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(Flynn)
Linda Turner
Doação: Valeria
Digitalização: Joyce
Revisão e Formatação: Amanda F.
Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Capítulo I
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Mas já era tarde demais. Rindo, Wyatt saiu rodopiando com Tate, que ria
às gargalhadas.
Colocado no outro lado do salão, Flynn Rawlings observava a cativante e
risonha loirinha que saltitava pelo salão, passando dos braços de um parceiro de
barbas grisalhas a outro. Como se fosse a rainha do baile, ela mal tinha tempo de
respirar entre as músicas antes de ser outra vez arrastada para a pista de dança.
Agora estava nos braços de um peão de rodeio que era definitivamente casado.
E a diabinha dançava bem, constatou Flynn, apreciando as ancas bem
desenhadas que se requebravam vestindo a apertada calça jeans. Pequena e delicada,
com uma cintura tão fina que um homem facilmente envolveria com as mãos, ela se
movimentava como se estivesse num sonho. Flynn imaginou-se tendo-a nos braços. O
simples pensamento já foi suficiente para ele sentisse o sangue mais quente.
George Klein, que como ele montava potros bravios nos rodeios, reparou no
olhar do amigo.
— Ela é uma coisinha, não é mesmo? Não a conhece?
Incapaz de afastar os olhos da mulher que se movimentava na pista de
dança, Flynn balançou a cabeça.
— Não, mas gostaria de conhecer. Ela está no circuito?
George dissimulou o sorriso.
— Está, sim. O nome é Tate Baxter. Participa da corrida dos cilindros e é
boa como o diabo nisso. Se você acha que Tate dança bem, devia vê-la na sela de um
cavalo. Rapaz! - George balançou a cabeça para os lados. — Essa menina conquistaria o
título mundial com a maior facilidade, desde que quisesse competir a temporada
inteira, mas parece que não está interessada. Só faz o suficiente para ganhar o
dinheiro que precisa para pagar os estudos. Parece que ela quer ser médica. Por isso,
deve ser um bocado inteligente... embora eu reconheça que qualquer um é mais
inteligente do que eu. - dizendo isso o rapaz soltou uma risada. — Mas por que não vai
tirá-la para dançar?
Era justamente o que Flynn planejava, mas alguma coisa na voz do companheiro o
deixou alerta. Há apenas dois meses no circuito dos rodeios, ele já havia aprendido
que, tanto quanto os vaqueiros da fazenda da família dele, no Novo México, os peões
de rodeio adoravam passar trotes nos companheiros. Era sempre bom tomar cuidado
quando algum peão se mostrava muito solícito... e naquele momento George parecia
solícito demais.
Desconfiado, Flynn apertou os olhos azuis. Lançando a George um rápido olhar,
procurou deixar bem claro que não era nenhum bobalhão para cair em armadilha,
mesmo de brincadeira.
— Por que diz isso? Qual é o problema com Tate Baxter?
— Nenhum problema - garantiu o rapaz, fazendo uma cara de inocência. —
Juro, Flynn. Pode perguntar a qualquer um por aqui. - enfatizando o que dizia, George
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indicou com um gesto os risonhos peões que estavam por perto. — Eles vão dizer a
mesma coisa. Tate Baxter é uma gracinha. Quando quer, sabe proporcionar as maiores
alegrias a um sujeito. E aposto que ela está louquinha para dançar com você.
— É mesmo? - rebateu Flynn, ainda mais desconfiado. — Se ela é tão especial
assim, por que vocês não estão trocando socos aí para ver quem vai abordá-la
primeiro? Ela é casada, não é? No mínimo é separada. Eu juro por Deus George, se
aquela garota tiver um marido ciumento escondido por aí, pronto para saltar sobre o
primeiro que abraçá-la com um pouco mais de vontade, vou quebrar todos os seus
ossos e depois pendurá-lo de cabeça para baixo.
George ergueu as duas mãos, como se estivesse na mira de um revólver.
— Ela não é casada, nunca foi e, pelo que sei, nem tão cedo se casará. Juro
por tudo que é mais sagrado. A garota é tão livre quanto um passarinho e parece ter
sido feita para você. Pare de ficar indeciso e vá mostrar a esses palermas como é que
se dança com uma dama de verdade. Qualquer um pode ver que você está louco para
fazer isso.
Aquilo era algo que Flynn não podia negar, embora estivesse com a sensação de
que iria cometer um erro... um enorme erro. No entanto, muito tempo já se havia
passado desde que ele circulara pela última vez por uma pista de dança com uma
mulher que soubesse realmente o que estava fazendo. E aquilo era algo que Tate
Baxter evidentemente sabia fazer. Sorrindo para o parceiro de agora, que devia ter
idade suficiente para ser avô dela, ela mais parecia uma pluma conduzida pelo velhote.
Flynn chegava a ficar com a garganta seca.
Se não estivesse tão fascinado, teria escutado a voz da razão... e
principalmente reparado nos companheiros, às costas dele, que começavam a se
cutucar, contendo o riso. No entanto, os olhos de Flynn eram apenas para Tate Baxter.
— Está bem. - ele concordou. — Mas escute bem George, se está me
empurrando para uma armadilha, aproveite para se divertir à vontade, porque quando
chegar a minha vez não terei a menor piedade de você.
Imperturbável, George apenas riu.
— Estou morrendo de medo, Rawlings. Deixe de ser paranóico, homem, e vá
dançar enquanto tem oportunidade. Tate não aparece nos bailes com muita frequência
e, quando comparece, sempre vai embora cedo.
Flynn não quis ouvir mais nada e começou a atravessar a pista de dança. A sorte
estava lançada.
Com as faces coradas e os olhos brilhando, Tate estava quase sem fôlego
quando Cade conseguiu se aproximar reivindicando o direito de dançar com ela.
Resmungando contra amigos que só sabiam passar os outra para trás, ele a tomou nos
braços, a uma respeitosa distância, e saiu rodopiando com ela pela pista, mais
parecendo um rebocador que quisesse arrastar uma canoa numa corredeira sem deixá-
la emborcar.
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Sem conseguir conter o riso, Tate abraçou-se a ele quando a música chegou ao
fim.
— Agora chega, tio! - ela exclamou. — Não estou aguentando mais.
Cade balançou a cabeça, sem querer desistir.
— Você não pode se cansar tão depressa assim. A banda está apenas
esquentando. Na certa precisa de alguma coisa para recarregar as baterias. Fique
paradinha aqui que eu vou buscar uma cerveja para você... e outra para mim, é claro!
Bem que ela preferia uma Coca-Cola, mas agora Cade já abria caminho entre
a multidão, depois de tomar o cuidado de deixaria longe das vistas de Wyatt. Tate
abriu um sorriso, imaginando aqueles dois bons amigos na época em que, ainda
solteiros, estavam entre os mais requisitados peões de rodeio. Muito provavelmente
faziam palpitar mais depressa o coração das mulheres.
— Na certa isso é o que todos dizem, doçura, mas parece que estão tocando
a nossa música. Vamos dançar?
Entretida nos próprios pensamentos, Tate demorou algum tempo para
perceber que aquele convite, feito no sotaque característico do Novo México, era
dirigido a ela.
Surpresa, voltou-se para dar de cara com um peão de travessos olhos azuis
e covinhas nas faces provocadas pelo sorriso que parecia desafiá-la a resistir.
Problema, ela pensou, contendo um palavrão e sentindo o coração bater num
ritmo que a deixou irritada. Conhecia muito bem aquele tipo de problema. O rapaz
diante dela, por exemplo, era do tipo do qual mulher com algum senso de auto-
preservação deveria procurar ficar bem longe. Com cerca de um metro e oitenta, ele
era magro e de pele bronzeada. Apesar do queixo quadrado, tinha as feições de um
menino que houvesse crescido demais e fosse dado a travessuras.
Num passado não muito distante, um homem com aqueles olhos e aquele
sorriso não precisava fazer muita coisa para chamar a atenção dela. Agora, porém, não
era bem assim.
Aprumando o corpo, Tate olhou para o rapaz com uma expressão de frieza.
— Desculpe, mas eu não danço.
No primeiro instante Flynn teve certeza de que ela estava brincando.
— Ah, não? - ele inquiriu, mostrando um sorriso de descrença. — Mas o que
é isso, moça? Eu a estive observando e vi muito bem que você é capaz de dar lições de
dança à própria Ginger Rogers. E então? Vamos ou não vamos embarcar nessa canção?
— Não. - ela respondeu, sem se desculpar e sem dar maiores explicações. —
Agora, se me dá licença, preciso ir. Boa noite.
Antes que qualquer protesto pudesse ser pronunciado, Tate passou por ele
e foi se afastando sem olhar para trás. Espantado, Flynn ficou parado à margem da
pista de dança, ignorando os casais que o olhavam com curiosidade. Ele não se achava
um egocêntrico que não fosse capaz de, vez por outra, suportar uma rejeição. No
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entanto, se não queria mesmo dançar com ele, aquela mulher podia simplesmente dizer
isso com toda clareza. Não precisava ter mentido daquele jeito.
Lançando um olhar duro à aquela convencida, Flynn girou o corpo e retornou
ao local onde estavam os amigos.
George o recebeu com tapinhas no ombro.
— Não se aborreça, amigão. Isso às vezes acontece.
— Que história é essa de ―às vezes‖? - resmungou Randy Jordan, colocando
uma nota de dez dólares na mão de George. — Isso sempre acontece com Tate Baxter,
e você sabe muito bem. Eu é que não sei como fui tolo o suficiente para apostar em
Flynn. Ele pode arrancar suspiros das adolescentes sonhadoras e inexperientes, mas
isso não significa nada para Tate. Ela gosta tanto de peões charmosos quanto eu gosto
de ser jogado de cima do lombo de um touro enraivecido.
Reparando que mais dinheiro trocava de mãos entre os que haviam
observado a humilhante experiência pela qual ele havia passado, Flynn voltou-se com os
olhos apertados para George, que mostrava o mais cândido dos sorrisos.
— Ora, muito bem. Você já se divertiu um bocado... além de ter posto no
bolso alguns dólares às minhas custas. Agora, que tal me dizer que diabo está
acontecendo por aqui? O que Tate Baxter tem contra peões de rodeio?
— Tudo. - respondeu George. — Um amansador de touros cafajeste
engravidou-a quando ela estava com dezessete anos e sumiu de vista no instante em
que descobriu que ia ser papai.
— O sujeito simplesmente a dispensou?
— Sim, como se ela fosse uma batata quente. - confirmou Randy. — Pelo que
se sabe, Tate nunca mais teve notícia dele... o que não é necessariamente uma coisa
ruim. Aquele pilantra não valia nada mesmo e ela está numa situação muito melhor do
que se estivesse com ele.
— Pode ser. - concordou George. — No entanto, a garota tem levado uma
vida que não é das melhores. Só Deus sabe como ela consegue sustentar a filha
sozinha. Percorre metade do país dirigindo aquela pick-up caindo de velha para
arranjar algum dinheiro nas competições de que participa na primavera e no verão. E
gasta praticamente tudo nos estudos. Não é fácil, meu velho.
Pela expressão dos outros rapazes que o cercavam, Flynn concluiu que a
pequena competidora da corrida dos cilindros tinha um bom conceito entre todos ali...
embora ela própria não tivesse os peões em muito alta conta. Olhando outra vez para
Tate, como se fosse atraído por um imã, ele ficou observando enquanto ela abraçava
os dois velhotes com quem havia dançado antes, voltando-se em seguida para uma ruiva
bonitinha que conversava timidamente com Mitchell Dunn. Segundos mais tarde Tate
Baxter marchava para a porta. Sozinha.
A moça não o havia olhado mais depois de dispensá-lo, mas Flynn teve a nítida
sensação de que ela estava indo embora tão cedo por causa dele... por causa de uma
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tentativa de aproximação que, mesmo sem ter tido essa intenção, a deixara
constrangida. E aquilo o perturbava mais do que ele queria admitir.
Entre os melhores amigos de Flynn estavam algumas mulheres. E ele as
adorava. Adora a, delicadeza delas, a agudeza de espírito e os intrigantes caminhos
que utilizavam para raciocinar. Também adorava as tentadoras curvas de que elas
eram dotadas. Não se lembrava de ter conhecido uma única mulher de que não
houvesse gostado e, pelo menos conscientemente, jamais seria capaz de fazer algo que
as agredisse. Em geral as mulheres percebiam de pronto que Flynn não estava
querendo nada sério. Como Tate Baxter, por exemplo...
Droga! Ele não havia pensado em nada além de uma simples dança!
— Bem, ela não precisa se preocupar comigo, porque não a perturbarei mais.
- murmurou Flynn, afastando os olhos da porta por onde Tate havia desaparecido. —
Afinal de contas, há muitas outras garotas por aqui com quem poderei dançar. Para
onde terá ido a rainha do rodeio?
Deixando para trás o salão onde se realizava o baile, Tate contornou a arena
e rumou para o acampamento reservado aos competidores. Nos dias anteriores aquele
acampamento estava praticamente lotado. Agora, porém, terminado o Rodeio Red
Rock, muitos dos peões já haviam partido para participar de outros rodeios, restando
poucas pessoas acampadas ali. Entre os que haviam ficado, a pick-up dela, cuja parte
traseira tinha todos os confortos de um pequeno trailer, era a única onde havia luz
acesa.
Sem se espantar com aquilo, Tate abriu um sorriso. Na certa era Ellie
Saxon, a irmã de dezessete anos de Kelly, que havia resolvido ler até tarde. Babá
preferida de Haily, Ellie adorava romances de mistério e naquela tarde havia
começado a ler o último livro de Stephen King.
Quando Tate abriu a porta, devagar, a primeira coisa que viu foi o rosto muito
pálido de Ellie, que havia se levantado do sofá e, com o livro fechado na mão, olhava
diretamente para ela com os olhos arregalados.
— Ai, graças a Deus é você! - exclamou a garota. — Levei um susto danado.
— E eu que pensei que essa cara de medo fosse por causa da história que você
está lendo. - disse Tate, rindo. Olhando para a cama que havia por cima da cabine da
pick-up, onde viu os cabelos loiros e cacheados da filha, ela mostrou um sorriso
enternecido. — Estou vendo que a diabinha resolveu ir para a cama na hora certa. Ela
lhe deu muito trabalho?
— Haily queria ver Jornada nas Estrelas na TV, mas mal conseguiu ficar
com os olhos abertos durante o noticiário. Acomodou-se ali e de lá para cá não ouvi
mais nada. E então? Divertiu-se no baile? Quem estava lá?
Ouvindo referências ao ídolo da irmã e a alguns outros peões do circuito,
Ellie suspirou.
— Uau! Aposto que Kelly ficou nas nuvens, não foi? As garotas partem para
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cima desses rapazes como moscas no mel. Você dançou com algum deles?
Tate riu e balançou a cabeça.
— Eles nem sabem que estou viva, mas antes que eu viesse embora Kelly me
contou que Matt a convidou para sair...
— Ah, mas isso é fantástico!
— Para mim a noite até que não foi um fiasco total. - continuou Tate,
piscando o olho para a garota, — Cade Delancy e Wyatt Hogan também estavam lá e
providenciaram para que eu não tomasse-um chá de padeira. Foi muito divertido, sim.
— Mas Cade e Wyatt são velhos! - horrorizou-se Ellie. — E casados!
E inofensivos, acrescentou Tate, em silêncio, enquanto ria.
— E daí? Que diferença pode fazer uma aliança de casamento? Além disso,
a idade é apenas um estado de espírito. Cade e Wyatt podem ser um pouco mais velhos
do que eu, mas ainda têm simpatia de sobra. Sempre me fazem rir.
— Tem razão. Eu também gosto daqueles dois, mas... - Ellie hesitou por
alguns instantes, procurando as palavras, mas finalmente desistiu da diplomacia. — Se
espera encontrar um homem que lhe sirva, você não pode ficar o tempo todo por aí de
braço com seus amigos casados. Tem que circular, espalhar a notícia de que está
disponível para que todos os solteiros fiquem sabendo.
Tocada pela genuína preocupação que viu nos olhos da garota, Tate não se
ofendeu. Ellie a fazia lembrar-se de si própria aos dezessete anos... jovem, ingênua e
irremediavelmente romântica, tão ansiosa por amor que aquilo chegava a doer. Naquela
época, a ingenuidade não a deixara perceber o quanto era vulnerável. Ansiosa por viver
a vida havia se transformado em presa fácil para o primeiro homem que apareceu com
um sorriso tentador no rosto simpático.
Numa bandeja de prata Tate entregara o coração para aquele homem... além do
próprio orgulho. Mas não voltaria a cometer o mesmo erro. Jamais se arrependeria de
ter tido a filha, mas agora as duas pagavam pela tolice que ela fizera ao confiar em
Rich Travis. Haily crescia sem a presença do pai. Quanto a ela, Tate, era mãe sem
nunca ter sido esposa. Não conhecia a alegria de dormir todas as noites ao lado do
homem amado, alguém de quem pudesse esperar apoio nas horas difíceis e com quem
pudesse dividir as responsabilidades de educar uma criança. E dificilmente aquilo
sofreria alguma mudança. Tate não permitiria a aproximação de nenhum homem que
pudesse machucá-las.
— Não estou em busca de um marido. - ela disse a Ellie, calmamente. —
Descobri há muito tempo que não preciso da companhia de um homem para ser feliz.
Ellie olhou para ela com um misto de espanto e desânimo.
— Mas você é tão bonita, Tate! Aqueles rapazes fariam qualquer coisa para...
Não me diga que ainda não reparou na forma cpmo eles a olham. Você poderia escolher
o que quisesse, qualquer um deles. Mesmo Mitchell Dunn ou Pete Saunders!
Tate sorriu. Pelo jeito como garota falava, Dunn e Saunders estavam no mesmo
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nível de Mel Gibson e Torn Cruise. Se qualquer um dos dois sorrise para Ellie, ela
pensaria que havia morrido; e chegado no céu. Não percebia que o céu imaginado por
Tate era uma coisa bem diferente.
— Obrigada, mas não estou interessada. - descartou Tate, com um sorriso,
enquanto pegava na bolsa o dinheiro com que pagaria a Ellie pelo serviço de babá. —
Simplesmente não estou interessada. — depois de entregar uma nota de dez dólares,
ela saiu para certificar-se de que a mocinha chegaria em segurança ao trailer dos
Saxon, estacionado no outro lado do acampamento. — Obrigada por ter tomado conta
de Haily, querida. Estou realmente muito grata.
A garota murmurou um boa noite e começou a atravessar o acampamento. Tate
não precisava ser capaz de ler pensamentos para saber o que estava naquela cabecinha
ingênua.
No esplendor dos dezessete anos e apaixonada pelo amor, Ellie não poderia
entender por que ninguém jamais deveria querer se apaixonar. Que Deus protegesse
aquela doce adolescente, poupando-a da desgraça de descobrir isso por si própria.
Ele havia sido sorteado para montar Hornet, uma das potrancas mais
traiçoeiras e ariscas de todo o circuito. Maldizendo a sorte, Flynn saiu caminhando por
entre as pessoas que se aglomeravam por trás das arquibancadas da arena ao ar livre
de Garden City, no Estado de Kansas. O dia estava quente e de todos os lados ouviam-
se as reclamações dos peões contra o sol forte, mas ele não prestava atenção no que
aqueles homens diziam. Talvez devesse desistir, naquele momento mesmo, daquela
ideia de ser peão profissional de rodeio... Pelo menos, estaria se. poupando de um belo
fiasco. Naquele ano tinham sido muito poucos os cavaleiros que haviam conseguido se
aguentar em cima de Hornet até que soasse a campainha. Seria um milagre ele
acrescentar o próprio nome àquela reduzida lista. Droga!
Perdido nos próprios pensamentos, Flynn não viu a mulher que vinha em sentido
contrário e em quem acabou esbarrando. Tomado de surpresa, ele soltou um palavrão e
estendeu as mãos para segurá-la apenas segundos antes que ela desabasse com o
traseiro no chão. Foi só quando a mulher ergueu a cabeça, com os olhos azuis cheios de
espanto, que ele se deu conta de que estava segurando nos braços de Tate Baxter.
Já havia se passado uma semana desde que ela lhe dera o fora. Naquele
período, Flynn havia jurado a si próprio que a tiraria da cabeça. Não era homem para
ficar se lamentando por causa de uma rejeição e, além disso, não faltava mulher no
circuito dos rodeios. Em cada local elegia-se uma rainha do rodeio, sem falar nas
garotas que estavam sempre dirigindo olhares e sorrisos insinuantes para os peões.
Assim sendo, não havia por que se fixar em uma determinada mulher.
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O problema era que, desde aquele dia, ele não havia se interessado por
nenhuma outra... fosse para dançar, para namorar ou para qualquer outra coisa. E
agora percebia o motivo disso. Nenhuma mulher poderia ser tão fascinante quanto
Tate Baxter.
Esquecendo momentaneamente o confronto que teria com Hornet, Flynn
abriu um sorriso.
— Ora, se não é a moça que não dança...
Ainda com os braços apertados pelas mãos fortes do peão e o corpo muito
perto do dele, Tate sentiu o coração em disparada. Se aquele era o tipo de dança de
que Flynn Rawlings gostava, ela havia acertado em não aceitar o convite dele.
Esforçando-se para demonstrar serenidade, ela recuou um passo,
obrigando-o a soltá-la.
— Ao que parece não está acostumado a ser rejeitado, sr. Rawlings. -
observou Tate, com frieza.
Imperturbável, Flynn não desfez o sorriso.
— A questão não é a rejeição. Tenho o couro curtido e sei assimilar os golpes.
Mas realmente acho problemático ouvir mentiras. E você mentiu para mim, doçura.
Mentiu descaradamente. Não quer me explicar por que fez isso?
Sentindo calor nas faces, Tate procurou uma saída digna.
— Eu não...
Ela mal havia começado a falar quando Flynn chegou bem perto, olhando-a nos
olhos com o nariz praticamente encostado no dela.
— Olhe nos meus olhos quando estiver mentindo, doçura. Talvez dê melhor
resultado.
— Eu... eu... - olhando para ele, Tate abriu os braços, exasperada. — Está bem,
sr. Rawlings. Reconheço que menti e peço desculpas. Era isso o que queria ouvir?
Flynn abriu mais o sorriso, mas ainda não estava satisfeito.
— Na verdade, queria saber como você descobriu o meu nome. Saiu por aí
fazendo perguntas a meu respeito?
Tate sentiu um calor ainda mais forte nas faces. Será que aquele homem não ia
parar com aquilo? A égua já estava pronta, esperando por ele, a apresentação
começaria dentro de poucos instantes. Se Flynn Rawlings não estivesse no lombo da
potranca quando o portão fosse aberto, seria penalizado.
No entanto ele parecia perfeitamente relaxado, como se tivesse à disposição
todo o tempo do mundo.
Pensando bem, Tate não encontrou motivos para ficar tão surpresa. De fato,
tinha feito perguntas sobre aquele homem. Não que tivesse algum interesse nele, mas
sim por não tê-lo reconhecido. E não havia gostado do que descobrira.
Flynn Rawlings era o filho mais novo de uma rica família do Novo México e
obviamente havia se integrado ao circuito de rodeios apenas para se divertir. Tate não
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questionava o fato de ele ser rico, mas sim as atitudes irresponsáveis. Todos no
circuito dos rodeios se esforçavam para vencer com o objetivo principal de ganhar
algum dinheiro para pôr comida na mesa e encher o tanque do veículo, podendo assim
chegar à cidade onde se realizaria a próxima competição. Para Flynn, pelo menos nesse
aspecto, ganhar ou perder não fazia a menor diferença.
Tate olhou para a baia onde vários homens ajudavam o peão que se
apresentaria antes de Flynn.
— Já não devia estar se preparando para quando chegasse a sua vez, peão?
Flynn seguiu o olhar dela e voltou-se para as baias, onde se desenvolvia uma
intensa atividade. A contragosto, afastou-se um passo, depois outro.
— Você está me devendo uma dança. - ele disse, falando depressa. — Quando
poderei cobrar a dívida? Que tal esta noite?
Se ficasse por mais algum tempo ele acabaria se atrasando. Aproveitando-se
disso, Tate mostrou o mais doce dos sorrisos.
— Que tal em alguma noite do verão de 2010? Eu certamente estarei livre. E
você?
— Ora, mas o que e isso? - rebateu Flynn, rindo. — Também não precisa ser
assim comigo. Eu sou um bom sujeito. Pode perguntar a qualquer um. Vão lhe dizer que
sou tão inofensivo quanto uma pulga.
Sem se impressionar muito, Tate ergueu as sobrancelhas.
— Isso não depõe muito em seu favor, porque as pulgas transmitem a peste
bubônica.
Flynn soltou uma risada. Por que não havia esbarrado naquela mulher quinze
minutos antes? Pelo menos teria tempo para conversar um pouco. Olhando para trás,
viu quando Dutch Larkon saiu em disparada da baia no lombo de Buttercup e ouviu os
gritos nervosos dos companheiros chamando por ele.
Resmungando uma praga ele correu para a baia. No meio do caminho, voltou-se
rapidamente e olhou outra vez para Tate.
— Ainda não terminamos a nossa discussão, moça. Espere por mim.
Depois que saltou por cima da cerca metálica da baia Flynn não pôde pensar em
mais nada além do que teria que fazer em seguida. Rapidamente se colocou por cima do
animal, segurando firmemente na correia. Hornet até que estava calma, mas ele não se
iludiu com aquilo. Já vira aquela égua em outros rodeios e sabia que, tão logo o portão
se abrisse, ela sairia em disparada pela arena como um marimbondo enlouquecido.
Os auxiliares do rodeio, todos muito jovens, estavam vibrantes como sempre.
Sem dúvida sonhavam com o dia em que também seriam peões.
— Pensamos que você ia perder a sua vez, Flynn. Está pronto?
— A arena está limpa, vaqueiro. Logo que estiver pronto, abriremos o portão.
— Acredite, Flynn. Você conseguirá.
Flynn mal prestava atenção naqueles comentários. Enfiando mais o chapéu na
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
tensa sempre que o via, qualquer um diria que ele realmente podia transmitir a peste
bubônica. Flynn não estava gostando nada daquilo. Ele já sabia que, no passado, Tate
Baxter fora vilmente traída por um calhorda. Era perfeitamente compreensível uma
mulher assim se mostrar reticente em se envolver com outro homem. Flynn entendia
isso. Entendia, sim. No entanto, ele não tinha feito nenhum mal a ela e não via motivo
para toda aquela reserva. Afinal de contas, não estava interessado em nenhum
relacionamento duradouro. Longe disso! Tudo o que queria era um namorico sem
maiores consequências. Se tivesse ficado por ali para terminar a conversa, ela própria
chegaria a essa conclusão.
Flynn continuou andando por trás das baias, procurando um lugar na
arquibancada para acompanhar o resto da competição. Ele próprio não podia mais
aspirar ao grande prêmio, já que não conseguira ficar no lombo da égua até que soasse
a campainha. No entanto, se tivesse melhor sorte na competição do dia seguinte,
poderia pôr a mão no prêmio do dia, que aliás estava acumulado. Além disso, seria
sempre útil o que pudesse aprender nas competições.
Ele não chegou a entrar na arquibancada. No meio do caminho encontrou Tate,
de pé na entrada de um dos camarotes bebendo uma Coca-Cola. Flynn marchou
diretamente para onde ela estava.
— Parece que é mesmo difícil seguir a sua pista. - ele disse, com naturalidade.
— Se eu não fosse esperto, diria que está querendo me evitar.
Espantada, Tate girou nos calcanhares para vê-lo bem ali perto, com aquele
sorriso de quem sabia exatamente o que ela pretendia mas não a deixaria escapar
outra vez. Apesar do esforço que fez para parecer fria, não conseguiu esconder um
sorriso. Logo depois, porém, examinou-o da cabeça aos pés.
— Mas você se acha mesmo esperto?
— Claro. - respondeu Flynn, com um brilho intenso nos olhos azuis. — Todos
gostam de mim e você sabe que eu não tocaria num fio de cabelo seu. Assim sendo, irei
apanhá-la às sete da noite, está bem? Comeremos alguma coisa e depois iremos a
algum lugar onde você possa me proporcionar a dança que está me devendo.
Olhando naqueles olhos travessos, Tate sentiu-se tentada a concordar sem
nenhum protesto. Será que estava perdendo o juízo? Flynn Rawlings falava numa
divertida e inocente noitada, mas seria bobagem pensar que ele era algum inocente.
Uma mulher precisaria ser muito tola para se encantar com aquele jeito de garoto
despreocupado. Ela, pelo menos, não era tão tola assim.
— Acho que não. - respondeu Tate, um pouco tensa. — Eu não marco encontros.
Nunca.
Sem demonstrar nenhum abatimento com a recusa, Flynn continuou a estudá-la,
com um ar divertido no rosto.
— Você não dança e não marca encontros. Melhor dizendo, não fazia nada disso
até o presente momento, doçura, porque vamos dar um jeito nessa sua vida social. Irei
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apanhá-la às sete.
— Não!
— Às sete, então. - ele repetiu, com a maior naturalidade. — Agora vá se
aprontar para a sua competição. A noite comemoraremos a sua vitória.
— Pode ir para o inferno, Flynn Rawlings, porque não vou sair com você! -
protestou Tate.
Mas já era tarde demais. Com um sorriso atrevido, Flynn correu o dedo pela
face dela e voltou-se para se afastar.
Capítulo II
Tate resolveu dar uma boa lição naquele pretensioso e, trinta minutos antes da
hora marcada por Flynn Rawlings, saiu para passear com a filha. Tinha deixado claro
que não estava disposta a sair com nenhum homem, mas ele não dera a mínima atenção.
Que sujeitinho irritante! Ele que fosse mostrar a outra mulher as covinhas do rosto
para ouvir o que queria ouvir, mas logo descobriria que com ela esse tipo de truque não
funcionava, simplesmente porque não estava interessada. Não podia estar. E, se fosse
preciso Flynn Rawlings levar um bolo para chegar a essa conclusão, seria justamente
essa a atitude que ela iria tomar.
Mesmo assim Tate ficou com um certo sentimento de culpa ao ir com Haily
para longe do acampamento pouco antes da hora em que ele iria aparecer, às sete e
meia. As duas jantaram com Kelly Saxon e outras competidoras da corrida dos cilin-
dros, depois jogaram buraco até as dez da noite. Quando na companhia de Kelly para o
acampamento, tudo estava calmo e não havia sinal de Flynn
Aliviada, Tate levou a sonolenta Haily pelos fundos do acampamento e parou
quando viu o buque de flores silvestres que havia sido deixado sobre o caixote de
madeira emborcado que ela usava como degrau. Haily também parou, arregalando os
olhos verdes.
— Olhe, mamãe... flores! Para quem são?
Tate ficou olhando para o buque como se aquilo fosse uma cascavel pronta para
dar o bote. Não havia um bilhete, mas também não era preciso. Apenas um homem
teria a coragem de deixar flores à porta dela, caçoando dos esforços que ela fazia
para ignorá-lo: Flynn Rawlings.
Tentando controlar a curiosidade da filha de oito anos, Tate rapidamente
apanhou o indesejado presente e abriu a porta da parte habitável da pick-up.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
— Na certa alguém as deixou aqui por engano. - ela disse, no tom mais natural
possível. — Provavelmente eram para Cindy Johnson, que tem uma pick-up muito
parecida com a nossa. Cindy vive recebendo flores, bombons e coisas assim de
presente. Também, bonita como ela é...
— Mas talvez você tenha um admirador secreto. - contrapôs Haily,
esperançosa, embora parecesse intrigada com aquela ideia. — Puxa, mamãe! Isso não
seria divertido? Quem você acha que pode ser?
Tate soltou um riso forçado.
— Não é ninguém, querida. Agora chega de falar em admiradores secretos,
porque é hora de ir para a cama. Já é bem tarde.
Haily protestou, como era de se esperar, mas não insistiu no assunto. Um bom
tempo depois que a menina havia adormecido, porém, quando Tate se acomodou na
própria cama ainda sentia a doce fragrância das flores silvestres que, com certa
relutância, havia colocado na água em um vaso na pequena cozinha. Ao mesmo tempo, e
também contra a vontade, viu-se pensando em Flynn Rawlings. Ah, aquele homem! O
que ela iria fazer com ele?
Como um espinho cravado na pele, a lembrança daquele sorriso de menino
ficou na mente de Tate durante toda aquela noite e na manhã do dia seguinte. Quando
Haily lembrou-a de que por volta do meio-dia haveria na arena atividades para
crianças, ela achou que seria até bom praticar um pouco nos obstáculos antes da
competição daquela tarde. Talvez isso ajudasse a tirar da cabeça aquele homem
irritante.
Mas não adiantou nada, porque estava sempre se lembrando de quando havia
se encontrado com ele atrás das baias. E o pior era que, se não conseguisse se
concentrar no que fazia, dificilmente conseguiria pôr a mão no dinheiro dos prêmios
durante a competição.
Aborrecida consigo mesma, Tate deixou Haily na arena com as outras crianças
e voltou ao acampamento, determinada a manter a mente e as mãos ocupadas numa
limpeza geral na pick-up. Mas Flynn havia se adiantado naquilo. Armado com um balde
de água com sabão, ele se ocupava em limpar o veículo que ela usava também como
residência.
Espantada, Tate apertou os olhos.
— O que pensa que está fazendo?
Sem demonstrar a menor surpresa ao vê-la, ele se voltou para olhá-la e sorriu.
— Estou lavando a sua carruagem. Estava com algum tempo livre pela manhã e
achei que podia fazer isso para você. Haily está no rodeio infantil?
Tate balançou afirmativamente a cabeça, decidida a não permitir que ele outra
vez a deixasse enfurecida. Então colocou as duas mãos na cintura.
— Não posso deixar que você faça isso, Flynn.
— Fazer o quê? Limpar a pick-up. É claro que pode, porque já estou fazendo.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
resolveu partir mais cedo para Wichita Falis, no Texas, onde aconteceria outro rodeio
no qual estava inscrito, um evento que duraria quatro dias.
No dia seguinte, ele mal havia acabado de armar a barraca no acampamento
perto da arena do rodeio, em Wichita Falis, quando viu a pick-up verde de Tate Baxter
parar diante do escritório da administração.
Um leve sorriso apareceu nos lábios de Flynn. O destino era mesmo uma coisa
engraçada. Justamente quando ele havia resolvido se manter distante da moça
durante algum tempo, eis que ela aparecia como se estivesse batendo à porta dele.
Obviamente Tate estava inscrita no mesmo rodeio, embora ele só ficasse sabendo
disso agora. Mas não teria mudado os planos, é claro, mesmo que tivesse tido antes
essa informação. Então ele deixou escapar uma risadinha. Era melhor não contrariar o
destino.
Flynn presenciou o exato momento em que Tate se deu conta de que, outra vez,
os caminhos deles haviam se cruzado. Saindo do escritório com um recibo na mão, ela
parou no instante em que viu o furgão dele, o que a fez franzir a testa. No instante
seguinte, moveu os olhos para vê-lo calmamente sentado numa cadeira de campanha,
desbastando um pedaço de madeira. Com um ar travesso, Flynn acenou para ela,
sorrindo. Se olhar frio matasse ele teria caído ali mesmo, mortinho da silva.
Flynn não conseguiu se controlar e riu com vontade. Ah, ele adorava uma mulher
de personalidade!
Tate, porém, não achou graça nenhuma. Ficou evidentemente indecisa, talvez
pensando em ir pegar o dinheiro de volta para sair à procura de um outro
acampamento. O mais próximo deles, porém, ficava a quase vinte quilômetros da arena.
Flynn sabia disso porque, chegando bem antes dela, havia levado um bom tempo
procurando o melhor lugar para se instalar.
Tate também já devia saber disso, porque depois de alguma hesitação pareceu
decidida a suportar a proximidade dele, já que não seria conveniente ir para outro
lugar. Virando as costas, ela enfiou o recibo no bolso e sentou-se ao volante da pick-
up.
Como ali cada um podia escolher o lugar onde ficar, Flynn não se surpreendeu
quando viu o veículo de Tate pôr-se em movimento, indo parar na outra extremidade
do acampamento, bem longe de onde ele estava. Era um recado bem claro. Caso ele
houvesse se esquecido, Tate Baxter estava repetindo que não queria aproximação.
Flynn voltou os olhos para a peça de madeira em que vinha trabalhando, um
hobby de infância que havia retomado ao se integrar ao circuito de rodeios. Tendo que
ficar em cidades em que não conhecia ninguém e não tinha nada para fazer, aquela
atividade não só servia para matar o tempo como também revelou um talento de que
ele não se imaginara possuidor. Sem saber bem como, Flynn viu-se entalhando em
madeira cenas em que apareciam intrépidos peões cavalgando potros ariscos ou mesmo
os anônimos caipiras que enfrentavam touros de mais de uma tonelada para salvar a
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
vida do homem que houvesse sido atirado no chão pelo bicho enraivecido.
A princípio, é claro, as peças tinham um acabamento grosseiro, mas ele
persistiu e sentia verdadeiro prazer em trabalhar a madeira com o formão ou com a
faca, para finalmente lixar cuidadosamente as figuras da cena entalhada. Depois de
algum tempo, foi como se aquelas imagens tivessem vida. Flynn conseguia capturar a
graça e a beleza plástica das cenas de rodeio, surpreendendo-se a si próprio. Agora as
peças que ele produzia tinha uma boa procura por parte dos outros peões, bem como
dos aficionados daquele esporte, o que também proporcionava uma renda que ele não
havia esperado obter nos rodeios.
Refletindo sobre as ironias do destino, Flynn continuou no cuidadoso trabalho
de entalhar a figura de um touro que não queria se deixar montar. Cada linha, cada
curva dos chifres retorcidos ou do corpo forte falava da fúria do animal.
Concentrado no que fazia, Flynn só percebeu que tinha visita quando uma
sombra encobriu a madeira que ele trabalhava. Surpreso, quase deixou cair o formão
quando ergueu a cabeça para ver os olhos verdes e o rosto curioso de Haily Baxter.
— Olá. - saudou-o a menina, com o sorriso aberto de uma criança no primeiro
contato com um desconhecido. — O que está fazendo?
— Estou entalhando. - ele respondeu, abaixando-se outra vez para apanhar o
trabalho. — Dê uma olhada.
Com uma reverência que o surpreendeu, a garotinha pegou o retângulo de
madeira e começou a passar os dedos pela parte entalhada, como se quisesse guardar
na memória cada uma daquelas curvas. Flynn ficou fascinado enquanto a observava.
Naturalmente ele já vira aquela menina entre as outras crianças que
acompanhavam os pais durante as férias de verão. No entanto, saberia que aquela era
a filha de Tate mesmo que a estivesse vendo pela primeira vez. Uma versão em menor
escala da mãe, Haily Baxter tinha ondulados cabelos loiros, que certamente
escureceriam um pouco com o passar do tempo, e um sorriso que mais parecia Tate
refletida no espelho. E os olhos... Deus do céu! Dentro de mais uns dez anos, aqueles
olhos grandes e expressivos seriam a perdição de muitos homens. Não que ele
estivesse correndo o mesmo perigo por causa da mãe da menina, naturalmente...
Antes que a mente começasse a divagar, Flynn resolveu puxar conversa com a
garotinha que estava diante dele.
— Bem, o que achou?
— Está muito parecido com Bullwinkle. - declarou Haily, sem querer fazendo um
enorme elogio, já que anunciava justamente o nome do touro em que ele havia se
inspirado. — Já ouviu falar nele?
— Ah, sim. - respondeu Flynn, sorrindo. — Bullwinkle é o touro mais filho da...
mais indomável de todo o circuito. Ninguém jamais conseguiu montá-lo.
Ele esperava que a menina se pusesse a falar sobre tudo o que sabia sobre
o touro em questão, mas surpreendentemente ela abriu mais os olhos azuis, cheia de
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
curiosidade.
— Você monta touros?
— Não. Por que? Tem alguma coisa contra quem monta touros?
— Mamãe acha que é uma coisa muito perigosa de se fazer.
Flynn riu, ao mesmo tempo que se sentia enternecido, já que percebia uma
sincera preocupação nos olhos da menina.
— Já fiz muitas loucuras na vida, doçura, mas não sou louco o suficiente
para subir no lombo de um touro. Um homem de juízo não deve montar uns certos
animais. Eu só monto potros. - então, num gesto solene, ele estendeu a mão para a
menina. — Meu nome é Flynn Rawlings. E você deve ser Haily Baxter. Já tive a
oportunidade de vê-la por aí com a sua mãe.
Satisfeitíssima por estar sendo tratada como uma adulta, Haily apertou a
mão dele com toda formalidade.
— Eu não devo falar com desconhecidos. - ela se culpou, para logo piscar o
olho, com um ar de cumplicidade. — Só que, como já sei o seu nome, você não é mais um
desconhecido. - contente com aquela dedução, ela rapidamente retornou a atenção
para o touro entalhado na madeira. — Como foi que você aprendeu a fazer isso? Será
que pode me ensinar?
Flynn hesitou, dirigindo os olhos para a pick-up de Tate, estacionada
embaixo das árvores no outro lado do acampamento.
— Não sei se seria prudente, doçura. O formão... as ferramentas que eu uso
são muito afiadas e talvez sua mãe não aprove.
— Ah... mas eu prometo que vou tomar cuidado. - insistiu Haily, em tom de
súplica. — Por favor. Você ficará bem do meu lado para que eu não faça nada de
errado. Por favor, por favor, por favor...
Era muito difícil resistir àquela diabinha, que devia ter consciência disso.
Rindo e balançando a cabeça, Flynn levantou-se para pegar no furgão um pedaço de
tábua bem menor do que o que estava entalhando.
— Está bem... - ele disse, quando retornou. — Mas tem que me prometer que
fará isso devagar e com muito cuidado. Sua mãe cortará a minha cabeça se você
acabar se machucando.
A menina riu de alegria.
Sem a menor dificuldade Flynn tornou-se amigo da filha de Tate. Não havia
planejado nada e jamais pensaria naquela possibilidade. Embora gostasse muito de
crianças, não costumava ter muito contato com elas, a não ser com Mandy, a filhinha
de Gable, o irmão dele. Só que Mandy era apenas um bebê, estando agora com nove
meses. Travar conhecimento com uma esperta garota de oito anos era uma verdadeira
delícia, mais ainda sendo ela uma cópia fiel da mãe.
E como falava aquela menina!
Engraçada, inteligente e sempre alegre, Haily apareceu para visitá-lo nos dois
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
dias seguinte, logo depois do café da manhã, ansiosa por novas lições de entalhe em
madeira e falando sem parar. Mesmo sem que Flynn fizesse perguntas, contou que
morava com o avô durante o período escolar, percorrendo o circuito de rodeios nas
férias de verão. Disse também que esperava ansiosamente pelo dia em que a mãe dela
se transformaria em médica. Seria muito bom!
Flynn devia ter parado com aquilo. Sabia que Tate não ficaria satisfeita quando
soubesse das confidências que Haily fazia a ele. Não que a menina estivesse sendo
encorajada... Pelo menos nesse aspecto ele estava com a consciência tranquila. Por
outro lado, Flynn não fazia nada para desencorajá-la, especialmente quando a menina
revelou, com a maior naturalidade, quais seriam os cinco próximos rodeios a que elas
estariam presentes. Para que a filha praticasse geografia, Tate havia mostrado no
mapa qual seria o roteiro. Haily pediu emprestado o atlas do novo amigo e, orgulhosa
consigo mesma, mostrou a ele que havia aprendido direitinho.
— Você vai, então?
Perdido naqueles pensamentos, Flynn não prestava muita atenção no que a
menina dizia.
— Se eu vou aonde?
— Jantar conosco. - respondeu Haily, imitando uma adulta paciente. —
Mamãe já disse que pode ir. Não vai ter nada especial... apenas cachorro-quente com
molho de pimentão. Você vai?
Pela primeira vez desde que eles haviam se conhecido Haily não olhava
diretamente nos olhos dele. Mantendo a cabeça abaixada e fingindo-se ocupada em
tirar finas lacas de madeira presas no short, ela resolveu explicar-se melhor.
— Bem... não foi exatamente assim. Eu não disse o nome do meu amigo,
porque... Sabe como é: mamão não parece gostar muito de peões de rodeio. Mas ela
vive me dizendo que eu posso convidar meus amigos para lanchar conosco e hoje
parece um dia bom para isso. Está bem?
Flynn quase soltou uma gargalhada. Está bem? Não se ele tivesse amor à
vida! Não havia nada demais em divertir-se um pouco perseguindo Tate Baxter, mesmo
que aquilo a deixasse enfurecida. Mas aproveitar-se do inocente convite para jantar
da filha dela... Seria uma situação até engraçada, mas nem todas as pessoas tinham o
mesmo senso de humor. Tate na certa o colocaria para fora no mesmo instante, o que
acabaria se transformando num problema para ela, já que Haily dificilmente saberia
entender.
— Acho que não é uma boalidéia, doçura. Quando sua mãe disse que podia
convidar seus amigos para jantar, referia-se a garotos da sua idade, não a peões
velhos como eu.
— Mas você não é tão velho assim!
Rindo, Flynn afagou os cabelos da menina.
— Ora, muito obrigado. É bom saber que ainda não preciso passar o dia
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
sentado numa cadeira de balanço, Mas continuo sendo um peão de rodeio. Você mesma
disse que sua mãe não gosta muito de peões de rodeio, lembra-se?
— Mas ela não o conhece. - argumentou Haily com uma lógica arrasadora. —
Como é que mamãe pode saber se gosta ou não gosta de você? E é até bom, porque ela
vai poder descobrir isso se você for jantar conosco.
Flynn ficou olhando para o rostinho de anjo da menina, percebendo que não
conseguiria resistir à tentação. Afinal de contas, que mal poderia haver em aceitar o
convite dela?
— Está bem, eu irei. - ele concordou, depois de alguma relutância. — Mas
não me culpe se tivermos que sofrer os dois as consequências disso.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
querendo entrar à força na vida dela, não podia esperar ser recebido de braços
abertos.
— Mas como foi que você e Haily se conheceram? - ela perguntou, num tom leve,
enquanto se sentava à mesa de frente para ele.
Tate esperava deixá-lo enrascado com aquela pergunta, mas enganou-se
redondamente. Flynn abriu um enorme sorriso e pôs-se a contar como havia sido
abordado por Haily no acampamento. A menina participou alegremente do relatório,
acrescentando detalhes de que ele havia se esquecido. Não demorou para que o homem
e a criança conversassem e rissem como se fossem velhos amigos.
Tate procurou persistir na raiva contra Flynn, mas o desgraçado era
charmoso demais e ela não conseguia parar de olhá-lo. Ele parecia relaxado demais,
como se estivesse na própria casa. Tinha as pernas espichadas por baixo da mesa e
brincava com Haily como se ela fosse a sobrinha preferida. E Haily estava adorando
aquilo. Fazia brincadeiras com ele e falava pelos cotovelos, evidentemente se
divertindo muito.
Enquanto observava aqueles dois Tate sentiu que o aborrecimento ia se
desfazendo, de uma forma que seria impossível impedir. Como podia tratar mal o
homem que fazia a filha dela rir com tanta facilidade?
Se não se vigiasse, poderia mesmo gostar de Flynn Rawlings. Mais até do que
gostar dele.
Tate levou um susto ao se dar conta do pensamento que estava tendo. A
razão mandava que ela se lembrasse de Rich Travis, mas naquele momento era
praticamente impossível pensar em outra coisa que não fosse Flynn Rawlings, afastar
os olhos da camisa que cobria aquele peito musculoso...
O pior era quando, por baixo da mesa, a perna dele roçava na dela,
aparentemente por acaso. Flynn parecia interessado demais na conversa que estava
tendo com Haily para pensar em... para ficar tão excitado quanto ela estava.
Tate levou outro susto, percebendo que o coração não havia diminuído o
ritmo das batidas desde o aparecimento daquele homem. Talvez ela devesse tomar
mais cuidado consigo do que com Flynn Rawlings.
Naquela tarde se saíra muito mal na competição e não podia culpar ninguém
mais além de si própria pelo desempenho sofrível. Na verdade tinha sido impossível
concentrar a mente no que estava fazendo. Uma hora antes do início do rodeio ela
havia ligado para o pai e alguma coisa na voz do velho a advertira de que ele não estava
bem. Allen Baxter garantiu que estava bem, naturalmente, mas Tate sabia que o pai
não era homem de se queixar de nada. Mesmo assim ela achava que havia algum
problema e ficou preocupada.
Agora, o que menos precisava era ter a companhia de Flynn Rawlings, com
aquele jeitão relaxado de quem já fizesse parte da vida delas duas. Mas seria
impossível colocá-lo para fora sem ter uma boa explicação para apresentar a Haily.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Para complicar, Flynn não parecia com a menor pressa de ir embora. Frustrada, Tate
respirou fundo e procurou ser paciente, o que não era fácil.
Terminada a refeição, quarenta minutos inteirinhos se passaram antes que
o convidado de Haily dissesse que precisava ir. Depois de comer sem nenhuma pressa,
ele havia entretido a pequena amiga com histórias sobre os irmãos e irmãs passadas na
fazenda da família Rawlinss, no Novo México. Se estivesse em outra época, num outro
lugar e com um outro homem, Tate se permitiria sentir prazer em ouvir aquelas
histórias. No entanto, tinha a desagradável sensação de que Flvnn sabia exatamente o
quanto a irritava o fato de ele estar se demorando.
No instante em que Flynn se pôs de pé, com alguma relutância, Tate
prontamente também se levantou para impedi-lo de mudar de idéia. Ele muito
provavelmente percebeu aquilo, porque pareceu divertir-se.
— Obrigado pelo jantar, Pimentinha. - disse Flynn a Haily, alisando os cabelos da
menina. — Na próxima vez eu a levarei ao McDonald's.
— Verdade, Flynn? Eu vou adorar! Você vai deixar, não é, mamãe?
Tate queria deixar bem claro que não haveria uma próxima vez, mas aquilo não
podia ser dito na presença de Haily.
— Pensaremos nisso quando chegar a hora. - ela disse à filha, num tom evasivo.
— Agora vá levando os pratos para a pia, querida. Irei ajudá-la logo que Flynn for
embora.
Mesmo que tivesse o raciocínio de um elefante aquele homem teria que
entender a indireta. Em vez de apenas se despedir, porém, e tão logo Haily se afastou
para atender ao pedido da mãe, Flynn abriu aquele sorriso peralta que criava covinhas
no rosto.
— Você deve estar furiosa, não está?
— Furiosa? - repetiu Tate, com sarcasmo, embora falando baixo para não
chamar a atenção da filha. — Eu? Por que estaria furiosa? Só porque você vem me
seguindo através do país...
— Você não precisa dar a entender que eu a estou perseguindo ou coisa assim.
- cortou Flynn, subitamente sério. — Não tenho culpa se, por coincidência, nós dois nos
inscrevemos nos mesmos rodeios. Pensando bem, é você quem pode estar me seguindo.
— Só se for nos seus sonhos, peão. - rebateu Tate, quase perdendo a paciência
e sentindo vontade de voar no pescoço daquele impertinente. — Já tentei ser razoável
com você, mas parece que estive falando para uma parede. O que preciso dizer para
me fazer entender? Já disse que não estou interessada, mas parece que você não
ouviu uma só das minhas palavras. Chegou a me mandar flores... E não negue isso aí! -
ela se apressou em dizer quando ele abriu a boca para protestar. — Sei que foi você.
É o único homem que eu conheço que não aceita um não como resposta.
Sem conseguir mais se controlar, Tate deu vazão total à raiva e à frustração
que há vários dias a consumiam.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
— E fazer amizade com a minha filha para poder se aproximar de mim foi um
golpe muito baixo! - ela prosseguiu. — Se passasse treinando para os rodeios metade
do tempo que gasta pensando em formas de chegar perto de mim, você bem que
poderia ganhar algumas competições. Só que não precisa ganhar, não é mesmo? Sua
família tem muito dinheiro e você participa disso apenas por esporte, para se divertir.
Bem, não é esse o meu caso. Será que entendeu agora? Eu não estou interessada!
Flynn não se considerava um estúpido. Menos ainda um masoquista. Quando
alguma coisa não dava certo, sabia perceber o momento de cair fora. Assim sendo, o
bom senso mandava que ele fosse embora naquele instante mesmo e tomasse
providências para nunca mais voltar a se encontrar com Tate Baxter. No entanto,
aquela moça precisava aprender que não era a única pessoa no mundo com permissão
para perder a paciência.
Esquecendo o bom senso, Flynn estendeu as duas mãos, segurou-a pelos
ombros e, antes que pudesse mudar de idéia, encostou os lábios nos dela.
Bastou tocar naqueles lábios carnudos e sensuais para perceber que havia
cometido um grave erro. No mesmo instante o coração de Flynn disparou e ele
percebeu que tinha nas mãos um problema muito sério. Já havia beijado várias outras
mulheres, sempre aproveitando a delícia de cada segundo. No entanto, ter nos braços
o corpo quente de Tate Baxter e sentir na língua o gosto daqueles lábios de mel
provocavam nele uma sensação que não se lembrava de ter experimentado.
Descarga elétrica. Não havia outra forma de descrever aquela sensação. Ao
abraçar e beijar aquela mulher ele se sentia como se estivesse sendo atingido por um
raio num dia de sol e sem nenhuma nuvem no céu. Era algo que vinha de lugar nenhum
para acertá-lo em cheio.
Embora soubesse que devia sair correndo naquele instante mesmo, Flynn
abraçou-a com mais força ainda, até sentir que eles estavam com os corpos colados, do
peito aos joelhos.
Tate ficou absolutamente parada, tentando convencer-se de que não era mulher
que encorajasse a paixão de um homem. Já haviam se passado quase nove anos desde
que ela fora beijada pela última vez, e não se queixaria se aquele tempo se contasse
em décadas. Ela não precisava daquilo... não desejava aquele homem. Tudo o que
precisava fazer era demonstrar a mais absoluta frieza, deixando de corresponder ao
beijo. Flynn acabaria entendendo o recado e a deixaria em paz. Era simples assim.
Ou seria simples, desde que ela não tivesse percebido que o coração dele batia
com a mesma intensidade do dela. Depois, quando a língua de Flynn penetrou entre os
lábios dela, roubando-lhe o fôlego, Tate pôde realmente sentir o gosto do desejo de
que ele devia estar possuído. Sentiu vontade de gritar, protestando por ele estar
usando táticas desleais. Que mulher seria capaz de resistir a um homem que a
deixasse ver a extensão exata do que ela produzia nele? Para complicar, ela não se
achava com forças para empurrá-lo, não encontrava palavras para dizer o que não
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
queria nada daquilo. Em vez disso, sentindo os joelhos fracos, passou os braços por
cima dos ombros dele e se esqueceu por completo da determinação de segundos antes.
Sem perceber o que fazia, estava fortemente abraçada a Flynn, incapaz de se lembrar
dos motivos que podia ter para não desejar aquele homem.
Quando ele finalmente a deixou respirar, Tate teve certeza de que o efeito que
aquilo produzira em Flynn não era diferente do que ela estava sentindo. Num piscar de
olhos, porém, o sorriso matreiro estava de volta ao rosto dele.
— Não quer mesmo nada comigo, doçura? - ele a desafiou, -passando os costas
dos dedos pela face dela. — Vamos. Olhe nos meus olhos e diga que não está
interessada. Estou esperando.
Se Tate achasse que podia haver perdão para o crime de assassinato, Flynn
Rawlings seria um homem morto. Como pensava de outra forma, fez a única coisa que
teria feito qualquer outra mulher com um mínimo de amor-próprio: olhou bem nos olhos
dele, trincou os dentes e mentiu.
— Não estou interessada. - ela declarou, com os olhos azuis fuzilando. — Pronto,
já disse... outra vez! Quer uma declaração por escrito ou aceita apenas a minha
palavra?
Por alguns instantes Flynn ficou olhando para ela, sem saber se devia
sacudi-la com força, até que os dentes dela caíssem no chão, ou abraçá-la com força,
rindo até mais não poder. Logo percebeu que não devia fazer nenhuma daquelas duas
coisas. Se voltasse a tocá-la, não estaria disposto a soltá-la nem tão cedo.
Girando nos calcanhares, ele resmungou um palavrão e se afastou enquanto
ainda era tempo.
Capítulo III
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apresentar.
Depois de montar e levar Doce Mel para a entrada da arena, Tate já se
preparava para o momento em que seria chamada quando, erguendo a cabeça, viu Flynn
a uns dez metros de distância. Surpresa, respirou fundo para controlar o ritmo do
coração, que começou a bater como os cascos de um cavalo a todo galope.
A volta dela desenvolvia-se o rebuliço que sempre se verificava nos bastidores
de um rodeio, mas era como se existisse apenas aquele homem. Nos últimos dois dias
ela o havia evitado de todas as formas, chegando a se afastar da arena quando se
realizavam as competições em que os peões montavam potros no pêlo, apenas para não
precisar vê-lo, não ter que se lembrar...
Agora sabia por que reagia daquela forma ao vê-lo. Flynn Rawlings estava
com toda razão. Mesmo fazendo tudo para negar esse fato, ela não era tão
indiferente à aquele homem quanto queria, quanto precisava ser.
E o pior era que Flynn sabia disso. Mesmo a distância, Tate podia ler a
mensagem que aqueles olhos azuis mandavam: seria apenas uma questão de tempo ele
voltar a beijá-la.
Com enorme esforço Tate voltou-se novamente para a arena. O alto-falante
acabava de anunciar o tempo obtido pela competidora que se seguira a Becky
Donaldson e agora era a vez dela.
— Senhoras e senhores... Tate Baxter!
Segundos mais tarde Doce Mel estava na arena a todo galope. Tate seria
capaz de jurar que contornaria aqueles três cilindros sem roçar em nenhum deles e
alcançaria a linha de chegada, em um tempo recorde. Afinal de contas, estava há três
anos no circuito dos rodeios e poderia fazer aquilo com os olhos fechados e as mãos às
costas. Mas não naquele dia.
O primeiro e o segundo cilindros foram contornados num tempo
absurdamente curto e Tate acreditou mesmo que conseguiria. Ela e Doce Mel
deixariam Becky Donaldson chupando o dedo e levariam para casa o gordo prêmio em
dinheiro. Faltava pouco, muito pouco.
Doce Mel galopava em torno do último obstáculo quando resvalou com o lado
do corpo no cilindro, que prontamente começou a tremer. Um lamento se espalhou pela
assistência, chegando aos ouvidos dela. Tudo o que Tate pôde fazer foi esporear a
égua para alcançar a linha de chegada no tempo mais curto possível. Se por algum
milagre o cilindro permanecesse de pé...
Não foi o que aconteceu. Quando cruzou a linha de chegada Tate ouviu outro
murmúrio da multidão, indicando que o cilindro, havia tombado inapelavelmente, como
um soldado atingido num campo de batalha. Os segundos que seriam acrescidos como
penalidade a deixariam de fora da disputa por qualquer prêmio.
Esforçando-se para conter as lágrimas, Tate procurou se convencer de que
perder uma competição não era nenhuma tragédia. No entanto, sabia que precisava
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— Não, essa aí não tem mais jeito. Quando você desligar o motor, mesmo
que seja apenas para reabastecer, é bem provável que tenha um problema sério. E vai
fazer uma viagem longa. Quer se arriscar a ficar na estrada com Haily, sabe Deus
onde?
— Não, é claro que não...
— Então compre uma bateria nova, doçura. Está precisando de uma, pode
acreditar no que estou dizendo.
Tate ficou olhando para ele com um ar de desespero nos olhos. Por que
acontecia aquilo justamente naquele momento, quando ela estava com tão pouco
dinheiro? E ainda tinha pela frente uma viagem que não havia programado e que a
deixaria com o bolso ainda mais vazio. Como poderia comprar uma bateria nova se nem
sabia se o dinheiro daria para fazer a viagem de volta?
— Comprarei uma bateria em algum lugar da estrada. - ela disse, não querendo
revelar a penúria em que se encontrava a um homem que provavelmente nem sabia o
significado da palavra orçamento. — Agora não tenho tempo para isso.
Flynn pensou em insistir mas viu que não adiantaria muito. Então abriu os braços
e recuou.
— Você é quem sabe. Faça uma boa viagem, então.
Segundos mais tarde ele empurrou o chapéu para trás e coçou a cabeça,
observando enquanto a pick-up se afastava. Tate Baxter estava mentindo, disso ele
não tinha a menor dúvida. Aquela maluca pretendia atravessar dois Estados e meio com
uma bateria que não deveria ser colocada nem num carrinho de brinquedo. E ele não
podia fazer absolutamente nada.
Bem, não era problema dele, concluiu Flynn, enquanto guardava os cabos
embaixo do banco do furgão. Ela não era problema dele. No entanto, enquanto entrava
no veículo e se sentava ao volante, ele não pôde deixar de dar ouvidos à voz que dizia
que Tate era apenas uma mulher sozinha, uma mãe solteira que estaria viajando na
companhia da filha pequena. Aquelas duas não teriam nenhum homem para ajudá-las
numa emergência. Mesmo que se tratasse de estranhas totais, ele se preocuparia ao
saber que estariam viajando naquelas condições, com uma bateria que não merecia a
menor confiança.
Seguir Tate não foi uma decisão consciente. Algum tempo mais tarde,
porém, quase sem prestar atenção no que fazia, Flynn estava na estrada, percorrendo
o mesmo caminho que ela havia seguido. Afinal de contas, a cidade de Price, onde se
realizaria um rodeio, não ficava muito longe da terra do pai dela, no Estado de Utah.
Nada o impedia de seguir a mesma estrada que Tate, aproveitando para se certificar
de que nada de errado acontecia com a pick-up dela. Procuraria ficar o tempo todo de
longe... a menos que acontecesse algum problema, naturalmente. Tate também não
precisava saber que só naquele momento ele estava tomando a decisão de se inscrever
no rodeio de Price.
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coração batendo a mil por hora, Tate não podia fazer nada além de esperar.
Instantes mais tarde Flynn Rawlings chegou bem perto e ela deixou escapar
um suspiro de alívio.
— Ah, graças a Deus! - exclamou Tate, abaixando rapidamente o vidro da
janela. — Você me deu um susto dos infernos! O que está fazendo aqui?
Mesmo vendo que ela estava muito pálida e com os olhos arregalados, Flynn
não a poupou do carão.
— E foi um susto muito merecido! Ah, mas que mulherzinha cabeça-dura
você é! Eu avisei que isso poderia acontecer, não avisei? Mas você me ouviu? Ah, não, é
claro que não!
A noite toda ele a seguira a uma boa distância, apenas vendo vez por outra as
lanternas do reboque onde ia Doce Mel. Já começava a se achar superprotetor quando
viu a pick-up estacionada no acostamento. Aquilo o fez conter a respiração. Às vezes
os dois veículos ficavam a uns quinze minutos de distância, tempo suficiente para que
algum mal-intencionado se aproximasse de Tate e Haily e...
Felizmente nada demais havia acontecido e as duas estavam a salvo,
inteirinhas.
Essa constatação não serviu para deixá-lo menos furioso. Pensando na
possibilidade de algum tarado ter chegado antes dele, Fiynn sentiu vontade de
arrancar aquela mulher da cabine da pick-up para aplicar umas boas palmadas no
traseiro dela.
— Se eu não estivesse indo agora para Price você estaria bem complicada. -
ele acrescentou, procurando falar em voz baixa para não acordar Haily, que estava
enroscada no banco ao lado da mãe. — E seria bem feito, porque só uma louca se
arriscaria a atravessar metade do país com uma bateria que não tem força nem para
acender uma lâmpada de quarenta velas. Mas você está bem?
Ah, não! Num instante ele ralhava com ela, no outro se revelava protetor.
Tate precisou se esforçar para não mostrar o sorriso que quis aparecer nos lábios
dela. Flynn queria parecer furioso, mas não conseguia esconder que estava
sinceramente preocupado.
— Eu estou bem. - ela garantiu, num tom calmo. — Mas estaria melhor se o
carro houvesse parado na frente da casa do meu pai, e não aqui, onde o diabo perdeu
as botas.
— Vire a chave uma vez. - ele a orientou. — Provavelmente não vai adiantar
nada, mas quero ouvir o barulho.
Tate seguiu a instrução dele. Como na vez anterior, nada aconteceu. A
expressão no rosto de Flynn deixava claro que, agora, de nada adiantaria tentar uma
transferência de carga da bateria do furgão.
— No momento você não tem como tirar essa pick-up daqui. - ele disse, sern
meias palavras. — Vamos transferir o reboque de Doce Mel para o meu furgão. Quando
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informações que ele tanto queria ter. Já era mais do que tempo de saber qual era o
problema com aquela mulher.
Mas Tate tomou providências para que isso não acontecesse e mudou
rapidamente de assunto.
— Haily também queria visitá-lo no quarto, mas o regulamento do hospital não
deixa as crianças passarem do saguão. Você só poderá ver sua neta quando for expulso
daqui. Já falou com o dr. Kramer hoje? Quando espera ter alta?
Instantaneamente ela percebeu que fizera a pergunta errada, porque o sorriso
desapareceu do rosto de Allen, dando lugar a uma expressão de aborrecimento.
— Quem pode adivinhar o que está na cabeça daquele velho de uma figa? Tenho
a impressão de que nem ele mesmo sabe.
Mas o competentíssimo dr. Robert Kramer sabia muito bem o que devia ser
feito com o rebelde paciente Allen Baxter.
— Seu pai está precisando de alguém para acompanhá-lo. - disse o médico,
quando se encontrou com Tate e Flynn no corredor do hospital. — Não é a primeira vez
que ele se esquece de tomar o remédio para a pressão arterial. Pelos sintomas que
apresentou, parece que se esquece de tomar as pílulas com muita frequência... e é
possível que, na próxima vez, não tenha a mesma sorte de agora.
Tate empalideceu. Não estava preparada para ouvir que o pai podia estar de
fato correndo perigo... especialmente depois de tê-lo visto devorando um café da
manhã que seria mais indicado para um trabalhador do campo.
— Está querendo dizer que ele podia ter tido um enfarte?
Apesar das queixas de Allen, Robert Kramer era um bom amigo da família e
não queria deixar Tate assustada. Mesmo assim não podia esconder a verdade.
Passando o braço por cima do ombro dela, o médico foi direto ao assunto.
— Sei que você precisa economizar para os gastos que tem na escola,
querida, mas seu pai já não é nenhum rapazinho. Ele se esquece das coisas, não come o
que devia e não toma os remédios que precisa tomar. Allen não só podia, como pode íer
um enfarte a qualquer momento. Sou de opinião que ele não devia viver sozinho.
Tate ficou com os olhos cheios de lágrimas.
— Mas...
— Eu sei que você não pode ficar aqui o tempo todo. - voltou a falar o
médico, antecipando-se às objeções dela. — É por isso que precisa pensar em arranjar
alguém para ficar com aquele velho ranzinza quando você e Haily estiverem viajando. E
posso lhe indicar uma mulher que seria perfeita para essa missão.
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Capítulo IV
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susto.
— Tudo vai dar certo. - ele garantiu. — Você ouviu o que o médico disse.
Desde que o seu pai volte a tomar os remédios com regularidade, será outra vez o
velho saudável que sempre foi. Você só precisa arranjar alguém para tomar conta dele.
Pelo jeito como ele falava tudo parecia muito fácil, e certamente para os
Rawlings, do Novo México, uma situação como aquela não apresentaria a menor
dificuldade. Quando se tem bastante dinheiro só é necessário dar uns poucos
telefonemas e assinar alguns cheques. Qualquer problema se resolve num piscar de
olhos. No entanto, as regras são bem outras quando é preciso fazer ginásticas para
que as despesas não ultrapassem o dinheiro disponível.
Tate abriu a boca para dizer exatamente aquilo, mas parou ao sentir na
nuca o aperto da mão de Flynn. Certamente percebendo a forte tensão que havia nos
músculos do pescoço dela, ele passou a massagear aquela região, em movimentos
mágicos, provocando uma sensação que quase a deixou sem fôlego.
Tate sentiu a garganta seca e percebeu que precisava urgentemente fazer
alguma coisa, talvez inclinar-se para a frente ou erguer a mão para afastar a dele. No
entanto o que os A dedos de Flynn faziam a deixava sem ação, sentindo um delicioso
relaxamento em todos os músculos do corpo. Quando os olhos deles se cruzaram ela
engoliu em seco, incapaz de desviar o rosto.
Flynn não conseguiu entender o que estava fazendo. Não tivera a intenção
de tocá-la, mas ela parecia tão séria que tinha sido impossível resistir. Sem saber
direito o que estava acontecendo, ele se viu sentindo vontade de confortá-la, trazer
um sorriso de volta àquele rosto dominado pela preocupação, abraçá-la ternamente e
garantir que tudo acabaria bem.
E aquilo o deixava terrivelmente, assustado. Não era para acontecer um
jogo entre eles dois, uma espécie de duelo de opiniões em que ele devesse encontrar
uma maneira de fazê-la admitir que não era tão indiferente quanto fingia ser. Nada
daquilo deveria ser levado a sério, porque nenhum dos dois queria realmente se
envolver. Por que, então, ele se preocupava tanto com os problemas dela? Por que havia
empreendido que a viagem sem nenhum objetivo pessoal, apenas para colocar o mundo
dela outra vez nos eixos.
Ouvindo o som inesperado de uma buzina, Tate finalmente afastou os olhos
dos dele.
— Cuidado!
Voltando os olhos para a estrada Flynn constatou que, enquanto olhava para
Tate como um adolescente fascinado, havia deixado que o furgão trafegasse por cima
da linha divisória das duas pistas... numa rota de colisão com um carro que vinha em
sentido contrário e tentava desesperadamente escapar ao choque. Soltando uma
praga, ele retirou a mão da nuca de Tate e virou rapidamente a direção para a direita.
Segundo mais tarde o outro carro passou como uma flecha ao lado deles, sem parar de
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tocar a buzina.
O instante de silêncio que se abateu sobre os três pareceu demorar uma
eternidade. Finalmente Haily aprumou o corpo e respirou fundo.
— Puxa! Foi por pouco!
Abaixando os olhos para a menina, sentada entre ele e Tate, Flynn fez uma
careta e forçou um sorriso.
— Foi por pouco mesmo, Pimentinha. - ele reconheceu, logo voltando a olhar
para a estrada. — Parece que eu me distraí um pouco, mas prometo que isso não
acontecerá outra vez.
A pick-up de Tate continuava no mesmo local onde eles a haviam deixado, no
acostamento da estrada. Mais parecia um bêbado que houvesse parado ali para
algumas horas de sono, mas não havia sido tocada por ninguém. Aliviada, ela se sentou
ao volante enquanto Flynn, com a assistência da tagarela Haily, instalava a bateria
nova. Não demorou mais que alguns minutos para que ele retirasse a cabeça de baixo
do capo do veículo.
— Já liguei todos os fios. Dê partida agora e vamos ver o que acontece.
Tate conteve a respiração e virou a chave. O motor pegou sem a menor
hesitação.
— Finalmente! - ela exclamou, rindo de satisfação. — Pelo menos uma coisa
funciona como era de se esperar.
Flynn, porém, não se apressou tanto em comemorar. Depois de fechar o
capô, ele abriu a porta para que Haily se acomodasse na pick-up e deu a volta até o
lado de Tate, que continuava sentada ao volante, ouvindo o barulho do motor como se
aquilo fosse a mais doce das melodias.
— O que dizem os mostradores? - ele perguntou, olhando pela janela para o
painel da pick-up. — Está tudo funcionando direitinho?
Surpresa com aquela pergunta, Tate olhou-para os mostradores e encolheu
os ombros. Ela sabia o que queria dizer cada um deles, mas raramente olhava para
algum que não fosse o indicador de combustível ou o velocímetro. A cada primavera
Allen fazia uma revisão na pick-up, que jamais havia apresentado algum problema sério.
Até agora.
— Acho que sim. O que mais poderia haver? O problema era a bateria, mas
agora isso já está resolvido.
— Talvez. - disse Flynn, reticente. Enfiando a cabeça pela janela para olhar
melhor o mostrador da bateria, ele resmungou uma praga que Tate não conseguiu
entender. — Está descarregando.
— O que está descarregando? - ela perguntou, alarmada, correndo os olhos por
todos os mostradores do painel.
— A bateria. Já que ela é novinha em folha, isso significa que o alternador
não está funcionando direito. - ante o olhar apalermado de Tate, ele deu maiores
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um problema financeiro que devia ser sério. Parecia até despreocupada demais. Estava
mentindo, isso era mais do que evidente. Algumas semanas antes ele talvez se
deixasse enganar, mas agora a conhecia melhor e sabia que havia um assunto que
aquela mulher jamais trataria como se fosse uma banalidade: dinheiro.
E nada no mundo a faria aceitar dinheiro dele ou de qualquer outro homem.
Tate Baxter era orgulhosa, independente demais. Aquilo significava que ele precisaria
escolher com muito cuidado a forma como faria a oferta que pretendia fazer.
— Se não chegar em um acordo com eles, você pode sempre ir a uma
autopeças para comprar o alternador. Certamente o seu pai sabe como fazer a troca
da peça, o que não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Como ele ainda está de cama
talvez você precise esperar uns dias, mas isso lhe poupará o dinheiro da mão-de-obra,
que, não é de se jogar fora. Ou... se quiser, pode deixar que eu faça o serviço.
— Você?
Ela pareceu tão surpresa que Flynn riu.
— Eu, sim. Por que não?
— Mas você tem que ir para Price...
— Só precisarei estar lá daqui a alguns dias. Seja como for, não vou demorar
tanto para consertar a pick-up depois que você comprar a peça. Tenho uma boa folga e
tanto faz matar o tempo aqui como lá.
Tate ficou hesitante, lutando contra a vontade de aceitar de pronto a
oferta. Flynn Rawlings era a respostas para as preces dela, um cavaleiro andante de
botas e calça jeans, sempre com a solução perfeita para qualquer problema. Mas seria,
correto usá-lo daquele jeito? Depois de ter feito todo o possível para mantê-lo a
distância, como ela poderia se aproveitar de uma generosidade que parecia
absolutamente desinteressada? Tate balançou a cabeça.
— Agradeço sinceramente pela oferta, mas você deve ter coisas melhores
para fazer do que trabalhar numa pick-up velha como a minha. E eu não teria como lhe
pagar pelo que deve valer esse serviço. - ela acrescentou, revelando sem querer que a
verdadeira causa do dilema era a falta de dinheiro. — Mesmo assim, muito obrigada.
Flynn achou melhor não insistir. Tate não queria ficar devedora com ele, o
que era um direito dela. Ele próprio não gostaria de ter a vida invadida por outra
pessoa que quisesse resolver problemas exclusivamente dele. Além disso, antes de
conhecê-lo aquela mulher certamente havia superado muitas outras dificuldades. Não
havia motivos para que não superasse a de agora. Se ele queria mesmo ajudá-la,
acreditaria na palavra dela e rumaria para o norte tão logo a deixasse no sítio de
Allen. Mas alguma coisa dizia que não seria boa coisa deixá-la sozinha com o pai
doente, a pick-up quebrada e os bolsos praticamente vazios. Antes que pudesse se dar
conta daquilo, Flynn estava fazendo outra sugestão.
— Na verdade você não precisará me pagar, porque nós podemos fazer uma
permuta. No momento eu daria faria qualquer coisa por algumas refeições caseiras e
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uma cama de verdade em que pudesse dormir. Comer sempre em lanchonetes e passar
todas as noites num saco de dormir já é uma coisa meio fora de moda, não acha?
— Isso quer dizer que Flynn vai passar uns dias conosco, não é, mamãe? -
intrometeu-se Haily, excitada. — Uau! Vai ser incrível! Eu posso mostrar a ele a piscina
natural onde às vezes tomamos banho, o meu esconderijo secreto, o meu gato...
— Pois é, mamãe. - brincou Flynn, imitando o jeito de falar da menina. —
Vai ser incrível! E então, qual é a sua resposta? Negócio fechado?
— Por favor, mamãe. - insistiu Haily. — Eu posso praticar entalhe em
madeira e tudo o mais. Por favor...
Olhando alternadamente para a menina e para Flynn, Tate hesitou. O bom
senso dizia que seria loucura apenas levar em conta a sugestão que acabava de ouvir.
Ela já se sentia atraída demais por aquele homem... Passar mais tempo com ele só
serviria para tornar a situação insustentável. Em nenhuma circunstância ela queria se
sentir devedora com Flynn Rawlings ou com qualquer outro homem.
Mas havia aquela voz ao ouvido dela, que só podia ser de algum demônio
tentador... Quem mais se mostraria disposto a consertar a pick-up em troca de
algumas refeições caseiras? Pensando bem, ela deveria até agradecer pela sorte que
estava tendo. Além de ter o veículo consertado, ficaria com dinheiro suficiente para
pagar o combustível de mais uma viagem. Por que, afinal, estava tão hesitante?
— Apenas algumas refeições e uma cama? - ela inquiriu, voltando-se para ele
com os olhos apertados. — É só isso o que você quer?
Um brilho divertido apareceu nos olhos de Flynn quando ele ouviu aquelas
perguntas, feitas em tom de desconfiança.
— Nada mais do que isso, nadinha mesmo. Palavra de escoteiro.
Ao ouvir aquilo Tate ficou ainda mais séria, olhando fixamente para ele.
Seria capaz de apostar que Flynn jamais tinha sido um escoteiro, nesta ou em outra
encarnação. Mesmo assim todos os instintos diziam que devia confiar nele. Só Deus
saberia o motivo.
— Está bem. - ela disse, depois de mais alguns segundos de relutância. —
Mas tudo será estritamente como numa transação comercial. Se o serviço acabar
sendo mais complicado do que se imagina, eu lhe pagarei a diferença em dinheiro. -
mesmo que se visse nessa contingência ela daria um jeito... como sempre. Tomada a
decisão, Tate estendeu a mão para ele e sorriu. — De acordo?
— De acordo. - respondeu Flynn.
Quando as mãos deles se tocaram, porém, ambos se sentiram invadidos por
uma onda de sensualidade que mais padecia uma descarga elétrica. O coração de Tate
disparou e ela percebeu de pronto que estava em apuros. Assustada como se fosse
uma adolescente virgem, rapidamente retirou a mão e abaixou os olhos. Mas já era
tarde demais. Tudo levava a crer que eles dois haviam arranjado um problema bem
mais difícil de resolver que o simples conserto de uma pick-up.
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Por volta das três horas daquela tarde, Allen Baxter estava outra vez em
casa, cochilando no quarto, Haily tinha ido visitar uma amiguinha e Tate estava na
cozinha, começando a preparar o macarrão com almôndegas que serviria no jantar.
Sozinho na garagem, Flynn rapidamente trocou o alternador da pick-up, apenas para se
ver sem ter o que fazer até a hora do jantar. Retirando-se para a varanda dos fundos,
pôs-se a entalhar um pedaço de madeira com o canivete que sempre levava no bolso.
Em circunstâncias normais aquela atividade serviria para deixá-lo relaxado, mas
ouvindo o barulho de Tate na cozinha, cantarolando e mexendo com panelas, ele
simplesmente não conseguia se concentrar. A voz daquela mulher era um murmúrio de
sensualidade que o deixava com os nervos à flor da pele. A certa altura, mais acento à
canção que ela cantarolava do que ao que fazia com as mãos, ele quase cortou o dedo
com o canivete.
— Mas que inferno, Rawlings. - repreendeu-se Flynn. — Preste atenção no que
está fazendo, homem. Se a moça o pertuba desse jeito, talvez seja melhor você pegar
a estrada enquanto ainda é tempo, ir para bem longe dela...
Mas agora já era tarde para ir embora. A paz daquele lugar havia tomado conta
dele no instante em que pusera os pés ali. Em menor escala, o sítio de Allen Baxter
trazia à lembrança dele a fazenda da família, no Novo México. Além disso, ver Tate
em seu próprio meio, cantarolando com uma naturalidade que jamais demonstrava no
circuito dos rodeios, era algo incrivelmente sedutor. Não, ele não iria embora... pelo
menos não tão depressa.
Mas também não podia ficar ali sentado, lamentando-se porque a moça não
queria cair nos braços dele. Precisava arranjar alguma coisa para fazer, algo que
exigisse um excesso maior de energia.
Não foi preciso procurar muito. Aquela casa era tão velha quanto Allen Baxter,
talvez até um pouco mais. Assim como o dono, já demonstrava sentir o peso dos anos.
A torneira do banheiro não parava de pingar, a porta do armário no quarto de
hóspedes não estava fechando direito, o que fatalmente provocaria uma rachadura, e a
balaustrada de madeira na varanda do andar superior dava a impressão de que
desabaria ao menor empurrão. Depois de procurar na garagem as ferramentas de que
iria precisar, Flynn pôs mãos à obra.
Estava lidando com a torneira do banheiro quando Tate o encontrou.
Parando à porta com as mãos na cintura, ela olhou para a torneira desmontada e
franziu a testa.
— Mas o que está fazendo aí, Flynn?
Sem demonstrar o menor constrangimento ao ser surpreendido em mais uma
intromissão, ele levantou a cabeça e sorriu.
— Estou vendo se consigo fazer essa coisa parar de pingar. Espero que não
brigue comigo por causa disso.
Tate fez um ar de censura mas não conseguiu esconder o sorriso que
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apareceu nos lábios dela. Flynn parecia feliz como uma criança em seu brinquedo
preferido e não daria a menor importância se ela ralhasse com ele.
— E a pick-up?
— Está pronta há algumas horas. - respondeu Flynn, distraído, voltando a
procurar na caixa que havia levado para o banheiro a arruela de borracha de que
estava precisando. Resmungando baixinho, ele outra vez levantou a cabeça. — Será que
o seu pai não tem em algum lugar por aí outras arruelas de borracha? Nenhuma das
que encontrei se encaixa na torneira.
— Ele costuma deixar essas coisas numa gaveta da cozinha. - respondeu
Tate. — Ao lado da geladeira. Mas... para onde está indo?
— Vou pegar as arruelas. - abrindo aquele sorriso de covinhas no rosto,
Flynn parou a apenas alguns centímetros da porta, esperando que ela abrisse caminho.
Como Tate não arredasse pé, ele ergueu as sobrancelhas, agora rindo. — Você vai ou
não vai sair do caminho?
Tate, porém, não estava achando graça naquilo.
— Mas que droga, Flynn! Nós fizemos um trato. Sua obrigação era
consertar a pick-up, nada além disso.
— Foi isso o que eu disse?
Confusa, ela balançou a cabeça.
— Não, mas eu achei que...
— Pois foi esse o seu primeiro erro. - ele a interrompeu, correndo o dedo
sujo de graxa pela face dela. — Nunca deve achar nada. A falta de certeza sempre
traz complicação.
Obviamente satisfeito consigo mesmo Flynn deu mais um passo adiante, o
que a deixou com apenas duas opções: ou sairia da porta ou teria que encostar o peito
no dele. Corando fortemente, Tate preferiu recuar, ao mesmo tempo que levava a mão
à face. Na ponta dos dedos sentiu a marca que ele havia deixado... bem como o calor
produzido por aquele toque. Era inexplicável como aquele homem podia deixá-la sem
fôlego com um simples toque.
— Ei, Tate!
Tate voltou-se para vê-lo parado à entrada da cozinha, outra vez com
aquele sorriso matreiro. Corando ainda mais ela procurou pensar numa forma de
escapar a todo aquele charme. Seria um bocado difícil...
— O que é?
— Vá lavar o rosto que ele está sujo. - respondeu Flynn, rindo e
desaparecendo pela porta da cozinha.
Tate não resistiu ao impulso de atirar contra ele o sapato, que foi bater no
chão da cozinha. Flynn não foi atingido, mas não era mesmo essa a intenção. Ah, mas
que homem irritante, ela pensou, agora também rindo. O que iria fazer com ele?
No resto daquele dia Tate se fez a mesma pergunta pelo menos meia dúzia de
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
vezes. Depois que Flynn terminou o conserto da torneira do banheiro, ela foi encontrá-
lo lixando a porta do armário do quarto de hóspedes, depois trabalhando na
balaustrada da varanda do andar de cima. Queria zangar-se com ele... Pelo andar da
carruagem, estaria na obrigação de fornecer comida à aquele homem por mais uns seis
meses! Mas Flynn fazia tudo com uma naturalidade que a deixava sem ação. Frustrada,
finalmente conseguiu dizer que não o teria deixado ficar se soubesse que a intenção
dele era fazer tantas gentilezas.
Flynn riu daquilo, certamente sem perceber que ela falava muito sério. Até
que não seria difícil repelir as investidas de um Casanova conquistador, mas lidar com
um homem gentil, generoso e engraçado estava se revelando uma tarefa bem mais
complicada. Tate procurou não se esquecer de que, mesmo que derrubasse a casa
inteirinha para reconstruí-la sem querer cobrar nada, Flynn Rawlings continuaria sendo
um charmoso peão de rodeio que logo estaria outra vez colocando o pé na estrada.
Aquilo já seria suficiente para convencer o coração dela a não disparar toda vez que
ele abria o sorriso... mas não era tão fácil assim. Na verdade ela já estava morta de
medo.
Perturbada consigo própria, Tate ficou quieta durante o jantar e escapulira
para a varanda da frente enquanto Flynn tentava convencer Haily a ajudá-lo a lavar a
louça. Queria ficar sozinha para pensar, mas instantes mais tarde ouviu a porta se
abrindo e voltou o rosto para ver a aproximação do pai.
— Eu vi muito bem quando você se esgueirou para cá. - disse o velho, em
tom de brincadeira, enquanto se sentava ao lado dela. — Com tudo isso que esteve
acontecendo nós dois mal tivemos tempo para conversar. Está tudo bem com você,
filha?
Bem que ela queria contar a ele uma porção de coisas... lamentar o prêmio
perdido no último rodeio, falar no dinheiro gasto no concerto da pick-up, comentar a
recomendação do médico para que ele não ficasse sozinho, já que ultimamente andava
um tanto desmemoriado. Mas acima de tudo ela queria conversar com o pai sobre
Flynn, falar sobre o medo de que estava possuída por causa do que vinha sentindo, uma
tentação que mantinha reprimida desde que Rich Travis a deixara sozinha e grávida,
algo que havia jurado jamais voltar a sentir por qualquer homem. Mas não encontrava
palavras para dizer nada daquilo. Ainda bem, porque não seria nada bom deixar Allen
preocupado justamente no dia em que ele havia saído do hospital. Também não podia
dizer ao velho pai que era ele uma das maiores preocupações dela.
— Está tudo ótimo. - mentiu Tate, com a maior naturalidade, olhando para o
céu estrelado. — Eu só vim me sentar aqui para relaxar um pouco. Não é em qualquer
lugar que se encontra uma paz como a daqui. Algumas cidades são muito barulhentas e
parece que ultimamente são essas as escolhidas para os rodeios.
Sentados ali eles só ouviam o chiado dos grilos e o coaxar ocasional de uma
rã, mas não podiam ignorar os risos que vinham da cozinha. Ouvindo a risada alegre da
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Ainda não havia falado na conversa que tivera com o médico e não sabia como abordar
aquele assunto. Allen se considerava o mesmo homem forte e competente do dia em
que ela havia nascido a não se submeteria facilmente a ter alguém dizendo o que ele
devia ou não devia fazer. Oh, bom Deus! O que ela poderia fazer?
Enternecida, Tate ficou escutando enquanto Haily subia a escada com o avô
para logo em seguida os dois trocarem boa noite, como John Boy e os irmãos, da série
de TV ―Os Waltons‖, que ela costumava ver quando era menina. Ainda estava sorrindo
sozinha quando Flynn apareceu na varanda.
Com olhos aguçados como os tíe um falcão, ele rapidamente a descobriu sentada
no escuro.
— Posso lhe fazer companhia? - perguntou Flynn, já caminhando na direção dela.
— Já nem me lembro de quando foi a última vez que me sentei na varanda de uma casa
ao lado de uma garota bonita.
Tate procurou se convencer de que não deveria tirar nenhuma conclusão
apressada daquelas palavras bonitas. Já conhecia o homem charmoso que Flynn
gostava de ser e não era mais nenhuma garotinha para se deixar envolver por aquilo.
— Claro. - ela concordou, procurando falar com naturalidade. — Desde que você
concorde em substituir a companhia de uma garotinha alegre pela de uma mãe cansada.
Mas o que ainda está fazendo aqui embaixo, afinal? Depois de ter dirigido a noite toda
e trabalhado duro durante uma boa parte do dia, imaginei que você estaria morto de
sono.
— Eu nunca preciso de muito sono. - gabou-se Flynn, sentando-se ao lado dela.
— E você também dirigiu a noite toda. Por que ainda não subiu para se deitar? Ou será
que as mães cansadas só se recolhem depois que todos estiverem em suas camas?
Tate sorriu.
— Esta mãe aqui só se recolhe quando está quase dormindo em pé.
Flynn espichou as pernas compridas, tocando inocentemente com a coxa na dela.
— Nesse caso você é uma mulher responsável. - ele concluiu. — Já imaginava
isso. Mas acho que toda mãe solteira é assim, especialmente quando carrega uma carga
como a sua. O que pretende fazer a respeito do seu pai?
Tate não havia pensado em discutir com ele os problemas da família dela.
Costumava resolver aqueles assuntos sozinha e, além disso, dentro de alguns dias
Flynn estaria indo embora, talvez saindo da vida dela para sempre. Era assim mesmo
que ela queria que acontecesse. Mas talvez tenha sido pelo mesmo motivo, além do
fato que era sempre fácil fazer confidências na escuridão, que se viu dizendo a ele
coisas que não havia pensando em comentar.
— Não sei. Vou ter que começar a vencer provas bem depressa ou não terei o
dinheiro de que vou precisar até o outono. Mas como é que vou me afastar de papai?
Você ouviu o, que o dr. Kramer disse. Na próxima vez em que ele se esquecer de tomar
o remédio para a pressão poderá ter uma complicação muito séria.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
— Está bem. Vou ligar para a Sra. Donavan para ver se chegamos a algum
tipo de acordo.
— E os rodeios? Está disposta à ir comigo?
Tate procurou fazer cara feia, mas os lábios dela insistiam em sorrir.
— Por que tudo tem que ser sempre do seu jeito, Flynn Rawlings?
— Nem sempre. - rebateu Flynn, rindo. — Apenas nove vezes em dez. Quer
dizer que você vai?
Tate também teve que rir.
— Vou sim, seu demônio!
Capítulo V
Tate não tinha a menor intenção de ludibriar o pai, mas aconteceu que, quando
Maggie Donovan apareceu na manhã seguinte para ser entrevistada, ele tinha ido à loja
de rações da cidade. Sentindo um certo peso na consciência, Tate argumentou consigo
mesma que era até melhor assim. Não havia necessidade de perturbá-lo enquanto não
se chegasse a um acordo com a Sra. Donovan. E era bem pouco provável que isso
acontecesse, já que a mulher teria que concordar em trabalhar por um salário que
chegava a ser um insulto.
Já preparada para ouvir uma negativa, Tate procurou alimentar alguma
esperança de que encontraria outra pessoa caso a conversa com Maggie Donovan não
desse certo. Cinco minutos depois de conhecer a mulher, porém, ela dava tratos à bola
tentando descobrir uma maneira de arranjar dinheiro suficiente para contratá-la. A
Sra. Donovan era mesmo perfeita para o serviço.
Alta e muito magra, aquela viúva sem família estava cansada de morar sozinha.
Dizia sempre o que estava pensando e esperava que os outros fizessem o mesmo,
argumentando que, já que só Deus sabia o quanto cada um ainda ficaria neste mundo,
era melhor não perder tempo com embromações. Maggie Donovan ia sempre direto ao
assunto, sem evasivas. Ao ver Haily brincando no quintal a espigada mulher quase se
derreteu, o que prontamente conquistou a simpatia de Tate.
— Crianças. - disse Maggie, observando a saltitante menina e abrindo um
sorriso no rosto enrugado. — Elas não são mesmo umas coisinhas? Aposto que aquela
ali deve ser louca por doces, não é mesmo? Vou ter que fazer para ela uns bolinhos de
chocolate com amêndoas. Ainda não conheci uma criança que não gostasse desses meus
bolinhos.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Então ela já estava considerando certo que ficaria trabalhando ali. Embora
satisfeita, Tate procurou não ter muitas esperanças, já que elas ainda nem havia
tocado na questão do salário.
— Quando ao emprego, Sra. Donovan...
— Pode me chamar de Maggie, querida. - interrompeu-a a mulher. — Não sou
muito dada a formalidades. Não consigo entender como algumas pessoas que vivem na
mesma casa e comem da mesma comida podem se chamar por outra coisa que não seja
o primeiro nome. Não sei o que você pensa disso, mas para mim é um formalismo
exagerado.
— Concordo plenamente. - apressou-se em dizer Tate, perguntando-se
como podia estar perdendo o controle da entrevista. — Mas quanto ao trabalho,
Maggie...
— Certamente existem alguns pratos que você vai querer ter com
frequência no cardápio. - voltou a falar Maggie, incorretamente adivinhando que a
resposta seria uma confirmação. — Para mim não há problema nenhum. Eu me sinto
como se cozinhasse há cem anos e sou capaz de preparar qualquer tipo de comida.
Basta me dar a receita que eu darei conta direitinho do recado. Se houver também
algum prato de que vocês não gostem, é só me dizer que eu nunca o levarei à mesa.
Tate sorriu, quase rindo. Maggie falava como se tudo já estivesse acertado, mas
a questão principal ainda precisava ser resolvida.
— As coisas não são tão simples assim, Maggie. Tenho certeza de que você é
uma excelente cozinheira e será muita sorte nossa tê-la aqui conosco. O dr. Kramer
não a teria recomendado se isso não fosse verdade. O que eu não sei é se terei
condições de pagar o salário que o seu trabalho certamente valerá. Estou concluindo o
colegial e no próximo ano pretendo entrar para a faculdade de medicina, um curso
caro. Além disso, Haily cresce como uma trepadeira e está sempre precisando de
roupas e sapatos. O dinheiro é sempre curto...
— O dr. Kramer disse que eu queria dinheiro?
Tate ficou espantada com a pergunta.
— Não, mas em geral as pessoas que se candidatam a um emprego esperam
receber um pagamento.
— Isso é verdade, mas não tem que ser necessariamente em dinheiro. -
ponderou a mulher. — Eu não preciso de dinheiro. Meu marido me deixou muito mais do
que vou precisar pelo resto da vida e não tenho ninguém com quem gastar tudo isso.
Como não tivemos filhos e não me sobrou nenhum parente, sou obrigada a viver
sozinha. Já estou cansada de cozinhar para mim mesma e perambular por aquela casa
velha e grande demais para uma pessoa só. Preciso da companhia de outras pessoas e,
pelo que o dr. Kramer me falou da situação do seu pai, vocês também precisam de mim.
Não devemos deixar que o dinheiro atrapalhe um arranjo que pode ser perfeito.
— Mas você tem que receber algum tipo de compensação. - persistiu Tate.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
— Cozinhar e cuidar de uma casa é um trabalho duro... eu sei muito bem disso. Não me
sentiria bem se você ficasse trabalhando aqui sem receber nada.
— Se você estivesse sozinha há tanto tempo quanto eu, querida, saberia
que há muitas e muitas coisas mais importantes que o dinheiro... como ter alguém para
dar bom dia pela manhã, alguém para quem cozinhar e que a faça sentir-se útil. Pode
acreditar no que estou dizendo. Se vocês me derem um lugar para dormir e comida,
tratando-me como se eu fosse uma pessoa da família, vou me considerar no paraíso.
Havia sinceridade na voz daquela idosa mulher e a ansiedade dos olhos
castanhos deixava claro que ela não aguentava mais tantos anos de solidão. Tate sentiu
uma onda de simpatia por Maggie Donovan e percebeu que não conseguiria fazê-la
mudar de idéia.
— Acho que não é bem o que eu estava imaginando... No entanto, já que são
essas as suas condições, estou de acordo. Bem-vinda à família, Maggie.
A mulher riu de alegria.
— Começarei hoje mesmo, antes que você mude de idéia.
— Ah, pode crer que eu não vou mudar de idéia. - garantiu Tate, também
rindo. — Você é que talvez mude quando conhecer o meu pai. Ainda não conversamos
nada sobre isso e tenho a impressão de que a reação dele não vai ser muito boa quando
souber que contratei alguém sem consultá-lo.
— Pode deixar esse assunto comigo. - pronunciou-se Maggie, absolutamente
segura de si. — No instante em que provar os meus biscoitos e a minha torta de maçã
ele passará a comer na palma da minha mão.
Mal colocou as malas num dos quartos do andar de baixo, a velhota ocupou-
se em preparar o almoço, o que deixou Tate livre para procurar por Flynn. Ele estava
no alto de uma escada, trocando algumas tábuas do beiral do telhado. Tate olhou para
cima e colocou as duas mãos na cintura, exasperada.
— Mas que coisa, Flynn! Se você não parar de bancar o faz-tudo por aqui,
acho que vou ter que expulsá-lo. Pelo nosso trato, você ainda tem algumas refeições de
crédito mas não é obrigado a trabalhar, lembra-se?
— O trabalho sempre abre o apetite de um homem. - ele se justificou,
sorrindo. — Assim sendo, pare de brigar comigo, mulher. Quando me sentar à mesa
quero ser merecedor de cada grama de comida que estiver engolindo. Mas como foi a
conversa com a Sra. Donovan?
— Maggie. - corrigiu-o Tate. — Chegamos a um acordo e no momento ela
está preparando o nosso almoço.
Flynn abriu mais o sorrido e abaixou os olhos para ela.
— E você estava certa de que não poderia pagar o salário que ela iria pedir.
— Um cavalheiro não costuma chamar a atenção para as falhas dos outros,
principalmente quando está falando com uma mulher.
Flynn nem se perturbou com aquilo.
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falando num tom calmo. — Vocês não acham que seria mais correto esperarmos o final
da refeição para expulsá-la daqui?
Allen Baxter coçou a cabeça.
— Está bem. - ele resmungou, a contragosto. — Mas nada além disso, estão
me ouvindo? Logo que o almoço termine, quero que ela receba algum dinheiro e vá
embora.
Sem mais nenhuma palavra, ele marchou na direção da casa para se
preparar para o almoço.
Tate voltou-se para Flynn e mostrou um sorriso amarelo.
— O resultado até que não foi tão ruim assim, não é mesmo?
Flynn soltou uma risada, evidentemente surpreso com aquela avaliação.
— Responda você, porque o pai é seu. Na minha opinião ele fez picadinho de
você.
— Que nada. Aquilo foi apenas o desabafo de um velho ranzinza. - então ela riu
de um jeito enternecido. — Mesmo no meio de uma tempestade papai não reconheceria
que seria melhor ter um guarda-chuva.
— E o que é que você vai fazer? Despedir Maggie três horas depois de tê-la
contratado?
— É claro que não! - respondeu Tate, com ar de indignação. — Eu jamais faria
isso com ela. Nós duas fizemos um trato e sou obrigada a cumprir a palavra. Depois
que se acalmar papai acabará entendendo.
— E se ele não entender?
— Então vamos ter barulho, porque Maggie não sairá daqui.
Pronta para o que desse e viesse, Tate marchou para a casa na companhia de
Flynn. Feitas as apresentações, e como ela já estava esperando, Allen demonstrou a
simpatia com que sempre recebia qualquer convidado. No entanto, o olhar duro que
dirigiu à filha deixou bem claro que a hospitalidade não devia ser confundida com
aceitação.
Imperturbável, Tate sentou-se à velha mesa redonda de carvalho que estava
no centro da cozinha desde quando ela conseguia se lembrar. A comida que havia ali
provavelmente daria para alimentar um exército.
Maggie, evidentemente satisfeita por ter tanta gente para quem cozinhar,
colocou sobre a mesa uma cestinha coberta por um guardanapo e sentou-se ao lado de
Tate.
— Há mais biscoitos no forno. - ela avisou, tão logo o dono da casa concluiu
as preces. — E mais galinha, também. Portanto, comam à vontade vocês todos. Comida
é o que não falta.
Os pratos e as terrinas foram circulando pela mesa, logo se fazendo ouvir
os murmúrios de aprovação. Começando a mastigar um biscoito com manteiga que logo
se desmanchou na boca, Tate reparou que Allen fazia a mesma coisa e arregalava os
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— É, parece que Maggie o conquistou pelo estômago... graças a Deus. Não sei
em que pé estariam as coisas se ela não fosse uma cozinheira tão boa.
Nem por um minuto Flynn acreditou que ela podia ter tido aquela dúvida. Havia
alguma coisa naquela mulher que levava qualquer homem a se submeter a ela... até
mesmo o pai. E felizmente dava a impressão de não se dar conta disso. Flynn só rezava
para que Deus o ajudasse, bem como a todos os outros representantes do sexo
masculino, no dia em que Tate Baxter descobrisse o terrível poder de que era
possuidora.
Olhando outra vez para a estrada, ele procurou não pensar numa Tate cheia de
confiança e sensualidade, certa de que poderia obter o que bem quisesse de um
homem. No entanto, era como se a estivesse vendo com as mãos estendidas e um leve
sorriso nos lábios, com a promessa de um beijo que o deixaria louco de desejo. Ele só
precisava fechar os olhos para sentir o gosto daqueles lábios.
Percebendo o que fazia Flynn quase soltou um palavrão. Ela nem o havia tocado
e ele já estava perdendo a cabeça. Mas que inferno! Onde estava com a cabeça ao
convidá-la para acompanhá-lo ao rodeio? De uma vez por todas, precisava se convencer
de que deveria pensar com objetividade quando estivesse tratando com aquela mulher.
A brincadeira não parecia mais uma brincadeira e era isso o que o preocupava. Desde
quando as sensações que ela provocava nele haviam se transformado em algo que não
queria mais ir embora?
Mais intranquilo do que queria admitir, Flynn resolveu que até Cedar City eles
só conversariam sobre o rodeio. Mesmo que tenha reparado naquilo Tate não fez
nenhum comentário, aparentemente muito satisfeita com a solução.
Uma hora mais tarde eles pararam no estacionamento por trás da arena e se
separaram, indo se preparar para as diferentes competições de que iam participar...
como dois desconhecidos que desembarcassem de um ônibus.
Flynn não devia ter voltado a pensar nela depois daquilo. Em geral a cavalgada
de potros selvagens no pêlo era a primeira competição naquele tipo de evento,
realizando-se logo depois da cerimônia de abertura. Assim sendo, sempre que se apro-
ximava das baias, ele não pensava em nada além do animal que iria montar. Naquele dia,
porém, era a prova de Tate que o importunada, não a dele. Ela precisava ganhar, não só
pela precária situação financeira em que se encontrava mas também porque uma outra
derrota fatalmente a deixaria com o moral muito baixo.
Mas será que ele também não precisava levantar um pouco o moral? Afinal
de contas, há algumas provas que não ganhava nada. Por que não pensava em resolver
os próprios problemas, deixando que a moça resolvesse os dela? Era justamente o que
ele queria fazer. Perambulando por trás das baias, Flynn procurou se lembrar do que
sabia sobre Spinter, o animal que, obedecendo ao sorteio, ele deveria montar naquele
rodeio. Tão logo saía da baia e se via na arena, a égua preta tinha o hábito de rodopiar
e saltar, mudando de direção no instante em que o peão imaginava ter entrado no
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ritmo dela. Se não tivesse muito cuidado ele poderia acabar com a cara no chão. Por
isso, precisava tirar Tate do pensamento para se concentrar apenas naquilo.
Mesmo assim foi a imagem dela que ele viu no instante em que se colocou no
lombo da inquieta égua. Logo depois disso não foi possível pensar em mais nada. Um
ajudante abriu o portão e o animal saltou para a arena como uma fera enfurecida.
Flynn segurou-se com firmeza e fez o corpo pender para a esquerda. Já vira
uma dúzia de vezes aquela égua entrar na arena e prontamente rodopiar para aquele
lado, jogando o cavaleiro no chão sem a menor dificuldade. Naquela vez, porém, em vez
dos saltos costumeiros, Spinter firmou no chão as patas dianteiras e ergueu bem alto
as traseiras. Tomado de surpresa, por muito pouco Flynn não voou por cima da cabeça
do animal. Segundos mais tarde, quando a campainha soou, ele ainda estava com as
pernas apertando a barriga da enfurecida égua.
Não chegou a ser a apresentação mais elegante que Flynn já fizera até então,
mas a pontuação foi muito boa, deixando-o em segundo lugar. Mesmo assim havia três
outros competidores inscritos para a mesma prova e qualquer um deles poderia
superá-lo, o que o deixaria sem nenhum prêmio em dinheiro.
Inquieto, Flynn ficou andando de um lado para outro por trás das baias
enquanto os três peões se apresentavam, ao mesmo tempo que prestava atenção nos
sons que vinham da arquibancada. Aplausos entusiasmados significariam que ele não
teria o que comemorar naquele dia. Mas as provas de cavalgada em potro no pêlo
chegaram ao fim sem que a assistência voltasse a se pronunciar. Instantes mais tarde
o apresentador anunciou pelo alto-falante os dois primeiros colocados. Ouvindo o
próprio nome, Flynn viu-se cercado por pessoas que queriam cumprimentá-lo.
Feliz consigo próprio, ele queria se encontrar imediatamente com Tate, mas
lembrou-se de que ela ainda tinha uma difícil prova pela frente e achou melhor não
distraí-la. Subindo para a arquibancada cheia de gente, ficou mudando de lugar a toda
hora, impaciente, enquanto esperava pela prova dos cilindros.
Tate foi a primeira a se apresentar, o que não a deixava numa situação muito
cômoda. Na verdade ela corria contra o relógio e não contra outras competidoras,
quando seria bem melhor se soubesse a marca que deveria superar. Mais nervoso do
que se estivesse ele próprio participando da competição, Flynn inclinou-se para a
frente quando o nome dela foi anunciado e conteve a respiração ao vê-la aparecer na
arena a todo galope, as rédeas de Doce Mel bem soltas.
Segundos depois de ter entrado na arena, Tate estava além da linha de
chegada, desmontando. O tempo obtido não era um recorde, mas chegou perto... muito
perto. Flynn abriu um enorme sorriso. Achando que já vira o que queria ver, desceu
rapidamente da arquibancada e foi ao encontro dela.
Tate estava por trás das baias, tentando acalmar Doce Mel, mas quem parecia
excitada além da conta era ela própria. Tinha as faces coradas e os olhos azuis
brilhando muito, como uma criança que acabasse de receber o presente de Natal.
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não se lembrava de ter sentido tanto constrangimento ao conversar com uma mulher.
Como se tivesse vontade própria, o corpo dele apresentava reações muito estranhas,
principalmente calor e arrepios, e evidentemente a causa daquilo era a presença de
Tate. Ah, ele não estava gostando nada daquilo. Talvez um pouco de tempo... Era isso!
Ele só precisava de um pouco de tempo para clarear as idéias.
Naquela noite, com os olhos abertos na escuridão do quarto de hóspedes
enquanto o resto da casa dormia, Flynn procurou colocar os pensamentos em ordem.
Mas havia algo dentro dele que desafiava a lógica, uma inquietação que precisava de
alívio. Irritado com Tate e consigo próprio, ele pensou naquilo durante horas mas não
chegou a conclusão nenhuma. Quando sucumbiu ao sono foi por puro cansaço.
O dia seguinte foi em parte uma repetição do que já havia acontecido. Eles
dois se saíram bem nas respectivas competições do rodeio em Mesquite, ganharam
bons prêmios em dinheiro, mas não houve nenhuma comemoração espontânea. Na volta
para casa, o tratamento formal que dispensavam um ao outro deixou Flynn com os
nervos à flor da pele. Bem que ele queria tomar Tate nos braços para desafiá-la outra
vez a dizer que não sentia nada por ele.
O bom senso o convenceu a se conter. Jamais havia perdido a cabeça com
uma mulher e não iria deixar que isso acontecesse agora. Apenas para se pôr à prova,
Flynn abordou um assunto que, na noite anterior, havia resolvido evitar.
— Agora que tem Maggie para tomar conta do seu pai, imagino que você
voltará ao circuito dos rodeios. - ele disse, com estudada naturalidade, enquanto o
furgão trafegava a caminho do sítio. — Qual será sua próxima parada?
— Flagstaff. - respondeu Tate. — Depois irei para Durango, Raton e Golden, no
Colorado. Por quê?
— Bem, nenhum motivo especial. - declarou Flynn, encolhendo os ombros. — É
que eu também estou pretendendo participar desses mesmos rodeios. Já que vamos
seguir o mesmo roteiro, acho uma estupidez usarmos dois veículos. Dividir despesas é
uma coisa que não faz mal a ninguém. Assim sendo, achei que podíamos tentar outra
vez economizar algum dinheiro.
Era uma sugestão lógica... embora fosse a última que Tate esperava ouvir dele.
Flynn se mostrava tão distante desde a última vez em que a beijara, dando a
impressão que estava arrependido e mal via a hora em que poderia ir embora. Tate
ficou olhando para ele, espantada, sem saber direito o que pensar, recriminando-se
por causa da excitação que sentia com a perspectiva de passar um bom tempo na
companhia dele.
Dando-se conta de que estava realmente levando a sério aquela proposta, ela
quase entrou em pânico. Estaria por acaso perdendo o juízo? Certamente eles
poderiam economizar um bom dinheiro viajando juntos, mas quanto aquilo acabaria
custando em sofrimento?
Há várias noites que Flynn Rawlings era o único habitante dos sonhos de Tate,
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isso quando ela não ficava várias horas acordava, pensando apenas naquele sorriso
matreiro e tentador. E tudo que ele fizera tinha sido beijá-la duas vezes. Em que
estado ela ficaria depois de atravessar o país com ele, partilhando cada momento de
um longo verão? Só de pensar naquilo Tate sentia um estremecimento.
Não, ela não poderia concordar, mesmo que fosse para economizar uma pequena
fortuna. E, já que dinheiro não era problema para ele, por que Flynn se mostrava tão
interessado em poupar gastos? Aquele, pensamento a deixou subitamente irritada. Ah,
ele só podia estar brincando! A família Rawlings tinha dinheiro para jogar fora e Flynn
participava do circuito de rodeios por pura diversão. Ele não precisava daquilo.
— Acho que não. - ela disse, num tom decidido. — Agradeço pelo seu gesto de
caridade, mas não estou precisando. Haily e eu podemos nos arranjar sozinhas.
— Caridade? - explodiu Flynn, voltando para ela os olhos arregalados. — Que
caridade, mulher? Que história é essa, afinal?
— Dinheiro. - esclareceu Tate, encarando-o. — Não existem segredos no
circuito, Flynn. Eu sei tudo sobre a sua família e sobre a fazenda que vocês possuem
no Novo México.
— E daí?
— E daí que você não pode ficar aí fingindo ser um pobretão que precisa
economizar uns trocados. Essa história de dividir despesas não passa de conversa
fiada. Você só fez a proposta porque sabe que no momento a minha situação financeira
é bem difícil.
— E se for isso?
Agora olhando fixamente para a estrada, Tate não reparou que ele estava com o
semblante fechado. O medo dela era, olhando-o nos olhos, acabar engolindo o orgulho
para agarrar a chance de estar ao lado deles todos os dias.
Então ela apertou as mãos sobre as coxas.
— Posso não dar essa impressão, Flynn, mas fico sinceramente grata pela sua
oferta. Só que não posso aceitar. Haily e eu iremos na nossa pick-up... ou não iremos.
As palavras dela eram de arrependimento, mas igualmente carregadas de
determinação. Flynn apertou o volante com força e trincou os dentes, enraivecido.
Sentiu vontade de dizer que também era um homem de princípios e que não
se aproveitava da folgada situação financeira da família. Sem contar aquele furgão,
que havia recebido de presente dos irmãos, juntamente com uma certa quantia em
dinheiro da qual não existia mais nada, mantinha-se exclusivamente com o que
conseguia ganhar montando potros selvagens no pêlo, semana após semana. O dinheiro
que embolsava com a venda das peças de madeira entalhada era tão pouco que nem
podia ser levado em conta. Bem que podia dizer isso àquela mulherzinha orgulhosa. Só
que ele também tinha o seu orgulho.
— Não leve tão a sério o que eu disse. - ele voltou a falar, embora sem a frieza
que desejava. — Foi apenas uma sugestão, provavelmente das mais idiotas. Eu
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Capítulo VI
O acaso era mesmo um demônio traiçoeiro, concluiu Flynn uma semana e meia
mais tarde.
Agora que ele havia resolvido que não queria nada com Tate Baxter, a toda
hora estava se encontrando com ela. Tinha ido a Price, exatamente como havia
planejado, mas a participação no rodeio fora um fiasco e ele não conseguira colocar um
único tostão no bolso. Desgostoso, rumou para Durango... onde foi encontrar Tate e
Haily numa lanchonete, comendo sanduíches e tomando refrigerantes.
Aquilo não devia surpreendê-lo. Já sabia que Tate estaria em três dos cinco
próximos rodeios dos quais ele participaria. Além disso, aquele era um país livre e
ninguém tinha nada a ver com o que a moça resolvesse fazer... muito menos ele. Tate
poderia segui-lo pelo país inteiro, inscrever-se em cada rodeio no qual ele também
estivesse que isso não o afetaria em absolutamente nada. No entanto, sempre que ele
começava a pensar que havia conseguido tirá-la do pensamento, acabava cruzando os
olhos com os de Tate e vinha outra vez aquela vontade quase incontrolável de correr
para abraçá-la. Naturalmente Flynn não fazia isso. Na verdade nem chegava perto
dela. No entanto, sempre que aquilo acontecia, dormir à noite se tornava um
verdadeiro suplício. Quando conseguia, ficava sem defesas contra a mulher que o
visitava nos sonhos para acumulá-lo dos mais estonteantes carinhos.
Desgostoso com ela e consigo próprio, Flynn começou até a achar difícil
suportar a rotina dos rodeios. Os dias eram muito longos, as competições só
aconteciam no final da tarde e ele invariavelmente acabava pensando em Tate.
Lembrava-se de todas as conversas que tinham tido, mas era a afirmação dela de que
ele não levava a sério os rodeios que realmente o fazia sofrer. A crítica o atingira em
cheio.
Durante os treinamentos, Flynn se viu observando os mais bem sucedidos
cavaleiros daquela modalidade, como Shorty Hawkins e Winn Nelson, homens que
estavam no circuito há vários anos, trabalhavam duro para aprimorar a técnica e
ganhavam um bom dinheiro naquela atividade. Todos eles se esforçavam para fazer um
único movimento ao esporear o cavalo, uma coisa que sempre conquistava preciosos
pontos junto aos juizes.
Nove vezes em dez, não era isso o que acontecia com Flynn. Ele era um
cavaleiro do tipo ―saltitante e desengonçado‖, um estilo que obviamente o prejudicava.
Isso significava apenas uma coisa: precisava trabalhar muito para melhorar a técnica.
Determinado a isso, Flynn pediu emprestado a um amigo um cavalo de pau
mecânico para praticar o ato de esporear. Como não podia ficar muito tempo com à
máquina, devolveu-a e arranjou um fardo de feno. Colocando-se sobre o fardo como se
estivesse no lombo de um cavalo, golpeava-o com os calcanhares imitando o ato de
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no travesseiro, mas aquilo não adiantou muito. Ele não conseguia dormir mesmo.
E a temperatura havia caído bastante, o que não era normal, já que o verão
ainda estava na metade. Depois de bater na nuca para espantar um dos mosquito que
infestavam o lugar, Flynn levantou-se e vestiu-se novamente. Já que nem tão cedo
conseguiria dormir, de nada adiantaria ficar ali para servir de banquete aos mosquitos.
Seria bem melhor sentar-se no lado de fora da barraca para fazer algo construtivo.
Instantes mais tarde ele estava sentado na cadeira de lona que apanhou no
furgão. Acendendo a lanterna portátil que pendurou num galho da árvore embaixo da
qual havia armado a carraca, pôs-se a entalhar uma cena de rodeio num pedaço de
madeira, usando o canivete que tirou do bolso.
— O ócio é o pior dos conselheiros. - ele filosofou, enquanto trabalhava.
Como fazia aquilo apenas para distrair a mente e dar um pouco de trabalho
às mãos, Flynn não prestou muita atenção na figura que pouco a pouco foi aparecendo
no pedaço de tábua. Quando reparou no que estava fazendo, sentiu raiva de si mesmo.
— Mas que inferno!
Feito apenas com o canivete, o trabalho tinha um acabamento apenas
sofrível. Mesmo assim, até um cego veria que aquele entalhe mostrava Tate na sela de
Doce Mel, com os cabelos ao vento, conduzindo a égua em volta de um cilindro de
metal.
Por um bom tempo ele ficou apenas olhando para o entalhe, com a testa
franzida. Já havia presenciado aquela cena inúmeras vezes e, mesmo sendo ele o autor
da obra, considerou que o rosto ali retratado mostrava com fidelidade a determinação
que sempre se via em Tate quando ela competia.
A certa altura, como se precisasse urgentemente fazer aquilo, Flynn jogou o
entalhe sobre uma pilha de madeira que havia ali perto, com uma pressa que, em outras
circunstâncias, teria achado cômica. Logo em seguida pôs-se de pé, pegou uma toalha e
marchou para os chuveiros do acampamento, decidido a tomar um banho.
A água morna estava uma delícia e o banho serviu para deixá-lo mais
relaxado. Agora talvez o sono resolvesse chegar. Flynn estava na metade do caminho
de volta à barraca quando ouviu um barulho e levantou a cabeça. Tate vinha
caminhando em sentido contrário, como se houvesse saído de um dos sonhos que ele
andava tendo.
Perdida nos próprios pensamentos, ela usava uma blusa de malha branca de
mangas compridas, um short amarelo que deixava à mostra as pernas bronzeadas e
sandálias de tiras de couro muito finas. Só então constatando que eles estavam no
mesmo acampamento, Flynn sentiu um sobressalto. Vestida daquele jeito e com os
cabelos presos num rabo-de-cavalo, ela mais parecia uma adolescente que
desabrochava, fresquinha, absolutamente linda...
Como não imaginava que ninguém pudesse tomar banho àquela hora da noite,
Tate quase esbarrou nele. Havia luzes por ali, para facilitar a caminhada das pessoas
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acampadas, mas vários segundos se passaram antes que ela percebesse que estava
bem diante de Flynn Rawlings.
Ah, não! Aquele homem a perseguia desde que saíra do sítio do pai, primeiro
em Durango e agora ali em Raton. Desse jeito, como ela conseguiria afastá-lo do
pensamento?
Flynn Rawlings devia se achar irresistível e na certa estava determinado a
convencê-la disso. Já era mais do que hora de dizer a ele que isso jamais aconteceria!
Tate encarou-o com os olhos fuzilando e colocou as mãos na cintura.
— O que pensa que está fazendo aqui?
Obviamente Flynn não esperava aquela pergunta, porque pareceu confuso.
— Estou indo para a minha barraca. Você ficou com a impressão de que eu
estava fazendo alguma outra coisa?
— Ora, não se faça de inocente! - despachou Tate. — Você entendeu a
minha pergunta. O que está fazendo aqui?
Flynn poderia dizer que estava, participando de um rodeio, mas isso ela já
sabia. Então ergueu as sobrancelhas, achando aquilo até engraçado.
— Pensei que a resposta seria muito óbvia, mas pelo jeito me enganei. O que
acha que estou fazendo aqui?
— Está me seguindo! - ela explodiu, instantaneamente percebendo que
acabava de revelar o desespero em que se encontrava.
Tate respirou fundo, procufanáo se controlar, embora soubesse que travava
uma batalha perdida. Gostasse ou não disso, ela não conseguia permanecer indiferente
diante daquele homem, menos ainda quando ele vestia apenas uma calça jeans. Bastou
olhar para aquele peito largo e musculoso para que ela sentisse a garganta seca. Por
que, Deus do céu, ele tinha que ser atraente daquele jeito?
— Você está me seguindo, sim. - ela repetiu, com uma frieza que não foi
fácil mostrar. — E eu não estou gostando nada disso. Preferia que você estivesse bem
longe daqui.
— Ah, preferia, é? - inquiriu Flynn, rindo. — Azar o seu, doçura, porque não
pretendo ir a lugar nenhum. Se não está gostando da situação, por que não vai embora
você?
— Mas eu cheguei aqui primeiro!
Ouvindo aquele argumento infantil Flynn riu de verdade.
— Se eu soubesse que nós estávamos disputando uma espécie de corrida,
teria trazido uma fita azul para você.
Tate continuou séria.
— Não tem graça nenhuma, Flynn.
— É, não tem mesmo. - ele concordou, o que a surpreendeu. — Você já parou
para pensar que o que está acontecendo aqui talvez seja algo bem maior do que nós
dois? Como o destino, por exemplo? Talvez devêssemos desistir de combater isso?
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Tate ouviu o convite e concluiu que não conseguiria resistir mesmo que
soubesse que iria correr risco de vida.
Flynn segurou na mão dela e começou a andar. No instante seguinte uma
pick-up entrou no estacionamento do acampamento, bem perto dali. O motorista nem
notou a presença deles, mas a luz dos faróis fez com que Tate apertasse os olhos e
voltasse à realidade.
Deus do céu! O que estava fazendo?
Parando onde estava ela começou a esfregar os olhos fechados. O que havia
sentido só podia ter sido uma reação hormonal. Sim, porque Flynn Rawlings queria
apenas brincar com ela, nada além disso.
Recuando, Tate o encarou na escuridão.
— Não, eu não vou a lugar nenhum com você, menos ainda à sua barraca.
Espantado, Flynn parecia não entender aquela súbita mudança.
— Tate, doçura...
— E pare de me chamar de doçura! - ela o proibiu, com os olhos fuzilando. —
Então achou que eu não perceberia a sua intenção?
— Intenção? Mas que história é essa, mulher? Minha intenção é fazer amor
com você.
— Não, não é nada disso. - persistiu Tate. — Você quer me seduzir porque
foi repelido por mim. Não consegue engolir a rejeição. Por que não admite isso de uma
vez? - ela disse aquilo com as mãos na cintura e o corpo meio inclinado para a frente,
numa postura de desafio. — Você jogou esse seu charme barato em cima de mim e
achou que eu ia me derreter toda. Como isso não aconteceu, sentiu-se atingido em seu
orgulho de macho. Então resolveu provar que podia fazer o que bem entendesse
comigo.
— Eu não quis...
— Quis, sim! – Tate bateu o pé no chão, enraivecida. — Pois, se quiser, vá
tirar essa prova com outra mulher. Eu já sucumbi, ao charme de um peão de rodeio
mas isso não voltará a acontecer. Portanto, fique longe de mim. Está me ouvindo? Fique
longe de mim!
Dito isso ela girou nos calcanhares e, de costas para ele, começou a se
afastar, deixando implícito que não devia ser seguida. Flynn nem tentou desobedecer.
Enfurecido, ficou parado no meio da escuridão procurando a todo custo se
convencer de que nem estava se incomodando. Mas sabia que se incomodava, e muito.
E o pior era que as palavras dela haviam chegado muito perto da verdade.
Flynn até tentou negar aquilo. Caminhando de volta à barraca, argumentou
consigo próprio que não tinha por que se envergonhar. Tate era uma mulher bonita e
ele se sentia atraído por ela, o que era perfeitamente natural. Não tinha nenhum
motivo além desse para persegui-la.
Flynn sentou-se na cadeira de lona diante da barraca mas logo se levantou,
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inquieto. Queria ter alguém ali para esmurrar, socar à vontade... logo ele, um sujeito
que quase nunca recorria à violência.
Admitia que a frieza de Tate no primeiro encontro o atingira em cheio. Mais
do que isso, tinha sido como se o amor próprio dele houvesse sido jogado na lama. Não
que ele esperasse que todas as mulheres caíssem prontamente aos seus pés. Mas nin-
guém jamais o havia tratado como um leproso, e tinha sido essa a atitude de Tate
Baxter. Flynn não gostara daquilo, resolvendo provar a si próprio que a moça não era
tão indiferente quanto fingia ser.
―Eu já sucumbi ao charme de um peão de rodeio mas isso não voltará a
acontecer. Portanto, fique longe de mim‖.
A lembrança daquelas palavras só aumentava a raiva que ele estava sentindo.
Jogar um pouco de charme não o tornava igual ao pai de Haily. Aquele pilantra havia se
aproveitado da inocência de Tate, engravidando-a, para logo depois fugir como o mais
desclassificado dos homens. Flynn não podia gostar da comparação. Jamais faria nada
parecido e ela devia saber muito bem disso.
E ele não se sentia na obrigação desculpas por desejá-la.
Ah, isso não! Menos ainda quando sabia que eta também o desejava. Tate
poderia se enfurecer, gritar, esbravejar contra aquele fato, mas jamais poderia negá-
lo. Não quando ficava tonta ao menor toque dele.
Bem que Flynn queria sentir por aquela mulher apenas desejo. Não haveria
complicação em lidar com a luxúria, a atração do sexo... mas não era esse o caso.
Ele gostava de Tate, gostava demais.
Pegando outra vez o pedaço de madeira em que tinha estado trabalhando,
Flynn correu o dedo pelo rosto entalhada. As feições delicadas não conseguiam
esconder a vibração, o fogo que havia naquele rosto. Ele quase sentia como se o
estivesse tocando de verdade.
Pela primeira vez na vida Flynn sentiu vontade de impressionar uma mulher,
mas já sabia que charme e sorrisos não adiantariam nada com Tate. Precisava
descobrir uma outra forma. Não seria fácil, naturalmente. Depois daquela noite, era
pouco provável que ela o deixasse chegar perto. Mas ele a faria mudar de opinião...
embora ainda não soubesse como.
Flynn pegou o canivete, sentou-se e continuou a entalhar a madeira, enquanto
inúmeras possibilidades passavam pela cabeça dele, uma após outra.
Capítulo VII
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companheiros.
Estava rindo com Tex Sanchez, que acabava de contar uma piada, quando
viu Haily subindo os degraus da arquibancada.
— Ei, Pimentinha. - chamou Flynn, sorrindo ao ver a pequena amiga. — Por
onde andou? Você perdeu a minha apresentação.
Instantaneamente o rosto da garota se abriu num sorriso.
— Eu sei, e você venceu! Que cavalo montou?'
— Matador. - respondeu Flynn, reparando que Haily arregalava os olhos.
Acompanhando os rodeios há já um bom tempo, ela sabia o nome não só de todos
os cavaleiros como também dos cavalos, conhecendo também a reputação dos animais.
— Uau! - exclamou a garotinha, acomodando-se ao lado dele. — Você montou
Matador? Ah, eu queria ter visto isso... Infelizmente acabamos de chegar.
Embora aquela informação não o surpreendesse, Flynn ergueu as sobrancelhas.
— Como assim? Eu pensei que sua mãe gostasse de chegar pelo menos uma hora
antes da competição.
— É verdade, mas ficamos o dia inteiro perambulando por aí. Mamãe parece
abatida... como se estivesse doente ou coisa assim.
Flynn apertou os olhos.
— E ela está doente?
— Acho que não. Deve ser porque não dormiu direito na noite passada. Na
certa ela só está cansada. - então a menina voltou os olhos para a arena. — Oh, Deus!
A corrida dos cilindros já vai começar. Mamãe prometeu que, se ela vencer, nós vamos
sair para comer uma pizza.
A primeira concorrente irrompeu na arena, a banda começou a tocaruma
canção rápida e não houve mais tempo para palavras. Sentada na beirada do degrau da
arquibancada, Haily não desviava os olhos da mulher que voava em volta do primeiro
cilindro, montando um belíssimo animal preto, os cabelos presos no rabo-de-cavalo.
Flynn teve que reconhecer o valor daquela competidora. Ela era muito boa no que
estava fazendo, muito boa mesmo. E era apenas a primeira a se apresentar. Se Tate
estava mesmo disposta a ganhar aquela competição, teria que suar o traseiro.
A segunda participante entrou na arena e conseguiu o que parecia
impossível: uma pontuação ainda mais alta.
Haily mordeu o lábio inferior e olhou para Flynn.
— Parece que vai ser bem complicado para mamãe, não é?
Hesitante, ele pensou em dizer que não tinha dúvidas de que Tate bateria
aquelas duas sem a menor dificuldade. No entanto, Haily acompanhava a mãe nos
rodeios desde muito pequena e não se deixaria enganar com facilidade.
— É, pode ser. - admitiu Flynn. — Mas você não deve dar a pizza como
perdida. Sua mãe é uma lutadora, o tipo de pessoa que se fortalece quando está numa
situação difícil.
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avô.
Espantada, Haily contemplou a figura entalhada na madeira e prontamente
a reconheceu.
— Puxa, é mamãe!
— Pois é. - confirmou Flynn, rindo. — Não foi nada premeditado, mas acabou
saindo assim. Achei que devia mandar para ela.
Haily contemplou outra vez a peça entalhada.
— Ah, Flynn... é tão bonito! E eu acho que você devia entregar
pessoalmente? Venha. Ela está bem ali.
―Fique longe de mim!‖, Flynn lembrou-se da advertência e balançou a cabeça.
— Não, prefiro que você faça isso por mim, por favor. Preciso viajar e você
tem uma pizza para comer. Agora vá, Pimentinha. Nós nos veremos por aí.
Era possível ver nos olhinhos da menina que ela queria insistir, mas Flynn não
lhe deu mais chances. Pegou a maleta de equipamentos, abraçou a pequena amiga e saiu
na direção contrária, dizendo a si mesmo que havia tomado a decisão certa.
Uma vez na estrada, porém, sem parar de pensar na mulher que havia
deixado para trás, já não estava tão certo disso.
Flynn Rawlings era realmente o homem mais impertinente que Tate já havia
conhecido! Mantinha-se a distância, mas esteve em cada rodeio de que ela participou
nas duas semanas que se seguiram. Verdade que não fazia nenhuma tentativa de
aproximação, mas continuava a segui-la como uma mosca importuna.
Mesmo quando Flynn não estava ao alcance da vista, havia a peça de madeira
entalhada para não deixar Tate se esquecer da existência dele. Todos os dias, vezes
sem conta os olhos dela eram atraídos para aquele inegavelmente belo trabalho
artístico, como se aquilo fosse um imã. Quantas horas ele teria levado trabalhando no
entalhe, pensando nela? Fascinada, apesar do esforço que fazia em contrário, Tate
imaginava as mãos dele golpeando à madeira, moldando a imagem...
Ela até pensou seriamente em jogar o entalhe no lixo, se possível junto com
as lembranças do artista. Mas era um trabalho tão bem feito que seria até pecado
fazer aquilo. Essa conclusão a deixou ainda mais enfurecida. Ah, mas que homenzinho
insuportável! De forma nenhuma ela deixaria que ele se aproximasse.
Mas ele se aproximou. Não disse uma única palavra, mal mexeu a cabeça
quando os olhos deles inesperadamente se encontraram, mas aquele encontro afetou-a
muito mais do que ela gostaria de admitir. E o pior era que Tate não podia fazer
absolutamente nada para enxotá-lo. O país era livre e ele podia se inscrever no rodeio
que bem quisesse e entendesse.
Seria bem mais fácil ignorá-lo se agora ele não estivesse levando tão a sério os
rodeios. Mas Flynn parecia estar se empenhando muito naquilo. Pelo que dizia Haily,
que o visitava sempre que tinha alguma chance, ele realmente trabalhava duro para se
aprimorar. E o esforço extra estava dando resultados: Flynn agora vencia com uma
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estava no mesmo acampamento em que ele, Tate e mais alguns participantes do rodeio
haviam se instalado? Mas quem iria imaginar que Calhoun pudesse tentar alguma coisa
no meio de tanta gente? Além disso, o próprio Flynn estava dormindo na barraca
armada a poucos metros do furgão. Aquele canalha era mesmo muito audacioso!
Flynn consultou o relógio, soltou outro palavrão e pegou a maleta de
equipamentos. Se queria chegar a Hinton a tempo de participar do rodeio, teria que
arranjar uma carona que o levasse pelo menos até lá perto. Do contrário, seria
desclassificado pela segunda vez num curto espaço de tempo.
Ainda era cedo, pouco mais de nove da manhã, mas não havia uma única
nuvem no céu e a temperatura já começava a subir. Sem esperar mais, Flynn saiu
caminhando pelo acostamento, vez por outra olhando para trás e rezando para que
passasse alguma alma caridosa.
Três veículos, duas pick-ups e um caminhão, passaram por ele na meia hora
que se seguiu. Nas três ocasiões Flynn ergueu o polegar e preparou-se para correr
caso o veículo diminuísse a velocidade para encostar adiante, no acostamento, mas em
vão.
Antes de retomar a caminhada, ele só podia desejar que aqueles egoístas
um dia ainda precisassem pedir carona na estrada, num dia de muito sol.
Oito quilômetros adiante do local onde avistara o furgão abandonado Tate
viu Flynn caminhando pelo acostamento. Ao ouvir o barulho da pick-up ele estendeu a
mão esquerda e ergueu o polegar, mas continuou olhando para a frente, dando a
impressão de que não esperava muito conseguir a carona.
Há vários quilômetros Haily vinha entretida numa revista de histórias em
quadrinhos, mas quando Tate tirou o pé do acelerador ela ergueu a cabeça e olhou em
volta, espantada.
— Por que está parando? Algum problema? - quando viu o homem que
caminhava alguns metros adiante delas, a menina abriu um sorriso. — Aquele é Flynn!
— É, sim. - confirmou Tate. — Nós passamos pelo furgão dele alguns
quilômetros atrás. - parando no acostamento adiante do andarilho, ela abaixou o vidro
da janela e esperou que ele se aproximasse. — Precisa de uma carona, peão?
Muito suado e sentindo os pés doendo, Flynn empurrou o chapéu um pouco
para trás e sorriu. Ah, como era bom vê-la. A vontade dele era enfiar a cabeça pela
janela do veículo para beijá-la naquele instante mesmo.
— Talvez. Para onde está indo, doçura?
Tate engoliu em seco ao ouvir a forma como elé a tratava, e com a maior
naturalidade. Morreria antes de deixar que ele soubesse disso, mas havia sentido uma
saudade muito, muito grande.
— Que tal uma oficina em Fort Worth? Parece que é disso que você está
precisando.
— Para mim está ótimo. Vou pôr minhas coisas lá atrás.
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Fort Worth ficava apenas trinta minutos adiante e logo eles encontraram
uma oficina. Enquanto Flynn ia falar com o mecânico, Tate ficou com a filha no
estacionamento, achando que ele voltaria apenas para agradecer pela carona, já que
certamente permaneceria ali aguardando que o furgão fosse rebocado e consertado.
Quando ele retornou, porém, logo deixou claro que não estava com aquela intenção.
— Espere só mais um pouco que eu não vou demorar. Depois nós pegaremos
a estrada outra vez.
Surpresa, Tate procurou ignorar as batidas rápidas do coração.
— Nós pegaremos a estrada? Mas... e o seu furgão?
— Eles vão demorar alguns dias para fazer o conserto e eu terei que deixá-
lo aqui. Você está indo para Hinton, não é?
— É, sim, mas...
— Ótimo. Então eu pegarei uma carona com você e Haily. Espere só um
minutinho.
Tate queria protestar, mas não conseguiu pronunciar uma só palavra nesse
sentido. Agora com o coração disparado e a garganta seca, ficou observando enquanto
Flynn acertava com o mecânico para que o furgão fosse rebocado até a oficina e
ficasse guardado ali depois do conserto. Feito isso ele correu para a pick-up e se
acomodou no assento, com a maior sem-cerimônia. Instantes mais tarde, sem que Tate
soubesse bem como, eles estavam a caminho de Oklahoma.
Com Haily entre eles dois, Flynn apoiou o braço na janela, espichou as
pernas e pôs-se a esbravejar contra Grady Calhoun. Com os olhos na estrada, Tate
procurava prestar atenção naquelas palavras enraivecidas. No entanto, embora quase
não olhasse para ele, estava plenamente consciente da presença daquele homem.
Percebia os movimentos das pernas compridas e os cabelos pretos que se agitavam ao
vento. Acima de tudo, sentia o calor da mão que ele havia colocado por cima do banco,
tão perto dela que quase chegava a tocá-la.
Tate sentiu a pulsação acelerada. Apertando o volante, procurou lembrar-se de
que aquele era o mesmo homem que havia passado quase um mês tentando provar
alguma coisa a ela e a si próprio... provar que seria capaz de fazê-là sentir desejo por
ele. Bem, Flynn havia conseguido o que pretendia, a tal ponto que ela chegava a passar
noites e noites acordada. Mesmo assim ele continuífva a ser um homem desprezível,
um sedutor barato que não merecia a menor confiança.
Bem que ela devia ter passado direto na estrada, deixando que ele se
arranjasse sozinho. Mas Tate sabia que não teria coragem para fazer isso. Era o
destino. Outra vez o destino entrava em cena para juntá-los. A cada dia que passava,
as vidas deles iam se enredando mais e mais. Como se fossem bonecos de um teatro de
marionetes, eles pareciam à mercê de uma força maior. E aquilo a deixava
amedrontada. Estava indo pelo mesmo caminho que trilhara com o pai de Haily e já via
o desastre se desenhando adiante. E tudo levava a crer que não havia mais tempo para
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a multa. Portanto, não se preocupe que ninguém vai me jogar atrás das grades. - então
ela olhou pelo retrovisor para a viatura da polícia municipal. — Acho até que nem vou
ser multada. Aquele guarda continua parado, olhando para outro lado. Se fosse me
parar ele já teria saído atrás de nós.
— Na certa está querendo pegar um peixe maior. - interpretou Flynn,
quando a rua fez uma curva e a viatura da polícia desapareceu. — Talvez uma dessas
carretas que atravessam as cidades à velocidade do som.
— É, talvez. - concordou Tate, controlando o pé para que o ponteiro do
velocímetro não ultrapassasse o limite. — Mesmo assim não quero me arriscar mais.
Você já viu aí no mapa onde é o rodeio?
— Vi, sim. Dobre na próxima rua à direita, depois na segunda à esquerda. É
lá.
Flynn sabia que Tate estava dirigindo no limite da velocidade, mas tinha a
impressão de que a pick-up apenas se arrastava. Embora eles agora não estivessem a
mais de dois quilômetros da arena, mal conseguia controlar o nervosismo. Quando Tate
entrou no estacionamento reservado a participantes e funcionários do rodeio,
faltavam dois minutos para o início da competição!
Tate freou a pick-up tão logo atravessou o portão do estacionamento.
— Nós nos encontraremos com você lá dentro, depois que eu achar um lugar
para parar. - ela mal teve tempo de dizer, enquanto Flynn descia e corria para pegar a
maleta de equipamentos, na parte de trás do veículo.
Com a maleta na mão ele saiu correndo diretamente para as baias. Como
sempre acontecia nos instantes que antecediam um rodeio, aquilo ali mais parecia uma
casa de loucos. Os relinchos dos animais se misturavam com os gritos dos auxiliares.
— Cuidado, campeão! - exortava um deles, repetindo o que o competidor já
estava cansado de saber. — Esse potro tem a mania de saltar para a direita sempre
que entra na arena.
— Está bem firme aí? - perguntava um outro. — Avise-nos quando estiver
pronto.
Flynn ouvia frases como aquelas de todos os lados mas não prestava muita
atenção. Queria saber o cavalo que tinha sido sorteado para ele. Se houvesse trapaça
também naquilo...
— Ei, Rawlings! - chamou-o Joe Martinez, a voz metálica sobressaindo no
meio do barulho. — Nós já íamos desistir de você. Mexa-se, homem. Só tem mais
trinta segundos para se colocar sobre Tiro Certo.
Flynn já havia colocado as esporas e, rapidamente, calçou as luvas.
— Quem vou ter que superar?!
— Calhoun. Foi o primeiro a se apresentar mas ninguém chegou perto dos
pontos que ele conseguiu.
Flynn trincou os dentes, pensando em ir atrás do outro peão para dizer
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exatamente o que pensava dele. Mas aquilo teria que ficar para depois, porque agora
não havia mais tempo nem para um aquecimento. Subindo rapidamente na grade da baia
ele segurou na correia presa ao pescoço de Tiro Certo e montou. Ah, era muito azar
terem sorteado para ele um dos mais ariscos cavalos do país. Deus, o que mais poderia
dar errado naquele dia? Talvez fosse melhor nem querer saber a resposta.
O portão se abriu e Tiro Certo projetou-se para o meio da arena como um
criminoso fugindo da prisão. Enfurecido, saltava muito alto para cair outra vez com as
quatro patas no chão, arrancando gritos da multidão quando novamente se lançava para
cima.
Mesmo sentindo dor no braço Flynn segurava firmemente na correia,
determinado a manter-se no lombo do animal. Cada segundo parecia uma eternidade. A
certa altura ele achou mesmo que havia assumido o controle da situação. No entanto,
logo que aterrissou de um dos seus saltos, o cavalo deu uma rápida guinada para a
esquerda.
— Maldição! - praguejou Flynn, com os dentes trincados. Quando se sentiu
escorregando ele não pôde fazer mais nada. No instante seguinte soltou a correia e
viu-se projetado no ar.
— Oh... — foi o que se ouviu da multidão, em uníssono, quando ele caiu no
chão em meio a uma nuvem de poeira.
Ferido apenas na dignidade, Flynn pôs-se de pé e olhou em volta procurando
o chapéu, que logo encontrou, amassado e coberto de poeira. Enquanto caminhava para
fora da arena, viu-se na obrigação de rir para acompanhar a assistência.
Flynn não estava mais rindo quando, atrás das baias, pôs os olhos em Grady
Calhoun. O outro homem estava encostado num poste e olhava diretamente para ele,
rindo como um idiota. Flynn não precisou de mais nada. Com os olhos faiscando de
raiva, abriu caminho entre as pessoas que se aglomeravam ali e marchou para o lado de
Grady.
Capítulo VIII
Depois que Tate encontrou um lugar para estacionar e levou Doce Mel para um
dos cercados, teve a impressão de que uma hora inteira havia se passado, e não apenas
alguns minutos. Caminhando rapidamente para a entrada da arquibancada e puxando
Haily pela mão, rezou para ter tempo de ver a apresentação de Flynn. Ainda estava na
metade do caminho quando o viu. Com as roupas empoeiradas, obviamente tendo sido
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derrubado pelo cavalo, ele caminhava na direção de Grady Calhoun com intenções
assassinas nos olhos.
Tate empalideceu.
— Ah, não!
Ao lado dela, Haily viu a raiva que havia no rosto de Flynn e parou de andar.
— Meus Deus!
— É isso mesmo, querida: meu Deus! - concordou Tate. — Fique aqui.
Enquanto se deslocava o mais rapidamente que podia, ela reparou que os
auxiliares das baias, bem como vários peões, haviam percebido que estava para
acontecer uma briga e se aglomeravam para apreciar o espetáculo. Irritada, Tate
quase soltou um palavrão. Só havia ali homens adultos, mas pareciam garotos da escola
primária.
Abrindo caminho, ela conseguiu chegar ao local segundos antes de Flynn
parar diante de Grady.
— Mas que coisa, Flynn! - ralhou Tate, colocando-se entre os dois homens
sem parar para pensar na confusão em que podia estar se metendo. Plantando as duas
mãos no peito do enfurecido Flynn, ela procurava mantê-lo afastado do outro peão, que
insultava o contendor sem se preocupar com o fato de que havia uma mulher bem
diante dele. — Pare com isso! Não vai adiantar nada e...
— Saia da minha frente, Tate. - ordenou Flynn, sem ao menos olhar para
ela, já que mantinha os olhos fixos no rosto presunçoso de Grady. — Isso já passou da
conta e eu vou mostrar a esse desgraçado qual é o lugar dele.
— Está bem, mas não assim. - ponderou Tate. — Antes procure se
acalmar...
— Não. - ele se negou, estendendo a mão para afastá-la. Com frieza nos
olhos, Flynn caminhou mais dois passos na direção de Grady Calhoun. Os homens que os
cercavam pareciam igualmente tensos, embora Tate tivesse esperanças de que
estivessem prontos para entrar em ação caso as coisas fugissem ao controle.
— Eu o considerava um competidor de classe, Calhoun, mas não tecia
coragem de me olhar no espelho pela manhã se fizesse as mesmas coisas que você faz
para vencer.
Grady apenas ergueu as sobrancelhas, com o mesmo sorriso descarado.
— Pelo que sei, Rawlings, trabalho duro não é nada que deva envergonhar
uma pessoa. Você está aborrecido porque foi jogado de cara na poeira do chão. Se vez
por outra chegasse no horário; não seria derrubado pelo cavalo como um bobalhão da
cidade numa cavalgada de domingo.
— E se você não tivesse tanto medo de que eu o tirasse do primeiro lugar no
ranking, talvez agisse com um pouco mais de honestidade. Não quer mesmo que isso
aconteça, não é, Grady? Botou na cabeça que quer ser campeão mundial, quer porque
quer sentir o gosto do título, e fará qualquer coisa para afastar quem atravessar o seu
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David torceu o canto da boca. Depois de tantos anos lidando com peões de
rodeio, já sabia que, em casos como aquele, não adiantava muito falar. Mesmo assim
achou que devia dar um conselho.
— Faça como achar melhor, mas não queira resolver nos punhos suas
diferenças com Grady.
Flynn e Tate sabiam que aquilo devia ser levado a sério, embora fosse mais
uma advertência do que uma ameaça. Dificilmente um rodeio apresentava problemas
quando David Hartfield estava nos bastidores. Todos os respeitavam, mas ele sabia
agir com dureza sempre que isso era necessário.
— O que aconteceu? - perguntou Tate, agora calma, depois que o chefe das
baias foi cuidar das suas obrigações. — Você participou da competição?
— Ah, sim. - respondeu Flynn, num tom amargo. — Nós chegamos a tempo
de deixar Tiro Certo me jogar no chão.
Tate fez uma careta.
— Que azar. E onde estava Grady?
— Sentado na grade de uma das baias, observando tudo. A risada que vi na
cara dele era a de alguém que houvesse acertado na loteria.
— E então você foi atrás dele.
— Pois é. - admitiu Flynn. — Mas não ia bater nele... embora sentisse
vontade de quebrar cada um dos dentes daquele cretino. Só queria dizer o que penso
dele.
Tate riu. Agora que a fase crítica havia passado, aquela situação parecia
até engraçada.
— Bem, isso você conseguiu. Nunca vi Grady tão furioso.
Flynn continuou tão sério quanto antes.
— É, mas ele ainda não viu o que é ficar furioso. Se aquele desgraçado
tentar mais um dos seus truques...
Naquele momento o serviço de alto-falantes anunciou o início da corrida dos
cilindros. Pela expressão sombria que viu no rosto de Flynn, Tate percebeu que ele
ainda não havia tirado Grady da cabeça. A hostilidade entre os dois homens era
latente e seria difícil prever o que aconteceria quando eles voltassem a se encontrar.
— Agora preciso trabalhar. - ela disse, preocupada. — Por que não vai para a
arquibancada com Haily? Talvez se acalme um pouco...
— Não se preocupe que não pretendo ir atrás dele, Tate. - respondeu Flynn,
com calma.
— Ora, eu não quis dizer nada disso. - declarou Tate, rindo ao ver que ele não
acreditava. — Está bem, eu não cofioo mesmo em nenhum de vocês dois e, por isso,
acho melhor você ir para a arquibancada com Haily. - então ela olhou para trás e fez
um gesto para que a menina se juntasse a eles. — Acho que ela pensou que você ia
arrancar a cabeça de Grady.
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— Isso pode muito bem acontecer se aquele desgraçado fizer mais uma das
suas. - afirmou Flynn, em voz baixa, já que Haily ia chegando perto. — Olá, Piraentinha!
Acho que por hoje já tivemos emoções de sobra aqui embaixo. Quer ir para a
arquibancada comigo? Nós podemos comer algodão-doce enquanto vemos a sua mãe
correndo em volta daqueles cilindros.
— Oba! - exclamou a menina, excitada com a perspectiva de fazer algo
proibido. — Posso, mamãe? Só desta vez... Por favor, por favor! Prometo que escovarei
os dentes duas vezes antes de ir para a cama e não comerei mais nenhum doce até o
fim do mês.
Tate riu ao ouvir uma promessa que jamais seria cumprida e abraçou a filha.
— Vou deixar desta vez, mas não exagere, está ouvindo? Agora sumam
daqui, vocês dois. Tenho que pegar Doce Mel e me preparar para a competição.
Flynn e Haily desejaram a ela boa sorte e foram se afastando, rindo e
brincando um com o outro como se fossem pai e filha. Tate enterneceu-se ao observá-
los, embora soubesse que aquilo representava perigo. De alguma forma Flynn havia
entrado na vida delas duas, sendo até difícil imaginar que ele não houvesse estado ali o
tempo todo.
Mas era melhor não deixar que um pensamente como aquele se consolidasse.
Do contrário ela iria outra vez enfrentar a desilusão...
— Ei, Tate! - chamou-a David Hartfield, com um meio sorriso nos lábios. —
Será que vai ficar o dia inteiro com esses olhos compridos em cima de Flynn Rawlings?
Por que não aproveita o tempo para aquecer aquela sua égua?
Tate corou fortemente ao ver que era observada atentamente não só por David,
mas também por vários peões e auxiliares, que riram com vontade da observação do
chefe das baias. Agora ela precisava pensar na competição, mas no momento oportuno
diria poucas e boas a David.
— Na hora da prova, tanto eu quanto Doce Mel estaremos prontas. - ela
declarou, com o queixo empinado. — Vocês vão ver!
E ela venceu... naquele dia. O rodeio de Hinton era um eventos de dois dias, o
que significava que cada competidor devia participar de, duas provas iguais. Nos dois
dias atribuíam-se prêmios pequenos, reservando-se para o final do rodeio os prêmios
maiores que seriam dados aos que somassem o maior número de pontos em cada
modalidade. Isso significava que, mesmo peões, que houvessem sido derrubados do
cavalo no primeiro dia, como Flynn, continuavam com chances de ganhar prêmios no dia
seguinte.
Agora eles precisavam arranjar lugar para passar a noite. Não havia área
para camping em Hinton, mas um fazendeiro da região resolvera permitir que os
participantes do rodeio acampassem numa determinada área da fazenda dele. O lugar
não tinha luz elétrica nem água encanada, mas ficava a apenas três quilômetros da
cidade e o homem não cobraria nada. Era a solução perfeita para Tate, já que a pick-
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Percebendo o absurdo das reações que estava tendo, Flynn quis se controlar
mas já era tarde demais. Todo o corpo dele estava quente e tenso. Para complicar, não
soprava a mais leve brisa. Trincando os dentes, ele afastou os olhos da silhueta
sombreada de Tate e deu um sqoo no travesseiro. De nada adiantou. Naquelas
circunstâncias, só adiantaria mesmo tê-la nos braços, linda e nua...
Sentindo o corpo suado por causa do calor, Tate percebeu que Flynn se
mexia na apertada cama buscando uma posição mais confortável. Fechando os olhos ela
procurou ignorar aqueles sons, ignorar aquele homem. Mas não adiantava a mente dar
uma ordem que o corpo se recusava a cumprir. Se ela estava quente e inquieta, não era
apenas por causa do calor... A maior parte da culpa cabia a Flynn! Ele invadira o espaço
dela, tomando conta da pick-up logo ao entrar. Aquele espaço sempre fora suficiente
para ela e Haily, com conforto de sobra, mas agora parecia apertado demais,
opressivo, carente de ar. E o pior era quando ela olhava para a cama em geral ocupada
pela filha e via Flynn deitado ali, os cabelos na testa, o peito descoberto como se
tivesse o único objetivo de tentá-la. Deus, como ele podia ao menos pensar em dormir
com um calor como aquele?
Ao longo da noite ela se fez aquela mesma pergunta pelo menos uma dúzia de
vezes. E a cada minuto ficava mais ressentida. Aquele era o espaço dela, a casa dela
longe de casa. Flynn não tinha o direito de deixá-la tão perturbada com a presença
dele, de uma forma a fazia até prestar atenção na respiração dele. Aquilo não era
direito e ela não podia permitir...
Mas permitia.
Quando Haily se levantou na manhã seguinte, cheia de energia como
sempre, Tate sentia-se como se houvesse travado inúmeras batalhas. Juntando os
minutos que havia conseguido dormir, poderia somar uma hora, talvez duas, no máximo.
E tudo por causa de Flynn... aquele desgraçado! Cada vez que ela havia pregado os
olhos num cochilo leve, lá estava ele para perturbá-la em sonho. Bem que queria
apertar o pescoço dele, esganá-lo, mas sabia que estaria perdida no instante em que
encostasse as mãos naquele homem.
Depois daquela noite Tate teve certeza de que jamais conseguiria ser
indiferente a Flynn Rawlings, por mais que quisesse o contrário. Ele estava se tornando
importante demais para ela... e para Haily. Flynn ia entrando na vida delas duas e a
menina o idolatrava cada vez mais. Qual seria a reação de Haily no dia em que ele as
deixasse para sempre? Isso certamente acabaria acontecendo, porque Flynn tinha
coisas mais importantes a fazer. Na primeira oportunidade Tate conversaria com ele
sobre o assunto.
A oportunidade se apresentou depois do café da manhã, quando Haily
encontrou alguns amiguinhos com quem brincar. Aquela altura Tate estava até irritada,
porque Flyhn aparentemente insistia em permanecer naquele espaço apertado. Por que
pelo menos não ia lá para fora? Era difícil a movimentação de dois adultos ali quando
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Quando ele chegou bem perto, foi como se naquele apertado recinto não
houvesse ar suficiente para os dois. Mesmo assim Flynn não retrocedeu. Não por
enquanto.
— Reconheça. - ele a desafiou. — Você tem medo de nós... disto...
Depois de dar a ela todas as oportunidades para recuar, Flynn ergueu as
mãos e segurou nos ombros dela, percebendo a pulsação acelerada na região perto do
pescoço de Tate. Aquele toque fez com que ele sentisse uma enorme onda de calor.
Oh, Deus! Flynn não se lembrava de ter conhecido outra mulher que o fizesse queimar
daquele jeito.
Com os olhos fixos nos dela, ele foi correndo o dedo por aquele pescoço
latejante, descendo até encontrar o primeiro botão da blusa. Tate continuava a fitá-lo
em silêncio, como se o desafiasse, mas a pele dela estava tão quente quanto a dele.
— Você acha que eu vou me revelar um canalha tão grande quanto o pai de
Haily, e por isso tem medo. - murmurou Flynn. — Isso é compreensível, porque não
invejo a situação em que você ficou. Mas eu não sou como ele, Tate! Que droga! Você
já devia ter percebido que eu jamais faria Haily sofrer.
Por um instante Flynn achou que ela finalmente desistiria de fugir da
verdade para admitir que ele estava com a razão. Tate estremeceu e Flynn juraria
que, pelo menos numa fração de segundo, tinha visto desejo naqueles olhos de safira.
No instante seguinte ela aprumou o corpo, com a expressão de uma solteirona que
acabasse de ouvir uma proposta indecente.
— O que eu sei é que essa conversa está ficando sem sentido. Já tomei a minha
decisão e nada me fará voltar atrás.
Flynn apertou os dentes, percebendo que ela não mudaria de opinião com
nenhum argumento, por mais justo que fosse. Furioso, sentiu vontade de apertar
aqueles ombros e sacudi-la até ficar cansado. Mas não estava tão precisado de
companhia feminina que resolvesse ficar num lugar onde não o queriam.
— Se a minha presença a ofende tanto, por que esperarmos até o final das
competições? Posso parar de perturbá-la agorinha mesmo.
— Isso não é necessário...
— É, sim, doçura. - respondeu Flynn, com frieza, afastando-se para apanhar a
maleta de equipamentos. — Não posso permanecer num lugar de onde estau sendo
enxotado.
Aquelas palavras feriam, mas não tanto quanto o olhar dele, que chegava a
cortar o coração de Tate.
— Não faça isso, Flynn. - ela pediu, instintivamente erguendo a mão para
segurar no braço dele. — Para onde vai?
Flynn repeliu a mão dela e marchou para a porta.
— Vou para a cidade.
— Mas... a cidade fica a três quilômetros daqui!
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— Basta que vocês me enfaixem para que eu possa sair daqui. Dentro de poucos
dias estarei bonzinho.
Aproximando-se mais, Tate perdeu a paciência e resolveu interferir.
— Não seja infantil, Flynn! Acha que é brincadeira ter costelas quebradas?
— A moça tem razão. - pronunciou-se o chefe dos paramédicos, devolvendo a
camisa de Flynn. — Por enquanto as costelas estão apenas quebradas. Se você voltar a
montar antes que a calcificação das fraturas se consolide, corre o risco de ter um
pulmão perfurado. Aí, sim, terá um problema sério pela frente. Portanto, se quer
mesmo ficar longe do hospital, terá que desistir dos rodeios por algumas semanas.
Flynn pareceu estar recebendo uma ordem para parar de respirar.
— O quê? Você só pode estar brincando!
— Não, estou falando muito sério. Se quiser pagar para ver, a decisão é
sua. Do contrário deverá ficar bem quieto por algum tempo, para que as costelas
fraturadas se curem sozinhas. A demora disso dependerá exclusivamente de você.
— Mas eu não posso ficar parado por tanto tempo. Logo me sentirei
melhor.
— A vida é dura, não é? - disse o outro paramédico, com uma simpatia que
não foi muito apreciada pelo paciente. — Não procure se levantar. Nós o ajudaremos.
Flynn trincou os dentes enquanto eles o ajudavam a se sentar. Procurou não
deixar transparecer a dor que sentia, embora aquilo não fosse nada fácil. Quando os
dois homens finalmente o puseram de pé, estava muito pálido e fraco como uma
criança que desse os primeiros passos.
Duas semanas... Como ele poderia aguentar aquilo durante duas semanas?
Seria um inferno!
— O que pretende fazer? - perguntou Tate, ficando bem perto como se
tivesse medo de que ele caísse a qualquer momento.
— Não sei. - respondeu Flynn, encolhendo os ombros, o que apenas serviu
para provocar outra onda de dor. — Acho que vou para casa. Na situação em que estou
minha presença aqui não serve para nada.
Olhando em volta em busca da maleta de equipamentos, ele viu que o chefe
das baias se aproximava com a correia arrebentado na mão e a testa vincada.
— Ah, ótimo... você encontrou. - disse Flynn, quando David chegou perto. —
Quero dar uma boa olhada nisso. Ainda não consigo entender como essa correia
arrebentou daquele jeito.
O grandalhão hesitou, vendo o lamentável estado em que Flynn se
encontrava, mas não conseguiu se conter.
— Parece que tem alguém com muita raiva de você, filho. - ele comentou,
entregando a correia, que era a única coisa cm que o peão se segurava quando estava
no lombo de um cavalo bravio. — Essa correia foi cortado a faca.
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Capítulo IX
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o que é estar na estrada semana após semana. As cidades são muito parecidas, os
rodeios se sucedem e qualquer um pode acabar fazendo confusão.
Agora tão convencida da culpa de Grady quanto Flynn, Tate voltou a
interferir.
— Eu também pensei isso. - ela disse. — Achei que Grady poderia ter
cometido um erro honesto, mas isso não explica o açúcar que apareceu ontem no
tanque de gasolina de Flynn e muito menos o que aconteceu hoje.
— Se Tate não houvesse aparecido para me dar uma carona, eu não teria
chegado aqui a tempo de participar da prova. - acrescentou Flynn, com a raiva
superando a dor. — Mesmo assim não tive tempo para o aquecimento. Acabei comendo
poeira e Calhoun riu às gargalhadas. Você viu a cara dele quando eu saí da arena.
Parecia estar recebendo um presente de Papai Noel.
— E você acha que isso não foi suficiente para ele? - especulou David,
curioso. — Grady queria tirá-lo do caminho de forma permanente. É isso o que está
querendo dizer?
Flynn fez uma careta.
— Não sei se aquele canalha iria tão longe, mas Calhoun certamente fez o
que pretendia. Não serei uma ameaça para ele ou para qualquer um outro, se não puder
cavalgar.
Era uma história aparentemente absurda, pela violência e pela deslealdade
que envolvia. Flynn não culparia David se ele o considerasse um paranóico. No entanto,
em vez de persistir rejeitando a suspeita, o grandalhão ficou olhando longamente para
Flynn, até que se abaixou para apanhar a correia cortada.
— Vou fazer umas perguntinhas por aí. - ele prometeu sério. — Quando
descobrir alguma coisa voltarei a falar com você.
Depois disso David Hartfield se afastou para cuidar de suas obrigações no
rodeio, que havia recomeçado tão logo Flynn fora retirado da arena. O aumento da
atividade em volta das baias deixou claro que logo a prova dos cilindros estaria co-
meçando. Tate seria a terceira a competir e não tinha tempo a perder se quisesse
entrar na arena com Doce Mel aquecida.
Quando ela se voltou para Flynn, a discussão daquela manhã estava
esquecida em função da óbvia dor que o torturava. Ele estava incrivelmente pálido.
Lembrando-se do que vira tão pouco tempo antes, Tate não resistia ao impulso de
abraçá-lo. Na mente dela apareceu a imagem de Flynn voando contra a cerca da baia.
O sempre risonho Flynn, que dava a impressão de saber de algum segredo que ninguém
mais sabia, tinha ficado no chão, imóvel. Se ele realmente tivesse algum ferimento
sério...
Rapidamente ela procurou afastar aquele pensamento, temerosa da
conclusão a que podia chegar. Oh, bom Deus! Como aquilo podia estar acontecendo? Em
muito pouco tempo aquele homem havia passado a significar muito para ela.
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se qualquer coisa, menos uma criança. Tate estava com a pele suada mas aquilo só
aumentava o desejo que ele sempre sentia quando estava tão próximo daquela mulher.
Até se esqueceu da dor nas costelas.
Não foram necessários mais que alguns segundos para que Flynn sucumbisse
à tentação. Erguendo as duas mãos, seguro nas faces dela e beijou-a na boca, ali
mesmo, diante de Deus e de quem mais quisesse ver.
Alguém riu e logo se ouviu a exclamação de um dos peões que circulavam por ali.
— Aí, Flynn!
Mas ele só ouvia as batidas do próprio coração e a respiração
descompassada de Tate, que apertava com força os dois pulsos dele. Quando sentiu na
língua o contato com a dela, Flynn teve a impressão de que seria consumido pelo calor
que o dominou.
— Tate, doçura... - ele murmurou, afastando as mãos das faces dela para
abraçá-la.
A dor foi imediata. Flynn soltou um gemido, soltou-a e recuou um passo.
Bastou olhar no rosto de Tate para ver que o beijo a deixara tão transtornada quanto
ele. Então, ergueu outra vez as mãos para cobrir as faces dela.
— Doçura, seguirei ao pé da letra todas as suas ordens. - ele prometeu,
correndo o polegar pelo lábio inferior dela. — Mas lembre-se... eu não sou uma criança.
Com o coração em disparada, Tate engoliu em seco duas vezes para poder
falar. Deus, aquele homem sabia mesmo beijar!
— Eu... vou cobrar direitinho a promessa.
Percebendo que não conseguiria pensar com clareza enquanto estivesse
sendo tocada por Flynn, Tate recuou num movimento brusco.
— Está certo. - ela disse, sem se preocupar muito com o gesto grosseiro que
acabava de fazer. — Eu o levarei a Fort Worth, mas só para que você comunique ao
dono da oficina que o furgão terá que ficar lá por mais algum tempo. Quando não
estiver sentindo mais nada, voltará para apanhar o carro. Como a fazenda da sua
família não fica muito fora do meu caminho, eu o deixarei lá quando estiver indo para
casa. Agora vou buscar Haily na arquibancada. Iremos embora tão logo em coloque
Doce Mel no reboque.
Tate não deu a Flynn a menor chance de discutir. Girando nos calcanhares,
marchou para a arquibancada antes mesmo que ele pudesse dizer que sim ou que não.
Parado onde estava, Flynn não conseguiu conter um sorriso.
Ele podia estar brincando com fogo... mas não havia nada como uma mulher
mandona para esquentar o sangue de um homem.
Trinta minutos mais tarde eles estavam outra vez na estrada, os três
acomodados na pick-up como uma família em viagem de férias. Haily, excitada com a
perspectiva de ir até o Novo México, inocentemente comentou o boato que havia se
espalhado depois da queda de Flynn. Não eram poucos os peões que suspeitavam de
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que Grady Calhoun podia ter alguma coisa a ver com aquilo, embora ninguém tivesse
certeza.
Encontrando os olhos de Flynn por cima da cabeça da filha, Tate
silenciosamente agradeceu aos céus por ter tomado a decisão de afastá-lo daquele
pilantra antes que ele tentasse alguma bobagem.
— David Hartfield prometeu que investigaria com cuidado. - ela lembrou. —
Quando puder ter certeza de alguma coisa, ele certamente notificará a Federação das
Entidades Promotoras de Rodeios. Se acontecer mais alguma coisa e outra evidência
for encontrada, Grady estará liquidado. Terá que esquecer os rodeios porque será
expulso da Associação dos Peões Profissionais de Rodeio, o que será muito merecido.
Flynn queria acreditar nos palavras dela, mas precisava dar algum crédito a
Grady. Aquele desgraçado era esperto demais e agia sem deixar rastros.
— Primeiro Grady vai ter que cometer um erro, o que ainda não aconteceu. -
ele se pronunciou. — Quando David e os funcionários da Federação começarem a
interrogá-lo, ele certamente tomará todos os cuidados. Não vai ser fácil desmascarar
aquele cretino.
Fazia um calor infernal em Fort Worth quando eles chegaram à oficina onde
estava o furgãío de Flynn. Deixando Tate e Haily na pick-up com o ar-condicionado
ligado, ele prometeu que não demoraria e abriu a porta para descer. Paradoxalmente,
teve a impressão de que estava entrando num forno e não precisou dar mais que alguns
passos para sentir o rosto molhado de suor. Aquele devia ser o dia mais quente do
século.
— Ainda falta recolocar o tanque de gasolina. - disse Ray Johnson, o dono da
oficina, ao mesmo tempo que entrega a nota das despesas. — O resto está pronto, mas
a colocação do tanque demora um pouco... uma hora, mais ou menos. Você pode
aproveitar para conhecer melhor a cidade ou comer alguma coisa. Quando voltar o
furgão estará prontinho.
— Não tem problema. - disse Flynn, com naturalidade. No entanto, quando
ele pôs os olhos na nota e viu o total das despesas, escrito em números bem grandes,
não conteve uma exclamação.
— Deus do céu!
— Sei que ficou bem caro. - reconheceu Johnson, como se precisasse pedir
desculpas. — Acredite ou não, eu procurei reduzir ao mínimo as despesas, mas alguém
andou fazendo um bocado de estragos naquele seu furgão. O açúcar colocado no
combustível acabou danificando várias peças do motor, que precisaram ser trocadas.
Flynn não estava duvidando da sinceridade do homem, que parecia
constrangido em apresentar uma conta tão alta. Considerando as peças que tinham
sido trocadas e a mão-de-obra envolvida, porém, ele não poderia fazer muita coisa.
Flynn mostrou um sorriso amargo.
— É, eu sei. Já esperava uma conta alta, embora não imaginasse que seria
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tanto.
— Se o pagamento for algum problema acho que nós podemos estudar um...
Flynn sorriu e balançou a cabeça, sem deixar que ele concluísse a frase.
— Obrigado pela oferta, mas eu vou poder pagar.
Por causa dos perigos da estrada, ele nunca levava consigo uma grande soma
em dinheiro e os cartões de crédito tinha ficado na fazenda, bem guardados. Gable e
Cooper, com total apoio das mulheres da família, haviam garantido que, em caso de
necessidade, bastaria um telefonema e alguém correria ao banco para depositar o
quanto ele estivesse precisando. Mas Flynn era um homem de trinta anos, e não um
adolescente que ligasse para casa sempre que estivesse precisando de dinheiro. Ao se
integrar ao circuito de rodeios, havia resolvido que cuidaria sozinho dos próprio
problemas e aquela decisão continuava de pé.
— Só preciso pegar umas coisas no furgão. - ele disse, já sabendo o que iria
fazer. — Daqui a uma hora estarei de volta com o seu dinheiro.
Dez minutos mais tarde Flynn caminhava pela rua na direção do histórico
Centro de Comércio de Gado de Fort Worth. Ainda se realizavam ali leilões de gado,
mas os antigos edifícios, em sua maioria, eram agora restaurantes e lojas, todos
lembrando a tradição de uma cidade que havia surgido em função da pecuária. Havia
também lojas especializadas em arte do Oeste. Flynn estava em busca destas últimas
e entrou na primeira que viu, carregando a sacola ds lona em que havia colocado as
peças de madeira entalhada. O que ele entendia de arte poderia ser resumido numas
poucas frases, mas não precisava ser um perito para perceber que os trabalhos que
produzia tinham muito a ver com as pinturas indígenas ou com as paisagens do
Sudoeste que se via nas paredes da galeria.
— Posso ajudá-lo em alguma coisa?
Esperando encontrar uma esnobe negociante de arte, Flynn voltou-se para
ver uma mulher de meia idade vestindo saia colorida e blusa branca ao estilo country.
O único toque de sofisticação era o colar de pérolas verdadeiras que ela usava ao
pescoço. Flynn correspondeu ao sorriso da mulher.
— Espero sinceramente que sim. Caso ainda não tenha reparado, eu estou
me sentindo aqui como um peixe fora da água.
— Nem de longe tive essa impressão. - ela declarou, estendendo a mão. —
Meu nome é Sydney Alexander. Sou a dona da loja. Você tem interesse em ver alguma
coisa em particular?
— Na verdade eu não estou aqui para comprar. - confessou Flynn, depois de
apertar a mão da mulher e se apresentar. — Talvez devesse ter marcado uma hora, ou
pelo menos ligado, mas...
— Certamente trouxe alguma coisa que quer deixar aqui em consignação,
não é isso? - adivinhou a dona da galeria, com um sorriso que desfez totalmente o
constrangimento dele. — Bem, vamos ver o que trouxe.
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canários.
— Certamente. Venha comigo que eu embrulharei a obra. Vou arranjar
também uma sacola. A senhora não vai querer que a obra sofra nenhum arranhão no
trajeto daqui até a sua casa, não é?
Boquiaberto, Flynn ficou observando enquanto as duas mulheres se
encaminhavam para a mesa francesa discretamente colocada ao fundo da galeria. Só
podia estar sonhando! Ele fazia aquilo como passatempo e ficava até constrangido
quando cobrava alguns trocados pelas peças. Em geral ficava satisfeito quando
terminava um trabalho, mas dificilmente o consideraria arte. E certamente jamais
havia sonhado em cobrar quinhentos dólares por nenhuma daquelas peças, o que
Sydney Alexander acabava de fazer com a mais absoluta tranquilidade.
— Muito obrigada, sra. Winters. - repetiu Sydney para mulher que se
retirava levando a obra de arte feita por ele. — Eu lhe avisarei logo que tivermos
outras peças que possam interessá-la.
Sempre com um sorriso nos lábios, ela esperou até que a sineta da porta
indicasse que a cliente já havia saído. Só então voltou-se para Flynn e ergueu
levemente uma das sobrancelhas.
— Ainda precisa perguntar se gostei dos seus trabalhos?
Algum tempo mais tarde, quando retornou à oficina para pagar a conta e
acertar com Johnson a permanência do furgão por mais alguns dias, até que am dos
irmãos dele pudesse ir buscar, Flynn ainda estava em choque. Tinha dinheiro no bolso e
muito mais viria do lugar onde havia obtido aquele. Muito dinheiro, se ele acreditasse
nas afirmações de Sydney Alexander.
Era inegável que Sydney entendia de arte. Dona de lojas do ramo em Aspen,
Tahoe e Santa Fé, planejava a abertura de outras em San António, Nova Orleans e
Key West. Ela hão só havia aceitado todas as peças que Flynn levara na sacola como
encomendara mais. Confirmando-se as previsões daquela mulher, não demoraria para
que ele se transformasse na nova coqueluche da arte regional do Oeste americano.
Meio tonto, Flynn voltou para a pick-up de Tate sentindo-se como se
houvesse caído no buraco do coelho em Alice no País das Maravilhas.
Tate ficara um tanto intrigada ao vê-lo com aquela sacola, dirigindo-se ao
lado antigo da cidade, um lugar onde ela sabia existirem restaurantes, lojas e...
galerias de arte. Agora, bastava olhar no rosto dele para saber o que tinha ido fazer
ali.
Ela não devia ficar surpresa... nem preocupada. As peças entalhadas
pertenciam a Flynn e ele podia fazer com elas o que bem entendesse. O que não
entendia era a preocupação dele em colocar à venda aqueles trabalhos, especialmente
num momento em que tinha outros problemas para resolver. Afinal de contas, Flynn
Rawlings não precisava pensar em dinheiro. Era bem verdade que ultimamente ele
tivera de fazer frente a muitas despesas, num montante que faria qualquer um ar-
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rancar os cabelos.
No entanto, era voz corrente que a família Rawlings, do Novo México, nadava
em dinheiro. Despesas inesperadas que fariam qualquer peão do circuito cair de costas
não causariam o menor estremecimento em Flynn.
O que podia estar acontecendo? Tate quase morria de vontade de perguntar,
mas não tinha coragem para isso. Devia esperar que ele tomasse a iniciativa de falar,
se quisesse. Só que a mesma preocupação em ser discreta não habitava a cabecinha de
Haily. Sentada ao lado dela, a menina estava impaciente para perguntar aonde Flynn
tinha ido e o que fora fazer.
Ao ver a pergunta que se formava nos lábios da filha, Tate se antecipou
— Agora que já está tudo acertado, que tal procurarmos um lugar
arborizado para comermos um hambúrguer? Sair um pouco da pick-up nos fará muito
bem.
— Boa idéia! - aprovou Haily. — Estou morta de fome! Por que não vamos ao
McDonald's, mamãe? Tenho certeza de que vi um perto daqui.
Tate já esperava por aquilo e riu. Mesmo que estivesse a quilômetros de uma
das lojas do McDonald's Haily não teria a menor dificuldade para identificar o símbolo
dourado.
— Eu acho que... desde que Flynn não se incomode... Talvez ele não goste da
comida do McDonald's.
Horrorizada, Haily olhou para Flynn como se a mãe dela estivesse sugerindo
que ele preferia comer espinafre.
— Ei, mas o que é isso? - ele disse, rindo. — Vocês jamais me verão
recusando um Big Mac. Vamos lá... e eu pagarei a conta.
— Vamos!
Excitadíssima e pensando apenas no que iria pedir para comer, Haily nem se
lembrava mais de quando vira Flynn sair da oficina com a sacola de couro na mão.
Tate, porém, continuava com aquilo na cabeça. Durante todo o improvisado
piquenique no parque que eles finalmente encontraram, não esquecia a expressão que
vira no rosto de Flynn quando ele saíra da oficina com aquela sacola, rumando para a
galeria de arte. Havia um ar de determinação no rosto dele e muita seriedade nos
olhos em geral risonhos. Na certa ele havia vendido alguns entalhes, embora jamais
houvesse demonstrado interesse naquilo. E aquilo a deixava intrigada.
Examinado todas as explicações possíveis, Tate chegava sempre à conclusão
de que ele fizera aquilo por pura necessidade. Mas... não fazia sentido! Não se
aguentando mais, ela aproveitou um momento em que Haily estava, brincando num
balanço do parque e despachou a pergunta.
— Mas que droga, Flynn! Por que você resolveu vender os seus entalhes? E
não venha me dizer que não fez isso porque eu vi direitinho!
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Capítulo X
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fosse sem que aquele assunto estivesse esgotado. Naquele momento, porém, Haily já
corria para perto deles, o que tornava impossível qualquer conversa em particular.
Soltando baixinho um palavrão, Flynn foi se deslocando para o lado da pick-
up.
A viagem até a fazenda da família Rawlings, no sudoeste do Novo México,
parecia interminável. Por causa das costelas fraturadas de Flynn, Tate teve que dirigir
o tempo todo, o que era um castigo até bem-vindo. Pelo menos, vendo-se obrigada a
prestar atenção na estrada ela não precisava olhar para Flynn. Às vezes, quando o
silêncio se estendia por vários quilômetros, podia até fingir que eram apenas ela e
Haily viajando, como sempre.
Mas logo depois Flynn se mexia no assento, soltava um gemido quando o
movimento era um tanto brusco, e voltavam aquelas sensações que ela não podia mais
negar, cada vez mais fortes. Tate apertava as mãos no volante e olhava para a frente,
lutando contra o pânico que ameaçava tomar conta dela.
Quando eles chegaram à fazenda já era madrugada, quase três horas da
manhã. Bem perto do ponto de exaustão, Tate seguiu as instruções de Flynn e
atravessou a entrada da propriedade, que chamava a atenção pela simplicidade. Então
se esforçou para conter as lágrimas quentes que sentiu nos olhos. Ali era o fim da
linha, o ponto onde eles iriam se separar. Ela havia lutado de todas as formas para
ficar bem longe daquele homem e agora isso iria acontecer sem o menor esforço. Flynn
ficaria com a família para se recuperar e ela rumaria para casa, onde ficaria até que
Doce Mel estivesse outra vez em condições de competir.
E quando reiniciasse as viagens, procuraria evitar os encontros com ele.
Pretendia ficar no Sudoeste, percorrendo Estados não muito longe de casa, mas se
fosse preciso iria para Wyoming ou Montana, no Norte, ou mesmo para o Sul... Faria
qualquer coisa, desde que ficasse bem longe daquele sorriso tentador.
Tomada a decisão, o certo seria ela se sentir aliviada. Tate já tivera
problemas para resistir à aquele homem quando imaginava que ele fosse apenas o filho
de um rico fazendeiro em busca de divertimento. Mas agora a proximidade dele era
realmente perigosa, porque ela sabia que Flynn Rawlings era um homem que merecia
respeito e admiração. Mesmo assim continuava a ser um mulherengo, um peão
charmoso e despreocupado que jamais iria querer um compromisso. Tate o queria,
sentia por ele um desejo que chegava a doer, mas na vida dela não havia espaço para
um homem assim.
Mergulhada naqueles pensamentos ela demorou a perceber que a pick-up já
havia percorrido muitos quilômetros sem que aparecesse sinal da casa da fazenda.
— Ainda está longe? - ela perguntou, correndo os olhos pela escuridão em
volta.
— É logo depois daquela colina. Por sorte o primeiro prédio é justamente o
da estrebaria. É melhor você parar lá antes de irmos para a casa. Doce Mel
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certamente vai gostar de passar o resto da noite num lugar mais confortável.
— Doce Mel? - espantou-se Tate, no instante em que apareceu diante deles
a enorme casa vitoriana que há gerações era o lar da família Rawlings. — Mas... nós não
vamos ficar! Depois de deixá-lo em casa, vou procurar o camping mais próximo.
— Ora, não diga bobagens! - censurou-a Flynn, logo abaixando a voz ao se
lembrar de que Haily dormia entre eles dois. — Não posso permitir isso, Tate. Já é
tarde e sei muito bem que você está cansadíssima. Além disso, o camping mais próximo
fica a no mínimo sessenta quilômetros daqui. Quer mesmo ir embora quando pode ficar
aqui com Haily para dormir numa cama de verdade, só para variar?
Tate resolveu ficar calada por alguns instantes. O convite dele era
tentador demais e, se ela dissesse alguma coisa, seria para aceitar de pronto. Mas
Flynn não sabia o que estava pedindo... Ela não podia ficar ali. Não podia conhecer a
família dele, correr o risco de gostar daquelas pessoas para depois, quando fosse
embora, deixar naquela casa o coração inteirinho, em vez de apenas os pedaços de que
ele já havia se apoderado.
— Mas eu não posso invadir desse jeito a casa da sua família, no meio da
noite. -ela persistiu, em desespero.
— Por que não, se é exatamente isso o que eu vou fazer? - rebateu Flynn,
com uma lógica arrasadora.
— Mas aqui é a sua casa. - lembrou Tate, procurando pensar em outras
desculpas. — É a sua família... Haily e eu não estamos no mesmo caso.
Mas agora era tarde, porque alguém da casa devia ter ouvido o barulho da
pick-up se aproximando. Uma luz se acendeu no andar de cima, logo seguida por outra
na sala da frente. Instantes mais tarde Flynn abriu um sorriso ao ver a figura do
irmão mais velho aparecer à porta dos fundos. Gable estava evidentemente intrigado
com aquele desconhecido veículo parado diante da estrebaria.
— Agora você não tem motivos para não ficar. - ele comemorou, olhando
outra vez para Tate e abrindo a porta. — Todos já acordaram.
Sem dar a ela tempo para apresentar mais objeções, Flynn desembarcou e
foi ao encontro do irmão.
— Sou eu, Gable. - ele gritou, atravessando a escuridão para se aproximar
das luzes externas que o outro havia acendido antes de sair. — É o filho pródigo de
volta ao lar.
— E na certa um tanto machucado, pelo que estou vendo. - disse Gable, ao
ver o cuidado que Flynn tomava para se movimentar. — Você está bem?
— Isso vai depender da parte do corpo a que você se referir.
Flynn riu mas logo pagou o preço da brincadeira. Respirando com cuidado,
ele se encolheu e levou as duas mãos ao tórax.
— Algumas das minhas costelas não estão lá essas coisas, mas o resto de
mim está em perfeita ordem.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
levarei ao quarto de hóspedes. Só vamos precisar forrar as camas com lençóis limpos
e, amanhã, você poderá dormir até a hora que bem quiser.
— Ah, é muita gentileza mas eu não posso aceitar. - começou Tate.
Ignorando as objeções dela, naquele momento Gable e Flynn já estavam
desatrelando o reboque em que se encontrava Doce Mel.
— Não sei por que não. - rebateu Kat, no mesmo tom simpático. — Nós
temos espaço de sobra.
— É isso mesmo. - reforçou Josey. — A casa é enorme. Às vezes até parece
vazia demais, já que Cooper foi morar na propriedade da família de Susannah, depois
que eles se casaram, e Flynn vive por aí participando desses rodeios malucos. Quando
Kat voltar para a faculdade, no outono, ficaremos só eu, Gable e o bebê para ocupar
todo esse espaço. E Alice, é claro. - ela acrescentou, com um sorriso. — Alice é a nossa
empregada. Eu nem sei o que seria de nós sem aquela boa criatura, principalmente
quando acontece algum surto de gripe e eu fico cheia de trabalho.
Vendo que Tate não estava entendendo direito aquele último comentário,
Kat deu a explicação.
— Josey é médica... a única num raio de sessenta quilômetros. É por isso que
às vezes as coisas fervilham por aqui. Mas você quer pegar alguma coisa na sua pick-up
antes de entrarmos?
Esgotada depois de um dia estafante e espantada com a simpatia que
aquelas duas mulheres demonstravam por uma pessoa totalmente estranha, Tate foi
surpreendida pela súbita mudança de assunto.
— Não. Isto é, sim! A minha filha!
Como ela podia ter-se esquecido de Haily? E quando havia aceitado o convite
para ficar?
Josey mostrou um sorriso enternecido.
— Ah, você tem uma filha? Nós também. Pobrezinha... Aposto que ela
acordou com esse barulho todo que estamos fazendo. Bem, vamos levá-la para dentro.
- como se não houvesse a menor dúvida de que elas ficariam, Josey deu dois passos e
abriu a porta da pick-up. — Não, ela está dormindo... e como é linda, meu Deus! Acho
melhor que ela durma com você, no mesmo quarto. Certamente se assustará se
despertar no meio da noite para se ver num lugar totalmente estranho.
Tate passou a mão pela testa e resolveu fazer uma última tentativa de
assumir o controle da situação.
— Não... por favor... Eu agradeço muito pelo convite, agradeço sinceramente,
mas Haily e eu não podemos causar esse transtorno. É claro que vocês não estavam
preparados para receber hóspedes esta noite.
— É claro que estávamos preparados. - declarou Gable, saindo na companhia
de Flynn da estrebaria, onde os dois já haviam instalado Doce Mel. — Sempre
mantemos alguns quartos prontos para receber os pacientes de Josey, caso algum
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Como se pudesse ler aqueles pensamentos, Flynn segurou no braço dela e a fez
ficar de pé.
— Fique aqui por mais algum tempo. - ele sugeriu. — Nós temos espaço de sobra
para você e Haily, e também para Doce Mel. Ela poderá se recuperar aqui como se
estivesse no sítio do seu pai, com a vantagem de que não precisará enfrentar mais uma
viagem longa.
Eles estavam muito perto um do outro e Tate sentiu a pulsação acelerada,
tentando não dar ouvidos ao que ele dizia. Todos os instintos gritavam para que ela
saísse correndo dali, antes que perdesse o coração para aquele homem. Mas era
forçoso reconhecer que ele tinha razão. A viagem do dia anterior agravara muito a
contusão de Doce Mel. Agora, outra jornada longa muito certamente obrigaria a égua a
ficar fora das competições por um período bem mais longo do que apenas algumas
semanas. E, com Doce Mel parada, ela ficaria sem nenhuma fonte de renda.
Bem que podia ficar... Seriam os últimos dias que passaria ao lado de Flynn.
Que mal aquilo podia fazer?
Percebendo que o coração já havia tomado a decisão por ela, Tate não quis
nem pensar nas consequências.
— Nós ficaremos. - ela concordou. — Mas só até que a pata de Doce Mel
esteja desinchada e ela possa viajar outra vez.
Os dois ou três dias que Tate havia concordado em passar na fazenda
acabaram se transformando em quatro, depois em cinco, depois em... E o pior era que
ela não podia fazer nada para apressar a partida. Cercada pela simpática hospitalidade
da família de Flynn e isolada do resto do mundo, era fácil esquecer os rodeios e o
dinheiro de que iria precisar para se manter na escola. O dia seguinte parecia muito
distante, mais ainda o outono e o retorno às aulas.
Sempre que a consciência lembrava que na verdade ela estava tirando
proveito da hospitalidade daquelas pessoas, Tate tomava a decisão de que partiria no
dia seguinte. Doce Mel havia melhorado bastante e a viagem poderia ser dividida em
partes para não cansar a égua. No entanto, cada vez que ela tocava no assunto, Kat,
Josey e Susannah, a esposa de Cooper, insistiam para que a permanência se
prolongasse por mais algum tempo. E o problema era que ela não tinha um só argu-
mento de peso para contrapor. Allen vinha tomand o remédio para a pressão alta nos
horários certos, agora que tinha a assistência de Maggie Donovan, e não seria ele o
motivo de uma partida apressada. Além disso, Haily estava se divertindo como nunca.
Os empregados da fazenda, sempre prontos a fazer-lhe as vontades, levavam a menina
a todos os lugares por ali e até deixavam que ela ajudasse em algumas coisas,
exatamente como tinham feito com Kat anos antes. Se dependesse de Haily elas duas
ficariam naquela fazenda pelo resto da vida.
E Tate, agora incapaz de fugir da verdade, via-se forçada a admitir que ela,
também, queria ficar... dias, semanas, anos. Por causa de Flynn.
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— Então o que houve? E não venha me dizer que está tudo bem. - Flynn não
esperou pela resposta e continuou, abaixando a voz para não chamar a atenção das
outras pessoas. — Você está calada desde que nos sentamos aqui para comer e eu
quero saber o motivo disso. Não é do seu feitio ficar tão quieta assim.
Não era de admirar que Flynn houvesse reparado naquilo, já que desde o
início do jantar Tate sentia os olhares dele. Agora ela só rezava para que a dor de que
estava padecendo não ficasse ainda mais evidente.
— Acho que estou apenas cansada. - disse Tate, encolhendo os ombros. —
Passei a tarde ajudando Alice a fazer uma parte do sorvete que será servido na festa.
Era uma explicação aceitável, mas Flynn não engoliu. Tate evitava o olhar
dele, uma indicação clara de que alguma coisa estava errada. Desde a chegada eles não
tinham tido nenhuma chance de conversar a sós e, agora que os preparativos para a
festa envolviam todos, era muito pouco provável que surgisse oportunidade para isso.
Franzindo a testa, meio tentado a arrastá-la para fora para que pudessem
conversar com privacidade, Flynn prometeu a si mesmo que naquela noite arranjaria um
jeito de ficar sozinho com Tate.
Não foi o que aconteceu. Nem naquela nem em nenhuma das três noites que
se seguiram. Flynn seria capaz de jurar ue ela o evitava; embora sempre houvesse um
fator externo para afastá-los. Cada vez que eles começavam a trocar algumas palavras
a sós, aparecia alguém ou acontecia alguma coisa que tornava aquilo praticamente
impossível.
Quando chegou o dia da comemoração da Independência americana, Flynn
estava com os nervos à flor da pele. Por várias vezes pusera os olhos em Tate naquele
dia, mas ela estava sempre ocupada em alguma coisa, conversando com ura dos
convidados, ajudando as outras mulheres ou tomando conta de Haily para que a menina
não acabasse se machucando nas brincadeiras promovidas pelos meninos e meninas da
vizinhança, muitos deles maiores do que ela.
Finalmente caiu a noite, aproximando-se a hora em que haveria o espetáculo
com fogos de artifício, depois do qual começaria a dança. Preocupado porque Tate não
estava à vista, Flynn saiu à procura dela.
Primeiro encontrou Haily, sentada com outras crianças que esperavam
impacientemente pelo instante em que o céu se encheria de luzes e cores.
— Sabe onde está sua mãe, Pimentinha? - ele perguntou, puxando a menina
de lado por alguns instantes. — Já procurei em vários lugares mas perece que ela
tomou chá de sumiço.
Haily respondeu sem tirar os olhos do local onde o profissional contratado,
com a ajuda de alguns auxiliares, concluía os preparativos para o início do espetáculo
pirotécnico.
— Ah, ela está limpando a pick-up para a nossa partida, amanhã cedo. - ela
revelou, num tom distraído.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Flynn não ficaria mais surpreso se a menina desse um chute bem na canela
dele.
— Vocês vão embora?
— Vamos, sim. Mamãe disse que Doce Mel já está bem melhor e que logo
voltaremos aos rodeios. Mas quando é que vão acender os fogos? Estamos esperando
aqui há um tempão!
Flynn procurou controlar a onda de raiva que sentiu e afagou os cabelos da
menina, antes de deixar que ela voltasse para o meio das outras crianças.
— Daqui a pouco, Pimentinha. - ele respondeu, apertando os dentes. — Daqui a
pouquinho.
Instantes mais tarde Flynn pisava firme no chão enquanto marchava para o local
onde estava a pick-up, perto da estrebaria. Ah, mas ele ia matar aquela mulher! Ela já
estava tomando providências para a partida sem ao menos comentar com ele a decisão
que havia tornado. Fazia tudo em segredo, por baixo do pano...
Ele até tinha esperanças de que Haily estivesse enganada, mas quando viu
acesas as luzes da parte habitável da pick-up não teve mais dúvidas. Enraivecido,
entrou e bateu a porta , atrás de si.
— Flynn! - exclamou Tate, que naquele momento estava arrumando a cama
da filha. O rubor que tomou conta das faces e do pescoço dela era uma indicação clara
de sentimento de culpa. — O que está fazendo aqui? Eu...
— Não precisa inventar nenhuma desculpa. - disse Flynn, sem esconder a
irritação. — Sei exatamente o que você está pretendendo fazer. Já conversei com
Haily.
— Então sabe que vamos partir amanhã cedo.
Se ela tivesse dito aquilo demonstrando algum tipo de arrependimento ou
pesar, Flynn teria conseguido controlar o furor que sentia. Mas Tate estava fria,
controlada demais. Então ele ergueu as mãos para segurar nos ombros dela.
— E sei também que teremos a noite toda.
Enraivecido como estava, Flynn não tinha a intenção de beijá-la. No instante
em que a tomou nos braços, porém, viu que não podia deixar passar a oportunidade.
Não daquela vez.
Tate procurou não se desesperar, certa de que ele a deixaria respirar tão
logo aplacasse um pouco daquela raiva. Tinha o peito comprimido contra o dele e sentia
perfeitamente o calor e a fúria què o dominavam. Sabia que Flynn jamais a machucaria
fisicamente, mas não estava disposta a cometer a imprudência de enfrentar um
homem que estava à beira de perder o controle. Assim sendo, o melhor seria apenas
esperar até que ele resolvesse soltá-la.
Era uma dedução lógica, mas na mente de Tate martelavam as palavras dele,
como uma provocação, uma tentação: teremos a noite toda. Era tudo o que eles teriam.
E ela sabia que, se não aproveitasse a oportunidade, o arrependimento a acompanharia
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
Capítulo XI
Antes que o rojão seguinte explodisse no céu, Flynn já havia apagado a luz e
voltava a abraçá-la para reiniciar o beijo. Tate passou os braços por cima dos ombros
dele, sentindo as pernas sem nenhuma firmeza.
— A cama. - ela murmurou, quase sem fôlego, quando ele finalmente afastou
um pouco a cabeça.
Mas Flynn apenas riu e mudou o ângulo do beijo.
— Chegaremos lá, doçura. Eu prometo.
Com o coração em disparada, Tate pensou em explicar que se referia à cama
que havia por cima da cabine do veículo, mais espaçosa do que aquela para onde ele a
empurrava, mas naquele momento Flynn estava ocupado em tirar a blusa dela, o que
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
fez com incrível destreza, para logo em seguida livrá-la do sutiã. Num piscar de olhos
ela estava nua da cintura para cima, sentindo ambos os seios cobertos pelas mãos dele.
Tate gemeu de prazer e encostou o rosto no ombro dele. Ternura. Não havia
esperado ternura daquele homem, acostumado a lidar com potros bravos, mas Flynn a
tocava com incrível delicadeza, como se ela fosse uma peça de porcelana rara e muito
frágil. Parecia até que era a primeira vez que tocava numa mulher. As mãos dele eram
vagarosas, cuidadosas, e os beijos também não tinham pressa. Possuída por um desejo
crescente e querendo mais, Tate pressionou o corpo contra o dele.
— Calma, doçura. - murmurou Flynn, correndo os lábios pela face dela e
beijando os olhos, a testa e à concha dà orelha. — Nós dispomos de muito tempo,
horas...
— Mas alguém pode aparecer e...
— Ninguém virá aqui. - ele garantiu, mordendo de leve a orelha dela. —
Estão todos apreciando os fogos de artifício.
No entanto, quando ele tirou o resto das roupas dela e também se despiu,
foi como se as explosões dos fogos de artifício se transferissem para o interior da
pick-up.
Flynn fez com que ela se deitasse na apertada cama em que Haily costumava
dormir e procurou cobrir cada centímetro quadrado do corpo dela com o dele. Muito
rapidamente, como se alguém houvesse acionado um interruptor, a atmosfera ali se
tornou quente, cintilante e mágica. Enquanto as mãos dele percorriam todo o corpo
dela, sem pressa, Tate apenas gemia, sentindo arrepios.
Já fazia muito tempo, ela pensou, tonta. Muito tempo havia se passado
desde que um homem a possuíra pela última vez. Anos, uma vida inteira. E não tinha
sido como estava acontecendo agora. Ninguém, nem mesmo Rich Travis, tivera tanta
facilidade para despertar nela o desejo do sexo. Em cada lugar que Flynn a tocava ela
sentia um prazer novo e indescritível, achando que podia derreter-se por inteiro.
Também se sentindo, cada vez mais dominado pelo desejo, Flynn procurou
controlar-se para prosseguir nas carícias vagarosas. Tinha a impressão de que havia
sonhado com aquela mulher a vida inteira e decidiu que só a penetraria quando ambos
estivessem no limite do desejo, não pudessem mais controlar os movimentos. Aquela
era Tate Baxter, a mulher que havia sofrido tanto nas mãos do pai de Haily que
decidira impedir a aproximação de qualquer outro homem. Até aquele momento.
Com o coração dominado pela emoção, Flynn prometeu a si próprio que faria
daquele momento o mais agradável possível para ela... e demorado. O que não seria
fácil porque Tate era doce demais. As reações dela a cada carícia faziam com que ele
se sentisse um adolescente em sua primeira relação sexual, nervosamente realizada no
banco traseiro de um automóvel. O desejo que sentia por ela chegava a doer!
Entre os gemidos Tate murmurou o nome dele quando sentiu os mamilos
apertados pelos dedos de Flynn. Ah, aquilo era uma tortura... uma doce e deliciosa
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
tortura que ela jamais havia imaginado existir. E tudo acontecia sem que eles
precisassem falar. Bastava ela sentir vontade de ser tocada em uma parte do corpo
para que, no instante seguinte, as mãos de Flynn pousassem exatamente ali, solícitas e
quentes. Os dedos dele eram lacaios do pensamento dela.
Então, quando Tate já estava achando que não aguentaria mais, Flynn
passou a língua pelo umbigo dela, desceu pela curva da virilha e alcançou a delicada
pele na região entre as coxas. Quando sentiu-se beijada na parte mais íntima, aquela
altura umedecida e quente, Tate emitiu um grito vindo do inconsciente.
— Flynn!
— Eu sei, doçura. - ele murmurou, reiniciando o caminho ascendente. — Eu
sei. Estou aqui.
Vezes sem conta Flynn havia imaginado aquele momento, mas nem nos sonhos
mais fantasiosos pensara em algo parecido com o que estava acontecendo. Como
poderia adivinhar que uma mulher tão doce pudesse ter um fogo tão intenso?
Ele não saberia dizer se já havia chegado o momento certo, mas não
aguentava mais. Então, posicionou-se entre as coxas dela e penetrou-a. Arquejando e
gemendo num tom mais alto, Tate agarrou-se a ele com os braços e as pernas. O
orgasmo simultâneo coincidiu com o intenso espocar dos fogos lá fora. O interior da
pick-up estava inteiramente às escuras mas foi como se eles pudessem ver a festa de
luzes que se espalhou pelo céu.
De pé ao alvorecer do dia seguinte, como sempre, Flynn passou
silenciosamente pela porta do quarto de Tate desejando poder entrar para acordá-la
com um beijo quente. Deixá-la voltar para a festa na noite anterior tinha sido a coisa
mais difícil da vida dele. No entanto, se aparecesse alguém, seria difícil explicar o que
estavam fazendo ali enquanto todos se deliciavam com o espetáculo dos fogos de
artifício.
Assim sendo eles haviam saído da pick-up e se separado, embora Flynn
esperasse que, mais tarde, tivessem a chance de dançar. Mas a oportunidade acabou
não surgindo. Quase dormindo em pé antes mesmo do início da dança, Haily foi levada
para o quarto nos braços da mãe e Tate também ficou por lá, não retornando mais à
festa.
Descendo calmamente a escada, Flynn argumentou consigo mesmo que ela o
evitara pelo resto da noite apenas, por estar cansada, além de certamente encontrar
dificuldade em encará-lo depois das intimidades que eles havia partilhado. Ah, mas ele
mal podia esperar para vê-la, abraçá-la...Uma eternidade parecia ter transcorrido
desde o último beijo que eles haviam trocado antes de saírem da pick-up, retornando
ao mundo real.
Imaginando o momento em que estaria outra vez a sós com ela, Flynn saiu da
casa com a intenção de começar logo o conserto do cata-vento da bomba de água no
pasto sul. O melhor seria fazer aquilo antes que o dia esquentasse muito. Mal saiu na
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
varanda dos fundos, porém, ele interrompeu a caminhada. Já de pé, Tate ocupava-se
em atrelar à pick-up o reboque de Doce Mel.
Ela estava indo embora.
Aquilo o atingiu como uma flecha no coração. Respirando fundo, ele ficou
olhando para ela enquanto procurava se convencer de que o sentimento que o dominava
não era dor, mas sim raiva. Na noite anterior, tivera certeza absoluta de que tudo
entre eles dois entraria nos eixos... e imaginara que Tate só podia pensar a mesma
coisa. Mas agora estava mais do que óbvio que aquilo, não havia significado nada para
ela.
Com medo de agarrá-la pelos ombros para sacudi-la contra a parede da
estrebaria, Flynn enfiou as duas mãos nos bolsos e se aproximou da pick-up, o mais
vagarosamente que pôde.
— Então vai mesmo embora. - ele disse, com frieza, quando chegou bem
perto. — Será que ia se dar ao trabalho de falar comigo ou pretendia apenas pegar
Haily e sair daqui sem ao menos dizer adeus?
De costas para ele, Tate terminou de prender o reboque à traseira da pick-
up, com as mãos trêmulas, e voltou-se para encará-lo. Havia passado a maior parte da
noite acordada, preparando-se para a confrontação que certamente aconteceria
quando Flynn percebesse que elas estavam de partida. Ela até havia imaginado que
saberia o que dizer, mas agora reconhecia que não conseguiria aplacar a revolta que
dominava os olhos e Flynn.
— Não. - ela começou, sentindo a garganta seca. — Você deve saber que eu não
iria embora sem...
— Ah, é? - cortou Flynn, num tom sarcástico. — Pois eu estou começando a
pensar que não a conheço mesmo.
— Não diga isso.
O tom lamentoso da voz dela pareceu tocá-lo, mas logo depois os olhos dele se
voltaram para a pick-up já pronta para a partida. Instantaneamente a raiva de Flynn
redobrou de intensidade. Como ela podia se fazer de vítima, como se fosse a parte
ofendida?
— Você está fugindo. - ele acusou, num tom duro. — Por causa do, que aconteceu
ontem à noite.
Tate não negava a acusação. Como poderia, quando os fatos falavam por si
próprios? Com lágrimas nos olhos, ela ergueu a cabeça e enfrentou o olhar dele.
— O que aconteceu ontem à noite foi um grave erro. Eu tenho uma filha,
responsabilidades, um futuro em que pensar. Não posso deixar que você ou qualquer
outro homem me faça esquecer tudo isso.
Alguma coisa nos olhos dela, o reflexo de uma dor muito antiga, disse a
Flynn que não era dele que ela estava fugindo, mas sim do terrível passado que ainda a
fazia sofrer.
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
— Mas que inferno, Tate! - ele praguejou. — Eu não sou Rich Travis! E não
venha me dizer que não é essa a questão. Acha que não sou capaz de perceber o que
está acontecendo? Aquele desgraçado a feriu muito e agora você tem um medo
enorme de qualquer peão que tente uma aproximação, achando que vai acontecer a
mesma coisa.
— Ninguém jamais me fará sofrer daquele jeito. - declarou Tate, com fúria
nos olhos. — Ninguém.
Flynn sentiu uma vontade enorme de abraçá-la, convencê-la de que ela não
tinha nada o que temer dele. No entanto, os instintos diziam que nenhum argumento o
levaria a conseguir o que quer que fosse com aquela mulher. Ela acreditava mesmo no
que dizia e a única forma de convencê-la do contrário seria estar sempre por perto.
Observando a postura dele, por si própria Tate acabaria mudando de idéia.
— Eu sei disso, doçura. Por isso, se alguém tentar importuná-la, estarei
sempre pronto a desencorajar o cretino. A que horas será a nossa partida?
Tate recuou um passo, espantada.
— Que história é essa de ―nossa‖ partida? Haily e eu vamos embora, mas
você não está incluído nisso.
— Ah, estou, sim. - Flynn disse aquilo sorrindo, mas o que havia nos olhos
dele era a mais pura determinação. — Você pensou que eu a deixaria ficar longe de
mim depois do que aconteceu ontem à noite? Se acha que já está pronta para retornar
ao circuito, saiba que eu também estou prontinho.
— Mas as suas costelas...
— Elas estão ótimas. - cortou Flynn, com firmeza. — Ainda doem um pouco, é
verdade, mas é uma dor perfeitamente suportável. Bem, qual será nossa primeira
parada?
Com o coração batendo muito rapidamente, Tate procurou mostrar uma
indiferença que não era nada do que estava sentindo.
— Haily e eu vamos para O Estouro da Boiada, em Calgary. Não faço a menor
idéia de qual será o seu destino.
Flynn ergueu as sobrancelhas, com os olhos brilhando.
— Calgary, no Canadá... o rodeio que atrai todos os grandes nomes. Ora, ora.
Estou realmente impressionado. Mas como vamos fazer? Iremos no mesmo veículo,
para dividir as despesas, ou eu a seguirei no meu furgão. Cooper foi buscá-lo para mim
na semana passada e ele está em ponto de bala. E então? Você escolhe.
— Chama isso de escolha? Vá para o inferno, Flynn. Não recebo ordens suas!
— Não, é claro que não. - respondeu Flynn, com uma rapidez que a
surpreendeu. — Mas depois de ontem à noite passei a ter uma porção de direitos
sobre você, doçura. - vencendo a distância que os separava antes que Tate pudesse
reagir, ele segurou o rosto dela com ambas as mãos e olhou-a nos olhos. — Não vou
deixar que você saia por aí nessa sua velha pick-up, principalmente quando pretende ir
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
até o Canadá. Assim sendo, recomendo que vá se acostumando com a minha cara. Não
tenho a menor intenção de perdê-la de vista.
Tate sentiu nos lábios a carícia do polegar dele e viu-se outra vez
entontecida. Oh, Deus! Por que sentia tanta necessidade de se entregar àquele
homem?
— E Grady? - ela lembrou, desesperada. — É com ele que deve se preocupar,
não comigo. Na última vez você teve a sorte de escapar apenas com algumas costelas
quebradas, mas na próxima é possível que ele o machuque de verdade.
— Na próxima vez ele não terá nenhuma chance. - prometeu Flynn. — E
então, doçura, como vai ser? Deixará que eu vá com você e Haily ou terei que segui-
las?
Tate ficou olhando para ele com os olhos apertados. Ah, mas que
homenzinho insistente! Ela se sentia tentada a deixar que ele seguisse atrás da pick-
up, engolindo poeira até o Canadá. No entanto, a inatividade forçada pela contusão de
Doce Mel a deixara com as finanças ainda mais abaladas. Pensando bem, até que seria
boa ideia dividir as despesas com Flynn.
— Partiremos logo depois do café da manhã. - ela disse, no tom mais frio
que conseguiu. — Se quer mesmo ir conosco, acho bom arrumar logo o que precisa
levar.
Imperturbável apesar da resposta seca, Flynn acariciou mais uma vez os
lábios dela e sorriu.
— Minha bagagem já está pronta. Quando quiser ir, é só falar.
A partida não foi um acontecimento tão simples quanto Tate havia
imaginado. Os familiares de Flynn eram mesmo pessoas especiais. Depois de tê-las
acolhido em casa como se fossem velhas amigas, pareciam agora sinceramente
consternados com a decisão dela. Quando perceberam que não conseguiriam fazê-la
mudar de idéia, Cooper e Gable passaram a caçoar de Flynn, de uma forma quase
impiedosa, insistindo com ele que não a perdesse de vista. Quando chegou realmente a
hora da partida, porém, Flynn, Tate e Haily foram abraçados e beijados por todos os
membros da família, só recebendo autorização para entrar na pick-up depois de
ouvirem todo tipo de recomendação para que se cuidassem bem.
Tate deixou que Flynn dirigisse e resolveu que o melhor seria eles se
tratarem como bons amigos. Afinal de contas, estavam viajando juntos e teriam que
partilhar muitas coisas. Agindo como se a noite anterior simplesmente não tivesse
acontecido, ela fez os mais elogiosos comentários sobre a família dele e sobre a
fazenda. A certa altura, porém, Haily lembrou a maravilha que tinham sido os fogos de
artifício e os olhos de Tate, como se tivessem vontade própria, voaram para os de
Flynn. Ele não disse uma só palavra, mas nem seria preciso. A atmosfera entre eles
dois ficou carregada de lembranças e o olhar que Flynn dirigiu a ela era a mais pura
expressão do desejo. Tate sentiu a garganta seca e desviou rapidamente os olhos,
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
já os vira.
Olhava para Flynn com uma tal expressão de ódio que, mesmo a duzentos
metros de distância, ela se sentiu também atingida por aquele veneno. Aquilo a fez
esfregar os braços, como se quisesse espantar o arrepio.
— Mamãe, por que Grady está olhando para Flynn daquele jeito? - inquiriu
Haily, seguindo a direção do olhar deles dois. — Parece que ele está com muita raiva.
— Ah, Pimentinha, isso é para você ver como Grady é. - disse Flynn,
antecipando-se na resposta. — O sujeito está sempre aborrecido com tudo. Não ligue
para ele.
Outra criança teria aceitado aquilo sem questionar, mas Tate conhecia a
filha o suficiente para saber que a menina continuaria perguntando até obter uma
resposta mais satisfatória.
— Não está com fome, querida? - ela se apressou em perguntar, pegando
algum dinheiro no bolso da calça jeans. — Compre um sanduíche naquela barraca antes
de ir para a arquibancada. A cerimônia de abertura já vai começar e a competição de
Flynn será logo em seguida. Se quer vê-lo em ação é melhor se apressar.
Haily, evidentemente, não resistiu à tentação.
— Posso comprar também uma Coca-Cola?
Rindo, Flynn acrescentou alguns dólares ao dinheiro que Tate já dera à filha.
— Compre a Coca e também um sorvete. - ele disse, piscando o olho. — Mas
não diga nada à sua mãe.
Haily abriu um enorme sorriso e abraçou-o com força.
— Juro que não contarei nada. - ela prometeu, olhando para a mãe com um
rabo de olho. — Até logo!
Toda sorrisos, a menina disparou como uma flecha enquanto Grady
continuava a observá-los, cheio de hostilidade. Tate desfez o sorriso e voltou-se para
Flynn incapaz de esconder a preocupação.
— Talvez seja melhor dar às suas costelas mais uma semana de descanso. -
ela sugeriu, no tom mais leve que conseguiu.
— As provas serão duras e você ainda não está inteiramente curado...
— Não estou com medo dele. - respondeu Flynn, sustentando o olhar de
Grady. — Aquele desgraçado pode ser capaz de qualquer coisa, menos de me assustar.
Tate abriu os braços, exasperada.
— Vocês não são dois meninos numa briga de atiradeira, Flynn!
Naquele momento um homem de quase dois metros de altura destacou-se
da aglomeração de peões para se aproximar deles. Era David Hartfield, encarregado
das baias também naquele rodeio.
— Olá, Tate. - ele disse, sorrindo, quando chegou perto. — Vejo que já está de
volta, Rawlings. Como estão as costelas?
— Melhoraram bastante. - respondeu Flynn, apertando a mão do chefe das
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
baias. — Também comprei uma correia nova e estou pronto para competir.
Vendo que ele segurava a maleta de equipamentos, David coçou a cabeça.
— Investiguei o seu acidente em Oklahoma, como prometi, mas não descobri
nada de novo. Ninguém foi visto mexendo no seu equipamento antes da competição e
todos os peões com quem conversei têm um bom álibi para o período em que a correia
deve ter sido cortada. Até mesmo Calhoun. A namorada dele jura que estiveram juntos
o tempo todo e eu não encontrei nenhuma testemunha que afirmasse o contrário.
Isso queria dizer que David não podia fazer mais nada.
— De uma certa forma isso não me surpreende. - declarou Flynn. — Grady não
faria uma coisa assim sem tomar as suas precauções. Mas é evidente que álibi dele não
tem o menor valor.
Como não podia mesmo afirmar se Grady era culpado ou inocente, David
prudentemente, preferiu não fazer mais comentários.
— Mas tome cuidado, está ouvindo? - ele recomendou. — Quem cortou a sua
correia não estava para brincadeira. Enquanto não o agarrarmos você estará correndo
sério perigo.
A advertência ficou no ar enquanto o grandalhão se afastava, deixando
Tate e Flynn em silêncio por um minuto inteiro. Finalmente ela voltou para ele os olhos
suplicantes.
— Não faça isso, Flynn. Não vale a pena. Você ouviu o que David disse. Até
ele acha que o perigo é sério.
— Então ele deveria fazer alguma coisa com Calhoun. - respondeu Flynn. —
Mas não se preocupe, doçura, que eu tomarei cuidado...
— Mas como pode saber o que Grady vai fazer agora? - insistiu Tate,
segurando no braço dele. — Desista da competição, Flynn, pelo menos desta vez.
— E que atitude deverei tomar na próxima vez? - ele rebateu. — Se recuar
agora, terei que fazer a mesma coisa em todos os rodeios nos quais ele se inscrever.
Não está percebendo isso, doçura? Essa história não terminará enquanto Calhoun não
se convencer de que não me assusta, não importa o que tente fazer. Eu preciso
competir e, se possível, vencer aquele desgraçado.
Tate sabia que ele tinha toda razão, mas mesmo assim se recusava a
concordar. Bem que eles deveriam ter ido para Santa Fé... ou para o Texas. Sempre se
realizava algum tipo de rodeio no Texas. Os competidores não seriam tão difíceis de
superar e eles estariam bem longe de Grady.
— Já que você insiste em seguir adiante com isso, não vou tirar os olhos de
Grady Calhoun, o tempo todo. - ela prometeu. — Ele não coçará o nariz sem que eu
veja.
Como se quisesse provar o que dizia ela olhou para o local onde Grady tinha
estado segundos antes. Naquele momento, porém, em vez de continuar parado olhando
fixamente para Flynn, ele caminhava para o lado deles acompanhado por Valerie. Tate
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Clássicos Românticos 36 Um homem irresistível Linda Turner
conteve a respiração.
— Ai, meu Deus! Lá vêm eles.
— Fique fora disso. - recomendou Flynn, segundos antes de o outro casal
chegar bem perto. — Deixe comigo.
Grady parou diante deles com os olhos cheios de raiva.
— Não sei quem você pensa que é, Rawlings, mas vou lhe dizer uma coisa: se
continuar me causando problemas com os funcionários do rodeio, vai acabar com
outros ossos quebrados, além das costelas que já quebrou em Oklahoma. Deixe-me em
paz, entendeu bem?
Com a cabeça erguida, Flynn nem pestanejou.
— Eu tive algumas costelas quebradas em Oklahoma, sim, e foi por sua
causa, Calhoun. Ouvi dizer que você tem um álibi. - então ele lançou um olhar de
desprezo à desengonçada ruiva que acompanhava Grady. — Mas nós dois sabemos que
foi você quem cortou a minha correia... e também sabemos por que fez isso. Sabe que
eu o tirarei da disputa pelo título mundial e está morrendo de medo disso.
— Medo de quê? - inquiriu Calhoun, quase se engasgando no próprio riso. —
De você? Acho que não. - logo depois ele mediu Flynn com os olhos, da cabeça aos pés.
— Você é apenas um perdedor procurando um culpado para o equipamento de péssima
qualidade que usa. Olhe-se no espelho. Isso lhe dará as respostas que está procurando.
— A única resposta que eu preciso está na minha frente, poluindo o ar que
respiro. - declarou Flynn, com frieza. — Saia daqui, Calhoun. Agora.
Com o coração na mão Tate preparou-se para o pior, olhando
alternadamente para os dois homens. Sabia que Flynn não daria o primeiro soco,
mesmo que fosse provocado, mas não estava tão certa quanto a Grady. Se aquele
homem tinha algum escrúpulo ela ainda não vira nenhuma evidência disso. E ele estava
enfurecido demais! Era quase possível ouvir o ranger dos dentes dele.
Aguardando a explosão de Calhoun para qualquer momento, Tate voltou-se
para Valerie, achando que, se juntassem as forças, talvez as duas pudessem encontrar
uma saída para aquela situação. Mas bastou olhar no rosto da outra mulher para
perder toda a esperança. A ruiva parecia tão ultrajada quando Grady com as acusações
de Flynn.
A tensão aumentava cada vez mais e Tate pensou seriamente em se colocar
entre os dois homens... apesar da advertência de Flynn para que o deixasse cuidar
sozinho do problema. Naquele instante o serviço de alto-falantes anunciou o início da
competição de cavalgada de potro no pêlo, o que fez Tate soltar um suspiro de alívio.
— Mais tarde resolveremos isso. - prometeu Grady a Flynn, falando com
absoluta frieza. — Só eu e você.
— Para mim está perfeito. - respondeu Flynn. — Basta que me diga onde e
quando.
Depois de um último e enraivecido olhar, Grady foi se afastando levando
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estava usando.
— Faça o que tem que ser feito, doçura.
Apenas para provocá-lo, e sabendo que Flynn achava que ela não teria,
coragem para fazer aquilo, Tate segurou de leve no zíper, apenas ameaçando abri-lo.
Logo depois, e de uma só vez, puxou o zíper até o ponto onde a camisa estava ensacada
na calça jeans.
Flynn levou um susto e ela riu alto.
— Peguei o bobo!
— Acho que não. - respondeu Flynn, que no mesmo instante agarrou os pulsos
dela. — Fui eu que peguei você.
Tarde demais Tate percebeu que ele não pararia enquanto não fizesse o que
pretendia: abraçá-la. Procurou fazer cara feia mas fracassou, já que o sorriso não
deixava os lábios dela.
Então lembrou-se de uma saída.
— Preciso aquecer Doce Mel, Flynn. Não quero que ela corra o risco de
sofrer outra contusão.
— Daqui a pouco. - ele prometeu, levando-a para uma área relativamente
deserta por trás de um galpão. — Primeiro quero que você me aqueça um pouquinho.
Já que os termometros registravam trinta e sete graus centígrados à sombra
e eles estavam brincando com fogo, Tate achou que não teria dificuldade em atender
ao pedido. Deixando-se abraçar, pôs-se na ponta dos pés para beijá-lo na boca.
Foi um beijo rápido mas realmente quente. Quando as línguas deles se
tocaram, Tate só conseguia se lembrar dos momentos que havia partilhado com Flynn
no interior da pick-up enquanto os fogos de artifício empoçavam lá fora. Então soltou
um gemido e abraçou-se a ele com mais força.
Mas ambos sabiam que aquilo não podia se prolongar. O resto do mundo estava
bem ali e ela precisava se preparar para a competição.
— Flynn...
Tate só conseguiu murmurar o nome dele, mas foi o bastante. Flynn recuou e
deixou escapar um suspiro resignado.
— Eu sei, eu sei. Você precisa ir. Só mais um para desejar boa sorte.
Então ele voltou a beijá-la, de uma forma que a deixou arrepiada da ponta dos
pés à raiz dos cabelos. Depois permitiu que fosse se ocupar com Doce Mel.
No fim da tarde, quando eles retornaram para o acampamento, Tate só tinha
boas coisas em que pensar: o beijo de Flynn, o primeiro lugar conquistado na corrida
dos cilindros e o fato de que Haily havia pedido e obtido permissão para passar a noite
com uma amiguinha com quem não se encontrava desde o ano anterior. Assim sendo, ela
nem se lembrava mais das ameaças de Grady Calhoun. Só pensava na longa noite que ia
passar com Flynn.
Mal se contendo de tanta expectativa, Tate entrou na parte habitável da pick-
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up e parou ao ver o papel dobrado que havia sido colocado por baixo da porta.
Adivinhou que aquilo não era boa coisa antes mesmo de se abaixar para apanhar a men-
sagem.
— O que foi? - perguntou Flynn, reparando que ela ficava tão pálida quanto o
papel que estava segurando.
— Grady deixou isto aqui. - ela respondeu, entregando o bilhete. — Quer que
você vá se encontrar com ele na arena de treinamentos, às sete da noite.
Flynn pegou o papel e correu os olhos pelo que estava escrito.
— Desgraçado! - ele disse, fechando a mão para amassar o bilhete. — Calhoun
quer uma briga... e, por Deus, arranjou uma muito boa!
Capítulo XII
— Não estou gostando nada disso, Flynn. - declarou Tate, franzindo a testa.
Sentada à pequena mesa de refeições no interior da pick-up, onde eles
vinham tomado café durante os últimos trinta minutos enquanto a todo momento
consultavam o relógio, ela tentou pela última vez chamá-lo à razão.
— A violência nunca resolve nada e você sabe disso. Grady está agindo como
um garoto cheio de vontades mas você não precisa descer ao nível dele.
Com os dentes apertados, Flynn não estava disposto a discutir com ela.
— Há umas certas coisas que ele que não pode fugir. - ele disse, sem
maiores explicações. E não havia mesmo tempo para mais conversa, porque só faltavam
cinco minutos para as sete. Então ele colocou a xícara de café sobre a mesa e se
levantou. — Preciso ir.
— Não! Mas que droga, Flynh! A calcificação das suas costelas ainda não se
consolidou! Tem que haver uma outra saída.
Aquela ênfase toda fez com que Flynn sorrisse. Segurando nas mãos dela, ele
obrigou-a a levantar-se e abraçou-a, para logo depois rir baixinho.
— Pode acreditar, doçura, não era assim que eu queria passar esta noite.
— Então fique comigo.
Ah, como ele queria ficar. Se ela soubesse o quanto estava perto de fazê-lo
mudar de idéia, saltaria sobre ele como mosca no mel.
— Não posso. Aquele canalha precisa parar com o que anda fazendo. Se só vai
adquirir um pouco de bom senso à custa de pancadas, então é isso o que vou ter que
fazer. Voltarei logo que for possível.
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Soltando-a enquanto tinha determinação para isso, Flynn sorriu, piscou o olho e
saiu, fechando a porta. Quando começou a caminhar na direção do local do rodeio,
porém, não sorria mais. Ninguém sabia mais do que ele que o estado das costelas ainda
era muito delicado, e Grady era bem o tipo de patife que se aproveitaria disso.
O complexo do rodeio estava deserto àquela hora da noite, vendo-se apenas os
seguranças que patrulhavam o local para garantir que os animais não seriam
perturbados nas estrebarias. Com a desculpa de que iria fazer um exame na pata de
Doce Mel, Flynn esperou que o guarda que o abordara se afastasse e marchou para a
pequena área de treinamentos localizada a meio caminho entre és estrebarias e a
arena principal.
Como ele esperava, a área cercada estava na penumbra e silenciosa como
um túmulo. Raramente usado durante o dia e jamais à noite, havia naquele espaço uma
única lâmpada acesa, bem ao fundo, o que proporcionava uma parca iluminação. Mas era
suficiente para que Flynn visse que Grady não estava à vista. Carrancudo, ele
resmungou um palavrão. Devia ter previsto que o patife não ia aparecer. Os covardes
não suportavam confrontações e o corte da correia servira para que Flynn tivesse uma
certeza: Grady Calhoun era um covarde da pior espécie, um rastejador repelente.
Aquele idiota estava redondamente enganado se imaginava que ele ficaria
esperando ali para todo o sempre. Tate estava na pick-up, certamente muito
preocupada com o que podia estar acontecendo, e era muito melhor estar com ela do
que ficar numa arena vazia esperando por Grady Calhoun, que na certa não teria
coragem para aparecer.
Quando já ia se voltando para ir embora, Flynn viu o que parecia ser um
pedaço de papel no chão, bem no centro da arena. No mesmo instante ele parou, mas
achou que estava dando atenção demais ao que devia ser uma bobagem. Na certa aquilo
era apenas lixo.
Mas a manutenção por ali era sempre cuidadosa e havia cestas de lixo por
todos os cantos. Flynn franziu a testa e ficou olhando para o papel, com a sensação de
que aquilo tinha alguma coisa a ver com Grady. Seria muito próprio daquele sujeitinho
deixar um bilhete sugerindo um outro lugar para a confrontação.
Era uma armadilha. Ele tinha tanta certeza disso quanto sabia que era capaz
de bater Grady nas competições. Mas isso não o impediu de pular a cerca e correr até
o local onde estaca caído o pedaço de papel. Enquanto se abaixava, Flynn viu que o
papel estava dobrado com o nome dele escrito no lado de fora em letras gradas.
No interior não havia nada.
— Mas que diabo...
Nesse instante um som às costas dele o advertiu de que não estava mais
sozinho. Sentindo o sangue gelar, Flynn ouviu o portão se abrindo e o som forte de
cascos no chão de terra. Tarde demais, o arrepio dos pêlos na nuca o fez sentir que
havia caído numa armadilha. Então ele se voltou e literalmente parou de respirar.
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deles, pelo menos não da forma que Tate esperava, mas certamente não ficaria de
braços cruzados. Afinal de contas, um daqueles homens poderia acabar se machucando
seriamente!
Tate correu para o trailer e pôs-se a bater na porta, com força, sem se
preocupar com a possibilidade de estar perturbando o sossego do acampamento.
— Valerie! Abra a porta! Preciso da sua ajuda!
Ouvindo o barulho de alguém se movendo lá dentro e o som do trinco, Tate
suspirou de alívio. Logo depois a porta se abriu e ela abriu a boca de espanto, olhando
para o homem que a fitou com cara de poucos amigos.
— O que você quer, Tate? - ele inquiriu, deixando claro que não tinha a menor
satisfação em vê-la. — Se Flynn mandou que viesse aqui para me pedir desculpas,
perdeu a viagem. Quem manda recado é porque não tem coragem de se apresentar
pessoalmente.
Tate ficou ainda mais,espantada.
— Desculpas? Ele não tem nada por que se desculpar com você! E o que está
fazendo aqui, afinal? Seu bilhete dizia que o encontro deveria ser às sete da noite.
Esperando ouvir mais uma resposta malcriada, Tate viu que agora Grady estava
tão espantado quanto ela.
— Bilhete? - ele repetiu, rispidamente. — Que bilhete, mulher?
— O que você deixou na minha pick-up. - enfiando a mão no bolso da calça jeans,
ela retirou o papel amassado que Flynn havia deixado em cima da mesa antes de sair.
Bastou um olhar no rosto espantado de Grady para que ela visse que alguma coisa
estava terrivelmente errada. Tate engoliu em seco, tentando sufocar o mau
pressentimento que agora sentido. — Foi você que... que escreveu este bilhete, não
foi?
— Não.
Tate desejou de todo o coração que ele estivesse mentindo, mas a expressão de
Grady era a prova mais cabal da sinceridade dele. No mesmo instante ela adivinhou
quem havia escrito o bilhete, o que a deixou ainda mais alarmada.
— Onde está Valerie?
— Não sei. Ela disse que ia sair para caminhar um pouco. - Grady disse aquilo
enquanto voltava os olhos para o lado da arena, corri uma expressão de medo no rosto
bochechudo. — Flynn pode estar em perigo. - ele acrescentou, falando depressa; —
Vamos.
No mesmo instante Grady saiu em disparada. Tate correu atrás dele,
sentindo dificuldade para acompanhá-lo. Queria perguntar o que Valerie seria capaz
de fazer, por que ele achava que Flynn podia estar em perigo, mas o medo que sentia a
impedia de falar, além de deixá-la trêmula.
Pouco depois eles contornavam correndo a arena principal para logo em
seguida alcançarem o pequeno curral que servia de arena de exercício para os peões.
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Alguma coisa se moveu nas sombras, mas só quando chegaram bem perto da cerca eles
puderam ver que era Flynn quem estava no interior da arena, na outra extremidade.
Muito suado, as roupas cobertas de sujeira numa clara indicação de que havia rolado
no chão, ele olhava fixamente para o enraivecido touro que o ameaçava a não mais de
seis metros.
— Oh, Deus!
Tate não se lembrava de ter gritado, mas os olhos de Flynn voltaram-se para
ela e aquele lapso na concentração dele era tudo o que o touro queria. Apontando os
chifres como se fossem lanças, a fera disparou para alcançar Flynn na altura das
costelas, tirando, sangue e um gemido de dor.
— Não! - gritou Tate, já subindo na cerca. No instante em que ela pôs uma das
pernas para dentro, porém, a mão do desafeto de Flynn a segurou. — Solte-me, Grady!
É Lúcifer quem está ali dentro com Flynn! Precisamos distrair o touro para...
— Eu farei isso. - decidiu Grady. — Corra para o outro lado. No instante em que
eu conseguir atrair a atenção do touro, ajude Flynn a sair dali.
Então ele se voltou para o portão de entrada da arena. No mesmo instante
Valerie Jones saiu correndo da escuridão, como uma bruxa, os cabelos ruivos soltos ao
vento.
— Não! - ela gritou, pondo-se no caminho do namorado. — Pare! Você não
pode entrar ali!
— Uma ova que não posso! - rebateu Grady. — Você só pode estar louca se
acha que vou ficar olhando para ver o touro transformar aquele sujeito em mingau.
Saia da minha frente!
Em vez de obedecer, Valerie fincou os pés no chão e usou as mãos para
agarrar os braços dele.
— Não, você não pode! Vai estragar tudo! Será que não está percebendo?
Nós temos que nos livrar dele. É a única forma de garantir a conquista do título para
você.
Tate levou a mão à boca, horrorizada.
— Esse tempo todo nós ficamos jogando a culpa em cima de Grady, mas era
você quem fazia tudo. - ela gritou, fuzilando a ruiva com os olhos. — Cortou a torreia
de Flynn...
— Era para dar certo. - vangloriou-se Valerie. — Teria sido perfeito se ele
houvesse caído ao alcance das patas do cavalo, em vez de ir bater contra a cerca.
Flynn Rawlings ficaria afastado por muitos meses e ninguém mais ameaçaria o título de
Grady. Eu cuidaria para que isso não acontecesse.
Uma onda de fúria tomou conta de Grady Calhoun.
— Se acha que eu iria querer um título conquistado com esses métodos, é
mais do que evidente que você não me conhece. E pode crer que, até este momento,
você também era para mim uma perfeita desconhecida.
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Por trás deles, na arena, a voz de Flynn sobrepôs-se ao bufar do touro para
fazer uma piada, apesar da situação dramática em que se encontrava.
— Será que algum campeão pode me ajudar aqui?
Naquele instante o touro voltava à carga. Flynn saltou para o lado,
escapando de ser atingido por uma questão de milímetros. Ele não saberia dizer como
ainda conseguia se mover.
As pernas já quase não suportavam o peso do corpo e cada respiração era
um verdadeiro suplício. Ainda não tivera tempo de examinar o ferimento no lado do
tórax, mas sabia que a camisa estava mais ensopada de sangue do que de suor.
Como não podia desviar os olhos de Lúcifer, ele apenas ouviu a gritaria entre
Grady e Valerie. Foram necessários apenas dois minutos com aquele monstro no
interior da arena para que Flynn entendesse por que ele tinha o nome de um demônio.
Mais rápido que um relâmpago e mais traiçoeiro que uma cascavel, o touro parecia a
personificação de Satanás.
— Aguente-se aí, Flynn. - disse Grady, ignorando os gritos de Valerie, que
queria de qualquer forma impedi-lo de entrar na arena. — Enquanto eu estiver
distraindo o bicho, Tate o ajudará a sair daí...
— Não! - gritou Fiynn, vendo com o canto do olho que Tate se movia para
tomar posição perto do portão à direita de onde ele estava. Sem parar de olhar para a
fera, prosseguiu: — Não seja louca, Tate! Não quero que você chegue perto desse
demônio! Fique exatamente onde está e apenas abra o portão, mas só quando Grady e
eu conseguirmos atrair o touro.
Mesmo apavorada, Tate quis protestar. Ele estava ferido! A camisa já
apresentava uma enorme mancha de sangue no lado direito, onde o chifre de Lúcifer o
atingira e ela queria tirá-lo dali imediatamente. Mas Grady, que evidentemente con-
cordava com o plano de Flynn, já estava pulando por cima da cerca. Um segundo mais
tarde ele produziu um barulho surdo ao bater com os pés no chão da arena.
— Oh, meu Deus! Tome cuidado. - ela suplicou, apertando com os dedos a
trave mais alta da cerca. Quando Valerie soltou um grito ao ver que o touro se voltava
para Grady, Tate perdeu a paciência com aquela maluca: — Cale essa boca, Valerie,
pelo amor de Deus!
— Está pronto, Grady? - perguntou Flynn.
Como resposta, o outro homem foi se chegando mais para perto dele para
que o touro ficasse em dúvida sobre quem deveria atacar. Logo depois eles começaram
a recuar para a cerca, atraindo Lúcifer para o portão do corredor que levava ao
cercado onde estavam os outros touros.
Cada passo era dado com extremo cuidado, sem nenhum movimento brusco.
Bufando e batendo no chão com uma das patas dianteiras, os olhos pretos fitando
alternadamente os dois homens que tinha à sua frente, Lúcifer parecia apenas
aguardar uma desculpa para espetar um dos dois com os chifres.
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homem conseguisse declarar seu amor a uma mulher com palavras medidas? — Foi uma
experiência muito esclarecedora.
Ele mantinha a mão estendida, acariciando a região por trás da orelha dela, o
que fez com que Tate sentisse a boca seca.
— Se estivesse no seu lugar, eu não conseguiria pensar em outra coisa que não
fosse sair correndo dali. - ela respondeu. A visão de Lúcifer voltando-se para Flynn
apontando aqueles chifres enormes e mortais, a deixou transtornada. De um instante
para outro todo o corpo de Tate tremia. — Você... você podia estar morto, Flynn.
— Ei, mas o que é isso? - ele a repreendeu, sentando-a no colo e usando o
polegar para afastar a lágrima que escorreu pela face dela. Depois, murmurando
palavras doces, beijou-a ternamente. — Está tudo bem agora. Oh, Deus... eu a amo.
Não chore, meu bem. Não acontecerá nada mais de errado.
Foi só quando ela se afastou um pouco, abrindo muito os olhos cheios de
lágrimas, que eles se deram conta do que ele acabava de dizer. Então Flynn sorriu,
meio sem jeito.
— É... você ouviu direito. Eu a amo. E pode acreditar no que estou dizendo: só
percebi isso quando estava olhando nos olhos daquele demônio, Lúcifer.
Tate teve que rir.
— Ah, Flynn!
— Eu sei... é engraçado. - ele disse, também rindo e segurando o rosto dela com
as duas mãos. — Veja se era hora para isso! Eu só pensava em sair logo dali para
contar a você o que havia descoberto. - então Flynn ficou subitamente sério e com os
olhos tomados pelo desejo, os dedos agora acariciando a nuca da mulher a quem se
declarava como se não pudesse parar de tocá-la. — Eu a amo demais. Acredite em mim,
doçura, porque nunca cheguei perto de dizer isso a qualquer outra mulher. Sou louco
por você e nada fará com que isso mude, jamais.
Antes que Tate pudesse responder ele a beijou, dizendo sem palavras que
nada no inundo de Deus poderia levá-lo a desistir dela.
— Eu o amo, Flynn. - declarou Tate, com os lábios ternamente encostados
nos dele. — Nunca vou saber dizer o quanto o amo.
— Então apenas me mostre. - ele sugeriu, com aquele sorriso que/ra uma
tentação.
Era um desafio a que ela não podia resistir. Com a boca ainda bem perto da
dele, Tate melhorou a idéia.
— Na minha cama. Quero ficar com você na minha cama. Flynn riu com
satisfação.
— Meu Deus! Que mulher agressiva!
Tate também riu enquanto eles dois se levantavam.
— Pois pode acreditar que serei sempre assim. - ela prometeu, agora com um
sorriso cheio de sedução, enquanto segurava nas mãos dele para levá-las aos botões da
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prazer à mulher amada. Eles ainda sorriam quando alcançaram o êxtase, de uma forma
absolutamente sublime.
— Case-se comigo.
Sentindo um sobressalto quando ainda tinha o corpo mole por causa do
amor, Tate achou que não havia escutado direito aquelas palavras murmuradas perto
do pescoço dela. No entanto, quando Flynn ergueu a cabeça para olhá-la, ficou evi-
dente que entendia a importância do que acabava de dizer, porque estava muito sério.
Incapaz de esconder a surpresa, ela ergueu a mão trêmula para afastar a
mecha de cabelo preto que caíra na testa dele, sentindo uma onda de alegria diferente
de tudo o que já havia experimentado. Antes que ela pudesse dar qualquer resposta,
porém, Flynn interpretou mal aquele silêncio e voltou a falar.
— Sei que você já está com o seu futuro traçado e não tenho a menor intenção
de interferir nisso. Acho admirável a sua decisão de cursar a escola de medicina, mas
não vejo em que isso poderia interferir no nosso casamento. Se ainda pensa que eu
posso acabar me revelando um tratante igual ao pai de Haily...
Tate encostou a ponta do dedo nos lábios dele, obrigando-o a se calar.
— Eu não tenho esse medo. - ela garantiu, enfática. — Estava enganada quando
o acusei disso... Tinha muito medo de sair ferida outra vez.
Flynn segurou na mão dela, acariciando-a com os dedos.
— Eu sei, meu bem, e compreendo. Mas você precisa saber que eu jamais
irei feri-la. Eu a amo. Meu Deus... O amor que sinto por você é muito grande. Nós
pertencemos um ao outro. E, na minha terra, há um costume que ainda está na moda:
quando um homem e uma mulher se amam, isso sempre resulta em casamento...
— Sim.
— Você está pensando em Haily, naturalmente. Mas qualquer um pode ver
que eu sou louco por aquela... - subitamente dando-se conta da palavra que ela havia
pronunciado, Flynn ergueu as sobrancelhas. — Você disse que... sim?
— Sim?
— Isto é, disse que sim... que se casará comigo?
Ele estava tão nervoso que Tate teve que rir. Será que aquele era o mesmo
peão de rodeio que ela havia conhecido algum tempo antes, o homem charmoso que
havia se aproximado dela na pista de dança certo de que mais uma presa iria cair em
seus braços?
— Quer que eu faça uma declaração por escrito?
— Vou querer por escrito, sim, senhora. - respondeu Flynn, beijando-a
antes de abrir um enorme sorriso. — Quero um contrato assinado por nós dois e
registrado em cartório, tudo muito direitinho.
— Eu também. – garantiu Tate, também sorrindo, enquanto o puxava para
mais um beijo. — Só para afugentar aquelas mulheres que o perseguem, achando que
ainda está livre como um passarinho, quero que todos... e todas saiba que a história
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agora é diferente. Você me pertence, Flynn Rawlings. Não se esqueça disso! – e como
se quisesse se justificar. — Mas eu pensei que também quisesse o título mundial.
Flynn afastou os cabelos dela para beijá-la na testa, nas sobrancelhas e no
nariz. Houvera tempo em que ele queria o título mundial mais do que tudo na vida, mas
isso tinha sido antes de conhecer aquela mulher adorável. Deus, como a amava!
— E eu quero o título. - ele garantiu. — Mas agora isso não tem tanta
importância. Os meus trabalhos com madeira têm me dado mais satisfação... e mais
dinheiro do que já obtive nos rodeios.
Tate sorriu ao ouvir aquilo.
— Sydney continua a incentivá-lo, não é? Isso não me surpreende. Ela só
ficaria mais feliz se você produzisse aquelas peças entalhadas numa velocidade duas
vezes maior. - nesse ponto ela ficou séria. — Não está aborrecido porque eu tenho que
voltar para a escola e não posso acompanhá-lo, não é? Sei o quanto você quer competir.
— O que eu quero é você. - declarou Flynn, voltando a beijá-la para aplacar um
pouco do desejo que agora era muitas vezes mais forte. — Por que vou querer tanto
sair por aí atrás de uma fivela de ouro quando posso abraçar todas a noite o prêmio
maior da minha vida, na minha própria cama? É aqui que tenho o que mais quero. -
então ele levantou um pouco a cabeça e olhou para ela com as sobrancelhas erguidas,
as covinhas aparecendo nas faces em consequência do meio sorriso que dançava nos
lábios dele. — Mais alguma pergunta, sra. Rawlings?
Com o coração transbordante de felicidade, Tate passou os braços por trás dos
ombros dele para reivindicar tudo a que tinha direito.
— Nenhuma pergunta, peão. Nenhuma mesmo.
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