpável em si. Depois porque pretendemos, atravês
d os nossos liYros, (( educar »-.
Muitos au t ore s contentam-se com enumera r as proi­
bições, sem se darem ao trab alho de mo s tr a r como
dev em agir. _ Há uma art e cristã, cujas p rescrições reu­
nem as do verdadeiro humanismo, de amar e de beij ar.
Como querem que a nossa j uventude a ponha em prá­
tica, se lha não en s i n a m claramente e duma manei ra
p ositiva e construtiv a ?
À f alta de conselhqs, cada um entrega-se aos impul ­
sos do seu temperamento e da sua sensibilidade e
s abem o s que, c no homem, e s ses impulsos o levam
espont aneamente aos excessos sensuais.
É e st e ensino positivo qu� n os esforçamos por d ar e
d e sei ariamo s que o s j ovens aprendessem a beijar-se
casta e ardentemente.
�{as todos• os nossos leit ores têm razão em querer
que se p onha a j uv ent ude de sobre aviso contra o beij o
na b oca. Se não se precaverem, em breve se torna
passional e toma, fàcilmente, proporções mais aproxi­
m adas. E, se procurarem apenas m anifest ar uma afei ­
ção recip ro c a , porque não recorre r aos beijos n a fronte
e n as faces que podem ser tão a m orosos e ardentes.
sendo ao mestt)o t em p o e spont anemente cast o s ·�
O Casamento

1nais d o que a tradução d u n1a e x i gê ncia s ã e


pod e r osa d o ben1 social.
Se a doação total f os se lícita fora d o casa ­
tu ento , se u n1a s hu pl e s protnessa ou a int en ­
ção de s e casaren1 bastasse para a l e gi ti m a r ,
quantos perigos graves não adviri atn par a a

rapariga e para o fr u to e ventual da s u a união !


É mais alto o seu destino ( 1 ).
9s noivos terão, portanto, o c u ida do de .pro­
ceder com rectidão e perfei ta lealdade para se
1nanteren1 n a i u s ta n1edida entre as s i n1 pl e s
e x i gê n c ia s d u tn a afe i ç ã o recí proca q u e é lícito
n1 a n i f e s t a r e a p r u d ê ncia necessária para evi-
.
- tar o s in1 pulsos inten1 pestivos d o i n sti n t o .
Evitarão a t i n g ir de assa l t o , os li mites pernl i ­
tidos m a s pelo contrário grad uarão as s uas
manifestações afect uosas. Mostrar - se-ão n1ais
pru dentes se o seu no i v a do ti ver de se pro­
l ongar. Procurarão acentuar, de preferência, as
e x p r e s sÕes sentim entais e espiritu ais do seu
a m o r, atenções , deli cadezas, amabilidades . . .
Nes ta altura começa o papel fem inino de
e d u c adora no a1n or e de espirit u a\ izadora do
c a s a n1 e n t o .
o
.

Longe de p rovo car no i v o e n1 tentações


p as s i o n a i s com bei j o s demasiad o ard ntes, pro


lo n ga do s . e m u ito freque ntes, a noiva velara
cuidadosa n1ente por o deter a tem po nesse

(1) \" cja pág. 97-98.


O LiL,-o da Rapariga
--
---------- ----� -

can1 inho perigoso para onde o se u ten1 pera ..


mento n1asc u lino o arrasta tão fàcil ni ente.
Ad quiri n do o h á b i t o d e dar p r eí er ê n c i a , nas
provas de afeição, aos ele ntentos e s p i r i tu ai s
e senthnentais, as s i n1 se prepararão o s dois
para viver u n1 a.n1 or con1 pletan1 ente h u tna:o o .
Es te a tn or i nt plica, s e n1 d úvida, na sua inte­
grid a de , u n1 eletn e n to corporal, tu a s se ele
re sp e i t ar a h i e rarq u i a .n at ural dos seus c o m ..
ponen tes, a a� i z a d e dos corações e � af e iÇã o
das aln1 a s deven1 s uperar, n i t i d a nt e nt e , as
suas n ot as s e nsíveis. A j u da nd o o noivo a
disciplinar . o seu a tu o r, a pôr nos_ bei j os todo
o coração e toda a ahn a, a no i v a pr ep ará l o á
- -

p ara n1elhor de sem penha r o seu p ap el de


es poso, q u e 1nesn1 o nas manifestações n1 a i s
íntin1 as e tn a i s t o t ais d o a n1 or, deve sen1 pre
a tu ar con1 a a l n1 a e cotu o coração em pr in1e iro
lugar.
_

N o entanto se, q u an do trocan1 testetn u n hos


d e a fei ção nor n1 ais , b e ij os tern os n1 as leais,. a
noiva sen t i r reacções d e ordem sensu al invo­
luntária, fará de contas que n a da sentiu ; rea­
firnlaria a s ua v ontade de viver um an1or
n1 ui t o p uro únican1 e n te séntitn ental e espi ri­
tual, até ao dia do casatuento.
Se, pelo contrário, essas reacções fossen1
d e v ida s a · provas de a n1 o r detnasiado í ntin1 as
e apaixonadas, tir.a ria daí u n1a lição útil para
o futuro e e v ita r i a , no f u t u ro , essas mani-
O Casam e111o
---- - -- - - - --- - -- --

{estações excessivas d e afeição. A rapariga


procederá assim tanto de m elhor grado q uanto
sahe q u e ó· ho m e n1 é m u i t o mais i nflamá vel
d o q ue a n1 u l h e r , neste c a n1 po ; e, n1 esmo q ue
l h e pareça não correr o risco de se a b and on a r
�L sen s u alidade, ela d e v e len1 brar-se da extrema
fragi lidade d o homem ev itando torn ar-se para
o n_oivo um n1 o t i vo de tentação e u m a ocasião
de q ueda.
Esta m aneira de proceder req uer m úita
rectidão e l e a l d a d e.
O princípio é bastan te claro : são permitidos
todos os tes tem u n hos de a1nor sinceros, arden­
t e s , n o b r es ; são excluí das as manifestações
sen s uais e t u d o o que as provoca.

Os no i vos têm a t e n dê nci a de se j ulgare m


i s ol a d o s n u n1 m un d o muito se u .
Casando entra-se numa nova família. A rapa­
riga fará t odos os p o s sí v e is por c ompr ee n d e r
e apreciar os seus sogros. Não esquecerá que
é a el e s , em pri m eiro lugar, à s u a generosi­
da d e , à s ua dedicação que o noivo deve a s
q u alidades q u e a encantaram .
Um a vez q ue d epois sJ.e casada terá de
Yisitá-los, a má-los e v i v e r com eles em boa
harmonia , deve es forçar-se, desde já, por
gan har o s e u c o ra ç ã o com as s uas deferências,
r e s pe i to e a m ;tbilid ade.
144 O Livro da Rapariga

A n o iva não esqu ecerá, tam bé m , q ue , ta n t o


na fa mília de seu mar i do co m o n a s u a , há
mu itas vezes, i rm ã o s e irm ãs mai s n ov o s.
De ve ter cuida do para que os te s t e 1n u nho s de
afeiç�o, aliás legítimos, que t ro ca co m o no ivo
nAo sejam Ptt ra eles m otivo de escâ n da lo." P o r
vezes, bas ta uma pequenina coisa pa ra pe r­
turbar uma alma inocen te, sobretudo n a vi da
da adolescência.
Aos q uinze e dezasseis a�os o e s p íri to dos
rapazes e das raparigas está a d e s perta r e a
co n d u t a da· irmã mais velha p oderá exercer
sobre as suas almas repercussões perigosas.-

Por último, quando se a pro xi m a o fim do


· no i v a do, a r a p a r iga esforçar-se-á cuidadosa­

m ente por e xerc er a& virt udes próprias da


esposa _ cristã ; mostrar-se-á mais s u b m i s sa e
meiga no · lar p a t e r n o e mais sorridente, mais
terna e mais afectuosa, velará sobretu do por
um maior domínio da sua sensibilid�de e sen­
timentalid-a de e · por reprimir as reacções do
seu h u mor ·
.

Uma tal concepção do n o i v a do é sã e pru­


dente. Concede à razão e à pr u d ê nci a a parte
legitima que lhes cabe antes do mais grave
compromisso que dois seres hu man os podem
O Casamt11lo

ton1ar un1 perante o ou tro, permitindo ao


n1esn1 o tetnpo, ao coração e às necessidades
de expressão d u n1 m útuo afecto, a satis fação
das suas exigências legítimas.
Na.o devemos deixar de dizer que o ten1po
do noivado deve v iver-se particularmente sob
o s olhares de Deus e que o noivo e a noiva se
unirão frequentetnente numa oração con1 u m :
oração p elo presente e oração pelo futuro, para
que o seu lar seja u no, a m·orável, cristão,
fecundo en1 alegrias e en1 virtudes.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Í ND I C E

P:h EFÁCIO •
' 5

PRIMEIRA PARTE
O C A S A �I E N T O

1 - l-Ia i s belo d o q u e e m sonho ! . . . .


9
2 - O C asamento
3 - �Iútuo aperfeiçoamento .

4 - A �Maternidad e . 33
5 - A educação dos filhos .
39
6 - E m t erras d e Cristandade . 45
7 - Para além d o cas a m ento • • 51

SEGUNDA PARTE ,,

.A C A �I I N H O DO C A S A �I E N T O

1 - F u t u ra esposa • 63

2 - Futura m ãe . • • •
73
3- À esp era d o Príncipe Sonhado . • 8g

4 - �f e i o s d e encontro • .. 91

5 - Perigo s ! • 99
6 - Para a q u elas q u e podem e s c o lher . II I

7 - O noivo id eal . 119


8 - O n oi va d o •
131

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

Você também pode gostar