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O AMOR SEM MISTÉRIOS

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O AMOR SEM MISTÉRIOS
Criando um Mundo Novo

M. Amaro

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COPYRIGHT 2015 By Manuel do Espírito Santo Amaro
É vedada a reprodução desta obra, no todo ou em parte, por quaisquer
meios, sem prévia autorização por escrito do Autor.

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Às pessoas capazes de amar.
 O Autor.

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Não tenho vergonha de mudar de ideia porque não tenho vergonha de
pensar.
 Blaise Pascal

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“O AMOR SEM MISTÉRIOS” é uma tese sobre o amor, em
romance, que desmistifica o amor e a paixão, com nova descoberta da
sexualidade, tornando-a empolgante, com procedimentos adequados à
geração de prazeres arrebatadores, buscando a interação dos parceiros,
numa relação intensa para a vida toda que é sempre possível quando há
afinidades culturais e passionais. É entretenimento com cultura, a vida de
uma família vivendo todos os problemas que afetam a humanidade e
buscando estar de bem com a vida.
Há cenas com jovens arrebatadores que chegam de fato aos prazeres
extremos, empolgados com os estímulos e as novas relações amorosas que
descobrimos e chamamos de “Tesões Grandões” e levam ao gozo extremo,
inclusive para as mulheres.
Traz uma nova visão do mundo e da educação infantil, adolescente e
sexual com amor e sem castigos: um sistema educacional novo e eficiente,
totalmente oposto ao tradicional patriarcalismo que fez o mundo dar no que
deu... Pais e filhos têm de ser amigos, não adversários. Devem ter um
relacionamento de amor, não de medo, aversão e desamor como ocorre
tradicionalmente.
Há ainda outros temas importantes para estar de bem com a vida,
sem mistérios, como a visão real do mundo velho e corrupto, mostrando
porque ele deu em m... e como mudá-lo para um mundo de amor e paz com
base na formação do caráter e no amor. Não é uma utopia, mas sim uma
evolução do pensamento: vamos amar em vez de “educar” e vamos fazer
amor arrebatador em vez de fazer sexo.
O amor é o que há de mais importante na vida, mas não há nada
mais ignorado: as crianças são educadas com desamor e castigos e as
pessoas aprendem a fazer sexo com os cães ou com as prostitutas, o que dá
na mesma, e as escolas só ensinam a por a camisinha e a não transar sem
ela. Isso tem de mudar: sexo é cultura e deve começar a integrar a cultura
dos adolescentes desde antes da puberdade para que não se percam no
namoro e em pegadas.
O principal objetivo desta obra é estudar a fundo as relações
sexuais e a capacidade de ter e dar prazer, além dos estímulos e relações
sexuais que descobrimos e transformam a paixão em pura empolgação e o
principal meio de conquistar o amor para a vida toda sem traições.
Esclarecemos os mistérios da paixão: por que as mulheres não
gozam, fingem que gozam ou têm gozo pífio, julgando-se frígidas. Como

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gozar sempre com gozo arrebatador e usufruir as transas especiais que
descobrimos e dão o gozo extremo. Indicaremos também como transformar
os genitais em órgãos empolgantes e a diferença entre fazer sexo e fazer
amor de paixão arrebatadora.
Os homens traem tentando encontrar uma vagina empolgante e as
mulheres relacionam-se com dezenas de homens em busca de um pênis
empolgante e é o que de fato buscam quando traem. Porém ter genitais
empolgantes depende de aprendizado e não se aprende com cães ou
prostitutas.
Descobrimos que há dois tipos de paixão: a comum a todos,
semelhante à dos cães, e a paixão arrebatadora que, com os procedimentos
adequados, leva ao gozo extremo, prendendo parceiros para sempre. Os
cães e as prostitutas não têm os procedimentos adequados aos seres
humanos. Por isso o que há no mundo é desamor e traições por se fazer sexo
inspirado neles e em desacordo com a natureza humana. Trataremos da
traição e suas verdadeiras causas e como evitá-la com o sexo empolgante.
O que leva alguém a procurar um parceiro para compartilhar a vida
ou brincadeiras íntimas é o sexo instigante. Se o sexo não instigar acabará
frustrando e dificilmente se chegará a uma segunda vez. Por isso tem de
haver procedimentos adequados para se chegar ao gozo extremo.
Quando arrebatadora, e principalmente com os Tesões Grandões, a
paixão pode arrebatar de gozo extremo amantes que prezem o gozo do
parceiro, mesmo numa simples pegada.
Uma relação para toda a vida é feita de certezas e a paixão
arrebatadora (que empolga de amor) é seu componente mais importante.
São incluídos outros temas que de alguma forma afetam o amor
como a roubalheira e a mentira dos governos que produzem mal-estar, raiva
e ódio. A solução é acabar com a roubalheira para tornar o país melhor com
muito mais desenvolvimento e dinheiro para os bens essenciais da vida.
É legítimo dar dinheiro para um candidato ou um partido para
ajudá-lo a vencer a eleição, mas há empresas que dão milhões para todos
os que tiverem chance de ganhar, logo o que lhes interessa é ter facilidades
para fraudar licitações e superfaturar contratos de obras públicas em
conluio com o governo: roubalheira. O impeachment é traumático e não
resolve. Temos de fazer o impeachment preventivo, impedindo que os
ladrões cheguem ao governo.

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CONTEÚDO
PRIMEIRA PARTE – NASCIMENTO E EDUCAÇÃO DE KARINA
CAPÍTULO I – A MULHER IDEAL
CAPÍTULO II – NASCIMENTO DE KARINA
CAPÍTULO III – RICARDINHO
CAPÍTULO IV – O PACTO
CAPÍTULO V – SER SÁBIA
CAPÍTULO VI – A CARTA
CAPÍTULO VII – O ANIVERSÁRIO
CAPÍTULO VIII – KARINA ROUBA A FESTA
CAPÍTULO IX – AFICIONADA POR LIVROS
CAPÍTULO X– A MENARCA
SEGUNDA PARTE – FORMAÇÃO SEXUAL DE KARINA
CAPÍTULO XI – AMOR OU SEXO
CAPÍTULO XII – A SEXUALIDADE DE KARINA
CAPÍTULO XIII – SUBMISSÃO AO AMOR
CAPÍTULO XIV - CONCEPÇÃO DE KARINA
CAPÍTULO XV – AMOR É A FELICIDADE DE ESTAR JUNTOS
CAPÍTULO XVI – O PODER
CAPÍTULO XVII – A NATUREZA DO AMOR
CAPÍTULO XVIII – A TERNURA
CAPÍTULO XIX – OS TESÕES GRANDÕES
CAPÍTULO XX – CIÚME
CAPÍTULO XXI – PATRIARCALISMO
CAPÍTULO XXII – KARINA ESCRITORA
CAPÍTULO XXIII – O MACHÃO
CAPÍTULO XXIV – À PROCURA DO AMOR
TERCEIRA PARTE: - AO ENCONTRO DO AMOR
CAPÍTULO XXV – NA FACULDADE
CAPÍTULO XXVI – FÁBIO
CAPÍTULO XXVII – AMOR VIRGEM
CAPÍTULO XXVIII – RICARDINHO
CAPÍTULO XXIX – O CASAMENTO
CAPÍTULO XXX – LUA DE MEL
EPÍLOGO
FIM

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Primeira parte – NASCIMENTO E EDUCAÇÃO DE KARINA

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Capítulo I – A MULHER IDEAL

Tenho de apresentar-lhes Aline. O seu grande mal, ou talvez a maior


virtude, é que ela faz o tempo passar rápido demais. Deve ser porque nós
não fazemos sexo. Nós brincamos de amar. Era sexta-feira e eu estava num
happy hour em que havia várias garotas lindas louquinhas para serem
transadas, mas o frescor daquela menina meiga, risonha e sôfrega de amor,
fez-me sair ventando para casa.
Em dias especiais era ela que fazia as “comidinhas”. Encontrei-a
azafamada ao fogão e, sorrateiro, brindei-lhe a bundinha com tapinha e
encoxada, os seios com apertões, o pescoço e o ponto erógeno com
mordidinhas, toda apequenada nos meus braços. Ela gemeu pronta para o
amor, esfregando-me bunda, costas, a cabeça que esfregou na minha
orelha... Gemeu:
─ Devo ter-me atrasado. Queria que tu me encontrasses sem cheiros
que não os meus e asseadinha para ti. Perdoa-me!
Estava avassalada de expectativas. Apertei-a nos braços:
─ Tu tens sempre cheirinho de Amor. És uma flor olorosa e doce
que eu tenho de amassar e comer para não perder o melhor da vida. Tu
sabes que eu só aceito pedidos de perdão da tua menina. – Ri – Ela fica tão
maluquinha e não há como resistir-lhe, mas a culpa foi minha: eu apressei-
me porque fiquei faminto pelo aconchego da aniversariante, mesmo de
véspera: tu me perdoas?
Aquela explosão de alegria girou nos meus braços, pulou no meu
pescoço, deu-me o beijo do tesão e, olhos marejados, apertou-me a cabeça
ao seio. Eu sorri:
─ Assim eu como a aniversariante, o aconchego, a menina. Tudinho!
Mas com a fome da menina que eu tenho eu vou brutalizar-te de paixão.
Quero que me tires uma dúvida. Qual é o teu segredo para me tornares tão
necessitado de ti? Eu sempre corro para ti como um cachorrinho carente de
afeto, mas hoje, ao dar-me conta da passagem de quase um ano como se
fossem dias, eu fiquei desesperado para estar contigo. E olha que eu estava
num happy hour em que havia lindas garotas desfrutáveis. Tu fizeste

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macumba?
Ela riu acarinhando-me a cabeça entre os seios:
─ Não. Como tu, eu não acredito em mitos e crendices. Mas eu te
amo com tanta força que ele pega em ti como macumba, mas o teu também
pega como macumba. Tu mesmo me ensinaste: “abrir o coração e as
pernas”. E tu sabes que, para isso, basta me sorrires ou me tocares. Tu
também não resistes a sorrisos e toques. E eu não abro porque queira. É
espontâneo e irreprimível: abro porque é imperioso abrir. Creio que é o
império do amor que me obriga. E tu sempre me recompensas à farta,
deixando-me doente de desejo, envolvendo-me todinha em amor. Está aí o
segredo: o amor que me enche de desejos e frissons e quando a paixão bruta
o leva para dentro de mim... minha menina fica maluquinha e só quer te
agradecer... Como não abrir-me? Quando me estapeaste a bunda eu anelava
por ti para adiantares a minha festa. Podes imaginar o tamanho da minha
alegria?
─ Claro que posso! Tu és doente de amor por mim desde o nosso
primeiro sorriso e eu por ti. Vamos sem mais tardança ao que o amor nos
abriga.
A calcinha virou tiras e enfiei-lhe dois dedos para lamber o molho
da fêmea deliciado:
─ Melhor do que os teus assados, só mesmo os molhos da tua
menina.
Joguei-a sobre a mesa e entrei naquele aconchego úmido, fervente
de desejos:
─ Tu só fazes delícias, mas tu és o teu melhor prato!
Ela gemeu, fez carinhos, apertou, agradeceu o tempo todo com a
menina maluquinha, estrebuchou, gritou palavrões, e gozou abraçada no meu
pescoço, chorando de contentamento...
Com quase um ano de malhação, aquela menina pompoarista tem a
força bruta, mas ela continua malhando porque quer dar-me gozo “tão
grande quanto eu lhe dou” com os Tesões Grandões e só ficará satisfeita
quando eu tiver de gritar palavrões para suportar o gozo. Mas a malhação a
torna saudável e brutalmente desejável e, melhor, ela adora treinar quando
está fazendo amor... Delícia de fato é escapar da chatice de meninas
dadivosas para cair nos seus braços. Mas ficou muito difícil suportar
tamanhos gozos sem apelar para os palavrões, apesar dos sons eróticos.
Aquela menina é um massacre de prazer. Perguntei-lhe:
─ Posso ajudar-te com os assados?
─ Não! Quero-te descansadinho para fartares a minha menina de
amor muito bruto nos festejos do meu aniversário. E ter-te esfaimado de

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mim... Ai, meu Deus! Há de ser amor para encantar-me a vida toda.
Sorri:
─ Mas tua menina nunca se farta. Ela fica saciada, mas não farta:
basta um toque... E, se não me deres ocupação, vou atrapalhar-te o tempo
todo mordendo teus assados, teu pescoço, teus peitos, tua bunda, tuas coxas,
tua menina, rasgando-te a roupa, pondo-te os dedos, comendo-te,
brutalizando-te, deliciando-me com os teus assados sabendo à tua menina...
Ah, deixa-me morder um carrê de cordeiro – sorri – ou eu mordo a
ovelhinha macia... E se eu mordo tuas carnes...
Tantas promessas... Fez forfait até eu mordê-la:
─ Prima Mirele diz que homem na cozinha só atrapalha, e atrapalha
mesmo. Porém tu fazes delícias e é para ti que eu faço minhas comidinhas.
Acompanhar-te ao restaurante quando a comilança em casa pode ser
completa e eu o teu prato principal, nem pensar!
Toda mordidinha, deu-me o carrê na boca com o mais deslumbrante
dos seus sorrisos. Mordi-o, enfiando-lhe os dedos e besuntei-lhe os lábios,
degustando tudo, boca na boca... Demos por nós completamente nus: coisas
do amor... Ela sorriu aliciante e besuntou os seios com o molho do carrê.
Haja molho...
Sorri, sugando-lhe os seios sabendo a cordeiro assado e
amassando-lhe a bunda:
─ Amanhã ganhas mais um aninho e o melhor é que ficas mais
saborosa quanto mais amadureces... E essa bundinha parece estar no ponto
ideal de degustação... Meu Deus! Que frisson me dá comê-la! Sabes que,
mesmo mais madura, pareces fresquinha como aquela menininha triste que
encontrei na praia? – Ri – Só que depois de cantada e amassada e de
olhinhos contentes. Meu Deus! Tu ficaste tão sôfrega que eu te amassei tanto
que cuidei que teria de te mandar para a oficina para te renovar a funilaria...
Que alegria ao lavar essa máquina na banheira de espuma e vê-la mais do
que perfeita... Que curvas na lataria! Que brilhos na lanternagem! Que
máquina possante! Ah, essa traseira de sonhos...! E trombar nesses airbags
firmes e macios... mergulhar nesse estofamento de frissons e pôr a paixão
dentro de ti de roldão com o amor... Levaste-me de zero a cem em um
segundo! E o melhor é que ainda me levas...
Ela fremia emocionada. Lembrar-lhe o aniversário de véspera e
com declarações de Amor até mesmo brincalhonas... Apagou o fogão...
Agarrei-a com mãos firmes na traseira e empurrei-a para a suíte, escada
acima.
Levei-a para o chuveiro. Sugamos os nossos lambuzados até eu
abri-lo. Ensaboamo-nos no maior esfrega-esfrega. Esfregávamos tudo o que

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tínhamos pela frente com tudo o que tínhamos para esfregar. Corpos
excitados, sorriu:
─ Estás do jeitinho que eu amo!
Foi uma cavalgada maluca, num galope de endoidecer até que a
joguei na cama ainda cobertos de espuma. Apliquei-lhe uma vigorosa
massagem de bunda. Ela foi ao delírio e retribuiu-me no auge do
contentamento. Na maior alacridade fez a menina beijar-me:
─ Ela quer beijinho...
Beijada, foi esfregá-la no Amadinho. Afundou no “coqueirinho” e
levou-me à loucura, com a dança do ventre, torcendo-o para um lado e para
o outro com algemadas de endoidecer... Sempre rindo de contente, jogou-se
de costas na cama. Bundinha elogiada? Pediu no maior folguedo:
─ Eu quero TVCs com TCCs. Tudo bruto!
Seu maior êxtase era estar sob a pressão do amor, gozando ou
fazendo-me relaxar. E aquela menina atrevida e cada vez mais maluquinha e
forçuda, não se cansou de me agradecer: abraços, ordenhas, beijinhos
chupitados... Ao gozar, pediu, explodindo em risada:
─ De TCC! Vai que é tua!
Novo gozo, riu: “agora na minha! Brutaliza a cachorrona”! Ao gozar
após a última paradinha, riu:
─ Tu não vais sair! E aplicou-me uma bruta algemada que me fez
deixar escapar o palavrão, fazendo-a chorar de contentamento. Custa-lhe
desencaixar nossos corpos. Mas relaxar naquela fofura de beijinhos
chupitados... quem iria querer sair! Adormeci naquele aconchego carinhoso
e, quando desci, encontrei o jantar à luz de velas, enfeitado pelo sorriso
sempre encantador. Sentou-se no meu colo e fartou-me de suas comidinhas
na boquinha...
Meiguice, prazer e gozo, antes, durante e depois... e sempre. Essa é
Aline: amor terno, paixão sem-vergonha, e um “nunca contentar-se de
contente”, como diria o poeta.

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Capítulo 2 – NASCIMENTO DE KARINA

Despertei com Aline a me sorrir com ternura. Acordar com ela nos
meus braços é a glória, mas me sorrindo... E seus olhinhos brilhavam tanto!
Seu rostinho esplendia num sorriso maravilhoso com aquelas covinhas
profundas de contentamento. Deslumbrado, disse-lhe:
─ Essa alegria...
Na maior empolgação, me respondeu:
─ Eu tenho um segredo para ti.
Ri:
─ Segredo! Tu és mais transparente do que cristal. Eu conheço cada
escaninho do teu coração e cada pensamento dessa cabecinha linda. – Abri-
lhe os braços – Tu tens é uma novidade... uma novidade fascinante. – E
apertando-a num abraço – Tu estás prenhe do fruto do nosso amor.
Abençoado seja o teu ventre que há de dar à luz uma dádiva do céu para
engrandecer o nosso amor e encher de felicidade as nossas vidas.
Ela sorriu em êxtase:
─ É. Beija-o na minha barriguinha. E dá-lhe também o meu beijinho,
por favor! Eu não alcanço.
─ Por favor? Nós não fazemos nada por favor, como pudeste
esquecer! Das pequeninas coisas às mais significativas nós fazemos tudo
por amor e o que pode ser mais significativo do que o florescer do nosso
amor?
Cobri de beijos aquela barriguinha adorada alertando o bebezinho:
“os meus e os da mamãe”. Mesmo vexadinha, ela uniu nossos corpos com
amor e um beijo transcendental, penitenciando-se por ter deixado escapar o
“por favor” no calor da empolgação:
─ Tu sabes, é muito comum usar com as pessoas em geral e, às
vezes, pode escapar com as pessoas muito especiais. Cobriu-me de beijos e
abraços, tantos que...
Nós uníramos nossas vidas havia quase três anos e meio, ao
descobrir um amor fulminante. Em minutos estávamos unidos de coração,
corpo e alma para toda a vida, nós cremos. E a fúria amorosa daquele

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encontro permanece com o mesmo vigor.
Ela estava prestes a concluir os estudos e quis liberar a barriguinha
para os frutos do amor. Livrara-se dos anticonceptivos havia um mês e o
resultado estava naquele rostinho feliz. Eu exultei. Iria finalmente iniciar a
construção do nosso mundo pequenino de amor e paz, dando àquele fruto do
nosso amor uma educação diferente de tudo o que eu conhecia embasada em
amor, carinho e atenção à inteligência daquela esperança de vida que
haveria de ser a maior realização de nossas vidas.
Nós sempre procuramos aglutinar parentes e amigos numa amizade
muito intensa em que o amor e a cordialidade são a tônica de nossa
convivência: Um pequeno mundo de paz e amor à parte do mundo insano
que nos cerca. E a experiência de Aline com a nossa lua de mel selvagem a
convencera de que o amor tórrido é o grande elo da união de um casal
depois da ternura.
Ternura e amor tórrido a deixam completamente entregue. E
entregar-se completamente ao amor é a suprema ventura de sua vida. E o
melhor: retribuir em dobro tudo o que recebe é o objetivo maior da sua
existência. Por isso dedicou-se intensivamente ao pompoarismo e abre-se
alegremente a qualquer fantasia que eu tenha. E a minha maior fantasia era
fazer um filho naquela barriguinha. E ele estava lá... Aline podia exigir a
recompensa que quisesse. E eu bem sei que de amor ela nunca se farta.
Disse-lhe:
─ E se nós comemorássemos fazendo o que melhor sabemos fazer?
Ela arregalou os olhos, sorrindo encantadora:
─ Amor...?
─ E o que sabemos fazer melhor do que amar?
Ela respondeu em êxtase:
─ Nada! Fazer amor é a tua obra prima. E com tanto amor ele
deverá nascer perfeito e lindo de morrer, porque eu estarei sempre em
êxtase de prazer que há de se refletir positivamente sobre ele.
Bobinha de amor, ela afagou o ventre dizendo ao minúsculo
habitante:
─ Dá licença, amorzinho, para a visita do papai, ele te ama e eu
quero encher o coração de alegria para ti. E mergulhou na minha boca com
seu beijo apaixonado, dizendo:
─ O nosso fruto há de se desenvolver em meio a muito amor... O que
é que tu vais me dar?
─ Tudo o que quiseres: dos “Ts Grandões” e lagartixa às massagens
eróticas com tratamento de choque, coqueirinho e tudo mais, tu mandas.
Podemos deixar uma parte para logo à noite, para o teu sonífero... Só há

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uma coisa que estás proibida de fazer até o bebê nascer.
Ela sorriu. É verdade, ordens e proibições era motivo para sorrir.
Perguntou-me exultante:
─ Do que me tu proíbes, meu amo?
─ Fazer-me dormir no teu seio no conforto dos teus braços. Tu é que
vais dormir no aconchego do meu peito entre os meus braços, aquecidinha
de ternura.
Gritando “uaaau”, ela correu pegar o frasco de óleo aromático e
cavalgou-me despejando-me quantidades generosas. Ria eufórica:
─ Amar-te é o meu vício... Eu quero tudo! Eu estou prenhe do nosso
amor e prenhe de gulodice do Amadinho. Quero toda a fascinação desse
menino feito de amor terno e paixão bruta.
Em poucos minutos estávamos escorregadios e aquecidos do óleo e
de massagens e quando se fartou de massagens deslizando a bundinha em
mim e eu nela, deu-me amor a fartar: Era capaz de grandes proezas
pompoaristas combinadas com a dança do ventre com torções alucinantes
no Amadinho. Amadinho é o apelido carinhoso que ela pôs-me no pênis.
Ela bem sabia que quanto mais amor desse mais receberia e ela
estava realmente gulosa de amor. Jogou-se de bruços para ganhar o
“tratamento de choque” no “ponto G”. Ainda estrebuchando de gozo, virou-
se para igual tratamento cumulativo na vulva e no clitóris, além da vagina.
Ela realmente adorava ser transada com paixão bruta. E ao amor ela não
restringia nada. Pelo contrário: oferecia-se por inteiro. Suplicou:
─ Guarda a última paradinha para delirares de gozo na minha
bundinha e nas encoxadas para as cambalhotas. Eu quero tudo, mas o pai
também tem de ter tudo.
Amor de paixão tórrida tornara-se o nosso brinquedo e quando
descobrimos a cambalhota acidentalmente, numa transa maluca, ela nunca
mais abriu mão dela. Ela dava, ou melhor, dava-se ainda mais eufórica
esperando pela encoxada bravia que a fazia rolar e rolar... Nós tínhamos
duas suítes desocupadas à espera de nossos filhos. Da menor fiz escritório
e a maior ocupei com dois colchões macios, um ao comprido do outro: mais
de cinco metros para cambalhotas... Ela perguntava risonha:
─ Hoje vamos ter brincadeiras na suíte do amor?
Sempre tínhamos, porque ela não resistia aos “Tesões Grandões”
que lhe davam o sono dos anjos e eu não conseguia dormir sem apertar
aquelas fofuras. E naquela noite, na suíte do amor, houve danças e strip-
tease em que ela foi apanhada contra a parede com estocadas muito fortes,
fazendo-a subir como lagartixa e, ao final dos Ts, quatro cambalhotas que a
deixaram em êxtase. Rindo, como criança no auge de folguedos,

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posicionou-se para novas cambalhotas e, rindo muito alegre, com o corpo
todo em ebulição:
─ De novo, com toda a força.
O amor era de fato a nossa obra prima, livre de pudores, culpa,
medo ou tabus e preconceitos, o delírio das nossas vidas, a argamassa que
cimentava nossas vidas numa só. Eu inventava toda a sorte de transas para
fasciná-la. Ela entregava-se a toda a sorte de fantasias que eu tivesse e
extrapolou no aprendizado do pompoarismo, transformando-o na verdadeira
arte de amar conjuminado com a dança do ventre e até com a dança da
boquinha da garrafa. O seu “tcham” combinado com a dança do ventre era
arrasador. E fazer sorrir e gemer aquela alegria toda... Meu Deus!
Eu apelidara a transa com foco no “ponto G” de TVG, transa de
vagina e “ponto G”, e a transa na vagina de TVC, transa de vagina e
clitóris. Ela própria apelidara a da bundinha, que ela achava despudorada,
de TCC, que era só trocar a vagina pelo C... Mas tinha de acabar com ela
de bundinha empinada e cabeça mergulhada no travesseiro, entre as pernas,
para, com uma encoxada bruta, fazê-la virar cambalhotas... O último
orgasmo acabando na cambalhota a deixava no maior êxtase e essas transas:
“Ts Grandões” cumulados de tratamento de choque, ou seja, força bruta, a
esvaiam em gozo. Ela chamava o “tratamento de choque” de “surra de pau”
porque lhe parecia estar levando uma surra, mas era puro deleite: “Croce e
delizia, delizia al cuore”. Ela deslumbrava-se:
─ Ai, amor, é tanta pressão sobre o meu corpo e tanta fricção na
minha menina, na minha vulva e em todo o meu corpo que até parece doer,
mas eu fico em estado de gozo permanente, em completo êxtase. – Ria – É a
cruz do pau bruto me surrando que leva delícia ao coração. O duro é
suportar a saudade da transa depois das cambalhotas! E o bom... o bom é
que eu durmo embevecida de sonhos lindos e acordo encantada pela vida e
pelo meu homem.
Já na cama, com os olhos pesados de sono, ela rolou sobre o meu
braço encaixando as costas no meu peito e cobriu-se com meus braços
sobre os seios. Eu perdia o aconchego do seu seio e dos seus braços... Mas,
em compensação, ganhava o encaixe das suas fofuras e, quando eu
despertava com ereção espontânea, ela acordava entalada suavemente no
Amadinho. Mas ela procurava dar em dobro tudo o que recebia e o amor...
O amor era o bem supremo da sua vida: se me flagrava dormindo com
ereção espontânea, eu acordava com aquela menina pompoarista fazendo-
me carinhos muito suaves e deliciosos e quando me pegava acordado...
Mais oito meses de folguedos na suíte do amor ou na praia e eu
ganhei uma menininha linda, com os mesmos olhinhos verdes de Aline,

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plena de saúde e vigor... A espera foi longa, mas valeu a pena. Ver aquela
barriguinha que eu amava tanto começar a crescer e sentir que ali dentro
palpitava um novo ser germinado de mim me enchia de alegria e orgulho.
Vivia afagando aquela barriga que se projetava mais e mais para frente e
lambendo a cria escondida, mas que eu bem sabia e sentia que estava lá.
Ela não fazia a mãezinha enjoar, a barriguinha crescer e crescer... não dava
delicados chutes em resposta aos meus afagos, às minhas declarações de
amor?
Enfim, o tempo decorreu e eu senti que aquele ser estava pronto e
fiquei à espera de seus primeiros sinais. Quando levei Aline para a
maternidade, ela estava calma e tranquila. Sua única ansiedade era ver
chegar a hora de abraçar e amamentar nossa filhinha. Eu estava à beira de
um ataque de nervos, mas ela, apesar das dores das contrações, sorria na
doce beatitude da maternidade. Durante o parto, colaborou e me sorriu o
tempo todo. Contorcia-se e suava com as dores, mas, estoica, me apertava a
mão para fazer força e me sorria. Exigiu parto natural: queria presidir o
nascimento da filha e colaborar com o que pudesse. Quando sentiu que o
bebê estava nascendo, disse-me emocionada com um sorriso terno:
─ Vai vê-la, a nossa filhinha está chegando...
Corri para a extremidade da mesa de parto e, maravilhado, vi surgir
a cabecinha, depois os bracinhos e o peitinho. Aline gemia fazendo força e
sorria-me com cada progresso alcançado e logo vi o bebê por inteiro nas
mãos do médico. Ergui os braços comemorando como um gol da vitória.
Corri para Aline e beijei-a dizendo-lhe:
─ Ela é linda! Que presente maravilhoso! O mais lindo e amado da
minha vida.
Aline exultava, ria e chorava e, quando recebeu aquele mimo nos
braços, o sorriso de felicidade foi indescritível e mal teve tempo de beijar
e admirar embevecida, babando de gozo, aquele serzinho esfaimado que se
atracou em sua mama com uma voracidade incrível. Enternecido com a
beleza daquele quadro, eu disse à Aline:
─ Sabe, amor? Eu não posso dizer que te amo cada dia mais porque
te amo e sempre te amei com a capacidade total do meu coração e nem sei
como seria amar mais do que te amo, porém uma coisa é certa: eu te admiro
cada dia mais. O estoicismo com que te portaste o tempo todo me
sensibilizou profundamente e me enche de orgulho. Até os médicos se
mostraram surpresos com tamanha colaboração da mãe. Tu fizeste todo o
trabalho deles sozinha.
Efetivamente, com sua arte pompoarista, ajudou muito na expulsão
do feto, deixando os médicos maravilhados.

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Capítulo III – RICARDINHO

Três anos eram passados do nascimento de Karina. Aline sabia que


eu não fazia restrições a ela ter filhos. Afinal era ela mesma que os iria
carregar na barriga... No meu aniversário, acordei com Aline retornando do
banheiro, sorrindo-me com muita ternura, cheia de enlevo:
─ Eu tenho um segredo para ti...
Sorri:
─ Segredo? Tu? Sei! Mas nem de polichinelo! Tu tens é um
presentão... E pela tua carinha eu já adivinho qual seja...
─ E qual é?
Ela estava tão terna e aquela felicidade toda que lhe iluminava o
semblante, com covinhas muito profundas, não podia me iludir. Beijei-lhe o
ventre bendito:
─ É que tu tens novo bebê a bordo dessa barriguinha preciosa...
Desta vez, nem me preveniste, não é? Bendita surpresa! Bendito seja ele,
bendita sejas tu, bendito seja esse ventre que há de gerá-lo lindo e
saudável. Meu Deus! Que presente!
Deitando-se ao meu lado, disse:
─ Feliz aniversário! Que o meu sorriso te faça feliz a vida toda!
Acabei de fazer o teste. Vou tornar a frutificar para ti. É mesmo o meu
presente
Quando comemorávamos a boa nova, Karina veio correndo dar-nos
bom-dia. Abraçou-me bem apertado e beijou-me, desejando-me feliz
aniversário. Foi até a mãe, beijou-a e desejou-lhe bom dia. Sentei-a no meu
peito e disse-lhe:
─ Tu és uma boa menina e nós queremos que tu sejas muito feliz e
meiguinha para encheres de felicidade todos os que tu amas e que te amam.
Tu sabes que estamos fazendo um presente muito especial para ti?
─ E o que é?
─ É um irmãozinho para tu brincares com ele, um bebezinho de
verdade. Tu queres?
─ Quero! Onde ele está?

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Aline interveio:
─ Está aqui na barriguinha da mamãe. Ele está sendo feito. Tu
também foste feita aqui dentro.
Eu acrescentei:
─ Na barriguinha da mamãe tem uma casinha pequenina toda cor de
rosa que tem o tamanho e a forma de uma pera, onde tu moraste durante
nove meses. Agora é teu irmãozinho que está morando nela até ele ficar
pronto para nascer.
─ E quando é que ele fica pronto?
Aline respondeu-lhe:
─ Ainda demora. Para ele ficar um bebê lindo e perfeito como tu
demora um bom tempo. Mas se tu o amares, como eu e o papai o amamos, tu
podes dizer-lhe bom dia e beijá-lo na minha barriguinha. Ele perceberá e
ficará te amando. Tu também poderás acompanhar o crescimento dele. Por
enquanto ele é só uma sementinha, mas em alguns meses a minha
barriguinha começará a aumentar com o crescimento dele. Assim tu vais
preparando o teu coraçãozinho para recebê-lo quando ele nascer. Vai ser
uma grande alegria como quando tu nasceste...
Ela beijou a barriga da mãe e lhe disse:
─ Eu quero sim. Eu também posso fazer um bebezinho na minha
barriguinha?
Rimos muito e Aline lhe explicou com afeto:
─ Ainda não, minha flor, a casinha que tu tens na tua barriguinha
ainda é muito pequenina para abrigar um bebê. Só quando tu fores grande
como a mamãe é que tua casinha estará pronta e também terás seios grandes
como os meus. O bebê precisa mamar para crescer forte e com saúde. Ou tu
pensas que podes alimentá-lo com essas mamicas? Tu mamaste muito nestes
seios que sempre te dei com muito amor. É por isso que tens tanta saúde e
disposição para fazer perguntas, para aprender coisas e para brincar.
Também é preciso ter muita responsabilidade para fazer bebês como
tu e como teu futuro irmãozinho. É preciso ser capaz de alimentá-los, vesti-
los, educá-los, responder-lhes todas as perguntas que tu fazes... E é preciso
que a gente os queira muito. Não se pode fazer como tu fazes com tuas
bonecas. Tu te cansas delas, quebra-as e joga-as no lixo. Já imaginaste se
nós nos cansássemos de ti e te largássemos na rua? Mas não te preocupes
com isso. Tu tens muito que crescer e aprender até seres gente grande e
poderes fazer bebês.
Beijou-a com ternura e continuou:
─ Na tua idade tu tens é que brincar muito e perguntar tudo o que
quiseres saber. Tens que comer bem para cresceres forte e inteligente e

21
poderes ir à escola para aprender a ler e escrever e muitas outras coisas
importantes, inclusive a ler nos livros como papai e mamãe. Aí tu não
dependerás de nós para conheceres estórias e saber das coisas. Tu mesma
poderás ler nos livros. Há uma coisa que é bom tu aprenderes desde já: é
com livros que se fazem pessoas grandes, porque é neles que encontramos o
conhecimento que nos faz sábios. É por isso que sempre te lemos uma
estorinha antes de dormires. É para aprenderes a amar os livros.
Karina perguntou:
─ O que é sábio?
─ Sábios são os que sabem muito, porque leem muito nos livros.
Quando tu fores gente grande e tiveres teus bebês, eles também te farão
muitas perguntas e tu terás de responder-lhes. Tu também terás de ser sábia.
Karina era uma menina precoce com uma incrível fome de saber
sobre tudo o que via ao seu redor. Queria saber o que era, como se
chamava, para que servia... Visitas ao zoológico eram uma festa e um não
acabar de perguntas. Ela perguntava e não desistia da resposta. Insistia até
que a satisfizéssemos.
Qualquer que fosse a curiosidade, nunca a deixávamos sem resposta
e sempre lhe respondíamos com honestidade e franqueza. Para que mentir?
Mais cedo ou mais tarde, ela descobriria a verdade e concluiria que fora
iludida numa mentira ainda que inocente e, fatalmente, perderia a confiança
em nós. Passaria a entender que o mundo é feito de enganos e de mentiras.
Mais tarde, quando tivéssemos de orientá-la sobre temas mais delicados
como menstruação, namoro, gravidez, AIDS, drogas..., ela certamente não
acreditaria em nós e iria preferir se orientar por amigos e namorados.

Karina tinha uma cabecinha muito ativa e sua curiosidade era


inesgotável. Um dia, depois de dar-nos bom dia e afagar e beijar enlevada a
barriga da mãe, ela perguntou com toda a candura:
─ Como é que se faz um bebezinho?
Aline respondeu-lhe com muita paciência e ternura:
─ Tu já reparaste que as pessoas se dividem em homens e mulheres
e que todas elas têm papai e mamãe como tu?
Pensativa, Karina acenou com a cabeça afirmativamente, mas
imediatamente se corrigiu:
─ Vovô pianista não tem!
Sorrimos da esperteza e vivacidade da pirralhinha. Aline lhe
retrucou compungida:
─ É que eles já morreram... Papai do céu chamou-os para junto de
si.

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─ Ah! Eles estão lá no céu. Mas como é que a gente faz um
bebezinho?
Ela saía-nos mais esperta do que pensávamos. Mas Aline continuou
com toda a tranquilidade e, com o indicador, tocou-lhe o narizinho:
─ Deixa eu te explicar, apressadinha! Quando as pessoas ficam
grandes, as mulheres sentem necessidade de ter um homem e os homens
precisam de uma mulher. Eles sempre se escolhem um ao outro porque
acham o outro bonito, carinhoso e por que se amam, assim como eu e teu
pai e formam uma família como a nossa.
Formam uma família porque para fazer um bebê é preciso um
homem e uma mulher. Então logo eles querem ter uma coisinha linda e cheia
de graça como tu. Foi o que aconteceu comigo e com teu pai. Quando
estávamos com a vida estabilizada e tu serias muito bem vinda, ele me
disse:
─ Eu queria tanto um bebezinho, e eu lhe respondi: eu também estou
louquinha por um. Aí o teu papai pegou o pipi dele e pôs no pipi da mamãe,
deixando uma sementinha na barriguinha da mamãe. Então essa sementinha
cresceu, cresceu, cresceu e deu essa coisinha linda que a mamãe ama
demais! É assim que se faz um bebezinho. Como vez, tu já eras desejada e
amada antes de existires. Agora nós achamos que tu precisavas de um
irmãozinho para ser teu amiguinho e fizemos tudo de novo.
─ E colocando as mãos na barriga com um sorriso terno: ele está
aqui!
Karina beijou-lhe o ventre com afeto e perguntou-lhe:
─ Ele vai ser um menino?
─ Ainda não sabemos, mas quando descobrirmos tu serás a primeira
a saber. A gente nunca sabe se a sementinha é de menino ou de menina.
Karina ficou um tempo afagando o ventre da mãe carinhosa e
pensativa e voltou a surpreender-nos:
─ Como é que ele sai da barriguinha?
─ Quando ele estiver pronto para nascer, o pipi da mamãe aumenta
de tamanho e ele sai pelo pipi.
─ Como ele vai se chamar?
─ Se for menino será Ricardo como o vovô. Se for menina tu
escolhes. Tens mais alguma pergunta, “perguntadeira”?
─ Acho que não.
Eu fiz-lhe cócegas na barriga e disse-lhe:
─ Então vai brincar. Eu e mamãe vamos tomar banho e depois os
três vamos tomar café. Precisas te alimentares bem para cresceres forte e
cheia de saúde para enriqueceres essa cabecinha com sabedoria.

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Capítulo IV – O PACTO

Karina era uma surpresa atrás da outra. No dia seguinte veio me


pedir:
─ Papai, tu me ensinas a ler?
─ Mas tu és muito novinha para aprenderes a ler. Não é fácil de
aprender. As pessoinhas só começam a aprender quando têm o dobro da tua
idade.
─ Tu e mamãe estão sempre lendo. Ela adora aquele livro que está
na cabeceira dela. Eu também queria ler. Tu me ensinas?
Sorriu encantadora:
─ Eu queria ser sábia como a mamãe.
─ Tu queres mesmo ser sábia como a mamãe?
─ Quero muito.
─ Então eu te ensino, mas tem que ser sem a mamãe saber. Aprender
a ler é difícil, tu és muito novinha e eu não sou um professor. Se eu não
conseguir te ensinar vou ficar com vergonha. Por isso tem que ser um
segredo só nosso. Tu prometes?
Seus olhinhos brilharam:
─ Prometo!
─ Então, sempre que a mamãe sair para dar aulas na faculdade, eu te
dou uma aula. Mas tu não lhe dirás nada. Começaremos amanhã porque eu
preciso descobrir um meio de tornar as aulas fáceis e muito agradáveis. Eu
jamais te daria as aulas que eu tive. Se eu conseguir te ensinar, tu farás uma
surpresa para a mamãe escrevendo uma cartinha para cumprimentá-la pelo
aniversário. – Sorri – Tu terás de provar-lhe porque ela não vai acreditar.
Que é que tu achas?
─ Eu adoraria. Mas como é que eu provo?
─ Tu lês um trecho de um livro para ela.
Ela estava fascinada e eu numa entalada e tanto. Não podia falhar,
porque se ela se enfarasse das aulas, podia tomar aversão aos estudos e
quando chegasse à idade certa... Procurei levar tudo na brincadeira. Pelo
menos se não desse certo, ela não se aborreceria. No dia seguinte, eu a

24
aguardava no escritório para a primeira aula quando ela me procurou
cabisbaixa com os olhos lacrimosos:
─ Papai, acho que tu vais te zangar comigo.
─ Mas eu nunca me zango contigo porque tu és uma menininha
boazinha. Às vezes, te censuro quando fazes alguma coisa errada, mas isso
faz parte da minha missão mais importante que é a de te educar. Tu estás na
primeira fase de aprendizado. Tens de aprender sobre tudo o que está à tua
volta. Saberes as palavras básicas e os nomes das pessoas, dos animais e
das coisas e o mais importante: saberes o que é certo e o que é errado. Tu
estás com medo de que eu te castigue porque cometeste um erro?
─ É... O Bubu levou uma surra do pai dele por muito menos do que
eu fiz.
─ E ele ficou com raiva do pai.
─ É. Como é que tu sabes?
─ Todas as pessoas têm raiva de quem lhes faz mal.
Estendi-lhe os braços:
─ Vem cá, senta-te aqui no meu colo. Talvez o Bubu seja um menino
malvado, ou revoltado por não receber o amor e o carinho que tu tens.
Quando não são compreendidas e amadas e quando não têm diálogos com
os pais para satisfazerem suas curiosidades, as crianças fazem maldades e
desaforos para chamar a atenção sobre si. E aí forma-se um círculo vicioso:
mais maldades... mais castigos... mais maldades... mais castigos... Mas tu és
uma menina boazinha. Tu nunca fazes nenhuma maldade e eu não quero que
tu tenhas medo nem raiva de mim.
Quero o teu coraçãozinho livre e aberto para a alegria, para a
ternura, para a vida e para guardar tudo o que aprendes de bom. De ti eu
quero amor e respeito. Mas não quero respeito porque tenhas medo. Quero
que o teu respeito venha do amor e da confiança. Eu sei que tu me respeitas
porque me amas e porque confias em mim. Tu me amas e tens confiança em
mim porque sabes que eu só quero o que é bom para ti e porque és muito
terna.
─ Acho que tu é que me fizeste terna.
─ Não. Todas as crianças nascem ternas. Os adultos é que
endurecem seus coraçõezinhos com desatenções e castigos. É como
acontece com os animais. Todos nascem dóceis e tornam-se amigos ou
feras, dependendo do ambiente em que vivem e do tratamento que recebem.
Tu fazes gato e sapato do teu papagaio e ele fica na maior alegria quando
brincas com ele, mas se o teu primo Rodrigo tenta tocá-lo, ele bica-o.
Amor, atenção e simpatia são sempre retribuídos com amor, atenção e
simpatia, mas maltrato e desatenção...

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A diferença é que as crianças são racionais e aprendem com muito
mais facilidade, especialmente se forem educadas com amor e sem castigos.
Elas ficarão, sim, mais ternas se lhe dermos ternura, carinho e atenção. E
más, se alimentarmos os seus instintos maus com castigos e desatenções. Tu
ficas mais terna a cada dia.
Ela perguntou:
─ O que é racionais?
─ Racionais são os seres humanos porque pensam, querem saber e
fazem perguntas como tu. Tu és racional. Sabes que eu adoro falar contigo?
Tu és atenciosa e pareces falar como um adulto... Não, não, tu sempre falas
como uma criança inteligente e meiga, com a pureza e a honestidade das
crianças. Eu é que viro criança quando falo contigo. Readquiro a pureza e a
autenticidade de quando tinha a tua idade e falamos como dois amigos, de
coração para coração.
Nós temos um trato não combinado nem escrito, mas que seguimos à
risca: eu te amo e tu me amas; eu confio em ti e tu confias em mim; eu te
ensino tudo o que tu queres saber e tu adoras aprender; eu não te dou
nenhum castigo e tu não fazes nenhuma maldade; eu te digo as verdades do
meu coração e tu me dizes as verdades do teu coração. E aí está porque
gostamos tanto um do outro e porque nos respeitamos tanto. Esse teu amigo
Bubu. Ele já te fez alguma maldade, já te fez algum desaforo?
─ Não, papai, ele gosta muito de mim! Nós somos muito amigos.
─ Vês? As pessoas que se querem bem sempre se respeitam e nunca
se dizem desaforos, jamais fazem uma maldade. E os melhores amigos que
podemos ter são nossos pais quando não estão muito ocupados consigo
mesmos e com seus maus humores e podem dar-nos um pouco de carinho e
atenção.
Eles podem ensinar tantas coisas e estabelecer uma amizade muito
sólida com os filhos. Uma amizade verdadeira com os filhos é o melhor
remédio para reparar as agruras do dia a dia e o estresse e faz muito bem
aos filhos que serão ternos e jamais pensarão em maldades e desaforos. Só
não se pode é descarregar neles os maus humores.
Faz muito mal à gente magoar as pessoas que amamos muito. Um dia
eu gritei com a tua mãe. Ela chorou muito e eu me senti tão mal! Ela tinha
feito uma coisa muito feia, uma brincadeira com um charuto, essa coisa
nojenta, mas ela não fez por mal, ao contrário, ela só queria me agradar. Ela
ainda era meio criança e as crianças não têm muita noção do que é nojento.
Mas eu a recompensei com tanto amor, com tanto carinho, que acho que ela
até bendisse a minha grosseria. Mas eu nunca me perdoei e nunca mais fui
rude com ela.

26
Eu também te amo muito e qualquer castigo que eu te desse doeria
mais em mim do que em ti. Por isso eu te peço, filhinha, nunca faças
nenhuma maldade para que eu não seja obrigado a te castigar. Escuta, e se
nós ficássemos amigos?
Surpresa ela quis saber:
─ Amigos como, papai?
─ Nós seremos paizinho-amiguinho e filhinha-amiguinha. Nós
fazemos um pacto, um contrato escrito, para toda a vida, mas presta
atenção. Quando assinamos um contrato, temos de cumpri-lo para sempre.
Por isso só deverás assiná-lo se concordares com tudo. É assim:
Eu serei sempre o teu melhor amigo e tu serás sempre a minha
melhor amiga. Amigos de verdade para sempre! Todos os segredos e
problemas que tu tiveres tu só contas para mim e todos os segredos e
problemas que eu tiver eu só conto para ti. E, juntos, nós pensaremos e
resolveremos todos os nossos problemas. Mas um amigo de verdade tem
que chamar a atenção ou mesmo censurar seu amigo se ele estiver fazendo
alguma coisa errada, porque eles devem proteção um ao outro. E tu nunca
mentirás nem farás maldades e desaforos e eu nunca te darei castigos. Tu
concordas com tudo?
Ela sorria realmente feliz ao responder:
─ Tudo. É maravilhoso.
─ Então somos amigos?
─ Somos!
─ Para toda a vida?
─ Para toda a vida!
─ Então toca aqui. Agora que somos amigos verdadeiros, conta-me
o teu erro para nós resolvermos. Isso que tu fizeste... Foi mesmo uma coisa
errada?
Seus olhinhos ficaram tristes e ela confirmou com a cabeça.
─ Tu mesma reconheceres que erraste é prova de que já estás te
censurando e de que não fizeste de propósito. Que erro tu fizeste?
─ Eu queria mais espaço para brincar e empurrei a minha televisão
para a beirada da mesa. Ela caiu no chão. Ela quebrou. Tu me perdoas?
─ Os amigos não precisam pedir perdão porque nunca fazem uma
maldade um para o outro e nós somos amigos, lembras?
─ Lembro.
─ O que fizeste é muito grave. Mas foi só um acidente. Tu não
fizeste por mal e eu não vou te castigar, mesmo porque os amigos não se
castigam, mas resolvem seus problemas conversando como pessoas
inteligentes e que se adoram. Entretanto a vida te castigará. Ela é

27
implacável e não perdoa os nossos erros mesmo que não tenhamos culpa ou
não tenhamos feito por mal. O fato de estarmos vivos implica em termos
respeito pela vida. Se nos descuidamos, se a desafiamos, se somos
imprudentes, ela acaba nos punindo.
Pela tua falta de cuidado, pela tua imprudência, a vida te deixará
sem televisão, sem DVD e sem vídeo-game até que o papai possa te
comprar outra TV e, provavelmente, não poderei te levar ao teatro por
algumas semanas. Quando desperdiçamos dinheiro com alguma coisa ele
vai nos faltar para outras coisas importantes. Eu terei de trabalhar mais
para ganhar mais dinheiro e comprar outro televisor e terei menos tempo
para ti, para me deliciar com teus olhinhos me sorrindo de felicidade, ainda
mais agora que também somos amigos.
Ela abraçou-me com ternura:
─ Tu és bom e eu te amo muito. Tu também serás castigado pelo meu
erro, não é?
Com certeza! A vida é implacável com os que erram e geralmente
estende sua punição por nossos erros às pessoas que amamos,
especialmente quando nos pune com a própria vida. E ela pode nos castigar
de todas as maneiras: em dinheiro ou privações, como no caso da tua TV;
fisicamente, (já imaginaste se, em vez de empurrar, tu puxasses a TV e ela
caísse sobre os teus pezinhos?); moralmente, com a falta e a saudade das
pessoas que morrem em acidentes estúpidos. Todos sabem disso, mas
muitas pessoas continuam imprudentes, continuam vivendo perigosamente
ou dirigindo em alta velocidade e, o que é pior, bêbados ou drogados. Sorri
e perguntei:
─ Agora tu não sabes do que eu estou falando, não é?
Ela riu:
─ Não.
─ Não te preocupes. Muitas pessoas grandes também não sabem até
se estourarem contra um poste ou caírem de um andaime... Mas o único lado
bom dos erros, quando não são irreparáveis, é que as pessoas inteligentes
aprendem com eles. Tu nunca mais irás empurrar ou puxar objetos pesados
que possam escapar ao teu controle, não é?
─ Claro! Não quero que a vida me castigue mais!
Sorri:
─ Tu és uma menina sabida e eu vou fazer o possível para te
comprar outra televisão o mais rápido possível e não ficar muito tempo sem
te levar ao teatro para reduzir o castigo que a vida te deu, mas quero que tu
me prometas uma coisa.
─ O que é, papai?

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─ Quero que sejas cuidadosa para não causares mais acidentes; que
não brinques com fogo ou fósforos e nem álcool; que não chegues perto do
fogão quando houver panelas em cima dele ou tiver fogo aceso e nunca
mexas em remédios, vidros, produtos de limpeza ou de inseticidas e frascos
em geral.
Tudo isso pode causar acidentes muito graves com pessoas grandes,
imagina com crianças. Todos os dias chegam pessoas ao pronto-socorro
queimadas ou envenenadas por fazerem mau uso dessas coisas. E tais
acidentes, além de custarem muito dinheiro para repará-los, ainda podem
nos causar dores horríveis e até marcas e cicatrizes para toda a vida.
Eu sei muito bem disso porque fui um menino como o Bubu. Nunca
tive as atenções que te dou e meu aprendizado sempre foi muito difícil e
demorado, porque tive de aprender à minha própria custa, à custa de meus
erros. E as noções de certo e errado eu aprendi com surras e as cicatrizes
que tu já conheces.
Tua mãe e eu te amamos muito e sempre te orientamos para que
aproveites tudo o que a vida nos oferece de bom e te mantenhas afastada do
que ela tem de ruim. Hoje ela te castigou porque tu erraste, mas sempre foi
generosa contigo: fez-te linda, inteligente e te deu pais sábios e ternos que
te amam e querem o melhor para ti. Tu vais aprender a ler e a vida vai te
deixar ler muitos livros, fazendo-te sábia, e vais escrever uma cartinha de
aniversário para a mamãe e contar-lhe a tua proeza. Também poderás
escrever para os teus amiguinhos e amiguinhas.
Nós queremos te dar uma orientação completa e segura para que tu
sejas uma mulher bonita, sábia e digna como a mamãe. Tu queres?
Ela sorriu embevecida:
─ Quero.
─ Tu serás bonita se não tiveres perebas.
─ O que são perebas?
─ São marcas e cicatrizes por acidentes com fogo e com tudo o que
te disse há pouco. Tu serás sábia se aprenderes o que te ensinamos e leres
muito nos livros. Serás digna se não mentires nem usares de falsidades,
maldades e desaforos. E, se fores tudo isso, serás muito amada e admirada
por todos.
Tu receberás todos os conhecimentos necessários para que tenhas
uma infância feliz e uma adolescência sem nenhum problema e para que tu
sejas uma adulta bem preparada para encarar a vida de frente, sem
trombadas.
Tu não receberás ordens, mas orientação mostrando-te o que é bom
e o que é ruim para que tu mesma escolhas o que é melhor para ti.

29
Brinquei:
─ Queremos educar-te como uma pessoinha meio grande... Mas tu
serás responsável por tudo o que fizeres e deverás fazer sempre a coisa
certa para a vida não te castigar. E nós vamos precisar muito da tua ajuda
para que não sofras acidentes e os castigos que a vida nos impõe quando
erramos.
─ E como é que eu posso ajudar?
─ Confiando em nós, seguindo à risca nossa orientação e
escolhendo sempre a melhor alternativa que te dermos. Procurando fazer
tudo o que dissermos do jeitinho que ensinarmos. Assim tu estarás
protegida e não terás de temer que a vida te castigue outras vezes. Ela foi
muito generosa contigo e continuará sendo, mas será implacável se
cometeres erros. Tu me prometes que tu estarás sempre atenta a tudo o que
eu te disse para evitares que a vida te castigue e para preservares a tua
saúde e a tua beleza sem dores e cicatrizes?
─ Prometo.
─ Boa menina! Isso é muito importante, porque para sermos felizes,
a saúde é o que há de mais importante e, em se tratando de mulheres, a
beleza também é fundamental. Podes perguntar à tua mãe.
Já conversamos bastante, dá um abraço grandão no papai e aquele
sorrisão lindo de felicidade. E um abraço também no teu amigo! Risos.
Agora vai brincar. Tu tens motivos de sobra para ficares feliz. Em vez da
surra que temias, tiveste um diálogo amigo e uma lição de vida muito
importante. Ainda por cima, ganhaste um amigo de verdade. E o teu amigo
está muito feliz por seres boazinha e vai trabalhar duro para te comprar
outra TV e para te levar ao teatro no domingo. Promessa de amigo!
Amanhã começaremos nossas aulas. Já descobri um jeito de torná-
las fáceis e agradáveis e estou tão entusiasmado quanto tu. Não vejo a hora
de te ver lendo nos livros para meu deleite como faz a tua mãezinha. Ela
adora ler para mim.
Ela sorriu, obedeceu e foi brincar. No jantar, lembrei-me de meu
acordo com Karina e espicacei Aline:
─ Ah, amor! Se tu soubesses do pacto que Karina fez comigo tu
morrerias de inveja.
─ Que espécie de pacto?
─ Achas que vou te contar para ficares mordendo os cotovelos de
inveja?
Aline desesperava-se:
─ Não me torturem! Vocês sabem que a curiosidade me enche de
pruridos!

30
Karina não se aguentava de rir. Perguntei-lhe:
─ Tu achas que devemos contar à mamãe?
Karina olhou-nos esfuziante de alegria e disse:
─ Eu acho. Mamãe é tão boazinha.
Corrigi Karina:
─ Ela não é só muito boazinha, não! Ela é a melhor mãezinha que eu
encontrei para te dar. E olha que eu procurei durante muitos anos. Eu queria
a melhor de todas e só quando encontrei a mamãe é que resolvi te fazer. Sei
que tu a amas muito, mas tu também lhe deves respeito, admiração, atenção
e, acima de tudo, deves seguir seus ensinamentos e suas orientações que são
sempre sábias e baseadas na experiência.
Ela é a melhor amiguinha e conselheira que poderás ter para sempre
porque ela estará sempre atenta para que a vida não te castigue. Ela vai te
indicar sempre os caminhos certos e os errados para que tu escolhas o
melhor para ti. Se fores sábia e escolheres o certo serás sempre bem
sucedida e não darás trombadas na vida. Entendeste?
─ Entendi. Eu sei que tenho o melhor pai e a melhor mãe do mundo
e sei que vocês querem o melhor para mim.
Correu abraçar-nos:
─ Eu os amo muito.
─ E nós temos a melhor filhinha e a mais sábia. Conta à mamãe
sobre o pacto.
Pisquei-lhe o olho:
─ Vê se tu consegues convencê-la a assiná-lo.
Karina assumiu sua verve discursiva:
─ Eu e papai fizemos um pacto maravilhoso de amigos: ficamos
amigos verdadeiros para toda a vida. Amigos de verdade mesmo! Eu vou
contar todos os meus segredos e os meus problemas só para ele e ele vai
contar todos os dele só para mim. Assim nós podemos conversar para
resolvê-los.
Também combinamos que eu nunca mentirei nem lhe farei maldades
ou desaforos e ele nunca me dará castigos. Nós vamos resolver todos os
nossos problemas conversando como amigos. Ele também me ensinou a
evitar acidentes para a vida não me castigar mais e crescer com saúde e
ficar uma mulher bonita e sem perebas como tu.
Aline estava deslumbrada com o discurso da pimpolha. Abraçou-a
emocionada e disse:
─ Vocês têm razão: eu estou morrendo de inveja. Eu adoraria ter
amigos verdadeiros como tu e papai.
Karina foi incisiva:

31
─ Tu gostarias de ser nossa amiga de verdade?
Eu adoraria, filhinha.
─ Tu concordas com tudo o que eu disse?
─ Com tudo! É um pacto maravilhoso.
Karina inquiriu-me:
─ Papai, ela pode entrar no pacto?
─ Só se tu quiseres. Tu terás de assinar e só deves assinar o que tu
quiseres.
Ela riu:
─ Eu quero!
─ Bem, considerando que ela é uma mulher maravilhosa;
considerando que ela é uma mãe extremosa; considerando que ela é uma
esposa amantíssima; considerando que ela tem ternura bastante para
derreter nossos corações e encher-nos a vida de encanto; considerando que
ela é muito experiente, culta e inteligente para colaborar nos
esclarecimentos de nossas dúvidas e na solução de nossos problemas,
nossas ansiedades e nossas inquietações; considerando que ela é boazinha
como tu testemunhaste, acho que podemos apreciar a proposta.
Entusiasmada Aline perguntou:
─ E o que é que eu tenho de fazer?
Eu lhe respondi:
─ Eu ensinei Karina a escrever seu nome e assinamos um contrato
que é um juramento de amizade eterna. Queres participar dele?
─ Eu adoraria!
Karina correu buscar sua via do pacto e eu reescrevi as cláusulas
para Aline, ajustando-as:
─ Tu juras solenemente que todos os teus segredos, todos os teus
problemas, todos os teus anseios, todas as tuas angústias e inquietações tu
só os contarás a um de nós ou a ambos e que ouvirás os nossos?
─ Eu juro!
─ E concordas em discuti-los e ajudar-nos a resolvê-los só comigo
e com Karina?
─ Concordo!
─ Tu te comprometes a nos ensinar e nos orientar por toda a vida, e
a chamar-nos a atenção sempre que percebas que estamos fazendo alguma
coisa errada que possa nos levar a quebrar a cara, ou seja, sermos punidos
pela vida ou pagar algum mico? E te comprometes a aceitares nossos
ensinamentos, orientação e censura em casos da mesma natureza?
─ Eu me comprometo!
─ Prometes solenemente que nunca castigarás nossa parceira infantil

32
sob a condição de ela nunca mentir, fazer-te maldades ou desaforos ou te
faltar com o devido respeito?
─ Prometo!
─ Aceitas, do fundo do teu coração, amar-nos, acarinhar-nos,
respeitar-nos, proteger-nos, guiar-nos, orientar-nos e ensinar-nos com tua
experiência, sabedoria e cultura por toda a tua vida e receberes o mesmo de
nós?
─ Aceito e é o que mais quero!
Voltei-me para Karina que nem piscava de tão atenta:
─ Tu achas que ela tem as qualidades para ser uma amiga de
verdade, a grande amiga que nós tanto queremos ter e de que tanto
necessitamos? Tu queres que a tua mãezinha entre para o nosso Clubinho da
Amizade?
─ Eu quero muito!
─ E tu te comprometes a fazer por ela tudo o que ela está se
propondo a fazer por nós?
─ Sim, papai!
─ Eu também! Toquem aqui! Será sempre cada um por todos e todos
por um!
Assinamos o pacto e nos abraçamos e beijamos. Aline bem sabia
que ele não mudaria absolutamente nada no nosso projeto educacional, mas
podia ver o efeito psicológico sobre Karina. Disse à filha que estava
doidinha de alegria:
─ Tu és um amor, amiguinha! Eu estou muito feliz e orgulhosa de ser
tua amiga de verdade e confidente porque eu te amo muito e confio em ti.
Karina perguntou:
─ O que é confidente, mamãe?
─ É a pessoa a quem contamos todos os nossos segredos, todas as
nossas alegrias e as nossas tristezas, porque confiamos muito nela. Significa
que nunca teremos segredos uma para a outra: eu te conto tudo e tu me
contas tudo. Tu também serás minha confidente. Nossos corações estarão
sempre abertos um para o outro. Tu queres?
Karina exultava:
─ Quero!
Recomendei-lhe:
─ Os amigos verdadeiros são muito preciosos e devemos conservar
com muito carinho, amor e atenção. Pega a tua via do pacto e guarda no teu
cofrinho como um dos teus haveres mais importantes. Sempre que quiseres,
tu podes recorrer a ela para cobrar dos parceiros qualquer desvio no seu
cumprimento.

33
Karina levou muito a sério o pacto e em poucos dias já havia
agregado as pessoas que mais amava e admirava, começando pelos avós,
pelos padrinhos, pelo vovô pianista, pela prima Mirele, pela amiga
Marilda... Sempre perguntava a mim ou à Aline se podia incluir o novo
amigo verdadeiro no nosso clubinho.

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Capítulo V – SER SÁBIA

No dia seguinte, mal Aline saiu para lecionar, ela veio ter comigo
no escritório.
─ Oi, amigona! Então tu queres mesmo aprender a ler?
Ela riu:
─ Eu quero muito, amigão. Eu quero ser sábia como a mamãe.
Comecei a primeira aula dizendo-lhe:
─ Para seres sábia tens de aprender a ler e a escrever porque são
coisas muito ligadas. Tudo o que tu pensares pode ser dito ou escrito com
palavras.
As palavras são sons. Esses sons podem ser escritos no papel por
meio de sinais que chamamos de letras e que podem ser lidas por qualquer
pessoa. Pensa amor. Se estás pensando amor, podes dizer amor, e podes
escrever por meio de letras: amor. Não está fácil, não é, filhota?
Ela riu:
─ Não.
Sentei-a no colo:
─ Não te aflijas! Vai ficar mais fácil e divertido. Diz “a”.
─ “a”.
─ Tu ouviste o que disseste. Portanto é um som.
─ Tu podes escrever no papel: A letra “a” representa o som “a”.
Queres ver como é um som. Tu podes até cantar como na música.
Fiz uma série de modulações de um simples “a”, de tons baixos a
tons altos, como se estivesse cantando uma ópera e logo ela estava rindo e
cantando comigo num dueto ensandecido nos mais variados tons terminando
numa apoteose. Ao final eu lhe disse:
─ Agora tu tens de aprender a escrever o “a”.
Mostrei-lhe como se escrevia e lhe disse:
─ O som “a” que tu falas ou cantas é representado no papel pela
letra “a”. Não precisas te preocupares se não ficar bonitinho. No começo é
sempre difícil. O importante é que dê para saber que é um “a”.
Ela preencheu a linha com razoável desenvoltura e eu estreitei-a nos

35
braços:
─ Parabéns! Está ótimo. Então tu tens o som “a”. Como é que tu o
escreves no papel?
─ Assim.
E apontou para o “a”.
─ Tu estás indo muito bem, filhota. Outra letra muito importante é
esta – e escrevi o “e” – que também é um som.
E lá estávamos os dois em novo dueto cantando o “e” em todas as
modulações possíveis. Depois de ela aprender a escrever a nova letra
aprendida eu lhe disse:
─ Agora tu vais brincar para não cansar essa cabecinha linda e
amanhã nós aprendemos outras letras.
Ela protestou:
─ Ah! Não, papai, ‘tá divertido. Melhor que brinquedo.
Fizemos o mesmo com o “i” e ela quis mais, com o “o” e, cada vez
mais empolgada, quis mais, e aprendeu também o “u”. Ela estava fascinada
e sacudia-se toda contente no meu colo entre os meus braços. Então eu lhe
disse:
─ Tu já sabes ler e escrever todas as letras mais importantes. Essas
são as letras mais bonitas porque têm som, porque são sonoras como
música. Elas são mais importantes porque, além de terem som, não existe
uma única palavra que não tenha pelo menos uma dessas letras sonoras.
─ Por que toda palavra tem que ter uma letra sonora?
─ Tu mesma já o disseste: “sonora”. Sem pelo menos uma dessas
letras a palavra não teria som e não poderia ser pronunciada e muito menos
ouvida ou cantada. Vê o teu nome: Karina é um nome claro, luminoso, bem
sonoro. Cantado fica lindo. – E o nome dela também foi um pretexto para
cantarmos. – Mas se tirares as letras sonoras é impossível pronunciá-lo.
Ficará apenas um ruído.
Todas as outras letras são escravas destas cinco. Queres ver como
são cinco. Dá-me a mãozinha. Assim, bem aberta. Agora conta os dedinhos:
um, dois, três, quatro, cinco... Agora as letras a... e... i... o... u... Tu não
reparaste, mas essas letras têm cada uma um ponto de articulação na boca,
um ponto onde ela é pronunciada: o “a” é falado bem lá no fundo da boca
com a boca bem aberta e as outras, cada uma mais à frente e fechando um
pouco a boca até que o “u” é falado com a boca quase fechada, fazendo
biquinho como os peixinhos, quando põem a boquinha fora da água para
respirar. Vem ver. Levei-a até o aquário. Vê aquele peixinho. Ele não está
cantando u-u-u-u...? Karina olhou para minha boca e para o peixinho,
maravilhada, e caiu na risada:

36
─ É igualzinho!
Eu a fiz pronunciar todas as vogais, observando como a boca ia se
fechando até formar um bico na pronúncia do “u” e logo estávamos outra
vez num dueto enlouquecido, cantando toda a sucessão de vogais. Então eu
lhe pedi:
─ Agora que já aprendemos bastante, tu vais brincar que o papai
precisa trabalhar muito para ganhar dinheiro para comprar a tua televisão,
comida, roupinha, sapatinho e te levar ao teatro. Tua mãe deve estar
chegando da faculdade e ela não pode saber do nosso segredo. Quando tu
tiveres aprendido tudo a gente faz uma surpresa para ela. Tu gostarias de
escrever uma cartinha cumprimentando-a pelo aniversário dela, dizendo
que a amas e que sabes ler e escrever? Tu és tão rápida que vai dar tempo
de aprenderes até o dia do aniversário dela.
Seus olhinhos brilharam e ela respondeu como a mãe:
─ Eu adoraria!
─ Então vai brincar que eu preciso trabalhar.
Ela era extremamente obediente e respeitosa, porque sempre foi
tratada com muito respeito e carinho, e jamais se rebelava contra uma
ordem. Mas saiu tão tristinha que me cortou o coração. Chamei-a:
─ Filhinha! Não fiques triste. Lembra-te que o papai te ama, que
amanhã teremos mais cantoria e que no domingo iremos ao teatro. Vês
quantos motivos para ficares feliz? Se todos os momentos fossem muito
alegres... grandiosos... eles acabariam rotineiros e sem graça como os teus
brinquedos que já fizeram teus olhinhos brilharem de felicidade.
O que faz os grandes momentos muito felizes e grandiosos é eles
serem novos, esperados, desejados. Eles só serão grandiosos se
prepararmos o coração para eles, se esperarmos por eles, se os desejarmos
muito como tu desejaste a aula de hoje. Nos momentos menos felizes,
devemos pensar nos momentos grandiosos que teremos e preparar o
coração para apreciá-los em toda a sua grandeza.
Lembra-te sempre de procurar a felicidade onde ela está. Tua mãe
sair para lecionar é ruim porque tu ficas um tempão sem ela, mas, pelo lado
bom, nós ficamos livres para tramar aquele segredinho nosso. Eu te
prometo que vou trabalhar muito para poder te levar ao teatro sempre que
houver espetáculo novo.
Tu estás ansiosa para ires ao teatro no domingo porque, quando a
última peça que assististe terminou, tu ainda querias mais e é por “esse
mais” que tu queres voltar. Queres ver como é fácil descobrir onde a
felicidade está? É só tu te prenderes ao lado bom das coisas, nunca ao lado
ruim. Tu deves alegrar-te com o meu trabalho porque ele vai me dar meios

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para que eu te leve mais vezes ao teatro ou ao parque de diversões e eu vou
ficar feliz em trabalhar porque vou poder ver esses olhinhos brilharem de
felicidade muito mais vezes.
Vês como o meu trabalho tem um lado maravilhoso? Se pelo lado
ruim ele diminui o meu tempo para brincar contigo, pelo lado bom ele vai
dar-nos muito mais diversão e felicidade e deixar o teu coraçãozinho
pedindo mais todos os dias. Se eu estou pedindo para ires brincar é porque
isso é o melhor para nós. Tu bem sabes que eu só quero o melhor para ti.
Seus olhinhos eram só alegria quando me abraçou e me disse:
─ Tu és sábio, papai, e eu te amo muito.
─ Eu sei que tu me amas e é isso que me dá tanta força para eu
trabalhar. Mas nessa frase que disseste está tua maior felicidade. A maior
felicidade de uma pessoinha como tu é ter pais sábios que sabem tudo o que
é melhor para seus filhos e que os amem porque estarão sempre procurando
o melhor para eles.
Se nós continuássemos a cantoria até tu te cansares e não quereres
mais, amanhã nem te lembrarias mais dela, mas como ainda há um espaço
no teu coração cheio de desejo por cantoria, amanhã tu virás correndo para
teres mais cantoria e aprenderes outras letras e nós teremos mais momentos
grandiosos juntos, cheios de felicidade.

No outro dia, logo após Aline sair para a faculdade, ela correu para
o escritório toda risonha:
─ Papai!
Eu estendi-lhe os braços e ela subiu no meu colo, abraçando-se ao
meu pescoço. Disse-lhe:
─ Já sei! Minha amigona quer mais cantoria, não é?
Ela riu:
─ É, amigão!
─ E tens o coraçãozinho preparado para ela
Seu sorriso expandiu-se:
─ Tenho.
Fiz-lhe um largo círculo sobre o peitinho:
─ Tens um buracão aqui cheio de desejo por cantoria?
Ela era toda sorrisos:
─ Tenho.
Sentei-a no colo e ela perguntou:
─ Papai, posso te pedir uma coisa?
─ Se não for o sol nem uma estrela...
Ela riu:

38
─ Não. Não é.
─ Então fala, filhota!
─ Eu queria convidar o Bubu para o nosso pacto, posso?
─ Isso depende de ti. Tu tens muita confiança nele?
Ela sorriu:
─ Tenho.
─ Tu queres muito que ele seja teu amigo para toda a vida?
─ Quero.
─ Ele nunca te ofendeu, te maltratou, te fez desaforos?
─ Nunca, papai, nós somos muito amigos.
─ Então vocês podem fazer um pacto como o nosso. O nosso já tem
muita gente. E o pacto mais importante deve ter só os amigos mais íntimos.
Aqueles amigos a quem tu contarias tudo da tua vida, desde as coisas mais
íntimas. Tu imprimes umas cópias no computador e fazes um pacto só teu e
dele e de outros amiguinhos e amiguinhas que tu quiseres. Mas não te
esqueças que ambos têm de se comprometer a cumprir todas as cláusulas e
assinar o pacto.
Aquela empolgação por cantoria... Propus-lhe:
─ Como tu estás aprendendo a ler e escrever, tu podes ir ensinando
a ele tudo o que aprenderes do jeitinho que eu te ensino e quando vocês já
souberem o bastante para lerem e assinarem o pacto, vocês o fazem.
─ Mas tu achas que eu sou capaz de ensinar direitinho?
─ Claro! Do que é que tu não és capaz? Quisera eu ter tido uma
professorinha linda e inteligente como tu. Vocês podem brincar e fazer
cantorias no jardim, tomando sol ou à sombra de uma árvore.
Ela riu contente:
─ Está bem, papai.
─ Agora vamos ver se essa cabecinha está mesmo afiadinha para
aprender. Tu ainda sabes tudo o que aprendeste ontem?
─ Sei.
─ Então vamos conferir. Escreve aqui a, e, i, o, u.
Ela escreveu corretamente e eu beijei-lhe a testa e perguntei-lhe:
─ Sabes que eu estou muito orgulhoso de ti?
─ Eu também tenho muito orgulho de ti. Eu te amo.
Emocionado, abracei-a e beijei-a, dizendo-lhe:
─ Vamos à lição de hoje. Tu viste que nós temos cinco vogais, ou
seja, cinco letras com som. Cinco letras que a gente pode cantar. Mas
nós temos tantas pessoas para chamar, tantas coisas para dar nomes,
tantos bichos, tantas plantas, que a gente precisa de um montão de
palavras. Aí inventaram uma porção de letras que não têm som, mas

39
são ruídos que servem para modificar aqueles cinco sons que tu
aprendeste. Ao lado de uma dessas letras eles ficam diferentes.
Karina tinha uma acuidade e uma presença de espírito incrível para
esmiuçar tudo nos mínimos detalhes. Perguntou:
─ E por que essas outras letras não têm som?
─ Porque a nossa boca funciona como uma caixa de som, como uma
caixa de ressonância. E ela só tem espaço para produzir cinco sons. A
música tem sete sons (notas) diferentes e, quando tu quiseres, o vovô
pianista vai te ensinar a identificar todos: dó, ré, mi, fá sol, lá, si. Mas só se
tu quiseres. Para ser sábia, é preciso querer muito e ter dedicação e vontade
de aprender. Mas tu tens dedicação que só tu. Quando quiseres é só pedir-
lhe. Ele vai ficar numa alegria...
Entretanto a nossa boca só tem espaço para cinco sons. Tu viste que
o “a” é pronunciado com a boca aberta lá bem atrás e o “u”, a última, é
pronunciada quase fora da boca, no biquinho, como o peixinho, lembras?
─ Ela riu:
─ Lembro.
─ Qualquer outro som que tentássemos inventar iria ser igualzinho a
um desses cinco, conforme o ponto da boca em que tentássemos pronunciá-
lo. Queres ver? Tenta pronunciar o “u” em qualquer lugar da boca que não
seja o biquinho para ver se consegues.
Ela fez várias tentativas e caiu na risada.
─ Mas podemos modificar esses sons com uma consoante.
─ O que é consoante?
─ É a letra que só soa junto com outra sonora, ou seja, com uma
dessas cinco. Nunca sozinha. O “b”, por exemplo. Nós o chamamos de
“bê”, mas seu valor na palavra é “b” sem o “e”. Só um ruidozinho. Tenta
cantá-lo sem o “e”.
Ela tentou e caiu na risada.
─As vogais também podem ser modificadas por sinais que
colocamos sobre elas, tornando-as abertas ou fechadas: é, ê, ó, ô.
─ Vamos dar um passeio no jardim.
Fui mostrando-lhe as flores e fazendo perguntas.
─ Que flor é esta?
─ É uma rosa.
─ Quantos daqueles sons que tu aprendeste aparecem no nome dela?
– e repeti pausadamente: ro-sa.
─ Dois: o “o” e o “a”.
─ Tu notaste que eles vêm acompanhados de ruidinhos: o “o” vem
junto de um ruído rascante: “rrro” e o “a” é acompanhado de um ruído

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sibilante: sssa. Pois esses ruídos são duas letras consoantes que modificam
as vogais “o” e “a”. São elas o “r” e o “s”. Tenta cantar o “r”.
Saiu apenas um ruído “R...”, bem desagradável. Agora tenta cantá-
lo com o som. Ela ficou maravilhada com o som que produziu: “ró”. Repeti
o exercício com inúmeras outras flores e, logo, ela própria se antecipava a
identificar os sons e até os ruídos, de modo que acabou se familiarizando
com uma porção de consoantes e consolidando o conhecimento e o uso das
vogais. Dei-lhe até uma aula de biologia, falando das partes da flor e de seu
aparelho reprodutor, que ela seguiu com surpreendente interesse e eu
verifiquei que não se deve perder nenhuma oportunidade para ensinar uma
criança quando se tem um motivo instigante.
Foi uma horinha muito agradável tomando sol e falando de flores,
enquanto ela se familiarizava com os sons e ruídos das letras. E, no dia
seguinte, foi fácil juntar uns e outros. Comecei trabalhando com o “b”:
─ Agora vamos juntar ao “b” um “a”. Olha aí os dois juntinhos de
mãozinhas dadas: “ba”. Agora já podes cantá-la: ba-ba-ba-ba-
bababaaaaaaa. Formou-se o dueto e a cantoria durou alguns minutos. Para
Karina era pura diversão.
Vamos ver se sabes escrever: b + a = ba. Se dobrares já terás uma
palavra: “baba” e se pusermos um risquinho, assim, teremos a tua “babá”.
“Karina baba na babá” e cantamos como se fosse um verso. Ela encheu
duas linhas de garranchos, mas identificáveis. Abracei-a:
─ Está ótimo, fofinha! Agora vamos ver como é que o “b” fica de
mãos dadas com o “e”: b + e = be. Dobrado tens outras palavras: “bebe” e
“bebê”. “O bebê bebe água.” Como é que se canta?
Voltamos à cantoria e a coisa virou uma pândega. Karina divertia-se
como nunca. Eu nunca a vira tão feliz. Até Aline notou a mudança e
comentou:
─ Karina anda tão feliz e bem disposta. O que será que está
acontecendo com ela?
─ Eu tenho-lhe dado alguns momentos de atenção, enquanto estás na
faculdade. Ela é muito sensível, inteligente e comunicativa. Precisa de calor
humano. Os brinquedos não lhe bastam, são frios e inanimados, mesmo os
de corda, pilha ou videogames. Falta-lhes o calor humano de que ela
carece. Se puderes aumentar teu tempo com ela, vais fazer-lhe muito bem.
Karina era só entusiasmo e progredia rapidamente. Aqui e acolá
aprendia uma palavra: bobo, Bubu, o filho da vizinha, Didi, o filho da outra
vizinha... Eu ia incentivando-a a juntar sílabas e descobrir palavras: bala,
bela, boca, bola, coco, cocô, dado, dedo, totó, o cachorro do vizinho, Zezé.
Um dia, entrou correndo no escritório. Trazia um livrinho na mão: “O Gato

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de Botas”, um dos que eu ou Aline costumávamos ler para ela antes de ela
dormir. Os olhinhos brilhavam úmidos:
─ Papai, papai, eu já sei ler... eu já sei ler...
Sentou-se no meu colo e começou a ler fluentemente o pequeno
livro. O fato de ela já conhecer a estória facilitou a identificação de sílabas
e palavras ainda desconhecidas. Abracei-a emocionado:
─ É verdade! Tu já sabes ler... E lês como gente grande... Sabes que
nota tu mereces? Um “A” grandão: Um “Azão”.
Pôs-se a ler toda a coleção infantil que tínhamos em casa. Sempre
que tinha dúvidas vinha perguntar-me e eu ia esclarecendo: letras dobradas,
encontros consonantais, acentos, nasalizações. Ensinava-a sempre de
maneira prática, evitando ditar regras, e a partir de suas dúvidas.
Continuávamos com as aulinhas malucas todas as manhãs. Em poucos dias
ela já tinha lido tudo. Comprei-lhe vários livros novos que ela devorou em
três dias. Foi ao meu encontro no escritório:
─ Papai, eu já li tudo! Posso ler o livro da mamãe?
─ Aquele livro é muito difícil para ti, mas se queres tentar vai
buscá-lo. Eu te ajudo a interpretá-lo.
Ela correu apanhá-lo e acomodou-se no meu colo. Leu com
desenvoltura surpreendente e eu ia esclarecendo as dúvidas. “O Pequeno
Príncipe” tem formato juvenil, mas é impensável para uma criança de três
anos, mesmo precocemente alfabetizada. Deixei-a ler apenas uma página
por dia e, após o terceiro dia, fomos aumentando uma página a cada três
dias até o máximo de cinco páginas diárias e eu ia ajudando-a a interpretá-
lo e ensinando palavras e sons novos. Passava-lhe também pequenas frases
para ela ir treinando a escrita e ajudá-la a redigir a carta para Aline. Por
último, dava-lhe estampas de paisagens e pedia para ela descrever tudo o
que via nas estampas, fazendo frases. Nas primeiras vezes, eu fazia-lhe uma
descrição prévia com frases bem simples para ela ter ideia do que devia
fazer. Depois que ela ficou apta, eu a fazia narrar suas idas ao zoológico ou
ao parque de diversões:
─ Conta como foi a viagem e tudo o que viste e o que fizeste, a tua
descida na montanha russa...
Quase todos os dias formávamos um dueto para cantar cantigas
infantis como “Atirei um Pau no Gato” ou de ninar, reminiscências da
observação das meninas em cantigas de roda que eu desenterrava dos
recônditos da memória. E eu via, por intermédio daquela menininha,
reminiscências da minha infância. Rostos e nomes esmaecidos surgiam dos
escaninhos do meu cérebro como por encanto: meninas em cantigas de roda,
o jogo de bola, de taco, de bolinhas de gude, de esconde-esconde, pião,

42
balão, pipa, bicicleta...
Acho que era mais divertido e saudável que televisão, computador e
videogame. Pobres crianças de hoje... Comecei a entender a empolgação de
Karina por aqueles momentos comigo: brincar com pessoas, ainda quando
haja uma brutal diferença de idade é outra coisa. Eu me via realmente como
se voltasse no tempo a uma época perdida nos desvãos da minha memória.
O mais surpreendente e maravilhoso era que Karina fazia com gosto
também as tarefas insípidas e áridas como treinar caligrafia e construção de
frases e mesmo as descrições. Creio que a animava a expectativa de
escrever para a mãe cumprimentando-a pelo aniversário e dando-lhe conta
de seu aprendizado e divertir-se com a sua cara de espanto.
Todos os dias, ao fim das aulas, eu a apertava contra o peito,
beijava-a e dava-lhe parabéns. Ela ria:
─ E a nota?
─ Tu sabes: Tu és um “A” grandão!
Karina vivia tão alegre que voltou até a tomar gosto pelos seus
brinquedos. Eu sentia-me rejuvenescido e até “amolecado”. Todos esses
folguedos com aquele pinguinho de gente, além de me levarem de volta à
infância, pareciam estreitar ainda mais nossos laços. Já não éramos pai e
filha, mas amigos e confidentes tramando uma surpresa para embasbacar
Aline. E isso era bom, muito bom mesmo!
Karina era só riso. Prelibava a surpresa que a mãe teria. A
expectativa de escrever-lhe uma carta carinhosa de próprio punho,
relatando-lhe tal proeza, a deixava em êxtase e ela mal podia esperar pelo
desfecho. Foi tomada de uma alegria indescritível que ela escreveu a carta
sob minha orientação. Fiz com que ela a guardasse em seu quarto.

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Capítulo VI – A CARTA

Nove de janeiro. Mais um aniversário de Aline que eu comemorava


sempre com amor tórrido e gozo múltiplo no “ponto G” e no clitóris e
múltiplas posições, terminando em cambalhotas... Sexo eram sempre
brincadeiras e quando tínhamos tempo livre como nos fins de semana e
férias, tudo era precedido de danças e strip-teases com muita sensualidade
e volúpia.
Sensualidade e volúpia... foi o que senti ao despertar de um sonho
maravilhoso em que era cavalgado por uma bela ninfa que, no mais
sublimado fogo da paixão, fazia chupitadas e movimentos amorosos num
crescendo. Quando me percebeu acordado, a Nina dos Prazeres
deslumbrou-me com suas artes pompoaristas. Cresci para ela, abraçando-a
e lhe disse:
─ Tu aniversarias e eu é que ganho presentes?
Ela sorriu:
─ Não. O Amadinho é que me presenteou com sua dureza máxima.
Ah, amor, acordar com ele se oferecendo cheio de paixão...
Eu a socava no Amadinho como um pilão invertido. Ao gozar,
jogou-se na cama de bruços, toda aberta, gritando “T”, eu quero “T
grandão”...
Saciados, deslumbrei-a com um lindo par de brincos que me valeu
seu beijo transcendental.
Interfonei para a babá e ela me confirmou que Karina estava
acordada e ansiosa para vir cumprimentar a mãe.
Autorizada, Karina veio como um foguete, esfuziante de alegria, e
cheia de sorrisos. Abraçou-me e beijou-me e foi abraçar e beijar a mãe,
desejando-lhe feliz aniversário, não se esquecendo do novo inquilino da
barriguinha, por quem ela era cada dia mais afeiçoada, e disse num assomo
de alegria:
─ Eu tenho uma carta para ti!
Aline respondeu-lhe com ternura:
─ Uma carta para mim? E de quem é?

44
─ É de mim.
Aline beijou-a enternecida:
─ É de ti! E o que é que tu e o teu pai estão tramando?
─ Karina riu esfuziante de alegria:
─ Nada. Eu só quero que tu fiques feliz, mamãe.
─ Ummmmm! Essa carinha de quem ventou embaixo das cobertas...
Karina riu e grudou os olhos na mãe. Aline baixou os olhos para o
papel e leu: “Querida mãezinha, eu te desejo um aniversário muito feliz.
Muita saúde, muita paz e muita alegria. Parabéns! Eu já sei escrever. E
papai disse que eu leio como gente grande. Tu tens uma filhinha
maravilhosa. Parabéns! O papai disse que o coraçãozinho da tua filhinha é
lindo como o teu. E eu estou muito orgulhosa de tu seres a minha mãezinha.
Eu te amo. Karina”.
Aline emocionou-se e riu, misturando lágrimas com riso. Quando se
recobrou disse:
─ É linda. É encantadora. Mas agora, digam-me: qual é a
pegadinha? Eu não consigo atinar qual seja.
Fui eu a responder-lhe:
─ Tu não acreditas, não é? Tu tens razão, eu também não acreditaria.
Mas abre o teu livro de cabeceira na página que bem entenderes e dá-lho
para ela ler.
Aline ficou a olhar-me de boca aberta, o queixo caído... Com o
indicador, levantei-lhe o queixo e instiguei-a, rindo:
─ Vamos! Faz o que te digo.
Ela pegou rapidamente o livro, abriu-o e deu-o à Karina:
─ Lê para a mamãe, filhinha.
Karina acompanhava tudo rindo endoidecida de alegria. Pegou o
livro e pôs-se a lê-lo com fluência invejável. Aline “perdeu” o queixo de
vez, estreitou-a ao peito e chorou um rio de emoção:
─ Por Deus! Conte-me o milagre! Karina teve o “Estalo de Vieira”?
Eu comecei a aprender aos seis anos e levei outros quatro para ler com essa
desenvoltura. Ela tem só três! Tens certeza de que não a forçaste muito mais
do que devias?
─ Pelo contrário! Pasma, meu amor, a decisão foi dela,
exclusivamente dela! Decisão e determinação: ela resistiu às dificuldades
que lhe apresentei, persistindo na determinação de aprender a ler. Tentei
demovê-la do seu desejo, mas tive é que usar de psicologia para ela não
ficar triste ao cabo de cada aula. No fim da primeira aula, quando a mandei
voltar para os seus brinquedos, cortou-me o coração a sua carinha de
tristeza.

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Tu estás de parabéns por lhe teres modelado a cabecinha e o
coração e tê-la ensinado a pensar. Isso foi crucial para ela tomar a decisão
de aprender a ler. E se queres saber, eu trabalhei com um intelecto
fantástico e uma vontade insopitável. Ela quer ser sábia como tu. Tu tens
cumprido com louvor a tua missão mais sagrada de mamãe nota dez.
─ Tu estás afirmando e eu acredito em ti, mas custa a entender como
ela pôde aprender tão rápido e amado as aulas, em sendo tão novinha!
─ É que a tua filhinha é realmente maravilhosa. Ela tem um respeito
muito grande por nós e leva muito a sério tudo o que lhe ensinamos. Ela
pensou com muito carinho no que lhe disseste sobre aprender a ler nos
livros e tornar-se sábia. Sabe quanto tu amas o teu livro de cabeceira e
queria aprender a amá-lo também. Fascinavam-na as ilustrações, mas
queria entender seu significado. Concluiu sabiamente que, para amá-lo,
teria que aprender a lê-lo.
A tua filhinha tem, de verdade, um coraçãozinho lindo como o teu e
a cabecinha dela é ainda mais linda do que a tua. Ela emociona com tanta
meiguice e vontade de aprender. Tu mereceste os parabéns! Deve ser
porque nós a preservamos dos efeitos maléficos do álcool na concepção e
na gravidez. Tu não bebes e eu me abstive por vários dias antes de a
concebermos e porque ela foi feita com muito amor, porque foi muito
desejada, porque é tratada com carinho, com muito amor e com muito
respeito pela sua inteligência.
Ela procura nos imitar em tudo. O que ela mais deseja é ser como
nós somos, é fazer o que fazemos. Temos de ter muito cuidado com os
exemplos que lhe damos porque nossos exemplos são leis para ela. Sabes
que não me surpreenderia nem um pouco se ela te pedisse para lhe
ensinares as tuas danças?
Elas se entreolharam e riram... E eu disse à Aline:
─ Já te pediu. Mas nem penses em dissuadi-la.
Karina, que seguia a conversa atenta e nunca desistia de uma
pergunta que houvesse engendrado, perguntou-me:
─ Papai, o que é imitar?
─ É fazer exatamente igual ao que faz uma pessoa ou animal. Tu
procuras fazer tudo igualzinho ao que fazemos. Lembras-te daquele macaco
lá do zoológico: tu fazias caretas e ele te imitava.
Disse à Aline:
─ Vês, amor, como essa menina está sempre atenta para o que
dizemos? Basta escapar-lhe o significado de uma palavra e ela trata de
perguntar... Se há alguma coisa realmente muito mais difícil de entender do
que essa menina ter aprendido a ler, é as pessoas ainda acreditarem, em

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pleno século vinte e um, que as crianças são imbecis e que só aprendem
com castigos e sopapos...
É óbvio que ninguém nasce sabendo, mas o mecanismo para
aprender (a inteligência) está lá prontinho para ser usado, necessitando
apenas de ser exercitado como os músculos. Já nascemos com eles, mas se
os quisermos fortes e massivos temos que praticar “cultura física”. Pois a
inteligência precisa de “cultura intelectual”. No primeiro ano de vida, a
criança aprende a usar os sentidos ao mamar, ao ser acariciada, banhada, ao
ver sorrir, ao sorrir. Aprende a ouvir, a querer, a pedir, a pegar...
Quando ela articula as primeiras palavras, seu cérebro está pronto
para começar a adquirir cultura: nomes das pessoas, dos bichos, das coisas
próximas dela. Precisa apenas de estímulos, nunca de castigos! Jamais
devemos ocupar-lhe o cérebro com medos, mas abri-lo para a vida, para o
conhecimento das coisas, despertando-lhe a curiosidade e respondendo-lhe
a todas as perguntas e, sobre tudo, conquistando-lhe a confiança. A criança
tem de sentir que é amada e protegida, não ameaçada. Castigos, medos e
ameaças só lhe atrofiam a inteligência.
Karina voltou a perguntar:
─ Papai, o que é estímulos
Satisfiz-lhe a curiosidade e prossegui:
─ Olha, amor, demos algumas aulas passeando pelo jardim em que
eu a instigava a encontrar os sons (as vogais) e a identificar os ruídos (as
consoantes) nos nomes das flores e ela encantou-se com uma flor de forte
colorido. Eu perguntei-lhe: Tu sabes que a flor tem várias partes? Se tu
visses o interesse com que ela seguiu minha explicação a respeito de cada
parte da flor. Primeiro, mostrei-lhe uma pedra e a fiz observar que ela era
igual de qualquer lado que fosse observada e, em seguida, fiz com que ela
observasse a flor e fosse descobrindo as diferenças. Ela foi apontando cada
particularidade, da haste às bolsinhas de pólen. Apenas tive que ir dizendo
os nomes e as funções.
─ Ensina à mamãe, filhota, o que tu aprendeste sobre as flores.
E segredei-lhe no ouvido rindo maroto:
─ Ela não sabe...!
Entusiasmada, Karina foi minuciosa:
─ Papai me mostrou tudo: a flor tem haste, cálice, pétalas de cores
vivas para atrair as abelhas e os beija-flores e tem aparelho re... re...
─ Reprodutor – socorri-a.
─ É. Elas parecem iguais, mas umas são flores masculinas e outras
femininas. As masculinas têm es... es... o quê, papai?
─ Estames, e as femininas tem estigma.

47
─ É, os estames têm bolsinhas de pólen que as abelhas pegam e
põem no estigma para fazer as sementinhas que são os bebezinhos das
flores. Eu peguei pólen com a ponta do dedinho e pus no estigma de uma
flor feminina e, depois de uns dias, quando nós voltamos lá, a barriguinha
da flor, que fica no cálice, tinha crescido. Dias depois estava maior ainda.
E ontem estava enorme. Papai disse que o pólen que eu pus no estigma
desceu pelo estilete até o ovário que fica no cálice da flor e encontrou com
os óvulos, fer...
─ Fertilizando-os – socorri-a.
─ É! Aí os óvulos cresceram, fazendo crescer a “barriguinha” da
flor e viraram sementinhas. Ele disse que a sementinha que ele pôs na tua
barriguinha também encontrou com o teu óvulo e formou a semente do meu
irmãozinho e que, quando ele começar a crescer bastante, a tua barriguinha
também vai crescer como a da flor. Ah, papai abriu o barrigão da flor,
porque as pétalas já tinham secado, e havia uma porção de sementinhas.
Papai disse que a sementinha do meu irmãozinho vai crescer na tua
barriguinha até ele nascer, mas as da flor precisam ser semeadas na terra
para nascerem e darem novos pés de flor. Eu enterrei as sementinhas na
terra fofa como o papai me ensinou e agora nós vamos regar todos os dias.
Papai disse que vai nascer uma porção de pés de flor. Ele me mostrou
também uma flor que tem o órgão masculino e o feminino na mesma flor.
Ele também disse que há flores que dão frutos em que a barriguinha
cresce muito mais do que nas flores comuns e fica cheia de polpa dentro. E
na polpa fica a semente que pode ser um caroço como no abacate ou no
pêssego ou muitas sementes como no mamão. Mas todas as frutas nascem de
uma flor e, têm semente dentro.
─ Papai, a banana não tem semente!
Que surpresa! Foi impossível não explodirmos em riso. A acuidade
daquele pinguinho de gente cada dia nos surpreendia mais e bendizíamos a
educação que lhe dávamos, instigando-a a descobrir as coisas,
despertando-lhe a curiosidade e o interesse. Os ensinamentos partiam quase
sempre de uma curiosidade que instigávamos nela e que gerava perguntas e
mais perguntas. Ainda rindo, disse-lhe:
─ Filhinha, tu és maravilhosa! A banana não tem caroço mesmo! A
bananeira tem reprodução assexuada. Ela não dá sementes, reproduz-se de
mudas (brotos que nascem dos troncos junto às raízes e podem ser
transplantados). É uma exceção. Mas o cacho de bananas nasce de um
pendão que é formado por pencas de flores hermafroditas muito simples –
protegidas por membranas grossas – que se desenvolvem em pencas de
bananas. Cada flor, uma banana.

48
Aline não conseguia sustentar o queixo e Karina, de pilha nova,
tinha que ser “desligada” para parar. Eu lhe disse:
─ Está ótimo, filhinha, mais do que maravilhoso, e tu, amor, que
nota lhe dás?
Aline, a custo, recuperou o movimento do maxilar e respondeu,
transbordando emoção:
─ A melhor que eu tenho e a mais valiosa. Dou-lhe o meu coração.
E apertou-a ao peito, cobrindo-a de beijos:
─ E a ti também. Tu és um pai maravilhoso!
Então eu lhe disse:
─ Tu não sabes da melhor.
─ Mas que pode haver de melhor ainda?
─ Ela está ensinando a cinco pirralhinhas como ela, mais o Bubu,
tudo o que aprende de mim.
─ Mas ela não conseguiria...
─ Como não? Ela não acabou de te dar uma aula de biologia?
Aline embasbacou:
─ Isso é verdade.
Eu ri:
─ Ela não te deu aula nenhuma, tonta! Ela te relatou o que aprendeu,
mais ou menos, como os professores fazem nas escolas. Se quiseres uma
aula de verdade tens de acompanhá-la ao jardim. Já imaginaste a alegria
dela ao ensinar-te?
─ Eu posso imaginar. Basta olhar para a carinha dela! Essa
educação foi a que combinamos dar a nossos filhos e eu a tenho seguido à
risca porque sempre acreditei na educação pelo amor, pelo diálogo
respeitoso e pelo carinho. Nunca me arrependi. Ao contrário, só tenho do
que me orgulhar da nossa filha, mas isso não explica como alguém possa
amar uma aula de leitura e escrita, muito menos na idade dela.
─ Pois essa educação sem medos, sem castigos, sem agressões,
construída nas sólidas bases do amor e do respeito mútuo, com total
consideração à inteligência das crianças, muito fértil quando estimulada, já
está produzindo frutos maravilhosos como acabaste de ver. Ela não tem a
mente embotada pelo medo de surras e castigos, mas totalmente aberta para
a vida, para o conhecimento do mundo que a cerca, para os ensinamentos e
para o amor que lhe damos.

Tu estás ansiosa para saber como esta pirralhinha aprendeu a ler.


Certamente não poderia ser numa cartilha como a em que eu aprendi e que
começava assim: “A pata nada”. A pata nada! E ao pato, tudo?

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Até Karina, sempre atenta, também riu e eu resumi: Foi tudo uma
grande brincadeira, uma pândega, como verás...
Incitei Karina que voltou à alegria esfuziante:
─ Mostra para a mamãe como tu aprendeste. Como é que tu
aprendeste o “a”?
─ Louquinha de alegria, Karina pôs-se a fazer modulações com a
letra “a”, indo num crescendo, até parecer uma cantora de ópera toda
esganiçada.
─ Agora o “la”:
─Lalalala...lalalala...lalalala...lalalalalalalalalalaaaargo.
─ E o peixinho? Mostra para a mamãe como é que o peixinho canta.
─ Ela fez um biquinho lindo: u-u-u-u-u...
Aline ria maravilhada e, cheia de ternura, disse-me com aquele
sorriso que sempre me encantava:
─ Tu és um sábio e eu te amo muito!
Retruquei-lhe:
─ Tu não vais acreditar, mas isso foi exatamente o que a tua filha me
disse no primeiro dia de aula e quase me fez chorar de emoção e orgulho.
Enlacei-as nos meus braços e murmurei:
─ Ter uma filha Karina é a maior felicidade do mundo, só
comparável a ter um amor Aline.
Esfuziante de alegria por verificar que a experimentação prática da
nossa teoria ia muito além do que prevíramos, Aline murmurou no ouvido
de Karina que explodiu em riso, batendo palmas:
─ Hoje eu quero assistir à aula contigo e também quero que tu me
dês uma aula de verdade sobre as flores. Quero aprender tudo com minha
amiguinha, inclusive a produzir as sementinhas e semeá-las.

Após o café e a aula em que, acompanhada da participação da mãe,


Karina era só felicidade, ela expediu e-mails reforçando os convites para
os avós, o vovô pianista, a madrinha, amigos e parentes, dizendo-lhes que
os queria na festa e comunicando-lhes cheia de orgulho: “eu já sei escrever
e papai disse que eu leio como gente grande”. Isso desencadeou um
alvoroço de telefonemas e e-mails. Em seguida, foi com a mãe para a aula
sobre as flores.

Pouco antes da festa, o Dr. Bruno, pai de Bubu, me procurou. Trazia


um presente para Aline e uma enorme caixa com um automóvel de
brinquedo para Karina. Queria me agradecer por ter ensinado o filho a ler.
Ele não queria acreditar que a façanha era de Karina. Fui cortês e disse-lhe:

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─ Mas eu não o ensinei. Se ele realmente conseguiu aprender, o
mérito é de Karina e é a ela que você deve agradecer.
Chamei-a e disse-lhe:
─ O Dr. Bruno quer te agradecer por teres ensinado o Bubu e
trouxe-te um presente.
Ela olhou para a caixa em que sobressaía a estampa de um belo
automóvel e seus olhinhos brilharam, mas se voltou para o vizinho:
─ Eu não quero o teu presente! Tu és muito mau! Tu bates no Bubu
que é um menino bom.
Eu quis repreendê-la, mas não sabia como. O que dissera soava com
tudo o que aprendera. O Doutor Bruno sorriu com simpatia e disse:
─ Você tem razão, Karina. Eu tenho sido um mau pai para o Bubu,
mas já conversei bastante com ele e pedi-lhe perdão. Até fiz um pacto de
amizade com ele como o de vocês e queria muito que você me perdoasse
também por ter maltratado o seu amigo. Eu fiquei muito emocionado quando
o vi ler o pacto.
─ Tu fizeste um pacto de amizade com ele, de amigo de verdade?
─ Fiz. Igualzinho ao de vocês. Eu nunca mais lhe dou castigos e ele
nunca mais vai fazer maldades. Nós somos amigos como vocês. Agora me
perdoe e aceite o meu presente. É de coração e eu estou muito agradecido
por você tê-lo ensinado a ler e por ser amiga dele. Eu o amo muito de
verdade, mas não sabia direito como educá-lo. O seu pacto de amizade me
abriu os olhos. Eu dei um automóvel igualzinho para ele. É para vocês
brincarem juntos.
Karina interrogou-me:
─ Papai, eu devo aceitar o presente?
─ Isso tem de ser uma decisão tua, mas eu te ajudo: antes de vir, o
Dr. Bruno já tinha feito um pacto com o teu amiguinho, pediu-lhe perdão e
se comprometeu a ser um bom pai e um amigo verdadeiro, não é?
─ É, papai.
─ E tu acreditas que ele está sendo sincero? Afinal ele também te
pediu perdão.
─ Eu acho que sim.
─ Todos nós, às vezes, cometemos erros e é muito difícil admitir
que erramos. E para uma pessoa adulta confessar a crianças como tu e o
Bubu que errou, ela tem que ser boa e muito digna. Tu já sabes que o
importante é aprender com os erros para não repeti-los e evitar outros
maiores. Não é o que ele está procurando fazer?
─ É, papai.
─ Tu achas que foste dura com ele, dizendo-lhe que ele era muito

51
mau?
Ela acenou com a cabeça e virou-se para o Dr. Bruno:
─ Tu me desculpas? Eu estava muito zangada contigo.
O Dr. Bruno sorriu-lhe:
─ Desculpo, sim, mas só se você me perdoar e aceitar o meu
presente.
Ela sorriu e abraçou-o com ternura, dizendo-lhe:
─ Tu és bom.
Estraçalhou a caixa e tratou de sentar no banco do automóvel. Então
se virou para o Dr. Bruno:
─ Tu vens à festa de aniversário da minha mãe?
─ Venho! Com o Bubu e a mãe dele. Agora nós somos uma família
muito feliz graças a você. Eu aprendi muito com você.
Ela sorriu toda enternecida:
─ Tu queres ser meu amigo de verdade?
─ Eu gostaria muito. Você quer?
Ela acenou com a cabeça e o Dr. Bruno lhe prometeu:
─ Logo nós fazemos um pacto.
Ela sorriu, saltou do brinquedo, abraçou-o e beijou-o, voltou ao
brinquedo e disse:
─ Estou muito feliz com o presente.
Saiu pedalando o automóvel tão contente e com tanta força que
quase atropela o vovô pianista. Saltou do carro e abraçou o pianista que
sempre a cumprimentava de joelhos e foram ambos “martelar” no piano.
Nós conhecemos Anselmo, o “vovô pianista”, num piano-bar em
que ele tocava, na nossa lua de mel. Ele afeiçoou-se à Aline por lembrar-
lhe a filha que morreu grávida num acidente causado por um racha de
automóveis. Tinha até os olhos verdes e, quando nasceu Karina, ele a via
como a netinha que não chegou a nascer. Nossa amizade nasceu de ele bisar
duas vezes “Pela Luz dos Olhos Teus” ao nosso pedido entusiasmado e
brindar-nos com ela na nossa saída e na nossa volta no dia seguinte... “Pela
Luz...” foi a canção com que cantei Aline.

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Capítulo VII – O ANIVERSÁRIO

Nove de janeiro era a data que eu tinha o máximo cuidado de não


esquecer. Era o aniversário de Aline. Eu sempre tramava alguma,
geralmente de véspera ou ao amanhecer ao acordá-la. Aquela explosão de
alegria...
Tive a felicidade de acordar com ereção espontânea e, tendo Aline
encaixada em posição fetal, eu a fiz sonhar com a intromissão do amor no
seu âmago mais profundo. Acordou ativa no maior contentamento.
─ Feliz aniversário, amor da minha vida!
Em completo frenesi, com os olhos inundados de ternura e emoção:
─ Eu tive um sonho lindo em que o amor me amava com carinho e tu
o transformaste na mais bela e prazerosa realidade.
E no afã de chupitadas, ordenhas e algemadas, no mais álacre
contentamento, gemeu estremecendo de gozo:
Brinquei:
─ Se todas essas estripulias bárbaras com o Amadinho não te
satisfazem, podes ajudar-me a comer a empregadinha. Eu estou fascinado
por ela. É a coisinha mais linda e voluptuosa que existe. Ai aquela bundinha
deliciosa subindo a escada e se inclinando para espanar...
─ Seus olhos inundaram-se e ela fez biquinho de choro.
─ Por que empregadinhas são tão tolinhas? Mas a minha tem um
biquinho maravilhoso que eu quero beijar. Mais um beijinho!
─ Dei-lhe o presente. Vê se tu gostas.
Abriu o presente num átimo e ficou embevecida com a
empregadinha que ela seria naquela roupinha voluptuosa.
─ Perdoa-me! Eu tinha de entender que era uma pegadinha.
Sorri:
─ Acho que tu ainda não abriste os olhos direito. Não avaliaste todo
o presente.
─ Foi então que, muito vexada, ela se fascinou com um anel de
brilhante de um quilate enfiado no cabinho do espanador.
Riu entre lágrimas:

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─ Eu sou mesmo muito estúpida, mas me perdoa. Sem ti eu
morreria.
─ Embotada pelo ciúme, és mesmo. Aquela empregadinha poderia
seduzir alguém? Eu não devia te dizer para não te encher a bola, mas eu não
consigo falar-te senão com o coração. Tudo o que te digo passa pelos filtros
do coração e eu não consigo te sonegar nada. Se algum dia eu traísse essa
Nina dos Prazeres, tu serias a primeira a saber, mas terias de internar-me.
As pessoas, mesmo as mais honestas, são um pouco trapaceiras.
Jogam na defesa, às vezes na retranca e, quando o adversário se descuida
abrindo a defesa, contra-atacam, geralmente pelos flancos. Mas contigo o
meu jogo é sempre limpo, leal, aberto, pelo centro, direto ao coração...
Talvez seja porque encontro sempre uma criança a me sorrir com
meiguice, de coração exposto, sem defensivas: amor, puro amor... E tu
continuas a mesma criança que encontrei na praia: o mesmo sorriso puro e
doce, a mesma simplicidade, a mesma ternura, a mesma paixão, o mesmo
fogo, o mesmo frescor juvenil... Só uma coisa mudou...
Ela inquiriu-me assustada:
─ O que mudou em mim?
─ A tua menina! Deus, como ela mudou! Tornou-se cada dia mais
ativa, mais participativa, mais habilidosa, mais amorosa, mais dominadora,
mais safada... Ah, meu tesão, ela ficou tão safada! Os apertões, as sugadas,
as chupitadas, as ordenhas que ela me dá... E quando se transforma num
prato cheio dos frutos mais doces a alimentar-me na boquinha com o seu
sabor irresistível... Minto, tu também mudaste. Aquela menininha
envergonhada de sua sexualidade se transformou na minha cadelinha lasciva
e safada, tão safada que me deixa ainda mais fascinado pela tua menina que
me faz transar-te no paroxismo da volúpia e do gozo e eu não dispensaria as
paradinhas nem que me pedisses, porque prolongam ao máximo a volúpia
de estar dentro de ti.
Toquei-lhe o sexo. Ela abriu as pernas e eu apertei-o:
─ Eu sou fissurado nesse pórtico da minha felicidade. É aí dentro
que eu encontro a minha felicidade e a minha excitação de viver. E quanto
mais tempo eu estou dentro de ti, mais eu vivo... mais felicidade ilumina a
minha vida e os caminhos a percorrer.
Ela disse transida de emoção:
─ Tu és puro amor. Como pode tanto amor caber num único peito
humano!
─ O teu é menor – sorri-lhe – ao menos por dentro e cabe. Mas o
mais extraordinário é que, embora sejas a mesma, tu és sempre uma mulher
diferente e tua menina também. Tu tens sempre novidades e tua menina,

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sempre um carinho diferente. Se tu soubesses a volúpia, cada vez mais
intensa, com que tenho te transado: a cawgirl, a colegial, a fadinha
açucarada, a chapeuzinho vermelho... E a dançarina das arábias? É tanta
arte, tanto sonho, tanto encanto, e quando ela se despe cheia de lascívia ou
se transforma num ser mitológico, ou numa entidade de sonhos, para
desnudar suas formas alucinantes e me despertar a lascívia... Oh tesão da
minha vida, tu és uma fábrica de sonhos, de volúpia, de lascívia, de luxúria,
de carinho, de afeto, de ternura, de felicidade que nunca sonhara.
Ela abraçou-me com a paixão do seu beijo e a emoção de suas
lágrimas. Eu exortei-a:
─ Ouve sempre o meu coração, ternurinha, que te é leal e fiel. Ele
nunca me deixou mentir-te ou esconder-te uma verdade: eu nunca te trairei,
nem que fosse com a miss universo. Ainda que eventualmente fosse mais
linda do que tu, cotizada com o teu coração e as habilidades da tua menina,
ela não passaria de uma mulher “meia-boca”. As minhas fantasias, não
importa que trajes tenham, têm de ter o teu rostinho e o teu corpinho e têm
de terminar nas carícias da tua menina ou na fascinação da tua bundinha. É,
amor! É nesses endereços contíguos que moram a minha felicidade e a
minha ânsia de viver!
Sorriu entre lágrimas:
─ Eu sei, paixão, que tua lealdade é tão grande quanto o teu amor,
mas eu ainda tenho muito medo de te perder e, às vezes, me bate uma
insegurança mas – riu – é só quando me pões na pele de uma serviçal tola.
Mas eu não tenho nenhum motivo para ser insegura e prometo que vou rir
das tuas pegadinhas e entrar de corpo e alma nas tuas fantasias. Vou dar-te a
empregadinha para tu comeres no maior tesão.
Ri, deitando-lhe pressão total:
─ Isso será depois da festa, mas eu estou fascinado para adentrar os
teus pórticos...
Ela abriu as pernas deitando os calcanhares na minha bunda, os
braços em torno do meu pescoço, a boca na minha boca:
─ Meus pórticos estarão sempre abertos para aconchegar-te...

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Capítulo VIII – KARINA ROUBA A FESTA

Eu vivia fazendo declarações e frases de amor mantendo Aline


emocionada e encantada com meu carinho, mas eu queria lhe dar uma
demonstração majestosa, espetacular, realmente memorável, da magnitude
do meu amor por ela. Aproveitando aquele aniversário que começaria com
emoções, resolvi fazer algo realmente épico, tendo o cuidado de preparar
tudo com antecedência para que não houvesse falhas. Nossas festas sempre
começavam cedo com o sol ainda alto e brilhando intensamente,
especialmente as do aniversário de Aline no mês de janeiro em que os dias
são bem longos. Às dezoito horas, quase todos os convidados já estavam
presentes e o sol ainda esplendia de luz e calor num dia quente e
maravilhoso.
A surpresa foi geral quando ao salão de festas chegou o som intenso
vindo dos céus. À música “Pela Luz dos Olhos Teus”, seguiu-se o apelo:
“Aline, vem ao jardim e olha para o céu, vida minha! Sai ao jardim e vê no
céu a paz do meu amor que eu quero que tu guardes no teu coraçãozinho
para sempre.” Aline reconheceu a minha voz na gravação, agarrou-me pela
mão e me puxou atrás de si em direção ao jardim. Os convidados nos
seguiram atônitos.
Ela só parou em meio ao jardim, encaixou-se envolta nos meus
braços e perscrutou o céu ansiosa. Ao som daquela música que era o seu
encantamento, um helicóptero fazia evoluções tendo uma grande flâmula
pendurada, onde se lia: “Parabéns, Aline, põe para sempre no teu
coraçãozinho A PAZ DO MEU AMOR” e despejou no espaço um grande
saco de pétalas de rosas brancas e vermelhas que caíram sobre nós a
reverberar a luz do sol. Com os olhos úmidos e a voz embargada, ela
estendeu as mãos para aparar as pétalas, muito emocionada:
─ É lindo! É muito lindo! É realmente maravilhoso! É o mais belo
presente que já recebi e, de todos, o mais significativo. É amor! É muito
amor! É amor demais!
Secundei suas mãos com as minhas e em segundos tínhamos
coletado uma quantidade enorme de pétalas que ela foi guardando primeiro

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no soutien e, depois, no vestido, ficando com um busto enorme. Ainda sob
intensa chuva de pétalas, virou-se nos meus braços e, com aquele sorriso de
ternura orvalhado de reflexos de esmeraldas, beijou-me com a paixão
intensa que lhe tomava o peito e a fazia gemer de prazer e de felicidade.
Foi só então que nossa “plateia” despertou do estupor e nos saudou
com uma estrondosa e interminável salva de palmas a que respondíamos
com aquele beijo também interminável...
De volta ao salão, quando todos os convidados retornaram, Karina
roubou a festa. Primorosamente vestida de princesa ela era o encanto de
todas as festas, mas aquela era dela. Surpreendeu saudando a todos com um
discurso agradecendo-lhes por terem comparecido e, para provar que
dissera a verdade, leu uma página de “O Pequeno Príncipe”. Com os olhos
umedecidos por tantos aplausos, ela anunciou:
─ Vou tocar uma cantiga para vocês.
A “plateia” estava toda de boca aberta e, quando ela acabou de
tocar com correção o arranjo que Anselmo fizera para uma de suas cantigas
preferidas, os aplausos e gritos ovacionando-a foram frenéticos e
intermináveis. Quando eles amainaram, ela disse com a maior candura num
fiozinho de voz doce e meiga:
─ Já que vocês gostaram tanto, eu vou tocar outra.
A gargalhada cortou os espaços do salão de festas, sonora, ampla,
livre, espontânea, ponteada por aplausos estrondosos. Estávamos todos
realmente empolgados com o desempenho daquele pinguinho de gente e
muitos não conseguíamos nos conter e chorávamos de emoção e orgulho. Os
aplausos e gritos de “mais um” repetiam-se... Karina estava toda
empolgada. Ela tramara também com o vovô pianista uma surpresa e tanto
para nos comover a todos. Aline, envolta nos meus braços, chorava rios de
emoção e aplaudia em frenesi a graça e o talento da sua pimpolha.
Perguntei-lhe:
─ Tu vais dançar com Márcia?
─ Nós combinamos fazer algumas danças árabes, a dança do ventre
e a dos sete véus.
─ Então seria melhor pararmos Karina. Empolgada como está ela
não vai parar nunca. Ela adora aplausos. Que é que tu achas?
─ Tu serias capaz de detê-la sem traumatizá-la?
─ Deixa comigo!
Enquanto ela fazia mesuras agradecendo os aplausos, eu me agachei
junto dela dizendo-lhe ao pé do ouvido:
─ Não te esqueças de deixar um espaço cheio de desejo no teu
coraçãozinho para te entusiasmares na próxima vez e no coração da plateia

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também. Tu queres ver a mamãe e a madrinha dançarem?
Ela sorriu:
─ Quero.
─ Então joga um beijinho para a plateia, deixa o vovô pianista tocar
e vamos ver a mamãe.
Ela obedeceu-me e eu a trouxe toda sorridente até Aline. Ambas
desapareceram com Márcia e, minutos depois, apareceram as três no palco,
fantasiadas de odaliscas. Eu não conseguia acreditar nos meus olhos. O que
fazia aquela pirralhinha fantasiada de odalisca? Pois ela dançou
acompanhando a mãe e a madrinha com admirável destreza e, em seguida,
fez um número sozinha com graça e leveza extraordinárias e ficou se
babando toda para os aplausos. Aline também tramara. Quando a tive ao pé
de mim, sorri-lhe:
─ Até tu, Brutus?
Ela riu orgulhosa:
─ É. Mas o discurso ela conseguiu de Márcia. Ela me contou
enquanto nos trocávamos.
Após tantas surpresas e tão fortes emoções, fechamos o dia com a
emoção para a qual sempre tínhamos uma grande reserva de desejo no
coração. Aline extasiou-me com seus odores de fêmea perfumando o
ambiente e parecendo uma escultura luminosa nas sedutoras exiguidades do
uniforme de empregada que eu lhe dei pela manhã.
Com um CD romântico a rodar no aparelho de som e derramando
volúpia por todos os poros, esmerou-se no mais sedutor strip-tease que ela
própria já fizera. Insinuou tirar cada peça do uniforme com muita graça,
sedução e arte, negaceando os segmentos voluptuosos do seu corpo de
deusa que ela desnudava com volúpia e cobria com pudor, subindo e
descendo a escadinha, “espanando” móveis e, ao cabo, jogou-se com
aquele uniforme provocante nos meus braços, arranhando-me as costas e a
nuca e murmurando com voz quente entrecortada de desejo:
─ Estou pronta para o teu prazer. Despe e come a tua empregadinha
com toda a gula e todo o furor. Faz com que eu me acabe na volúpia dos
teus beijos, no calor da tua pele, na erupção de prazer do teu sexo, na
alucinação do teu gozo.
E, dando-me um frasco de óleo aromático:
─ Hoje eu quero tudo: todos os teus “presentes” e todos os
erotismos e até que me dispas com a volúpia das tuas mãos. Quero
enlouquecer-te de excitação com as “artes” da Nina e rebolando a dança do
ventre no Amadinho. Ordena-me tudo o que quiseres. Tudo mesmo! Quero
acabar-me nos teus “Ts Grandões” coroados de cambalhotas para me

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marcar a vida inteira como o dia mais feliz da minha vida...
E açulada pelo desejo que lhe queimava as entranhas:
─ Devora-me!
Retruquei-lhe “amassando-a” toda:
─ Eu também estou esfaimado de ti. – E com uma pegada bruta que
a fez gemer – Vou dar-te um “tratamento de choque” que jamais
esquecerás...
Minha mão direita prendera-lhe os cabelos sobre a nuca e afagava-
lhe o ponto erógeno no pescoço. Ela colou-se em mim afagando-me com a
coxa em frenesi, resfolegando de excitação. Seus lábios entreabriram-se
sedentos num gemido de desejo... Foi uma loucura de beijo enquanto eu
afagava e apertava seus mimos... Os beijos sucediam-se enquanto lhe
derrubava com mãos sôfregas a touca, a microssaia, a blusinha que fez
explodirem seios voluptuosos, a calcinha, fazendo-a fremir com afagos e
amassos. E àquela escultura viva e quente só restava o aventalzinho
imaculadamente branco que me deixava dar-lhe amassos erotizantes em
todo o corpo fremente de desejo. Quando lhe despejei o óleo sobre o corpo,
após lhe derrubar o avental, ela fremia do desejo que a fazia gemer de
prazer... O sol já clareava o dia, quando adormecemos nos braços um do
outro esfalfados de gozo, ouvindo o chilrear alegre dos pássaros.

A vida corria macia e prazerosa. Apenas muito fugaz. Tudo passava


tão rápido... O amanhã chegava tão depressa... Quando demos por nós, era
oito de julho: Karina faria quatro aninhos no dia doze... Disse à Aline:
“Temos de dar uma festinha para a nossa menininha. É tão terna e nunca nos
dá nenhum aborrecimento”. Expedimos e-mails e telefonemas para todos os
lados, e providenciamos o bufê, a animação... Encarreguei Aline de
convidar Henrique:
─ Para ti, ele não vai inventar desculpas. A distância é grande, mas
sempre se dá um jeito. Promete-lhe o quarto de hospedes.
Karina ficou eufórica:
─ Eu vou ter uma festa? Igual à da mamãe?
─ É... É o teu presente por tu seres bonzinhos e nos dar tantas
emoções. Podes convidar tuas amiguinhas e teus amiguinhos. Podes
preparar os teus shows para nos emocionar e ganhares os teus aplausos. Tu
adoras receber aplausos, não é?
Ela sorriu embevecida:
─ É, papai.
O passar do tempo pareceu acelerar-se ainda mais. Foi uma
correria, um sufoco, mas Karina teve a festa que merecia. Para minha

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surpresa e alegria, Henrique chegou cedo com dona Eulália. Abracei Aline:
─ Que bom, amor, conseguiste trazê-los.
Henrique era o idealizador da mais fantástica fazenda de café, um
verdadeiro jardim de delícias. O cafezal verdejante, de rubros frutos, não
regateava espaços para um lago maravilhoso de águas cristalinas,
secundado a jusante por um rio que escoava as águas excedentes do lago,
serpenteando-as em delicadas voltas, por um pomar que oferecia dos frutos
mais vulgares aos mais bizarros, todos do mais puro mel. A montante do
lago o rio ia meter-se no meio de um bosque amplo e encantador com um
pequeno lago e uma rumorosa cachoeira que despencava de cerca de três
metros de altura e era o fascínio de Aline. Foi ali que protagonizamos o
amor verdadeiramente selvagem a ponto de descobrirmos as cambalhotas
que jogavam Aline dentro do lago num transbordo de alegria.
Ele trouxe uma caixa dos doces frutos do seu pomar e, para Karina,
uma linda cesta enfeitada para presente cheia de pêssegos, morangos,
amoras e framboesas. Karina abriu sôfrega o invólucro, pensando que eram
doces. Ao ver que eram frutas, sossegou o alvoroço. Ela não era amante de
frutas. Mordeu um pêssego sem nenhum elã, mas passou a mordê-lo com
gula, como uma esfomeada. Praticamente não mastigava. Devorou uma
amora, uma framboesa e apanhou outro pêssego...
Detive-a:
─ Filhinha! Tu estás comendo como uma gulosa, e a vida também
castiga os gulosos.
─ Mas é tão gostoso, papai!
─ É aí que está o perigo. Comendo com gulodice, tu não vais saber
quando a barriguinha está farta e vais comer mais do que o estômago pode
suportar. Então tu vais sentir um bruto enjoo. Vais ficar doentinha e nunca
mais vais querer comer essas delícias. Não vais querer a festa nem fazer o
teu show nem receber os teus aplausos...
Precisas deixar um buraquinho vazio no estômago para que ele se
sinta satisfeito, sem estar empanturrado e tenha espaço para digerir o que
comeste. Quando o alimento é muito gostoso, tu tens de comer devagar
mastigando bem e saboreando, sentindo aquele gostinho delicioso na boca,
demoradamente. Assim, quando o estômago estiver satisfeito, ele terá
tempo de avisar a tua cabecinha que vai te avisar, dando-te uma sensação
de que o estômago não quer mais. E tu poderás te deliciar logo à noite,
amanhã...
Queres ver? Experimenta um morango. Morde-o devagarzinho,
sentindo o suco gostoso na boca. Isso! Agora mastiga devagarzinho
apreciando o sabor, a doçura... Experimenta uma amora... comendo

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devagarzinho... Isso! Sente a doçura desta framboesa bem mastigadinha na
boca. Assim não é muito mais gostoso?
─ É, sim, papai!
─ E tu não corres o risco de a vida te castigar por gulodice.
Henrique aduziu com carinho:
─ O teu pai tem razão. E eu ficaria muito triste se o meu presente te
deixasse doentinha. Ele é só para te dar prazer.
Ela estava fascinada com tanta doçura e com tanto sabor. Voltou-se
para Henrique com um amplo sorriso:
─ Estou muito feliz com teu presente, Henrique, tu és bom. Tu
queres ser meu amigo verdadeiro?
─ Claro, Karina, eu já sou teu amigo e não admito falsidades. Estou
feliz por gostares das frutas. O que é que eu tenho de fazer para tu me
considerares um amigo verdadeiro?
Ela sorriu amplo:
─ Espera aí!
Correu até o computador, tirou cópias do pacto e voltou correndo,
sentou-se no colo dele e leu-lhe cláusula por cláusula. Ao final, perguntou-
lhe:
─ Concordas com tudo?
─ Com certeza! É um pacto lindo. Mas tu já sabes ler?
─ Sei. E também sei escrever.
─ E como aprendeste?
─ Papai me ensinou.
─ Mas não é muito difícil de aprender?
─ Não. É muito gostoso!
─ Teu pai é um mágico! E quanto ao pacto? Eu assino aqui e tu ali.
Ela disse-lhe eufórica:
─ Agora, somos amigos verdadeiros! Toca aqui!
Mas ela estava louquinha por aplausos e de um novo amigo que lhe
caíra com doçura no coração... Pegou-o pela mão e arrastou-o para o salão
de festas. Fez com que ele se sentasse, ligou o som, pegou o microfone e
fez-lhe um discurso dizendo o quanto estava feliz por ele ter vindo, ser seu
amigo verdadeiro e pelo presente delicioso. Acrescentou:
─ Eu quero fazer um show para ti. Espera aí!
Correu para o vestiário e retornou fantasiada de odalisca. Pôs o CD
a tocar e fez uma série de danças árabes. Enquanto Henrique aplaudia
entusiasmado, ela foi trocar de fantasia e fez-lhe uma graciosa dança do
ventre. Sob aplausos, sentou-se ao piano e tocou suas canções preferidas.
Henrique estava deslumbrado: “como é que uma pirralhinha podia fazer

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tudo aquilo tão bem”? Perguntou-lhe:
─ Tua mãe te ensinou a dançar, mas quem te ensinou a tocar piano?
─ Foi o vovô pianista. Ele toca tão lindo! Tu vais conhecê-lo.
Eu interferi. Acho que eu também queria aplausos. Afinal, aquela
menininha que roubava todas as cenas era a minha obra prima. Sugeri-lhe:
─ Agora que já lhe mostraste tua arte, por que não lhe mostras o teu
jardim? Ele vai gostar. – Brinquei – Tu podes ensinar-lhe tudo o que
aprendeste sobre as flores. – Pisquei-lhe o olho – Acho que ele não sabe...
Ela abriu um largo sorriso e puxou-o para o jardim, onde lhe
mostrou o seu canteiro e lhe mostrou como reciclava as flores, dando-lhe
uma aula completa sobre elas. Falou-lhe de como eu as usara para ensinar-
lhe as combinações de letras na formação das sílabas.
Então, ambos me aparecem felizes. O próprio Henrique parecia uma
criança, sobraçando orgulhoso um vasinho com uma mini-roseira. Eu fiquei
abismado:
─ Ela te deu essa roseirinha?
─ É... Ela fez o jardineiro colocá-la no vaso. Disse que era o seu
presente por eu ser amigo dela.
Ri:
─ Puxa! Tu a cativaste de verdade com teu presente! Ela ama todas
as suas plantinhas, mas essa é o seu xodozinho. Passa um tempão todos os
dias a regá-la e admirá-la.
Henrique disse-lhe sensibilizado:
─ Ah, amiguinha, eu não posso levá-la. Como é que tu vais ficar
sem o teu xodó?
─ Tu és bom e vais cuidar dela com carinho. – Riu – Eu tenho uma
mudinha dela. Ela vai crescer e ficar linda como a mamãezinha dela.
Henrique estava fascinado:
─ Tu estás de parabéns, Marcos. Aline e o tal vovô pianista
também. Vocês transformaram essa menininha num verdadeiro prodígio. É
fascinante ver o que o amor e a dedicação podem conseguir. É claro, com
uma boa dose de sabedoria!
Eu também ganhei o meu aplauso! A festa transcorreu animada. Uma
trupe de palhaços prendeu a atenção da garotada por horas, enquanto os
adultos conversamos as bobagens de sempre, contamos piadas, bolinamos
as esposas ou namoradas ou, pelo menos, as namoradas... Márcia e Aline
deram seu show com Karina. Karina encantou a todos com sua meninice,
sua dança e sua música. Vovô pianista deslumbrou-nos com seu
virtuosismo... No dia seguinte, quando nos despedimos de Henrique, eu lhe
disse:

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─ Lamento não poder te oferecer as mesmas atrações do teu paraíso,
mas foi uma felicidade muito grande tê-los conosco.
─ Ledo engano, Marcos, tua menininha é uma atração inesgotável.
Ela fascinou-me e o presente que me deu tem um significado afetivo muito
especial, sem falar na hospedagem amiga e na festa maravilhosa. Sinto-me
muito feliz e recompensado por ter vindo. E tu? Quando é que vais criar
coragem para me enfrentar nas regatas?
A vida prosseguiu macia, vivida na maciez quente da pele de Aline
e no encanto terno do sorriso de Karina. Quando eu entrava no meu pequeno
mundo macio, esquecia as asperezas do mundo rústico e violento lá de
fora... Às vezes, dava ganas de calar os relógios e a televisão, queimar os
jornais e os calendários... É tão bom aqui! Por que tenho de sair lá fora? O
mundo dos homens está se tornando, cada dia mais, o mundo dos homens
maus: os políticos não sabem senão aumentar impostos e os bandidos...
Parece que já há ladrões andando de carro blindado para se protegerem dos
ladrões... E os humanos... Pobres humanos! Já não temos nem o direito
comezinho de ir e vir! Cada acesso no mundo dos homens é uma operação
de alto risco... Assaltos, sequestros, estupros, tiroteios, balas perdidas... E
isso quando não rompem as barreiras que colocamos em portas e portões,
janelas, muros e cercas eletrificadas, câmeras... Até quando, políticos
safados, abusais da nossa paciência?

Quinze dias após o aniversário de Karina, recebi um aviso para


retirar uma encomenda no correio. Era de Henrique para Karina. Blindei-
me e fui buscá-la. É isso mesmo: já não nos vestimos para sair. A gente se
blinda... Pelo aspecto e peso da caixa, só poderia ser daqueles meles que
pendem de suas árvores. Karina iria ficar numa alegria maluca. Liguei a
câmera de vídeo e chamei-a:
─ Vê o que chegou para ti.
─ O que é?
─ Lê aí. Para que aprendeste a ler?
Ela leu:
─ Para minha amiguinha verdadeira, Karina Ventura.
Perguntou:
─ É de Henrique?
─ Lê mais abaixo.
Ela leu: “Remetente: Henrique”... Começou a pular de alegria e
ficou toda agitada:
─ É de Henrique, papai! Como é que abre... Como é que abre...
─ É preciso ferramentas. Deixa que eu abra para ti.

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Encontrou as desejadas frutas encimadas por uma carta.
─ Tem uma carta, papai! – Ela gritou enquanto enchia a boca com
um apetitoso morango...
─ Olha a gula, filhinha...
Ela sorriu, mastigando com avidez, enquanto abria o envelope. Leu:
“Minha querida amiguinha verdadeira. Sei que tu vais adorar o que há nesta
caixa, mas não precisas agradecer. Eu é que tenho de te agradecer o sorriso
contente que puseste na tua roseira. Todos os dias quando a rego, ela me
sorri com o teu sorriso alegre e eu fico muito feliz".
Acho que ela também está contente aqui no meu jardim, pois já
abriu uma porção de botõezinhos novos e está abrindo outros três. E tem
vários outros crescendo. Acho que vou ter sempre o teu sorriso contente,
mas estou com saudade da tua voz, da tua dança, da tua música, da tua
meninice fascinante e da tua alegria contagiante. Diz à tua mãezinha para ela
convencer o teu papai a vir me enfrentar numas regatas e trazer essas duas
mulheres maravilhosas que ele tem. Teu sorriso contente vai deixar isto
tudo muito lindo... Reparte as frutas com papai, mamãe e com o vovô
pianista. Ele é maravilhoso. Quando o vires, dá-lhe o meu abraço. Com
muito carinho, Henrique”.
Ela olhou-me feliz:
─ Henrique é muito bom, não é papai?
Brinquei:
─ Bom...? Ele sempre trapaceia para me vencer nas corridas de
barco!
─ Ah, papai, tu estás brincando!
─ Estou, filhinha. Tu és muito esperta. Tu sempre sabes escolher
teus amigos. Henrique é um homem terno e todas as pessoas ternas são
boas, generosas, confiáveis, leais, amigos verdadeiros, mesmo sem pacto.
Ele mereceu o presente que lhe deste e entendeu o significado da tua
generosidade afetiva. Mas tu podes dizer-lhe o que quiseres. Ele vai estar
atrás desta câmera. É só olhares para ela e falares o que sentires. Certa vez
ele disse da tua mãe que os anjos podem tudo. E o que tu és senão um anjo?
Ela pegou um pêssego, mordeu-o e deglutiu cheia de enlevo. Sorriu
para a câmera:
─ Tu disseste que eu não preciso agradecer, mas eu quero
agradecer: é gostoso demais. Tu estás entre meus amigos verdadeiros mais
queridos, ao lado de papai e mamãe e alguns outros... Cuida bem da minha
roseira. – Riu – Agora ela é tua. Um beijo!
Perguntou-me:
─ Papai, ele escreveu que está com saudade da minha dança e da

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minha música. Posso fazer um show para ele?
Eu ri:
─ Claro que podes! Ele incentivou-te, pois que aguente! Mas ele
não vai te aplaudir durante a gravação. Tu és louquinha por aplausos...
Ela pensou por um instante:
─ Não faz mal. Ele já me aplaudiu bastante e acho que vai me
aplaudir quando vir o filme.
Sorriu para a câmera:
─ Não é, Henrique?
Ela gravou músicas e danças com o vovô pianista ao piano e eu
despachei o vídeo para a fazenda. Henrique ficou fascinado pela
inteligência, esperteza, vivacidade e habilidades de Karina e também pela
sua imensa ternura. Não tardou a chegar nova caixa com delícias das mais
variadas formas e sabores. Karina fartou-se e correu para o computador
para enviar-lhe mensagens de agradecimento e elogios... Acrescentou:
“Papai prometeu levar-nos aí no fim do ano. Disse que vai te dar uma surra
no remo. Eu quero ver".
Ah, amigão, eu estou louquinha para conhecer tuas árvores cheias de
frutos, a cachoeira que mamãe adora, os bichinhos que comeram milho na
mão da mamãe, o lago que ela diz que é muito lindo, os cisnes, os gansos, o
pavão. Eu posso remar? Eu quero andar de barco. Mamãe disse que o café
é verdinho. Engraçado, nos pacotes é tão escuro, quase preto. Quero que tu
me mostres como é que ele fica escuro e saboroso. Papai disse que é
gostoso andar a cavalo. Eu também posso montar?
Henrique respondeu-lhe pacientemente todas as dúvidas e
asseverou-lhe: “Tu és um anjo de verdade... e um anjo pode tudo”. Aquela
menina tinha tudo para ser o nosso orgulho e protagonizar uma história
fascinante... Instruções e ensinamentos não lhe faltariam. Liberdade para
sonhar, também não.

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Capítulo IX – AFICIONADA POR LIVROS

Karina desenvolveu-se bem, com saúde e muita vontade de


aprender. Saber ler aos três anos tornou-a uma aficionada por livros. Amou
tanto “O Pequeno Príncipe” que o transformou no seu livro de cabeceira e
não mais se contentava com pequenos livros infantis. Queria livros
substanciosos. Devorou os livros infantis e juvenis de Monteiro Lobato,
enveredou por Júlio Verne: viajar com ele à lua ou ao centro da terra; varar
os mares num submarino; dar a volta ao mundo em oitenta dias ou viajar
cinco semanas em balão eram aventuras que a empolgavam. Jonathan Swift
escrevia para torturar os homens? Pois ela se divertiu viajando com
Gulliver. Amou Robson Crusoe e as bruxarias de Hary Potter. Encantou-se
com Sheherazade...
Interessou seus amiguinhos e amiguinhas e boa parte dos seus
folguedos eram “viagens” instigantes através da leitura em grupo. Quando
lhe faltavam livros, ia xeretar nos meus e até em Direito, psicologia e
Filosofia ela andou metendo o nariz.
É claro que ela quis aprender a brincar com os números e aprendeu
fácil a tabuada e a fazer contas:
─ Vamos ver quantas bonecas tu tens. Aqui tens duas e aqui?
─ Duas.
─ Duas vezes duas são:
─ Quatro.
Perguntei-lhe:
─ Quantos doces tu tens aqui?
─ Um, dois: São dois!
─ E como tu fazes para dividires os dois doces pelas quatro
bonecas?
Ela pensou e concluiu:
─ Não dá, papai, duas não vão ganhar.
─ Dá. Pensa bem: nós estamos dividindo. Dividir é quebrar.
Ela sorriu. Quebrou os doces ao meio e deu um pedaço para cada
uma. E aqui, quantas balas tu tens?

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Ela contou:
─ Oito.
─ E quantas tu podes dar a cada boneca?
─ Tem que dividir oito por quatro?
─ É.
─ Mas aí não precisa quebrar.
─ Quando tu tens mais doces do que bonecas, geralmente, não.
Ela deu uma bala a cada boneca e repetiu a operação:
─ Deu duas, papai.
─ Então oito balas divididas por quatro bonecas dão?
─ Duas.
─ Mas se tu tivesses nove balas, terias de quebrar uma em
pedacinhos.
E assim foi... Um de seus brinquedos favoritos era dividir balas
com as bonecas... Tanta vontade de aprender: dei-lhe um globo terrestre e
um planisfério. Recebeu algumas noções sobre os mares e continentes.
Aprendeu as coordenadas e a rosa dos ventos e como orientar-se através
delas: sua posição no mapa. Ao ver o sol nascer, dava-lhe a sua direita e,
de braços abertos, dizia empolgada: “papai, lá é o oeste”! Eu respondia-
lhe: “É. E a tua frente é o teu norte e a tua bundinha é o teu sul. E lá em cima
da tua cabeça é o zênite. O sol o toca ao meio-dia em ponto”.
Descobriu como situar-se no mundo e seguia as suas aventuras
literárias orientando-se pelos mapas. Ter o mundo nas mãos a fascinava e
viajar através dele, mesmo de mentirinha, na narrativa de uma boa historia,
a empolgava. Surrupiou-me um bloquinho de “notas adesivas” e releu “A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias”. A cada cidade, escrevia o nome e as
coordenadas numa “nota” e grudava no globo. Ao cabo correu mostrar-me o
globo com um círculo de notinhas adesivas. Estava empolgada: “Papai, dei
a volta ao mundo identificando todas as cidades. Que nota tu me dás”?
Conferi e lhe disse: “E tu nem levaste oitenta dias! Dou-te o orgulho
legítimo do papai-amiguinho por ter a filhinha-amiguinha mais inteligente
do mundo. Se continuares assim dedicada eu te farei a pessoinha mais sábia
do mundo. Tu queres”?
Ela abriu um sorriso enorme:
─ Como tu e mamãe?
─ Claro!
─ Quero.
Dei-lhe os filmes de todas aquelas histórias viageiras que ela viu na
maior empolgação, localizando cidade por cidade nos mapas. Tivemos que
responder um não acabar de perguntas que muitas vezes provocávamos, mas

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vivíamos empolgados com o saber que aquela menininha acumulava em
brincadeiras. Do que não é capaz uma criança sabiamente educada e
estimulada! Aquela inteligência pequenina crescia a olhos vistos e nós
estávamos fascinados e orgulhosos com o sucesso da educação que nós lhe
dávamos, diametralmente oposta à tradicional.
Não a matriculamos na pré-escola, claro, porque ela nada tinha a
aprender e, ao matricular-se na escola regular, entrou no quinto ano e logo
passou para o sexto e sempre a incentivamos a pesquisar. Ela sempre tinha
notas excelentes. Nunca seria uma analfabeta funcional.
Intramuros vivemos relativamente tranquilos, mas lá fora... Na
escola, Karina passaria horas diariamente fora da nossa vigilância e isso
nos punha em cuidados. Aline fez-lhe uma preleção:
─ Filhinha, nós temos um pacto em que nos comprometemos a
proteger-nos uns aos outros para não cometermos erros e sermos castigados
pela vida. Tu tens sido uma colaboradora maravilhosa e tens escapado dos
castigos da vida, mas tu estás entrando numa segunda fase da tua vida, a
fase escolar, e ficarás sujeita a cometeres erros graves se não estiveres
atenta ou fores tola.
No geral, as pessoas são honestas e confiáveis, mas há pessoas más,
sempre dispostas a fazer o mal. Atraem crianças como tu oferecendo balas
ou doces e até brinquedos para acompanhá-las a casa delas ou a algum
lugar escondido.
Para estares segura de que a vida não te castigará não deverás nunca
aceitar doces ou brinquedos de quem não conheceres muito bem, nem
mesmo colegas. E não deixa que te toquem, especialmente nas tuas partes
íntimas, nem toques em alguém que te peça. Não deverás jamais
acompanhar quem quer que seja à sua casa ou qualquer outro lugar, seja
para ganhares doces ou assistires filmes ou qualquer outra oferta que te
façam. Balas e doces podem estar contaminados com drogas e te fazerem
muito mal e, se te deixares conduzir a algum lugar, podem te causar mal
muito grave. Se te ofertarem doces, brinquedos ou qualquer outra coisa que
tu queiras é só pedires para que eu te compre. Tu deves seguir essas
recomendações até cresceres e eu tornar a falar contigo para te ensinar
outras regras. Tu prometes?
─ Prometo.

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Capítulo X– A MENARCA

O passar do tempo me surpreendia deveras e não era só com Aline.


De repente, despontaram em Karina os primeiros sinais da puberdade. Sua
pré-adolescência chegou bem cedo e com ela a época de maiores cuidados.
Antes de ela completar onze anos, já tinha os seios crescidinhos e alguns
pelos nas axilas e no púbis. Preocupou-nos a precocidade com que ela
chegava à puberdade já que esses sinais ocorrem de oito a dez meses antes
da menarca (primeira menstruação).
Eu acredito que às crianças sempre se deve dizer a verdade e dar-
lhes o máximo possível de informações, especialmente as que elas
aprendem de forma distorcida e, geralmente, obscena dos colegas ou dos
meios de comunicação. Acredito também ser crucial ensinar-lhes tudo
sobre o sexo, inclusive sobre os prazeres e perigos, antes da menarca.
Assim, elas aprendem sobre o sexo como uma questão cultural e não como
um fator que estão vivenciando e que fatalmente irá atiçar-lhes a libido.
Tanto mais que atualmente as crianças são bombardeadas desde a mais
tenra infância com pornografia, inclusive pelos colegas e, se não forem
cuidadosamente orientadas, as meninas acabam engravidando muito cedo,
aos dez, doze anos, ou antes; contraindo doenças sexualmente
transmissíveis e aprendendo sobre o sexo não como um ato de amor, mas de
pura degradação moral.
É também a fase em que o pré-adolescente e, principalmente, a pré-
adolescente começa a aborrecer os brinquedos e distrações da infância,
abrindo-se um vácuo na sua vida e um enfado existencial, carecendo de
novos interesses culturais, novas distrações e de mais atenção dos pais.
Longas preleções sobre as mudanças físicas e de humor que irão atravessar
e sólidas instruções para compreender a adolescência como uma
preparação para a fase adulta são fundamentais.
Com essa preocupação, chamei Karina ao escritório, cerca de
quatro meses após aparecerem esses sinais, a fim de orientá-la. Ao ver
despontarem-lhe os peitinhos, Aline já a alertara para o desenvolvimento
da sexualidade, o aparecimento de pelinhos no púbis e nas axilas e que a

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recomendação para não admitir toques, especialmente nas suas intimidades,
ainda era válida, e mais do que nunca. Também a preveniu da menarca. Não
a proibiu de namorar, mas quando quisesse fazê-lo ela teria muito a
aprender para não trombar com os castigos da vida: “Há muitos perigos a
evitar e nunca esqueças de que a tua amiguinha existe para te orientar.”

Karina adorava aprender e era toda atenção:


─ Filhinha, a vida começou a te fazer mulher bem cedo. Já tens os
seios crescidinhos e tens pelos nas axilas e deves tê-los no púbis.
─ Tenho, papai.
─ Isso significa que estás prestes a entrar na puberdade, ou seja, na
adolescência. Esses são os primeiros sinais. E para que tudo ocorra sem
traumas nem inquietações, tu precisas aprender algumas coisas sobre
anatomia, sexo e fecundação.
─ Estou pronta, papai!
─ Antes de tudo, precisas saber que a puberdade será um novo ciclo
da tua vida. Nesse período tu passarás por grandes mudanças e essa que
vivenciarás dentro de alguns meses é talvez a mais importante. Teus seios
vão continuar crescendo até ficarem mais ou menos como os da mamãe e
vais ficar ainda mais linda e fascinante, com curvas arredondadas e
sedutoras. Vais desenvolver o desejo sexual, que é a vontade física
de fazer bebês, que dá prazer aos pais. Vais também começar a te
interessares pelos rapazes e ter vontade de namorar (ou “ficar”, como já
deves ter ouvido falar).
Mas tudo isso será fruto de uma transformação profunda no teu
sistema hormonal que pode causar angústias, tensões e incertezas. Sempre
que sentires algum problema ou tiveres alguma dúvida dessa natureza,
deves falar com tua mãe que também é mulher, é experiente e sábia, além de
ser tua melhor amiguinha.
─ Eu sei, ela tem sido uma amiguinha e confidente maravilhosa.
─ O mais importante é que estejas preparada para a menarca que
deverás ter daqui quatro a seis meses.
─ Mamãe alertou-me, mas eu queria saber mais.
─ Menarca, nome específico da primeira menstruação, é o efetivo
início da puberdade e indicará que o teu corpo estará preparado para teres
bebês. Vamos começar pela anatomia do aparelho reprodutor feminino.

Fiz um desenho, embora grosseiro, do abdômen e do púbis


femininos e fui acrescentando os órgãos sexuais e reprodutores, dos grandes
lábios aos ovários, enquanto lhe dava as explicações:

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─ Tu tens, entre as pernas, a vulva que é constituída dos grandes
lábios, que são a parte externa que a recobre, e dos pequenos lábios
internos. No encontro superior dos pequenos lábios, tens o clitóris, também
conhecido como grelo, em linguagem vulgar, ou grelinho, em linguagem
coloquial. Ele mede geralmente entre meio e um centímetro, mas pode
alcançar, em algumas mulheres, dois, três e até quatro centímetros. O
clitóris tem certa semelhança com um pênis infantil, especialmente quando
atinge dimensões maiores e porque ocupa o mesmo lugar na região pélvica
e pode ficar erétil e causar prazer ao ser tocado. Por isso há quem o
confunda com um pênis infantil quando atinge proporções maiores.
Na confluência inferior dos pequenos lábios está a entrada da
vagina que tem, mais ou menos na metade de sua extensão, o hímen,
vulgarmente conhecido por cabaço ou cabacinho. Ele é uma espécie de selo
da virgindade, uma película que se rompe no primeiro ato sexual, ao ser
atravessado pelo pênis, deitando um pouco de sangue, podendo haver
alguma dor.
A extremidade interna da vagina abre-se para o útero que tem
aproximadamente a forma e o tamanho de uma pera com o lado do cabinho
voltado para baixo. Esse lado é aberto para a vagina. O útero é a “casinha”
onde o bebê fica por nove meses (se não nascer prematuro nem abortar) até
que fique pronto para nascer. É um órgão com grande elasticidade e
aumenta de tamanho à medida que o bebê cresce. No útero, há as duas tubas
uterinas também conhecidas como trompas de Falópio (nome de seu
descobridor), uma de cada lado. Próximo à entrada de cada tuba há um
ovário. Essa é a estrutura do aparelho genital feminino, diretamente
envolvido na fecundação e gestação do bebê.
Ela observou:
─ É bem mais complexo do que eu pensava.
─ É muito mais complexo do que eu estou dizendo. Quando
aprofundares teus conhecimentos sobre o milagre da vida, vais ficar
deveras maravilhada. O que nos faz acreditar que Deus existe de fato é o
milagre da vida e o funcionamento do cérebro. É fascinante! É impossível
acreditar que tenham surgido do nada sem uma inteligência superior para
criar e coordenar tudo. Mas tu deves estar ansiosa para entender o que
estará acontecendo contigo.
Ela riu:
─ Estou. Eu tenho um pouco da curiosidade mórbida da mamãe.
─ Vamos agora fazer o caminho inverso, partindo dos ovários. A
cada mês, um óvulo amadurece, rompe o folículo que o prende ao ovário e
se liberta. A tuba uterina o atrai. Ele desce pela tuba até o útero, fixando-se

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na sua parede interna. Se, no percurso pela tuba ou no útero (período fértil),
ele for fecundado por um espermatozoide inicia-se uma nova vida. Não
havendo a fecundação, ele morre. O organismo inicia, então, o processo de
expulsão do óvulo morto.
Karina deslumbrava-se:
─ Mas como é que ele faz isso?
─ Devido à ação hormonal, há a deterioração de toda a parede
interna do útero que, juntamente com sangue e o óvulo morto, é expelida em
forma de mênstruo. Mênstruo é o fluxo de sangue que verás fluir da vagina
quando tiveres a menarca e nas sucessivas menstruações. Deverá manchar a
calcinha e, eventualmente, chegar ao vestido. Mas não te aflijas. É da
própria natureza das mulheres e, em cerca de três dias, o processo se
completa e a parede do útero se reconstitui, ficando novinha em folha,
pronta para receber um novo óvulo e uma eventual fecundação.
As menstruações se sucederão em ciclos mensais, até teres cerca de
cinquenta anos, quando cessa a fertilidade feminina com a menopausa.
Normalmente, elas só se interrompem durante os períodos de gestação ou
com o uso da pílula anticoncepcional. É desconfortável, claro, e pode
causar a chamada “tensão pré-menstrual”, geralmente referida como TPM, e
cólicas abdominais. Tua mãezinha te dará absorventes para te sentires mais
confortável e remédios para eventuais cólicas.
Karina riu:
─ Não é muito confortador, mas eu estou fascinada. E se for
fecundado, como é que o óvulo se desenvolve?
─ Fecundado o óvulo por um espermatozoide, a célula masculina
que penetra em seu interior, ele se transforma na célula “ovo” e se inicia o
processo de multiplicação celular. O elemento fundamental da célula é o
DNA. Nós herdamos um da mãe e outro do pai. Neles, estão os genes que
têm todas as informações genéticas para a geração do bebê, desde a
formação do cérebro até a cor dos olhos. O sexo é determinado pelo
espermatozoide que contém o cromossomo “y”, masculino ou “x”, feminino.
─ E como é que o bebê cresce?
─ Pela reprodução celular que se dá por um processo designado por
meiose que tu podes pesquisar nos livros e apostilas de genética ou na web.
Todas as células, inclusive a célula ovo, têm dois DNAs, oriundos, um do
espermatozoide que o fecundou com caracteres do pai e outro do óvulo com
caracteres da mãe. Nota que estamos falando de grandezas ínfimas,
nanográficas. O corpo humano tem quintilhões de células e o
espermatozoide, o arquiteto da vida, é a menor delas.
De início tu tens o embrião com a forma de uma bolinha, que vai

72
crescendo, até que os membros e a cabecinha se formem já no terceiro mês.
Daí em diante, chama-se feto e, ao nascer, bebê! O embrião e, depois, o feto
desenvolvem-se no útero dentro do âmnio, uma espécie de bolsa cheia do
chamado líquido amniótico, em que flutua o futuro bebê e que o protege de
choques e, envolto pela placenta, que une o feto à parede do útero e tem
função alimentar e equivalente à respiração. Só depois de nascer é que é
cortado o cordão umbilical e ele leva uma palmadinha nas costas para
chorar e começar a respirar.
─ Tu tens razão. É realmente fascinante! O nascimento também deve
ter alguma complexidade, não é?
─ Tem, sim. Por ação de hormônios, a vagina se dilata para dar
passagem ao feto. O âmnio se rompe e o líquido amniótico é expelido pela
vagina. O útero faz contrações no sentido de expulsar o feto para a vagina,
auxiliado pela parturiente que faz força de modo a guiar o bebê para a
saída. Quando o bebê aponta a cabecinha para fora, o médico ajuda o
nascimento, puxando-o pelo pescocinho. Depois levanta-o pelos pezinhos e
dá-lhe uma palmadinha nas costas para ele chorar e começar a respirar e
corta-lhe o cordão umbilical. Ele é limpo do líquido amniótico e de algum
sangue e fica doidinho para mamar...
Karina sorriu embevecida:
─ Estou maravilhada! Eu posso saber como é o aparelho genital
masculino e como se procede à fecundação?
─ Claro!
Desenhei um púbis masculino, com o pênis e os testículos, mais a
próstata. Observei:
─ Parece mais simples, mas talvez seja até mais complexo. Dentro
da bolsa escrotal, ou escroto, vulgarmente chamado de “saco”, abaixo do
pênis, ficam os testículos que são dois. Eles produzem os espermatozoides,
células que se reproduzem também por meiose, às centenas de milhares,
diariamente. A próstata produz o líquido seminal, também chamado de
líquido espermático, que vai servir de veículo aos espermatozoides,
originando o esperma ou sêmen.
O pênis, quando estimulado pelo toque e desejo sexual, aumenta de
volume, pelo afluxo de sangue que lhe é bombeado em maior volume pelo
coração, e fica duro. Tem, porém, certa maciez periférica e a pele é
extremamente elástica, podendo percorrer praticamente toda a extensão do
órgão, mesmo ereto. Quando ereto, em pezinho, pode ser introduzido
carinhosamente na vagina e, com movimentos fricativos de entra e sai sem
sair de todo, estimula prazerosamente ambos os parceiros, e o sêmen é
ejaculado (expelido) pelo pênis na vagina para fecundar o óvulo.

73
No sêmen, cerca de uma colherinha de chá, há centenas de milhares
de espermatozoides, metade com cromossomo “y” e metade com
cromossomo “x” que, se a mulher estiver em período fértil, isto é, com um
óvulo na tuba ou no útero, saem nadando na umidade natural do útero ou da
tuba (eles têm uma caudazinha) para penetrá-lo. Não te esqueças de que
eles são microscópicos, ou seja, é impossível vê-los a olho nu.
A fecundação é dada por um único espermatozoide. Só um penetra o
óvulo, indo formar, como já te expliquei, a célula ovo. Ao ser penetrado, o
óvulo cessa sua atração sobre os espermatozoides que acabam morrendo,
sendo, porém, expelidos sem nenhum problema. Isso é o ato sexual (fazer
amor) vulgarmente chamado transa, e dá prazer ao casal, o que faz com que
queiramos namorar, casar, ter filhos e também fazer bebês de mentirinha,
isto é, evitando a fecundação.
─ E como é que se evita a fecundação?
─ Com os anticoncepcionais. Eles evitam a fecundação ou
concepção. Há vários tipos, destacando-se a pílula, o Diu, o Diafragma, o
preservativo, também chamado de camisinha, etc. São químicas que evitam
a ovulação, no caso da pílula ou dos espermicidas que matam os
espermatozoides. Outros são barreiras que impedem que os
espermatozoides cheguem ao útero como é o caso do Diu, do Diafragma, da
Camisinha... Há também a chamada “pílula do dia seguinte” que poderá ser
usada, excepcionalmente, se, numa brincadeirinha, a camisinha se romper.
Ela evita a fecundação se for tomada dentro de setenta e duas horas. Mas só
pode ser usada numa emergência como no caso de o casal estar sem
anticoncepcionais ou de a camisinha romper-se. Se for usada duas ou três
vezes seguidas, em curto espaço de tempo, causará transtornos muito
graves. Há métodos tradicionais como a interrupção do coito antes da
ejaculação ou a contagem dos dias férteis, mas passíveis de erros.
Esses mecanismos permitem que o casal tenha o prazer sexual, sem
o risco de a mulher engravidar. Sim, fazer bebês, mesmo de “mentirinha”, é
muito prazeroso, especialmente quando há muito amor. Tu foste feita com
tanto amor, tanto desejo e tanto prazer, que eu acho que é por isso que tu és
tão linda e tão inteligente.
─ É deveras fascinante! Muito mais complexo do que eu imaginava.
─ Na verdade, fazer bebês é bem simples. É apenas uma
brincadeirinha prazerosa e a natureza se encarrega de tudo o mais até que
eles nasçam prontinhos para dar muito trabalho e despesas. Na verdade,
meninas de dez, doze anos, e até menos, já os andam fazendo, infelizmente.
Tu leste naquele livrinho “O Pequeno Príncipe” que a gente é responsável
por quem cativa, imagina por quem a gente põe no mundo! E pôr um filho no

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mundo é uma responsabilidade muito grande. É preciso alimentá-lo, vesti-
lo, cuidar dele, educá-lo, dar-lhe atenção e estudo, além de muito amor. E
sem planejamento pode comprometer os estudos, o trabalho e até o
casamento. Tu sabes, porque sempre foste uma colaboradora inestimável
nos cuidados e na educação do Ric, embora para ti fosse uma brincadeira.
Mas tu foste sempre muito dedicada.
Do ponto de vista científico, porém, a maneira como a natureza
desenvolve todo o processo, é muito mais complexo e tu podes aprofundar
teus conhecimentos nas enciclopédias, procurando por esses nomes que te
ensinei ou em livros específicos e até na Web. Eu encarreguei-me de te dar
esta aula porque mamãe não estudou genética e eu sabia que tu irias querer
saber os porquês, mas poderás descobrir muitos outros pesquisando.
─ Como tu sabes, a pesquisa é fundamental para tudo o que se
queira saber em profundidade. Geralmente a gente aprende pela rama. Só a
pesquisa nos leva ao conhecimento profundo.
Tu deves ter percebido que o ato sexual é extremamente íntimo. Para
a mulher, mais ainda, porque ela é invadida profundamente no seu âmago.
Daí decorrem dois problemas. O mais grave é que, pelo contato dos órgãos
masculino e feminino com o sêmen e com a umidade da vagina, se um dos
parceiros estiver contaminado com alguma doença sexualmente
transmissível (DSTs), pode contaminar o outro. E há DSTs muito graves,
inclusive a AIDS que ainda é incurável e mortal. Há apenas duas maneiras
de contornar esse problema. Ter um único parceiro que seja realmente fiel e
fazerem ambos, previamente, os exames de DSTs, principalmente, anti-
AIDS ou que, pelo menos, sejam muito responsáveis, usando a camisinha
em transas extraconjugais.
Em relações amorosas ocasionais ou extraconjugais, deve-se usar
sempre a camisinha que evita a um só tempo a AIDS, as demais DSTs e a
gravidez. Entretanto a camisinha e os demais instrumentos
anticoncepcionais não são absolutamente seguros, especialmente se usados
sem os devidos cuidados. A camisinha pode romper-se durante o ato sexual,
anulando-se o seu efeito. Nesses casos, pode-se prevenir a gravidez
recorrendo à chamada “pílula do dia seguinte” que impede a concepção,
mas, quanto às DSTs, se um dos parceiros estiver contaminado, o outro,
provavelmente, o será também. Por isso é recomendável o uso de
camisinhas mais resistentes ou o uso de duas, uma sobre a outra. Tua deves
ter entendido que não te estou dando uma aula de sacanagem nem te
liberando para saíres por aí transando como as mal informadas e
desatinadas. É uma questão científica que devemos conhecer para não
trombarmos com a vida.

75
Karina observou muito séria:
─ Mesmo para os bem informados é um prazer de alto risco!
─ É sim. Desde que a AIDS apareceu, por volta de 1980, tornou-se
o tormento dos namorados e dos amantes. E foi nos últimos trinta anos que
as crianças começaram a fazer sexo, influenciadas pela televisão, por
revistas, internet e pelos amigos e colegas. Só os bem casados podem ficar
relativamente tranquilos. Por tudo o que te ensinei, não deixes de falar com
a mamãe sempre que tiveres alguma dúvida ou inquietação e,
especialmente, depois que menstruares e quiseres namorar, quando te
sentires especialmente atraída pelos rapazes. Isso ocorrerá após a menarca,
na medida em que se desenvolva o teu desejo sexual ou até antes se fores
instigada pela curiosidade. Experiente e sábia, ela será tua melhor
amiguinha, e há ainda muita coisa que tens de aprender para fazeres sempre
o certo e a vida não te castigar.
Há muitos perigos, e muito graves, nas relações íntimas, que
precisam ser prevenidos. A tua menarca está vindo muito cedo. Geralmente
ela está ocorrendo entre os treze e os quatorzes anos. Entretanto, procura
aproveitar a tua infância o mais que puderes, porque é a fase mais
prazerosa da vida, sem grandes cuidados, e dá de ombros à curiosidade que
nem sempre é boa conselheira.
Tua melhor amiguinha vai falar-te sobre sexo e paixão, os seus
prazeres e os seus perigos, para que não fiques com a cabecinha povoada
de curiosidades, mas te falará também de amor e ternura que é o que
realmente conta para que tenhas uma atividade sexual digna e saudável. Tu
terás dela tudo o que quiseres saber, inclusive para esclarecer eventuais
tolices e grosserias dos coleguinhas, mesmo indecentes.
Vocês têm um pacto e, portanto, não têm segredos. Mas até que o
sexo te incomode deveras tu deves ignorá-lo e pensar em brincar e estudar:
encher essa cabecinha de sabedoria para saberes escolher um homem terno
e digno para completar a tua vida e te dar filhos quando estiveres preparada
para tê-los – sorri – de verdade e de mentirinha e te fazer feliz. O sexo é
prazeroso, mas, para que seja realmente bom, tem de estar associado ao
amor e ser praticado com responsabilidade. Um filho antes do tempo é um
bruto transtorno e é sempre sinônimo de noites indormidas. Tu estás
tranquila quanto à menarca?
─ Estou. Não há alternativa, não é?
─ Não. É o preço que toda mulher tem de pagar para ser mãe,
mesmo que nunca o seja, além das dores do parto.
─ O parto também é dolorido?
─ É. A vagina se dilata, mas o bebê sempre é grandinho. Aí, há a

76
alternativa da cesariana: uma incisão na barriga e o bebê é retirado por ela,
mas é uma cirurgia. A parturiente também pode ser anestesiada, mas o parto
perde a naturalidade e precisa ser induzido por medicamentos e até por
cortes. Ficam prejudicadas as contrações e a sensibilidade da mãezinha
para guiar a saída do bebê.
Como vez, há alternativas à dor. As mulheres, porém, são estoicas e
suportam dores melhor que os homens. Tua mãe fez exercícios vaginais que
facilitaram os partos e vai ensinar-te. São exercícios que enrijecem os
músculos da vagina, preservam a saúde e aumentam o prazer sexual, além
de facilitar os partos.
Quando tu nasceste, ela suava e gemia com as dores das contrações,
mas me sorriu o tempo todo. Eu estava nervosíssimo, mas feliz com o
estoicismo dela. Foi uma felicidade indescritível, quando tu puseste a
cabecinha para fora. Tu choraste tão forte com a palmadinha... Aquele
choro foi a música mais linda que eu ouvi. Era sinal de que tu respiravas
cheia de saúde. E tua mãe... ela sorriu sempre e quando te recebeu nos
braços... ela queria admirar-te, mas tu te atracaste na mama, esfomeada.
Foram os momentos mais felizes das nossas vidas. A felicidade de te ver
chegar e ter-te nos braços compensou tudo.
Karina estava emocionada:
─ Eu fui sempre muito amada.
─ É a razão de seres uma filha maravilhosa e de nos recompensares
sempre com amor, dedicação, atenção, carinho... Tu foste sempre a nossa
alegria maior. Agora deixa que nós cuidemos da tua felicidade... Tua
melhor amiguinha estará sempre aberta a qualquer pergunta que tiveres por
mais íntima ou erótica que seja. Se tiveres qualquer dúvida que envolva
uma pergunta muito indecente é a ela que deverás perguntar sempre, até que
não tenhas nenhuma curiosidade sobre sexo e os riscos e prazeres que ele
envolve. E se restar alguma, lembra-te de que também sou teu amiguinho e
de que quero o melhor para ti.
Tua amiguinha falará contigo de igual para igual e muito íntima, sem as
restrições de mãe e, se ela se desviar, lembra-lhe o pacto. Mas tua
mãezinha será o espírito critico entre vocês e estará sempre atenta para que
não caiam em erro. Poderá até proibir-te, mas não será de verdade. Será
apenas para chamar a tua atenção para algum ato perigoso que tu própria
deverás proibir-te. Há coisas que temos de proibir-nos para não
trombarmos feio com a vida, como, por exemplo, dirigir em alta
velocidade, ou bêbedos, ou drogados. Com sexo e paixão os cuidados
devem ser extremos. E, para começar – ri – proíbo-te de namorar sem
permissão da mamãe.

77
Ela riu.
─ É sério, filhinha. Se tiveres pressa, pergunta-lhe se podes e ela se
apressará a te preparar para te entregar às feras. Terás mesmo de enfrentar
as feras porque os objetivos dos meninos serão sempre diferentes dos teus.
Eles só pensam em pegada e ignoram solenemente o que realmente importa,
o amor.
Nós te educamos como uma pessoinha meio grande e agora que te
tornaste uma pessoinha meio grande queremos te educar como uma pessoa
grande, sem nenhuma restrição a temas adultos. Devo ressaltar que, mais do
que nunca, tu estarás livre para escolheres os teus caminhos, principalmente
para decidires sobre os teus estudos e tua sexualidade, porém a
responsabilidade pelos acertos ou erros será toda tua. Por isso, não te
precipites e procura estar bem informada para cada passo que deres. O
estouvamento não te serve. Ouve sempre a voz da sabedoria e da
experiência. Tua mãe e tua amiguinha te manterão sempre por dentro da
realidade.
Deixar-te muito bem informada de tudo o que envolve amor, paixão,
sexo e prazeres é o nosso objetivo. O conhecimento amplo é fundamental
para escolhermos os nossos caminhos. Para sermos bem sucedidos na vida
temos de traçar planos e estabelecer objetivos e, ao lado da profissão, a
sexualidade é um dos objetivos mais importantes para que alcancemos a
felicidade, especialmente para a mulher. Não é só por ter o pipi voltado
para dentro que a mulher difere do homem. Ela também menstrua, pode ter
TPM, engravida e amamenta e é-lhe fundamental o amor para ter prazer de
fato ou obterá só sacanagem. Por isso mamãe-amiguinha está determinada a
ensinar-te tudo sobre a sexualidade feminina, inclusive no relacionamento
com o homem, para que tu possas fazer sempre a coisa certa e tirares o
melhor da vida com dignidade sem te machucares.
Tu terás indicações seguras para escolheres o teu norte e sobre os
caminhos que deves seguir ou evitar para chegares a ele em segurança sem
te perderes em encruzilhadas perigosas. Escusado é dizer-te que
precisamos, mais do que nunca, da tua ajuda para te conduzir ao teu
objetivo. Como? Escolhendo, dos caminhos que te indicarmos, o que mais
se afeiçoar aos teus objetivos, ao que queres da vida.
Sonha alto, filha, que tu terás plena liberdade para sonhar e pessoas
amigas para acalentar os teus sonhos. Só não te esqueças nunca de que
liberdade exige responsabilidade e a responsabilidade é o grande dogma da
vida que respeitamos ou quebramos a cara.

78
Segunda Parte – FORMAÇÃO SEXUAL DE KARINA

79
Capítulo XI – AMOR OU SEXO

Eu confiava plenamente no saber, na argúcia e na naturalidade de


Aline para industriar a filha sobre tudo o que ela devia aprender sobre
sexualidade desde antes do início da puberdade e deixei ao seu encargo
fazê-lo. Devo dizer a seu favor que ela não sonegou nenhuma informação à
filha com toda a naturalidade e ternura, mas também com crueza quando o
tema a requeria. De início, porém, sentiu alguns pruridos em tratar
abertamente de sexualidade com uma criança que mal completara onze
anos, mas ela já estava transformando as bonecas em enfeites: pobre Barbie
enforcada na janela balançando ao vento! Era como dissesse: “ei, garotos,
minha dona está pronta para os novos brinquedos”!
Assustei-me com a precocidade com que ela se desfazia dos
brinquedos e dei-me pressa em chamá-la para a aula sobre a menarca e fiz
ver à Aline que o mundo mudara muito mais rápido do que ela havia
percebido e que as crianças já são bem mais evoluídas do que no seu
tempo:
─ Meu amor, até alguns anos atrás eu seria frontalmente contra, mas
com tantos estímulos e apelos sexuais ao alcance dos olhinhos das crianças
que são, por natureza, curiosas... E tem mais, tudo o que elas aprendem
sobre sexo correm contar às outras porque há essa aura de proibido e de
lhes sonegarem a verdade, o que é o maior vício das civilizações: A um
tempo, instigam, sonegam, e proíbem. E essa transmissão de conhecimentos
dá-se da maneira mais obscena e chula que possas imaginar. E nem te
preocupes em ensinar-lhe que fazer sexo é enfiar o pênis na vagina e mexer
porque isso ela já sabe no vocabulário chulo da garotada. O que tens de
ensinar-lhe é que fazer amor é muito diferente de fazer sexo.
Eu entendo que as crianças de, pelo menos, até quatorze anos devem
se preocupar apenas em estudar e brincar. Mas brincar não é foder, ou pior,
foder-se, que é o que as meninas estão fazendo ao engravidar e contrair
AIDS. Mas se a menininha resolve transar, estimulada pelo que vê e pelo
que ouve, é melhor que o faça com pleno conhecimento do que está fazendo
e absoluta segurança contra gravidez e AIDS. A coitadinha ir para trás da

80
moita com um garoto, estimulada pela curiosidade, sem ter a mínima noção
do que está fazendo, e ainda por cima acabar grávida ou aidética se não as
duas coisas é terrível e não é proibindo que tu vais evitar o pior.
A pornografia está em todas as mídias. Tu podes instalar um
software no computador para impedi-la de ver pornografia. Mas isso é uma
grande tolice porque ela vai vê-la na casa dos amigos, ouvindo comentários
fesceninos em palavreado chulo e, o que é pior, perder a confiança em nós
ao ver que a estamos impedindo de ver determinados programas. Ela te
pediu um soutien e enforcou a boneca preferida? Está doidinha por
“pegadas”. Ou tu a ensinas a fazer bom uso do playground ou ela promove o
festival da garotada. Ela já sabe tudo sobre sexo vulgar. Tens de contrapor-
lhe o amor.
Não há como proibir ou impedir as crianças de verem pornografia e
erotismo. A pornografia e o erotismo é que não poderiam estar acessíveis a
elas, e o que pode haver de pior e mais obsceno do que uma menina de dez,
doze, treze, quatorze anos, e até mais nova, grávida? E já são tantas a
engrossar as estatísticas de gravidez precoce, de abortos e de crianças
aidéticas. Tu sabes que já existem até meninas de oito anos menstruando e
querendo “ficar” e até grávidas?
O número de partos de meninas de dez a quatorze anos, no Brasil,
só no ano de 2003 chegou quase a vinte e oito mil! Cerca de trinta por cento
dos partos entre adolescentes! A quantas anda? Não são casos fortuitos! É
uma verdadeira epidemia! Não sou eu o desatinado. É o mundo!
Se tu lhe mostrares a diferença entre fazer amor e sacanagem, será
muito difícil que ela decida pela sacanagem, mas se ela decidir pelas
pegadas ou ficadas tem que fazê-lo com segurança contra gravidez e AIDS.
Já lhe basta o castigo que receberá da vida pela curiosidade precoce,
dificultando-lhe encontrar um homem para amar. Saber tudo sobre o amor e
o sexo, de uma fonte confiável, irá preveni-la de qualquer decisão que ela
venha a tomar, além de capacitá-la a procurar pela ternura e pelo amor nas
cantadas que receber e nos namoradinhos que tiver.
Convidadas por um garoto, as meninas curiosas e desinformadas
podem, sim, ir para trás da moita tentar aprender o que ignoram. E as mais
curiosas e assanhadinhas podem elas mesmas convidar o garoto... E não
tentes proibi-la, porque ela irá mais depressa e mais assanhada para trás da
moita tentar descobrir por que a proíbes... Queiras ou não, proíbas ou não,
a decisão de transar ou não transar será dela.
Vocês têm um pacto de amizade e ela tem plena confiança em ti
porque tu lhe tens transmitido o teu saber. Ela é sabida em conhecimentos
gerais, envolvimento com a vida e seus castigos e até humanidades e sabe

81
que te deve isso. O crucial para ela agora é aprender sobre sexualidade, e
quem mais senão tu para ensinar-lhe? A escola? Conta outra! Como
amiguinhas, podes esquecer os constrangimentos de mãe e estarem
totalmente livres para falar de qualquer assunto por mais constrangedor ou
indecente que te pareça. Se lhe deres todas as informações e deixares ao
seu arbítrio, ela sentirá a responsabilidade de escolher seus próprios
caminhos como sempre fez e não decidirá levianamente. É muito melhor
que faça sua escolha com pleno conhecimento e prevenida do que pela
curiosidade de descobrir o que ignora ou induzida por garotos safados.
Tu lhe prometeste novas instruções: ela deve estar aflita por elas.
Nunca deixes que ela perca essa confiança essencial que ela tem em ti.
Conhecendo todas as consequências boas e más, ela poderá escolher com
segurança o que achar melhor para ela. Uma menina ensina-se, não se
proíbe nem se mantém na ignorância ou ela vai aprender com a molecada...
fazendo...

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Capítulo XII – A SEXUALIDADE DE KARINA

Aline adorava ir com a filha ao Shopping fazer compras ou ao


cinema e passavam uma horinha na praça de alimentação tomando lanche e
filosofando sobre a vida. Agora tinha o melhor motivo do mundo: a
formação sexual de Karina. Sorriu-lhe:
─ Papai me encarregou de deixar-te especialista em amor, paixão e
sexo e também de ensinar-te a namorar e escolher e cativar o amor da tua
vida que te deslumbre de amor e paixão, sem comprometeres tua dignidade.
─ Amor e paixão não são a mesma coisa?
─ Não. Eles se confundem. Sintetizando, podemos definir o amor
como o prazer do espírito, do cérebro, e a paixão é o gozo do corpo, da
carne. A confusão ocorre porque o gozo da carne relaxa o corpo e, por isso,
agrada ao espírito. A felicidade suprema é quando eles se completam, mas
podem existir isoladamente, especialmente a paixão comum chamada
indevidamente de “amor livre”: ela é “sexo livre”, pegada. Vou-te ensinar
também os mistérios do amor: por que as mulheres não gozam ou têm gozo
pífio julgando-se frígidas; como gozar sempre com gozo arrebatador; as
transas especiais que descobrimos e dão o gozo extremo geralmente só
suportável com palavrões. Tu não terás “xoxota”, porém uma vagina
empolgante que deslumbrará a ti e ao teu homem.
Quando terminarmos, serás doutora em homem e mulher, e o sexo, o
amor, a paixão e o prazer não terão mistérios para ti. Tu serás a primeira a
conhecer nossa tese do amor, que aprofundamos para que fosse o teu guia
no desenvolvimento da tua sexualidade e na busca do amor, além de outros
temas importantes para estares sempre de bem com a vida.
Falaremos de sexo e como torná-lo empolgante, mas vou entender
que a tua busca será por amor, por um Homem capaz de ser o guia e a luz da
tua vida e tu dele. Por isso começarei resumindo o que é o amor carnal
(conjugal, passional). Tu já sabes que o amor maternal, paternal, filial,
fraternal e ao próximo são a sublimação da ternura e da amizade, uma
interação de ternura, afeto, encantamento do espírito. Sem eles o amor é
apenas um faz de conta, um simples “eu te amo”, ou seja, é convencional e

83
até pode estar mais para o ódio, como veremos, ou tu cuidas que todos os
filhos amam de fato os pais como tu?
O amor carnal está sempre associado à paixão. É o amor de paixão.
É a sublimação da ternura como no amor em geral. Ele é encantamento e
interação espiritual com o ser amado. Logo, o amor carnal (não confundir
com paixão que é essencialmente carnal) é também espiritual. Dá prazer ao
cérebro, ao espírito, à alma.
A paixão (em que pode ou não haver amor) é o gozo do corpo e o
complemento do amor, quando ele existe, e pode chegar ao arrebatamento
do gozo extremo quando os parceiros se amam ou, pelo menos, têm os
procedimentos adequados. Constitui-se de cópula (coito) e orgasmo, ou
seja: penetração, mexe-mexe e gozo e não deve ser confundida com amor.
Paixão é o prazer carnal, o prazer físico, o prazer animal, e um mero
componente do amor carnal, embora muito importante.
No amor carnal há, portanto, dois componentes distintos: o amor,
que é espiritual e produz os hormônios do prazer; e a paixão, que é desejo,
excitação, volúpia, tesão, gozo físico e complementa o amor carnal. Juntos
e se a paixão for selvagem levam ao êxtase do gozo arrebatador ou extremo.
Karina estava confusa:
─ Então estar apaixonado não significa estar amando?
─ Não sempre. Paixão é especificamente desejo carnal: é pênis
ereto e vagina excitada, ou seja, estar apaixonado significa desejar
sexualmente alguém. É óbvio que, se um homem e uma mulher resolvem
transar, eles se desejam sexualmente, sentem paixão um pelo outro, o que
não impede de eles também estarem se amando ou virem a se amar. Se um
casal decide fazer sexo ocasional e forem ambos empolgantes, fatalmente se
amarão de paixão. Além da paixão, serão tomados pelo amor. Havendo
desejo, haverá paixão e, se ela for selvagem com genitais empolgantes, o
amor é inescapável. O amor carnal transcendental é raro e só se chega a ele
de fato com paixão selvagem, mas apaixonar-se é comum. Na verdade, até o
estuprador se apaixona pela sua vítima, e tão intensamente que ele chega ao
crime, do contrário nem ligaria para ela. Mesmo porque sem paixão (pênis
ereto) não há cópula. Quando muito haverá o que chamam de “broxada”.
Quem ama está sempre apaixonado porque o cérebro amante jamais
deixa de produzir os hormônios do prazer e cria um forte elo amoroso com
o ser amado, porém o apaixonado raramente está amando, porque,
geralmente, ele quer apenas uma pegada ou uma ficada, não sendo
importante o amor... A mulher de pegada (sexo livre) pode apaixonar-se
intensamente se a transa for boa e até ficar doente de amor se a transa for
muito boa. Não há mulher que não se entregue completamente a um pênis

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empolgante. Entretanto o cérebro se deixa enganar com facilidade porque
tem sempre a expectativa do amor, mas quando ele se decepciona, porque
entende que não há amor, deixa de produzir os hormônios do prazer e tudo
esfria e casamentos acabam... O teu cérebro também tem vida própria e
pensa e até toma decisões à tua revelia. Produz até sonhos e pesadelos! É
ele que decide se produz ou não os hormônios do prazer, ao empolgar-se de
amor.
Karina ainda tinha uma pergunta atazanando-a:
─ E o coração? Ele não é a fonte do amor?
─ É o que geralmente se pensa porque se confunde amor com paixão
como se eles fossem a mesma coisa. O coração é servo do cérebro e lhe
obedece bombeando sangue em grande quantidade para o próprio cérebro,
quando fascinado de amor, e para o corpo, conforme ordens que recebe do
cérebro. Ao empolgar-se na expectativa do amor, o cérebro produz os
hormônios do prazer: dopamina que causa euforia; adrenalina, responsável
pela excitação; endorfina que provoca sensação de felicidade; e aumenta a
testosterona, responsável pelo desejo sexual.
Esses hormônios neurotransmissores aceleram o coração, fazendo-o
bombear muito sangue, inclusive para o pênis, pela fricção, deixando-o
ereto, e inundando o corpo de desejo e volúpia. Isso é a paixão. É por isso
que o coração acelera e bate forte quando o teu cérebro se empolga por um
homem e ficas fascinada, sem conseguires tirá-lo da cabeça.
O cérebro é o único órgão inteligente e comanda toda a nossa atividade
física, intelectual e emocional. Não moves um dedinho ou não dizes um “oi”
sem o seu comando. A pessoa morre de fato quando o cérebro morre, ainda
que o coração continue batendo. Toda empolgação é do cérebro: é ele que
se emociona e faz o coração bater forte.
O coração não pensa e, portanto, não pode comandar nada, mas tem
papel fundamental no sexo ao bater forte para irrigar todo o corpo
abundantemente, e as pessoas acham que ele é o responsável pelo amor –
riu – e tu também podes continuar achando porque ele é lindo e uma bela
metáfora. Só não percas a cabeça quando te empolgares com ele batendo
forte e descompassado. É o cérebro fazendo-o trabalhar em prol do amor,
mas para chegares ao arrebatamento do gozo, numa união transcendental,
precisas ter certeza de seres correspondida, de o homem te agradar, terna e
culturalmente, e de ter pênis empolgante.
Para que haja o amor verdadeiro que transcenda a vida é necessário
um casal que se ame de verdade. E se ele te agradar intelectual e
sexualmente, podes conquistá-lo para sempre com vagina empolgante, mas
ele também pode cativar-te para toda a vida se tiver pênis empolgante.

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A paixão pode até empolgar sem amor, mas será efêmera e
dificilmente durará mais de um ano (ou apenas uma noite) porque o cérebro
se desilude da falta de amor e deixa de produzir os hormônios do prazer.
Porém se o amor existir de verdade, ele sempre estimulará a paixão. O
arrebatamento da paixão ocorre quando amor e paixão se complementam,
porque a paixão depende dos hormônios do prazer e ela só os terá se amar
ou iludir o cérebro de que ela é amor. Como, ao contrário da paixão, o
amor verdadeiro não morre jamais, a não ser com o próprio corpo, ele vai
produzir sempre esses hormônios para te inundar de desejos, ou seja, de
paixão que alimentada pelo amor nunca morrerá.
─ E por que relacionamentos acabam?
─ Acabam quando não há amor de fato em ambos os parceiros ou a
paixão não é arrebatadora. Queres estarrecer-te? As pessoas, na sua
maioria, se apaixonam (têm atração sexual), mas não amam, embora elas
julguem que amam. Por isso estão sempre querendo “juras de amor”. Se
precisas de juras é porque não és amada. Quando fores amada tu terás
certeza. Até os animais e as aves têm. O teu papagaio está sempre feliz
junto de ti e adora quando brincas com ele, mas se o teu primo chega perto
ele bica-o. Paixão também não precisa de “juras”. Não há nada mais
supérfluo ou mentiroso. O amor se impõe e pênis ereto ou vagina excitada
são provas de paixão. Se, apesar do adiantado da hora, o teu namorado
busca os teus beijos, o teu aconchego, a tua empolgação, ele te ama, porém
se ele olha para o relógio... Retém-no para veres...
O cérebro, quando passionalmente empolgado (amor de paixão),
tem sempre a expectativa do amor, produzindo os hormônios do prazer, e
suporta a sua falta por cerca de um ano, quando se desestimula e escasseia
a produção desses hormônios e sem eles não há desejo que baste para
manter a relação. A paixão esfria porque não há amor de paixão, mas
apenas sexo em que a mulher geralmente nem chega ao orgasmo, e se há
ranhetices, ironias, desaforos, desamor...
Se sentires amor (ternura, apego) pelo teu homem (paixão não
basta), o teu cérebro produzirá sempre os hormônios do prazer em
abundância e se mantiveres o cérebro do teu homem deslumbrado de amor
ele te retribuirá com fartura de hormônios do prazer e, se a paixão for
selvagem (pênis e vagina empolgantes), tua união será eterna porque haverá
sempre o gozo arrebatador. E então é só ajustarem os ritmos (mais
selvagem ou menos selvagem), entregarem-se ao prazer e gozarem... Ao
contrário da paixão que é envergonhada: a mulher chega a esconder que não
goza ou finge gozar; o amor de paixão selvagem é liberdade e empolgação
para falar de desejos e preferências, se amarem e se comerem com prazeres

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escaldantes e, em vez de frustração por não gozares, tu podes chorar de
felicidade com o gozo extremo.

Resumindo, no sexo há quatro relações possíveis:


1. Paixão selvagem mais amor. Transcende a vida.
2. Paixão comum mais amor. É efêmera e sujeita a traições porque a
paixão não empolga.
3. Paixão selvagem sem amor. Tende a perpetuar-se em amor se ele
se impuser.
4. Paixão comum sem amor. É extremamente efêmera: pegada,
ficada. Dura uma noite ou no máximo um ano, porque não empolga.

─ Por que o amor dura para sempre e a paixão nem sempre?


─ O amor se manifesta em múltiplas e ilimitadas formas: pode ser
afeto, carinho, afagos, sorrisos, atenção, palavras ou declarações de amor,
amassos, apertões, lambidas, sugadas, mordidas, beijos, aconchego, as
preliminares, o arrebatamento da paixão quando originário do amor ou até
um simples oi, tudo o que der prazer... Vês que não são juras?
É sempre surpresa. Tu nunca sabes o que, como, quando e onde vai
acontecer. É fruto da ternura, do apego, do aconchego, das fantasias, da
imaginação, da invenção, do benquerer, de tapinhas na bundinha e até de
taponas. É... Tapinhas também podem ser amor... e eu me desmancho toda
com taponas... Se teu pai me brinda a bundinha com uma tapona ardidinha...
Meu Deus! Tem de me comer! Ao seres surpreendida por um tapinha na
bundinha, quando desejas amor, o teu coração começa a bater forte
inundando-te de desejos. O amor não cria rotinas, mas expectativas, desejos
e excitação: paixão. E se ela é bem selvagem, gera prazeres e gozo
arrebatador e, com as transas especiais, chegarás ao gozo extremo. E é o
fluir dessas expectativas e do gozo extremo que o fazem crescer sempre e
transcender a própria vida.
─ E a paixão?
─ Paixão é desejo, é excitação, é atração carnal, é empolgação
sexual. Porém sem amor é pegada, sexo livre, em que o cérebro se deixa
levar na expectativa do amor. Resume-se à cópula: penetração, mexe-mexe
e orgasmo (gozo). E isso quando chegas ao orgasmo. Tu podes prever a
penetração e cada estocada e, com a prática, até o orgasmo. A única
surpresa é quando ele não acontece, o que também pode virar rotina. Mas
existindo amor, ainda que ilusório, e procedimentos adequados eles sempre
reacenderão a paixão selvagem.
─ Por que tem de haver procedimentos adequados? O amor não

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basta?
─ O que te leva a procurares um parceiro para compartilhar a vida
ou brincadeirinhas íntimas é o sexo. E o sexo é paixão. Paixão é tesão,
excitação, volúpia, e, para o homem, é essencialmente pênis ereto. Daí vez
que no sexo, com amor ou não, a paixão do homem (pênis ereto) é crucial e,
sem ela, a cópula é impossível. A mulher pode fingir ou, simplesmente abrir
as pernas e deixar que a transem, como as prostitutas, mas é impossível
fingir pênis ereto. Daí a paixão dispensa juras: se há pênis ereto, há paixão.
Entretanto o amor é essencial para a união transcendental, mas ela só se
eterniza se a paixão for selvagem, como veremos, porque o que torna a
união eterna é amor com gozo arrebatador. Se um casal se ama muito
intensamente, mas a paixão não empolga, a união será efêmera e tumultuada.
A paixão comum não se perpetua porque não satisfaz a mulher que,
mesmo amada, não tem o gozo arrebatador e, geralmente, nem chega a
gozar. Porém se a paixão for realmente selvagem a ponto de iludir o
cérebro de que ela é amor e com vagina empolgante, se associada ao que
teu pai chama de “Tesões Grandões”, podes chegar aos extremos do gozo só
suportável com gritos e palavrões e eternizares a união que é impossível
que não se transforme em amor.
A paixão selvagem manterá o cérebro crente de que ela é amor,
embora possa não ser, mas se ambos os parceiros são empolgantes e têm
afinidades culturais, por que não se amarem? A mulher é um paradoxo.
Precisa de amor terno (ainda que ilusório) e paixão selvagem para viver em
êxtase e apegada ao seu homem, sem pensar em traição. Tu também vais
aprender tudo sobre a traição e suas verdadeiras causas e como evitá-la.
Há adeptas do sexo-livre e até esposas que vivem toda uma vida
sem saber o que é orgasmo. Cuidam que a transa é só penetração e mexe-
mexe ou que são incapazes de gozar (frigidez). A frigidez só existe para
quem vive sem paixão selvagem, não tem uma vagina empolgante ou para
quem tem de fato alguma doença grave dependente de tratamento médico.
O que é importante teres sempre em mente é que a paixão, ato
puramente carnal quando independente do amor, é um bem abundante como
a água e o ar e, geralmente, todos a dão de graça e até pagam para que a
aceitem: teus namorados te forçarão a aceitá-la e terás de estar muito atenta
para não caíres no engodo porque vão jurar que te amam. Os estupradores
impõem à força a sua paixão e até matam. A paixão das prostitutas tem um
preço e amásias interesseiras trocam-na por presentes valiosos, cargos ou
um papel na TV, teatro ou cinema...
Quando selvagem, e principalmente com os Tesões Grandões, e
mesmo sem amor, ela pode arrebatar de gozo extremo amantes ou amásios

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integrados que prezem o gozo do parceiro. Isso porque ela ilude o cérebro
que passa a produzir os hormônios do prazer na expectativa de receber
amor e pode, sim, virar amor de fato. Com paixão selvagem e Tesões
Grandões ou com vagina empolgante é fácil despertá-lo inclusive no
coração do parceiro, por mais que o queiram ignorar. Grandes amores
ocorrem à revelia.
O amor, o ilustre ignorado, é, por isso, um bem escasso, raro como
os diamantes, e é para toda a vida. É tão extraordinário que é inestimável:
não há meios de pagamento que possam compensá-lo, mesmo porque ele só
existirá de fato se houver uma interação de amor com amor. Quando recebes
qualquer ato de amor tu ficas contente e queres retribuir.
Amor é, portanto, todo e qualquer bem que recebes e não podes
atribuir-lhe um preço, se quiseres pagá-lo. Só pode ser retribuído. E, no
amor de paixão selvagem, só depois de iniciada nele com um amor de
homem é que o gozarás plenamente e saberás o que seja o amor de paixão
arrebatadora, realmente selvagem. Existindo de fato, e se a paixão for
deveras selvagem, ele perpetua a paixão que é efêmera e te propiciará a
maior e mais fantástica experiência da tua vida. Recebemos amor quando
damos amor e quanto mais dermos, mais receberemos.
Karina se fascinava:
─ Entendi, mãezinha, amor é a ternura, a amizade, o carinho, a
atenção e a sabedoria que tu me dás e eu não posso atribuir-lhes um preço,
mas não seria feliz nem sábia sem eles.
Aquela mãezinha afável sorriu:
─ É... E que tu me retribuis em dobro e eu tenho de retribuir-te
fazendo-te sábia e feliz. Qualquer ato de amor: uma palavra amiga, um
afago, um beijo, um carinho é um bálsamo para o coração, um bem
inestimável, mas o bem maior que nos alegrará a vida toda com gozo
extremo (o cônjuge ou namorado eterno) temos de conquistar e, para
conquistá-lo, temos de merecê-lo. Temos de ter amor terno e paixão
empolgante, deveras selvagem.
O mais importante é que saibas que, por um defeito de educação, a
maioria das pessoas é incapaz de amar. Teu pai e eu discutimos muito essa
questão e chegamos a conclusões que nos estarreceram.
Após conhecermos o êxtase avassalador do amor que nos dávamos
sem parcimônia e que nos mergulhava na mais tórrida das paixões,
queríamos descobrir por que nos amávamos tanto. Queríamos conhecer-nos
a nós mesmos. Era essa a questão fundamental. À medida que eu me
libertava do pudor, mais eu me apegava ao teu pai e passei a viver o amor
em estado puro, ou seja, sem vergonha de amar. E ia descobrindo o meu

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corpo e os prazeres que ele podia me dar e dar ao homem da minha vida. E
com um amor tão grande que nos integrava corpos e mentes, para que
pudor?
Dando-me de corpo e alma, eu vivenciei os componentes físicos do
amor, ou melhor, da paixão: os órgãos sexuais, os pontos erógenos
excitáveis, os frissons voluptuosos, o gozo arrebatador e o gozo extremo.
Mas nós entendemos que havia também um componente espiritual. Chamem-
lhe psique, espírito ou alma, há um extrato na nossa psique que preside o
amor e a arte de amar. Sim, amar também é uma arte. Ou simplesmente
procriamos e fazemos sexo como os animais ou criamos um elo espiritual e
terno que nos enlaça ao ente amado procurando dar-lhe, de envolta com o
prazer, o melhor de nós mesmos e de nossa criatividade, levando-o aos
extremos do gozo e zelando pela sua felicidade em busca da nossa própria
felicidade.
E isto é não só prazer e gozo extremo, mas também afeto, carinho,
companheirismo, uma verdadeira entrega de coração para coração, uma
comunhão de corpos, corações e mentes, de projetos e objetivos, uma
entrega para todo o sempre. Numa palavra: amor! Quando amas tu não dás,
tu te dás! O ser que tu amas ganha o teu sexo, o teu corpo, o teu coração, o
teu amor, a tua paixão, e se ele também se dá tens a união perfeita que
transcenderá a própria vida. Notas-te a diferença? Amor de paixão é dar-
se. Paixão sem amor é dar (sexo-livre) ou vender-se (quando há interesses
ou prostituição).
A paixão do homem (ereção) é imprescindível para que haja o ato
sexual (cópula) que só dura enquanto o pênis estiver ereto. Portanto se a
ereção for breve, o pênis e a vagina não forem empolgantes e não houver
uma boa preliminar (amor), a mulher não goza, o que não significa que ela
seja frígida. A gradação (comum ou selvagem) tornará a paixão efêmera ou
eterna e se eternizará na medida em que faça crer ao cérebro que ela é
amor. Só a paixão selvagem, e de alguma forma associada ao amor,
transcende a vida.
Passamos a ver o amor como o objetivo supremo do ser humano. Se
amar não é apenas bom, mas também crucial para a plena realização
humana, por que tantas pessoas são incapazes de amar? Por que amar como
nós nos amamos é a exceção em vez da regra? Era esse o nosso grande
enigma. Se o descobríssemos teríamos a chave para desvendar os mistérios
do amor.
Pela manhã, o sol entrava fundo, invadindo a nossa cama e, nus, nós
filosofávamos ao sol, pesquisávamos ou fazíamos amor de bumbum para o
sol sem nenhum pejo, até para testarmos as práticas de nossa tese. Pois é!

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Lendo alguns textos de papai, aquecendo ao sol, deparei com a expressão:
“herança atávica”. Tu sabes, são características que herdamos dos nossos
antepassados remotos. Repeti a expressão e perguntei a papai, morrendo de
medo de dizer uma tolice: “não estaria aí a chave do nosso enigma? A
explicação não estaria em nossos ancestrais”?
Ele pensou por um instante e gritou: “heureca! A capacidade ou
incapacidade de amar pode ser uma herança atávica ou, mais precisamente,
memória genética. Nós intuímos o amor, e também a paixão e até o desamor,
por memória genética. Vamos ter de mergulhar na História para descobri-
la”. Ai, minha doce amiguinha, foi uma felicidade tão grande! E se tu
soubesses o que eu ganhei pelo achado...
Karina riu:
─ Nus ao sol e com a alegria do achado eu posso imaginar: uma
fartada de amor de envolta com paixão selvagem.
─ É. Antes de mergulhar na História, ele mergulhou em mim... e o
melhor: com toda a selvageria dos “Tesões Grandões” e toda estimulada
por taponas! Meu Deus! O que eu trepidei gritando palavrões...
A nossa tese sobre a desmistificação do amor é necessária para que
tu tenhas uma vida digna e feliz e saibas como te entregares aos namorados
com dignidade e sem quebrar a carinha mesmo quando atingires o erotismo
máximo da paixão e, também, muito importante para o desenvolvimento da
tua sexualidade e para controlares os toques e intromissões nas tuas partes
íntimas sem frustrações. Fazer amor é muito mais do que abrir as pernas e,
se tiveres um homem empolgante que prolongue o ato sexual com
paradinhas, vais continuar até que ele acabe, para, eventualmente, chegares
a orgasmos múltiplos.

Depois da aula de papai sobre a menarca e fecundação e do que já


deves ter ouvido de tolices, tu já sabes como funciona o sexo e podemos
falar como amiguinhas adultas, sem restrições, sobre as práticas do amor
carnal com toques e intromissões selvagens nas nossas partes íntimas e dos
Tesões Grandões que nos dão gozo extremo, até nas pegadas.

Também apreenderás política e serás cidadã digna, com voto digno.


Saberás como usar o voto para eliminar da política, pelo menos, a
corrupção grossa como petrolões e mensalões. Descobrimos como fazer o
impeachment preventivo e tornar o mundo melhor, muito melhor, com muito
mais dinheiro para os bens essenciais da vida e até para assistência social
digna sem mentiras e engodos.

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Capítulo XIII – SUBMISSÃO AO AMOR

Tu já conheces o básico da nossa tese e creio ser melhor passarmos


à prática. Assim, se tu quiseres namorar ou mesmo ficar ou pegar,
conhecerás os procedimentos seguros. Depois voltaremos à teoria e à
evolução prática.
Nossa tese tem diferenças profundas em relação a tudo o que se
sabe sobre sexualidade. Por isso usaremos algumas palavras com semântica
algo diferente dos dicionários.
Empregarei as palavras “homem” e “macho”, “mulher” e “fêmea”.
Há uma diferença sutil como entre “amor” e “paixão”. Os termos “homem”
e “mulher” terão sentido antropológico: o ser inteligente, culto, terno,
sensível, dedicado ao amor. E “macho” e “fêmea” significarão o nosso lado
animal, passional: os agentes da paixão tórrida, do amor conjugal ou da
paixão vulgar.
“Amante” eu empregarei sempre no sentido nobre da palavra:
aquele que ama. “Amásio” será o da “pegada”, “ficada” ou aquele com
quem se trai.
A expressão “fazer amor” caracterizará as transas dignas
consubstanciadas no amor: a união de dois corpos e mentes pelo amor. Para
as transas indignas, indecentes, usaremos um palavrão: “foda”, para se
contrapor a amor. Aliás, um palavrão é tudo o que elas merecem, porque
uma mulher entregar-se a elas é foder-se, é entregar-se aos castigos da vida.
“Transa” significará qualquer “relação sexual” digna ou indigna. E
quando estiveres “com a cachorra” ou “cachorrona” significará que estás
desesperada pelo macho, com a libido à flor da pele, o que é muito natural,
e não mulher vil e desavergonhada.
É claro que não vais sair por aí dizendo palavrões, mas eles são
necessários em certos contextos sob pena de pedantismo e para separar bem
as coisas, ou seja, “dar nome aos bois”, como se diz. Não há escapatória
desde que transformaram o sexo em pecado, imundície, e as palavras que
lhe são atribuídas, em palavrões.
Entre amiguinhas verdadeiras não há restrições e podes dizer

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palavrões, porém de forma culta para caracterizares um personagem ou
seres fiel ao seu modo de falar, ou excepcionalmente, como uma interjeição,
mas não com vulgaridade como se fosse o teu modo de te expressares.
Entretanto palavrões não ficam bem na boca de uma menina educada e
deves te restringir com as pessoas em geral e com papai e mamãe, salvo na
condição de amiguinhos que foi o único jeito que papai encontrou para te
falarmos de sexo sem constrangimento, mas vamos procurar evitá-los
sempre que possível. Começaremos comentando o que tu sabes.
─ O que eu sei acho que são vulgaridades. Tenho uma colega,
Clarinha, com quem me dou bem e falamos abertamente de temas sexuais.
Ela é escolada e diz palavrões sem ligar para contextos.
Há dois dias, conversávamos quando passou por nós um gato que
sacudiu até minhas estruturas. Ela despediu-se às pressas, rindo: “Vou pegar
esse pinto”! Com as coxas escapando de um shortinho que mal cobria o rés
da bunda, desabotoou dois botões da blusa e passou por ele com sorriso
safado. Logo seguiam para a casa abandonada...
Aline riu:
─ Ela acrescentou mais um pinto à sua coleção, mas eu vi o
brilho dos teus olhos: se não fosses bem instruída tu irias disputar o
gato com ela.
─ Podes apostar!
Karina já percebera, é claro, que não estava em bom caminho e
disse-lhe embevecida do amor que lhe tem:
─ Se eu não tivesse minha amiguinha maravilhosa e sábia, ela seria
meu modelo e mestra. Eu me fascinava em suas roupas minúsculas. Queria
ser voluptuosa como ela. Lindas, sedutoras e nada avaras de nossos dotes
nós seríamos uma tentação dupla e estaríamos, não disputando gatos, mas
dividindo-os imitando os piores filmes da internet. O ciúme não entra em
coleção de pintos, não é?
─ Tu vês pornografia na internet?
─ Ela instigou-me a ver. Disse que mostrava tudo sobre sexo.
─ Tudo sobre o sexo vulgar: pegada, ficada, sexo promíscuo, sexo
livre, foda... Tudo o que é realmente feio e indecente no sexo. Mas nada
sobre o sexo digno: amar, fazer amor... transar com dignidade. A
pornografia ensina tudo de ruim, mas nada de bom. Ela só te prejudica
antecipando a tua menarca e te instigando à prática do sexo indigno.
─ Clarinha me contou que sua mãe a proibiu de namorar, mas vara a
cerca e faz incursões suspeitas na casa do vizinho. Disse: “Eu também não
me contentarei com um marido. É tão gostoso e fácil pegar gatos: basta
abrir botões e sorrisos. Há dias peguei um homem. Eu estava com os

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desejos, de botões abertos, louca para trepar... Acho que estava fértil,
porque tive a primeira menstruação seis dias depois. Sorrindo-me, ele me
deu uma cantada envolvente prometendo amor e dizendo que eu era uma
menina adorável, linda e inspiradora de desejos profundos... Parecia
embevecido e caído de amores por mim”.
Era um homem com alguns cabelos brancos muito charmosos, mas
por que não? Caraca, pensei, ‘procurando desejos profundos deve ser
experiente e foder gostoso. Excitou-me com o esfregar de dedos tirando-me
a roupa, apertou-me os seios, a bunda, as coxas. Chupou-me, deixando-me
toda molhadinha e excitada e, com beijos, meteu-se dentro de mim...
Ele sabia o que fazer com uma garota curiosa e empolgada por
aquela pegação dominante, dei-lhe tudo, completamente vencida por aquela
força possante que me envolvia... Foi bom porque tinha um pinto massivo e
pareceu tarado por mim: fodeu-me como um bruto dando-me excitação
incrível e deixando-me toda entregue. Gozei como nunca. Se eu o
reencontrar vou querer repeteco.
Mas ele sumiu, não me telefonou nem me procurou – riu – estou com
saudades do velhote. É muito melhor do que os meninos que só sabem foder
devagarinho. Estou pensando até se não seria bom ser atriz pornô ou mesmo
puta. Começar a transa excitada e molhadinha é muito melhor. E com força!
Caraca”!
Atentou em mim: “Mas caraca! Você também, se levantar dez
centímetros na barra da saia e abrir botões e sorrisos sacanas, terá os
homens a seus pés, ou melhor – riu – te comendo”.
Aline riu. Ela decididamente se recusava a dar lições de moral, mas
sim de vida digna. A realidade da vida é o que ela ensinava:
─ Clarinha é filha da indignidade e até da imoralidade. Teu pai diz
que “quando há buracos na cerca as cadelas engravidam”. Eu cuido
diuturnamente para que nossa cerca permaneça intacta, isolando o nosso
amor de qualquer discórdia ou sedução estranha e apertando o nó cego que
nos une.
Ela está deslumbrada com a perspectiva da adolescência e das
transas, mas não sabe que profissionais não podem recusar clientes e
desconhece os horrores de ter de fazer sexo com quem nos dá vontade de
vomitar, mas ainda tem muito tempo para quebrar a cara e clarear as ideias.
Não é uma boa companhia para ti. Põe tua dignidade a perder e muito!
Praticamente como se fosses igual a ela.
Porém tudo isso que narraste é o que papai chama de sexo
burocrático. A mulher, ou garota, recebe a fatura da libido (os desejos) e
fica louquinha para pagá-la. Então recorre ao seu banco de pintos e, ao

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primeiro que encontra, fatura nele! Não há, porém, uma interação de
corações e mentes e nem mesmo de corpos. A interação é pênis/vagina e
sem repeteco: eles fodem e se escafedem.
A vagina entrega a “fatura”, o pênis “assina o recibo” e pronto! Mas
como o prazer não empolga, ela recebe outra fatura, mais outra e outra...
Transforma-se numa burocrata do sexo, pagando faturas e mais faturas. É
comum mulheres e garotas perderem tempo e dignidade com dezenas e até
centenas de homens ou meninos em busca de prazeres arrebatadores.
Também não é nada raro que dois burocratas do sexo, querendo
assentar a cabeça, façam um casamento burocrático com direitos e
obrigações que pode até ser duradouro, mas quem tem o coração cheio de
amor puro para dar, como nós, só encontra a paz no amor verdadeiro de
cambulhada com paixão selvagem.
─ Por que a paixão tem que ser selvagem?
─ Porque quanto mais intensa for a fricção dos órgãos sexuais,
maior será o prazer. Se a paixão for morna, a mulher não atinge o orgasmo,
ou pelo menos um orgasmo empolgante, e intui que lhe falta algo, mas não
sabe bem o que é. Como os homens também não sabem a mulher enlouquece
atrás de pintos como a Clarinha. Guarda no coração: o homem tem de ser
terno, mas o pênis há de ser bruto, quanto mais violento, mais fascinante.
Essa carinha assustada... O pênis não fere a mimosinha por mais violento
que seja, salvo se for maior do que ela. Se não excedê-la, toda sua
violência será bem vinda porque nos dá a fricção bruta. Foi alguma
violência do “velhote” que fascinou Clarinha, ele submeteu-a à sua força
passional.
O homem que ela “pegou” era um pedófilo e devia ser preso e
processado. De qualquer forma estuprou-a e por isso sumiu. Geralmente
eles têm muita lábia e se a menina for tola... Com certeza tinha alguma
selvageria no fazer sexo e, com algumas preliminares, deixou Clarinha
empolgada pelo repeteco. Ela percebeu a diferença porque ainda estava
aprendendo. Não estava avassalada pela pegação e sacanagem, mas,
futuramente, quando o sexo reclamar aquela pegação brava que ela não
encontra, vai anelar por repetições daquela transada. O subconsciente nunca
esquece sexo diferenciado. Uma transa com paixão mais ou menos
selvagem e preliminares é muito diferente de simples cópulas sem
empolgação.
Karina confessou:
─ A afirmação de Clarinha de que eu era sedutora me deixou feliz e
empolgada: Em casa corri me olhar no espelho, nua e de cachorrinha, e
imaginei aquele gato que queria me pegar me transando. Imaginei até ele

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mais aquele gato da Clarinha me ensanduichando como nos filmes. Caraca
mesmo! Eu dava de dez naquelas atrizes. Fascinada, ri: “Clarinha que se
cuide”!
Entusiasmada com minha voluptuosidade e capacidade de seduzir,
fui pedir-te o soutien. Quando me vi no espelho com ele eu me senti
poderosa: eu tenho soutien! Eu já posso! Vou abrir botões e sorrisos
safados! Vou pegar gatos!
Mas pegadas são toques e intromissões íntimos e desafiar os
castigos da vida com tanta sabedoria ao pé de mim, nem pensar! Por isso ia
te perguntar sobre namoro e pegadas quando papai me chamou para falar de
menarca e fecundação e pôs por terra o meu castelo de cartas. Sem a tua
sabedoria e a de papai eu estaria, sim, abrindo botões e sorrisos lascivos
para seduzir machos e “assombrarmos” a casa abandonada.
Nos filmes tudo me parecia muito natural e prazeroso. Os homens
encaixavam-se tão bem nas mulheres e eu fiquei ansiosa por um encaixe
daqueles, mesmo dominada pela potência do macho. Mais a empolgação de
Clarinha por pegadas... Eu até me sentia vocacionada para atriz
pornográfica ou para prostituta: tenho mais charme e volúpia do que
aquelas gatas da internet e meus gemidos, quando me masturbo, são mais
intensos e naturais. – Riu – Eu já sei me masturbar.
Mas por que sinto tanta vocação para ser atriz pornô ou
protagonizar uma prostituta? Eu poderia entrar direto em cena sem precisar
de qualquer estudo, orientação ou mesmo diretor. E nem me pareceria um
trabalho, mas diversão. Cheguei mesmo a sentir uma ponta de inveja
daquelas atrizes. Sempre que o ator era um gato eu me imaginava no lugar
delas e chegava ao gozo me masturbando. Era muito bom e eu ansiava fazer
envolta por um macho possante.
─ O sexo é mesmo muito natural. Parece que já nascemos sabendo.
Creio que o intuímos por memória genética. Mas que diferença há entre uma
burocrata do sexo e uma meretriz? Poderíamos dizer que uma faz por
paixão ou por obrigação para com o marido ou o “pegador” e a outra, por
dinheiro. Aí está: o “por dinheiro” faz toda a diferença. É o fio tênue que
diferencia uma da outra, mesmo porque ambas são capazes de fazer sexo do
mesmo jeitinho e intuem que é o que melhor sabem fazer, embora a maioria
não vá além de abrir as pernas como as gatas que vês na internet. Mas as
burocratas também exigem alguma espécie de pagamento: um jantar, um
buquê, uma prenda, uma joia...
Quando relatou os ensaios da peça “Vestido de Noiva”, no Correio
da Manhã, em 1967, Nelson Rodrigues disse que as atrizes disputaram o
papel de meretriz e, conseguindo-o, interpretavam-no com “naturalidade,

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graça, movimento exato e inflexão certa” como se tivessem vocação natural
para o papel. Seríamos todas vocacionadas para “a mais antiga das
profissões”?
Para Nelson Rodrigues não se tratava da mais antiga profissão, mas
da nossa vocação mais antiga que seria a de desejar ser objeto do homem
que nos possui, de estarmos submetidas aos nossos “donos” e por isso
incapazes de controlar nosso ímpeto de infidelidade. Seríamos infiéis por
natureza. Todavia em “Perdoa-me por me traíres” o homem é o culpado da
traição. A mulher é vítima e não culpada. Nelson foi contraditório. Estaria
se retratando?
Há deveras um fundo de verdade e uma contradição. A mulher
atinge o prazer máximo se submetida ao macho, sob a pressão do seu corpo
e da força bruta do seu pênis. Não há fêmea que resista a um macho desses
e, se ela o pressentir, vai ficar fascinada por ele. Trair será uma questão de
oportunidade, porém fêmea alguma suporta um homem mandão, metido a
“dono” e com pênis devagarinho. Se o tolerar é por falta de alternativa.
Entretanto se o marido perdoa a esposa infiel e ainda lhe pede
perdão por ela o trair é porque a ama tanto que não consegue abandoná-la e
ela o trai porque ele tem pênis devagarinho.
O marido é de fato o culpado pela traição da mulher, porém não é
por não amá-la e, sim, por não satisfazê-la sexualmente, por não submetê-la
com pressão e paixão bruta que não é a vocação da mulher, mas a sua
natureza. Certamente oriunda de memória genética, a grande necessidade
sexual da mulher, simplesmente avassaladora e irreprimível, é submeter-se
a um macho que a transe com selvageria, dando-lhe o gozo arrebatador. Se
ela não o tem e vislumbrar a oportunidade, é mais do que provável que ela
trairá.
Muito papel e tinta já se gastaram tentando entender a mulher que é
a eterna incompreendida. Nem Freud a compreendeu e nem ela própria se
compreende. Ela sabe que lhe falta o melhor da vida, mas não sabe bem o
que é e tenta descobrir traindo. Quem quiser entender sua mulher tem de
submetê-la sob pressão e pênis bruto. É submeter mesmo! Não ao seu “dono
mandão”, mas ao homem da sua vida que lhe dá amor selvagem e gozo
tórrido. Se também lhe der amor e preliminares, a terá dócil, meiga,
submissa, encantadora e fiel por toda a vida. Só não se confunda a
submissão imperiosa à pressão e à paixão bruta com mandonismo execrável
como fez Nelson Rodrigues e é muito comum. A submissão é ao Amor
selvagem, não ao mandonismo.
Por milênios, o sexo foi visto como tabu e ainda o é: as religiões
mudaram, porém não o deixam libertar-se. E, à mulher, era proibido o gozo,

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podendo mesmo ser queimada viva na época da Inquisição.
Daí é natural que a suprema aspiração de toda mulher é, por
atavismo, ser arrebatada por uma transa épica, que a deixe arriada de gozo,
como nossas ancestrais pré-bíblia que não tinham nenhuma restrição, nem
mesmo as do “pecado original” que é invenção bíblica de quando o homem
já manipulava os metais. Porém como os meninos e a maioria dos homens
fazem sexo sem graça, sem nenhuma selvageria, como manda a tradição
religiosa, as mulheres intuem que só na representação de uma prostituta o
conseguiriam, ainda que apenas uma representação.
Obviamente o teu inconsciente buscava esse arrebatamento gozoso
intuído – por memória genética e registrado no teu DNA – de alguma
antepassada remota ou mesmo de mim e que alcanças ao masturbar-te.
Como eu, tu foste feita para o amor. O arrebatamento de gozo numa relação
amorosa existe e está ao nosso alcance, mas como fruto do amor de
cambulhada com a paixão tórrida e livre de tabus. E isso não encontras no
sexo livre e muito menos na prostituição, pelo menos enquanto os homens
não reaprenderem a amar. Mas, para isso, terão de regredir à pré-história!
Abençoada seria essa regressão! O gozo arrebatador é problema crucial na
sexualidade feminina, tanto mais porque ignorado. Será nosso tema
principal.
A memória genética nem sempre é bastante explícita e
compreensível, especialmente em se tratando de sentimentos e sensações
como é o caso do arrebatamento de gozo. Daí a dificuldade em vivenciá-lo
com clareza. Temos a sensação, mas indefinida como uma carência.
Intuímos que temos o que buscar, mas não sabemos exatamente o quê. Ainda
que transemos com mil homens, se não tivermos “O Macho”, teremos
sempre o sentimento de frustração, a sensação de que nos falta o melhor da
vida. Por isso é comum as mulheres transarem com dezenas de homens para
escolher o mais adequado. Daí, se um dia vislumbrarem a possibilidade de
um pênis empolgante, como não trair? Se já traem às cegas... Era o
vislumbramento de um pênis empolgante que te fazia imaginar no lugar da
gata, mas gozavas ao empolgar-te com intromissões algo tórridas.
─ Acertas-te na mosca. Foi ao perceber isso que eu passei a
selecionar filmes que tivessem um gato abrutalhado. Eu só me empolgava
quando o púbis batia com força na bundinha da gata. Então eu me apressava
em imaginar-me no lugar dela manipulando o clitóris e imaginando aquelas
encoxadas fortes para maior realismo. Porém eram cenas raras.
─ Infelizmente também são raras na vida real. Sexo devagarinho é o
que acontece. Eu nunca me senti atraída pela tal “profissão” ou “vocação”.
Se namorados eram tão devagarinho quanto a maioria dos gatos da internet,

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o que esperar de eventuais clientes? Mas deve ser porque procurei pelo
amor tórrido desde sempre (estaria ele na minha memória genética?) e
encontrei aquele arrebatamento que eu ansiava no primeiro beijo do teu pai
e a completa realização no segundo beijo. E, a cada relação amorosa, mais
arrebatamento e, com os Tesões Grandões, eu tinha de gritar palavrões para
suportar a intensidade do gozo.
Com os “Ts Grandões” que me deixam arriada de tanto gozar, ele
tornou-se não o meu “dono”, mas o meu rei e estou sempre pronta para ele
cavalgar-me à vontade.
Submetendo-me à pressão e fricção dos “Ts Grandões” do meu
macho (eu queria tê-lo de todas as formas possíveis, comandando ou
comandada) eu descobri o que o meu inconsciente buscava: o
arrebatamento prazeroso registrado na minha memória genética, originário
de alguma ancestral: talvez a primeira mulher ereta ou sapiens e, por isso,
comum a todas as mulheres, o que fez Nelson Rodrigues vê-lo como
vocação à infidelidade. E com os Ts Grandões cheguei ao gozo extremo que
atinge os limites do suportável.
Ao contrário do que imaginou Nelson Rodrigues, a nossa natureza
pede um macho capaz, não uma macharia inútil. Não somos “vocacionadas”
para nos submeter a todos os homens, mas a um amor de Homem capaz de
nos arrebatar de amor e gozo. Como poderia eu trair o Homem que me
transa à bruta com “Tesões” arrasadores depois de uma fartada de amor?
Odeio decepções!
Com certeza aqueles Ts Grandões se impregnaram no meu gene do
amor e toda a minha descendência, até a consumação dos séculos, inclusive
tu e tuas descendentes, terão essa marca: almejarão por amor tórrido e Ts
Grandões. Esse Homem capaz de arrasar-nos com amor selvagem é tudo o
que buscamos, com adultério ou não e até com uma enfiada de machos
frustrantes, e a nossa submissão é ao amor, à pressão, à paixão, à fricção,
ao arrebatamento de gozo, ao gozo extremo, não ao mandão execrável, não
ao “nosso dono”. Se Ecce Homo é raro, a culpa é dos homens e, portanto,
eles são mesmo culpados de serem traídos, porque mulher alguma jamais
trairia um Homem desses – riu – nem mesmo com o próprio marido se fosse
o caso. E para que trairia? Para ter a bruta decepção das que traem?
Nunca tive qualquer vocação para puta, mas o teu pai, querendo
fazer-me atingir o extremo do gozo e fascinado pelas minhas habilidades,
me instiga a fazer-lhe strip-teases e danças eróticas com total eliminação de
tabus e preconceitos. Nosso amor, de cambulhada com paixão bruta, é
sempre brincado livremente. Chegou a fantasiar-me de sua putinha e
assumiu ser o “gigolô” que puta alguma jamais teve.

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Ele diz que é a representação mais fascinante que já fiz, mas é
também a mais fácil e intuitiva. O amor e o desejo sempre me ensinam o
que fazer e se antecipam à minha ação. Não tenho de criar uma coreografia.
É só deixar a imaginação e a fantasia me levarem, ser eu mesma e ceder aos
meus impulsos e desejos... e, pompoarista, interajo com ele o tempo todo na
maior empolgação. Não sou passiva. Queres uma atriz mais natural e
perfeita?
Eu também poderia ser, sim, uma atriz pornô perfeita ou uma puta
fantástica e sou, para o meu macho, mas em qualquer papel que eu assuma
(Chapeuzinho Vermelho, que é o outro fascínio do teu pai, cowgirl,
aeromoça, nurse, empregadinha, putinha...) eu só faço amor numa comunhão
de corações e mentes e corpos que me levam ao extremo do gozo. Ser a
personagem perfeita para arrasar o meu macho de gozo como ele arrasa a
mim é a suprema realização da minha vida e deve ser para toda mulher
capaz de amar que encontrou o seu amor ou busca encontrá-lo. Nós não
procuramos gozar. Nós amamos e buscamos dar ao parceiro o gozo
máximo. Não temos egoísmos. O nosso objetivo é sempre o gozo do
parceiro. É premiá-lo pelo gozo que nos proporciona e aceitar o desafio:
suportar o gozo daqueles Ts Grandões ainda que com gritos e palavrões ou
pedir menos.
─ E como é a personagem perfeita para o amor?
─ É transar com naturalidade e te entregares ao macho da tua vida,
excitando-o com o máximo de amor, sensualidade, volúpia, lascívia,
deixando-te levar pela imaginação e pela fantasia, interagindo com ele e
retribuindo sem pudor tudo o que ele te dá. É nem pensar em gozar, mas
cuidar de fazer o macho gozar com beijos, afagos, lambidas, sugadas e
apertando tudo o que estiver ao teu alcance, inclusive o pênis com a vagina
empolgante, deixando a tua libido explodir livremente. E se começares com
a dança da boquinha da garrafa no próprio falo, combinada com a do
ventre... Se ele for brincalhão e o macho perfeito, ele vai te fazer chegar ao
arrebatamento almejado, chegando aos Ts Grandões e cambalhotas. E nota
que, amando de verdade, vocês estão livres para falar de amor, paixão e
podes ensiná-lo a chegar ao gozo extremo e cambalhotas. Isso não é sexo, é
festa de amor combinado com paixão bruta, é interação macho e fêmea. Se
deitares na cama, abrires as pernas e ficares inerte como uma natureza
morta, não reclama se “não acontecer nada”.
Isso é o verdadeiro amor de paixão bruta: “fazer amor bruto”. Mas
o que é feito dele? Embora natural, não o intuímos porque ele era tabu e
coisa imunda para os nossos antepassados e só era permitida a cópula para
procriar. O arrebatamento perdeu-se e restaram só vestígios nas mulheres

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mais sensíveis e fogosas. Geralmente, não o herdamos por memória
genética, salvo os que o herdamos dos antigos cristãos e mercadores (como
veremos) ou, moderna e raramente, os que o desenvolvem por efeito da
educação, desenvolvendo o gene do amor. Por isso o que intuímos é mesmo
o sexo com a noção de vergonha e pecado, e a vergonha é tal que a mulher
se restringe a falar de desejos e até esconde que não gozou.
Os atavismos muito antigos chegam-nos defasados e parcialmente
desativados por muitos milhares de anos, tabus, preconceitos e noções de
pecado, de modo que a intuição sexual do gozo arrebatador é indefinida
como alguma coisa que devesse estar acontecendo, mas não acontece. Só
com o meu macho bravio eu a senti ao vivo com toda a intensidade.
E mesmo o simples amor carnal (fazer amor devagar e sem futuro) é
tão ignorado que até a minha aspirante à atriz pornográfica, ansiosa por
gozo, nem se lembrou dele em seus planos de namoro.
Karina ruborizou-se de tanta vergonha. Logo ela que sempre viveu
em meio ao amor, desejar ser atriz pornô! O que não influenciam as más
companhias! Jurou a si mesma afastar-se de Clarinha. Ela gostava de sua
amizade porque eram igualmente belas e não tinham complexos que as
diminuíssem em relação à outra, mas puta... Aline percebeu seu pejo e
desconforto:
─ Estou feliz com teu rubor. Tu reencontraste o teu arbítrio. Voltaste
a considerar os prós e contras. Não pensas mais pela cabeça de Clarinha.
Tu já sabes tudo sobre sexo burocrático, sexo promíscuo, sexo livre,
foda, ou como queiras chamá-lo. Devo confessar que Clarinha é boa mestra.
Já sabes também que para colecionar pintos basta abrir botões e sorrisos
lascivos, o que qualquer fêmea pode fazer. Clarinha perdeu-se na internet
como tu terias te perdido se não tivesses uma fina educação. Mesmo para
mera sacanagem um simples sorriso meigo e encabulado é imbatível, como
verás. Não precisas de roupas desnudantes nem de sorrisos sacanas.
E para cativar o amor? Esse lado do sexo é muito mais complexo,
sutil e difícil. Não se conquista com exibicionismo e lascívia, mas com
recato, sabedoria e sorriso terno, não safado. Depois de cativado para
sempre, sim, podes ser devassa com ele. E podes guardar no coração: o
amor tórrido, bem selvagem, sem pudor, medo ou culpa, é a maior bem-
aventurança da vida de uma mulher. É sem pudor mesmo! Não há porque
sentir vergonha, medo ou culpa de amar. Se tu amas e és amada, a fatalidade
com que o amor te obriga é corações expostos, pernas abertas e paixão
bruta lá dentro. O cérebro intui amor e paixão bruta por memória genética e,
se descobre que pode obtê-los, te põe maluca para consegui-lo.

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Tu vais aprender tudo sobre o amor e a fazer amor, para que,
conhecendo profundamente ambos os lados do sexo, tu possas escolher o
melhor para ti: uma coleção de homens de caracacá ou o melhor deles. É
óbvio que tu podes e deves liberar a fêmea que há em ti, ser voluptuosa e
até devassa, libertar tuas fantasias e deixar que tua mimosinha maluquinha
de desejo se esfregue louca de tesão no homem que escolheres para ser só
teu. Isso é extremamente excitante e digno, porém, se não quiseres quebrar a
cara, só busques o macho depois de cativares o homem digno de ti. Só ele
te dará o retorno que te empolgará. Uma coleção de machões é uma
coleção de frustrações e só não percebe isso quem desconhece o amor e
desconhecer o amor é a ignorância suprema. Tu vais surpreender-te contigo
própria quando conheceres o amor e desejares a completa submissão ao
macho em busca do gozo extremo.
Ao observares uma moeda tu verás que ela tem dois lados: a
“coroa” te mostrará qual é o seu valor real e a “cara” apenas mostra uma
figura histórica. O que sempre procuramos mostrar-te é que todas as coisas
importantes têm dois lados como a moeda: bom e ruim, certo e errado; justo
e injusto; digno e indigno; verdadeiro e falso. Quando fores capaz de ver as
coisas pelo lado positivo e lado negativo, tu estarás apta a escolheres os
teus caminhos e dirigires a tua vida: serás sábia e decifrarás o mundo.
O sexo compreende erotismo e paixão e, como a moeda, tem dois
lados. Um lado digno: amar, fazer amor, transar com sedução, volúpia e
dignidade: erotismo. O amor lhe dá a dignidade. E um lado indigno:
“pegar”, “ficar”, foder: sacanagem como Clarinha.
O que faz a diferença é a dignidade ou a indignidade. O amor é
sempre digno, por mais erótico e devasso que seja, porque há nele uma
interação de corpos e mentes, de carinhos e prazeres: entrega. A pegada,
porém, é sempre indigna porque nela não existe amor, ninguém se dá, e a
mulher simplesmente dá, sem receber amor e geralmente nem gozo. O
homem goza sempre, mas a mulher, se está à espera daquele arrebatamento
prazeroso, fica se perguntando: “não acontece nada”?
No chamado sexo livre praticamente não existe o erotismo e ele é
feio e vergonhoso porque nele não há amor e os parceiros não se sentem à
vontade para falar de desejos e preferências e a mulher até finge gozo ou
esconde que não gozou. Ele se resume à cópula em que o grande gozo é
quase que exclusivo do macho. Porém o “fazer amor” (sexo digno) é
essencialmente erótico: sedução, excitação, volúpia, comunhão de corpos e
mentes interagindo, a entrega da fêmea ativa e empolgante e a invasão do
macho com brabeza, com a força desejada pela fêmea. O gozo explodindo
como um obus. É paixão gerada do amor, ao mesmo tempo bruta e terna,

102
prazer e gozo arrebatadores para ambos os parceiros...
O amor de paixão tórrida é divino, é maravilhoso porque ele integra
de fato dois corpos e duas mentes em que se fala livremente de desejos,
preferências e prazeres. A mulher pode pedir mais força nas intromissões,
ajustando os ritmos. É sempre excitação bruta para ambos e acontece tudo,
até o gozo extremo e chorares de alegria.
No fazer amor, a paixão sucede o amor (preliminares) num
crescendo, levando-o de roldão para dentro da fêmea, completando-o,
enquanto na foda, a paixão é tudo. Fazer amor começa quando o homem
chega com um sorriso, um afago, um beijo, um apertão ou um tapinha na
bundinha, predispondo a fêmea para o amor. A foda começa quando ele
“trepa” na fêmea: daí o homem chega ao clímax muito antes da mulher,
acabando com a transa muito antes de a mulher gozar...
Foder é pecado, com certeza, mas e amar? Há dias recebemos um e-
mail de uma “Cartilha do Sexo” escrita por um bispo poderoso de uma
dessas seitas que se dizem cristãs. Condenava violentamente o sexo oral e
anal e todas as posições que não a tradicional papai-mamãe, especialmente
a posição “cachorrinho” ou de quatro, e, para a prática do sexo “normal”,
que só pode ser feito para procriar, impunha uma série de regras, tornando-
o a coisa mais enfadonha e chata do mundo, um castigo: o casal tem de se
lavar com um litro de água, vinagre e sal grosso. Então a mulher deita-se de
costas, abre as pernas e espera ser penetrada pelo pênis duro. Quietinha...
Preliminares (amor) nem pensar! O marido não pode encostar o peito nos
seios da mulher porque tem de rezar pedindo perdão a Deus pelo eventual
prazer que eles estejam sentindo. E, no final, têm de se açoitarem com uma
vara que pode ser de bambu.
Riu:
─ Têm de ser punidos pelo “pecado original”, inclusive o do
eventual nascituro!
Mijando-se de rir, Karina observou:
─ Assim, nem para procriar!
─ Nós também quase morremos de tanto rir. Essa tolice é
obviamente inspirada no “pecado original”. A Deus pedimos perdão
quando O ofendemos ou causamos desconforto, ofensas ou danos aos
nossos semelhantes. Pelos prazeres sadios que recebemos, a nossa
obrigação é agradecer-Lhe por nos ter feito prazerosos. Jesus perdoou a
prostituta que recebeu o amor no seu coração e incorporou-a aos seus
seguidores: “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Por que Jesus
condenaria a quem ama com as veras da alma e o mais puro amor? E é
quem mais ama que faz amor mais selvagem.

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─ Eu quero que me tires uma dúvida que está me atazanando: Eu vi
os cães na rua... Nós podemos ficar presas nos homens como as cadelas?
─ Não. Isso só ocorre com os cães. Não acontece com nenhum outro
animal nem com os humanos. Quando eles penetram as cadelas, ficam
emperrados até que a cópula termine... Aliás, essa palavra originou-se de
perro, que significa cão em espanhol. Emperrar é ficar preso como os
perros.
─ Que bom! Fiquei tranquila.
Aline sorriu-lhe:
─ Então tu aprendeste sexo com os cães! É triste, mas os homens
também aprendem a fazer sexo com os cães ou com as prostitutas, o que dá
na mesma, e as mulheres aprendem com os homens ou também com os cães,
como tu. Se não têm imaginação passam a vida toda fazendo sexo como os
animais, mesmo porque não têm quem os ensine.
Karina riu:
─ Ou como o bispo!
Aline compungiu-se:
─ É... E isso é mais triste ainda. São pessoas simples que têm
receio de usar o seu livre arbítrio e se deixam conduzir pelos poderosos.
Passam a pensar e a agir pela cabeça dos mandões e se sentem obrigadas a
lhes pagarem dízimos porque dependem deles para “pensar”. Se pelo
menos as ensinassem a amar em vez de travá-las com paranóia, as levariam
para Deus.
Mas tu és inteligente, meiga, tens o livre arbítrio desenvolvido em
alto grau e mereces tudo o que a vida possa te dar de melhor. Eu vou
ensinar-te não a fazer sexo, mas amor bruto de gente sábia, que ama e tem
imaginação, que faz amor.

Em relação ao sexo a mulher pode ter vários status: pode estar


envolvida por amor e paixão tórrida. Se olhares à tua direita verás um
homem jovem e lindo, mas que eu vejo como veria uma escultura. Para mim
ele tem apenas valor estético sem qualquer conotação erótica, porque eu
amo de paixão o teu pai e, eroticamente, só tenho olhos para ele.
Tu, porém, não estás envolvida com amor nem paixão. Teu status
sexual, sem envolvimento, está livre para a paixão com ou sem amor. É
óbvio que tu o considerarias do ponto de vista emocional: amor e ternura e
do ponto de vista passional: paixão, desejo. Além da beleza estética, do
tipo que te atrai, terias de apreciar o homem e o macho. É aí que terias de
analisá-lo para saberes se ele é digno da tua ternura e da tua

104
intelectualidade e se é capaz de satisfazer a tua sexualidade.
Poderíamos acrescentar num terceiro status uma mulher com uma
grande paixão, ou mesmo pequena, mas sem amor. Uma mulher só se
apaixona de fato por quem a arrebata com paixão tórrida. Embora
apaixonada, ela anseia por amor e, até inconscientemente, ela tenderá a
envolver-se com outro homem induzida pelo amor ainda que
platonicamente. Se casada, ela o verá como um possível amásio; se
desimpedida, como uma eventual troca pelo homem que lhe dá paixão
selvagem, mas não lhe tem amor.
Nesse caso, se a paixão for de fato tórrida, a traição será difícil de
acontecer, porque a mulher passionalmente satisfeita tende a suportar a falta
de amor, uma vez que paixão satisfatória (tórrida) é rara como o amor e a
mulher tende a achar que é amada já que se confunde amor com paixão. Mas
ao ler um romance ou ver um filme romântico, pode apaixonar-se, mesmo
platonicamente, pelo galã em que ela descobre o amor que lhe falta.
Na minha busca desesperada pelo amor, quantas vezes não imaginei
o galã saindo da tela e vindo ao meu encontro colher-me nos braços e me
fazer tudo o que fazia com a mocinha... E chegava aos orgasmos! Nem
paixão satisfatória eu tinha e me refugiava no cinema. Depois de ter teu pai,
nunca mais vi filmes melosos.
É muito triste ter um marido ou namorado e procurar o amor no
cinema. Se quiseres apreender a profundidade do drama, vê “A Rosa
Púrpura do Cairo”, de Woody Allen. Eu me identifiquei com aquela menina
fofa, casada com um machão, mas sem amor nem paixão que prestasse e
que, como eu, se apaixonava pelos galãs. Quando o filme mudava, ela
ficava brutalmente decepcionada, mas corria para o cinema em busca do
sonho com o novo galã.
Um quarto status é o da mulher fissurada em pegadas, a mulher
“livre”, promíscua. É a paixão essencialmente indecente e indigna, como a
de Clarinha, porque o amor ficou do outro lado, não havendo nem vestígio
dele e mesmo a paixão é de caracacá. Tu viste que ela ficou vidrada no
pedófilo porque fez sexo diferenciado da molecada com alguma coisa de
preliminar e selvageria. Não dá nem para falar em ciúme e menos ainda em
traição.
Num quinto status, está a mulher que tem um grande amor (ou
pequeno) que não a satisfaz sexualmente (sexo morno). Quem lhe apagaria o
incêndio que arde nela e o marido ou namorado não consegue extinguir?
Essa é traidora em potencial. Dificilmente não vara a cerca para o vizinho
ou não leva o padeiro para acertar as contas na cama... Tens um belo
exemplo na Capitu de “Dom Casmurro”. Vou ensinar-te a entender o livro e

105
a escolher o teu status.

Aline conhecia muito bem a filha e sabia que ela não iria para a
cama com quem quer que fosse sem, pelo menos, analisar seus
procedimentos com ela. Contudo, era previdente e, desde antes da
puberdade de Karina, proveu-a de preservativos ensinando-a como usá-los
e recomendando-lhe:
─ Se te dispuseres a ir para a cama com alguém que não seja o teu
homem definitivo, nunca vás, em hipótese alguma, sem camisinhas. O risco
de pegar AIDS (transmitida pelo vírus HIV) é enorme. Também não vás
para lugares perigosos como casas abandonadas ou para trás de moitas ou
mesmo motéis que são proibidos de aceitar crianças e estão sujeitos a
batidas policiais.
Se tu decidires que é o que tu queres traga o menino aqui. Nós
conversaremos e, se o teu propósito for firme e assumires a tua
responsabilidade, deixaremos vocês à vontade na tua suíte. O que queremos
acima de tudo é a tua segurança e a tua felicidade. Tem certeza de que
trataremos do assunto como gente grande e civilizada com muito amor por ti
e respeito à tua vontade.
Aline bem sabia como o prazer da carne e especialmente a
curiosidade podem espicaçar os jovens. Por isso ensinou-lhe como ela
própria podia dar-se prazer, masturbando-se no clitóris e no “ponto G”. Era
prazer quase tão bom e até melhor do que com um homem. Não havia amor,
mas com certos homens nem prazer havia. E não tinha de amargar
dissabores e o risco de contrair AIDS. Poderia entreter-se dessa forma até
encontrar o homem de sua vida:
─ Um homem casual, sem amor, não vale uma boa masturbada no
“ponto G” ou no clitóris, nem masturbadinhas no cinema. E se tu colocares
o dedo médio no “Ponto G” e o polegar sobre o clitóris, massageando
ambos os pontos com a tua sensibilidade...
E dissertava minuciosamente sobre AIDS, o seu vírus HIV, e demais
doenças sexualmente transmissíveis. Falava-lhe dos muitos milhões de
infectados no país e no mundo e do risco praticamente certo que corriam os
incautos, dada a facilidade com que se transmite de uns para os outros
através do sêmen ou das secreções vaginais de indivíduos contaminados.
Discorria sobre o drama e a qualidade de vida precária e curta que tinham
os infectados por uma doença incurável como a AIDS e exortava-a:
Só o saber que se está infectado pelo vírus HIV é uma sentença
terrível! E contraí-lo numa simples transa, num ato que muitas vezes nem
prazeroso é... Se resolveres transar com alguém que te atraia muito, que te

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pareça carinhoso e mesmo que pareça amar-te, mas que não estejas
absolutamente certa de que é o homem da tua vida, exclusivamente teu, será
uma decisão inteiramente tua. Prêmio ou castigo da vida serão
exclusivamente de tua responsabilidade, por isso tens de saber muito bem o
que vais fazer. Mas nunca o faças sem preservativos porque o castigo pode
ser brutal! E mesmo que seja o homem da tua vida terás de ter certeza
através de exames de que ele não é aidético ou portador de outras doenças
transmissíveis que devem ser previamente curadas.
O exame de HIV positivo é sempre uma sentença de morte que pode
ser retardada por coquetéis de remédios com inúmeros efeitos colaterais
que causam sérios danos à saúde e, portanto, à qualidade de vida do
infectado, mas um dia ela acontecerá muito antes da expectativa de vida do
doente. Transar sem camisinha só com o cônjuge e mesmo assim se houver
certeza absoluta de fidelidade.
Outro assunto que mereceu dissertações intermináveis de Aline
foram as drogas. Recomendou-lhe o máximo cuidado na escola, onde
frequentemente aliciam crianças e jovens inocentes e que tivesse muito
cuidado ao aceitar uma bebida ou um doce e recomendou-lhe:
─ Nunca aceites convites para ir a uma festinha de embalo: são só
álcool e drogas, inclusive os participantes em total degradação moral e
física! A queda no vício e no desespero é inevitável. No princípio, desde
que não ligues para moral e muito menos para dignidade, é tudo agradável e
divertido, prazeroso mesmo, porque esses garotos buscam apenas o gozo, o
objetivo final do ato sexual, e dificilmente conseguem chegar a ele sem as
drogas, especialmente as mulheres que carecem de ternura para atingirem a
empolgação.
Porém é um gozo falso que se origina das drogas e não do amor, não
da paixão pelo ser amado que brota do coração e se derrama pelo corpo
todo como um bálsamo de prazer e de gozo legítimo, glorioso. Por isso as
drogas logo deixam de fazer efeito e a mulher, principalmente, precisa de
cada vez mais para atingir o orgasmo.
Com certeza, acabarás estuprada e nem saberás por quem ou por
quantos. Drogada e bêbada não terás nenhum controle sobre ti, nem noção
de gozo. É só perda da virgindade, da dignidade e até da moral, até que
percas também a vida que já não valerá nada mesmo! O fim de uma garota
de embalo é de overdose, numa UTI ou contra um poste a cento e cinquenta
quilômetros por hora. Papai conheceu um desses trapos humanos: Camila.
Deixava que lhe tirassem a roupa e a trepassem à vontade, acabando por
vomitar sobre eles e correr para a UTI. Acabou trepada num poste a cento e
cinquenta quilômetros por hora.

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Karina protelou quanto pode, mas a pornografia dos meios de
comunicação e do linguajar dos colegas, além de se sentir segura com as
instruções e a assessoria da mãe, fizeram-na anelar pelo primeiro
namorado. Já tinha perguntado à amiguinha se a mulher podia cantar o
namorado que desejasse. Aline dissuadiu-a: “Para pegadas que não
implicam em nenhuma espécie de compromisso não há problema, mas para
namoro não deves fazê-lo ostensivamente porque os homens adoram ser os
conquistadores além de geralmente se sentirem desconfortáveis ao serem
cantados. E também não é nada feminil”. Entretanto ela poderia insinuar-se
e contou-lhe a estorinha do sorriso terno e encabulado de tia Mirele que a
levou a cativar o homem da sua vida.
Iam juntas com frequência ao cinema e, ao relaxarem na praça de
alimentação, enquanto ouvia as preleções da mãe, Karina observava os
meninos que a comiam com olhos gulosos. Ela gostava de ser admirada e se
embevecia com tantos olhares cobiçosos.
Após os ensinamentos da mãe-amiguinha ela não se imaginava mais
dando para meninos como quando via os filmes na internet, mas ansiava por
encontrar o amor da sua vida que a tornasse uma mulher completa
inundando-a de amor. Estava nessa elucubração quando, instigada pela
visão de um menino que lhe pareceu lindo, perguntou à mãe:
─ Amiguinha, tu achas que eu já posso sorrir encabulada para um
menino?
Aline entendia que mesmo aos pré-adolescentes é difícil se
absterem de alguma atividade sexual nos tempos atuais de erotismo e
pornografia escancarados e até se admirava de Karina ainda não ter pedido
para namorar. Por isso proibiu-se de proibir. Preferia até incentivá-la a
restringi-la. Queria-a livre para sonhar e escolher seus próprios caminhos,
mas fez-lhe ver até onde ela podia chegar sem correr riscos. Começava a se
sentir confortável para falar de qualquer assunto na condição de amiguinha.
Recomendou-lhe:
─ Desde que te responsabilizes pelas consequências dos teus
avanços... Porém a responsabilidade será toda tua e é importante saberes de
algumas restrições que deves te impor, quando estiveres namorando, para
não quebrares essa carinha. Em primeiro lugar deves ter em mente que o teu
corpo é teu e só te deve tocar quem tu queiras, aonde queiras e quando
queiras. Em segundo lugar, e não menos importante, o namoro implica em
beijinhos e abraços e cócegas nas orelhas, na nuca e no pescoço, podendo
avançar aos poucos até os amassos nos teus mimos: seios, coxas, bundinha,
e até masturbação no clitóris, de preferência nessa ordem e deixando que o

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menino avance.
Tu deves restringi-lo e ir liberando-o à medida que te excitares,
conduzindo-o aos teus pontos mais excitáveis. Não precisas esconder a
empolgação, permanecendo estática. Sexo, mesmo sem amor, tem de ser
interação de corpos e mentes: é prazer que se dá e prazer que se recebe ou
não é nada. Transar com um machão egoísta que não se interessa pelo
prazer da fêmea é deplorável.
Os amassos não oferecem maiores riscos, mesmo que chegues à
masturbação recíproca e permitas que o namoradinho te masturbe o clitóris
até gozares, mas se o masturbares (as mulheres somos fascinadas pelo pênis
e tu não fugirás à regra), tu deves exigir que o garoto use uma camisinha
para não te sujares com o sêmen quando ele gozar e também para não te
contaminares caso ele tenha alguma doença transmissível. Enquanto não for
com o teu homem definitivo, deves evitar qualquer contato com o sêmen.
Também deves ter em conta que a masturbação no clitóris dá igual
prazer à masturbação na vagina e até a uma transa com penetração vaginal.
O clitóris é tão excitável quanto a vagina, se não mais. O fascinante no
corpo da mulher é que podemos atingir o gozo máximo sem penetração
porque toques nos causam frissons em praticamente todo o corpo. É por
isso que o amor é fundamental para a mulher. Precisamos estar bem
excitadas se pretendemos chegar à cópula e ao gozo. E cada ponto erógeno
é uma festa de excitação. Por isso tens de procurar por um menino terno que
se afeiçoe ao teu corpo com paixão bruta, mas precedida de carinho em
busca dos teus pontos erógenos.
Não te serve para nada um “pegador”. Ao encontrares no macho
sedutor as virtudes almejadas, além de amor, afeto, o encanto da tua vida e
paixão bruta, cede-lhe o teu corpo em busca da integração com o macho. A
tua excitação está em cada ponto que te der frisson ao toque do macho, e a
dele no pênis e nos testículos.
A uma cantada para pegada ou mesmo ficada não deves dar nem
resposta. Vocês têm de afeiçoar-se um ao outro para teres prazer, porque
são as apertadas fortes e o aflorar de dedos do macho deslizando por
nossas sensibilidades (amor) que nos enchem de hormônios do prazer e de
frissons (paixão) e nos preparam para o gozo se pretendemos chegar a ele.
Para o macho a cópula basta porque sua excitação erógena está toda no
pênis, mas a fêmea só atinge o êxtase com o amor.
É muito importante que preserves a mimosinha mesmo da
masturbação enquanto não for com o teu homem definitivo porque, além de
perderes o hímen, pode levar-te à transa e te tornares uma cadela vadia.
Masturbação do macho na vagina leva inexoravelmente a anelares pela

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transa completa porque vais ter a impressão de que gozas pela metade e aí
será muito difícil deixares de dar.
A mulher que experimenta o gozo vaginal dificilmente consegue
passar sem ele, mesmo que não tenha sido bom, porque ela sente o
potencial de prazer e vai anelar o gozo vislumbrado, ou seja, aquele gozo
arrebatador que intuímos de nossas ancestrais.
Tu que deves ser fogosa... Se deres uma vez, nunca mais vais parar
de dar em busca daquele arrebatamento prazeroso e, se resistires, sofrerás
os tormentos da paixão. Paixão pode ser gozo extremo, mas também pode
ser sofrimento extremo. Por isso, deves colocar a cama sempre no fim de
tudo, mantendo a mimosinha trancadinha entre as pernas fechadas,
permitindo acesso a dedos somente na parte superior da vulva até
encontrares o homem digno de ti.
E guarda no coração: nunca deves iniciar uma transa pela
penetração nem com o homem que chamares de teu. A cópula digna tem de
ser o coroamento de uma fartada de amor (preliminares) ou será apenas
uma foda, e fodas raramente dão prazer à mulher.
Enquanto não tiveres um homem digno de ti com pênis empolgante,
só deves tocá-la com teus dedos. Sua porção estimulável é anterior ao
hímen onde fica o “ponto G”, uma rugosidade altamente excitável a dois ou
três centímetros da entrada. Tu o encontras introduzindo o dedo médio, com
cuidado para não romperes o hímen, e curvando-o. Não há menino que te dê
gozo igual, e mesmo um homem só se tiver pênis empolgante, e, se
estimulares o clitóris ao mesmo tempo com o polegar ou a outra mão,
aguenta o gozo! Eu sempre tive gozo muito maior sozinha do que com meus
namorados que foram só frustração. A metade posterior da vagina não é
excitável, por isso não adianta procurares por pênis grande ou feri-la com
objetos estranhos.

Até completares quatorze anos não poderás ter um namorado de


dezoito anos ou mais porque, a partir dos dezoito anos, ele cometeria crime
de estupro por mais consensual que fosse a relação amorosa mesmo sem
penetração. Os meninos e a maioria dos homens fazem sexo morno como
viste nos cães e dificilmente encontrarás aquele arrebatamento que só a
paixão tórrida pode te dar.
Com amassos e masturbações no clitóris o gozo pode ser muito
intenso e até melhor do que muitas penetrações, especialmente se o menino
for bom, mas tu poderás conduzi-lo detendo-o nos abraços e deslizamentos
de dedos leves nos seios, mamilos, nas coxas e na vulva... alternando com
apertões... Quando estiveres úmida e sentires o clitóris intumescido, podes

110
conduzi-lo à masturbação, mas cedendo aos seus avanços e conduzindo-o
ao teu objetivo.
Evita tomares a iniciativa. É preferível que te mostres retraída,
inexperiente e recatada, até mesmo burrinha, à avançadinha, especialmente
se tiveres projetos de vida conjugal com ele. Os homens gostam de
cadelinhas devassas para ficadas, mas, para esposa, buscam as recatadas e,
sendo este o objetivo do teu namoro, tu deves conduzi-lo para os teus
planos porque homens nunca pensam além de sexo. É o teu recato, a tua
dignidade e a tua ternura que o fará convergir para o que tu queres dele e
mesmo assim se ele pensar em ti com muita seriedade, como a esposa ideal.
Se saíres cantando os homens, vão tomar-te por cadela, claro! A mulher
recatada se insinua, o macho canta-a.

Com um amor interativo e transcendental, sim, podes dizer


sacanagens amorosas, explorar o seu corpo com os teus desejos e bom
humor e até ser devassa. Um dia esperei o meu amor no dia do seu
aniversário, sedutora e sem lingerie. Seduzi-o com uma dança de bundinha
e, levantando a minissaia num olé de passo doble, balancei-a e disse
morrendo de rir: “Ela está toda meladinha fascinada pelo pau maluco, para
te fartar de felicidade – e explodindo em riso – tu vais comer as minhas
comidinhas na boquinha, mas antes terás de comer a cachorrona com todas
as maluquices desse menino doidão”. Meu Deus! Ele pegou-me de taponas,
me raptou para a cama e... quase arriou de gozo porque lhe dei amor na
nuca, na orelha e, esfregando-me para embrutecê-lo, dei-lhe um beijo para
não esquecer jamais. Eu não jurei amá-lo. Eu dei-lhe amor para provar que
ele é o amor, a paixão, a felicidade e o prazer da minha vida.
É frequente eu insinuar-me fazendo-lhe carícias, beijando e
lambendo-lhe os mamilos, fazendo-lhe cócegas com dois dedos
percorrendo-lhe as coxas como um ratinho para “perturbar-lhe” o
Amadinho... e quando ele ergue a cabecinha eu digo com brejeirice risonha:
“eu quero chupetinha”... Quando amas deveras, estás sempre desejosa de
comer o macho e, se ele te ama de fato, estará sempre esfomeado para te
comer...

Mesmo o teu pai, seu primeiro impulso era simplesmente me transar.


– Deu uma gargalhada e Karina se intrigou – Teu pai é muito brincalhão.
Ele tinha planos para encontrar a mulher da sua vida. Queria fazer-te e filho
não se faz em qualquer mulher. Ao ver-me bela e simples, seu “coração
trotou no seu peito com tanta força que pôs o Amadinho de pé”, ele me
disse dias depois.

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Aos saltos, o coração lhe dizia: “é ela, é ela” e o teu pai retrucava-
lhe: “ela é demasiado jovem e bela para nós, vamos comê-la e escafeder-
nos”. Mas o coração venceu-o. Pois é, até nas piadas ele me emocionava
com elogios e declarações de amor. Ele queria fazer-me rir, mas é isso
mesmo que os homens fazem: comem e se escafedem. E se eu não fosse do
jeitinho que ele queria... Por isso, deixa o teu namorado insistir e vá
cedendo, embora envergonhada, porque ele te deixa muito excitada a ponto
de perderes a cabeça, mas não a percas nunca ou tua mimosinha pagará
caro.
Karina riu e relaxou. Aline prosseguiu:
─ Os toques no clitóris devem ser muito suaves e precedidos do
aflorar de dedos nos grandes lábios e nos pequenos até ele ficar durinho,
sob pena de dormência ou formigamento, por isso vocês têm de estar
entrosados para lhe imporem a pressão desejada. Falar sobre desejos e
prazeres, com amor, não é nenhum pecado.
Se vires que ele é rude, detém-lhe a mão e pede-lhe suavidade no
toque e, à medida que te fores empolgando, podes ir te soltando e deixá-lo
soltar-se. Só depois de o clitóris ficar teso é que se deve aumentar a
pressão sobre ele, progressivamente, até atingir o clímax. Por isso vocês
têm de ter comunicação e interação ampla. Com esses procedimentos, além
de teres o prazer desejado e evitares o rompimento acidental do hímen,
evitas a gravidez, a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis e
tens muito mais gozo do que têm as Clarinhas da vida que dificilmente
chegam ao orgasmo, mesmo morno.
É claro que amassos são sempre prazerosos, mas só deverás ter
orgasmos a partir da menarca. O ideal seria esperares por ela. Até a
menarca ou mesmo depois, tu mesma poderás masturbar-te com massagens
dos dedos sobre o clitóris e o “ponto G”. Tu terás a vantagem de
controlares a pressão e a fricção sobre o órgão. Também poderás combinar
ambos, o “ponto G” e o clitóris, massageando este com o polegar e o
“ponto G” com o dedo médio ou usando ambas as mãos. Ambos
combinados te darão mais prazer do que a penetração de qualquer menino.
O “ponto G” é controverso e os estudos indicam que um terço das mulheres
não o têm, embora talvez seja por desconhecimento ou pesquisa
inadequada. Eu só descobri o meu com o teu pai. Se não o encontrares...
Mas o clitóris – riu – depois da menarca é uma festa! Eta grelinho safado!
Enquanto não tiveres a menarca, tu estarás sendo conduzida mais
pela curiosidade do que pelo desejo de teres prazer. Porém se tu queres um
conselho, estuda os teus genitais e as tuas reações aos teus dedinhos como
te ensinei, mas sem obsessões. Não insistas em arrancar deles o prazer.

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Tudo tem de ser natural. A tua mimosinha te avisará de seus desejos e tu
poderás saciá-la com teus dedinhos, mas procura não ires além do desejo.
Sem obsessões viverás mais tranquila e terás a cabecinha livre para
os estudos e para seres criança. Quando sentires uma espécie de “clamor do
sexo” e tiveres prazeres intensos, se quiseres experimentar toques eróticos,
seleciona um menino que te pareça terno pela cantada e, principalmente,
pelo trato que ele te der, mas não te esqueças de que serás a única
responsável pelos avanços que deixares acontecer e, principalmente, tem
certeza de que ele só quererá o teu sexo. Só entre os homens, tu encontrarás
um ou outro que te veja além do sexo.
De tola Karina não tinha nada e, instigada pela mídia e pela internet,
tinha uma curiosidade irreprimível e fantasiosa pelo macho e, agora que a
mãe esclarecera os mistérios e balizara os limites, ansiava sentir-se
afagada, apertada, beijada, e acima de tudo, amada... Sonhava com dedos
de macho excitando-a, aflorando seus braços, seu pescoço, descendo para
os seios, mamilos, explorando-lhe as coxas, a bundinha, a vulva, fazendo-a
fremir, arranhando, apertando, espremendo-a, enquanto ela saciaria sua
fascinação pelo falo... Por-lhe-ia a camisinha, sim, como lhe recomendara a
mãe, mas antes o tornaria bem duro e se fascinaria com o vai-e-vem da pele
macia percorrendo a dureza... Se “lá” não podia, mas o resto estava
liberado e podia ser tão prazeroso ou mais...
Mas resolveu conhecer-se primeiro e ver até onde seus frissons a
levavam e onde eles eram mais intensos. Via que o que a excitava era mais
a curiosidade açulada pelos meios de comunicação e pelos filmes que via
na internet do que pela libido e que o amor era superior à paixão, devendo
presidir a tudo.
Na oportunidade seguinte, porém, empolgou-se com um menino que,
de uma mesa à frente, a devorava com os olhos. Achou-o lindo e quis amá-
lo. Amar era sua fantasia suprema. Imaginou aquelas mãos de macho
excitando todos os seus mimos enquanto ela conheceria o pênis. O pênis!
Ter um pênis para brincar a fascinava. Sentiu-se irresistivelmente atraída.
Pensou: “a cama fica para a sacramentação do amor, mas isso pode e se
amassos são sempre prazerosos”...
Ela sentia-se livre para decidir pelo melhor para si, mas também
sabia que liberdade implicava em responsabilidade e isso a tolhia. Sentia-
se feliz por nunca ter realizado suas fantasias de dar para os meninos
sempre que via pornografias e de ter posto em banho-maria um menino que
lhe propusera pegadas, até perguntar à amiguinha. Tantos perigos!
Entrementes eu a informara sobre a menarca e resolveu esperar
pelos ensinamentos da mãe. Então aprendeu sobre o amor e anelou por um

113
macho bravio que a jogasse na cama penetrando-a com força, no ritmo mais
adequado ao seu prazer, completando-a doente de amor, todos os dias de
sua vida... Esse passou a ser o seu objetivo maior. Tanta ternura! Mais do
que sexo, mais do que curiosidade, tinha necessidade de amar para
desafogar o coração. Precisava de um menino a quem dar amor. Valeu-se da
assistência da mãe para aprender sobre as cantadas e os toques eróticos em
busca do amor: disse-lhe, ainda meio tolhida:
─ Amiguinha, acho que eu vou tentar cativar um menino. Estou
ansiosa para experimentar afagos e beijos de amor. O que é que tu achas?
Aline riu:
─ Estás pronta para enfrentares as feras?
─ Estou fascinada por um menino que me come com os olhos!
Aline sorriu:
─ O que tu gostarias de fazer com ele?
─ Tudo! Mas estou fascinada para tê-lo em cima de mim, após uma
pegada bruta de amassos e beijos que nos deixe de corpos nus, sob a
pressão total do seu corpo em completa submissão ao amor do macho me
comendo à bruta, enleado nos meus braços e nas minhas pernas, de bocas
devoradoras e apertado na minha mimosinha com tanto amor que jamais
pensássemos poder abrir mão dos nossos brinquedos – sorriu – É, sim, uma
TVC deveras cachorrona me daria o clímax da empolgação, do gozo e da
felicidade para relaxar e adormecer de colherinha na sua ternura...
Aline sorriu feliz:
─ Então sorri, tolinha! Eu amo ensinar-te porque, além de seres uma
excelente aprendiz, tu sabes o que queres. Ele é o teu tipo de homem e de
macho e o que descreveste é o clímax do amor que só se consegue com um
macho empolgante. É isso mesmo amiguinha: lá dentro só amor de paixão
bruta com tudo de roldão. Foda estilo cachorrinho é para cadelas e
burocratas do sexo.
Karina sorriu feliz com a aprovação da mãe:
─ Ele é o meu desejo de homem!
─ E de macho! Tu ainda não tens necessidade do macho e muito
menos da TVC, mas tu perdeste a empolgação até pela Barbie que sempre
foi o teu fascínio. Estão te faltando brinquedos empolgantes dignos do teu
interesse. É natural que queiras brincar com um macho. É a grande
aspiração das femeazinhas que enforcam suas bonecas, e se eu conheço esse
coração, tu precisas de alguém a quem dar essa ternura, porém não vás com
muita sede à fonte. Sexo tu encontras à vontade, mas o amor de que
necessitas é raro. Toma o namoro apenas como um meio para aprenderes
sobre a tua sexualidade até que o amor caia no teu regaço pronto para ser

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degustado em toda a plenitude.
Ele é mesmo o teu tipo e tu tens consciência do teu desejo. Podes
sorrir quando ele desviar o olhar. Quero ver o teu sorriso mais meigo e
apaixonado. Mas não te esqueças de baixar o olhar encabulado ao contato
visual e sustentares o sorriso encantado por três segundos. Seduzido o
macho, tens de analisar a cantada e a ternura. Procura pela ternura que é
onde mora o amor. Também podes sorrir encantada ao surpreendê-lo te
comendo com os olhos e encabular-te...
Tradicionalmente as mulheres procuram um macho forte e protetor
que lhes dê filhos saudáveis e proteção. Isso é estimulante e agradável ao
ego do macho e te fará bem senti-lo deveras macho e protetor,
especialmente se te casares muito jovem. E o que te fará realmente feliz é
estar sob o domínio do amor do macho te comendo com selvageria. O que
deves repudiar com unhas e dentes e as tuas artes marciais é a dominação e
a agressividade dos machões que cuidam ser poderosos e superiores às
mulheres e até com direito a fodê-las e surrá-las. É por isso que te
recomendei as artes marciais. Dá-lhe amor a fartar, porém se revelar-se
machista: pé na bunda!

Como pareciam irmãs Aline não inibia o pretendente e ela não


perdeu tempo. Observou o menino que a fascinara e, aproveitando uma
distração, derramou o olhar terno sobre ele e abriu o sorriso encantada. Ao
ser surpreendida pelo contato visual, ela baixou o olhar encabuladinha e
sustentou o sorriso por três segundos. O menino abordou-as e disse à
Karina:
─ Você é muito gostosa. Quer ficar comigo?
Karina deu um berro:
─ Não!
Mas o menino não queria perder o belo manjar e insistiu:
─ Mas você me sorriu interessada...
Aline escorraçou-o:
─ Some, garoto, não vez que ela não quer nada contigo!
O garoto retornou à carga:
─ Pelo jeito como ela me olhou e sorriu ela gostou de mim.
Na defesa da filha, Aline virava leoa. Lembrou-se dos seus
namorados machões e ficou deveras irritada:
─ Ela cuidou ter visto um homem, mas tu és apenas um verme!
Desinfeta o ambiente!
Aline sorriu para Karina:
─ Viste como o sorriso encabulado é a grande arma da mulher?

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Cativa qualquer tipo de macho para qualquer tipo de relação, da pegada ao
amor transcendental, e nunca perdes a candura.
Cansada de dar sorrisos ternos e encabulados, ora surpreendendo,
ora surpreendida, Karina já desesperava de encontrar um namoradinho
digno quando lhe pareceu notar sinais de inteligência e ternura num menino
e aceitou namorarem. Não era o que ela almejava para cobri-la de amor,
mas era simpático e ela desesperava-se por um pouco de ternura. Aturou-o
por um mês procurando por virtudes e estudando sua fascinação pelo pênis.
Namorava no escurinho do cinema, aonde ia acompanhada da mãe
sempre apresentada como irmã e, às vezes, de uma amiguinha do pacto.
Escolhiam filmes de arte que tinham grandes espaços vazios e separavam-
se por duas poltronas ocupadas por bolsas, num canto isolado, para que
pudessem ficar bem à vontade. E foi assim que Karina inaugurou os seus
mimos para toques eróticos, monitorada pela mãe, e esbaldou-se na
manipulação do pênis. Não encontrava o amor desejado, mas despertava
grandes paixões e ela fazia de conta que era amada, deixando transbordar
livremente o amor do seu coração, acariciando e dando beijos
arrebatadores. Frustrava-se por não encontrar o mesmo elã, mas fazia de
conta que era correspondida.
Adorou os toques masculinos, achava-os agradáveis e excitantes, e
ia franqueando-se aos poucos até chegar à masturbação recíproca, mas só
no clitóris. Mantinha as pernas bem travadas contra eventuais avanços na
vagina. Deixava-se envolver e também envolvia o garoto com abraços e
beijos e deixava-o avançar nos seios, fascinando-se com o crescer da
paixão e o intumescimento dos peitos. Ela adorava tê-los apertados e
afagados sentindo o frisson crescer com o toque masculino acariciando-lhe
os biquinhos e aflorando-os até o vale profundo onde eles se encontravam...
Depois as coxas, a bundinha, a vulva, o clitóris... Não ficava passiva, seus
mimos respondiam à pressão com pressão e afagos. Mais a fascinação pelo
pênis... Manipulava-o para vê-lo bruto com diferentes pressões e
velocidades. Perguntava enternecida:
─ Como é que tu queres? Quero deixar-te fascinado por mim.
Ela deixava fluir livremente sua excitação e seus frissons e fruía o
amor e o prazer de apertar-se no menino, pedindo que ele lhe apertasse os
mimos. Quando gozava, mordia o pulso para abafar seus gemidos.
Suportava-os por cerca de um mês, resistindo às suas insistências
para transar, mas como não preenchiam os requisitos e só queriam mesmo
pegadas, dispensava-os. Seu objetivo era encontrar um amor para a vida
toda, mas, como era difícil, ia aprendendo tudo sobre os homens, os
genitais e virilidade para reconhecer o homem da sua vida quando topasse

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com ele. Ela almejava um homem sábio e terno, mas que fosse também
macho de verdade e pudesse lhe dar amor muito tórrido, na intensidade
desejada. Por isso analisava as dimensões do pênis e o tempo de ereção,
além da inteligência, cultura, dignidade, hombridade, ternura ou a falta
delas...
Apesar de alertada de que ela só encontraria tudo o que queria num
homem de, pelo menos, vinte e um anos, ela não esmorecia de encontrá-lo
num menino. Anelava por um menino capaz de um amor transcendental para
se amarem para todo o sempre. Sonhava dormir abraçada por braços ternos,
aquecidinha de ternura. Se ela o desejava por que não haveria um menino
compatível com a sua idade, dignidade, ternura e sabedoria que também a
desejasse para sempre?
Passou a reciclar os namorados assim que demonstravam falta nas
qualidades pretendidas, mas gozava os prazeres do sexo já que via os do
amor tão distantes. Jamais, porém, abria as pernas para penetração mesmo
de dedos. A virgindade ela só pretendia entregar ao seu amor
transcendental, fosse adolescente ou adulto. Assim, brincando de
namoradinha, ia aprendendo na prática as teorias que Aline lhe ensinava e,
quando ficou bem segura de controlar as pernas, tirava o soutien e a
calcinha para gozar toques plenos na nudez dos seios, da vulva e do
clitóris, mas cheia de cuidados para não expor a mimosinha. Usava
minissaias e blusinhas fofas para dar fácil acesso aos seus mimos.
Preservava a mimosinha, mas liberava tudo o mais em busca de prazeres
arrasadores.

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Capítulo XIV - CONCEPÇÃO DE KARINA

Karina enternecia-se com as descrições da mãe e quis ouvir dela a


narração do ato em que foi concebida que eu lhe referira com muito
carinho. Ela foi concebida logo após o renascimento do nosso amor após
uma terrível cena de ciúme despertada por fofocas de uma vizinha mal
amada. Relembrar como eu a trouxe de volta à razão foi profundamente
doloroso para Aline:
─ Teu pai me disse transido de emoção: “Meu amor, nós nos
amamos tanto e tão profundamente que qualquer maledicência pode
transtornar completamente o nosso juízo. Não há mulher no mundo, por mais
bela e sedutora que seja, que possa destronar-te do meu coração. Teu
império é absoluto e eu estou feliz que seja, porque não existe mulher tão
completa e capaz de um amor tão grande como o teu. Estou abismado que
tenhas te rebaixado ao nível de uma Candinha tão vulgar que deve estar
morrendo de inveja e raiva de ti, porque minha reação ao ouvir-lhe a
cantada foi correr para o teu aconchego. Só não te contei porque estava
envergonhado pelo assédio de uma pessoazinha tão reles e não quis
perturbar-te”.
Meu Deus! Era o meu Homem! Eu corri para ele, pulei-lhe no
pescoço com as pernas nos seus flancos, pedindo-lhe perdão e chorando a
cântaros. Nossa dor era tão atroz que nos deu a certeza de Amor eterno e
nos refizemos da dor, fazendo-te. Eu estava em meio ao último ano dos
meus estudos e mudara o anticoncepcional para um de que eu pudesse me
livrar assim que tivesse um momento muito feliz, e o meu retorno à razão e
à certeza de amor eterno deram-me a felicidade inaudita. Ofereci-te como
pedido de perdão e recompensa pelo meu ato vexaminoso.
Aquela cena cruenta de ciúme nos fizera avaliar o quanto nos
amávamos, o quanto precisávamos um do outro e quão terrível era a
perspectiva da perda. A felicidade que nos invadiu nunca dantes tinha sido
sentida. De olhos inundados, disse-lhe: “Prepara-te para a cena mais
maravilhosa da tua vida”. Livrei-me do diafragma, introduzi uma banana na
vagina e foi tanto negaceio para deixá-lo degustá-la, até que a devoramos,

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boca na boca...
─ Nós estávamos tão felizes, a alegria era tanta, o desejo tão imenso
que, quando a espada do prazer e da vida penetrou fundo e viril no mais
recôndito do meu âmago, eu flutuei em puro gozo. E eu ganhei tantos
orgasmos! Com papai eu sempre tive orgasmos múltiplos. Quando estava
quase esvaída em prazer, fiz teu pai gemer fundo de gozo, chupitando e
ordenhando a sua doce espada do prazer e da vida até o último
espermatozoide, com toda a força muscular da minha mimosinha, que se
tornara muito intensa.
Como eu te desejei! Eu queria muito, muito, muito de verdade, ter
um filho. Não importava se menino ou menina, desde que perfeito,
saudável, inteligente e lindo. E, se eram tantos milhares de espermatozoides
a disputar uma corrida maluca para ver qual ficava com o meu óvulo, eu
acreditava que venceria o mais apto, o mais forte. Talvez isso tenha sido
uma grande tolice, mas o meu amor por aquele serzinho que eu estava
concebendo era muito maior do que qualquer possível tolice.
E eu queria o melhor para te fazer, por isso eu quis ficar com todos.
Queria ter certeza de ter o melhor deles e pedi fervorosamente àquela
espada do prazer e da vida, o meu santo falo, o meu ídolo adorado, para dar
uma vida muito longa, saudável e linda para o meu óvulo. Pela excitação
avassaladora que eu sentia, eu sabia ter um dentro de mim à espera do
espermatozoide que lhe daria a vida e pedi a Deus que me ajudasse.
Sorriu em êxtase:
─ E eu te ganhei! Acho que o meu ídolo me atendeu, porque me deu
até uma femeazinha para que pudesse ser mais linda. És a mais doce
lembrança do dia mais triste e cruento da minha vida, mas também do mais
feliz, em que senti o amor renascer, como a Fênix, redivivo e mais forte e
mais viril e mais intenso, das cinzas daquele ciúme atroz. E esse amor novo
e forte nunca mais esmoreceu e ainda hoje arde com a mesma intensidade,
queimando-me as entranhas com desejo, prazer e gozo. Sim, filhinha, tu és o
lindo fruto desse amor sem limites.
Karina sorriu embevecida com os olhos úmidos, abraçando-a cheia
de ternura:
─ Tu és puro amor!
Aline deu uma gargalhada, deixando Karina suspensa:
─ Que foi, mamãe?
─ Se tu soubesses o que teu pai disse para enterrar de vez aquela
tétrica cena de ciúme, depois de ter plantado em mim a tua semente...
─ O que foi que ele disse?
─ Ele olhou-me dentro dos olhos, bem lá no fundo, e disse: “o que

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acontece, amor, é que a Candinha morre de inveja dos teus gemidos de
gozo”.
E, então, foi Karina que explodiu em riso... Quando o riso serenou,
olhou-a séria e perguntou-lhe:
─ Minha colega Heleninha me disse que ela foi encomendada na
tentativa de salvar o casamento que estava muito abalado. Sua mãe achava
que, com um filho, seguraria seu pai. Tu achas que um filho pode salvar um
casamento?
─ Não. O único elo de união de um casamento é o amor. Os filhos
somente o reforçam se ele existe. Se o casamento entra em crise é porque o
amor é insuficiente para alimentar a paixão ou é a paixão que é insuficiente
para satisfazer a mulher. Um filho poderá ser quando muito um elo
prisional. Uma prisão nunca é bem vinda e, muito menos, amada... Talvez
continuem juntos por obrigação para com o filho, porém em lugar do amor
haverá só obrigação e tolerância... Existirá coabitação, não casamento de
fato.
O único meio de salvar um casamento é as pessoas mudarem,
especialmente a que se sentir desprezada. Com certeza, o erro está nela e de
nada vale buscar soluções aleatórias como um filho. Ela tem que começar
com uma autocrítica e um mea-culpa: vive fazendo ranhetices, cobranças,
reclamações, lançando indiretas? Basta isso para fazeres o teu marido te
odiar em pouco tempo por mais que te ame.
Se tu tens algum desses defeitos tens de mudar radicalmente.
Preparar teu coração para recebê-lo com uma palavra de carinho, ter um
gesto amigo, um afago, um abraço com um beijo e estares sedutora e
receptiva... Tu tens de lhe dar amor ou nunca o terás de fato. O amor nós
não pedimos, o amor nós damos. Ele volta tão engrandecido!
Temos de procurar no coração o amor que restou e ver se é o
bastante para reacender a paixão. Esse amor que ainda sentirmos é a única
chave para destravar a relação e tem de presidir a tudo. Temos de dá-lo
sem reservas, sem queixas, sem amuos e com alegria no coração, com
empolgação.
Isso deve bastar, mas, se o problema é muito sério, após a
autocrítica e o mea-culpa de ambos, devem sentar-se e apresentarem suas
queixas, sem reclamações nem acusações, buscando entendimento e
compreensão... Cada um deve avaliar, com o amor que ainda sente e boa-
vontade, o que pode ceder e o que quer ver mudado no parceiro.
Uma nova lua de mel, se possível com uma viajem, um começar de
novo com tudo novo também é importante. Que até a paixão seja nova, com
nova conquista, nova chama, com novas formas de fazer sexo, novas

120
posições, novas habilidades, muito despudor e lascívia... Que seja uma
empolgação! Sem queixas nem mau-humor, só compreensão, carinho e
entrega... Entrega total e espírito brincalhão. Sempre amamos quem brinca
conosco. O sorriso franco e brincalhão é sempre cativante.
O bom é ser forte nos carinhos... E é muito fácil ser feliz. Basta ter amor no
coração e prodigalizar felicidade a quem amamos. O retorno é imenso! A
felicidade que damos volta sempre multiplicada.
Isso tu deves fazer sempre para manteres do amor o fogo aceso e, se
sentires alguma frente fria, bota empolgação na mimosinha e no coração. Se
tu queres mesmo saber, ao sentires a paixão arrefecer, esquece os
conselheiros conjugais e consulta o teu coração. Se encontrares nele um
tiquinho de amor e encantamento pelo teu homem, desperta a gata
adormecida dentro de ti e prepara-te para recebê-lo com todo o teu encanto,
um amplo sorriso, o aconchego cálido do teu corpo, o coração aberto para
falar de desejos e ternuras, aquele beijo esquecido, volúpia, com aquela
gata safada que habita o teu coração tirando-lhe a roupa, gemendo de
frisson, arranhando e mordendo, um esfregar de tesões, uma dança erótica,
apertadas empolgantes da mimosinha... Meu Deus! Quem resiste? Tu tens de
ser, sempre, uma mulher encantadora e desejada. Tens de empolgar.
Certa vez teu pai me disse: “O imortal poeta Fernando Pessoa disse
que ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena’. Ó amor da minha vida, eu
te vejo com uma alma tão imensa capaz de fazer qualquer coisa para me
fazer feliz e o maior objetivo da minha vida é cobrir-te de felicidade”.
Seria preciso mais? Sabes que teu pai nunca jurou que me amava?
─ Não...? Mas vocês sempre morreram de amor um pelo outro!
─ Pois é por isso mesmo! Juras são só palavras! E palavras podem
ser fementidas se não correspondem aos desejos do coração. Mas o Amor
é, acima de tudo, ternura, é carinho, é afeto, é compreensão, é
companheirismo, é enlace de corações, é um sorriso cheio de meiguice, é
um insinuar de desejo, é entrega, é dar-se ao ente amado. Quem recebe tudo
isso precisa de juras para saber que é amado? Palavras de amor não são
juras, são palavras que falem de encantamento, de desejo, de envolvimento,
de fascinação pelo ser amado...
O crucial é sentirmos ternura pelo homem que queremos. Se a
tivermos, o ente amado vai receber amor e muita paixão e se ele enternecer-
se por ti... Teu pai me disse várias vezes que sempre sente uma energia
positiva e sensualidade num mero beijo, ou num simples afago e eu sinto o
mesmo: nossos carinhos são de coração para coração, não um simples gesto
convencional. São atos de amor, não juras. Qualquer um pode jurar que
ama, mas só pode amar quem realmente ama. O amor é bem que se recebe:

121
é sentido, é vivido, é real, é prazer, é um bálsamo para o coração; juras são
sempre aleatórias, são abstratas, não excitam, não empolgam, não seduzem,
não são nada, e tens de ter fé nelas. São um mero ato de fé, porém amor é
toque, aconchego, palavras de encantamento, paixão lá dentro na maior
selvageria.
Só com o amor que temos no coração é que conquistamos o nosso
parceiro. É, minha doce amiga, o amor é uma eterna conquista. E como é
que o conquistamos? Amando! O amor é uma chama que alimentamos
sempre com a ternura do nosso coração, o aconchego do nosso corpo e a
empolgação do nosso beijo apaixonado. Se isso acaba é porque o amor
acabou, ou antes, a paixão que tu julgavas ser amor finou-se.
Se ganhas um papel e achas que ele te dá a posse, o domínio, a
propriedade do teu homem, já começaste a perdê-lo... Se quiseres
reacender um casamento, tens de ver se ainda és capaz de te encantares pelo
teu homem, se restou algum amor no coração. Se não o tens é porque o
casamento é burocrático e crianças não merecem pais burocráticos!
Eu sempre te quis dar ao teu pai desde que ele prometeu encher-me
a barriguinha ao nos conhecermos, mas teria de ser o seu grande prêmio por
me amar tanto. É verdade. Tu tinhas de ser um prêmio, não uma prisão. Ele
também só te admitiu quando teve certeza de que a nossa união estava mais
do que consolidada, de que eu jamais me esfumaria de sua vida e de que tu
serias uma dádiva para amar, não uma prisão para odiar, não um estorvo
que comprometesse nossos planos ou os meus estudos...
Na verdade o nosso amor nunca teve estágios depressivos, foi só um
momento de ciúme atroz em que, verde de raiva, lhe disse coisas horríveis
e que teu pai tirou de letra.
No mais ele sempre gozava as minhas crises de ciúme, meras tolices,
beijando o meu biquinho amuado e meus olhos inundados e restaurando-me
a razão.
Mesmo quando se quer muito, os primeiros anos de uma criança são
sempre difíceis: temos de estar preparados para grandes sacrifícios e noites
indormidas, porque elas não escolhem hora para cagar e berrar... Em
“Mônica e o Desejo”, Ingmar Bergman mostra bem o que um bebê pode
fazer com um casamento em que não haja amor, mas apenas desejo, ainda
que intenso.
Karina riu, apertou a mãe ao peito e suspirou compungida:
─ Tu deves ter razão. É por isso que a vida de Heleninha é uma
desgraceira, enquanto a minha é só felicidade...
─ Fazer um filho é um ato sublime e só pode ser um elo a reforçar
uma união sólida, nunca um remendo numa relação partida. Tu és o que

122
sempre desejei tanto: a integração do meu corpo com o corpo do teu pai. Tu
és nossos corpos num só: carne gerada da carne dele na minha carne. E
havia o meu sangue, o sangue do meu coração, correndo no teu corpinho,
alimentando-te, dando-te a vida.
Apesar do desconforto e mau humor que me causava, eu amei cada
enjoo: “são traquinagens do meu bebê”; cada centímetro a mais na minha
barriguinha: “é o meu bebê crescendo”; cada beijo, cada afago do teu pai,
brincando: “Oh, da barriguinha! Eu te amo muito e estou preparando meu
coração para te receber, com alegria, amor e carinho”.
Eu suportava o desconforto porque tinha certeza que em chegando
teu pai mudaria tudo. E mudava: o sorriso entrava e me envolvia num
abraço perguntando: “Oi, amor, como estão minhas crianças, uma dentro da
outra para que eu as abrace e as beije com um só abraço e um só beijo”? Eu
ficava só alegria! E quando ele se enfiava por baixo do meu vestido,
lambendo-me, mordendo-me, sugando-me, eu era invadida pelos desejos e
em frenesi eu me antecipava, desabotoando-me toda e arrancando as roupas
para entregar-lhe minha nudez para os seus afagos, enquanto eu lhe
arrancava as vestes e também o envolvia com afagos, lambidas, mordidas e
sugadas. Era uma fome de devorar-nos um ao outro como dois canibais do
amor...
E ele te pedia licença para irmos ao amor. Afagava-te e beijava-te
na minha barriguinha e dizia com elevo, fazendo-me rir: “Oh, da
barriguinha! Dá licença que eu vou comer a tua mamãezinha, ela é tua
mamãe eu sei, mas eu a vi primeiro. Por que vou comê-la? Ora, eu sou um
lobo esfomeado por ela e a tua mãezinha é uma ovelhinha linda, fofinha e
macia, uma delícia que nem o barrigão que tu estás deitando nela a torna
menos apetitosa. Oh, da barriguinha, mergulhar nela é como mergulhar numa
banheira de delícias... Ah, tu sabes, tu também estás mergulhado inteirinho
nessa banheira de delícias, enquanto eu, pobre de mim, só mergulho uma
pequena parte de mim que ela diz – ele ria – ser grande o bastante. Mas se
sentires tudo balançar forte é porque estamos nos amando para embalar-te e
fazer a felicidade da tua mãezinha. Podes sossegar, seremos três amores
eternos mesmo quando não fores uma criança dentro da outra. Não te
apresses, mas quando sentires um empurrãozinho, vem para o aconchego
dos nossos braços. Tua mamãe terá duas mamas cheinhas para te fartar”.
Quando soubemos que tu serias menina ele ficou tão embevecido!
Ele afagava-te e beijava-te na minha barrigona: “Nós estamos aflitos para
ver tua carinha, mas não precisas te apressares. Prepara-te até ficares
completa e perfeita. Não descuida da tua aparência para chegares muito
linda. – Ria – Tu podes ir aprendendo: as mulheres passam metade da vida

123
cuidando da aparência e tu podes ser como a tua mãezinha que se melhorar
estraga. Tu podes nascer como ela: com tudo belo. Não sejas tola, pega
esse verde lindo que está nos olhinhos da mamãe e enfeita com ele os teus
olhinhos e não deixes de roubar-lhe aquele sorriso mais lindo e pô-lo no teu
rostinho. Eu te quero tão linda quanto ela. Quero-te tão linda quanto a mais
esplendorosa aurora, porque tu serás o segundo alvorecer da minha vida
como tua mamãe foi o primeiro”. E, nos últimos meses, quando tu o
chutavas ele ficava todo derretido: “a minha filhinha está-me fazendo
carinhos”...
Eu ficava tão emocionada. Às vezes eu não sabia se ele realmente
falava contigo ou me elogiava. Acho que eram as duas coisas. Eu ficava tão
feliz que lhe apertava a cabeça no seio e o beijava com paixão...
Karina sorriu embevecida:
─ Aí ele tinha de me pedir licença para ir ao amor na minha
mamãezinha para embalar-me!
Aline acenou com a cabeça:
─ É. A expectativa da tua chegada nos deixava numa felicidade tão
grande que vivíamos ao sabor das emoções... Às vezes dava-me uma ponta
de ciúme: Ele parecia ter coração só para ti... Mas era tolice minha e eu
logo me arrependia. Ele juntara-te a mim, no altar do seu coração e nós
éramos uma criança dentro da outra... Acho que tu amavas estar na minha
barrigona porque resististe até o último minuto dos nove meses e só saíste
expulsa pelos hormônios. Só podia ser a expectativa dos nossos embalos de
amor. Tu nunca estiveras tanto tempo sem eles. Eles faziam a nossa
felicidade. E Deus também amava o teu desenvolvimento porque me cobria
de alegria.
Quando tu nasceste ele andava nas nuvens. Quando choravas, ele
corria tirar-te a fralda e meter-te numa banheirinha de água morna e vinha
todo orgulhoso colocar-te no meu seio.
Quando te fartavas, pegava-te no colo para brincar e ficava
embevecido a admirar-te. Empolgava-se com a força com que lhe seguravas
um dedo, afagava-te, massageava-te e perguntava todo orgulhoso: minha
filhinha não é a coisinha mais linda e fofinha deste mundo? Ele também era
bobinho de amor por ti e ficava bobão quando via sorrir os teus olhinhos
verdes como os meus.
Aline deu uma gargalhada e Karina, que estava profundamente
emocionada, quis saber do que ria. Aline, sem poder conter-se, respondeu-
lhe com toda a meiguice:
─ Um dia, quando te trazia de aviãozinho para aterrissares no meu
seio, ele disse: “Xi, amor, ela cagou tanto que deve estar completamente

124
vazia e vai sugar-te até secar-te. Não sou só eu que gosto de te sugar os
peitos. Eles são o maior playground dessa safadinha”!
Eu ri e lhe disse que havia leite bastante para ambos e ofereci-lhe o
seio livre. Eu tinha leite de sobra e tinha de tirá-lo com bomba. Depois eu
passei a doar as sobras, mas deslumbrei-me com a possibilidade de ter os
dois mamando nos meus seios. Ele pôs-se a sugá-lo e a puxar-te pelas
perninhas. Tu resmungavas, mas não largavas do seio. Eu ralhava e ele
apertava-me o seio fazendo-o esguichar na boca. Ah, filhinha, ele foi
sempre amor, carinho e bom humor: trouxe a felicidade à minha vida, uma
felicidade que eu rezo todos os dias para que jamais acabe.
Karina disse-lhe muito séria:
─ Apesar do teu ciúme tu sempre o amaste muito como ele merecia,
mas eu... eu estou me perguntando se sempre lhe dei o amor que merece um
pai tão extremoso.
─ Claro que sim! O amor é pura espontaneidade e, principalmente
quando somos amados, o damos sem perceber. Tu és louquinha pelo teu pai.
No teu primeiro ano ele já brincava contigo de aviãozinho e de montanha
russa: erguia-te lá em cima e te descia quase até o chão descrevendo uma
elipse como uma descida na montanha russa. Tu rias e batias palmas. À
medida que tu crescias, ele aumentava a velocidade da descida. A tua
empolgação o deixava louquinho. Aos dois anos, ele também te fazia dar
cambalhotas. Fazia-te curvares de frente para ele e pores as mãos entre as
pernas e puxava-te pelas mãos. Tu ficavas numa alegria... Também te
segurava pelas mãos e fazia-te girar em torno dele, no ar, aproveitando a
força centrífuga. Tu eras fascinada por ele.
Ela sorria embevecida:
─ Eu me lembro de quando tinha três, quatro ou cinco anos. Eu o
fazia repetir até deixá-lo exausto. Eu sempre o vi como um super-homem e
não entendia – riu – como ele podia se cansar.
─ Eu sempre o amei muito, acho que além da capacidade do meu
coração, mas me sinto endividada. Cuida-te para não cometeres os mesmos
erros que eu. As maiores dores que carrego comigo é não ter podido lhe
oferecer a minha virgindade e a minha certeza na sua lealdade. Ele as
merecia. Como ele as merecia!
Meus namorados foram tão falsos que destruíram a confiança
inocente que eu tinha nos homens. Eu os julgava tão honestos e sinceros
quanto eu. E eu nada mais tinha a fazer do que escolher um palminho de
rosto lindo que me encantasse. Ledo engano. Eles eram só falsidade! E, por
mais provas que teu pai me dava de ter um coração terno e leal, eu não
conseguia evitar as mais tolas cenas de ciúme.

125
Ele vivia dizendo que eu me subestimava e tinha razão. Eu me sentia
tão diminuída que cuidava que ele pudesse me trocar por qualquer rabo de
saia bonitinho que encontrasse. E ele me amava tanto, um amor tão imenso
que me penetrava fundo no corpo, na alma, na mente e no coração.
Eu o via completamente bobo de amor por mim. Totalmente
envolvido, cantava em prosa e verso a minha beleza, a minha inteligência, a
minha cultura, a minha meiguice, a maciez do meu corpo e da minha alma, a
fascinação que sentia por mim. Eram tantas declarações de amor, tantas
cantadas, tantos elogios, tanto amor me envolvendo e me penetrando que eu
ficava em completo deslumbramento, mas não conseguiam apagar o mal que
aqueles machões estúpidos haviam deitado no meu coração.
Karina estava suspensa, mal respirava, absorvia cada palavra com
amor e respeito. Comentou:
─ Papai tem caráter e nobreza exemplares, não é?
─ Para mim é o caráter mais leal e digno que se pode encontrar. –
Sorriu e disse muito séria, com os olhos úmidos. – Se queres mesmo saber,
amiguinha querida, ele é leal e digno até para fazer sexo, é o oposto do
egoísta: visa ao prazer da fêmea só me fazendo amor. O seu “egoísmo” está
em ver o gozo e a felicidade no rostinho da fêmea.

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Capítulo XV – AMOR É A FELICIDADE DE ESTAR JUNTOS

Karina rira bastante e se emocionara. Com os olhinhos úmidos,


abraçou e beijou a mãe com amor e ficaram muito tempo abraçadas curtindo
as emoções. Quando me viu chegar, correu ao meu encontro e pulou no meu
pescoço apertando-me os flancos com as pernas e cobriu-me de beijos,
álacre como a mãe nos seus momentos mais efusivos. Surpreso com
tamanha efusão perguntei-lhe:
─ O que é que aconteceu com a minha menininha linda para ficar tão
eufórica – sorri – e tão carinhosa?
Ela respondeu-me entre beijos:
─ Eu estava com muita saudade de ti e preparei meu coraçãozinho
para receber-te com alegria, amor e carinho como tu fizeste para me
receber da barriguinha da mamãe.
Brinquei:
─ Vejo que a tua mãezinha andou fofocando sobre as minhas
infantilidades...
─ Não eram infantilidades, não! Era amor. Muito amor que te levava
a brincares comigo mesmo quando eu nem bebê era. Era apenas...
─ Uma promessa de vida, uma promessa de felicidade... A
promessa de um novo alvorecer na minha vida, e que lindo alvorecer... E eu
nem falo da tua beleza que a gente vê. Falo da beleza que a gente sente com
o coração, da beleza que está no teu coraçãozinho e nessa cabecinha linda.
Entre beijos, ela disse:
─ Viste como era amor? Vocês me amam desde muito antes de me
conceberem e tu, desde que buscavas pela mamãe e querias uma barriguinha
limpa e saudável para me gerares. Eu sempre estive nos teus horizontes
mais belos...
Eu estava muito emocionado e exclamei:
─ Como é que eu fui capaz de fazer uma menininha tão linda, tão
meiga e tão inteligente!
Apertando-me no seu abraço, ela me respondeu num muxoxo de
meiguice:

127
─ Isso eu sei te dizer: tu me concebeste, me amaste e me educaste
com o amor do teu coração e a sabedoria dessa cabeça maravilhosa. Não
nos é dado escolher nossos pais, mas se fosse possível eu teria escolhido
vocês dentre todos os pais do mundo!
Eu disse rindo à Aline:
─ Tua filha quer matar-me de emoção. Que é que eu faço para
desgrudá-la do meu pescoço?
De olhinhos úmidos, Karina foi enfática:
─ Só quando tu me fartares de beijos!
Eu retruquei-lhe sorrindo:
─ Isso é nunca, mas não te esqueças de guardar um pouquinho de
desejo no coração. Vou querer ver essa alegria todos os dias.
─ Escassear desejo de te amar no coração é nunca! Posso pedir-te
uma coisa?
─ Não é uma daquelas duas estrelas lá no céu que brilham como os
teus olhinhos?
Ela riu:
─ Não... Eu me contento em vê-las me sorrirem lá do céu como um
reflexo dos meus olhinhos ou dos da mamãe. Se uma delas desaparecesse –
riu – o céu ficaria caolho e não teria a mesma graça, se não tu terias de me
trazer ao menos uma.
─ Acho que é isso que me faz amar vê-las. Elas também me
lembram os pares de olhos que mais amo. Mas o que é que a minha
menininha quer?
─ Eu estou com muita saudade do tempo em que tu viravas criança
para brincares comigo. – Riu – Era delicioso! – Cobriu-me de beijos – Faz-
me uma montanha russa?
Eu brinquei:
─ E essa menininha não acha que já está muito grande e pesada para
brincar de montanha russa?
Ela riu e deu-me mais beijos:
─ Não para o meu super paizinho.
─ Desculpa, mas seria uma grande irresponsabilidade e poderíamos
ser castigados pela vida. Tu já estás muito maior e pesada do que aquela
menininha de cinco anos e eu teria de erguer-te e descer-te com a coluna
meio curvada o que provavelmente causaria um acidente, mas eu vou
compensar-te com uma brincadeirinha que tua mãe adora. Vê como é que tu
gostas mais:
Peguei-a pelos quadris e ergui-a lentamente até onde os braços
alcançavam e desci-a também lentamente e, em seguida num impulso forte,

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ergui-a no limite dos braços e deixei-a cair a toda velocidade detendo-a
abruptamente no meio da queda, beijei-a e a pousei suavemente no chão.
Ela gritou rindo com o friozinho na barriga. Disse com alacridade infantil:
─ As duas são muito boas, mas essa a toda velocidade é fantástica,
super paizinho, é deliciosa! Eu te amo muito.
─ Isso tu não precisas dizer.
─ Por quê?
─ Quando somos amados de verdade nós sempre sabemos.
─ Então a mamãe estava certa!
─ Tua mãe é sábia e tens muito que aprender com ela até que
também sejas sábia e encantes as pessoas ao te ouvirem. Então tu
encantarás um homem sábio que também te encantará e vocês unirão suas
vidas alegremente ao encontro da felicidade plena...
Ela sorriu lindo, lindo:
─ É uma profecia, paizinho?
─ É a vida, minha querida. Pessoas sábias, tanto quanto as pessoas
comuns, têm necessidade de procurar umas pelas outras para fazerem
amizades interessantes, para namorarem, para casarem... Tu não estás
transformando tuas amiguinhas em sábias ensinando-lhes tudo o que
aprendes? Se elas não evoluíssem contigo tu te aborrecerias com elas. Tu
conhecerás muitas pessoas sábias. Um dia tu te encantarás por alguém que
se encantará por ti. Então é só ver se as químicas se atraem e se há ternura a
consolidar a atração... Se a atração for muito forte e a ternura for suficiente
– ri – nunca mais te livrarás do teu sábio.
Ela riu:
─ Como tu e mamãe?
Eu brinquei:
─ É... Vê se aquela cadelinha me larga. Está sempre me lambendo...
todinho... todinho mesmo... – ri – e eu a ela... As nossas químicas são das
brabas!
Karina mijou-se de rir. Eu continuei meio sério, meio brincalhão:
─ Foi amor à primeira lambida. Estávamos tão enternecidos que,
quando lhe dei uma lambidinha nos lábios, nossas ligações químicas se
atracaram com tanta força que nunca mais nos livramos um do outro. Eu
fiquei aflito para levá-la para casa e ela estava aflita para me seguir. Eu
fiquei aflito ao aproximar-se a hora de separar-nos e ela também. Eu fiquei
aflito ao ter de entregá-la a tua avó e ela também. Eu pensei: “o jeito é
cantar a velha para raptar a nova”. Eu fiz tantos elogios à velhota que ela
caiu na minha lábia e me entregou tua mãe de presente para fartar-me de
amor, numa festa de delícias até eu adormecer no seu seio.

129
Mas antes olhei aquele rostinho encantador: era só alegria! Então
me entreguei aos seus afagos, pensando: “Caramba, consegui uma mulher
para a vida toda. Ainda bem que ela é linda à beça e tem calor e doçura
para alimentar a chama da minha paixão para sempre por mais que eu
viva”...
Karina sorria enlevada, mas disse-me com ar de censura:
─ Ah, papai, com a mamãe tu brincaste carinhoso, mas com a vovó
não. E tu adoras a vovó.
─ Quem te disse?
─ Ninguém! Mas eu sempre te vi tratá-la com muito amor e sempre
falas dela com muito carinho. Tu a amas!
Eu ri:
─ Viste como ninguém consegue esconder o amor que sente?
Ela sorriu deslumbrada com a constatação.
─ Todos nós nos amamos e se, muitas vezes, não percebemos é
porque o amor é um sentimento muito espontâneo e independe de nossa
vontade. Ninguém ama porque quer e, não raro, ama até sem querer. Ama
porque é atraído pela pessoa amada, pelo afeto, pelo carinho, pela
dedicação, pela atenção que encontramos nela. Esse é o mais belo mistério
do amor e o mais deslindável. Basta um tiquinho de atenção a quem
amamos.
Há amores especiais como o dos casais em que o amor é temperado
e intensificado pela paixão. Há o amor entre pais e filhos e entre avós e
netos: Por que amamos tanto essas criaturinhas meigas? Porque elas
dependem de nós para serem, para crescerem, para aprenderem e são seres
tão fofinhos! Por que amas tanto o teu ursinho se ele nem depende de ti, não
é meigo contigo e nem é cria tua?
─ Mas ele é fofinho e foste tu que me deste.
─ E tu és fofinha e meiga e eu te ganhei de Deus e da tua mãezinha e
nasceste de mim e dependes de mim e eu dependo do teu sorriso e dos teus
beijinhos e do teu abraço fofinho cheio de amor para ser feliz. – Brinquei –
Sabes que eu não te amo?
Ela atracou-se no meu pescoço, com seu sorriso lindo:
─ Isso não adianta tu dizeres. Eu sou mesmo é muito sortuda!
─ E eu não sou sortudo em ganhar tanta meiguice? Acho que não,
filhinha. Tu podes ter tido sorte no sorteio divino ou na corrida dos
espermatozoides, mas uma criaturinha como tu não ganhamos no bingo. Tu
és fruto do amor, do carinho, da atenção, da dedicação e do acerto na
educação que te damos. Nós te merecemos.
Ela riu:

130
─ Eu sou mesmo é muito sortuda! Tenho de agradecer a Deus e
àquele espermatozoide valente que ganhou a corrida pelo óvulo da mamãe.
─ Tu também és valente, e terás feitos gloriosos. Sobre mim e tua
mãe, eu queria ressaltar que o que nos prendeu completamente foi a ternura
dos nossos corações. Funcionou como uma trava e um lubrificante na nossa
união e nos aflige à mera expectativa de separação. Sem a ternura a
lubrificar a união, ainda que a atração seja muito forte, os elos se desgastam
e se partem ao primeiro sacolejo...
─ Por que a união se desgasta se não houver ternura?
─ Porque sem ternura não há o que sublimar em amor e, sem amor,
por mais forte que seja a paixão, o casal tende a ranhetices, cobranças,
chiliques, amuos, ironias, desamor... Quem suporta? Antes que
perguntes deixa eu te dizer: amor é a felicidade de estar junto, a alegria do
eterno retorno.
─ É lindo!
─ O amor é o que há de belo e não tem alternativa: é aconchego
carinhoso e meninos empolgados. O resto é burocracia sexual. Se fizermos
tudo certo, se testarmos a sabedoria que há de completar-nos a existência, a
química da atração e a ternura que amacia a união, não há por que dar
errado. É só estarmos atentos para não cometermos erros.
─ E a paixão?
─ Paixão é quando meninos empolgados ficam maluquinhos para se
comerem. Como disse Baudelaire, quem ama tem necessidade de comer o
ser amado. A paixão é o instrumento do amor. É com ela que comemos o ser
amado até nos fartarmos de amor.
O que queremos é que aprendas naturalmente as coisas importantes
da vida para não teres de aprendê-las quebrando essa carinha linda. É
importante aprendermos com os erros que cometemos, mas aprender sem
quebrar a cara, com sabedoria e com os erros e acertos dos outros é muito
melhor. Prevenimos tantos dissabores, tantos sofrimentos! E se tomamos
deliberadamente, por equívoco ou por tolice, o caminho errado, temos de
saber o que nos espera lá adiante onde a vista não alcança, para enfrentar
os revezes e os embates da vida e pensarmos as feridas que certamente
existirão...
─ Como a mamãe!
─ É. Ela era inteligente, mas não tinha sabedoria bastante para
discernir entre o caminho certo e o errado, para inquirir as verdadeiras
intenções do pretendido e se havia nobreza e honradez no seu caráter. Teve
de aprender duramente com os próprios erros. É o que queremos evitar que
aconteça contigo. Nós iluminaremos os teus caminhos para que enxergues lá

131
muito ao longe até onde a vista não alcança e possas escolher o caminho
que mais se afeiçoe ao teu saber, à tua ternura e à vida que queres para ti.
Ela abraçou-me muito apertado, exclamando:
─ Vocês são os melhores pais do mundo!
Sorri:
─ Isso tu também não precisas dizer. Não é à toa que temos a melhor
filha do mundo e que é o nosso maior orgulho.
Ela respondeu-me com seu sorriso mais lindo:
─ Eu também tenho muito orgulho de vocês, mas é diferente. Vocês
têm orgulho de terem feito uma menina que dizem ser maravilhosa e eu... eu
tenho orgulho de ser filha de vocês, o que não é pouca coisa, mas não é
mérito meu, não é um feito meu. Eu apenas fui sortuda, não é?
─ Tu estás sempre me surpreendendo. O que mais me fascina em ti é
que sempre me transformei em criança para brincar contigo, para falar
contigo, e tu sempre falas comigo como uma pessoa grande... Verdadeira
como só as crianças o são, mas de sabedoria adulta. Fazes juízos de valor.
É o resultado do muito que lês, eu sei, e é o que me faz falar-te em
linguagem adulta. Tu estás certa no teu juízo, mas estás esquecendo algo
muito importante. Tu és apenas uma criança e a infância são vários períodos
de formação e aprendizagem que inclui a puberdade em que tu ainda nem
entraste.
Tu és uma excelente aprendiz, o que já seria motivo de orgulho, mas
tu tens uma obra verdadeiramente fantástica: além dos teus feitos
maravilhosos aos três anos, ensinaste, e sei que ainda ensinas, tudo o que
aprendeste e aprendes aos teus amiguinhos e amiguinhas e, se queres saber,
acho que o Dr. Bruno nunca acreditou que foste tu que ensinaste o Bubu
mas, no lugar dele, nem eu acreditaria. Tu estás mudando a vida de teus
amiguinhos e amiguinhas dando-lhes conhecimentos culturais e lições de
vida que não teriam sem ti e mudaste o modo de ser do Dr. Bruno em
relação ao Bubu. Ainda queres mais de que te orgulhar?
Além de seres uma aprendiz maravilhosa, és mestra de verdade.
Muitas vezes me pergunto se não te fiz amadurecer rápido demais. O que
me sossega o espírito é que tu fazes tudo brincando. Tudo é brincadeira que
te deleita e te empolga. Tu brincas com coisas sérias. Uma criança de três
anos ensinar outras crianças da mesma idade a ler, escrever, dançar e tocar
piano é coisa muito séria e de que podes ter orgulho legítimo, aquele
orgulho que faz bem à alma e ao coração porque nos dá a certeza, não de
que somos melhores do que os outros, mas de que somos capazes, somos
úteis, podemos fazer ou produzir coisas boas e grandiosas...
O meu orgulho não é por ter-te gerado, isso me dá alegria muito

132
grande. O meu orgulho é do teu aproveitamento de tudo o que te ensinamos
e dos teus feitos realmente grandiosos e admiráveis. É por seres inteligente,
meiga, dedicada, atenciosa, carinhosa, por levares a cabo todos os teus
intentos e por saber que uma criança assim não nasce do acaso. Vês como
todos temos motivos legítimos de orgulho? Eu e tua mãe, pelo sucesso de te
educarmos da maneira mais correta e criativa e tu por aprenderes,
desenvolveres e aplicares o que aprendes.
Que sorriso! Que abraço! Que beijo!... Apertei-a ao peito,
afagando-lhe a cabeça:
─ Nós sempre nos amaremos muito, não é?
─ É, papai, sei que a minha responsabilidade para com vocês é
muito grande. Não posso decepcioná-los.
─ Estou-te dando uma responsabilidade demasiado grande: fazer-
me feliz. Eu não suportaria ver a tristeza nesse rostinho; choro, nem pensar!
Nós cuidamos de ti para que a vida não te castigasse com a tua ajuda
inestimável. A tua ajuda será cada vez mais imprescindível para que
possamos te orientar para alcançares todos os teus objetivos, livre de erros
e castigos. A cada dia, dependerás mais de ti mesma para manteres o teu
rostinho risonho.
Tu tens a inteligência, nós te daremos o conhecimento e a sabedoria
para que decidas com segurança... E bota nessa cabecinha linda de morrer
que tu não és menina de decepcionar ninguém. Ao contrário, só nos darás
orgulho dos teus feitos, e de tuas realizações.
Quando ela se levantou para ir ter com a mãe para ajudá-la em seus
afazeres, eu lhe disse:
─ Quero fazer-te um pedido.
Ela riu e brincou:
─ Não é para trazer-te aquelas duas estrelas mais brilhantes, ou é?
─ Não... Eu já as tenho ao alcance de um beijo.
Ela sorriu fascinante para que eu lhe beijasse os olhos e disse:
─ Então me ordena, papai. Como a mamãe, eu só cumpro ordens
tuas.
Ri:
─ Pois é mesmo uma ordem. Vai perguntar à mamãe e ao Ric se eles
querem ir conosco ao parque de diversões amanhã para brincarmos na
montanha russa e em tudo mais que deleite a minha menininha. – Sorri –
Quero ver esses olhinhos muito alegres.
Ela atracou-se no meu pescoço com um sorriso feliz em meio a uma
alacridade irresistível... Ia sair correndo, mas voltou:
─ Papai, por que tu nunca dás uma ordem? Quando formulas uma é,

133
na verdade, uma brincadeira ou um presente maravilhoso.
─ Porque eu não sou teu dono! Sou teu pai e teu amigo: sempre
brincamos juntos, vamos juntos ao teatro, ao cinema, ao parque de
diversões, respondo tuas perguntas, ensino-te sobre os perigos e as coisas
boas da vida... É por tudo isso que me tens um grande respeito, me amas,
me admiras, me és leal; tens teu coraçãozinho sempre aberto para me
contares tuas dúvidas, teus problemas, tuas aflições, teus sonhos; nunca
mentes, nem fazes desaforos nem maldades; nunca escondeste um malfeito.
Eu tenho um bruto orgulho de ti. Maior, só mesmo o amor que te
dedico. Ao gerar-te, ao dar-te a vida, eu entendi que estava dando um
presente para mim mesmo, um presente maravilhoso. Tu serias o meu
presente mais amado, para amar, adorar e querer para a vida toda porque eu
queria o teu amor e estava decidido a fazer de ti uma cidadã sábia,
determinada, capaz de liderar e dirigir tua vida desde muito cedo com
determinação e sabedoria.
E, principalmente, porque somente indivíduos pequenos, tolos e
mesquinhos é que se empenham em exercer o poder de mando sobre seus
semelhantes, exigindo respeito, obediência e submissão pelo medo, pois só
assim se sentem “importantões”.
Mas respeito de fato a gente conquista, jamais impõe. O que os
“mandões” conseguem do submetido é a aversão, o ódio, o desprezo e o
distanciamento que merecem, ainda que disfarçados pelo medo e pela
submissão. E o submetido vai aprender a mentir, dissimular, fazer
escondido, esconder os malfeitos, podendo vir a ser um dos nossos
políticos corruptos e fementidos, bandido ou uma pessoa com desvios
morais e de conduta.
Tu me tens um grande respeito não porque tenhas medo de mim, mas
porque me tens estima, admiração, confiança, amizade, amor e sabes que eu
só quero o melhor para ti e porque eu sempre te respeitei e respeito a tua
inteligência, respondendo a todas as tuas perguntas e estimulando o teu
aprendizado e tu adoras aprender como qualquer criança bem orientada. Tu
me estimas porque eu te estimo, te dou atenção e carinho. Tu me admiras
porque aprendes comigo tudo o que queres saber e me julgas um sábio. Tu
tens confiança em mim, porque nunca me pegaste numa mentira e encontras
apoio dedicado em mim para todos os teus intentos. Tu me tens amizade
porque eu sempre fui teu amigo e o pacto tornou-nos amigos para sempre.
Tu me amas porque eu te amo com carinho extremo e tu sentes o meu amor
em cada palavra e cada ato para contigo.
Nós possuímos coisas, plantas e bichos, não seres humanos. Estes
têm de ser tratados com amizade, com afeto e com dignidade porque são

134
seres racionais como nós, ainda que eventualmente lhes falte crescimento e
aprendizado ou sejam nossos subalternos. Quando digo: “tu és minha filha”
não significa que eu sou teu dono, mas que tu nasceste de mim. E,
definitivamente: respeito é admiração que se conquista, não é medo que se
impõe!
Se eu tivesse de te dar uma ordem taxativa ou um castigo, eu sentiria
muita vergonha. Seria a prova cabal de que eu não teria te dado amor
bastante e teria fracassado completamente na sagrada missão de te educar.
Para certas pessoas parece tão difícil ensinar em vez de mandar. Exercitar o
amor em vez de exercer o poder. Por quê!
Ela sorriu-me e abraçou-me:
─ Eu sou mesmo muito sortuda! Deixa-me ser redundante contigo:
eu te amo, te amo, te amo, te amo, te amo muito, muito, muito...
Ao sair correndo, detive-a:
─ Sobre tudo, o mandonismo é uma bruta tolice. Queres ver? O que
tu dirias se eu te dissesse que estou com sede?
Ela sorriu:
─ É para já!
Saiu ventando e num átimo estava de volta com um copo de água
gelada.
─ És muito gentil, queridinha! Tu falas-te com a mamãe e o Ric?
─ Isso tem tempo. Antes de tudo estás tu.
Sorri-lhe:
─ Igualzinha à tua mãe, mas e se eu tivesse te dado uma ordem, tu
terias sido tão expedita?
─ Claro! Pelo meu paizinho, tudo!
─ Porque somos amigos verdadeiros e eu bem sei que, como a
mamãe, tu procuras retribuir-me em dobro tudo o que faço por ti. Mas e se
eu fosse um pai chato, daqueles que não ensinam nada e castigam os filhos
porque não os educam convenientemente, e vivem dando ordens como se os
filhos fossem animaizinhos irracionais?
Ela franziu o cenho, interrogativa, e eu lhe disse:
─ Não precisas responder nem queimar teus fosfatos, porque o
único castigo que te dou é este:
Estreitei-a nos braços e cobri-lhe a face de beijos.
─ Esse é o teu castigo por me amares demais. – Ri – Até por
malandragem, deveríamos ser amáveis com qualquer ser humano, quanto
mais com o cônjuge e com os filhos! Sabes por que é muito gostoso ser teu
pai?
Ela sorriu e perguntou por quê.

135
─ Eu não tenho de te castigar nem de te dar ordens, – Ri – Não
preciso nem te pedir. Eu não te pedi a água, mas tu a buscaste rapidinho e
com muito amor. Eu só tenho de te amar e amar é o melhor da vida.
Ela sorriu encantada:
─ E tu sabes por que é tão gostoso ser tua filha?
─ Sei. Mas quero ouvir de ti.
─ Porque eu nunca precisei fazer maldades nem desaforos para
chamar tua atenção como fazia o Bubu e fazem minhas colegas da escola. Tu
és o paizinho mais atencioso e amoroso do mundo.
─ Resumindo: é o amor. Tu tens os genes do amor muito
desenvolvidos, enormes, e crescem mais a cada dia e o melhor é que o
crescimento desses genes benditos é obra minha e da mamãe. São fruto do
amor que te damos desde que tu eras apenas um desejo de conceber-te. Ah,
filhinha, não há dinheiro no mundo que possa comprar esse sorriso e esses
bracinhos fofos envolvendo-me o pescoço.
Ela apertou os bracinhos fofos e perguntou:
─ A tua filha sortuda pode ir falar com a mamãe e o Ric ou tu tens
mais algum desejo que possa render-me mais abraços e beijos?
Ri:
─ Tenho, sim! Tenho uma ordem: antes de ir, tu tens de me dar um
sorrisão lindo para alegrar o meu coração... Essa é uma ordem para toda a
vida.

Capítulo XVI – O PODER

Na primeira oportunidade, Karina cobrou a continuidade da parte


teórica. Aline ajeitou-se no sofá. A narrativa seria longa:
─ No dia seguinte à descoberta da chave do nosso enigma,
estávamos recapitulando a História Universal, com espírito crítico e lendo
nas entrelinhas, em busca desse atavismo e, estarrecidos, percebemos que é
a história do imperialismo e do poder a qualquer preço. Na raiz de tudo
está o roubo e a expansão territorial, à custa dos povos mais pacíficos. Vou
apenas relacionar os fatos já que tu és excelente aluna de História.
Numa síntese da História do Mundo, há dez ou doze mil anos os
mais fortes impuseram-se aos que não tinham poder de se impor ou de se
defender: tornaram-se “os lobos do homem”. Intitularam-se “nobres” e
impuseram seu governo às pessoas sem poder, os comuns: plebeus.

136
Instituíram a escravidão a que eram submetidos os que não tinham meios de
sobreviver no ambiente leonino ou os endividados.
Foram aperfeiçoando os meios de submeter a plebe: inventaram os
impostos, mas como impô-los aos plebeus? Recorreram ao seu grande
aliado: o medo e inventaram toda sorte de deuses e religiões para intimidar
e dominar os plebeus e forçá-los a pagar impostos ou dízimos. Todos os
povos tinham os seus deuses e suas obrigações para com o seu deus e seus
templos. Perceberás a perfeição a que chegaram se leres, inclusive nas
entrelinhas, o Êxodo de Moisés em que ele instituiu o sistema que,
praticamente, vige até hoje... Ele próprio institucionalizou a escravidão, o
despotismo e o imperialismo, tomando os reinos entre o Egito e o Rio
Eufrates, na Babilônia (hoje Iraque) e nobres e clero associaram-se na
governança, criando as teocracias.
As leis eram as regras que os governantes impunham ao povo, como
o código de Hamurabi, de quatro mil anos. Luiz XIV, de França, dizia: La
loi c’est moi (A lei sou eu). Esse sistema básico só se rompeu parcialmente
com a Revolução Francesa em que se estabeleceram as repúblicas e as
democracias com a separação entre Estado e clero, tudo ainda muito
precário porque os políticos, antigos nobres, estão sempre tentando destruir
a democracia para voltarem a roubar livremente o povo. Sempre que
ouvires alguém falando em controlar a imprensa está trabalhando para
destruir a democracia, por mais democrata que queira parecer.
A História do Universo geralmente é contada em tom mais ou menos
épico como uma louvação ao imperialismo e ao poder. Os historiadores
precisam mudar os seus conceitos. Tens um belo exemplo na invasão das
Gálias: Ao atravessar o rio Rubicão, Júlio César exclamou: “Alea jacta
est”! A sorte está lançada para quem, cara pálida? Para os gauleses, claro!
Eles foram dominados, mortos, saqueados, escravizados, anexados e
tiveram as mulheres e filhas estupradas. Por quê? Pela grandeza e pela
glória de Roma! Pelo “poder” de Roma. Pela ampliação de seu império. E
ainda há pais que batizam os filhos em sua homenagem!
A escravidão é o atributo hediondo da história da humanidade de
mais de dez mil anos e os três ou quatro últimos milênios são uma repetição
nauseabunda e enfadonha de relatos imperialistas como o referido acima.
Até na Bíblia há relatos imperialistas: há três mil e quinhentos anos, Moisés
com suas hordas de soldados-escravos apoderou-se de dez reinos entre o
“rio do Egito e o grande rio Eufrates” que teriam sido dados por Deus a
Abraão e sua descendência. O povo sempre foi brutalmente enganado.
O rei Xerxes da Pérsia foi derrotado pelos “300” de Esparta,
quando tentava conquistar as cidades gregas. Esse é um dos pouquíssimos

137
episódios realmente heroicos da História. A própria Grécia foi dominada
pela lábia sórdida e traiçoeira de Felipe da Macedônia, de nada lhe
valendo os 300 de Esparta.
Alexandre cortou o tal “nó górdio” e expandiu o império e o
“poder” da Macedônia. Rômulo e Remo mais um punhado de soldados
fundaram Roma e, como não tinham mulheres, convidaram os sabinos para
uma festa. Embebedaram-nos, raptaram-lhes as mulheres e as filhas e
estupraram-nas, obviamente para fazer romanos para integrar e comandar as
futuras legiões e, na condição de escravos, construírem pontes, aquedutos e
cloacas ou remarem nas galés. Parece absurdo? É! Mas também é a mais
pura verdade: a lei romana das doze tábuas rezava na tábua 5,2 que “O pai
tem direito de vida e de morte sobre seus filhos nascidos de casamento
legítimo, e o poder de vendê-los”.
Seguiu-se mais um milênio de invasões, assassinatos, saques,
estupros e escravização para submeter nações e mais nações ao poder de
Roma, até que foram, por sua vez, invadidos, assassinados, saqueados,
violentados e escravizados pelas hordas de bárbaros que tomaram o
Império Romano do Ocidente. E ironia das ironias: eles chamavam os
invasores de bárbaros!
O Império Otomano durou de 1299 a 1922, expandindo-se pela
Europa e norte da África até a Mauritânia. Seus habitantes, os mouros,
invadiram a Península Ibérica que submeteram por sete séculos. Os turcos
tomaram Constantinopla, antiga Bizâncio, em 1453, com a consequente
queda do Império Romano do Oriente.
A própria igreja, objetivando tornar-se muito poderosa, empenhou-
se em conquistas sanguinárias sob o pontificado de Júlio II, criando os
Estados da Igreja. Obviamente uma tentativa de restaurar o Império Romano
sob o domínio da igreja. Seguiram-se as Grandes Navegações que também
tiveram o seu quinhão de brutalidade culminando com a extinção de povos
como os Maias e a “epopeia” dos bandeirantes que ampliaram nossas
fronteiras à custa da matança de índios e escravização de meio milhão de
outros sobreviventes.
A “heroica” marcha para o Oeste dos pioneiros norte-americanos
foi precedida do general Custer que, com suas tropas e poderosas armas de
fogo, rifles e metralhadoras, “limpou” covardemente a região, aniquilando
as tribos de índios, chegando mesmo a exterminar tribos inteiras como a
dos Moicanos que se defendiam com flechas e machadinhas de pedra.
As Cruzadas que tinham como objetivo libertar os “lugares santos”
também nada fizeram além de saquear e violentar os povos por onde
cruzavam, além da própria Jerusalém: Quem estaria interessado em

138
governar um sepulcro vazio em meio a uma região árida? Na verdade, eram
endividados ávidos por enriquecer à custa de assassinatos, saques e
sevícias e voltarem ricos para seus países de origem a fim de recuperarem
seus status de cidadãos poderosos e respeitados.
A Inglaterra também foi à “luta” para construir o seu império:
Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália, China, Índia, Birmânia,
Tailândia... Napoleão Bonaparte acabou derrotado, graças a Deus! O
Império Russo ou soviético, eufemisticamente designado por “União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas” ou simplesmente União Soviética,
criado por Stalin em 1922, anexou quatorze estados à Rússia e se o
facinoroso ditador mais não tentou deveu-se à eclosão da Segunda Guerra
Mundial e ao surgimento da bomba atômica. A bomba foi a sandice maior
que poria termo a toda essa sandice milenar, pelo menos em escala mundial.
Isso porque numa guerra atômica não há vencedor. Ela leva
inexoravelmente à destruição do planeta. É claro que esses são os
principais impérios além de inúmeros outros como os de Átila e Genghis
Khan e ainda há muitos imperialismos miúdos como entre judeus e
palestinos, mas foi a bomba atômica que tolheu ou limitou os apetites pelo
maldito poder imperialista.
Hitler também tentou “construir” o seu império a partir de Alemanha
e Áustria e que redundou na Segunda Guerra Mundial em que ele acabou
derrotado. Não fora a bomba atômica, o mundo hoje estaria dividido, com
certeza, em dois, ou três vastos impérios como predissera George Orwell,
no livro “1984”, sob o domínio dos “Big Brothers” Stalin e Hitler ou seus
sucessores.
Modernamente, a exploração dos povos é feita pelo poder
econômico, talvez pior porque insidioso: os povos não percebem que são
explorados pelo poder estrangeiro.
Como eram essas sociedades? Em Atenas, a sociedade antiga mais
civilizada de todas ou talvez a única realmente civilizada e que foi o berço
da filosofia, das ciências e das artes, havia, no século V A.C., vinte mil
eupátridas (cidadãos) e duzentos mil escravos e estrangeiros (metecos). E a
constituição, “democrática”, de Péricles rezava que “as mulheres, os
estrangeiros e os escravos não são cidadãos”.
Mesmo não tendo se envolvido em guerras imperialistas, Atenas
tinha em torno de duzentos mil escravos! Cerca de dez para cada cidadão e
Atenas era a cidade mais civilizada do mundo. Como podes notar, o grosso
da população ateniense e mundial era de escravos. As sociedades se
dividiam em um punhado de cidadãos, mulheres, estrangeiros e o grosso da
população era de escravos. Como se tornavam escravos? Aprisionados em

139
guerras, por dívidas insolúveis, ou até vendidos ou escravizados pelo
próprio pai como autorizavam as leis.
Além da massa de prisioneiros escravizados nas guerras de
conquista, a lei romana das doze tábuas (3-9) dispunha que o cidadão
inadimplente seria entregue como escravo ao credor e, se fossem vários os
credores, ele seria esquartejado e dividido entre eles ou vendido.
O cidadão podia matar, roubar, estuprar, escravizar, inclusive os
próprios filhos, mas tornar-se inadimplente, nunca! Seria considerado fraco
para lutar pelo poder e glória de Roma e era esquartejado ou teria o seu
dono... Todos parecem cuidar que só os negros foram escravos. Ledo
engano. Desde que o homem perdeu o paraíso, há mais de dez mil anos,
com o surgimento dos poderosos e da agricultura, existiram escravos
brancos e negros e a escravidão está institucionalizada até na Bíblia: Os
judeus podiam vender filhos e filhas para a escravidão (Êxodo 21) e eles
próprios foram escravos durante quatrocentos anos no Egito. Mesmo no
Brasil, o abolicionista Luiz Gama foi vendido pelo pai aos dez anos de
idade e foi escravo até os dezessete. Em sã consciência ninguém, mesmo rei
ou imperador, pode afirmar que não tenha um ancestral escravo, ainda que
há mais de dez mil anos.
Como vez, a História da Humanidade é simplesmente a história
monstruosa da luta pelo poder, pelo imperialismo e também pela dominação
dos próprios súditos não importando o custo. E o preço é toda a sorte de
crimes hediondos, de assassinatos, roubos e anexação de Estados até
estupros e escravização, inclusive dos próprios filhos. Toda a lei admite
implicitamente que quem pode o mais pode o menos, logo o pai podia, não
só matar e escravizar, mas também violentar e estuprar filhos e filhas,
inclusive os legítimos, o que se vê por aí tão amiúde, sem se falar na
prostituição infantil e em mães que vendem as próprias filhas, ainda
crianças, à maneira dos romanos e dos hebreus (judeus), para a
prostituição. E se hebreus e romanos vendiam filhos e filhas, quem não o
fazia?
Só mesmo os embrutecidos pelo poder podem achar Júlio César um
épico, um herói... É, na verdade, ao lado de Xerxes, Napoleão Bonaparte,
Adolf Hitler, Josef Stalin e tantos outros indivíduos extremamente nefandos
e nefastos à humanidade, um dos mais vergonhosos infames da história.
A obsessão pelo poder a qualquer custo atingia a todos, senhores ou
escravos. Os senhores exerciam-no no governo, na política e no judiciário,
conforme o cargo que tinham, e sobre a esposa, os filhos e os escravos. Os
que não tinham capacidade jurídica exerciam-no apenas sobre esposa e
filhos...

140
O poder a qualquer custo é, portanto, a herança atávica, ou, mais
precisamente, a memória genética, que veio se consolidando de império em
império até os nossos dias e assola os povos modernos porque é intuído do
nosso inconsciente. É opróbrio e vergonha para o ser humano.
Só há cerca de duzentos anos se começou a proibir a escravidão na
Inglaterra e, no Brasil, há pouco mais de cento e vinte anos! Mais de dez
mil anos para os poderosos começarem a cair na real! Podes imaginar o
tamanho das pressões? E as religiões nunca se importaram com ela apesar
das teocracias. Prometem salvar a alma, mas que se dane o corpo! Será que
a alma tem melhor sorte? Entretanto, viver com um salário mínimo ou
menos como ocorre com uma vastíssima parte da população brasileira não
é escravidão? O poder não consegue livrar-se dela e sempre dá um jeitinho,
camuflando-a.
O que tudo isso tem a ver com o amor? É exatamente o seu oposto.
Os poderosos sempre trabalharam para matar o amor em proveito da
obsessão pelo poder, do imperialismo, da exploração do povo e dos povos
e da escravidão...

Além desses fatos históricos, passamos a analisar pessoas, nossas


experiências, fatos e ocorrências e chegamos à conclusão de que há dois
sentimentos que podem avassalar um ser humano: o amor e o poder. São
sentimentos antagônicos e, pelo que temos observado, são também
excludentes: quando um se sobrepõe ao outro, aniquila-o. Os obcecados por
poder são incapazes de amar e quem ama de fato não tem inclinação pelo
poder.
O amor tu conheces bem na forma fraternal, mas como tu já
aprendeste tem tudo a ver com a forma passional: esse sentimento
maravilhoso que nos enternece e faz com que abramos o coração para a
pessoa que amamos num ato de entrega, de enlevo d’alma que pode atingir
uma intensidade tal que pareça uma doença embora muito bem vinda: “o
mal de amor”. O poder é o seu oposto: “a obsessão pelo poder” pode
transformar-se numa doença maligna, um verdadeiro câncer do espírito, e
dominar o ser humano de forma mais intensa ainda do que o amor numa
brutal obsessão. Teu pai define-o como “mandonismo”: a doença de
mandar. Em suma: amor é amizade, dação, entrega: quem ama, se dá; poder
é apropriação, dominação, mando, opressão, corrupção, danação dos povos
e do mundo...
O mandão é obcecado por ter gente sob o seu comando, por dar
ordens, castigos, proibições... Tem que ter alguém para dominar, para
submeter, para comandar e até para judiar, torturar, e exige obediência,

141
submissão e respeito que ele obtém sempre pelo medo ou pela imposição,
nunca com simpatia, fraternidade ou amor.
Karina, que ouvia atentamente, observou:
─ Papai falou-me disso a respeito de pais que dão ordens e castigos
aos filhos como se fossem animaizinhos irracionais.
─ Eu sei, mas a questão é muito mais ampla. Além dos pais que
exercem o poder sobre os filhos de forma, muitas vezes, extremamente
opressiva, há maridos que o exercem sobre as esposas e até esposas que
mandam nos maridos. O pior é que a obsessão de ter o dominado sob seu
poder é tão avassaladora e irracional que faz com que o pai, a mãe ou o
marido e até a esposa acreditem piamente que amam o filho ou cônjuge
submetido. Ledo engano! É apenas e tão somente o apego que todo
donatário tem pelo objeto de sua posse, do dinheiro ao escravo, passando
pelos filhos, cônjuge, subalternos, vassalos, povo...
O dominado, inclusive filho ou cônjuge, não pode deixar de sentir a
opressão e não abre o coração para o dominador. Ele fecha-se em si e
desenvolve uma aversão surda, geralmente inconsciente, contra o
dominador, criando defesas como a mentira, a dissimulação, o fazer
escondido de tudo o que lhe é proibido – riu – e até os cornos originam-se
daí, especialmente quando o sexo é morno e, com obcecados, sempre é.
Se marido e mulher são ambos dominadores, se veem no parceiro,
ainda que inconscientemente, um espécime para manter sob seu poder,
batem-se de frente e o casamento pode não durar mais de três meses com
graves desgastes para ambos. Se só um é dominador, o outro se submete até
que um dia explode com as consequências possíveis, inclusive o divórcio.
Os filhos submetidos vivem oprimidos odiando, ainda que
inconscientemente, pai ou mãe opressores e criando suas defesas. Nós
concluímos que as expressões “pátrio poder” e “possuir”, no sentido de
transar, têm tudo a ver com o tal poder e nada de amor.
─ Papai disse que é dessas crianças que saem os políticos corruptos
e mentirosos, os bandidos e as pessoas com desvios morais e de conduta.
─ Com certeza! Esses educandos aprendem muito cedo a mentir,
dissimular, enganar, fazer escondido, esconder ou negar seus malfeitos. Daí
até furtar e roubar é um nada. Todos são fruto da memória genética e da
educação que recebem e se a educação é defeituosa e o educando não é
bastante inteligente e não tem um alto discernimento, vão vingar os maus
instintos. E então os pais vão arrancar os cabelos: “onde foi que eu errei”!
Esses dominadores são muito tolos porque, ao contrário do
mandonismo, o amor é tão nobre e sublime que nos dá a posse e o domínio
completo e absoluto do ser que cativamos pelo amor e que nunca pensamos

142
em possuir ou submeter. Papai me disse embevecido: “Jamais alguém
conseguiu submissão maior do que a tua por mim e vice-versa. Não é o que
sentes”?
Minha vida com ele passou pela minha mente como num filme à
altíssima velocidade e eu babava de gozo quando lhe respondi: “Com
certeza! Mas é bom demais ser possuída pelo Amor como só o Amor
possui. É verdadeiramente divino. Quando há o vice-versa a submissão é
pura volúpia. Pelo amor que tu me tens eu iria até o inferno se preciso fosse
para cumprir uma ordem que me desses”.
Eu estava de fato intrigada e perguntei-lhe: “Se o amor nos envolve
tão completamente enchendo-nos de tamanha felicidade, por que as pessoas
se deixam envolver por um sentimento tão vazio, tão mesquinho, tão infeliz,
tão abjeto e nefasto, inclusive para o mandão? Pretendem o quê? Serem
‘donos de gado e gente’ ou assusta-os – ri – o vice-versa”?
Ele lembrou-se de pessoas ansiosas por serem síndicas de prédios
só para mandarem nos empregados e censurarem e multarem os condôminos
infratores. Houve um que lhe disse empolgado: “Eu adoro ser síndico para
repreender as pessoas e as crianças pelas insubordinações e multar os
condôminos por delitos condominiais”. Ele tinha um cargo extremamente
subalterno. Lembrou-se também de um colega que expressou o desejo de,
ao terminar a faculdade, prestar concurso para juiz. Perguntado, por que,
respondeu entusiasmado que o juiz tinha poder sobre as pessoas...
Aline riu:
─ Papai desejou que ele jamais fosse juiz, salvo de futebol para ser
xingado por todas as torcidas. O Iluminismo (debate de ideias) levou à
Revolução Francesa que, apesar da sangueira, enquadrou o poder (nobreza
e clero), promovendo as democracias, a separação entre Igreja e Estado, o
fim da escravidão, o fantástico progresso cultural e científico: há menos de
duzentos anos, não havia sequer máquina a vapor, eletricidade e telefone; já
o marxismo, (achismo ideológico) desembocou nas terríveis ditaduras
comunistas e socialistas, que incluem o nazismo que significa “nacional
socialismo”, retornando à milenar barbárie governamental e à estagnação
econômica, científica e cultural e à pobreza geral.
O socialismo apresenta todas as nuances imagináveis, da esquerda
“light” até o comunismo mais atroz, passando pelo “socialismo ou morte”
de Fidel Castro. E o mais estarrecedor: todos se dizem democratas, até os
guerrilheiros que tentaram implantar uma ditadura totalitária stalinista,
maoísta ou castrista e outras “socialices” no lugar da ditadura militar que
eles diziam (e ainda afirmam com a maior cara de pau) combater. Nunca me
perguntes o que é socialismo porque eu não saberei responder-te. O que

143
temos é DEMOCRACIA. À direita temos o fascismo (ditatorial) e, à
esquerda, todo o resto [do comunismo (totalitário) à social democracia], ou
seja: DEMOCRACIA e lixo. E todos os socialismos (ideologias) acabaram
em merda, mesmo o mais bem sucedido como a social democracia
europeia, o socialismo mais próximo da democracia pura. Vê a crise em
que caíram e parece não ter solução.
─ E por que regimes ideológicos sempre acabam tão mal?
─ Porque idealismo político e realismo nunca andam juntos. Não
adianta idealizares o que tu imaginas (achas) ser o melhor dos mundos se
não há produção e riqueza para sustentá-lo e fatalmente vais te endividar
tanto que acabarás empobrecendo. É como se, para melhorares de vida,
começasses a girar teus débitos no cartão de crédito ou no cheque especial.
Fatalmente irias chegar a um ponto em que a tua renda (mesada) não daria
nem para pagar os juros da dívida e te tornarias inexoravelmente pobre,
porque não terias mais o que gastar e nem mesmo o suficiente para pagar os
juros. E com juros ladros como os do Brasil...
Mas os ideólogos estão sempre presos ao seu achismo e
completamente divorciados da realidade. Os europeus vão ter de cair na
realidade e se habituarem a um meio de vida muito menos rico do que o de
costume, provavelmente até reduzir salários, e isso significa cair na
pobreza. Todos querem avançar e odeiam retroceder. É importante avançar,
claro, mas sem perder o contato com a realidade. É necessário algum
pragmatismo. Quando se assumem dívidas impagáveis, o desastre é certo.
Karina sorriu:
─ Eu sigo os ensinamentos de papai: listo minhas prioridades e
nunca gasto mais do que o valor da mesada e tenho tirado dez a vinte por
cento para depositar na poupança para necessidades eventuais.
Aline sorriu muito feliz:
─ Parabéns, filhinha, pagar juros é empobreceres enquanto
enriqueces os bancos. Tu vais ficar mais rica porque também vou dar-te
uma mesada, até que te cases ou te estabeleças na vida, e terás mais renda
para gastar e para poupar.
Mas voltando à política, o principal lema do socialismo é: “a cada
um de acordo com suas necessidades e de cada um de acordo com suas
possibilidades”. Ora, se tu produzes três peças e recebes uma unidade de
pagamento, enquanto o que trabalha ao teu lado, por ser menos capaz e mais
necessitado, produz só uma unidade e ganha três unidades de pagamento, a
tendência é tu produzires o mesmo que ele ou menos. Preciso te dizer o que
acontecerá com a produção e a riqueza da nação? A tendência é o
empobrecimento e a escassez generalizada. Além disso, todas as pessoas

144
determinadas e capazes têm objetivos na vida e o desejo de todos é
enriquecer ou, pelo menos, progredirem, melhorarem de vida, ainda que
lentamente. Ninguém trabalha duro ou queima os neurônios apenas para
satisfazer necessidades. Querem algo mais. Retroceder como está
ocorrendo com os europeus e aconteceu com todos os socialismos é trágico.
Quando a União Soviética desmoronou, desmoronaram, a um só
tempo, todos os socialismos totalitários, restando apenas os isolados do
mundo: Cuba e Coréia do Norte, além da China que tratou de adotar o
capitalismo na economia. O capitalismo está longe de ser o sistema
econômico ideal, mas é o único capaz de gerar riqueza e bem-estar, porque
todos ganham mais quanto mais e melhor produzem. Quem produz muito e
bem é disputado no mercado de trabalho. Não é um sistema igualitário e
desestimulante que empobrece, nivelando todos pelo rés da pirâmide, mas
um sistema altamente produtivo que incentiva e premia o trabalho.
É claro que quem produz melhor ganha e enriquece mais e é preciso
criar mecanismos para que os necessitados e menos produtivos tenham vida
digna. Esse é o papel que cabe à democracia. Em Cuba ou na Coreia do
Norte, que são “igualitários”, um médico ou um engenheiro ganham tanto
quanto um pedreiro, mas um pedreiro ganha tanto quanto um mendigo aqui
ou menos, porque há mendigos que ganham bem. Na verdade não há
igualdade: há o povo que é “igual” e ganha miseravelmente e os “mais
iguais” que governam, dirigem as instituições e controlam os “iguais” com a
polícia secreta.
As pessoas não são todas iguais, nem “politicamente”. Tu vês que,
na escola, o nível de aproveitamento varia muito de nota A a E. E a
produtividade dos trabalhadores também varia muito de um para o outro.
Há também inúmeros objetivos que os mais capazes e criativos buscam
continuamente e que levam ao progresso científico, social, cultural e
econômico que beneficia toda a sociedade. Nós aprofundamos a nossa tese
sobre os mistérios do amor com o objetivo de livrar tua carinha das
trombadas com os castigos da vida e pretendemos publicá-la para melhorar
de vida e ajudar milhares, talvez milhões, de seres humanos. Entretanto se
tu não nascesses ela não existiria e se sua publicação não rendesse nada,
jamais pensaríamos em publicá-la.
A criatividade e a produtividade expressiva são determinadas, sim,
pelo interesse e não por benemerência. Não foi sem razão que Rui Barbosa
disse que “a igualdade consiste em tratar desigualmente os desiguais”, o
que não significa que devam ser tratados indignamente. Tu também tinhas
um objetivo quando aprendeste a ler e mergulhaste nos livros.
─ Eu queria ser sábia como tu!

145
─ Os sábios são capazes e úteis à sociedade e estás chegando lá
porque tens liberdade plena para pensares, sonhares, realizares, criares os
teus objetivos e ser deveras útil à sociedade e há pessoas que inventam
máquinas e instrumentos ou aperfeiçoam os já existentes... Porém as
ideologias matam a liberdade. Tu não podes fazer o que queres, mas
somente o que o governo ou o partido quer e a tua criatividade e a tua
produtividade ficam estagnadas.

Aí está, em suma, a razão porque todos os socialismos, desde a


União Soviética à social democracia da Europa, deram em merda. Todos
chegam a um ponto de estrangulamento sem saída porque levam
inexoravelmente a um status insustentável e ao consequente
empobrecimento. – Riu – Os nazistas não tiveram nem chance de
empobrecer, graças a Deus, e fascismo é tirania.
É, filhinha, todos os enganadores, grandes ou pequenos, conscientes
ou não, posam de socialistas, enganando que seria a igualdade, mas é a
sociedade dos iguais (rés da pirâmide) e dos “mais iguais” (topo da
pirâmide). Só a Democracia moderna e sem apelidos, idealizada pelo
Iluminismo (debate de ideias) que levou à Revolução Francesa (liberdade,
igualdade, fraternidade) estabeleceu o equilíbrio, ainda que precário,
tornando as pessoas iguais, ao menos perante a lei, em busca de seus
objetivos. Acabaram os donos de gente que o comunismo restabeleceu, mas
também desmoronou.
Entretanto, o equilíbrio ainda é instável e a Democracia, embora
tenha evoluído, ainda carece de muitas mudanças porque os políticos
corruptos – esquerdistas e direitistas – vivem querendo impor suas tolices
ideológicas e açambarcar o poder em proveito próprio. O que temos de
impor pelo voto, e até por protestos, é o equilíbrio ideal em que todos
tenham a dignidade respeitada e igualdade de direitos e oportunidades de
desenvolver suas potencialidades num mundo fraterno. Não podemos eleger
o político e nos esquecermos dele, sem acompanhar o seu trabalho e, na
eleição seguinte, tornar a votar no sacripanta. Aos corruptos e
açambarcadores do poder o nosso mais profundo desprezo e o ostracismo.
─ Os protestos são importantes?
─ São importantes, especialmente numa democracia representativa
em que deves fiscalizar e exigir o cumprimento das promessas feitas pelo
teu mandatário. Porém têm de ser inteligentes, isto é, por em risco o
patrimônio dos políticos: o voto, que lhes dói na alma, para obrigá-los a
cumprir o seu dever de trabalhar em benefício do povo. Atacar o
patrimônio público, que é do povo, ou o particular, não faz o menor sentido:

146
é coisa de baderneiros e criminosos que estão a serviço justamente dos
governantes que tudo o que querem é que o povo consciente rejeite os
protestos sérios. Protestos sérios não podem incluir partidos políticos nem
baderneiros que defendem os interesses do governo e o status que. As urnas
eletrônicas de votar deveriam incluir uma tecla: “protesto” para que o
eleitor insatisfeito pudesse gravar o seu repúdio ao status que ou aos
candidatos. É muito triste ter de votar sempre no “menos pior” para tentar
impedir a eleição do “mais pior” como se estivéssemos satisfeitos com a
corja.
Em qualquer país civilizado um político suspeito afasta-se do cargo
até que todo o processo de investigação e julgamento seja concluído. Só
assim se acredita em isenção e inocência se nada for provado. Se o suspeito
continua no cargo é porque quer influenciar nas investigações, ou seja, é
culpado!
Numa democracia, os políticos não têm nenhum direito de usar o
poder em benefício próprio porque, como ordena a Constituição: “Todo o
poder emana do povo e só em seu nome será exercido”. E esse é um
ordenamento comum a todas as constituições democráticas. O poder
legítimo é difuso e pertence igualitariamente a todos os cidadãos, inclusive
políticos e governantes enquanto povo, que o exercitam por meio do voto.
Os regimes verdadeiramente democráticos têm o instituto do
“recall” que permite ao eleitor “chamar de volta o eleito”, ou seja, tirar-lhe
o cargo quando descumpre o seu dever. Esse instituto é crucial para que
tenhamos uma democracia de fato. Como vês, o voto é antes de tudo um
dever do cidadão que tem a obrigação de eliminar da vida pública todos os
corruptos, todos os que desvirtuam o voto recebido, especialmente os que
ele elegeu. Antes de votar, é preciso ver se o candidato não tem ficha suja,
se faz campanha mentirosa e sustentada por empreiteiras, e escorraçar da
vida pública todos os que prevaricarem nas suas obrigações para com o
eleitor. Temos de votar em cidadãos de reputação ilibada ou não adianta
reclamar.
O poder só é legítimo quando é do povo e se presta a manter a
sociedade organizada, em desenvolvimento, com boa qualidade de vida
para todos e defendê-la dos indivíduos nocivos e insociáveis, inclusive
políticos corruptos e mentirosos, segregando-os da sociedade. Por aí tu vez
como é crucial escolher o candidato em quem se vota. A maioria deveria
estar afastada da vida pública e até encarcerada... Basta a mídia pesquisar
a vida de um político quando é indicado para algum cargo, inclusive
ministérios, e aparecem podres e mais podres... podridões sem conta! E
quanto mais denúncias de corrupção tiverem, mais rápido serão nomeados,

147
recebem “carta branca”, “cheques em branco” e “põe até a mão no fogo”
por eles.
Só o voto consciente preserva o equilíbrio que tem de existir entre o
eleitorado e a política. Os políticos, inclusive o presidente da república,
são apenas mandatários (empregados do povo e não mandões como querem
fazer crer) do eleitor e têm obrigação de governar e legislar em nome do
eleitor e em benefício do povo e, para isso, recebem polpudos salários (e
mensalões e petrolões) que nós pagamos por meio dos impostos que
incidem em tudo o que consumimos; remédios, alimentos, roupas, calçados,
água, luz, telefone, etc., e temos o direito e até obrigação de exigir retorno
do que pagamos, como qualquer patrão. O que ocorre é que eles usurpam o
poder que é do povo e governam em seu próprio nome e no próprio
benefício, e com que descaro o fazem! Como tu viste nos jornais, eles se
“lixam” para a opinião dos que os elegeram. Se houvesse dignidade na
nossa política ele seria cassado.
─ Por que tem de haver equilíbrio?
─ Porque na política, a tendência é seguir ideologias e ideologias
são desequilíbrios: se vence a ideologia da direita, a esquerda perde e
vice-versa, e perpetua-se o desentendimento com o perdedor querendo
sobrepor-se ao vencedor. Segundo o dicionário Houaiss, “política é a
habilidade no relacionar-se com os outros, tendo em vista a obtenção de
resultados desejados”. Isso é o que eles fazem. Disputas ideológicas são
entrechoques de fascismos que, de acordo com o Houaiss, é a “Tendência
para ou o exercício de forte controle autocrático ou ditatorial” que pode
chegar a odientas guerras civis.
O ideólogo é essencialmente achista, dono do que ele “acha” ser a
verdade ou quer que seja a verdade e, por isso, está sempre por fora da
realidade. É obcecado pela sua ideia que, seja qual for e por melhor que
seja, é sempre a pior porque é única e contrária à grande maioria das
pessoas e imposta por quem tomou o poder e que só se importa com os seus
pares. É desequilíbrio e afronta às lideranças que buscam a melhor opção
para beneficiar a todos. Nós precisamos de ideias para apreciação geral,
não de ideologias impostas por grupelhos. Se fizeres uma pesquisa séria
entre as pessoas que tu conheces, qual é o percentual de pessoas realmente
satisfeitas com o governo? Entre os beneficiários do bolsa-família não vale.
― Por quê?
― Porque só pensam nisso e são facilmente enganados pelo
governo de plantão de que perderão o benefício se não votarem nele.
Ao entrares para um partido te tornas sua caudatária tendo de te
submeteres à sua ideologia, à ideia única, perdendo a liberdade de

148
pensares. Tens de acompanhar a decisão do partido em qualquer votação
importante por mais estúpida que seja e os teus eleitores ficam sem a
representante que esperavam de ti. Tu te tornas representante do partido e
de seus interesses, não dos eleitores. Os votos no Congresso são secretos
para que os eleitores não saibam das trapaças que o seu eleito está fazendo.
E o interesse dos partidos é desconstruir os adversários e criar dificuldades
para venderem facilidades como o mensalão, sendo os grandes focos da
corrupção. E tu também te tornas mentora da corrupção.
Sem partidos nem ideologias e com voto distrital, mediante registro
no TRE ou num órgão criado para esse fim, os vereadores, deputados e até
senadores seriam conhecidos dos eleitores e poderiam ser confrontados e
cobrados por eles. Seriam, não adversários, mas colegas, líderes com
ideias diferentes, e tenderiam a escolher as melhores ou melhorar as
alheias. Com partidos e ideologias tornam-se adversários e até inimigos
com brigas encarniçadas por tolices e aberrações, salvo quando se
associam para exercer a corrupção: Atualmente, que as ideologias
perderam o prestígio e a razão de ser que nunca tiveram, toda a escória
política se associa em verdadeiros sacos de gatos ideológicos, de fascistas
a comunistas, para ganhar as eleições e se sustentarem no poder.
Mesmo assim, se seguires as discussões no Congresso, verás que se
gasta muito mais tempo e energia tentando desconstruir o adversário e seus
achismos ideológicos, e até boas ideias que não são aceitas quando
propostas pelo adversário, do que debatendo os assuntos de interesse da
nação: são verdadeiros choques autocráticos. Já se disse que, se juntarmos
dois trotskistas, teremos um debate e três, uma dissidência. E atenta para o
fato de que eles nem são adversários ideológicos! O mundo só vai melhorar
quando partidos e ideologias forem peças de museu, para que os pósteros
vejam quão tolos eram seus antepassados.
Fala-se muito que sem partidos não há democracia. Tolice! Partidos
são agrupamentos de mandões que congregam os remanescentes da
“nobreza” (corruptos e espoliadores por natureza) e os que ascenderiam a
ela, e até clérigos. São verdadeiramente antidemocráticos e, no fundo de
suas consciências, se é que a têm, anseiam pela volta do despotismo
(fascista ou socialista) em que não teriam de prestar contas a ninguém além
do governante despótico! E se já “se lixam” para quem vota neles... E esse
deve ser o mais “honesto”, porque eles não fazem publicidade de suas
verdadeiras qualidades. Mutatis mutandis, continuamos a ser governados
por “nobres” e clérigos apesar das democracias. E enquanto eles
“governarem” a corrupção será generalizada.
O ideal é um ponto em comum em que todos ganhem ou, pelo menos,

149
ninguém perca e todos trabalhem pelo bem comum: Ao ser analisado o
projeto, se for bom para a nação e ganhar o consenso da maioria, é
aprovado e ponto final não importando quem o apresentou, salvo para
cumprimentá-lo pela boa ideia. Que os políticos tenham ideologias
diferentes e sejam originários de agrupamentos sociais diferentes é bom,
porém é o bom senso e a utilidade do projeto que têm de decidir, não um
grupelho ideológico.
Democracia pura, sem apelidos, sem partidos e sem ideologias, em
que todos tenham direitos e oportunidades iguais de (não impor), mas (por
em discussão) suas ideias e de alcançar seus objetivos, por seus próprios
méritos, sem privilégios ou restrições ideológicas, é o ponto comum em que
todos são vencedores e todos trabalham de comum acordo na maior
cordialidade como líderes da nação. Tudo o mais são chiliques e amuos de
ideólogos e choques autocráticos quando não guerras odientas. Uma
ideologia bem orquestrada, que explore os genes malignos do poder, pode
eletrizar todo um povo e até despertar profunda simpatia no estrangeiro,
criando monstros, como aconteceu com o nazismo, ou regimes totalitários
como o comunismo e o fascismo.
Também nas religiões, cada teólogo inventa uma religião que
pretende que seja diferente das outras e a verdadeira, porque inventa um
dogma ou uma tolice qualquer e todos eles são capazes de ir à guerra em
defesa de suas tolices. Os islamitas vivem em luta de morte chegando a
bombardear mesquitas uns aos outros apenas por um dogma que separa
xiitas e sunitas, todos adeptos do Islã! Cristãos e islamitas são outra guerra
sem trégua e até cristãos contra cristãos de seitas diferentes. A “Guerra dos
Trinta Anos” (1618/1648) entre católicos e protestantes praticamente
destruiu a Europa. Todo um continente, de cultura excepcional, matando-se
uns aos outros por tolices e achismos, durante trinta anos! E o que é de
pasmar: todos têm o mesmo deus hebreu! É de estarrecer, mas muito se
matou e se mata em nome desse deus! Por quê? Por puro achismo! Cada um
“acha” que o outro tem de ter a mesma religião que ele, e pior, ainda que
tenha o mesmo deus e os mesmos achismos!
Visceralmente teocráticas, as religiões proíbem tudo o que possa
dar alegria, felicidade, bem estar e deixar as pessoas de bem com a vida:
proíbem fazer Amor e restringem o sexo à cópula e só para procriar;
proíbem o aborto, pesquisas com células tronco, anticoncepcionais,
homossexualismo, e há, pelo menos uma, que proíbe até transfusão de
sangue!

─ O aborto não é pecado?

150
─ A pessoa existe como ser humano enquanto tem um cérebro ativo.
Ela morre com ele, mesmo que o coração continue batendo. Sem um
cérebro funcionando não há espírito, não há alma (que é o próprio espírito)
integrando o corpo. O óvulo humano passa pelo processo de fecundação
transformando-se em embrião (um grupo de células se multiplicando e se
desenvolvendo até tornar-se uma semente (de sêmen) ou feto a partir do
terceiro mês). Até então é só células. Tem vida, claro, mas a semente de um
repolho também tem vida e não é um repolho. O cérebro humano só se
completa no terceiro mês de gestação, quando o embrião passa a chamar-se
feto e adquire a forma humana. Portanto, antes do terceiro mês, não há como
falar em homicídio. A partir do terceiro mês com o cérebro completo e
forma humana é discutível. Porém obrigar a gestar um anencéfalo, o fruto de
um estupro ou um bebê que não teria vida fora do útero ou põe em grave
risco a vida da mãe, é muita maldade de que só a religião é capaz. Ninguém
pensa na mãe.
Os abortos clandestinos são um gravíssimo problema de saúde
pública e não há religião capaz de minorar o problema. Que elas proíbam
as religiosas que se submetem à igreja de abortarem, vá lá, mas querer
impor a proibição às não religiosas, fazendo-as se sujeitarem às clínicas
clandestinas, é teocracia, é um acinte à democracia. Não seriam as religiões
responsáveis pelas mortes? Parece que os teólogos e donos das religiões
ainda pensam como na idade média em que se acreditava que a fecundação
era causada por um homenzinho completo introduzido na mulher na
concepção... Urge completar a separação entre Estado e religiões. Elas que
cuidem de seus templos e de seus rebanhos e deixem o povo em paz.

─ Eu pretendo fazer medicina. O que há de errado com as células


tronco?
─ Nada! As pessoas têm de permanecer doentes para se lembrarem
de ir pagar os dízimos. Também são proibidas de usar os anticoncepcionais
para não se alegrarem fazendo Amor.

─ E o homossexualismo?
─ As pessoas têm de ser livres para fazerem o que quiserem desde
que não prejudiquem os outros nem a sociedade como um todo, como quer a
Lei de Deus e a lei democrática. Eles têm de ser livres para transarem e até
para se amarem.
Eu me irrito profundamente quando tenho de dar grandes voltas para
contornar desfiles e passeatas, inclusive dos gays. É aí que eles pecam
contra a Lei de Deus e até contra a democracia: não podemos ser cerceados

151
no sagrado direito de ir e vir. Eles que desfilem no sambódromo que nos
custou uma fortuna em impostos e onde eles poderiam desfilar inteiramente
à vontade sem importunar ninguém. Imagina teu objetivo do outro lado da
avenida ao qual és impedida de chegar por um desfile idiota! O
“politicamente correto” só é “correto” visto do ponto de vista político, ou
seja, de um indivíduo ou grupo e, portanto, não é legal quando transgride a
lei e é sempre uma falsificação do correto. Perturbar o direito de ir e vir
das pessoas não é correto, nem politicamente! Como não ser homofóbica?
Também não entendo porque casarem. Para ganharem a
aposentadoria do que morrer primeiro? Com que direito? Vai haver muita
gente não gay que vai casar só para isso, ainda mais que ser gay se tornou
“chique” e motivo de “orgulho” e até motivo para enriquecer pelo
“casamento”. O dinheiro, porém, sai dos impostos que todos nós pagamos
até nos remédios! Todos mesmo! Porque até os beneficiários do “bolsa-
família” e os mendigos pagam impostos embutidos no preço de tudo o que
comprarem, tal qual ricos e pobres. É isso: o governo dá com um cartão e
tira com impostos e até com inflação que come o valor do cartão que
compra cada vez menos. Na eleição eles aumentam o valor para ganhar
votos e depois deixam que a inflação o coma.
Põe no coração: o governo não dá nada! É o dinheiro que pagas de
impostos que vai fazer o caixa do Estado para pagar toda e qualquer
despesa, inclusive bolsa-família, mensalão ou petrolão... E quanto mais
mensalão e petrolão, mais impostos e menos bolsa-família, menos saúde,
menos escolas, menos segurança, menos transportes... E os pobres sãos os
que mais pagam porque não investem e gastam em consumo tudo o que
ganham. O que dá direito à aposentadoria são trinta e cinco anos de
trabalho (trinta para as mulheres) contribuindo para a Previdência e não a
prática do homossexualismo! Com tanta gente querendo mamar nas tetas do
Estado, não haverá donde tirar tantos impostos! Se prestares atenção verás
que o governo aumenta impostos depois das eleições.
Karina riu:
─ Tu não apoias o casamento gay?
─ Não estou disposta a pagar aposentadorias e pensões para
indivíduos só porque dão! Eles dão e querem que tomemos? Quem “toma” é
judeu que nunca dá.
No casamento normal há o direito a aposentadorias e pensões
porque há os filhos a criar que precisam de segurança e eles são uma
contribuição especial ao Estado. É uma retribuição da sociedade por lhe
dar filhos educados que lhe serão úteis com seu trabalho e sua criatividade.
A homofobia é causada pelos próprios gays querendo avançar nos

152
direitos da sociedade como um todo e impor-nos suas idiossincrasias. Por
que sou obrigada a assistir a um desfile idiota? Para me compadecer dos
“coitadinhos” e me sensibilizar com a sua “causa”? Direitos legítimos são
sagrados, mas espertezas...
Embora a homossexualidade seja velha como a humanidade, a
palavra homofobia é nova e só entrou nos dicionários depois de inventarem
os tais desfiles do “orgulho gay”. Homofobia não tem nada a ver com a
homossexualidade, porém com a estrapolação dela: os “direitos” (que não
existem) e que reclamam têm de ser muito bem discutidos e até
plebiscitados. Não posso apoiá-los sem nem saber que “direitos” são esses,
se são legítimos, e como influirão nos nossos bolsos! Serão tão legítimos
que não podemos nem saber quais são?
Os homossexuais atingiram o melhor dos mundos: o povo sempre os
respeitou. São objeto de piadas? Todos o são. E as religiões, que sempre os
perseguiram com atrocidades brutais, chegando a pendurá-los pelos pés e
serrá-los ao meio, não têm mais nenhuma ação sobre as pessoas que não
queiram se submeter a elas há mais de duzentos anos. A questão que se
impõe é: o homossexualismo deve ser permitido ou não? Se o Deus de
Amor de Jesus não o proíbe quem ousa fazê-lo?
Os pastores dizem tolices? E daí? O direito de opinar é dos mais
sagrados numa democracia, inclusive para os gays, mas toma tento que
criticá-los vai se tornar crime inafiançável! Pode? Com um governo todo
“dói-dói” pelos coitadinhos, e o povo que se dane e pague as contas...
Todos os crimes de que o cidadão pode ser vítima já se acham previstos em
lei e todos, em qualquer condição social, são iguais perante a lei. Mas eles
querem ser “mais iguais” do que os não gays. O “poder gay” está se
sentindo tão poderoso que já tenta afrontar até a democracia! Querem de
volta as teocracias? “Se a liberdade significa alguma coisa, significa o
direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”, como sentenciou
George Orwell. Bom senso e honestidade! É o que o mundo reclama há
mais de dez mil anos.
O casamento legal (civil ou religioso) não tem nenhuma influência
positiva ou negativa sobre o amor, mas pode matar uma grande paixão
porque desperta o mandonismo e o poder. Isso porque, a maioria das
pessoas sente que o casamento civil ou religioso dá a posse do cônjuge. E,
quando um ou os dois cônjuges são mandões, surgem as ranhetices, as
ironias, as indiretas, o ódio. Há paixão que resista?
─ Por que o Amor não é influenciado?
─ Ao contrário da paixão, o amor de paixão selvagem é casamento
de fato, é o entrelaçamento de duas almas atadas de nó cego. Não se rende a

153
convencionalismos e nada o afeta: nem poder, nem mandonismo, nem
casamento civil ou religioso, nem rotina, nem o tempo... Ele transcende a
vida e permanece no parceiro sobrevivente sob a forma de saudade. Por
isso não vejo o que os gays ganhariam além daquela aposentadoria forçada.
Emocionalmente só têm a perder porque o casamento legal não acrescenta
nada ao Amor, mas pode destroçar a paixão e como não geram filhos... É
comum casais viverem até quinze, vinte anos como Deus com os anjos,
casam, e a união vira um inferno.
Tua avó participou de um trabalho religioso-comunitário que
consistia em levar para a igreja casais que viviam muito bem sem
casamento. Eram arrebanhados e preparados, tornavam-se religiosos,
casavam, faziam-se “donos” do cônjuge assumindo o poder e a posse sobre
o parceiro e... começavam as ranhetices até chegarem ao ódio e à
separação. Vovó sentiu-se como destruidora de lares e desistiu de tudo, até
da religião que desunia...
Eu e papai nos casamos de fato na praia ao primeiro sorriso terno
que nos penetrou de Amor. Tudo o que se seguiu foi imperioso. Não foram
atos de vontade, mas de desejos impostos pelo Amor. O Amor transbordava
de nossos corações e nos envolvia com sua energia, desencadeando paixões
irreprimíveis. Quanto eu desejei aquela paixão bruta levando de roldão
todo aquele Amor para dentro de mim! Quando transpus o umbral do seu
lar, “raptada” no seu colo, Meu Deus! Senti-me entrar no Céu.
Entretanto só nos preocupamos em casar quando engravidei, para
legalizar a tua vida perante a sociedade. Queria dar-te o meu nome e me dar
a ti. Quando papai inventou o pacto, Meu Deus! Quanta alegria! Tu terias
certeza de que seríamos amiguinhas para toda a vida. É essa a finalidade
real do casamento civil. Devia ser um pacto de sangue! E nós tínhamos
certeza de que aquele casamento de fato estava imune a qualquer convenção
social, legal ou religiosa.

─ Por que proíbem transfusões de sangue?


─ Quando ouvi que tinham deixado morrer uma menina porque a
religião proibia transfusões de sangue, não quis nem saber qual era a
religião: outra imposição teocrática! Só pode ser um dogma para torná-la
“diferente” das outras e “justificá-la”. O certo é que transfusões e doações
de sangue são atos de amor que salvam vidas enquanto a morte causa dor e
aflição, além da compra de atos religiosos caros para homenagear a vítima.
Proibir transfusões não é liberdade de culto, é crime. E proíbem
“desentubar” uma pessoa com falência múltipla dos órgãos que só respira
por aparelhos e é sabido que jamais voltará a respirar sem eles!

154
Ideologias e religiões são guerras fratricidas que geram ódios
mortais, e nada acrescentam à dignidade humana. Veja-se a Guerra da
Secessão, a Guerra Civil Espanhola e outra guerra atroz entre católicos e
protestantes que assolou e dividiu a Irlanda por mais de dez anos, em fins
do século passado, para citar apenas exemplos das mais sangrentas e
odientas. Não há alternativa: só o amor e apenas o amor pode reeducar o
mundo e livrá-lo da barbárie. E maravilha das maravilhas: sem custos! As
únicas armas são a simpatia, o amor ao próximo, a educação pelo amor, a
Lei de Deus! É só tu seres simpática com todos e não prejudicares ninguém.
Já imaginaste um mundo em que a maioria proceda assim? E se fizerem
antes aos outros o que quiserem que eles lhes façam como ensinou Jesus...
Tudo o que Jesus quer para encantar-se com a tua alma é Amor.

O sistema jurídico-prisional está errado. Funciona como punição ou


vingança quando deveria ser reeducativo. É tão estúpido que proíbe obrigar
o preso a trabalhar, ou seja, recuperá-lo. Sem educação e trabalho não há a
menor chance de recuperar alguém. É comum ver-se parentes de vítimas
pedindo justiça. Só haveria justiça com a pena de talião: “dente por dente,
olho por olho”, que seria a volta à barbárie de que não nos afastamos muito,
infelizmente.
Comprovado que uma pessoa delinquiu, ela deveria ser segregada
da sociedade em institutos de reeducação por tempo indeterminado. Nesses
institutos ela teria de trabalhar, estudar e aprender um ofício ou profissão,
inclusive com acompanhamento de psicólogos e psiquiatras, até que,
reeducada, com uma profissão e um emprego, pudesse ser reintegrada à
sociedade, com um mínimo de segurança de não voltar a delinquir.
Poder-se-ia fazê-lo trabalhar por determinado tempo num sistema
prisional para indivíduos perigosos e reincidentes onde seria preso se
reincidisse na delinquência. Aí sim, com penas proporcionais ao delito e
onde tivesse, com certeza, uma única chance de reintegrar-se à sociedade,
com a certeza de que a sociedade não teria lugar para delinquentes
contumazes.
O indivíduo com vícios de educação carece de ser reeducado, não
de pena ou vingança que o tornam mais delinquente e perigoso a cada
período de prisão. É de estarrecer, mas frequentemente soltam criminosos
que imediatamente cometem os mesmos crimes pelos quais foram presos ou
outros piores.
Não são as pessoas de boa índole que têm de ser controladas pelo
Estado, pelas religiões ou pela sociedade, mas as obcecadas pelo poder e

155
viciadas por desvios morais e de conduta, por meio da educação, da cultura
e da formação do caráter, especialmente os menores de idade, e para os que
teimam em ser indignos de viver em sociedade, impõe-se a segregação
social. Os cidadãos de boa índole que trabalham, produzem e contribuem
para o bem comum não podem ficar expostos às pessoas de caráter mal
formado que é imperioso segregar e reeducar, até que estejam realmente
aptos a se reintegrarem à sociedade.
Os seres humanos não têm a menor possibilidade de viver senão em
sociedade. Se duvidares, imagina-te construindo tua própria casa desde os
tijolos; fazendo tuas próprias roupas desde a produção do algodão, linho ou
seda; fazendo tua própria comida desde o plantio do arroz, feijão,
oleaginosas... Por isso nos organizamos em sociedade. Somos todos
dependentes uns do trabalho dos outros. Não há nenhuma pessoa na
sociedade que não dependa de centenas, milhares de trabalhadores e
profissionais, desde o presidente da república ao lixeiro e até o mendigo.
O nosso nascimento equivale a um contrato social implícito, em que
nos comprometemos a trabalhar e zelar pelo bem comum, colaborando uns
com os outros. Por isso temos direito a pensões. O indivíduo de mau caráter
quebra esse contrato e, portanto, é indigno de viver em sociedade até que se
corrija. Tem de ser segregado e reeducado, não importando o tempo que
levar. O delinquente não tem de ser condenado a uma punição, mas à
reeducação que é realmente o único meio de torná-lo uma pessoa digna.
Um sistema jurídico-prisional baseado nesses princípios seria
infinitamente mais eficiente do que o vigente e muito mais barato, porque o
delinquente dificilmente voltaria a delinquir, cessando o gravame de
prisões, processos, sustento na cadeia, construção de presídios, além de
infinitamente mais humano e civilizado. Vez como salvar o mundo é muito
simples? Basta amor e simpatia! As religiões seriam realmente úteis ao se
encarregassem de reeducar esses desencaminhados.
No sistema atual, a maioria dos aprisionados uma vez, será
sucessivamente presa e processada para o resto da vida porque o sistema é
uma escola de bandidos. E definitivamente: é inconcebível se soltar um
criminoso, tenha ou não cumprido pena, quando se tem certeza de que ele
voltará a delinquir. Isso é absolutamente acintoso ao cidadão que paga
impostos e tem direito constitucional à segurança. Os direitos dos humanos
têm de se sobrepor aos “direitos humanos” dos bandidos.

Nós consideramos o poder dos déspotas, reis, imperadores e


ditadores e descobrimos a doentia obsessão dos governantes pela criação
de impérios, como o império romano ou o bolchevista. Quanto mais nos

156
aprofundávamos em pesquisas e debates, mais intrigados ficávamos: por
que tanta gente obcecada pelo poder?
Como a obsessão pelo poder atinge, não só reis, imperadores e
ditadores, mas também políticos de todo tipo, juízes, patrões, chefes,
síndicos, esposos, esposas e pobres sem eira nem beira que, não tendo em
quem exercê-lo, exercem-no sobre os próprios filhos e os cônjuges,
concordamos em que só poderia ser, de fato, uma questão de memória
genética.

Atenta, Karina perguntou:


─ Como é que essa memória genética passou de geração em
geração, chegando até nós?
─ Em geral, são experiências cruciais vividas pelos antepassados
remotos que se gravaram em genes ou algum elemento do DNA, produzindo
um registro na sua memória, geralmente fundamental para a manutenção da
vida e que se transmite por meio da memória genética ou atavismo e se
torna comum a todos os seus descendentes.
Herança atávica e memória genética são conhecidas e comprovadas,
mas pouco estudadas, e não encontramos estudo específico e aprofundado
de sua influência sobre os humanos, o amor ou o poder, além de nossas
elucubrações. Há genes, ou elementos celulares, que transmitem os
caracteres do amor ou do poder, além de outras impressões importantes.
Nós descobrimos na prática. Cabe aos cientistas comprovarem
cientificamente. Com certeza está aí a chave para salvar a humanidade de
sua estupidez e brutalidade ancestrais. O amor foi praticamente banido da
face da Terra nos últimos dez mil anos, assolado pelo poder.
─ E como se identifica essa “memória genética”?
─ Nos humanos não é fácil notar, provavelmente por serem
racionais e porque levem muito tempo a amadurecer. A lei só nos dá
capacidade jurídica plena aos vinte e um anos! Assim, é difícil perceber
com precisão o que seja aprendizado ou memória genética. Seriam
necessários instrumentos científicos. Mesmo assim, apesar de
absolutamente imaturo, o bebê, ao acabar de nascer, sabe que tem de sugar
o peito para alimentar-se. A fome causa-lhe desconforto, mas não o ensina a
sugar, logo essa capacidade tem de estar registrada em algum gene ou ele
poderia morrer de fome antes de aprender. Quantos não terão morrido até
que a habilidade se fixou nos genes?
Todavia nos animais é possível verificar claramente esse fenômeno.
Há experiências científicas e a observação dos animas é muito ilustrativa.
Certa vez vi nascer um cabrito que, apenas libertado da placenta pela mãe,

157
se pôs de pé e, ainda cambaleante, deu meia volta e foi direto à mama, sem
qualquer erro, e ainda cabeceou o ubre da cabra para liberar o leite. Como
ele podia saber? A experiência nos ensina que tudo depende de
aprendizado. É claro que é o instinto de conservação, mas esse instinto tem
de estar registrado nos genes. Como um animal que acabou de nascer
saberia tão prontamente onde alimentar-se e que teria de cabecear o ubre?
Em outra ocasião eu observava uma galinha com uma ninhada de
pintos recém nascidos que ciscavam com a mãe pela primeira vez. De
repente a galinha fez: “crééééédo”. Num átimo os pintinhos estavam todos
escondidos sob a galinha, sem um único rabinho de fora.
Olhando para o céu, vi um gavião voando em círculos. Logo ele
voou para longe e todos os pintinhos voltaram a ciscar alegremente ao
primeiro “cróc-cróc” da galinha. O gavião estava bem alto e eram raros na
região. Era provavelmente o primeiro visto pela ave que não dava a mínima
importância para os corvos e outros pássaros... E os pintinhos... como
podiam distinguir entre o significado do “croc” e o do “credo” que ouviam
pela primeira vez e decidir tão rapidamente o que fazer?
Os espíritas falam em regressão a vidas passadas. Não seria antes
identificação desses fatos vividos por ancestrais remotos e que se integram
nos genes? Os instintos, inclusive o de conservação, são experiências dos
ancestrais impressas no DNA. É mais fácil acreditar na memória genética,
tanto mais que ela é comprovada.
Uma tartaruguinha que acabou de sair do ovo corre tudo o que pode
se avista uma águia. Os animais já nascem sabendo quem são seus
predadores ou poucos sobreviveriam.
─ Não houve nunca quem notasse essa insânia do mundo, ao menos,
nos últimos milênios de sandice extrema?
─ Os poderosos cerceiam de todas as formas possíveis a
manifestação dos descontentes como é o caso da Inquisição e das ditaduras,
inclusive as teocráticas, e mantém o povo na mais completa ignorância por
meio da censura generalizada e até do ensino. Pesquisas têm demonstrado
que a “progressão continuada” (a criança passa mesmo sem saber nada)
está produzindo setenta e cinco por cento de analfabetos funcionais: a
pessoa lê um texto simples, mas não é capaz de interpretar o que lê. De que
vale o Estado gastar fortunas com escolas? É só para enganar! É muito fácil
governar e espoliar um povo ignorante e até comprar milhões de votos com
cartões de “assistência social”. E como escapar dessas artimanhas quando
temos setenta e cinco por cento de analfabetos funcionais mais oito por
cento de analfabetos totais?
Os cartões de assistência social são necessários num país de

158
grandes misérias como o Brasil e não há governo que ouse eliminá-los, mas
têm de ser uma política do Estado (não do governo) para preparar os
beneficiários para o trabalho e sustentá-los até que possam manter-se. Não
podem ser “dados” pelo governante como “uma barretada com chapéu
alheio” para ganhar seus votos. Isso é acintoso ao eleitor e à democracia. E
quando se chega ao cúmulo de ameaçar o eleitor para não votar no seu
adversário sob pena de perder o cartão... Mesmo porque é preciso ser
honesto: quem criou os cartões de assistência social foi o PSDB no governo
FHC com o nome de “Bolsa Escola”, mas não o usou em campanha política.
Lula só mudou o nome... O aumento do número de cartões não é virtude,
mas desvirtude do governo: se é necessário dar mais cartões é porque ele
fez a miséria crescer. A virtude está em desenvolver a economia, criar
empregos e reduzir o número de miseráveis.
Para que uma democracia funcione adequadamente o povo tem de
ser culto. Se a maioria se deixa iludir por mentiras e lábia de marqueteiros
que vendem candidatos como se vendem sabonetes, não há eleições
conscientes. O povo tem de receber cultura política, não propaganda
política enganadora nos meios de comunicação que tem um altíssimo custo
ao eleitor, inclusive com patrocínio corruptor de bancos e empreiteiras que
visam aos petrolões. Propaganda engana, nunca ensina e nem mesmo mostra
quem é de fato o candidato. Nós estamos pagando caríssimo para sermos
enganados pela televisão e pelo rádio. A propaganda mostra a cara, mas
não o que o político realmente pensa e está sendo usada, cada vez mais
desavergonhadamente, para desconstruir os adversários com toda a sorte de
mentiras e falsidades.
Temos de rejeitar toda propaganda elaborada por marqueteiros
(pura enganação em vídeos bonitinhos em que pessoas têm a casa e os
dentes reformados para elogiarem o governo, e o resto são promessas,
ameaças e mentiras). O nosso povo está acostumado às mentiras, porém
elas são altamente condenáveis, especialmente na política. Richard Nixon
foi forçado a renunciar à presidência dos EEUU simplesmente por mentir
seu envolvimento com espionagem na sede do Partido Democrata, no
célebre caso Watergate. Já imaginaste se a moda pega por aqui?
É importante recusar candidatos que se neguem a mostrar a cara em
debates políticos onde realmente eles têm de mostrar a que vieram e em que
o eleitor pode aprender política. E é preciso vaiá-los sempre que baixem o
nível. Também não nos servem políticos terroristas e incapazes que pregam
o medo aos adversários em vez de mostrarem a que vieram. Esses é que
temos de temer porque são capazes de tudo, tudo mesmo!
A reeleição é outra aberração. O candidato à reeleição tem

159
vantagens absurdas sobre os concorrentes, inclusive uma arrecadação de
mais de um trilhão e trezentos bilhões de reais por ano, para mostrar
serviço, além do aparelhamento da máquina do governo e até das empresas
estatais. Haja vista o “Petrolão”. Os concorrentes não têm nada! O
candidato à reeleição começa a disputa com a eleição ganha e só corre o
risco de perdê-la se for muito incompetente. Só deves reeleger o governante
se a tua vida realmente melhorou: Tua renda compra mais? Tu tens mais
segurança, melhor atendimento médico-hospitalar, mais transporte, teus
filhos aprendem mais na escola? Só isso é prova de que o governante
trabalhou bem.

Tanto quanto a obsessão pelo poder, a subserviência também vem


hereditariamente inscrita no DNA. O indivíduo nasce de pais subalternos, é
educado como subalterno e vive como subalterno, reconhecendo essa
condição à qual se acomoda resignado, na maioria dos casos, e procurando
desforrar-se nos que estão sob o seu mando. Só a educação consciente,
baseada no amor pode romper esse ciclo. Os pais são os únicos
responsáveis pela determinação ou subserviência dos filhos desde o berço.
A escola não muda o status servil. Tanto mais uma escola de analfabetos
funcionais.
Quando a opressão e a corrupção se tornam insuportáveis, fazem-se
críticas e protestos cujo comando é imediatamente assumido por partidos
políticos, os principais interessados em que nada mude, ou pior: que mude
para a sua ideologia. Chega-se também às revoluções, mas as revoluções
sangrentas apenas trocam um grupo de poderosos por outro mais sangrento
ainda.
A Revolução Francesa (1789), que foi o coroamento do Iluminismo,
foi a única que, embora sangrenta, mudou o mundo para melhor porque
combateu o poder e o mandonismo. Alijou do poder as teocracias e
reinados absolutistas, dando origem às democracias com leis equânimes,
mas ainda estamos muito longe do ideal. A educação patriarcal, tradicional,
que herdamos por atavismo dos romanos, leva ao desvio moral e de
conduta, à obsessão pelo poder, à corrupção, aos mensalões, caixa dois,
“petrolões”, ao crime e a esse estado de coisas que assola a nação e o
mundo. Quem afronta governos corruptos, combatendo a corrupção, pode
ser ameaçado de morte.
O desvio moral, a corrupção e o instinto criminal vêm inscritos no
DNA, ou seja, no sangue, através da memória genética, e se consolida e se
agrava através da educação patriarcal (essencialmente castigos, ordens e
proibições). Quem não se sente tentado a “molhar” a mão do fiscal ou do

160
guarda de trânsito para não ser multado ou a “levar vantagem em tudo”?
A obsessão pelo poder é universal porque fruto do imperialismo e
do despotismo, mas os romanos foram os mais corruptos da História, os que
tiveram um império mais vasto e duradouro e os mais aferrados à educação
patriarcal. Não é sem razão que os povos de origem latina são tidos como
os mais corruptos.
Somente uma revolução que mine profundamente as estruturas do
poder mediante o descontentamento ativo e generalizado da maioria,
alijando da vida pública os infames por meio do voto e protestos
inteligentes, poderia ter sucesso. E, nos casos extremos, a pressão popular
para expulsar os corruptos da vida pública, mas livre dos partidos que só
enganam. Porém para isso é necessário reformar as pessoas e a sociedade,
inclusive para substituir os infames no governo. Quem “molha” a mão do
guarda elege e reelege o corrupto, o mensaleiro, o que rouba, mas faz. Nos
últimos tempos os corruptos mais conhecidos, não importando a ideologia,
estão todos associados à base de sustentação do governo, inclusive os
cassados, e exemplos de corruptos reeleitos, inclusive cassados, não nos
faltam e seus pares até fazem “vaquinhas” para pagar as penas dos raros
condenados!

Karina estava ansiosa:


─ É possível mudar o mundo?
─ Parece impossível porque o mundo está enrolado nessa estupidez
há mais de dez mil anos e a abundância de ideologias que derivaram das
democracias nem chegaram perto de consegui-lo. Só atrapalharam, porque
ideologia, segundo o Houaiss, é “sistema de ideias sustentadas por um
grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios
interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos,
políticos ou econômicos”. Daí, entram em choque, quando não em guerra,
contra todos os grupos opostos.
As ideologias foram fruto da liberdade de expressão da democracia,
sua principal virtude porque é a garantia de todas as demais liberdades, e
não chegam a ser um mal, porém têm de conviver em paz e harmonia com a
democracia, numa perfeita pluralidade de pensamento. Quando uma, pouco
democrática, se impõe tomando o poder o desastre é certo, especialmente
quando está mais para totalitarismo do que democracia, como quase todas.
Haja vista o que está acontecendo no Brasil: economia em frangalhos,
petrolão... A única coisa de que o governo se vangloria é o baixo
desemprego, mas ponham os beneficiários do bolsa-família procurando
emprego e tu verás que é o maior do mundo!

161
Uma das primeiras coisas que eles fazem é tentar calar ou controlar
a imprensa, como tens visto na Venezuela e na Argentina e está se
espalhando pela América do Sul. – Riu – Vai pondo as barbas de molho
porque já estão tentando por aqui. Isso é um verdadeiro atentado à
democracia e é o que costuma acontecer aqui no nosso continente. E, sem
imprensa livre, todas as liberdades acabam a começar da liberdade de
expressão. E tu nem saberias da roubalheira na Petrobrás, do mensalão e
demais falcatruas.
Imagina que uma religião tomasse o poder e todos fossem obrigados
a se submeter a ela. Fatalmente ela tomaria também o poder laico e se
transformaria numa teocracia tenebrosa como na idade média, acabando até
a liberdade de fazer Amor. Vê a cartilha do bispo. Já imaginaste se ele toma
o poder, inclusive o laico?
Na política temos o fascismo, o socialismo e uma derivação
infindável de ideologias socialistas como o nazismo, o comunismo, o
próprio socialismo, o socialismo democrático, a democracia socialista, a
socialdemocracia, a democracia cristã... e por aí vai... Emporcalharam a
democracia que, pura, seria o único regime capaz de conviver em harmonia
com toda essa imundície política. Todos os agrupamentos têm de ter voz e
direitos respeitados, sempre! E a democracia pura é o único regime político
capaz de respeitar todos os direitos incondicionalmente. Eles só têm de
existir ou serem aceitos pela maioria.
Democracia com apelidos não é democracia, mas uma falsificação
que lhe toma o nome prestigioso para disfarçar o totalitarismo socialista e
se impor. Tens uma ideia? Leva-a ao plenário e apresenta-a para ser
discutida e aprovada ou reprovada pela maioria. Se intentas impô-la à força
é crime hediondo contra a democracia.

As ideologias mais brutais e grotescas: o comunismo e o nazismo


(nacional socialismo) fracassaram brutalmente. Eram ditaduras totalitárias
de partido único e, claro, ideológicas e, portanto, de grupelhos
desvinculados da realidade e que pretendiam eternizar-se no poder, à força,
como qualquer agrupamento que não seja puramente democrático: a
danação nazista acabou antes de firmar-se e o comunismo enveredou por
ditaduras tão brutais quanto a estupidez milenar que assola a humanidade e
eles se propunham a reformar, ou piorar. Queriam mudar o homem à força,
impondo-lhe o seu poder!
Porém mudar o homem e o mundo para o império da justiça só será
possível pela educação criteriosa e sábia, baseada no amor e no respeito à
inteligência da criança, como a que tu e Ric recebem. Temos de abominar a

162
corrupção e os corruptos, sinceramente, claro, a começar de nós mesmos,
impondo-nos a Lei de Deus, e fazer muitas Karinas e muitos Rics, mas é
muito fácil porque o intelecto da criança é puro e fascinante e uma porta
aberta para receber tudo o que lhes for ensinado, para o bem e para o mal.
Só temos de desenvolver o gene do amor. Será uma revolução do amor
semelhante à de Jesus. Que se mecham as pessoas de caráter firme e dignas.
E lembrem-se de que Jesus não queria de fora ninguém digno ou que se
tornasse digno. Todos os convertidos ao amor são bem vindos. É crucial
seguir rigorosamente a Lei de Deus e se amarem e, se fizerem o bem, como
ensinou Jesus, eliminarão os Barrabás. E irá surgindo a verdadeira
democracia na medida em que se vá eliminando a corrupção. Cada corrupto
reformado é um avanço!

163
Capítulo XVII – A NATUREZA DO AMOR

Karina que já se via como uma revolucionária estava empolgada:


─ Um mundo não socialista nem democrata-cristão, porém deveras
democrata e cristão. Como se faz?
─ A primeira coisa a fazer é preservar a democracia com unhas e
dentes e torná-la pura, sem apelidos, ou seja, votar conscientemente em
candidatos dignos. Os totalitários têm mania de transformar o governo em
ditadura, fascista ou comunista, ou pior, numa teocracia. Aí a melhor coisa
que poderás fazer na vida é transar como quer o bispo e só quando quiseres
engravidar, como na época da inquisição.
Karina não riu, não, e não era mesmo para rir. Confrangeu-se e
perguntou aflita:
─ E a segunda?
─ Restaurar o amor terno em todas as formas, inclusive o amor que
nossas ancestrais praticavam há mais de três mil e quinhentos anos quando
não havia o “pecado original”, ou seja, sem tabu, preconceito, pudor, medo
ou culpa, porém com alegria, integração de corpos e mentes e gozo
arrebatador e, felizes, zelar pela alegria e bem estar de todos ao redor com
um sorriso terno e procurar fazer o bem. Nunca fazer o mal.
─ Isso tudo eu já faço, salvo as restrições do amor, e é muito fácil e
intuitivo. Diz o difícil e complicado!
─ Não há difícil nem complicado. Isso é o mundo de Deus, simples
como a Sua Lei que tu conheces desde criancinha. Tu sempre soubeste o que
não querias para ti e nunca perturbaste ninguém. Ao contrário, sempre foste
meiga com todos. É o mundo de paz e amor que Jesus tentava implantar
quando o crucificaram e, mesmo assim, teria evoluído para o mundo de
Deus se o imperador Constantino I não tivesse matado sua doutrina no ano
330 D.C., transformando-a numa teocracia, e todos continuaram matando-a
ignorando a Lei de Deus.
O grande inimigo que temos de combater é a corrupção, mas para
isso, temos uma arma poderosíssima: o voto. É só usá-lo conscientemente.
Sossega, tu és a maior guerrilheira de Deus, o paradigma para Ele formar o
seu exército e tens a Sua proteção. Só tens de ser tu mesma e fazeres filhos

164
como tu e ensinares as pessoas a serem como tu. Além disso, todos têm de
exercer o seu poder legítimo que ninguém pode roubar-lhes enquanto
preservarem a democracia. É por isso que os poderosos querem calar a
imprensa e impor-nos ideologias. Além de roubar-nos a Petrobrás e os
impostos de que não nos dão retorno além de arremedos de assistência
social, querem roubar-nos a democracia.
─ O voto!
─ Exatamente. O voto consciente. Isso é bom repetir para que
guardes no coração: não deves votar nunca em candidato que tenha a ficha
suja; que receba doações de empreiteiras, diretamente ou através dos
partidos; ou seja mentiroso. Nossa democracia é representativa e tem de ser
fiscalizada pelos eleitores e pela imprensa livre e investigativa que também
temos de preservar com unhas e dentes porque é o órgão primordial numa
democracia, mais importante que o próprio governo e a justiça ou qualquer
outro órgão, porque sem ela ficamos à deriva sem saber quem está nos
roubando e o que de fato está acontecendo. Nossos representantes têm de
representar-nos e não roubar-nos! É simples assim!
Ela sorriu:
─ Eu tenho pressa!
─ Todas as pessoas dignas e determinadas têm porque não suportam
a corrupção, mas a reforma tem de ser desde o berço. Tu e Ric nasceram
sem os velhos vícios educacionais, por isso praticam o mundo de Deus.
Mas é incumbência para gerações, a menos que haja uma explosão de bom
senso na humanidade, e depende de que a sociedade se proponha a fazê-lo...
Se pressionarem para que se ponham na prisão todos os ladrões do
petrolão, doa a quem doer, já é um bom começo: Cadeia neles! E que sejam
investigados e punidos todos os que receberam dinheiro altamente suspeito
das empreiteiras e de outras empresas que “doam” para todo o mundo.
Jesus chicoteou os bandidos do templo e o voto é o nosso chicote. Só assim
atrairemos, aos governos, pessoas dignas que se envergonham de se
imiscuírem em meio a tais podridões.
Eu odeio partidos políticos porque são antros de corrupção, mas
enquanto os há é válido que se prefira um deles e até se doe dinheiro para
ajudar a eleger o preferido, ou o “menos pior”. Porém “doar” fortunas a
todos os que têm alguma possibilidade de se elegerem, inclusive aos que
vão formar a base de sustentação do governo, é corrupção escancarada. É
óbvio que os “doadores” estão se lixando para quem vença e o seu único
objetivo é garantir facilidades para fraudar licitações e superfaturar
contratos, inclusive para formar o caixa dois para comprar os partidos nas
eleições seguintes. Governos e empreiteiras são cúmplices e é imperioso

165
puni-los, E que não venham dizer que “não sabiam” ou que “todos fazem”.
Ao receberem dinheiro mais do que suspeito é óbvio que se comprometem
a dar retorno!
A “doação” de fortunas para dois ou mais partidos pelo mesmo
doador é prova de corrupção e tem de ser investigada! É assim que os
governos funcionam e não há inocentes! Se o político recebeu dinheiro de
empreiteira para campanha política é suspeito de corrupção! Ou tu cuidas
que alguém é tão generoso que dá fortunas sem visar a retornos
compensadores?
Eu sempre entendi que o conúbio entre governos e empreiteiras era
altamente incestuoso, só não cuidava que a Petrobrás, com ações na Bolsa e
fiscalizada pela CVM, além de obrigada à governança altamente
transparente, auditorias e publicação de balanços que transpareçam de fato
a vida da empresa, pudesse fazer parte do conúbio. E ela não consegue nem
auditar os balanços! Ao que chegamos! A polícia federal, se estiver
disposta a por a mão na merda, vai ter muito mau cheiro para dissipar. Que
desta vez a justiça não deixe ninguém de fora! Basta usar as listas de
doações das empreiteiras mais as delações premiadas. Quem recebeu
doação de empreiteira e se elegeu tem o que investigar!
É também imperioso que se publiquem, na internet, todos os
contratos em que entrem dinheiros públicos, para fiscalização dos eleitores,
da imprensa investigativa, que só existe na democracia, e dos interessados
em licitações corretas. Essa será a maior função da internet. Vês como é
possível por fim à corrupção grossa? É só usar o voto cidadão, e os
corruptos deixam rastro. Não ficar correndo atrás de bolsas que todo
governo manterá porque não vai querer se indispor com o eleitor (voto),
por mais humilde que seja.

Reformar o mundo é possível e muito simples, porém é obra para


cidadãos conscientes, honestos, determinados e de boa índole, inclusive os
mais humildes, e não para governos corruptos e despóticos que fazem tudo
para que o mundo não mude (salvo para totalitarismos) porque lhes importa
a corrupção. Tem de começar com crianças puras ou purificadas da má
educação e pessoas de boa índole dispostas a serem os empreendedores da
mudança e que repudiem de fato a corrupção. Temos de construir uma nova
mentalidade: a do Amor de que o nosso pequeno mundo é o embrião.
Quando as pessoas honestas e dignas que, seguramente, são a grande
maioria, se dispuserem a viver o mundo de Deus, os satânicos não terão vez
e serão facilmente derrotados ou convertidos ao Amor de Deus por meio de
um sistema prisional deveras reformador. Se o povo fez a Revolução

166
Francesa contra a nobreza e o clero, praticamente sem recursos, o que não
poderá fazer com o poder do voto, da democracia e da imprensa livre,
inclusive da internet? A nobreza e o clero formavam as velhas e poderosas
teocracias, os políticos com seus partidos, ideologias e o poder econômico,
inclusive as empreiteiras, formam os atuais sistemas de corrupção, mas
contra eles nós temos o poder da democracia, do voto e da pressão. É só
exercê-los com sabedoria e determinação para descomplicar o mundo,
livrando-o da corrupção.
Jesus existiu de fato e foi um grande homem, tanto que deu a vida
tentando salvar a humanidade. Por que não o fez? Quase dois mil anos se
passaram e se o mundo melhorou, foi só após o Iluminismo e a Revolução
Francesa com o advento das repúblicas e das democracias. O que houve
com o cristianismo? Por que dois mil anos de “cristianismo” em nada
mudaram o mundo, senão para pior, se a sua grande missão era redimir o
mundo? A grande obra do “cristianismo” (não de Jesus) foram a inquisição
e o santo ofício: puro terror. Porém a verdadeira história de Jesus é
fascinante. Uma obra empolgante de amor e coragem e, segui-lo, era expor-
se à crucificação como aconteceu com Pedro.
Seu nome verdadeiro era Jesus ou Jesus de Nazaré porque teria
nascido em Nazaré. O nome Cristo que significa Ungido ou Messias é um
título que lhe foi dado pela religião. Visava a fazer dele um nobre, filho do
rei Davi. O tal Messias, que era esperado para salvar o Estado judaico do
domínio romano e morreria sessenta e duas semanas depois, ainda é
esperado pelos judeus dois mil anos depois! Vai acreditar em profetas...

Nós tínhamos a chave para desmistificar o amor, mas Deus também


é amor, disso tínhamos certeza. Tínhamos de descobrir a Sua verdadeira
face e o que Ele tem a ver com o amor ou nossa tese ficaria amputada de
sua parte mais importante. Era fundamental estabelecer os princípios de
nossa relação com Ele.Teu avô, quando criança foi ouvir os missionários.
Ficou estarrecido e apavorado com tantos fogos infernais de enxofre e
ranger de dentes, inclusive para quem excedesse o seu doce preferido
(pecado da gula) ou olhasse para uma mulher desejando-a e morresse sem
confissão: iria arder por toda a eternidade nos fogos infernais. Para ter
certeza de escapar do inferno só mesmo vivendo com um padre a tiracolo!
E por que diabos Deus iria exigir que seu filho fosse crucificado
para aceitar a absolvição das almas de toda a humanidade? E mesmo assim
tu própria tens de tratar de salvar a tua alma.
Vovô não era tolo e, mesmo criança, percebeu o absurdo e afastou-
se da igreja. Aquela perversidade toda era própria dos homens, não de

167
Deus. Eu e papai tivemos de concordar, claro. Também nos demos conta de
que existem centenas de religiões “cristãs” no mundo. Qualquer indivíduo
pode arvorar-se em teólogo e criar uma religião, “cristã” ou não, para
ganhar dinheiro e poder. Se Deus é um só, para que tantas religiões gerando
tanto ódio, tantas incertezas e tantas guerras? O objetivo de Deus é a união
de toda a humanidade num só povo, como nos ensinou Jesus. O objetivo das
religiões não devia ser o mesmo? Por que o ódio e as guerras?
Ocorreu-me que ouvira falar no Deus de Amor de Jesus. Ele
distinguia o seu Deus de Amor daquele deus despótico dos missionários: o
deus dos judeus (hebreus).
A leitura dos Evangelhos em busca da verdade fez-nos crer que
Jesus era verdadeiramente Deus. Ele e o Espírito Santo satisfaziam-nos,
porém se Jesus era O Senhor do mundo e não apenas o dos Judeus, Deus
também tinha de ser. Ele mencionava o Deus de Amor que chamava de pai e
que não podia ser o dos missionários ou dos judeus. Faltava-nos, então, a
verdadeira face desse Deus de Amor.
Um dia, em meio a discussões acaloradas sobre criacionismo e
evolucionismo, teu pai me disse: É óbvio que o deus antropomórfico e
perverso dos judeus e dos missionários não era verdadeiro e, por isso, não
poderia ter provocado o Big-Bang, mas O Deus de Amor de Jesus, espírito
de puríssima energia, poderia sem dúvida ter desencadeado, não só o Big-
Bang, mas também ter implantado num dos seus fragmentos, a Terra, um ou
mais germes de estrutura evolutiva, capaz de evoluir em todas as formas de
vida, como uma célula tronco pode evoluir nos mais diferentes tipos de
células de um ser vivo. Aliás, a célula tronco é obviamente resultante da
evolução da célula primordial.
O mundo é fruto da evolução como descobriu Charles Darwing? É!
Mas evoluiu de onde? Evoluiu do quê? Quem criou aquela célula original?
O próprio nome “evolucionismo” indica haver algo anterior que
proporcionou a evolução, ainda que um simples ser unicelular. Não existe
evolução do nada e querer comprovar ou negar alguma coisa a partir das
tolices de Moisés é tolice maior ainda.
O evolucionismo não afasta o criacionismo, mas apenas o confirma:
as espécies evoluíram de um ou dois germes criados e implantados por
Deus, O Deus Verdadeiro, no planeta Terra do seu sistema cósmico. O que
não dá para crer é que esse micro-organismo carregado de energia criadora
e contendo um número infinito de informações, de perfeição tal que chegou
a produzir o cérebro humano, o olho, o espermatozoide, tenha se originado
do nada, por geração espontânea. É muita maravilha para atribuir-se ao
nada que não cria coisa nenhuma nem evolui.

168
Toda evolução depende de criação. Para evoluir da célula original
(que é obviamente uma criação) para o homo sapiens quantas criações não
foram necessárias? O homo erectus só evoluiu para o sapiens com a criação
da inteligência: neurônios, sinapses, etc.
É óbvio que Deus não poderia ter iniciado a criação pelo homem,
mas pelos seres inferiores. O homem teria de ter uma estrutura para
sobreviver e se desenvolver.
Quem criou Deus? Deus está na energia criadora, é a própria
energia que cria e existe desde antes do universo, ou seja, desde sempre. É
obviamente um ser fantástico, um espírito, ou não seria Deus, e, sendo
energia pura, pode desdobrar-se em bilhões e estar no coração de cada um
de nós como a energia criadora, sabendo tudo o que pensamos, como no
belo soneto de Gregório de Matos que foi ao cerne da questão: “E feito
[Deus] em partes todo em toda parte, em qualquer parte sempre fica o
todo”. Cada partícula energética de Deus é Deus.

─ Aí estava a essência de Deus, e o melhor, em harmonia com a


ciência e sem defeitos que pudessem inquiná-lo de falso. Mas como tudo
ocorreu? Nós nos impuséramos uma tarefa enorme: descobrir tudo sobre o
amor e Deus e teu pai confiava no meu tirocínio e na minha colaboração.
Passei o dia com O Deus de Amor no pensamento. À noite fiz minha oração
fervorosa a Ele e pedi-Lhe cheia de amor e fé: “Mostra-me Tua face
verdadeira e quem Tu és. Eu não sei se te amo o bastante”.
Foi então que eu vi uma grande e clara luz que fazia resplandecer
uma rocha de proporções infinitas de que não se viam contornos. A rocha
infinita explodiu, lançando fragmentos colossais em todas as direções, por
todo o espaço sideral. Esses fragmentos foram ocupando posições
aparentemente definitivas no cosmos: estava em organização a mecânica
celeste. Então eu vi surgirem as galáxias, as estrelas e os sistemas
planetários, com planetas e satélites aprisionados por estrelas em torno das
quais eles gravitavam. Era o universo em formação.
Viajando à velocidade do pensamento, levada por aquela luz, vi-me
ir ao encontro da nossa galáxia, a Via Láctea, com suas infinitas estrelas e
sistemas planetários. Avistei o Sol que parecia vir em minha direção, tal a
nossa velocidade. Era uma estrela pequenina de quinta grandeza. Mesmo
pequenino em relação às demais estrelas, o Sol aprisionava, na atração de
sua massa, uma série de planetas com seus satélites. Um dos menores era a
Terra, um minúsculo fragmento da explosão daquela massa original. Em
relação aos demais corpos celestes, a Terra era incrivelmente pequenina.
Aquela estrela anã, o Sol, que a mantinha em órbita elíptica, era um milhão

169
e trezentas mil vezes maior do que ela. Estás assustada? O sol não é um
mero candeeiro. Estamos falando em grandezas cósmicas comprovadas pela
ciência e sua aparência é determinada pela distância.
A Terra era linda e destacava-se pelo seu brilho de intenso azul,
porque tinha água, muita água, dando-lhe uma belíssima coloração azul.
Deus tinha um objetivo para a Terra. Pretendia criar nela o Seu jardim do
Éden (Paraíso) de onde regeria o Universo. Ainda antes daquele Big-Bang,
Ele concentrara grandes quantidades de oxigênio e hidrogênio no interior
do segmento que resultaria na Terra. A reação daqueles gases pelo calor da
explosão resultou numa imensa quantidade de água que, além de tornar o
planeta úmido, de clima ameno e próprio para a vida, dava-lhe uma incrível
beleza em relação aos demais corpos celestes.
Deus prosseguiu separando as águas dos demais elementos, criando
grandes massas de água. Estendeu a mão luminosa, que descarregava uma
imensa quantidade de energia, e surgiram os mares e os oceanos. No
restante, cerca de um terço da superfície da Terra, provocou movimentos
telúricos fazendo surgir montanhas, colinas, vales e grandes planícies, em
que reconheci a Cordilheira dos Andes e as Montanhas Rochosas, além de
muitas outras e, do outro lado do mundo, o gigantesco Pico do Everest e o
encantador Monte Fuji. Formou-se a planície amazônica onde começou a
correr o Rio Amazonas com seus inúmeros afluentes. Formaram-se
inúmeros rios e lagos de água doce e cristalina. Tudo muito limpo e
excepcionalmente belo.
Eu me sentia íntegra, de corpo e alma, mas creio que Deus levou
apenas o meu espírito. Meu corpo lhe criaria inúmeras dificuldades a
começar do transporte e vulnerabilidades, especialmente ao big-bang. E o
espírito, a alma, é a nossa integridade de pura energia. O corpo é apenas a
morada provisória da alma.
Era fascinante “falar” com Deus, porque ele não falava, mas me
intuía o que queria que eu soubesse e bastava-me pensar numa pergunta
para intuir a Sua resposta. Quando pensei: “Será que Ele sabe de todos os
meus pecados e de meus pedidos de perdão”? Tive a resposta imediata:
“Todos! E deleito-me com teus pedidos de perdão sinceros e cheios de
amor. Tu és a minha obra prima: além de bela, me saíste sábia, terna, leal,
digna e prenhe de amor... E o que tu me amas... Por isso te pus no caminho
do melhor homem que encontrei no mundo, para deleitar-te e fazer-te feliz
para te tornares apta a servir aos meus desígnios. E, quando vocês
decidiram saber tudo sobre mim e o Amor, fiz teu esposo intuir o resumo da
minha criação”.
Senti-me corar. A alma, mesmo isolada do corpo, também sente

170
vergonha... Ocorreu-me se ele não se escandalizava com o nosso Amor
selvagem e despudorado. A intuição foi imediata: “Claro que não! Eu criei
a humanidade para o Amor. O maior pecado contra mim é ter medo ou
vergonha de amar, é fazer sexo ou filhos sem Amor. Quem quiser o meu
Amor tem de amar muito os filhos, além de Mim e seus semelhantes, porque
minha essência é o Amor e tem de ser a essência de quem me ama. Eu já
vos fiz intuir isso e é puro encantamento sentir a intensidade com que vocês
se amam”. Eu senti uma vontade tão grande de beijar o meu Deus de Amor...
Beijei-lhe a mão de luz que me conduzia.
Mostrou-me como gerou a vida. Para Deus o tempo não existe, e
para a alma (imortal) também não, podendo situar-se em qualquer época do
passado ou do futuro. O presente é apenas convencional e não existe
deveras. Ele vira passado, constantemente, à medida que o futuro vai
chegando.
Estás chocada? Tenta delimitar o presente atual. Quando ele começou?
Quando terminará?
Deus levou-me há bilhões de anos atrás para eu ver como se deu o
Big-Bang e tudo mais. Em nossa viagem através da criação e a cento e
cinquenta milhões de quilômetros do Sol, pairamos sobre aquela terra nua,
enfeitada de rios e lagos, montanhas e planícies e, não longe do mar, Ele
lançou algo: era um germe invisível, mas Deus dava-lhe brilhos para que eu
o visse.
Aquele germe continha a estrutura evolutiva da vida vegetal que fez
gerar múltiplas espécies de vegetação, evoluindo de pequeninas algas e
gramíneas às gigantescas sequoias da América do Norte, além da flora
marinha. O tempo passava célere e, ao cabo de milhões de anos, a Terra
estava coberta de relvas macias, variedades de flores sem conta, muitas
espécies de hortaliças e tubérculos, árvores carregadas dos mais diversos
frutos e florestas e bosques de variadas espécies de árvores, flores e
frutos... “Qual seria a árvore dos frutos da ciência do bem e do mal?” Ele
riu: “Isso é uma tolice. Por que eu haveria de criar algo tão perfeito quanto
o cérebro humano senão para amar e pensar?
Para fazeres o bem, tens de distingui-lo do mal ou farias ambos
indistintamente e não haveria virtude em fazeres o bem. O mal é o contrário
do bem: é tudo o que não queres para ti. E a tua escolha pelo bem me
agrada realmente porque é o teu modo de ser. É porque tu és digna, meiga e
tens nobreza de caráter. Tu não és restringida pela lei, nem pela minha, mas
pelo teu caráter que te impede de fazer o mal”.
Feliz com tantos elogios, eu via a Terra ficar realmente bela: Os
lagos e rios formavam imensos espelhos d’água cristalina que contrastavam

171
com o verde viçoso das florestas, o colorido variado de frutos e flores, e os
campos loiros dos trigais maduros: Era o paraíso prontinho para ser
habitado dos seres animados... Então Deus lançou outro objeto: o germe da
vida animal que, dentro do mar, desencadeou a proliferação da vida
marinha em incríveis variedades de peixes e demais animais marinhos que
evoluíram de pequeninos peixinhos às gigantescas baleias, povoando de
vida aquática os mares e os rios.
Viajando pela mão de Deus eu perdia a noção do tempo porque o
tempo também deixara de existir para mim. Era como se eu estivesse
incorporada àquela Luz Divina. Mas a evolução das espécies passava
vertiginosamente aos meus olhos e vi alguns peixes evoluírem em animais
anfíbios e saírem para a terra e evoluírem, dos animais da terra às aves do
céu, em grande número e diversidade. O tempo corria célere como numa
vertigem e eu pude notar a evolução dos animais metamorfoseando-se em
múltiplas espécies até darem origem aos humanos. Estes se multiplicaram e
evoluíram do homo erectus para o homo sapiens, ganhando a capacidade de
pensar e o livre arbítrio.
A Terra foi povoada. E viver nela era bom. Todos os viventes eram
felizes, até os animais. Todos os humanos comiam dos frutos da terra e
amavam muito intensamente uns aos outros e tinham O Criador no coração.
Faziam Amor com ternura e paixão intensa, sem culpa, medo ou pudor, de
que nasciam filhos muito amados, o que era bom aos olhos de Deus.
Entretanto, com o correr dos tempos, as populações passaram a
crescer desordenadamente porque todos os homens queriam engravidar o
maior número possível de fêmeas para garantirem suas descendências e
tiveram medo de escassearem os alimentos, a água e o espaço vital.
Eram as tentações de Satanás que se regozijou com o sucesso que
elas causavam no coração dos homens e entreviu a grande possibilidade de
dominar o mundo. Instigou as tribos a lutar umas contra as outras para se
reservarem aquíferos, acumularem para si os frutos da terra e para avançar
nos espaços alheios: matavam e roubavam. As tribos mais pacíficas e com
menor número de homens eram as que mais padeciam. O homem tornou-se o
lobo do homem obcecado pelo poder sobre os demais: não mais fazia amor
terno e passional, mas estuprava simplesmente para garantir a descendência
e maior população para lutar com vantagem contra os demais. Instigados
por satanás inventaram a guerra, a escravidão, a corrupção e armas (de
início, ossos de grandes animais que usavam como clavas) para dominarem
as tribos menores e pacíficas. Eram o despotismo e o imperialismo
satânicos em evolução e inventaram falsos deuses e religiões para submeter
os povos. O mundo de Deus foi transformado no imundo de satanás.

172
O Jardineiro do Céu, que plantara na Terra o Seu idílico jardim,
extasiara-se com a Sua criação, mas horrorizou-se com o “homem lobo do
homem”. Viu que era ruim, muito ruim, e abandonou a Terra à sua própria
sorte.
Sem Deus para coibi-lo, Satanás passou a gerir o mundo:
reprogramou os germes da vida vegetal e animal para produzir toda sorte de
pragas: micróbios, vermes, bactérias, vírus, mosquitos, formigas, animais
peçonhentos e pragas agrícolas como ervas daninhas e bactérias que atacam
os frutos da terra. As florestas aprazíveis que abrigavam o homem e lhe
preservavam a vida, tornaram-se inóspitas e habitadas por feras, miríades
de mosquitos transmissores de doenças e animais peçonhentos.
Na vertiginosa viagem de volta através do tempo, pude verificar que
surgiram muitas doenças causadas por vírus, micróbios, vermes, bactérias e
peçonhas inoculadas nos humanos, e demais seres viventes, por vírus,
insetos, ratos e outras pragas. A aprazível Terra ficou do jeitinho que o
diabo gosta...
Valendo-se da ausência de Deus, satanás tomou conta dos homens e
instigou-os a intensificar as guerras, a conquistarem-se e escravizarem-se
uns aos outros por meio de lutas sangrentas e a criarem as nações: era “a
sobrevivência do mais forte”. Passaram às guerras de conquista e de
dominação que evoluíram para guerras imperialistas... Era o poder de
Satanás tomando conta do mundo. Arrependido de ter abandonado o mundo
aos desígnios de Satanás, Deus enviou Seu Filho para reverter a catástrofe,
colocando o germe do Amor Divino no coração de cada ser humano, que
aniquilaria o germe do poder satânico.
Satã, porém, já tinha praticamente todo o mundo nas mãos, e os seus
agentes, que detinham o poder, insuflados pelos fariseus e pelos escribas,
crucificaram Jesus. Sem Jesus, já que Sua doutrina do Amor foi estatizada e
transformada em teocracia, trezentos anos depois de sua morte, por
Constantino I, as guerras multiplicaram-se, inclusive em sangrentas disputas
pelo poder religioso, e evoluíram para guerras químicas e biológicas...
Manipularam o germe criador, gerando bactérias e vírus terríveis para
matar populações inteiras. Era a guerra biológica. Muitas das doenças
existentes, provavelmente até a AIDS, são originárias desses vírus e
bactérias.
Antes de trazer-me de volta ao lar, Deus levou-me numa viagem
alucinante até as profundezas do Universo, através de uma infinidade de
galáxias, fazendo-me atravessar miríades de estrelas. Quando eu cuidava
estar nas bordas do Universo, indicou-me uma estrela envolta em grandes
chamas. Intuiu-me que era o inferno, para onde o diabo carrega os decaídos

173
da graça de Deus, o rebotalho humano, ou seja, as almas danadas dos
poderosos, políticos injustos e donos de escravos, e dos que se apoderam
do que não lhes pertence e causam mal aos justos, além dos bandidos e
mentirosos, pedófilos, tarados, assassinos e de todos os que trapaceiam
contra as pessoas simples, em suma: “todos os que fazem ao próximo o que
não querem que lhes façam”. E Deus intuiu-me: “Essa é a minha lei. É uma
lei simples e universal de um só mandamento, imutável por toda a
eternidade e inteligível por todos, inclusive pelas pessoas mais simples e
as crianças. Não precisa de exegetas com interpretações abstrusas que têm
causado tanto ódio e tantas guerras”. Prosseguiu:
“O Amor é a minha natureza. Quem morre tendo-me no coração e
amando o próximo vai direto para o Céu. Quem não ama é alma danada,
decaída da minha graça, e que o diabo leva para alimentar os seus fogos
infernais. A escolha é simples: Deus ou o diabo, o Amor ou o poder, o amor
ao próximo ou o mandonismo, a salvação ou a perdição. Não há meia
opção, mas todos são livres para escolher e dei-lhes a inteligência e o livre
arbítrio para escolherem o melhor. Quem quiser a salvação basta receber o
Amor no coração e arrepender-se dos seus pecados. Se sincero, e eu
conheço todos os pensamentos, o Amor anulará o poder demoníaco e o
decaído recuperará o Meu Amor no seu coração e o direito ao Paraíso
Celestial. É simples assim! Só não pode fazer aos outros o que não quer
para si”.
Apartou as labaredas daquele inferno terrificante e eu pude ver as
almas danadas contorcendo-se e pedindo clemência, inclusive conhecidas
figuras da História, como imperadores, governantes despóticos e políticos
safados, ardendo naqueles fogos infernais sem se consumirem jamais. Era
deveras horripilante.
Eu via tanta bondade no Meu Deus. Jamais falava em castigar. Ele
apenas se afastava dos faltosos renitentes que ficavam à mercê de satanás.
Os castigos eram todos impostos por satã. É ele e os seus demônios que
carregam as almas danadas para o inferno. E lá estava ele com uma horda
de demônios despejando um enorme contingente de almas danadas.
Eu ouvira tanto que devemos temer a Deus! Ele foi taxativo: “Não,
filha, Eu sou o Amor e não há porque temer o Amor. Quem amar de verdade
os meus filhos diletos me ama e terá o meu Amor e a glória eterna,
permanecendo a salvo de satanás. É a satanás que todos devem temer e se
voltarem para o Amor ou acabarão no inferno.
De volta a casa, sobrevoei, sempre conduzida pela luminosa mão de
Deus, o rio Amazonas e o rio São Francisco em processo de poluição. Vi as
amplas clareiras de devastação nas Florestas e um sem número de

174
atrocidades contra a natureza. Já na minha São Paulo querida e enfumaçada,
planei sobre engarrafamentos atrozes e as cloacas que despejam seus
detritos, nas represas Billings e Guarapiranga e sobre a fétida cloaca
máxima do rio Tietê e do rio Pinheiros com suas montanhas de lixo,
garrafas e latinhas... Eu estava de volta à minha cama beijando
fervorosamente a luminosa mão de Deus... Ele intuiu-me: “fica Comigo,
filha, Eu estarei sempre contigo”.
Pela Sua mão eu viajara bilhões de anos em apenas um átimo,
testemunhando a criação, o apogeu e a degradação do mundo. Mas e o
homem?. O que faz o bicho homem em meio a tudo isso? O homem caga nos
rios de onde bebe...
Karina que nem piscava, suspensa da narrativa da mãe, mijou-se de
rir e, envergonhada, pediu desculpas:
─ Desculpa, mãezinha. Essa última frase está tão carregada de
sarcasmo e significado que eu não aguentei.
─ Mas o homem é mesmo tão estúpido que seria de morrer de rir se
não fosse tão trágico... Quando te deres conta do que é o mundo e do que
poderia ser, vais ficar estarrecida com o tamanho da estupidez humana, ou
melhor, dos dirigentes: nobreza e clero e, atualmente, políticos e clero. O
Nosso Amigão lá das Alturas vai ter muito trabalho para limpar o mundo
imundo e a alma humana corroída de corrupção para reconstruir o Seu
Éden.
Minha grande missão era conceber-te e educar-te para Deus e só
com a Sua ajuda poderíamos fazer essa preciosidade que tu és. Portanto tu e
teus descendentes também estão nos desígnios de Deus, além de Ric, teu
pai, teu futuro esposo, tuas amiguinhas, teus amiguinhos e todos os que
forem capazes de gerar Amor ou incuti-lo no coração dos humanos...
Toda essa aventura fantástica não poderia ser um mero sonho e
tivemos certeza da existência de Deus e da Sua verdadeira face: puro
espírito de bondade, Amor e paz... e a convicção de que a verdadeira
doutrina de Jesus (abrir espaço para Deus-Amor no coração de todos os
seres humanos, possibilitando à alma o encontro com Deus e a sua
salvação) era a chave principal e o objetivo de nossas pesquisas.
É óbvio que a Sua morte na cruz foi apenas um crime brutal e não
salvou ninguém. Pelo contrário, o mundo ficou mais danado do que nunca
após a “conversão” do imperador Constantino I em 330 D.C. Vê a
inquisição, o santo ofício, a escravidão generalizada e a danação de
guerras, imperialismos e as ditaduras mais atrozes da história da
humanidade em que mergulhou o mundo. Para que Deus recupere o seu
mundo de Amor e paz é imprescindível recuperar os princípios da doutrina

175
de Jesus. A nossa tese sobre o Amor se fundaria na sua doutrina. Passamos
a escrever Amor com maiúscula, claro, porque o Amor é Deus.
O mundo do Deus Verdadeiro, revelado por Jesus, não tem reis,
partidos, ideologias, religiões, nacionalidades, raças e nem mesmo
fronteiras, e nem poderia ter, porque tudo isso separa, divide, é hostil às
pessoas e gera ódios e guerras, sendo o oposto do mundo do Amor que
Jesus tentou restaurar do Paraíso: o Amor de Deus unindo toda a
humanidade em total confraternização. O Amor era a única exigência para
entrar no seu clã, fossem homens ou mulheres, nobres ou plebeus, escravos
ou senhores, estrangeiros ou nacionais, párias ou ladrões (Dimas) ou
prostitutas (Maria Madalena).
A conversão ao Amor e à lei de Deus (“Não faças ao próximo o que
não queres que te façam” ou na versão positiva de Jesus: “tudo o que vós
quereis que os homens vos façam, fazei-o antes vós a eles, porque esta é a
lei e o profeta”, Mateus 7:12) redime qualquer crime ou pecado. Portanto
ninguém tem a alma salva e salvá-la depende exclusivamente de cada um de
nós: não podes fazer mal a ninguém e se fizeres o bem como Jesus
recomenda estarás de alma limpa... Se a tentação te levar a fazer o mal tens
de pedir perdão a Deus com coração honesto e tua alma estará limpa para
Deus. A lei é negativa: “Não faças... o mal”. Jesus deu-nos a lei positiva:
“faça o bem.
Jesus não queria absolutamente ninguém, do mundo, excluído de sua
sociedade universal de cidadãos dignos, o que implicava obviamente em
por fim à escravidão e ao poder e suas artimanhas. Esse era o objetivo
primordial da doutrina de Jesus: criar uma sociedade de caráter universal e
igualitário em que todos os cidadãos do mundo, independentemente de
nacionalidade, raça ou cor, fossem cidadãos dignos e livres, unidos pelo
amor a Deus e pela fraternidade (Amor ao próximo), que crescesse de
maneira exponencial e absorvesse todas as sociedades pagãs e
escravocratas do mundo pela conversão à sua doutrina. Nessa sociedade,
essencialmente fraterna, ninguém teria poder sobre ninguém, nem Ele
próprio! E por que haveríamos de ter poder sobre quem amamos? O que
podemos ter é ascendência. Ele era revolucionário, sim, porém
revolucionário do Amor, da sabedoria, não da sangueira, não da estupidez.
Por isso enviou seus apóstolos pelo mundo: “Ide e fazei discípulos
entre todas as nações”, disse Jesus aos apóstolos, (Mateus, 28). Paulo foi à
Grécia, Pedro a Roma... Jesus visava à união de todos os povos do mundo
pelo Amor num só povo, o povo de Deus. O povo de Deus não são os
judeus, mas todos os povos do mundo, inclusive os judeus. Do contrário de
que nos valeria sermos seguidores de Jesus e acreditar em Deus se não

176
somos judeus?
A História contém erros e omissões graves e precisa ser lida nas
entrelinhas. Jesus não morreu na cruz para nos salvar (morrer não salva
ninguém), mas porque queria nos salvar... da escravidão, da submissão e da
opressão. E ainda lhe faltava muito para concluir a sua obra, inclusive
enviar mais apóstolos pelo mundo. Os judeus poderosos (fariseus) não
aceitavam a sua doutrina e as mudanças sociais profundas que ela
promoveria, inclusive o fim da escravidão, porque queriam manter seus
privilégios sobre os escravos e seu despotismo sobre o povo e, como Jesus
se recusava a ser o Messias porque não lhe importava o governo, mas o seu
fim, pediram a sua morte a Pôncio Pilatos. Os fariseus queriam livrar-se do
jugo romano, não o fim da escravidão e do despotismo, e para Jesus jugo
romano ou farisaico era a mesmíssima coisa. Jesus só admitia submissão ao
Amor e a Deus, ou seja, Fraternidade (Democracia) de fato ampla, geral e
irrestrita: Um só Deus, uma só humanidade, um só povo, uma só democracia
e uma só lei, a de Deus.
Todavia o martírio de Jesus tornou a Sua doutrina ainda mais forte e
a sua sociedade fraterna só fez crescer, claro, – com tantos escravos, tantos
párias e o povo espoliado – até ser atraiçoada, em 330 D.C, pelo
imperador Constantino I e seus agentes que, para enganarem os adeptos de
Jesus, simularam conversão ao cristianismo. Teria sido muito fácil a eles
mudarem o mundo, tanto mais que lideravam uma teocracia, ou seja, tinham
todo o poder nas mãos. Apesar das perseguições brutais e
crucificações, a revolução cristã estava em pleno andamento e crescendo a
ponto de assustá-los... Jesus tinha até indicado O Deus verdadeiro: O Deus
de Amor. Era só dar liberdade e dignidade à sociedade criada por Jesus (de
fato o povo de Deus) e deixá-la expandir-se livremente. Ela teria absorvido
inexoravelmente as sociedades pagãs, o grande objetivo de Jesus, e hoje
teríamos um mundo realmente cristão e limpo, digno de ser habitado por
verdadeiros cristãos, no lugar desse mundo esquizofrênico de exploradores
e explorados.

Karina estava aflita e atônita:


─ Mamãe, como nós escapamos do gene da danação?
─ Essa pergunta também nos ocorreu e tivemos de especular. As
sociedades eram constituídas de poderosos (nobreza e clero), além de
escravos, párias e a plebe, todos viciados pelo excesso de poder ou pela
submissão à falta dele, mas havia também os estrangeiros que não eram
senhores nem escravos, mas empresários e comerciantes, ou, na antiga
denominação, mercadores. Os mercadores tinham de ser cordiais para

177
conseguirem e manterem os fregueses. Cordial deriva de coração (cor,
cordis, em latim) e, obviamente, não tem nenhuma conotação com poder.
Ela intrigava-se:
─ Se toda a atividade era feita por escravos, plebeus e estrangeiros
o que faziam a nobreza e o clero?
─ “Governavam” e submetiam todos com escravidão ou impostos
escorchantes e, ao enriquecerem, entregavam-se à orgia. Por que pensas que
impérios sólidos desmoronavam? O poderoso império romano foi tomado
por uma horda de bárbaros!
Houve também os chamados cristãos dos primeiros tempos,
anteriores à “conversão” de Constantino I, que, obviamente, tinham muito
boa índole, já que aderiam a uma doutrina que pregava o Amor: o
Verdadeiro Cristianismo. Fiéis aos ensinamentos de Jesus, esses cristãos
não se submetiam aos poderosos, e viviam à margem da sociedade
completamente imunes às influências do poder, porque não eram dominados
nem dominadores, mas apenas perseguidos como marginais porque não
serviam nem se submetiam ao poder e porque viviam unidos pelo Amor
numa verdadeira comunidade fraterna, seguindo estritamente os
ensinamentos de Jesus e arregimentando novos adeptos para a sua causa. É
óbvio que o gene que tinham desenvolvido era o do Amor e, por isso, eram
perseguidos e os aprisionados eram crucificados ou atirados aos leões para
divertirem a plebe e servirem-lhe de exemplo para que não aderissem a
Jesus. Pedro foi um dos crucificados.
Também os mercadores eram, de alguma forma, marginalizados e
até a necessária cordialidade mais o fato de não serem senhores nem
escravos, nem cidadãos, os mantinha imunes ao poder.

Se o atavismo ou memória genética estiver de fato na raiz do


problema, como tudo indica que está, é provável que venham dessa gente os
nossos atavismos ou a memória genética do Amor e os de todas as pessoas
capazes de amar. Ou o mais provável é que todos tenham ambos os genes,
desenvolvendo-se o que melhor alimentarmos. No mínimo, podemos,
quando conscientizados, repudiar um e adotar o outro. Afinal, a maior das
maravilhas de que dispomos e nos distingue dos animais é, a par com a
faculdade de pensar, o livre arbítrio. De nada vale pensar se formos
vaquinhas de presépio incapazes ou proibidos de escolher o caminho certo.
E se não usarmos o livre arbítrio ficaremos à mercê dos mandões.
O livre arbítrio é a capacidade de distinguir entre o certo e o
errado, o verdadeiro e o falso, e escolhermos nossos próprios caminhos. É
o que verdadeiramente nos assemelha a Deus. Tão fantástico e inviolável é

178
ele que tentaram sufocá-lo de todas as formas, inclusive com lavagem
cerebral: “Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino
do Céu”. Os poderosos querem-nos submissos e irracionais, fáceis de
controlar, governar e submeter e também de explorar... Jesus empregou a
expressão, mas não no sentido de sermos tolos, cordatos e submissos aos
poderosos. Vê que Ele estava fazendo uma revolução contra eles. Ele
referia-se a não sermos maliciosos, trapaceiros, enganadores,
estelionatários, dominadores... Dos poderosos Ele disse que “é mais fácil
um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino
dos Céus”. À época, rico era o mesmo que poderoso.
O poder encontra campo muito mais fértil para o seu
desenvolvimento: a dureza da luta pela vida, a sobrevivência do mais forte,
as injustiças, os privilégios, a ganância, a ambição, a corrupção... Tudo isso
se impregna fundo na alma das pessoas e fica gravado na memória genética,
transmitindo-se gerações afora e tem levado o homem a submeter os menos
aptos e a escravizá-los e até a fomentar sua reprodução em massa para
terem fartura de escravos ou a equivalente mão de obra barata...
No Brasil dos anos mil novecentos e setenta, criou-se a “lei do
salário-família” para fomentar a criação de mão de obra barata. Como o
salário mínimo se tornava cada vez mais miserável, os pobres faziam
muitos filhos para receberem muitos salários-família que, à época, era
razoável. Resultado: a população que, em 1970 era de 90 milhões, hoje está
em mais de duzentos milhões e teria mais do que quadruplicado se não
tivessem reduzido o famigerado salário-família quase a zero e hoje o Brasil
seria um país de miseráveis.
O que me deixa deveras estarrecida é que ninguém sabe explicar
porque há tanta miséria e tão má distribuição de renda no Brasil! Em que
pode resultar pobres sem eira nem beira fazendo dezoito, vinte filhos, como
era comum nos anos mil novecentos e setenta, a não ser multiplicar os
deserdados que trabalham por um mínimo apenas suficiente para manter a
alma junto do corpo? Isso não é impulso à miséria e a alguma forma de
escravidão? Consciência histórica é fundamental para analisar os fatos e
corrigir as distorções. Massa de manobra só serve para eleger políticos
nefandos.
O crescimento populacional é importante, mas regrado e bem
estruturado, com boa educação e bons empregos para todos. Antes dos anos
mil novecentos e setenta não havia pobres pedindo esmola ou vendendo
balas nos cruzamentos e os mendigos eram raros, geralmente alcoólatras ou
vagabundos irrecuperáveis. Os deficientes eram sustentados dignamente
pela família.

179
Apesar das repúblicas e das democracias, ainda há uma pequena
minoria explorando, praticamente, toda a humanidade. E à maioria oprimida
basta não votar nos poderosos e mandões, alijando-os da política.
República, de “res pública”, significa “coisa pública”, ou seja, “coisa do
povo”, não dos poderosos. Quando vamos assumi-la? Para torná-la nossa,
temos de eliminar da política os corruptos para que as pessoas dignas se
habilitem. Tu te candidatarias em meio à imundície das últimas eleições?
Receberias doações de empreiteiras? É óbvio que são disputas para
corruptos.
O poder tornou-se o objetivo de todos: poderosos ou oprimidos.
Estes para tentarem livrar-se da opressão ou compensarem-na, sentindo-se
“senhores” dos filhos, cônjuges ou subalternos...
Eu e papai temos certeza de termos herdado o gene do Amor e sua
memória genética, mas não sabemos se herdamos também o do poder e se o
transmitimos a ti e ao Ric. Acreditamos, porém, que ambos devem coexistir
em nossos DNAs e crescerá mais o que for mais bem nutrido, por isso
evitamos tudo o que pode alimentar a obsessão pelo poder e pela corrupção
e buscamos tudo o que engrandece o Amor.
─ Como se caracteriza a corrupção?
─ A corrupção foi introduzida no mundo há mais de dez mil anos. É
obra de satanás e foi apropriada pelos poderosos, “os lobos do homem” e
até por pessoas simples. É todo e qualquer ato que contraria a Lei de Deus:
“Não faças aos outros o que não queres que te façam” e também as leis dos
homens que, obviamente estão contidas, mal ou bem, na Lei de Deus que
abrange todos os pecados e crimes possíveis. Corrupção é tudo o que não
queres que te façam, ou seja, é o mal do mundo, e malditos são os corruptos
a serem lançados no inferno.
A fatalidade genética fez-nos decidir que não descuidaríamos de
cobrir vocês de muito Amor, afeto e atenção para neutralizar os eventuais
genes do poder e procuramos a melhor maneira de educá-los para fazer
florescer o Amor nos seus coraçõezinhos e para torná-los capazes e
determinados para que não submetam, mas também não sejam submetidos. E
nós estamos muito felizes e orgulhosos de ver que vocês não apresentam
nenhum vestígio do malsinado gene. São filhos maravilhosos, em que só se
vê Amor, e atenciosos e dedicados sem nunca terem recebido ordens ou
castigos.
A obediência e o respeito (papai odeia essas palavras por estarem
ligadas a poder e mandonismo) de vocês não são fruto do medo e da
subserviência, mas do Amor e da própria determinação. O verdadeiro
mérito de uma pessoa está em ser boa, justa, digna, idônea, leal, correta,

180
honesta, pela sua formação moral, pela sua dignidade, pela sua
determinação, pelo seu arbítrio livre e não por medo, não por submissão
aos poderosos e suas artimanhas e até às próprias leis. As leis, inclusive a
de Deus, só existem para refrear os indivíduos de índole mal formada,
forçando-os a se tornarem dignos ou, pelo menos, a se
comportarem.
O poder, a corrupção e o mandonismo são a estrada larga e
sedutora, mas onde trombamos a todo instante, que nos leva direto a satanás
e ao inferno. Tu viste os “mensaleiros” trombando com a justiça, com os
castigos da vida... Que a cadeia os faça se emendarem e se voltarem para o
Amor divinal. Mais o petrolão...
Karina sorriu:
─ Estou feliz por ter herdado meus atavismos dos antigos cristãos e
mercadores, especialmente por tê-los recebido através de ti e de papai,
preservados pela imensa ternura de vocês.
─ Quando disse ao teu pai que achava que as mulheres eram as
maiores vítimas de toda essa insânia, ele concordou: “As mulheres não têm
a força bruta e, até décadas recentes, quando a força começou a perder a
importância com a sua substituição por máquinas e com a consequente
entrada da mulher no mercado de trabalho mais a revolução sexual, elas
dependiam totalmente dos homens (pais ou maridos) para sustentá-las e
protegê-las. A submissão era total. Até o casamento dependiam do pai e
depois, do marido”.
Muitos homens ainda veem nas mulheres seres para servi-los,
inclusive sexualmente, e é grande o número de mulheres, especialmente
jovens e adolescentes, que adoram ser usadas. Querem “ficar”, não importa
com quem, desde que aparentemente as agrade.
Pesquisando na história, nota-se também que os homens sempre
odiaram as mulheres que eram tratadas, na melhor das hipóteses, e em
grande parte ainda o são, como animaizinhos de estimação. As normas, a
moral, os tabus, os preceitos e preconceitos sociais são estabelecidos pelos
legisladores e formadores de opinião. E esses eram todos homens
poderosos em razão de sua atividade: governantes e legisladores, filósofos,
poetas e até santos. As próprias religiões que, se de fato visassem ao
engrandecimento e salvação da alma, seriam uma atividade tipicamente
feminina, sempre foram e ainda o são totalmente controladas, dirigidas e
normatizadas por homens.
As mulheres eram consideradas indignas como sentenciou Confúcio
(551 A.C. – 479 A.C.: “A mulher é o que há de mais corrupto e corruptível
no mundo”. E Petrarca (1304/1374) arrematou: “Inimiga da paz, fonte de

181
inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranquilidade, a mulher é
o próprio diabo”. Tu podes imaginar o que significava ser chamada de “o
próprio diabo” numa época que o chamavam pelo eufemismo de dianho,
porque ninguém ousava dizer-lhe o nome? Queres outro filósofo? Para
Schopenhauer (1788/1860) “O simples aspecto da mulher revela que não é
destinada aos grandes trabalhos intelectuais nem materiais. Conservam-se a
vida toda uma espécie de intermediárias entre a criança e o homem. A
natureza recusando-lhes a força, deu-lhes a astúcia para lhes proteger a
fraqueza, de onde resulta a instintiva velhacaria e a invencível tendência à
simulação do sexo feminino”.
Eram consideradas seres de segunda classe e culpadas de todos os
males do mundo a começar do “pecado original”. Mesmo a descoberta da
imprensa e a Revolução Francesa não provocaram grandes mudanças a não
ser políticas e mesmo isso só em relação aos homens. Só no século
passado, depois da revolução feminista e, principalmente, após a televisão
e a revolução sexual motivada pela invenção da pílula, é que as mulheres,
aos poucos, começaram a ter voz e a impor alguns direitos.
Até então, eram totalmente marginalizadas. Não aprendiam a ler,
não votavam nem lhes era permitido ter opinião e ainda não podem oficiar
nas igrejas. Nem coroinhas podem ser, graças a Deus! Com tanto padre
pedófilo já bastam os meninos!
“O pecado original” como a origem de todos os males é real, mas
nada tem a ver com o sexo e sim com o poder. Não é obra da mulher e sim
do homem que o comete há mais de dez mil anos, ao tornar-se o lobo do
homem, trocando o Amor de Deus pelo poder de satanás, para submeter,
escravizar, explorar, torturar, enganar, roubar, matar, estuprar e violentar
seus semelhantes, inclusive os próprios filhos, transformando o mundo
numa selva, sem querer ofender os animais que são incapazes de cometer
tais vilanias e atrocidades. O poder é de fato a corrupção, a origem de
todos os males e o homem só será digno na medida em que repudiá-lo. E
nós, na medida em que repudiarmos os poderosos e corruptos.

Muita coisa mudou com o Iluminismo, a Revolução Francesa e o


advento das repúblicas e das democracias: as religiões foram perdendo o
poder temporal (ou laico), porém, por meio da liberdade de culto, elas
mantêm o poder espiritual, ao menos sobre as pessoas simples ou “pobres
de espírito”, dominando-as e espoliando-as com dízimos e venda de
“milagres” e até com a venda de Jesus: “Queres Jesus? Põe o teu dinheiro
lá no altar”!
Em troca, prometem-lhes a salvação das almas se forem

182
cordeirinhas e pagarem religiosamente os dízimos ou as fazem sentirem-se
candidatas ao inferno se não forem generosas no pagamento. Como se elas
pudessem salvar a alma de alguém! Como viste, só tu podes salvar a tua
alma não fazendo o mal ou fazendo o bem. As religiões ainda mantêm o
poder de controlar a máquina do Estado usando o seu poder de intimidar os
governos e os políticos que não ousam opor-se a elas deixando de avançar
em políticas importantes para a sociedade e até envolvendo religião com
eleição e política! Verdadeiro atentado à democracia. Democracia é a
completa separação entre Estado e religião. Ninguém tem direito de querer
submeter-nos a uma religião ou aos seus efeitos e o Congresso Nacional
mais parece um órgão dos evangélicos. Se não se tomarem providências,
voltaremos às teocracias! O Irã voltou, após a deposição do Xá Reza
Pahlavi.
─ As religiões fazem milagres?
Aline riu:
─ Claro! O pastor espera lotar o templo e faz uma preleção
fanatizante de uma hora ou mais sobre milagres e quando todos estão
preparados para “receber” o milagre ele liga o ar condicionado...
Também pode contratar um ator “cocho” para caminhar normalmente
ao ligar o ar condicionado.

Nós temos a obrigação de educar nossos filhos com Amor, atenção e


dignidade para que sejam capazes, honestos, dignos, determinados e
cônscios de suas responsabilidades, para que não se submetam e repudiem
a opressão e os opressores, para que não sejam simples massa de manobra
de políticos safados e mentirosos.
Mudar o poder em Amor: essa seria a verdadeira revolução
feminista, a verdadeira Ressurreição de Jesus. A revolução que realmente
mudaria o mundo apodrecido na estupidez de muitos milênios. E o melhor:
é uma revolução de que todas as pessoas de boa índole podem participar,
inclusive as mulheres e as crianças, porque a única arma a ser usada é o
Amor. E é tão fácil ser guerrilheiro do Amor: basta receber Deus no
coração e amar os filhos, os pais, o cônjuge, os irmãos, os parentes, os
amigos, o próximo e educar filhos dignos. E quando nós amamos, filhinha,
recebemos tanto Amor! E o melhor: Deus está conosco porque Ele sempre
está onde há Amor.
Tu já és a maior guerrilheira do Amor e se tu e as tuas amiguinhas, e
as amiguinhas das tuas amiguinhas e as amiguinhas delas... resolverem
convencer seus futuros homens a fazer apenas cidadãs e cidadãos íntegros e
verdadeiros seguidores de Jesus – ou seja, com o divinal Amor no coração

183
em lugar do satânico poder – poderemos, no médio prazo, ir substituindo os
políticos satânicos que nos governam por cristãos de verdade. E as futuras
gerações terão um mundo realmente limpo e digno para viver, com Jesus
redivivo no coração de cada um. Será a refundação do verdadeiro
Cristianismo. A redenção do mundo depende de cada um de nós. E o
melhor, livrando-o da barbárie, nós estaremos fazendo o bem, amando e
salvando a nossa alma.
Só a educação correta, baseada no Amor e atenção à inteligência
das crianças, poderá mudar o mundo. Quando formos a maioria, e tivermos
Deus por nós, poderemos eleger só gente nossa. Quem nos resistirá? Os
fariseus notaram essa força em Jesus, por isso exigiram a sua crucificação,
mesmo tendo de escolher entre Ele e Barrabás, o pior bandido da época.
Acreditavam que com Sua morte morreria a Sua doutrina, mas Jesus e a Sua
doutrina de Amor tinham tanta força que a comunidade que Ele criou
continuou crescendo, resistindo a toda sorte de perseguições, até que
sucumbiu atraiçoada e enganada pela “conversão” de Constantino I que a
incorporou ao Estado, criando uma teocracia “cristã”. Urge mudar o mundo
ou logo teremos um mundo só de Barrabás com todo mundo mentindo,
enganando, roubando, falsificando, estuprando e matando. O diabo está à
solta e só as pessoas de boa índole podem detê-lo.

A Revolução Francesa originou-se de uma insubordinação da


burguesia contra a nobreza e o clero. Cansara-se da opressão, da corrupção
e dos impostos cada vez mais escorchantes... A Revolução Russa
(Bolchevista) foi motivada pela opressão e exploração dos operários como
tantas outras... Mas as revoluções sangrentas substituem um grupo de
poderosos por outro... Há apenas a troca dos opressores por outros,
geralmente, sanguinários. Como seria a revolução pelo Amor?
Karina sorriu embevecida:
─ Linda, linda! Eu vou discutir isso com minhas amiguinhas e por
que não também com meus amiguinhos! – Riu – Para serem amigos de
Karina têm de ser muito ternos e inteligentes!
─ O mundo é um imenso hospício governado por uma minoria que
domina, engana e explora o povo: O poder corrompe as pessoas quando não
são as pessoas que se corrompem para se tornarem poderosas. Tu viste o
que houve de mentiras, trapaças e enganos nas últimas eleições. A
corrupção é a regra.
Karina brincou:
─ Mas nós vamos acabar com tudo isso, porque eu, minhas
amiguinhas e meus amiguinhos e os amiguinhos deles vamos fazer filhos

184
melhores ainda do que os teus: verdadeiros seguidores de Jesus.
Aline não riu. Ao contrário respondeu-lhe séria:
─ É bem provável, filhinha. Nós tateamos no escuro – sorriu – e
vocês já têm a fórmula, mas o meu maior orgulho é que tu e Ric não são
apenas bons filhos. São filhos perfeitos!
─ Não, mamãe, nós somos filhos de pais perfeitos! E se algum
mérito temos é o de procurarmos merecê-los e ser dignos de vocês. Eu e
Ric bem avaliamos o quanto lhes devemos de respeito terno, admiração, e
do mais sublimado Amor.
─ A humanidade precisa, urgentemente, de um mundo melhor e até
de um mundo novo, mas só o começaremos a melhorar pela educação:
educação com Amor, dignidade, atenção, e respeito à inteligência das
crianças... Estou certa de que tu e Ric já fazem e poderão fazer muito por
essa mudança, e o melhor: basta serem vocês mesmos e educarem filhos
dignos...

185
Capítulo XVIII – A TERNURA

Karina namorava sempre muito segura de si, seguindo


rigorosamente as instruções da mãe e sob seu monitoramento, porém um dia
o juízo lhe escapou. Quando estavam na fila do cinema se deslumbrou com
a beleza de um garoto. O fascínio por ele levou-a a sorrir o seu sorriso
lindo e espontâneo, sem o truque, imaginando como seria ser beijada e
penetrada pelo Amor daquele Adônis fascinante e tê-lo como o homem de
sua vida para sempre. Ela imaginava o seu sonho se transformando em
realidade e, flutuando em sonho, foi surpreendida sorrindo-lhe um dilúvio
de ternura e, a custo, desviou o olhar encabuladinha sem conseguir
desmontar o sorriso, porém. O garoto abordou-a e sorrindo perguntou-lhe:
─ Vamos namorar?
A mãe foi esperá-la à porta da sala do cinema e Karina estava
simplesmente deslumbrada. Nunca vira um rapaz tão belo e, com seu
sorriso mais terno e coração aos saltos, respondeu-lhe meio encabulada:
─ Eu acho que sim... Vem cá!
Tomou-lhe a mão e arrastou-o até Aline. Apresentou-a:
─ Esta é minha irmãzinha Aline.
E voltando-se para a mãe:
─ Amiguinha, este é Francisco e eu estou roxinha para namorar com
ele. O que tu achas? Ele não é lindo de morrer?
Aline estava embasbacada com a graça do garoto, mas encarou-o
sorrindo:
─ Estou encantada, Francisco. Puxa! Com esse rostinho lindo você
já deve ter tido uma porção de meninas.
Ele respondeu-lhe orgulhoso:
─ Onze!
─ Não é sem razão. E você transou com todas?
─ Claro!
─ E quer transar com Karina?
─ Quero.
─ Por quê?

186
─ É uma mina muito gostosa.
─ O seu namoro mais longo... Que tempo durou?
─ Duas semana mais o menas.
─ E por que acabou?
─ Bom. Ela era uma mina peitudinha e gostosa. Tinha onze anos e eu
era o primeiro namorado. Aí a mina arranjou outro e não quis mais eu.
Aline voltou-se para Karina que, desconcertada, enrubescia mais a
cada fala do rapaz e amargava uma profunda decepção. Gozou-a:
─ Se tu achas que suportas dar para um menino que transa como o
cachorrinho de madame e fala como o presidente da república...
Sem conseguir evitar o riso e mesmo corada até a raiz do cabelo,
Karina conseguiu ser gentil e balbuciar:
─ Desculpa, Francisco, adeus!
Ambas entraram no cinema. Karina não se conformava com a tolice
inadmissível depois dos ensinamentos da mãe. Aline comentou:
─ É triste, mas a realidade desconcerta: um sapo beijado por uma
princesinha pode virar príncipe. Se ele tiver ternura e desejo que se
sublimem em Amor e paixão bravia é inescapável. Mas um príncipe
beijado por uma princesinha sempre se transforma em sapo. Nem uma
virgenzinha inexperiente conseguiu suportá-lo por mais de duas semanas.
Ainda desconcertada Karina aduziu:
─ E ela devia estar roxinha como eu para lhe dar...
─ E era bastante burrinha como eu na minha adolescência para lhe
abrir as pernas...
Karina penitenciou-se:
─ Desculpa, eu sou muito estúpida! Eu pisei feio na bola como diria
o Ric. Estava decidida a começar pela cama... Fiquei tão fascinada que o
meu coração disparou e eu perdi o senso e o juízo. Eu senti um calor
intenso no corpo e uma vontade irresistível de dar para aquele menino.
Como eu desejava ser deflorada por ele e passar a minha vida toda
encabaçando-o com as artes da minha mimosinha que tu me ensinaste!
Quando te disse que queria namorar eu estava umedecida, louquinha
para esquecer o cinema e correr com ele para a minha suíte. Eu só via a
euzinha na minha cama como uma potranquinha fogosa sendo cavalgada por
aquele garanhão “em disparada pelas pradarias da paixão”... Eu só
imaginava a penetração, as intromissões tórridas e a explosão de gozo.
Aline riu:
─ Esqueceste novamente do Amor! Pornografia dá nisso. Mas tu
irias cavalgar é nos pântanos da decepção. Mesmo que tu não estivesses
industriadinha como estás e te contentasses com sexo burocrático, como

187
Clarinha, tu o expulsarias da tua suíte e mergulharias numa desilusão atroz.
Aquele gato deslumbrante é egoísta, sem nenhuma ternura e, provavelmente,
é ejaculador precoce. Tu viste que nenhuma das suas gatinhas o suportou.
Como eu, tu irias odiar o teu defloramento que é o ato mais importante da
vida de uma mulher.
Viste o risco que corres? Já imaginaste se não estivesses
assessorada e fosses direto para a casa dele ou para a tua suíte? Em lugar
do concerto filarmônico com apoteose retumbante que tu esperavas, irias ter
um funkezinho ordinário. E irias correr desesperada atrás dos meninos
tentando encontrar o gozo vislumbrado. É o caminho mais curto para te
tornares o playground da molecada. Mas tanta urgência em dar! Tão cúpida!
Karina quis saber:
─ Cúpida significa que eu fui flechada pelo Cupido?
─ Na mosca! No centro nevrálgico do coração. Cupido é um mito,
claro, mas é a melhor metáfora para o teu estado libidinoso. Mas Cupido
não é deus do Amor. Se existisse seria o deus da paixão, do desejo carnal.
A seta da paixão acertou na mosca porque estavas possuída pelo desejo: o
Amor intenso que sentiste por ele inundou-te de hormônios do prazer
(paixão) e não pensaste no Amor...
O Amor é confiável e se presidisse todo o ato, tu procurarias
conhecê-lo, avaliar sua dignidade, seu caráter, sua ternura, sua inteligência.
Irias querer saber se ele te amava de fato ou queria apenas uma ficada e se
teria estrutura para te dar prazer: um egoísta e ejaculador precoce! O Amor
busca a transcendência, um querer para a vida toda. A paixão, porém, é
essencialmente hedonista, interessa-lhe o prazer imediato e, por isso, é
enganosa. Invadida pelos hormônios do prazer tu só vez cama!
Mas a tua cupidez foi espantosa. Para caíres nessa com a instrução
que tens, só podes estar a poucos dias da menarca com teu primeiro óvulo
maduro e teu primeiro período fértil. Cuida para não saíres de casa sem
absorventes íntimos e o remédio para cólicas. E, sobre tudo, não transes em
hipótese alguma sem camisinha. Além do risco de AIDS a gravidez é
praticamente certa.
Eu entendo o teu transtorno libidinoso. É natural numa mulher
fogosa e se estás na primeira ovulação, teus atavismos tinham de aflorar.
Precisas estar atenta para controlá-los ou eles te dominam o juízo. Como tu,
eu me deslumbrei ao ser cantada. O meu gato não era menos fascinante do
que o teu e o meu coração ficou aos galopes. Também fiquei louquinha para
ser deflorada por aquele Adônis fascinante. – Riu – E ele não falava como
o presidente! Ao contrário, tinha vinte anos, era inteligente e culto e sabia
como envolver uma mulher. Eu era uma virgem púbere, mas burrinha, sem

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nenhum conhecimento de sexo e suas implicações, abandonada à minha
própria sorte. Tudo o que eu sabia aprendera com os cães da rua e
comentários fesceninos.
Fiz das tripas coração para suportar um mês de namoro sem lhe
abrir as pernas, umedecendo com suas espremidas nos meus seios. As
masturbações no clitóris não eram boas porque formigavam muito por causa
da sua falta de jeito e de uma boa preliminar e, um dia, abri as pernas para
ele masturbar-me a menina. Alertado ele evitou me tocar o hímen, mas acho
que me tocou o “ponto G” porque o gozo foi bom. Muito envergonhada, eu
nunca lhe tocara o pênis, mas, sem entender de ternuras e paixões, decidi
que ele era de fato o homem da minha vida e me arrebataria com gozo
extremo. Acompanhei-o até sua casa com o coração aos saltos.
Sem mais aquela, enfiou-me o falo duro que, em menos de um
minuto, virou geleia... E a mim, que esperava pelo arrebatamento de gozo,
restou a dor da defloração, a frustração brutal e a vergonha de ter dado
como uma cadela vadia. Eu me senti atônita: Sexo é isso? O início foi bom,
embora sem preliminares e apesar da dor do defloramento. Inexperiente, eu
me deslumbrava com aquele instrumento “bombando” em mim e a excitação
subindo, quando lhe senti a ejaculação e tudo murchou inexoravelmente.
A decepção foi tão atroz que, apesar daquele começo instigante que
me fazia anelar pelo que seria a continuação e o êxtase, eu fiquei mais de
seis meses sem aceitar cantada. Eu sofria muito porque aquele comecinho
que logo acabou, embora não fosse tórrido, prometia gozo se tivesse
duração adequada. E eu imaginava como seria aquela transa, se completa,
com meu prazer crescendo até explodir em gozo arrebatador. Procurei
desesperada pelo Amor. Superei a vergonha e decidi masturbar o meu
homem para ver se o duro não virava geleia de repente.
Eu anelava por um homem que me apagasse aquele fogo
inextinguível que ardia em períodos férteis e não férteis e me desse o gozo
de que eu ouvira falar e pressentia no ardor da minha mimosinha. Às vezes,
desesperava-me para sair dando como uma cadela vadia até encontrar um
homem que me saciasse.
O segundo namorado deslumbrou-me com um pênis enorme e
manteve a ereção por bom tempo. Suportei um mês de perninhas fechadas
perscrutando-lhe o coração: “Será que ele me ama como diz? Ele jura”! E
divertia-me com o gigante, roxinha para lhe dar. Eu explodia em excitação
com suas encoxadas esfregando o “gigante” na minha bundinha ou na minha
menina, sempre protegida por calças compridas e, por fim, experimentei-o
apertado entre as minhas pernas de minissaia e calcinha bem discreta.
Pensei: “com um membro taludo desses e que mantém a ereção”... Deixei-

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me levar para sua casa. A coisa era mesmo muito comprida e, fascinado
com minha beleza, entrou com selvageria ferindo-me o útero. Em lugar de
gemer de prazer, chorei muito de dor...
Atenta, Karina perguntou-lhe:
─ O pênis pode ferir-nos gravemente?
─ Sim, se exceder o comprimento da vagina pode ferir o útero. O
excedente tem de ficar de fora não servindo para nada além de impedir a
realização do sexo tórrido. No sexo tórrido a penetração tem que ser
completa e com muita força. As intromissões de papai em mim são
violentas, mas não me ferem e eu não peço menos porque me levam ao
arrebatamento do gozo extremo, fazendo-me dizer palavrões para suportá-
lo. Um pênis grosso, porém, é desejável porque quanto mais apertada tanto
mais prazerosa será a transa. Um pênis grosso amando-nos com força bruta
e que caiba confortavelmente na mimosinha é o sonho de qualquer mulher
que saiba o que quer.
Karina riu:
─ Tenho de levar em conta o comprimento e a grossura... Mas
continua contando sobre teus namorados. Lamento por ti, mas está muito
instrutivo.
─ Tu deverás ficar mais ou menos com o meu corpo e a minha
altura. Deverás ter o mesmo comprimento na vagina. Terás de escolher um
de comprimento mediano. Se menor do que a vagina, não importa porque a
excitação da vagina ocorre na parte anterior ao hímen onde está o “ponto
G”. O importante é que o pênis toque com violência na entrada que é a parte
mais enervada.
Os desejos me incomodavam deveras e eu tinha de encontrar o
Amor da minha vida. Por isso tentei a cama, por mais três vezes, com
outros namorados másculos, com pênis de bom tamanho e boa ereção que,
se fossem brutos..., mas cheguei a orgasmos chochos e insisti a ver se
melhoravam, porém... – riu sarcástica – eram muito civilizados, nada
tinham de selvagens. E eu ficava sabendo do encontro com outras... Tudo o
que eles querem é um harém de gatas gostosas só para diversão e não
querem nem saber se a mulher goza ou não. Se machos escolhidos a dedo
davam em frustração, sair dando por aí era burrice.
Após o filme, sentaram-se na praça de alimentação para um lanche.
Karina ainda não se recobrara do seu açodamento e sentia-se como uma
cachorrinha acuada com o rabinho entre as pernas. Aline percebeu seu
desconforto e animou-a:
Relaxa, o pior não aconteceu e o importante é aprender com os
erros. Eles são nossos melhores conselheiros. Quando o castigo da vida cai

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inapelável sobre nós, nos lembraremos dele para sempre. – Riu – Tua
mãezinha pergunta-me se não seria prudente proibir-te certas coisas... Ora,
nós temos um pacto que é sagrado para nós e que nos proíbe proibirmos e
como sempre foste ajuizada dou-lhe de ombros: sempre que quebrarmos a
cara nós a consertaremos juntas conversando como agora, desde que ela
tenha conserto, mas tenho certeza de que tu não abrirás as pernas sem me
consultares antes, não é?
Karina sorriu mais confortada:
─ Depois dessa tolice monumental e com a confiança que tenho em
ti e no teu saber – riu – acho que vou consultar-te até depois de casada de
papel passado! Estou convencida de que é imprescindível ouvir a voz da
sabedoria e da experiência.
Aline sorriu e prosseguiu:
─ Sossega, amiguinha, tu és ajuizada e ela concordou comigo. Tu
continuarás responsável pelos teus atos, mas procura ficares atenta para não
cometeres nenhuma tolice de que te arrependas amargamente. Papai não
resistiria a ver-te chorar pelos cantos e eu, que quebrei tanto a carinha por
causa do Amor, teria de amargar a minha responsabilidade pelo fracasso
em te orientar e pelo desgosto de papai, além do meu.
É importante que, quando te encantares por alguém, procures manter
o juízo e seguir as regras que te ensinei, rigorosamente, começando pela
ternura. Entende que é a ternura dele que deve envolver-te, não a beleza. E
esquece a cama deixando-a para o fim, para sacramentar a união. Se ele for
amoroso e, ao masturbá-lo, a ereção for duradoura e ele atender a todos os
requisitos e quiseres testá-lo para ter certeza de que não é – riu – “muito
civilizado”, pede-lhe uma transa nas coxas vestida de short ou, se estiveres
bem segura de ti, de minissaia confortável e calcinha bem discreta para
estares bem protegida se o juízo te escapar ou o dele. Mas nunca em lugar
onde possas ter as pernas abertas pela perda de controle ou à força.
Um pênis duro tira o juízo de qualquer mulher, mas a tua bundinha
não faz por menos com o juízo de qualquer homem e ele pode querer
penetrar-te arredando a calcinha. Podes usar roupas escuras atrás do portão
lá de casa ou na tua suíte, mas estejas muito atenta para ele não arredar a
tua calcinha e gritares se ele te forçar ao que não queiras.
Então tu lhe pedes encoxadas fortes por trás como numa transa,
apertando-lhe o instrumento entre tuas coxas e pedindo-lhe mais força até
ficar ao teu gosto. Ao mesmo tempo tu estimulas com a mão o teu clitóris.
Se ele balançar muito forte as tuas estruturas e a ejaculação demorar o
bastante para teres um bom orgasmo... Felizes núpcias!
Karina sorriu:

191
─ Puxa! Tu estás tornando tudo muito fácil... O mais difícil é
encontrar um homem, não é? Eu precisaria da lanterna de Diógenes?
Aqueles meninos que me cantam, ou acodem ao meu sorriso, parecem tão
crianças e sem objetivos! E mesmo algum escolhido é tão imaturo! Sempre
lhes falta algo muito importante se não tudo. – Torceu o nariz – Mesmo para
brincar...
─ O que tu queres tu não encontrarás num menino nem com um prego
aceso, e paixão arrebatadora... só quando tiveres um Homem capaz. Como
já te ensinei, os homens levam mais tempo a amadurecer do que as
mulheres. É por isso que eu sempre te recomendo esperares pelos teus
quatorze aninhos para olhares a sério para um homem. Também tu estarias
mais madura, embora tu estejas amadurecendo muito rápido. Então poderias
testar homens próximos da maturidade de vinte e um anos de idade ou mais.
Na verdade eles começam a amadurecer aos vinte e um, quando a lei lhes
dá a capacidade plena e à mulher também... – Riu – As leis que nos regem
ainda foram feitas pelos homens...
Nessa idade eles não mudam muito e continuam hedonistas como
sempre, mas tu vais encontrar um ou outro com alguma maturidade e
discernimento para saber o que quer da vida e capaz de avaliar a menina
especial que tu és. Quem se imaginar no futuro, casado e sustentando um lar
e descobrir a joia rara que fizemos de ti, não vai te deixar ir nunca. – Riu –
Isso tu podes escrever que eu assino embaixo.
Até os vinte anos, os meninos são completamente imaturos e
incapazes de te julgar além da tua beleza. São todos hedonistas e não têm o
menor interesse em descobrir se és inteligente, culta ou terna. Diversão é
tudo o que querem e só pensam em “comer mais uma gata gostosa”. É como
todos eles te veem: “uma gatinha gostosa”. É inútil procurares neles por
qualquer coisa além de brincadeirinhas sexuais. Por isso, não adianta
trocares de namoradinho a não ser para te familiarizares com os genitais e
saberes o que é preciso para te satisfazer. E se queres realmente conhecer o
pênis, o melhor meio é a masturbação e o pior é a trepada. E dá mais prazer
do que a transa com um menino ou com um homem incompetente.
Tua mãezinha está exigindo que quando decidires pelo teu
desvirginamento – seja com um parceiro definitivo ou “ficante” – o faças lá
em casa. Eu ou o teu pai te protegeremos de uma “pisada na bola”
discutindo o que for melhor para ti, mas tu darás a palavra final. É claro
que a responsabilidade pela tua decisão será toda tua. Por isso terás de
estar preparada para o prêmio ou o castigo com o teu juízo alerta. Então tu
o levarás para a tua suíte ou o dispensarás.
Por mais adulta que tu te creias, tu és apenas uma criança e precisas

192
por dentro dessa cabecinha que deves ignorar o sexo, ao menos com
seriedade.
Aos quatorze, quinze anos, tu sentirás chegar a tua maturidade e
seres capaz de procurares pelo homem da tua vida, mas até lá só mesmo
namoricos e masturbações para te divertires se achares importante. Mas
procura sempre não perder o juízo e, sobre tudo, nunca te exponhas em
lugares em que não tenhas absoluto controle sobre ti e possas escorregar
fazendo o que o teu juízo não queira. Se fores para o quarto de um menino,
para uma casa abandonada ou para trás de uma moita, não tem volta...
A adolescência é uma das fases da infância e nenhuma menina
deveria pensar em sexo antes dos quatorze anos. Eu comecei aos quinze e
me fartei de quebrar a cara. É claro que a puberdade é instigante, mas há
meios de obteres grandes gozos sem botares a mimosinha na roda. A fartura
de pontos erógenos dificulta-nos concentrar a excitação toda no principal,
mas possibilita-nos gozar excluindo a mimosinha. O clitóris é tão gozoso
quanto a mimosinha e com preliminares... Mas em qualquer circunstância,
deixa a cama para o fim se tu não quiseres passar por vadia. Se abrires as
pernas como uma cadela vadia, estarás fazendo o jogo dos homens que,
salvo as honrosas exceções, tudo o que querem é ter um harém de
cadelinhas para escolherem, a cada transa, a da vez e tu acabarás te
transformando no objeto do prazer que eles querem.
Para o homem a beleza é fundamental, já o disse o poeta, e é por ela
que eles começam porque o homem nunca tem nada a perder e a beleza da
mulher é o seu ponto erógeno. Enquanto tu te excitas com dedos ou lábios
nas orelhas, no pescoço, na nuca, no colo, nos seios, na bundinha, nas
coxas, no clitóris, no “ponto G”, na mimosinha..., o homem se seduz com a
visão esplendorosa do teu corpo e se excita com fricção no pênis.
Ele geralmente não procura pelo Amor e, se a mulher é bonita, no
mínimo ele comeu uma gata gostosa de que poderá vangloriar-se com os
amigos. Mas para a mulher, não. Tu que buscas o Amor, nunca é demais
repetir: tens de começar procurando pela ternura. Por quê? Porque, como
viste, não existe Amor sem ternura. E começando pela ternura tu vais direto
ao Amor eliminando um montão de fodas chochas em que o gozo é fugidio
ou nem existe. Com a liberdade sexual tornou-se moda a mulher “pegar”
dezenas de homens em busca do parceiro ideal. É perda de tempo porque,
nesse tipo de relacionamento, não há Amor e o máximo que a mulher pode
encontrar, se for sortuda, é uma paixão para um ano ou ser incorporada ao
harém de um cafajeste que faça sexo mais ou menos tórrido. Põe no
coração: ternura é Amor, paixão é diversão; ternura é transcendente, paixão
é uma noitada.

193
Nunca vás na conversa de deixar entrar só a cabecinha, porque se a
cabecinha entrar, entra tudo. Ainda que o rapaz se contenha, o que será
muito difícil, tu vais te jogar sobre ele, porque depois da primeira
mordidinha o juízo se esvai e não conseguirás mais parar de comer aquele
doce até que ele amoleça – riu – e fique impróprio para o consumo. E o
pior é que se o doce não cumprir o prometido, levando-te a sentires o seu
sabor por inteiro numa explosão final, terás uma terrível frustração e
dificilmente deixarás de ser mais uma cadela vadia à procura do êxtase
arrebatador cada vez mais distante.
A pílula e a consequente revolução sexual liberaram a paixão, mas
não o Amor. O Amor continua sendo o grande objetivo de pessoas sérias e
recatadas que têm projetos matrimoniais para a vida toda. Sim, existe
“paixão livre”, mas não existe “Amor livre”. E para que serviria? Casar
para sair dando para todo o mundo não faz nenhum sentido. É por isso que
em transas ocasionais ou extraconjugais jamais o encontrarás, embora
possas ter uma ou outra paixão grandiosa que não dura mais de um ano ou
só uma noite. Para que haja uma relação transcendental, o Amor é crucial,
embora paixão tórrida também seja essencial. Põe no coração: ternura é
Amor e paixão é diversão.
Tu tens de abrir o teu coração meigo para cativares o teu homem,
mas só deves abrir as pernas depois de, comprovadamente, o teres
conquistado e preso na tua ternura. A mulher que começa pela cama é
inexoravelmente taxada de cadela vadia ou puta e como tal é tratada, ainda
que com urbanidade. Se começares pela cama, só servirás para a cama.
Tem de ser assim se queres uma união para sempre, até porque, se o
homem sabe o que quer, mas tu o levas apressadinha para a cama, como
pensaste em fazer com o Francisco, ele vai simplesmente concluir: “É uma
putinha! Linda, mas putinha”! E só vai pensar em te foder.
É, amiguinha, sobre a mulher pensam sempre o pior, ainda que te
tratem com urbanidade para poderem te comer sempre que quiserem. Se
quiseres ter boa reputação, tens de andar sempre na linha sem nenhum
desvio. Antigamente se dizia que “a única mulher que andou na linha o trem
matou”, mas tu podes andar na linha e teres gozo fantástico se usares a
cabeça.
Se aqui fosse o Irã, em que a religião tem poder absoluto sobre o
Estado e a nação é uma teocracia, e nós estivéssemos conversando
tranquilamente em qualquer lugar público, como nós estamos, sem uma
companhia masculina: marido, pai, irmão... e homens nos raptassem e nos
estuprassem, as criminosas seríamos nós. Seríamos fatalmente condenadas
e supliciadas com chibatadas.

194
Aos estupradores ninguém pensaria em punir, ou seja, a lei
teocrática estimula os homens a estuprarem mulheres desacompanhadas de
seus responsáveis masculinos.
Como uma república democrática não admite tais absurdos, o bispo
quer convencer-nos a nos vergastarmos com bambus se desejarmos transar,
mesmo para exercer o direito sacrossanto e inalienável de ter um filho!
Também no Irã, uma mulher acusada de adultério é condenada à
morte a pedradas e as pedras não podem ser grandes o bastante para que a
matem depressa. Seu sofrimento tem de ser longo. E os países do Golfo
Pérsico ao seu redor são ainda piores. Os homens, porém, podem trair à
vontade e ter quantas esposas quiserem e até estuprar mulheres
desacompanhadas de um homem.
Religiões são isso: instrumentos de coerção instituídos,
normatizados e administrados por homens poderosos para coagir as
mulheres e submetê-las aos seus desígnios, além de explorar a todos com
dízimos. E pasma, amiguinha, criam impérios empresariais e nem impostos
pagam porque igrejas são isentas de tributos! E quando exercem
diretamente o seu poder sobre o Estado, temos as ditaduras mais tenebrosas
como as da Inquisição e a do Irã, aonde a Revolução Francesa ainda não
chegou, apesar de autodenominar-se República Islâmica. E para mudar esse
estado de coisas, só a mulher, porque à maioria dos homens interessa o
status que. Como?
É imperioso começar amando O Deus de Amor de Jesus e não levar
muito a sério as religiões. Por que permitir que interfiram em nossa vida
íntima, proibindo-nos de amar? Se não fizeres a ninguém o que não queres
que te façam, amando ao próximo e a Deus, tu não cometerás nenhum crime
nem pecado e estarás de bem com Deus e com Jesus que se deslumbrarão
com a menina meiga que tu és e com a tua alma virtuosa. O que fizeres com
alguém por Amor e de comum acordo não desagrada Deus e se fizeres antes
aos outros o que quiseres que eles te façam estarás praticando o Amor e
fazendo o bem.
Também temos de dar o máximo de atenção à educação dos nossos
filhos e não devemos abrir as pernas para o sexo sem Amor verdadeiro,
especialmente se for para procriar: um filho tem de ser feito com Amor.
Isso forçará os homens a reaprenderem a amar e se voltarem para Deus. E
Põe no coração: a chave do Amor passional é meninos empolgantes.
Para uma mulher que busca o Amor é a ternura que abre a estrada
desse Amor, a paixão a pavimenta e falo eficiente a sacramenta. Já a beleza
do parceiro é desejável, claro, mas é o menos importante... A felicidade
maior de uma mulher é que ela não precisa de um Adônis para flutuar

195
arrebatada pelo gozo. Carece apenas de um homem terno e macho
que saiba tocar o órgão do Amor no seu ritmo. E se tiver sua flor de pureza
para ofertar-lhe... Tu podes imaginar o que isso significa para ele? O
homem ideal é aquele a quem possas dar tudo, tudo mesmo, porque ele
também te dará tudo.
Depois de consumarmos a feliz união, após percorrermos a estrada
larga e florida do Amor, teu pai analisou minha psicologia. Disse que eu era
muito amorosa, chorona e ciumenta. E era mesmo! Chorei torrentes de
emoção com declarações de Amor e prazeres escaldantes: era raro eu não
gozar aqueles Tesões Grandões agarrada ao seu pescoço num dilúvio de
lágrimas de alegria, mas havia também uma dor que me pungia e me fez
derramar a maior parte daquelas lágrimas. Era a dor de não ter a minha flor
de pureza para entregar-lhe com o meu coração.
Como eu amaria ser deflorada por aquele homem! Ser picada pelo
Amor, com Amor, para o Amor! Acho que seria como ser invadida pelo
Amor de Deus! O que me pungia era ter jogado a minha pureza na latrina de
machões... Por isso eu contraio a mimosinha sempre que ele entra em mim e
a cada intromissão, para que ele sinta deflorar-me e eu sinta o
defloramento.
O Amor acontece naturalmente à nossa revelia. Estuda e brinca, faz
amigos... Com amigos, tu poderás aprender sobre a cultura e a ternura.
Quando tu estiveres madurazinha para o Amor, alguém notará a mulher
extraordinária que habita essa femeazinha maravilhosa. Tu te encantarás e
farás os testes e, então, ao surgir a estrada pavimentada, larga e florida do
enlace completo e feliz... tu terás um casamento com pompa e circunstância
e lhe entregarás a tua flor de pureza para seres invadida pelo Amor
divinal... E até lá tu podes te divertir preservando a mimosinha.
Karina sorriu:
─ É uma profecia?
─ É a vida! Ela tem de ser vivida com sabedoria. Tu não queres
uma porção de homens, mesmo porque não te serviriam para nada. Tu
queres o melhor. E só dependes de ti para consegui-lo, porque tu és a
melhor. O casório com pompa e circunstância eu te garanto, mas tu tens de
escolher entre três caminhos:
Um é te transformares numa cadela vadia dando, sem restrições,
para todos os que te apetecerem, mas tu darás para tantos que perderás o
sentido da ternura, do Amor e até da paixão: tu verás tudo como pura
sacanagem e, quando o Amor da tua vida passar por ti tu não o notarás e
nem ele a ti. Vai simplesmente pensar: “seria uma bela mulher se não fosse
vadia” e se te cantar será apenas de olho nas belas iguarias que podes dar

196
para comer...
Em segundo lugar tu tens a opção do caminho oposto: não é liso nem
luminoso no início e eu estou vendo a tua aflição para encontrares a luz,
mas lá adiante onde a vista não alcança, ao topares com a ternura, verás
abrir-se uma estrada ampla, florida de Amor e pavimentada de paixão... É
amadureceres para o Amor e deixar que ele aconteça. É óbvio que terás de
estar atenta para a ternura para não a deixares passar despercebida.
Procurares pela ternura serão as pedras do teu caminho. O único risco que
corres é tu seres feliz demais quando te inundares dela. Ah, amiguinha, é
simples assim!
Karina sorriu:
─ Já percebi que essa é a tua história. É onde eu encontro o fascínio
pela vida. Não é um caminho fácil de vencer, mas vale a pena trilhar. É a
tua experiência e eu quero.
Aline sorriu, estreitou-a num abraço muito apertado e disse-lhe com
o coração flutuando em alegria:
─ Tu estás salva!
E acrescentou:
─ Mas tens um terceiro caminho intermediário. Vê se presta para ti.
Como o primeiro, é bastante liso e até iluminado no início, mas lá adiante
onde a vista não alcança...
Seria te tornares uma “ficante”. Com sorte e cuidados na escolha
poderias curtir uma paixão a cada ano, enquanto tiveres o viço da
juventude. Mas, além de criares dificuldades para que o Amor aconteça,
podes apaixonar-te por um “ficante” cafajeste que te faça sexo mais ou
menos selvagem e te integre ao seu harém. Um ficante cafajeste que faça
sexo diferenciado vai te judiar e procurar-te quando bem entender. Tu
correrás sempre para ele abanando o rabinho como qualquer cadelinha,
feliz com um simples afago. E tu não terás para ele valor algum além da tua
beleza desfrutável, enquanto a tiveres.
Ele terá alguma paixão para ti? Se te procura o sexo... Mas atenta
para o fato de que paixão não é Amor, como já te ensinei, e é bom repetir
para que guardes isso no coração: enquanto o Amor é um sentimento
espiritual, a paixão é animal, instintiva: é pura libido, uma explosão de
hormônios do prazer.
Paixão é o que sentiste por Francisco e pode acabar num minuto. O
cérebro se encanta e vislumbra a possibilidade de um grande Amor.
Empolgado (vê que tu és o teu cérebro mais a reação das tuas glândulas e
dos teus hormônios), ele produz uma quantidade maciça de hormônios do
prazer, fazendo o coração acelerar e o próprio cérebro se empolga com o

197
prazer arrebatador que pressente. E tu tens o corpo inundado de hormônios,
o desejo em ebulição, o coração acelerado, e o próprio cérebro obcecado
pela expectativa do Amor.
Isso ocorre porque, nesses arrebatamentos passionais, a dopamina e
outros neurotransmissores bloqueiam setores importantes do cérebro,
especialmente os da cognição e da lógica, tornando-te incapaz de analisar o
parceiro e a situação. É por isso que o teu juízo entra em colapso... Em
suma: É a paixão! Tudo conspira contra o teu juízo, até o próprio juízo, e tu
não vez senão a hora de abrires as pernas. Tu és completamente dominada
pela paixão até que recobres o teu status pensante, geralmente tarde
demais...
Karina interrompeu-a:
─ Tu és fantástica! Foi exatamente o que aconteceu comigo! Eu só
via aquele macho possante penetrando e cavalgando a potranquinha com o
corpo em chamas... E o desejo dele pôs-me a mimosinha a vazar numa ânsia
desenfreada de sexo. E o meu juízo... Pobre juízo! Mas todo o encanto se
quebrou quando o recobrei.
─ “Ânsia desenfreada de sexo.” Tu vislumbraste o coito tórrido
registrado na tua memória genética, o gozo arrebatador. Meu Deus! Sem
impedimentos, tu não terias como não lhe abrires as pernas, e com aquele
menino a tua frustração seria terrível. Mas o juízo retorna à plenitude
quando se desencanta com a falta do Amor, o que pode levar um ano. A tua
salvação foi que as circunstâncias te levaram a dar uma chance ao teu juízo
e, pelo menos até que tenhas completo controle de ti e do menino, não deves
namorar em situações de risco. Eu pude restaurar o teu juízo e ele pôs tudo
no devido lugar. Tu pudeste enxergar claramente o que havia por trás da
belíssima estampa.
Karina explodiu com angústia e raiva:
─ Podridão! Só podridão! Só sujeira! Só coisa feia! Foda! Só foda!
Nada além de foda! – Corou e desculpou-se – Desculpa, acho que o meu
juízo...
─ O deserto é belo, mas árido. E ele tem encanto porque esconde
um poço em seu âmago: pode saciar a tua sede, mas esse menino nem isso.
Só encontrarias deserto e ficarias mais sedenta ainda, correndo em vão
atrás de machos que te saciassem. Tu escapaste da aridez e tens razão. A
paixão pode ser tudo isso, infelizmente. Pode até levar ao crime quando
vira tara como ocorre com os estupradores, pedófilos ou assassinos
passionais. Só o Amor a torna bela. Somente emparceirada com o Amor ela
é o apogeu da vida de uma mulher, sublima a existência de uma fêmea
verdadeiramente feminil e se torna uma dádiva divina. – Sorriu – Tu te

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exaltaste e isso é bom. Mostra que tens caráter. Toma um gole de água e
relaxa.
É realmente triste que o Francisco não seja um menino inteiramente
digno de ti, capaz de um Amor tão grande quanto o teu, porque tu
mergulhaste de cabeça no que seria a tua iniciação no Amor... Se eu visse
nele um Homem capaz de um Amor tão lindo como o teu... Meu Deus! Eu
abençoaria a tua iniciação alegremente. Mas o cérebro está sujeito a
enganos. Quando tu erras é o cérebro que se engana. E os erros no Amor
são muito sérios. Precisas estar atenta às trapaças do coração.

Tu cresceste com essa experiência e estás apta para escolheres entre


três alternativas: as vergastadas do bispo se te casares com um fanático
religioso; as fodas, se deres para machões, ficantes ou “pegadas”; ou as
memoráveis “surras de pau”, se te entregares, de corpo e alma, a um homem
terno que te ame acima da própria vida e zele pelo teu prazer e a tua
felicidade e a quem tu correspondas plenamente.
Tem fé, filhinha querida, que um dia, quando menos esperares, Deus
porá o homem da tua vida diante de ti. Tu farás os testes para teres certeza e
teremos o mais lindo casamento de Amor com corações enlaçados de nó
cego para realizares plenamente a paixão selvagem que vislumbraste, em
meio a fartadas de Amor. Espera que Ele te considere madura para o Amor.
Acho que Deus só nos dá o Amor da nossa vida quando vê que
estamos preparadas para ele e principalmente quando sentir que estamos
desiludidas de príncipes de contos de fada. Para isso, é preciso sofrer por
Amor e termos grandes decepções. Se teu pai tivesse sido o primeiro ou o
segundo ou mesmo talvez o décimo a cantar-me, provavelmente eu teria
dado de ombros ao seu canto e nem reparado no homem da minha vida
porque eu só tinha olhos para príncipes fofinhos de contos de fada. Sabe
Deus se não dei de ombros a algum que poderia ter sido o meu rei...
O sofrimento nos faz amadurecer e reparar no que realmente
importa. Foi o sofrimento com aqueles cinco machões e outros que sequer
conseguiram me levar para a cama que me fez abrir os olhos para o teu pai
e prendê-lo na minha ternura. Meu coração procurava desesperado pela
ternura e abriu-se de par em par para ele. E ele que também procurava por
ternura entrou para sempre!

Palavras da mãe caíam-lhe no coração para não esquecer nunca. Foi


com veneração que lhe disse:
─ Entendi, mãezinha querida, minha decepção com Francisco foi a
minha primeira grande lição sobre o Amor. Terei outras, não é?

199
─ Provavelmente, na medida em que demorares a amadurecer, mas
tens instrução bastante e até experiência para evitares os castigos da vida
que massacram meninas despreparadas. Nunca dês de ombros à ternura sem
uma profunda análise das demais virtudes.
Karina sorriu:
─ É a estrada que temos de pavimentar de paixão e florir de Amor
para levar-nos em segurança ao feliz enlace com corações atados de nó
cego... Bem vejo que a ternura é de fato a fonte de tudo o que é bom: do
Amor, da paixão eterna e da felicidade. Abençoada sejas para sempre por
me fazeres terna.
─ Tu és inteligente, culta, meiga, e já aprendeste todas as
implicações do Amor e da paixão. Já estás diplomada em mulher.
Vou ensinar-te as delícias do arrebatamento do gozo extremo e diplomar-te
em homem. Tu fizeste um pacto de amizade eterna com Deus, o teu Amor
Maior, e já amas muito intensamente o esposo da tua alma mesmo sem o
conheceres como teu pai e eu te amamos desde antes de te concebermos. Tu
anelas por ele, eu sei. Que presente mais maravilhoso tu poderias ofertar a
Deus e ao teu esposo do que oferecer-lhes a flor da tua pureza no altar de
um casamento feliz e transcendental?

Enternecida com as narrativas de Amor de rico colorido erótico e


carregadas de ternura que a mãe lhe contava, Karina perguntou-lhe de
chofre:
─ Tu falaste com tanta meiguice do teu encontro com papai. Como é
que tu o conheceste? – Sorriu – Foi uma delícia de encontro, não foi?
Ela viu resplandecerem aqueles olhos verdes com tanto Amor, com
tanta alegria, num sorriso de tamanha bem-aventurança, que ficou extasiada:
─ Ah, conta... conta, que eu quero muito saber o que te deixa tão
deslumbrada.
Aline disse-lhe em êxtase:
─ Esse é o maior segredo da minha vida e guardo-o com tanto
carinho que nunca tive coragem de revelá-lo a ninguém. É um segredo meu
e de papai. Todos os dias eu o rememoro, com o coração em festa, numa
espécie de oração. Acho que é o que mantém minha paixão acesa, tão cheia
de fogo e desejo.
Karina lhe disse profundamente impressionada:
─ Eu estou vendo o brilho nos teus olhos e o teu sorriso bem-
aventurado. Posso sentir quanta ternura, quanta energia positiva ele guarda.
Como eu queria sentir um Amor desse tamanho por um homem. Um dia eu
hei de ter um homem que me mereça um Amor tão grande, tão absoluto. Um

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segredo que eu reze todos os dias, cheia de fé, em forma de oração, mas
enquanto esse dia não chega, deixa alegrar-me com o teu segredo. Para a tua
melhor amiguinha verdadeira tu não vais negá-lo, não é? Será um segredo
só nosso, eu juro!
─ Conheceres as minhas experiências pode ser muito útil para tu
escolheres teus próprios caminhos sem seres apanhada pelos castigos da
vida e isso é o que eu e teu pai mais queremos. Creio que te devo os
principais episódios da minha vida porque te devo tudo o que possa
enriquecer tua cultura e abrir teus horizontes. E eu bem sei quanto a cultura
sexual é fundamental para uma mulher encontrar seus caminhos sem trombar
de frente com a vida. Como eu sei!
Era uma bela manhã ensolarada. Eu estava tão triste! Parece que é
minha sina: minhas maiores alegrias contrastam com minhas maiores
tristezas. Eu tivera, havia poucos dias, a maior desilusão da minha vida. Um
rapaz lindo, encantador, que eu julgara ser o meu homem definitivo e a
quem eu me entregara com muito Amor, revelou-se ser ruim de cama e
apenas mais um machão comedor de menininhas gostosas e difíceis. Como
eu não conseguia ser arrebatada por um orgasmo avassalador começava a
achar que eu era frígida e a me conformar com minha frigidez. Foi então que
o encontrei aos beijos com outra...
Eu estava completamente arrasada com o coração enegrecido de
trevas. Mais uma vez um reles machão destruía meus sonhos, minhas
fantasias, meus planos, minhas perspectivas de vida, meus projetos de
integrar uma família feliz, muito feliz! Era a minha quinta frustração
tentando encontrar o homem da minha vida. Cinco tentativas, cinco dores
atrozes! Eu queria amar... amar profunda e intensamente com todas as veras
d’alma um homem que pudesse ser o encanto e a felicidade da minha vida,
mas eles... eles só queriam me foder! Por que, Meu Deus!
Eu sabia que era linda porque gostava do que via quando me olhava
no espelho. Encantava-me com a pureza do verde esmeraldino dos meus
olhos; com o rosado natural e vivo dos meus lábios carnudos e sedutores;
com meus cabelos castanhos, brilhantes e lisos que me cobriam os seios;
com as delicadas covinhas do meu rosto quando sorria cheia de meiguice;
com meus seios encantadoramente fartos e empinados como os de uma
deusa; com minhas coxas e pernas bem torneadas; com minha bundinha que
era um monumento. Até meus pezinhos eram encantadoramente pequeninos e
mimosos. A única coisa que me desgostava era minha pele muito clara, mas
eu procurava mantê-la dourada como qualquer garota de Ipanema...
Se eu fosse um príncipe de contos de fada, seria comigo que eu
gostaria de me casar. Seria a “princesinha eu adormecida” que eu gostaria

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de beijar transbordante de Amor... É... Eu era afeiçoada aos contos de fada
e sempre me identificava com aquelas princesinhas fofas. Encontrar o
príncipe que se transformasse no meu rei ao lhe dar o meu beijo e, com ele
ser feliz para sempre, era o sonho recorrente da minha vida. Mas sempre
que beijava um príncipe despertava beijando um sapo asqueroso. Por que,
Meu Deus! Será que uma mulher bela só serve para foder?
Na mais profunda e vil tristeza, saí para um passeio no calçadão da
praia para ver se espairecia. Meu olhar perdera-se no azul esplendoroso do
céu aprisionado por uma gaivota. Como eu queria poder voar como ela! Eu
achava que se voasse, mesmo em círculos naquele azul luminoso, a minha
tristeza iria embora. Na verdade, com o olhar fixo naquele pássaro, eu
sentia o coração mais leve. Eu começava a flutuar no azul esplendoroso,
completamente perdida na contemplação daquele pássaro quando ouvi o
doce canto do teu pai, prometendo paixão: “Quando a luz dos olhos meus e
a luz dos olhos teus resolvem se encontrar”...
Senti a liberdade quando meus olhos se voltaram da gaivota para
aquele canto de Amor, e eu vi, com o coração em festa, um homem jovem
com uma bela maturidade e olhos de mel muito ternos continuando o canto e
parafraseando aquela canção: “É porque vou me apaixonar e tu vais te
apaixonares”...
Minha alma se desanuviou e a tristeza vil do meu rosto se
metamorfoseou em alegria e no mais esplendoroso dos meus sorrisos que
haveria de encantá-lo para a vida toda. Seus olhos de mel pareciam me
perscrutar a alma... Foram dois raios de sol que iluminaram e aqueceram o
meu coração que se fez alegria tão intensa que explodiu no meu rosto. Foi o
sorriso que ele sempre diz que eu gravei a fogo no seu coração para todo o
sempre. Aquele canto me fascinou: tão terno, Meu Deus, tem que ser um
homem... um homem de verdade.
Seu coração abriu-se em Amor e ele derramou tanta ternura sobre
mim em verdadeiras declarações de Amor que me enterneceram a alma e eu
fiquei aflita pelo seu beijo: ele queria ter-me nos braços apertadinha ao
peito e estar nos meus braços sentindo minha respiração e os meus afagos.
Chegou a prometer-me tudo: Amor, ternura, afeto, paixão, prazer, gozo,
muito gozo e até seu endereço e me encher a barriguinha com o que ele mais
queria na vida.
Karina era só emoção e, encantada, sorriu:
─ É lindo, é tão lindo! Contrastando com tanta tristeza, é
maravilhoso! E até eu entrei na cantada! Isso explica o Amor de que vivo
envolvida. Estou fascinada! E depois, como foi?
─ Tu conheces teu pai, sabes de que ternuras é capaz. Ele inundou a

202
minha alma de tanta ternura em fascinantes declarações de Amor que eu me
senti perdida de Amor e paixão. Santo Deus! Podia existir um homem
assim? Eu já desacreditava de tudo, até dos contos de fada. Teria ele saído
de um conto de fadas?
Mas ele parecia tão real, tão humano, tão terno. Tão diferente
daqueles machões, prometia Amor, ternura, prazer e muito gozo... Muito
gozo! Que será isso, meu Deus? Eles nunca me deram: só me foderam. Ele
encheu a boca ao pronunciar aquelas oferendas. Parecia tão sincero. Valia a
pena tentar. “Muito gozo”... reverberava no meu coração... Meu Deus! Uma
dor mais, uma dor menos... Se bem que essa... Mas ele é tão terno, é tão
sincero. Tantas declarações de Amor e tão lindas não podem ser
fementidas. Se beijar Amor como fala Amor... Eu quero essa boca na minha.
Eu não terei sossego. Eu não dormirei. Eu tenho de lhe pertencer.
Eu era muito envergonhada, mas meu desejo por ele era tão intenso
que ele notou minha boca a pedir beijos. Acho que eu todinha pedia beijos,
porque ele se apressou em tocar-me a orelha com a mão e os lábios com os
lábios: deu-me um selinho no canto dos lábios, arrancando-me um gemido
de prazer, deu-me uma lambidinha ao longo dos lábios, mais selinhos,
sugou-me o lábio inferior mordendo-o e sugando-o carinhosamente fazendo-
me fremir e gemer de prazer.
Ai, meus pudores! Ele ouviu meus gemidos tênues e sentiu-me
fremir: uma onda de calor que percorreu meu corpo de alto abaixo
liberando o meu tesão. Quanto desejo, Meu Deus! Desejo represado que me
tomava todinha. Ele levou a mão da orelha para a minha nuca segurando-me
pelos cabelos e tocando-me um ponto do pescoço que me deixou toda
fremente. Com um beijo voraz de pura paixão, me envolveu lábios, boca,
língua, desejo... Eu vibrava toda em frenesi enquanto com a outra mão na
minha cintura me apertava forte contra si devorando-me a boca com um
bruto tesão, com fúria de macho!
Senti sua virilidade bravia interpor-se entre nós e eu estava tão
envolvida de ternura, beijos, prazer e macheza que me imaginei penetrada
por aquela virilidade toda e afaguei-a com a minha coxa em completo
deleite. Foi um ato instintivo que me fez perder as referências de tempo, de
lugar e de pudor e de que só me dei conta quando me senti molhadinha e
vazando nas coxas. Enrubesci...
Eu lutei bravamente entre o desejo e o pudor, mas o pudor foi mais
forte... Tão terno e tão macho! Meu corpo exigia aquela virilidade toda no
mais profundo do meu âmago e eu... Eu queria vencer aquele pejo. Como eu
queria! Mas eu morria de vergonha do meu ato despudorado e tentei fugir-
lhe. Fiz muita força para escapar-lhe, mas ele me deteve no círculo de ferro

203
dos seus braços. Uma prisão inexpugnável, mas que eu adorei. Como eu
amei aqueles braços! Foi a minha prisão amada, muito amada! Não
fora eles, eu morreria de frio no coração, porque eu já avaliara o tamanho
da sua ternura, a imensidão do seu Amor e a potência da sua virilidade: um
homem de verdade num macho bravio! E o melhor: sentia que era sincero e
estava envolvido por mim. Ele já me amava.
Aflito, ele me disse: “Perdão, meu Amor, devo ter-te machucado. És
paixão como nunca senti, mas eu vou controlar-me, juro! Não me fujas nem
te envergonhes de ser mulher, a mais linda e terna que já vi. Eu estou
sentindo um desejo avassalador, uma verdadeira fúria de possuir-te. Tu me
dominas todos os sentidos e me despertas um turbilhão de desejos mas eu
serei carinhoso e terno contigo. Podes crer. Eu domarei minha paixão.
Nunca te forçarei a nada que teu coração não queira”.
Apresentou-se e disse ter o coração ferido de Amor pelo meu
jeitinho meigo de ser, pela mulher inteligente e terna, pela fêmea calorosa e
pelo meu coraçãozinho de puro Amor que ele podia ver nos meus olhinhos.
Olhou no fundo dos meus olhos e perguntou-me cheio de ternura: “Queres
que eu te conheça completamente”?
Eu estava corada até a raiz dos cabelos e com ódio de ter
interrompido ao meio o orgasmo da minha vida, mas dava graças a Deus
por estar irremediavelmente presa naqueles braços que eu amava. Amava
também aquela promessa de paixão expressa no seu canto; o derrame de
ternura que me alegrava o coração; o envolvimento passional daquele beijo
e a potência daquele instrumento viril, faminto da mimosinha que eu teria
absorvido para dentro de mim, inconscientemente, não fora o empecilho das
roupas e do lugar...
E aquela fúria de possuir-me! Eu estava irremediavelmente ferida
de Amor, ferida de paixão, ferida do desejo avassalador de entregar-me
àquela potência amante. Eu sentia na pele, no sexo, no coração, na alma,
que só me tornaria uma mulher completa quando tivesse aquele homem
dentro de mim, me amando com o ímpeto daquela paixão e me envolvendo
com a ternura de tanto Amor.
─ É fascinante, eu pensava em prazer como um sentimento gostoso,
muito agradável, mas não cuidava que pudesse haver uma paixão tão
avassaladora que nos tirasse da realidade...
─ Geralmente nem isso é, mas se houver Amor recíproco e um
macho de verdade tira, e como! Eu era toda Amor, paixão e desejo. Um
desejo muito intenso, como nunca sentira, de ter aquela fúria amante no
mais profundo do meu ser. Perdi completamente a noção de tempo e lugar.
Encontrava-me no meio do prazer, do gozo, da felicidade inaudita... E só o

204
vazamento intenso na mimosinha me trouxe de volta à realidade. É,
amiguinha, Amor de cambulhada com paixão bruta é a glória e tira-nos
completamente o senso e o juízo. Eu fiquei aflita para entregar-me. Por isso
tens de estar absolutamente segura do lugar e do homem a quem te entregas.
─ É assustador, mas fascinante. E depois, o que vocês fizeram?
─ Ai aquela promessa de controle! – Riu – Quem queria controle?
Eu queria era mais, muito mais, daquela paixão maravilhosa e inédita que
me submetia à sua pressão e ao seu tesão, tão envolvente para mim, que
feria, sim, o meu coração de uma paixão tão profunda que me era totalmente
desconhecida e, não fora o pudor, ter-me-ia levado ao orgasmo da minha
vida. Eu estava tão envolvida que, mesmo recobrando o juízo, eu o
desejava com mais força ainda, doente de desejo. Aquele quase orgasmo
me deixou alucinada pelo gozo arrebatador que vislumbrei e que teria se
deixasse correr aquele deslumbramento até o fim.
─ Tu lhe disseste isso?
─ Ele não era tolo e sentia os meus frissons que me punham em
frenesi e me deixavam com raiva dos meus pudores que baldaram, no auge
da festa, o meu gozo arrebatador exacerbado por três anos de desejos
frustrados e necessidade absoluta de macho. Eu era toda desejo de
continuar aquela festa. Ter o macho em mim era a prioridade da minha vida.
Disse-lhe: “Eu estou com muita vergonha por comportar-me como uma
despudorada que eu não sou, mas nunca senti tanto Amor e desejo. Eu
quero, sim, que me conheças a fundo. Como eu quero! Quero ser tua e que tu
sejas meu. Creio que temos toda uma vida para construir juntos”.
Disse-lhe meu nome e minhas preferências culturais e me declarei
fascinada com sua ternura e com aquela paixão que me dominava
completamente. Ah, amiguinha, eu não dormiria enquanto não tivesse aquela
paixão me cavalgando e me amando com aquela bruteza.
Que vontade maluca de ser penetrada, cavalgada, arrebatada por
uma paixão poderosa. Eu nunca o fora por um homem de verdade e os que
me penetraram só me aguçaram o desejo de um verdadeiro macho. E eu
estava nos braços da virilidade, tête à tête, respirando o mesmo ar,
envolvida de tesão e prelibava o gozo arrebatador. E aquele instrumento
viril desafiando a minha feminilidade... Minha coxa já não o afagava, mas
media-lhe o tamanho e a dureza, fazendo-me fremir de desejo.
Ele afagou-me a orelha e a nuca e me envolveu em ternura,
exortando-me a não ter pejo dele. Asseverou-me que o desejo passional de
que eu me envergonhava era o que me tornava deveras feminil e me fazia
tão desejada porque intensificava o Amor de que meu coração era pródigo.
Completou: “Tu não és despudorada. Tu tens o mais nobre e quente

205
dos corações amantes que eu quero me amando para sempre. Liberta-o para
esse desejo imenso e esse Amor terno que estão florescendo tão lindos e
deixando meu coração em êxtase. Tu também já sentiste quão grande e
férreo é o meu desejo por ti e o amor lindo que dele está germinando. Não
tenhas vergonha, nem receio, nem culpa de permitir que desejos tão intensos
se encontrem e se transformem em prazer, pois é daí que nascerá a rosa
rubra do Amor que há de inundar nossos corações e nossas almas e enlaçar-
nos para sempre. Abre o teu coração, por favor, e essa flor de Amor dos
teus lábios e recebe toda a minha paixão nesse coraçãozinho de puro Amor.
Podemos nos inundar de prazer e, se quiseres, gozarmos toda uma vida
juntos. Não fui leviano ao prometer meu endereço e encher-te a barriguinha.
Eu sinto um querer para sempre. Oh, ternurinha, faz-me feliz! É tão fácil e
não te custará nada”.
Minha fascinação crescia pelo homem terno e por aquela paixão
bruta e eu já não tinha como lhe escapar, porque o que me prendia mais do
que seus braços era aquele coração que me deitava grilhões inexpugnáveis:
um coração não menos terno do que o meu, eu bem via, e começava a
acreditar que corações ternos se reconhecem de imediato e se unem à nossa
revelia. Aquele beijo transformou-o no meu rei e eu era só querer. Eu
estava nos braços de um homem de verdade! Não era um príncipe de contos
de fada. Não podia transformar-se em sapo.
O meu deslumbramento tomava-me coração e mente e o meu corpo
era pura ânsia de desejo. Eu sabia que só seria uma mulher completa
quando o tivesse em mim. Disse-lhe muito rubra: “Eu quero, sim. Quero
muito, mas como posso fazer-te feliz”?
Ele deslumbrou-me com a ternura do seu sorriso: “Oh, meu amor! Já
o fizeste com o teu querer. Mais... é só deixares que eu te faça feliz. Tua
felicidade alegrará o meu coração e me fará tão feliz quanto tu. Mas,
quando tu quiseres me fazer feliz de verdade, terás de me dar um presente”.
Sua filosofia de vida também me deslumbrava. Murmurei em êxtase:
“estou considerando que a minha felicidade seria também te fazer feliz...
Acho que já sei... – Sorri – mas me diz: qual é o presente que tu queres
ganhar de mim”?
Ele sorriu-me com o coração. Eu vi Amor jorrar dos seus olhos de
mel. Com que ternura me disse: “Tu! Eu quero muito ter um anjo de ternura
e simplicidade como tu para amar, desejar e envolver-me, com paixão,
todos os dias da minha vida”.
Eu transbordava felicidade. Finalmente encontrara um homem! À
minha revelia, envolvi-o muito apertado e minha menina atracou-se nele,
louca para penetrar-se daquele tesão que pressionava minhas roupas. Meu

206
sorriso era espontâneo. Rubro, mas espontâneo e tive de fazer das tripas
coração para não beijá-lo com o fervor dos amantes. Perguntei-lhe: “Tu
desejas, mesmo, ser meu todos os dias das nossas vidas”?
Com que ternura ele me respondeu: “Tu já me tens! Já me roubaste o
coração. Lembras-te daquele sorriso? Mais aquele beijo... Ternura e paixão
foram os grilhões com que me prendeste a ti e eu não tenho realmente forças
para quebrá-los. Apenas espero que eles também te prendam a mim com a
mesma força enquanto eu tiver um sopro de vida. A minha felicidade é que
tu também estás presa, não é”? Eu estava transida de emoção: “É... Tu
venceste todas as minhas resistências e os meus pudores e eu estou
confiando muito em ti. Por isso só me prometas o que me puderes dar, por
favor!”.
Afagando-me as orelhas ele me respondeu: “Eu era o dono da minha
vida, dos meus planos, dos meus sonhos, e isso era tudo o que eu tinha para
te dar, além do meu Amor. Dos meus sonhos, o principal era encontrar uma
mulher bonita, simples, meiga, inteligente, culta, de hálito puro de tabaco e
drogas. – Ele riu – Eu quase não era exigente, não é? Pois tu excedes
minhas maiores expectativas e estás nos meus braços a sorrir-me com
meiguice indescritível e pareces dizer-me: ‘toma-me, sou tua’. Ah, minha
querida, tu já me tomaste o coração, a vida, os projetos, os sonhos, já
tomaste tudo de mim – apertou-me com toda a força – toma-me também a
mim, por Deus”!
Ele falava roçando os lábios nos meus. Ai aquela lambidinha... Meu
beicinho preso nos seus. Aquela doçura de selinhos. Eu fremia de desejo e
não resisti a apertar os meus braços em torno do seu pescoço. Ai, minha
santa pudicícia! Ele segurou forte os cabelos da minha nuca, tocando aquele
ponto erógeno do meu pescoço. Repetiu aquele beijo com mais fúria
passional. Aquele tesão bruto pressionando minha feminilidade fazia nossos
desejos se cruzarem, nos envolvendo, pondo nossos corpos em frenesi.
Meu desejo ia ao paroxismo da minha paixão por ele e mais uma
vez eu perdia meus controles e dei por mim comprimindo meu corpo no
dele e estremecendo de prazer na pressão da sua virilidade que eu queria
em mim: “Ao diabo o pudor! Eu necessito do arrebatamento daquele gozo”!
Pus mais pressão nos braços e na mimosinha e intensidade no meu beijo.
Não sei que tempo durou. Só sei que flutuei em puro prazer, fremindo no
maior frenesi, explodindo num orgasmo avassalador e retornei daquele
sonho gemendo de gozo e roxa de vergonha, mas chorando de felicidade:
“Frigida eu? Eu não sou frígida! Meu Deus! Quando eu for penetrada desse
Amor”...
Ele tomou-me o rosto entre as mãos olhando no fundo dos meus

207
olhos e, após mais uma fascinante declaração de Amor, pediu-me: “Perdoa-
me se sou açodado, mas estou ansioso para te levar até minha casa para
saciarmos nossos desejos e a sede de carinho e de afeto que sentimos um
pelo outro. Diz não e eu entenderei, mas não me fujas, por Deus! Meu
desejo de ti é imensurável, mas, se teu coração quiser, eu te darei um ato de
Amor puro e tão selvagem quanto pede esse desejo que te domina e que
poderemos repetir todos os dias de nossas vidas”.
Meu Deus, uma explosão de gozo tão fantástica sem nem... Eu
imaginava o que seria ter todo aquele Amor dentro de mim e, deslumbrada,
respondi-lhe: “Um ato de puro Amor, Meu Deus! Tu queres dizer que vamos
fazer Amor de verdade, Amor selvagem com toda essa fúria com que me
beijas? Não, sexo simplesmente? Não será uma”...
Ele era só ternura: “O que eu quero contigo é uma comunhão de
corações, de almas, de corpos... Eu quero, sim, e muito, estar em ti. Saciar
meu desejo férreo no teu desejo macio e não menos intenso. Mas quero
também estar no teu coração e que tu estejas no meu. Nosso Amor está
exigindo o enlace de nossos corações”.
Meu Deus! Eu encontrara um homem todo feito de ternura, Amor e
tesão másculo! Disse-lhe fremindo do desejo que aquele orgasmo só
parecia ter atiçado: “És tão terno, tão sincero e tens tanto Amor no coração
que eu estou tentada a gozar a explosão de toda essa paixão por mim”.
“Não resistas a essa tentação linda. Sou teu cativo. Sei que nunca
mais serei feliz sem ti, porque sinto florescer um Amor tão grande que
nunca mais conseguirei extirpar do peito. E tu sentes o mesmo, não é? Então
deixa que nossos desejos se cruzem para gerarmos o Amor que haverá de
alegrar nossos corações e nossas vidas.”
─ Ah, amiguinha, dá para não dar para um homem desses? E eu, tão
necessitada de Amor, envolvida por um homem de verdade!
Karina riu e, fascinada, respondeu-lhe:
─ Acho que tu resististe demais! Muita resistência não faz o homem
desistir de nós?
─ De modo algum. Se nos desejar além do sexo, ele se tornará mais
apegado e fascinado com nosso pudor virtuoso. Mas havia muito que eu
estava decidida a dar-lhe, porque eu já me tinha dado. Eu estava
completamente entregue e decidida a não deixá-lo ir sem viver aquela
paixão bruta no mais profundo do meu âmago. Só o pudor de me entregar
tão prontamente me embaraçava e ele também procurava alongar o namoro
para domar o meu pejo. Mas desejo irrefreável era tudo o que tínhamos. O
Amor já nos inundara de desejo e eu não teria sossego enquanto não abrisse
as pernas e me deixasse arrebatar pela paixão.

208
Minha alegria vencia o meu pejo e eu lhe respondi com o coração
em festa e cara muito vermelha: “Eu já estava completamente rendida,
tolinho! Só estou mais ansiosa para ter-te por inteiro em completa
comunhão. Eu quero muito parir este Amor de um pai tão amoroso. Nunca
imaginei nada tão intenso, tão avassalador. Não consigo resistir a tanta
ternura e meu coração é só afeto por ti”.
Jurei-lhe que jamais cedera a alguém antes de um mês de namoro e
só colhera desilusão. Mas sentia que com ele era inescapável. Era como se
o conhecesse há mil anos e eu sabia que não dormiria nem teria sossego
enquanto não fosse sua. Completei: “Para o bem ou para o mal, minha vida
nunca mais será a mesma depois daquele beijo. Estou irremediavelmente
nas tuas mãos e nos teus desígnios”.
Eu devia estar roxa de vergonha quando lhe implorei: “Deixa-me
fazer-te feliz por toda a minha vida, por Deus! Toma-me: sou tua! Dá-me
esse Amor terno e selvagem”.
Ele selou-me os lábios com um beijo num transbordo de alegria com
mais uma declaração de Amor: “És o mais belo e desejado presente da
minha vida e mal posso esperar para te desembrulhar. Para te ser honesto,
eu não sei se é Amor, se é paixão ou se é desejo insopitável o que sinto por
ti. Deve ser tudo isso a um só tempo. Só sei que nunca o senti antes de
maneira tão intensa. Mas eu creio que há Amor oculto em alguma dobra
desta paixão abrasadora e só depois de saciá-la é que te poderei dá-lo”.
Eu lutava entre o desejo e o pudor e sentia meu rosto ardendo de
pejo, mas meu encantamento por aquele coração terno e aquela potência
viril não tinha limites e, caminhando apressados para nos entregarmos à
paixão, respondi-lhe: “Eu sei, eu também sinto a mesma empolgação. Tu
também és o presente com que sonho desde que comecei a namorar, só que
mais furioso e eu também estou ansiosa por desembrulhar-te. Mas eu posso
identificar um sentimento muito especial em meio à paixão que só pode ser
Amor e que se manifesta de maneira muito viva, muito intensa, talvez
porque ele tenha precedido a paixão ou porque eu realmente nunca tenha
amado.
É para mim um sentimento novo e maravilhoso que sobressai ao
desejo de ser tua. Distingo dois sentimentos: afeto por ti, que provém do
coração encantado com tua ternura e desejo, um sentimento que parece ser
mais animal do que humano que me faz perder o chão, o leme e a razão e me
põe toda em frenesi. O que posso te afirmar é que são ambos sentimentos
novos muito intensos que estão me deixando maravilhada”.
Ele riu: “O chão tu vais perder de fato quando perderes o pejo”. E
concluiu mais uma declaração de Amor com uma queixa: “És a maior

209
paixão da minha vida. Bem vejo que tu és a mulher que os céus me
destinaram... Por que tardaste tanto a vir se eu sempre te trouxe no
coração”!
Aline riu para Karina:
─ Ah, safadinha! Tu deves estar pensando que eu estava mais
roxinha para lhe dar do que tinha a cara roxinha. Pois tu estás certa. Eu
sorria e fremia. Sorria-lhe com a alma e o coração, porque a emoção me
travava a fala, jogando-me nos seus braços com frissons que me percorriam
o corpo todo. Acho que eu estava fértil, porque o desejo de ser invadida
por aquele tesão bravio me avassalava.
E com que alegria eu fui raptada porta adentro da sua morada,
apertando-o nos braços, num beijo devorador! Com que alegria e desejo
crescente eu o vi despir-me, depois de muito afagar-me e perguntar-me se
podia fazê-lo: “Tu já me desnudaste o coração e a alma – eu lhe disse – e
eu já me entreguei todinha a ti. Toma-me como quiseres e faz de mim o
instrumento do teu prazer. Despe-me o corpo e toma-me a alma, eu não
tenho nenhuma resistência que possa te impor, e nem quero”.
─ Então também há prazer no despir! E como é que ele te
desnudou? Ele tirou-te a roupa simplesmente?
─ Não, foi com muita sensualidade. O Amor é sempre uma
brincadeira sensual. Teu pai sempre foi imprevisível, até para me despir.
Eu nunca sei por onde ele vai começar ou como vai fazê-lo. Se me despe
logo ou depois de muito me amassar e quando repete o mesmo duas vezes
seguidas é uma surpresa. Isso quando não me envolve vestida e vai me
despindo aos poucos ou deixando que eu mesma vá tirando a roupa à
medida que ele avança nos meus mimos... Não raro brinca de médico,
apalpando-me toda e levantando-me a roupa que eu vou tirando. Tira-me a
calcinha com os dentes fuçando no meu sexo.
É uma expectativa tão grande que vai me enchendo de hormônios do
prazer. Ele pode começar pelo vestido ou pela calcinha fuçando no meu
sexo ou na minha bundinha conforme ele me tenha envolvido pela frente ou
por trás. As mãos podem subir pelos flancos ou por entre as coxas, uma por
trás outra pela frente, afagando-me ou arranhando-me até o pescoço. Às
vezes, quando eu levanto os braços, para ele acabar de me tirar o vestido, a
bata ou uma blusa, eu já estou completamente nua até sem soutien. E toda
afagada, mordida, lambida, arranhada, amassada, sugada, beijada... – Riu –
e, não raro, “gozada”... É cada espremida na minha bunda que eu grito de
prazer.
E quando, já completamente nus, ele me agarra a bundinha e me
levanta lá em cima e me desce devagarzinho, lambendo minhas coxas, toda

210
a minha vulva, barriguinha, suga os meus seios, colo, queixo, mais aquele
beijo do orgasmo... eu fico num frenesi tão grande que lhe pulo no pescoço
e aperto minhas pernas procurando pelo Amadinho com a minha menina e
quando o encaixo me deixo deslizar com todo o meu peso naquele encanto
de excitação numa explosão de gozo inenarrável. Foi então que eu soube o
que era perder o chão de fato. Ele carregou-me para a parede, apertou-me a
bunda e gritou: “Trepa, lagartixa”! E lá fui eu pelos ares com a força do
pênis que me tirava o chão a cada estocada bruta. E brincar de “trepa,
lagartixa” tornou-se uma de minhas brincadeirinhas preferidas. É pura
paixão bruta.
Também já fizemos Amor, muitas vezes, comigo “vestida para
arrasar”, apenas me arredando a calcinha. Chegou até a comprar-me uma
roupinha de puta. Tinha uma fantasia e vestiu-me de nudez como ele próprio
disse. E há os strip-teases em que me dispo e jogo-lhe as peças, uma por
uma, ou o deixo ir tirando uma peça a cada movimento da dança, ganhando
taponas na bunda desafiadora ou sugadas nos seios dançantes, ou me
esfrego em beijos arrebatadores com a última peça de roupa aberta e me
escafedo com uma tapona na bunda, mas sou agarrada e invadida por aquela
fúria amorosa no esfrega-esfrega da nossa nudez. Sim, minha vergonha dele
era tanta que a troquei pelo mais absoluto despudor.
Não é nada raro que eu esteja frenética e aos primeiros toques eu
me inunde com os desejos e o surpreenda arrancando nossas roupas em
frenesi para entregar-lhe minha nudez e beijá-lo e apertá-lo fremindo de
excitação, fazendo-o sentir minha necessidade do macho e implorando pela
intromissão. Depois que eu perdi a vergonha e ele o receio de envergonhar-
me não é raro nos pegarmos nus sem saber como chegamos à nudez. Teu pai
diz que são coisas do Amor. É ele que nos despe à nossa revelia enquanto
nos inunda de desejos. Se eu estou tranquila, porém, sigo o seu ritual
sempre repleto de sensualidade e quando ele termina eu estou sempre
molhadinha, varada de desejo e quase sempre tenho o primeiro orgasmo na
penetração, ou antes.
Nós sempre filosofamos de bunda para o sol e discutimos nossa tese
do Amor, na teoria e na prática, ao sol que arde em nossa cama. Não raro,
eu me embeveço com sua nudez, mando a filosofia às favas e avanço sobre
ele em posição invertida e cubro-o fazendo-lhe cócegas. Brinco o
Amadinho até ele virar desejo... e lhe faço as danças eróticas até absorvê-
lo dentro de mim numa TVC, dominando-o sob a minha pressão e a minha
força. Nunca fizemos rapidinha ou trepadinha, É só tesão bruto, bem
grandão também da minha menina que lhe dá cada algemada que o faz gritar
palavrões e as ordenhas o põe maluco.

211
Cada um pode brincar com o que desejar e se quiser algo é só
“ordenar”. Negar é falta gravíssima que ninguém ousa – riu – salvo quando
quero o castigo: taponas na bundinha. Exemplo? Se ele pede um boquete e
eu quero taponas, faço forfait até ele deixar-me a bundinha ardidinha. Então
extrapolo o seu desejo na maior alegria e, quando o Amadinho vira desejo,
a maluquinha fica com a cachorra, sobe nele e completa o boquete com
abracinhos, chupitadas, algemadas e ordenhas que lhe extraem os desejos
até o último espermatozoide... Tudo em meio a palavrões para suportar o
gozo. Quando temos tempo, sempre brincamos de amar e até fazemos
“brigas” (se te pego!) com o Amor para que ele nos vença, inundando-nos
de desejos e volúpia para a paixão bruta completar a festa.
O nosso Amor nunca arrefeceu e começa quando ele chega: um
beijo sempre demorado e atencioso me faz saber que eu estou sempre nos
seus cuidados e sou amada. Isso se não me ferra logo uma tapona para
despertar meu benquerer se me pega descuidada. Sentir que somos tão
necessárias para o nosso esposo quanto ele o é para nós deixa-nos o
cérebro em êxtase. A felicidade é tanta que ele irriga-nos o corpo de
hormônios e estamos sempre felizes e prontas para o Amor ou o carinho. E
se a tapona na bunda vem com uma promessa: “Se te pego peladona, dou-te
tanta porrada”! Eu rio: “Tenta”! Isso dá agarra-agarra do Amor que nos
deixa pelados e ele só me pega no chuveiro: esfregação, cavalgada maluca,
carrega-me para a cama cobertos de espuma para massagens de bunda e Ts
Grandões até, desejos satisfeitos, ele adormecer sob a minha pressão e
chupitadas da menina maluquinha... Porém se estou com a cachorra eu
retruco: “Pega”! E vou-lhe ao pescoço com o beijo do tesão que é
retribuído com o beijo do orgasmo num aperta-aperta e esfrega-esfrega
desenfreado... Nós nunca juramos Amor, nós damos Amor, brincamos e
amamos que ele fique bruto.
Quando vocês estão em casa da vovó, nós curtimos a saudade nos
comendo na maior farra: ele me surpreende em torno do fogão estapeando-
me a bunda se me pega distraída; enfia-me os dedos para degustar o meu
sabor e me come na mesa lambuzados de molhos; mais a lagartixa trepando
na parede... Um dia, ao subir as escadas, lambuzados, para continuar a farra
no chuveiro empurrando-me pela bundinha, mordeu-me e pediu-me juras de
Amor ou ele me fodia. “Juras de Amor”! Pois sim! Desde que minha menina
se tornou ativa e se embruteceu nas algemadas, nossas brincadeiras de
Amor tórrido buscam a violência máxima dos meninos empolgados. Por
isso costumamos ironizar na maior alacridade quando falamos de satisfazer
os desejos, porque é divertido e o bom é a violência dos meninos
empolgados que soa estranho, mas nós sempre a buscamos para rir e gozar.

212
Com minha bundinha nua, mordida, estapeada e pressionada pelas
suas mãos, eu vislumbrei o que ele de fato queria: fazer-me subir a escada
como lagartixa. Eu ia perder essa? Foda daquele menino só pode ser bruta:
é paixão braba e paixão braba é Amor tórrido! Louquinha pelo castigo,
rebolei apertando a bunda no Amadinho, álacre como uma criança em
folguedos: “Amor eu não juro, não, nem que me fodas à bruta, mas podes
tomar quanto queiras, porque ele só faz crescer”.
Ele fez-se de agressivo apertando meu rebolado no menino: “Estás
com subterfúgios! Eu quero juras, mas tu queres foda bruta, hein? Pois tu
vais ver o que é foda para valer”! Apertou-me toda envolvida e derrubou-
me na escada, invadindo-me à bruta. Com que alegria eu subi com
intromissões violentas na bundinha e na Arroxana que arrochava nele a
cada brutalizada épica que recebia. Ele mudou-lhe o nome de Nina dos
Prazeres para Nina Arroxana quando ela começou a arrochar nele com o
treinamento pompoarista. E eu amo o sexo nos limites do gozo extremo.
Desvairada de gozo e de alegria, com os olhos em cascata e
querendo mais corri para o chuveiro: “juras nem pensar, mas Amor podes
roubar-me quanto quiseres, se me pegares, claro”! Pegou! Ai, Meu Deus!
Amassados, chupados nos lambuzados e ensaboados até nos embrutecermos
de tesão, brinquei de cavalinho galopando no Amadinho cobertos de
espuma enquanto ele me raptava para a cama. E toma massagem de
bundinha com invasão da periquita, Ts Grandões... (Às vezes eu peço as
cambalhotas antes para adormecê-lo nas atividades amorosas da menina
maluquinha que o farta de beijinhos chupitados ou troco as cambalhotas
pelos beijinhos). Com ele dentro e locupletada de gozo, minha menina
adora niná-lo com beijinhos.
Ao descer para o jantar deslumbrou-se com meu sorriso ao sentar
no seu colo para dar-lhe a comida na boquinha e, embevecido, me matou de
rir dizendo-me muito sério: “Tu tens de acreditar, meu Amor, eu morro de
amores por ti e tu tens de me amar ou eu vou foder-te bruto até tu jurares
que me amas”.
Meu Deus! Sentada no colinho do Amor e alimentando-o na
boquinha, embevecido por mim... Aquilo era a mais pura verdade e a minha
alegria maior, mas nós nunca dizemos, nós fazemos! Derretendo ternura,
murmurei-lhe ao pé do ouvido na maior alegria, fazendo-o estertorar de rir:
― Que bom! A tua alegria será sempre me ter e meter o Amadinho
Fodão em mim, fazendo-me subir pelas tabelas estertorando de prazeres
arrasadores e me fazendo agradecer a Deus em torrentes de lágrimas de
alegria! Nunca fodecas ridículas, vergonhosas e envergonhadas como as
dos machões que me faziam correr frustrada para a igreja pagar dízimos e

213
fazer penitência. Fodas brutas? Que venham elas, escada acima ou subindo
nas paredes! Tenho de gritar palavrões? Com certeza! Mas o que é que tem
se é croce e delizia, delizia al cuore? Se todas as fodas fossem assim só
haveria mulheres felizes no mundo.
Ternura, afagos, mordidas, taponas, língua safada, amassos brutos,
paixão violenta, brincadeiras... Quando nos entregamos ao Amor passional
é para estrebuchar de gozo porque a paixão me invade bruta, selvagem,
arrasadora... Ele me toca com tanta sensualidade que já tive até três ou
quatro orgasmos sem penetração e, ao cabo, quando o Amadinho completa a
sua fêmea o gozo é inenarrável. Com um macho de pegada bruta que te ame,
tu estarás sempre predisposta para fazer Amor porque ele será sempre o teu
doce preferido. E o melhor: ele te sacia, mas não te farta nem te enjoa. É
querer sempre mais. Nunca caímos na rotina. Isso é amar.
Voltemos à transa da minha vida. Ele me prometera Amor tão
tórrido quanto eu quisesse. O problema é que eu não sabia o que queria. Eu
intuía que o gozo tinha de ser arrebatador, mas não sabia exatamente como
era. Por isso escolhia homens lindos, mas com porte de macho que
pudessem me envolver com pressão e me dominar com força bruta. Tinha
de ser macho! Entretanto cada nova experiência era uma nova frustração
que acabava em gozo chocho ou nenhum gozo. E eu me perdia na busca do
macho. Se os Adônis eram tão ruins, o que esperar de machos comuns?
Com teu pai, depois de ele me derreter com ternura que eu
desconhecia nos homens, eu senti pressão, senti envolvimento, senti a força
bruta me dominando, me apertando, me prendendo pela nuca e explorando
minha boca e meus pontos erógenos, tascando o bruto nas minhas coxas com
fúria de possuir-me. Aquele instrumento penetrante parecia querer furar-me
as roupas e me furar... Aquilo era o Macho de fato, era o Homem! Esqueci
do pudor e me senti como penetrada por aquele instrumento bruto que
queria furar-me. Eu umedecia e atingia a fúria do desejo, devolvendo-lhe os
beijos arrebatadores com meu beijo arrebatado de tesão e atingi o gozo
arrasador que havia tanto ansiava. Como não chorar, Meu Deus?
Arrebatada de gozo, eu me fascinava pela perspectiva daquele
Amor bruto dentro de mim. Ele pretendia dar-me todas as suas melhores
transas para me deixar arriada de gozo e deslumbrada pelo seu sexo, a tal
ponto que eu ansiasse por ele a minha vida inteira. Deslumbrada eu estava
antes de ele entrar em mim. Ele me fizera gozar despojando-me da roupa e
eu me perguntava fascinada: “Meu Deus, o que ele vai fazer com esse falo
dentro de mim”?
Ele me sorriu: “Vou tornar-te sem-vergonha para que percas o pudor
e derrames todo esse Amor do teu coração sobre mim. Expulsa da tua mente

214
o pudor e tudo o que não for Amor, paixão, prazer, gozo e entrega-te às
delícias do Amor e da paixão sem limites”.

Eu nunca tinha sido despida por um homem e nem mesmo me despia


diante deles, mas eu desejei tanto ser despida pelo teu pai... Imaginar
aquelas mãos invadindo minhas pudicícias e apertando tudo enquanto as
roupas se iam, me inundava de desejos... Ele me queria despudorada e
merecia todo o meu despudor, a minha entrega total. Tanto Amor, tanto
carinho, aquelas mãos voluptuosas... Todo aquele transbordo de ternura...
Haveria de ser um fascínio. E foi mesmo!
Disse: “Tu és muito envergonhada, mas o Amor não tem vergonha,
sabias? Tem recato da vista de terceiros, mas não pudor do amado. O sexo-
foda é feio e vergonhoso, é pecado, porém o sexo-Amor é divino,
maravilhoso e sem-vergonha, mas não vergonhoso. E tu tens tanto Amor
nesse coraçãozinho! Vou-te desavergonhar para ele transbordar todo sobre
mim, mas tu podes tomar todo o que está no meu coração que é teu, só teu. E
não é pouco, não! Tu podes tomá-lo, libertando teu despudor e tuas
fantasias mais eróticas e avançar nele com toda a tua fome de prazer que tu
tens por trás desse rubor. E se ainda não tens certeza podes ter: quero o teu
Amor para toda a vida, só que cada vez mais sem-vergonha. Tu excedes
tudo o que eu procurava numa fêmea e sei que és digna e leal. Vou prender-
te no meu sexo e no meu coração com tantos grilhões de Amor e paixão que
nunca mais te livrarás de mim. – Sorriu – E nem vais querer”.
Ele falava aflorando meus lábios com os dele me envolvendo nos
seus braços, amassando-me a bunda... Queria-me despudorada e fascinada
de paixão: prendeu-me os cabelos da nuca tocando-me o ponto erógeno do
pescoço. Exortou-me: “dá-me Amor sem pudor” e deu-me aquele beijo que
me avassalava de desejos em completo frenesi. Desceu as mãos pelos meus
flancos até abaixo do vestido, meteu a cabeça por baixo e foi subindo, me
lambendo, me mordendo como um lagarto entre as minhas coxas, enchendo-
me de frissons. O vestido ia subindo e o Amor me invadindo com desejos.
Desceu-me a calcinha com os dentes e atracou-se na minha vulva. Ai, que
sugada! Quanta festa daquela língua safada que acabou numa lambidona em
toda a vulva. Subiu, afagando-me os flancos e me encoxando. Eu me vi só
de soutien. Ele empalmou-me os peitos, deixando-me roxa de vergonha,
mas xô, pudor!
Senti tanto prazer que, num frisson despudorado, desabotoei o
soutien e ele o foi descendo devagar e beijando-me os seios. Quando os
tive nus, liberei outra fantasia: apertei-lhe a cabeça entre eles e ele deu-me
um beijo tão chupado que ficou uma mancha roxa no seio esquerdo. Então

215
ele sugou-me um seio como um bebê faminto e com forte pressão da boca
como se quisesse devorar-me.
Eu gemia puro prazer. Com um puxão na mão, fez-me girar
encaixando minha bunda no seu tesão que crescia para mim. Xô, vergonha,
estimulei-o com o reguinho. Coberta de vergonha, tirei-lhe a sunga,
morrendo de vontade de tocar-lhe o pênis empolgado. Xô, vergonha,
toquei-o. Ele teve um frêmito e recompensou-me com o beijo do orgasmo,
segurando-me pelos cabelos e estimulando o meu ponto erógeno e com a
mão livre apertando minha bunda contra ele e seu instrumento que atingia a
dureza máxima. Eu fremia toda de desejo e gemia de prazer. Explodi num
orgasmo arrasador me perguntando quando é que ele ia adentrar o meu
âmago. Eu o queria tanto, tanto, dentro de mim.
Karina sorriu:
─ Eu posso imaginar! Mas acho que estou entendendo. É que, no
“fazer Amor”, papai também adota o princípio de que quanto maior o
desejo que se tem no coração, maior é a alegria, o prazer, e a felicidade que
se tem com a sua realização. Ele me disse isso quando me ensinou a ler e eu
guardei no coração. Achei tão lindo! Quando as aulas terminavam, eu ainda
tinha o coração cheio de desejo de cantoria e ficava anelando pela próxima.
E mal tu saías, eu corria para ele estourando de desejo de mais cantoria.
Como eu desejava cada aula, como eu amava papai por me dar tanta
alegria... Deve ser por isso que tu o amas tanto: ele enche o teu coração de
desejo e descarrega-o numa festa de alegria, prazer e felicidade... O teu
coração alterna sempre desejo e festa... Continua tua narrativa que eu estou
amando!
─ Tu estás certa. Ele aplica esse princípio a tudo e queria fazer-me
explodir de contentamento. Ele me enchera de desejo e eu ansiava pela
festa... Minha maior fantasia era ser penetrada pelo macho bravio. Mas ele
me via tão envergonhada que procurou libertar o meu coração de todo
aquele pejo para o gozo que ele queria me dar. Ele queria que eu só tivesse
desejo.
Nós não fomos à sua casa para uma foda, mas para nos
embevecermos num Amor transcendental. E eu até teria ido para saciar-me
daquele gozo arrasador que eu pressenti naquele instrumento querendo me
furar, mesmo que só por uma noite, e com que eu sonhava sempre, dormindo
ou acordada, arrasada de desejos. Eu não tinha escapatória: era amar bruto,
ou foder bruto, ou morrer de excitação e volúpia. Era Amor sem volta
também para ele. E o Amor ele via como um ritual que integrava corpos e
mentes carregados de desejo e sensualidade, não um descarrego de libido.
Ele disse: “Acho que tu queres paixão bruta, mas eu quero

216
brutalizar-te de prazer e só a terás quando ficares despudorada e me pediu
para dar uma voltinha. E eu dei voltinhas, num passo de dança, para ele
admirar “a mais bela escultura que ele já tinha visto”. E também a mais
vermelha. Maior do que a minha vergonha – eu sentia-me uma despudorada
por me entregar tão rápido e tão completamente – só havia mesmo o meu
Amor e o meu desejo por aquele homem e por aquele pênis que me
desafiava com o gozo arrebatador. Era tê-lo ou morrer de desejo e tesão. E
eu decidi fazer o meu despudor ficar do tamanho do meu desejo.
Decididamente, ele não queria foder-me. Ele queria amar-me. E com que
intensidade, Meu Deus!
Deslumbrada por aqueles orgasmos sem penetração e fremindo pelo
gozo da paixão que eu imaginava inexcedível, fui muito safadinha. Eu sabia
que ele queria ver o meu bumbunzinho nu. Ele ainda não o tinha visto nem
vestido! Mas se eu tinha de lhe mostrar a bundinha eu queria que fosse numa
cena de arte pura. Queria que a arte da apresentação da minha bundinha se
igualasse à volúpia que ela haveria de lhe dar. Eu queria deslumbrá-lo.
Perguntei-lhe se podia ser indecente sem ele me considerar safada. Ele
retrucou-me: “É muito safada que eu te quero para brutalizar-te de paixão.
Quero que seja a noite dos teus desejos e prazeres inexcedíveis, um marco
de felicidade dividindo tua vida passada e futura e determinante de nossas
vidas”.
O Amor, como eu o sentia pela primeira vez, estava mesmo me
tirando o pejo ou, ao menos, me deixando safada, e fui deveras devassa
fazendo-o babar pela minha bundinha. Eu sabia que ia morrer de vergonha,
mas louquinha para ele enfiar-se em mim, encarei o desafio: fiz pose de
dançarina de caixinha de música e com os pezinhos juntos e saltitantes fui
girando, girando, girando... até parar de frente para ele roxinha dos pés à
cabeça. Deslumbrado e quase sem voz ele murmurava: mais, mais, és
fascinante... Depois da minha terceira volta ele estava de queixo travado
com o esplendor do meu bumbum e derramou-se em mais declarações de
amor.
Pedindo-me para eu não parar de girar ele disse adorar minha pele
branca toda rosadinha. Exortou-me a entregar-me por inteiro, sem medo
nem pudor, à felicidade da nossa paixão imensa. Pediu-me para não ter pejo
de indecências e liberar minhas fantasias: eu estava livre para fazer todas
as indecências que quisesse até para apertar-lhe a bunda se isso me desse
prazer.
Meu Deus, gozar minhas fantasias sem pejos com o coração livre
para o prazer... E eu estava a ponto de cair no choro implorando para ele
me comer à bruta... A menina me mordia numa loucura de tesão. Meus olhos

217
explodiram em cascatas e eu supliquei: Se eu fizer uma indecência que eu
nunca fiz tu me comes com teu tesão bruto?
Ele apiedou-se de mim e me confortou apertando-me ao peito: “Meu
Deus, tu estás doente de desejos de mim. Desejos desses têm de durar a
vida toda porque se originam do Amor e eu os quero para sempre. Vamos a
eles, mas tu ficas me devendo a grande indecência”.

Quando ele me tomou nos braços másculos e me pôs na


hidromassagem cheia de espuma eu era um poço de desejos e estava
perdendo a vergonha esfregando-me nele coberta de volúpia e atormentada
de desejos.
Karina estava fascinada e queria saber tudo:
─ E como foi a transa?
─ Tu queres saber da cópula. Quando fruto do Amor a cópula é a
sua coroação. É a paixão bruta carregando com o Amor para dentro do
nosso âmago mais sensível e ficamos locupletadas de Amor pondo o desejo
em cada fibra do nosso corpo. Ai, Meu Deus! Com o Amor nos envolvendo
e nos pressionando e friccionando por fora e por dentro, em praticamente
todos os nossos pontos sensitivos, os fluidos do prazer se acumulando e o
gozo explodindo... só mesmo um palavrão bem sonorizado para suportá-lo.
Não me peças para descrevê-lo porque não há palavras capazes de
expressá-lo e eu teria de resumir tudo na mais sonora e cabeluda das
exclamações. Isso é Amor de paixão tórrida e só o encontrarás num Amor
de Homem. Ecce Homo nos deixa, sim, completamente malucas. A minha
sorte foi ele ter-me dado apenas o aperitivo dos Tesões Grandões: um
ensaio meio tórrido ou eu teria me perdido, toda travada, em meio a
vergonhas, gritos e palavrões. Ele preparou-me aos poucos para os Ts
Grandões.
Karina sorriu meiga:
─ Mesmo meio tórrida foi a transa mais importante da tua vida, não
foi?
─ Com certeza! Para minha surpresa e perplexidade cada transa
seguinte excedia as anteriores mas a primeira foi a mais importante porque
foi a minha entrega ao Amor e a minha iniciação nos seus rituais. De início
ele queria dar-me todas as super-transas, mas me viu tão empolgada com o
que ele chamava de transa meia-boca que resolveu ir liberando-as aos
poucos. – Sorriu-lhe – Mas eu só te contarei sobre as intromissões se tu me
prometeres não veres mais pornografia. Ela só te prejudica abreviando a
tua menarca e não te ensinando nada. Nem a teres prazer. É só comércio
como a prostituição e é tudo falso. As coisas não acontecem assim como se

218
todos estivessem prontos para transar e até a ejaculação é editada com jatos
de leite condensado para parecer mais abundante. É preciso preparação,
excitação e, quando não há Amor, mais ainda. Não quero que compares a
dignidade do meu Amor àquele comércio nojento.
Feliz da vida, Karina afirmou-lhe:
─ Eu já me livrei de Clarinha e de suas más influências. Sou só tua
aprendiz e de papai.
Karina falava-lhe aberta e francamente tal como firmara no pacto
que era lei para ela. Jamais mentira ou escondera algo, mas Aline ainda
tinha alguns melindres. Via, porém, que sua pupila já sabia tudo sobre
pornografia e palavrões e que não havia razão para restringir temas
eróticos. E o melhor: o relacionamento de ambas era baseado unicamente
no Amor. Resolveu também transformar o pacto em lei. Com um sorriso
feliz, abriu-se:
─ Vou retribuir o teu presente em dobro ensinando-te todas as
indecências que faço com papai, até o chapéu tailandês, sem os tradicionais
preconceitos e tabus com o sexo. Vou deixar-te despudorada para o teu
homem.
Feliz por ver a mãe transformada na amiguinha desejada mesmo
com a mãe permanecendo entre elas como espírito crítico, censurando-lhes
qualquer deslize, Karina sorria de orelha a orelha, mas estranhou:
─ Chapéu tailandês! O que é?
─ É uma das posições acrobáticas que aprendi nas aulas de strip-
tease na escola de danças. Foi a grande indecência que fiz para o teu pai
logo depois de ele arrasar-me de gozo e me pedir mais da minha nudez
dançante. A cada volta eu fazia o chapéu tailandês. Tu pões um pé na
cabeça. É pura arte erótica, mas só a deverás fazer com o macho da tua
vida.
Levar o pé à cabeça era um dos movimentos que Karina mais amava
na dança porque a mantinha alongada. E ia poder fazê-lo também para se
locupletar de Amor! Ela ria na maior alegria fazendo chapéu tailandês e
ainda dava tchauzinho com o pé e, de costas no tapete, pôs os dois pés:
─ É mesmo muito erótica, mas quem te disse que eu darei minha
mimosinha para alguém que não o macho da minha vida? Essa posição é
mesmo indecente? Se um casal doente de Amor a fizer no recesso do seu
quarto haverá indecência?
─ Claro que não! O Amor não tem vergonha, lembras? Foda é até
pecado. Com ela todo o pudor é pouco, mas fazer Amor com o maridão
terno e doente de Amor por nós é a verdadeira comunhão de ternuras, de
corações e mentes, de corpos e desejos, em que o pudor não tem cabimento.

219
É o encontro com o Amor, e o encontro com o Amor é o encontro com Deus
que é o conhecimento supremo, mas as sociedades, induzidas pelas
religiões, consideram tudo indecente como se foder ou fazer Amor fossem a
mesma coisa. Fazer Amor verdadeiro numa perfeita interação de ternuras é
a maior realização da vida de uma mulher e também do homem.
Mas tu queres saber sobre a dignidade da minha iniciação no Amor.
A tua amiguinha vai te contar tudo. Nunca teremos nenhum segredo por mais
erótico que seja. Acho que eu te devo mesmo e te fará bem saber porque
tornará mais fácil e seguro ires ao encontro do Amor.
Constrange-me um pouco falar de erotismo com uma criança que
deveria ocupar-se de brinquedos e estudos. O erotismo no Amor é lindo e
nada o torna indecente, mas é, ou pelo menos deveria ser, para pessoas
mais maduras. Para ti só te atrapalha. Mas a tua cabecinha está cheia de
curiosidades despertadas pela mídia, pela pornografia e pelas colegas, não
é?
─ Creio que já vi e ouvi de tudo o que é feio e sujo no sexo,
inclusive palavrões. O vocabulário dos meninos e até das meninas é
depravado e não há como não ouvi-los. E se tu ouvisses Clarinha... É uma
menina linda, mas fala como um moleque. Quando te falei dela eu não
reproduzi todo o seu linguajar.
Conta-me o que é prazeroso e belo. Nada do que digas poderá me
chocar, constranger ou me tornar deseducada. Clarinha foi uma fase tola,
mas me livrei dela e sei separar as coisas. Eu já conheço o lado feio e
amarei que tu me mostres o lado belo. Tu me tornaste dona do meu destino e
eu tenho de ser sábia para determinar os meus objetivos.
─ Eu serei o mais fiel possível aos acontecimentos que marcaram
muito fundo a minha vida. O importante é que saibas tudo sobre o Amor
para saberes até onde podes ir com a paixão e o sexo. Paixão e sexo são
instintivos, mas o Amor, como viste, é espiritual, sutil e profundo; é cabeça,
é cérebro e deve presidir a tudo, é só para iniciados e eu era apenas uma
neófita admitida à iniciação e envolvida pelo fascínio daquele ritual
instigante, em que o Amor desencadeava a paixão que me tomava toda numa
explosão de desejo. Nunca senti tanto Amor no coração, nunca tive o corpo
tomado por tanto desejo, nunca ansiei tanto pela intromissão do macho no
meu âmago. No limiar do gozo arrebatador completo, eu fremia pela
intromissão da paixão no meu âmago. A minha alma pedia e o meu corpo
exigia o meu macho em mim.
Meu mestre em Amor colocou-me no aconchego da hidro
acolhedora. Nós ardíamos em desejo nos esfregando um ao outro. Então,
ele massageou-me e lavou-me a mimosinha com dois dedos, fazendo-me

220
gemer de prazer. Sorriu: “Esquece a vergonha e faz o que tu queres. Meu
corpo é todo teu para saciar os teus desejos e realizar as tuas fantasias mais
despudoradas”. Lavei o que o pejo me impedira, deslumbrada de vê-lo
desejar-me...
Ainda molhados, ele me carregou para junto da cama e me deu mais
daqueles beijos furiosos que me deixaram louquinha a afagá-lo
despudoradamente. Ele riu: “Tu estás ficando sem-vergonha como eu amo.
Liberta todos os teus desejos e fantasias e vamos botar a paixão bruta
dentro de ti. Então, jogou-me na cama e lambeu-me os pés, as pernas, as
coxas, deu uma larga lambida em toda a vulva, na menina e no clitóris,
apertando-me a bundinha. Levou a língua fundo na mimosinha e, em
seguida, brincou com a língua no meu clitóris e com dois dedos na
mimosinha.
Meu desejo superava o meu pudor, ou pelo menos, como teu pai
dizia, eu enfrentava os meus demônios: enrubescia, mas encarava-os de
frente e fantasias que eu nunca tinha imaginado tomavam conta dos meus
sentidos. Com um macho de verdade e superando pudores eu sentia pela
primeira vez o clamor do sexo.
Fremia de excitação na ânsia de ser penetrada pelo macho que
inundava meu corpo de desejo. Fremindo dos frissons que me dava aquele
fuçar na minha vulva, afaguei-lhe a cabeça e apertei-a suavemente contra a
minha vulva para que aquela língua safada penetrasse fundo na minha
menina. Eu avançava no despudor.
O prazer subiu tão alto que eu apertei as coxas no seu rosto e
explodi num orgasmo muito louco. Então ele me pediu para ficar na posição
cachorrinha, porque a minha bundinha lhe tirava o juízo.
Karina sorriu com brejeirice:
─ Então foi aí que tu lhe deste...
─ Não. Meu bumbum ele ganhou alguns dias depois... Ele era
despudorado e me queria despudorada, mas era muito respeitoso e terno.
Ele entendia que sexo anal requeria preparação, além do desejo de ambos,
mas a minha bundinha o fascinava e ele queria a paixão com grandes
encoxadas.
Quando ele a viu toda empinadinha e enfeitada pelos meus
buraquinhos, deitou-lhe as mãos e lambeu tudo deliciado. Deslizou a língua
pela mimosinha, pelo meu períneo e pelo meu reguinho e foi subindo pelas
minhas costas, enquanto me massageava. Apertou-me os seios, mordeu-me
o pescoço, a orelha, a boca que eu lhe entreguei sôfrega de excitação. E
aquela estaca dura de pedra cutucando minhas partes baixas me fazia
estertorar de desejo.

221
Ele arrepiou-me toda entrando macio, mediu minha profundidade em
três intromissões macias e lentas para me afeiçoar ao pênis e foi tornando-
se bruto fazendo-me delirar, com seu púbis batendo muito forte na minha
bundinha. Eu gemia como louca, enquanto aquele falo batia no fundo como
um aríete e voltava célere para nova estocada e prazer indescritível. Após
eu ter outro orgasmo, deveras arrebatador, ele deu uma paradinha, ergueu-
me apertando-me pelos seios, sem se desencaixar, mordeu-me o pescoço e
a orelha e sussurrou-me: “Tu és um não acabar de excitação e o que gemes
e estrebuchas... Liberta teu coração e tuas fantasias. Entrega-te ao Amor e à
paixão”.
Com ele em mim, envolvida pelo seu corpo, seus braços, seus
lábios, carne na minha carne, corpo no meu corpo, almas enlaçadas, eu me
sentia iniciada no ritual do Amor. Finalmente eu era uma mulher completa,
sacramentada por aquele falo bruto que me dava um orgasmo alucinante e
me travava toda de gozo. Deslumbrada, eu vivi o gozo arrebatador da
paixão, plenamente, havia tanto vislumbrado e acalentado.
Após aquela paradinha para deter a ejaculação ele “bombou” mais
Amor, com força, com o púbis fustigando minha bundinha em encoxadas que
me faziam delirar de prazer... Foi a festa da iniciação.
Eu gemi o tempo todo porque as estocadas eram selvagens e não
tardou a eu gemer enlouquecida de gozo em novo orgasmo e sentir o jorrar
de prazer daquele homem que me conquistara para sempre o corpo, a alma
e o coração...
Em pouco mais de quatro horas, eu fora cantada, encantada,
namorada, apaixonada, amassada, penetrada, iniciada, completada e
deslumbrada por um Amor fulminante. O prazer sexual que eu senti foi
muito maior do que eu imaginara. Eu tive a minha iniciação e, abobalhada,
a única coisa que consegui lhe dizer, ainda com aquelas encoxadas brutas
repercutindo na minha bundinha, foi: “Puxa! Tu és um macho bravio”! Foi o
ato mais digno e significativo da minha vida: minha iniciação no Amor.
Karina abraçou-a emocionada:
─ Estou muito feliz por ti... E muito contente por teres encontrado o
melhor homem para te completar e lhe roubares – riu – o meu
espermatozoide para dar vida ao teu óvulo com uma femeazinha linda como
eu. É uma dádiva divina ser filha de vocês! Mas me diz, amiguinha, se eu
me envolver num Amor tão grande como esse em que o desejo me faça
perder o senso e a compostura, tu achas que eu devo...
─ É uma boa pergunta, mas muito difícil de responder. Envolve
tantas circunstâncias! O homem da tua escolha tem de ser compatível com a
tua inteligência, cultura, ternura, dignidade, sexualidade... Mas se tu

222
entenderes que é o que tu queres, de verdade, e não te importares com
eventuais consequências indesejáveis... Porém se puderes resistir e o
menino tiver realmente apreciado as tuas qualidades e estiver de fato
interessado em ti, ele não vai te deixar ir sem te propor namoro e sem te
conhecer a fundo, sem verificar se tu foste feita para o Amor. E tu também
terás oportunidade de conhecê-lo a fundo.
O que faz perder o juízo e a compostura é a fascinação pelo gozo
arrebatador. O meu juízo perdeu-se porque eu não era mais virgem e
necessitava de macho desesperadamente. E, confrontando-o com os
machões, eu o via não diferente, mas o oposto deles. Eu o via com todas as
virtudes que eu queria no homem e no macho da minha vida.
Minha menina pressentiu o gozo arrebatador e mordia-me
intensamente e, se tens certeza de o gozo ser arrebatador, as pernas se
abrem à tua revelia. É inexorável. Ao entrar em sua casa, minhas pernas
ficaram indomáveis e, não fora a minha vergonha, eu teria avançado nele e
me penetrado do Amadinho.
Se o menino sentir que estás caidinha por ele, mas resistires, ele vai
ficar mais interessado ainda, por ver que és virtuosa e te impões respeito.
Tu terás tempo para sondá-lo, investigá-lo e saber se ele é digno de ti e te
quer de verdade. Uma menina com as tuas qualidades e recatada é rara
como o Amor e quem descobrir tal menina e pensar num casamento
transcendental não vai te deixar escapar sem explorar todas as
possibilidades e será muito difícil te desvencilhares dele.
Se, durante o namoro, ele te falar de filhos com muito carinho,
casamento, de uma união para sempre... Aí te restará muito pouco a
descobrir sobre ele. Talvez sobre fidelidade e se é de família digna... Se
tudo convergir para o Amor e a paixão for abrasadora, feliz iniciação! Mas
se ele não o fizer é porque não quer nada além de sexo e pretende apenas
“ficar” até que se resolva a “ficar” com outra... E, com certeza, vai estar
com outras, enquanto “ficar” contigo. Por aí, tu vez o quanto é crucial o uso
da camisinha e que não perdes nada com um homem que se vá.
─ Puxa! É uma tarefa nada fácil escolher um homem para amar...
─ É difícil porque a ternura é crucial e os ternos e dignos de
confiança são raros. Também inteligentes e cultos são mais raros ainda. E,
para que a convivência seja apetecida, tem que haver um relativo equilíbrio
cultural, ou seria como falar línguas diferentes... Se buscares apenas sexo, é
muito fácil. Como já sabes, basta um sorriso meigo e terás o homem que
quiseres a teus pés... Mas o sexo é apenas a nossa parte animal. É puro
instinto.
Se buscares uma relação para toda a vida ou mesmo uma relação

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apenas duradoura, tens de procurar também a satisfação do teu lado
espiritual. Além da atração física, sexual, que deve ser intensa e tórrida, há
que haver uma compatibilidade cultural e emocional, alguma comunhão de
projetos e interesses. Imagina que ele se interesse por funk e tu por
sinfonias... Tens de te sentires bem conversando com ele, te interessares
pelo seu modo de ser, te sentires enternecida pelas suas falas e com o que
ele te diz. Têm de aprender um com o outro. É isso ou ficarem cada um para
o seu lado e dar uma ligada quando a mimosinha coçar: “Vamos trepar”?
Tem de haver Amor, muito Amor, que é diferente de paixão. Paixão
é trepada. Amor é interação de duas vidas, inclusive paixão. Se tu sentires
que serias feliz convivendo com ele, independentemente de sexo, mais ou
menos, como te sentes feliz convivendo com teu pai, com tua mãe, com teu
irmão, e vires que ele sente o mesmo por ti, podes estar certa de que ele é o
homem da tua vida e tu a mulher da vida dele. Haverá uma afinidade
cultural, emocional, de interesses, e se também sexual...
O sexo há de ser o tempero, o sal da união, que tornará a vida
fascinante, dando-lhe sabor e colorido. Os momentos de sexo, embora
sejam muito importantes, ocuparão uma pequenina parte da tua vida. Muitos
casais não fazem sexo mais de duas ou três vezes por semana e até uma vez
por mês e pode durar apenas alguns minutos e se for trepada nem isso.
Como preencher a quase totalidade do tempo, se estás com alguém sem
nenhuma afinidade cultural nem emocional?
Resumindo: se tu o achares inteligente, culto e terno já é um bom
começo. Se ele for tudo isso e te falar de casamento, filhos, projetos de
vida e tu gostares muito dele, trata de segurá-lo! Se, conseguires resistir-
lhe, manda-o falar com o teu pai, para interrogá-lo e investigar sua família.
Porém se ele se for, deixa-o ir que não perdes nada.
Karina sorriu:
─ É difícil, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. É só abstrair o
sexo e ver se sobra Amor bastante para uma convivência prazerosa, não é?
─ Exatamente! Há casais que comemoram bodas de prata, de ouro e
até de diamante. Em muitos desses casos, o sexo acaba por motivo de
doenças ou envelhecimento, mas eles continuam se amando porque têm uma
afinidade muito grande de ternura e interesses. A paixão pode finar-se por
falta de condições físicas, mas o Amor transcende a vida.
A dificuldade maior é encontrar a pessoa certa. Mas encontrada, não
é difícil perceber que é a pessoa ideal. Em um minuto, eu e papai
parecíamos nos conhecer há mil anos. Foi um enlace de ternuras que nos
fascinou e apreciamos o modo de ser um do outro com nossas culturas. Eu
me encaixava no modelo de mulher e fêmea que ele desejava “e até

224
excedia” e me julgou digna e leal, uma mulher para amar. E ele... Ele era
deveras o primeiro homem e macho completo que eu conheci. E de paixão
bruta!
Quanto mais eu o analisava, mais ele subia no meu conceito, mais eu
o desejava em mim. E depois de gozar só com a ternura e fascinar-me com
o toque fálico, o que eu estava esperando? Já deflorada e sofrendo os
horrores dos desejos insaciados da mimosinha o que eu tinha a perder?
Fascinou-me deveras o que eu tinha a ganhar. Eu tinha aprendido com os
machões que o pênis tem de ser bruto porque era a curta duração da transa e
a fricção escassa que me deixava pelo caminho. E aquele pênis não era uma
expectativa, era a certeza de brutalizar-me com gozo arrasador.
─ Vejo que é importante haver uma amizade verdadeira e bastante
desejo.
─ De início deves evitar a amizade, porque ela pode atrapalhar o
envolvimento amoroso e até uma simples transada. Amigos têm dificuldade
em transar. Considera-o um pretendente interessante até que tu o desejes
profundamente e ele se declare. Mas tem, sim, de haver encantamento pela
pessoa e muito desejo e, após ele se declarar, é ir direto ao namoro que é
muito mais do que uma grande amizade. Tens de ver se ele é realmente
digno de ti. Para duas pessoas sem laços familiares conviverem a vida toda
têm de ser, mais do que amigas verdadeiras, amantes viscerais!
─ Tu falaste em “resistir”. Há meios que facilitem resistir ao desejo
pelo homem que a gente quer?
─ Não é fácil. Se tu o deixares tocar nos teus pontos sensíveis, os
chamados pontos erógenos, tu podes perder completamente a cabeça,
especialmente se estiveres resguardada da vista de terceiros e envolvida
pelos desejos da paixão... O Francisco nem te tocou! O cérebro é fascinado
por Amor e, quando tu amas ou pensas que amas, ele mergulha na paixão,
inundando-te de hormônios do prazer e só tende a desistir depois de um
ano. Ele é teimoso e tem o seu querer próprio como te ensinei.
E se deixares afagar as coxas no rumo da mimosinha, fica muito
difícil não te entregares se te sentires isolada do mundo, especialmente
enquanto não fores bastante experiente para te controlares. Quando fores
tocada em algum ponto que te faça sentir um calorzinho e um frenesi
percorrendo o teu corpo, evita que o tornem a tocar a menos que tu estejas
certa de ser o Amor da tua vida ou queiras simplesmente ser possuída, sem
te importares com as consequências.
Se não fossem os empecilhos das roupas e do lugar eu teria
absorvido teu pai dentro de mim inapelavelmente. Eu me fascinara pela sua
inteligência e ternura e estava completamente dominada pelo Amor que eu

225
sentia correspondido. E, quando dominadas pelo Amor, com o desejo
mordendo-nos a mimosinha, não há como resistirmos à paixão. É o cérebro
que quer! E se vislumbramos o gozo arrebatador... Meu Deus!
A iniciação no Amor, como um bem da vida, exige Amor verdadeiro
de ambos e é muito diferente de “inaugurar” a mimosinha abrindo botões e
sorrisos sacanas. A busca por um Amor transcendental requer sorriso terno
e encantado e, para te entregares completamente, tens de ter certeza de
amares e de seres amada, mas o desejo é enganador e embaralha paixão
com Amor.
É crucial que tu aprendas a distinguir entre Amor e paixão que
sempre se confundiram e ainda hoje se confundem. Nem os poetas escapam
do erro. Mesmo os poetas mais famosos caem no engodo e cansam de
confundir paixão com Amor que para eles é a mesma coisa.
Camões também caiu no engodo como evidencia o belo soneto
“Amor é fogo que arde sem se ver”. Ora, fogo que arde sem se ver é paixão
em que pode haver Amor ou não. Se não há, fatalmente terminará em
contrariedade como expressa o fecho do próprio soneto: “Se tão contrário a
si é o mesmo Amor”. O que contraria a si é a paixão, não o Amor. A paixão
é efêmera e, por maior que seja, contraria a si própria quando acaba porque
promete muito e, por mais que dure, acaba logo.
O soneto é, porém, uma bela descrição da paixão sem Amor. Se
trocarmos “Amor” por “paixão” fica perfeito. Geralmente nós nos
apaixonamos por quem não conhecemos, por causa do desejo. Tu te
apaixonaste pelo Francisco enquanto não o conhecias: ficaste em “fogo que
arde sem se ver” e eu fiquei deslumbrada com o teu contentamento e
empolgação. Ao conhecê-lo, porém, tu o repudias-te ao veres que ele não
merecia nem a tua simples paixão, quanto mais o teu Amor.
Como vês, ao te sentires muito atraída por um menino, louquinha
para levá-lo para a cama, é porque estás dominada pela paixão e até pelo
teu Amor por ele. Só depois de conheceres sua ternura, inteligência, cultura,
hombridade, dignidade e encantamento terno por ti, é que poderás amá-lo
de fato. E uma união sem Amor, ou com Amor ilusório, acabará em
contrariedade, como no soneto de Camões, especialmente se a paixão não
for bastante tórrida.

A propósito! Creio que já podes ler “Os Lusíadas”. Tu já és culta o


bastante para entendê-lo e não podes dizer que és culta sem o teres lido. Lê
uma edição comentada para aprenderes os lugares e os muitos nomes
mitológicos e curiosidades da obra. Acrescentarás um conteúdo formidável
ao teu saber.

226
Além de poeta extraordinário, Camões conhecia toda a cultura da
sua época e antecipou-se ao Impressionismo e ao Romantismo e, com sua
sensibilidade de poeta e guerreiro, descobriu a circulação sanguínea,
muitas décadas antes de William Harvey descobri-la e descrevê-la em
1628. É de “Os Lusíadas”, canto quarto, estrofe 29, a mais poética e singela
descrição da circulação sanguínea:

“Quantos rostos ali se veem sem cor!


Que ao coração acode o sangue amigo”;

─ Mais alguma dúvida?


Karina sorriu:
─ Acho que não. Mas eu morro de curiosidade das tuas transas
diferentes e das que te deram o maior gozo.
Aline sorriu-lhe com ternura:
─ Isso tem tempo. Tu não pretendes sair dando por aí, não é?
Karina riu:
─ Não. A curiosidade é grande, sim, mas não sinto necessidade
física. As brincadeirinhas me suprem de gozo e fascinação. Entretanto se
me tivesses deixado na santa ignorância, a Clarinha teria um páreo duro! E
estaria cuidando que os Franciscos da vida seriam grandes amantes, porque
belos...
Aline arrepiou-se e sorriu-lhe:
─ Tua mãe tem uma ordem para te dar. Estás disposta a ouvi-la?
─ Claro, mãezinha, todas as tuas falas, preleções e lições de vida
são ordens para mim como também as da minha amiguinha. Eu as incorporo
à minha cultura como sabedoria, essenciais à minha educação e
aprendizado. Eu aprendo até com as piadas! O que vais dizer é uma lição
de vida muito importante, não é?
Aline sorriu:
─ Se não fosse não seria uma ordem, mas tu sabes que minhas
ordens não são comandos. É porque eu quero que tu as guardes no coração
como um luzeiro para iluminar as decisões da tua vida: Como tu já
aprendeste, pessoas sem ternura não têm ativo, ou dominante, o gene do
Amor, mas sim o do poder. Por isso não prestam para ti nem para foder,
porque o obcecado por poder, por mandar, por submeter, é essencialmente
egoísta e vai usar o teu corpo apenas para obter prazer, deixando-te no ora
veja...
─ Como os teus machões?
─ Exatamente! Quando vires alguém dando uma ordem a ti ou

227
mesmo a outrem, tu deves excluí-lo de tuas amizades verdadeiras, porque
não presta para ti nem como simples amizade. Tu foste feita e educada para
liderares, não para dar ordens e muito menos para recebê-las. Entretanto,
qualquer líder merece todo o teu apreço e confiança e é digno ou digna de
serem teus amigos e, se for o caso, teu esposo. Quando buscares pelo teu
homem é preferível que ele seja um líder porque vocês terão entendimento
perfeito. Já com um mandão seriam só trombadas...
Um líder sempre se propõe a debater ideias e aceita as que forem
melhores não importando de quem sejam, por isso é sempre respeitado,
inclusive pelos seus liderados. O mandão acha que é o dono da verdade e
impõe as suas ideias (ou achismos?) a ferro e fogo. O importante é que
nunca te deixes submeter.

228
Capítulo XIX – OS TESÕES GRANDÕES

Karina levou à risca o que eu lhe disse sobre explorar os


conhecimentos da mãe até que não tivesse nenhuma dúvida sobre
sexualidade. Sua atenção a tudo e sua imaginação fértil não lhe deixava
escapar nada. Tomou-lhe de assalto a sabedoria:
─ Adorei ser diplomada em mulher! Isso significa que estou craque
em como – riu – agarrar o meu homem. Mas tu nunca te livrarás de mim.
Hás de ser o meu eterno guru a me ensinares como viver a vida com
sabedoria. Eu também quero me diplomar em homem – sorriu brejeira – tu
já podes começar a me ensinar como deixá-lo louquinho por mim... Quero
aprender tudo o que faz um falo bom de cama – riu – e como se comporta
uma mimosinha das boas. Eu também tenho de ser boa, não é! Tu falaste que
tiveste outras transas melhores do que a tua primeira vez com papai. –
Sorriu – Mesmo com um só homem, as transas podem ser diferentes?

─ Guru não, filhinha. O guru dá respostas prontas, como ordens,


para obedeceres cegamente. Tu ficarás dependente dele e dificilmente te
livrarás da sua influência tal como no patriarcalismo: os filhos ficam tão
dependentes dos pais que têm de matá-los, mesmo que simbolicamente,
quando não o fazem de fato, para poderem atingir a maturidade. Quem
cresce submetido ou superprotegido pelos pais fica dependente deles a vida
toda, podendo acrescentar ainda outras dependências tolas como astrologia,
tarô, búzios, quiromancia, numerologia, gurus, etc. Ele se guiará sempre por
cabeças estranhas, nunca pela própria. Não desenvolve o raciocínio e o
livre arbítrio. Nunca será um líder, nem mesmo um mandão, mas um
dependente, um submisso.
A dependência chega a tal ponto que o indivíduo não sai de casa
sem consultar o horóscopo, não faz nada importante, ainda que repetitivo,
sem consultar o chefe. É incapaz de assumir uma responsabilidade. É
talhado para subalterno.
Há dois mil e quinhentos anos, Sófocles alertou contra o engodo de
pitonisas, adivinhos e toda sorte de pessoas que vivem de iludir os

229
crédulos: os oráculos da pitonisa não evitaram que Édipo matasse o pai e
fizesse um casamento incestuoso com a própria mãe. Ao contrário, foram a
causa da tragédia.
Para tu seres sábia, tu tens de saber e entender que as pessoas
buscam um significado para a vida. Os que amam ou são capazes de amar,
têm no Amor o grande sentido da vida, a razão de viver, porque, mesmo que
não acreditem em Deus ou tenham uma falsa ideia de Deus, Ele estará em
seus corações, porque têm Amor e o Amor é Deus. Estão salvos! Quem ama
está com Deus, não importa que religião tenha ou que não tenha nenhuma.
Se não fizeres o mal e não prejudicares ninguém tu terás renunciado a
satanás e estarás com Deus, e se também amas e fazes o bem estarás sob
Sua proteção. Os suicidas são incapazes de amar e crer e, por isso, não
resistem ao vazio de suas vidas.
Que sentido maior eu teria para estar de bem com a vida do que te
ter concebido, protegido e ensinado com o Amor do meu coração? O Amor
é o verdadeiro sentido da vida e o que realmente importa, pois Deus está
onde o Amor está.
Enquanto Karina a abraçava emocionada, ela concluiu:
─ E eu tenho tão mais: Ric, a felicidade do teu pai que faz a minha
felicidade e nós fazemos a de vocês que fazem a nossa. O Amor, Jesus e o
Seu Deus de Amor nos bastam e até sobejam. Não nos servem mitos e
crendices para estar de bem com a vida.
Há pesquisas indicando que há ateus melhores e mais ternos do que
religiosos. A razão é essa: são ateus capazes de amar, inclusive o próximo.
Têm O Deus de Amor ativo no coração, ainda que não saibam ou não
acreditem, e os religiosos que forem incapazes de amar não têm o Amor
nem O Deus de Amor. Portanto a religiosidade não é um bom parâmetro
para julgar as pessoas, pois até os mafiosos e os terroristas são religiosos e
é de estarrecer o que há de padres pedófilos. Eu também não te
aconselharia a pesquisar os religiosos da inquisição e do santo ofício
porque não te faria bem nenhum. O Amor enternece as pessoas: quem ama é
bom e justo por natureza. É digno. A religião mete medo com seus fogos
infernais: o religioso nem sempre é bom, nem sempre ama; é apenas justo
por medo do inferno. A salvação está no Amor!
Entretanto aqui também há uma confusão semântica: ateu (de Theo,
Deus em grego) é quem não acredita em Deus. Quem não crê em religiões é
herege ou infiel. E quem não é se há tantas e ninguém aceita mais do que
uma e até entra em guerra com os adeptos das outras? Quem faz guerra não
está com Deus ainda que seja um fanático religioso. Eu não creio em
nenhuma religião porque não há nenhuma relação entre elas e O Deus de

230
Amor de Jesus, porém não sou ateia: ninguém ama O Deus de Amor de
Jesus mais do que eu. Erra o Dicionário Houaiss quando aponta ateu como
sinônimo de herege.
Entretanto os incapazes de amar também têm necessidade de
encontrar uma razão para viver, para escaparem do suicídio, e correm
desesperados à cata de religiões e outras crendices mágicas como as que
acabamos de ver. Amar e fazer o bem é ter a proteção de Deus, é a solução
para tudo.
De sobrenatural só existem O Deus de Amor, o Amor e Jesus; ou
satanás, os demônios e o poder. Tudo o mais são mitos e crendices. Só tens
de decidir com quem ficas. Esquece os falastrões e ouve as pessoas sábias
e dignas. O que eu quero ser sempre é a tua mãezinha, ou seja, a tua
amiguinha, educadora, confidente e conselheira. Ensinar-te a viver a vida
com sabedoria para que tu faças as tuas escolhas com segurança, não te dar
ordens... Fazer-te crescer como ser humano à medida que cresces
fisicamente, com destaque para essa amizade tão linda que sempre existiu
entre nós. Pessoas ternas e que amam estão sempre de bem com a vida.
Enche a tua cabecinha de sabedoria e usa-a como o leme da tua vida.

Quanto ao relacionamento amoroso é o auge da nossa vida e o que


nos dá a alegria de viver sempre em êxtase com a vida, mas é muito fácil
deixares teu homem doido por ti, mesmo que não faças nada. Só com tua
ternura, beleza, calor e o encanto dos teus mimos podes deixar um homem
muito satisfeito. Mas se quiseres mesmo deixá-lo doidinho é só libertares
tuas fantasias e a menina amorosa e passional que está dentro de ti... Como?
Livre de pudores, tabus e preconceitos, basta seres tu mesma e dares livre
vazão aos teus instintos e teus desejos, deixando que a imaginação e a
fantasia te conduzam no completo envolvimento com o teu homem...
Enlaçamento amoroso com liberdade de amar é tudo.
A mulher é essencialmente passiva, mas pode trepidar de prazer,
mesmo sob a pressão do corpo do seu amado. Pode gemer, rebolar, apertar-
lhe as costas, ou a bunda, com as mãos ou os calcanhares; pode empolgar-
se, beijá-lo, afagá-lo, mordê-lo, arranhá-lo com os dedos crispados (sem
machucá-lo, é óbvio). Quando estás amando, o corpo do teu homem é todo
teu e se és fogosa, estás com a cachorra e és livre de tabus e preconceitos,
tu te pões maluca pelo macho em absoluto estado de urgência de seres
penetrada e amada com força bruta. Tens de ser o avesso da deusa que deita
na cama e abre as pernas a esperar que a fodam. Não esqueças de que a
bunda pode ser tabu para machões que não têm certeza de sua
masculinidade.

231
─ Por que “com a cachorra”?
─ Em todo o reino animal, a fêmea no cio fica aflita pelo macho e,
ao sentir o seu cheiro (feromônios), corre para ele para entregar-se. A
cachorra no cio, ao sentir o cheiro do macho, fica em completo desespero e
ninguém a segura... Se a tiveres no colo, ela vai se jogar ao chão, latindo
alucinada para correr atrás dele em frenesi. É por isso que papai me chama
carinhosamente de cadelinha. Ele controla a minha fertilidade pela
tabelinha Ogino-Knaus, mas é para saber quando me comer mais gostoso.
Quando me encontra no cio, me pega com uma tapona ardida, me apertando
toda e eu explodo em libido cheia de volúpia e desejos irreprimíveis, feito
cadela, desesperada por ser violentada pelo pênis bruto me comendo com
toda a selvageria. – Riu – O Francisco deixou-te com a cachorra.
A potranca em estado fértil é outra fêmea forte na paixão. Se lhe
chega às ventas o cheiro do macho, ela aspira o ar ruidosamente, relincha e
sai em disparada em busca do seu garanhão.
Riu:
─ Eu também sou sua potranquinha. Papai me põe entre as fêmeas
mais nobres ou sôfregas. Creio que a mulher é uma das maiores fortalezas
na paixão e se não é a primeira é porque não lhe faltam repressões, desde a
“expulsão do Paraíso”. E se ela tem um Macho com força arrebatadora... A
fêmea em estado de necessidade é o principal estímulo para o macho e se
ela o fricciona com a bundinha... Papai diz que para as alimárias, os
feromônios; para a mais nobre das fêmeas, os toques e fricções de Amor...
Também podes ser ativa, montando-o deitado de costas, e
penetrando-se do “coqueirinho”. E se depois de um strip-tease safado... Aí
é só te sacudires quanto queiras e, se inclinares o corpo para frente de
modo que o teu clitóris se esfregue no osso pubiano a cada sacudida,
aguenta o gozo!
Mas se quiseres deslumbrá-lo com a tua feminilidade e habilidades
amorosas e deixá-lo completamente enfeitiçado por ti, tu tens de fazer o que
teu pai chama de “malhação vaginal”.
Karina riu:
─ Como se faz malhação vaginal?
─ É uma arte hindu, dos tantras, aperfeiçoada pelas tailandesas: o
pompoarismo. Consiste em exercícios para fortalecer os três músculos da
mimosinha e adestrá-los para se contraírem isolada, conjunta ou
alternadamente. Aí eles podem te revirginalizar, depois de deflorada. Teu
pai adora o meu “cabacinho novo” e delira de prazer com abraços muito
apertados no Amadinho, fazendo-o transar-me sob forte pressão dos meus
músculos vaginais como se estivesse me deflorando. Eu sou sempre ativa e

232
apertadinha e tu já imaginaste ser deflorada a cada estocada sem dor nem
sangue? Só prazer? – Riu – Esses olhinhos pidões...
O primeiro músculo é fácil e já dá para deixar o teu homem doidão
com abraçinhos, algemadas e chupitadas no pescocinho do pênis ou ao
penetrar-te sob forte pressão da mimosinha. É isso: uma pompoarista não é
passiva, porém empolgante. Ao fazeres xixi, suspende a micção, por uma ou
duas vezes, prestando atenção no músculo que contrais. Então fazes seis ou
sete exercícios, cinco vezes por semana, de cem contrações cada, de um ou
dois segundos. Vais senti-lo poderoso e a tua menina vai ficar maluquinha e
apertadinha, contraindo-se sempre que queiras para afeiçoar-se ao pênis.
Os dois outros mais safados, situados um na parte média e outro no
fundo da vagina, só os poderás treinar depois de deflorada e precisam de
um vibrador desligado e bolinhas tailandesas (Ben Wa).
Quando dominares os três músculos, poderás fazer toda sorte de
estripulias com o pênis, como chupitá-lo, ordenhá-lo, algemá-lo, expulsá-lo
ou detê-lo, impedindo que ele se vá. E se fores até o fim terás uma
mimosinha capaz de levantar pequenos pesos; lançar pequenos objetos
como bolinhas de ping-pong numa plateia ou pequenos frutos na boca do teu
homem e até capaz de fumar, mas isso – riu – eu te proíbo de fazer porque
foi o que fez teu pai gritar comigo pela única vez. Nada de te emporcalhares
e te viciares com drogas!
O pompoarismo (ou pompoir) também previne os achaques da
velhice, como incontinência urinária, facilita os partos e intensifica o
prazer... Imagina uma transa com a vagina totalmente passiva, flácida e
dilatada e, então, contraindo os músculos da vagina a cada intromissão do
pênis.
Queres mais? Eu deixo o meu macho completamente maluco,
fazendo a dança do ventre no “coqueirinho”. Foi uma fantasia do Amadinho
– riu – que “queria sentir na carne o meu remelexo”. Ah, a minha menina
fazendo torções no Amadinho em alta velocidade e apertado no meu
“cabacinho novo”, como papai apelidou a minha arte pompoir... Um dia
surpreendi-o fazendo a dança da boquinha da garrafa, não no símbolo
fálico, mas no próprio falo... Com as artes do “cabacinho novo” é a loucura
que podes imaginar... Tens também os strip-teases que te estou ensinando.
Tudo isso é Amor que extasia o cérebro. O cérebro extasiado
produz fartadas de hormônios do prazer que nos inundam de desejos, que se
sublimam em paixão, que se sublima em Amor... Amor sublime é a
integração com o homem, com o macho, com a vida, com Deus, é o que dá
substância e concretude à vida.
Que homem trocaria uma mulher com essas aptidões amorosas por

233
outra! O impossível é descartá-lo depois de lhe dares esses prazeres raros.
Fêmeas ativas que vão além de abrir as pernas são raras...
Mas a questão crucial é bem outra: é fazer com que o homem te
deslumbre de desejo, excitação e prazer para que tu não penses em trocá-lo
por outro. Tu viste que os homens aprendem a fazer sexo com os cães e,
quando lhes falta imaginação, passam a vida toda fazendo sexo como os
animais que é absolutamente insuficiente para satisfazer uma mulher. Se,
além disso, ele é falto de ternura e egoísta, mesmo apaixonado, esquece!
Jamais irás saber o que é plena satisfação sexual. É por isso que te damos
tanta ênfase à questão da ternura.
Ternura e desejo que se sublimam, respectivamente, em Amor e
paixão são fundamentais para levar qualquer mulher ao verdadeiro êxtase
orgástico. Ele tem de te amar e interessar-se pelo teu desejo de paixão
tórrida. É por isso que, segundo pesquisas, trinta e cinco por cento das
mulheres, mais de uma em cada três, não sentem nenhuma atração pelo sexo
e muitas até o odeiam. E se quarenta e sete por cento das mulheres traem, a
questão é muito mais séria, porque as que odeiam sexo ou não sentem
atração não traem. Restam só dezoito por cento de mulheres satisfeitas com
seus homens. É em dezoito por cento que tens de buscar o teu, mas garanto
que vale a pena.
As transas dignas podem e devem ser diferentes, mas é com um
homem só que elas são diferentes, especialmente se o homem for bom de
cama e tiver imaginação e pênis arrebatador. Os machões – riu – são todos
iguais! Mas os machos de pegada bruta... te pegam para sempre! Teu pai me
surpreendia a cada transa, sempre com uma novidade: deu-me tantos
“presentes”! Além do sexo selvagem ou tórrido que, no grau máximo, ele
chama de “tratamento de choque” e eu apelidei de “surra de pau”,
deslumbrou-me com a TVG que estimula a vagina e o “ponto G” com
pressão e fricção em toda a parte de trás do corpo e depois com a TVC que
me estimula simultaneamente a vagina, a vulva e o clitóris com pressão e
fricção na frontal do corpo todo. Isso não é sexo, são loucuras de Amor.
Quando eu cuidei que acabariam os presentes, fascinou-me com a
TCC (estimulação no ânus, na vulva e no clitóris). E todas selvagens:
autênticas “surras de pau” com a intensidade adequada ao meu desejo e ao
meu prazer guloso. E premiou-me também com o oral e o anal comum, de
cachorrinha, em que ele me solta numa estocada bruta para eu virar
cambalhotas, mais a lagartixa, a espanhola, esfregação com cavalgada no
chuveiro, massagens de bundinha... Tu ficas inexoravelmente presa ao
homem que te fizer uma transa dessas, mesmo que não o ames, o que é
impossível, porque a transa o porá dentro do teu coração para sempre.

234
─ Mas essa selvageria... surra... não machuca, não dói?
Aline riu:
─ Só o coração! Vais ficar doente de Amor. A “surra” é do pênis e
ele não pode machucar a mimosinha, salvo se for maior do que ela. Se ele
não excedê-la, não há violência dele que possa feri-la. Mas a empolgação!
A empolgação te leva a um bruto desconforto como a vontade de dar um
grande espirro – riu – mas quando espirras... é como uma explosão que te
põe de bem com o macho, com a vida e com Deus. É muito difícil não
chorares de alegria, especialmente se anseias pelo arrebatamento de gozo.
E se ganhas o gozo extremo...
A “selvageria”, porém, só interessa à mulher e ao homem que quer
dar prazer máximo à mulher. Por isso tu tens de ter um homem que te ame de
verdade e, com corações abertos, possas guiá-lo de acordo com a
intensidade do teu desejo. Amor carnal arrebatador é corações e pernas
abertas, numa interação de corpos e mentes, e paixão bruta lá dentro.
As que eu mais amo são a TVC e a TCC, especialmente
combinadas: gozo bruto na menina com encabaçadas de endoidecer,
paradinha, gozo no fiofó para relaxar, paradinha, mais gozo na menina para
endoidecer, paradinha, mais gozo para relaxar, paradinha, mais gozo para
endoidecer. Ai, amiguinha, eu passaria a vida me dando a ele. Estresse?
Dor de cabeça? Incompreensão? Chilique? Histeria? Envolvida por aquele
macho? Pois sim!
─ Por que tu gostas mais da TVC combinada com a TCC?
─ Porque ele é guloso da minha bundinha e dar-lhe o que ele quer é
o objetivo da minha vida e porque é a melhor recompensa pelo gozo
fantástico da TVC, mas também porque na TVC e na TCC, além da pressão
e a fricção serem muito maiores, eu o tenho todinho de colherinha entre os
meus braços, minhas pernas, calcanhares, boca para beijar, orelhas para
afagar... numa completa interação de Amor e paixão. Eu dou-lhe Amor
empolgante em completo frenesi, enquanto recebo paixão arrasadora. Já
imaginaste ter orgasmos com o macho te transando com força bruta e
apertando-o com os calcanhares contra ti, como se intentasses um parto ao
contrário, e beijando-o? É como transar viajando a toda na montanha russa
e comendo o nosso doce predileto.
─ Por que a TVC e a TCC dão mais pressão e fricção?
─ Porque, ao deitar o corpo sobre o meu e penetrar-me, o pênis
exerce uma forte pressão sobre a parede posterior da vagina ou do reto,
multiplicando a fricção vaginal ou retal. Queres ver: Abre a mão com o
indicador na vertical e o polegar na horizontal, formando um L. Agora,
imaginando que o polegar seja o pênis e que o indicador seja o corpo do

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macho, vai virando a mão até o indicador ficar na horizontal, ou seja, o
corpo do macho tomba sobre o da fêmea. Vê o que acontece com o pênis (o
polegar). Ele vai forçar uma perpendicular sobre a parede posterior da
vagina ou do reto, deitando-lhe muita pressão. É claro que ele não
alcançará a perpendicular devido à flexibilidade, mas gera uma pressão
muito forte.
Ao fazer os movimentos puxando-me pelos ombros contra o pênis,
em vez do clássico movimento dos quadris, pressionando-me como se eu
fosse uma mola, seu corpo fricciona o meu. Eu tenho o corpo todo
pressionado e friccionado. A excitação voluptuosa atinge as raias da
loucura. O púbis também pressiona e fricciona a vulva e o clitóris
(grelinho) sendo produzidos orgasmos na vagina e no clitóris. Agora
imagina força máxima das mãos pressionando os ombros e o corpo da
fêmea contra o pênis a cada intromissão. Na TVC bruta até um desprezível
pênis fino ou pequeno seria um fascínio de excitação e gozo... E se a vagina
for ativa e empolgante...
─ Por que um pênis fino ou pequeno é desprezível?
─ Porque fica muito frouxo na vagina, dando pouca excitação, o que
seria corrigido com essa posição juntamente com força bruta e contrações
pompoaristas. Muito se fala em tamanho ser documento, mas não é. O
tamanho ideal é o pênis ter o mesmo comprimento da vagina ou menor,
porque na transa tórrida o pênis que exceder a vagina vai ferir o útero.
Podes guardar no coração: o pênis não deve ser grande, mas bruto,
mesmo porque a excitação da vagina está na metade anterior em que se
encontra o “ponto G”, uma rugosidade na parede anterior da vagina a dois
ou três centímetros da entrada. Se o tiveres, terás orgasmos de vagina e de
“ponto G”. É só pedires quanta força quiseres nas intromissões. Se tiveres
um macho de pegada, que bata forte no teu “ponto G”, aguenta o gozo!
Essa é a TVG. É tudo igual à TVC, mas a mulher fica de bruços.
Aquela pressão do pênis dá-se sobre o “ponto “G” e a parede anterior da
vagina. Mas deixa que ele vá fundo. Pênis adequado é empolgação para a
mulher.
A TCC é igual à TVC, trocando a vagina pelo ânus com a força
adequada ao teu conforto. A alternância de buraquinhos te leva à loucura,
mas podes gozar TVCs, e até TCCs, em seguida até completar as quatro
paradinhas. Além das quatro, o pênis começa a relaxar e com as TCCs é
preciso acostumar-te aos poucos porque, forçado, o ânus incha e não
poderás sentar-te.
Minha vagina empolgante com suas artes substitui com vantagem o
sexo anal, porque fica até mais apertada do que o ânus e é ativa, e papai até

236
se esquece dele. Eu é que peço porque cambalhotas com encoxadas
violentas é um delírio e seu embevecimento pela minha bundinha me
deslumbra. Às vezes ele lhe faz a festa, dando-lhe taponas, lambidas,
mordidinhas, sugando o reguinho e põe na menina! E eu que estou
lubrificada e desejosa da penetração peço-lhe:
― Completa a festa com uma bimbada! Ela quer recompensar-te.
O meu fiofó também é ativo e faz contrações. O troca-troca com o
ânus é pura diversão prazerosa. Deitada de costas, é só deixar que o pinto
coma onde quiser e mude de portinha sempre que desejar. Há amiguinha, a
vida sem tabus e preconceitos é delícia de viver. Esses “Ts Grandões” com
“surra de pau” são a minha loucura. É tesão sem limites. Eu amo a pressão
e fricção máximas porque eu sou gulosa e é como se transasse numa
montanha russa. É pura emoção gozosa. Na subida, o acúmulo de eflúvios
do prazer; no loping invertido, o clímax, a sensação de que todo o corpo
vai espirrar ou explodir; na descida, a explosão e o gozo vertiginoso. – Riu
– surra de bambu? Pois sim!
Na verdade, uma simples transa meio tórrida, mesmo na posição
cachorrinha, em que o púbis bata com força na bundinha, como a nossa
primeira, já leva uma mulher ao clímax, e com vagina empolgante... Mas
depois de recebermos o tratamento de choque, só nos contentamos com
força bruta.
Tirar-nos o chão, prensar-nos ou jogar-nos para cima com a força
do pênis é o excesso amado pelas mulheres que amam emoções fortes, que
nos faz gritar palavrões para suportar o gozo. É o mergulho na montanha
russa. E com as clássicas paradinhas o meu macho começa tudo de novo:
mais eflúvios do prazer, mais clímax, mais descida...
─ Como se fazem as paradinhas?
─ Requer treino. Vale o mesmo que para a mulher. O homem deve
reter a micção, prestando atenção ao músculo contraído. O pênis tem só um
músculo para ser exercitado. Então é só fazer exercícios de contração como
para a mulher. Deve fazer o mesmo com o músculo do ânus que retém a
vontade de defecar. Então, na transa, ao sentir o orgasmo se aproximar,
contrai os dois músculos simultaneamente parando a transa até passar a
sensação pré-orgástica. Dá para fazer até quatro paradinhas. Na quinta o
pênis relaxa.
Tu já percebeste que os exercícios fortalecem aqueles músculos,
melhorando a saúde e o desempenho do macho. E tu também podes fazer
esses exercícios com o ânus – riu – e quando tiveres a paixão lá dentro...
Melhor ainda se fizer massagens no períneo, região entre o escroto e o ânus,
que melhora a ejaculação de quatro até sete pulsos. Queres mais?

237
Massagens internas, com o dedo, na próstata e no períneo te dão O Macho!
A próstata é uma glândula em forma de castanha situada junto ao reto atrás
do pênis.
Outra transa de arrepiar é a lagartixa: Ele me prensa contra a parede
e me faz subir como lagartixa com a força do pênis e eu me vejo nas nuvens.
Quando estou com os desejos e ele está relaxado, eu o desafio com
um sorriso maroto: “Ah se eu te pego”! Ele ri: “ih, teu amigo tá relaxadão,
não quer nada com a hora do Brasil”. Eu rio: “Deixa comigo”. Com sorriso
sacana, eu o dispo e me dispo. Despejo-lhe óleo aromático, massageio-o
com a bundinha deslizando das coxas até tocar-lhe o queixo com a menina.
Ganho beijinho e vupt! Lá estou eu nas coxas me esfregando no menino.
Logo ele “acorda” e trava a minha descida, duro que só ele, ou então eu o
“acordo” massageando-o com o reguinho e ganho tudo o que eu quero.
Se eu é que estou sossegada, ele circula meus seios com um dedo no
biquinho descendo e subindo pelo outro até o biquinho, às vezes com o
próprio falo. Unta meus mamilos com mel ou outra lambarice e se delicia
mamando em mim e me beijando e, em seguida, faz-me cócegas com uma
pena ou uma flor... Não demora, eu pulo no seu colo e o envolvo com o meu
tesão.
Também começa fazendo Amor devagarzinho como uma “maria-
fumaça” e, de repente, vira um “trem-bala” ou segue aumentando o ritmo
num crescendo até atingir força total.
Se ele já está muito duro e eu estou muito lubrificada, vazando nas
coxas, ele se diverte brincando com o Amadinho na minha entradinha e no
“ponto G” até que eu lhe suplique: “entra, Amor”! Aí, ele arremete com
fúria, arrasando tudo, inclusive o meu “ponto G”, fazendo-me trepidar num
orgasmo alucinante.
Ele tem muitas posições diferentes e um livro chamado Kama Sutra
de origem hindu, que tem uma grande variedade de posições, mas o pênis é
sempre bruto. Às vezes, chupamos balas de hortelã e fica tudo ardendo
gostosinho no sexo oral e na penetração ardidinha, uma delícia que me faz
arrepiar e estremecer toda. E, com palmadas ardidinhas na bundinha, eu
fico cachorrona.
Às vezes exerço o meu domínio cavalgando-o deitado de costas.
Para atingir a excitação máxima, inclino-me para frente, fazendo o clitóris
esfregar-se no ossinho do púbis a cada sacudida. Isso completando um
strip-tease é de arrasar. Podes fazê-la também numa banheira de espuma,
complementando aquela massagem safada. Outra cavalgada que me deixa
em êxtase é quando nos pegamos no chuveiro em que o pego de colherinha
me enfiando no falo à bruta, depois de sugadas, lambidas e esfregadas.

238
Riu:
─ Teu pai transformou a envergonhadinha no seu brinquedinho de
fazer Amor despudorado. Nós não fazemos sexo, só fazemos Amor e fazer
Amor é brincar. E o que nós brincamos e inventamos e amamos e
gozamos... A paixão, com suas paradinhas, é um dos brinquedinhos do
Amor, o mais gostoso e o arremate da brincadeira. Depois dela é dormir no
aconchego de braços carinhosos. Não temos nenhum pejo de excitar o
parceiro para uma esbórnia de Amor ou perguntar o que ele quer ou dizer-
lhe o que eu quero. Tampouco evitamos o palavrão quando recebemos gozo
maior do que podemos suportar.
Sorriu embevecida:
─ Um dia eu lhe dei uma resposta meio atravessada, de
brincadeirinha porque sempre tivemos um pelo outro a maior consideração.
Ele fez cara zangada e ordenou-me: “Vem aqui para apanhar”!
Ah, qualquer “vem aqui” me faz correr para ele sôfrega como uma
cachorrinha contente... Dei-lhe um beijo maluco e joguei-me no seu colo de
bunda para cima, puxando a saia para ele me surrar à vontade. Trepidante
de alegria e me ajeitando sobre suas coxas, sorri-lhe toda sôfrega: “Eu fui
muito malcriada! Não me perdoa, não”!
Ele arriou-me a calcinha e apertou-me tanto a bundinha e as coxas,
deu-me tanta palmadinha que minha bundinha começou a ficar rosadinha
com a suave e deliciosa ardência do sangue aquecido. Virou-me e deu-me
palmadinhas na vulva, dizendo: “Essa menina está cada dia mais safada,
tem de apanhar muito”! Com o desejo atingindo as raias da loucura e a
minha menina vazando abundantemente, implorei pelos Ts Grandões.
Desde então, quando eu quero Amor muito bruto – riu – eu brinco de
desaforada: Às vezes, um muxoxo empinando o nariz... e me delicio com a
sua ordem: “vem aqui para apanhar”! Com que sofreguidão eu lhe dou a
bunda para ele bater!
Há ocasiões em que eu também o desafio: “Vem aqui para apanhar”!
Ele pula fora da bermuda e corre acomodar-se no meu colo de bundinha
para cima... Olha eu batendo bumbo até levar uma surra de pau memorável
que é “Croce e delizia, delizia al cuore”...
Eu prefiro “Croce e delizia, delizia al cuore” porque adoro que o
gozo chegue às raias do insuportável em que o orgasmo é arrasador, mas
podes ficar só com “delizia al cuore”, pedindo selvageria média num
crescendo até ficar no teu ritmo.
Tu nunca apanhaste nem foste castigada. Não tens traumas por
educação inadequada. Se vires tapinhas de Amor como carícias excitantes
que te fazem ferver o sangue, atingirás a ânsia do desejo, a gana de ser

239
penetrada com força bruta, e o gozo... O gozo marcará a tua vida.
Ah, amiguinha, enquanto aumentar o teu tesão por ele, vai em frente:
pede mais força e até palmadinhas mais fortes. Eu chego às taponas e, se
quero mais, rio e balanço a bundinha. Às vezes quando estou com a
cachorra, dou-me de cachorrinha. Ah! Aquele aguilhão bruto lambuzado de
hortelã cavalgando a potranquinha com taponas também ardidinhas... Ele
grita: “no galope, potranquinha”! E lá vem tapona... E me puxa pelas
virilhas com força contra o Amadinho que entra com tudo. Às vezes troca
de portinha... sempre no galope. Quando chego às cambalhotas estou varada
de gozo.
Nós desenvolvemos o gene do Amor até apagar completamente o do
mandonismo e brincamos de tudo, até de apanhar. Eu adoro brincar de
médico: Às vezes é ele que me examina, taradão, apalpando-me toda e
tirando-me a roupa, deixando-me nua... Outras vezes, após o strip da
enfermeira em que eu insinuo tirar a roupa, mas não tiro, eu o examino com
estetoscópio e termômetro e apalpo tudo dos pés à cabeça, inclusive
virando-o de bruços, massageando-lhe a bunda, a próstata, o períneo...
Sinto-lhe a temperatura do falo com a boca, já desnudada pelo Amor,
amassada e estapeada, e é serviço completo..., amor completo..., paixão
completa até a trombadinha... as cambalhotas... e o gozo que alucina.
Mas nunca ficamos à espera do “me faz Amor”. Nós fazemos Amor!
É dando que recebemos beijos, afagos, apertões, mordidas, até chegar às
cambalhotas... Sugamos tudo o que tivermos ao alcance com tapinhas na
bundinha... e de sessenta e nove... É... Nós nos estapeamos de Amor. Acho
que estamos mais apaixonados hoje do que nunca porque o Amor não dá
para ser maior, e a paixão... a paixão em mim me põe maluca e de bem com
a vida!
Karina estava suspensa de boca aberta:
─ Puxa! Acho que vocês nunca fizeram sexo igual duas vezes
seguidas!
Aline riu:
─ Se fiz, não percebi, mesmo porque só fazemos Amor, Amor
divino, maravilhoso. Quando ele me pega, o juízo me escapa, a liberdade
me envolve, e eu só cuido de lhe dar Amor. Tudo são folguedos de Amor
coroados de paixão bruta. O Amor é muito profundo a ponto de nos
sentirmos integrados, carne na carne, e nada nos impede de brincar. É como
se estivéssemos afagando e apertando o próprio corpo no afã de nos darmos
prazer porque tudo é retribuído.
Com um Amor desse tamanho e um macho de pegada bruta, podes
fazer mil transas diferentes, mas com mil machões diferentes não vais além

240
de mil transas idênticas de caracacá porque eles não amam e a paixão
(cópula) é morna, chocha e acaba de repente. Tu deves ter percebido que se
vires mil transas de cães serão todas iguais. Os machões transam como
eles... Se quiseres extrair algum gozo de um machão tens de ter mimosinha
ativa e empolgante. Oferece-te, mas negaceia, fugindo-lhe, para forçares
uma preliminar. Quando estiveres com a cachorra, entrega-te com
contrações fortes da vagina, deixando-a apertadinha a cada intromissão. Tu
chegas mais rápido ao clímax e podes gozar antes de a transa acabar.
Na nossa primeira noite, depois de duas torrentes de Amor, paixão e
gozo, eu estava muito feliz, sorrindo à toa e ele não se fartava da minha
nudez. Desatou os laços do meu biquíni com dedos safados para um novo
show da bailarina... Eu pensei: “Oba! Vem mais paixão das brabas”! E
vibrei num sorriso de puro contentamento que o encantou e ele prometeu-me
um presente se eu o repetisse.
Com novo sorriso, retruquei-lhe que ele teria quantos quisesse e
avancei no despudor descendo-lhe a sunga. Meu Amor por ele tocou-me tão
fundo que eu tive uma fantasia tão indecente que avermelhei. Ele me disse
que eu parecia um pimentão. Perguntou-me por que eu estava com tanta
vergonha: “Certamente não é por me tirares a sunga. Já o fizeste antes, mas
não tão corada”, ele comentou.
Mais vermelha ainda, murmurei: “Eu acabo de ter uma fantasia
que... eu jamais imaginei que pudesse... – Meus olhos vertiam em bica – E o
pior... O pior é que eu desejo muito realizá-la. Eu sou uma vadia! Tu me
transformaste numa vadia... Tu vais me julgar uma safada”! Ele retrucou-
me: “Não, Amor! É diferente. Eu quero que tu sejas a minha safada. Que te
integres completamente a mim e me dês todas as tuas fantasias, inclusive as
mais eróticas, e eu te retribuirei com fantasias e pegadas tórridas. Fantasias
com a pessoa amada são frutos do Amor. São prova de Amor. Foda é coisa
feia e vergonhosa, com certeza, mas o Amor é lindo, por mais indecente que
pareça.
O Amor é a integração de duas grandes ternuras numa paixão
avassaladora e tudo o que se originar daí é puro, é lindo, é pureza de alma
unindo corações. Diz-me, por favor, o que de tão lindo nasceu do nosso
Amor”.
“Perdoa-me – eu lhe respondi – eu não suportaria dizer-te.” Ele
sorriu: “Puxa! É indecente mesmo! Tu me amas muito mais do que eu
cuidei. O Amor é sem-vergonha, lembras? E quando é demasiado grande
ele se sobrepõe aos pudores. Dá-me esse Amor sem pudor pelo Amor de
Deus! Esse é dos grandes e eu quero para mim! Se fores capaz de realizar a
fantasia, eu te ficarei grato para toda a vida e te darei um presente que vai

241
tirar-te o juízo e te deixar maluquinha por mim: uma super-transa em troca
do teu despudor. Eu quero muito saber do que o nosso Amor é capaz. Faz de
mim o que quiseres. Nós não temos segredos e nada é proibido. – Riu com
marotice – Eu sei como te fazer perder a vergonha”. Deu-me o beijo do
orgasmo, segurando-me pelos cabelos e tocando-me o ponto erógeno,
apertando-me contra o Amadinho que cresceu para mim, inundando-me de
desejos.
A minha necessidade do macho atingiu os limites do suportável e eu
me convenci de que só poderia ser fruto do Amor que eu tinha por aquele
homem. Por que eu estava tão fascinada para realizar a fantasia tão
indecente? Eu tenho o direito de negar o que ele quer? De verdade, eu
queria conhecê-lo todinho, saber de seus frissons, de suas durezas, de seus
macios, de suas emoções, de seus sabores, porque ele era capaz de me dar
tanto prazer... Eu queria os meus sentidos nos seus sentidos, um banho de
ternura, e isso seria indecência ou integração de dois seres doentes de
Amor? Ao sentir Amor de verdade, eu vi que o Amor era uma total
comunhão de toques e afetos em plena liberdade e eu estava toda travada de
pejos! Chutei meus pudores, mandei meu juízo às favas, agucei meus
sentidos e entreguei-me de corpo e alma àquela prova de Amor. Prova? O
Amor não quer provas, não quer juras, é todo dação e ação! Ele próprio se
prova. Com tanto Amor, o meu banho de ternura seria mesmo indecente?
Meus conceitos não seriam apenas preconceitos? Eu não teria de começar a
mudá-los?
Com um grito de liberdade, apertei-me nele, pele na pele,
esfregando-me fremente de desejo e o “pimentão” deu-lhe o beijo “que ele
nunca teve e que sabia que jamais esqueceria”. Eu retruquei-lhe: tu o terás
sempre que quiseres e repeti aquele beijo com o coração me doendo de
Amor, afagando-lhe a cabeça, as orelhas, a nuca, o pescoço, e fui descendo,
lambendo-o e mordendo-o, arranhando-lhe as costas com dedos crispados.
Lambi e mordi-lhe lábios, queixo, colo, mamilos, demorando-me mais
quando lhe causava frisson, sempre atracada e me esfregando nele,
captando frissons e fremir de desejos. Suguei os mamilos. Ele me afagava a
cabeça, o pescoço e o ponto erógeno, fazendo-me fremir.
Não dissemos palavra. Só concentração em cada erupção de prazer
e sons eróticos, cada vez mais voluptuosos. Meus sentidos aguçados
captavam suas mínimas reações. Xô, pudor! Afaguei o púbis e deslizei a
mão pelo falo, pelos testículos... caí de joelhos e lambi-lhe as coxas,
suguei-as e mordi-as e deslizei meu rosto por elas até o que mais me dava
vergonha e fascinação e, esfregando meu rosto, dei-lhe uma lambidinha,
olhando para o rosto de prazer, e mais vermelha fiquei. Entre a minha boca

242
e aquele rosto contorcido de prazer, estava o mastro de pau-ferro,
solidamente plantado sobre os testículos que eu morria de vontade de sugar.
Aquele conjunto erótico era um verdadeiro “monumento à glorificação do
Amor”, eu pensei, e a vontade de lamber e sugar o “monumento à
glorificação do Amor” sufocava-me de desejo. Eu nunca sequer havia
imaginado tal! Ai, amiguinha, não amar é uma tristeza, mas amar é a
liberdade suprema de deixar a imaginação nos levar e empenhei mãos e
boca na glorificação do Amor.
Ele afagava-me a cabeça e o ponto erógeno vibrando com
intensidade crescente e gemidos eróticos. E seus afagos no meu ponto
erógeno faziam-me transbordar libido num tesão descomunal e ele também.
Tive certeza ao me dedicar à “glorificação do Amor”... Ele gemeu o prazer
das entranhas em sons eróticos que me deslumbravam, e eu me demorava no
que lhe dava mais prazer. Cada ordenha apertada travava-o de prazer,
fazendo meu êxtase atingir o auge... E meu gozo foi descomunal quando
aquele gemido das entranhas explodiu com o seu gozo. Ele me avisara, mas
só quando a dureza se desfez é que me ergui e me meti na sua boca em outro
beijo para transcender nossas vidas. Era minha primeira vez. Era para
conhecê-lo. Eu tinha de ser completa.
Ele tomou-me o rosto entre as mãos e me disse, olhando no fundo
dos meus olhos: “Foi a maior, a mais linda e a mais prazerosa prova de
Amor que eu jamais tive. Para realizá-la, apesar de tanta vergonha, tu tens
de me amar acima da própria vida. Estou deslumbrado, meu Amor, contigo
e por seres capaz de um Amor tão grandioso, mas eu hei de retribuir-te em
dobro”.
Eu sorri, ainda muito vermelha, perguntando-lhe: “eu não sou
safada”? Ele riu: “Não. Tu és amante. Amante no sentido nobre da palavra.
A maior amante do mundo, capaz de um Amor transcendental que eu quisera
muito merecer. Tu violentaste teus pudores para provares que o teu Amor
por mim é o maior do mundo".
Bobinha de Amor, eu não tinha palavras, mas tinha boca e dei-lhe
mais um beijo transcendental. Minha fascinação pelo pênis cresceu – riu – e
eu virei bebê de chupeta. É de chupetinha muito sem vergonha que eu o
estimulo para as grandes transadas: lambidas, beijinhos, chupitadas,
ordenhas... e então eu o entrego à Nina que o deixa na maior empolgação
para me transar à bruta.
Suspensa com a empolgação da mãe, Karina riu e perguntou-lhe:
─ E tu descobriste porque ele te dá tanto prazer?
Aline sorriu enlevada:
─ Descobri. Estando com ele eu estou sempre de bem com a vida. O

243
sexo que ele me faz é sempre de cambulhada com Amor. Ou antes, é sempre
Amor de cambulhada com paixão. Antes de me despir ele já está me
preparando para o prazer: beijos, afagos, amassos... Na verdade, nem é uma
preliminar. É o Amor que me completa a vida, o corpo, a alma e vai às
minúcias para me tornar lasciva: ele é atenção, afeto, ternura, o tempo todo.
Quando chega, o beijo é carinhoso, demorado, atencioso, degustado, com
um afago na orelha e eu estou permanentemente predisposta para o Amor,
de sorte que quando ele diz: “Vou te pegar para comer”, o corpo se enche
de desejo, tesão, necessidade absoluta do macho.
Daí a jogar tudo para o ar e pular nele... Nem seriam necessárias as
preliminares porque, quando me penetra, eu já estou pronta para o gozo e
até já tive orgasmos. Mas eu agia como uma egoísta. Não lhe retribuía
aquele carinho. Apenas me deixava acarinhar e me entregava de
cachorrinha para ele me foder como uma cadela. Em certo sentido, eu ainda
era a cadela daqueles machões.
Ah, Meu Deus! Eu pude notar a importância de todos aqueles afagos
na cabeça e no ponto erógeno e aquelas mãos erotizando o meu corpo,
deslizando até minha bundinha e apertando-a: o frisson percorrendo o meu
corpo me fazia sugá-lo com mais gula e volúpia e o que ele vibrava com as
minhas carícias... Foi então que eu senti muita vergonha de mim mesma. Eu
procedia como uma vagabunda!
Eu passei a retribuir, sempre que a posição me permitia, aqueles
carinhos estimulantes, perguntando-lhe o que ele queria e mergulhei de
cabeça no estudo do pompoarismo. Desde então, só fico de cachorrinha
quando ele quer dar encoxadas portentosas e penetrantes na minha bundinha
ou na minha menina, principalmente depois de descobrirmos as
cambalhotas. Ele é enfeitiçado pela minha bundinha, mas depois que a
minha menina ficou empolgante, ele não se importa em que portinha entrar e
lhes dá sempre o tratamento de choque.
Karina estava fascinada:
─ E o presente? Ele tinha mesmo o presente para te dar?
Aline tinha os olhos úmidos de emoção:
─ Ele nunca falhou...
─ E qual foi?
Aline sorriu embevecida:
─ O tratamento de choque! Tu podes imaginar o que seja um
tratamento de choque? Ele deu-me a senha: “se eu ficar muito selvagem
para o teu conforto, diz ‘menos’ até eu ficar no teu ritmo”. Deus meu! O que
ele me cravou com aquele falo bendito! Começou macio e foi se
embrutecendo mais a cada intromissão até que eu subia na cama cerca de

244
cinco centímetros, impulsionada pela força do falo. Eu gemia, gritava,
fremia e, completamente fora do meu juízo, disse palavrões, mas não dizia
“menos”. Ele deu uma das clássicas paradinhas para deter a ejaculação e
perguntou: “Queres menos”?
Aquilo eram os céus do gozo! Acho que eu gritei: “Não”! Ele pôs-
me de cachorrinha e retornou ao ápice da brutalidade, puxando-me com
toda a força pelas virilhas ao mesmo tempo em que me encoxava com força
bruta: eu tinha a bundinha prensada pelas suas mãos contra o púbis bruto e
o Amadinho, caraca, fazia delícias na minha menina. O meu juízo foi-se e
eu não sei o que gritei e estrebuchei. Só sei que acordei de um sonho
maravilhoso após a quarta paradinha, extenuada de gozo. – Riu – Foi isso
que eu apelidei de “surra de pau”. Por que surra de pau? Porque é “Croce e
delizia, delizia al cuore”. É a violência da surra com a doçura do pênis que
delicia o coração: cruz e delícia. É um violento deleite de volúpia e gozo, e
eu me dei conta de que morreria se o perdesse e jurei a mim mesma ser-lhe
fiel e dedicada a minha vida toda. E o melhor é que a “surra” sempre
volta... combinada com TVC, TVG, TCC, lagartixa, cavalgada,
cambalhota... brutalizando-me de gozo.
Tu te lembras de quando ele brincava, ameaçando-te: “Olha que eu
te pego”! Tu fugias na maior alacridade e, quando ele te pegava, com
cócegas, ficavas mais álacre ainda e tentavas escapar-lhe? Era porque tu
adoravas a pegada forte, mas carinhosa com que eras agarrada, apertada,
submetida e, tentando fugir, eras mais apertada ainda. As crianças adoram
essa quase violência carinhosa do Amor: ser agarrada, apertada,
dominada... e as mulheres, mais ainda. E quando a pegada é a do macho...
Quando teu pai me diz: “Vou-te comer”, eu me jogo nele de
colherinha, enlaçando-o com braços e pernas e devorando-lhe a boca com
beijos, mas quando ele me diz: “Vou te pegar” ou eu própria o desafio a
pegar-me, olha eu fugindo, doidona para ser apanhada e, ao ser agarrada,
esforço-me para fugir rebolando apertada nos seus braços e sendo
estapeada na bunda ao escapar-lhe, até ser completamente dominada,
apertada, espremida, sugada, penetrada, “bombada” com selvageria, e
exaurida em gozo... Ele me deixa cachorrona de volúpia e tesão, e quando o
Amor entra em mim, violento de paixão, me arrebata de gozo extremo.
Um dia, na lua de mel, a cachorrona causou um bruto desastre. Na
véspera ele tinha me acordado para ver um amanhecer esplendoroso que
acabou numa declaração de Amor que não me saía da cabeça. Quando eu
disse que era lindo demais, mas nós merecíamos ver porque nos amávamos
muito, ele disse: “O que eu quero muito é merecer-te a minha vida toda”!
Pode uma declaração tão singela e tão prenhe de significado? E

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vinda do teu pai! Meu Deus! E eu que estava fazendo de tudo para
conquistá-lo! A declaração ficou repercutindo na minha cabeça e acordei
cedo com ela reverberando no pensamento, na maior alacridade. Fui fazer o
café rindo como uma doida e ele foi tomar banho. Quando retornei com o
café, cachorra de desejos, dei de cara com ele com aquela carinha de Amor.
Sorri-lhe com a alma e ele me desafiou: se deres outro sorriso desses,
como-te em vez do café!
Ai, Meu Deus! Eu sorri, mas com o sorriso a bandeja voou pelos
ares e eu voei nele, envolvendo-o com braços e pernas e beijos, inundada
de desejos e transbordando volúpia... Só quando nos fartamos de Amor é
que me dei conta de catar os cacos e limpar a sujeira, enquanto ele foi fazer
outro café.
Na lua de mel, que foi um prolongamento do nosso encontro,
passamos alguns dias na fazenda do Henrique em que tínhamos o bosque
com a cachoeira por nossa conta até à tardinha. Imaginei-me uma ninfa
fugindo do fauno por aqueles caminhos que serpenteiam o bosque e,
louquinha para ser agarrada, tirei a bata e desafiei-o com uma rebolada de
bundinha: “Tu não pegas a ninfa”... Eu corri tanto com meu macho no
encalço da minha bundinha que o deixava doido de desejo. Ele puxou o
laço do top do biquíni que ficou na sua mão, depois um laço da calcinha,
depois o outro e ela também ficou na sua mão. Ele cheirou-os, e continuou
correndo. Eu peguei uma cutia, apertei-a ao peito e corri com ele dando
toques e palmadinhas na minha bundinha: “Olha que eu te pego”! Tocava-
me a bunda: “Se eu te pegar...”! Eu rebolava e me escafedia gritando na
maior alacridade: “Tu não me pegas, não”!
Quando subi aquela rampa gramada ao lado do lago ele agarrou-me.
Queria me fazer gemer na rampa, ele disse. Eu esperneei, mas ele me
venceu e me derrubou na grama, inundada de volúpia, porém eu não larguei
a cutia. Envolvendo-me muito apertado ele brincou: “Larga a cutia ou eu
como o “cuteu”. Ah, quando ele se solta na minha bundinha me dá tudo o
que eu quero à farta e eu estava imunda de desejos...
Mijando-me de rir, retruquei-lhe: tu me venceste, mereces comer
tudo o que quiseres e apertei mais a cutia ao peito, em posição fetal,
expondo-lhe uma delícia de bunda. Aí ele me comeu o “cuteu” com tanta
força que, num gemido mais forte, numa estocada bruta, a cutia fugiu. Então
eu me virei de frente e ele me transou com força tão bruta que eu subia até
cinco centímetros, gemendo na rampa, impulsionada por sua paixão
selvagem. E, depois, os Ts Grandões, a delícia da cachoeira deitada nos
seus braços de frente e de costas...
Um dia, ao sairmos da banheira de espuma, eu vesti a camisa que

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ele havia tirado com seus cheiros e suores. Senti-me muito bem e relaxada:
o cheiro de suor do homem é relaxante para a mulher. Larga e abotoada
apenas com um botão sobre a barriga, parecia um vestido bem curto e
devasso. Sorri-lhe. Ele avançou para me envolver e eu fugi toda álacre,
gritando: “tu não me pegas”!
Ele agarrou-me por trás e eu rebolei esfregando-lhe a bundinha e
pondo o Amadinho de pé. Quando ele ia penetrar-me, me escafedi com uma
cambalhota sobre a cama, balancei a bundinha como uma cadelinha contente
e feliz com uma tapona, dei a volta para nova cambalhota. E ele atrás de
mim. Na terceira cambalhota, ele me agarrou, apertando-me com uma mão
sobre a menina e outra sobre o seio direito, deslizando para o seio
esquerdo pela abertura da camisa e me encoxando e me esfregando o tesão.
Eu rebolei e o tesão ficou bruto. Quando estava no máximo, eu escorreguei
por baixo dos seus braços, deixando a camisa em suas mãos, e corri para
nova cambalhota. Ele agarrou-me na virada de bunda para o ar e meteu a
cara mordendo-me vulva, menina, rego e, quando ia por a coroa, riu: “O
que faço com a fujona peladona”? Eu me contorcia de tanto rir com o
desejo me mordendo: Provoquei-o: “Come”!
Ele riu: “Da violência da surra de pau tu não escapas! Mas mereces
o privilégio de escolheres como queres ser comida”. Deus meu! Ser comida
já era um bruto privilégio: “Tu me venceste e me deixaste maciazinha. Tu
sabes: maciazinha eu tenho de ser violentada pelo Amadinho bruto”.
Eu sabia que haveria comilança bruta e esqueci o juízo. Ai o que
Amor fez comigo! Antes que eu desse por mim, eu estava toda aberta, de
quatro, com o menino no centro do meu tesão e, quando dei por mim, era
violentada pelo pênis na maior selvageria.
Com que força me comeu! Cravou-me de quatro, numa entrada
épica, dizendo: “Quero cavalgar a potranquinha: no galope”! Eram taponas
e intromissões de arrepiar. Eu estertorava num prazer maluco e, imunda de
volúpia, gritava contraditória: Não...! Não...! Não para...! Isso com
palavrões. Disse tanto palavrão! Os palavrões tanto controlam a dor de uma
martelada no dedo como o prazer insuportável de uma fêmea com a
cachorra toda entregue ao macho bruto. E a doidona estava tão cachorrona
que estertorou em gozo que me sacudiu toda. Ele riu feliz da vida: “A
potranquinha do gozo bruto”! Ele adora quando me deixa com a cachorra.
Puxei-o sobre mim, cobrindo-me com ele. Era um macho para premiar e ele
ainda tinha duas paradinhas. Ri marota, fazendo chapéu duplo: “Se queres a
TCC vai fundo, peão! Alterna com a TVC”! Quando ele me estapeia a
bundinha ao chegar é porque ele a quer e eu me atocho de gel. Estou sempre
prevenida para o que der e vier. E para quem me dá tudo...

247
Desde então é frequente eu surrupiar-lhe a camisa ou uma regata e
fugir. Ver-me toda solta e devassa, agarrada, encoxada e apertada, com o
macho espremendo-me os seios por sob a regata ampla e o queixo pondo-
me em polvorosa o ponto erógeno do pescoço... e eu escorregando para
fora da camisa... Vira os tormentos do desejo. E quando me diz mordendo a
orelha: “Vou lamber os beiços comendo essa potranca em fogo”... Continuar
fugindo? Se me faltasse o macho nessa hora eu morreria de tesão.
No Amor, imaginação e invenção são tudo: se tiveres uma ideia ou
fantasia, vai em frente. E afaga, lambe, morde, desafia e aperta tudo o que
tiveres ao alcance e ataca de mimosinha empolgante... Tu vais ver acontecer
de tudo, até chorares de alegria.

Aí tens uma amostra do que é o Amor carnal: Macho e fêmea se


comendo sem pudor, sem restrições, com imaginação, com paixão bruta e
mimosinha empolgante, tratamento de choque, TVC, TVG, TCC, lagartixa,
cavalgada no coqueirinho, na banheira, sob o chuveiro, que te adormecem
nos braços do Amor... Só tens de amar e quem ama tem necessidade de
comer o ser amado, como ensinou Baudelaire. De que mais precisaríamos
para estar de bem com a vida?

Karina sorria fascinada:


─ Que bom aprender de ti! Estarei atenta. Só me deixarei penetrar
de Amor de cambulhada com paixão!
─ A paixão nos assoberba e nos domina de fato quando é obra do
Amor e, muito bruta, põe o prazer, o Amor, a volúpia e o gozo extremo
dentro de nós em intromissões épicas.
─ O que se ouve das colegas e dos meninos é tão diferente: é só
sujeira e sacanagem.
Tornou a sorrir muito meiga:
─ Conta-me as tuas transas diferentes que eu quero aprender a amar
com o maior dos Amores e estar preparada para o momento azado. Não
importa se amanhã, daqui a seis meses ou seis anos. E eu estou tão curiosa!
Papai me disse que, contigo, eu aprenderia tudo sobre sexo sem ter de
quebrar a minha carinha. E com quem mais eu poderia aprender? Minhas
amigas e colegas nada sabem e os meninos são safados e não creio que
teriam algo útil a ensinar. Papai disse que é para eu explorar-te até não ter
nenhuma dúvida e saber tudo o que quisesse. – Riu – com a amiguinha
curiosa que tu tens é para toda a vida, não é?
─ Não. Com a rapidez com que tu aprendes logo tu é que estarás me
ensinando.

248
─ Pode ser, mas ainda sou tua aprendiz e serei por muito tempo. Eu
estou roxa pelas tuas transas diferentes. Podes começar a narrá-las, porque
pelo menos as mais eróticas eu vou querer. Quero sentir como consegues
agregar tanta ternura a indecências como deve ter sido a fantasia da
roupinha de puta que tu mencionaste. Sinto que essa foi o auge do teu Amor
e eu não dispenso.
Aline sentiu-se desconcertada:
─ Foi uma fantasia muito obscena e com muitos palavrões, embora
obrigatórios no contexto, mas foi mesmo o auge do Amor e o Amor de
paixão não tem vergonha, mas é macho e fêmea entre quatro paredes
entregues de corpo e alma.
─ Entre amiguinhas verdadeiras não há nenhum segredo. Nem
mesmo obsceno, não é? E tuas obscenidades são só ternura. Quanto a
palavrões eu já conheço todos os cabeludos. Não há como não ouvi-los dos
colegas. Meninos e meninas falam-nos a toda hora – riu – dentro ou fora do
contexto. E se falam de sexo, não usam senão expressões chulas. O último
daqueles videozinhos que vi na internet era de uma mulher com dois
homens... Tu tens razão: são só sujeira, mas tuas narrativas são ternas e
cheias de sabedoria.
Sorriu e, brincando com o indicador no narizinho da mãe como esta
fazia com ela, disse carinhosa:
─ Tu estás em dívida com a tua melhor amiguinha... Quero sentir até
onde chega tua ternura em meio a indecências ou seriam apenas
extravasamentos eróticos?
Aline riu cheia de ternura para o seu rebento, curiosa como ela:
─ Tu vais ficar mais despudorada do que eu.
Karina riu:
─ Eu sei. Não fui educada com medos e pudores tolos. Só sabedoria
e bom senso. Mas bem vejo que a tua felicidade tem muito a ver com a tua
sem-vergonhice e a tua safadeza: pudicas e cheias de ternura, são só para o
teu homem, eu sei. E bem vejo que no Amor, mesmo o mais bruto, nada é
indecente. Tuas narrativas deixam evidente que tudo é meiguice e interação
de corpos e mentes. Tudo o que o Amor de paixão causa é erotismo, ternura
erótica. E eu já me sinto adulta para falar de sexualidade contigo.
─ Tu estás certa! Acho que o que tu queres saber é até onde uma
mulher pode ser desavergonhada com o seu esposo. Entre esposos não há,
ou não devia haver, vergonha. Os limites são a capacidade de ele te dar
prazer. Podes perguntar do que ele gosta e mostrar-lhe os teus frissons, os
pontos onde sentes mais prazer. Não há porque ter vergonha quando se ama
e o conhecimento mútuo é essencial. Com o esposo amado tudo é permitido

249
porque tudo é digno. Quando há ternura, há beleza, e se de corações
expostos, corpos entregues e espírito brincalhão...
Entretanto fazer Amor é a liberdade suprema. O bom é não seguir
um roteiro. É claro que o cérebro preside o ato inundando teu coração e teu
corpo de hormônios do prazer, mas, daí para frente, esquece o teu juízo e
liberta os teus instintos e os teus impulsos e dá vazas à tua imaginação e às
tuas fantasias, apenas tendo em mente que o corpo dele é teu e o teu é dele e
fica tranquila que, quanto mais te envolveres no teu homem, mais hormônios
ele produzirá.
Queres uma lei? Parodiando Jesus eu diria: “Faz-lhe antes tudo o
que quiseres que ele te faça”, exceto – riu – enfiar-lhe o dedo no fiofó,
salvo para massagens no períneo e na próstata, se ele quiser, mas integração
de corpos é o que o Amor quer e até espremidas na bundinha e encoxadas
são válidas, se ele não vetar. Mas quem veta são os machões e tu não vais
querer um. O teu próprio desejo te indicará o que podes e deves fazer para
teres o máximo de prazer e deslumbrares o teu Amor.
Por isso eu não tenho propriamente uma transa para te narrar. Todas
têm um pouco de todas... Machões e burocratas têm padrões, transa única,
mas amantes de verdade não. É o meu tesão que me guia ao que eu tenho
para pegar, lamber, morder, apertar, beijar, afagar, gemer, estrebuchar,
encabaçar, amar... – Riu – Eu não sossego um segundo. Nossas transas são
essencialmente interativas e brincalhonas. Damos Amor o tempo todo. Até
estrebuchando num orgasmo, descarregamos excessos de energia apertando
o que tivermos à mão. As mulheres são passivas? Só as burocratas.
Todas as transas dignas do nome têm preliminares e cópula e, como
já sabes, começam quando os parceiros se encontram: sorrisos com um
beijo terno e se há um afago ou um tapinha na bundinha significa: “eu estou
afim de ti”. Isso deixa teu coração em festa e te predispõe para o Amor e
quando chegam as preliminares tu já estás com os desejos...
Tu já sabes que preliminares são fruto da fantasia, da imaginação,
dos instintos, dos impulsos, dos desejos, do Amor, inclusive da mulher. Tu
também podes (e deves) ser ativa nas preliminares. Preliminares são Amor
e Amor é a tua dívida maior com o macho que te ama. É só abrires o
coração e dares fluxo às fantasias. Tudo pode ser pegado, manipulado,
beijado, apertado, sugado, esfregado, amado, numa interação de Amor... E
não te esqueças de que são os contatos fricativos que o tornam bruto. E,
para embrutecê-lo, vale tudo: de boquetes a esfregadas de bundinha e, com
carinho, até os pés! Sentar-se por trás a afagá-lo e massageá-lo com as
plantas dos pés macios...
As cópulas, como aprendeste, são fruto da paixão e consistem em

250
penetração, mexe-mexe e gozo. São o que há de mais indecente em todo o
ato sexual e sem elas não haveria procriação. Por que proibir tudo o mais?
E tudo o mais (tudo mesmo) é justamente o Amor! O sexo entre os humanos
depende da fricção e fricção é Amor! Podemos acusar Deus de ter criado
um ato indecente? Ou foram as religiões que o transformaram em
imundície? Permitem a foda, ainda que com vergastadas, e proíbem o
Amor!
O que diferencia as cópulas é a intensidade (tórridas ou chochas); e
a duração (longas ou rapidinhas). Imagina uma cópula sem preliminares e
rapidinha... – Riu – As coelhinhas estão na “Playboy”... Porém com uma
boa preliminar, que deixe a fêmea cachorrona, vagina ativa e força bruta,
até um ejaculador precoce seria um grande amante.
Karina sorriu:
─ É importante preparar o coração...
─ Quando o Amor é grande e a paixão é bruta, ele está sempre
preparado e quando ele bate feliz é porque está interagindo com o cérebro,
recebendo fartadas de hormônios e trabalhando com vontade, pondo teu
corpo em frenesi com os desejos em polvorosa. Quando amamos estamos
sempre de bem com a vida.

Eu já tinha perdido completamente a vergonha de entregar-me à


paixão com o Amor da minha vida, extrapolando no despudor em busca da
felicidade plena. Pelo meu Amor verdadeiro, tudo é válido. Não há
vergonha ou palavrão que me impeça.
Vou contar-te a que atingiu o máximo de erotismo e despudor para
que tu saibas até onde podem chegar as loucuras do Amor. Com essa transa
e o que já te ensinei, mais a tua imaginação, tu podes fazer milhares de
transas diferentes. Não te esqueças, porém, que para fazer Amor (sexo
digno), deves esquecer o juízo e mergulhar na abstração do prazer e do
gozo, mas para o sexo indigno (sem Amor) deves estar muito atenta o tempo
todo para preservares a mimosinha.
É o meu melhor exemplo de Amor desavergonhado, mas não
vergonhoso. Desculpa-me se eu amenizar nos palavrões. É claro que cada
um pode ter o seu modo de fazer Amor: mais comportado ou menos
comportado; mais tórrido ou menos tórrido; pudico ou nada pudico, de
acordo com a índole e a sensibilidade dos parceiros. Nós vamos aos
extremos do Amor selvagem. Mais seria sadomasoquismo a que não nos
afeiçoamos além de taponas na bunda. O que me deixa cachorra de tesão é
o contato humano, pele na pele, corpo no corpo, macho na fêmea, não
objetos estranhos de couro, madeira ou metais. Tapona tem de ser com a

251
mão (Amor), não com palmatória...
Aline ajeitou-se no sofá. Seria mesmo uma longa narrativa:
─ O macho da minha alma tinha uma fantasia deveras erótica.
Queria fascinar-se comendo a puta mais linda, mais requintada, mais
voluptuosa e devassa do mundo. Foi em Paris, na nossa segunda lua de mel.
O dia amanhecera chuvoso e ver-me mal humorada é coisa que
papai não admite. Tomamos café, ele beijou-me e saiu para a rua. Em
nossas andanças pelas cercanias do hotel, ele tinha visto uma sex shop.
Voltou com um pacote ricamente embrulhado e uma pegadinha: “Meu amor,
ele disse, babando de gozo e derretendo-se em ternura, eu tenho uma
fantasia maravilhosa para compensar o tempo ruim e quero muito que tu me
ajudes a realizá-la. Eu estou tão fascinado por ela – riu – que posso te dar
uma ordem para que a tornes possível”.
Uma fantasia para espancar o meu mau-humor e me fazer gozar!
Derreti-me toda em afagos e beijos, com o desejo tomando conta do meu
corpo, pedi-lhe que ordenasse o que ele queria que eu fizesse. “Ah,
excitação da minha vida – ele me disse num encanto de sorriso apertando-
me a bunda – eu encontrei uma putinha ma-ra-vi-lho-sa, linda que só tu, e
preciso de ti para me ajudar a comê-la em grande estilo. Eu estou
fascinado! Ela é a coisinha mais linda, mimosinha, indecente, luxuriante,
voluptuosa, devassa e sedutora que existe. É simplesmente um arraso de
excitação! Tu vais adorá-la.”
Ai o meu ciúme! Meus olhos viraram torrentes. Ele apertou-me ao
peito e me disse rindo: “Oh, meu Amor, as putinhas mais lindas, fascinantes
e doces são também as mais burrinhas e fazem biquinho à toa”. Sugou-me o
beiço, rindo. “Mas é um biquinho tão lindo! Quero mais uma bitoquinha
nesse beicinho.” Só então eu me dei conta de que, naquele pacote, estava a
fantasia que me transformaria na putinha maravilhosa. A princípio choquei-
me: putinha, eu? Mas se é de brincadeirinha para fazer o Amor explodir em
paixão avassaladora pela felicidade do meu amado, por que não?
Decidi ser a putinha do meu amado e extrapolar em sedução,
indecência, luxúria, volúpia e devassidão: “Vou ser puta de verdade e
arrasá-lo de tesão”, pensei. Pulei-lhe com as pernas na cintura, apertei-lhe
a cabeça ao seio e meus olhos verteram mais ainda da alegria que tomou
conta de mim.
Abri a caixa com sofreguidão: estava cheinha de indecências. Fui
para o closet pulando de contentamento como uma menininha em grandes
folguedos. Vi que ainda não esquecera a amarelinha. Ai, Meu Deus! Eu
vesti aquelas pecinhas muito chiques e senti-me tão nua! Mais nua do que se
estivesse pelada. Elas apenas ressaltavam com lascívia o que deviam

252
esconder. A calcinha não tinha fundo. Era apenas uma borboleta azul,
delicadamente bordada e de asas abertas que sequer escondia todos os
pelos do púbis, mas dava-lhe graça e charme. A fendazinha formada pelos
lábios vulvares desnudos aparecia como caudazinha da borboleta.
Completavam-na estreitos elásticos que lhe davam um aspecto de venda em
que o olho era os pelos pubianos, ou melhor, a volúpia daquele adereço
lindo que teimava em não cobrir o púbis e expunha o sexo, enfeitando de
volúpia os meus pudores.
O corpo ficava coberto por uma bata de seda vermelha fina e
transparente que cobria, ou melhor, enrubescia o meu corpo até parte das
coxas, dando-lhe um resplendor avermelhado que ensandeceria o meu
homem. Tinha aberturas laterais até acima das coxas, uma indecência que
carregava na voluptuosidade. Quando me vi no espelho com as pernas
afastadas, senti-me enrubescer: eu me via apenas com uma borboleta azul
pousada no púbis, aprisionada por um cendal transparente, e de mimosinha
exposta. Estava uma verdadeira puta! Até na urgência despudorada de dar
que aqueles simulacros de roupa mais atiçaram... Mas... dar-me para o meu
homem, enchendo-o de tesão bravio para deslumbrar de gozo a sua
putinha... A voluptuosidade em que eu me transformara fez-me fremir na
expectativa de explodir de Amor, paixão e gozo, muito gozo.

Penteada com os cabelos presos e calçada com meias de seda pretas


e sapatos altos pretos, um batom rubro nos lábios, um sombreado nos
olhos... eu estava ricamente vestida de nudez. Sentia-me a rainha das putas
e pronta para o mais requintado bordel do mundo. Esfreguei as mãos no
rosto e ele ficou ainda mais rubro, combinando com aquela indumentária e
eu... eu estava puta de vontade de me entregar àquele macho requintado na
escolha da sua puta para ser comida com força bruta. Corri para ele em
frenesi e tive de fazer um grande esforço para não cair de quatro, como uma
potranca, implorando para ele me enfiar o esporão.
Eu era a putinha com que ele sonhara, ele disse babando de gozo
quando saí do closet. Eu acendera só a iluminação indireta fraquinha e os
abajures lilases de lampadazinhas vermelhas, dando ao ambiente de
grandes espelhos um ar de bordel sofisticado e eu me via em nuances de
sombras e brilhos. Meu corpo era um despropósito de volúpia, ele disse.
Pus um tango no aparelho de som e disse-lhe de nariz empinado, com uma
coxa escapando da abertura lateral: “Estou às suas ordens, meu amo. Quero
ser a maior foda da sua vida. Com certeza, o meu amo nunca teve uma puta
tão safada e voluptuosa como eu hei de ser”.
Karina mal respirava:

253
─ E então? O que ele fez?
─ Ele enfiou-me um maço de dinheiro na liga azul que escapava da
fenda da bata, dizendo-me que bem via ser eu a rainha das putas e, como
rainha, tinha de ser regiamente paga. Disse muito sério: “Caramba! Eu estou
pasmado. É impossível existir mulher mais sedutora e voluptuosa. Eu estou
fascinado e vou barbarizar-te”. Eu dei-lhe o beijo do tesão: “Como queira,
meu amo. Sou escrava dos seus desejos. Estou feliz que me ache gostosa.
Eu me preparei para servir o mais bruto e exigente dos gigolôs. Soube que
seu instrumento é deveras selvagem. Foda-me com toda a brutalidade até
satisfazer todos os seus desejos. E se eu gritar muito e disser palavrões não
se apoquente. É porque eu estou tendo gozo arrasador. Brutalidades de um
gigolô malvado com porra muito bruta são o meu êxtase”.
Ah! Aquela iluminação, a fantasia, a nudez vestida de
voluptuosidade, o tango, o pagamento na liga... Eu me sentia uma
verdadeira puta. Disse-lhe: “vou dançar-lhe o tango mais voluptuoso que o
meu amo jamais viu, para deixá-lo, literalmente, babando na piroca. O meu
amo tem de me comer de porra babada. Pau violento, hein? Deixe-me
embrutecê-lo com a minha bundinha. Há de ser a maior foda das nossas
vidas”.
Dancei-lhe o tango na piroca e quando ela embruteceu querendo
invadir minha menina, afastei-me num salto. Após uma performance em que
eu caprichei, com estas coxas que o fascinavam escapando cheias de
volúpia pelas fendas da bata, nos movimentos mais sensuais e sedutores,
ele pôs-se a dançar comigo, tão desajeitado, me apertando toda, em
esfregações ensandecidas e dizendo-me indecências ao pé do ouvido.
Fascinado pela putinha (eu estava muito mais indecente do que se
estivesse pelada), ele sustentava-me com o braço direito enquanto sua mão
esquerda me apertava as coxas, metendo-se entre elas e arrepiando-me de
prazer, deslizando para a mimosinha que, ao seu toque, vazou para as coxas,
fazendo-me estertorar de desejo. Seus dedos penetraram os grandes lábios,
deslizaram nos pequenos, no grelinho, adentraram a mimosinha enquanto a
sua boca sugava o meu seio por sobre o fino cendal e, brincando,
cabeceava-o como um cabrito faminto.
Fremindo de desejo e volúpia, soltei os cabelos e num meneio de
cabeça, eles caíram sobre o seu rosto e os meus seios que ele sugava. Ele
chegou a gemer de prazer dando um chupão no seio. Lambeu os dedos que
estavam na mimosinha e disse: “Ummmmm! Vou barbarizar todos esses
buraquinhos indecentes de luxúria e quero começar por essa boquinha de
volúpia. Deu-me o beijo do tesão e girou-me no ar pondo minhas coxas nos
seus ombros, dizendo: “teu cheiro é irresistível”. Retruquei-lhe de boca

254
cheia: “o seu também”. Com tanta festa, fricção e sucção, de boca e menina
penetradas numa sessenta e nove alucinante, eu logo explodi em orgasmo.
Ele pôs-me no chão e a putinha estava com os buraquinhos
excitados para o gigolô bruto. Num passo bem maroto da dança, em que a
minha coxa direita subia sobre a sua esquerda, sincronizei nossos órgãos
excitados e colhi aquele Amadinho duro de pedra no meu aconchego, com
volúpia de cadela e excitação de potranca, fremindo de desejo e arrasada
de tesão. Craque em posicionar meus quadris para fazê-lo tocar o meu
ponto “G”, tomei uma ferroada tão forte que me causou uma explosão
orgástica que me fez urrar de gozo.
Ele riu: “Tu és uma putinha muito sacana. Sacana e gostosa”!
Apertou-me a bunda com toda a força e, carne na carne, carregou-me para a
parede. Prensando-me contra ela, prendeu-me os pulsos contra a parede e
deu-me um beijo de puro fogo com o corpo colado ao meu e sugou-me os
seios que apontavam para sua boca, duros de desejo. Eu tinha duro também
o clitóris e a minha língua metia-se voluptuosa na sua boca, com desejo de
beijos e apertava-me nele em desespero de subir pelas paredes.
Para arrasar de volúpia, fiz o “chapéu tailandês” pela primeira vez
numa transa. Ele deu-me o beijo do tesão e, deslizando a mão pela minha
coxa, tocou-me a bunda e a mimosinha e foi beijando a minha perna
encostada ao meu rosto até lamber-me toda a vulva, sugar-me a mimosinha
e devorar-me o grelinho. Ele sempre me compensava em dobro qualquer
novidade impudica. E a língua subiu pelo meu corpo até o beijo
arrebatador, enquanto o Amadinho readentrava em mim, mediu minha
profundidade e suas mãos me apertaram a bunda e, numa “bombada” bruta,
o Amadinho me lançou no ar: “trepa lagartixa”! “Caraca!”! Eu gritei. Que
explosão de gozo!
É. Eu gritei mesmo um palavrão, mas não havia como suportar o que
eu sentia. Parecia-me explodir num misto de dor, volúpia, prazer, frenesi,
culminando em gozo arrasador. Trepidei de prazer subindo e caindo com
tudo contra o Amadinho que tornava a subir com fúria, tirando-me o chão a
cada estocada muito forte, apertada pela bunda... Eu vazei toda em novo
orgasmo colossal, urrando de prazer. “Eta putinha pra gozar!” Ele disse.
“Desculpe, meu amo, mas para suportar a brutalidade dessa porra só com
palavrões... e de chapéu tailandês... mas a puta vai querer mais, muito mais
dessa porra maravilhosa, mesmo que não me pague!” Ele riu: “Se me deres
de chapéu, te pago em dobro”.
Karina estava de boca aberta, a respiração suspensa:
─ E aí, acabou?
─ Poderia ter acabado porque eu estava prostrada de gozo... Mas

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aquilo foi só o aperitivo. Meu macho é bravio e, fascinado nos meus
orgasmos múltiplos, não descansa enquanto não me deixa arriada de tanto
gozar. O bruto deu-me uma tapona ardida na bunda e ordenou-me como um
gigolô bruto: “Já pra cama! E vai tirando a roupa e abrindo as pernas! Puta
é paga para ficar pelada e abrir as pernas”!
Como ele sabe ser bruto! Podes ir aprendendo, amiguinha, mulheres
adoram brutalidades de macho. Não tapas, socos e pontapés de machão
estúpido, mas brutalidades voluptuosas de um verdadeiro macho que saiba
ser bruto com ternura e dominar nossa libido com tesão másculo e pênis
bruto. Para uma mulher voluptuosa e sedenta de gozo arrasador, um pênis
violento é a delícia das delícias.
Maciazinhas somos nós, o macho tem de ser selvagem: amassos
fortes, instrumento duro, pegada valente, pressão avassaladora e
intromissões violentas que nos tirem o chão, ou nos joguem para cima. E se
temos mimosinha empolgante de músculos poderosos! É, amiguinha, eu sou
mesmo um bruto paradoxo: o meu êxtase completo precisa de Amor terno e
total submissão à paixão bruta. Se com taponas de arder na bunda, melhor
ainda.
Macho dominante (não mandão), que domine a mulher com
selvageria, fazendo-se de mau, com dureza, mas com muita ternura, volúpia
e pênis violento, submete qualquer fêmea para sempre. Não há como evitá-
lo. Fascinação por pênis violento é mesmo da nossa natureza a menos que
estejamos dominadas por tabus e preconceitos. A volúpia de nos
apequenarmos em braços fortes que nos dominem com força carinhosa é
irresistível. Mas é também o maior perigo que uma mulher corre:
apaixonar-se irremediavelmente por um macho selvagem que não queira
senão pegadas. Eu tremia de pavor a cada ataque de ciúme: se eu perdesse
meu macho eu enlouqueceria. E teu pai sabia disso, tanto que, desde a nossa
primeira vez, usou a gradação e a variação do Amor selvagem para atar-me
a ele inexoravelmente. Ele também não suportaria me perder. Minhas
danças no coqueirinho o fascinavam e o pompoarismo tornou-se o seu
verdadeiro êxtase...
Guarda no coração: há dois tipos de dominação, a do poder e a do
Amor. A do poder é odiosa. A do Amor é a felicidade suprema e ele se
fascina com o meu domínio dançando no coqueirinho e comendo o
Amadinho. Não ligamos se dominamos ou somos dominados: nós nos
comemos e quando a minha menina lhe deita força...
A diferença entre uma mulher dominada pelo Amor, afeto, atenção,
paixão, tudo o que amamos, e uma mulher dominada pelo machão,
mandonismo, foda, o que verdadeiramente odiamos, é como uma criança

256
dominada por colinho, carinho, atenção e outra dominada por sopapos e
mandonismo.
Entenda bem: é um macho bruto na pegada, não um homem violento.
O pênis, sim, quanto mais violento melhor. É como na dança: é uma delícia
sermos conduzidas e voarmos impulsionadas por braços fortes em que nos
sentimos seguras e protegidas. Tu também poderás avaliar o que seja isso
analisando tuas brincadeiras com as “montanhas russas” que papai te fazia:
tu sentias o Amor dele por ti, a pegada forte, o impulso bruto, o prazer de
voar nos limites dos seus braços, a breve perda de gravidade seguida da
descida vertiginosa e perigosa, o friozinho na barriga, e a força e proteção
de braços poderosos que sustentavam a tua descida... Havia a força bruta
que te subjugava com alguma violência carinhosa para fazer-te voar e
sentires a vertigem da queda brusca, mas a tua alegria era indescritível.
E também com as cócegas que ele te fazia desde que eras bebê. Tu
te encolhias e rias sem parar, gritando “não”, mas quando ele parava, tu
ficavas rindo e te encolhendo na expectativa de teres mais. Ele te
ameaçava: “Ah, se eu te pego”! Tu fugias. Ele te pegava e te enchia de
cócegas. Tudo isso é realmente bom porque é uma quase violência. É a
quase violência que nos faz vibrar de prazer, porque está no limite do
prazer e do desconforto: o prazer é tanto que chega a causar desconforto e,
paradoxalmente, queremos que acabe, mas não acabe!
Aline completou com crueza:
— Entretanto, imagina se a subida da montanha russa fosse lenta e a
descida também, sem a vertigem do voo, da perda de gravidade e da
descida abrupta, sem o friozinho na barriga, sem nenhuma violência... Se
comparares essa experiência com a do Amor, a subida e a descida lentas
seriam o sexo morno, sem graça como o dos machões e a violência
criminosa seria largar-te na subida ou na descida para te esborrachares no
chão.
A quase violência do sexo tórrido será uma violência quando o
pênis exceder a vagina; a das cócegas, quando a criança começar a deixar
de rir; a das palmadinhas de Amor, quando o desconforto exceder o prazer.
A tapona na bunda também é uma quase violência que nos dá prazer,
enquanto não vira desconforto.
O que realmente faz diferença é a pegada, a gradação selvagem, a
dominação carinhosa, o que se tem em mente e, se bobeares, o homem que
escolheres pode te jogar contra a parede com socos e pontapés, ou te fazer
sexo morno, como viste nos cães, para cumprir o “dever conjugal” e sair
para se esbaldar com as cadelas, enquanto lhe lavas as cuecas e lhe
preparas o jantar.

257
Karina confrangeu-se, sentindo a crueldade do drama. Perguntou:
─ Os violentos não têm ternura, não é?
─ Nenhuma. Os outros podem ter ou não. Terás de observá-los e
analisá-los o tempo todo até que te convenças. Os testes te convencerão do
resto, mas é bom que saibas: é melhor sexo tórrido uma ou duas vezes por
mês do que sexo morno todos os dias. E, depois de experimentares sexo
tórrido, o sexo morno não tem nenhuma graça.
─ Como é que os homens fazem sexo morno?
─ No geral, o parceiro rola o corpo sobre a mulher ou penetra-a
mesmo de lado ou de cachorrinha, copula como viste nos cães, geralmente
sem nenhuma preliminar, vira para o outro lado e dorme.
Karina que assentia com a cabeça, considerou:
─ A cama tem de ser mesmo a última coisa para quem não quer
trair, mesmo porque a traição também não deve ser lá essas coisas, não é?
─ Não mesmo!
Ansiosa pelo desfecho, Karina sorriu:
─ E como foi a tua descida na montanha russa?
─ Ah, amiguinha do céu, um macho com pegada bruta, intromissões
bravias e Amor no coração que nos deixe voluptuosamente excitadas, é
tudo! De bundinha ardendo, eu joguei-me na cama tão sôfrega que caí de
colherinha, ansiosa pelo gozo bruto que eu pressentia, mas, depressinha,
levei os pés à cabeça: “a rainha das putas tem de ser a rainha da foda”! Dei
tchauzinho, com o pé, desafiando-o a me botar pressão: “Vem me comer de
porra bruta! Quero ver se és mesmo o mais violento dos gigolôs.”!
Sabes quando tu trepidas de alegria na maior alacridade? Eu estava
assim na expectativa da pressão, penetração e intromissões fricativas. Ele
veio com tudo, me lambendo e sugando e mordendo, me envolvendo e me
pressionando toda em Amor de macho que me fazia explodir em desejo.
Botou tesão lá dentro e estendeu-me as pernas para dar curso total ao pênis.
Impulsionada pelo Amor, a paixão ficou dura, violenta, profunda,
brutalizando tudo, pondo o prazer em cada fibra do meu corpo. Eu fiquei
completamente entregue e fremente de frissons e volúpia sob a pressão do
seu corpo... Aí ele disse: “Aguenta, putinha, que essa gostosura vai ter gozo
que puta alguma jamais teve”.
A paixão tornou-se bruta, muito bruta, numa TVC de arromba em
que eu era toda esfregada, por dentro e por fora, até no ponto erógeno do
pescoço. Dói? Talvez um pouco, mas o que sentimos é pressão, fricção,
tesão e a volúpia deliciosa de sermos cobertas e dominadas pelo macho.
Essa dominação amorosa é delícia pura porque excita cada ponto erógeno
do nosso corpo, tornando-nos uma festa de prazer e gozo.

258
Tu já viste uma maria-fumaça chegando à estação e depois partindo:
o pistão que aciona as rodas entrando e saindo lento e macio até o trem
parar... Mas, na partida, o pistão penetra firme, arrancando com a máquina,
fazendo-a trepidar, e bate com força maior a cada estocada e logo o pistão
está batendo a todo o vapor na entrada do cilindro de pressão, fazendo o
trem disparar em velocidade de expresso...
Foi onde eu encontrei a metáfora perfeita para as arrancadas de
paixão do teu pai. Foi essa lembrança que me fez gritar: “pau na máquina”!
Ele ficou brincando comigo em velocidade de parada e eu anelava pelas
intromissões fricativas da força bruta. Com as pernas estendidas, eu senti o
pistão penetrar firme e arrancar com a máquina, botando mais pressão a
cada entrada daquele pistão poderoso na minha menina apertada pelas
contrações. Num átimo eu estava em disparada pelas pradarias da paixão,
numa TVC fantástica – riu – apitando de volúpia, prazer, gozo... muito
gozo... Foi um apito longo, um gemido interminável, que durou toda a
travessia de prados e mais prados floridos de Amor e paixão, porque as
estocadas eram de fato violentas, além do suportável: uma verdadeira
“surra de pau” que me arrasava de prazer e me fazia gritar palavrões e
sonhar com loucuras de gozo.
Envolvendo-o de colherinha, sob o seu corpo, eu me senti toda
pressionada no corpo, nos peitos, na barriguinha, na mimosinha, na vulva,
no clitóris que me fazia explodir de tesão; na boca contra a sua boca, no
meu ponto erógeno do pescoço, e o pistão macho batendo com toda a força
no cilindro de pressão da fêmea... E a fricção... Era uma fricção muito
intensa que massageava todo o meu corpo até a alma. E a mimosinha,
arrochada no falo bruto, parecia explodir de tanta pressão, prazer, gozo,
loucura, encabaçando-o a cada intromissão! Eu já tinha muita força nos
músculos da mimosinha e a cada arremetida selvagem ele gemia como se
estivesse transando uma virgem cujo hímen cedia muito apertado, mas não
se rompia, deflorando meu cabacinho novo a cada estocada. Podes imaginar
a empolgação?
Ele me cobria e me penetrava com seu corpo fricativo e eu
descarregava a energia gerada pelos meus estertores de gozo, apertando-o
com braços e mãos e pernas e calcanhares, estimulando-o com meus
estertores voluptuosos, meus dedos crispados e as encabaçadas da
mimosinha em algemadas arrochadas. Estávamos profundamente integrados
de ternura, Amor, paixão, prazer, gozo, loucura erótica...
Tudo parecia doer entre o prazer, o desconforto, a ânsia de gozar e a
explosão de gozo. E eu sentia prazer em cada fibra do meu corpo, toda
travada de gozo. Um orgasmo arrebatador é isso: que rompa os limites entre

259
o prazer e o desconforto. É como estar para espirrar e espirrar... É como
uma vertigem de estar para explodir e de fato explodir. É o auge da
tempestade que cede à bonança relaxante... É a ternura invadindo-nos o
corpo ainda estrebuchante de gozo. Eu gemia loucuras, envolvendo-o na
força dos meus braços e das minhas pernas e a cada paradinha ele
começava tudo de novo. Se gozo matasse, eu teria morrido como puta
naquele gozar de pura alucinação.
Quando relaxei daquele gozo absurdo na sua terceira paradinha, ele
disse em êxtase: “Tu és fantástica! Caraca, como tu és fantástica! Só podes
ser a puta mais gostosa do mundo. A deusa das putas! No lugar da xoxota
tens uma xana de arrasar, a Arroxana, que de prazeres ela dá! Deixa ver o
teu furico. De chapéu”! Ai, foi o maior regalo para o meu fiofó. Ele trocou
de portinha, invadindo-o numa TCC e a minha excitação explodiu como um
obus. Aí, pôs-me de cachorrinha... Foi então que eu me fascinei com a sua
explosão de gozo, acompanhada de um som erótico muito obsceno e a bruta
encoxada para eu virar cambalhotas...
Arriado de gozo, ele relaxou, riu e elogiou a putinha: “Também tens
furico régio. Que delícia! Acho que tenho de te pagar em dobro, porém –
sorriu – serei teu único cliente e teu eterno gigolô. É bom que queiras mais,
sempre mais, porque ninguém resiste à tua Arroxana, e de chapéu, Meu
Deus, ela fica uma graça”! E o teu furico de chapéu é outra fantasia que não
vou esquecer nunca.
Foi exatamente assim. Ele tratou-me como puta, pagou-me como
puta e fodeu-me como puta, dizendo que fodeu a puta mais deliciosa do
mundo, mas só me fez Amor o tempo todo. Quanto gozo! Eu senti o seu
Amor penetrar-me o corpo, a alma, o coração, o tesão, o frenesi, dando-me
prazer, gozo, volúpia como nunca sentira, além de realizar mais uma
fantasia que tomara conta de mim: eu na pele de uma puta, mas uma puta
muito amada como a sua cadelinha safada. Chorei de felicidade ao apertar
sua cabeça ao peito e fazê-lo adormecer no aconchego do meu seio,
agradecendo a Deus a graça de ter um homem tão maravilhoso.
Definitivamente não mais eu via o sexo como coisa feia e
vergonhosa, mas como o coroamento do Amor entre macho e fêmea, a
comunhão de corpos e mentes no êxtase do Amor... Se há Amor e pênis
bruto com mimosinha empolgada, não importa o nome. Amor tórrido ou
foda bruta aquilo era para mim a sublimação das nossas ternuras e dos
nossos desejos. Estarrecida, eu percebi o que me parecia impossível: eu o
amava mais ainda do que antes, porque me sentia uma mulher completa,
uma fêmea íntegra e locupletada de Amor. Aquele ser colado ao meu corpo,
apertado nos meus braços, era a complementação do meu corpo e da minha

260
alma e eu pude sentir uma verdadeira comunhão de corpo e alma como se
nos interpenetrássemos de energia numa osmose espiritual. Eu jurei a mim
mesma que, “quando este Amor florescer há de ser em meio a uma
felicidade de igual magnitude. Óvulo e espermatozoide hão de fundir-se em
meio a uma bem-aventurança tão sublime quanto esta que me inebria a
alma”.
Karina sorriu emocionada:
─ Isso me faz entender porque vives com essa carinha de festa e
porque eu vivo envolta em ternura e felicidade! Que aventura! É a narrativa
mais erótica que me contaste apesar de amenizares alguns tabuísmos, mas
também a mais terna. Vi teus olhinhos brilharem cheios de meiguice o
tempo todo. Obscenidades com o ente amado podem ser belas, não é?
─ Tão belas e fascinantes que, no dia seguinte, eu estava aflita,
desesperada por aquele pistão trabalhando a todo o vapor dentro de mim e
surpreendi-o “vestida de nudez”, mais puta do que nunca de desejo do
macho.
Sempre variamos, mas quando fico fértil me bate o desespero de ser
a sua putinha e arrochar nele. Aí a putinha dança, lambe, suga, sacode o
rabinho para levar taponas e se escafede para ser agarrada e é
impulsionada a todo o vapor pelas pradarias da paixão... Brincar... Brincar
de fazer Amor com um Amor de verdade é a glória!
Para um Amor como o nosso tudo é válido. A ternura purifica
qualquer indecência. Teu pai fazia-se de bruto para levar-me aos limites da
excitação, mas me deu ternura o tempo todo, regalando-me o corpo, o
coração e a alma com muito Amor, muita ternura e gozo inexcedível. As
brutalidades daquele falo são delícias... Quanto mais bruto, mais prazeroso
ele fica. E quando meu macho embrutece deitando pressão e fricção
máximas naquela TVC bendita, o nível da minha volúpia sobe à estratosfera
e os eflúvios do prazer criam tanta pressão dentro de mim que me fazem
explodir em delírios de gozo.
Fascinada, Karina comentou:
─ É difícil encontrar o homem dos nossos sonhos, mas,
encontrando-o, é fácil ser feliz, não é?
Aline riu:
─ Fácil? Basta abrires o coração e as pernas, como me ensinou teu
pai, e se tiveres uma mimosinha empolgante...
Karina mijou-se de rir e Aline disse-lhe com ternura:
─ Tu ris, mas é a mais pura verdade. Pernas e corações abertos com
ternura e mimosinha empolgante são o grande segredo do Amor conjugal
que se queira eterno, tanto que me pareceu óbvio dizer-lhe que era de fato

261
tudo o que eu fazia por ele. Ele retrucou-me: “Eu também mais não faço por
ti. Apenas te escancaro o meu coração e ergo da justiça a clava forte para
justiçar tua menina atrevida”.
Quando Karina sossegou o riso, Aline continuou:
─ Ternura e clava forte justiçando nossa menina atrevida! Meu
Deus! De que mais precisamos para flutuar em felicidade inexcedível? E
uma menina de fato atrevida! Das coisas mais sérias teu pai sempre cuidava
brincando. Um dia me disse: “À mulher bem maridada é crucial abrir as
pernas, porque ela tem de ser tampada para encher ou ser feliz”. Depois de
eu estourar de rir como tu, ele acrescentou: “É sério, Amor! Como os
vinhos, a mulher tem de ser arrolhada para não azedar” e prosseguiu na
analogia: “e, também como os vinhos, tem de ser arrolhada com muita
pressão para não escaparem os eflúvios da paixão e ela estufar de prazer
até explodir como um balão de festa, se não ela azeda mesmo arrolhada
como os vinhos tampados com rolhas ineficientes”.
Quando o riso de Karina serenou, ela continuou:
─ Tu achas divertido? Imagina que vais ter o gozo arrebatador e a
transa acaba no meio! Mas tu ainda não ouviste o melhor: “As mulheres
levam uma enorme vantagem sobre os vinhos. Estes, depois de azedados, só
servem para vinagre, mas as mulheres, por mais vinagrentas que estejam,
refinam o paladar e até se tornam mais saborosas se forem bem
‘arrolhadas”.
Se tu queres saber, quando ele topou comigo lá na praia, eu estava
mais azeda do que um vinho que tivesse sido esquecido destapado por
semanas, mas aquela ternura toda que ele derramou sobre mim, cumulada da
promessa de paixão naquele canto lindo, bastou para deixar-me saborosa e
maciazinha para ser degustada no maior dos prazeres como o melhor dos
vinhos e quando eu senti a pressão daquela rolha dura de paixão querendo
arrolhar os meus eflúvios de Amor...
Mas, mesmo sem a pressão interna, que as roupas e a proximidade
de transeuntes não permitiam, a ternura era tanta que os eflúvios de Amor
foram se acumulando, enquanto eu media com a coxa o tamanho e a dureza
do instrumento que eu desejava dentro de mim. Meu desejo daquela rolha
no meu âmago era tão imenso que, no segundo beijo maluco, eu explodi em
gozo inaudito, como se estivesse super arrolhada. Foi a primeira vez que eu
gozei de verdade e nem penetrada eu fora. Bendita rolha!
A minha estrada do Amor estava pavimentada, larga e florida, para
levar-me ao feliz enlace. E ele ainda me plantou tantas flores de Amor até
chegarmos ao nosso ninho que, quando me pôs a rolha, eu estava “doce e
saborosa como um Porto vintage da melhor cepa” – ele disse – e as

262
explosões de gozo, Meu Deus, foram a maior festança...
Para entregarmos todo o sabor, temos de ser degustadas bem
arrolhadas, com pressão máxima. Mas também, por mais azedo que esteja o
teu homem, se lhe abrires o coração cheio de ternura, com palavras doces,
carinhos, afagos, aconchego e companheirismo, num insinuar de pernas
abertas, tu o terás doce e saboroso para degustá-lo como um Porto da
melhor cepa e o terás transformado no teu porto seguro.
Karina se fascinava, mal respirava. Sorriu:
─ Eu tenho de ser uma mulher fascinante como tu. O que mais tu
fizeste de muito erótico?
─ O melhor da minha vida é brincar de amar com muito erotismo,
embevecer de Amor quem me dá a paixão embrutecida. Todos aproveitam
os fins de semana para dormir. Nós não. Nós ansiamos pelos fins de semana
para brincar, para arrasar nosso parceiro de hormônios do prazer para ele
arrasar-nos de paixão bruta. Então, sim, adormecemos profundamente nos
braços do Amor.
Confidenciando de amiguinha para amiguinha com toda a
sinceridade, o que me dá tesão, empolgação e alegria de viver é ser
violentada pela paixão bruta me transando com toda a selvageria,
completando uma fartada de Amor. É paixão que me arrebata com toda a
intensidade e me deixa de bem com o macho, com a vida, com Deus e até
com o mundo esquizofrênico.
─ E põe esse sorriso permanente no teu rostinho que nos encanta!
─ Com certeza! E me faz instigar-te a seres diligente na escolha do
macho da tua vida: que tenha instrumento adequado e que seja capaz de
amar-te com toda a selvageria que suportares. A maior prova de Amor que
podemos dar ao macho que nos brutaliza com Amor selvagem é arrochá-lo
na Arroxana com danças safadas, mordidinhas, algemadas, ordenhas e
beijinhos chupitados... É para anelarmos por “surras de pau” a vida toda.
Prova de Amor é amar!

Nossa lua de mel de quase um mês foram dias de folguedos e


brincadeiras sem fim. E eu tinha de me desavergonhar. Era para mim uma
questão de honra. Num Amor tão imenso havia erotismo, sim, e muito, mas
não vergonha. O fiofó dadivoso libertou-me do pejo. O Amor verdadeiro é
sem-vergonha e nós amávamos tanto que tínhamos direito ao desejo
escancarado.
Já livre de pejos, descobrimos aquela praia paradisíaca que tu
conheces, encantadoramente linda, de areias deliciosamente macias, mar e
floresta. O que eu dancei nua para ele à luz do luar! A estátua de Carrara

263
congelando nas poses mais voluptuosas das minhas danças e strip-teases até
debaixo de chuva! E as transas... Ah, as transas! Era só entardecer
prometendo um luar bonito e, se não tivéssemos algum compromisso com
tua madrinha para grandes noitadas de danças, lá íamos nós, na maior
euforia, para uma esbórnia de arte e gozo.
Aquela lua de mel foi transgressão de normas na praia,
envolvimento, integração de nossos corpos, de nossos corações, de
nossas mentes, numa comunhão completa e muito prazerosa que nos deixou
completamente enleados um no outro.
Karina extasiava-se com a empolgação da mãe e pediu-lhe a
narrativa de uma daquelas aventuras ao luar. Aline declinou:
─ Tu já sabes o que podes fazer com o teu corpo e com o corpo do
teu homem. Conheces minha empolgação e como a mulher pode obter o
máximo de gozo com a pureza do Amor e o erotismo da paixão de
cambulhada com pênis empolgante. O pênis empolgante é o agente da
cópula arrebatadora e é impossível não gozar apenas com ela. O Amor é
para prolongar a festa e torná-la mais empolgante e prazerosa. Também és
capaz de ser uma Vênus de Carrara completa com braços, vida, mimosinha
ativa e empolgante, volúpia, imaginação e virtuosismo dançante. É só
deixares as fantasias e a imaginação te levarem...
As fantasias dão colorido ao Amor e imaginação é o que não te
falta. Quando tens um macho só teu, integrado contigo de corpo e alma,
podes tudo, inclusive pedir mais ou menos força nas intromissões e até
taponas ardidinhas. E põe no coração: a esposa se quer sem vergonha, terna
e amorosa.
Palavrões e obscenidades tu já sabes que deves usar com critério e
parcimônia no contexto da prosa. Só são totalmente liberados em
confidências, inclusive, com o homem da tua vida, na medida em que vocês
entenderem, para tornarem suportáveis os gozos excessivos. Eu não tenho a
transa A ou B ou C e tu tenderias a te fixar em roteiros e amar não é filme. É
liberdade total para improvisar, fantasiar, fazer diferente, sentir e gozar.
Aquelas transgressões tinham uma razão. Teu pai me curou do
pudor, da culpa e do medo para que pudéssemos nos amar com pureza de
coração. E, apesar do medo de sermos apanhados, desnudar-me naquele
paraíso tinha um efeito catártico. Eu tinha de me curar da religião e de seus
fogos infernais e ter o coração livre e puro para receber o Amor puro de
Deus e eu sentia o coração realmente livre e a alma pura para me entregar
ao homem da minha vida. Era essa pureza que nós buscávamos: fazer Amor
com pureza de coração limpo de pecado.
É óbvio que o Amor é realmente lindo quando é desfrutado por um

264
casal que se ame muito, sem nenhuma vergonha, e resguardado das vistas de
terceiros. Tudo o mais é sacanagem e pornografia: coisa feia. O que
fizemos nas praias foi apenas para termos a sensação de estarmos
transgredindo as normas estúpidas, impostas durante milênios, e recriando
o Amor puro pré-parras, em meio à natureza, de coração totalmente livre,
mas sempre cuidamos para que ninguém nos visse. Buscávamos a sensação
de perigo, e sobre tudo de liberdade de amar em meio a um paraíso, mas
certos de podermos escapar de sermos vistos por terceiros.
Foi uma vingança e uma catarse por me sentir culpada, com medo e
pudor de amar, quando me encontrava completamente envolvida do Amor
maior de pureza e gozo inexcedíveis. Aquelas violações das normas me
ajudaram muito a libertar completamente o meu coração dos meus
demônios. Tornei-me livre, leve e solta e com que pureza e empolgação eu
passei a amar! É feio e vergonhoso dar para qualquer um, mas dar-nos ao
homem da nossa vida é divino, é maravilhoso! E o gozo extremo é a
glorificação do Amor.
O nosso pequeno mundo haveria de ter a sublimidade do Amor
fraterno e a pureza do verdadeiro Amor conjugal. Nós queríamos nos sentir
como Adão e Eva antes das parras, sem pudor nem medo de amar, e
protegidos pelo Deus Verdadeiro, cujo alto espírito pairava sobre nós e
alegrava nossos corações e não nos restringia o saber, nem mesmo o pleno
conhecimento do Amor... Para que parras? Mesmo porque Deus tem pleno
conhecimento de tudo o que se passa na nossa mente e não há como nos
esconder dele. Não foi Ele que inventou o pudor, mas as religiões.
Restabelecemos também em nosso pequeno mundo o verdadeiro
Cristianismo dos primeiros tempos, como nos tempos de Jesus. O crente
tem apenas de viver em comunhão com Deus, com pai e mãe, filhos,
parentes, amigos e o próximo... Amar o parceiro no Amor... O templo do
nosso Cristianismo é o coração de cada um: é o Amor que cada um tem no
coração. Tu e Ric foram concebidos, criados e educados nessa crença e eu
flutuo em gozo e felicidade e sempre peço ao Deus de Amor de Jesus para
que nos preserve toda essa alegria de viver e de amar.
Tu entendeste muito cedo essa alegria de amar e fizeste pactos de
amizade verdadeira com todas as pessoas de quem gostavas e com teus
amiguinhos e amiguinhas a quem tu ensinavas e ainda ensinas tudo o que
sabias e aprendias e se ajudam mutuamente. Bastava descobrires uma nesga
de ternura no coração de uma pessoa para tu a prenderes a ti por um pacto
de amizade verdadeira. Tu és uma revolucionária inata do Amor de Deus.
Tu te tornaste, sem saber, numa verdadeira apóstola do Verdadeiro
Jesus e uma obreira maravilhosa do pequeno mundo idealizado por teu pai

265
e inspirado por Deus. É, filhinha, nunca nos passou despercebido o que tu
andaste aprontando nesses anos todos. Que de vezes não recebemos
elogios, agradecimentos e a amizade dos pais das tuas amiguinhas e
amiguinhos por teres mudado a sua maneira de ser com os pactos que fazias
e que as crianças acabavam impondo aos pais. Criaste uma constelação de
mundos pequeninos de paz e Amor ao redor do nosso. É a tua missão para
Deus. É claro que Ele te inspirou, mas tu és digna da admiração, do Amor e
do carinho de todos e nos causas um grande orgulho.
A única coisa que me afligia era não poder retribuir ao teu pai, ao
menos na mesma medida, todo o gozo que ele me dava. Aqueles Tesões
selvagens são impagáveis e ele insiste em dar-me em dobro tudo o que lhe
dou. Eu me sinto tão endividada! Quando temos um macho de verdade,
terno e cheio de Amor no coração, não há limites ao gozo da fêmea, mas o
macho não tem como ir além de um único orgasmo, por mais que prolongue
a transa. E o prolongamento é só para o prazer da fêmea, embora papai diga
que a prolonga ao máximo para viver mais tempo dentro de mim.
O que me sossegou o coração foi o treinamento pompoir e ele me
dizer que não há mulher no mundo que lhe possa dar mais prazer do que eu,
e mesmo tanto quanto eu lhe dou é praticamente impossível existir. Para ele,
cristão não é dar mais, mas dar o que temos para dar, e eu lhe entreguei tudo
o que ele queria: eu própria! Mas eu também o ganhei – sorriu deleitada – o
homem mais generoso do mundo para dar Amor! E ganhei a ti e ao Ric e
mais um montão de amigos...
─ Eu sei do que estás falando. Também eu me sinto endividada,
porque ele me retribui em dobro tudo o que faço por ele e, quanto mais
procuro compensá-lo, mais endividada eu fico. E tu... Embora inexperiente,
eu bem vejo que não há como uma mulher recompensar todas aquelas – riu
– estripulias que ele faz na tua mimosinha.
Aline sorriu-lhe com ternura:
─ É como diz a tua mãezinha: se nos ocupamos de dar Amor, gozo e
felicidade ao Amor da nossa vida, quando decidimos fazer um machozinho
ou uma femeazinha é só para acrescentar mais Amor, alegria e felicidade ao
nosso pequeno mundo. Não é isso que sempre sentiste?
Karina abraçou-a emocionada:
─ Com certeza, querida mãezinha! Até quando esperei pela primeira
surra que julguei merecida, papai me deu Amor, carinho, um pacto de
amizade verdadeira e muitas lições de vida. Eu nunca poderei agradecer o
bastante o mundo de paz e Amor que vocês me deram aqui dentro nem o que
tu me ensinaste do mundo lá de fora, tão diferente do nosso pequeno mundo.
Eu bem avalio o quanto lhes devo de respeito, admiração, confiança, afeto e

266
o mais sublimado Amor. Se tu queres saber, eu já estou me sentindo capaz
de encarar aquele mundão cheio de perigos e armadilhas e garimpar o que
ele tem de bom – sorriu – inclusive o homem da minha vida.
─ Estás mesmo, minha querida, e eu estou te concedendo o mestrado
em mulher. Parabéns! Mas sei que tu não descansarás enquanto não fores
doutora e PhD.

267
Capítulo XX – CIÚME

Para seres doutora em sexualidade precisas estudar a fundo o


ciúme. Ele está crucialmente ligado ao Amor. Quem ama tem ciúme porque
o Amor é raro e precioso e, por isso, ninguém suporta perdê-lo. Só trairá,
como viste, se a paixão for morna, não empolgante, e não corresponder ao
Amor.

Há excelentes obras clássicas tratando de ciúme e traição, na


literatura ocidental: “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Madame
Bovary” de Gustave Flaubert e “O Primo Basílio” de Eça de Queirós estão
entre as melhores do mundo.
Tu deverás ser ciumenta como eu e deves aprender a lidar com esse
demônio da vida de um casal e a encontrar um homem que te ame de paixão
para espancares o ciúme. É claro que me ouviste falar do ciúme, mas esses
livros completarão o teu saber. Recomendo-te todos, mas o mais divertido é
o “Dom Casmurro” que permite várias leituras: como detetive buscando as
pistas espalhadas pelo livro; como juiz julgando se Capitu é culpada de
traição; como psicólogo, analisando a psicologia dos personagens
principais, especialmente Capitu... Por mais vezes que o leias ele
permanecerá fascinante porque sempre encontrarás algum aspecto novo e
ele continua atualíssimo para quem busca o Amor como o grande objetivo
da vida...

Escrito em 1900, “Dom Casmurro” é a história de Bento Santiago e


todos os personagens são reais. São fatos ocorridos entre 1857 e 1875.
Apesar de ter mais de um século ainda se discute se Capitu era culpada de
traição. Mas a dúvida só existe porque todos ignoram olimpicamente a sua
“Crítica Literária” em que Machado deu a resposta clara e definitiva a essa
dúvida. Aliás, é um livro difícil de encontrar porque está sendo excluído da
lista de obras de Machado, por ser um livro, o único, em que Machado não
foi feliz e que provocou uma grande polêmica com Eça de Queirós, por
acusá-lo de plágio. Mas no “Dom Casmurro” ele alinha uma série de pistas,

268
indícios e provas que, devidamente analisadas, permitem, a um bom juiz,
um veredicto seguro sobre a culpa ou não de Capitu.
Mas, para chegar ao veredicto, é preciso lê-lo nas entrelinhas.
Machado não diz se Capitu é culpada ou inocente, senão nas entrelinhas de
um rico conjunto de episódios como o do casal de andorinhas; as
dissimulações de Capitu; suas curiosidades, especialmente por rapazes; as
dez libras esterlinas; a morte de Escobar; a carta; as relações de “pouca
dura” de Bentinho com as mulheres que o visitavam no final da história; a
semelhança de Capitu com a mãe de Sancha explicaria a de Ezequiel com
Escobar? E outros.
Tu tens de descobrir o que Machado deixou implícito em cada
capítulo, procurando traçar o perfil psicológico, sexual e moral dos três
personagens centrais, inclusive se capazes ou não de trair, sem esquecer,
claro, os demais personagens. Machado apresenta os fatos e deixa os juízos
de valor a cargo do leitor. Capitu era inteligente, bela e fogosa. Teria se
contentado em fazer sexo no camisolão com abertura na genitália, como
ainda era uso na época? Nota que os acontecimentos narrados, têm cento e
cinquenta anos. Tu és inteligente e judiciosa. Lê e dá-me o teu veredicto.
Karina não descansou enquanto não concluiu o veredicto, ruminando
demoradamente cada capítulo em busca de significados ocultos:

─ Machado conduz a trama de modo a instalar a dúvida na mente do


leitor, deixando-o realmente num dilema atroz, mas dá muitos indícios e
pistas que permitem traçar a psicologia e o caráter dos três principais
envolvidos, facilitando o convencimento do juiz sobre a prova principal...
É um julgamento difícil porque não há uma prova explícita e o leitor é
induzido a cair no “achismo”, mas ponderando provas deixadas por
Machado eu creio que – riu – havia na Capitu mais alguma coisa de
ressaca, além dos olhos...
Eu baseei-me na minha cultura, mas principalmente no que aprendi
de ti sobre o Amor e explorei todas as possibilidades de cada capítulo.
Capitu era bela, inteligente e fogosa e ficou claro que se amavam com
ternura, carinho e companheirismo. Portanto, se ela o traiu, como tudo
indica que o fez, foi porque Bentinho não era capaz de satisfazê-la
sexualmente. Embora a amasse de paixão, a paixão era morna. Tu dizes que
sexo morno como o dos machões é uma droga, enquanto que sexo tórrido
torna fiel qualquer mulher. Aprendi que Amor é crucial num relacionamento
sólido, mas paixão tórrida também é fundamental e Bentinho nunca
aprendeu a lidar com a paixão.
O capítulo sobre as mulheres que visitavam Bentinho, depois da

269
separação, com relações de “pouca dura”, foi o que me deu mais trabalho
para entender, mas me facilitou entender a história: que diabo fazia um
capítulo sobre exposição de arte, desprovido de arte e só acessível a
mulheres, quase no arremate do livro? E por que elas deveriam voltar? Ele
é, obviamente, metafórico: seu significado é envolvimento sexual, proibido
de forma explícita nos livros na época em que se passa a história, não é?
Eram sempre elas que o abandonavam, não indo além da primeira vez:
partiam prometendo voltar, mas não voltavam. Eram, sem dúvida,
candidatas a amásias.
Riu:
─ Recebiam o “catálogo”, porém não se empolgavam com o
desempenho do artista! Aquelas mulheres são muito eloquentes e me
contaram que o desempenho sexual de Bentinho era pífio. Embora o mundo
fosse extremamente machista e impusesse às mulheres recato absoluto, para
uma mulher inteligente e insatisfeita, alertada sobre paixão tórrida e com o
macho capaz à mão, nada a impediria.
Aline riu e respondeu-lhe:
─ Tu estás certa. Como nos ensinou Bocage, “quando uma mulher
quer trair até no inferno há de fazê-lo”, e quando há motivos...
Karina mijou-se de rir e continuou:
─ Bentinho era ingênuo, mas Capitu era inteligente, fogosa,
mentirosa, sexualmente carente, curiosa (principalmente sobre rapazes),
com olhos de ressaca e de cigana “oblíqua e dissimulada” (como a definiu
José Dias). Enganava todos e principalmente Bentinho com incrível
facilidade. Tinha tudo para trair e estaria segura de si para fazê-lo porque
controlava tudo e todos com suas dissimulações e mentiras. Também estava
aflita por um filho que não vinha após dois anos de tentativas, inclusive
para satisfazer o marido. E Bentinho? Não seria ele estéril? Um filho que
reluta em aparecer por dois anos e, de repente, aparece com a cara e o
jeitão do melhor amigo da família que frequentava a casa assiduamente...
Capitu era frequentemente surpreendida em situações
comprometedoras com Escobar como no episódio das andorinhas, “com os
olhos espetados um no outro” e interessava-se por observar os rapazes que
passavam na rua, inclusive diante de Bentinho, mantendo o olhar mesmo
quando era fixada por eles. Ao ciúme ingênuo de Bentinho, dizia
simplesmente: “ora, ele vai casar”... Passava dias na casa de Escobar,
inclusive cuidando da doença da Sancha. Por sua vez, Escobar era
“metediço e com olhos policiais a quem não escapava nada”. Escapar-lhe-
ia o provável enfado sexual de Capitu, estando sempre em casa de
Bentinho?

270
Há a carta denunciadora que, embora Bentinho não explicitasse o
conteúdo, é evidente ser a carta de alguém, anônimo ou não, denunciando as
prevaricações de Capitu. Só isso explicaria tanta dificuldade para lê-la: na
rua, em casa, no gabinete, de janelas fechadas, mal a princípio e
parcialmente... Depois com mais clareza. Enfia o papel no bolso e tira-o
para ler então com clareza... Por que alguém faria a denúncia se não
houvesse sólido fundo de verdade? Não se destinava à extorsão já que fora
enviada a Bentinho e não à Capitu.
A mãe e a prima de Bentinho foram as primeiras a descobrir a
traição nas feições de Ezequiel, embora sofressem em silêncio, sem
esconder, porém, o repúdio a Ezequiel e Escobar. Não se tratava, portanto,
de mero ciúme doentio de Bentinho. José Dias e Tio Cosme conservaram-se
discretos, claro, mas não teriam sido um ou o outro o autor da carta ou
mesmo a mãe ou a prima?
O episódio das dez libras esterlinas também é muito esclarecedor.
À época, seria uma quantia considerável para uma mulher poupar das
despesas do lar e, ao cambiar dinheiro, sempre sobram trocadinhos.
Observei que as cotações do dólar nos jornais chegam a frações de
milionésimos. Ora! Uma quantia tão redondinha! Nem mesmo nove ou onze,
mas dez! Dez libras só poderiam ser uma compra, não uma troca. Logo,
eram um presente... Mormente que ela disse estar preocupada com o valor
do câmbio... e se as tinha acabado de trocar! É óbvio que sua mente estava
com Escobar e a preocupação era o valor do presente, não o câmbio.
Bentinho a apanharia na mentira se não fosse ingênuo e crédulo, apesar de
ciumento.
Aline riu:
─ Estou fascinada com a tua perspicácia. “Mais depressa se apanha
um mentiroso do que um coxo”, mas um ingênuo só percebe as evidências
explícitas.
Karina continuou:
─ E o afogamento de Escobar? Teria sido acidente ou suicídio? Ele
era exímio nadador; tinha músculos “grandes e rijos” e já encarara aquele
mar mais bravio do que no dia do afogamento. Por que teria deixado se
afogar justamente quando a sua semelhança com Ezequiel começava a
evidenciar-se? Vivo, sua situação iria ficar insuportável. Provavelmente
Bentinho acabaria por matá-lo juntamente com Capitu e Ezequiel.
Finalmente a prova contundente e inequívoca: Ezequiel,
especialmente depois de adulto ao voltar da Suíça, era não apenas
semelhante ou sósia de Escobar, mas o próprio, inclusive na voz. Ora! Para
ser inocente e ter parido um Escobar – riu – só mesmo se Capitu tivesse

271
engravidado dele por osmose!
Em defesa de Capitu há pouca coisa e circunstancial. Sua
semelhança com a mãe de Sancha, não ia além de parecidas, mas, que
fossem sósias, estavam muito longe de serem idênticas como Ezequiel e
Escobar. Além disso, sósias são raros e ocorrerem em duas famílias
interligadas seria muita coincidência! Ademais, Bentinho não deu atenção
ao fato e não demonstrou ver Capitu no retrato da mãe de Sancha, como via
Escobar na figura de Ezequiel. A semelhança seria tão desprezível, que nem
mesmo à Capitu ocorreu aludir a ela em sua defesa, mesmo referindo-se à
“casualidade” da semelhança do filho com Escobar.
Ela alertou Bentinho sobre os “olhos estranhos” de Ezequiel, mas
não seria para prevenir-se contra a prova que começava a evidenciar-se,
fazendo-se de sonsa?
Restariam as negativas peremptórias de Capitu, fazendo-se de
vítima inocente. Mas quem esperaria outra coisa de uma “cigana oblíqua e
dissimulada”, além de mentirosa?
Meu veredicto é culpada, embora, no lugar dela – riu – creio que eu
teria feito o mesmo! Aguentar a vida toda com sexo morno! Caraca! Os
namoradinhos muito macios, que não sabem passar a mão e apertar, eu
dispenso na primeira. Quando não mostram a que vieram, eu desisto e vejo
o filme.
Riu:
― É relação de “pouca dura”. Empolgar é preciso! Certa vez, levei
um para o nicho do portão para pesquisar. Queria ver até onde ia toda
aquela delicadeza. Esfreguei-lhe a minha nudez e mostrei-lhe onde podia
chegar o Amor, mas as encoxadas... Barrabás! Era devagarinho...
devagarinho.
Aline riu:
─ Era muito civilizado! Tu estás certa, sexo morno é foda! Tu estás
de parabéns. Darias uma excelente juíza. Há poucos reparos a fazer e que
não alteram a substância da tua sentença. Apenas a reforçam: os olhos de
ressaca e as lágrimas de Capitu sobre o defunto é uma pista interessante,
tanto mais que Machado “não dava ponto sem nó”. O começo de quase
romance entre Bentinho e Sancha indica que romances em tais
circunstâncias eram possíveis, mesmo entre néscios como eles, quanto mais
em pessoas como Capitu e Escobar. Há ainda a certeza de Bentinho de que
tinha sido traído. Se uma ou duas vezes se entregou ao benefício da dúvida
foi por causa do desespero e da esperança de que surgisse uma contraprova
que a inocentasse.
Uma das principais virtudes de Machado é que ele não dava tudo

272
mastigadinho para o leitor porque adorava fazê-lo pensar: alinhava os fatos
e o leitor que investigasse, queimasse os neurônios e tirasse suas
conclusões. A lição, porém, que Machado se impunha em seus escritos,
estava lá, óbvia e cristalina: o adultério, ainda que apenas suspeitado, leva
inexoravelmente ao desenlace. A adúltera, ainda que nada fique
explicitamente provado, fica com a vida arruinada...
Mas, como demonstraste, não eram apenas suspeitas. E em “Crítica
Literária”, Machado acusa Eça de Queirós de ter plagiado “Madame
Bovary” de Flaubert e “La Faute de L’Abbé Mouret” de Zola, nos seus
romances “O Primo Basílio” e “O Crime do Padre Amaro”
respectivamente, sendo que “Madame Bovary” e “O Primo Basílio”
também tratam do adultério.
Machado faz também um paralelo entre o seu “Dom Casmurro” e o
“Primo Basílio” que, segundo ele, não se prestaria a servir de lição para as
meninas casadoiras ou jovens esposas, pois bastaria “queimar o bilhete” e
“não ficaria nenhuma prova ou indício do adultério”, ao passo que, no seu
“Dom Casmurro”, a prova da traição é viva, sempre presente aos olhos e
indestrutível...
Como vez, o teu veredicto está correto: Capitulina capitulou – e,
com certeza, sem camisolão – nos braços de Escobar. A única dúvida que
persistirá até a consumação dos séculos é em quantos capítulos ela o fez...
É, meu Amor! Flaubert, Eça, Machado... – para ficarmos só com
França, Portugal e Brasil – a se preocuparem com o adultério, quase que a
um só tempo... muitas jovens esposas deviam livrar-se do camisolão e
espojarem-se nos braços dos amásios com muito mais frequência do que
possamos imaginar. Aliás, as visitantes de Bentinho não seriam esposas
insatisfeitas procurando por prazeres?
Karina riu:
─ Como Séverine, no filme “A Bela da Tarde”, procurando por
homens, no bordel, muito mais feios do que o marido que é um tremendo
dum gato! E diz que não é por prazer. Se também não é por dinheiro...
─ Não é mesmo por prazer ou dinheiro, mas por expiação: Séverine
procura, em seu inconsciente, punir-se de um “pecado grave”. A chave para
entender o filme é uma cena de poucos segundos em que ela é assediada
sexualmente por um homem (tio?), quando criança, enquanto é chamada
pela mãe mandona: “vem ou não vem”!
Meninas que sofrem assédio sexual, especialmente quando
reprimidas e dependentes dos pais e da religião, tendem a traumatizarem-
se, julgando-se putas, porcas, vagabundas, sujas e outros impropérios que
Husson dirige a Séverine, no sonho, enquanto lhe atira punhados de lama.

273
O trauma em Séverine é tão forte que, ao subir as escadas do
prostíbulo ela tem outra visão de sua infância: na sua primeira comunhão,
ela recusa a hóstia. Por aí tu vez o tamanho do seu trauma: “puta não
comunga e seu lugar é no bordel”, está gravado no seu inconsciente. E ela
se julga puta e suja para comungar e para o marido, mas não para os
frequentadores do bordel, claro! Apenas, como dependente incapaz de
tomar decisões, “precisa ser tratada com pulso firme”, como descobre a
cafetina. Tu deves ter notado que o sexo para ela era tortura e não prazer.
Séverine precisaria de um psicanalista que pusesse tudo no devido lugar.
Isso foi uma das razões porque te recomendei para não te deixares
tocar por ninguém, porque havia pessoas muito más. Assim, se fosses
assediada por algum pedófilo não te considerarias puta, mas vítima. A filha
da camareira, que sempre que aparece, está sendo mandada ou assediada,
ilustra a infância de Séverine e é forte candidata a traumatizar-se. Aliás, já
está toda tolhida...
O Pierre de Séverine tem realmente uma belíssima estampa, mas é
um molenga: É muito pombinho e burocrático para o meu gosto. Prefiro
alguém com a pegada do quero-quero que é extremamente agressivo, mas
não pode ferir. Seu “soco” com a asa é um afago, mas ele ataca com força e
decisão. É assim que eu quero o macho: que me agarre e me coma com
força e decisão: “tu não me escapas”!
Se ele a agarrasse apertado e a prendesse pelos cabelos da nuca,
dando-lhe o beijo com que teu pai me deixa de quatro, a jogasse na cama e
lhe deitasse pressão... ela nunca mais voltaria ao bordel ou teria sonhos
punitivos; juntaria as camas e só iria querer a paz do Amor depois de
esgotada a fúria da paixão! Para o sexo, é melhor Adolphe ou Marcel do
que Pierre. O macho tem de ser um afago envolvente e dominante, com
pênis violento e arrebatador como o gozo que esperamos dele. Se lhe
“escapamos”, não tem graça.
Vê o filme de novo que tu vais entendê-lo. Luiz Buñuel foi um dos
maiores cineastas do século passado e vale a pena rever.

Voltando às mulheres de Bentinho, as fogosas precisam de


dominação amorosa e virilidade na cama, e as frígidas mais ainda, ou
sairão à procura de amásios. O diabo é que amásios (os Bentinhos da vida)
não diferem dos maridos, mas como diz teu pai: “Quando há buracos na
cerca, as cadelas engravidam”... Há duas coisas que os homens precisam
aprender com urgência: a votar e a amar.
Karina compungiu-se:
─ Fiquei com pena de Capitu. Ela era culpada de adultério, mas

274
vítima de pênis devagarinho. Amou intensamente, inclusive ao marido.
Tinha o defeito da obliquidade e da dissimulação e era também mentirosa,
mas – riu – acho que merecia um Bentinho mais selvagem que lhe pusesse o
sexo em frenesi. Isso a tornaria mais honesta, não é?
─ É provável que tenhas razão, mesmo porque ninguém é perfeito e
custa muito a uma mulher viver sexualmente insatisfeita. Isso é um rombo na
cerca. Já simulação e mentira são frutos de uma educação defeituosa e das
pressões sociais em que a pessoa vive. Mas, educação à parte, toda mulher
é capaz de amar intensamente com fidelidade canina, desde que tenha um
parceiro selvagem na cama.
O camisolão pudico também seria um “buraco na cerca”... A mulher,
como o homem, necessita dos seus desejos e fantasias satisfeitos, inclusive
os mais indecentes. Bentinho não teria merecido os cornos? Sem dúvida ele
amava Capitu muito intensamente. Mas, obviamente, não era bom de
pegada... – Riu – Não a fazia subir pelas paredes como lagartixa... Sua
paixão era com certeza morna: uma simples cópula como as dos cães.
Capitu também o amava, claro, mas, por essa razão, jamais se
apaixonou. Não tinha por ele aquela empolgação que me põe em frenesi
com teu pai. E isso deixa inexoravelmente um vazio na alma da mulher
como eu sentia. Experimentada, a paixão chocha faz-nos vislumbrar a
paixão tórrida. A paixão tórrida pode iludir a falta de Amor, mas não há
Amor que baste para iludir o desejo de paixão tórrida.
─ Por quê?
─ Paixão tórrida é fruto dos hormônios do prazer e, portanto, é o teu
cérebro amante que a exige sob pena de escassear a produção de hormônios
e até anelar por amásios. O cérebro produz os hormônios do prazer porque
quer a paixão tórrida que também lhe dá o prazer do corpo satisfeito e
relaxado. Por isso, mais do que o Amor, ela é a obsessão da mulher.
A questão crucial é o que me disse teu pai: “Geralmente, os
casamentos acontecem entre estranhos no que é mais importante: o sexo. O
que é imperioso que o casal discuta antes do casamento, e sempre, é sobre
os desejos, prazeres, gostos, fantasias, gozo, satisfação sexual. Eu vou
querer um amplo canal de comunicação entre os nossos corações. Quero-os
expostos um ao outro, para sempre, com os nossos anseios, as nossas
verdades, as nossas certezas, as nossas dúvidas, as nossas insatisfações, as
nossas soluções, e também as nossas fantasias e os nossos desejos, por
mais indecentes que sejam, com esse Amor que transcende a vida, cresce
com o desejo e há de frutificar no mais belo dos sonhos, sem enganos nem
traições. Alerta-me, por Deus, sem medo nem pudor, de qualquer buraco na
nossa cerca, por ínfimo que seja, e façamos nosso desejo crescer do

275
tamanho do nosso Amor e o nosso Amor alimentar-se dele até ficar o maior
do mundo e eternizar nossas paixões”.
Karina sorriu embevecida:
─ Acho que é a mais bela lição de vida que já ouvi. Está gravada no
meu coração para sempre.
─ Por isso avançamos fundo na tese do Amor para ensinar-te tudo
sobre ele e como escolher e amar o teu homem para que não fiques à deriva
como Capitu, Séverine, Clarinha e todas as mulheres, casadas ou não, que
se perdem à procura do Amor e de paixão que prestem.
Tudo o que as noivas aprendiam antes da revolução da pílula é que
deviam abrir as pernas e deixar o marido entrar... Daí quando
vislumbravam o gozo arrebatador e a possibilidade de obtê-lo, quem as
segurava? Porém o que as meninas aprendem hoje não é nada mais
edificante. Por isso há tanta traição, obviamente, em busca do gozo
arrebatador... Mas com machões e uma xoxota! Pobrezinhas! – Riu – É
pegar o “catálogo” e sumir...
Com certeza Escobar notou as carências de Capitu e lhe falou de
paixão selvagem... E Capitu acabou por descobrir na paixão selvagem de
Escobar o complemento ao Amor de paixão morna de Bentinho. Não fora o
surgimento da prova da transgressão e sua vida teria sido perfeita: Amor
pelo marido e paixão pelo amásio... Um complementando a deficiência do
outro. O que ela não podia adivinhar é que seria o próprio filho a denunciá-
la! Esse foi o grande achado de Machado que nem Flaubert nem Eça
imaginaram e que tornou o livro fascinante.
Que mais haveriam de querer para concluir pela culpa de Capitu? O
escândalo de um flagrante? As traições geralmente não são flagradas e
Machado não se prestaria a isso. Um bilhete indiscreto que fosse parar em
mãos erradas? Machado condenou esse expediente em Eça. Porém há a
carta denunciando as “puladas de cerca” de Capitu e que foi direto para as
mãos de Bentinho; e com tantas evidências mais, além do filho
“acusador”... Talvez sem saber, Machado criou a síndrome de Capitu:
desde “Dom Casmurro”, a possibilidade do filho acusador tornou-se o
terror das infiéis. Esse terror dura os oito meses finais da gestação e é mais
comum do que se pensa, mas a ciência ainda não descobriu o que ele causa
no sistema nervoso do nascituro e da própria gestante.
Tu foste influenciada por essa dúvida dominante que eu mencionei
propositadamente o que te fez achar que as provas eram circunstanciais e
tiveste que te basear no conjunto, mas quase todos os episódios que
mencionaste são provas cabais da traição. Só têm de ser devidamente
analisados.

276
Queres uma prova fora do livro? Machado entendia como ninguém
de paixões, mornas ou tórridas, porque amava Carolina, sua esposa, de
paixão tórrida, essencial para que um Amor verdadeiro transcenda além-
túmulo. Só isso explicaria o soneto que fez sobre a sua sepultura: “Aos pés
do leito derradeiro em que descansas desta longa vida/Aqui venho e virei,
pobre querida, trazer-te o coração do companheiro”... Ele continuou a amá-
la depois de morta. Aliás, consta que eles tinham um pacto para que ela o
deixasse morrer primeiro porque ela dispunha do conforto das lágrimas que
era vedado ao homem.
Só um amante transcendental (no sentido nobre) poderia trabalhar
com tanta propriedade uma história de Amor e traição capaz de embasbacar
gerações. “Dom Casmurro” permanece incompreendido porque a grande
maioria faz sexo burocrático, como Bentinho, e não consegue entender o
que havia por trás da paixão oculta de Capitu e Escobar. A grande tragédia
que os impede de entender o óbvio é: “Se Capitu, uma mulher que amou
tanto, traiu, todas poderiam trair”! Porém essa foi a principal lição de
Machado: “quem faz sexo burocrático (como cachorrinho) fatalmente
acabará traído, não importando a magnitude do Amor”. Nessa
questão, porém, ele não foi bastante explícito. Os homens e mesmo as
mulheres que fazem sexo burocrático não percebem ou veem como anormal
o Amor tórrido. É como é visto o filme “Nove e ½ Semanas de Amor” e
outros que exibem cenas tórridas. Embora olimpicamente ignorado por
todos, e mesmo incompreendido pela mulher até que o encontre, o gozo
arrebatador da mulher é um componente crucial do Amor conjugal e a sua
falta detona a traição, porque as mulheres herdam sua sensação por
atavismo e, por isso, ele as assoberba.
Como todos os homens, papai também teve sua fase burocrática. A
paixão visceral de Iara é que o fez evoluir. Eles mergulharam de cabeça na
ternura um do outro e, do primeiro encontro, correram fascinados para o
motel, buscando a integração total. Eu não te disse que corações ternos se
reconhecem de imediato? Iara era fogosa e sensível e acabou por notar a
diferença de prazer entre estocadas amenas e as estocadas mais fortes e se
dispuseram a estudar o sexo a fundo, chegando às estocadas tórridas e,
aplicando-as às posições, evoluíram para os Ts Grandões.
Ternura das grandes, corações abertos e os Tesões Grandões foi o
que os levou ao Amor transcendental que eu pude sentir em plenitude
quando, deslumbrada de Amor e paixão, tentando cativar-lhe o coração na
lua de mel improvisada, papai me deu para ler e comentar as narrativas de
suas aventuras sexuais e, entre elas, a história de Amor com Iara.
Reabriu-se em seu coração a ferida terrível da morte de Iara que ele

277
julgava adormecida e eu tive de passar o dia inteiro e a noite confortando-
o, morrendo de inveja de um Amor tamanho. E já três anos eram passados
da tragédia em que Iara fora morta num cruzamento pela irresponsabilidade
assassina de um motorista alcoolizado.

O homem precisa esquecer certas tolices tipo “coisa de mulher”.


Ternura, Amor, sensibilidade, prazer tórrido... são coisas de gente normal
em contraposição a coração duro, desamor, insensibilidade, sexo chocho...
que são coisas de machão e forte candidato a traído.
Tem de esquecer também o “pecado original” que já não faz nenhum
sentido. A escravidão acabou (pelo menos nos Estados que se livraram dos
reinados absolutistas e das teocracias) e as “rapidinhas” eram para fazer
escravos e poupar tempo para o trabalho e a guerra. Tem de reaprender a
amar. Já temos tempo bastante para dedicar ao Amor. Ou o homem aprende
a fazer sexo de paixão bruta, ainda que sem Amor, ou vai ter de continuar
suportando traições. E já são quarenta e sete por cento as que traem,
segundo pesquisas. Considerando que trinta e cinco por cento desprezam o
sexo, restam pouquíssimas mulheres satisfeitas.
Karina riu:
─ As alternativas ao “Amor de paixão bruta” são “paixão efêmera”
ou infidelidade!
─ Com certeza, embora o Amor possa se impor às alternativas. É só
procurar por ele no coração e ele transformará tudo em doçura, com paixão
bruta, claro!
─ Ainda há países escravagistas?
─ No Sudão ainda é legal e a Mauritânia foi o último a abolir a
infâmia em 08/11/1981. Mas não são poucos os Estados que o
fizeram pelas pressões internacionais e a lei vigora só no papel,
notadamente nos em que há pouca ou nenhuma democracia e forte influência
religiosa como a própria Mauritânia, atualmente o maior escravagista
proporcionalmente à sua população. Mesmo no Brasil (embora seja crime)
o combate à escravidão ainda é bastante intenso em algumas construtoras,
fazendas e grotões. Não há tráfico, claro, mas os trabalhadores são
aprisionados e submetidos a trabalho análogo à escravidão.

A fascinação atávica da mulher pela paixão bruta não é tão


desconhecida como eu supunha. Não são raros os filmes cultos, em que
aparecem cenas de sexo tórrido como a alertar para o fato. E há filmes que
vão fundo na questão como “De Olhos Bem Fechados” de Stanley Kubrick
e “Nove e ½ Semanas de Amor”.

278
A mulher é o sexo frágil? Ledo engano! A estrutura física feminina é
talhada para o pênis violento e eu sei quanto. O problema é que homens e
mulheres são reprimidos por tabus milenares. Mesmo Nelson Rodrigues,
além da tolice de julgar as mulheres “vocacionadas” para o adultério,
esteve às voltas com o fenômeno em “Bonitinha Mas Ordinária”: A heroína
adorou ser estuprada por cinco negrões. É óbvio que a submissão à
violência do episódio mais a sucessão de cinco estupros seguidos valeram
por sexo tórrido, dando-lhe o gozo arrebatador. Descobrem o milagre, mas
não o santo. Então julgam mal a mulher.
Karina riu:
─ Tu já o descobriste, mas são necessários cinco negrões para dar
gozo arrebatador?
Aline retrucou-lhe:
─ Para tu veres a porcaria que é sexo burocrático! Mas pênis
selvagens são raros. Os homens trocam tudo: põe a ternura no pênis e a
violência no coração. Atavismo? Temos de reensiná-los a amar e recolocar
as coisas no devido lugar: pensar com a cabeça e não com o pênis; repor a
ternura no coração e concentrar a violência toda no pênis. Só então será
fácil à mulher escolher um homem para amar deveras e não para trair.
Karina mijou-se de rir, mas fascinada em aprender quis mais:
─ Violência é sempre incompreensível. Por que o pênis tem de ser
violento?
─ Estava à espera que perguntasses. Há violências e violências.
Algumas podem ser prazerosas como as que te mencionei da “montanha
russa”, das palmadinhas, das cócegas, dentro de limites que dão prazer.
Porém a violência do pênis é a única desejável, e muito, que não tem
limites ao prazer, salvo se exceder a vagina. Se não for maior do que a
vagina, manda ver! Porém a escassez de pênis brutos é a grande maldição
da mulher. Dar sempre gozo ao parceiro e ser interrompida no melhor da
festa é terrível. Toda mulher vislumbra que chegaria ao gozo se a transa se
concluísse também para ela ou se ela conseguisse gozar junto com o
homem. E com o registro atávico do gozo arrebatador isso se torna
evidente.
─ Não seria possível a mulher ter o gozo arrebatador com um pênis
grande?
─ A TVC cria muita pressão e fricção no corpo todo e mesmo que
não seja bruta dá muito mais gozo do que qualquer outra transa. É a que eu
te recomendo quando fores perder o hímen. Antes ou depois de rompido
podes pedir mais ou menos força conforme o teu conforto. A vagina
empolgante (apertadinha por contrações) potencializa o gozo em qualquer

279
transa por aumentar a fricção, na proporção das contrações, e os Ts
Grandões podem chegar ao gozo arrebatador mesmo sem penetração
completa devido à pressão que o pênis exerce sobre a parede da vagina,
especialmente se esta for empolgante.
As transas tradicionais sem Ts Grandões nem genitais empolgantes é
que fazem a transa acabar antes de a mulher atingir o orgasmo arrebatador e
o que a torna chiliquenta, histérica, impossível de entender e avessa a rir
porque se julga frígida e a culpada de não gozar. E pior: Ao ver um macho
que lhe pareça arrebatador, como aconteceu com Alice (Nicole Kidman) em
“De Olhos Bem Fechados”, ela fica fascinada, sem conseguir tirá-lo da
cabeça, porque intui que ele lhe daria o gozo arrebatador.
Mesmo muito bem casada e com a vida bem estruturada, amando o
marido e a filha, Alice procura pelo macho, assoberbada, no dia seguinte.
Se o encontra... Ele lembraria o macho selvagem que teria brutalizado de
gozo a sua ancestral? Alice confessa ao marido que o largaria, mais a filha
de sete anos e o seu próprio futuro se ele, um oficial da marinha, a quisesse
mesmo por uma única noite! Toda uma vida em troca de uma noite de gozo
arrebatador apenas vislumbrado! E o marido é Tom Cruise. É de doer a
frustração com que ela acaba com o seu mal-estar dizendo-lhe: “Vamos
trepar”, mas sem nenhuma alegria, sem nenhuma empolgação. É mais o
cumprimento de um dever. É a volta ao sexo burocrático e às suas
ranhetices do início do filme. É preciso mais para entender a grande
maldição feminina?
A sorte de Alice é que ele praticamente não a notou. Não é assim
que se encontra um pênis empolgante. Eu tentei a fórmula do macho
poderoso, por cinco vezes, assoberbada de desejos e me perdi. Só na sexta
vez é que encontrei o gozo arrebatador quando fui cantada e encantada pela
ternura e pelo Amor.
Mas tu queres o porquê. Os animais se excitam com o cheiro da
fêmea no cio, mas homens e mulheres só se excitam com fricção e quanto
mais, melhor. A excitação dos homens se concentra no pênis, não havendo
maiores problemas, mas a mulher está repleta de pontos erógenos. A sua
excitação está espalhada no corpo. Para piorar, a vagina, que também tem a
função do parto, tem sua estrutura voltada mais para o parto do que para o
coito. É geralmente muito elástica, larga e flácida para o pênis e, em certos
casos, necessita até de uma cirurgia de estreitamento do canal. Daí, o
grande problema:
Como a grande maioria dos homens faz sexo devagar e apenas
balançando os quadris, o pênis se movimenta lento no sentido longitudinal
da vagina e, se ela não é apertadinha, a fricção é pífia para a mulher e, não

280
raro, até para o homem, especialmente quando a vagina precisa de cirurgia.
Por isso, a transa raramente chega ao clímax para a mulher. É como se o
homem fosse obrigado a interromper a transa antes da ejaculação.
Já percebeste que a grande solução é a TVC tórrida. De fato ela
resolve até os casos de cirurgia em que é impossível o gozo também para o
homem porque a fricção é violenta e geral, inclusive no clitóris, dando à
mulher na pior das hipóteses empolgação e orgasmo de clitóris. Porém, se
ela contrair a vagina a cada intromissão, também pode chegar ao gozo
arrebatador. Todas as demais transas, quando tórridas, também satisfazem
praticamente a totalidade dos casos, até sem preliminares. Podes guardar no
coração: um pênis violento que caiba na mimosinha é o teu melhor
amiguinho. E como pênis violento tem coração terno e empolgação bruta, tu
jamais conseguirás traí-lo.
E o melhor é que a mulher também pode tornar a vagina empolgante
para ambos com o treinamento pompoir: basta coordenar o ritmo da transa
com uma contração acompanhando cada estocada e aguenta o gozo: flacidez
vaginal, carência de orgasmos e traições, nunca mais, porque o prazer de
uma vagina apertadinha é o que o homem busca de fato na traição... E com
uma vagina ativa e empolgante numa mulher de bem com a vida, quem vai
perder tempo traindo ou discutindo a relação?
Um dia teu pai me disse rindo: “Discutir a relação é um tema tão
caro às mulheres e tu nunca quiseste”. Eu dei uma gargalhada: “Com nossos
meninos empolgantes, só mesmo de chupeta na boca, mas como não dá para
falar de boca cheia, deixa para lá. Que se batam, que se mordam e que se
comam! Por mais que se empolguem não correm risco de se machucarem”...
Mas ele voltou a perguntar e eu atraquei-me na chupeta fazendo-o dizer
palavrões... e até a Nina “falou”, e com que veemência! “Discutir a
relação” tem desencadeado transas memoráveis.
O melhor de tudo é que a transa tórrida deixa o corpo satisfeito e o
coração feliz. O corpo satisfeito e o coração feliz fazem a alegria e o bem
estar do espírito. O espírito contente fica de bem com a vida e se torna
criativo e produtivo. O aumento da criatividade e da produtividade extingue
a escassez, e o mundo sem escassez faz a felicidade de todos.
Tu sempre viveste num mundo de gente risonha produzindo pactos e
shows e ensinando amiguinhas e amiguinhos. Poderosos e mandões sempre
permaneceram fora da nossa porta. Já imaginaste viver num mundo de gente
mal amada, carrancuda e mandona, de mal com a vida e com todos, como
eram os humanos nos últimos dez mil anos? Os empresários estão
descobrindo isso e têm treinado atendentes para serem cordiais e gentis
com os clientes para que eles voltem e estão empregando pessoas com

281
síndrome de Dowm, alegres por natureza, para alegrar os ambientes de
trabalho e aumentar a produtividade. Por aí tu vês o quanto têm sido
estúpidos os poderosos e as religiões com a velha opressão e seus tabus.

282
Capítulo XXI – PATRIARCALISMO

Aline desempenhara magistralmente o seu papel de mãe e


amiguinha. Expusera à filha de forma irreprochável a nossa tese sobre o
Amor e eu fiquei tranquilo, pois conhecia nossa filha e sabia que ela
escolheria, sabiamente, a melhor e mais digna das opções. Poderia não
levar necessariamente a sua pureza ao altar, mas não abriria mão de ser
picada pelo Amor, com Amor, para o Amor.
Haveria homens dignos dela, com certeza, ainda que fossem
exceções no mundo masculino, e ela não esmoreceria enquanto não
cativasse o seu. Eu poderia me voltar inteiramente para o Amor da minha
vida. E eu tinha planos...

Ao transpor o umbral do portão, Karina veio correndo pular-me no


pescoço e apertar-me no seu abraço, ávida de beijos e carinhos. Quando
ganhava sabedoria ficava eufórica. Disse deslumbrante de alegria:
─ Papai, mamãe disse que eu já sou mestra em mulher!
─ Mestra! Parabéns! Isso é muito bom! Agora tu és criança e
mulher, mas eu acho melhor tu continuares apenas uma criança com
sabedoria de mulher por mais algum tempo.
Ela retrucou amuadinha:
─ Ah, paizinho, eu não posso ser as duas coisas?
─ Se tu quiseres... Mas toma tento que a infância é a fase mais
fascinante da vida e sem responsabilidades além de estares atenta para não
botares a mão em cumbuca para não te machucares, mas a mulher que tu
assumires terá grandes responsabilidades que, se bobeares, podem levar-te
a castigos atrozes da vida, inclusive terás de estar cheia de cuidados para
não deixares que botem a mão na tua cumbuquinha indevidamente.
Ela riu:
─ Mas a minha cumbuquinha está sempre trancada para mãos afoitas
e otras cositas más, todavia eu queria encontrar um menino digno de tocá-
la, até com...
─ Otras cositas más... Mas é aí que está o perigo. Tu ainda não estás

283
bastante apta para identificares a ternura, a hombridade, a dignidade, a
lealdade, a inteligência, e podes facilmente ser induzida em erro, mesmo
porque essas qualidades são raras nos meninos. A própria paixão, que
domina todos os relacionamentos sexuais, inclusive se sobrepondo ao
Amor, quando o há, é a maior fonte de indução em erro, como já
comprovaste. Isso porque ela se confunde com o Amor. E tu sabes que a
vida é implacável com quem erra. Ver-te chorar seria um tormento terrível
para mim.
Meninos são absolutamente irresponsáveis e não têm a mínima ideia
do que querem da vida, além de diversão. Se não tiveres os olhos bem
abertos, podes virar playground de moleques safados e isso eu sei que tu
não queres. Além disso, podes engravidar, o que seria jogar na lata de lixo
a fascinante promessa de vida que tu és, de cambulhada com todo o nosso
esforço para descobrir a natureza do Amor e te preservar dos castigos da
vida. Ter um filho é lindo, mas só quando planejado com muito Amor e
muita responsabilidade.
Tu estás entusiasmada pelo que vez no teu irmão, mas ele é cria
minha e da mamãe e até tua, não é? Além da mesma educação que tu
recebeste, ele tem recebido uma forte influência cultural e psicológica de ti.
Tu és em grande parte responsável pelo seu caráter. Encontrares alguém
como ele seria como ganhares na megassena. E um homem para ti é
inconcebível. Tu és apenas uma criança e mesmo um homem... Eu próprio
só me considerei realmente maduro aos vinte e três anos... Até aí, fui um
estroina. É bem verdade que se tivesse encontrado tua mãe antes... Mas
antes de vinte e um, vinte e dois, não há como um homem estabelecer-se na
vida e manter uma família com dignidade. E só uma pequena minoria o faz
com a dignidade que tu queres e mereces.
Se tu achas importante namorar para te divertires e aprender a
identificar virtudes, enfrenta as feras... mas procura manter a cumbuquinha
trancadinha a salvo de mãos afoitas e otras cositas más, porque meninos só
pensam em se divertir e só querem o teu sexo. E segue sempre as lições que
tua mãe te deu para te resguardares de erros que possam fazer chorar esses
olhinhos... Tu só encontrarás o que queres num homem e nunca antes de
completares quatorze anos, porque, além de absolutamente incompatível
com a tua idade, podendo ferir-te, ele cometeria crime. Mesmo aos quatorze
ainda serás novinha para um homem. Juizinho, filha!

Encontrei Aline às voltas com o fogão. Mesmo no seu aniversário


ela não se dispensa de deliciar-nos com suas comidinhas. Restaurante, só
em dias comuns. Dei-lhe um tapinha na bundinha e envolvi-a toda muito

284
apertada, mordendo-lhe a orelha:
─ Amanhã ficas mais madura e mais doce e mais saborosa e
Balzaquiana e mais fresquinha para saciar a minha fome de mulher. Eu
tenho planos para essa gostosura toda: vou tirar férias para mergulhar um
mês inteirinho nas delícias do teu aconchego. Posso?
Ela gritou “uaaauuu”, pulou no meu pescoço e devorou-me de
beijos. Disse-me com a costumeira alacridade:
─ Vais ter de me comer todinha um mês inteirinho com Tesões bem
grandões e otras cositas más.
Eu ri:
─ Só se a tua menina maluquinha me agradecer todas as
comilanças...
Ela parecia querer enfiar-se na minha boca:
─ Com a fascinação que ela tem pelo teu menino doidão, tu tens
alguma dúvida? Põe-te nela para tu veres... – Riu – e ela, que não é nada
passiva, tem de por em dia seus exercícios! Dá-lhe uma daquelas tascadas
violentas para veres a fome com que ela vai comer o teu menino mesmo que
ele fique preguiçoso.

Era frequente eu ficar “preguiçoso” e deixar a menina trabalhar


sozinha. Depois de lhe dar o prazer violento que a levava aos extremos do
gozo, entregava-me às suas habilidades e ganhava algemadas brutas e
ordenhas fantásticas (aquela menina também sabia ser bruta) e dormia nas
delícias daqueles beijinhos chupitados com que ela me embalava o sono.
Ela só liberava o menino quando eu adormecia. Ela sorriu:
─ Só comerás carnes minhas o mês inteiro, assadas com Amor ou
quentes do meu tesão, e tu poderás me “atrapalhar”: se o Amor nos
desnudar o que é que tem? No nosso aconchego? Meus seios te servirão
molhos e cremes, minha barriguinha, carrês e maioneses e a minha menina
te fartará de frutas e vinhos – riu – para que tu a perdoes das mordidas no
teu menino. Ela vai treinar duro nele.
Eu ri:
─ Que nunca lhe nasçam dentes!
Tantas promessas... Pus-lhe os dedos. Estava úmida e mordeu-me...
Seus músculos tornaram-se tão rijos que mais parecem dentes e eu liberei
de vez os palavrões... Como suportar aquela menina sem eles?
Quando Karina entrou, ela pediu-lhe para tomar conta do fogão:
─ “Papai precisa de mim”.
Levei-a para o chuveiro e foi uma ensaboada no maior esfrega-
esfrega. Tudo esfregava tudo... Cobertos de espuma, ela sorriu brejeira:

285
─ Esse menino está me tentando! Desculpa, mas a menina está muito
maluquinha e não vai esperar tu te pores nela... – Riu – ela quer brincar de
cavalinho...
Cruzou os dedos no meu pescoço e “subiu de elevador”. Deu-me um
beijo alucinante, enquanto a menina procurava pela dureza, e “desceu de
elevador” dando beijinhos chupitados... Aquela alegria toda! Foi uma
cavalgada memorável, num galope alucinado em que ela pedia taponas para
atingir o máximo de excitação e empolgação, até que a joguei na cama
cobertos de espuma... Juras de Amor? Só mesmo como piada! O tapinha na
bunda é para despertar aquele benquerer que explode na fúria da paixão. E
a fúria da paixão não dispensa nada, nem taponas! Estapeada na bunda
torna-se uma potranca a galopar resfolegante de prazer. E o que ela faz com
o menino! Eu já não saberia dizer quem é mais bruto, o Amadinho ou a Nina
Arroxana: ambos se brutalizam à sua maneira.
Quando descemos, o jantar estava posto à luz de velas emoldurado
pelo sorriso relaxante das crianças: “Bom apetite”! Meu Deus! Como é bom
ver o Amor florescer de todos os lados!

Jantamos rindo muito. Certa vez, Karina notou que o pódio do nosso
amor não tinha desníveis: éramos todos amados com a mesma intensidade.
Na verdade, todos amamos todos com a mesma alegria de amar. O que
abolimos pela raiz foram todos os símbolos e usos patriarcais, da educação
das crianças à ostentação de poder, e parece-me que a mesa retangular, com
destaque para o patriarca, é o principal deles.
Mandei fazer uma mesa redonda e nos sentamos lado a lado e
fazemos as refeições na maior cordialidade e alegria. Ninguém manda em
ninguém. Ao contrário, cada um dá a todos o melhor de si: Amor. Nossas
crianças são educadas com atenção para a sua inteligência e estimuladas a
falar, comentar, debater... Queremos líderes, não subalternos, não paus-
mandados. Recebem cultura desde a mais tenra idade e, à medida que vão
aprendendo os valores da vida, é-lhes permitido falar neles naturalmente
em linguagem culta, não de rua. Assim, salvo vulgaridades fora de hora, não
há assunto proibido, mas qualquer deslize é censurado sempre com
sabedoria.
Entendemos a sexualidade como um valor cultural importante na
nossa época e não vemos porque proibi-la, principalmente aos adolescentes
e pré-adolescentes, visto que proibir é vício inócuo de patriarca. E porque
o sexo na sua forma mais deletéria, a pornografia, está exposta a todos,
inclusive às crianças, na internet, na televisão, nos jornais, nas revistas e,
principalmente, na linguagem chula das próprias crianças e adolescentes. É

286
óbvio que o que temos a fazer é instruí-los e informá-los sobre os prazeres
e perigos do sexo e, principalmente, sobre o Amor no sexo, para não
cometerem erros graves e acabarem aidéticos, alcoólatras, drogados e as
meninas grávidas. Já há crianças do primeiro grau roubando giz da escola,
para moer e brincarem de traficantes.
E o respeito? Na verdade eu quizilo essa palavra: sugere
distanciamento: “Olha o respeito! Respeite-me! Recolha-se à sua
insignificante posição de subalterno”! De verdade? Quem tem de dizer isso
para ser respeitado, não merece nenhum respeito... Amor, então! O patriarca
no trono e a esposa e os filhos de joelhos: “Sim, senhor! Sim, senhor”!
Verdadeiramente odioso! E pobres mulheres! São apenas copuladas...
Quero as pessoas que amo junto do coração. As demais são respeitadas...
Jantamos como sempre na maior cordialidade: a comida desce
prazerosa e a digestão, leve e fácil. É claro que há respeito! Quem ama
respeita. Amigos se respeitam. Onde há cordialidade há respeito. O
respeito é-lhes intrínseco. Mas respeito bom que nós mesmos nos impomos
em relação às pessoas amáveis e dignas. Porém não dá para respeitar a
prepotência. Essa vertente do respeito é maligna porque implica no medo e
na subserviência e é imposta com castigos, surras, ordens, proibições,
imposição de poder, mandonismo, prepotência... É isso mesmo! O patriarca
ordena, proíbe, bate, mete medo, ou seja: adestra, não educa.
Nossas crianças nunca nos temeram nem nos respeitaram: nunca
ficaram a distância como um cachorrinho abanando o rabinho à espera de
ordem para chegar perto. Eles têm-nos muito mais do que respeito: Amor,
carinho, dedicação.
Respeito nós temos por quem não amamos e, não raro, até odiamos:
políticos, chefes, mandões... Ao final, fomos brindados com um inesperado
discurso de Karina:
─ Papai, eu refleti sobre o que me disseste ao chegares. Foram
palavras duras, mas sábias e com palavras sábias se fez esta menininha
maravilhosa que é o encanto e o orgulho de vocês. Orgulho legítimo e
nobre, reconheço, porque eu sou realmente maravilhosa e tudo o que sou
devo a vocês. É, sou obra de vocês, o que também é motivo do meu orgulho
nada pequeno e me faz esforçar-me para ser digna de vocês.
Acho que ser mestra em mulher me fez cuidar que já era sábia, mas
sou apenas uma menina tola e tenho mesmo que me cuidar para não quebrar
a cara. Mas não sou bobinha e não serei playground de ninguém. Trancarei
a sete chaves minha cumbuquinha, mas brincarei em playgrounds para me
divertir e aprender como seria um homem adequado para mim e tornar-me
apta a identificar aquelas virtudes em que ainda não sou perita em perceber:

287
ternura, hombridade, lealdade, dignidade e inteligência... Já que não posso
desfrutar do Amor, brincarei com a paixão. – Riu – Serei analista de
projetos de homem e brincarei com projetos de homem até encontrar um
digno de mim. Vou descobrir os mistérios que escondem em seus corações.
Aline e eu estávamos muito emocionados. Vi mesmo duas pérolas
cristalinas brilharem no verde dos seus olhinhos, mas nos mijamos de rir
com aquela tirada sarcástica. Ela realmente não conseguia engolir não
existir um menino digno dela. Envolvi-a num abraço apertado e confortei-a:
─ Tu queres deixar-me mais encantado e orgulhoso de ti? Acho que
não há mais por onde. Foi um discurso lindo. Tu merecerias um menino com
doutorado em homem a quem tu pudesses dar esse Amor tão grande que te
oprime o peito, mas tens de ter paciência porque não existem meninos nem
mesmo graduados em homem. Estão todos no fundamental tentando aprender
a “pegar” uma garota.
Embora amenizada em alguns aspectos, a educação que se dá às
crianças ainda é a patriarcal, inteiramente defeituosa, e um de seus maiores
defeitos é que os pais consideram as crianças imbecis, incapazes de
aprender. Se, em alguns casos, já não as castigam também não as ensinam,
não dão nenhuma importância ou atenção à inteligência da criança que já
nasce com ela e precisa de palavras sábias e lições de vida para
desenvolvê-la numa criança maravilhosa como tu. E, horror dos horrores,
acham que é falta de respeito (sempre o respeito!) falarem de educação
sexual com elas, principalmente com as meninas. Quando muito o pai
manda os garotos transarem todas as meninas com receio de que se tornem
homossexuais e as meninas que se fodam, principalmente as suas. Como tu
vês, só resta às crianças o acesso à pornografia e à linguagem chula dos
colegas. Tu aprendeste alguma coisa com elas?
─ Não, papai, nada que prestasse. Só me especializei em
sexualidade com os ensinamentos da mamãe-amiguinha. Foi fascinante!
─ Pois não por culpa deles, mas dos pais, os meninos só começam a
amadurecer para se tornarem homens, na faculdade. Por isso, eles são
pouco mais ou menos como o Francisco: tudo o que querem é transar muitas
meninas para não se tornarem gays e nem isso aprendem a fazer com
competência. Haverá exceções? Há, mas são raras e só confirmam a regra.
E encontrar uma... E, mesmo se a encontrasses, dificilmente se ombrearia
contigo em inteligência e cultura, inclusive sexual. Nós não te damos ordens
nem te proibimos de nada, apenas te apontamos as pedras do caminho para
que não tropeces na vida. Tu encontrarás o Amor risonho, mas tens de
descartar os Barrabás da vida para que chegues a ele.
Na tua idade, eu não diferia muito do Francisco, embora tivesse

288
melhor linguagem. Não se aprendia absolutamente nada dos pais e na escola
era só o fundamental! De ti, porém, poderíamos dizer que tu lês demais e
não te esqueças de que nasceste de uma barriguinha limpa que protegeu e
melhorou os teus neurônios e a tua saúde. Tu estás pelo menos quatro ou
cinco anos à frente da tua idade e isso em relação aos melhores projetos de
homem e também de mulher.
O teu discurso deslumbrou-me, é digno de um bom estudante de
faculdade e é quando chegares lá que tu deves começar a procurar pelo teu
par. Tu estarás mais madura, inclusive fisicamente, e encontrarás um homem
compatível contigo, com a tua inteligência, com a tua cultura e com a tua
ternura. Nunca te esqueças da ternura. Se quiseres um homem para toda a
vida, a ternura é crucial. Até lá estuda e brinca, sê criança e se quiseres
brincar em playgrounds... protege-te para não te tornares um.
Se a mimosinha suspeitar de paixão ela te deixará maluca porque
ela vai querer descobri-la em toda a intensidade. E daí, para te tornares
playground da molecada e atingires a degradação máxima basta só mais um
deslize, como aconteceu com a Selene que a tua mãezinha te referiu e
recentemente num colégio: uma menina de treze anos abandonou a sala de
aula para ir transar com dois moleques no banheiro do colégio. Um deles
ainda filmou toda a cena com o celular e colocou-a na internet. A pobre
menina tem a reputação manchada para a vida inteira, por mais que ande na
linha, porque da internet ninguém escapa. E isso acontece com mais
frequência a cada dia.
É para os celulares e filmadoras que deves estar sempre atenta,
porque, se fores fotografada ou filmada em situação comprometedora por
algum safado, nunca mais te livrarás da internet. Jamais te exponhas em
lugares e situações em que possas ser fotografada, inclusive por câmeras
ocultas. E sobre tudo não te dispas.
Não creias, porém, que, mesmo na faculdade, tu vais encontrar
aqueles Ts, lagartixa, etc. Quando muito encontrarás sexo mais ou menos
selvagem. Teremos de ensinar ao teu noivo. Daí a importância daqueles
testes que aprendeste. Para se chegar ao sexo selvagem ou ir além dele é
preciso boa sustentação da ereção e que o homem seja terno e interessado
no prazer da mulher.
Se afortunadamente descobrires no menino muita ternura e ele se
destacar nas demais qualidades, ainda que longe de ombrear-se contigo; se
vires nele um bom “projeto de homem”; se ele se mostrar apaixonado por ti,
tu podes também te mostrares apaixonada e interessada nele, fazendo-o
entender que tu queres casar virgem e que uma transa vaginal tu só
admitirias depois do casamento. Tu poderias acelerar o seu

289
amadurecimento como fizeste com tuas amiguinhas e até com o Ric e, se
vires que ele é digno de ti e que evolui para um bom projeto de homem,
poderão fazer os testes e planos para um futuro casamento. Nesse caso
manda-o falar comigo. União para a vida toda é coisa muito séria e todo o
cuidado é pouco.
Tu deves estar muito atenta para o fato de seres muito terna. As
pessoas muito ternas tendem a deixar falar o coração, como fizeste com o
Francisco. Para não te machucares deves te impor sempre o império da
razão e só avançares no Amor quando estiveres segura de teres encontrado
ternura no menino pretendido e que ele seja compatível com a tua
inteligência e a tua cultura. Só quando estiveres segura de que é o homem
da tua vida e tu és a mulher da vida dele, e tiveres feito os testes
satisfatoriamente, é que tu poderás abrir-lhe, com segurança, o coração e
otras cositas más.
Blaise Pascal, filósofo francês (1623–1662), disse que “o coração
tem razões que a própria razão desconhece”. Tu tens de estar atenta para
isso. As “razões” do coração nunca são sábias: juntamente com o corpo ele
reclama prazer e gozo, mesmo que não haja Amor, ou seja, anseia por
paixão. E pode fazê-lo com tanta veemência que embota a tua razão, como
aconteceu contigo em relação ao Francisco. Ele é de fato a fonte da paixão,
digna ou vulgar, não do Amor.
Para Freud “a paixão seria um sintoma neurótico”. Causou
escândalo na época, mas ele não estava de todo errado: que são os tarados
e pedófilos senão neuróticos obcecados por paixão? A paixão é parte do
nosso instinto animal e ágil em esquivar-se da razão. Deves estar atenta
para que a tua razão impere sempre, inclusive e principalmente sobre as
razões do coração. Para não lhe sucumbires, só colocando a cama como o
teu objetivo final: a coroação do casamento. Abrir as pernas é para a vida
toda e, se não for com um homem confiável e digno de ti, tu viras
playground.
Tu ainda és muito novinha e vives numa democracia plena sem
ideologias, mandos ou restrições, além das que tu e a tua dignidade te
impõem, onde eu governo, mamãe administra e tu e o Ric são governados
objetivando o vosso crescimento intelectual a par com o crescimento físico.
E vocês ainda têm muito que amadurecer. É verdade que já estás bastante
madura para administrar a tua própria democracia, mas só quando
completares quatorze anos estarás madura para conquistares e elegeres o
teu governante. Terás de analisá-lo para descobrir se foi um projeto bem
sucedido e, se te agradar completamente, passarás aos testes que deverão
prosseguir, de preferência, até te casares para que haja certeza de não

290
estares cometendo erros.
Teu bisavô já dizia que não é difícil viver, o difícil é saber viver.
São as dificuldades da vida que estamos tentando te ensinar para não
bateres contra os castigos implacáveis com que ela pune os que erram.
Nada importante ou grandioso é fácil. A vida tem suas recompensas felizes
e estimulantes quando a sabemos levar com sabedoria, mas tem também
suas durezas: Per aspera ad astrum, diziam os romanos: os caminhos que
levam aos astros são sempre ásperos, mas tu encontrarás a luz radiante no
final.
Quando temos um grande projeto para realizar, especialmente no
campo amoroso, precisamos preparar o coração para ele e a espera e a luta
pela sua conquista nos faz dar-lhe o devido valor: quando cativares o teu
homem, digno de ti, tu entenderás que foi uma luta árdua e verás que é uma
pessoa rara que te merecerá dedicação total. Tu sentirás no fundo do teu
coração ser o teu bem mais precioso e o terás nos teus cuidados a vida
toda.
Se fosse só sorrir, como fizeste com o Francisco, e tivesses o
homem dos teus sonhos aos teus pés, nem teria graça e logo te enfadarias
dele e sorririas para outro... e mais outro... como qualquer cadela vadia.
Apesar do enorme vazio existencial que as assoberba, elas cuidam ter os
homens dos seus sonhos, porque nunca receberam ternura de um macho
selvagem.
De carinha triste, ela foi enfática:
─ Mais palavras duras! Duras, mas sábias, bem vejo!
Tomei-lhe o rostinho entre as mãos e disse-lhe, olhando no fundo
dos seus olhos:
─ Sabes o que acontece? As pessoas querem receber Amor, mas não
pensam em dá-lo e o Amor é como a felicidade, para que o tenhamos é
preciso dá-lo. E o realmente maravilhoso é que mais teremos quanto mais
dermos. No Amor conjugal, porém, também temos de dar muito Amor, mas
a alguém que nos seja muito especial, que seja o nosso bem mais precioso e
que estará a vida inteira nos nossos cuidados. Quando tu receberes muito
Amor, receberás, com certeza, muita paixão da que faz bem à alma
(cérebro) e ao coração e tu terás fartura de hormônios do prazer para
retribuíres um Amor grandioso e te empolgares pela vida.
Mas tens de pesquisar muito, analisando projetos de homem, até
descobrires um que satisfaça plenamente todas as tuas aspirações pelo
homem da tua vida, mas não desesperes se o encontrares só depois dos
quatorze anos num homem adulto. Homens completos são tão raros quanto
mulheres completas e tua mãe só encontrou o seu na festa dos seus dezoito

291
anos, mas pergunta-lhe se não valeu a pena.
De carinha triste, choramingou:
─ Hoje foi o dia das palavras duras! Mas elas são necessárias para
se fazer uma mulher sábia, não é?
─ Vou dar-te uma frase para meditares baseada num pensamento de
Confúcio: É impossível mudares os ventos, mas já controlas as velas. Não
as deixes se soltarem.
Então brinquei:
─ Até que sejas PhD em Amor, deslumbrando-te com um homem
completo, fascinado por ti, sabes o que uma mestrazinha adorável como tu
deve fazer, além de brincar e estudar, para que a vida corra macia e sem
sobressaltos?
Ela sorriu:
─ O que é?
─ Amar o papai.
Ela pulou-me no pescoço e cobriu-me de beijos. Levei-a para o
quarto e lhe disse:
─ Prepara o teu coraçãozinho para um grande Amor que tu o terás.
Pode demorar, mas tu terás o vento a favor.
Brinquei, dando-lhe uma palmadinha carinhosa na bunda:
─ E sabes do que mais? Vai tomar banho!
Ela correu rindo para o chuveiro. Quando se deitou fui até ela,
cobri-a, desejei-lhe boa noite e beijei-a. Disse-lhe:
─ Eu te amo tanto que deveria bastar-te, não é?
Vi-lhe uma lágrima furtiva ao retrucar-me:
─ Mas tu não dormes comigo e eu queria dormir aquecida de ternura
como a mamãe.
Deus Meu! O que poderia eu fazer por aquele anjo? Dei-lhe um
beijo e disse-lhe:
─ Eu sei o que tu queres, filhinha, mas a ternura é tão rara quanto o
Amor. Tua mãezinha só a encontrou aos dezoito anos. Espero que tu sejas
mais afortunada. Menininhas boazinhas dormem abraçadas a ursinhos fofos.
Abraça o teu ursinho, fecha os olhinhos e relaxa, fazendo tua oração ao teu
Amigão lá do Alto, que eu ficarei junto de ti até ele enviar o teu anjo da
guarda para te adormecer e dormir contigo. Tu não percebes, mas ele
sempre dorme ao teu lado protegendo-te e aquecendo-te de ternura. O teu
anjo da guarda é uma criaturinha linda e meiga como tu. É ele que te aquece
e te faz ter sonhos lindos.
Ela logo adormeceu. Dei-lhe um longo beijo e fui deitar-me ao lado
de Aline. Às vésperas de “amadurecer”, ela estava à espera de mais Amor

292
com amassos e otras cositas más para comemorar a grande data com muito
gozo tórrido, mas notou meus olhos marejados e perguntou aflita:
─ O que é que tu tens?
Eu explodi:
─ O mundo é uma merda!
Ela pulou sobre mim, debruçando-se no meu peito:
─ O que aconteceu?
─ O mundo, mais pervertido a cada dia, obriga as crianças a terem
sonhos de adulto, instigando-as a realizá-los e, se elas ousam fazê-lo,
arruínam toda uma vida. Se as ensinamos a esperar castamente pelo Amor,
sofrem com a impossibilidade de realizarem seus sonhos de adulto... Se não
mudarmos a educação, os políticos e o mundo, nos tornaremos todos
cúmplices de delinquentes patrimoniais e sexuais. Teremos todo o mundo
roubando e fodendo todo o mundo, inclusive as criancinhas.
Haverá uma reserva moral para mudar? Dos governos e das
religiões não podemos esperar nada, porque uns só pensam em aumentar
impostos para terem mais onde meterem a mão e as outras só cuidam de
proibir a camisinha e avanços científicos, além de pregar a castidade, como
se não estivessem viciadas de clérigos pedófilos que elas nem pensam em
punir porque os “Dez Mandamentos,” que nos impigem como lei de Deus,
não condenam a pedofilia nem estupradores... E por que diabos mudariam
alguma coisa se em milhares de anos não fizeram nada para melhorá-lo e o
mundo está ficando, cada dia mais, do jeitinho que o diabo gosta?

Fazia algum tempo que eu não dava uma incrementada nas nossas
transas. Tínhamos muitas variações e posições, o que evitava que
fizéssemos duas transas idênticas seguidas. Explorávamos seguidamente as
posições do Kama Sutra, inclusive as mais acrobáticas, mas uma mudança
radical, de vez em quando, torna tudo mais saboroso. Aquela menina
balzaquiana tinha deveras o frescor juvenil de outrora, tanto que me
emocionava e me enchia os olhos e a sensibilidade tátil quando lhe
apertava os mimos voluptuosos.
No amor transcendental o sexo não pode ser apenas a profilaxia da
libido, tendendo à rotina. Tem de ser o principal divertimento do casal. Tem
de ser fundamentalmente Amor unindo corações ou será apenas pegadas.
Variar é fundamental. Tem de ser brinquedo.
Eu queria surpreendê-la com algo que alterasse substancialmente a
mesmice. Visitando sex shops, despertou-me a atenção uma fantasia de
aeromoça bem sensual que era uma graça. Compunha-se de uma blusinha
branca com decote voluptuoso, uma saiazinha preta curtíssima, um

293
casaquinho e um bonezinho também pretos. Eu bem sabia que ela seria
capaz de inventar uma coreografia luxuriante para o strip-tease da
aeromoça e imaginá-la na volúpia daquelas peças pequeninas... Meu Deus!
Acordei com Aline dormindo profundamente nos meus braços. Tive
de acordá-la com beijinhos e esfregando uma caixinha de joias no seu
narizinho. Mordi-lhe a orelha e murmurei:
─ Feliz aniversário, balzaquiana da minha vida. Quero que sejas o
meu tesão por todos os meus dias, por isso estou-te dando uma joiazinha
para enfeitar a joia que alegra e enche de gozo todo o meu viver e dar maior
brilho a esses olhinhos resplandecentes de Amor.
Ela abraçou-me, beijou-me e sorriu-me com ternura, abrindo a
caixinha toda afogueada:
─ É maravilhoso acordar com palavras de Amor, e mimoseada com
o medalhão mais lindo que já vi. E da cor dos meus olhinhos!
Ela guardava com carinho colar e brincos de esmeraldas que eu lhe
dera no seu primeiro aniversário juntos. Abriu o porta-joias, pegou-os
pressurosa e deu-mos transbordante de alegria:
─ Põe tudo em mim!
Tirou a camisolinha e abriu as pernas:
─ Tudo é tudo mesmo!
Arrebatada de gozo desenfreado, tornou a beijar-me emocionada,
dando-me o mais lindo dos seus sorrisos:
─ Como posso recompensar-te por um mimo tão lindo e Amor tão
intenso?
─ Ummmmm! É muito bom ouvir isso, porque eu estou mesmo
querendo uma recompensa. Tu já me deste o que eu queria: esse sorriso
esmeraldino, mas como queres recompensar-se em dobro...
─ Então me ordena: o que é que tu queres?
Sorri:
─ É mesmo uma ordem! Eu não vou abrir mão da recompensa.
Ela sorriu deleitada:
─ Então esfrega o meu seio, que é a minha lâmpada mágica, e
ordena, meu amo! O teu gênio realizará o teu desejo num piscar de olhos.
─ Meu Amor, eu tenho uma fantasia para logo à noite e quero tua
colaboração.
Fantasia era, para ela, uma palavra mágica que a colocou de bruços
com os cotovelos no meu peito, num piscar de olhos, toda enternecida:
─ Qual é a fantasia, meu amo?
─ Meu benquerer, eu vi a aeromoça tão linda, tão sedutora, que
fiquei louquinho por ela. Vou trazê-la logo à noite. Tu vais amá-la. Quero

294
que tu me ajudes a comê-la no maior tesão. Ela é um fascínio!
Ela pareceu ter levado um choque, mas sorriu:
─ Então esfrega a minha outra lâmpada mágica. É uma fantasia
difícil e eu preciso estar cheia de tesão.
Cobri-lhe parte do corpo com o meu, fincando os cotovelos na cama
e disse-lhe sorrindo:
─ Ah, Amor, não vou ter beicinho amuado para beijar?
Ela riu:
─ Beicinho sim, mas não amuo, as aeromoças são lindas, mas não
são burras.
E, com um muxoxo, fez um biquinho encantador. Quando lhe beijava
o beicinho, ela abraçou-me com braços e pernas e beijou-me com paixão.
Eu lhe disse:
─ Que felicidade te ver livre do teu pior demônio: Xô, ciúme!
Agora, és a mulher perfeita – sorri – e eu vou querer comer a menina da
mulher perfeita. O que é que tu queres?
─ Vê como eu estou maciazinha e doce para ti... Olha o beicinho...
Isso significa que estou louquinha pelo teu Amor bruto... Quanto mais
maciazinha eu estiver mais eu te quero bruto... “Duro com duro não faz bom
muro”, mas macio com duro... Caraca!

295
Capítulo XXII – KARINA ESCRITORA

Convencida de que encontrar um menino para amar era loteria,


Karina se pôs de fato a analisar projetos de homem e a brincar em seus
playgrounds. Se não podia extasiar-se com o Amor, desfrutaria ao menos da
paixão e se tornaria especialista também em homens. Com o objetivo de
pesquisar e aprender a distinguir virtudes de vícios para selecionar o
homem perfeito para ela, relaxou nas cantadas para aprender também sobre
os machões e seu linguajar. Queria o conhecimento completo dos homens.
Ao ouvir seus novos propósitos, Aline deixou escapar que eu estava
escrevendo este livro para ela: “Terá o essencial da vida e do mundo. Será
o teu guia para escolheres sempre o melhor para ti e fazeres sempre a coisa
certa”. Karina ficou toda acesa: Ah, mãezinha, eu quero acompanhar a
escrita, quero aprender a escrever bonito como o papai. Aline deu-lhe a
senha e ela passou a acompanhar cada trecho acrescentado e fazia
observações em rosa, sua cor preferida. Chegou mesmo a censurar-me:
“Ah, papai, eu sou uma Fêmea com “F” maiúsculo como a mamãe e, quando
eu absorver toda a sua sabedoria, serei igualzinha a ela”.
Brincalhona, começou a assinar suas interferências: “Karina, A
Fêmea”. E abria com uma nota: “A Fêmea esteve aqui”. Ela de fato
orgulhava-se de sua feminilidade. Não tardou a dar forma literária aos seus
escritos e logo estava fazendo narrativas completas de suas pesquisas
sexuais, No estudo dos homens, revelou-se uma antropóloga inata.
Seus textos tornaram-se deveras interessantes e carregados nas
cores: ternura, paixão, alegria, esperança, paz, o negror da raiva de ter de
descartar um namorado que lhe atiçava a libido, fazendo-a sentir-se “A
Fêmea”. De início eu os adaptava ou me apossava de alguma frase, mas já
me dispusera a formatá-los no texto.

À medida que se aprofundava na análise de meninos e no desfrute


da paixão, mais estarrecida ficava com o vazio daquelas mentes sem
objetivos. Dava-se conta de que o único projeto que tinham era de fato
transar o maior número possível de meninas para não se tornarem gays. Era

296
quando se sentia mais sortuda e fascinada pelos pais: “eu poderia ser um
desses imensos vazios, dando para todos eles”. E ficava mais determinada
a não permitir penetrações: “Intromissão no meu âmago? Só para o Amor”!

Descoroçoada de encontrar um Amor de menino, procurou pelos


meninos da paixão e tornou-se menos seletiva nas cantadas para analisar
todo o espectro de mentes masculinas e não se inibia com meninos bem
dotados. Então espicaçava a mãe, rindo:
─ Amiguinha do céu! Aquele menino tem um pinto tão grande!
A mãe retrucava-lhe:
─ Se te apaixonares por ele, não poderás fazer Amor tórrido!
Ela tornava-se brincalhona e gozadora graças às piadas que a mãe
lhe reproduzia aqui e acolá, sempre na pele da amiguinha, e ao
relacionamento com tantas cabeças vazias de objetivos. Também adquiria
confiança, maturidade e determinação. A menarca veio dar-lhe maior
conhecimento de si mesma e maturidade sexual. Industriada do que podia
fazer e do que devia evitar, afastou pejos e avançou nos prazeres.
Ela sabia o que queria e aprendeu a lidar com o juízo: Qualquer
menção à cama ou abrir de pernas ou a expor-se, a põe alerta. Aprendera
também a lidar com as situações e o autocontrole. Craque em judô, tem um
ippon fulminante e é faixa preta em capoeira. Ninguém a obriga ao que ela
não queira.
Confiante no seu discernimento, arbítrio, determinação e
autocontrole, ao avançar nos doze anos, passou a interessar-se por garotos
de dezesseis e até dezessete anos. Teria parceiros mais maduros e, quem
sabe, ela encontraria um bom projeto de homem.
A cada um que cativava, procedia com discrição, conferindo os
números da análise, mas, ao descartá-lo como o Amor da sua vida,
esquecia pudores e procurava se divertir tudo o que podia, suportando-o
apenas o tempo necessário para, além das brincadeiras eróticas, analisar-
lhe a inteligência, a cultura, a ternura, a idoneidade, a lealdade, a dignidade
ou a falta delas...
Assim, ia ficando perita em reconhecer essas virtudes confrontando-
as com as desvirtudes. Interessava-lhe aprender tudo sobre os homens e a
reconhecer as qualidades de um homem de verdade. Esgotada a análise,
descartava-o. Até aí, porém, abria-se ao desfrute sexual, sem peias, mas
segura de manter a virgindade.

O garoto da vez tinha dezessete anos e ela, entrada nos treze, era
uma garota exuberante, voluptuosa e senhora de si. Ele era dos bem

297
dotados. Era de fato o mais bem dotado que ela encontrara e contrastava
com o anterior, um japonês de exígua dotação. Não teve dificuldade em
perceber que era um machão e dos “bons”. Ia descartá-lo com um rotundo
“não” quando lhe ocorreu que seria uma ótima oportunidade para conhecer
a essência do pensamento machista. Ela ouvira pérolas do machismo dos
namoradinhos anteriores, especialmente quando se descoroçoavam de
transá-la, e queria conhecer o machão por inteiro.
Sabia que um machão como aquele era algo perigoso para a
mimosinha, mas, no cinema ela sentia-se segura e, em casa, além da
proteção dos cães, ela era bailarina e dançarina desde os três anos de idade
com excepcional flexibilidade, podendo colocar um pé onde quisesse, até
acima da cabeça, além das incursões pelas artes marciais. Tinha certeza de
ser, literalmente, “um pé no saco” para qualquer machão mais atrevido.
Entendeu que teria uma visão ampla do machismo enquanto se divertiria às
baldas com aquela super-dotação que a impressionava deveras.
Confidenciou à mãe, rindo empolgada e relatou no livro:
─ Amiguinha do céu! Eu estou deslumbrada! O Edu tem um baita
dum pinto!
A amiguinha retrucou-me, aflita:
─ Vê lá se te apaixonas! Nunca terás Amor tórrido e correrás sérios
riscos se ele te foder com raiva ou super empolgado. Não te esqueças de
que os machões odeiam as mulheres. Eles só fodem, não fazem Amor!
─ Eu sei, amiguinha, aquilo é só para pesquisa e brincadeiras e eu
posso mantê-lo sob controle. E, se for preciso, pé ou joelho no saco, pé na
cara ou pé na bunda, sou craque em capoeira e golpes de defesa. Foi o que
mais treinamos. Mas aquela estrovenga é mesmo a maior empolgação e
forma um bruto contraste com a vara do Kazuto, tão curta que não dava nem
para cutucar a onça!
Minha amiguinha mijou-se de tanto rir, e eu continuei brincando:
─ Tive de descartá-lo voando: imagina que ele era louco por
malhação e disse ter uma tonelada de dinamite nos braços e outra nas
pernas: tanta dinamite com um pavio tão curto!
Mas o Edu é deveras excitante para brincadeirinhas. Masturbar o
meu gigante é um fascínio e eu vou querer tê-lo entre as coxas, em
encoxadas épicas. Estou fascinada por inaugurar as minhas coxas naquela
massa bruta.
Edu é falto de ternura e inteligência, mas dá uma excitação! Não é
muito bom com o clitóris, mas eu o controlo. Deve ser a falta de ternura.
Encoxadas no gigante, porém, hão de ser um arraso. O certo é que ele está
fascinado pela gostosura da deusa. Amor como tu o defines não há, mas dá

298
para exercitar a paixão – riu – bem grandona e voluptuosa! E o que aquela
paixão me quer...
Decidi experimentar as encoxadas para aprender e divertir-me. Não
há o que testar, mas encoxadas também dão prazer, não é? E com todo
aquele volume deve ser um arraso de excitação, mas quando tiver analisado
suas qualidades ou a falta delas e cativar outro menino para amar ou
simplesmente analisar, dispenso-o. Não temos de ser fiéis a machões, não
é? Já que não dá para amá-lo vou me divertir naquele playground
exuberante. – Ri – Ele tem a cabeça inferior fascinante, mas a superior, que
deveria ser superior, é de caracacá! – Explodi em riso – Não deve ter
estudado além do maternal incompleto: só diz banalidades.
Posso convidá-lo para vir até nossa casa, hoje? Tu nos deixas ao pé
do portão. Eu levo aquele shortinho curtinho, justo e de tecido macio. Vão
ser encoxadas de arrasar nas coxas nuas, com a mimosinha bem protegida.
Eu quero sim avançar mais. Quero conhecer as encoxadas e estar apta
quando encontrar a ternura. No nicho atrás do portão eu me sentirei segura
e, se ele avançar além da conta, tromba nas minhas artes marciais.
A expectativa de avançar nas experiências sexuais deixava-me
muito bem humorada, vendo tudo cor de rosa, e a amiguinha não tinha
restrições ao meu bom humor e segurava o queixo que lhe doía de tanto rir.
Avessa a proibições, liberou-me:
─ Tu sabes que nesta casa sempre imperou a democracia total.
Ideologias, falsos moralismos e religiões ficam do lado de fora. Tudo o que
queremos cá dentro do coração é Deus, Amor e dignidade. Tu estás livre
para fazer o que quiseres, só não esqueças de que liberdade implica em
responsabilidade. Não te esqueças jamais de que serás, cada dia mais,
responsável por todos os teus atos, por todos os teus avanços... Tens de
estar plenamente consciente do que fizeres e dos riscos que corres para não
quebrares a cara. Não comprometas esse sorriso brincalhão que é o encanto
de papai e o meu. Tu estás me saindo mais safada do que a encomenda. Fico
imaginando que desatinos cometerias se fosses proibida e não tivesses a
minha orientação.
Eu senti um calafrio, mas dei vazas ao meu bom humor:
─ Eu tremo toda só de pensar. Com certeza seria discípula da
Clarinha e estaria enforcando aulas para fazer filmes pornôs com os
moleques no banheiro do colégio, como aquela menina que o papai
mencionou, e já teria hasteado a bandeira mesmo a meio pau no mastro do
Edu e até experimentado as cócegas no pavio curto do japa... A internet é
deveras instigante e se eu tivesse a cabecinha vazia...
A amiguinha arrepiou-se e me disse:

299
─ Eu confio no teu discernimento e na tua responsabilidade, mas
aquele shortinho! Tu vais deixar o garoto maluco de excitação. É
praticamente como se estivesses nua e com essas coxas e essa bundinha...
Tu relaxaste na seleção dos namoradinhos e o Edu é um molecão. Se
perderes o controle sobre ele, chama-me que, se for preciso, eu solto os
cachorros... Se me chamares e gritares “cães”, eu os solto ou o papai sai em
teu socorro, se já tiver chegado. Nunca te esqueças de que não tens de
avançar além do que queiras.
─ Mas é maluco de tesão que eu o quero! Quero deixá-lo doidão
para introduzir aquela massa bruta entre as minhas pernas com encoxadas
arrasadoras... Um menino lindo como ele se tivesse cabeça também em
cima, tamanho certo, e fosse prenhe de ternura... Deixa-me ao menos
desfrutar aquela paixão gigante. Ele não quer se divertir com a gostosa? Vou
divertir-me com o gigante. Juro que na mimosinha ele não toca, nem
ninguém como ele. – Ri – Não sou mais a tolinha do Francisco e já tenho
boa noção das virtudes que eu quero.
Eu bem sabia que minha amiguinha não queria passar por
repressora. Preferia instigar-me:
─ Se tens absoluto controle sobre o teu juízo e assumes a
responsabilidade pelos teus avanços, vai por o shortinho. O que estás
esperando?
Meu Deus, liberando-me para encoxadas, não para teste, mas só por
prazer! Eu me considerava deveras senhora dos meus controles e de minha
defesa pessoal e estava fascinada por extrapolar tudo o que pudesse.
Abusei de sua permissividade. Com alegria incontida, pleiteei:
─ Meus peitos já são bastante grandes para uma espanhola com
massagem safada, não são?
─ São razoáveis, mas para a massagem tens de ficar toda nua.
─ Mas antes de me despir eu testo minha ascendência sobre ele e,
por cima, eu tenho o controle e, por baixo, eu mantenho as pernas fechadas
e qualquer avanço além da conta, o meu pé ou o meu joelho... Também sei
bons golpes de judô, para imobilizá-lo, que nós treinamos muito no jardim.
Minha amiguinha riu:
─ Tu és impossível! Pega o óleo aromático e vai por o shortinho.
Quando me viu vestida para arrasar, toda apertada no shortinho que
mal chegava ao rés da bunda... combinando com uma blusa de seda muito
folgada, um godê caindo dos seios, que deixava a barriga de fora (eu
encantara-me com o desenho da blusa na costureira e pedira-lhe uma em
cetim e duas em seda), a amiguinha desconcertou-se. Deslumbrada, riu:
─ Ai, Meu Deus! Se eu fosse “sapatão”!

300
Eu ri, feliz por ser sedutora. Dei um volteio num passo de dança e
perguntei:
─ Estou muito voluptuosa?
─ Essa blusa safada sem soutien... Esses seios altaneiros e soltos
como dois pombos arrulhando com os biquinhos insinuando-se... Essa seda
caindo deles em folhos, deixando transparecer o arroxeado dos mamilos,
mais esse short... Tu és só volúpia!
Cada vez mais feliz e álacre, retruquei-lhe:
─ Eu adorei meu primeiro soutien quando fiquei peitudinha. Fez-me
sentir mulher e sedutora, mas eu não preciso, não é? Meus seios, embora
grandes, são um desafio à lei da gravidade.
─ Com certeza! Porém deusas não usam soutien, mas estão nuas
como obras de arte que são. Não vestem roupas indecentes que as encham
de volúpia. Uma mulher é mais sedutora vestida do que nua. Vestida, ela
esconde mistérios, mas os teus mistérios ocultos estão demasiado revelados
e soltos, muito mais instigantes do que se estivessem nus ou
convenientemente vestidos.
Eu estava um verdadeiro atentado ao pudor. Para minha amiguinha
eu estava um escândalo: Uma fêmea tão luxuriante naquela blusinha e
naquele shortinho era volúpia demais. Ela confiava no meu discernimento,
mas meus “seios virginais de perfeição divinal movimentando-se
livremente sob a seda... eram um verdadeiro desafio para qualquer homem
que me visse, especialmente tarados e pedófilos.
─ Com toda essa volúpia – ela concluiu – vais afrontar as
convenções e costumes sociais e, pior, se topares com um homem digno de
ti, ele vai achar feio o que tens de mais lindo: a tua dignidade e honradez e,
quando muito, te proporá uma pegada. Beleza e recato seduzem o Amor,
mas beleza e indecência atraem tudo o que não presta. Tu terás quantas
pegadas quiseres, mas se quiseres Amor, esquece, nunca o terás. O que
queres que pense de ti um homem digno: “Que gata gostosa e safada, tenho
de pegá-la”! Ou “Que Amor de menina, tomara que ela me sorria com
ternura ao cantá-la e esses mimos recatados são um bruto tesão”! Foi o que
papai pensou ao destacar-me, dentre um mar de meninas de biquíni, num
vestido simples e discreto. Disse-me isso e pediu-me:
─ Vai ao menos por o soutien, se não – riu – a tua mãezinha vai
pegar no meu pé o tempo todo. Na hora de “ralar” é fácil tirá-lo. E o melhor
é que, ao contrário da maioria das mulheres que usam soutien para realçar a
beleza, tu vais usá-lo para ocultar teus excessos de volúpia. E tirá-lo
durante a excitação é como te despires para o teu macho, para lhe entregar
toda a tua beleza excitada.

301
A amiguinha descia ao meu nível e éramos como duas amiguinhas
encantadas pela vida que se permitiam tudo, mas mamãe não tinha um pacto
de amizade e sim o compromisso de zelar pela minha segurança e dignidade
e interferia com censuras sempre que afrontávamos os perigos da vida:
─ Tua volúpia só interessa a ti e ao teu homem e é importante que o
homem, que queiras teu, se empolgue pela tua ternura, inteligência e
sabedoria e, só então, prestando atenção no teu corpo, se empolgue por tuas
volúpias recatadas. Para quem procura Amor, a decência é crucial, filhinha.
É claro que a nudez não ofende a Deus e é livre para a prática do
Amor. Deus criou-nos nus e nascemos nus. O Amor verdadeiro entre um
casal que se ame com as veras da alma, por mais erótico que seja, não
escandaliza Deus porque é uma das mais fascinantes de Suas criações
destinadas a gerar e perpetuar justamente o Amor, o objetivo máximo de
Deus ao criar-nos. Ele é Amor e quer que nos amemos. Deus criou-nos para
o Amor.
Satã é que contrapôs o poder para nossa ruína moral e nos ganhar. E
as religiões introduziram o “pecado original” e o preconceito para tornarem
o divinal Amor vergonhoso e imundo. Deus condena, sim, é bom salientar, o
sexo sem Amor ou irresponsável que gera filhos não desejados e que serão
educados sem Amor e até com ódio, ou o sexo que afronta o pudor, a
liberdade e a dignidade das pessoas. Esse é o sexo imundo de que devemos
nos envergonhar e nos penitenciar.
Não foi o primeiro homo erectus, ou mesmo sapiens, que se cobriu
por vergonha. O homem inventou as roupas (no início, peles de animais)
para se proteger do frio. Só com o povoamento do mundo, ao escassearem
os bens de coleta como vegetais, peixes, caça miúda e mesmo a graúda, é
que o homem aprendeu a agricultar a terra, inventou a escravidão, e criou
os primeiros povoamentos, as primeiras normas e convenções sociais, os
pudores, a moral e os costumes. Então, com a demonização sexual, os
humanos começaram a envergonhar-se da nudez e a cobrir o corpo para
evitar o mal-estar próprio ou alheio e que se tornou crucial com o
adensamento populacional.
O que é realmente pecado é repudiar a obra de Deus e a capacidade
com que Ele nos dotou para fazer Amor é uma das maravilhas da criação
divina. Tu pesquisaste genética. Além das maravilhas que aprendeste, tu já
imaginaste se os homens tivessem de andar com a “barraca armada”? Ou se
ela se armasse automaticamente com o cheiro das fêmeas, em período fértil,
por ação de feromônios como ocorre com os animais?
Isso prova que o dedinho de Deus esteve sempre por traz da
evolução, enquanto geriu o mundo, e Ele sabia o que estava fazendo, tendo

302
visão do futuro remoto: imagina o que estaria acontecendo em transportes
coletivos se os homens se excitassem com o cheiro das mulheres em fase
fértil, o que fatalmente estaria acontecendo numa evolução aleatória ou tu
achas que uma evolução burra mudaria o sistema de procriação dos animais
ao evoluir para os humanos? O sistema dos feromônios acompanhou toda a
evolução. Por que mudaria tão radicalmente para os humanos? E a evolução
é sempre para melhor, mas o sistema dos feromônios seria mais cômodo e
funcional para o homem, tanto que há empresas fabricando “feromônios”
para o homem. Se eles funcionam é outra história. A rigor teria havido uma
involução. Entretanto a fricção e esfregação dos corpos instiga ao Amor, é
Amor, obviamente o objetivo de Deus ao criar-nos.
Os feromônios dispensam o Amor. Os animais não fazem Amor. Só
trepam. Os “feromônios humanos” seriam a alegria dos incapazes de amar:
seria só trepar na fêmea e gozar! Tu já imaginas-te a chatice que seria o
sexo? Mulher nenhuma gozaria! O gozo para os animais consiste em livrar-
se do cio em poucos segundos.
E se os animais, insetos, aves e peixes dependessem da fricção
peniana para procriar, eles conseguiriam? A evolução comandada por Deus
foi sempre sábia e benéfica aos humanos.
Nós temos é de agradecer a Deus por tantos cuidados ao projetar os
pênis dos nossos homens, fazendo-os fascinantes, voluptuosos, prazerosos,
funcionais e prevenindo desconfortos terríveis. É só compará-los com os
dos macacos que é como eles seriam se não tivessem evoluído.
A moral e os preconceitos religiosos não se cansam de
propagandear para torná-los feios e indecorosos, mas é inegável que são
deslumbrantes e nós temos de ensinar nossos homens a serem brutos com as
nossas mimosinhas, para torná-los prazerosos e realizarmos o Amor pleno.
Deus fez-nos à perfeição para o Amor. Se fosse pecado e só para
procriar, como os animais, Ele não teria de aperfeiçoar a evolução dos
genitais humanos além dos macacos. Ou Ele é muito mau e, para nos
torturar, deu-nos uma máquina maravilhosa de fazer Amor, mas nos proibiu
de usá-la? Isso é típico do deus hebreu, mas não do Deus de Jesus.
É óbvio que Ele proveu os humanos de genitais fascinantes e
prazerosos para que sejam o vínculo principal a enlaçar as pessoas em
união conjugal numa só carne, num só corpo e para que possam se divertir e
fazer o Amor, não a guerra. E os fez um para o outro, de modo que se
encaixem, brinquem, se amem, se completem, se reproduzam... Ao contrário
dos animais, é possível aos humanos se encaixarem em todas as posições
imagináveis como viste no Kama Sutra. Deus não nos limitou posições e
encaixes para que tivéssemos plena liberdade para fazer Amor.

303
Todas as diversões que conheces são muito recentes. Até mesmo o
teatro é da antiguidade próxima. Fazer Amor foi a única diversão possível
por muitos milênios e sempre se destinou a aproximar as pessoas para o
Amor e prevenir o estresse. Que outra explicação poderia haver para a
exuberância dos genitais humanos, e o gozo que lhes é inerente? Tu terias
algum interesse pelo Amor conjugal se o pênis do homem fosse ridículo
como os dos macacos e tu fosses apenas um repositório de esperma como
qualquer macaca? A evolução para o “homo sapiens” não ocorreu só com a
eretilidade e a inteligência. O Amor também foi um item essencial. Nós
somos a culminância da obra de Deus e o Amor a completa.

Há praias de nudismo onde a nudez total é exigida e as famílias se


divertem sem nenhum desconforto ou vergonha, mas já imaginaste o
alvoroço que irias causar se entrasses num ônibus ou trem lotado com essa
roupinha provocante, até mesmo com soutien? As mulheres iriam invejar-te
e odiar-te: “Vaca”! E a provocação dessas coxas nuas faria os homens
disputarem o espaço ao redor de ti para bolinar-te e te cuspir obscenidades
ao pé do ouvido. Eu não te quero de burca, filha, mas é preciso preservar a
dignidade.
Aceitei a reprimenda, claro, mas fiquei curiosa:
─ Tu já estiveste numa praia de nudismo?
Estive uma vez com papai e os teus padrinhos. Como se proíbe
qualquer espécie de sacanagem e mesmo olhares marotos, eu cuidei que
estarmos nus na natureza entre pessoas civilizadas, ajudaria a exorcizar os
meus demônios, e ajudou.
Papai ajudou-me a exorcizar o demônio da culpa: eu não poderia
ser penalizada porque Adão e Eva teriam descoberto os prazeres da paixão,
nos primórdios da humanidade, o que, afinal, era muito natural: nus na
natureza! E até os irracionais o descobrem, embora, para eles, o prazer
consista apenas em se livrarem do incômodo do cio e a participação do
parceiro é obrigatória, mas os humanos iriam procurar parceiros só para
isso se podem masturbar-se? É o deslumbramento do Amor ou, pelo menos,
o gozo da paixão que nos faz anelar pelo parceiro ou não iríamos além da
masturbação.
Eu não tinha celulites nem gordurinhas, embora isso não seja
problema entre naturistas. Medo? Dei um pé na bunda do demônio do medo
e fui. E lá a beleza me cativou: o marzão separado da mata exuberante por
uma faixa de areia fina e limpa, e pessoas, bastantes, mas não muitas,
integradas com aquela natureza luxuriante. O demônio do pudor também
levou o pé na bunda e fiquei como Deus me criou. O desconforto inicial não

304
demorou a dissipar-se e – riu – as mãos deixaram de se fazer de parras
quando notei que não éramos objeto da curiosidade dos naturistas e que
ficava ridícula tentando cobrir meus pudores. Na verdade, vergonha da
nudez é uma questão cultural, dos costumes. Daí estar sempre mudando no
tempo e no espaço: topless num lado burca no outro.
Sentimo-nos naturalmente livres para brincar, nadar, correr, tomar
sol... Foi muito agradável e, no dia seguinte, eu dei meu último reduto para
o teu pai. Senti-me tão livre!
Eu observei com uma ponta de inveja:
─ Isso deve ser como estar no Paraíso!
─ Quanto à nudez e à paisagem poder-se-ia dizer que é uma
experiência semelhante, mas existiu um paraíso? Tolices bíblicas à parte,
esse nome poderia ser dado à longa fase do início da humanidade até que o
povoamento crescente do mundo foi tornando escassos os víveres naturais.
Era hora de os humanos equilibrarem nascimentos e mortes, mas os mais
fortes tornaram-se os “lobos dos homens”.
Como já aprendeste, uma transa pode levar menos de um minuto,
mas o Amor consome muita energia, principalmente do macho, e demanda
tempo. Por isso os poderosos antigos trataram de matá-lo com verdadeira
sanha destrutiva, atribuindo-lhe o vício do “pecado original” e de
imundície, e inventando religiões, teocracias, tabus, pudores, medos,
culpas, preceitos, preconceitos e até morte na fogueira ou por
apedrejamento como ainda ocorre no Irã. Queriam homens e mulheres com
toda a energia para, escravizados, trabalharem até vinte horas por dia.
Só não conseguiram matá-lo porque o Amor é Deus e, portanto, é
imortal. Ele abriga-se no subconsciente (ou no coração, se preferires) e
aflora em sua magnificência se clamamos por Ele com ternura. É por isso
que o Amor chegou até nós e só é capaz de amar quem descobre Deus no
coração, mas poucos O notam. Essa é a razão de o Amor ser tão raro!
O Amor, a ternura, e a sensibilidade, tornaram-se “coisas de
mulher” e foram demonizados com o sexo, que só poderia ser praticado
para procriar e os homens, principalmente os escravos, terem mais tempo
livre para o trabalho e a guerra, mas, mesmo assim, maculado com o
“pecado original”. As transas passaram a ser rapidinhas e raras só para
fazer filhos e escravos. Só os poderosos, que não tinham o que fazer senão
infernizar a vida dos povos, podiam lambuzar-se à vontade em quantas
esposas, concubinas e escravas quisessem, inclusive para fazer mais
escravos. Só de esposas o rei Salomão tinha trezentas! E até a mulher foi
demonizada para que deixasse de ser a tentação do Amor que chamavam de
pecado.

305
Foi para nos salvar dessas iniquidades que Jesus deu a vida por
nós, em vão, como tu sabes. Criam religiões para o transformarem em
coletor de dízimos e até o venderem: “Queres Jesus? Vai depositar o teu
dinheiro no altar”! O que Jesus faria com o dinheiro? No tempo em que foi
homem e viveu na Terra, vestiu, comeu e defecou como qualquer um de nós,
teve total desprezo pelo dinheiro: “Dai a César o que é de César (o
dinheiro era romano, de ouro ou prata, e trazia a efígie de César) e a Deus o
que é de Deus”. Então, como homem, Ele foi crucificado e subiu aos Céus:
tornou-se apenas espírito e não faz mais nada daquelas coisas. Para que lhe
serviria o dinheiro que nem ouro é mais, mas papel sujo?

Se tu queres uma visão do verdadeiro paraíso, esquece as


historinhas do Moisés e imagina o Rio de Janeiro – um dos mais belos
recantos naturais do mundo se não o mais belo – sem asfalto nem concreto,
nem favelas e com os morros, inclusive os removidos, e com os índios nus
integrados à natureza e ainda vivendo dos frutos naturais da terra, quando
por lá aportaram os primeiros portugueses. Mas por que as Américas ainda
eram restos do paraíso?
Américo Vespúcio, que andou xeretando o Rio de Janeiro em 1502 e
observou as comunidades indígenas, deixou-nos a dica quando, no mesmo
ano, escreveu em carta a Lorenzo de Pierfrancesco de Medici sobre “um
povo que vivia sem reis nem religião e sem dinheiro, propriedade ou
comércio, em completa liberdade social e moral”.
Pero Vaz de Caminha já registrara, na carta da descoberta do Brasil
ao rei de Portugal, destaque para quatro ou cinco mulheres moças no grupo
de índios que contatou: “nuas como eles... e suas vergonhas tão nuas, e com
tanta inocência descobertas, que nisso não havia nenhuma vergonha”.

Parece fantástico, mas há apenas quinhentos anos, ainda havia por


aqui um vasto fragmento do paraíso em que os humanos (índios) viviam sem
rei nem religião, de coração puro, sem vergonha, medo ou culpa e amavam
em plena liberdade, com Amor no coração. Viviam completamente nus,
pois, nos trópicos, não tinham necessidade de se protegerem do frio. Isso
prova que vergonha, medo e culpa de estar nus ou fazer Amor são frutos de
tabus, preconceitos e proibições (mandonismo) que não existiam no paraíso
e, portanto, não são coisas de Deus.
É óbvio que viviam na mais natural e perfeita democracia, baseada
no Amor e na fraternidade e “em completa liberdade social e moral”, não
em ideologias e dogmas, já que não tinham reis nem religião e os costumes

306
eram os absolutamente naturais, não socialmente impostos. Não praticavam
os vícios da “civilização” e, por isso, não precisavam engravidar todas as
fêmeas para fazerem escravos, mantendo a população naturalmente
equilibrada com os frutos da terra e a disponibilidade de água. ´
É de estarrecer que, em mais de quinhentos anos ninguém tenha
analisado esses fatos à luz da filosofia e da antropologia, preferindo dar
crédito às tolices de Moisés e sandices religiosas.
Já percebeste que a democracia não é uma invenção moderna, mas é
inerente à natureza humana. Faz parte da criação divina. A humanidade
nasceu democrática e livre e foi perdendo essas dádivas divinas, nos
últimos doze mil anos, para a “civilização do poder” que matou a
democracia natural à medida que o homem se tornou o lobo do homem. A
democracia moderna com partidos e ideologias é a tentativa de restabelecer
a dignidade nas sociedades modernas, porém com “reis” e religiões,
partidos, ideologias e dogmas... A democracia divinal foi desvirtuada e
corrompida pela nobreza (políticos atuais) e clero, chegando à
monstruosidade do mensalão e do petrolão que caracterizam à perfeição a
nossa democracia atual estruturada em corrupção de partidos e
empreiteiras.
As três Américas (protegidas das “civilizações” durante milênios
pelos oceanos Atlântico e Pacífico) estiveram a salvo até que os
portugueses e outros povos desenvolveram as técnicas para as grandes
navegações e acabaram com o que restava do paraíso. Trouxeram para cá
os três pilares da “civilização” europeia: despotismo, religião e escravidão
com seus sustentáculos: o imperialismo; os jesuítas; a nobreza (políticos
antigos); o dinheiro; o comércio; a propriedade e os impostos.
O dinheiro, o comércio e os impostos, e até mesmo a propriedade,
são importantes para criar uma sociedade organizada e bem estruturada,
mas os governos os têm usado para espoliar o povo em grandes
roubalheiras como o mensalão, o petrolão, o caixa dois, o que é
inconcebível.
Trouxeram também a cultura do medo: pecado mortal para qualquer
tolice como exagerar no comer ou olhar para uma mulher ou fazer Amor:
“Não Pecar Contra a Castidade”. Porém os grandes pecados praticados
pelos poderosos como o estupro, a pedofilia e a escravidão não tinham
qualquer restrição e só agora a igreja começa a pensar em punir a pedofilia
por conta das pressões sociais. Atenta para o que há de padres pedófilos
impunes! Instituíram a inquisição e enfatizaram os fogos infernais e ranger
de dentes que geram sociedades paranoicas que mantém cheios os templos e
os consultórios de psicanalistas.

307
Trouxeram ainda a blenorragia ou gonorreia (terror sexual) e, é
claro, vergonha, proibições, moral e costumes impositivos. A moral e os
costumes impositivos que mudam de povo para povo, de região para região,
e de época para época, são os limites impostos à perda da dignidade,
comum às “civilizações”: só podes ser indigna até certo ponto. As
mudanças geralmente são impostas pelas sociedades que se cansam das
proibições e se revoltam contra elas. Há cem anos, a mulher só saía à rua
com saias cobrindo os pés. Depois foi subindo, indo parar no rés da bunda
e, em muitos lugares como Nova Iorque, já admitem o topless e até nudez
em praias e parques, enquanto mulheres árabes são obrigadas a andar de
burca.
Não podiam deixar de trazer também os vícios que lhes eram
inerentes: a corrupção, o nepotismo, o compadrio que nossos políticos
praticam com natural desenvoltura: “Todos fazem”! Os mensalões e
petrolões são invenções atuais. Substituíram O Deus de Amor de Jesus,
pelo Deus hebreu dos missionários jesuítas. Os índios amavam e, portanto,
tinham O Deus de Amor no coração. E lá se foram os últimos vestígios do
paraíso, dando nessa merda generalizada que é o Brasil e o mundo.
― A civilização não fez nada de bom?
― Não os nobres e o clero. O que vez de bom e útil no mundo é
fruto das pessoas dignas, criativas e bem intencionadas, que as há,
felizmente, e da sua criatividade: ciência, cultura e tecnologia. Mas é muito
pouco em contraposição às incivilidades dos nobres, dos políticos que os
sucederam e do clero. É a civilização da corrupção, do diabo e do poder. A
civilização de Deus e do Amor tem de embasar-se na Lei de Deus, não na
corrupção.
Essa é, em síntese, a verdadeira História do Brasil, do paraíso à
“civilização”. Riu brejeira:
─ Esses olhinhos pidões... Queres sentir o paraíso... Se quiseres
podemos combinar. Mas é uma praia como qualquer outra e possui um “rei”
– brincou, fazendo-me rir – que nos proíbe de usar roupas indecentes, de os
homens comerem nossos adereços lindos com os olhos e de olharmos para
seus penduricalhos. E também de namorar, aconchegar e fazer Amor...
Tem vergonhas e proibições: não tem nada de paradisíaca, nem
mesmo a nudez que é envergonhada. Eu tinha de estar muito atenta às
minhas mãos para não transformá-las em parras ao passar por homens.
Tinha a sensação de que eles olhavam para os meus adereços lindos, ainda
que discretamente, como eu olhava para seus penduricalhos murchinhos que
me davam vontade de rir. Se tu estás fascinada para veres uma fartada de
pênis exuberantes, esquece. Estarão todos encolhidinhos.

308
─ Por que eles não se excitam com as mulheres nuas?
─ Diversamente dos animais em que, como viste, a ereção é
provocada pelo cheiro (feromônios) da fêmea no cio, o homem depende de
estimulação física (fricção, esfregação). E também a fêmea depende da
fricção para se excitar e ter prazer. A nudez e a fricção amorosa são obra
de Deus e não O ofendem, mas somente à sociedade, especialmente em
aglomerados humanos.
A excitação humana não depende dos parceiros estarem férteis e
mesmo de serem férteis. Homens e mulheres estéreis podem fazer Amor
normalmente até com gozos arrebatadores. O sexo humano é essencialmente
um ato de Amor. A cópula dos humanos exige algo de Amor: ver uma
mulher nua seduz, porém só a fricção (Amor) excita. Deus nos fez para o
Amor, não para a cópula simples, ou não teria mudado o sistema dos
feromônios nem os pênis.
A fecundação dos humanos está mais para efeito colateral e é o que
ocorre geralmente. Basta atentares para a quantidade de filhos indesejados
e de abortos e para o enorme consumo de anticoncepcionais. O que se quer
é o Amor ou a paixão e, raramente, a fecundação. Um casal atualmente tem
um ou dois filhos em média e quantas transas fazem na vida?
Também é bom saberes que uma mulher é mais feminil e sedutora de
vestido ou saia que insinuam volúpias como o prolongamento das coxas e
levam os homens a imaginar volúpias ocultas sob fofuras, pregas e godês
que seduzem e instigam ao Amor. Volúpias expostas ou muito moldadas
detêm a imaginação e se impõem a tudo o mais e serão só volúpias que
despertam paixão vulgar: pegadas. Se o teu rostinho se impuser vais
despertar atração, admiração, namoro, Amor. Mas se tuas coxas, teus seios
ou tua bundinha se destacarem só vão instigar foda.

É claro que a aventura me valeu, e muito, como catarse, mas eu não


te fiz paranoica. Só encontramos algo de paraíso, isolando-me com papai,
naquela praia paradisíaca de floresta, areia e mar, que tu conheces,
ignorando parras, normas e dogmas. Quando a temos deserta no lusco-fusco
do anoitecer, deixamos toda a “civilização” do mundo de merda com todos
os seus mandos e desmandos do outro lado da linha da praia e nos
despojamos de moral e costumes (roupas, tabus, pudores, medos, culpas,
preceitos e preconceitos).
Somos apenas eu, papai e Deus (de quem é impossível esconder-se
ainda que trancados num quarto num camisolão de castidade, mas Amor e
nudez não O ofendem) mais a nossa nudez e a nossa dignidade naquele
encanto de Éden, onde vivemos o Amor em plenitude, de alma lavada, sem

309
nos preocuparmos com normas, dogmas e parras, tão livres que brincamos
de tudo, até de trogloditas.
Comungamos corações e mentes com Amor sempre tórrido, de
corpos e almas nus, fazendo todos os tipos de Amor, até a lagartixa! Não há
paredes, mas não faltam árvores em que lagartixas também sobem e eu
ganho intromissões brutas que me tiram o chão: “Croce e delizia, delizia al
cuore”. Doem de tanto prazer que dão ou dão tanto prazer que doem, mas eu
jamais pedi “menos”... Nós extrapolamos aquele ponto em que prazer vira
dor ou dor vira prazer como tapinhas ou taponas e as intromissões são
violentas.
─ Como é brincar de trogloditas?
Após o strip-tease, danças e poses eróticas, o troglodita me rapta.
Avança sobre mim quando estou em pose ou movimento muito voluptuoso
em contrastes artísticos de luz e sombras: “Vou te raptar para grandes
comilanças, gostosona”! Ou eu o desafio risonha e moleca: “Tu podes ser
bruto, mas não me comes, não”! Isso vira pega de verdade e eu faço muita
força para me escafeder, esfregando-lhe tudo e escorregando-lhe entre as
mãos, arrepiando-lhe o menino com o reguinho e levando taponas na
bundinha ao escapar-lhe... Nós estamos sempre no limiar do prazer e da dor
e os gemidos, gritos ou palavrões equalizam as sensações, levando-me ao
delírio do prazer.
Quando nossos tesões chegam às alturas ele me agarra com dureza,
dominando-me e jogando-me na areia. Eu continuo tentando fugir-lhe em
meio a um esfrega-esfrega desenfreado. É claro que o objetivo da “luta” é
intensificar a fricção para atingir desejos irreprimíveis. Empolgamos
nossos cérebros com Amor bruto para que eles nos deem fartadas de
hormônios do prazer, inundando-nos de desejo e volúpia: “Tu não me
raptas, não! Não será um troglodita bruto que vá me comer. Eu é que vou te
dominar”!
Aplico-lhe um ippon, imobilizando-o. Ai, amiguinha do céu! Com
minha menina inundada de desejos e aquele tesão bruto preso na minha
nudez, doidão para me comer, o Amor me invade com um tsunami de
hormônios do prazer e a paixão explode, deixando-me absolutamente
necessitada do macho. A obsessão por ser comida é tal que minhas pernas
se abrem à minha revelia e eu tenho de gritar: “macho, arrasta-me para a tua
caverna e me come”! Então ele me arrasta com a selvageria de um
troglodita, naquela areia macia, e me joga na parede (árvore) e eu perco o
chão com intromissões brutas... Fico completamente dominada e submetida
às brutalidades eróticas daquele troglodita, mas livre para gemer e gritar
palavrões... E que me coma, à bruta, aquela paixão feroz! Mas com Amor e

310
dignidade! E então os Ts Grandões... as traquinagens da menina
maluquinha... os gozos arrebatadores, as cambalhotas mar adentro...
Às vezes eu o surpreendo: “Eu é que vou te comer”! Prendo-o num
ippon e a menina maluquinha faz gato e sapato do pênis bruto até chegarmos
aos Ts Grandões e às cambalhotas.
Que mais pode desejar da vida uma mulher, além de ser vencida
pelo Amor e comida pela paixão selvagem de um troglodita, arriar de gozo,
e acabar apertada nos braços do Amor? Ah, amiguinha do céu, quando
temos um Amor de troglodita, imune a vícios, que podemos chamar de
nosso, apenas o paraíso ao redor e a proteção de Deus, é como estar
realmente no paraíso. Nada vence o Amor de paixão bruta. Ela riu:
─ E o melhor: ele nunca me come. Nós sempre nos comemos.
Nossos meninos vivem disputando a ver quem é mais selvagem e estão
sempre afoitos para comer o outro. E, quando ele fica “preguiçoso”, minha
menina fica esfomeada... Quando estou vestida, faço strip-teases para
“pecarmos” à bruta, mas com tanto Amor não há pecado nenhum. De bom,
as religiões só criaram o desejo e a volúpia ao transformarem o divinal
Amor em pecado: despir-me arrasada de volúpia para saciar tsunamis de
desejo é a delícia das delícias, tão bom que eu acho que foi Deus que os
criou para salvar o Amor da sanha dos poderosos: quem faria “sexo
imundo” sem desejo e volúpia?
Aquele paraíso tornou-se a nossa atração: viver lá é viver
intensamente e um dia voltamos lá só para fazer o Ric. Eu tramara para dá-
lo a papai de presente de aniversário. Ele foi concebido numa fartada de
Amor realmente bruto, mas não foi “bombado”. Se Ric, o melhor, poderia
ser o último, eu queria que fosse o primeiro. Minha menina que estava numa
excitação cachorrona, sugou tudo até o último espermatozoide em
poderosas ordenhas. Minha última ordenha foi tão poderosa que, se ele era
o último, tornou-se o primeiro e o maior gemido de gozo de papai.
Tu só não foste concebida lá porque foste obra do renascimento do
nosso Amor, como já sabes. Nós ansiávamos por ti, mas ainda não tínhamos
te planejado. Porém que melhor comemoração para o renascimento do
nosso Amor das cinzas daquele ciúme atroz? E o mais importante: sempre
deixamos fora da nossa porta toda a merda do mundo. Só têm acesso livre o
Amor e Deus de Amor. Tu foste concebida do Amor, sob a proteção de
Deus. Tu vais por o soutien?

Avaliando o Amor com que fomos concebidos e educados, respondi


embevecida de Amor pela minha mãezinha-amiguinha que não regateava
sabedoria para enriquecer o meu intelecto e pôr-me de bem com a vida:

311
─ Acho que vocês criaram um embrião de paraíso cá dentro da
nossa porta. Por isso é tão doce viver aqui. Tu sabes que eu quero ser uma
mulher maravilhosa como tu e tenho de absorver a tua sabedoria e as tuas
experiências. Tu sabes que as tuas recomendações são leis para mim. Eu
quero experimentar na prática tudo o que tu me ensinas e me liberas nos
limites da responsabilidade, com todos os frissons e frenesis. E tu me
deixas tão livre para que eu exercite o meu bom senso e a minha
responsabilidade. Só te opões a indignidades e trajes inadequados para as
ocasiões e tens razão: eu estou mesmo me sentindo nua.

Mamãe estava tão doce e parecia vexadinha por insistir para eu por
o soutien! Mas ela nunca me dá ordens. Apenas me evidencia o que é
melhor para mim em contraposição com o ruim e eu lá sou tola de escolher
o ruim? Na verdade eu não me sentia nua, eu me sentia devassa. Era, ainda,
uma influência da Clarinha. Embevecida, observei rindo:
─ Despir meus adereços lindos para deixar o macho maluco de
tesão é melhor ainda. Um dia eu terei um Amor de troglodita digno do teu
paraíso...
Beijei-a e fui por o soutien, criançona fascinada de alegria pulando
a amarelinha.

Olhando-me no espelho, com olhar crítico, vi que estava mesmo


uma devassa. As coxas nuas, os seios devassados com mamilos se
insinuando e a bundinha que parecia embalada a vácuo eram só volúpia
como se inquirissem: “E aí, vai me transar”? Não davam nenhuma chance
para a imaginação ou para os encantos do meu rostinho.
Meu coração, porém, pedia Amor digno: o desejo avassalador de
ser encantada por um homem terno que, esse sim, me locupletasse de
desejo, tesão e gozo e me envolvesse na ternura dos seus braços... Quem
sabe ele venha ao meu encontro antes do Edu e se transforme num troglodita
de sonhos, sem vícios, e me transe à bruta... Meu Deus! Seria felicidade
demais, mas é para ele que eu tenho de me vestir... Sim, eu sempre fui
sonhadora... Mas pegadas? Pois Sim! Eu quero amar, não me foder. Nua
para o macho, com certeza, especialmente quando for o meu, mas recatada
para conquistar o Amor.
Refutei o soutien e vesti um top discreto que ficou muito bem com a
blusinha. Considerei o shortinho, bom para a praia onde todas as bundas
estão nuas, mas na cidade... Entretanto era confortável e seguro para as
encoxadas. Vesti uma minissaia por cima. Então, sim, eu era um Amor de
menina, feitinha para o Amor. Sedutora, mas não devassa! Mamãe sorriu tão

312
feliz quando voltei pulando a amarelinha, sorrindo de contentamento, e dei
um rodopio para ela ver o shortinho.
─ Vamos, filhota.
Acho que sou mesmo boa aprendiz, porque ela nunca considerou
desperdício o tempo gasto para me ensinar e longas preleções como essa a
deixavam feliz, um verdadeiro docinho, e eu bendizia toda aquela
dedicação que me fazia crescer e crescer intelectualmente: já me
considerava apta a encarar os Edus da vida... São feras? Eu também!

313
Capítulo XXIII – O MACHÃO

Eu exultava por a amiguinha estar totalmente permissiva. Ela admira


meu senso de responsabilidade e me deixa entregue a mim mesma. É a mais
perfeita amiguinha terna e sábia. Só mamãe interfere para uma ou outra
censura merecida e necessária, como a do soutien, mas sem perder a
ternura, claro!
De verdade, eu odeio ser apanhada em erro pela vida e seus
castigos e não perco uma oportunidade de extrair tudo o que posso da
mestra que eu ouço com veneração. E qualquer pergunta, por tola que seja,
me dá sempre sabedoria e lições de vida que eu guardo no coração.
No meu nível e sem restrições, sempre discorreu com naturalidade e
ternura sobre qualquer assunto, desde os mais simples como a importância
de escovar os dentes e tomar banho, até os mais complexos e
desconfortáveis como gerir a sexualidade. Mas mesmo nesses, ela sempre
vence o desconforto e me fascina com sua sabedoria e ternura. Não existe
tema algum que não possamos conversar com toda a naturalidade.
O mais fascinante é que ela jamais tem uma lição de moral. Ela
jamais diz: “Isso não, menina.” Aliás, ela abomina lições de moral, sejam
acacianas, sociais, religiosas ou politicamente corretas. Não há questões
morais ou imorais, mas corretas ou incorretas, boas ou más, dignas ou
indignas. Ela mostra claramente o lado bom e o ruim das coisas, deixando
ao meu arbítrio escolher o prêmio ou o castigo. O que lhe importa é a
realidade da vida digna, e seus ensinamentos são sempre fundados em
princípios antropológicos e filosóficos em consonância com O Deus de
Amor e Sua Lei.
Lições de vida digna é o que sempre recebi. Fazer sexo na
cachoeira, isolada de todos, no maior despudor, com o homem da sua vida,
ambos doentes de amor, é digno; mas catar um homem na rua, levá-lo para o
seu quarto e fazer sexo com ele, mesmo tipo “papai-mamãe” e ainda que
metida num camisolão de castidade é altamente indigno. A indignidade está
nas circunstâncias em que o ato é praticado, no desamor, na foda
envergonhada e vergonhosa. Ela estava tão doce! A caminho do

314
cinema, ri:
─ Está uma delícia ler o teu Diário. Li a narrativa do teu strip-tease
da Chapeuzinho na cachoeira. Caraca! Como foste sem-vergonha!
A amiguinha riu:
─ Chapeuzinho Vermelho era desinformada e inocente e a inocência
não sente pudor, medo ou culpa. É só curiosidade e desejo de aprender. E a
minha Chapeuzinho estava louquinha para aprender como é que os lobos
maus comiam menininhas. Na estorinha ela se dá mal por causa da
curiosidade que a fez desobediente. E curiosidade e desobediência eram
severamente punidas na Idade Média em que vigorava a cultura do medo.
Ela era obrigada a passar por uma rua estreita e sem calçamento
como todas as ruas de sua época. As ruas eram despejo de penicos porque
as casas não tinham banheiro nem água corrente. Cansada daquela rua de
merda, e curiosa, desobedeceu e tomou o caminho da floresta. Fatalmente
encontrou o lobo mau e deu no que deu: o lobo comeu a vovozinha e, na
estória original, comeu-a também.
Cansada dos machões de merda eu também desobedeci e, curiosa,
tomei o caminho da floresta, o bosque mais lindo que já vi, disposta a
conhecer os lobos. Eu seria comida? Com certeza, porém com selvageria!
Vestida na fantasia de Chapeuzinho eu tinha de ser inocente e curiosa e
acabei totalmente envolvida pelo lobo mau, fazendo tudo o que ele pedia e
a minha inocência e curiosidade cediam. E o que eu não cederia?
Eu deixei que o Amor me despisse? E o que é que tem? Eu sentia
tanto calor e as entranhas me queimando de vontade de ser comida por
aquele lobo fascinante de ternura e muito mau de tesão! Aquele tesão
selvagem me fascinava, sim, e as roupas me incomodavam. E o melhor é
que ele não resistiu à minha nudez e como não era tolo como o da
Chapeuzinho, não quis saber de ir comer a vovozinha: comeu a inocente
todinha com selvageria das brabas, tão brabas que numa encoxada violenta
me jogou dentro do lago, virando cambalhotas. Eu fiquei fã de cambalhotas,
tão feliz e agradecida que o prendi na coleira da minha ternura para toda a
vida. – Riu – E eu fiz dele o pai dessa menina risonha na maior dignidade.

Encantada, continuei explorando sua sabedoria. Eu ainda tinha


dúvidas sobre sexo anal e, com tal mestra, eu não suportava ter dúvidas e
muito menos arriscar-me. Já me perguntara se seria prazeroso e se podia
ser usufruído enquanto a mimosinha permanecia intocável. Afinal, o fiofó
não tem hímen. Ri mais uma vez:
─ A tua Chapeuzinho deu tudo para o lobo mau que te comeu até a
bundinha com selvageria. Isso não dói?

315
─ A minha Chapeuzinho estava encantada pelo lobo mau e não
haveria o que ela não lhe desse. Mais portinhas eu lhe daria se mais eu
tivesse. Ele tinha de fato uma paixão muito brava, assustadoramente bravia,
mas tinha um coração tão terno: era pura fascinação! Tanta ternura num
macho tão selvagem é irresistível para qualquer Chapeuzinho que se preze.
Eu estava fascinada por aquela ternura de afagos, beijos e amassos brutos,
mas desesperada para ser comida por aquele tesão brabo.
Eu já te disse que o gozo (que valha a pena) é sempre algo
desconfortável para a mulher. Mas é o desconforto do gozo, aquela
sensação muito intensa de que vais espirrar ou explodir com todo o corpo,
que o torna avassalador e irresistível.
Como tu aprendeste, o gozo carnal é o fruto da paixão, não
necessariamente do Amor, e a palavra paixão, originária do latim passio,
passionis, significa sofrimento, martírio, como na paixão de Jesus. Não é à
toa que paixão das brabas está geralmente envolta em sofrimento, não só
pelo medo da perda, mas também porque a submissão à força viril do
macho empolgado é o que mais nos dá frisson e volúpia e o prazer pode
atingir as raias do insuportável, explodindo em gozo arrasador. Os
melhores momentos de Amor de uma fêmea são em baixo do macho.
Pressão e fricção do macho são o clímax da nossa vida.
Na verdade, o prazer está ligado à dor: o prazer é crescente até
atingir o ponto em que ele começa a ficar desconfortável e a virar dor e
precisas gemer e gritar palavrões para suportá-lo. Daí para frente, vira dor
de fato. Imagina que alguém te afague carinhosamente o braço e vá
apertando... apertando... até quebrá-lo... O próprio orgasmo é um
desconforto como a vontade de dar um grande espirro e quanto maior for
esse desconforto, tanto maior será o prazer. Isso ocorre porque há
empolgação que produz doses maciças de adrenalina como viajar num
avião supersônico, numa montanha russa ou praticar esportes radicais...
Quando puderes compara paixão bruta com sexo devagarinho... Ou imagina-
te viajando numa montanha russa a trinta quilômetros por hora.
A paixão também está intimamente ligada ao ódio: uma paixão muito
grande, daquelas que se confunde com Amor, começa a virar ódio se sofrer
grandes frustrações como traição ou abandono, podendo chegar ao crime
passional em que se diz que o parceiro matou por Amor. Porém ninguém
mata por Amor. A paixão é que ultrapassou o ponto em que se transforma
em ódio mortal. A recíproca também é verdadeira: se o teu inimigo, mesmo
odioso, te sorri ou te livra de uma enrascada, tu deixarás de odiá-lo,
podendo reverter o ódio em Amor. É por isso que Jesus mandava amar
nossos inimigos e dar a outra face. Riu:

316
─ Então tu queres ter prazer de bundinha!
Bateu-me a esperança e eu ri:
─ É...
─ É claro que o gozo da bundinha também é carnal, é da paixão,
mas, mesmo que haja algum desconforto, pode ser prazeroso, especialmente
se houver adrenalina. Tu gostas de tê-la apertada e afagada e logo a vais
querer estapeada, o que não deixa de ser uma brutalidade, mas uma
brutalidade deliciosa quando não ultrapassa os limites do prazer. E
prazeres dos grandes são paixões brutas que fazem gemer e gritar
palavrões. Paixão devagarinho não dói nada, mas não tem nenhuma graça.
O ânus e o reto são uma região muito enervada e os nervos são os
condutores das sensações de toques e fricções para o cérebro. E tu que
nunca tiveste demônios religiosos na alma tens a mente livre para o gozo
sem culpas nem pejos. Se o Amor estiver contigo e tiveres a região anal
sensível, pode ser prazeroso e digno, claro! O sexo deve ser sempre digno.
Isso é o bom. Agora o ruim:
No sexo anal, são necessários cuidados especiais. Nunca como vês
nos vídeos pornôs que têm toda uma preparação para a ereção e
lubrificação antes da filmagem. A mimosinha tem boa dilatação e adora
pênis grosso, mas a bundinha prefere os finos porque tem a portinha
apertada, o que a torna fascinante para os homens. O grosso pode
traumatizar-te, especialmente se o menino também for “grosso”. É preciso
preparar a portinha, lubrificando-a muito bem, inclusive por dentro, e
brincarem de massagear o reto com um e dois dedos, para relaxar. A
penetração requer o relaxamento completo e muito desejo. Nunca vergonha,
medo ou ansiedade. E sempre sob a condição de que o corpo é teu e
poderes parar se não te agradar.
Riu:
─ Não esqueças que a área de saneamento da mulher fica muito
próxima da área de lazer. Para transformares a tua área de saneamento em
lazer tens de abrir bem as pernas e expores a mimosinha que é muito mais
fácil de penetrar do que o ânus e pode ser facilmente invadida até sem
querer. Uma escorregadela e... com certeza, o teu cabacinho não escapa
ileso. Sexo anal só com Amor de verdade e com os devidos cuidados.

Que bom ter em quem confiar! Eu me decepcionei, claro, mas os


riscos eram inaceitáveis: Edu também não prestava para intromissões anais.
O Amor tardava e eu me vingava da falta dele esbaldando-me em
playgrounds
O cinema estava praticamente vazio e eu estava cheia de desejos na

317
expectativa de “despir-me” para o macho encher-me de frissons. O
“troglodita” dos meus sonhos não se mostrou, mas veio o machão e eu
ansiava tirar o top para ter as volúpias todas apalpadas por cima e por
baixo da seda... Meu desejo crescia e inundava-me o coração e o corpo.
Não via a hora do apagar das luzes. Como não havia Amor a preservar (o
menino era francamente descartável) eu queria me liberar e optamos por um
filme de arte que geralmente tem grandes espaços vazios. Sentamo-
nos na última fila, no canto, com bolsas entre mim e mamãe.
Quando as luzes se apagaram, beijei Edu, afagando-lhe as orelhas e
a nuca. Meu beijo era sempre tórrido de puro Amor. Ele afagou-me os seios
e eu explodi em excitação e alvoroço libidinoso, instigada pelo macho e
pela blusinha. O top foi para a bolsa e entreguei os seios livres sob a seda
da blusa para que o Edu os afagasse. Ele empalmou-os por sobre a seda,
dizendo-me banalidades indecentes. Empolgou-se com a forma e a firmeza
e enfiou a mão por baixo da blusa, envolvendo-me um seio com a mão,
fazendo-o explodir do amplo decote e sugou-o.
Ter os seios soltos e apertados por mãos ávidas sobre e sob a seda
viscosa era o que eu imaginara: pura volúpia! Fez-me anelar por macho. E
eu tinha um de bela estampa a me fazer explodir de desejo. É sim! Ele só
tinha estampa, mas era bela.
Era a primeira vez que tinha os seios sugados e fiquei tão excitada
que senti a mimosinha vazar. Abracei-o em frenesi com as mãos afagando-
lhe o pescoço e repeti o beijo do Amor. Eu queria uma análise completa do
machão e experimentar e pesquisar todos os frissons possíveis e entreguei-
me sem pudores, com liberdade plena para a paixão. Pedi-lhe para apertar-
me a bundinha e a coxa, desabotoei o short e pedi para ele me masturbar o
clitóris.
Na ânsia do desejo, abracei-o, afaguei-lhe a cabeça e apertei-a
contra o seio. O desejo e o tesão avassalavam-me todo o corpo, mas detive-
o quando tentou enfiar-me os dedos e apertei mais as pernas.
Abri-lhe a braguilha e apossei-me do meu fascínio. Eu nunca tivera
um tão massivo. Com que frenesi eu o masturbei. Soquei-o em êxtase,
deslizando a mão pelo tamanhão e pedi-lhe para me massagear o grelinho
teso. Eu aprendera a só deixar tocar no clitóris depois de ele estar excitado.
Mantive as pernas bem apertadas para impedir que ele me penetrasse com
os dedos. Tive orgasmo arrasador, cujos gemidos abafei mordendo o pulso,
e relaxei. Recomposta, perguntei à amiguinha, rindo:
─ Como está o filme aí da tela?
─ Bom! – Riu – E o escondidinho?
─ Um arraso!

318
─ Eu percebi.
Ri muito marota:
─ Acho que vou repetir a cena para ver se fica melhor... Sem o top é
bom demais! – Ri – Se sugada de bebê for gostoso assim, vou ter um
montão de filhos.
Com a excitação que me dava a blusinha sem o top e com sugadas,
mais as mãos fortes do macho me apertando, eu ainda tinha desejo à beça e
não demorei a afagar a coxa de Edu em busca do gigante. O filme era muito
intelectualizado para ele e não o atraía. Divertia-se com os meus seios.
Apertei-lhe a coxa. Excitada com a nudez velada dos seios e desejosa de
mais sugadas, tornei a beijá-lo com paixão, acariciando-lhe as orelhas e
expondo-me para mais afagos e sugadas.
Enquanto minha amiguinha apreciava o filme, eu fremia de excitação
e me consumia em prazer, beijando-o com os seios afagados. Beijava-o
afagando-lhe as orelhas, a nuca, o pescoço e gemia pedindo-lhe força nos
apertões, na bunda e nas coxas. Vi que submissão à força passional do
macho é realmente bom. E, quanto mais bruta, mais nos enche de
adrenalina.
Empolgada com o tesão que me tomava o corpo, pondo-me toda em
frenesi, pedi para ele repetir tudo com mais força.
Fremindo de tesão, eu tornei a morder o pulso para abafar o
prazer... Após arriar de gozo, desejava amor terno. Não o tive.
Desestimulada, me recompus, inclusive recolocando o top e fechando o
short. Perguntei à amiguinha, rindo:
─ Vale a pena seguir o filme da tela?
─ Com certeza – riu – mas ainda há tempo para mais uma cena
escondidinha.
─ Eu amaria, mas sem Amor perde a graça. Vou deixar para as
encoxadas. Acho que ao sentir o bruto nas minhas coxas eu vou ferver.
Quando o filme terminou, fomos tomar um lanche na praça de
alimentação. Deixamos o Edu aguardando a complementação do serviço e
fomos à toalete. Eu era só felicidade e sorrisos na expectativa da grande
noitada:
─ Esta blusinha sem o top me dá um frenesi tão grande! E o tesão
bruto não me faz perder o juízo. Ao contrário, me deixa toda acesa, mas
plenamente consciente. Tu me ajudas nas encoxadas, não é? Não vejo risco
de perder o controle e quanto ao Edu me comer a mimosinha vai morrer na
saudade.
─ Claro! Mas o grande arraso és tu! Toma cuidado com a
mimosinha! Porém – riu – não vai ser de graça, não!

319
Eu ri:
─ Qual é o pagamento que tu queres?
─ Um sorriso feliz para deslumbrares papai. Também quero minha
fartada de frenesi e volúpia ou tu pensas que é fácil ver-te desmanchar em
gozo!
Sorri-lhe cheia de ternura:
─ Sorrisos? Mas tu estás tão doce que dá vontade de lamber-te. – Ri
– Não vais derreter?
─ Não... Eu vou é trepidar de gozo! Quero teu pai na maior
felicidade para me transar com pressão máxima, força bruta e fricção
arrasadora. Quero que me coma e comê-lo na maior doideira.
Fomos para casa, ambas ansiando por uma noite de loucuras.
Mamãe deixou-nos junto ao portão que se abria para duas aleias de
arbustos que formavam ótimos nichos gramados. Era a primeira vez que eu
ficava completamente entregue às feras, num bruto frenesi, alucinada pelo
grandão. Mas eu estava preparada para as feras. Mal ficamos a sós, eu
atraquei-me nele, envolvendo-lhe o pescoço com os braços e devorando-
lhe a boca com beijos.
A ansiedade de ser encoxada me deixara tomada pelo desejo no
corpo todo e, quando o top se perdeu nas mãos do menino, dando lugar a
afagos e sugadas, eu trepidei em frenesi. Fascinada com o gigante, afaguei-o
com a coxa e com o púbis, enquanto busquei a boca do garoto com o beijo
do Amor.
Eu não conseguia deixar de dar Amor mesmo a quem não amava.
Sentia que o Amor era um dos objetivos capitais da vida e que a paixão era
um dos seus complementos essenciais e inapartáveis. Paixão era a minha
empolgação máxima, porém tinha de ser cumulada de Amor e lamentava
que machões não o retribuíssem, mas eu não deixava de dá-lo, com muita
intensidade, porque me fazia o desejo crescer no coração. Estava no meu
sangue, no meu DNA. A minha alegria maior não era dar, mas dar-me:
entregar-me completamente na busca do Amor e do prazer. Edu não tinha
Amor, mas paixão...
A blusinha e a minissaia também se perderam sem que eu
percebesse e dei com ele completamente nu, tentando despir-me o short. O
short era bem apertado e impossível de tirar sem minha colaboração.
Desejando avançar no estudo sobre machões e pesquisar tudo sobre a
paixão e o meu envolvimento com o macho e meus frissons, tudo o que eu
queria era estarmos pelados numa esfregação desenfreada de corpos, pele
na pele e até da vulva no gigante, sentindo a amplitude dos braços do macho
me envolvendo e me amassando todinha. Queria um tsunami de adrenalina.

320
Por isso bendisse a sua nudez. Só esperava que ele “metesse a mão na
massa” para valer. Eu queria ser toda amassada por mãos fortes.
Fascinada naquela paixão enorme que crescia para mim, atraquei-
me nele, num frenesi de abraços e beijos. Ele fez força para tirar-me o
short, mas detive-o imediatamente:
─ Não! Eu sou virgem! A mimosinha é intocável. É só grelinho e
encoxadas ou nada! Vamos ver se tu és bom de encoxadas, já que de Amor...
Com ambas as mãos cobrindo as orelhas do garoto e afagada nos
peitos, beijava-o furiosamente e esfregava a coxa e o púbis no gigante
ereto, entregando meu corpo em frenesi à paixão que me queimava as
entranhas e implorava para que ele me envolvesse muito apertado e me
espremesse peitos, bunda, coxas:
─ “Meu corpo é todo teu”.
Voltei-lhe a bunda e pedi-lhe:
─ Encoxa-me por trás.
Abri o shortinho e Edu pensou que eu tivesse mudado de ideia.
Retruquei com veemência:
─ Não! Quero brincar com meu grelinho enquanto tu me encoxas.
Deslumbra-me com tuas encoxadas, por favor!
Ele agarrou-me pelas virilhas, mas transou-me como o cachorrinho
de madame. Era gostoso estar no macho, mas a empolgação era nula. Não
havia como excitar-me. Imaginei-me numa montanha russa a trinta por hora:
que chatice! Ri:
─ Para que tu queres esse tamanhão de pênis se não sabes o que
fazer com ele? Encoxa-me com força bruta! Quero o teu púbis surrando a
minha bundinha com toda a tua brutalidade. Isso! Brutaliza-me com essa
porra!
Com o gigante transando furiosamente as minhas coxas enquanto eu
brincava com o clitóris, eu logo tive gozo arrasador. Deslumbrado com a
perfeição do meu corpo fremindo em seus braços e louco para possuir-me,
Edu tentou outra vez tirar-me o short, dizendo:
─ Agora deixa foder o teu cabacinho. Ele não serve pra nada, boba.
Eu habituara-me ao seu linguajar chulo deslumbrada pelo gigante
que era um fascínio para brincadeirinhas sem penetração... e bruto...
Retruquei, detendo-o:
─ Não! Olha que eu chamo a minha irmã e ela solta os cachorros.
Combinamos que bastaria eu gritar “cães”. Põe nessa cachola que eu quero
porra bruta, não homem bruto!
Ele insistiu, puxando o short aberto para baixo:
─ Eu sou loco por você e vou te foder.

321
Dominei-o com um ippon e adverti-o de que mandaria soltar os cães
se ele tentasse outra vez baixar-me o short sem permissão.
Ele já ouvira o alcance da voz dos cães e, dominado pelo ippon, se
conteve. Vendo que tinha completa ascendência sobre ele, dominava-o com
facilidade e era capaz de manter o controle das pernas, autorizei-o a tirar-
me o short e a calcinha. Eu ansiava pela minha nudez voluptuosamente
envolvida por aquele macho de sonhos e me fascinava por aquele
instrumento fantástico comendo as minhas coxas. Era a primeira vez que eu
ficava pelada atracada na nudez do macho e, fascinada pelo grandão,
absorvi-o entre as pernas e pus os braços no seu pescoço, beijando-o
furiosamente, pedindo-lhe que me apertasse toda.
Pus as mãos nos seus quadris e dei-lhe encoxadas brutas batendo
púbis no púbis com toda a força, friccionando o grandão entre as coxas e os
beicinhos da mimosinha. Ele perguntou:
─ O que você tá fazendo?
Eu ri:
─ Comendo-te.
Ele abespinhou-se:
─ Sem essa de me comê. Eu é que como!
E tentou penetrar-me:
─ Eu vou arrombar o teu cabacinho.

A insistência do garoto em querer me copular me incomodava, mas


todos insistiam, embora Edu fosse mais afoito. E, como eu aprendera que
machões só se interessam por “aquilo”, achava natural diante da
voluptuosidade dos meus mimos que eu exacerbara com a minha nudez.
Minha nudez! Eu me fascinava com nossa nudez esfregando-nos como se
fôssemos um só corpo e queria o falo comendo solto nas minhas coxas.
Eu me divertia com os ippons de corpos nus: uma delícia! Apliquei-
lhe outro que o fez gemer de dor. Preso no ippon, ele não me arrombou, mas
poluiu a atmosfera com um bruto pum. Libertei-o e corri para longe.
Disseminados os maus odores, veio pedir-me desculpas.
Envolveu-me nos braços e eu senti a delícia da sua pele na minha e
o envolvimento dos seus braços. O calor tomando-me o corpo...
Embevecida, colei-me nele, como uma gata, esfregando a bunda naquela
delícia de macho e pedindo-lhe para envolver-me toda e dei-lhe Amor,
afagando-o e beijando-o. Ele percebeu, claro, que meu tesão estava no auge
e suplicou:
─ É uma questão de honra: Eu tenho de meter a espada nessa
bocetinha linda, nem que seja só a pontinha... Abre as perna!

322
Ele parecia ter ficado docinho. Fez-me até um afago. Foi a minha
vez de suplicar:
─ Então me aperta toda. Mama gostoso nos meus peitos. Espreme a
minha bunda e as minhas coxas. Faz-me ficar cachorrona pelo teu pênis.
Come muito bruto as minhas coxas, esfregando o gigante na mimosinha. Eu
fiquei sem calcinha para sentir o gigante nos beicinhos.
Eu realmente queria brincadeira e frissons de macho, toda
envolvida pele na pele, e ele era um belo macho. Burro, mas belo e me
dava prazer como nenhum outro. Eu o queria domado. Para tanto, preservei-
o dos cães e dei-lhe a volúpia e o prazer máximo que a segurança permitia,
franqueando-lhe todo o meu corpo, exceto penetrações. Vendo-me no auge
da excitação e nua, fez nova tentativa para penetrar-me. Eu esquivei-me e
gritei-lhe, apertando as pernas:
─ Não!
Ele insistiu:
─ Só a cabecinha. Você quer! Você tá loca de tesão! Abre as perna!
E começou a forçar-me. Eu gritei-lhe:
─ Queres os cães sobre ti? Estás confundindo as coisas: eu desejo e
muito, mas não quero!
─ Então me deixa foder a tua bunda. Ela dá um puta tesão!
Eu estava com raiva, mas fascinada pelo grandão, tentava “domá-
lo” e o que eu queria mesmo era brincar e estudar meus frissons. Minha
destreza superava em muito sua força. Pensei: “e se eu o transformasse num
troglodita bruto”? Ri:
─ Se tu conseguires...
Feliz da vida, agarrou-me com força e tentou penetrar-me. Eu
protegia meus buraquinhos entre as pernas e entreguei-me a uma esbórnia
de esfrega-esfrega, apertões, encoxadas e ippons. Com a mão direita, puxei-
o pela esquerda fazendo-o encaixar a bunda no meu púbis e apertando-o
todo. Ele desencaixou-se rapidamente e eu lhe ofereci todo o meu corpo
para ele fazer tudo o que quisesse em busca do seu objetivo, até tentar
penetrar-me, e esfregava tudo o que podia, mas esquivando-me de
penetrações e deslumbrada de prazer. Deliciosas brincadeiras! Para tê-lo
mais bruto, dei-lhe um puxão na mão virando-o de costas e dei-lhe uma
tapona na bunda. Ele protestou:
─ Eu sô macho!
Eu lhe respondi:
─ Mas é deveras macho que eu te quero. Para me comeres vale
tudo. Dá-me uma tapona também.
E balancei a bundinha. Ele bateu forte e eu balancei a bundinha

323
pedindo outra do outro lado. Ele bateu com raiva. Puxei-o virando-o de
costas e bati-lhe com toda a força, dizendo-lhe:
─ Bateu, levou! Para me foderes tens de vencer-me, mas para isso
tens de ser muito macho e não serão toques femininos (e nem mesmo
masculinos) na bunda que irão te deixar mais macho ou menos macho. Eu
não admito dar para bicha nem machão e tu, com todos esses melindres com
a bunda, não me pareces nada macho. O único meio de seres veado é teres
nascido com o gene trocado. Aí não há “cura gay” nem cuidados com a
bunda que te valham.
─ Vô te mostrar quem não é macho!
Ele agarrou-me decidido, com toda a força, tentando vencer-me e
esforçando-se para penetrar-me. Foi a luta que eu queria, pele na pele,
escapando-lhe para ele me agarrar com força, dando-lhe taponas que ele
retribuía com raiva. Grandes prazeres algo doloridos, mas que me
fascinavam. As taponas ardiam, mas, na sofreguidão da luta, era gostoso:
dominar o machão era um deleite. Deixava-o me agarrar e deslizava por ele
abaixo, esfregando meu reguinho no gigante. Diverti-me com os ippons:
abri as pernas e disse: “só a pontinha? entra! Quando ele veio com tudo,
travei-o com um ippon. Deixei-o chegar perto do objetivo e até tocá-lo com
a cabecinha, mas negaceei, morrendo de rir:
─ Quase, hein?
Aquilo era gostoso e, segura de mim, tornei a abrir as pernas e
instiguei-o rindo:
─ Tenta de novo! Mas só a cabecinha!
Dava espaço para a cabecinha entrar e detinha-o. Eu me excedia no
treinamento pompoarista e tinha muita força no músculo vaginal anterior.
Bem travado no ippon, brinquei de algemá-lo na cabecinha, levando-o à
loucura. Eu me divertia apertando-lhe a cabecinha e fremia com desejos e
volúpia. A mimosinha vazava louca de tesão como se dissesse: “deixa-o
entrar”! E numa afrouxada, quase! Eu estava feliz por dominar todos os
meus desejos, mas aquela afrouxada me fez parar com os ippons gozadores.
Se ele tivesse entrado duro e furioso, como estava, teria estourado o meu
hímen e me ferido gravemente. Encoxei-o de frente apertando-lhe a bunda
contra mim. Ele protestou:
─ Na bunda não! Não põe a mão na minha bunda!
─ Deixa de ser fresco! Eu sou cem por cento fêmea! E, se nasceste
com o gene certo, nem brincadeirinha de veado te faz bicha.
Minhas algemadas o deixaram maluco de tesão e, ainda tentando
penetrar-me, puxou-me as mãos para a sua cintura. Ele estava maluco de
tesão como eu queria e eu queria brincar Disse-lhe:

324
─ Esquece as penetrações. Eu te amo e se tu me amas vamos fazer
Amor mais gostoso do que uma transada. Relaxa e goza como nunca
gozaste. Encaixei-me nele, beijei-o com Amor, apertei o gigante entre as
coxas e os lábios da mimosinha. Implorei:
─ Dá-me uma tapona na bunda e suga os meus peitos como um bebê
faminto.
Envolvi-o, afagando-lhe a cabeça e apertando-a contra o seio
enquanto friccionava o gigante com as coxas. Então lhe pedi:
─ Transa as minhas coxas com toda a força. Brutaliza a tua fêmea
enquanto eu como o teu pênis. Vez como apertado entre as minhas coxas e
os lábios da mimosinha, o teu pênis tem muito mais fricção do que metido
numa menina? Tu já comeste alguma mais gostosa do que as minhas coxas?
Friccionei com toda a força, com verdadeiras trombadas do púbis
no púbis na contramão das suas estocadas brutas. Transando em período
fértil sem penetração, eu estava exacerbada de tesão e gozei à larga em
coro com seu gemido alucinado de gozo. Como eu, ele gozara à beça.
Apesar do desamor e das grossuras do machão, eu estava deslumbrada de
gozo. Ah! Eu o queria, sim, para brincar até ter alguém digno de viver a
plena felicidade dentro de mim. Amor não havia, mas a paixão fascinava e
era só deixá-lo com raiva e eu o forçava a me amar à bruta, até com
taponas. Considerando só a paixão, eu o transformara num troglodita
deveras empolgante e eu queria conservá-lo até encontrar o Amor. Envolvi-
lhe as orelhas com ambas as mãos, beijei-o com paixão, e exaltei-o:
─ Vez? Tu tens um pênis deslumbrante que me apaixonou e, se te
comportares como homem, poderemos ter gozo alucinante sempre que tu
queiras com tudo o que fizemos. Mas tem que ser somente o que ambos
queremos. Tu esqueces as penetrações e eu esqueço os toques na tua bunda,
mas podes dar-me taponas sempre que quiseres e minha menina fará
aquelas brincadeirinhas deliciosas no teu pênis. E se tu retribuíres com
Amor o Amor que te dou, Meu Deus, será pura felicidade. Se um dia eu
decidir perder a virgindade antes do casamento, eu te darei meu cabacinho,
mas só se me amares e respeitares a minha feminilidade. Só se te tornares
um homem digno. E há mais uma coisa que não fizemos: enchi-lhe as mãos
de óleo aromático e pedi-lhe para massagear-me enquanto eu o massageava
e nos fizemos massagens de bunda. Implorei: Vamos nos dar prazer até tu te
cansares de mim.

Procurei avançar na pesquisa, instigando-lhe o orgulho machista. Eu


queria descobrir tudo o que caracterizava o machão. Já lhe pesquisara a
inteligência, a cultura, a ternura, a dignidade, ou antes, a falta delas.

325
Perguntei-lhe de chofre, usando a linguagem que lhe era mais acessível para
deixá-lo bem à vontade. Ri:
─ Com essa cara e esse gigante tu deves traçar todas. Quantas minas
tu já comeste?
Ele respondeu todo orgulhoso, fazendo-me até um elogio:
─ Sessenta e oito! Falta a mais bonita de todas pra completar um
belo número!
Ri:
― Obrigada, mas para incluir-me no teu rol, tu tens de te tornares
um homem digno. Dei uma deslizada de bunda e mimosinha até parar nos
joelhos e voltei até tocar-lhe a boca com a menina. Perguntei:
─ Alguma dessas sessenta e oito já te fez gostoso assim?
─ Não, mas deixa eu te foder. Com o tesão que eu tenho da tua
bocetinha vai ser uma festa de arromba. Me deixa pôr dentro, vai.
─ Já te disse que só depois de casar ou te tornares um homem digno.
Se insistires em foder-me, viras comida de cachorro e nunca mais me terás
– ri – com trocadilho e tudo: Os meus cachorros castram machos.
Minha massagem excitou-o e enquanto punha as roupas perguntei-
lhe:
─ Quantas minas tu conseguiste comer nestas três semanas em que
ficamos?
─ Poca coisa: só duas! Acho que é a fome da tua bocetinha que eu
tenho de foder a qualquer custo. Com ela seria três, completando sessenta e
nove. Se ela superar o prazer das tuas tetas, da tua bunda e dessa foda
vazia... Caraca! Vou morrer de tesão! Deixa eu arrombá teu cabacinho, vai.
─ Por que tu não tens nenhum carinho nem respeito pelas mulheres?
Só pensas em fodê-las!
─ Os homem são como se diz?Poliglota.
Eu ri:
─ Polígamos!
─ É. Têm de foder todas. E pra que serve uma mulher senão pra
foder? Mas as mulheres também só pensam numa porra que as foda.
─ Não todas!
─ Todas, sim! Algumas fazem cu doce como você, mas acabam
dando, e você também vai dar porque você tá loca pra me dar como eu tô
loco pra te foder.
─ Tu estás esquecendo o Amor.
─ Que Amor? Amor é foda e fazer Amor é foder.
Eu atingia o auge da raiva e retruquei-lhe:
─ Para os vermes, com certeza! Não tens Amor por ninguém, nem

326
pelo teu pai nem pela tua mãe?
─ Eles só me foderam a vida toda: me castigaram, me bateram, me
exploraram: é só mandar, mandar e mandar... Me cobram o tempo todo. E a
vaca da minha mãe só tá com o meu pai porque quer segurança e quem a
foda. Mas bota-lhe chifres! Todas botam. É, sou filho da puta! E quem não
é?
─ Exasperada, respondi-lhe na mesma linguagem:
─ E bastardo também, com certeza, mas teu pai merece cada
chifrada. Foi ele que te ensinou a foder todas para não virares bicha. O que
tu és é um veado enrustido desesperado para foder todas para não teres de
sair do armário. Para odiares tanto as mulheres, só podes amar os homens!
Faz o teste: ao veres um bando de moças e rapazes, vê quem te atrai a
atenção: eles ou elas. – Ri – Eu só tenho olhos para os machos. Aposto que
tu também, não é?
Se eu tivesse a desgraça de me casar com um bastardo como tu, eu
viraria rata de sacristia só pelo prazer de te cornear com o padre, com o
pastor, com o bispo, com o padeiro, com o vizinho, com teus amigos, e com
todos os bastardos como tu.
─ Tá vendo como tu tá fazendo cu doce? Você tá loca pra foder
como qualquer vagabunda, loca pra gozar. A maioria das mulheres que eu
comi são casada. É as que dão mais. Não fazem cu doce como você, mas as
que fazem cu doce são as mais gostosa e eu sou macho e tô mandando você
abrir as perna pra mim e você vai tê de abrir. Todas me obedecem. Por que
só você vai fazê cu doce? É gozo que tu qué? Eu te dô gozo! Mas vou te
fodê!
E avançou sobre mim para tornar a despir-me. Com um golpe de
capoeira, passei-lhe o pé rente ao nariz que ele nem viu, só sentiu o vento.
Ri às gargalhadas: “Queres um pé no saco”? Os cães sentiam o seu cheiro e
latiam furiosos. Com muita raiva, gozei-o:
─ Não te esqueças de que basta um grito meu para teres os cães em
cima de ti, num átimo, e eu tenho de te abrir o portão! Sabias que eles
adoram castrar machos com dentadas nos colhões? Há cerca de um ano
caparam o cão do vizinho que se meteu aqui dentro e que nunca mais seguiu
cadelas. – Gargalhei – E isso se não te estraçalharem o grandão com mais
facilidade do que trituram passarinhos. E com ele cheirando à porra! –
Soltei outra gargalhada – Vais ter de mijar sentadinho como
qualquer mulher...
Só não te soltei os cães, ainda, porque eu te domino com um ippon
ou um pé no saco e tu nem és culpado. A culpa é dos teus pais que fizeram
de ti um verme nojento. Eu não preciso dos cães para me defender de um

327
veado covarde que cuida ser machão e ter de foder todas para não virar
bicha, mas tenta foder-me para veres o que te acontece.
Foder-me para não virares veado é para ti a tal questão de honra,
não é? Que honra, hein? Teu pai te ensinou que, tinhas de foder todas e, se
estivesses com uma mulher nua e não a fodesses, virarias bicha, não é? Tu
não tens nenhuma certeza da tua macheza, por isso tremes com meus toques
na tua bunda. E, dando-lhe um puxão no braço para ele dar meia volta, dei-
lhe o pé na bunda:
─ Some da minha vista!
Ele ficou deveras surpreso e, intrigado, perguntou-me enquanto se
vestia às pressas:
─ Como é que tu sabe? Foi exatamente o que ele me ensinou. E
também me fode desde que eu tinha nove anos e “estrupa” minha irmã. Diz
que também teve de dar para o pai dele e se eu contar pra alguém, me mata.
Estarrecida, retruquei-lhe:
─ Sai da casa dos teus pais e procura um psiquiatra. Tenta ver tudo
pelo oposto do que o teu pai te ensinou e bota-o na cadeia porque ele é um
criminoso. Em lugar do ódio e da obsessão por mandar em todos, cultiva o
Amor e a simpatia pelas pessoas, procura te tornares um homem de verdade
e digno!

Fechei o portão atrás dele e entrei transtornada, indo direto para os


meus aposentos.
Mamãe veio atrás:
─ Que aconteceu, filhinha? Alguma coisa grave? Por que tu não
chamaste?
A fortaleza que eu era desmoronou e, chorando abraçada ao seu
pescoço, murmurei:
─ Edu é um cafajeste! Fez de tudo para me transar. Como não
conseguiu, foi extremamente grosseiro, cuspindo as verdades do coração, se
é que ele tem um!
Mamãe arrastou-me para a hidromassagem, encheu-a de água, sais e
espuma, tiramos a roupa e relaxamos.
Contei-lhe detalhadamente sobre as brincadeiras, as investidas, a
pesquisa e as grosserias do cafajeste e referi as relações horripilantes de
seu pai com os filhos. Penitenciei-me:
─ Desculpa, amiguinha, eu queria ter sorrisos para vocês.
─ Eu sei. Está tudo bem, filhinha. O pior não aconteceu. Tu não
foste estuprada. Tu não devias abrir as guardas. Despojar-te da calcinha,
mesmo para brincadeirinhas inocentes, só com um homem de verdade e se

328
não estiveres vulnerável. Tens de voltar a filtrar as cantadas. Mesmo para
pesquisar, não aprendes nada com cafajestes e imbecis ou pessoas muito
feias que cuidam ser lindas e poderosas.
Ele estava morto de despeito por te mandar abrir as pernas e tu não
as abrires e ele não ter como te fazer obedecê-lo, submetido pela tua
determinação, tuas artes marciais e o medo aos cães. Obcecado por mandar
e ser desobedecido por uma menininha! É um indivíduo tão reles que não
merece uma só das tuas lágrimas.
Mas valeu: tu aprendeste sobre os perigos que corres e comprovaste
nossas teses. E o mais importante: comprovaste a importância do Amor
para recarregar as baterias da paixão. Os grandes gozos que tiveste foram
fruto da tua ansiedade por despir-te, conhecer encoxadas, e porque forças o
parceiro a retribuir-te o Amor que lhe dás: afagos, beijos, amassos e
brincadeiras voluptuosas, de modo a gozares com as tentativas dos garotos
para te convencer a dar: preliminares forçadas que levam ao gozo sem
cópula e pelo próprio Amor do teu coração. Se deitasses na cama, abrisses
as pernas e fosses copulada não terias prazer.
Quantas daquelas sessenta e oito mulheres teriam gozado e aceitado
uma segunda transa? E com pênis grande é pior porque a penetração não
pode ser completa e a tendência é copular devagarinho. Tiveste gozo
arrasador porque o forçaste aos toques que querias com lutas de Amor e
taponas e que valeram como se fossem Amor selvagem.
Estou muito orgulhosa da minha leoazinha. Tu puseste a besta, muito
mais poderosa fisicamente do que tu, para correr. Estou fascinada.
Mostraste que uma mulher pode ter reações de macho quando tentam violar
seus direitos ou afrontar sua dignidade. Tu foste um pitbull de batom. E o
melhor: sem perder o batom. Continuas feminil como sempre foste. Esquece
as infâmias que não podem te atingir. Se houvesse Amor seria terrível, mas
ele não passava de um objeto de pesquisas. Tu não o amas, não é?
Respondi-lhe com veemência:
─ Não, amiguinha! Ele não tem nada para ser amado! Apenas o
gigante me fascinava, mas para brincadeirinhas. Não serve para Amor
tórrido! Aliás, não presta para o Amor! Acho que ele submete as mulheres
para transá-las. Pelo que cuspiu, eu fui a única que ele não conseguiu
submeter nem transar. Mas por que há pessoas tão vis, tão asquerosas?
─ Está na raiz da nossa tese. Ele é vítima de atavismos maus. Até a
Revolução Francesa, imperou a barbárie do terror político, social,
religioso, e, é claro, educacional. Edu é o herdeiro típico desse regime em
que vigoraram execuções com torturas atrozes como a fogueira, a dama de
ferro, a empalação... E as crianças eram “educadas” com surras de varas,

329
chicotes, palmatórias... que não se extinguiram de todo, tanto que, em todo o
mundo, se fazem leis para proibir a “palmadinha”. É ainda a luta da
democracia contra o terror e os absolutismos tradicionais.
No Brasil, a lei contra a palmadinha está em discussão no
Congresso. Saliente-se que a palmada é a mais inocente das torturas físicas
e, portanto, a lei que a proibir proibirá qualquer tortura física.
Queres estarrecer-te? As pesquisas indicam que cinquenta e quatro
por cento das pessoas são contra a tal lei e apenas trinta e seis por cento
são a favor. E o pior, setenta e dois por cento foram surrados! Querem
vingar-se nos filhos? Nesse percentual irrisório dos favoráveis à extinção
da palmadinha, incluem-se, é óbvio, as pessoas ternas e capazes de amar
que não precisam do terror para educar as crianças. Isso explica a
dificuldade para encontrares um homem. A predominância disparada é dos
Edus, em que os maus instintos atávicos superam os bons, quando não os
solapam quase completamente.
Mas os aferrados à educação patriarcal têm boas razões para se
preocuparem com essa lei. Com ela em vigor, eles não terão como controlar
seus filhos “educados” como delinquentes. Seria um verdadeiro absurdo se
meninos “educados” como o Edu amassem os pais e não lhes fossem
submissos pelo medo, desforrando-se em mandar em quem eles acham que
podem mais. Daí as tentativas para te estuprar.
O complexo de Édipo é muito mais profundo do que supunha Freud.
Há uma guerra atávica entre pais e filhos. A lei romana das doze tábuas
estipulava que o pai tem poder de vida e morte sobre os filhos, podendo
vendê-los. Era, portanto, o seu pior inimigo, e legal! Não havia nenhuma
possibilidade de recurso senão matar o pai, o que seria um bruto crime.
Isso explica o relacionamento do pai de Edu com os filhos. Se o pai podia
matar ou vender os filhos, também podia violentá-los, estuprá-los e
escravizá-los. Essa guerra perdura através da memória genética e aflora
com a educação patriarcal.
Há, claro, o medo, a síndrome da escravidão, nem tão disfarçada,
de que o Edu é vítima, a educação patriarcal que impõe amar os pais por
mais odiosos que sejam: vê o mandamento “Honrar pai e mãe”. E ainda a
dependência dos filhos na alimentação e na falta de determinação, e também
o ódio visceral que descobriste no Edu, tão visceral que a vítima não
consegue esconder. É bem provável que seja a sua primeira explosão de
ódio aos pais. Esse ódio fica esquecido como um trauma no subconsciente e
pode explodir em certas circunstâncias, ainda que sejam raras as suas
manifestações.
No filme “Depois do Ensaio” de Ingmar Bergman, a personagem

330
Anna Egerman, ao falar do alcoolismo e falsidades da mãe, diz: “Demorou
muitos anos para que eu ousasse odiá-la”. E afirmou sentir-se melhor
depois de odiá-la.
Para encontrares um homem no Edu, seria preciso que ele tivesse
cabeça de pensar, mas tu já disseste que ela era de caracacá. Quando o
indivíduo tem boa inteligência e discernimento acaba por corrigir, ao menos
em parte, as falhas na própria educação, mas é preciso que tenha
inteligência acima da média. Provavelmente o Edu foi concebido e gestado
sob influência de álcool, tabaco e outras drogas. O desamor na educação
fez o resto. Quando notares cabeça fraca num pretendente podes descartá-lo
de imediato porque não te serve para nada.
Toda criança tratada como delinquente e explorada, desenvolve os
maus instintos herdados com a “memória genética” e perpetua memórias
ancestrais. Os horrores que o Edu disse sobre a mulher ele não inventou. É
o pensamento masculino que precedeu a Roma Antiga, atravessou toda a
Idade Média e está presente no subconsciente da maioria dos homens de
hoje, por atavismo. E como tu viste, não era apenas o pensamento da plebe.
Era também o pensamento dos formadores de opinião: filósofos, poetas,
legisladores, governantes e até monges e santos. Todos os grandes homens
da antiguidade tem a sua diatribe contra as mulheres.
Teu pai e eu analisamos a História Universal nas entrelinhas e todas
as nossas experiências, inclusive com os meus machões. Concluímos, como
viste, que todas as pessoas têm heranças e memórias atávicas boas e más.
Os homens têm um arraigado atavismo guerreiro. Estão em permanente
estado de guerra contra o pai, e até contra a mãe que se investe de poder e
também contra as mulheres em geral, desde a antiguidade remota. Os
desaforos e maldades que os filhos fazem são atos dessa guerra e vingança
dos castigos que recebem. Contra as mulheres, a espada dos homens é o
pênis.
Até o homem descobrir que também tinha participação na
concepção, cerca de quatro mil anos atrás, vigorou o matriarcado. Impôs o
patriarcalismo quando descobriu que a mulher gestava, mas a concepção
dependia dele. Era ele que dava vida e sexo ao óvulo e podia gerar quantos
filhos quisesse. E, enquanto a mulher levava em torno de um ano para
conceber e gestar cada filho, o homem poderia concebê-los todos os dias e
até vários por dia em mulheres diferentes. Bastava tê-las: engravidava
esposas, concubinas e escravas para gerar escravos ou guerreiros-escravos
para ampliar seus domínios. O homem podia ter quantas mulheres quisesse,
esposas ou não. Daí a guerra para impor o patriarcalismo com todas
aquelas infâmias contra a mulher.

331
Na medida em que esse atavismo guerreiro supera o amoroso, temos
os Edus, os meus machões e essa macharia que namoraste e pesquisaste e
que tentou te transar com insistência e até à força, sem respeito pelas
mulheres que, no fundo, odeiam. E eles só consideram que te venceram, que
te foderam, depois de te ferrarem a “espada”. – Riu – Tu viste que touché
não vale! Um descuido e estarias vencida. Tolinha, eu sucumbi, mas tu
derrotaste todos e infligiste ao Edu o seu Waterloo. – Riu – Tu me vingaste!
Se animais e aves são marcados pela memória genética, por que
nós, o último estágio mais perfeito e avançado da evolução, não o
seríamos? O ser humano é fruto da hereditariedade atávica e da memória
genética, mas principalmente do ambiente social em que é educado e dos
estímulos bons ou maus que recebe e que moldam essa memória genética
para o bem ou para o mal, podendo gerar Edus e até monstros como ocorreu
com o nazismo por desenvolver as memórias genéticas nocivas de
cambulhada com ideologias. O que chamamos de instintos e sexto-sentido
são, na verdade, memórias genéticas herdadas dos antepassados remotos. O
Amor estimula os bons instintos e atrofia os maus, o poder aniquila os bons
e desenvolve os maus. A criança é fruto dos bons ou maus exemplos e
estímulos que recebe, principalmente dos maus. Os pais têm, sim, os filhos
que merecem.
John Locke (1632-1704) teorizou que a mente humana é uma “tábula
rasa” que tem de ser preenchida com civilização.
Para Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) as crianças são puras e
precisam ser protegidas da corrupção dos adultos.
Mas a memória genética comprova que o cérebro infantil não é uma
“tabula rasa” e tampouco é puro. É evidente que precisa ser preenchido
com civilização e a qualidade dos estímulos que recebe pode transformá-lo
num ser maravilhoso como tu ou num monstrengo como o Edu...

É óbvio que foste tentada a dar para ele e eu sabia que serias. Se
tivesses cedido voltarias a dar e te tornarias uma cadela vadia, ou serias
uma “mulher livre” no eufemismo dos “politicamente corretos”. A esta
hora, em vez de te sentires indignada, estarias arquitetando a próxima
transa, embora com macho diferente em busca do pênis empolgante, como
as sessenta e oito que lhe cederam.
Serias indigna! Mas eu sabia que não cederias, não por qualquer
tolice moral que é um freio sócio-religioso e mutável a cada época e lugar,
além de flexível. Haja vista a questão dos gays, do aborto e da própria
liberdade sexual que mudam de país para país e até de região para região.
Tu resististe pela tua dignidade: foi a tua formação e determinação, o

332
saberes o que queres da vida, que salvaram a tua dignidade.
Há mesmo liberdade sexual? Ela é uma conquista moderna? O que
chamam de liberdade sexual existiu desde a primeira mulher ereta e, com
certeza, durante todo o matriarcado e foi a causa da decadência e queda de
impérios como o romano e o babilônico e da própria Grécia. Era,
geralmente, um fator de decadência de impérios e estados sólidos, porque
era fruto da dissolução dos costumes em que as orgias se tornavam
generalizadas, causando a lassidão dos homens em épocas em que ter um
exército forte era crucial para não sucumbir a impérios estrangeiros. É só
considerares as festinhas de embalo que são a degradação máxima a que
pode chegar o ser humano. Foi devido à queda do império romano, que
sucumbiu às orgias, que a igreja impôs a “moralidade sexual” que perdurou
até a descoberta da pílula no século passado.
O que chamam de liberdade sexual é, na verdade, sexo fácil, sexo
livre. A mulher é fácil. Ela não se dá, mas dá a preço vil, mais barata do
que uma prostituta, em troca de um jantar ou uma prenda ou de graça, e não
obtém nada em troca. (Eu dei de graça porque procurava pelo Amor). A
mulher fácil não obtém Amor, porque ele não existe no sexo livre que se
resume em cópulas, e nem mesmo gozo, porque a mulher leva mais tempo
do que o homem para atingir o clímax e, não havendo Amor, o homem não
se interessa pela satisfação da mulher que passa a vida a transar como os
cães e a ter chiliques...

É crucial distinguir entre o que é moral e o que é digno. A moral


muda com a época e os costumes. É célebre a diatribe de Marco Túlio
Cícero sobre a dissolução dos costumes no Império Romano: “O tempora, o
mores”!
Moral são normas impostas socialmente para manter a ordem. Se tu
saísses para a rua com aquela blusinha safada sem soutien, quebrarias essa
ordem: as mulheres iriam invejar-te, sentir-se mal e te julgariam: “Que
depravada! Os homens também te julgariam, procurando comer-te: “Que
putinha mais gostosa e safada”!
A dignidade, porém, é um conjunto de valores imutáveis e
intrínsecos que fazem da pessoa digna um ser muito especial, irreprochável:
é crucial seguir a Lei de Deus, repudiar a corrupção e respeitar os bons
usos e costumes para não ofender o próximo. Para a mulher o sexo livre foi
e é indigno, porque carece do Amor e até do gozo, mas, além de indigno,
era imoral nos tempos bíblicos: o homem podia ter quantas mulheres
quisesse, desde que não pertencessem a outrem. Entretanto a mulher só
podia ter um único homem sob pena de ser supliciada a pedradas como

333
ainda hoje ocorre em países teocráticos como o Irã.
No período de decadência da Babilônia as mulheres entregavam-se
livremente no templo para conseguirem casamento; na era romana, deixou
de ser imoral com a “dissolução dos costumes” e a decadência de Roma em
que as orgias passaram a ser comuns, fazendo Cícero praguejar contra os
tempos e os costumes. A igreja tornou-o imoral numa reação às orgias
romanas; No século passado, após a revolução sexual da pílula, perdeu
novamente a imoralidade. Teve até um ponto positivo: restaurou o sexo sem
culpa, mas não o Amor nem a dignidade.
De fato, com o sexo livre (fácil), a mulher dar para todo o mundo
deixou de ser imoral, embora indigno, e até as palavras tornaram-se
politicamente incorretas. Corre-se sério risco de um processo criminal se
dissermos que uma mulher promíscua (que faz sexo sem Amor com todos os
que lhe apetecerem) é promíscua!
O preconceito contra as palavras virou modismo. Vítimas de
fatalidades como o aleijado, o cego, o surdo, etc., viraram “deficientes”...
Como se a palavra deficiente fosse um elogio ou mudasse o status do
deficiente. De veras, podemos ofender alguém chamando-o de deficiente e
até com um elogio. Os italianos quando querem ofender gravemente alguém
o chamam de deficiente. E esses “politicamente corretos” são tão
“inteligeeentes”...
As palavras são neutras. Não são elas que ofendem, mas a intenção
com que as proferimos e pela inflexão de voz. Além disso, não existe o
“politicamente correto”. Uma coisa é correta ou não é correta. Se modificas
o termo “correto” há uma falsificação e a política está sempre de mãos
dadas com o pensamento dúbio. Raramente se associa à honestidade.
Segundo o Dicionário Houaiss é a “Habilidade no relacionar-se com os
outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados”. O politicamente
correto é tão correto quanto a política.
A questão é como se referir à mulher promíscua sem se
comprometer: mulher livre e mulher fácil são tradicionalmente mal
afamadas. Mulher de vários homens, pior. Acho que querem que
consideremos apenas duas categorias: mulheres e prostitutas. Eu e tu
estaríamos na mesma categoria das promíscuas! Isso seria “politicamente
correto”.
O teu amor por Francisco, puro e verdadeiro, seria digno se ele
fosse digno de ti, mas vocês não tinham nada em comum. Se o tivesses
levado para a tua suíte, não seria um ato imoral, perante a sociedade atual,
mas quanto à dignidade terias merecido as vergastadas do bispo: terias
virado uma mulher fácil, livre, de muitos homens, promíscua, ou como

334
queiram os “politicamente corretos”!
Esse teria sido o teu pior castigo: a terrível frustração de dares de
graça, sem gozo em troca, e continuares dando indefinidamente. “Dando” é
bem o termo porque “de graça”. Terias o fugidio prazer da penetração e de
algumas estocadas, mas, quando começasses a te empolgar em direção ao
clímax, tudo viraria geleia... É nesse trajeto entre a empolgação e o clímax
que a mulher se perde. Com muita sorte, e se for fogosa, ela chega a um
orgasmo fugidio e chocho.
No patriarcalismo também não existe lugar para Amor nem ternura e
nem mesmo cordialidade. Há poder, domínio, mandonismo. Não há
educador, mas adestrador! Não há a escolha que te damos. Há apenas
ordens a cumprir, não importando se boas ou más, certas ou erradas. O
patriarca é o dono da verdade e tem de ser temido e obedecido cegamente:
comando e obediência cega. Daí o escravismo. É o que o homem, ou o
diabo, já criou de mais odioso e odiento em toda a história da humanidade e
é o que levou o mundo dos homens a dar em merda, porque é todo o mundo
querendo roubar e foder todo o mundo.
O patriarcalismo é o avesso da educação que damos a ti e ao Ric.
Nós não exercemos poder nem mando sobre vocês, mas os consideramos
nossos iguais. Damos tratamento atencioso e aconchegante, embora
mantendo ascendência sobre vocês: nós lhes devemos alimentação,
vestuário, educação e sabedoria até que amadureçam e se equiparem a nós.
São preparados para liderar, não para mandar ou serem mandados. – Riu –
Seria péssimo se vocês optassem por uma carreira hierárquica como a
militar ou a eclesiástica, porque vocês jamais se encaixariam numa
hierarquia que é a quintessência do patriarcalismo.
Rômulo e Remo e seus comandados criaram uma Roma
essencialmente patriarcal que vigorou integralmente, mesmo após a invasão
dos bárbaros, até que o Iluminismo e a Revolução Francesa puseram fim ao
despotismo e às teocracias, separando o poder laico (Estado) do poder
religioso, mas ainda há muito que avançar na erradicação do maldito
patriarcalismo para que o mundo volte às mãos de Deus, ou seja, tenha um
mínimo de decência e dignidade.
Eu ri:
─ Sem essa “moralidade” de preconceito contra as palavras, achar
que é normal o mensalão e o caixa dois na política...
─ É. Tudo isso é quase moral para uma sociedade corrompida,
dirigida por corruptos, mas deixar-se enganar e espoliar é indigno!
Mamãe sorriu:
─ Como é gratificante ensinar-te! Estou muito orgulhosa, filhinha. Já

335
és capaz de disciplinar os teus descontroles, os teus desejos e o teu
coração, submetendo-os à determinação do teu cérebro. Já dominas a tua
libido, conduzindo os teus desejos para os pontos erógenos que tu queres.
Já sabes como te defenderes e cuidar de ti e da tua dignidade. Já és capaz
de escolher teus objetivos com sabedoria e determinação. Tu já conheces o
pior lado dos homens. Concentra-te em descobrires o melhor, filtrando as
cantadas, e vai-te ao prazer, se achares importante, até que encontres a
magnitude do Amor, porém evita os abertamente indignos.
Ao forçares o Amor (preliminares), preservando a mimosinha, tu
estarás em equilíbrio de gozo com o parceiro descartável, mas se cederes
estás perdida. Quando o menino força a ferrar-te a “espada”, a qualquer
custo, é porque está naquela guerra ancestral, considerando uma questão de
honra vencer-te, ou pior, não tem certeza da sua masculinidade e acha que
tem de comer todas para não ter de “sair do armário”. Infelizmente para
encontrar um homem digno é preciso filtrar as cantadas e fazer todos os
testes, descartando-os ao revelarem alguma indignidade.
Tua amiguinha já te fez ver que só uma minoria se importa com o
prazer da mulher e a trata com dignidade e respeito no relacionamento
sexual ou amoroso. E desses respeitosos, muitos ainda acham que se o sexo
que fazem é bom para eles também o é para elas e não se interessam em
saber se as satisfazem. Isso é muito triste porque, com uma boa preliminar,
combinada com Amor selvagem, paradinhas e vagina ativa, até um
ejaculador precoce seria um grande amante.
A maioria entende que só as prostitutas e vadias podem ter gozo
sexual, se é que têm! Tu ouviste o Edu: “se é gozo que tu queres, eu te dou
gozo”. É uma concessão: “as mulheres são só para foder, mas se são vadias
e querem gozar...”! Era comum na Itália, onde a influência romana e da
igreja é mais profunda, dizer-se que só a própria mãe e a irmã são santas
(porque não gozam). Todas as demais são putanas. – Riu – inclusive as
mães e as irmãs dos outros...
A educação sábia é a base de tudo: por que, em lugar de tapas e
gritos, não se ensina às crianças porque devem escovar os dentes e tomar
banho, por exemplo? Depois que aprendeste, nunca mais foi preciso
lembrar-te e muito menos policiar-te para saber se tu estavas debaixo do
chuveiro banhando-te ou sentada no vaso lendo gibi com o chuveiro aberto
para enganar-nos, como é comum entre as crianças “educadas” com ordens
e proibições...
E por que castigá-las gerando descontentamento e ódio? Não bastam
os castigos que a vida lhes dá quando erram? Toda criança ama quem a
ensina, mas odeia quem a castiga, sim, e se não o demonstra explicitamente

336
é porque tem medo e é dependente, reprimindo a aversão no subconsciente
e tornando-se paranoica.
Criança precisa de cultura, e o melhor, adora ser ensinada, mas, por
mais criança ou burrinha que seja, odeia ser mandada ou castigada,
especialmente se não sabe por que é mandada e porque é castigada. Por
isso inventam defesas: mentiras, maldades e desaforos. Se não as querem
deseducadas é só torná-las dependentes do Amor, a única dependência
digna.
Que criança faria um desaforo, uma maldade ou uma desobediência
arriscando-se a perder o Amor dos pais? E por que o faria? Se ela faz um
desaforo é porque não é amada e procura atenção. Não tem nada a perder.
Talvez até ganhe atenção: o objetivo do desaforo, ainda que sejam umas
palmadas. É essa a grande estupidez do patriarcalismo: os pais acham que
amam porque dão comida, roupa e os mandam para a escola. Amar é dar
carinho, atenção, ensino, sabedoria, dignidade.

Eu já sorria feliz, por ter uma mãe-amiguinha, sábia e carinhosa,


sempre pronta a acudir-me e ministrar-me conhecimentos inestimáveis para
o meu crescimento como ser humano. Quanto mais me comparava a amigas,
colegas ou namorados, mais me fascinava com a educação que recebia e
mais me afeiçoava à mamãe-amiguinha e a instituía como o meu modelo da
mulher que eu queria ser. Mas era à amiguinha, que eu tratava como uma
irmã mais velha, sábia, confidente e carinhosa, que eu queria me dirigir.
Cheia de Amor, abracei-a com ternura e pedi-lhe:
─ Deixa-me cuidar de ti. Meu Deus, quanto eu te devo! Tu sempre
me cuidas com tanto desvelo e eu tenho de recompensar papai por ter-me
dado a melhor mãezinha do mundo. É com Amor terno e paixão bruta que se
fazem esposas e mãezinhas adoráveis, não é? Essa mãezinha é obra dele!
Se eu fosse filha de um daqueles cinco machões, mesmo contigo...
Meu Deus! Mas é realmente o pai que determina quem nascerá ou não: Se o
espermatozoide determina a sexualidade também contém o gérmen da vida.
Se em vez de mim, nascesse um menino, não seria a minha vida que
vingaria, mas a dele que se perdeu na corrida dos espermatozoides.
Eu não existiria sem papai, mas poderia ter nascido do ventre de
qualquer das mulheres que ele amou: Iara, se sobrevivesse ao desastre, Li
liam, se evoluísse além do Amor platônico, ou mesmo de Diana, se fosse
digna, ou de Selene, se ela tivesse aprendido a amar em tempo hábil... Mas
ele teria feito de qualquer delas uma mãezinha adorável como tu: o Amor
pode tudo e de cambulhada com paixão bruta...
Mas é a mulher que complementa o gérmen da vida com o DNA do

337
seu óvulo e dá-lhe suporte com a barriguinha, tornando-a possível, e eu
estou muito feliz em ter nascido do teu ventre abençoado para ganhar tua
beleza, teus olhinhos, essa doçura infinita e essa sabedoria que parece
conter o mundo.
Emocionada, mamãe fascinava-se com o meu raciocínio e o meu
afeto. Abraçou-me e sorriu:
─ É assim mesmo e, quando estamos aptos a sermos pais,
concebemos os melhores filhos do mundo e tu... Tu estás me saindo uma
filósofa inata. Abençoado seja cada minuto que despendemos contigo:
nenhum foi em vão!
Ambas já sorríamos e eu sequei-lhe os cabelos e escovei-os,
enquanto lhe dizia:
─ Querida amiguinha, mamãe censurou-me, mas eu mereci. Eu
exagerei muito ao extrapolar, tolamente, os limites de segurança que tu me
deste e estive muito perto do desastre. Por um triz o Edu não me ferrou a
espada. Eu queria saber tudo sobre os homens e o sexo e estava fascinada
por dominar um machão, mas vou conter-me.
Mamãe tem razão. De nada vale aprender sobre machões. Eu
confiava no meu pé e nos cães, mas não contava com a vilania dos garotos.
– Sorri com a ternura que ela sempre me despertou – Desculpa-me se
mamãe também te censurou... Ela deixou-me muito feliz ao dizer que eu já
posso dispensar tua assessoria. Mas o melhor é que já tenho sorrisos para o
papai e tu também... Esqueçamos o quase desastre e vamos deslumbrá-lo!
Satisfeita com os cabelos, vesti-lhe uma de minhas minissaias que
desnudava coxas fantásticas e, sabendo o poder daquelas mamas por ter
iguais, cobri-as com o fru-fru de uma de minhas blusinhas fofas que fez
crescer o desejo e o frisson em mamãe.
Sei que ela se deslumbrara quando me viu metida numa sem soutien,
tanto que nem se permitiu pedir-me para experimentá-las e ei-la metidinha
numa, podendo sentir e afagar os seios através dela! E dentro de instantes...
Feliz da vida, percebi que ela mal podia esperar... Com apenas duas peças
pequeninas pouco avaras dos seus mimos, via-se vestida de nudez, com
todos os seus “mistérios ocultos” devassáveis por olhos, mãos e otras
cositas más... E olhos do Amor selvagem!
Eu estava embevecida de Amor e gratidão a papai por ter-me dado
uma mãezinha tão maravilhosa combinada com a mais fascinante das
amiguinhas que me dera sabedoria e habilidades para enfrentar os
percalços da vida e ser capaz de enfrentar perigos como o Edu com
dignidade e, deslumbrada com tanta sedução, pedi-lhe um volteio diante do
espelho. Muito álacre, ela dançou e não resistiu a afagar o seio...

338
Perguntou-me:
─ Eu não estou muito escandalosa?
Ri:
─ Escandalosa? Meu Deus! Se escândalo é sedução e volúpia, bota
escândalo nisso! Mas não é volúpia que o Amor quer? Cuidado com os
santos de pedra – ri brincalhona – e principalmente com o teu santo de
pau... Mas papai merece o melhor de ti e da vida e tu também mereces tudo
o que ele e a vida têm de melhor para te dar e também o que ele vai fazer
contigo: Eu sei – ri – o que esse traje provoca no macho! E na fêmea
também! Já estás cheia de frissons! Deixa o macho apertar-te por sobre essa
seda que tu vais sentir o que seja necessidade absoluta do macho. Tu não
precisas de soutien nem de maquiagem: se melhorares estragas. Fica com
teu sabor e teus cheiros para arrasares o teu macho de tesão e te dar gozo
arrasador.
Tu estás um fascínio de sedução e volúpia, e com tantos sorrisos e
frissons! O que estás esperando, tolinha? Vamos fazer resplandecer o mel
dos olhinhos de papai! Tu podes dançar e ser indecente, mas não tira a
roupa, não! Ele que te dispa, se quiser. Vestida de nudez... – Ri – E se ele te
jogasse na parede ou na escada e te fizesse subir de lagartixa?
Conduzi-a até o topo da escada. Papai sorriu-nos e fez sinal para
esperarmos enquanto pegava a câmera. Dançamos um tango no topo da
escada. Eu conduzi a fêmea amiguinha. Papai filmou-nos até chegarmos ao
pé dele. Disse deslumbrado:
Quando vi esses pares de olhos esmeraldinos iluminando sorrisos
esplendorosos, meu coração atribulado serenou e eu relaxei: Vocês são a
mais perfeita imagem do Amor angelical conduzindo a paixão extrema!
Metidinha numa camisolinha da minha cor preferida, rósea, eu
realmente parecia um anjo e sorri orgulhosa da mamãe ao entregá-la,
dizendo-lhe:
─ Toma a eterna namoradinha do Amor. – sorri com meiguice – Ela
não está deslumbrante nesse fru-fru de sedas e seios?
Aquele fru-fru! Sob ele destacava-se um par de pombos brancos,
agitados e voluptuosos, com biquinhos se impondo, arrulhando de Amor e
querendo alçar voo do decote generoso... e o resto... o resto também era
tudo obra prima do Divino Escultor. Eu me orgulhava da forma escultural
da minha mãezinha, mais ainda porque eu era o seu retrato.
Fascinado, papai sorriu:
─ Agora entendo porque tua mãezinha ficou tão aflita para pores o
soutien. – Abraçou-me – Estou muito orgulhoso de ti e feliz de ter uma
filhinha tão generosa, mas se alguma me sair à rua num traje desses, sem

339
soutien, terá de ser castigada. É uma atração irresistível para tarados e
pedófilos e também para homens que sejam machos!
Olhei assustada para mamãe e ela, que extraíra da ameaça uma
declaração de Amor, piscou-me um olho cheio de cumplicidade, abraçou-
lhe o pescoço esfregando o nariz no dele e, com voz quente, inquiriu-o:
─ E para o lobo mau, que faz ameaças, cheio de ternura, e me
deslumbra de macheza, o que eu sou?
Refeita do desconforto e, sorrindo, perguntei:
─ Vou fazer um lanche, também querem? Darei duas batidinhas na
porta – ri – quando chegar o delivery.
Falei e escafedi-me para a cozinha. De passagem por espelhos,
mamãe vira o tamanho do escândalo em que eu a transformara e que outrora
a faria corar, mas, então, a fazia arfar de desejo, volúpia e frissons e eu
bem sabia (não era eu a confidente daquela amiguinha sem segredos e não
adivinhávamos uma da outra até o que não dizíamos?) que papai ansiava
botar as mãos e otras cositas más nos seus fru-frus e dar-lhe todos os
“castigos” que lhe infligia quando a pegava cheia de tesão... (lagartixa,
colinho para apanhar, surras de pau...) e metidinha em todo aquele
escândalo...
Quando deixei o carrinho do lanche junto à porta, deu para ouvir os
gritos da amiguinha, apesar do som alto. Devia estar subindo pelas paredes,
atingindo o looping da montanha russa, pronta para explodir os eflúvios do
prazer numa descida alucinante.
Encontrariam frios e Champagne no gelo que o meu zelo de filha
dedicada preparara, imaginando que aquele sábado seria uma longa noite
de loucuras... Vieram dar-me o beijinho de boa noite... Estavam em êxtase e
mamãe era um sorriso teimoso... Apertei o abraço em torno dos seus
pescoços, sorrindo na maior felicidade.
Papai perguntou-me:
─ Tu sabes quem é a melhor filha do mundo?
Ri:
─ Estou me esforçando para ser eu, mas eu sei dizer-te quem são os
melhores pais do mundo e eu vou cuidar da mamãe para que ela cuide de ti
direitinho. É com meninas maluquinhas que se fazem esposos e paizinhos
maravilhosos. – Ri – Tu também és obra da mamãe, mas eu hei de ser
sempre digna de vocês.
Com aquele sorriso aliciante e deveras teimoso, mamãe perguntou-
lhe:
─ Tu sabes o que essa menina acabou de conquistar?
Papai derretia-se.

340
─ O título de doutora em homens e dirigindo-se a mim:
─ Parabéns, Doutora, já estás especialista em Amor e apta a cativar
o homem da tua vida.
Sorriu para papai:
─ Ela livrou-se de ser estuprada chutando a bunda do safado. É a
minha heroína.
─ E minha também. Por que não me chamaste, eu teria quebrado a
cara dele.
Eu ri:
─ Eu podia dar conta da bicha e até quebrar-lhe a cara. Passei-lhe o
pé ventando nas fuças que ele tremeu nas bases, porém, para aprender a ser
homem, se tal é possível, aquele machão estúpido tinha de ter a bunda
chutada por uma mulher. Quem mais senão eu? Para mim era uma questão
de honra vingar as mulheres enganadas e estupradas e eu botei toda a força
da minha raiva.
Papai era todo orgulho da filhota:
─ Doutora também em homens e ensinando machões a se
masculinizarem. Parabéns, filhota! Quando conquistares um homem digno
de ti eu te darei o PhD em Amor.
Especialista em Amor! Meu Deus! Eu exultava e não tinha palavras.
Apenas dei-lhes um abraço arrochado. Papai abraçou-me feliz da vida.
Fazendo-me cócegas na barriga, perguntou-me:
─ O que é que pais maravilhosos fazem com uma pessoinha
fascinante?
Eu ria e me contorcia, gritando “Ai, Não! Não! Não para”! Beijou-
me a face, dizendo-me:
─ Dorme com Deus e tem os sonhos que mereces nos braços
carinhosos do teu anjo da guarda.
Eu sorri e adormeci com aquele sorriso no rosto. Mas percebi que
mamãe, encantada com o Amor afetuoso da filha e o respeito irreverente da
amiguinha, beijou-me, ajeitando-me as cobertas, pulou no pescoço de papai
e, com boca devoradora, cavalgou-o de volta aos seus aposentos.
No dia seguinte, mamãe estava especialmente feliz: era toda
sorrisos e muito carinhosa disse-me:
─ Filhinha, estive pensando no teu amadurecimento. Tu precisas de
um homem para extravasar esse Amor que tens no coração. Tu tens
necessidade absoluta de amar. Eu sei o que é isso. Tu já estás craque em
obter o gozo máximo, preservando a mimosinha e evitando que a
necessidade de macho se torne obsessiva. Exercita a fêmea que tu és – riu –
mas não dá mole para os machões. Boa sorte com o teu “pé no saco”, mas

341
conta comigo para te proteger com os cães. Porém não esqueças – tornou a
rir – que a tua amiguinha é muito curiosa e vai querer saber tudinho nos
mínimos detalhes.
Eu ri:
─ A “amiguinha curiosa” também vai ter de me contar o que botou
esse sorriso maravilhoso no teu rostinho...
Ela riu:
─ As brutalidades do Amor tórrido! Que mais poderia ser? Foram
tantas e tão brutas que me deixaram de bem com a vida, com Deus e com o
mundo. Um dia, não muito distante, quero ver o teu rostinho risonho por
fartura de Amor bruto.
Mamãe não é um docinho? Ela tem razão. Eu sou cálida, voluptuosa
e sedenta de Amor bruto como ela. Tenho todos os seus atavismos. Eu tenho
necessidade absoluta de amar, beijar, afagar... e de ser brutalizada com
amassos, apertões nos meus mimos e paixão bruta nas minhas coxas e nos
beicinhos desnudos e até taponas na bundinha. Tudo retribuído.
Ser dominada e vencida pelo Amor de paixão bruta lá dentro é o
meu grande sonho. Porém para ir além de encoxadas num shortinho, é
preciso estar muito atenta e segura de controlar as pernas e ser boa de pé-
no-saco para esquivar de penetrações indesejáveis. É preciso dominar o
macho e, só então, aceitar sua dominação, segura de não abrir as pernas e
poder dominá-lo num ippon, ou o cabacinho explode.
Depois da minha proeza contra o Edu eu me considerei La Femme
Fatale e irei perscrutar passeios e praças de alimentação de olhos e
ouvidos bem abertos e, ao encontrar um menino gentil, irei sorrir-lhe
encabuladinha... Se a cantada agradar e ele concordar em fazer Amor sem
penetração, La Femme Fatale vai dar-lhe muito Amor, até que, fatalement
o descarte se ele não evoluir satisfatoriamente.
Karina crescera muito com o episódio que acabara em sordidez e
com as teses da mãe. Liberada pela mãe, já se considera uma mulher e,
fascinada com o próprio texto, assinou: La Femme Fatale. Com o muito que
eu ri, fiquei imaginando quanto Karina teria rido da cara do Edu ao adotar
aquela marca.

342
Capítulo XXIV – À PROCURA DO AMOR

Fascinada e liberta do desconforto para com a filha, Aline


encomendou uma coleção de blusinhas de seda e de cetim para não ter de
despi-las para o seu macho e as usa com minissaias que ela rouba do
guarda-roupa de Karina e que fazem imaginar complementos de coxas
deslumbrantes. Até Chapeuzinho Vermelho as anda vestindo, mudando seu
visual e ficando ainda mais menininha, voluptuosa e inocentinha, uma
menina impossível de não amar...
Surpreendeu-me com uma cujo decote só não chegava ao umbigo
porque a blusa também não, deixando insinuarem-se aureolas arroxeadas
que escapavam do decote generoso. Dava para agarrar o pombo no voo,
escapando do amplo decote, arrulhando Amor... Chapeuzinho, sempre com
sua cestinha de doces frutos que aquela menina maluquinha me dá na boca e
a sua irresistível inocência, é a mais fascinante e uma das mais eróticas de
suas criações.
Tornaram-se raros os strip-teases em que ela dispa as preciosas
pecinhas a não ser o esconde-esconde de seios no fru-fru da seda ou do
cetim e negaceios da bundinha manipulando a microssaia ou dançando
puladinho, mas sempre me dá a chance de despi-la, peça por peça, na
volúpia de cada movimento da dança. Isso quando não me aparece em
danças eróticas, toda devassada nas duas pecinhas preciosas e, às vezes,
também com uma calcinha sem fundo... com os pombos alçando voo, de
bicos em riste, daquele decote que desafia a imaginação.
Prefere a minissaia porque a torna uma menininha sedutora e
voluptuosa para o Amor: uma menininha para amar. Sobe pelos meus
flancos com as mãos no meu pescoço, oferecendo tudo para afagos, sugadas
e beijos, num afã desesperado pelo macho... e aqueles beijos... Às vezes,
ela perde uma peça, ou ambas, na sofreguidão do come-come ou eu a
surpreendo: com um puxão em laços e zíperes, deixo-a nuazinha. Porém ela
é boa de charminho e, ao surpreender-se nua, com um gritinho de surpresa e
cara vexadinha cobre rapidamente os pudores com as mãos...
Não raro, no calor da dança, reclama dos calores e, inocentinha,

343
abre a blusinha e, como o calor persiste, arranca a calcinha toda esbaforida
e até a minissaia que deixa à mostra coxas e bunda alucinantes. Como não
brutalizá-la dançando? Ela não dispensa nada que possa seduzir-me ou dar-
me prazer sempre com arte e graça. Aline? Como resistir? Como não
comer? Trocá-la por outra? Nem pensar!

Fizera as encomendas com Karina, já em plena cumplicidade com a


filha e completamente livre de pudores. Deslumbrada com a “nova”
amiguinha inteiramente aberta e concessiva, Karina forçou-a a comprar as
super decotadas: “Sei que tu só vais usá-las nos teus aposentos e eu, com
um top”... Permutavam-nas para terem maior variedade de padrões e
modelos e Karina adorava penteá-la e vesti-la de nudez para grandes
noitadas: “Papai merece e é uma delícia ver esse docinho derretendo em
frissons”. E, muito meiga, concluía com uma piadinha irreverente, do tipo:
“vamos deslumbrar o teu macho para ele te encher de pirocadas brutas”.
Um dia, já com fartura de blusinhas e notando-lhe a libido à flor da
pele, perguntou-lhe:
─ Como queres que eu deixe essa fêmea louquinha para ser picada
pelo Amor?
Aline sorriu moleca e surpreendeu-a pelo despudor, respondendo-
lhe simplesmente:
─ Muito puta!
Karina riu. Vê-la livre de pudores em plena cumplicidade era a sua
suprema aspiração. Por isso, ver a amiguinha toda exposta a enchia de
alegria:
─ Deixa-me brincar de mamãe. Nas últimas vezes que brinquei de
mamãe com a Barbie eu adorava deixá-la muito puta com uma minissaia
muito curta, sem calcinha, e os peitos sem soutien aparecendo por baixo da
blusa semi-aberta, como a então amiga Clarinha. Dizia-lhe: “Vai, filhinha,
deslumbrar o teu homem”. Eu sonhava namorar um homem, vestida assim,
bem puta, e a deitava coberta pelo macho. Agora eu tenho uma Barbie de
verdade – riu – só que mais peituda.
Penteou-lhe os cabelos presos atrás da cabeça, imitando A Bela da
Tarde, para ela lançá-los sobre mim. Empoou-lhe a bunda e a menina com
talco, como fazia com suas bonecas, vestiu-lhe também uma calcinha sem
fundo, uma de suas minissaias e uma blusinha que transparecia a orla dos
seios, deixando parte à mostra e brincou:
─ Vai, filhinha, deslumbrar o teu homem! Tu estás a minha Barbie
puta mais perfeita. Dá um volteio em frente ao espelho.
Deslumbrada, Aline lembrou a putinha de Paris, só que mais sedutora e

344
voluptuosa com a minissaia arrasadora e seios seminus. Era todinha tesão
bravio numa doçura de menina feita para o Amor: Era Amor e paixão
exacerbados numa garota feita toda de Amor. Dançou. Deslumbrada com
sua obra, Karina perguntou-lhe rindo:
─ Queres também uma bolsinha para rodar, descendo as escadas?
Fascinada com sua própria imagem dançando ao espelho, Aline riu:
─ Não... Isso de rodar bolsinha é para profissionais. Eu não quero
tesão de puta. Eu quero é ficar puta de tesão, o que não é para profissionais.
E arriar de tanto gozar, o que também não é para profissionais.
Karina riu:
─ Nem para burocratas, não é?
Na verdade, foi Karina que exorcizou o último demônio da alma de
Aline. Ela ainda sentia alguns pejos de mãe em relação à filha como
experimentar-lhe as blusinhas safadas e Karina adorava a mãe, mas era
fascinada pela amiguinha sábia e a queria como no pacto: “tu me contas
tudo e eu te conto tudo”. Conseguiu o milagre, vestindo-a de volúpia,
impondo-lhe sua cumplicidade.
Nos fins de semana, arrastava-a para a hidromassagem, dizendo-lhe:
“quero mais da tua sabedoria”. Relaxavam, fazia-lhe uma massagem,
ajeitava-lhe os cabelos e vestia-lhe o que encontrava de mais voluptuoso.
Enquanto relaxavam, filosofavam sobre sexo, paixão, Amor... Lucubravam
o porquê de o Amor inexistir nos meninos e ser tão raro nos homens... O
porquê de o Amor não existir sempre de cambulhada com a paixão que se
sobressai dura, mas de “pouca dura”: por que ela não resiste até gozarmos?
E até acrescentavam novos temas ou experimentações à nossa teoria. Às
vezes comentavam livros, filmes e artes. Foi numa relaxada dessas que
Karina aproveitou para ler e comentar com a mãe uma carta que acabara de
receber do Edu e dizia:
“Querida Karina,
Me perdoa se “ouzo” escrever pra você. Quero que você me perdoe
todos os erros que eu fiz. Eu era mesmo um verme e você deve ter muita
raiva de mim.
Pensei muito em tudo o que você disse aquela noite e,
principalmente, as tuas últimas palavra. Que você seja abençoada pra
sempre. Você virou a minha vida do avesso e começo a me sentir um
homem. Fui muito estúpido! Você me dava amor e eu acho que te amava,
mas fazia tudo do avesso pra não me apaixonar. Eu queria comer todas e
fazia tudo de acordo com o meu egoísmo mandão. Não fiz nada pra retribuir
o teu amor. E você me deu tanto! Mesmo sem penetração, você me deu
muito mais gozo do que qualquer outra e meu coração só quer você. Perdoa

345
o novo homem que eu sou, por causa de você.
Arrumei um emprego e saí de casa, consultei um psiquiatra, pus meu
pai na cadeia e virei minha vida do avesso. E o amor por você está
mudando a minha vida e deixei de ser mandão, dono de todas, e escravo e
bicha do meu pai!
Tudo o que eu queria era mandar em você! Foi horrível perder pro
teu ippon e o teu pé... E agora eu quero muito me submeter às delícias do
teu amor com taponas, ippons, te apertando nos meu braços, e tudo o que
você quiser. Eu sonho com noites compridas como aquela, mas pra te amar.
Só quero você. Agora eu sei que você não é c... doce. Você tem objetivo e
sabe o que quer... E eu não me arrisco virar bicha, mesmo com tuas taponas
e amassos na minha bunda. Não nasci com o “gene trocado”. Você e o
psiquiatra colocaram a minha vida nos eixo.
Sei que não te mereço, mas preciso muito da tua amizade. Pra você
me ensinar a ser um homem de verdade e se você me der uma nova chance
eu serei o homem que você quer. Eu adoraria corresponder com tesão a
todos os beijos apaixonados que eu esnobei e respeitar as tuas vontade!
Estou te amando, meu amor, de coração aberto e sangrando pelo mal
que te fiz e pelo amor que recebi e esnobei: Poderia ter sido uma noite
muito feliz!
Edu”.

─ Ah, filha, é impossível ignorar que o Amor é Deus! A força que


ele tem só se encontra em Deus. Mesmo esquivando-se e lutando ferozmente
contra o Amor, ele teve de se render à sua força divinal. Seu gene do Amor
está se impondo ao seu gene do poder, do mando... e com que força! Viste o
poder dos teus beijos e de tua força amante?
Sabe-se que uma fera, se está numa entalada e tu a ajudas ela fica
tua amiga e, se tiver chance, é capaz de arriscar a própria vida para te
salvar. E o Edu era uma verdadeira fera acuada e só não te estuprou porque
não conseguiu vencer tuas artes marciais e a tua determinação. Mas o Amor
se impôs. E quando é o de uma menina pura...
─ Ele é deveras outro homem. Parece ter encontrado a ternura.
Apesar dos erros na carta, cresceu até intelectualmente: o Edu que eu
conheci nunca escreveria essa carta. Tu achas que eu devo aceitá-lo de
volta?
─ Desconhecer o Amor é desconhecer Deus, é a ignorância
suprema, e nada é mais opressivo ao próprio obcecado por mandar do que
o poder e o mandonismo. Ele é visto por todos com desconfiança, medo e
aversão. Até pela esposa e pelos filhos e pelos próprios subalternos ou

346
correligionários.
Mesmo a paixão, sem o Amor que a torna digna, é uma forma de
opressão que pode ser brutal: atenta para a obsessão do Edu em te foder a
qualquer custo ou para os tarados e pedófilos que chegam ao crime para
satisfazer suas paixões. O Edu chegou a correr o risco de expor-se aos cães
para ferrar-te a “espada”... Porém o Amor... O Amor liberta. Tu o
libertaste da ignorância suprema e da opressão. Tu lhe inoculaste, à sua
revelia, o Amor e a ternura, redimindo-o. Isso explica porque Jesus
aceitava a todos: o Amor redime qualquer pecado, qualquer crime, e todo
pecador pode se redimir cedendo ao Amor e voltando-se para Deus.
O Amor acelera o coração, oxigena o cérebro e areja as ideias,
sendo incompatível com o mandonismo. Um exclui inexoravelmente o outro.
Tu decretaste a morte do Edu mandão. Já a ternura é irresistível e se envolta
em paixão... Até eu estou sentido uma profunda simpatia por ele, portanto é
natural que tu desejes reviver todos os teus desejos daquela noite envolta na
ternura que vislumbraste na carta e que tu buscas há tanto tempo.
Mas tens de analisar muito bem todos os riscos. É claro que a
ternura é crucial, mas Edu não serve para teu esposo porque sonhas com a
TVC tórrida e nunca a poderás fazer com ele. Também tem, apesar da
melhora, cabeça muito fraca para acompanhar o teu intelecto.
Com certeza ele tenderia a apaixonar-se mais por ti e tu poderias te
apaixonar por ele. Amor gera Amor. E uma separação futura, quando
encontrares o teu verdadeiro Amor, seria muito traumática para ambos. A
vida tem seus encontros e desencontros e, se bobeares, ela te pune
brutalmente. Tu irias ao encontro dos teus objetivos e superarias o trauma,
mas e o Edu? Estarias implodindo sua nova vida e seus novos objetivos.
Tu tens uma missão divina: inocular o Amor no coração das pessoas
e com que força tu o fazes! Tu podes ajudá-lo a encontrar o seu rumo
trocando correspondências, cultivando uma simples amizade. Será muito
mais fácil ele se conformar em te perder agora do que no futuro quando o
Amor se tornar visceral, e se ele refizer aquela noite contigo sob a
influência do Amor é inevitável.
Ele descobriu a tua beleza maior: a tua beleza interior, e quem a
descobrir adoecerá de Amor por ti. É inescapável. Ele está vivendo o
Amor por ti e vivenciando Deus no coração. É claro que O Deus de Amor
te obriga a amá-lo, ainda que não quisesses, porque ele abjurou o poder de
satanás e aceitou O Deus de Amor no coração (comutando a chave do gene
do mandonismo para Amor, mesmo que ele não saiba), tornando-se filho de
Deus e nosso irmão em Jesus, mas não estás obrigada a dar-lhe paixão.
A paixão é exclusiva dos teus sentidos e do teu livre arbítrio. Só tu

347
podes determinar a quem dá-la, mesmo porque só deves dá-la a um único
homem que mereça, realmente, o teu Amor. Nem Deus te obriga, embora
possa dar-te uma mãozinha. Ele pôs papai no meu caminho, mas a escolha
foi nossa: ternura com ternura, Meu Deus!
Edu aprendeu a amar, com paixão tórrida, e poderá cativar para
sempre uma menina que o mereça. Tu podes ensinar-lhe os Ts Grandões.
Quem lhe resistirá?
Ficou provado que há de fato um ou dois genes comutáveis para o
Amor e que delinquentes podem tornar-se, por via do Amor e de um choque
sócio-educativo, pessoas dignas. Já imaginaste se todos os monstros
nazistas continuassem monstros, gerando monstros após a Segunda Guerra
Mundial?
E a tua missão divina? Se o teu Amor inoculado no Edu teve um
resultado tão fantástico, deve estar favorecendo o desenvolvimento da
macharia a quem deste Amor. Quantos meninos tu ainda poderás ensinar a
amar até encontrares o homem da tua vida e gerares Amor!
Todos temos de fato razões para viver e a mais digna de todas é
abrir espaço no coração das pessoas para o Amor de Deus. De que vale
correr para os templos, bater no peito, ouvir prédicas fanatizantes e prover
os clérigos de dinheiro? É muito mais digno e cristão confortar os aflitos e
os necessitados, e até os inimigos, ou preparar-se para receber o esposo
com sorrisos, aconchego e coração aberto para falar de ternuras. É por aí
que se começa a abrir o caminho para Jesus e para Deus e para ficar de
bem com a vida.

O episódio com o Edu a fez sentir-se madura para o Amor e, segura


de seu autocontrole, procurou por um substituto, mas que fosse, no máximo,
um machão civilizado. Depois de muito sorriso encabulado, cativou um que
se afeiçoou a ela, mas também de paixão grande e Amor pequeno.
Confidenciou à mãe:
─ Aquele menino recebe muito do meu Amor porque é lindo e tem
uma bruta paixão que me endoidece de tesão, mas Amor e sabedoria... Ele
até jura que me ama, mas uma mulher como nós sabe quando é amada. Só o
Amor nos convence, não juras, e ele tem só paixão, – riu – de “muita dura”
e até grandona, mas Amor...
Embora deseje transar, ele respeita os meus limites. Por isso eu o
tornei bruto, prendo-o num ippon, por garantia, e brinco tranquila com a
cabecinha, porque ele não procura vencer-me, e dou-lhe Amor a fartar. Ele
vai à loucura com algemadas e chupitadas na cabecinha, mas se mantém
pombinho, porque sabe que acabaria a “ficada” se virasse quero-quero

348
como o Edu. E é claro que ele não quer perder a deusa ativa da mimosinha
maluquinha e das violentas encoxadas brutas.
Eu até entendi porque o cérebro se cansa da falta de Amor. Às vezes
eu me canso de dar Amor procurando pelo Amor sem encontrá-lo... Fica um
grande vazio no relacionamento... – Riu – e não é o da mimosinha! E eu
queria tanto preencher os meus vazios!
Vivo me perguntando se não estou desperdiçando Amor, mas eu não
sei estar junto do meu homem, mesmo provisório e desprovido de ternura,
sem inundá-lo de Amor, e faço de conta que sou amada. E Amor não gasta,
não é? Quanto mais damos, mais temos para dar. É triste que haja pessoas
que não percebam isso.
─ Tu já és deveras especialista em Amor. Já diferencias fazer Amor
de trepar. Juras de Amor são simples afirmações de que ele precisa de ti
para trepar, para satisfazer suas necessidades libidinosas com o comodismo
de morarem juntos: casamento burocrático. Fazer Amor, porém, é
aconchego, interação de corpos, ternuras e mentes. É o entrelaçamento de
almas. Mais do que vidas em comum, como a paixão, Amor é ternuras em
comum. Mas quando sentir a falta do teu Amor, ele ficará terno.
Ao avançar nos treze anos e resvalando no Amor, Karina
amadurecia para ele e procurava cativar rapazes de dezessete anos, todavia
sempre com cuidado para não perder a virgindade e para evitar desafetos.
Só para pesquisas e brincadeirinhas adorava garotos com pênis voluptuosos
e massivos e, quando adquiria confiança neles, pedia-lhes para tirar-lhe o
soutien ou o top e levava-os à loucura com suas blusinhas fofas e até com
sua nudez, inundando-os de Amor. Mas o seu reduto do prazer era sempre o
cinema ou o esconderijo ao alcance dos cães, sempre atenta a tentativas de
penetração. Se topasse um faixa preta impossível de vencer, ela apelaria
para os cães.
Enfrentava as feras sozinha ou em grupo de dois ou três casais com
suas amiguinhas do pacto e os respectivos namorados. Para grandes
folguedos, ficava uma em cada nicho de cada lado do portão e Karina
recomendava rindo à amiga:
─ Se ele tentar foder-te, me chama que eu lhe dou o pé-no-saco.
A amiga ria:
─ Esqueces que tu também me fizeste boa de pé-no-saco?

Quando completou os quatorze anos, sentiu-se realmente madura e,


doutora em homens, só aceitava namorar homens com alguma maturidade e
que demonstrassem ser o desenvolvimento de um bom projeto de homem.
Se não encontrava ternura e um mínimo de inteligência, despachava-os de

349
imediato. A prioridade passara a ser o Amor: encontrar um homem digno e
culto que a fizesse adormecer “arriada de gozo e aquecidinha de ternura”.
Perfeccionista, ia analisando-lhe as qualidades: quando encontrava uma
nota baixa, sorria para outro.
Com a tradicional aura de proibição e tabu, o sexo sempre
despertou excessiva curiosidade nos meninos e, máxime, nas meninas,
sendo o assunto preferido de uns e outras. Com a liberação sexual e a
exposição nas mídias, principalmente na internet, é natural que desejem
realizá-lo plenamente.
Karina é deveras fogosa e sonha com a iniciação no Amor.
Experiente e exigente nas cantadas, encontrou um homem terno que caiu de
amores por ela. Tendo, porém, cabeça fraca e cultura escassa, ele não se
prestava para ser o Amor da sua vida, mas ela encantou-se pela ternura do
moço. Era a primeira vez que se sentia amada além da simples paixão e se
fascinava por ver que, num homem, era possível encontrar o Amor.
O pênis longo, mas fino, decepcionou-a a princípio, mas “fino é
bom para sexo anal”. Sua imaginação fértil começou a fervilhar: passou a
arquitetar um plano para ter a sua penetração anal. Não era a ansiada, mas
ficava perto... Ela confiava no seu ippon e nas suas artes capoeiristas, além
dos cães, porém ele era tão terno e acessível aos seus desejos... Ia
deslumbrar a mãe com sua empolgação:
─ Ah, amiguinha, ele me ama e não faz por vencer-me, nem mesmo
alude a penetrações. Falou-me embevecido de Amor: “É óbvio que fazer
Amor dentro de ti é a maior aspiração da minha vida, mas a tua comilança
bruta com as coxas são o maior gozo que eu já tive e as loucuras da tua
menina e as massagens de bundinha, Meu Deus”!
Imaginei que, com um pedaço de absorvente interno introduzido na
vagina protegida por esparadrapo para evitar qualquer deslize ou perda de
juízo dele ou meu, eu poderia experimentar os prazeres anais com
segurança e sem desconforto, além de premiar aquele Amor que me
embevecia.
André é um Amor muito respeitoso e sempre cede aos meus desejos.
Nós já tínhamos realizado tudo, inclusive treinar a menina com algemadas e
chupitadas na cabecinha com loucuras de gozo, mas não penetrações, e eu
estava fervendo de desejo de ser penetrada com Amor e retribuir em dobro
tanto Amor e prazer. Foi uma felicidade dar-lhe o tubo de gel para ele
lubrificar-me. Com a mimosinha protegida e super lubrificada e
massageada no reto por dedos carinhosos e ambos malucos de desejos,
abri-me para a TCC. De chapéu tailandês! Foi fantástico! Fascinada com o
instrumento apetecido, pedi-lhe: “Entra”!

350
Após várias tentativas, consegui uma posição dos quadris em que a
navegação – riu – daquele lenho longo e leve dentro de mim foi completa e
instigante. As intromissões eram macias e prazerosas, mas, com forte
pressão no reto, me davam prazer descomunal e ele encontrava seus
caminhos com facilidade dentro de mim. Era um ir e vir macio, apertadinho
e prazeroso que parecia invadir todo o meu âmago. Mantive o chapéu: e que
“la nave vá”.
Ri:
─ Vai fundo e embrutece.
Seu púbis me levava à loucura com as fricções na vulva e no
clitóris. Eu o envolvia com braços e pernas e ele, deitando-me pressão no
corpo todo e prensando-me contra as mãos nos meus ombros, beijava-me e
dava-me Amor de paixão bruta, atendendo aos meus rogos e, com aquela
bruta esfregação no meu clitóris, eu explodi num orgasmo arrasador.
Ainda naquela explosão de gozo, dei-me de cachorrinha. “La nave”
já tinha os caminhos abertos. Amplos mares que ela navegou com maciez,
mas avanços brutos como pedia o meu tesão. Supliquei-lhe: “não te
esqueças da cambalhota”. Ele apertou-me mordendo-me o pescoço e a
orelha, enquanto a transa fluía prazerosa e profunda, arrepiando-me toda.
Como as intromissões eram suaves e pareciam aveludadas, embora
deliciosamente apertadinhas, ele atendeu minhas súplicas de força máxima
com encoxadas brutas, puxando-me pelos quadris contra a brutalidade do
pênis. Dei-lhe a boca para ele beijar prestes a explodir em novo orgasmo.
Quando explodi, ele gemia de prazer e, numa encoxada violenta, me soltou
para as cambalhotas. Ah, amiguinha do céu, pesquisas já não são
importantes porque já sei identificar um homem de verdade e até já conheço
as delícias do Amor. Ele disse que ia fazer os exames de DSTs para
brincarmos à vontade. Acho que vou “ficar” até encontrar o grande Amor
da minha vida.
Tu tens razão. Com Amor é muito melhor. Mas muito melhor mesmo!
Ele está doente de Amor por mim. Eu sinto o Amor envolver-me
completamente, embevecida de gozo, e o bruto gozo da paixão parece vir
por acréscimo. Ele é todo doce e o desejo de apertar, lamber, morder,
chupar, comer... Nós vamos nos comer o tempo todo: ele no meu ânus e eu
naquela cabecinha delicada com algemadas e chupitadas.
Baudelaire estava certo: quem ama tem necessidade de comer o ente
amado. Somos fascinação um para o outro. Nosso Amor não será
transcendental, mas eu amo aquela paixão me comendo à bruta. E ele jurou
que nunca teve tanto prazer quanto eu lhe dou, inclusive apertado entre as
coxas e os beicinhos da mimosinha em que eu o como na contramão das

351
suas estocadas brutas, levando-o à loucura.
Riu:
─ É tanto Amor e a paixão é tão selvagem que vamos acabar
virando canibais.
Aline sorriu encantada:
─ Tu estás deslumbrada pelo Amor... Que bom que o encontraste.
Também vais ficar perita na prática do Amor. Se tu tens confiança nele e na
tua responsabilidade, leva-o para a tua suíte, mas não desistas de encontrar
o teu homem completo.
─ Tu tinhas razão, eu sou fascinada no pênis e aquele que carrega o
Amor para o mais profundo do meu âmago... Ai que desejo irresistível de
botar-lhe a boquinha. Tu achas que eu posso?
─ É melhor que tu mesma te decidas, mas sempre há riscos.
Aguarda os exames e se te sentires segura... – Riu – É melhor do que chupar
camisinhas. A prática nos ensina, mas é importante falar de desejos e
prazeres, de preferências e encantamentos. Orienta-o como brincar com o
teu clitóris e o teu “ponto G”. O controle da pressão é importante e Amor é
reciprocidade. Embora despudorada, a 69 é Amor dos grandes. E se com
boquinhas afoitas para amar paixões...
Aquela menina nada tinha de desprezível e o jovem André caiu de
amores e, ao descobrir virtudes, ternuras e a capacidade de amar, adoeceu
de Amor, mas Karina almejava a epopeia do Amor tórrido e uma
convivência intelectual elevada que André não lhe poderia dar. Como ela
jamais desistia de um objetivo, continuou a busca, mas o carinho por quem
lhe fizera conhecer o Amor tornaria a separação traumática.

352
Terceira Parte: - AO ENCONTRO DO AMOR

353
Capítulo XXV – NA FACULDADE

Aplicada e inteligente, aos quatorze anos, Karina passou no


vestibular de medicina, na USP. Abençoei-a rindo:
─ Ainda bem que não te decidiste por Direito...
Veio correndo mostrar-me o jornal com sua aprovação com o
sorriso mais feliz da sua vida estampado no rosto:
─ Papai! Papai! Eu passei! Eu passei! E agitava o jornal como o
estandarte da vitória.
Sorri-lhe com muita ternura abrindo-lhe os braços:
─ O teu nomezinho está entre os primeiros se não no primeiro lugar,
não está?
Ela parecia ter levado um choque:
─ Como é que tu sabes? Eu sou a primeira colocada.
─ Eu não sei. Eu sempre soube. Então eu não conheço a dedicação
da minha filhota?
Ela olhou-me interrogativa.
─ É, filhota! Como sempre fizeste desde que aprendeste a ler,
dançar e tocar piano, tu te dedicas completamente a tudo o que fazes. Pões
Amor e o coração em tudo o que intentas alcançar. Jamais ficaste
“Esperando Godot”. Esse é e sempre foi o segredo do teu sucesso e a razão
do orgulho que sempre tive de ti.
─ Quem é Godot?
─ Ah, tu não conheces. “Esperando Godot” é uma peça importante
de Samuel Beckett. Tu a encontras na internet. Seus personagens esperam
Godot o tempo inteiro, ou seja, que caiam do Céu acontecimentos
grandiosos que tornem suas vidas apetecidas. Nem para se matar eles têm
iniciativa: têm a árvore, mas não têm a corda!
Tu te empenhaste tanto em aprender a ler que sempre me
emocionaste a cada aula que te dava. Mamãe diz o mesmo do teu interesse
pelas aulas de dança. Ela chegou a chorar de emoção por causa do empenho
que tu punhas em aprender cada passo. O vovô pianista ficava feliz por tu
gostares de brincar com ele batendo as teclas do piano e se emocionava a

354
cada nota que identificavas. Sabiamente não queria te forçar a nada, mas
quando demonstraste interesse em aprender e ele viu a dedicação e o
interesse com que o fazias, ficou maravilhado. Sempre foste e continuas
sendo a primeira.
Eu e tua mãe procuramos sempre abrir teus horizontes e preparar-te
para escolheres os teus próprios caminhos na vida. Sempre fizemos com
que tu procurasses descobrir a natureza, a razão e o porquê das coisas. Já
quando te ensinei a ler, fiz com que aprendesses a natureza das letras: sons
e ruídos e para que serviam. Fiz com que visses as flores não apenas como
uma coisa bonita, mas te fiz descobrir a natureza delas com seus ciclos de
reprodução. E tu foste, cada vez mais, investigando a natureza, a razão e o
porquê das coisas, descobrindo, além do que elas são, como são e porque
são.
Ela envolveu-me apertado no carinho dos seus braços e beijou-me:
─ Tu és um pai maravilhoso!
─ Tu também és maravilhosa. Eu te dissuadi de fazer o cursinho
para o vestibular porque sabia que tu não precisavas dele. Por que eu
sabia? Porque tu jamais deixaste de fazer teus deveres de casa, mas nunca
pediste ajuda a mim ou à mamãe. Para esclarecer tuas dúvidas, sempre
recorreste aos livros, à gramática, ao dicionário, à enciclopédia e até à
internet. Sempre pesquisaste e esse é o segredo do sucesso de todo
estudante que se preza.
O que realmente importa não é estudar, mas aprender, saber. Tu não
“estudaste” para o vestibular, mas deixaste para trás milhares de
concorrentes que tinham “estudado” em cursinhos. Por quê? Tu aprendeste
tudo o que era importante no colégio porque sempre pesquisaste para fazer
as tarefas de casa e para complementares as aulas, a fim de aprender muito
bem tudo o que era ensinado. E a decoreba dos cursinhos não é aprender.
Quando pesquisas para aprender o que não sabes aprendes cem
vezes mais do que o colega que copia a tarefa do teu caderno, porque o
importante não é ter a lição no caderno para exibir ao professor. O que
importa é tê-la na cabeça. A lição no caderno é apenas uma prova de que
ela está na tua cabeça, mas se a prova é falsa tu não tens nada! Esses que
copiam as tarefas e pensam que estão enganando os professores enganam é
a si próprios. Eles estão roubando de si mesmos o seu patrimônio mais
precioso: o saber.
Ninguém pode te roubar o saber senão tu mesma. Eles conseguirão o
canudo? Talvez, se conseguirem saber o mínimo suficiente para entrar numa
faculdade dessas que vendem canudos em vez de ensinarem. Mas quando o
forem sacudir no nariz de um relações humanas, este vai pedir-lhes pelo

355
conhecimento armazenado em seus cérebros e, como ele não vai estar lá,
eles terão mesmo é de pendurar o diploma no carrinho de pipoca ou
enfrentar longas filas para conseguir um emprego de gari. O que garante um
bom emprego não é o canudo, mas o saber armazenado no cérebro.
Quem tem o diploma no cérebro e não apenas no canudo não
precisará procurar. Ele será procurado e disputado no mercado de trabalho.
Além disso, eu sei muito bem que tu nunca te contentaste com a quantidade
de livros que te dou e que não são poucos. Tu sempre fuçaste, com esse
narizinho lindo, nos meus livros. Lendo e pesquisando tanto, tu realmente
me surpreenderias se não ficasses com o primeiro lugar. Como vês, tu
levaste uma enorme vantagem sobre todos os outros concorrentes porque tu
tornaste a pesquisa o teu principal instrumento de aprendizado em todas as
matérias.
Ela observou:
─ Mas foste tu que me ensinaste a pesquisar e me alertaste para a
importância da pesquisa. É estranho, mas não se aprende isso na escola.
─ Eu sei. Eu sempre pesquisei porque intuí que era o modo mais
fácil e eficaz de aprender e percebi que o ensino no Brasil é muito
deficiente e fica cada vez pior. Os exames vestibulares ficam cada vez mais
fáceis e a nota de corte fica menor. Tu deves ter achado as provas ridículas.
─ Achei-as extremamente fáceis. Eu receava que tivesse muita
dificuldade, mas – riu – tirei tudo de letra.
─ É para tu veres. A escola socialista é tão ruim que passar em
primeiro nem chega a ser um feito. Os estudantes das escolas públicas,
geralmente pobres e negros, não conseguem ingressar nas faculdades
porque o ensino naquelas escolas é péssimo. O que tu achas que deve ser
feito? Melhorar o ensino público fundamental e médio para que todos
tenham condições iguais de entrar nas faculdades, ou criar “reserva de
vagas” nas universidades para que esses estudantes entrem nelas, mesmo
sem qualificação?
Ela riu:
─ Tu me fazias proposições muito mais difíceis de optar quando eu
era criancinha! Essa é simplesmente ridícula!
─ Pois os governos estão tratando de criar “reserva de vagas” por
lei.
Ela não riu, apenas perguntou muito séria?
─ Tu falas sério, papai?
Eu acenei-lhe com a cabeça e acrescentei:
─ E esses governantes combatem ferozmente o preconceito de cor...
Aí ela mijou-se de rir.

356
─ Em vez de melhorarem a escola, tornando-a eficiente para
capacitar a todos pela força do seu intelecto, promovem a entrada na
faculdade pelo fim da lista de aprovados. É de pasmar! Se os professores,
que reclamam tanto de seus salários, ensinassem os alunos a pesquisar já
melhoraria muito. Eles aprenderiam sozinhos o que a escola e os
professores não têm capacidade ou tempo para ensinar. Pesquisa é
fundamental.
─ Eu pude sentir isso. Não fora o que eu aprendi pesquisando, sei
que teria muitas dificuldades para entrar na faculdade, mesmo com esse
exame ridículo. Lembro-me da vez em que te pedi ajuda. Perguntei-te qual
era a função de um “que” numa oração. Tu me disseste: “Isso tu mesma é
que terás de descobrir, porque o importante não é saber o que as coisas são,
mas porque elas são. O que precisas descobrir é porque o que em questão é
pronome relativo, conjunção integrante, etc. Mas eu te ajudo”. Tu me
mandaste pegar a gramática, procurar no índice pelas “funções do que” e
verificar em que caso o “que” da oração se enquadrava.
Deu-me trabalho, mas eu descobri. Eu tinha certeza de ter
descoberto, mas fui conferir contigo. Tu ficaste tão feliz, me abraçaste tão
apertado... E as pesquisas foram se tornando cada vez mais fáceis. A cada
pesquisa, eu encontrava mais facilmente o que procurava e sempre aprendia
mais coisas...
─ Tu entendeste porque eu não te disse simplesmente: “esse quê é
um pronome relativo”?
─ Entendi, papai, seria o mesmo que copiar a lição do caderno do
colega. Pesquisando, eu aprendi o que era um pronome relativo e porque
ele era relativo e sempre soube identificar um pronome relativo em
qualquer oração, por mais complexa que fosse e, o melhor, facilitou-me
interpretar os textos. Aprender tornou-se muito mais fácil e eu comecei
realmente a procurar pela razão e o porquê das coisas, das mais complexas
às mais simples como, por exemplo, porque melancia não dá em árvore. –
Riu – Se uma melancia tivesse caído na cabeça de Newton em vez da maçã,
nós não teríamos a Lei da Gravidade, não é?
Eu ri:
─ Mas é justamente a constante busca da razão e do por quê das
coisas, mesmo das mais simples, que faz o sábio. O que consolidou a
genialidade de Newton foi ele querer saber por que uma maçã tão leve e
inofensiva causara um impacto tão grande ao cair do alto da macieira. Ele
descobriu, como toda gente, que um corpo em queda produz um impacto
muito maior do que a sua massa corpórea, mas importou-lhe, e muito, saber
o por quê!

357
Karina riu:
─ E a razão era a ilustre e, até então, desconhecida Lei da
Gravidade! Sim, papai, eu tenho aprendido muitos porquês importantes e
acho que o mais importante de todos eu aprendi agora.
─ E qual é?
─ O porquê de ser um privilégio tão grande ser tua filha!
─ Não maior que o de ser teu pai. Eu tenho em ti, em ter-te gerado e
educado, a principal justificativa para a minha vida. Tu fazes o meu
orgulho, a minha felicidade e eu estar de bem comigo próprio. Educar uma
menina é uma tarefa extremamente árdua e tu me saíste uma filha perfeita.
Eu sempre me emociono ao ver tua fome de saber, tão grande quanto a fome
que tinhas dos peitos da tua mãe. Tu lhe deves muito Amor. O leite generoso
que ela te deu com tanto Amor também é responsável por tuas aptidões. Eu
sei, porque muitas vezes brinquei de mamar junto contigo, depois de
banhar-te faminta e emporcalhada, apertando-te a bundinha fofa, com tua
mãe afagando nossas cabeças.
Ela ficava em êxtase! Ela amava amamentar-te. Às vezes, eu
brincava contigo, puxando-te pelos pezinhos. Tu resmungavas, mas não
largavas da mama. Tua mãe ralhava comigo e eu apertava-lhe o seio com
ambas as mãos, fazendo um chafariz de leite na minha boca. Ela ria toda
enlevada. Era tanta felicidade, filhinha! Tu sempre mamaste de um peito
feliz.
Karina riu embevecida:
─ Tu também fazias tuas travessuras, não é?
─ Fazia... Fazia e ainda faço. Eu não conseguia estar perto de ti sem
brincar e apertar tuas fofuras... É tão bom a gente fazer brincadeirinhas,
soltar uma piadinha, sentir-se criança e, acima de tudo, falar de coração
aberto sem peias nem defesas como só as crianças falam.
Contigo, tua mãe e Ric eu sempre me sinto criança. Sempre falo de
coração aberto com a pureza de uma criança. Fico tão embevecido com o
meu trio de Amor. Quando te ensinei a ler e sobre as flores, eu me sentia um
menino naquelas cantorias loucas e, se tu queres saber, quando eu te
mandava voltar para os teus brinquedos eu sentia uma tristeza tão grande no
coração... A mesma tristeza que eu via nos teus olhinhos ainda sedentos de
cantoria e, no dia seguinte, eu ficava na expectativa de que tu viesses para
mais cantoria.
Eu adorava aqueles momentos contigo e empolgava-me com a tua
empolgação. Quando conheci tua mãe, ao vê-la tão linda e tão simples, com
os olhinhos tristes, eu senti por ela uma simpatia muito grande. Quis muito
fazê-la sorrir. Como eu quis! Ao ouvir meu canto, ela deu-me um sorriso tão

358
lindo que foi como se eu visse seu coração sorrindo, cheio de ternura. Foi,
sim, foi um sorriso de criança, de criança que tivesse ganhado a festa da sua
vida e o seu brinquedo mais desejado.
Fiquei tão emocionado, tão criança! Tu podes imaginar? A festa da
sua vida era eu! E aquele sorriso persistente que ela não conseguia
estancar... Linda, terna e simples, ela já era praticamente a mulher dos meus
sonhos. Eu me vi tão menino e tão empolgado que lhe abri o coração e lhe
prometi tudo em troca de um beijo. Até tu eu lhe prometi. E olha que eu não
o fiz levianamente. Eu só o fizera uma única vez na vida!
Karina abraçou-me emocionada:
─ Foi à Iara, eu sei. Foi um Amor muito lindo, papai.
─ Foi sim. Foi tão lindo que, se não fosse aquele motorista bêbado,
tu terias nascido com olhinhos negros e pele dourada, mas não menos linda.
O mundo dá tantas voltas... Como uma roleta... Mas se tivermos paciência
acabará caindo o número da nossa sorte. Depois de tanta busca e uma
tragédia estúpida, tua mãe caiu no meu colo. Sê paciente que um dia o teu
número da sorte cairá, não num pano verde onde jamais o encontrarás, mas
no final de um longo tapete vermelho...
Ela olhou-me interrogativa:
─ Isso é uma profecia?
─ Que eu quero muito que se cumpra! Muito mesmo! Tu nunca
afrontaste a vida. Foste sempre complacente com ela e mereces o melhor
que ela te puder dar. E tu o terás porque és tão persistente quanto o sorriso
teimoso da tua mãe!
Ela sorriu-me e apertou-me muito nos seus braços. Eu exortei-a:
─ Eu entendo que devemos tirar o máximo que pudermos da infância
e nunca deixar envelhecer a criança que temos dentro de nós. Eu travei uma
guerra insana para fazer sobreviver o meu eu criança que tentaram matar
com surras despropositadas em lugar da atenção e do afeto que me eram
devidos.
Eu tinha tanta curiosidade, queria tanto saber sobre todas as coisas e
as pessoas grandes pareciam não saber nada! E eu procurava aprender por
mim mesmo. Queria saber o que eram as coisas e como e porque
funcionavam. Desmontava e remontava relógios e rádios velhos, tentando
consertá-los e descobrir como funcionavam, fazia meus próprios
brinquedos (não havia outro meio de tê-los), fiz até um automóvel com
direção de volante e breque de pedal, desde as próprias rodas de madeira,
tentando imitar os de verdade.
A minha salvação é que eu queria muito ser o avesso das pessoas
grandes! – Ri – Eu as achava tão estúpidas! Para que cresceram tanto, se

359
não aprenderam nada! Elas não conseguem descobrir que as crianças são
famintas de saber. É horrível a gente ver todo um mundo ao nosso redor e
não entender nada! Elas só sabem mandar!
E o pior é que eu sigo achando a maioria delas estúpidas. Estúpidas
e ou corruptas. É só atentares para os nossos políticos. Compõem uma
massa amorfa, indefinida, homogênea e mal cheirosa... Qualquer cidadão de
bem se mantém longe, por não suportar a podridão. E isso é muito ruim
porque só temos podridão nos mandos! Para onde vão os desmandos?
Ainda menino, soube de um cidadão bem intencionado e capaz. Elegeu-se
vereador por achar que era fácil tornar a cidade mais bonita e agradável,
melhorar o ensino, a saúde pública e a segurança, ampliar os transportes,
incentivar as artes, enfim, tornar a vida mais prazerosa aos munícipes.
Afinal, a arrecadação de impostos era astronômica e, empregada no bem-
estar dos munícipes, tornaria todos felizes.
Mas todos os seus pares falavam uma linguagem diferente. Só
cuidavam de mudar nomes de logradouros públicos e aumentar ainda mais
os impostos. Aliás, de “logradouros” eles entendiam como ninguém. Eles
confundiam com “logradores”... Para se elegerem eles prometem
maravilhas, mas eleitos são apenas logradores e aumentadores de impostos.
E os eleitores os reelegem por mais suja que tenham a ficha... É por isso
que continuo achando, como Nelson Rodrigues, que a maioria é burra.
─ Mas tu venceste a guerra, eu sei, e saíste da luta revigorado e
engrandecido e eu sei quanto! Já eu... Se eu sou essa menina que pintas com
tintas maravilhosas é porque eu sempre quis merecer-te. Eu sempre quis ser
o espelho de ti e de mamãe e refletir tudo o que vocês têm de maravilhosos.
Eu sempre quis ser como vocês.
─ Eu sei. Nada acontece por acaso. Não existe efeito sem causa. E a
causa de seres como és, e de seres a primeira, é teres amado muito teus pais
porque sempre te amaram muito. Os filhos sempre imitam os pais, mais
ainda quando são muito amados, e essa é a maior de todas as razões para
que os pais sejam sempre bons exemplos. Continua com essa dedicação
toda, filhinha. Não tenhas pejo de imitar-nos porque logo estarás criando e
seremos nós a imitar-te. Não há nada mais sábio do que imitar os sábios. Sê
sempre pura e verdadeira como essa criança que é o meu encanto e terás
todos os troféus que tentares conquistar. Dedicação e Amor ao que fazes é
tudo de que precisas e tu os tens de sobra.
As pessoas envelhecem cedo, geralmente, muito crianças, porque os
castigos e desatenções as tornam fracas, dissimuladas, mentirosas,
trapaceiras. E esconder suas fraquezas e levar vantagem em tudo se torna o
seu ideal de vida, ainda quando isso as deixe em brutal desvantagem como

360
os que tentam roubar o teu saber, copiando a lição do teu caderno...
E cada governo é sempre pior do que o anterior, seja de um
intelectual ou não, porque, para se reelegerem, a “pasta rosa” (e de outras
colorações, além dos dólares na cueca e na calcinha e a corrupção das
empreiteiras) tem de ser cada vez mais recheada e, para compensar, eles
transferem para os bancos e empreiteiras a maior parte da renda nacional
por meio de juros e tarifas bancárias escorchantes e obras super faturadas.
Tu deves ter notado que, apesar dos péssimos resultados da economia e do
PIB, a renda dos bancos só faz crescer! E isso sem se falar naquela massa
amorfa, indefinida, homogênea e malcheirosa que descaracteriza o
Congresso Nacional, transformando-o num balcão de negócios escusos...
Diz-me, filhinha, se tu fosses presidente da república e teus
ministros te dissessem que, para extinguires a miséria, terias de aumentar a
produção de bens em quantidade que bastasse a todos e para exportar,
gerando riqueza e divisas para criar empregos para todos os necessitados
ou, simplesmente, criar milhões de cartões para distribuir esmolas aos
muito pobres, comprando-lhes o voto, para tanto bastando apenas aumentar
impostos, que opção tu seguirias?
─ Ah, papai, essa também é ridícula demais. – Riu – Eu começaria
exonerando o autor da segunda opção. Francamente...
─ Pois os presidentes têm escolhido o cartão...
Ela riu:
─ Ah! Não brinques, papai!
─ Juro que não estou brincando. É tão fácil aumentar impostos e o
povão os paga bovinamente! Tão bovinamente que nem pensa em aplicar-
lhes o “cartão vermelho” e eles se reelegem com milhões de cartões de
miseráveis... e mais impostos... Na verdade é como na Roma Antiga:
“panes et circences”. O pão do cartão e o circo das CPIs que o governo faz
toda sorte de tramoias para terminar em “pizza”.
Tu és uma criança que estás apenas desabrochando para a vida, mas
com tirocínio muito maior do que as pessoas que nos governam. És pura,
com um coração lindo e uma cabecinha maravilhosa que sempre me encanta
e me enche de orgulho e eu te quero ver assim durante todos os anos da
minha vida. Tu sempre foste muito aplicada. Raramente te dispunhas a fazer
molecagens. Malvadezas e desaforos, jamais!
Quando te enfaravas dos brinquedos, tu lias, brincavas no piano,
ensaiavas dança com tuas amiguinhas, ensinava-as a ler. Fazias leituras em
grupo. Brincavam de roda, de pega-pega, esconde-esconde... Quantas vezes
não me emocionei vendo-te liderar o grupo! Tu, realmente, vais fundo na
busca do porquê e da razão das coisas e do meio de tirares, não vantagens,

361
mas o melhor proveito delas.
Meus cuidados são com o mundo lá de fora. Precisarás estar atenta
para toda sorte de falsidades com os olhos bem abertos. A desfaçatez com
que as pessoas roubam, mentem, enganam e falsificam a verdade (políticos
inclusive) é de estarrecer. Tu viverás indignada com elas. Mas com nossos
parentes e amigos deverás ser sempre essa criança pura e verdadeira que a
todos encanta. Peço-te desculpas pelo mundo que te lego... Minha geração e
as anteriores não conseguiram mudar nada senão para pior. Praticaram
terrorismo e guerrilhas tolas, mas, mesmo onde foram mais bem sucedidos,
tudo deu em merda... Espero que a tua geração seja mais afortunada.
Ela ficou misteriosa:
─ Posso fazer-te uma pergunta muito pessoal?
─ Claro! Sou teu amigo verdadeiro e não temos segredos, lembras?
Ela sorriu com muita ternura:
─ Lembro, papai-amiguinho! Como poderia esquecer?
─ É um pacto para toda a vida e verdadeiro. Se encarreguei tua mãe
de te orientar é porque ela é muito capaz e, menina como tu, já viveu todos
os problemas que estás enfrentando. Portanto, ela sabe melhor como te
ensinar e vocês estão a salvo de qualquer constrangimento. Mas não há
pergunta que te seja vedada. Portanto, pergunta, filhinha-amiguinha!
─ Tu falaste do teu encontro com mamãe... Se ela tivesse se
recusado a te acompanhar à tua casa, o que terias feito?
─ Quando lhe fiz o convite, eu também já tinha descoberto sua
inteligência, cultura e meiguice e me embriagara de seu hálito puro, sem
nenhum vestígio de quaisquer drogas. Vi também que ela era fogosa, mas
estava à procura de um coração... E tive certeza de que não era uma cadela.
Cadelas não sentem vergonha e ela enrubescia de cada frase ou gesto
relativos a sexo. Era ela a mulher que eu buscara a minha vida toda e só
havia uma coisa tão grande quanto o meu Amor por ela: o meu desejo de
possuí-la. Mas possuí-la de posse total: de corpo e alma, coração e mente.
E quando um homem quer uma mulher de forma tão absoluta...
Se o que queremos é só uma transa, ou “ficar”, como dizem os
jovens da tua idade, o máximo que nos acontece é ficarmos frustrados por
não desfrutar uma menina apetitosa. Mas quando encontramos o Amor da
nossa vida ou há uma chance de tê-lo encontrado; quando sonhamos grande;
quando buscamos qualidades raras; quando queremos alguém com
inteligência e não “esperteza”, não podemos perder a menor chance. Eu a
tinha presa nos meus braços, de onde ela jamais escaparia sem me dar, ao
menos, um número de telefone e jurar-me encontrar-se comigo, ainda que
fosse só para um jantar ou um cinema.

362
Talvez estejas intrigada por que não lhe propus namoro. Nem me
ocorreu. Ocorreria se houvesse recusa e seria o último recurso
desesperado, mas, de forma implícita, eu já lhe prometera muito mais. Até
tu eu lhe prometera! Eu a queria junto de mim e no meu coração. Eu bem via
que ela era de fato a mulher com que eu sempre sonhara para ter todos os
dias da minha vida e para gerar os meus filhos. Sim, eu haveria de tê-la,
custasse o que custasse e haveria de conquistá-la para toda a vida... Mas, se
tu queres mesmo saber, eu creio que nem eu nem ela dormiríamos enquanto
não enlaçássemos nossas ternuras e satisfizéssemos nossos desejos e, na
primeira possibilidade, correríamos um para o outro, sedentos de desejo e
doentes de Amor.
Ela me sorriu emocionada:
─ Isso explica porque eu cresci em meio a tanto Amor e me faz
acreditar na tua profecia... Mamãe também me disse que era ser tua ou
morrer de frio no coração.
─ Envolvi-a nos braços:
─ Tem paciência, filhinha, ela se realizará. Tu tens todas as virtudes
da tua mãe e nenhum homem que tiver qualidades compatíveis com as tuas e
descobrir as lindezas que guardas no coração te dará a menor chance de
escapar-lhe, por mais esquiva que tu lhe sejas... Se é o que te aflige, não
precisas ter nenhum receio de deixar o sexo para depois da caminhada pelo
tapete vermelho... Isso só vai enobrecer-te aos olhos do Amor da tua vida...
E se tu fores de fato o Amor da vida dele, ele estará lá ansioso à tua espera.
Tu já encontraste o Amor, o que não é nada fácil, é só encontrares Amor
com qualidades.
Tu já estás preparada para traçares teus próprios caminhos com
segurança e certeza, inclusive para escolheres o homem da tua vida. Já tens
régua e compasso, bússola e leme... Podes singrar os mares que quiseres...
Escolheste medicina que me parece ser a carreira mais difícil e mais árdua,
mas tu tens inteligência, interesse e dedicação mais do que suficientes para
honrá-la. Queres mais uma profecia realizável? Tu encontrarás o homem da
tua vida na universidade!
Ela olhou-me incrédula.
─ Não acreditas! O homem da tua vida tem de estar entre as
melhores cabeças para não se sentir diminuído diante de ti, o que acabaria
azedando o relacionamento. Cá fora, tens de procurá-lo entre milhões. A tua
universidade é procurada por todos os que se julgam minimamente capazes,
selecionando, portanto, os melhores intelectos. Praticamente, eles estão
todos lá. E boa parte são cabeças realmente lindas. É só escolheres, entre
as melhores, uma que se afine contigo.

363
Foi lá que eu encontrei Iara e algumas cadelinhas inteligentes,
fogosas e de pele macia que, se não fossem cadelinhas... E, como eu
estudava à noite, trabalhava, e a faculdade ficava no centro, não frequentava
o campus. Tu terás um belo contingente na tua faculdade e poderás
frequentar o campus que, entre outras atrações, tem uma bela piscina, um
museu, um cinema de arte e muitas cabeças maravilhosas. Só tens de ser tu
mesma, ser discreta e saber usar esse sorriso na hora certa. Fatalmente,
serás tentada por rapazes, inclusive bem intencionados. Então é só usares a
bússola para descobrires o que têm nos corações e o leme para
determinares a direção a favor ou contrária...
Vou dar-te uma dica muito importante. Os alunos sempre se dividem
em grupos, como no colégio. Além do grupo que tu frequentares para o
cafezinho dos intervalos, tu podes penetrar, ao acaso, nos demais grupos,
impondo o teu saber e elevando o nível da conversa. Facilmente dominarás
a conversa, possivelmente, com um aluno que se destaque pela inteligência.
Daí pode surgir uma centelha... um curto circuito... sorrisos ternos e
encabulados... Então é só aplicar-lhe a tua pesquisa...
Ela sorriu encantamento e surpreendeu-me com sua argúcia:
─ Já acredito, papai! Vou esquadrinhar a faculdade e o campus com
meu sorriso terno até ser, não cantada, mas encantada com muita ternura e
sabedoria.
Era realmente a minha filha! Brinquei:
─ Não vais esperar Godot?
Ela riu:
─ Não mesmo! Vou procurar e encantar o meu sábio terno onde quer
que ele esteja! Eu tenho de merecê-lo, não é?
─ Com certeza! Tanto quanto ele terá de ser digno de ti. E guarda no
coração: Tu existes porque teus pais se encantaram.

Ao entrar para a faculdade, ainda namorava o André. Ele tentava


conquistar-lhe o coração, mas embora terno as notas não a satisfaziam.
Manteve-o fascinada pela ternura, com muito Amor, mas até ser encantada
pelo Amor desejado. Embora muito requestada, não namorava na
universidade. Ela queria ser como de fato era: discreta e digna. Namoro só
quando encontrasse o seu sábio terno e digno dela.
Especialista em Amor e no campo mais propício, lançou-se à
procura do seu sábio terno. Apegou-se a um grupo para o papinho e o
cafezinho dos intervalos, mas, simpática, palradora, inteligente e culta,
penetrava todos os grupos e logo fazia o nível da conversa subir,
introduzindo algum assunto palpitante do momento: um filme, um livro, uma

364
peça, um corpo de baile, um concerto, uma muvuca política e até futebol,
mas sempre com o mesmo entusiasmo. Não demorava a dominar a conversa
com alguém mais intelectualizado. Seu objetivo era descobrir alguém que
estivesse bem ao seu nível em aparência e intelectualidade e, então,
perscrutar-lhe a ternura, a psicologia, a integridade, a hombridade, a
maneira de ser para, então, encantá-lo com sua sabedoria e meiguice.
Estreitara o objetivo, mas não a obsessão pela pesquisa.
No campus também se introduzia em todo grupo em que percebia um
ou mais machos interessantes, sempre na esperança de encontrar um homem
sábio e terno: na piscina, no teatro, no cinema, no museu... Conheceu muitos
rapazes deveras atraentes e empolgantes, mas ela queria o melhor: alguém
que se ombreasse com ela.
Foi numa dessas muitas intromissões em diferentes grupos que
conheceu um estudante de engenharia que lhe chamara a atenção. Agradara-
lhe o porte atlético e másculo e fascinou-se com a desenvoltura com que
falava dos variados assuntos. “É o macho e o homem”, ela pensou.
Esforçou-se para destacar-se e logo dominava a conversa com o seu eleito.
Não tardou a descobrir que sua simpatia era correspondida ao perceber seu
interesse por ela e surpreendê-lo comendo-a com os olhos: “Eu sou a fêmea
e a mulher”.
Não pôde evitar o sorriso terno e deveras fascinado que aflorou seu
rosto intensamente, mas baixou o olhar encabulado com aquele sorriso
teimoso, pensando: “Esse eu namoro, ele bem pode ser o homem da minha
vida: inteligente, culto e terno. O que lhe faltará, Meu Deus”?
Quando se apartaram do grupo, estavam ambos fascinados. Ela às
voltas com o sorriso teimoso que não conseguia estancar. O rapaz também
sorria embevecido. Falou-lhe de intenções sérias: queria namorá-la. Ela
encantava-se com a ternura e aceitou o namoro, mas com reservas.
Não lhe serviam ficadas ou pegadas. Interessada, ela passou a
observá-lo e apreciou seu comportamento. Pareceu-lhe honesto, sincero,
inteligente, culto, terno e soube que apreciava música e gostava de dança e
foi dançando que se enlearam completamente. A pesquisa ia indicando um
homem digno com nota dez em tudo. Só pecava em não dizer palavras e
declarações de amor, mas era extremamente terno e a fartava do que ela
conhecia por Amor.
Sentiu-se amada e dispensou André, numa despedida muito sofrida,
e passou a acompanhar o primeiro namorado de fato ao teatro, ao cinema, a
festas, jantares, na relação intelectual que pediu a Deus, mas, sempre
desconfiada, mantinha reservas em relação ao sexo, embora lhe permitisse
beijos e amassos que a fascinavam. Comentava o namoro e o encantamento

365
que sentia pelo rapaz com a mãe, mas não chegavam a uma conclusão se ele
era digno dela ou não. Não falar de Amor realmente as desconcertava.
Era imperioso saber se ele era de fato o homem adequado para ela e
se a queria para a vida toda, antes de ficar irremediavelmente perdida de
Amor. Com esse objetivo chegou à masturbação. O seu sonho se realizava:
ele era o homem terno e másculo que ela desejava. Abriu-se com a mãe e
referiu minuciosamente no livro:
─ Hoje depois da piscina eu fui ao cinema da USP com o Fábio.
Sentamos num canto isolado para nos divertirmos. Ele me dava muito gozo
nos amassos e eu queria mais. Por isso fui de blusinha safada para
deslumbrá-lo e fascinar-me de gozo... Não havia ninguém perto e eu queria
encantá-lo. Tive muitos beijos. Puro fascínio! Ansiosa por amassos, pus-lhe
as mãos no pescoço e dei-lhe o beijo da paixão. Ele tocou-me o seio e ficou
deslumbrado: “Meu Deus, posso tirar-te o top”? Eu ri: “Se tu quiseres”...
Ele sorriu embevecido: “Não! O corpo é teu e tu é que tens de querer”.
Tornei a rir: “O que tu vais fazer com os meus seios”?
Ele estava fascinado: “Desculpa-me, mas se forem o que insinuam,
tudo o que permitires, até sugá-los. São delícia pura”. Eu ansiava pelos
amassos... E sugadas? Entreguei-me sorrindo: “Eu não resisto à tua ternura,
são teus, mas só se me deres mais beijos”. Ele sorriu: “Isso é melhor
ainda”! Cobriu-me as orelhas com as mãos e penetrou-me a boca. Eu pus as
mãos no seu pescoço a afagá-lo e os seios ficaram mais accessíveis.
Fremindo com os desejos, instiguei-o rindo: “Aproveita, tolinho, quem me
dá esses beijos merece”! Ele desceu a mão pelas minhas costas, enfiou-a
por baixo da blusa e o soutien caiu no meu regaço.
Ai, meu Deus, aquela mão pegou firme no meu seio, afagou-o por
sobre a blusinha, estimulou o biquinho com os dedos e apertou-o, fazendo-o
explodir do decote. – Ele riu – “Acho que tu queres pagamento antecipado,
não é? E mereces! Mas previne-me do que não quiseres”. Com a mão
prendendo-me os cabelos da nuca e a outra me apertando um seio, deu-me
um beijo que me fez gemer de prazer e umedecer. A boca foi para o seio. Ai
que lambidas e a loucura daquela sugada chupando-me o seio com força
mais aquela mão boba que me dava arrepios! Senti-me vazar, apertando-lhe
a cabeça contra o seio. Ele estava embevecido: “São mais fascinantes do
que eu cuidava... e com o Amor que pões neles”!
Ele percebeu que meus seios não eram passivos. Eu estava com
tantos desejos que eles também brincavam com suas mãos, procurando
afagos: tudo em mim pedia Amor. “O que mais posso apertar-te?” Minha
coxa procurou-lhe a mão e eu gemi: “Tudo, mas com mais beijos”. Trepidei
nos seus braços: “Tudo em mim sente Amor e te deseja. Meu Deus! Se

366
estivéssemos nus numa cama!”...
Ele prendeu-me pelos cabelos da nuca e penetrou-me com aquela
delícia de língua, a mão safada percorreu-me as coxas e fartou minha
bundinha de amassos. Disse: “Ela também é fascinante e safadinha de
Amor”. – Sorriu – Se o preço são beijos e tu botas Amor em tudo, vou
deslumbrar-me com tuas fofuras. Tua natureza viva e amorosa me fascina.
Alerta-me do que não quiseres – riu – nem com muitos beijos. Se
tiver preço eu compro! Tu és fascinação e, se não me detiveres, vou abusar
de todas as tuas coisinhas lindas”. Desceu a mão pela coxa e subiu por
baixo da minissaia, apertando com frissons tudo o que os beijos lhe davam
direito. E ele não se cansava de me beijar.
Aquela invasão nas minhas partes pudendas, aflorando e apertando,
deslizando pelas coxas até a mimosinha, deu-me frissons descomunais,
fazendo-me invadir sua boca com um beijo maluco. Estimulou a vulva e o
clitóris com o roçar de dedos, sempre com aquele beijo interminável com
que retribuiu o meu, prendendo-me pelos cabelos. Eu fremia com o desejo à
flor da pele, cada vez mais viva e amorosa, abafando os gemidos na sua
boca. Ah, se tivéssemos uma cama larga e resistente para suportar minhas
investidas de Amor... E aquela mão boba passeando pelos meus mimos que
respondiam à sua pressão... Apertou-me a coxa e a vulva que responderam
com Amor e desejo, mas quando tentou arredar-me a calcinha, detive-o:
“Desculpa-me, mas aí, nem com fartadas de beijos”!
Fábio foi cavalheiro: “Tu mandas e podes ordenar tudo o que
quiseres. Eu quero o teu êxtase e o teu prazer e que me conduzas a ele.
Podes guiar minha mão: se apertares eu aperto, se afrouxares eu afrouxo”.
Aqueles lábios loucos para me comerem apertadinha nos seus braços e as
mãos nos meus pudores... Tu podes imaginar alguma coisa que eu não
quisesse? Sorri: “Tu podes abusar do meu clitóris, se me beijares, claro. Se
me comeres com essa boca de delícias, o meu corpo é todo teu. Só não
toques a mimosinha, por favor”. Eu avaliava o alvoroço libidinoso que o
assoberbava, nada menor do que o meu e quanto lhe custou dizer: “Será lei
para mim, juro, podes sossegar”.
Ai, Meu Deus! Nós falávamos com lábios nos lábios e presa pelos
cabelos, boca na boca, a mão apertando-me o seio, a bundinha, a coxa,
aquele dedo circulando de leve pelos grandes lábios, invadindo os
pequenos, deteve-se no grelinho, aumentando a pressão à medida que ele
intumescia... Quando já estava bem teso, preveniu-me que só iria tocá-lo
sob a calcinha. Rodou-o entre dois dedos carinhosos. Meu Deus! Eu fremia
em delírios de prazer nos seus braços e os frissons e o desejo subiam à
estratosfera.

367
Tanto Amor me deslumbrava, minha mimosinha vazava e minhas
pernas abriram-se à minha revelia: ele tirava-me o juízo e eu acho que tive
orgasmo no clitóris, na mimosinha, nas coxas, na bunda, nos seios, na
boca... Eu era uma explosão de gozo. Ah, amiguinha, tu tens razão: eta
grelinho safado! E manipulado pelo carinho de quem entende... Acho que se
não apertasse a boca na boca de Fábio, meus gemidos despertariam a
atenção de todo o cinema que, felizmente, tinha só meia-dúzia de
espectadores.
Fábio é mestre em mulher e sabe o que um homem macho deve
fazer. Eu estava fascinada, mas apreensiva: eu não tinha controle nenhum
sobre ele e, pior, sobre as minhas pernas que se abriam à minha revelia. O
desejo de paixão lá dentro me assoberbava e se ele me pusesse os dedos eu
não teria como impedi-lo. Ainda em êxtase e louquinha para dar-me,
roubei-lhe um beijo e murmurei: “A nossa filosofia lá de casa é dar em
dobro tudo o que recebemos, mas nós nunca conseguimos. Perdoa-me se eu
não te der o que te devo” e dei-lhe o beijo da paixão, enlaçando-o pelo
pescoço: “Tu me deixaste com a cachorra”.
Ele riu: “Então vamos deixá-la cachorrona. Namorar uma natureza
viva que ama com o corpo todo é deslumbrante. Eu estou fascinado”!
Segurou-me pelos cabelos da nuca e dobrou o beijo pondo pressão
no meu seio. Perguntei-lhe: “Posso te pagar parte da minha dívida, dando
prazer ao teu menino? Sinto-me tão endividada, – ri – mas confesso que
estou doidinha para tocá-lo. Ele abriu bem as pernas. Toquei-lhe a
braguilha e minha fascinação abriu-a. Sorri e libertei o Durango: aquele
menino cresceu ao meu toque, ficando doidão pela fêmea. – Ri – “Com esse
menino assim cachorrão, acho que te retribuo em dobro”. Afaguei-o e ele
virou excitação e desejo.
Deus Meu! Quanto desejo! Desejo de pôr-lhe as mãos, a boca, a
mimosinha que vazava assoberbada de tesão... Fiz tanto carinho no Durango
e nos testículos... Soquei-o e ordenhei-o tanto! E a mão carinhosa descia até
os testículos... Demorava-me no que lhe causava mais frisson, ora no afagar
de mansinho, ora mais célere; ora com menos pressão, ora com mais
pressão: “Orienta-me como queres: mais ou menos pressão”. Fascinava-me
o seu contorcionismo de prazer e o Durango procurava-me a mão onde
queria mais toques. Ele teve de colar sua boca na minha para abafar o
prazer. Avisou-me e eu pus-lhe a camisinha. Voltou a abafar os gemidos de
gozo na minha boca. Devo estar ficando perita nisso, porque ele foi à
loucura, ou então é mais macho do que eu penso.

Fábio estava em êxtase. Perguntou-me: “Como posso compensar-te

368
tudo o que te devo? Perdoa-me, mas em dobro nem pensar! Tu és
impagável”! Eu sorri ainda dominada pelo prazer: “Com a cachorra me
mordendo, basta um daqueles beijos malucos e amassos para me deixares
endividada. Quando tu me dominas pelos cabelos da nuca, fazendo delícias
nos meus seios, eu entro em parafuso”. Ele riu: “Mas aí nossos meninos
ficam cachorrões e temos de começar tudo de novo”. Eu ri: “Se tu queres,
vamos aos beijos. Junto de ti eu estou sempre cachorrona... Podes começar
a beijar-me e a amassar-me por onde quiseres... com força... com tesão
bruto, mas também podes começar com aquele roçar de dedos adorável que
eu amo. Ri. Mas vou abusar-te: se esse menino fascinante tornar a querer
fêmea eu o roubo para mim.
Ele prendeu-me pelos cabelos, dizendo: “Ele já é fascinado por ti”.
Vive fazendo-me lembrar de ti para ter festa. Tu és irresistível até em
pensamento. Quanto gozo me dás pensando nos teus seios, nas tuas pernas,
na tua mimosinha... Tudo querendo me comer. Beijou-me, e brincou
demoradamente com meus seios, afagando-os com suavidade, pondo-me em
frenesi com o deslizar de dedos, nos biquinhos, nos mamilos, no vale que
levava ao outro... apertou-o, sugou-o, brincou com a língua no biquinho...
Foi tanta festa... E a mão... Ai, a mão brincava nas minhas coxas, sob a
minissaia, como um ratinho perdido, cheirando e procurando onde
esconder-se. Caraca! Quanto arrepio! Depois de muito flanar pelas coxas,
enchendo-me de frissons, procurou-me a bundinha, fuçou no meu reguinho
com mais frissons e correu para a vulva... Ai, aquele caminhar lépido e
miúdo que me faziam vibrar, enchendo-me de cócegas, frissons, excitação.
E, dominada pelos cabelos e pelos beijos, eu fremia e estrebuchava num
prazer inaudito, molhadinha de gozo. Disse-lhe:
─ Não é preciso penetração para termos gozo arrasador, não é?
Ele riu:
─ Quando o Amor é muito, ele nos faz gozar conforme o seu
tamanhão.
Tamanhão! Cravei-lhe o beijo do tesão, apertando-lhe as orelhas, e
aquele “ratinho” era uma festa sob a minissaia correndo sobre lábios,
mimosinha, grelinho... Fez que estava lambendo o clitóris e o sugava
delicadamente. Eu ria com cócegas, contorcia-me de prazer, gemia do gozo
com espremidas e apertões... e as pernas... As pernas não eram minhas! Não
tinha nenhum controle sobre elas. Em êxtase, tirei a calcinha. Ele perguntou:
“tu mudas-te de ideia”? Eu gemi: “Não, mas eu confio na tua hombridade e
não teria como me defender porque tu me tiras o juízo, me pões a cachorra e
eu perco todos os controles, mas não me penetres nem que eu te peça por
favor. No mais, sou toda tua. Abusa da doidona, mas me come com beijos

369
que fica muito mais excitante”.
Ele sorriu feliz da vida: “Eu notei que tuas pernas perderam o
controle e também me querem, mas podes relaxar e entregá-las ao meu
êxtase e concentrar-te no gozo, palavra de honra”! Suspirou: “Meu Deus!
Teus seios me querem, tuas pernas me querem, tua bundinha me deseja, tua
menina está doidona pelo ratinho e nossas bocas... Tu extravasas Amor por
todos os poros e essas coisinhas lindas são só querer. Relaxa para que eu te
dê o Amor que mereces”! Relaxei as pernas e tudo mais, entregando-me ao
prazer, mas alertei-o: “Minha menina também te quer muito. Toma cuidado
com ela ou ela se mete nos teus dedos”! Fiz do Durango o meu brinquedo e
a menina ficou deveras com a cachorra, instigada pelas loucuras daquele
ratinho safado que fazia loucuras na minha vulva pelada e arreganhada que
eu lhe expunha sem querer, mas abrindo as pernas ao máximo.
Meus controles foram-se e a menina perseguia o ratinho doidona
para meter-se nele. Não sei se era Amor, se era paixão ou se era desejo. Eu
queria-me nele e queria-o em mim. Com a menina nua e as pernas afastadas,
o ratinho cheirava e corria, inclusive, pelas coxas, fazendo-me estertorar de
gozo. Correu para o reguinho, tentou entrar e foi para a menina, cheirou e
fuçou deixando-a maluca e foi lamber o clitóris, e eu vazava louca de
desejo de paixão lá dentro. Fábio também foi à loucura com meu
desempenho no Durango.
Ele é deveras Homem na cabeça de cima e Macho na de baixo, mas
eu também sei como manipular um falo dos bons, para deixar o macho
doidão. Estrebuchamos de gozo, devorando-nos boca na boca.
Ah, amiguinha, tenho de concordar contigo: o pênis é fascinante,
mas não é essencial para o gozo da mulher e tampouco a mimosinha o é
para o homem. Estão mais para complementação do Amor. Tivemos um
escândalo de gozo, mas se tu soubesses quanto eu desejei uma TVC
coroando aquela festa e bem sei que o Fábio sonha estar em mim. Não força
porque é um homem digno. Porém acho que é gulodice. Não suportaríamos
gozar mais do que gozamos, mas a paixão complementando o Amor é um
fascínio deveras instigante.
O tamanho parece adequado. É massivo, nem muito grande, nem
muito pequeno. Acho que ficaria confortável na minha mimosinha
infladinha. Também nunca masturbei nenhum que mantivesse a ereção por
tanto tempo, pelo menos o dobro da média, e ainda teve repeteco. Eu fiquei
muito excitada e fascinada por aquele homem. Sentia que ele era o meu
homem e o meu macho, porque eu estava amando tanto aquele instrumento
quanto amava Fábio e, quando ele avançou na coxa, no rumo da mimosinha,
eu senti-me umedecer intensamente e o juízo escapar-me: a menina safada

370
procurou pelos seus dedos toda arreganhada. Fábio só não me penetrou
porque evitou fazê-lo. Ele não é O Homem?
Acho que o que me tira o juízo é o Amor e sentir-me amada. Eu
desejei tanto a penetração mesmo de um ou dois dedos. O Amor me venceu.
Só a dignidade de Fábio me salvou. Haverá de ser a surpresa de um
presente de Amor. Eu quero que ele se decida por mim como uma garota
comum.
Minha amiguinha ficou impressionada com a minha sensibilidade
voluptuosa e com o carinho que eu sentia por Fábio. Questionou-me:
─ Não tenho nenhuma dúvida de que vocês estão iniciados no Amor.
Não são mais neófitos. É a primeira vez que ambos amam de fato e só falta
mesmo a integração carne na carne. O que falta exatamente para tu admiti-
la, elegendo-o como o homem da tua vida?
─ Muito pouco e tudo: uma declaração de Amor que me faça sentir
que ele me ama para toda a vida. Que ele quer, e muito, o meu sexo, eu sei,
mas não sei se quer também o meu coração... Também me cobre de Amor,
envolvendo-me em ternura e inundando-me de prazer, mas não me diz
palavras de Amor. E ele fala com tanto conhecimento e desenvoltura sobre
todos os demais assuntos que eu fico imaginando como seriam suas
palavras de Amor. A brincadeirinha no meu clitóris foi fantástica, mas eu
queria tanto ser uma mulher completa! E ele tem tudo para completar-me.
Só falta a bendita declaração de Amor... Será que ele me considera bela
demais para ser esposa?
─ Isso é possível. Há homens que se sentem corneados se alguém
olha com olhos gulosos para sua mulher. Teu pai contou-me sobre um amigo
que casou com uma mulher muito feia para que ninguém olhasse para ela.
Ele está fascinado por ti porque não encontra o mesmo gozo nem
penetrando outra mulher. O Amor quando é muito grande supera largamente
o gozo da paixão. Ele está preso a ti pelo Amor Se penetrar-te a paixão...
─ Todos os namoradinhos que eu tive valeram para eu treinar e
aprender a identificar um homem terno e macho. E ele é o Homem e o
Macho! É o único que eu amei por completo e tenho por ele verdadeira
adoração. É disparado o mais terno, o mais sábio e o mais macho de todos.
É o melhor dos melhores! Eu estou deveras fascinada, mas eu queria ser
deflorada com a certeza de ser amada para sempre. O que eu faço? Se eu
perguntar se ele me ama é provável que ele jure que sim, mas isso não vale,
não é?

Passaram a masturbar-se frequentemente e, cada vez mais fascinada,


resolveu premiá-lo com o encantamento da blusinha fofa com decote além

371
da imaginação: “ele merecia”! Embora não falasse de Amor, dava-lhe tanto
que a sufocava e frequentemente tinha de respirar fundo para desabafar o
desejo represado. Contou à mãe cheia de encantamento:
─ Amiguinha do céu, ele ficou tão fascinado! No escurinho do
cinema ele afagou-me tanto, beijou-me tanto. Envolveu-me toda em afagos.
Apertou-me seios, bundinha, coxas, vulva, pôs-me o ratinho e implorou-me
cheio de ternura: “Eu vou ficar maluco, mas posso tirar-te o top?
Ele já me dera muito mais Amor do que todos os namorados
anteriores somados. Maravilhada com o fascínio que eu exercia sobre ele,
respondi-lhe: “Tu amas tanto os meus seios. São um presente para ti, mas eu
quero a volúpia das tuas mãos fazendo delícias na minha nudez e beijos,
claro! Sorri: queres também a minha calcinha”? Tirei-a, afrouxei os laços
da blusinha para os seios ficarem mais devassáveis e, afastada da poltrona,
envolvi-lhe o pescoço e a nuca: “Satisfaz o teu desejo, tolinho! E o meu! Tu
amas tanto tocar a minha nudez e eu os teus toques... Podes amassar-me
quanto queiras. Só não me penetres a mimosinha. Dá-me aquele gozo de que
só tu és capaz. Bota pressão na tua fêmea. Aperta-me com força bruta e,
depois, se o teu menino ainda se empolgar pela fêmea, na maciota”.
Ele roubou-me a calcinha, cheirou-a e atracou-se na minha boca
num beijo para não esquecer jamais, mas com a calcinha no nariz. Roubei-
a: “Desculpa-me, eu sou fascinada pelo cheiro do macho, não da fêmea,
mas a cada beijo eu a dava para cheirar. Foi uma festa de Amor, frissons e
gozo que durou todo o filme. Ele não se fartava da minha nudez,
explorando-a de todas as formas, deliciando-se com o meu cheiro. Quase
fomos surpreendidos pelo acender das luzes, mas eu anelei pela paixão
bruta dentro de mim. Tu tens razão. Não há Amor que baste para iludir o
desejo de paixão bruta. Quando estamos doentes de Amor, ele clama por
ela inundando-nos de desejo.
Ah, amiguinha, eu estou perdida de Amor. E, com tanto Amor
envolvente e empolgante, serão mesmo necessárias as palavras? Eu sinto
Amor e desejo em cada toque, em cada roçar de dedos, em cada beijo que
me arrebata a alma. O meu pavor é que ele queira apenas uma ficada. Um
homem tão extraordinário pode cativar todas as fêmeas que quiser. Mas tu
és uma fêmea muito especial que homem nenhum encontra quantas queira
para cativar. Se ele for realmente inteligente como parece, logo descobrirá
isso se é que já não descobriu.

Karina sentia-se mais mulher do que nunca e, irremediavelmente


apaixonada, passou a assinar os textos como La Femme Amoureuse, mas
desesperava-se e lamentava-se com a mãe:

372
─ Meu Deus, será que ele só quer o meu sexo porque não pretende
se casar com uma mulher bonita por ciúmes machistas? Eu tenho muita
confiança no Fábio e não consigo me imaginar longe dele sem ferir-me o
coração. Meu Deus! Por que não uma declaração de Amor, umazinha que
fosse, mas que me fizesse sentir nossos corações unidos para sempre como
eu sinto nossos sexos?
O intrigante é que ele não me diz palavras de Amor, mas me dá tanto
Amor! Por isso eu acho lindo nosso envolvimento sexual: é Amor cruzando
com Amor que faz crescer a paixão. E como cresce! Talvez ele não me
queira de fato para casar, mas que me ama de paixão eu não tenho nenhuma
dúvida. Nossos corações batem em plenitude exigindo dos nossos cérebros
fartadas de hormônios da paixão. Que eu vou me tornar indispensável para
ele, vou!
O envolvimento de ambos atingia as raias da loucura em festas
intermináveis de amassos e masturbações e Karina ia ao desespero no afã
de uma declaração de Amor. Ela sentia que aquele Amor não tinha volta,
mas a bendita declaração? Não tardou a ele falar-lhe em casamento. Foi
uma centelha de luz em sua vida e ela mandou-o falar comigo. Ele
aquiesceu com um beijo que lhe fez estremecer as entranhas. Karina viu-se
no céu: “Eu vou ter a declaração! Tenho que ter! Ele tem de ver que sou
indispensável”.
Quando desceu para o lanche abraçada à Aline, Karina era só
alegria e vi que ela estava totalmente enfeitiçada pelo rapaz:
─ Papai, Fábio vai falar contigo amanhã. Pediu-me em casamento.
Ele é maravilhoso! É muito terno, simpático, respeitoso. É também lindo,
másculo, inteligente e muito estudioso. Eu soube que ele tem notas muito
boas. Dá um prazer tão grande conversar com ele. Tem um papo tão
inteligente sobre qualquer assunto e me deixa completamente envolvida.
Fala com muito conhecimento de teatro, cinema, literatura, artes, música e
dança. É muito entusiasmado pelos seus projetos de vida. Dei-lhe dez com
louvor em todas as pesquisas, exceto numa.
─ Parece a mais importante. Qual é?
─ Ele é zero em declarações de Amor! Mas é dez em dar-me Amor!
Pode? Estar com ele é uma felicidade muito grande e um tormento atroz.
─ Por que o tormento, filhinha?
─ Porque o que eu mais quero: provas e declarações de Amor ele
não me dá. Eu estava esperando apenas uma prova ou uma declaração de
Amor que me desse certeza de me amar, mas, mesmo sem elas, está cada
vez mais difícil resistir. Ele é muito respeitoso e não avança além dos
limites que eu lhe imponho, mas, mesmo dentro dos limites, ele me desperta

373
um desejo tão grande que eu já não consigo controlar. É, sim, a cidadela só
não ruiu porque ele jurou respeitá-la e é muito digno. Se dependesse de
mim, já teria caído e quando ele falou de casamento...
Eu procuro aliviar as tensões com o prazer das masturbações e
brincadeirinhas, mas eu anseio por ele em mim, sentindo o seu peso, o seu
calor, a fricção tórrida... Não consigo dormir, imaginando que ele está
vindo sobre mim, mas é apenas uma visão muito desejada e me dá tanta
angústia por não sentir o seu peso. E, quando eu estou com ele, a tensão
volta toda, ansiando pela consumação do nosso Amor, e eu tenho de arrastá-
lo para o cinema para brincadeirinhas inocentes, não tão inocentes porque
me abro toda à minha revelia. Se dependesse de mim já estava vazada. Eu
estou muito aflita porque eu não suportaria uma separação agora e muito
menos futura. O Amor me venceu e me inunda de desejos ansiando pelo
Fábio e eu não vejo alternativa: é dar-me ou dar e seja o que Deus quiser.
─ Tu achas que ele é mesmo o homem da tua vida. Tu o queres para
pai dos teus filhos?
─ É sim! Eu o desejo muito e o quero muito. Só receio que...
─ Seja um “galinha” atrás de cadelas vadias e colecionador de
garotas difíceis?
Ela riu e choramingou:
─ É... Ele me envolve completamente com suas falas, com muito
afeto e um mar de ternura, mas eu queria tanto ouvir uma declaração de
Amor. Desejo que se sublima em paixão não lhe falta, ternura, também não.
Mas não me diz palavras de Amor. Tu sempre fizeste tantas declarações à
mamãe. Eu queria pelo menos uma.
Não falar de Amor era realmente espantoso. Intrigado, abracei-a e
dei-lhe um beijo na testa, apontando-lhe para o peito:
─ Então desta vez é sério, esse coraçãozinho está amando de
verdade...
─ Está, sim, está apaixonado e me fazendo viver em sonhos. Sonhos
lindos, mas de que eu acordo aflita pelo final feliz! Eu queria tanto que
Fábio fosse digno de mim!
Perguntei-lhe:
─ Tu podes suportar por uns dias, enquanto eu investigo o rapaz e a
família? Já que ele te propôs casamento... talvez possamos realizar um
enlace maravilhoso com virgindade e tudo mais!
─ Eu vou fazer força, mas não demores, por favor! – Sorriu – Um
enlace seria bom demais. Eu nem ouso querer tanto. Uma declaração de
Amor já me faria o ser mais feliz do universo, mas, se não demorares, eu
prometo minha virgindade a Deus, à mamãe e a ti.

374
─ Deixa-me pesquisar sobre ele e a família. Se ele for digno de ti
como parece, eu te prometo bodas dignas de uma virgenzinha maravilhosa
que deslumbrará até Deus.

375
Capítulo XXVI – FÁBIO

No dia seguinte, ele me apareceu no escritório:


─ Dr. Marcos?
─ Sim?
─ Sou Fábio e estudo na mesma Universidade de Karina. Faço
Engenharia. Ela é sua filha, não é?
─ Sim, sente-se, por favor.
─ Eu namoro sua filha há cerca de um mês. Comecei a namorá-la e
me apaixonei deveras porque encontrei qualidades raríssimas nela. Além
de extremamente bonita, é simples, inteligente, culta, terna e, maravilha das
maravilhas, não fuma, não bebe, não usa drogas e não sai com qualquer um!
Dr. Marcos, uma garota como ela não aparece duas vezes na vida de um
homem.
Eu estava pensando em me casar daqui a três ou quatro anos, quando
tivesse terminado o curso de engenharia e equilibrado minha vida, mas eu
não posso perder essa menina por nada deste mundo. Eu sei que ela me
ama, mas restringe a consumação do Amor. Parece manter-me na geladeira
ou ter-me em observação... Eu queria muito entender por que ela me trata
assim se gosta tanto de mim. Bem, eu lhe propus nos casarmos e ela me
pediu para falar com o senhor. Desculpe-me se for atrevimento, mas nossa
união tornou-se o principal objetivo da minha vida.
─ Karina é uma menina realmente ímpar, meu rapaz: eu tenho duas
porque a fiz. Você está mesmo disposto a casar-se com ela?
─ Hoje mesmo se fosse possível! O problema é que eu só poderei
mantê-la dignamente depois de terminar a faculdade e ela evita o sexo.
Bem, ela admite brincadeiras amorosas, mas com restrições à paixão. É
uma situação difícil porque, desde que a conheci, não tenho cabeça para
nenhuma outra mulher e sei que ela também não tem outro homem. E linda e
fogosa, ela é uma explosão de desejos.
Eu queria sua ajuda. Eu dou-lhe todas as informações que o senhor
quiser a meu respeito. Sou um rapaz modesto, mas culto e digno e de
família digna. E eu a quero muito, para a vida toda. Unir nossas vidas é meu

376
maior sonho. Sua filha é amor, paixão e desejo que não consigo tirar do
peito e nem quero. Ao contrário, quero tê-la no coração por toda a minha
vida!
Perguntei-lhe de chofre:
─ Você é mulherengo?
Ele ficou aflito:
─ Bem, doutor Marcos, o Senhor entende, vez ou outra para
profilaxia da libido... Um homem...
─ Eu sei. Você pretende continuar a profilaxia depois de casado?
─ Honestamente, não! Se me casar com sua filha, de modo algum!
Quem precisaria? Ela é mulher para completar inteiramente a vida de um
homem. E desde que a conheci não tive outra e nem conseguiria ter. Ela
tornou-me exclusivo. Karina tem sido esquiva e discreta comigo, mas bem
vejo que é fogosa. Acho que é o que mais me atiça o desejo por ela. Eu já
não consigo dormir nem estudar... Ela é uma visão muito amada que se
interpõe diante dos livros e meu pensamento vai ter com ela... Meu amor
por ela é muito grande e sei que sou correspondido. Além disso, ela é tão
meiga, afetuosa e carinhosa, além de inteligente e culta, que me faz crer que
cada volta do trabalho será um eterno reencontro de corações ansiosos e
apaixonados. Quem teria cabeça para outra mulher!
─ Você acha que tem ternura bastante para uma menina como
Karina?
─ Eu creio que sim porque a primeira coisa que me chamou a
atenção foi sua meiguice no olhar e no sorrir. Naquele rostinho lindo...
Fiquei fascinado! Foi o que me prendeu a ela desde que nos conhecemos. E
então sua inteligência me cativou por completo. A meiguice está sempre
vertendo de seus olhinhos e a voz... é música! Estar com ela é estar
deslumbrado!
─ Pergunto-lhe isso porque Karina foi educada sem jamais receber
um castigo por menor que fosse. Só teve amor, carinho, atenção, palavras
amigas, lições de vida. Nunca fez um desaforo ou uma maldade. Além do
Amor nós temos uma amizade muito profunda. Eu não suportaria vê-la
chorar.
─ Eu entendo. É uma maneira rara de educar, infelizmente.
Desenvolver a inteligência das crianças é fascinante. O senhor está de
parabéns. Eu, porém, jamais a faria chorar, a menos que fosse de emoção ou
de alegria. Ah, doutor Marcos, de emoção, com certeza! Ela é tão meiga...
─ O que você acha do poder? É importante para você ou
secundário?
─ Honestamente, eu acho que todas as pessoas, mesmo as mais

377
humildes, têm sua dignidade. Creio que não se deve mandar, mas liderar ou
coliderar. Se tivermos um grupo de líderes tanto melhor, porque teremos um
grupo de pessoas pensantes em busca de um ideal. É acintosa a maneira
como os políticos açambarcam o poder que é do povo e o usam em proveito
próprio. Desculpe-me se pensar diferente.
─ Você deve saber que algum equilíbrio cultural é importante. Eu
me orgulho muito dela, porque com três anos ela já lia fluentemente livros
como “O Pequeno Príncipe”. Isso porque ela insistiu em aprender a ler. E
também passou em primeiro lugar no vestibular.
─ Fábio arregalou os olhos:
─ Mas ela é muito mais extraordinária do que eu pensei. É
realmente fantástica. Não é à toa que me deslumbro com seu saber. Mas
posso assegurar-lhe que não estou muito por baixo. Sempre fui dedicado
aos estudos e fiquei em segundo no vestibular de engenharia. Por favor,
ajude-me: eu farei tudo para estar à altura dela. Eu preciso unir a vida
dessa menina à minha. Eu não desistirei nunca de tê-la como minha
mulher e, pela educação que o senhor disse ter-lhe dado, ela será uma mãe
excelente e dará aos filhos uma educação primorosa. Ela haverá de ser a
dona do meu coração e a mãe e a educadora dos meus filhos, custe-me o
que custar! Eu jamais desistirei de unirmos nossas vidas.
Sorriu embevecido:
─ Já estou imaginando minha vida com ela mais dois ou três filhos:
uma família muito feliz, vivendo numa verdadeira comunhão de afetos: só
abraços e beijos e nada de tapas e chiliques! É muito mais do que eu
poderia sonhar... Por Deus, doutor Marcos, dê-me sua filha para eu fazê-la
feliz e eu lhe serei grato a vida toda.
─ Ela é vidrada em música e dança e adora tocar piano. Isso muda
alguma coisa?
─ Disso eu já sabia. Não muda nada. Além disso, eu também adoro
música e dança. Será mais um deleite para apreciar e encantar-me com ela.
Aliás, é um dos nossos assuntos e divertimentos preferidos.
─ Voltando à profilaxia da libido, Karina e a mãe são idênticas e
têm um único defeito: são extremamente ciumentas. Eu quase perdi Aline
por causa de um mexerico de uma vizinha, felizmente descoberto a tempo.
O que eu quero dizer é que, se Karina souber de uma escapada sua, você
nunca mais a terá, ela ficará verde de cólera como a mãe ficou e chorará
horrores e eu me tornarei seu inimigo figadal.
─ Doutor Marcos, eu lhe juro por tudo quanto é sagrado que eu
jamais trairia a Karina que eu conheço, muito menos essa que o senhor está
me descrevendo e que está me deslumbrando. Com tantas qualidades, será

378
muito fácil conviver com um defeito tão insignificante para uma mulher tão
extraordinária. É só ser muito carinhoso e evitar maledicências. Bem vejo
que não a mereço, mas eu me tornarei digno dela! Ah, eu serei, mesmo que
tenha de trabalhar e estudar dia e noite! Eu hei de envolvê-la em tanto
carinho que o ciúme haverá de ser uma coisa menor e sem sentido.
Eu bem via que Karina era de fato fogosa e precisava urgentemente
de um homem. Ficava-lhe cada dia mais difícil manter o seu Amor próprio
e a sua virgindade que ela queria ofertar ao Amor da sua vida. Até quando a
pobrezinha resistiria? Aquele rapaz parecia em tudo talhado para ela. Se a
questão era falar de Amor, não havia “se” nenhum. Ela nunca encontraria
um homem mais digno. Perguntei-lhe:
─ Posso fazer-lhe uma proposta?
Ele olhou-me desconfiado:
─ Se não for para eu esquecer Karina...
Vê-los casados me fascinava. Sorri:
─ Não, não é. Pelo contrário. Eu quero deixá-lo maluco por ela:
Você sabe que ela é virgem?
Fábio arregalou os olhos:
─ Fala sério? Por Deus, deve ser a última! Só pode ser por isso que
ela restringe o sexo. E a múmia aqui a cuidar que ela estava se fazendo de
difícil! Essa menina há de ser minha, nem que seja a última coisa que eu
faça na vida! Dê-me sua bênção, por favor! Ajude-me a unir nossas vidas,
eu lhe imploro! Eu a amo mais que a própria vida que, sem ela, já não tem
sentido. Eu aceito qualquer condição, desde que não seja para apartar-me
dela.
─ Karina vai fazer quinze anos no próximo dia vinte e eu pretendo
dar uma festa para o seu debu. Ela é o meu bem mais precioso e creio que
você pode fazê-la feliz. Que acha de celebrarmos o casamento de vocês em
meio à festa?
Aquele moço másculo, sarado, debulhou-se em lágrimas, abraçou-
me e beijou-me. Eu tive certeza de que ele faria minha filha feliz e também
não contive as lágrimas. Como diria Aline, nós misturamos nossas lágrimas.
Mas ainda aflito, ele perguntou:
─ E o que eu faço se Karina colocar algum obstáculo?
─ Karina sempre foi orientada a tomar decisões. Às vezes precisa
de ajuda como agora, mas quem não precisa? Ela é determinada e sabe o
que quer. E quando ela quer, quer muito mesmo! Ela sabe que te quer muito.
Só não sabe se tu és o que ela quer.
─ Perdão, eu não consigo decifrar a charada.
Sorri:

379
─ Ela contém o enigma da esquivança e da virgindade de Karina,
mas não se preocupe, eu a decifro para ti. Eu tenho, porém, algumas
condições para concordar com o casamento.
Eu sei que deve ter. Pode dizê-las:
─ Eu confio muito em ti, no teu caráter, na tua hombridade e na tua
lealdade e sei que queres o melhor para Karina. Em uma das minhas longas
conversas com ela, eu fiz-lhe uma espécie de profecia: “que ela encontraria
o homem de sua vida na universidade e a sua sorte no final de um longo
tapete vermelho”... Ela passou a embalar esse sonho. Custa-me muito fazê-
la esperar, mas ver a profecia realizar-se completamente é uma coisa de
que não consigo abrir mão: com a festa de quinze aninhos preparada, a
virgindade de Karina mantida com determinação para oferecê-la ao homem
de sua vida e a tua determinação em casar-se... Tudo pede bodas nos
conformes tradicionais!
─ Com certeza! Tudo vai ficar mais belo, significativo e verdadeiro.
Valerá a pena esperar.
Para que tudo ocorra sem maiores transtornos para Karina, este
concerto ficará entre nós dois. Ninguém deverá saber em hipótese alguma.
O casamento será uma surpresa, inclusive para Karina. Será o meu presente
de aniversário e eu quero que seja o dia mais feliz da vida dela. Nós
providenciaremos o vestido de noiva, padre, juiz, proclamas e cerimônia.
Tu terás de providenciar, com antecedência, exames de doenças
sexualmente transmissíveis e de fertilidade. Eu quero um casamento seguro
e netos.
Será um casamento para todos os efeitos, inclusive quanto a
relações sexuais, à exceção de que tu continuarás vivendo com teus pais e
ela comigo, até que tu tenhas condições de mantê-la dignamente. Ela está
apenas começando a faculdade e tem só quinze anos incompletos. Precisa
de quem a mantenha. Também será com separação de bens. Destarte,
resolve-se o teu problema de não perdê-la e o dela de estar a abster-se de
fazer sexo até que tu estejas apto a manter um lar com dignidade. Tu sabes:
com tanta apelação erótica e o contato com o homem da sua vida fica difícil
manter-se virgem.
Ele concordou com tudo muito emocionado:
─ Doutor Marcos, tudo de que preciso é de Karina e da amizade de
seus pais para voltar a respirar, trabalhar, estudar e dormir. Ela fala de
vocês com tanto carinho. Isso me basta e até sobeja. Supera todos os meus
sonhos mais queridos e ambicionados.
─ Então vou deixar-te doente de paixão por ela: eu incentivei Aline,
minha mulher, a treinar pompoarismo. Você já deve ter ouvido falar. Aline

380
esteve a ensinar Karina que está na primeira fase em razão de ser virgem.
Não estranhe se na noite de núpcias tu tiveres surpresas muito agradáveis.
Ela é muito determinada e, com certeza, prosseguirá o treinamento depois
de deflorada.
Maravilhado, Fábio exclamou:
─ E o senhor ainda tem receio de que eu traia uma mulher tão
completa!
Olhei-o dentro dos olhos:
─ Posso falar-te francamente, filho?
Ele sorriu emocionado:
─ Claro, pai!
─ Tu não podes perder Karina, com certeza, nem ela pode perder-te.
Não sei por que artimanhas do destino, mas vejo claramente que vocês
foram feitos um para o outro. Até na magnitude do amor, vocês combinam.
Aguarda que eu decifre aquela charada... Preciso pedir-te algo muito
importante.
─ Pois diga, pai!
─ Peço-te que não faças pressão sobre ela. Ela está muito tensa...
Logo após a cerimônia, eu franquearei minha suíte para vocês aliviarem as
tensões...
─ Claro, pai, se eu soubesse da virgindade... Mas eu sempre tive o
maior respeito pelas suas vontades.
─ Outra coisa importantíssima, filho: diz ao juiz que o casamento é
com plena comunhão de bens.
─ Mas, pai, enquanto eu tiver Karina eu terei o mundo e se um dia
eu a perder nada mais importa!
─ Eu sei, mas eu conheço cada escaninho do coração, da alma e da
cabecinha de minha filha. Ela nunca aceitará separações, sejam de que
natureza for. Com ela tem de ser comunhão absoluta: tudo ou nada! A
questão não foi nem mesmo um teste, porque eu já sabia a resposta que
darias e eu confio deveras em ti. Apenas queria ter a satisfação de ouvi-la e
tê-la gravada para dá-la à Karina no momento apropriado.
Após uma despedida deveras emocionada, Fábio saiu todo feliz
atrás dos exames, dos proclamas, do padre e do juiz.
Eu confiava em Fábio, mas por desencargo de consciência e
justificativa para Karina, encomendei cadastros dele e da família e dei
andamento aos vestidos de baile e de noiva na mesma costureira. O de
noiva Karina só veria na hora do casamento. A cerimônia seria montada no
jardim, após o início do baile no salão de festas.
Karina ficou indócil. Perguntava-me diariamente pelo resultado das

381
investigações. Eu lhe respondia:
─ Calma, filhota! Sei que estás deveras apaixonada, mas por isso
mesmo a investigação tem de ser séria. Estou providenciando para que ela
seja profunda sobre o rapaz e a família. Isso leva tempo. Até o teu
aniversário, eu devo ter o resultado. Precisamos ter certeza absoluta de que
ele te merece. Não quero ver minha filhinha chorando pelos cantos. Fiz-lhe
um afago, sorrindo:
─ E se eu te prometer com certeza para o dia do teu aniversário,
ainda que eu tenha de arranjar-te um noivo?
Ela sorriu e abraçou-me eufórica:
─ Juras?
─ Juro!
Para júbilo meu, as investigações tiveram resultado excelente.
Fábio pertencia, de fato, a uma família honesta e digna. Modesta, mas
digna. Recebi o relatório na véspera do grande dia e tive pruridos de
entregá-lo a Karina, mas por um só dia! Pela igreja eu estava pouco me
lixando, mas Deus certamente se deslumbraria ao ver uma de suas obras
primas casar-se virgem em homenagem ao Deus de Amor e zelaria pela sua
saúde, vida e felicidade. E tudo estava correndo tão bem que só mesmo
tendo um dedinho de Deus a nosso favor. Isso me fez manter o esquema.

382
Capítulo XXVII – AMOR VIRGEM

Karina conservou a virgindade com brio, mas, segura da lealdade


de Fábio, ela se esbaldou em folguedos apaixonados, levando-o ao delírio
do prazer e do gozo. Era amada de fato, e por um homem completo! Se
Fábio me procurou para tratar do casamento é porque queria de fato casar-
se e isso já era para ela, pelo menos, meia declaração de Amor. Isso era o
bastante para deixá-la na maior euforia: queria fartar-se de viver todas as
experiências de Amor. Foi a sua narrativa mais colorida:

Era sexta-feira e eu acabara de ser pedida em casamento a papai. Eu


andava nas nuvens. Tudo tinha o azul da alegria num céu de brigadeiro com
nuvens muito brancas e parélios irisados de mil cores, do róseo da ternura à
púrpura mais viva da paixão, todas as cores da felicidade! E eu anelava que
o vermelho mais vivo da paixão cobrisse todas as outras cores, fazendo-me
sufocar de desejo, prazer, gozo, tendo de respirar fundo para suportar o
gozo mais tórrido.
Após nos divertirmos na piscina da USP, mas sem cinema, ele
levou-me para casa, já ao escurecer. Quando estacionou em frente ao portão
e me fez estremecer o corpo todo em frenesi de beijos e afagos, eu me
perguntava se um pedido de casamento não valia uma declaração de Amor.
E pedida ao pai... Se eu não tivesse prometido... Disse-lhe:
─ Tu estás cheio de Amor para dar e eu, cheia de desejos desse
Amor. Queres brincar de Amor enquanto não chega a hora de fazer sério?
Só que fazer sério – ri – é brincar. Tu me pões a cachorra e me eliminas os
controles, mas é gostoso demais e eu confio em ti.
Sorri:
─ Se és capaz de poupar minha mimosinha, entra! – Ri – Só não
entres em mim.
Molhadinha de desejo e ansiosa por macho, cavalguei-o para a
minha suíte. Demos de cara com mamãe e, muito risonha, disse-lhe:
─ Este é o Fábio de quem te falo até encher-te as medidas, mas
também devo enfadá-lo falando-lhe de ti. Tu vais amá-lo e adotá-lo como

383
filho e, virando-me para Fábio: esta pessoinha encantadora é a minha
mãezinha e a minha melhor amiguinha, confidente e conselheira. Uma fez de
mim tudo o que sou, com todas as minhas coisinhas lindas, sabedoria e
virtudes. A outra me ensinou tudo sobre Amor, paixão, sedução, volúpia e
toda sorte de erotismos e prazeres do Amor, tornando-me aquela garota
voluptuosa que te leva aos delírios do prazer e do gozo para te prender na
minha ternura, mas sem trombar com a vida. – Ri – e tu ainda não me viste
deveras cachorrona. São, porém, prazeres eróticos que, pessoas como nós,
damos com muito Amor. – Sorri – Ela é mais adorável do que te tenho dito
e tu vais amá-la como a uma mãezinha.
Eu começava a ver Fábio como uma daquelas pessoas que preferem
calar a dizer uma tolice e, para falar de Amor, precisava de palavras
grandiosas e significativas que não se encontram nos dicionários. Mania de
gongorismo. Só podia ser por isso que ele não falava de Amor, embora
desse tanto. À falta de palavras grandiosas e encantado, abraçou mamãe e
beijou-lhe a face todo encabulado e eu ri para a mamãe:
─ Vou levar este Amor para a minha suíte.
Aflita, ela retrucou-me:
─ Não achas melhor esperares a resposta do teu pai?
─ Papai está pesquisando sobre a dignidade de Fábio e eu,
excetuando papai, o considero o homem mais digno do mundo. Ele não
avança um milímetro além dos limites que eu lhe imponho, por mais que eu
abra as guardas. Podes ficar em paz. Eu quero dançar para ele e brincar de
Amor tórrido de paixão, mesmo preservando a mimosinha. Brincar de
paixão com um homem digno, macho de verdade e amoroso, sem ter que me
preocupar em fechar as pernas, é o melhor da vida. Melhor, só quando eu
for iniciada nos rituais da paixão bruta...
O Amor é bom demais! Acho que só por tê-lo inventado, Deus
merece ser amado de paixão, mas Ele me fez todinha de Amor, como o
Fábio notou. Que achas que eu devo fazer para honrá-LO, senão Amor?
Mas quando eu receber o sinal verde de papai é que Deus e o Fábio vão
saber o que é amar de verdade! – Ri – Desculpa, Deus já sabe de ti.
Pulei de novo no pescoço de Fábio com as pernas nos seus flancos e
ri brejeira para mamãe:
─ Nós vamos fazer erotismos, sim, amiguinha, mas com muito
Amor. Apontei para o peito de Fábio: Aqui tem um coração enorme cheinho
de Amor por mim.
Mamãe bem sabia que nosso Amor não tinha volta: era deveras dar-
me ao Fábio ou dar para ele. Era inexorável lambuzar-nos na minha paixão
para eu ser feliz, e da minha felicidade dependia a felicidade de todos,

384
máxime a dela. Gritou para a minha montaria quase em desespero:
─ Faz minha filha feliz, filho!
Eu disse num lamento a Fábio quase explodindo em choro:
─ Atenta, Amor, que isso é uma ordem e uma declaração de Amor:
Tu já estás no seu coração juntinho de mim.
Ela ia fascinar a mãe com a narrativa completa de suas estripulias
amorosas:
Rindo que só eu, atraquei-me na boca dele e guiei-o para os meus
aposentos. Fábio sentiu-me segura e se pôs a afagar-me da bundinha à nuca.
Eu me derretia em Amor e em carícias nas orelhas, no pescoço, na nuca, em
beijos:
─ Eu estou maluca de desejo de ti, mas eu confio muito na tua
hombridade e, se prometeres não me penetrares, tu podes me despir com
todo o teu erotismo e fazer tudo o que quiseres. Tudo mesmo, até me dares
tapinhas na bunda. Abusa-me, mas não me penetres, por favor!
─ Tudo o que quiseres e como quiseres, meu Amor.
─ Mas tu tens de te controlares, porque tu me tiras o juízo e eu não
respondo por mim... E, se pretendemos nos casar, tenho de conhecer o meu
macho – ri – E tu tens de conhecer a tua fêmea.
─ Podes ficar tranquila – sorriu – eu me policio. Tu também me
deixas maluco, mas já fiz minha a tua promessa e não te penetrarei nem que
peças de joelhos, juro por Deus. Eu já sei por que proteges tanto a
mimosinha.
Decepcionada, perguntei-lhe:
─ Então papai te contou!
Ele riu:
─ Mas eu já tinha implorado para casar contigo. Não faltou nem
chorar, porque quando ele concordou... foi a maior emoção da minha vida!
Eu sabia que tu eras uma menina maravilhosa que eu não podia deixar
escapar de jeito nenhum, mas não tão especial: uma menina cheia de
maravilhas e virgem!
Gostei de ouvir isso. Matou todas as minhas rivais. Estancou-me a
vontade de chorar e pôs-me o sorriso no rosto. Deu-me um presente:
─ Meu Amor, desde que te conheci nunca mais fiz sexo a não ser
contigo e sei que tu és leal e digna. Eu também fiquei virgem por ti e
faremos amor virgem até que nos liberem a paixão. Como eu queria Amor
pleno para toda a vida e nunca mais usar camisinha: uma menina como tu é
para saborear com os meninos nus, providenciei exames de DSTs, inclusive
AIDS. É o teu presente para que me desfrutes a teu bel prazer. Sou todo teu
sem nenhuma restrição, salvo mantermos a nossa virgindade envolvidos em

385
Amor.
─ Todo meu sem restrições e virgem, e de meninos nus! A vontade
de chorar foi substituída por uma irresistível vontade de sorrir. Foi com um
sorriso terno e teimoso que eu não conseguia estancar que lhe disse: vou
abusar de ti e do teu menino com tudo nu. Sou fascinada nele. Tu não vais
me considerar uma vagabunda se eu for um tiquinho sem-vergonha?
Ele prendeu-me pelos cabelos e tascou-me aquele beijo maluco,
dominando-me completamente, toda espremida nos seus braços:
─ É muito sem-vergonha para mim que eu quero a minha mulher,
mas só para mim, claro!
Eu já sabia bastante do homem e aproveitei para conhecer o macho.
Ainda sufocada de beijo, prazer e desejo, perguntei:
─ Muito despudorada mesmo? Do que tu gostas?
Ele riu:
─ De ti eu desejo tudo mesmo! Quero todas essas coisinhas lindas
que tu tens sem nenhum pudor e esse rostinho sempre risonho. Risonha ficas
um fascínio.
─ Eu também sou toda tua e fascinada nos teus amassos e nas tuas
coisas. Podes abusar de todas as coisinhas lindas que gostas em mim e, se
fores gentil com ele, até do meu fiofó. Não sei se tu gostas de fantasias, mas
os teus beijos malucos e os teus toques erógenos me fizeram imaginar uma,
mas é muito sem-vergonha.
Ele empolgou-se:
─ Então vamos a ela! Sempre que tiveres um desejo ou uma
fantasia, surpreende-me! Nunca te envergonhes de mim.
─ Acho que tu me queres nua, mas eu não vou tirar a roupa, não! –
Ri brejeira – Tens de desvendar minha nudez. Se tu quiseres mesmo, podes
ir me roubando a calcinha, mas tem de ser com muito erotismo e brabeza de
macho e com beijos malucos e amassos nas minhas coisinhas lindas, e que
me domines se eu tentar escapar-te. Tu adoras minha bundinha. Dá-lhe
palmadinhas se ela fugir de ti. – Ri – Ela é bem capaz dessas marotices.
Mas deixa que te dispa antes, porque a despudorada te quer nu. Também
quero desvendar teus macios virando durezas, mas de cueca para não comer
o teu docinho por excesso de gula.
O que eu quero é que me deixes com a cachorra e deixar-te
cachorrão para desafiar o Amor a vencer-nos com fartadas de hormônios do
prazer. Estar nos teus braços é festa e se o Amor nos desafiar enchendo-nos
de desejos... Quis avançar no conhecimento do macho. Enquanto o despia,
Inquiri-o:
─ Sou cem por cento fêmea a ponto de não suportar treinar judô com

386
meninas, salvo com mamãe... Posso apertar e encoxar a tua bundinha?
Ele riu:
─ Tudo o que é meu é teu.
Deu-me um apertão na bunda:
─ Podes usar e abusar como eu abuso de ti. Mas me avisa quando eu
me exceder.
E, enquanto me erotizava afagando minhas “coisinhas lindas” e
tentávamos fazer “suco” de nádegas, brincou:
─ Ela não serve para nada mesmo. Um dia, enquanto milhares de
homens (que se dizem milhões porque querem transformar nossa querida
São Paulo na capital mundial dos gays) desfilavam na Avenida Paulista o
seu “orgulho de dar”, eu tomava banho num vestiário com todo um time de
futebol, numa profusão de pintos grandes, pequenos, médios, pretos,
brancos... Quis saber se ela se prestaria para veadagens. Sem nenhuma
frescura machista, indaguei dela: “aquele pequenino para te fazer cócegas;
um moderado para prazeres sem dor; o negrão para arrebentar a boca do
balão; o fino e comprido para ir fundo sem arrebentar a boca do balão; o
torto – riu – capaz de meter-se na própria bunda”...
Eu analisava pinto por pinto, mas ela não teve nenhuma reação,
além de constrangimento e repulsa, num total desprezo por aquele mundo de
prazeres em potencial. É óbvio que tive muito orgulho de não ser gay, mas
também constatei que, como os políticos, ela só prestava para fazer merda!
Se ela te der prazer terá uma função nobre como a tua que me enche de
desejo e gozo.
─ Eu morria de rir, enquanto o encoxava por trás e abria botões e
zíper. Enfiando as mãos pela abertura da camisa, afaguei-lhe os mamilos,
mordendo-lhe o pescoço. Minhas mãos passearam carinhosamente pelo
peito, pela barriguinha, abriram a braguilha, e foram pelo púbis, pelo etc.,
seguiram pelas coxas, e derrubaram as calças.
Ri afagando a massa bruta que crescia com o meu roçar e o meu
afagar:
─ Eu perdi os freios. Se eu ficar muito despudorada, tu me avisas?
Ele riu:
─ Não mesmo! Eu vou é tentar uma trombada nos teus airbags. Tu já
és minha esposa apenas com uma restrição que logo há de acabar. Afora
essa restrição tu estás livre para fazeres todas as indecências que desejares.
E indecências são provas de Amor. Nunca te fartes de provar que me amas.
Dentro de nossas quatro paredes só havia Amor. Por que pudor?
Soltei-me toda e minhas mãos continuaram o passeio: subindo
desavergonhadas, afagaram coxas, virilhas, o etc., e derrubaram a camisa.

387
Desceram, infiltraram-se por baixo da cueca, seguiram pelo púbis, pelo etc.
e fizeram cócegas nas virilhas, no etc. Ri:
─ Que desejo de tirar-te a cueca! Quero o teu menino bruto, capaz
de brutalizar-me. Virei-o num bruto puxão, fazendo-o encoxar-me de
encontro aos meus airbags, numa trombada deliciosa, apertando-o com toda
a força. Ameaçando derrubar a cueca com negaceios e, esfregando-me no
meu desejo (eu o queria voluptuoso) perguntei-lhe se não estava sendo,
mesmo, muito indecente. Ele riu:
─ Mais do que eu esperava, mas o mínimo do que eu quero da
minha esposa. O que eu quero de ti é que nenhum pudor possa obstar um
carinho, uma fantasia, um desejo ou a tua criatividade. Quero-te livre para o
Amor e despudorada para a paixão, mesmo enquanto ela tiver de ser
virgem.
Eu me extasiava: é mesmo o macho dos meus sonhos. Brincando
com a cueca e apertando a protuberância massiva, gemi doente de tesão
pelo macho:
─ Eu sou virgem, porém escolada. Tu podes ter surpresas. Eu não
devia, mas não resisto a tirar-te a cueca. Se me queres mais indecente, dá-
me aquele beijo maluco. Ele me deixa com a cachorra e eu perco o juízo:
com certeza vou pedir para que me penetres, mas tu não o farás, não é?
Ele riu:
─ Nem que me peças de joelhos e por Amor de Deus, embora seja o
maior desejo da minha vida. Eu fui infame contigo e quero que me
castigues. Eu cuidei que a tua esquivança em fazer sexo fosse para se fazer
de difícil. Quero que me perdoes, claro, mas não deixa de castigar-me.
Minhas mãos continuaram afagando todos os seus frissons enquanto
lhe dizia:
─ Foi mesmo uma infâmia e mereces castigo, mas foi preferível a
que adivinhasses o verdadeiro motivo. Eu sofri e sofro horrores por não
poder lambuzar o teu menino na minha menina.
─ Então me castiga.
─ Eu odeio castigos. Estás perdoado.
─ Mas eu mereço ao menos uma tapona.
Eu ri:
─ Tapona é gostoso, mas só na bundinha. Tu gostas?
─ Nunca experimentei, mas tu podes.
Ri, enquanto o amassava todo e punha-lhe o Durango de pé:
─ Só se retribuíres em dobro, bem gostoso.
─ Castigar minha menininha que nunca foi castigada. Estás
brincando.

388
Dei-lhe uma tapona forte:
─ Eu adoro castigo do Amor de macho!
─ Deu-me um tapinha.
Balancei a bundinha:
─ Ela quer tapona ardidinha.
Ele bateu forte.
─ Outra bem gostosa do outro lado!
Ri:
― Eu tenho uma fantasia e eu quero curti-la!
― Qual é?
― Encaixa bruto a minha bundinha.
Puxou-me pela mão direita e fiquei toda envolvida. Deixei-me
escorregar, levando a cueca lentamente e sacudindo a bundinha naquele
volume que crescia encaixado no meu reguinho. Cueca lá embaixo, subi
esfregando-me no duro. Disse-lhe:
― Maravilha das maravilhas: tu és o macho que eu quero. Tu me
pões a cachorra e ficas cachorrão! Quero curtir tua nudez indecente: dança
para mim!
Fascinada pelos seus talentos de macho, encaixei-me nele e
dançamos, mordendo-o embevecida com sua nudez. Disse-lhe vertendo
libido por todos os poros:
─ Se me queres nua, despoja-me das roupas. Tu sabes ser bruto
como eu quero o macho. Rouba-me a calcinha e tudo o que quiseres, menos
a virgindade. Quero-te dominante, mas cuidado com minha menina que está
fascinada pelo macho. Minha bundinha também quer o macho: se ela ficar
muito sem-vergonha – ri – dá-lhe umas taponas.
Ele riu:
─ Taponas ela vai levar se não ficar desavergonhada.
Ele começou bem: prendeu-me pelos cabelos da nuca e comeu-me
com aquele beijo que me deixava com a cachorra.
O carinho das suas mãos subiram invadindo minhas sensibilidades
sob a minissaia, afagando-me as coxas e a vulva, causando-me um frisson
danado com o deslizar dos dedos nos lábios vulvares. Aquela invasão de
mãos e dedos nas minhas intimidades despertavam tesões brutos deixando-
me molhadinha e nós tínhamos todo o fim de semana para brincar de Amor
Ele riu:
─ Sabes que tirar-te a calcinha é a minha fantasia desde que te
conheci?
─ Então tira gostoso e bem sem-vergonha!
Subiu as mãos por baixo da minissaia, nos meus flancos dando-me

389
arrepios nas coxas e na bundinha e, de repente, a calcinha estava lá
embaixo e ele brincando com o nariz e a língua no meu clitóris, na minha
vulva, na mimosinha, nas coxas e subiu lambendo e mordendo tudo e com as
mãos me erotizando, até meter-se na minha boca com o beijo maluco,
prendendo-me os cabelos da nuca com a mão direita e afagando-me a
bundinha com a esquerda. Disse:
─ Tirar-te a calcinha é pura volúpia. Podes dizer o que tu queres.
─ Ser brutalizada pela paixão do macho dos meus sonhos.
Ele puxou-me a mão num semi-giro, encaixando-me no seu tesão
com muita força.
Eu vibrei: “Ele é macho dos brabos e capaz de dominar-me com
brutalidade passional e vencer-me pelo Amor”. Aquele carinho envolvente
e fricativo subiu e soltou o top. A boca comendo a minha, ele prendeu-me
pelos cabelos num beijo alucinante, apertando-me a bunda com a outra mão.
Perguntou:
─ Queres que tire tudo?
Ai, todo aquele carinho pondo-me em frenesi. E eu queria estar nua
para gozar plenamente minhas fantasias. Sorri completamente entregue:
─ Se não me vires vagabunda! Mas demora, por Deus. Eu não
resisto aos teus toques e teus beijos.

Rodando-me bruto eu fiquei de bunda encaixada nele. Mãos que


desciam, mãos que subiam por baixo da minissaia, levantando-a sobre os
seios e deixando-me num frenesi danado. Sem calcinha? Rebolei no
Durango que ficou como um monólito. Mais uma girada bruta e encaixou a
boca na minha boca, o tesão nas minhas coxas, as mãos espremendo-me a
bunda. Outra girada bruta e me envolveu, apertando-me os seios, o tesão, a
alma, desfez os laços e afagou os seios nus; brincou com os biquinhos, com
os mamilos, com os volumes intumescidos; sugou-os, apertando-me a
bunda, fascinado com a popozuda... Apertei-lhe a cabeça contra os seios,
demorando-o nas sugadas. Eu queria fartá-lo de Amor para ter Amor a
fartar. Implorei:
─ Mama gostoso. Suga com força, meu bebê faminto!
Eu estava quase desmaiando de excitação. Passeou as mãos
carinhosas pelo meu corpo que hora apertavam, hora afloravam de leve;
fizeram delícias entre as coxas, na vulva, excitaram o grelinho, a bunda, e a
minissaia também caiu, deixando minha excitação nas alturas: a minissaia
caindo desnudou-me para o macho, fazendo subir o meu tesão e eu gemi os
tormentos do desejo. Absorvi o Durango entre as coxas e massageei-o
esfregando uma coxa na outra. Ele cresceu, fazendo-me estrebuchar num

390
orgasmo alucinante. Perguntei-lhe: “Estou muito despudorada”?
Ele riu: “o bastante para apanhar. Gozou sem mim”! Deu-me
tapinhas na bunda. Quando tentou girar-me para encoxar-me a bunda, fugi-
lhe. Eu queria ser brutalizada e vencida pelo Amor, nos limites em que ele
começa a virar dor, e eu tinha tanto no entorno do meu corpo! Agarrou-me e
apertou-me contra ele, mas eu deslizei o reguinho por ele abaixo:
─ Tem que ser com força ou ela foge.
Ele agarrou-me, estapeou-me com força e encoxou-me. Esfreguei-
lhe a bundinha e ia fugir. Ele segurou-me pelos cabelos com um beijo
alucinante, enfiando-se em minhas coxas e apertando-me a bundinha. Eu
gemia de desejo, com ganas do macho em mim, me transando à bruta, e
estava prestes a ter não mais um orgasmo, mas um ataque de gozo.
─ Cuidado que minha menina está doidinha por ti. Envolve-me de
colherinha na tua virilidade, com toda a tua força. Quero-te sentir, pele na
pele, o teu calor, a tua excitação, a tua força, o teu beijo, o teu desejo de
mim, a volúpia do teu menino querendo me comer com tapas na bunda e
beijos alucinantes. Põe esse desejo nas minhas coxas, apertado nos meus
beicinhos e toda a força do teu tesão. Dá-me uma avant-première do Amor
que sempre me darás enquanto tivermos vida...
Foi então que eu senti o meu macho por inteiro, apequenada nos
seus braços fortes e vazando nas coxas. Dei-lhe a boca para beijos malucos
e o desejo tornou-se avassalador, fazendo-me fremir. Outro beijo, um tapa
na bunda com um apertão, me puxando bruto contra o tesão duro...
Imaginando o menino dentro de mim, dobrei aquele beijo e a potência das
estocadas puxando-o com toda força contra mim. Gemi: “tu me puseste a
cachorra e eu quero aquele beijo dominador, tapona na bunda e as transas
do Durango. Quero-me dominada pelo Amor e vencida pela paixão bruta.
Brutaliza-me de paixão”...
Beijou-me grande... longo... avassalador... Encaixei-me de frente e
pedi-lhe que me sugasse os peitos, acariciando-lhe a cabeça e apertando-a
contra os seios. Toda excitada daquelas mamadas que me sugavam a alma,
pedi-lhe o beijo que me põe em frenesi, com o menino apertado e esfregado
entre as minhas coxas e os beicinhos da mimosinha. Pedi:
─ Dá-me duas taponas ardidinhas e encoxa-me à bruta. Quero comer
esse menino violento na maior selvageria.
Ele estapeou-me a bunda gostosinho e agarrou-a, fazendo-me sentir
seu púbis bater no meu com violência. Entrei no seu ritmo agarrando-lhe a
bunda e retribuindo a violência das encoxadas na contramão das suas. O
menino atingiu a dureza máxima com as fricções muito apertadas entre as
minhas coxas e a mimosinha. Ai o meu tesão! Foi uma apoteose de

391
encoxadas, batendo nossos púbis com violência total, dando-me outro
orgasmo arrasador. As encoxadas selvagens prosseguiram e ele gemeu puro
erotismo, desabando sobre mim num estertor de gozo extremo: eu também
lhe dou gozo máximo mesmo sem penetração! A alegria foi tanta que minhas
lágrimas fluíram livremente, na paz suprema dos seus braços.
Apesar de ter-me exposta, em nenhum momento ele tentou penetrar-
me. Ao contrário, esquivou-se da minha menina que o caçou o tempo todo, e
eu comprovei sua lealdade. Também confirmou nota dez em Amor e
virilidade... E eu... Eu sou insubstituível e quando puder encabaçá-lo e
fazer danças no menino... Meu Deus! Eu estava em êxtase. Pedi-lhe para me
jogar na cama e vir em cima:
─ Quero-te em cima de mim para que me cubras nos sonhos lindos
que eu tenho contigo e acabam no melhor da festa.
─ Tu sonhas comigo?
─ Sempre, num himeneu de arrasar. O duro é contentar-me com um
namoro sem vergonha.

Mamãe ria do meu relato erótico exaltado.


─ Ah, Amiguinha, Fiquei por longo tempo gozando sua pressão
sobre todo o meu corpo em completo relaxamento, na mais sublimada paz, e
imaginando como seria uma TVC completa, desde o despir erógeno,
cumulada de beijos e amassos e os desejos e os eflúvios do Amor e da
paixão acumulando-se... a intromissão poderosa, o tratamento de choque, e
a grande explosão de gozo com a descida vertiginosa na montanha russa do
Amor, tudo erotizado por aqueles beijos...
─ Inundada de paz, mas querendo agito, desejei aquele beijo que me
erotizava, sendo brutalizada pela TVC. Acho que só vou sossegar o facho
quando me acabar numa TVC. A minha fascinação pelo pênis, com todo
aquele Amor me envolvendo, me fazia ansiar pela complementação daquela
transa numa “surra de pau” que me desse o gozo extremo. A amiguinha riu:
─ Acho que logo tu poderás ter a tua TVC de arrasar na maior
empolgação da tua vida. Estou torcendo para tudo dar certo, e há de dar,
mas prepara-te para o arrebatamento da paixão. Tens de por o som bem alto
e morderes o pulso ou travar a boca na boca do Fábio, ou vais acordar a
vizinhança com os teus gritos de prazer e palavrões. Uma TVC dessas é
insuportável para uma mulher fogosa. Acho que tu terás de pedir “menos”.
Na defloração é recomendável que peças a TVC e experimentes contrair a
mimosinha, mas sem pedires força bruta a menos que, no decorrer do
defloramento, tu a desejes, mas sob o teu controle.

392
Eu estou completando minha transição da infância para a
adolescência e, para me sentir mulher, só me falta dizer adeus ao hímen,
mas quero fazê-lo em pleno juízo e que seja o ato mais prazeroso da minha
vida para ser lembrado a vida toda. Por isso quero que seja numa TVC com
a mimosinha empolgante. Há cerca de quatro anos comecei a atentar para os
primeiros sinais da puberdade. Notei os meus seios crescerem e os
primeiros pelos. Enfadava-me das bonecas e dos folguedos infantis e passei
a vestir a Barbie de volúpia para ela ir ao encontro do seu homem. Punha-
os transando.
Anelava por uma ficada ou pegada. Meus seios cresceram e fiquei
peitudinha e desejosa de uma pegada. Comia meninos e homens bonitos
com os olhos, anelando pela minha primeira vez. Com Clarinha e a internet
tudo pareceu mais natural. Só não inaugurei a mimosinha porque mamãe me
havia instruído a não deixar que me tocassem, especialmente nas partes
íntimas e suas recomendações eram leis para mim.
Com os sinais da adolescência se evidenciando, eu sabia que ela
não tardaria a voltar aos toques íntimos e procurei apressá-la pedindo-lhe o
soutien. Mirando-me no espelho, meus devaneios aumentaram: “Já tenho
soutien e sou gostosa. Sou peitudinha! Já posso! Quem não vai querer
transar a peitudinha gostosa! Vou começar por aquele gato fascinante que
quer me pegar.
Eu suspirei por ele me transando mesmo antes da menarca e ia
perguntar à amiguinha sobre pegadas quando as preleções de papai sobre a
menarca e a fecundação congelaram meus devaneios e a amiguinha começou
a ensinar-me tudo sobre sexualidade. Porém os suspiros pelo macho
cobrindo a fêmea peitudinha continuaram muito intensos...
Efeito das mídias, internet e colegas? Com certeza! Também das
preleções da mamãe-amiguinha? Não. Ela só refinava os meus desejos pelo
macho que, então, tinha de ser digno, terno, inteligente, másculo e fazer
Amor, não sexo vulgar. Eu já matutava neles, via pornografia na internet e
descobrira o prazer do clitóris, sonhando com a primeira transa atracada
naquele menino que me fascinava, quando ela me comprou o soutien e papai
me chamou para falar da menarca. Eu já suspirava por macho como
qualquer menina enfarada das bonecas.
Foi essa a refinada que mamãe-amiguinha deu nos meus desejos.
Sem suas preleções e as de papai sobre os prazeres e perigos do sexo, eu
seria uma especialista em pegadas e teria merecido os conceitos do Edu
sobre as mulheres, tornando-me a pegada número “69” da sua coleção em
vez de lhe dar o pé na bunda... Essa lembrança fez-me estremecer e apertar
Fábio, surpreendendo-o: “Pensei na burra que morreu”, tranquilizei-o.

393
O triste é que só encontrava meninos com defeitos de educação que
era imperioso descartar, a começar daquele que ansiava me pegar. Eu
sempre fui fascinada por saber e por experimentações e um dia cedi a um
“tête-à-tête” com ele: conversamos muito e cheguei aos beijos e amassos
com a paixão querendo me comer.
Meu Deus! Mesmo nos onze anos, vestida e impúbere, eu me senti a
fêmea pronta para o gozo arrebatador e tive de fugir-lhe para não ceder ao
que ele queria, ou antes, ao que ambos queríamos... Foi então que corri
pleitear o soutien e aprender sobre sexo: eu tinha de pegá-lo, mas com toda
a minha fome de pênis eu é que iria comê-lo.
Mesmo em meus sonhos com homens eu era ativa. Imaginava-me de
cachorrinha, mas “bombando” contra as estocadas. Eu queria tudo bruto,
gozo arrebatador. Acho que herdei minha sexualidade por atavismo, havia
nela alguma coisa da “surra de pau”. Eu não entendia aquela passividade
dos filminhos da internet e só me empolgava com estocadas brutas.
Enquanto aguardava o soutien, perguntei à Clarinha sobre o menino.
Ela riu: “Ih, ele é devagarinho! Não dá nenhum tesão”. Macho devagarinho!
Por que diabos as meninas atentam para as diferenças sexuais e se tornam
fêmeas completas e até selvagens muito antes de os meninos se tornarem
machos completos e selvagens, se é que um dia se tornam? Se aquele
menino fosse capaz de uma pegada bruta, eu iria tentar cativá-lo de todas as
formas e fazer dele o homem da minha vida. Eu era deveras fascinada nele,
mas devagarinho...
Aliás, se ele fosse capaz de dominar a fêmea com paixão das
bravas, dificilmente eu escaparia incólume daquele encontro de Amor,
porque eu me sentia completamente entregue e bastaria um pequeno avanço
na dominação da fêmea, a diferença entre devagar e arrebatador, para eu
abrir-lhe as pernas, porque o meu medo não era do macho, mas do que eu
desconhecia e eu tinha um respeito absoluto pelas recomendações da
mamãe. Se ele fosse arrebatador, eu teria sido arrebatada pela paixão. Foi a
intuição de que lhe faltava alguma coisa importante que me fez fugir dele.
Mas alguns chegam lá! Depois de uma busca longa e sofrida, muitas
análises e testes seguindo as orientações da mamãe, eu conquistei o macho
dos meus sonhos que era também o homem da minha vida: inteligente, culto,
terno, digno e viril, muito viril, e o tinha nos braços a dar-lhe muito Amor
como sempre sonhei. E eu o punha no meu ritmo! Feliz da vida, bendisse
papai e mamãe que abriram meus horizontes e eu pude escolher meus
caminhos com sabedoria e prudência.
Enquanto fazia essas lucubrações, eu afagava e apertava tudo
naquela delícia de macho, inclusive a bundinha. Disse-lhe:

394
─ É delicioso ter a pressão do macho em cima, mas a mulher fica
completamente submetida.
Ele riu:
─ Tu adoras a pressão do meu corpo, mas esquece o ficar
submetida. Comigo, tu estarás sempre supermetida! Quem resiste a essas
coisinhas lindas que tu tens e esse coraçãozinho mais lindo ainda?
Inverteu a posição cobrindo-se comigo:
― Dominando ou dominados, estaremos sempre nos amando!
Rindo, confessei:
─ Eu não devia te dizer para não te encher a bola, mas eu não
consigo sonegar-te nenhuma verdade do meu coração: tu és o primeiro
namorado para quem eu dou Amor de verdade, considerando-te meu
esposo. Começo a me sentir mulher. Mas eu só serei uma mulher
verdadeiramente feliz se tu fores também o último...
Ele girou sobre mim, dando-me selinhos e me respondeu:
─ Vou fazer força para viver o bastante para ser tudo o que tu
queiras. Hei de me divertir com os teus tataranetos, enleado nos teus
carinhos e nos amando com sofreguidão.
Fiquei extasiada: “Meu Deus, isso não é uma declaração de Amor
eterno? Bem podia ter sido antes de eu prometer”... Nadando em felicidade,
disse-lhe:
─ Queres enlear-te nos meus carinhos e eu hei de prender-te no meu
coração para sempre. Deixa-me entrar no teu. Eu sou fascinada na tua
ternura. Um homem tão sábio, tão másculo e tão terno! Deves ser o único no
mundo e eu tenho de cativar-te para sempre. Aperta-me e sente o meu
coração bater feliz por Amor a ti.
─ Sente também o meu batendo por ti. Eles também se amam.
Deixa-os namorar apertadinhos um no outro.
A paz do nosso Amor era imensa, mas não por muito tempo. Eu iria
afrontá-la, pois aquela declaração e nossos corações batendo um no outro,
me fizeram sentir saudade dos tormentos da paixão. Não por necessidade
fisiológica, mas eu estava tão afeiçoada àquele brinquedinho que vê-lo
crescer e ficar brincalhão... O desejo de macho cresceu. De carinha muito
alegre, indaguei:
─ Seria querer muito pedir-te mais da tua virilidade? Mas não
precisas atender-me porque é só gulodice.
Ele riu:
─ Não. Eu ia pedir-te o mesmo. Eu também não consigo fartar-me
da tua feminilidade e da tua nudez e estou com saudade do teu brincar. Tu
estás sentindo meu coração bater feliz pelo teu Amor. Isso! Aperta teu peito

395
ao meu e deixa-os se falarem, se amarem, se comerem...
Seu coração batia tão forte que dava para ouvir. Ai os meus
desejos... Ri, fazendo-lhe cócegas no Durango:
─ Então tu também me amas e me queres! E o ratinho, que é dele?
Eu já percebera que meus desejos eram ordens que ele cumpria com
alegria e devoção: Ajoelhou-se, sentando-se sobre os calcanhares e
puxando-me pelas coxas sobre as suas, com minhas pernas nos seus flancos.
─ Ai, Meu Deus, tu já imaginaste dois ratinhos correndo pelas tuas
coxas com passinhos curtos, palmilhando tudo até encontrarem buraquinhos
em que se esconderem e tentando entrar? Com tanto rir encolhendo-me,
estremecendo, rebolando, trepidando, retorcendo-me, não poderia deixar de
ter um orgasmo. Disse-me:
─ Eu não tenho fantasias contigo, tu és a minha fantasia: quero curtir
tua nudez! – Riu – Além de exibires maravilhas, o que tu sabes fazer dela?
─ Espera aí.
Eu estava fascinada com a perspectiva de conquistá-lo a qualquer
custo e tê-lo me amando por toda a vida. Cativar aquele homem terno e
aberto para o Amor e a paixão haveria de ser a façanha da minha vida e pus
na empreitada o coração e a alma. Preparei um banho de sais e espuma bem
gostoso com pouca água e muita espuma. Massageei-o todinho, inclusive
com a bundinha e transei o Durango de beicinhos e reguinho e, ainda
molhada e coberta de espuma, com os seios túrgidos de desejo
exacerbando-lhe a fantasia e despertando-lhe a cupidez da minha nudez, ri:
─ A sem pudor vai te apresentar a bundinha e as coisinhas lindas.
Acho que tu ainda não as conheces direito e queres curtir minha nudez...
Pondo-me na pontinha dos pés, ao som da “Dança da Fadinha Açucarada”,
em pose de dançarina de caixinha de música, girei... girei... girei... com
suaves movimentos dos braços, dando volteios. Perguntei ao seu êxtase:
─ Queres que eu seja brutalmente despudorada?
Ele bateu palmas:
─ Oba! – sorriu – Tão culta, acho que tu sabes: para um casal
doente de Amor e paixão, qualquer indecência é prova de Amor. Sei que teu
Amor é dos grandões, mas qualquer despudor é Amor e me dá prazer e me
faz feliz. E essa graça tanta, despudorada? Não sei se vou suportar sem te
comer todinha.
Sorri:
─ Tu és macho dos sábios e isso me faz atrevida, dá-me umas
palmadas na bundinha se eu exagerar.
De frente ou de bundinha, eu fazia o “chapéu tailandês”. Ele
babava-se de gozo e deslumbrava-se com meu corpo, que lhe expunha a

396
alma e as entranhas, aplaudindo-me freneticamente de frente e estapeando
com força a minha bundinha ao voltar-se para ele. Aplausos e taponas,
perguntei-lhe:
─ Eu exagerei?
─ Tu és só exageros. E esse... Caramba! De perna coladinha ao
corpo! É tanto exagero que fico num trilema: não sei se te aplaudo, se te
castigo ou se te como. Desculpa, mas é impossível não te comer com
castigo e tudo.
Fascinado com a arte da minha nudez e a beleza das minhas
coisinhas, envolveu-me sugando toda a vulva, a coxa, a perna, mordeu-me a
orelha, aplaudiu-me com taponas na bunda... Disse deleitado de prazer:
─ O teu Durango ficou doidão com tua adorável sem-vergonhice.
─ Estou sempre aberta às tuas comilanças. É só me dares uma
tapona que eu me abro – ri – tu sabes, quando me tocas perco o controle
sobre minhas pernas. O Amor dos nossos corações deixa nossos meninos
doidões para brincar... Vê como eles se pertencem... Como eles se
procuram... São fascinados um pelo outro e se descuidares eles acabam se
comendo antes do tempo. Se deres uma chance à minha menina... Ela
sempre me obedeceu, mas contigo ela perde as estribeiras, esfomeada pelo
teu menino. É a tua paixão arrebatadora que é das grandes e contra a qual a
fêmea não tem defesa. Por mais que eu não queira, minhas pernas estarão
sempre abertas para ti. Tu me queres sem cuidados, mas meus desejos
descuidados de ti me deixaram sem cuidados antes do tempo.
Sem nenhum cuidado, afaguei-o com a bundinha, envolvendo o falo
com as coxas. Fábio fez-me cócegas nos seios e no clitóris, transando meus
beicinhos. Eu encolhi-me toda trepidando em seus braços, rindo e gritando
“não”.
Quando ele parou, eu respirei fundo e encolhi-me rindo e pedi mais:
“Não”, “mais”, “não”, “mais” e, toda envolvida nos braços possantes e
brutalizando o menino que me brutalizava, acabei estrebuchando em gozo
bruto. Ainda rindo, disse-lhe:
─ Vou mostrar-te quanto posso ser indecente com o Amor da minha
vida.
Ele perguntou:
─ O que vais fazer?
─ A grande indecência que estou roxinha para fazer contigo e, como
para ti não há indecência, mas prova de Amor, hás de considerar-me a
mulher mais despudorada e amante da tua vida e desejares a nossa união
que há de transcender nossas vidas. Também quero conhecer teus macios,
tuas durezas, teus frissons e teu sabor. Quero conhecer o teu corpo para te

397
dar prazer total.
Apertando-o pele na pele, afaguei-lhe o pescoço e a nuca e dei-lhe
o beijo voraz e continuei com um banho de língua e afagos no corpo todo,
demorando-me nos seus frissons. Pulei o etc., mas retornei pelas coxas
lambendo-as até os testículos. Abocanhei-os sugando-os com gula e
deslizei a língua pelo monumento que se erguia monolítico e fascinante aos
meus olhos.
Fábio pegou-me pela base da cabeça e ergueu-me, dizendo:
─ Isso é Amor grandão e tenho de dar-te em dobro.
Beijou-me e pôs-me de cabeça para baixo com as coxas no seu
pescoço, devolvendo meus fascínios e invadindo os seus. Ai aquela
lambida varrendo lábios grandes e pequenos, mimosinha, clitóris...
Perguntou:
─ Posso penetrar-te com a língua? Tua menina sabe bem.
Eu vibrei: “Uma experiência com penetração possível”! Perguntei-
lhe:
─ Tu estás mesmo determinado a casar comigo”?
─ Eu morrerei se não o fizer!
Vibrando com a declaração, sorri:
─ Então pode.
Ele explorou todo o espaço da mimosinha até o hímen, esfregando-
lhe a língua e brincou com ele, inundando-me de desejos e excitação.
Extasiou-se: “Teu pai está certo: tu és realmente virgem, de verdade. Teu
grelinho é deliciosamente liso sem remendos... Estou muito feliz por ganhar
um presente tão maravilhoso.

Era a primeira vez que lhe fazia um oral, mas conhecia bem todos os
frissons daquele menino pelas masturbações no cinema e esbaldei-me para
excitá-lo, mas Fábio também sabia o que fazer com a língua, as pontinhas
dos dedos, mordidinhas, lambidas, sugadas, em toda a minha vulva com
transa de língua e palmadinhas na bundinha... Ele avisou-me, mas, mais
gulosa do que nunca, não consegui largar o meu docinho e ele também não.
Conhecemos profundamente nossas durezas, nossos macios e nossos
sabores e a que ponto chegava o Amor dos nossos corações que se
entregavam sem nenhum pudor e não se fartavam de brincar.
Não deixei o menino enquanto ele não relaxou completamente, mas
já tivera outro orgasmo, porque Fábio seguia enfeitiçado pela minha menina
de cabacinho liso e queria deixar-me completamente arriada de gozo até
relaxar no meu seio e nos meus afagos. A excitação tomava todo o meu
corpo e meu desejo pelo meu homem não esmorecia. Eu bendizia ter-me

398
mantido virgem: aquele homem merecia.
Pus valsas para tocar e, louca de alegria, valsamos, nus como
estávamos, com uma encoxada bruta a cada movimento numa apoteose de
encoxadas nos beicinhos. Quando as valsas terminaram na última encoxada
apoteótica estrebuchando noutro orgasmo, eu era mesmo um prodígio em
orgasmos múltiplos, empurrei-o para a cama e despejei-lhe óleo aromático.

Ele perguntou:
─ O que estás fazendo? Vais atear fogo em mim?
─ Claro! Tu disseste que eu podia fazer tudo o que quisesse, e ser
indecente era prova de Amor. Vou atar-te ao meu coração com grandes
indecências de Amor para que nunca mais consigas viver sem mim. Vou
pôr-te nas chamas do desejo arrebatador! Quero fazer-te arder em excitação
para eu abusar do teu menino. Cavalguei-lhe as coxas e, tomando-lhe as
mãos, deslizei a bunda até tocar-lhe a boca com a menina. Ele gemeu de
prazer.
Eu ganhei um beijinho e vupt! Lá estava eu sobre as coxas. Transei o
menino com os beicinhos, ele ficou de pé e eu me diverti friccionando-o
com os beicinhos e o reguinho, pedindo-lhe para ficar alerta para que eles
não se comessem. Depois lhe fiz nas costas, bunda, coxas, e dei-lhe o
frasco de óleo, apontando para as minhas costas:
─ Não é de graça, não! Depois na frente, das coxas até os seios.
Perguntei-lhe:
─ E depois de todas essas indecências? Sou muito despudorada?
Ele riu:
─ Muito! Muito mesmo! És a mulher mais despudorada, mais
fogosa, mais gostosa, mais encantadora e mais amante do mundo para o
homem que sabe o que quer, e eu hei de prender-te para sempre no meu
coração.
Aquele coração estava se soltando, já dizia suas verdades. Eu sorri:
─ O teu menino, safado que só ele, já me prendeu, mas o teu
coração também já me atou com sua ternura. Nunca deixes que teu coração
se perca de mim!
A massagem estava prestes a dar-me outro orgasmo, travei-o com as
pernas e envolvi a dureza com os peitos túrgidos. Ri:
─ Eu quero um homem muito sem-vergonha, que me domine com
macheza e me coma à bruta. Faz prova de Amor nos meus seios.
Ele fez gostoso e riu:
─ Tu adoras pressão pela frente. Deixa ver por trás.
Eu desejava dar-lhe, claro, mas sem nenhuma preparação...?

399
Assustada, perguntei-lhe:
─ Tu não vais...
Ele riu:
─ Não! Isso só se me pedires. Então daremos um trato nessa
coisinha linda, rosadinha como o Amor. Mas tens de desejar tanto quanto
eu.
Pôs uma almofada sob a minha barriguinha e toda a sua pressão
sobre mim. Disse:
─ Tu queres conhecer minhas sensibilidades e eu também quero
conhecer as tuas, mas nosso conhecimento só será completo quando
estivermos um no outro.
Riu e, com os joelhos entre os meus, disse maroto:
─ Agora tu não escapas da penetração.
Assustada, dominei-o num ippon. Ele gemeu de prazer imobilizado
na minha pegada e brincou rindo:
─ Minha menininha é uma leoa. Foi brincadeirinha, tola! Tu ainda
não confias plenamente em mim, mas vais confiar. O que eu quero é roubar
o teu coração para mim.
Ganhei um tapinha na bunda e um sorriso terno:
─ Quando cansares de dominar-me nesse ippon delicioso, relaxa,
que eu não romperei o teu hímen e tu também não poderás fazê-lo porque
estarás sem movimento. Relaxa e entrega-te ao prazer, certa de que não
serás deflorada. Tu deves ter ouvido que “entrou a cabecinha, entra tudo” o
que é verdade, mas eu sou capaz de sustentar uma promessa, quanto mais
um juramento.
Ele já tivera inúmeras oportunidades para me deflorar se quisesse.
Mas minhas coxas nuas apertando-o contra os beicinhos e nos comendo com
plena selvageria lhe davam muito mais prazer do que qualquer outra, ele
disse. Minha confiança nele voltou toda e eu relaxei, mas não o soltei do
ippon. Ri:
─ Minha menina quer desculpar-se e agradecer-te, te comendo.
A menina alcançou o pescocinho e algemou-o, dando-lhe apertões.
Ele riu:
─ O que estás fazendo?
─ Surpresa! Tu gostas de ser dominado e comido pela fêmea?
─ Tu és deliciosamente ativa! Também dominante e comedora?
Caraca! O que te falta?
Deu-me um tapinha na bundinha:
─ E tu sabes como dominar e comer um homem!
─ Tu não te importas mesmo se eu te dominar e te comer?

400
─ Claro que não! Isso faz de ti uma fêmea realmente completa,
capaz de dar-me todos os prazeres. Quem proíbe é machão tolo. E tu?
─ De modo algum. Eu sou feminista, mas não sou tola. Já despachei
um homem mandão que queria mandar em mim e me foder à força, com um
pé na bunda, mas para o Amor não há nenhuma restrição. Abomino mandões
e desigualdade de direitos, mas o Amor de paixão tem acesso pleno ao meu
corpo, meu coração e minha alma. Podes comer-me tudo o que quiseres e
como quiseres.

Na verdade nós estávamos mais do que casados de fato, até para


Deus! As cerimônias tinham realmente alguma importância? Será que minha
menina não está certa de querer sacramentar o Amor? Fábio só o antecipará
por um bruto descuido e meu cabacinho liso é uma tortura para ele.
Entreguei-me totalmente a Fábio.
Libertei-o do ippon e pedi desculpas: “A minha menina está
esganada para te comer fundo. Faz as indecências que quiseres com minhas
coisinhas lindas. Provas de Amor de paixão me fascinam, e brutas”!
Então foi a vez de ele me pegar num ippon: ele é faixa preta e
deixou-me deliciosamente imobilizada. Deitou-me pressão, beijou-me,
afagou-me e me introduziu a cabecinha. Quando senti o “pescocinho” ao
meu alcance, detive-o com uma algemada que o fez gemer de prazer. Rindo,
perguntou-me:
─ Vais me comer?
 Ri:
 Segura a menina e sente a comilança...!
Dei-lhe uma algemada bruta:
─ Essa é para que te lembres de nunca mais seguir cadelas ou eu te
enforco e deitei muita força na algemada. E, se fores safado, eu posso
deter-te, mantendo-o preso na algemada.
Gemendo de prazer, retrucou:
─ Essa é mais do que fascinante. Quem seria tolo de seguir cadelas
tendo uma menina tão sedutora, prazerosa e comilona?
Agradeci-lhe os elogios com uma série de abraços e beijinhos
carinhosos da mimosinha que, impetuosa, tentava comê-lo todo. Meu Deus,
ele ficou tão duro! Agarrada num ippon com corpos nus, afagos, beijos e
paixão embrutecida, o desejo tomou conta de mim, o juízo foi-se e a paz
também. Era o tormento do desejo de volta: macho! Eu precisava de macho
urgente e implorei por mais.
Ele tocou o hímen, num movimento muito suave. Sem juízo nenhum,
tentei afundá-lo em mim, sem me mover um milímetro. Aí, com minha

401
bundinha alta pela almofada sob mim, foi fácil ele forçar sobre a parede
anterior da vagina, descobrindo o “ponto G”. Eu urrei de prazer. Num
movimento trepidante do corpo, e apertado no meu “cabacinho novo”, ele
fez uma festa incrível sobre o abençoado “ponto G”. Eu mordia o pulso
para não berrar, até estrebuchar num orgasmo incrível. Ele acabou nas
minhas coxas numa fartada de gozo. Levou o maior beijo da minha vida e
relaxou nos meus braços, encoxado de colherinha. A paz voltou em
plenitude. Meu Deus! Quem precisa perder o hímen?
Minha amiguinha ouvia-me sem piscar: Ri:
─ Acho que vou pedir-te um anticonceptivo para que ele vá até o
fim. Nós elegemos a prática do judô de corpos nus como mais um motivo
para treinar ou perder a paz, e aquela semi-penetração também... E se o
gozo da vagina está na metade anterior... Brincar de treinar ippon na paz de
corpos nus, só de faixa, é uma delícia. Só que a paz se vai, o desejo cresce
e a paixão endoidece... Ele jurou que nunca mais abriria mão das minhas
“comilanças”... E o Amor... O Amor enleou-nos completamente.
Sexo para nós é fazer Amor e fazer Amor é brincar e comer-nos. E
nós brincamos de amar, fazer Amor comilão ou dormir. O duro vai ser na
segunda-feira. – Ri – Mas nós tiraremos pelo menos uma horinha todos os
dias para amar e comer-nos com nosso Amor virginal.
Nós relaxávamos profundamente quando nos trouxeste o lanche e eu
te pedi o gel lubrificante. Eu realmente não podia deixar aquele macho à
míngua de penetração profunda e eu também estava louquinha para ter o
Fábio entrando por trás. É indecência imunda, não é. Que maior prova de
Amor pode haver? De verdade eu o queria desvendando meus últimos
mistérios. E os mistérios que me assoberbavam, e eu queria desvendados,
era o homem dentro de mim.
Ele era grosso, mas tinha de entrar! Tu foste generosa, sem censura,
e riste: “Com essa carinha de metidinha que não consegues apagar do rosto,
não preciso perguntar como estás”. Em vez da censura, riste marota: “Já te
trago o KY. Feliz entrada”! Foi uma entrada gloriosa. Que alegria ter o meu
macho todinho dentro de mim, mesmo recebido pela portinha dos fundos –
ri – no quarto de despejo. E eu louca para recebê-lo com todas as honras na
suíte máster! Mas tu queres saber como foi, claro.
Depois de uma dormidinha, fiz o strip da cowgirl que encontrei no
tampo inferior do carrinho de lanche. A cada movimento da dança, fazia-lhe
uma pose para ele tirar-me uma peça. Toquei-lhe o nariz com a vulva num
movimento erótico e disse-lhe desafiante: “Eu estou de calcinha”...
─ Ele tirou-a com tantos toques: de boca, de dentes, de nariz,
fazendo sem-vergonhice com o nariz e a língua na minha vulva: “Como tu

402
cheiras gostoso”! Ele disse. E sugou-me o clitóris. Noutro movimento, me
desatou a blusinha... Arriou-me a microssaia com tapinhas na bundinha. Ai,
ele faz tudo isso tão gostoso e não se farta da minha nudez e eu ganho
delícias de Amor o tempo todo. Eu sei quanto ele me ama porque ele é tão
fascinado na minha nudez quanto eu sou na sua. Cada peça perdida é uma
fartada de Amor. Terminei a cavalo nele transando o menino com os
beicinhos. Ele movimentou os quadris fazendo-me galopar.
Nua da cowgirl, só de chapéu, vesti-me de nudez só de blusa safada
e minissaia. Com os peitos querendo alçar voo como pombos irrequietos,
disse-lhe rindo: “quero dançar vestida”. Rindo, ele retrucou: “Vestida, mas
sem-vergonha. Esses peitos intumescidos de desejo de mim”! E abriu o laço
da blusa com os dentes, atracando-se no meu seio, mas não a tirou. Ai,
“amamentar” aquele bebezão esfomeado é bom demais. Dançamos valsas e
lambadas com o Fábio se esfregando na minha coxa, quando não me
encoxava à bruta nos movimentos da valsa.
Excitou-se e sorriu carregando de novo com a minha paz: “Tanto
frisson! Vou abusar da tua feminilidade. Quem te resiste? Tu queres
encoxadas ou meia penetração”?
Eu ri, comendo-lhe a boca com o beijo transcendental, fazendo-o
gemer erotismo: “TVG maluca que tem penetração maluca no ‘ponto G’ e
podemos nos comer”! Mas antes dei-lhe o gel. “Quero compensar-te pelo
trabalho que a minha menina te dá, caçando o teu menino.” Afaguei-o
carinhosamente. “Mas eu estou ansiosa para ter-te dentro de mim: brinca
bastante de penetrar-me e massagear-me a coisinha linda rosadinha, com os
dedos, para ela se acostumar contigo. Ela quer que tu a comas, mas também
vai comer-te.” Se tu visses a alegria dele...
O bom é que não temos vergonha nenhuma. O que chamam de
vergonha, para nós, é prova de Amor. E quem rejeita provas de Amor? Fiz
chapéu tailandês com as duas pernas e foi um introduzir de muito gel e de
dedos em massagens deliciosas... Ai, o que aqueles dedos brincaram no
meu ânus e no meu reto... Quando eu estava entupida de gel e
completamente relaxada, ele repetiu aquela transa no “ponto G”, fazendo-
me estertorar de gozo. Ainda com os pés na cabeça, pedi-lhe para mudar
para a TCC. Senti-o esforçando-se para entrar... Torci: “Tem que entrar”! E
rebolava e fazia força para defecar e contraía e relaxava os músculos para
abrir espaço para a entrada triunfal do meu desejo. Entrou... Delícia pura...
Tira, põe, tira, põe, cada vez mais fundo comigo rebolando e fazendo força
para defecar, e eu pude sentir tudo em mim, muito apertado e dolorido, mas
gostoso e sem desconforto muito grande. Em êxtase por ter o meu macho
dentro de mim, ri: “Deixa ficar”... Relaxei completamente, meu desejo

403
crescia e a volúpia também.
Senti conforto e pedi o mexe-mexe da paixão. Ele fez devagarinho,
mas aquela bruta pressão no reto, na vulva, no clitóris, no corpo todo, e a
força das mãos nos meus ombros a cada intromissão, me levaram ao êxtase
da volúpia e do gozo... A explosão foi gigantesca, mas acho que ele foi
muito maroto para me ganhar. Transou-me muito aquém do que eu pedia
para não me causar desconforto.
Pôs-me de cachorrinha com palmadinhas e intromissões fortes, mas
só conseguiu soltar-me para as cambalhotas depois de derramar-se de gozo
dentro de mim. Sentir o seu prazer esvair-se no meu âmago foi a glória. Ele
gozou à bruta e eu também e foi delicioso adormecer nos seus braços, na
imensa paz do Amor, mal podendo acreditar que continuava virgem, depois
de fazer tanto Amor com um macho daqueles.
─ Puxa! Eu sou sensível aos prazeres do Amor, mas tu!
─ Ganhei os teus atavismos, inclusive as “surras de pau”. As transas
que eu imaginava com garotos, antes de me comprares o soutien, já tinham
alguma coisa dos Ts Grandões, mas acho que também é porque tu me
educaste livre de tabus e preconceitos. Eu estava apreensiva e travada para
fazer-lhe o chapéu tailandês, as danças nuas e dar-lhe a bundinha, mas
quando ele disse que me queria sem-vergonha para ele, Meu Deus, senti-me
totalmente livre para amá-lo e mergulhei de cabeça nos erotismos mais
desavergonhados, na maior alegria para engrandecer o meu Amor por ele e,
despida, eu não me sinto nua, mas no nosso natural para nos amar.
Eu não sentia vergonha dele. Eu receava que ele me considerasse
vadia por algum desses preconceitos tolos que embotam as pessoas com
cabeça entupida de tabus e preconceitos. Certifiquei-me de que vergonha,
preconceito e tabus tolhem a paixão e até o Amor e não há nenhuma razão
para termos vergonha do homem que é a nossa metade e nos completa. E ele
se ajusta em mim física e espiritualmente com tal perfeição que é como se
fôssemos um só corpo e uma só alma. Deus nos fez um para o outro, nós
cremos.
Quando insisti em saber mais, ele me disse: “Tu és o oposto das
vadias. Elas simplesmente abrem as pernas para serem comidas. Tu não! Tu
me deslumbras de Amor e de fazer Amor e tua menina ativa é pura
empolgação. Tua volúpia amorosa me fascina. Não tenho nenhum
preconceito contra o Amor e estou inteiramente aberto às tuas fantasias por
mais eróticas que sejam. Quero o teu Amor impudico engrandecido dessa
paixão arrebatadora e dessa meiguice envolvente. É o que faz de ti uma
delícia de fêmea e uma esposa fantástica. Não mais poderei viver sem ti”.
Quando me dei conta, eu o comia com um beijo arrasador.

404
A amiguinha riu:
─ “Abrir as pernas para ser comidas” é o sexo aceito desde que o
transformaram em pecado, e só para procriar, mas mesmo para procriar é
pecado que inquina até o bebê que já “nasce com pecado”. Pode? Mas esse
dogma contraditório ainda domina a vasta maioria das pessoas nos tempos
atuais. Por isso, prende o Fábio a ti de todas as formas que puderes. Ele é
uma pessoa rara como tu e, amando-te tanto e respeitosamente, só pode ser
um homem digno. Tu disseste algo como trepidação no “ponto G”...
─ É. Ele trepida o corpo, com o pênis forçando o “ponto G”. O
pênis dá bicadinhas fortes e muito rápidas sobre o “ponto G”. É parecido
com as vibrações de nossos corpos na dança do ventre, naquele movimento
em que parecemos feitas de gelatina ou quando sacudimos a perna num
tique nervoso. Imagina o pênis batendo no “ponto G”... E o melhor é que
podemos tomar a iniciativa ou juntar os nossos tremeliques ao do macho ou
arrochá-lo na mimosinha. Ah, amiguinha, surpreende papai, mas não abusa.
─ Por quê?
Eu ri:
─ Ela vem com advertência do Ministério da Saúde: “O uso
imoderado desta transa pode criar dependência ou amalucar”.
Ri – Eu estou maluca e dependente.
─ Tu estás certa: Com Amor é muito melhor. E, quando o Amor é
verdadeiro e sem vergonha, ele gera paixão brava e a paixão brava
satisfeita dá lugar a mais Amor que gera mais paixão... É com certeza o
mais belo círculo virtuoso da criação divina: o divinal virtuosismo do
Amor.
Eu entendi o ciclo completo do Amor: mergulhada numa paz imensa
e envolta em Amor, sinto o desejo crescer. Com beijos e amassos, os
frissons percorrem o meu corpo, pondo-me em frenesi e fazendo os desejos
atingirem as raias da loucura, empolgando-me o corpo. Não mais paz, mas
os tormentos do desejo. A ânsia da paixão pelo macho... Paixão é
sofrimento? Talvez. Mas sofrimento muito desejado como a saudade. Vou da
paz plena à loucura da necessidade do macho num crescendo que me inunda
de hormônios do prazer, mais a pressão, a fricção, a acumulação de prazer,
a explosão de gozo estertorante, seguida do relaxamento completo e a paz
de braços ternos...
Convenci-me de que o Amor é crucial e o sexo é a manifestação da
paixão e essencial ao Amor carnal, desencadeando o círculo virtuoso do
Amor, e só os incapazes de amar podem achá-lo feio e imundo, porque têm
a cabeça imunda como a tinha o Edu e os poderosos da antiguidade.
Acho que tenho de penitenciar-me com Deus e pedir-lhe perdão

405
porque estive fazendo sexo imundo com o Edu e até com meus parceiros
anteriores: eu tinha Amor no coração, mas eles não, e o Edu... O que todos
queriam era divertirem-se com a gostosa e o único objetivo era foder-me se
tivessem chance... Isso, sim, é sexo imundo, não é?
─ Não da tua parte, porque amavas e procuravas pelo Amor no
parceiro. E também porque não te deixaste penetrar, mantendo-te digna.
Além disso, te dedicavas a estudos avançados sobre os homens que te
permitiram encontrar o melhor dos homens e acrescentaram subsídios
importantes à nossa tese. Sem tuas pesquisas nunca terias chegado ao Fábio,
nem mesmo ao André.
As mulheres se perdem à procura do pênis, mas a procura tem de
ser pela ternura. O que tens feito é o único meio possível e seguro de
procurar pelo Amor. A penetração da mimosinha sem Amor é que torna o
ato indigno porque fatalmente transforma a mulher numa promíscua e pouco
sensível à ternura, dificultando o encontro e a identificação do macho ideal.
– Sorriu – Eu não te ensinaria nada que te tornasse indigna.
Mas tu já és capaz de entender porque e como acontece o ciclo
completo do Amor: quando tu sentes Amor, o cérebro fica feliz e produz os
hormônios do prazer e, se tu sentes que és amada, ele produz muito mais e
faz o teu coração disparar inundando o teu corpo de hormônios. Esses
hormônios desencadeiam os desejos que te excitam. Excitação é o
calorzinho e a coceirinha que sentes na mimosinha deixando-te doidona
pelo macho e voluptuosa. Então, dominada e vencida pelas preliminares do
Amor, ao seres invadida pela paixão (pênis bruto), que leva o Amor para
dentro de ti, fazendo-te Amor nas entranhas com toda a força, ficas
dominada pela paixão que uma fêmea fogosa não suporta sem apelar para
gritos e palavrões. Se tiveres um Amor de macho, poderás fazer Amor
sempre no ritmo que desejares.
Eu estava fascinada:
─ Dá para identificar cada fase. – Ri – E para desencadear o
processo: sedução, ternura, insinuação de pernas abertas, entrega, volúpia,
submissão ao macho bravio empolgado de Amor e sofreguidão para comê-
lo...
─ É. Tudo sem pejos ou preconceitos e transbordando Amor e
ternura.
─ Tu queres que eu cuide das tuas volúpias para deslumbrares o
papai com o fascínio dos teus mistérios escondidos “pero no mucho”?
─ Não. Tu tens de cuidar do Fábio que deve estar chegando. Ele é
maravilhoso e merece toda a tua dedicação. Tens de prendê-lo a ti, filhinha.
Ele há de ser o teu esposo e tens de considerá-lo o teu bem mais precioso.

406
Seus olhinhos brilhavam numa alegria incontida. Mamãe não resistia
à minha carinha de felicidade e já nos considerava namorados eternos.
Abracei-a emocionada:
─ Não, mãezinha, parece uma ordem, mas eu vou desobedecê-la:
nenhum de nós tem bem mais precioso. Somos todos igualmente preciosos.
Tu não consegues esconder que já o amas como um de nós e o teu pódio do
Amor não tem desníveis. O meu também não terá. Teremos um só pódio de
um só nível com Deus no meio de nós e nos nossos corações. Os meus
filhos, os de Ric e os teus, se tiveres mais, e namoradas e namorados
eternos também estarão nele com certeza.
E o meu Amor desbragado pelo Fábio não impede que, no intervalo
da “bagunça”, eu o deixe tirando uma soneca para cuidar de ti. Tu és só
dedicação e mereces e o papai também. Se não fosse a sabedoria que me
deram, em vez de estar à espera do Fábio para amalucar-me de gozo no
baguncê do Amor, eu estaria correndo atrás dos homens para uma pegada,
ou seja, para me foderem.
A internet ensina tudo de ruim e os professores de educação sexual
da escola só ensinam a colocar a camisinha e não transar sem ela. Quanto
ao Amor, aos castigos da vida e à nossa inexperiência, não estão nem aí se
nos fodemos. Com Clarinha, a internet e a educação sexual da escola eu
tinha tudo para me foder por aí. Era só usar a camisinha! É por isso que
perdi de vista o Amor naquelas duas oportunidades. Meu Deus! Quanto eu
te devo!
Deixa-me cuidar de ti, sim. É tão gostoso brincar de mãezinha,
trocando as bonecas por ti. Eu também fui a tua boneca: tu adoravas brincar
comigo vestindo-me de princesa para as festas. Teus olhos brilhavam tanto!
Eu ficava sedutora e era o encanto das nossas festas. Era tão bom! Por que
deixaste de brincar?
─ As pessoas grandes são tolas e cuidam que brincar tem idade. É o
patriarcalismo de que custa muito nos livrarmos. Nunca deixes de brincar,
especialmente com o teu homem e os teus filhos. Mudamos os brinquedos,
mas a vida tem de ser um eterno brincar.
Estive pesquisando na Internet sobre a inquisição e lendo o
“Malleus Maleficarum”: vamos relaxar para brincar muito devassas e
vingarmos nossas ancestrais que foram queimadas vivas porque amavam
amar. Provavelmente herdamos delas nossa fascinação pelo Amor. Amar é
pecado? Pois sim! Vou separar o que temos de mais erótico e vamos
“pecar” até o sol raiar. Vamos brincar de devassas para extasiar os nossos
homens e vingar nossas ancestrais amantes com grandes fornicações.
Riu babando de alegria:

407
─ Acho que vou “vestir-nos de nudez”. Quero o Fábio fascinado
para comer a princesinha das putinhas mais linda e voluptuosa do mundo. E
se o Amor te despir e ficares envergonhadinha ou inocentinha o que é que
tem? É só fazeres charminho e cobrires as vergonhas com as mãos e carinha
encabulada... Meu Deus! Serás comida à bruta... Fábio é digno da minha
obra prima e tem de ser teu. Estou tão orgulhosa! Ele há de comer-te
lambendo os beiços e querer mais – riu – sempre mais...
Tu já és especialista em Amor, em homem, em mulher, em macho e
em fêmea. O Fábio, também. Vocês tornaram-se doutores em Amor
procurando pelo par e embebendo-se um no Amor do outro. Aguarda que
papai logo te dará o PhD. Mas será simbólico porque tu és o verdadeiro
PhD do Fábio e ele é o teu. Baixa o som no intervalo da bagunça para eu
saber que posso levar-te o lanche. Depois de comerem, tu vens relaxar
comigo e nos prepararmos para extasiar nossos homens para a grande
noitada.
Eu ri:
─ E acordarmos amanhã com cara de metidinhas.
Ela riu e fez um trocadilho infame:
─ Com certeza, porém é importante que o Fábio seja esfomeado por
ti – riu impudica – mas tem de comer para poder te comer.
Mijando-me de rir, dei-lhe um beijão e saí correndo ao encontro de
Fábio para pular no seu pescoço e comunicar-lhe sua promoção a doutor em
Amor e, é claro, aprimorarmos nosso doutorado.

Tinha nova assinatura: La Femme Malade d’Amour. Poderia haver


alguma dúvida? Ela estava realmente doente de Amor e seria uma doença
mortal se perdesse o Fábio. O que me sossegava o espírito é que o vi
completamente apaixonado na entrevista e pareceu-me um rapaz correto e
plenamente confiável. Além disso, teria de ser um completo imbecil (o que
ele decididamente não era) para desprezar aquela menina. Aliás, eu já o
tinha colocado secretamente no nosso pódio e enfrentei um dilema atroz
entre manter aquele arranjo ou dar-lhe a fita para ele entregá-la à Karina.
Também seria um dilema para ela já que tinha prometido manter-se virgem.
É claro que eu e Aline a dispensaríamos da promessa, mas e Deus?
Ela manteve-se virgem até o casamento, todavia só Deus sabe qual
foi o seu martírio, tendo o seu macho adorado espremendo-lhe os mimos e
lambendo-a toda, sem poder completar-se nele. Anelava pelo dia em que,
envolvida pelo Amor e penetrada pela paixão, teria o seu corpo todo
tomado pelo prazer maior, tornando-se a fêmea mais completa e feliz do
universo. Mas esbaldou-se em erotismo amoroso: danças, strips, semi-

408
penetrações, encoxadas já com penetrações anais, cambalhotas, felação, e
delirava de gozo com afagos e sugadas nos seios, no clitóris, e nos
“beicinhos” e até com cócegas (afeiçoou-se ao “ratinho”) até chegar o
grande dia.
Era mesmo um caso clássico de “mal de amor” e com a imaginação
que tinham para inventá-lo... Faziam tudo nus ou despindo um ao outro com
erotismo, quando ela não se oferecia só de blusinha safada e minissaia e, às
vezes, também com uma calcinha sem fundo, rindo marota: “hoje eu quero
brincar de tua puta”. Para ela, Amor, paixão e sexo com muito desejo e
frissons tornaram-se componentes inapartáveis da união que ela queria
eterna com Fábio e se entregava por inteiro, pele na pele, coração no
coração, boca na boca, alma na alma, sonhando com a sua iniciação no
Amor cumulado de paixão bruta.
Felizmente foram apenas dez dias, uma eternidade para ela, que
realmente se recusava a pensar que Fábio poderia não ser o seu homem,
mas, mesmo assim, estremecia quando se lembrava de que a resposta da
investigação podia ser negativa. Fábio realizava todos os seus desejos e
fantasias, policiando-se o tempo todo para não deflorá-la por descuido e,
nos momentos mais arriscados, ela protegia-se com meio absorvente interno
ou vestindo-lhe a cueca, mas relaxou com a certeza no seu Amor virgem,
mesmo porque, com ele ela perdia os controles. Começava o dia
especialmente risonha e feliz quando adormecia nos seus braços,
aquecidinha de ternura, e com o seu “bebê” sugando-lhe, carinhosamente, o
seio. Espicaçava a amiguinha: “como está minha carinha”? Ela ria: “É cara
de metidinha”! Abraçavam-se morrendo de rir.

409
Capítulo XXVIII – RICARDINHO

Ricardinho, o irmão de Karina, mostrou-se amuado e arredio com a


irmã. Ele a adorava e não entendeu aquela empolgação toda. Vê-la na maior
intimidade com um homem, completamente estranho para ele e até dormindo
juntos, encheu-o de ciúme. Karina estava muito ocupada com sua paixão,
mas não tardou a perceber o amuo do irmão e foi falar com ele com a
costumeira ternura:
─ Oi, Ric, por que tu estás me evitando? Eu fiz alguma coisa
errada?
O menino abraçou-a explodindo em lágrimas:
─ Eu não quero que tu sejas puta!
Eu disse à Karina, pegando-o pela mão:
─ Ele está louco de ciúme de ti, deixa-o comigo.
Levei-o para o quarto e lhe disse:
─ Tu ofendeste a tua irmã com um nome muito feio. Eu não posso
aceitar palavrões ofensivos aqui em casa. Lá na rua, com os teus amigos,
podes dizê-los à vontade, mas aqui diante de pessoas como tua irmã e tua
mãe são inaceitáveis. Eu estou muito magoado contigo. Palavrões têm hora,
lugar e circunstância para serem ditos e não podem ser usados levianamente
para ofender pessoas dignas.
Outra coisa que tu precisas saber é que as pessoas, quando ficam
grandes, têm necessidade muito grande de namorarem, casarem, terem
filhos, constituírem uma família como a nossa. Quando estiveres mais
crescido, tu também te sentirás atraído pelas garotas, vais querer namorar,
te divertires com elas e até te casares e ter a tua família, com tua esposa e
teus filhos. Isso é uma lei natural da vida. Tua irmã está na idade de se
sentir atraída por rapazes, namorar e casar.
Ela teve a felicidade de encontrar Fábio que é um excelente moço.
Eu interroguei-o e vi que está deveras apaixonado por ela, tanto quanto tua
irmã está apaixonada por ele. Ele tem o firme propósito de casar-se com
ela e fazê-la muito feliz. Não é o que tu queres? Que ela seja muito feliz.
─ É, papai, mas...

410
─ Mas tua irmã é um modelo de menina e um exemplo de virtudes
de que me orgulho muito, e esse nome que tu disseste refere-se às mulheres
que se vendem a todos os homens. Mulheres que vendem prazer por
dinheiro. Tua irmãzinha é exatamente o oposto dessas mulheres. Não há
nenhuma mulher mais correta e digna do que ela que, mesmo brincando e
dormindo com Fábio, se mantém virgem. Se tu queres saber, ela namora
com nossa permissão, responsabilizando-se por seus avanços, pretende
casar virgem e Fábio tem o maior respeito por ela.
Eles não fazem sexo com penetração até que se casem no civil e no
religioso, como lhe impôs tua irmã. Por aí já vês que são ambos muito
dignos. Atualmente meninos e meninas “ficam” ou “pegam”, mas eles
namoram e tua irmã com o propósito de se casar virgem.
Ela o traz para namorarem em casa porque ele a pediu em
casamento e eu o interroguei e vi que ele é um rapaz digno dela. E porque
ambos estão doentes de Amor um pelo outro e têm como objetivo máximo
da vida se casarem. Eles estão se conhecendo para saber se cada um é
realmente o que o outro quer. Fábio a ama tanto quanto tu.
Tudo o que eu quero para ti é que encontres uma garota que tenha
contigo o mesmo procedimento honesto e digno que Karina tem com Fábio e
tu sabes que eu sempre quis o melhor para ti. Tua mãezinha também faz sexo
comigo ou tu achas que nasceste de chocadeira? Tu pensas dela o mesmo
que disseste da tua irmãzinha?
─ Não, papai!
─ Mas tua irmãzinha tem um procedimento tão correto e digno
quanto tua mãezinha. Tu estás é com medo de perder o Amor de Karina.
Mas isso é uma grande bobagem. Tu não perderás o Amor de Karina. Tu
ganharás a amizade do Fábio que adora crianças e será um dos teus
melhores amigos. Tem um pouquinho de paciência. Eles estão num momento
novo e grandioso, o mais importante da vida deles. É natural que eles deem
menos atenção mesmo às pessoas que amam muito. Mas logo eles sentirão a
nossa falta. Karina já não sentiu a tua?
Ele acenou com a cabeça afirmativamente. Perguntei-lhe:
─ Tu achas que erraste com Karina?
Ele tornou a acenar afirmativamente:
─ Eu pisei feio na bola!
─ E o que é que um homem faz quando comete um erro?
─ Corrige! Tu me perdoas?
─ Perdoo porque sei que és um homenzinho virtuoso, mas estavas
confuso! Tu ainda não entendes as vicissitudes da vida dos adolescentes,
mas eles se casarão muito antes do que tu pensas. Entretanto Karina é que

411
foi injustamente ofendida.
─ Eu sei, papai. Mas eu também te magoei e quero o teu perdão.
─ Estás perdoado, vai terminar o teu dever.

Quando Karina o viu correr para ela, com um sorriso todo molhado,
abriu-lhe os braços e ele implorou-lhe, abraçando-a:
─ Perdoa-me!
─ Eu já te perdoei, meu amiguinho verdadeiro, temos um pacto e é
para toda a vida!
─ Mas eu te ofendi. Eu fui indigno de ti.
─ Tu estavas confuso e ninguém te explicou o que estava
acontecendo e eu também não te dei atenção, não é? Tu me perdoas o
descuido da amiguinha?
Ele sorriu mais molhado ainda e estreitou-a num abraço muito
apertado. Karina disse-lhe sorrindo:
─ Olha, meu amiguinho, quando tu te enfeitiçares por uma garota e
esqueceres a amiguinha que te adora, eu entenderei...
Ele tornou a abraçá-la enternecido:
─ Eu me lembrarei. Juro que me lembrarei!
Karina selou-lhe os lábios com a mão:
─ Não jures, amiguinho. O Amor, quando é muito grande e de
envolta com uma paixão também grandiosa, deixa as pessoas cegas, surdas
e mudas. Nada existe, senão o ente amado. Leva algum tempo para
retornarmos à realidade e aos amigos. Mas acho que voltamos melhores,
porque mais felizes. Há pouco tu estavas tão triste e distante, e agora tão
alegre e tão perto! Pareces mais amigo do que nunca.
Eu quero que tenhas muitas garotas e, dentre elas, encontres um
Amor profundo e passional como o de Fábio por mim e o meu por ele. É
tão bom! É maravilhoso! Eu quero, sim, que tu encontres um Amor que seja
tão grande que te faça esquecer-se de tudo e de mim. Eu ficarei feliz porque
saberei que tu estarás tendo o Amor que mereces e eu te procurarei para te
felicitar.
Ricardinho sorriu embevecido:
─ É muito bom ter-te de volta...
─ Eu sei, Ric. Escuta: eu fiz um pacto com o Fábio, só que é de
amizade e Amor eterno, e falei do Amor que tu me tens e do menino
maravilhoso que tu és. Ele ficou doidinho por um pacto contigo. Eu, papai e
mamãe éramos três super amigos verdadeiros. Depois tu nasceste e ficamos
quatro. Antes de tu nasceres eu já te amava tanto! Todos os dias eu te
beijava na barriguinha da mamãe. E quando te peguei no colo pela primeira

412
vez... Eu fiquei tão feliz! Eras um bebezinho tão lindo! E tu mijaste no meu
colo! – Riu – Batizaste a nossa amizade que acabava de nascer...
Eu queria muito que tu crescesses depressa para eu te ensinar a ler e
fazermos um pacto... E a mamãe me deixou dar-te banhinho e passar
talquinho na tua bundinha e no teu pintinho. Ela dizia que era para não teres
assaduras. – Riu – Eu te cobria de talco. Não queria o teu pintinho assado!
Punha-te a fraldinha... Eu adorava substituir a mamãe quando ia banhar-te.
Quando começaste a andar, eu sentava-te no meu automóvel, fazia-te
segurar no volante e empurrava. Tu gostavas tanto! Não querias mais sair
do carro. E, quando tu ficaste maior, o papai te comprou um automóvel e
nós fizemos tantos rachas! – Riu – Quase sempre tu ganhavas, porque eu
tinha medo de me machucar e ficar com perebas. Mas quase sempre eu
chegava bem pertinho de ti. – Tornou a rir – E tu me gozavas tanto! Às
vezes eu ficava com raiva e te desafiava para novo racha. Pedalava com
força e te vencia. Então era eu que te gozava: “Viu, papudo, como uma
mulher pode vencer um homem”? Um dia tu não querias me deixar vencer
de jeito nenhum e sofreste um acidente. Ficaste com essa cicatriz feia na
perna. Papai ficou muito zangado conosco. Disse que nós estávamos
procedendo como moleques e eu, que era mais velha, era mais moleca
ainda: “devia ter juízo”! Disse que se tornássemos a fazer rachas ele nos
tiraria os automóveis.
Ah, amiguinho, ele nem precisaria fazer essa ameaça. Eu já estava
coberta de vergonha por tê-lo magoado e fazê-lo correr contigo para o
pronto-socorro, além de triste por estares machucado. E fiquei com muito
medo de ficar com uma cicatriz como a tua. Eu me sentia tão mal! Quando
parecia ter passado a zanga de papai, eu fui pedir-lhe perdão. Eu estava tão
triste. Ainda não parara de chorar. Eu lhe perguntei: “Tu me perdoas,
papai”? Ele sorriu-me, abriu-me os braços e me disse:
“Tu é que tens de perdoar-me por eu ter sido rude contigo! E a
minha menininha não precisa pedir perdão. Eu só quero que me ame e seja
boazinha. É que eu tenho muito medo de que te machuques e fiques com uma
cicatriz, mas tu sempre aprendes com os teus erros e já tinhas aprendido a
lição. Entretanto as pessoas verdadeiramente inteligentes previnem os erros
e os acidentes. Nunca cometem excessos e abusos, especialmente de
velocidade.
Às vezes, tu queres experimentar como é ser moleca, não é? Tu viste
os riscos que corres de a vida te castigar? Para os homens, as cicatrizes não
fazem muita diferença. Muitos até se sentem mais homens, mais machos,
com elas. Mas elas não tornam uma mulher mais fêmea. As fêmeas, os
homens querem lindas, fofinhas e sem perebas...

413
Por que fazes tanta questão de vencer o Ric? Os homens têm muito
mais força física do que as mulheres e tu só conseguirás vencê-lo enquanto
a idade fizer diferença. Tu não tens nenhum mérito em vencê-lo agora, nem
ele terá mérito algum em vencer-te depois. Se vocês querem competir,
podem fazê-lo em matérias que independem de sexo e idade, como ver
quem consegue melhores notas na escola ou melhor média mensal. Isso
pode ser uma emulação para o aprendizado de vocês, pode ser muito
benéfico. Brinquem, mas sempre como os amiguinhos verdadeiros que eu
sei que vocês são e sem correrem riscos tolos”.
Papai abraçou-me, beijou-me e disse que ia fazer-me um
brinquedinho para eu não ficar magoada com ele: fez dois cata-ventos de
cartolina, com dedicatória. Um cor-de-rosa para mim e um azul para eu dar
para ti. Como eu amei aquele brinquedinho feito pelo papai! Ainda o
guardo com muito carinho.
Ela olhou-o dentro dos olhos e sorriu cheia de ternura:
─ Depois disso, quando tu me aborrecias – riu – eu te chamava de
perebento e tu davas de ombros: “Eu sou homem, e macho de verdade tem
que ter perebas”! Eu ficava frustrada, mas com tanto orgulho de ti! Tinha um
amiguinho macho de verdade!
Mas tuas raivas nunca eram reais. Acho que era afeto reprimido.
Creio que tu te reprimias por te achares terno demais e me amares demais...
E quando as raivas passavam, ficávamos mais amigos ainda! Tu fazias de
conta que tinhas esquecido de que estávamos brigados e me perguntavas
alguma coisa. Eu ria e tu me abraçavas e pedias perdão... Às vezes, eu
mesma, não suportando o teu amuo, perguntava-te alguma tolice... Nós
sempre recebemos muito Amor, por isso nunca suportamos conviver com
um sentimento que lhe seja contrário...
Nunca te envergonhes de ser terno, especialmente com as mulheres.
Quando fores conquistar a mulher da tua vida, será com esse coração
transbordante de ternura que a cativarás. Fábio só me cativou por causa da
ternura. Não fora ele ter um coração tão terno, eu teria dado de ombros à
sua proposta de namoro. É claro que as demais qualidades também contam,
e muito, mas sem ternura nada valem...
Eu te ensinei a ler... Foi tão bom! Fazíamos as aulas no jardim em
meio a uma cantoria alucinada. Quando tu assinaste o pacto eu fiquei tão
feliz! Tão orgulhosa de ter-te como super amiguinho verdadeiro. E agora tu
achavas que eu ia te esquecer... Pois sim! Eu trouxe é mais um super amigo.
O que é que tu achas de fazer um pacto com ele? Ele vai adorar.
Ricardinho envolveu-a num abraço todo enternecido:
─ Assim que ele chegar! Tu és um amor! Eu quero que tu sejas muito

414
feliz com o Fábio. Muito, mesmo, como mereces!
Ela deteve-o:
─ Espera, quero dizer-te uma coisa importante: aproveita bem o que
te resta da infância e prolonga-a o mais que puderes. A vida é muito dura
com os adolescentes. Dá-nos tantos desejos, mas freia-nos com tantos
cuidados, com tantas restrições aos nossos desejos e, se não estivermos
muito atentos, dá-nos castigos! Castigos demasiado severos e, não raro,
implacáveis! Mas eu consegui caminhar incólume e encontrei a minha luz no
fim do túnel. É uma luz muito intensa e fulgurante: é o Fábio. Faz com ele
um pacto de amizade eterna e eu ficarei muito feliz!

Fábio mostrou-se um verdadeiro amigo. Respondeu afirmativamente


a todas às questões e perguntou: “Somos amigos para sempre”?
─ Somos!
─ Então toca aqui! Eu soube que tu és um grande chutador de
pênaltis. Eu queria ver quantos tu serias capaz de marcar em mim. Depois
eu vou ensinar-te a driblar. Quem é bom no trato com a “redondinha” é bom
no trato com as garotas. Com toda essa pinta, tu precisas ser o rei das
meninas, quando chegares à idade de correr atrás delas. Aliás, de elas
correrem atrás de ti. Elas vão se engalfinharem para ficar contigo. Mas
toma cuidado. Quando te sentires inclinado a ter intimidades com alguma,
fala antes com alguém em quem confies para te prevenir contra doenças e
para não engravidá-la. Tu tens em mim um amigo verdadeiro para tudo o
que precisares. E então? Aceitas o desafio para disputar pênaltis?
Ricardinho riu:
─ Claro! Vou transformar-te numa peneira e deixar-te zonzo com
tanto drible!
E segredou-lhe:
─ Falando sério: no devido tempo, vou cobrar-te sobre conquistar e
comer garotas... Para teres conquistado a minha irmã, tens de ser muito bom
nisso. Parabéns por tê-la cativado. Sejam felizes para sempre. Mas nunca te
esqueças: se um dia a fizeres chorar, eu me transformarei no teu maior
inimigo...
Fábio abraçou-o emocionado:
Eu sei! Teu pai me disse a mesma coisa. Eu já a fiz chorar e sempre
farei, disso podes estar certo, mas será sempre de alegria e felicidade.
Conte sempre com este amigo, mas se queres saber, tua irmã não foi uma
conquista. Ela não é mulher que se deixe conquistar. Dessas que a gente
canta, leva para a cama e tem uma noitada de sexo ou mesmo um romance
que pode durar meses ou alguns anos. Só há um jeito de conquistar uma

415
mulher como a tua irmã: encantá-la com muita ternura e muito saber. É,
amigo, eu não a cantei. Nós nos conhecemos e nos encantamos.
O que houve entre nós não foi uma conquista, mas uma união de
corações, de mentes e de almas. Nosso Amor é para toda a vida. Teu pai
está investigando a minha vida e a da minha família para saber se eu sou
digno dela para depois nos casarmos, mas nossos corações já estão casados
para sempre. E só depois de tua irmã ter certeza disso com o casamento é
que ela será minha, é que haverá a comunhão de nossos corpos.
O que eu quero de melhor para ti é que encontres uma garota como
Karina, mas fica atento, porque uma mulher como ela não passa duas vezes
pela vida de um homem. O bom é que é fácil de identificar. É como uma
joia rara que resplandece de qualquer ângulo que a vejas: é simples, sem
afetações, terna, inteligente, culta, sem vícios, verdadeira e estará à procura
de um coração governado por uma boa cabeça... Por isso, para identificá-la
e para conquistá-la, tu tens de ter coração e sabedoria... É com a ternura do
teu coração e a sabedoria da tua cabeça que a encantarás.
De nada vale teres um rostinho lindo e uma boa cantada decorada.
Se, em seguida, não lhe mostrares um coração lindo, ela dará de ombros...
Fica atento. Quando o Amor verdadeiro passar por ti e te sorrir, com muita
ternura, não o deixes ir... Tu ainda és criança. Aproveita para estudares e
leres muito para um dia encantares a mulher da tua vida.
Cutucou-lhe a barriga:
─ Vamos aos pênaltis!

416
Capítulo XXIX – O CASAMENTO

No dia ansiosamente esperado, quando todos os convidados


estavam no salão de festas em pleno baile, foi montado o altar para a
cerimônia com um longo tapete vermelho e ornamentação de flores, no
jardim. Entrei com a costureira que veio com o vestido e mandei chamar
Karina mais a madrinha para ajudar a vesti-la para as bodas.
Márcia arregalou os olhos:
─ Mas é um vestido de noiva!
Eu pisquei-lhe o olho:
─ Psiu!
Karina ficou toda eriçada e eu procurei aquietá-la:
─ Calma, filhinha, eu te prometi um noivo, não foi? Pois hás de tê-
lo.
─ Mas não um noivo qualquer...
─ Eu já te decepcionei alguma vez? Eu te trouxe um noivo realmente
digno de ti. Vejo nele a outra metade de ti. Tu és a noivinha da alma dele e
sei que ele também será o noivo da tua alma. Sim, filhinha, tu vais amá-lo
com toda a ternura desse coraçãozinho. E eu só quero que tu deixes falar o
teu coração. Que ele, e somente ele, diga sim ou não ao padre...
Márcia ficou deveras preocupada:
─ Tu tens certeza do que tu estás fazendo, Marcos?
Pisquei-lhe o olho:
─ Claro!
Karina fez um muxoxo amuado:
─ E o Fábio? Eu quero o Fábio!
Sorri:
─ Deixa que te vistam e fica deslumbrante. Põe esse sorriso também
deslumbrante na carinha para fascinar o teu noivo e caminha comigo até o
altar. Quando o vires, deixa falar a ternura do teu coraçãozinho que eu sei
estar cheio de Amor e paixão. Faz somente o que ditar o teu coração que eu
quero livre como um pássaro voando no azul do céu...
Tomei-lhe o rosto entre as mãos e sorri, olhando-a no fundo dos

417
olhos:
─ Eu fiz estenderem um longo tapete vermelho para ires ao encontro
da tua sorte... O teu homem está lá ansioso por ti. Vocês se merecem de
verdade! Mas faz somente o que o teu coraçãozinho te pedir... E tudo o que
tens de decidir é se ele é bastante bonito e másculo para ti. Em tudo o mais
ele é nota dez com louvor, inclusive em Amor. Vou fazer-te uma proposta:
se tu tiveres coragem de lhe dizer “não”, dou-te um anel de brilhante de um
quilate como o da mamãe. Tu escolhes: o noivo ou o anel.
─ Ah, papai, assim eu vou dizer não!
Ri:
─ Estou pagando para ver...
A perspectiva de perder Fábio embotava-lhe o raciocínio. Ela ficou
indócil:
─ O que tu estás tramando, papai? Tu estás tramando!
Sorri, dando-lhe o braço:
─ Paga para ver, tolinha! O preço é um anel com brilhante de um
quilate. Se ficares com o noivo, pagas abrindo mão do anel...
Ela sorriu e tomou-me o braço. Os convidados já tinham sido
levados para o jardim e estava tudo pronto. Aline, que intuíra tudo,
selecionou com a ajuda da prima Mirele, quatro menininhas para damas de
honra. Levei-a pelo braço, sob a marcha nupcial. Ao pisar no tapete, ela viu
que o noivo era o Fábio. Deu um tamanho de um grito pelo seu nome e saiu
correndo em sua direção. Ao vê-la correr ele também correu ao seu
encontro. Ela jogou-se nos braços dele e beijou-o enlouquecida, num agito
só.
Estupefatos, os convidados, ao entenderem o que estava
acontecendo, que aquilo era tudo Amor, irromperam numa salva de palmas
interminável, num frenesi generalizado, prodigalizando aplausos àquela
menina que havia tantos anos eles não cansavam de aplaudir ao piano e na
dança. Pedi paciência ao padre que se emocionara com a empolgação de
Karina como já tinha se emocionado com a de Fábio. Sorriu-me
embevecido:
─ Esses corações eu quero enlaçar nem que seja a última coisa que
eu faça na vida!
Padre Ambrósio era um sacerdote afável de sessenta e dois anos,
culto, sábio, e de uma ternura incrível, completamente fascinado pelo Amor.
Era amigo de Fábio havia anos e tornou-se amigo nosso também.
Ele apreciava um bom vinho que abençoava para regar longas
conversas sobre os desmandos do Senado, mensalões, sanguessugas,
mentiras e desmandos governamentais, miudezas políticas, e muito

418
particularmente sobre Deus e Jesus, mas nunca o ouvi falar em fogos
infernais e ranger de dentes, nem mesmo para condenar à danação eterna os
políticos execrados: “Eles podem arrepender-se e pedir perdão diretamente
a Deus enquanto tiverem um sopro de vida”. Todos hão de encontrar o
Amor de Deus. Deus é misericordioso e ouve a todos os que Lhe pedirem
com corações honestos. Entretanto, era capaz de discorrer durante horas
sobre a bondade de Deus e o Amor de Jesus.
Não sem razão, Karina afeiçoou-se a ele e o fez assinar um pacto de
amizade verdadeira para toda a vida, passando a chamá-lo carinhosamente
de padrinho. “Ah, padrinho, dizia-lhe embevecida, tu abençoas-te o meu
casamento com muito Amor, atraindo sobre nós as bênçãos de Deus. Tu O
tornaste patrono da nossa felicidade.”
Era frequente pedir-lhe que viesse a casa para fazer uma preleção
para suas amiguinhas e amiguinhos. Quem lhe resistia? Juntavam os bancos
embaixo de uma árvore, muniam-se de água e refrigerantes, salgadinhos e
sanduíches e prendiam-no por uma ou duas horas.
Faziam-no ler e comentar os evangelhos e bombardeavam-no com
perguntas que ele respondia minuciosamente com paciência chinesa.
Detinham-no nas parábolas e empolgavam-se com os milagres e as
mensagens de Amor de Jesus. O velho sacerdote sentia-se como Jesus entre
as criancinhas e sentia-se rejuvenescer.
Tornou-se assíduo, especialmente em dias de festa. Um dia, quando
degustávamos uma garrafa de um vinho precioso que eu pedira para ele
abençoar, questionei-o sobre os pecados da igreja como a inquisição e o
santo ofício. Ele riu:
─ Eu poderia pedir ao bispo para excomungá-lo.
─ Eu ri e retruquei-lhe:
─ Não teria nenhum efeito porque eu já me excomunguei das
religiões e acrescentei: Eu não o considero um homem da igreja, mas um
homem de Deus, um homem de Jesus, e é o que me faz admirá-lo e amá-lo
tanto e ter muito carinho por você. Saiba que é uma alegria muito grande
dividir com você o vinho que você abençoou e uma coisa é certa: você
pode me excomungar da igreja, mas não do Amor de Deus e de Jesus. Esse
Amor não há bispo nem papa que consiga arrancar-me do coração. Você o
tem visto nas pessoas cá de casa, não tem?
─ É o que me trás aqui. – Ele respondeu – Entre pessoas tão
amáveis sinto que nem tudo está perdido: há uma nesga de esperança. Você
pode ser herege para a igreja, mas não é ateu. E a crença em Deus e em
Jesus é o que conta. As religiões são para ensinar a crer e a amar.
Hereges e infiéis todos nós somos para todas as religiões, exceto

419
uma. Será essa “uma” a verdadeira? Será justo considerar malditos todos
os que não professam a nossa religião? Deus paira soberano acima de todas
elas! E todo crente acredita em Deus. Não pode ser condenado só por estar
sendo enganado se a sua não for a verdadeira. E não têm outro sentido o
ecumenismo e os cultos ecumênicos.
─ Pois eu creio que nenhuma é verdadeira. A minha maior
felicidade seria ver restaurado o Amor de Jesus no coração da humanidade,
mas nenhuma religião visa a esse feito. Apenas usam Jesus para coletar
dízimos. Por isso me excomunguei de todas elas.
Ele disse muito sério:
─ As religiões são criadas pelo homem e estão sempre surgindo
novas e geralmente são descarados balcões de negócios, mas Deus é a
eternidade! Ele está no coração de todo aquele que O ama, ainda que não
pertença à religião verdadeira.
Confrontar Deus com as religiões! Fiz-lhe um convite:
─ É um excelente tema que vale bem uma garrafa de vinho
abençoado...

Perdoe-me o prezado leitor e, especialmente, a caríssima leitora,


que devem estar ansiosos pelo desfecho do casório, por esta digressão nos
fatos futuros. Voltemos ao casório. Era preciso dar um tempo à Karina para
ela extravasar o Amor represado. Ela de fato soltou-lhe as amarras da
dúvida que a amargurava e entregou-se de corpo e alma ao homem que ela
escolhera para ser o Amor da sua vida.
Mas o que é casamento? O casamento de fato eles estavam
celebrando em meio ao tapetão vermelho: corpos esfregando-se de
colherinha, corações atados de nó cego, almas envoltas num enlace eterno,
rostos inundados das lágrimas de felicidade do Amor transcendental que os
fazia trepidar de paixão... Tudo o mais, canônico ou civil, eram atos de
direito e obrigações sociais. Eram apenas atos legais, convencionais.
Deixei-os consolidar o casamento de fato a que todos assistíamos
extasiados e fui até Aline, murmurando-lhe ao ouvido:
─ É uma potranquinha como a mãe. Sentiu o cheiro do seu garanhão
e ninguém mais a segura.
Aline que já tinha até dado a Fábio as boas vindas ao seio da
família e se encantado com os pais e as irmãs de Fábio e ajudado a
organizar a cerimônia, disse sorrindo toda enlevada:
─ Eu sei o que ela está sentindo. Ela tem extravasado Amor, mas
falta-lhe a “surra de pau”, que para ela significa a sacramentação, não do
casamento, mas do Amor, a sua iniciação nos rituais do Amor. Como ela, eu

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também não dormirei enquanto não for coberta pelo meu garanhão. Tu és
mesmo imprevisível! Deve ser por isso que eu te amo tanto e a minha
paixão por ti só faz crescer quanto mais amadurece.
Envolvi-a num abraço, por trás, enquanto observava os
noivos:
─ É que tu és como os vinhos de boa cepa. Ficas melhor e mais
saborosa com o passar dos anos. – Sorri – Eu já penso em comer a
bisavozinha fogosa e fresquinha com que tu povoas a minha imaginação...
Se tu queres saber, vejo-me ébrio de desejo, dando cabeçadas a torto e a
direito na tua menina maluquinha e ficar preguiçoso para as suas mordidas e
chupitadas...
─ Assim me deixas mais aflita pela cobertura do meu garanhão...
Disse-lhe sorrindo:
─ Terás de controlar tua volúpia até alta madrugada. Mas sossega
que vais encontrar a arma engatilhada, pronta para disparar... Estou
pensando em oferecer nossa suíte para os noivos logo após a cerimônia.
Aliás, já está prometida ao Fábio. É uma judiação fazer Karina esperar até
o fim da festa. Eu quero que ela tenha uma festa de verdade e não um
tormento. Se é difícil para a minha potranquinha esperar até o fim da festa
para ser coberta pelo seu garanhão, imagina ela que sonha iniciar-se no
Amor.
─ Faz isso, que eles merecem. Eu vejo neles muito Amor e muita
paixão!
─ E não erras. Fábio ama tanto Karina quanto ela o ama. É um Amor
lindo e grandioso como o nosso. – Sorri – Ambos são também vinho de boa
cepa!
Ela riu:
─ Há mais vinho de boa cepa. A irmãzinha mais nova de Fábio está
cruzando olhares ternos com o filho da Márcia. Ela é uma simpatia e um
encanto de meiguice. Estou apostando dez por um como eles estarão
casados de fato antes do amanhecer e não precisam nem de empurrãozinho.
Quando dois corações ternos se encantam não há escapatória: é pernas
abertas e paixão lá dentro!
─ Eles formam um belo par.
Aline tinha um olho clínico infalível para identificar ternuras: logo
depois da meia-noite estavam ambos num nicho do portão no teste da
ereção. As encoxadas eram tórridas e a menina gemeu muito forte. Num
átimo estava de frente, implorando sem calcinha e com os olhinhos em
cascata: “Casa comigo, por Amor de Deus! Não poderei viver sem ti”!
Ele tinha quatorze anos e ela, com treze, procurava por ternura,

421
desesperada! Com que alegria deixou a paixão entrar afoita levando o
Amor de roldão para o seu âmago! Ela perdeu o chão e mordeu o pulso
para que não lhe ouvissem os berros de prazer. E ver aqueles rostinhos na
festa foi uma festa à parte até que Karina os descobriu encantada:
─ C’est la maladie d’amour... Vão já para a minha suíte curar esse
caudal de desejos e sacramentar para sempre esse Amor lindo. – Riu – Com
brutalidade pirocal”.
Para o Amor ela gostava de inventar palavras e quando estava em
festa com a vida, com o Amor e com Deus...
Perguntei à Aline:
─ Vocês pretendem dar um show de danças, não é?
─ Com certeza, inclusive Karina.
─ Ela também vai querer dar um concerto. Como tu, ela não
dispensa aplausos, elogios, e declarações de Amor e está louquinha para ter
o Amor lá dentro, de cambulhada com a paixão tórrida... Vou dar-lhe a
suíte. Tu a provês de anticonceptivos. Quanto a DSTs, já me preveni com
Fábio. Será que conseguiremos afastar a potranquinha do garanhão, para
reiniciarmos a cerimônia? Esfregando-se daquele jeito ela já deve ter tido
ao menos um orgasmo.
Aline riu:
─ Tu sempre tens um jeito para tudo. Sei que conseguirás.
Os aplausos continuavam frenéticos com gritos de “Karina”
“Karina”, repetidos à exaustão. Dirigi-me aos noivos que continuavam
atracados num beijo sem fim e num esfrega-esfrega alucinado, esquecidos
do mundo à sua volta, e que era a alegria da claque de amiguinhas que
gritavam esganiçadas:
─ Beija, beija...
Tive de gritar por Karina. Ela olhou-me como que vinda de outro
mundo e caiu nos meus braços em choro convulsivo:
─ Tu és maravilhoso, papai!
Sorri para Fábio que pareceu deslocado, isolado em meio ao
tapetão:
─ Viste o que eu fiz para ti?
Ele sorriu, acenando com a cabeça e comentou:
─ Ainda preciso descobrir por que ela escondia de mim uma efusão
de Amor tão grande!
Eu ri:
─ Tens de decifrar a charada...
Mostrei-lhe o anel:
─ Olha ao que ela renunciou por ti: tem um quilate.

422
Karina ainda convulsionava nos meus braços. Afaguei-a, dizendo-
lhe com carinho:
─ Tu vais querer a cerimônia, não é?
─ Claro! É que...
─ Eu sei, há tanto anseias pelo teu homem e apenas acabaste de
descobri-lo, mas tu o terás a vida toda, podes crer. O que ele não confessou
a ti confessou a mim. Posso conduzir-te?
─ Sim, papai.
Ela acompanhou-me com os olhos voltados para o noivo, com a
carinha de uma criancinha que tivesse sido subtraída do seu doce preferido.
Sorri-lhe:
─ Não te aflijas! Ele vai estar contigo para sempre. Eu tive certeza
quando o interroguei. Escuta, a noite apenas começou, faltam muitas horas
para que vocês fiquem livres dos convidados, mas, se vocês quiserem,
podem dar uma escapadinha até a nossa suíte. – Sorri – Só não se esqueçam
dos convidados e de guardar bastante desejo em seus corações para depois
da festa... Quero que esta noite fique gravada para sempre em seus corações
com fartadas de Amor e torrentes de paixão.
Seu rostinho iluminou-se:
─ Deveras, papai?
─ A suíte é toda tua. A única coisa que exijo em troca é ver essa
felicidade toda jorrar livre dos teus olhinhos. Eu quero muito que este seja
o dia mais feliz de suas vidas. Que vocês o rememorem a vida toda com
carinho e com o mesmo desejo sempre renovado. Em poucos minutos vocês
estarão casados no civil e no religioso e, o que é mais importante, já estão
casados no coração... – Sorri – Só faltará mesmo é sacramentar... Esquece
tudo e concentra-te no teu esposo, no prazer e no gozo. Assim, terás a
cabecinha livre para gozares a plenitude da tua festa e nos deliciares com
teus shows. Tu já sentiste como estamos todos louquinhos para aplaudir-te.
Se não estiveres prevenida, pede à tua mãe um anticoncepcional
adequado. Tu não terás de prevenir-te senão contra a gravidez. Um filho
agora não seria uma dádiva, seria um estorvo... Tu deste tão certo! Quando
tu quiseres muito um bebê, se não for chegada a hora, eu e tua mãe faremos
um para ti.
A alegria explodiu nos seus olhinhos:
─ Fala sério? Já podes ir lambendo a tua “cadelinha safada”.
Todinha! E ir plantando nela a semente. Ric já é quase um homem e eu
adoro bebês. Se for menina, podes deixar a educação por minha conta,
inclusive na adolescência: ela terá duas amiguinhas fascinantes, mas em
qualquer caso eu ajudo vocês a embalá-lo, trocar as fraldas e educá-lo.

423
─ Tu és o meu orgulho.
Tomei-lhe as mãos, enfiei-lhe o anel num dedo, e beijei-as:
─ Deixa-me beijar as mãos da esposa do Amor.
Ela protestou:
─ Mas eu não direi “não”.
─ Por isso o mereces. – Ri – Tua carinha de felicidade está me
dizendo que és de fato doutora em mulher e especialmente em homem: Para
encontrar e conquistar um homem com um bruto “H” como o Fábio, só
mesmo tu. Esse anel é o teu PhD em Amor. Acho que tu és a primeira no
mundo a conquistá-lo, pelo menos sem levar bomba e com louvor. – Ri –
Tua mãe levou cada bombaço!
Ela compungiu-se:
─ Coitadinha! Ela não teve os mestres maravilhosos que eu tive a
felicidade de ter. Doutorou-se na escola da vida até encontrar o seu mestre.
– E olhando o anel – É maravilhoso!
Abraçou-me e beijou-me com o sorriso da felicidade. Levei-a de
volta ao início do tapete. As quatro menininhas estavam à nossa espera. Os
aplausos continuavam estrondosos e a marcha nupcial teve de ser tocada no
volume máximo. Quando iniciamos a caminhada para o altar, o sorriso de
Karina era pura felicidade que lhe escapava do coração e, ao final da
cerimônia, quando o padre os liberou para se beijarem, os aplausos
recomeçaram. Tive de intervir outra vez, gritando por ela:
─ Temos mais uma cerimônia, filhinha!
Terminada a cerimônia civil, novamente eles não tinham cabeça
senão para o Amor... Escafederam-se para a nossa suíte, enquanto
levávamos os convidados de volta ao salão de festas. Retornaram muitas
danças e muitos chopes depois. Karina tinha o rostinho da felicidade:
saciada, tranquila e risonha. Correu para o meu abraço:
─ Que felicidade ser tua filha! Tu és maravilhoso. Cumpriste
sobejamente a promessa de cuidar da minha felicidade. – Sorriu
deslumbrada – Daqui para frente, cabe ao Fábio, não é?
─ Pelo menos quanto a te manter saciada de Amor e
companheirismo. Pela tua carinha, – ri – vejo que ele é competente.
─ Eu também preciso agradecer à mamãe pela amiga e confidente
maravilhosa que ela tem sido. Sem ela, eu não teria alcançado a felicidade
que está me inundando o coração. Ou teria cansado de quebrar a cara como
ela fez até ter a felicidade de te encontrar. Acho que eu tenho de agradecer
aos Céus, todos os dias, por me haverem dado pais tão maravilhosos e um
esposo digno e amoroso.
─ Tu tens a graça de Deus com certeza e és merecedora do esposo

424
que ganhaste. Tu és toda de Amor e paixão. Todos puderam testemunhar,
encantados, o arrebatamento com que correste para ele. Até o padre ficou
fascinado. Eu fiquei muito orgulhoso de ti. Que a felicidade esteja sempre
com vocês e que Deus ilumine os caminhos que hão de trilhar.
Ah mulheres! Sempre inseguras. Perguntou-me muito séria:
─ Tu achas que o Fábio me será fiel a vida toda?
─ A vida toda é muito tempo ainda que a achemos demasiado curta,
e uma união só é boa de verdade e vale realmente a pena, se for de coração
e não de papel, não de um símbolo como esse que tens no dedo. O que
posso te afirmar e até jurar é que não encontrarás homem algum com maior
propósito de te ser fiel e de te amar mais do que o Fábio. É fidelidade que
só depende de ti, de tu seres deslumbrante a vida toda.
Quando o Amor é tão grande quanto a vida, ele resistirá a tudo,
especialmente se tu fores capaz – e eu sei que és – de manter tua paixão
sempre acesa e teu coração sempre aberto para o Amor. Tu não deves ter
cuidados quanto a isso. Tu descobriste uma pessoa tão rara quanto tu e
vocês se merecem de verdade.
Todos os teus cuidados devem ser para não deixares o teu ciúme te
subir à cabeça. A beleza nos atrai a todos. É inescapável e independe de
nossa vontade. Não podemos deixar de admirar uma paisagem maravilhosa,
um belo cavalo ou uma mulher encantadora. Mulheres muito lindas como tu,
tua mãe e tua madrinha são um encanto para os homens e um tormento para
elas próprias que acham que as outras são mais interessantes e podem
roubar-lhes o seu homem. Em todo o reino animal, os machos são mais
belos do que as fêmeas (o pavão, o leão, o galo, para ficarmos em
exemplos prosaicos), quando não se equiparam em beleza. O gênero
humano é a única exceção em que a fêmea é muito mais bela do que o
macho.
─ Ah, o Fábio é lindo!
─ Comparado com outros homens, mas tu lhe dás de dez a zero. Um
palmo de rostinho lindo, emoldurado por belos cabelos, com seios
altaneiros, pernas maravilhosas, bundinha tentadora, uma obra prima do
Escultor Supremo... temos de estar muito concentrados em não dar bandeira
para não segui-la com os olhos. Mas isso não quer dizer que temos de
segui-la de verdade, comê-la e, ainda, trocá-la pela que temos. Por isso, se
eventualmente o vires olhar para uma mulher linda com olhos que te
pareçam cobiçosos, tu podes até fazer uma ceninha, teres um amuo. Isso até
tempera o Amor. Faz-nos sentir amados, embora vocês não precisem de
artifícios para mostrar que amam.
Linda como tu és, tu já imaginaste a quantidade de sapos de ciúme

425
que ele terá de engolir em relação a ti? Tantos quantos os olhares cobiçosos
que tu recebes e que não são poucos, não! O importante é que nunca deixes
o ciúme se sobrepor à razão. Deves também estar precavida contra pessoas
malévolas, invejosas e maledicentes que não suportam ver a felicidade dos
outros.
─ Como aconteceu contigo e a mamãe!
─ Quando se perde o juízo, ainda que por instantes, o transtorno é
muito grande e pode por tudo a perder. Não há pior conselheiro do que uma
cabeça quente. Eu sempre te ensinei a pensar, a usares a razão... O império
da razão é fundamental em tudo, especialmente quando estamos a ponto de
perdê-la. É para isso que tu deves estar atenta, para fazeres com que esse
paraíso que hoje conquistaste perdure para sempre. E, para que ele dure
toda a vida, não te esqueças de reconquistá-lo todos os dias.
Se achares que o Fábio é teu porque tens um papel e uma aliança,
estás perdida! Em Amor, não existe propriedade e nem mesmo posse. Há
dação, entrega. Temos o ser amado, enquanto existir Amor, porque nos
entregamos e o recebemos no coração. Quando amas, tu te entregas, tens
necessidade de “estares” no ente amado. E, quando a entrega é recíproca e
intensa, como eu vejo em vocês, é que temos as mais belas estórias de
Amor. Há uma verdadeira comunhão de corpos e de almas. Sim, tu tens tudo
para protagonizares uma linda estória de Amor. E ninguém merece mais do
que tu.
─ É outra profecia?
─ Que só depende de ti para realizar-se. É só venceres o teu único
inimigo: o ciúme! Faz-me feliz realizando-a. O único meio de uma mulher
prender um homem, e vice-versa, é com o coração. É importante que estejas
sempre linda, cheirosa, apetitosa, atenciosa e aconchegante para receberes
o teu homem e que tenhas sempre uma palavra amiga, um gesto de carinho...
Tu tens de ser o desejo de estar juntos, a alegria do eterno retorno. E nunca
te esqueças de abusares desse sorriso meigo. Foi com ele que tu o
conquistaste e é com ele que o manterás preso a ti para sempre. Além dessa
arma poderosa, tu tens um excelente cosmético: a alegria de amar e ser
amada: o Amor! Ele vivifica a pele e torna as pessoas maravilhosas. Tu
podes fazer com que teu esposo esteja sempre ansioso para ir ao teu
encontro.
Estás mais linda do que nunca e, há pouco, quando correste para o
Fábio e fui ao encontro da tua mãe, ela pareceu-me ainda mais bela do que
quando a encontrei tristinha há dezenove anos e, quando a envolvi nos
braços, enquanto tu te esfregavas no Fábio, ela pareceu-me uma
potranquinha no cio. Tão jovem, tão bela e tão cheia de fogo, perto de ser

426
avó! Não resisti a fazer-lhe um galanteio. – Ri – Tu ririas se soubesses o
que eu lhe disse:
─ O que foi? Tu me deixaste curiosa.
─ Falei-lhe do encanto e do fascínio que eu terei em transá-la na
época em que ela estiver a cuidar dos teus netos...
Como eu cuidava, ela explodiu em riso. Depois, vexada, corrigiu-
se:
─ Desculpa, é tão lindo! A bisavozinha, ainda linda, jovial e fogosa!
Tu não existes!
─ Mas ela vai estar fresquinha, tu vais ver, e tu também, o Amor faz
milagres e rejuvenesce. Eu já te falei da importância de nos mantermos
crianças. Os bisavôs dos teus netos serão crianças apaixonadas e
brincalhonas, podes crer, e se amarão com fogo de adolescentes. Mas,
voltando ao nosso assunto, dizem as pesquisas que o ciúme da mulher é
diferente do ciúme dos homens.
O ciúme dos homens é físico. Os homens têm ciúme do corpo. Não
suportamos que a nossa mulher seja transada por mais ninguém. Por isso,
um olhar indiscreto, uma saia mais curta, um decote mais ousado, um
lencinho encontrado onde não deveria estar... podem transformar-nos num
Otelo. Já o ciúme da mulher é emocional. Ela morre de medo de que alguém
lhe roube o homem da sua vida... O seu medo não é de que ele transe outra
mulher, mas de que ela seja mais interessante e lho tire. Simplificando, para
o homem, a traição significa ser corno, uma aversão a dividi-la com outrem;
já para a mulher, significa a possibilidade de perda. E talvez, em muitos
casos, pior do que a perda é o horror de ser vencida pela rival.
Karina comentou muito séria:
─ Para mim, a simples perda já seria terrível demais. Não daria
nem para pensar em Amor próprio ferido.
─ Eu sei, eu estou falando em tese. É possível até que a questão não
seja assim tão simples, tão radical, mas, conhecendo a ti e ao Fábio como
eu conheço, eu não consigo imaginar uma mulher capaz de roubar-to. Eu
bem sei quanto valem essa cabecinha e esse coraçãozinho e Fábio também.
Eu gravei a nossa conversa e tu podes ouvi-la quando quiseres. Tu vais
conhecê-lo de verdade!
Fiz-lhe um elogio:
─ Ela teria de ser mais bela do que tu e teria de ter coração e mente
mais belos do que tu. – Ri – E até uma mimosinha mais habilidosa. Ora,
Karina já é um verdadeiro milagre. Uma Karina mais Karina do que Karina
é impensável!
Ela riu encabulada:

427
─ Ah, galanteio não vale!
─ Tu ainda não tens consciência da menina especial que tu és, mas o
Fábio tem. Tu sabes qual foi a primeira coisa que ele me disse, depois de
dizer-me a que vinha?
─ O que foi?
─ Que uma mulher como tu, um homem não encontra duas vezes na
vida e foi o que o deixou aflito para casar. Eu o vi realmente desesperado.
E olha que ele ainda não sabia nada de ti.
─ Então ele me ama mais do que eu penso!
─ Ele deve ter um problema muito sério de comunicação com as
garotas – sorri – pelo menos com as muito especiais, ou então és tu que
estás tão obcecada com questões de “galinhagem” que não consegues
enxergar um palmo adiante desse narizinho lindo. Ele estava perdidamente
apaixonado, quando me procurou. A esta altura, depois do que ouviu de
mim, do esparrame de paixão que tu fizeste no tapetão, e de ter provado a
tua fruta, ele deve estar com uma paixão visceral, como a minha pela tua
mãe.
Eu gravei a conversa no intuito de te dar a fita para tu decidires o
que fazer, mas em meio à arguição eu já tinha decidido casá-los e, ao fim,
quando lhe propus o matrimônio, ele ficou sem fala e abraçou-me e beijou-
me em pranto. Como diria tua mãe, nós misturamos nossas lágrimas, porque
eu também estava muito emocionado. Ah, filhinha, poder realizar a tua
felicidade, como havia “profetizado”...
Ela abraçou-me com os olhos úmidos:
─ É um privilégio e uma bênção ter um paizinho sábio como tu, e
tão amoroso! Tens sempre uma lição de vida e o coração cheio de amor!
─ E tu és uma filha exemplar, portanto não sejas tola, não deixes
nunca que o ciúme te domine e azede a tua vida e a do teu homem, dando
cabo desse amor maravilhoso. Quando fores mordida por ele, e serás
muitas vezes, é só dar-lhe um nó, se não quiseres simplesmente ignorá-lo:
um amuo, uma ceninha mostrando-te magoada (não raivosa), e
transformarás o ciúme em mais Amor.
A tua mágoa vai fazê-lo derramar-se todo em arrependimento,
ternura e carinho. Recebe a paz no teu coração e cuida da tua vida e da tua
felicidade. Tua felicidade é o Fábio? Trata de fazê-lo feliz e terás a
felicidade que mereces. E, para tanto, tu só tens de dizer-lhe sempre
palavras doces, que passem pelo filtro do teu coração. Palavras do coração
para o coração.
Conselheiros conjugais falam em “trabalhar a relação”... Mas isso é
uma grande tolice. Uma relação amorosa é um assunto muito sério para ser

428
trabalhada. Ela tem de ser brincada!
Karina estava estupefata:
─ Mas se é tão séria... como pode ser transformada numa
brincadeira?
─ Tu és capaz de imaginar algo mais sério do que ensinar uma
criança de três anos a ler e escrever?
Ela sorriu deleitada:
─ Não, papai! Realmente eu não consigo imaginar nada mais sério,
mas foi de verdade a brincadeira mais fascinante de toda a minha vida...
─ É o que vocês têm de ser sempre um para o outro: brincalhões
fascinantes! Talvez os conselheiros conjugais consigam trabalhar a paixão,
mas o Amor verdadeiro, que se queira eterno, tem que ser um brinquedo
que queiramos brincar todos os dias de nossa vida. E se brincarmos o
Amor, ele produzirá paixão braba. Eu sempre brinquei minha relação com
tua mãe, com declarações de Amor, cantadas, elogios, brincadeirinhas tolas
e, muitas vezes, com piadinhas chulas e até indecentes. Nós nunca fizemos
sexo! E muito menos cometemos esse horror de “cumprir a obrigação
conjugal”. Jamais discutimos a relação.
Ri em êxtase:
─ Nós sempre brincamos de Adão e Eva, geralmente sem parras e
no maior despudor que possas imaginar, com tua mãe gemendo
enlouquecida de prazer e explodindo em gozo colossal... Nunca estamos
realmente saciados. Há sempre desejo satisfeito no coração que cresce
glorioso e atinge as raias da loucura nas preliminares da brincadeira
seguinte, que sempre se transforma em verdadeira festa...
Um dia, tomando sol na nossa cama, perguntei-lhe se ela queria
falar da nossa relação. Ela sempre declinava, alegando que com meninos
empolgantes não dava. Mas, então, sorriu marota: “quero”! E tratou de
encher a boca com o menino... Meu Deus! Como ela “falou” gostoso,
fazendo-me gritar palavrões. Então disse na maior alacridade: “minha
menina também quer falar”. E toma algemadas, ordenhas, chupitadas... Ts
Grandões... Aí ela disse com brejeirice: “ele também quer falar... tu sabes,
ele não dispensa cambalhotas”... Desde então ela não dispensa “discutir a
relação” para empolgar o menino.
Se tu cuidares que todos os homens são “galinhas”, inclusive os que
amam profundamente como o teu esposo e o teu pai, não haverá remédio e
de nada valerão tuas aflições. O que tens a fazer é dizer-lhe da confiança
que tens nele. Isso o tornará ainda mais responsável por ti e pela tua
felicidade. Podes estar certa de que não há a menor possibilidade de perdê-
lo. Para quem tem uma mulher bonita, meiga, culta e pompoarista, capaz de

429
envolver completamente a vida de um homem com ternura, sabedoria,
paixão e loucuras na cama, as outras não têm a menor graça. Podes
sossegar, se ele desejar fisicamente outra mulher, ele vai correr
desesperado para o teu aconchego.
─ Mamãe teve muita sorte em ter-te encontrado e eu em ter nascido
de vocês! É sempre uma felicidade ouvir tuas lições. Eu já estava
começando a me julgar sábia, mas sou mesmo uma tola e tenho muito que
aprender.
─ Creio que foi Sócrates que disse que só o sábio sabe que não
sabe. E é verdade: nós passamos a vida toda aprendendo e morremos sem
saber nada! Eu acho que devíamos aprender alguma coisa nova todos os
dias, ainda que fosse apenas ler uma página de um livro, aprender algumas
palavras novas no dicionário, meditar sobre a transitoriedade da vida,
refletir sobre a crença em Deus, procurar descobrir o que podemos fazer
pelos entes que amamos e pelo próximo, como melhorar e alegrar o mundo
ao nosso redor...
O mundo poderia ser limpo, alegre e agradável de viver se as
pessoas se preocupassem mais com a felicidade dos outros do que consigo
próprias. Tu já imaginaste como seria triste a nossa casa se cada um de nós
cuidasse da própria felicidade?
Ela sorriu:
─ Meu Deus! Mais uma lição de vida! E preciosa! Sinto ter
crescido muito hoje e já não me julgo tão tola... Eu tenho uma dúvida me
atazanando: por que tu fizeste aquela restrição quanto às obrigações do
Fábio. Ele não será totalmente responsável por mim?
─ Haverá, sim, uma restrição. Até que ele seja capaz de manter-te
dignamente, daqui a alguns anos, tu continuarás morando aqui e ele com os
pais.
─ Mas eu não poderei viver sem meu esposo!
─ Mas tu vais tê-lo. Vou redecorar a tua suíte, com uma cama bem
grande e resistente e vocês vão poder lambuzar-se nela sempre que
quiserem.
Sorri com intenção:
─ Mas acho que vocês vão querer ocupar um espaço bem
pequenininho nela, não é?
─ Ela sorriu brejeira:
─ Com certeza! Acho que até para dormir... Abraçou-me com muito
Amor e disse-me com a felicidade nos olhos:
─ A minha felicidade é ser tua filha e ter os teus cuidados! Tu me
indicaste todos os caminhos, até os que me levavam ao Fábio!

430
─ Leva a fita e ouve-a quando tu tiveres uma oportunidade – ri – ela
também te leva ao Fábio, mas não te esqueças de dizer-lhe quanto o amas.
Ele pode estar cegado pelo próprio Amor, como tu, e não vislumbrar o
tamanho do teu Amor.
─ Claro! Vou dar-lhe tanto Amor, tanta paixão, que ele nunca haverá
de ter dúvida alguma!
Beijou-me com ternura e foi ter com a mãe.

Aline recebeu-a aflita com os braços abertos:


─ Puxa! Que papo comprido! Vi-os tão interessados na conversa
que nem tive coragem de me intrometer.
─ Pois acho que tu irias gostar de ouvir. Papai esteve a dar belas
lições de vida sobre ciúme, Amor, império da razão e sabedoria para a tua
filhinha tola. Ele sabe tudo sobre o ciúme e o Amor, não é?
─ Tem de saber! Ele lidou durante anos com o meu e me
transformou na mulher mais feliz do mundo. Eu era tão estúpida!
─ Mas tu sempre o recompensavas com paixão!
─ Depois de ele trazer-me de volta à razão! Eu tinha pavor de
perdê-lo, mas o ciúme é uma tolice. Só serve para infernizar a nossa vida e
a do nosso amado, além de abreviar a perda, se a união não for muito
sólida. Nunca se deve ir além de um amuo. Perder a razão, nunca! Custou-
me tanto aprender isso. Eu cheguei a ficar tão cega com uma simples
brincadeirinha que não consegui ver este magnífico anel de brilhante
fulgurando diante dos meus olhos. Eu fiquei tão vexada!
─ Eu posso imaginar. Tu vais gostar de saber o que ele me disse no
final. Deixou-me tão tranquila!
─ Ouvir teu pai é sempre um deleite. – ela formigava de curiosidade
– Que foi que ele disse?
─ Que, “para o homem que tem uma mulher bonita e terna, com as
nossas virtudes físicas e intelectuais e as nossas ‘habilidades’, as outras
mulheres não têm a menor graça” e disse que jamais te trocaria por
nenhuma das mulheres que conheceu, nem pelas que mais amou ou qualquer
outra. Fez apenas uma ressalva à Iara que qualificou de avis rara como tu.
Disse que seriam tantos os testes a fazer e que não valeriam a pena, porque
uma Aline mais Aline do que Aline é impensável.
─ Ah é...! A mais bela declaração de Amor eu tinha de ouvi-la por
teu intermédio! E equiparar-me à mulher mais fantástica que ele conheceu!
Deixa estar que ele vai me pagar! Ah vai! – Riu – Vou fazer-lhe um strip-
tease com tanta arte e devassidão que ele vai estertorar de excitação!
Riu seu riso mais maroto:

431
─ E aquele lobo-mau vai ter de comer a chapeuzinho vermelho
muito inocentinha com seu cestinho de frutas – riu marotíssima – tudo muito
bem comidinho! A minha menina há de fartá-lo de frutas e abraços
apertados, beijos chupados e todas aquelas doces torturas em que se tornou
perita... E se ele ficar preguiçoso o que é que tem! Minha menina adora
brutalizá-lo, encabaçando-o na dança do ventre, depois das portentosas
surras de pau, e fazê-lo adormecer chupitando-o com beijinhos.
Karina riu embevecida:
─ Papai tem razão: grandes amores são brincados... Faz isso. Papai
é um homem extraordinário e merece toda a felicidade que tu lhe dás. E só
tu podes recompensá-lo pelo que ele fez por mim. Considerando que vocês
se amam há dezenove anos, tu recebeste duas cantadas fantásticas com a da
“bisavó”, não é?
Aline sorriu deleitada:
─ Foram mais, amiguinha! Se é que não vem mais ainda por aí.
Cada uma mais linda do que a outra. Ele também me comparou aos vinhos
de boa cepa: fico “melhor e mais saborosa quanto mais os anos passam”!
Enquanto eu me derretia toda, ele riu e disse que as mulheres têm de ser
bem arrolhadas como os vinhos para não azedarem e refinarem o sabor, mas
as muito especiais, de coração amoroso e terno, precisam também de agito,
como os melhores Champagnes, para se manterem borbulhantes de Amor e
desejo. Ele envolveu-me tão forte e roçou o queixo no meu pescoço que eu
fiquei um agito só.
Prometeu-me rolha e agitação farta para depois da festa e que me
manteria sempre bem arrolhada sob intensa agitação para degustar o meu
sabor mais requintado ainda quando me devorar em comemoração ao
nascimento do teu filhinho. Vai ficar completamente ébrio com o aroma dos
meus eflúvios voluptuosos e minhas borbulhas de Amor e desejo ao
degustar-me em comemoração ao encanto do teu netinho. Vai ficar tão ébrio,
que vai sair batendo a cabeça adoidado na minha menina. Pode? Dá para
não viver encantada com o meu homem? O duro mesmo vai ser esperar...
Karina sorriu-lhe com ternura e uma pitada de marotice:
─ Tu também podes dar uma escapadinha e arrastá-lo para a suíte.
Faz isso por mim. Eu preciso que os responsáveis pela minha felicidade
estejam felizes para a minha felicidade ser completa. Eu e a madrinha
cuidaremos dos convidados. Só me avisa quando fores.
─ Tu fazes isso?
─ Claro! Estou deslumbrada com teu derretimento e o brilho dos
teus olhinhos e se o deslumbrares... Vejo que, mesmo com – riu – uma
arrolhada prévia, esta será uma noite daquelas para lembrares a vida toda.

432
─ Com certeza! O que ele fez por mim e por ti merece o prêmio
maravilha! Tua mãezinha está-me dizendo que tu estás muito bem, com uma
carinha muito feliz, mas e o coroamento do teu himeneu, como foi? O gozo
superou a dorzinha?
Karina sorriu cheia de gozo:
─ Se superou! Foram anos-luz à frente! A dorzinha foi só uma
picadinha... – riu com malícia – mas a picadona... E, seguida de uma TVC...
Foi um adeus glorioso ao meu cabacinho... E eis-me mulher! Mulher
iniciada no Amor de paixão bruta! Causou uma explosão tão grande sem
nenhum ruído, além do meu gemido louco, mas que me levou ao paraíso,
exatinho como tu me descreveste. – Tornou a rir maliciosa: mas eu acho que
ainda vai melhorar, porque ele não botou força bruta naquela verga
maravilhosa. Acho que ele me vê como uma deusa frágil – riu impudica –
mas eu vou mostrar-lhe a força da cabaçuda! Vou fartá-lo com os brincos da
mimosinha.
Aline riu da impudência da filha. Nadava em felicidade:
─ Estou muito feliz por teres aprendido meus ensinamentos e
escolhido sempre o melhor para ti. E, afinal, tudo ter terminado tão
maravilhosamente, como se fosse uma profecia!
─ Mas foi uma profecia! Uma não, duas! Papai profetizou que eu
encontraria o homem da minha vida na Universidade, ensinando-me até a
fisgá-lo, e que eu toparia com a minha sorte no final de um longo tapete
vermelho!
Aline sorriu maravilhada:
─ E ele as fez acontecer literalmente!
─ E pasma, acabou de fazer-me outra: que eu serei a protagonista de
uma linda história de Amor, se vencer o meu ciúme!
─ Mais uma razão para deixá-lo louquinho! – Riu – ele vai ter o
strip que merece! E vai ter mesmo de suportar todas as torturas da Nina e o
meu rebolado naquela safadeza de falo! Escuta, tu vais dar o teu show
comigo e tua madrinha ou já te fartaste de aplausos por hoje?
Karina sorriu:
─ Dançar e tocar piano também são brincar, não é?
─ Claro, filhinha, aliás, tudo na vida deve ser brincado. Tudo deve
ser feito com um sorriso e felicidade no coração, até as coisas que
consideramos mais sérias como o trabalho, por exemplo:
Tu estás fazendo medicina. Se tu vires a dor de cada paciente como
um jogo, um desafio a ser vencido, a tua vitória sobre a dor de cada um te
encherá de alegria. Imagina um “vídeo-game” em que a doença é o monstro
e tu tens de derrotá-lo para salvar o paciente. Tu tens de municiar-te de

433
todas as tuas armas (exames, remédios, terapias, cirurgias...) e, se vires que
são insuficientes, pesquisarás novas armas (pesquisa é fundamental como tu
sabes). Há sempre uma batalha do médico contra o monstro e, quando tu o
derrotas, a alegria é muito maior do que nos “games”, porque o monstro é
real e tu salvaste um semelhante também real.
Mesmo eventuais derrotas – a vida é finita – serão recompensadas
largamente pelas muitas vitórias e mitigadas pela certeza de que usaste
todas as armas possíveis. Se tu vires a medicina por esse prisma, ela
poderá ser uma das tuas maiores empolgações. Já se a vires apenas como
um meio de ganhar dinheiro, ela não terá nenhuma graça e tu serás apenas
mais uma médica.
─ Hoje é o dia de aprender e ser feliz, tu também tens sempre uma
lição de vida, com as alternativas óbvias. Eu escolhi medicina porque
gostava, mas agora – sorriu – eu a estou amando.
─ Tu aprendeste que tudo pode ser visto de dois ângulos opostos:
certo, errado; alegria, tristeza; bom humor, mau humor; otimismo,
pessimismo e também a sério ou brincar. Quem ainda tem meio copo está
melhor do que aquele que só tem meio copo. No dia em que tu nasceste eu
tinha um grande desconforto: a barriga pesava-me, a dilatação da vagina era
desconfortável, as contrações uterinas doíam, mas eu vi tudo pelo lado
bom: são sinais de que vou ter nos braços a minha filhinha tão desejada e
vou ver a felicidade maior no rosto do meu homem e, a cada desconforto, a
cada dor, eu sorria e ficava atenta a cada movimento teu para ajudar-te a
nascer. E te ajudei. Recebi tantos elogios dos médicos.
Também aprendeste o lado bom e o lado ruim das coisas e foste
estimulada a fazeres a tua própria escolha. Tu estás preparada para tirares o
melhor da vida.
─ Eu sempre vi papai e tu como mestres em que eu encontro luz
para a minha ignorância e orientação segura para trilhar os meus caminhos.
O casamento me deu a maioridade, não é? E comecei a me sentir uma
mulher completa, madura, pronta para dirigir a minha vida, mas eu cresci
tanto nestas conversas com papai e contigo que acredito que serei
dependente dos meus mestres a vida toda.
─ Não, filhinha, ninguém está mais preparada para dirigir a própria
vida do que tu. Tu tens um acervo de conhecimentos de causar inveja a
qualquer adolescente e à grande maioria dos adultos, até a mim quando uni
a minha vida à do teu pai. É natural que tenhas te sentido uma mulher
madura. Toda mulher que encontra o Amor verdadeiro perde medos,
ansiedades e pudores e liberta-se para a vida. Torna-se confiante, senhora
da própria vida, e amadurece num repente. Tu vais te sentir cada dia mais

434
livre para sonhares, realizares os teus sonhos e – riu – para brincares a tua
vida e, é claro, para absorveres mais sabedoria.
Sorriu-lhe com ternura:
─ Seremos mestras uma da outra, muito mais depressa do que
possas imaginar. Tu verás!
─ Mestras brincalhonas e impudicas com o homem de nossa vida!
Então vamos brincar! Quero transformar minha vida numa eterna
brincadeira, com muita responsabilidade, mas um jogo divertido. Ser
aplaudida delirantemente por minhas brincadeiras é a glória! – Riu – E tu
sabes muito bem que aplausos não me fartam e os que eu tive hoje foram de
simpatia e eu estava tão envolvida em Amor e desejo que quase não os
notei. Quero-os também pela minha arte.
Hoje a festa é dupla e é toda minha. Portanto, quero tudo em dobro:
quero aplausos em dobro, quero dançar em dobro, quero dar concerto em
dobro, – riu toda solta e moleca, sem nenhum pejo – quero dar-me para o
Fábio em dobro, quero dar em dobro tudo o que tenho direito, até um beijo
em dobro em ti, por me ensinares a ser feliz!
Prosseguiu com sorriso brejeiro:
─ Eu quero, sim! Quero mais rolha e agito até explodir em festa
como uma garrafa de Champagne. Eu também sou como Champagne de boa
cepa. Afinal – riu – fui produzida na tua dorna arrolhada pelo teu macho
bravio, não fui?
─ Podes ter certeza, minha dorna não aceita rolha que não seja a
dele e, para te fazer, ele tampou-me bem tampadinha, na maior agitação, e
minha menina não deixou escapar uma única borbulha para que essa
pessoinha maravilhosa tivesse uma chance – sorriu com muita ternura – e tu
não a deixaste escapar.
Karina era toda meiguice:
─ Devo ter sido a última borbulha.
─ É bem possível, mas o que importa é que tu foste a primeira e
ganhaste o meu óvulo para premiar-me com essa femeazinha linda e meiga.
Foi tua primeira vitória... e já tiveste tantas outras... Sempre foste
vencedora – sorriu – e continuas a primeira... Eu tenho tanto orgulho de ti.
─ Minha maior vitória foi ter nascido de ti e papai, sempre cercada
de Amor e atenção. Tu és Amor e ternura e eu te amo muito – riu – Papai
diz que é redundância porque todos nós sabemos quando somos muito
amados, mas eu tenho necessidade de ser redundante contigo. Acho que
papai vai pedir-te algo muito especial, mãezinha querida, e, com todo esse
fogo que arde em ti, acho que vais atendê-lo.
─ O que é? Não há nada que eu possa negar-lhe.

435
─ A beneficiária sou eu. Ele me prometeu um filho contigo por eu
não poder ter filhos já, e eu lhe respondi que ele já podia ir lambendo sua
cadelinha safada. Todinha!
─ Tu queres mesmo um bebê?
─ Se tu quiseres, eu amarei! Mas eu te ajudarei a criá-lo e educá-lo
e se for menina podes deixar a educação por minha conta até ela se casar e
até depois! Eu estou doidinha para educar uma menina como eu.
Karina estava muito feliz, mas aflita para ouvir a gravação:
─ Enquanto vestirmos as fantasias, ouviremos a fita que papai me
deu da conversa com o Fábio. Pelo pouco que ele me contou, estou ardendo
de curiosidade. Quero ver onde ele encontrou os fundamentos para a sua
nova profecia.
Aline estava adorando aquele papo sério em tom maroto, rindo
muito do despejo da filha e impressionada com a maturidade que via
crescer nela, mas, açulada pela curiosidade, saiu a passos largos,
empurrando a filha na direção de Márcia e arrastou-as para o vestiário.
Puseram a fita no aparelho de som e ficaram as três de queixo caído. Ao
final, Márcia disse, misturando suas lágrimas às de Karina e de Aline que,
abraçadas, se esvaíam em lágrimas de emoção:
─ Meu Deus, afilhada! Esse menino está doente de amor por ti.
Agora entendo a atitude de Marcos. Parabéns, amiguinha, parabéns mesmo,
de coração! Tu ganhaste a felicidade que mereces! Goza-a em toda a
plenitude. Tu a mereces de fato!
Karina saiu ventando à procura de Fábio com o rosto lavado de
lágrimas. Pulou-lhe no pescoço e beijou-o furiosamente. Fábio, a princípio
assustado com o beijo intempestivo, correspondeu-lhe. Estavam no meio do
salão e os convidados fizeram a roda, aplaudindo em delírio. Ao cabo de
largo tempo, Karina tentou falar. Fábio tomou-a nos braços e levou-a para o
jardim. Sentou-se num banco com ela ao colo, afagando-lhe o rosto e os
cabelos:
─ O que é que aconteceu, meu Amor, por que estás tão aflita?
Finalmente, Karina respondeu soluçando:
─ Papai deu-me a fita da conversa contigo... Por que tu não me
disseste que o teu Amor por mim era tão grande quanto esta paixão por ti
que me devasta o coração? Eu amaria ouvir dos teus lábios, na música da
tua voz.
─ Perdoa-me, Amor, eu sou muito tímido e desajeitado com as
palavras. Elas nunca correspondem aos desejos do meu coração, à
grandiosidade do meu Amor por ti. Eu tentei dizer-te. Quanto eu tentei!
Tentei escrever-te um poema... Rasguei resmas de papel... O que eu tinha

436
para dizer-te era tanto e tão grandioso, mas as palavras eram tão pequenas,
tão inexpressivas. Tu haverias de rir de mim. Eu também via que não te
merecia e não sabia que o teu Amor era tão grande e pensei que teria de
cativar-te, tornando-me digno de ti.
Eu tinha decidido trabalhar e estudar noite e dia para crescer aos
teus olhos e me tornar o que tu querias... Teu pai tinha-me dito que tu não
sabias se eu era o que tu querias... E eu queria muito ser...
─ Mas tu não tinhas de crescer aos meus olhos. Aos meus olhos tu já
eras um deus. Eu queria saber é se tu eras um deus digno do meu Amor. Tu
tinhas de crescer era para o meu coração: para ele, tu parecias tão
pequenino, mas eras um gigante! Por que tu escondeste de mim esse gigante
de puro Amor e desejo, por quem eu ansiei tanto, por quem eu suspirei
tanto! De quem eu busquei, em desespero, por um sinal, uma manifestação...
Se me tivesses mostrado, eu teria te entregado, numa explosão de júbilo, o
meu corpo, o meu coração, a minha alma, todo o meu ser!
Ao preparar-me para me levar ao altar, papai me disse que meu
noivo me amava de verdade e que era muito digno de mim, fazendo mistério
de quem estava falando. Quando pisei no tapete e vi que eras tu, fez-se luz
no meu coração: “Fábio é mesmo o meu homem”! Mas eu não podia
imaginar que o teu Amor e o teu desejo por mim te levassem ao mesmo
desespero que eu sentia por ti.
Eu sonhava contigo, acordada ou dormindo, e desejava-te com
desespero. Tu vinhas sobre mim, mas eu não sentia o teu peso... Eu não
sentia o teu desejo... Eu não sentia o teu prazer... Eras só uma miragem...
Eras só uma visão... Uma visão muito amada, mas uma visão que eu queria
pressionando todo o meu corpo. E eu sufocava no meu peito um grito pelo
teu nome que só pude libertar quando te vi no altar...
Quando estavas junto de mim, querias o meu sexo e eu queria o teu.
Eu o queria muito, muito, muito... Eu anelava por ele. Mas queria antes e
acima de tudo o teu coração. Tu querias, sim, o meu sexo, eu bem via. Mas
querias junto o meu coração? Se o querias, por quanto tempo?
─ Por toda a vida, meu Amor, juro-te! Por toda a minha vida!
Minhas palavras são frouxas para falar de Amor, eu sei, mas toca o meu
coração! Aqui! Vês? Ele só bate por ti. Ele só sente Amor por ti. Ele só tem
desejo de ti. Desde que te conheci, eu não tenho vida sem ti. Tenho sempre
a tua imagem muito querida diante de meus olhos e não tenho vida para os
estudos, para o trabalho para os deveres nem para Amor ou sexo que não
seja contigo.
Sempre que te quis dizer isso de uma forma grandiosa, palavras
significativas não me ocorriam. Eram tão menores! E eu te falava de

437
literatura, de artes, de planos, das minudências da vida, em que as palavras
fluíam e fluíam... Tu te encantavas comigo quando te falava disso, eu bem
via, mas eu tinha pavor de dizer-te palavras de Amor inexpressivas, sem
beleza, sem grandiosidade, incapazes de expressar o que eu sentia por ti.
E eu sempre vi em ti uma menina especial, maravilhosa, muito
acima dos meus merecimentos. É sim! Minha admiração por ti parecia
maior ainda do que o Amor que não me cabia no peito! E eu pedia a Deus
para fazer-me digno de ti. Perdoa-me, Amor, eu não tenho palavras de
Amor grandiosas o bastante para ti porque é um Amor que não cabe em
palavras, mas o Amor imenso que tenho no coração há de compensar-te à
larga. Eu queria muito que tu entendesses a linguagem que o meu coração te
fala...
─ Mas ele fala lindo, quando o deixas livre, e tu também! É só te
livrares do medo, como agora, e deixares falar o coração com toda a
liberdade, na sua linguagem simples. O que tem de ser grandioso não são as
palavras, mas o Amor que elas expressam. E eu estarei sempre aberta para
o teu Amor. A linguagem do Amor é simples, sem gongorismos. O coração
diz simplesmente as suas verdades. Se buscares formas arrevesadas, vais
soar falso, porque não será ele a falar.
Tu tens muito gosto por poesia clássica, eu sei, inclusive pelas
escolas de formas mais rebuscadas, mas não queiras me transformar numa
joia ou numa peça de museu, ainda que linda e valiosa, nem adorar-me num
altar como uma deusa de mármore ou bronze que eu não sou. Tampouco sou
de cristal que se quebre: tenho um bruto orgulho dos meus pais porque
fizeram de mim uma mulher independente e determinada, não uma dondoca
frágil e submissa.
Posso ter tomado das deusas a forma como tu dizes, mas eu sou de
carne e osso e músculos rijos para suportar com alegria e êxtase os embates
do teu Amor mais tórrido. Aquelas encoxadas que te pedi com toda a força
foram para ter certeza de que o macho correspondia ao homem que me
deslumbrava e podia brutalizar-me de paixão. Eu tenho, sim, sangue
correndo nas veias. Sangue que ferve de desejo de ti e músculos rijos para
suportar a brabeza do teu Amor mais tórrido.
Meus lábios não são rubis, mas carne cheia de desejo dos teus
lábios. Minha pele não é de alabastro nem tampouco de marfim, mas de
carne quente, como todo o meu corpo em frenesi, ansiando pelo teu toque,
pelo envolvimento dos teus braços nos carinhos da tua ternura e do teu
afeto, mas também pela fúria do teu desejo, pela força do teu tesão...
Meus olhos são verdes como esmeraldas? São! Mas não são
esmeraldas! São olhos! Olhos de ver, olhos de chorar, olhos de sorrir...

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Olhos de expressar Amor, olhos de expressar paixão, olhos de expressar
alegria, olhos de expressar tristeza, olhos de expressar ternura, olhos de
refletir a meiguice do meu coração... É assim que eu quero que me vejas: de
carne, osso, músculos, meiguice e tesão... De muito tesão que eu guardei a
vida toda para ti.
Se eu esperei por ti foi porque nunca encontrei um homem digno da
minha pureza, não porque eu não sentisse desejo. Eu queria o melhor e
queria muito ser digna dele e queria muito também que ele fosse digno de
mim. Não, Amor da minha alma, tu não precisas crescer para mim. Eu só
quero que tu sejas tu mesmo: aquele homem sábio, másculo e terno que me
encantou, à primeira vista, e que eu desejei tanto para ser o homem da
minha vida, mas escondia no peito o que eu mais buscava nele: o Amor por
mim!
O que eu quero de ti? Que não me adores num altar! Mas que me
ames na cama com a ternura dos teus carinhos, temperada pela fúria da tua
paixão e o estertor do teu gozo! Não aprisiones no peito o teu coração, por
favor! Tu o deixas sentir, mas não o deixas falar. Ele fala lindo demais
quando o libertas, e eu preciso muito saber o que tu queres de mim; quais
são as verdades e os desejos do teu coração! Quero o teu coração sempre
aberto para mim como eu hei de ter o meu aberto para ti. Eu quero muito
aquele homem de fato que eu encontrei na fita!
Fábio estava muito emocionado. A custo balbuciou:
─ Eu quero ser digno de ti e que tu sejas a luz do meu caminho, o
sol da minha vida, a paz do meu coração, o gozo da minha existência, o meu
leme, a minha bússola...
Sorriu, apertando-a muito como se quisesse estalar-lhe os ossos:
─ Tu tens razão! Eu fui um grande tolo! Creio que tua beleza me
ofuscou e eu não consegui ver a beleza do teu coração que é ainda mais
lindo. Mas já me iluminaste o caminho. Já vejo luz diante dos meus olhos. E
o meu maior anseio é ter o teu Amor pela vida toda e que sejas o meu sol, a
paz do meu coração, o gozo da minha existência, a minha direção na vida, a
minha alegria e a minha razão de existir: todo o meu tesão de viver! Quero
que me orientes e me ensines a ser o homem que tu queres, que te complete
a vida com muita alegria, muito prazer, muito gozo e muita felicidade. Eu
quero muito ser a razão da tua vida como tu és a razão do meu viver! E,
acima de tudo – eu não sei como te dizer de forma poética – eu anseio pelo
teu corpo em frenesi, explodindo em êxtase de gozo no meu sexo enfurecido
de desejo pelo teu.
Tu tens, de veras, formas divinais e, das deusas virtuosas, as
divinais virtudes, mas eu quero, eu hei de estar à tua altura. Já te tirei do

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altar, e estarás sempre envolta nos meus braços, juntinho do meu coração. E
nossos corações hão de pulsar juntos para sempre, encantados de Amor,
fascinados de ternura e pulsantes de paixão. São essas, Amor da minha
vida, as maiores verdades do meu coração e os maiores desejos da minha
alma, além de que participes de todos os meus projetos de vida orientando-
me com a tua ternura e a tua sabedoria e o encantamento do teu sorriso.
Karina sorriu deslumbrada, com o coração, com a alma, com todo o
seu ser e respondeu-lhe transida de paixão:
─ E eu quero que tu me apertes muito e me beijes, me afagues, me
arranhes, me mordas, me comas, me devores, me transformes no alimento
da tua alma, com toda essa paixão que vejo dentro de ti, até que eu entre
todinha no teu peito e te tome todo o coração, dando-lhe a minha paz, o meu
Amor e o meu calor... Faz-me tua mulher, por Deus! Faz-me a fêmea da tua
vida! Elege-me como tua amante passional e amorosa! Transforma-me na
tua cadelinha muito safada, para que não tenhas de olhar para as cadelas da
rua, faz-me o brincar da tua alegria...
Juntemos nossas vidas, todos os nossos projetos, todos os nossos
anseios, todos os nossos gozos, todas as nossas aflições, todas as nossas
alegrias, todas as nossas conquistas, todas as nossas frustrações, todos os
nossos problemas, todas as nossas soluções, todas as nossas vitórias... Eu
quero muito que sejas o meu homem e meu protetor por toda a minha vida e
o meu macho selvagem que me cobrirá de prazer, gozo e felicidade por
todos os meus dias.
─ É como eu vejo a união de nossas vidas, juro! Eu não existo
separado de ti. Eu tenho de respirar o mesmo ar que respiras para poder
viver.
─ Nunca me jures, por favor! Apenas me ama com intensidade tal
que eu sinta o teu Amor me envolvendo, em plena comunhão com todo o
meu ser. Que eu te sinta em mim como eu quero que tu me sintas em ti. Que
tu sejas o alimento da minha alma como eu quero ser o alimento da tua
alma. Que tu sejas a razão do meu viver como eu quero dar sentido à tua
vida.
Ela gemeu de prazer por largo tempo, espremida nos braços do seu
homem, num beijo que lhe sugava a alma. Sentiu-lhe a força e o calor, sentiu
seu coração no coração do amado. Sentiu o macho duro tocando a fêmea
macia... Sentiu apequenar-se como uma dádiva no envolvimento férreo dos
braços do amado... Sorriu-lhe com o coração e disse-lhe com Amor,
ardendo em desejo:
─ Leva-me de volta para a suíte. Brutaliza a tua fêmea com todo
esse tesão bravio dentro de mim. Eu quero gemer fundo nessa dureza de

440
macho, estrebuchando o gozo das entranhas! Faz-me a tua mulher, a tua
fêmea, o teu brinquedo, o teu gozo e a tua felicidade para que eu seja feliz,
muito feliz!

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Capítulo XXX – LUA DE MEL

Saciados, enquanto eles se vestiam, ela lhe disse com alegria


inaudita no rostinho de puro encanto:
─ Eu quero dançar para ti. Eu quero tocar para ti. Eu quero tocar-te
a alma! Eu tenho de dar vazão a toda esta alegria que tenho no peito, para
não explodir de Amor e felicidade. Leva-me para o salão, por favor!
Fábio ergueu-a nos braços, sorriu-lhe e beijou-a com ternura, levou-
a para o salão e a depôs no chão, sob aplausos estridentes. Ela correu para
o vestiário e retornou esplendorosa numa fantasia luxuriante. A mãe e a
madrinha estavam recebendo aplausos entusiasmados por uma série de
danças. Aline perguntou-lhe aflita:
─ Está tudo bem?
Ela respondeu-lhe com a alma inundada de alegria:
─ Está tudo maravilhoso, mamãe, queres uma certeza?
Aline inquiriu-a, sorrindo-lhe com a alma em êxtase:
─ Qual é?
─ Papai está certo: eu vou viver a mais linda história de Amor. Uma
história verdadeira. A história da minha vida! Nós conversamos e abrimos
nossos corações e nos entendemos e nos encantamos, e nos emocionamos e
nos abraçamos e nos apertamos e nos beijamos com tanta paixão que eu
senti o desejo de Fábio crescendo para mim... Eu pedi-lhe para voltarmos à
suíte...
Aline respondeu-lhe com seu sorriso mais feliz:
─ E vocês tiveram a festa de Amor tórrido que fez florir de alegria
o teu rostinho e o dele!
─ É... E o mais emocionante é que fui eu que regi a orquestra.
Dirigi-o na realização do meu sonho: A TVC e a TVG com a selvageria
desejada. Ah, minha amiguinha, – riu – picadona é uma delícia, mas surra
de pau... Meu Deus, como é bom! De joelhos ou não, é para apanhar
rezando! – Tornou a rir – E de joelhos, com cambalhotas na apoteose do
gozo...
Ele fez tudo como eu pedi. – Explodiu em riso – É preciso fazer ver

442
ao bispo que o bom é surra de pau, não de bambu! Ai, Meu Deus, depois da
festa vamos fazer mais transas inspiradas no teu Diário. – Sorriu – Vou
deixá-lo maluco com o meu cabacinho novo e deixá-lo fascinado na dança
do ventre: vou parafusar tanto no Durango Kid que Fábio vai estertorar de
gozo. Ele tirou-me o cabacinho, mas a cabaçuda vai deixá-lo louquinho...
Tu tens razão: muita paixão e volúpia tiram-nos o senso e o juízo e
só temos cabeça para a nossa mimosinha grávida de um instrumento tão
poderoso e tão prazeroso. É flutuar em prazer sem chão nem leme até
aterrissarmos numa nuvem de felicidade extrema, maciazinhas e relaxadas
nos braços aconchegantes do Amor.
E Fábio tirou-me do altar. Não me vê mais como uma deusa frágil
nem como uma escultura de cristal que se quebre. Já me vê como uma
potranquinha fogosa de carne e osso e sangue fervente de desejo e músculos
rijos, capaz de cavalgar com ele pelos “bosques floridos do Amor ou
galopar sôfrega pelas pradarias rubras da paixão”. Ele já sabe que gemido
das entranhas é prazer e que rebolar, apertar, arranhar, travar, é gozo
extremado... E me bota toda a pressão do seu corpo e a força toda do
Durango Kid. – Riu – Ele conheceu L’amour de La Femme!
Hoje eu vou querer a “avant-première” da nossa vida e eu te
responsabilizo, com papai, pela felicidade que está inundando todo o meu
ser. Sei que, sem teus ensinamentos, eu estaria dando, como qualquer cadela
vadia, atrás de moitas ou em casas abandonadas ou mesmo na casa de um
“ficante”, como fazem as minhas colegas. Tu poderias proibir-me, mas elas
também foram proibidas! Quem proíbe também tem de ser confiável, mas
quem proíbe nunca o é! Tenho de agradecer a Deus por fazer-me fogosa e a
ti por ensinar-me a ser feliz. A Deus eu sei que é rezando e dando-lhe
Amor, mas tu... Como poderei retribuir-te tanto Amor, tanta dedicação, tanta
atenção, tanta sabedoria?
─ Mantendo esse sorriso feliz sempre em festa, para fazer sorrir os
nossos rostos. A tua felicidade sempre foi o nosso norte, o objetivo de tudo
o que te ensinamos. O que queríamos é que escapasses incólume aos
castigos da vida a que estão sujeitas meninas mal orientadas. Estamos todos
muito felizes e orgulhosos porque atingiste o nosso propósito.
A mais bela história de Amor será a tua, com certeza. Capricha no
próximo episódio que é todo teu e tu estás um esplendor! Tu mereces
sucesso em dobro, aplausos em dobro, amor em dobro, paixão em dobro,
prazer em dobro, felicidade em dobro... Estarei torcendo por ti a minha
vida inteira e cada sorriso de felicidade que colhermos no teu rostinho fará
sorrir todos os que te amam e, se quiseres compensar-me tudo o que fiz por
ti, ilumina sempre com ele o rostinho de papai – riu – tu sabes por quê...

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Apertou-a ao peito com o coração em êxtase e beijou-a:
─ Sucesso! Esquece de nós e deslumbra o teu homem! Hoje o dia é
dele! E é ele (e para ele) que tu tens de tocar.
Karina piscou-lhe o olho:
─ E tu, quando é que vais dar a escapadinha?
─ Depois das tuas apresentações. Eu não as perderia por nada.
Márcia também a abraçou e beijou:
─ Sucesso! Conta com a minha torcida e o meu entusiasmo!
Karina subiu ao palco ovacionada, irradiando felicidade e, quando
os aplausos amainaram, disse com muito carinho ao seu público cativo:
─ Eu sempre dediquei minha dança e meus concertos a vocês que eu
amo muito e que sempre me incentivaram com aplausos e carinho; a meus
pais, a quem devo tudo o que sou e a meu mestre, vovô Anselmo, que tem
sido Amor e dedicação a minha vida inteira. Mas hoje eu quero pedir-lhes
licença para dedicar a minha dança e a minha música aos meus pais, os
responsáveis pela minha felicidade, e a alguém muito especial, que acaba
de entrar na minha vida e no meu ser, para sempre: é o homem da minha
vida, o esposo da minha alma, o dono do meu coração: Fábio!
Fábio foi abraçá-la, meio desajeitado, aplaudido de pé. O público
feminino, além de aplaudir, gritava: beija... A claque de suas amiguinhas
verdadeiras, a quem Karina ensinara a ler, dançar e até a amar,
descabelavam-se e esganiçavam-se em choro convulsivo, exigindo beijo.
Foi um delírio quando viram corpos e lábios, novamente, colados...
Karina roubou a cena com as danças, inclusive a do ventre, num
desempenho estonteante emocionando-se com os aplausos frenéticos e
intermináveis. Ela nunca estivera tão maravilhosa. Em seguida, sentou-se ao
piano e deslumbrou a plateia com uma sequência de músicas, iniciando com
a homenagem aos pais num arranjo de Anselmo de “Pela Luz dos Olhos
Teus” que ela amava por estar ligada à sua existência.
A plateia estava suspensa, mal respirava, e, nos pequenos
intervalos, Fábio ouvia murmúrios de deslumbramento: “Ela nunca tocou
assim. É como se ela sempre tivesse tocado por aplausos e hoje estivesse
tocando por algo grandioso, com o coração, com a alma. Ela é só emoção”!
O vovô pianista, com um sorriso bem-aventurado, deixava caírem
livremente as lágrimas: “É a minha menininha! É pura paixão”!
Quando a sequência chegava ao fim, Aline que estava sentada entre
mim e Fábio, com as lágrimas de emoção a caírem-lhe livremente na face,
disse-lhe:
─ Ela tocou com o coração para o teu coração. Leva-o para ela,
filho. Ela merece tê-lo apertado ao dela.

444
Ao erguer-se e virar-se para receber os aplausos, Karina foi
envolvida pelos braços de Fábio que vertia lágrimas de emoção e júbilo:
─ Eu queria muito ser digno de ti. Como eu queria ser digno de ti,
meu Amor! Eu queria tanto, tanto, merecer essa dedicatória de paixão!
─ Mas tu mereces, esposo da minha alma. Tu mereces! Agora eu sei
que tu mereces tudo o que eu puder te dar: toma-me para ti!
Envolvidos nos braços um do outro como se fossem um só,
dividiram os aplausos intermináveis, com um beijo emocionado, como se
ele fosse o operador do milagre. E não era? Após outra sequência que
eletrizou a plateia emocionada, Karina foi repor o vestido de noiva para
oferecer as valsas que só terminariam após soarem as quatro horas da
madrugada.
Aline estava um fascínio de felicidade. Perguntei-lhe o porquê e ela
respondeu-me:
─ Por duas razões: a mais importante é que também acertamos cem
por cento na educação adolescente de Karina. Há pouco ela
responsabilizou-nos pela felicidade que a derretia toda. Disse que se não
fossem os ensinamentos que lhe dei, estaria dando atrás de uma moita como
uma cadela vadia, sabe Deus a quanto tempo, como fazem suas colegas
apesar de proibidas.
─ E a segunda...
─ Ela comprometeu-se a cuidar dos convidados com Márcia se tu
quiseres dar-me – riu – uma arrolhada prévia.
─ E o que estamos esperando? Nós fizemos uma avis rara. Temos
direito a um refresco, não é?
Quando todos os convidados se despediram, fiz os noivos voltarem
para a suíte, tendo colocado ao pé da hidromassagem, uma braçada de rosas
vermelhas, que eu subtraíra do Fábio, ao chegar, ainda com o cartão. Pus
também, à disposição, um litro de leite de cabra, sais de banho e óleos
aromáticos, para eles relaxarem dos embates do amor tórrido como ela
queria (Karina estava bem industriada pela mãe de como utilizar tudo isso)
e sorri-lhes:
─ Não me saiam daqui enquanto não voltarmos!
Karina retrucou aflita:
─ E vocês?
Confidencie-lhe ao ouvido:
─ Nós vamos para um motel. – Ri – Tua mãe também está uma
potranquinha no cio...
Karina caiu na gargalhada e eu me despedi:
─ Fiquem com Deus, com a Felicidade e com o Prazer!

445
E brinquei:
─ Balancem a cama à vontade. Ela é muito resistente.
Ambos caíram na risada, um riso que acabou na boca um do outro.
Voltei-me para Aline:
─ E nós, potranquinha, vamos balançar o motel para curar o teu
cio...
Mas antes que nos virássemos, Karina pulou-nos no pescoço, com
uma perna no meu flanco e outra no da mãe, como sempre fazia quando
estava muito feliz, e cobriu-nos de beijos:
─ Papai e mamãe, tenham uma noite com todo o Amor e todo o
prazer que vocês merecem e com todo o Amor da filhinha!
Cochichou no ouvido da mãe rindo muito moleca e esfuziante de
alegria:
─ Vamos ser cobertas bem gostoso, pelos nossos garanhões, não é?
Aline recriminou-a sem conter uma gargalhada:
─ Tu perdeste a vergonha.
Karina abraçou-a carinhosamente, dizendo-lhe:
─ Já somos duas amiguinhas casadas e, portanto, adultas com
direito a não ter vergonha. Vou esforçar-me para continuar sendo a tua
menininha, mas posso ser adulta de vez em quando? Eu estou gostando.
Aline sorriu e se penitenciou:
─ Desculpa. É difícil não ver em ti a minha menininha
comportadinha e eu sempre fui muito envergonhada, como tu sabes.
Beijei-os e disse-lhes sorrindo com o coração em festa:
─ Juízo, crianças, e nada de bagunça!
Ao retornarmos a casa, os dois pombinhos estavam com a felicidade
que pediram a Deus estampada nos rostos. Karina não largava de nossos
pescoços, distribuindo-nos beijos numa euforia incontrolável. Fomos para o
living, onde nos sentamos saboreando um cafezinho. Aline observou rindo
deliciada:
─ Não precisamos perguntar como vocês passaram a noite. Está na
cara!
Karina retrucou-lhe, mijando-se de rir:
─ Deixa estar, amiguinha, que tu também estás com uma carinha de
bagunceira... E papai está andando nas nuvens... Vais ter de me contar o que
estiveste fazendo... Alimentaste o teu homem na boquinha, não é?
Aline corou com as brincadeiras da filha e Fábio que começava a
descontrair-se, comentou: ─ Foi o maior fuzuê, mãe. Karina é incrível!
Karina riu:
─ Mas eu vou ficar mais incrível ainda, tu vais ver. Mais ainda

446
porque eu já sei que tu és o que eu quero...
Riu com meiguice, toda descontraída, o riso de quem estava
vivendo a suprema ventura:
─ Tu viverás empolgado com a minha mimosinha, espera para
veres. Vou fazer dela um dos elos que nos unirá para toda a vida! Nunca
mais te livrarás dela e do envolvimento do meu coração. Vais ter de
suportar a empolgação terna da mulher deslumbrada por ti.
E dirigindo-se à mãe:
─ Tu tinhas razão! Um homem só nosso, com muito Amor para dar,
que vá fundo nas nossas emoções e ainda mais fundo e firme na nossa
mimosinha, é pura empolgação. Eu também perdi o chão, o leme, a
gravidade, o pudor e a compostura e gemi fundo como uma louca. Mas eu
também consegui, amiguinha, eu também consegui fazê-lo estertorar de
gozo... Ele não resistiu aos afagos da mimosinha, que tu me ensinaste. Foi
glorioso! E tu ainda tens mais para me ensinar!
Depois relaxamos em leite de rosas, brincando de malmequer e
massagens aromáticas de bundinha... Que mimo! Vocês não esquecem nada,
não é? Que amores! Mas sempre que dava malmequer eu trapaceava para
ganhar beijo. E dormimos como dois anjinhos, comigo toda entaladinha nos
braços dele. Foi uma delícia.
Indaguei de Fábio:
─ Então tu já decifraste a charada!
Ele riu:
─ Decifrei, pai. Karina queria ter certeza de que o meu Amor era
digno dela e, para minha vergonha, ela só o soube depois do casamento! Eu
entendo, pai, o receio dela e o seu cuidado em arguir-me e investigar-me.
Ela é preciosa e sensível demais para que você a entregasse levianamente a
qualquer um. Eu estou muito orgulhoso de ter passado em todos os testes.
Isso me fez crescer aos olhos de pessoas tão maravilhosas como
vocês. Eu ainda não me considero digno dela, mas eu serei. Disso você
pode estar certo. Eu serei digno dela e de vocês! Ela libertou-me o coração
e eu cresci diante do seu, e ela já ouve as verdades do meu coração.
Haverei de crescer também diante de seus olhos, embora ela me considere
um deus! – Riu com humildade – Pobre de mim!
─ É por aí, filho. Tu passaste com louvor na arguição e as pesquisas
foram só para me justificar com Karina e ganharmos tempo para preparar o
casamento. É bom saberes de algumas coisas a respeito de Karina. Ela
recebe preservativos e aprendeu tudo sobre sexo, gravidez, DSTs, drogas e
álcool antes da menarca. Foi tão amplamente orientada sobre sexo, seus
riscos e seus prazeres, que nunca se permitiu fazer sexo. Tinha de fazer

447
Amor ou nada!
Karina atalhou-me, mijando-se de rir:
─ Mas valeu, papai! Hoje eu tirei a mimosinha da miséria! Ela fez
tanto Amor – riu – que ficou batendo palmas!
A descontração foi geral com muito riso, mas Aline acabou
vermelha como um pimentão. Eu prossegui:
─ Por aí vez que nunca lhe foi proibido nada. Mas foi sempre
instruída e orientada a escolher seus próprios caminhos desde a mais tenra
idade. Nunca recebeu ordens nem proibições, mas indicação das
alternativas para escolher o que era melhor para ela. Aline sempre fez
questão de mostrar-lhe onde cada caminho ia dar.
Por ela mesma, decidiu que jamais aceitaria ser uma cadela vadia,
você sabe, dessas que fazem profilaxia... Também não suportaria ser
enganada por alguém que no final dissesse: “Ummmmm, comi uma delícia
de uma garota difícil...” Não suportaria nem mesmo um romance efêmero,
desses que duram um mês, ou mesmo dois ou três anos. Em resumo: o
homem dela tem de ser só dela para toda a vida, porque ela será só dele
para toda a vida.
Foi por tudo isso que ela relutou a entregar-se, mesmo com a paixão
queimando-lhe as entranhas como pudeste ver na festa e provavelmente
desde que a conheceste. Quando a interroguei sobre ti, pude ver que ela
ardia em Amor, paixão e desejo. Ela adorava tudo o que sabia de ti, mas
receava o que ignorava: serias capaz de ser só dela para toda a vida?
Fábio abraçou-a sensibilizado:
─ Claro, chuchuquinha, tu te apoderaste do meu coração, do meu
cérebro, do meu corpo, do meu sexo desde que te conheci. Não tenho mais
nada de meu... – sorriu-lhe – e eu estou muito feliz de ser todo teu.
Prossegui:
─ Ela tem vivido em meio a uma família muito unida e com muitos
amigos, onde o Amor e a amizade são o elo de união, unindo cada um e
todos. Queres um exemplo? Como já deves ter percebido, eu adoro minha
sogra e ela não distingue entre mim e Aline como filhos. Karina só tem feito
agregar a essa união. Tu pudeste ver na festa o carinho que todos
demonstraram por ela. Ela é o ídolo de todos e vai procurar trazer para o
núcleo a ti e a todos os que te são caros. Ela não suportaria uma vida
partida entre amores que vêm e que vão. Efêmeras para ela são as flores, as
pessoas são para sempre. Já o amor para ela tem de ser eterno enquanto
dure e tem de durar para sempre. Se tu queres uma mulher só tua e para toda
a vida, nunca penses em traí-la.
Fábio estava emocionado:

448
─ Traí-la como, se já não tenho coração que lhe baste. Meu Amor
por ela transborda de meu coração e inunda todo o meu corpo para que ela
encontre só Amor ao tocar-me. E tu, Amor da minha vida, não me dizias
nada!
Karina sorriu:
─ Tu não me perguntaste e eu estava muito ocupada contigo e com
esta paixão que me tem tomado coração e mente. Eu só penso em te fazer
feliz para que eu possa ser feliz.
─ Ela vive me dizendo isso: que me quer feliz para que ela também
o possa ser...
Aline exortou-o:
─ Segue-a, que não te perdes.
Eu concluí:
─ Tudo isso para ela não são virtudes de que se deva orgulhar. É o
seu dia-a-dia, o seu modo de ser. Tudo o que lhe disseres, se fizer sentido
para ela, se transformará em lei. Se lhe fores fiel, ela te seguirá como um
cãozinho. Se a afagares com afeto, transformar-se-á em Amor. Se lhe
tocares com desejo, transformar-se-á em paixão. Mas se a traíres... Ela é
toda feita de reflexos da Mãe e só admite fidelidade canina e entrega total.
─ Pai, essa menina tem tudo em comum comigo, tudo o que eu
desejaria numa mulher se supusesse existir. Dificilmente teremos conflitos
que não possamos resolver num papinho amistoso. Eu estou maravilhado.

Eu fiz uma ponta de mistério:


─ Já que está tudo maravilhoso, acho que posso dar a notícia
dolorosa!
Karina precipitou-se sobre mim, envolvendo-me nos braços,
preocupada:
─ O que é, papai, aconteceu alguma coisa grave?
Fábio também ficou agitado:
─ Conte comigo para o que for preciso, pai.
─ É muito doloroso para mim, mas eu estou pensando em mandá-los
para longe, muito longe. Mas só por um mês. Eu não suportaria ficar longe
da minha filhinha por mais tempo.
Karina interrogou-me desconfiada:
─ O que é que tu estás tramando?
─ Despachá-los para Paris.
Fábio ficou de boca aberta e Karina pulou no meu colo, envolveu-
me no seu carinho e cobriu-me de beijos:
─ Pai bandido! Fica assustando a gente! Eu já tenho Fábio para

449
cuidar da minha felicidade e tu tens a mamãe e ela a ti. Eu bem sei pelas
empolgações da mamãe que vocês têm corações, pelo menos, tão jovens e
quentes quanto os nossos e não sentirão tanta falta de nós. A saudade será
muito grande, é certo, mas nós sobreviveremos. E me fará bem sentir
saudade – sorriu – a dor também faz crescer, eu sei.
Esta noite, ou melhor, esta manhã, quando encerramos a bagunça –
riu – e resolvemos dormir, era tanta a alegria que eu não adormeci logo.
Encaixadinha nos braços de Fábio eu queria saber por que tinha tanta
alegria e rememorei todas as lembranças mais marcantes e mais queridas de
toda a minha vida desde as mais remotas. Vocês nunca me deixaram sentir
dor nem saudade que me doesse. Nem dor de barriga! Acudiam logo com
massagens e remédios.
O que eu sentia em suas ausências não era saudade, era uma
esperança de que estavam para chegar. Demoravam, mas sempre chegavam,
às vezes com um doce, outras, com um brinquedo novo, mas sempre com
colinho, abraços e beijos, palavras de carinho, atenção e paciência para
responder – riu – as perguntas da “perguntadeira”. A felicidade estava
sempre para chegar! E não é a espera por ela que a faz grande, como tu me
ensinaste? E ela sempre chegava cheia de carinho.
Nunca fui mimada, eu sei, graças a Deus! Vocês nunca me deram
chance de me tornar uma dondoquinha, mas sempre me estimularam a fazer
os meus deveres, não como uma obrigação, mas como uma virtude: “Uma
menininha linda e prestimosa mantém sempre seu quartinho bem arrumado e
guarda os brinquedos sempre que acaba de brincar. Brinquedos largados, a
menininha pisa em cima, cai e se machuca. Será que a minha filhinha é
capaz de lavar a xicarazinha do café? Só menininhas boazinhas e prendadas
conseguem”.
Às vezes, uma careta de repugnância: “arg! Uma menininha tão
bonitinha com os dentinhos sujos! Que coisa mais feia”! Eu fiquei vermelha
de vergonha e corri escovar os dentes com capricho e retornei esperançosa
de um elogio: “já lavei”. Tu me puseste no colo: “deixa ver se fizeste
direitinho. Agora, sim, é a minha filhinha linda e cheirosinha”. Tu me
abraçaste, me beijaste e me ensinaste porque os dentes deviam estar sempre
limpos: “para não serem comidos pelas bactérias e ficarem cheios de
buraquinhos pretos”. Desde então, a primeira coisa que eu fazia após comer
qualquer coisa ou tomar sucos ou refrigerantes era correr escovar os dentes.
Desapontar meus pais que me davam tanto carinho era uma falta que
eu nunca me perdoava. Aos três anos, quando joguei minha TV no chão, eu
senti-me tão mal! Corri para te dizer toda chorosa, certa de que iria levar
minha primeira surra bem merecida, como o meu amiguinho Bubu. Mas tu

450
me recebeste no colo com um sorriso e afagos e me deste não uma, mas
várias lições de vida.
Ao final, eu estava tão magoada comigo mesma por teres de
trabalhar mais para comprares uma TV nova, ter desperdiçado dinheiro, e
por teres menos tempo para te deliciares com meu sorriso feliz... Meu
sorriso feliz... Era a única coisa que eu tinha para te dar. Eu estava muito
feliz por ter um paizinho tão bom, mas minha alma estava enegrecida por
ter-te causado um castigo que só eu merecia. E tu me disseste para não me
sentir culpada, porque acidentes aconteciam. Acho que me senti mais
culpada ainda e jurei a mim própria que nunca mais seria desastrada.
É realmente incrível, mas nunca recebi uma ordem ou fui proibida
de fazer alguma coisa. Parece que todos são educados com ordens e
proibições, mas eu nunca as recebi. Em lugar delas eu recebia uma lição de
vida, uma aula de conhecimentos gerais, com os prós e os contras, para eu
escolher o melhor para mim. E nela havia sempre a escolha clara, objetiva,
óbvia. – Sorriu – No mínimo, a única claramente digna de uma menininha
linda e inteligente.
Minhas falhas sempre foram acidentes ou esquecimentos. E as
palavras de censura nunca eram ríspidas. Eram antes uma queixa. A mágoa
de a filhinha ser tão desastrada: “Ah, filhinha, assim tu me deixas muito
triste. Uma menininha tão linda e inteligente fazer uma coisa dessas!
Filhinha, uma menininha linda não faz isso! Só meninas feias e mal-
educadas. Tu queres ser feia e mal-educada”?
Seria tão mais fácil um berro e um tapa, não é? “Faz o que te mando
ou ficas de castigo! Não faças mais isso ou tu levas uma surra!” Mas isso
não ensina. Isso não educa. É como treinar animais, ou pior! Porque os
animais recebem torrões de açúcar para fazer e choques para não fazer e as
crianças recebem sempre choques! Mas, queiram ou não os pais que assim
agem, a criança não é um animal. É um ser inteligente, é um ser racional e
vai desenvolver suas defesas: cedo aprenderá a mentir, a dissimular, a
esconder seus malfeitos, a fazer escondido... Mas isso educa, ou deseduca?
Como se fazem os mentirosos, os dissimulados, os enganadores, os
delinquentes, os políticos trapaceiros? É assim que se fazem cidadãos
capazes, honestos e determinados ou paus-mandados corruptos e
submissos? Que felicidade ser educada por pessoas sábias! É frequente eu
surpreender-me com o quanto eu sei.
Apertou os braços no meu pescoço, emocionada e prosseguiu: “Uma
menininha linda e educadinha é sempre virtuosa e sempre faz coisas boas e
admiráveis que encantam a todos”. Eu bem sentia que era verdade e,
quando fui delirantemente aplaudida pela minha dança e minhas

451
performances no piano, tive certeza. Fui sempre estimulada a fazer, a pensar
e escolher: “Eu te ajudo, filhinha, mas tu é que tens de descobrir; tu é que
tens de escolher; tu é que tens de decidir”.
Cresci com a impressão de que eu é que decidia tudo na minha vida
e tinha de ser muito responsável, porque, se errasse, eu seria castigada pela
vida. Eu, que nunca recebia castigos de vocês, odiava que a vida me
castigasse. O mais fascinante é que era muito fácil escolher, decidir,
descobrir e sempre escolhi o melhor, o certo... E era sempre recompensada,
ainda que com um carinho, um elogio ou uma palavra amiga. Sempre com
Amor.
─ Devo dizer em teu louvor que sempre escolheste a melhor
alternativa ainda que não fosse a mais fácil para ti. Até na escolha mais
difícil que tiveste de fazer: Amor ou sexo, tu ficaste com o Amor absoluto!
Ela apertou-me no carinho dos seus braços:
─ Mamãe-amiguinha ensinou-me todos os caminhos e deixou-me
inteiramente livre para eu escolher. Felicidade ou castigo da vida seria
minha responsabilidade, mas deixou tão claro, tão óbvio qual era o melhor,
o mais virtuoso, o que levaria, com segurança, ao encontro da felicidade!
Eu pude ver desde o início que o caminho da felicidade era o mais longo e
o mais áspero, o mais difícil, mas desembocaria numa luminosidade
esplendorosa como eu só via no Amor de vocês.
Os outros caminhos eram luminosos e lisos de início, extremamente
atraentes, mas desembocavam em penumbra e escuridão. Acho que teria
sido gostoso e divertido eu me entregar aos rapazes que me atraíam, mesmo
sem Amor, mas e lá adiante...? Quando o homem da minha vida passasse
por mim e me visse toda “dadivosa” com os rapazes, uma cadelinha vadia
ou mesmo uma amásia temporária, dessas que “ficam” com um garoto, iria
prestar-me atenção? Iria interessar-se por mim? Iria respeitar-me? O mais
provável é que comesse a fruta e cuspisse o caroço, como tu dizes, não é?
Eu ansiava por Amor e sexo. Como eu ansiava! Mas queria igualzinho ao de
vocês. Eu tinha em ti e mamãe um espelho tão lindo, tão deslumbrante!
Foi aos três anos que eu despertei para a vida. Eu deixei de ser
apenas uma expectadora para me tornar também agente. Como eu invejava
ver vocês lerem, empolgava-me com a mamãe e a madrinha em números de
dança, ficava fascinada com os sons lindos e harmoniosos que o vovô-
pianista tirava do piano! Eu queria tanto fazer tudo isso.
No piano eu martelava muito para deleite do vovô-pianista, mas me
achava desajeitada. Quando mamãe me falou da importância de ler nos
livros para ser sábia, eu não resisti a pedir-te para me ensinares. Tuas aulas
eram um deleite. Ah, quanta cantoria, quanto passeio no jardim para falar

452
de flores, fecundá-las com meu dedinho, ver as sementes crescerem, semeá-
las, vê-las crescer e florir e recomeçar todo o ciclo. Minha empolgação era
tanta que eu pedi ao jardineiro para cavar um canteiro só para mim, e foi
um não acabar de reciclar flores e sementes... Pedia-te para abrires os
bulbos cheios de sementes “para a menininha não se ferir e ficar cheia de
perebas”.
Eu consegui ensinar o Bubu e outros amiguinhos e amiguinhas a ler
para assinarem um pacto de amigo verdadeiro. E mamãe também quis
receber aulas da menininha sobre as flores. Quanta alegria, quanto orgulho!
Como eu me sentia importante! E mamãe fazia de conta que não sabia e se
entusiasmava com o que aprendia.
─ Meu entusiasmo era contigo. Eu ficava deslumbrada com o que
eras capaz de aprender e a facilidade e correção com que ensinavas. E a
alegria e o entusiasmo com que me falavas das flores... Eu não perderia
isso por nada.
─ Então eu pensei. É, papai, eu já pensava; com os estímulos que
recebia eu só tinha de aprender a pensar, eu pensei: se estou aprendendo
com tanta facilidade a ler, que papai disse ser tão difícil para uma
menininha e tantas coisas maravilhosas sobre flores, por que não posso
aprender a dançar e a tocar de verdade? Mamãe ficou fascinada e vovô-
pianista deslumbrou-se. Até a madrinha eu importunei por um discurso.
Como tu me pediste segredo para surpreender a mamãe, eu fiz o
mesmo com eles. Eu queria tanto surpreender a todos e me esforcei ao
máximo. Foi lindo: mamãe se emocionou tanto com minha cartinha dando-
lhe os parabéns pelo aniversário e por ter uma filhinha tão maravilhosa –
riu – e foram tantos aplausos com meu discurso, com minhas cantigas, com
minhas danças. Foi um dia inesquecível. Parece que tudo está gravado no
meu cérebro, como num vídeo. Ah, meus três aninhos! Foram uma azáfama
com cantorias, flores, livros, danças e piano. Eu estava deslumbrada de ser
a roteirista da minha própria história.
De repente ela caiu na gargalhada:
─ Tu te lembras do que eu disse ao Dr. Bruno quando ele veio
trazer-me o presente por eu ter ensinado o Bubu a ler? Eu fiquei tão
fascinada por aquele automóvel. Fiquei louquinha para sentar nele e sair
pedalando.
─ Mas, ao invés disso, a pirralhinha encarou o homenzarrão: “Eu
não quero o teu presente! Tu és muito mau! Tu bates no Bubu que é um
menino bom”! Tu quase estouras com o meu ego de tanto orgulho.
─ E, depois de redimido, eu quis que ele fosse meu amigo
verdadeiro. E eu já tinha tantos, todos os nossos parentes e amigos a

453
começar de ti e da mamãe. Além disso, eu sempre me senti o ídolo de todos
os nossos parentes e amigos, todos amigos verdadeiros. Tu criaste um
mundo pequenino em que vivemos sempre em comunhão: pais, filhos,
parentes, amigos, todas as pessoas boas ou que se tornem boas como o pai
do Bubu.
Eu aprendi que comunhão com Jesus é isso. É amar todas as pessoas
ao nosso redor. De nada vale papar hóstias e submeter ou explorar filhos,
cônjuges ou subalternos. Comunhão é Amor ao próximo, a Deus e a Jesus.
Ao próximo em primeiro lugar ou Deus não aceitará o nosso Amor por mais
devotos que sejamos: “ama os meus filhos ou eu não te amo”! São laços
afetivos. Se tivermos Amor no coração nós comungamos o tempo todo com
o próximo, com Deus e com Nosso Senhor Jesus.
Será que O devemos chamar de “Nosso Senhor”? Acho que Ele
gostará mais se O chamarmos de “Meu Amigo”. É carinhoso, é
aconchegante. Meu senhor é no mínimo antipático! Eu tenho um pacto de
amizade verdadeira com “Meu Amigão Deus”, O paizão muito amado, e
“Meu Amiguinho Jesus”, Um irmãozinho muito querido. E eu hei de dar-
Lhes mais Amor gerado no meu ventre. – Sorriu – Tu me disseste que Eles
não precisavam assinar porque são absolutamente confiáveis. Nós é que
temos de ter corações honestos. Segundo os Evangelhos, Jesus jamais deu
demonstrações de poderio, de senhorio, de dominador... Foi sempre Amor,
puro Amor! Sempre deu o coração, a face, a outra face e até a própria
vida... Penetrar no coração das pessoas e trazê-las para o mundo do Amor
foi toda a Sua vida. Trazer almas para Deus foi toda a sua obra.
Eu estava deveras deslumbrado com o alcance intelectual e
filosófico da minha menina:
─ E tu sempre foste a maior colaboradora na construção desse
mundo de Amor pactuando amizades sem conta e ensinando tuas amiguinhas
e amiguinhos a criarem mundos pequeninos de Amor e paz ao redor do
nosso.
─ Eu só te imito, papai, porque és digno de ser imitado. Ser como tu
e mamãe é meu objetivo e meu orgulho maior.
Ela tornou a apertar-me no seu carinho:
─ Como eu bendigo ter nascido de vocês! A minha adolescência...
Hoje eu vejo muito claramente que as garotas, ao entrarem na puberdade,
precisam de uma amiguinha sábia e confiável com quem trocar confidências
e tentar entender o que está acontecendo consigo próprias. É de fato uma
fase muito difícil. Como se não bastassem as mudanças físicas e hormonais
por que passam, ainda têm de aprender a lidar com o sexo que lhes enfiam
pelos olhos e pelos ouvidos adentro, sem nenhum respeito, e evitar fumo,

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drogas, bebidas e AIDS e escapar de tantas tentações: meninos e meninas
tolos nos instigando às drogas e ao sexo. Eu tenho visto o drama de minhas
colegas. As mães não lhes dão as informações de que precisam e as amigas
nada sabem.
Heleninha levou uma surra porque foi apanhada aos beijos com o
namoradinho. Estava proibida de namorar. Proibida por quê? Porque
namorar é gostoso? Passou a namorar escondido... Quando era pequenina e
saía para brincar na rua, a mãe a arrastava para dentro, pelas orelhas, e lhe
dizia: “Não quero que saias pra rua porque o homem do saco te leva”. Ela
ficava apavorada, mas sempre via crianças na rua e nunca viu “o homem do
saco” levar nenhuma. Começou a duvidar da mãe. Um dia, viu um homem
passar com um saco nas costas à guisa de mochila. Entrou em pânico, mas o
homem passou sem sequer olhar para as crianças que brincavam na rua. Foi
então que teve certeza de que a mãe lhe mentia. Foi um choque para ela que
sempre acreditava no que a mãe dizia...
Passou a guiar-se pela sua intuição: “se é gostoso, é bom; se não é
gostoso, é ruim”. Um dia, o Joãozinho lhe disse que queria “ficar” com ela.
Como ela não soubesse o que era, ele lhe explicou que “ficar” era “fazer
gostoso”. Ela lhe disse: “gostoso é bom, como é”? Ele começou a afagá-la,
abraçá-la, beijá-la... Tocou-lhe os peitinhos, acariciando-lhe os biquinhos...
Ela achou que era realmente gostoso e quis “ficar”. Levou a surra... Ela
pensou: “É tão gostoso, tão bom... Melhor ainda do que brincar na rua... O
homem do saco me leva!... O bicho papão me come!... Mamãe não gosta de
mim, isso sim! Não quer que eu brinque, que eu me divirta, que eu seja
feliz”! “Ficou” escondido.
Logo teve a menarca e achou que ficara mais gostoso ainda.
Começou a empolgar-se. Foi então que o Joãozinho a fez tocar no pintinho
duro e lhe disse: “Vamos até aquela construção abandonada que eu vou
fazer gostoso com ele na sua bocetinha”. Ela lhe respondeu: “Gostoso é
bom, como é”? Ele lhe disse, após apertar-lhe os peitinhos e o sexo: “Eu
enfio ele na sua bocetinha e fodo assim”. Mostrou-lhe como era
movimentando o dedo na mão fechada. Sua curiosidade era ainda maior do
que o desejo que ele lhe despertara: seguiu-o. “Doeu um pouquinho e saiu
um pouco de sangue – ela me disse – mas foi gostoso” e o Joãozinho lhe
explicou que tinha “quebrado o seu cabacinho”, mas a dorzinha passaria
rápido e, no dia seguinte, eles poderiam “fazer gostoso sem dor” outra
vez... No dia seguinte, lá estavam os dois, novamente, na construção
abandonada...
Ela explicou-me: “Não doeu mais, nem saiu sangue e foi mais
gostoso ainda... Gostoso é bom...” Heleninha ficou grávida... Heleninha

455
ficou aidética... O menino nem teve culpa, porque nasceu de mãe aidética e
toma remédios, mas não foi informado de nada. E pensar que a mãe teve
oportunidade de evitar a tragédia, se tivesse mais coração e verdades e
menos bílis e mentiras...
Fazem cada atrocidade com as crianças, não é? “O homem do saco,
O bicho papão”. Acho que os pais que mentem a crianças inocentes é que
são o verdadeiro bicho papão! Transformam-nas em tragédias ou em
cidadãos desprezíveis que mentem, dissimulam, falseiam a verdade...
Cidadãos indignos de confiança.
Vi tantos dramas que comentei com a mamãe-amiguinha, durante os
anos de colégio. Vivi teve mais sorte do que Heleninha: descobriu que
estava “apenas” grávida pouco depois de completar quatorze anos. Estava
louca de curiosidade para saber como era o pipi masculino e se deixou
levar por um homem para a construção abandonada. Novinha e
despreparada para um homem sentiu dor: tira, põe, tira, põe... houve a
ejaculação e ela ficou grávida de um irresponsável, sem perder o hímen e
sem ficar sabendo como era o misterioso pipi masculino.
Isabel tomou, por três vezes em quinze dias, a “pílula do dia
seguinte” e ficou menstruada por um mês, com a menstruação
completamente desregulada. Teve muito medo de que o útero se desfizesse
em mênstruo. Eu soube de uma colega que morreu tentando abortar e viam-
se tantos meninos e meninas fumando maconha, cheirando cocaína, cola...
Rosilda odeia livros porque o pai a obrigara a ler “Reinações de
Narizinho” de Monteiro Lobato, por castigo! Tu mo deste de presente e eu
adorei. Li três vezes e, se não li mais vezes, foi porque tinha tantos para ler
e, além disso, ainda morria de curiosidade dos teus livros que eu vivo
xeretando...
Uma palavra, um gesto, uma atenção, um carinho, uma verdade, faz
tanta diferença! Pode ser a felicidade ou a tragédia!
Ela tornou a apertar-me no carinho dos seus braços:
─ Meu Deus, quanto eu lhes devo! Pais que saibam orientar os
filhos fazem tanta falta. Para as meninas, mais ainda, porque, além dos
mesmos perigos que podem atingir os meninos, elas ainda têm problemas
com menarca, gravidez, aborto, pílulas abortivas...
Sorriu:
─ Mas vocês me fizeram sábia a ponto de surpreender-me com o
que eu sei e tenho ajudado minhas amiguinhas verdadeiras, todas as que eu
ensinei a ler e com quem fiz o pacto de amizade. Elas têm-me como líder e
acreditam piamente em mim. Formamos um grupo muito unido e muito
sólido. Tudo o que a mamãe-amiguinha me ensinou eu ensinei a elas.

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Fazemos leituras do teu livro que eu estou ajudando a escrever... Todas
estão craques em sexo, AIDS, uso da camisinha, menarca, gravidez, aborto,
pílulas abortivas ou do dia seguinte, drogas, fumo, álcool... Estão todas
invictas – riu – à exceção de uma que deu uma escorregadela. Mas, pelo
menos, não fez o pior: não transou sem camisinha.
Aninha aceitou “ficar” com um menino por quem ela estava
caidinha. Ficavam nos amassos, mas pouco antes da menarca, quando já
estava no período fértil, ela foi tomada pelo desejo avassalador: “eu já
estava com o desejo do cão e ele apertou-me a coxa, deslizando a mão para
a minha boce... (desculpem!) mimosinha”. – Nós tínhamos decidido
eliminar todos os palavrões, especialmente os referentes à nossa principal
atração que é tão mimosa! – “Aí, ele Introduziu o dedo por baixo da minha
calcinha... Eu toquei-lhe o pinto duro... Ah, amiguinhas, tivemos de correr
para aquela casa abandonada. Mas, ao menos, eu tive forças para pôr-lhe a
camisinha que a Karina me deu.”
Ela ficou eufórica, visitando frequentemente com o menino a casa
abandonada, sempre protegida por camisinhas, até que um dia o viu todo
empolgado aos beijos com uma amiga... Foi um choque brutal que a deixou
completamente arrasada, e ela decidiu seguir rigorosamente os princípios
do nosso grupo de só se entregar quando estiver absolutamente segura de
que o menino é o homem da sua vida. Ela lamenta: “Não dar virou um
tormento. A mimosinha me deixa maluca, mas dar para cafajestes”...

Karina riu:
─ É... Nós formamos uma espécie de confraria das donzelas
casadoiras... Enquanto não tivermos certeza das verdadeiras intenções do
menino, nossa mimosinha é sagrada e inexpugnável... Com o homem da
nossa vida, devassidão total, fidelidade canina e muita dedicação e ternura,
enquanto ele nos for fiel, amoroso e companheiro, mas com o “ficante”,
enquanto tal, por mais instigante que ele seja, só amassos sem tocar na
mimosinha.
Nosso antigo pacto continua em pleno vigor e não temos
absolutamente nenhum segredo. A vida de cada uma está inteiramente aberta
ao grupo e nos ajudamos reciprocamente. Cada experiência, boa ou má, é
inteiramente franqueada ao grupo e a aventura de Aninha nos deu certeza de
que estávamos no caminho certo. Ensinei-lhes também dança, strip-tease e
orientei-as no pompoarismo. Todas estão aptas a deslumbrar o homem de
suas vidas, por mais exigentes que eles sejam.
Depois do meu sucesso com o Fábio, o nosso grupo está mais coeso
do que nunca. Elas ficaram muito felizes com o meu casamento, por mim e

457
por se convencerem de que a realização do nosso sonho é possível. – Riu –
Elas notaram a nossa ausência e eu tive de contar-lhes como foi nossa
escapadela para a suíte de vocês e vou ter de contar-lhes minhas peraltices
na França. Todas estão em busca de Amor e ternura e o sexo tem de ser só o
tempero, embora o queiramos tórrido e impudico. E a cantada, por mais
linda que seja, tem que vir de um coração lindo, cheio de Amor e ternura e
prometer muita paixão...
Mas como é difícil! Parece que tudo enfia o sexo pelos nossos olhos
e pelos nossos ouvidos adentro, deixando-nos a mimosinha em ebulição:
Televisão, Internet, revistas e os colegas que não falam de outra coisa...
Todos querendo “ficar” com todas e todas querendo “ficar” com todos...
Temos que ser verdadeiras heroínas para conservar nossa virgindade e
nosso amor próprio. Mas todas temos resistido a essa “ficação” desabrida.
Sorriu:
─ Com o Fábio, eu tive de fazer das tripas coração – riu – e da
mimosinha, também! E isso porque ele sempre respeitou minhas vontades
mesmo violentando as suas. Meu Deus! Se eu cheguei virgem ao altar, devo
a ele! Paixão é difícil, mas dá para controlar quando dominamos os desejos
do coração, porém de cambulhada com Amor... é o juízo que quer e, mesmo
virgem, ele nos despe e arreganha a mimosinha de volúpia...
Karina apertou-me contra o peito, emocionada:
─ Quanta falta faz ter pais sábios e ternos! É realmente muito difícil
aceitar uma proibição, mais ainda quando não se sabe o porquê. Mamãe
entendeu esse drama, mostrou ser uma mulher do seu tempo. Fez-se
menininha para ser minha amiguinha e confidente e parecemos duas
adolescentes inseparáveis, de corações e mentes completamente abertos,
trocando as confidências mais íntimas. É incrível o quanto ela tem me
ensinado a entender o mundo e a mim própria. Fala-me de assuntos que
muita gente acha feio, sujo ou indecente, com uma naturalidade fascinante e
uma ternura comovente.
Ela fica tão no meu nível que a única diferença entre nós é que ela é
experiente e muito mais sábia. Não é uma matriarca dando ordens para a
filha: “proíbo-te de transares, proíbo-te de fumares, proíbo-te de usares
drogas”... Mamãe nunca me deu uma ordem, salvo a crucial: “nunca vá para
a cama com alguém, em hipótese alguma, sem camisinha”. Mesmo assim,
não era uma ordem. Era uma recomendação. Não havia o “proíbo-te”. Mas,
é claro, esmiuçou os porquês. E tive tanta informação sobre AIDS e seus
horrores e suas formas de contágio e sua propagação e sobre as demais
DSTs.
Só mesmo se eu fosse uma menina muito tola transaria sem

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camisinha. Mamãe jamais disse: “não fuma, não bebe, não usa drogas, não
te entregues a rapazes, não saias por aí te fazendo de cadela vadia”. Mas
empenhou-se em mostrar-me com clareza onde cada um desses caminhos ia
dar. E quanta informação, Meu Deus, sobre fumo, álcool, drogas, sexo,
AIDS e demais doenças venéreas... Contou-me histórias como a da Camila,
assídua em festinhas de embalo, e que acabou drogada contra um poste e o
desentendimento contigo, papai, por causa de um charuto nojento...
Aliás, tuas intuições de há dezenove anos sobre o fumo estavam
corretíssimas. Pesquisas, que li nos jornais, mostram que o tabaco
compromete todo o organismo e causam rugas na pele muito mais profundas
do que o excesso de sol. Mamãe também analisou comigo todas as suas
experiências amorosas, boas ou más. Eram tão luminosos os caminhos à
minha frente que eu fiquei perita em todos esses assuntos e via, com muita
clareza, onde me daria bem e onde quebraria a cara. Ah, mamãe, tu tens
sido a amiga maravilhosa que só uma mãe extremosa poderia ser.
─ Mas eu descobri o segredo de vocês.
─ Não há nenhum segredo, nem mesmo temos a pretensão de ter
inventado um método. Foi apenas um pensamento em comum com tua mãe:
“vamos educar nossos filhos com Amor e respeito por suas inteligências,
sem nenhum castigo nem proibições e ensiná-los a amar com ternura”. Nós
entendemos que para fazer filhos é preciso querê-los e se os queremos é
porque os amamos e se os amamos é porque os consideramos gente como
nós. Nós lhes devemos, sim, proteção e educação, mas isso não quer dizer
que tenhamos de tratá-los como animaizinhos, como seres inferiores. São
seres inteligentes como nós. Incultos, mas inteligentes. A criança já nasce
com a inteligência que terá no futuro e que deve ser exercitada por meio da
cultura e tu és a prova insofismável disso.
Mesmo acreditando piamente nisso, tu sempre me surpreendeste e
continuas me surpreendendo. Tu foste uma experiência muito mais bem
sucedida do que eu imaginava. Quem dá castigos ou ordens taxativas a uma
criança, obrigando-a a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, sem lhe
explicar o porquê, é mais criança do que ela.
─ Eu sei que teu Amor por nós é verdadeiro. Amar faz parte da tua
natureza. Bem vejo que a base do teu modo de educar é o Amor verdadeiro
sem qualquer resquício de patriarcalismo que, desgraçadamente, ainda é o
sistema amplamente usado pela maioria das pessoas e o que me fez refugar
todos os meus colegas como possíveis namorados.
No teu sistema, não obrigando nem proibindo, mas ensinando, a
criança não é estimulada à rebeldia e a ser atraída pelo proibido. É obvio
que a obrigatoriedade sempre leva ao descontentamento, à má vontade, à

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rebeldia. Daí, a desobediência, o desaforo, a malvadeza que levam ao
castigo, que leva a mais malvadeza, que leva a mais castigo... Um círculo
vicioso interminável. Aliás, isso tu me disseste a respeito da surra do Bubu.
A proibição desperta a atração e o desejo pelo proibido. O que
mais se deseja não é tudo o que é proibido? Sempre foi assim, não é? A
proibição é a tentação, é o caminho mais curto para levar a criança à
prática do proibido, porque a atração pelo proibido é irresistível.
─ O proibido e o pecado. A maior tolice das religiões foi inquinar o
sexo de pecado e proibi-lo. Proibido e pecado, o sexo se tornou desejo e
não há desejo que nos saia da cabeça enquanto não é satisfeito ou
desiludido. E apenas desejar já é considerado pecado! Logo não há como
nos livrarmos do pecado do desejo enquanto não pecar de fato.
Ela riu:
─ Todo adolescente deseja ver um filme proibido! Não pode vê-lo
por quê? Por que não pode fumar? Por que não pode usar drogas? Por que
não pode transar? Só porque é proibido? É proibido por quê? Porque é
gostoso? Se é gostoso, por que diabo somos proibidos de fazê-lo? E pior!
Por que somos instigados por todos os meios? Minha colega Dorinha
começou a fumar revoltada com a proibição da mãe. Não lhe foi dito por
que não devia fumar. Simplesmente a proibiram. Ela fumou escondido.
Agora a pobrezinha quer parar, mas não consegue. Já perdeu até o
namoradinho que não suporta o seu hálito cheirando a tabaco. É óbvio que
se, ao invés de proibi-la, a mãe lhe tivesse apontado os malefícios do fumo,
a desgraceira em que ele mergulha o viciado, ela não teria entrado nessa
“roubada”, especialmente se lhe falasse com Amor e ternura.
Ela tornou a apertar-me com carinho:
─ Papai, eu tenho uma curiosidade me atazanando: por que tu não
fumas?
Sorri:
─ Essa é uma boa pergunta. Na resposta está a raiz de toda a
educação que te demos. Quando eu era menino, provavelmente antes dos
oito ou nove anos de idade, o teu bisavô trabalhava num banco que, pelo
Natal, dava uma lembrancinha aos funcionários. Uma vez foi uma caixa de
charutos. Era instigante porque a embalagem era uma preciosidade. Os
charutos vinham embrulhados, um a um, em papel celofane com um anel
dourado, numa bela caixa de madeira de cedro e tinham marca estrangeira
realmente instigante. É... A embalagem já despertava o desejo...
Teu bisavô cortou um ao meio e deu metade para mim e a outra
metade para o teu tio e ele, que nunca tinha fumado, “fumou” um inteiro. A
fumaça que puxávamos para a boca não era nada agradável, muito pelo

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contrário! Além de desagradável, fazia-nos tossir e até engasgar. E
francamente! Não tinha graça nenhuma ficar chupando um cagalhão preto
que nos fazia tanto mal! Resultado? Nem eu nem teu tio fumamos.
“Fumando”, sem mistérios, nos livramos do desejo de fumar, para sempre!
Em meio a gargalhadas prossegui:
O que faz com que as pessoas, e principalmente as crianças e os
jovens, comecem a fumar é o mistério da proibição. Não há realmente nada
mais desejado e instigante do que o proibido, o pecado, o misterioso... E,
para tentar descobrir o mistério, o infeliz tosse como um desgraçado, mas
continua puxando para os pulmões a fumaça nojenta. O mistério? Vício,
dependência, degradação da qualidade de vida, envelhecimento precoce,
doenças terríveis e morte prematura.
Não há nada mais chato do que ver filmes pornográficos: são iguais
de cabo a rabo e são todos iguais, porém o pecado, que é o que mais se
deseja, está lá!
Depois de muitas gargalhadas, perguntei-lhe:
─ Por que tu achas que chegaste virgem ao altar?
Ela riu:
─ Porque não tinha nenhum mistério ou mesmo nenhuma curiosidade
para descobrir atrás da moita e olha que oportunidades instigantes não me
faltaram, mas eu queria amar e não me foder. Eu tinha mistérios, sim, para
desvendar e dos maiores, mas no coração e na mente dos homens aonde eu
entrava sem pedir licença. Foi uma busca insana até que encontrei um
coração lindo, mas a mente nem tanto. E, então, seguindo tuas orientações,
descobri o coração do Fábio que me fascinou. A mente também, mas tinha
um escaninho (o principal) trancado a sete chaves. A custo, ouvi algumas
palavras, não gongóricas como ele queria, mas lindas de significado como
eu anelava e que me fizeram entender que eu era a mulher da sua vida.
Karina voltou ao seu discurso:
─ É como tu me ensinaste: mais importante do que saber o que uma
coisa é, é saber por que ela é. E é na ignorância do porquê que quebramos a
cara. Se Dorinha tivesse sabido o porquê... Se Heleninha tivesse sabido o
porquê... O Bicho Papão... O pior é que ele existe de verdade na figura de
pais que não são capazes de orientar os filhos... Mas a maior maravilha do
teu método é que ele estimula a criança a pensar, a raciocinar, a fazer seus
deveres com orgulho, a escolher caminhos, a distinguir entre o que é certo e
o que é errado e porque é certo e porque é errado, a enriquecer sua cultura
desde cedo... Tu estás de parabéns. Tenho mais um motivo muito grande
para te admirar e, principalmente, para te amar e te ser grata.
─ Estou abismado. Onde tu aprendeste tudo isso? Estás muito mais

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sábia e amadurecida do que eu cuidava.
─ Esqueceste que me ensinaste a ler e a pensar desde os três anos?
Aliás, acho que me ensinaste a pensar desde sempre. Eu sempre fui
induzida a escolher entre duas alternativas, uma muito melhor, quando não a
única boa. Às vezes até entre dois brinquedos: um fascinante e outro nem
tanto, e as minhas perguntas, geralmente, não tinham uma resposta direta. Tu
ou mamãe me respondiam com perguntas que me instigavam a pensar e
encontrar eu mesma a resposta correta, como quando te perguntei se devia
aceitar o presente do Dr. Bruno.
Tu sempre me proveste de livros, mas a curiosidade e a fome de
saber me tornaram a maior – riu – ratazana da tua biblioteca! Literatura,
Poesia, Artes, Filosofia, Antropologia, Psicologia... Até nos teus livros de
Direito eu meti – riu – este “narizinho lindo”. Junta a riqueza de
ensinamentos e exemplos teus e de mamãe, mais Dorinha, Heleninha, Vivi,
Isabel, Rosilda e a observação dos colegas...
Observar as pessoas é muito instrutivo. Notar quando mentem,
dissimulam ou enganam o professor colando ou copiando a tarefa do
colega... Eu cheguei a me sentir atraída deveras por alguns colegas. Cheguei
mesmo a pensar em ser sedutora para ser cantada. Eu desejei tanto alguns
deles para ser o homem da minha vida! Mas quando me vinham pedir o
caderno emprestado para copiar a tarefa de casa ou para deixá-los colar na
prova... eu os abominava!
Eram como joias falsas que tomam emprestado brilhos alheios. E eu
os via tão apagados, tão falsos, tão indignos! Se não se respeitavam a si
próprios, iriam respeitar uma mulher? Seriam, com certeza, falsos,
indignos, fementidos. Eram machões? Comiam todas as “galinhas”? Mas eu
não queria um machão! Eu não queria um galo para fecundar todas as
galinhas... Eu queria um Homem! Um Homem másculo, com certeza, mas um
Homem! Um Homem que pudesse, além de gerar, dar bons exemplos aos
meus filhos. Um Homem que me respeitasse e pudesse ser meu companheiro
para a vida toda, mesmo porque eu bem sei da necessidade que uma criança
tem de um pai presente.
Se eu te visse somente nos fins de semana, eu não seria a mesma.
Ainda que sobrevivesse à saudade, ela teria me ocupado a cabecinha,
impedindo-me de ter sonhos e de realizá-los. Sim, eu maldizia os pais
daqueles colegas por lhes terem ocupado o cérebro com mentiras, medos e
castigos, ao invés de lhes darem Amor, conhecimento da vida e espaço para
sonharem e realizarem seus sonhos, como tu me deste. Entendi que é por
isso que meninos não servem para namoro sério e homens, raramente.
Tu me ensinaste a perquirir a natureza, a razão e o porquê das coisas

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e eu pude entender por que eu era tão diferente dos meus colegas. Porque
minha maneira de ser, querer, aprender, fazer, comportar-me, era tão
diversa e, em muitos casos, diametralmente oposta à deles. Sobre tudo, eu
soube o porquê de Heleninha e Dorinha terem quebrado a cara de maneira
tão bisonha e tão completa. Acrescente-se a tudo isso o fato de eu nunca ter
cometido esses erros devastadores, apesar de nunca ter sido proibida ou,
com certeza, por isso mesmo... Eu sempre me senti responsável pelos meus
atos e vi como leis os teus ensinamentos e recomendações: eu bem via que
era segui-los ou trombar com a vida. E castigos da vida não têm volta nem
perdão.
Ela voltou a apertar-me com ternura:
─ Tudo o que eu sou e o que eu sei devo a vocês! Pode ser que
minha dedicação e meu interesse tenham sido importantes, como tu dizes,
mas o Amor, as lições de vida e os ensinamentos preciosos que recebi de
vocês foram cruciais, inclusive para incutir-me dedicação e interesse. E eu
tenho visto o quanto, analisando meus colegas e minhas amiguinhas que
estariam quebrando a cara se não fosse por mim. Eu vejo muito claramente
que, se outros pais tivesse, eu poderia estar amargando uma gravidez,
AIDS, drogas ou tentando entrar numa faculdade dessas que vendem
canudos... Por mais inteligentes que sejamos, uma educação instigante é
tudo!
Sorriu-me muito meiga e apertou-me ao peito:
─ Também considerei que estou casada e que, dentro de algum
tempo, quando cessar a restrição, terei de assumir minhas
responsabilidades, como a mamãe, inclusive ter filhos, não é? Foi mais por
isso que passei minha vida toda em revista como num filme. Estarei apta?
Comparando-me com minhas colegas, percebi que os pais têm uma missão
muito importante e dificílima: educar os filhos. Compreendi também, com
os exemplos de Heleninha, Dorinha, e outras, que a falência nessa missão é
desastrosa. Leva a verdadeiras tragédias.
Minha vida, porém, é um espelho luminoso em que eu vejo tudo
muito claro, onde eu encontro exemplos e lições de vida para tudo. Ainda
sou adolescente, claro, mas já me sinto adulta, capaz de dirigir uma casa,
uma família, educar filhos... É só espelhar-me em vocês. É só folhear a
minha vida que tem lições para tudo.
Também quero dividir tuas tarefas, mamãe, e aprender a cozinhar
tuas comidinhas. – Sorriu – Como tu, eu também quero prender o meu
amado de todas as formas possíveis, inclusive pelo estômago. Sempre que
puder, quero deixá-lo salivando, com o coração em festa, ansioso por
devorar minhas comidinhas – riu – com a mesma gula com que me devora...

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Quero fasciná-lo com meus sabores.
Aline tinha o queixo caído e os olhos pregados nela:
─ Eu estou fascinada com a tua maturidade. Acho que não vou mais
querer ser tua mãe. Só tua amiguinha. – Sorriu embevecida – Já estou
aprendendo contigo, que maravilha!
─ Eu quero a minha amiguinha para sempre, mamãe, mas não abro
mão da minha mãezinha. Ambas são minhas mestras fascinantes e eu tenho
muito orgulho delas e não consigo distinguir entre uma e outra. A vantagem
das amiguinhas é que elas não sentem pudor, não é? Não têm assunto
proibido. Sei que papai inventou o pacto para que eu nunca sentisse medo
de ser castigada. Só se eu fizesse uma malvadeza. Mas nunca me passou
pela cabeça desagradá-lo e ele sabia. Mas valeu, ele me deu mesmo certeza
de que a felicidade seria sempre carinhosa e eu estaria livre para os meus
sonhos. E eu tinha tantos... Foi tanta alegria!
E com o pacto, fiz tantos amigos e até mudei a vida de muita gente
como o Bubu e o meu grupo de amiguinhas e amiguinhos. É obvio que o
pacto não mudou uma vírgula na dedicação de vocês, mas foi lindo e
estreitou a amizade maravilhosa que nos unia. Deu-me a certeza de que teria
sempre um paizinho-amiguinho e uma mãezinha-amiguinha. E eu bem posso
sentir que isso é importante demais! Aos três anos, mais ainda!
Então ela olhou-me séria, com gravidade:
─ Sabe, papai? Creio que eu preciso conhecer a dor para acabar de
crescer. Tu me deste o esposo prometido, o homem da minha alma, a minha
felicidade definitiva, e só hoje entendi o quanto tenho sido amada, inclusive
pelo Fábio. Tu já não precisas te preocupares com minha felicidade e eu
quero sentir a dor da saudade do meu bem maior para eu sentir o tamanho
do meu Amor e da minha gratidão por vocês. Quero ver se são grandes o
bastante para eu me sentir digna de tanto desvelo. Saudade é uma palavra
preciosa. Além de só existir no nosso idioma, é muito poética: “espinho
cheirando à flor”, como a definiu o poeta. É uma dor que amamos e que não
queremos que acabe, mas queremos resgatá-la pelo abraço querido. Deixa-
me anelar pelo abraço de vocês. Deixa-me sentir quão profunda será a dor
da saudade do teu abraço querido. Eu quero conhecer essa dor tão cara ao
coração.
Eu devo toda a minha felicidade a vocês, eu sei. Até a que me está
inundando a alma, eu a devo às tuas providências e ao teu carinho. Se vocês
não fossem os pais sábios e maravilhosos que sempre foram o que eu seria?
Estaria merecendo toda esta felicidade que me invade o coração, a mente e
a alma?
Uma das confidências que a mamãe-amiguinha me fez, com mais

464
emoção e carinho, foi aquela em que tu lhe propuseste povoar um mundo
novo em que houvesse só Amor e paz e em que a única violência possível
fosse os amassos de Amor e a única penetração fosse, não a da espada que
fere e mata, mas a da espada que gera prazer, gozo, vida, tesão de viver... É
tão lindo, e hoje eu senti sua beleza em toda a plenitude.
Eu já tenho minha espada de prazer e vida, e quero ser obreira do
teu mundo maravilhoso. Sei que o teu mundo de Amor e paz tem servido de
exemplo para nossos parentes e amigos. Sim, papai, eu vou querer ajudar a
povoar o teu mundo, também vou querer sentir as dores do parto. Serão
para daqui a quatro anos, talvez cinco ou seis, quando estivermos em
condições propícias, com plena responsabilidade e que não atrapalhe os
meus estudos.
“Para fazer bebês é preciso ser responsável” foi o que a mamãe me
disse quando vocês me anunciaram meu irmãozinho. E vocês me fizeram
responsável pelos meus atos desde a mais tenra infância. Quero te dar os
netos que sei que tanto desejas. Serão as dores do parto que completarão o
meu crescimento.
Eu não bebo nem fumo e Fábio também não. Apenas bebe
socialmente com moderação e pode passar o tempo que quiser sem beber.
Portanto podemos gerar filhos saudáveis e inteligentes como tu queres.
Também já sei como educá-los e torná-los cidadãos dignos, sábios,
determinados, de primeira classe. É só voltar meus olhos para o meu
passado. Lições de vida nunca me faltaram.
Está aí um resuminho do que aprendi de vocês e do que me
instigaram a aprender nos livros e nas artes. Que nota eu mereço?
Quando dei por mim, estava abraçado a ela, misturando nossas
lágrimas e também Aline e Fábio. Estávamos todos curtindo uma emoção
sem limites. Nem Fábio se continha. Foi ele quem quebrou o silêncio:
─ Ganhei uma família maravilhosa e esta menina é só surpresas. Eu
estou deveras fascinado. Já entendi que ela terá sempre surpresas e eu
estarei sempre atento para curti-las e fascinar-me com sua sabedoria e
ternura.
Os filhos nem sempre têm os pais que merecem, mas os pais têm
sempre os filhos de que são merecedores... Vocês merecem a filha que têm e
ela, os pais... Recebam minha eterna gratidão por a terem feito tão
maravilhosa. Eu nunca seria feliz sem ela!
Eu estava muito feliz porque bem via que o Amor, que vicejava em
quatro, florescia, agora, em cinco, incluindo Ricardinho, um menino
adorável que tinha verdadeira adoração pelos pais e pela irmã, e o núcleo
de amigos e parentes. Eu estava realmente decidido a mandá-los para Paris.

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Depois de todas essas revelações, mais do que nunca:
─ Filhos, acertem tudo e digam-me quando vocês podem partir, para
eu fazer as reservas. Mas não se apressem muito, para eu ter mais tempo
para me fascinar com esse sorriso de felicidade, filhinha. Ele sempre foi o
meu enlevo, como tu sabes, e agora que encontraste a felicidade maior... Eu
estou muito feliz porque sinto que minha maior e difícil missão, a de te
educar e cuidar da tua felicidade, está cumprida e, hoje eu posso ver, com
louvor!
Karina protestou:
─ Mas, papai. Não basta tudo o que fizeste por mim? Queres matar-
me de felicidade? Eu não tenho mais lugar no meu coração para ela. Eu já
sufoco em felicidade. Manda-nos para a praia e dará para unirmos o gozo
da felicidade à dor da saudade.
Aline interferiu:
─ Oh, filhinha, morrer de felicidade é só força de expressão e tu
mereces toda a alegria e contentamento que possamos te dar. Uma menina
que sempre foi a nossa alegria, sempre tão à frente de sua idade, merece
sim uma lua de mel em Paris e o teu esposo, pelo simples fato de te dar
tanta felicidade, merece também. Eu fico tranquila porque tu já estás
amadurecida e Fábio bem vejo que é um excelente rapaz e muito ajuizado.
Vai sim! Vai fazer-te bem e abrir teus horizontes. Vocês já têm maturidade
bastante para guiarem seus próprios passos e programarem suas vidas...
Aquela criança me dera uma emoção e uma alegria que eu jamais
esperava ter. Disse-lhe ainda deslumbrado com o que ouvira:
─ Tu não mereces Paris, tu mereces o mundo! Quisera eu poder te
dar. Vão preparar tudo e quando estiverem prontos para partir, avisem-me.
Sorri:
─ Não se esqueçam de preparar seus corações para gozarem a
grandiosidade de Paris em todo o seu esplendor.

A partida de Karina e Fábio foi um misto de alegria e tristeza.


Alegria pela felicidade que se descortinava a sua frente e a tristeza da
saudade que já se insinuava. Ricardinho desafiou Fábio, abraçando-o
emocionado:
─ Prepara-te que, na volta, eu vou te deixar caindo pelas tabelas de
tanto drible e não vais pegar nenhum pênalti. Em seguida, abraçou a irmã
em pranto convulsivo, sem conseguir articular uma palavra.
Nunca tivéramos uma separação prolongada e ver o avião partir
abria-nos um vácuo no peito que só se preencheria com o retorno.

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Karina e Fábio estavam de volta. Foram trinta dias dificílimos de
saudade crudelíssima, apenas mitigada por telefonemas e postais ou e-
mails. Ricardinho consumia-se em tristeza. Afeiçoara-se a Fábio e a
ausência da irmã o deixava desarvorado... Mas quando os fomos buscar no
aeroporto, a expectativa tomou conta de nós. Era uma aflição por vê-los,
abraçá-los, beijá-los, sentir-lhes o calor... Ricardinho estava indócil: esse
carro não anda, papai?
─ Estamos na velocidade máxima permitida. A expectativa de ver
Karina não pode fazer com que infrinjamos as normas de segurança. Mas
fica tranquilo, nós chegaremos antes do avião.
No aeroporto, foi preciso segurá-lo firme pela mão para que não se
perdesse de nós. Quando viu Karina descendo a escada, arrancou a mão e
correu para o portão de desembarque, como um bólido, e não esperou que
ela passasse pelo portão para pular-lhe no pescoço, chorando e travando a
passagem dos passageiros.
Mal chegamos a casa, Aline sequestrou a filha, com a desculpa de
mostrar-lhe a nova decoração da suíte. Mas estava era ansiosa para saber
de tudo, não das maravilhas de Paris que ela já conhecia ou das longas
excursões através da França, mas do relacionamento amoroso. Karina era a
sua grande obra, feita no maior capricho desde a concepção, e queria
inteirar-se de cada passo seu, inclusive e principalmente no sexo, exigindo
que a amiguinha lhe contasse tudo nos mínimos detalhes. Além de
inteligente e culta, Karina tinha muita imaginação e, com o que aprendeu da
mãe, explorou a criatividade de Fábio e a própria para extasiar-se de
Amor. Iria fascinar a mãe:
─ Conscientes de que a foda é, paradoxalmente, vergonhosa e
envergonhada (a mulher tem quando muito gozo escasso e envergonha-se de
dizer que não gozou e até finge) e que, ao contrário, o Amor não tem
vergonha e exige corações abertos e integrados e os despudores são
grandes provas de Amor, nós mergulhamos em volúpia e fomos o casal
mais desavergonhado que tu possas imaginar de corações integrados um no
outro, no mais completo brincar com Amor e paixão tórrida. Exploramos o
que me ensinaste e o que nossa imaginação sugeria. O importante era não
deixar a brincadeira acabar enquanto o Fábio não explodisse em gozo e
estar na minha nudez o enchia de felicidade.
Daí, em busca de situações paradisíacas, nos livrávamos da moral e
costumes do mundo, sempre que possível: Dancei nua na praia, à luz do
luar, na Còte D’Azur, para enfeitiçar o meu homem. Fiz strip-teases com
total devassidão e a dança da garrafa e a do ventre espetadinha no
“Durango Kid”, arrochado e torcendo-o para um lado e para o outro, para

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levá-lo à loucura do prazer. Conquistei-lhe a ternura máxima e a
sensibilidade total desafiando-o para o jogo da argolinha. O meu desejo era
a força bruta da paixão de envolta com a ternura do Amor. E até o Amor
tornou-se maroto: extasiava-se com o Amor que sentia em Fábio e
escorregava sempre para a paixão, para brincadeiras eróticas, enchendo-me
o coração de hormônios e o corpo de desejos.
─ Estou muito feliz por teres encontrado o destino e a felicidade que
mereces.
─ E que eu devo a ti e ao papai. Eu tremo horrorizada quando
imagino que poderia ser uma cadela vadia correndo atrás de fast-fuck... Até
pedi uma demonstração ao Fábio e ele me fodeu como fodia as “galinhas”
para “profilaxia da libido”. Deus Meu! O orgasmo não passou de um
ameaço chocho. Senti-me tão frustrada, vazia... Parecia-me ter mesmo uma
boceta (no sentido vernáculo) entre as pernas. Acho que esse apelido lhe
foi dado por alguma mulher mal amada que se via com uma caixa vazia e
fria no lugar da mimosinha quente. Fiquei desesperada para ter de volta o
Durango bruto. Meu Deus! Se o não tivesse... Mas o Durango retornou...
selvagem... no que seria a primeira paradinha.
Como eu te bendisse por teres te desdobrado em mãezinha e
amiguinha para fazeres de mim uma mulher digna e não uma caixa de pegar
pintos como Clarinha, Eu pude avaliar a realidade do teu sofrimento e
fiquei muito feliz por tu teres cativado papai. Foi a felicidade de todos nós.
Mamãe-amiguinha não conseguia deter o riso. Com muito custo
disse:
─ A tua definição é perfeita. As mulheres “livres”, promíscuas, não
passam de “caixas de pegar pintos”. Não é à toa que elas se tornam
lésbicas: no sexo entre mulheres não há paixão ativa – riu – a menos que
comprem numa sex shop, mas sempre há o Amor que elas não encontram
nos homens. Verdadeiramente livres e dignas somos nós que só fazemos o
que queremos: Amor cumulado de paixão bruta! Mesmo quando somos
completamente dominadas sob a pressão e fricção bruta do macho num “T”
Grandão tórrido temos o que mais desejamos e queremos. Mas voltemos às
tuas estripulias eróticas.
─ Fábio diz que eu sou façanhuda e lhe dou muito trabalho lutando
judô pelados com golpes que, frequentemente, viram pegadas de Amor. Por
isso, não tem receio de me pegar para valer como eu o pego e de me dar
taponas ardidinhas na bundinha quando me pega toda fremente de
cachorrinha ou me escafedo. Se não grito e o desafio rindo e balançando a
bundinha ele dá com mais força. Tapona ardidinha é mais gostosa. Deixa-
me completamente vencida e entregue ao Amor do macho bravio, num

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turbilhão de desejos e prazeres. E que me coma à bruta ou na maciota,
embrutecendo de repente! O Amor sempre nos indica o que fazer e a
intensidade da bruteza...
Às vezes, quando estamos lutando judô pelados e a coisa está dura,
eu o pego ou ele me pega num golpe adequado, e fazemos aquela transa do
“ponto G”, ora um, ora o outro e acabamos tremelicando juntos... Meu
Deus! É ali, instigada naquele bendito ponto, que a menina fica toda viva e
completamente maluquinha, intercalando algemadas às pirocadas brutas ou
abraça-o apertado e deixa-o tremelicar sozinho.
Fiz o teste do bafômetro, trepei como lagartixa... Fizemo-nos
aquelas massagens eróticas com óleos aromáticos, acabando com transas
deliciosas nos meus seios e na caça à periquita pela rola safada, com as
encabaçadas fantásticas da periquita. – Ri – Minha periquita ficou
danadinha e quando fica com a cachorra, morde mesmo! E ela ama tanto a
rola! Abusamos de todos aqueles “Tesões Grandões”... Dançamos nus “O
Danúbio Azul”, esfregando bocas, peitos, umbigos, coxas e paixão na
paixão... Foi uma epopeia de intromissões brutas que me tiravam o chão a
cada subida da batuta. – Ri – Ou das batutas... Ai o que aquelas batutas
fizeram comigo... Uma orquestrando o som e a outra o efeito... e aquela
apoteose final... Caralho! Quanto gozo!
Desculpei-me:
─ Perdoa-me, mas perder o chão me empolga... Por que essa
palavra é proibida?
─ Todas as palavras referentes a sexo são consideradas palavrões
desde que o sexo foi transformado em tabu e maculado com o “pecado
original”, fazendo com que a inocência que Caminha ainda encontrou nas
mulheres índias e a “completa liberdade social e moral” que Vespúcio
constatou no Rio de Janeiro de 1502 se perdessem completamente,
transformadas em vergonha e coisa feia.
O sexo deixou de ser um ato inocente, como sugeriram Caminha e
Vespúcio, e se transformou em desejo, volúpia e coisa imunda, justamente o
oposto. Não se observa mais inocência nem nas crianças. É claro que as
palavras são neutras como já aprendeste, mas valem as convenções, as
intenções, as entonações e os costumes e modismos, e ela esteve sempre
ligada ao sexo indigno: foder. Quem faz Amor não a usa, salvo
reservadamente e em ocasiões excepcionais.
Mas essa palavra peca apenas pelo significado. Estruturalmente é
uma das mais belas palavras da língua portuguesa. Ela tem dois “aa” que
lhe dão claridade: o “a” representa brancura, luminosidade na poesia,
especialmente na poesia impressionista; é vibrante e sonora: o “r” lhe dá

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força a par com o “a” tônico. É tão vibrante e tem tanta força expressiva
que se tornou interjeição, apesar de ser um substantivo, e é a interjeição
mais usada na linguagem popular ou chula. Estivesse ela ligada ao Amor
como coração, e seria uma festa para os impressionistas. Se tu queres
sentir-lhe a força, tenta empregar pênis como interjeição.
Ri:
─ Não dá nem para tentar! Mas eu tenho usado e abusado dessa
força proibida: a substantiva que me leva às loucuras do prazer e a
interjetiva para suportá-lo.
A amiguinha não me sonegava nada que me ampliasse a sabedoria e
o conhecimento das coisas da vida, mas já me transformara em mestra:
“meus ensinamentos não serão mais de graça, também quero o teu saber”.
Riu e bateu as palmas, exigindo:
─ Estripulias! Eu quero saber de estripulias eróticas!
Mestra eu? Rindo, eu me esbaldei em erotismo:
─ Eu fui transada, frente e verso, com a fêmea de músculos
poderosos e menina valente suportando todas as brabezas do Durango Kid
em surras de pau épicas. Até o fiofó, invejoso, pedia Amor bruto e as
acabadas, as fantásticas acabadas em encoxadas que me faziam capotar em
cambalhotas, deixavam-no em festa... Minha bundinha ficava deveras feliz
quando, ardidinha de taponas, era fisgada e cavalgada pelo macho bravio.
Meu Deus! Tudo o que vinha do macho, macio ou bruto, era prazer e gozo
arrasador! Às vezes, eu prolongava a brincadeira: “minha bundinha quer
mais cambalhotas, mas só lhe dá a bimbada depois de taponas brutas.”
Na Còte D’Azur, com a noite e toda a praia por nossa conta, com
temperatura agradável e uma esplendorosa lua cheia, abstraí a civilização
deixando, do outro lado da linha da praia, moral, costumes, tabus,
preconceitos e vergonha. Pecado original eu não deixei porque não tinha
mesmo: eu nasci do Amor, não do pecado!
A praia deserta era para mim uma visão do paraíso e eu fremia com
os desejos imaginando-me sem parras na plena dignidade do Amor. Puxei
com força o meu Adão, encaixando-me nele e, boca na boca, afaguei-lhe as
costas, enfiei as mãos sob a sunga, apertei-lhe a bunda, as coxas, afaguei o
meu desejo... A sunga caiu e eu fremia esfregando-me nele e dando-lhe o
beijo que me punha em frenesi... Ele percebeu, claro, o tamanho da minha
necessidade de macho e riu: “Tu estás uma cachorrona desavergonhada do
jeitinho que eu amo, cheirando a Amor e paixão das brabas. – Riu – Quero
lambuzar-me nessa volúpia”.
Eu estava mesmo cachorra com os desejos à flor da pele:
plenilúnio, e ele percebeu o meu frisson ao espremer-lhe a bunda e beijá-

470
lo. Sentia-me como uma potranca em pleno cio sentindo o cheiro do macho,
resfolegando, ansiosa pela cobertura. Se o não tivesse, morreria de tesão ou
teria de correr à cata de fast-fuck como qualquer cadelinha. Depois de
inaugurada, a mimosinha não suporta mesmo carências, mas eu tinha macho
dos bons. E ele me apertava, mordia, beijava com afagos e taponas
alucinado pela volúpia da fêmea. Paraíso, plenilúnio, nudez, temperatura
agradável, macho deitando potência, a cachorra exacerbada de cio
querendo pressão, pulei-lhe no pescoço com as pernas nos seus flancos e
dei-lhe o beijo alucinado, gemendo de prazer e desejo.
─ Ele riu: “Meu Deus! Quanto desejo! Cachorra pulando como
pipoca! É tesão que nunca imaginei numa fêmea. Suas mãos que me
apertavam a bunda subiram explorando o meu tesão, espremendo-me e
desatando laços. Ele também queria nudez. Também estava cachorrão!
Afastei-me para as “parras” caírem e fugi-lhe para dançar e congelar em
poses artísticas de luz e sombra.
Era a própria Vênus completa com braços e mimosinha valente e
uma corzinha safada daquela lua esplendorosa que punha sombras de
mistério na deusa que se pôs a dançar as voluptuosidades da sua beleza nua,
congelando em poses, ora sedutoras, ora voluptuosas, e então safadas em
que a luz da lua, invadindo penumbras, devassava mistérios curvilíneos,
dando ao macho da sua alma o tesão dos tesões. Ele agarrou-me com
sofreguidão quando eu fazia o chapéu tailandês com o mistério das sombras
e abriu-me o paraíso, puxando-me bruto para amassar-me toda. Nua e
apequenada no meu “Adão” que parecia querer fazer massa para pão, ele
sentiu o forno aquecido. Deu-me o beijo maluco, envolvendo-me toda
apertada em suas delícias, fazendo-me vazar.
Quando ele ia por o “pão para assar”, espremendo-me as nádegas
como metades de laranja, escorreguei por ele abaixo, caindo de joelhos e
dei-lhe de presente a minha boca faminta. Estávamos chupando balas de
hortelã e ele arrepiou-se com o ardor. Ergueu-me pondo-me, de cabeça para
baixo, com as coxas em seus ombros e minha boca na fascinação. A
ardência da hortelã levou-nos à loucura e, de boca e mimosinha penetradas
e ardidas, tive um orgasmo arrasador.
Quando me pôs na areia, fiquei de colherinha de pernas e braços
abertos para receber o meu macho. Ele veio em cima, sôfrego, duro,
penetrante, fricativo, resfolegante... Eu podia sentir a sua fúria de comer-
me...
À intromissão gloriosa, arrepiando todas as minhas sensibilidades,
envolvi-o nos meus braços, pernas, calcanhares e ganhei uma TVC de
arrasar, ainda ardidinha da hortelã, que me pressionava e friccionava

471
peitos, barriguinha, púbis, vulva e punha-me a mimosinha em polvorosa
com as brutas intromissões ardidinhas e fricativas que me arrepiavam toda.
Eu sentia o prazer avassalar-me e me tomar o corpo todo em frissons
arrasadores...
Minha menina esbaldou-se em abraços e algemadas, fazendo-o
gemer o prazer das entranhas, ao penetrar muito apertado meu “cabacinho
novo”. Quando explodi noutro orgasmo, ele deu outra paradinha e eu dei-
lhe uma lambidinha ardida e me virei de bruços. A pressão e fricção totais
eram então nas minhas costas, bunda e no “ponto G”. A posição deixava-me
passiva de pernas e braços, mas a menina... seguiu encabaçando-o. Éramos
ambos a gemer o gozo extremo que o mar absorvia rugindo de inveja...
Mais uma gozada prodigiosa, uma paradinha, e a deusa virou-se
com outra lambidinha e ganhou a TCC ardidinha para afeiçoar a argolinha
para o jogo. De cachorrinha e voltada para a lua, a bundinha ficou bem
iluminada e, depois de muito negaceio, a vara, procurando a penumbra,
entrou gloriosa com muito frisson.
A fêmea estava realmente cachorrona e queria tudo: pediu taponas
na bunda. Ri: “Tu acertaste. Eu estou mesmo com a cachorra e quero tudo
bruto, até as taponas”. O mar estava recuando para longe e quando ia virar
pedi: “Faz-me gritar com uma tapona do outro lado e uma pimbada
homérica no popozão”. De bundinha ardida de taponas e hortelã, gozando e
gritando a interjeição proibida, lá fui eu de cambalhota em cambalhota ao
encontro do mar que também parecia querer tirar sarro. Tirou, dando-me
uma tapona na bunda com aquela onda que começava a quebrar no momento
em que eu dava a última cambalhota e arrastou-me para fora. Aquela onda
lisa, quebrando, levemente encrespada, acertou-me a bunda em cheio. Oh
Delícia! Amei o mar.
A pimbada do Fábio me fez rodar cinco cambalhotas e, assustado,
ele correu para tirar-me das ondas, perguntando se tinha me ferido. A
alegria transbordava de todo o meu ser e eu lhe respondi: “Machucou o
coração! Coitadinho! Dói muito de Amor por ti”.
Ele carregava-me de volta à areia, transbordando felicidade. Fucei-
lhe a orelha num transbordo de alegria: “A tua cachorrona continua com a
cachorra e quer mais cambalhotas com taponas que a façam gritar”.
Preparei-me de cachorrinha, mas com a cabeça entre as pernas. Veio
uma tapona de cada lado e a pimbada prodigiosa ajudada com o impulso
das mãos e lá fui eu rolando de encontro às ondas de bundinha ardida... A
onda que acabara de quebrar bateu-me na bundinha borbulhando. – Ri –
taponas do mar são delícias. Então eu fiz o Fábio ficar de cachorrinho com
a cabeça entre as pernas. Perguntei-lhe: “Queres tapona”? Ele riu: “Dessas

472
mãozinhas fofas? Manda ver”!
Dei-lhe o tapa estalado e uma bruta encoxada na bunda que o fez
rolar de cambalhota em cambalhota mar adentro, ganhando uma tapona do
mar...
Fui tirá-lo das ondas e, montada nele, ergui-me com as pernas nos
seus flancos. Eu sentia tanto Amor! Apertei-lhe a cabeça entre os seios,
afagando-o e beijando-lhe os cabelos molhados. Eu o queria em mim numa
osmose de Amor. Ele retribuía-me amassando-me a bunda e as coxas,
arranhando-me as costas, fazendo-me cócegas... Implorei: “Quero mais
pimbada com tapona”. Ele riu: “Eu também”.
Depois de muito brincar, quando me trazia de volta para a areia,
apertando-me e fazendo-me cócegas, eu me contorcia toda, esfregando-lhe a
cabeça, o pescoço, as orelhas e afagava-lhe o rosto com os seios! Pôs-me
na areia e eu puxei-o sobre mim. Relaxada sob a pressão do seu corpo, eu
lambia-lhe o rosto salgadinho, apertando-lhe a bunda com o menino entre as
coxas. Ele começou a ficar Durango. “Meu Deus! Mais pirocadas bravias!”
Pois foi. Girei, ficando por cima, pus música para tocar e servi-me da
fascinação. Ele perguntou: “O que vais fazer”? Eu ri: “Comer-te! Ou tu
pensas que só tu podes”? A menina estava deveras cachorrona e, na dança
da garrafa, foi comendo-o cada vez mais fundo, fazendo a dureza crescer.
Então, na dança do ventre, tratou de triturar o Durango.
Quando virou monólito, ele riu: “Tu me comeste. Vou me vingar
comendo a cachorra”! Escafedi-me gritando: “Não vais não! O Durango
quer fêmea, mas para me comeres de novo terias de me pegar”! Ai, Meu
Deus, foi tanto escorregar entre mãos, tanto drible, tanto esfrega-esfrega da
bundinha indócil que levava taponas ao escapar... Duro que só ele,
capturou-me num ippon, jogando-me na areia sem afrouxar o ippon. Ele
desesperava-se para meter-se em mim e eu... Eu anelava pela carne na
minha carne... Minhas pernas tinham querer próprio e eu resfolegava de
desejo: “Tu ganhaste. Come a cachorrona, mas com Amor bruto bem
cachorrão e, se eu gritar, faz mais bruto ainda”.
Ele afundou numa TVC, embolamos, rolamos ligados de paixão
bruta, muito bruta. A verga prodigiosa me surrava violenta! Eu gritava a
interjeição proibida enquanto a força substantiva fazia a festa da minha vida
na minha menina e me fez estrebuchar longamente, travada de gozo
insuportável, gritando tão alto aquela interjeição e com tantos “aa” – ri –
que deve ter iluminado toda a praia.
Foi a maior experiência da minha vida: uma explosão bruta seguida
de uma implosão que me fez relaxar com maciez e doçura, atingindo a paz
total na ternura de braços carinhosos. Eu era uma mulher realmente

473
completa e definitivamente iniciada na magnificência do Amor embrutecido
de paixão.
Eu amava tudo: amava Fábio, amava a areia, amava o mar, amava
dar-me, amava a pressão do macho, amava cada intromissão bruta, amava o
frisson que me percorria o corpo arrasando-me de excitação, amava o
ardidinho das taponas e da hortelã, amava cada explosão de gozo, amava o
macho explodindo em gozo dentro de mim, amava aquela paz de braços
aconchegantes, amava Deus que era tão bom comigo... Delirando de gozo
disse-Lhe com o pranto da felicidade inundando os meus olhos:
Perdoa-me, Amigão aí das alturas, se fui muito indecente. Não sei
se o que fiz é pecado ou indecência, mas com certeza é Amor. Amor que já
não me cabe no peito e tento extravasar de todas as formas possíveis.
Perdoa-me por amá-lo demais, mas por mais que eu me esforce, eu não
consigo retribuir-lhe tudo o que ele me dá, como Tu queres, não é? Acho
que tenho de pedir-Te perdão é por amá-lo menos do que devo, mas fica de
bem comigo por Amor de Ti. Eu amo estar de bem Contigo. Mas eu só lhe
faço o que ele quer e ele adora satisfazer os meus desejos. Sempre nos
restringimos à tua lei: estamos de bem Contigo, não é?

Tu estás certa, amiguinha, a mulher é mesmo um paradoxo. O nosso


maior encantamento é um homem terno que seja um macho bruto. E Fábio é
mel e brabeza. Mas Deus não teria feito do homem um paradoxo como a
mulher para se completarem com perfeição como Fábio e eu, tu e papai? Se
fez macho e fêmea para se encaixarem à perfeição em qualquer posição que
inventem e genitais deveras instigantes, por que iria falhar justamente no
essencial? Por que faria a mulher apta a um estardalhaço de gozo e lhe
daria um macho cachorrinho com instrumento fascinante? Deus não faria
tamanha maldade.
Foram as velhas teocracias que viciaram o homem com tabus,
preconceitos, pecado original, imundície sexual, transformando-o num
cachorrinho de madame, enquanto a mulher continuou a cachorrona,
desejando até a dor para gozar à larga. Quanto mais eu judio de Fábio com
a força do meu cabacinho novo, mais ele se excita, fica brabo e me come
com selvageria. E o conforto depois da paixão... Ele é um verdadeiro
paradoxo!
Embora não tenha estresses, o meu relaxamento foi tão completo que
deu para perceber que um macho bruto cura mesmo qualquer estresse e põe
a felicidade no rosto de qualquer mulher, como tu me ensinaste. É por isso
que fazem tudo para mantê-lo cachorrinho, inclusive com vergastadas,
vinagre, sal grosso e paranoia, para que se encham os templos e os seus

474
cofres... Gente feliz não vai à igreja, não é?
A amiguinha sorria encantada:
─ Palmas para a minha antropóloga. Vamos incluir teu achado na
nossa teoria. Só erraste numa coisa: a mulher também foi metralhada com
tabus e preconceitos, mais ainda do que os homens, nos últimos quatro mil
anos, quando perdeu o matriarcado. Até com apedrejamento e fogueira e
outras brutalidades inconcebíveis da inquisição. Tu aprendeste sobre Jesus:
“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. É como morriam as
prostitutas, amásias a até mulheres que gozavam com o marido, o que as
tornava “bruxas”.
Tu e eu somos capazes de um estardalhaço de gozo porque papai me
livrou dos tabus e eu te criei sem eles, mas os Ts Grandões são
desconhecidos e são raras as mulheres libertas dos tabus que as
assoberbam e conseguem alguma alternativa com o pompoarismo ou sexo
meio selvagem. Isso porque a memória genética lhes trás reflexos mais ou
menos vivos do gozo arrebatador de suas ancestrais. Era o que me
assoberbava nas frustrações com meus machões. O bom é que encontramos
homens docinhos, e não viciados, em quem podemos despertar toda a
brabeza que queremos com nossas meninas maluquinhas e os Ts Grandões e
pompoarismo.
─ Não seria possível libertar os homens de sua memória genética
viciosa, transformando o mandonismo em ternura e a indolência sexual em
selvageria passional?
─ Por que não? Tu transformaste o Edu, aperfeiçoaste a macheza do
Fábio, deixando-o no teu ritmo, e deves ter melhorado os garotos que
namoraste, mas também depende dos homens. Entretanto é muito simples:
basta que os interessados procurem pelo Amor no coração. Ele está lá,
talvez escondidinho do poder, à espera de uma chance. Como Deus, ele não
se impõe, quer ser desejado. E nunca te esqueças de que a essência do
casamento transcendental é corações atados por ternura e meninos
empolgantes: é o que de fato leva ao Amor selvagem e eterniza a união.
E é tão simples! Como já sabes, basta sorrir com ternura e abrir o
coração sem pressa: falar de desejos, de preferências, de fantasias e ouvir
os anseios do parceiro, com atenção e carinho, seus desejos e suas
carências. Avançarem nos toques, nos amassos, no despudor, nos beijos
malucos, no esfregar de Amor... e, atingidos os desejos irrefreáveis,
experimentarem, empolgarem os meninos, ajustando os ritmos: aqueles Ts
Grandões, com preliminares, são um arraso de gozo até em ritmo
cachorrinho ou para “apressadinhos”... E isso pode presidir todas as
relações amorosas, até as horrendas pegadas que viram um hino ao Amor e

475
caminho seguro para encontrar o parceiro digno... E eis mais mundos
pequeninos de paz e Amor...
Mas a mulher também pode se impor como tu te impuseste ao Edu,
desafiando sem vergonha: “Se te pego nu”! E forçando e participando de
preliminares com muito Amor e com pompoarismo, danças eróticas e
menina empolgante – riu – mas isso tem efeito colateral: deixa o macho
doidão pela fêmea. Então é possível negociar: “tu me fazes sentir amada
sem juras, me fazes preliminares, Amor bruto, Ts Grandões, me serás fiel”?
Não há macho que resista a uma fêmea ativa, meiga e apertadinha.
A amiguinha riu como se tivéssemos uma plateia:
─ Todos já descobriram os encantamentos do Amor. Deixa-os se
amarem e voltemos às tuas estripulias.
Eu estava fascinada:
─ Desde que eu era criancinha, tu tens sempre uma solução simples
e perfeita para tudo. Não custa endireitar o mundo. Só depende do Amor e
da boa índole dos humanos, não é?
─ Estou feliz por teres percebido. É isso mesmo, porém é preciso
ignorar os poderosos e mandões, ao menos, até que se convertam ao Amor.
Deixá-los sem paixão até que deem Amor. O mundo é muito simples como
O Deus de Amor e a sua lei que até as criancinhas entendem. Os poderosos
é que ignoraram O Deus Verdadeiro e complicaram tudo para escravizar e
explorar a humanidade. Intitularam-se “nobres” em oposição aos simples e
justos (plebeus); inventaram o escravismo, o despotismo, as guerras, o
imperialismo, a corrupção e até deuses e religiões para escravizar e
espoliar os justos e tomar nações, mergulhando o mundo na barbárie do
imundo de satanás e desviando-se do paraíso, onde ninguém mandava em
ninguém, nem mesmo Deus, que dá livre escolha a todos como nós te
damos. Todos são livres para escolher o certo ou o errado, o céu ou o
inferno.
Criaram a “civilização do mando”, onde até escravo manda nos
filhos. Por aí já vez o tamanho do pecado que é mandar nos semelhantes. Se
nem Deus manda, quem quer ser mandado? Quem obedece a Lei de Deus?
Que se dane a alma? Não fazer aos outros o que não queremos para nós é o
único meio de salvar a nossa alma. E isso é o que não podemos fazer. Se
seguirmos Jesus, fazendo antes aos outros o que queremos que eles nos
façam, mergulharemos no mundo do Amor e do bem. Nós só damos Amor,
nunca pedimos. E quem precisa pedir! Para quem não escolhe Deus e causa
dano ou desconforto ao próximo morrendo sem reparar o mal que fez, com
coração honesto, só resta o inferno.
O mundo, mesmo imundo, evoluiu, claro, não por obra dos

476
poderosos que eram essencialmente vagabundos, corruptos e exploradores:
trabalhar, nem pensar! Mas por obra dos plebeus criativos e trabalhadores,
inclusive os escravos.
Também evoluiu da nudez inocente, que impressionou Vespúcio e
Caminha, para o strip-tease safado; do Amor inocente e bruto, que
arrebatava de gozo nossas ancestrais, para o tabu da foda paradoxalmente
vergonhosa e envergonhada; As pessoas se deixavam escravizar ou viravam
párias que era pior que escravo. Afora isso, havia o povo espoliado com
impostos (plebeus e mercadores) e a “nobreza” e o clero que exploravam
todos.
E assim foi até que os justos resolveram enfrentar os poderosos, na
Revolução Francesa, acabando com o reinado das teocracias e separando
Estado e religião, enquadrando a “nobreza” e o clero. Porém os “nobres”,
valem-se das liberdades plenas que há nas democracias e se sobressaem:
os “nobres” perderam aquele status de “superioridade”, de “donos da
humanidade”, porém tornaram-se políticos, corruptos eles já eram, e as
religiões que obrigavam (“hereges” e “infiéis” renitentes eram executados
por apedrejamento ou queimados vivos, além de instrumentos atrozes, como
ainda ocorre em países de religião islâmica), se aperfeiçoaram, tornando-se
fanatizantes e moralistas: antigamente dominavam pela força, agora, pelo
fanatismo e, como sempre, pelo terror do inferno. Por isso ainda há muito
que fazer para que Deus recupere o seu mundo.
Virou moda construírem mega-templos. Há um imitando o do rei
Salomão, um dos mais poderosos personagens bíblicos que fez sua fama
por ter tido trezentas esposas! Quantas concubinas e escravas? Quantos
escravos? Só para a construção do templo foram cento e oitenta mil e
quantos impostos ou dízimos? Com certeza, manteve trezentas mulheres
confinadas num harém, sob a guarda de um batalhão de eunucos
previamente castrados para não fazerem sexo e poderem controlar todo o
mulherio doido para transar!
Porém o rei mais poderoso do mundo podia mandar castrar quantos
homens quisesse para ter todos os eunucos necessários... O novo templo
custou seiscentos e oitenta milhões de reais; em dízimos, claro! Qual o
custo em dízimos para mantê-lo?
Nem todos os mencionados na bíblia são dignos de homenagem.
Está cheia de gente atroz como Salomão a começar por aquele deus
perverso que abre a bíblia plantando a árvore do bem e do mal e castigando
Adão e Eva, além de toda a humanidade, com a maior atrocidade, só por
eles terem descoberto os encantamentos da sabedoria e do Amor a ponto de
se envergonharem de sua felicidade! Um deus que receia o saber humano...

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Se quiseres sentir como é ficar emparedada na frigidez das enormes
lajes do poder e estarrecer-te com a frieza com que te cobram dízimos, vai
dar uma espiadela no mostrengo. Porém não esperes encontrar Deus. Deus
ama o calor dos corações, não a algidez dos templos e nunca fez do templo
salomônico “a sua casa” ou não teria deixado que o destruíssem, por duas
vezes! Construído à custa de tanto pecado! Destruído por Nabucodonosor,
foi reconstruído pelo rei Herodes e destruído novamente em 70 D.C.,
restando apenas o “muro das lamentações”.
Eu estava deveras intrigada:
─ Por que as mulheres aceitavam dividir o casamento com tantas
parceiras?
─ Elas não tinham escolha. Não eram cantadas e muito menos
encantadas, mas servas compradas (Êxodo, 21,7) dos pais como qualquer
escrava e escolhidas entre as meninas mais belas. E se há cerca de meio
século as mulheres ainda não tinham voz nem direitos, qual seria o seu
status há mais de três mil anos? E quem ousaria contrariar os desejos do
rei? Com a escravidão institucionalizada na bíblia! Se vivêssemos numa
teocracia como a de Salomão, fatalmente teríamos de vender-te ao rei para
embelezares o seu harém e servires a sua cupidez.

Mesmo horrorizada, custa-me renunciar a um tema palpitante.


Aquilo era uma bela síntese da História do mundo e de como ele ainda é
apesar das democracias: o avesso de como deveria ser e poderia render
milhares de livros. Mas não era hora. Eu já aprendi bastante, mas vou
pesquisar as entrelinhas da História daquela imundície toda para saber
como o mundo virou imundo e imaginar um mundo novo: Democracia pura
como no Paraíso? Teríamos de reescrever a História? É certamente o que
os historiadores estão nos devendo: a verdadeira História da humanidade
com o seu lado podre. Resignei-me e sorri. A amiguinha queria saber das
minhas estripulias amorosas:
─ Estripulias? Deliciosas estripulias! E para nós que estávamos
decididos a resgatar o Amor em sua plenitude! Um dia, alugamos um carro
e percorremos pequenas cidades e vilas por uma estradinha bucólica de
escasso movimento. Eu estava tão feliz, tão grata ao meu homem, que a
marotice tomou conta de mim e eu fiz-lhe o teste do bafômetro, rodando
mansamente pela paisagem maravilhosa que descortinava toda sorte de
beleza de plantações a campos floridos e moinhos ao pé de choupanas
encantadoras...
O Amor me fascinava e, enquanto admirava a paisagem, eu brincava
com o menino que logo ficou Durango. Tu sabes: quando o amamos demais,

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é difícil estar perto sem o afagarmos ainda que para um simples brincar... O
Amor que me inundava a alma mais o Durango teso à mão desencadearam-
me a paixão. Paixão com paixão, eu desabotoei-lhe a bermuda, libertando o
meu adorado que virou monumento da sagração ao Amor.
Ai, aquele monumento fálico, com meus toques, ficou duro como um
monólito, apontando para o zênite! Disse-lhe rindo: “tu tomaste um drink,
vou fazer-te o teste do bafômetro para ver se estás apto a dirigir”. Eu caí de
joelhos, mas era para a devota sagração. Com um beijo chupado abocanhei
tudo o que pude com boca e mãos carinhosas. Fábio ainda ria da piadinha,
passando a gemer de tesão e, muito safado, brincou de dar brecadinhas.
Fiquei até preguiçosa, apenas apertando os lábios... Tu podes imaginar?
A amiguinha mijava-se de rir e ainda engasgada, comentou:
─ Tu estás uma moleca mais safada do que eu e o melhor é que
encontraste um macho safado à tua altura.
─ Mas eu não faço como catarse e muito menos vingança. É só
Amor, puro Amor: tu não me inoculaste demônios religiosos na alma. Só
sabedoria, dignidade, virtudes e bom senso, e me preparaste para amar,
inclusive a Deus. E eu tenho o corpo e a alma livres para entregá-los ao
Amor da minha vida sem nenhum pudor, sem saber o que seja medo ou
culpa, nem tabus ou preconceitos.
Naquele ato de puro Amor e enlevo pelo meu homem, houve apenas
a alegria pura de ver ereto o monumento fálico para glorificar o Amor e o
meu homem. E o Amor era tanto, mas tanto, a transbordar de nossos
corações, que eu o glorifiquei de joelhos na alegria de grandes beijos que
eram sugadas e grandes sugadas que eram beijos de Amor... E as
brecadinhas na descida, ora mais breves, ora mais espaçadas, conforme lhe
pedia o tesão... Ele amou tanto que fez a brincadeira durar ao máximo. Na
volta, nos desnudamos entre as flores de uma belíssima chácara e fizemos
Amor entre as flores até nos arrebatarmos de tanto gozar

A teoria tua e de papai está certa. É o Amor que alimenta a paixão e


o mais maravilhoso é que quanto mais o Amor cresce, mais a paixão
embrutece. Quanto mais nos amávamos, mais afeiçoada eu ficava àquele
monumento fálico: eu estou enfeitiçada por ele! E aquele monumento parece
mais selvagem a cada transa. Vejo crescer nele o Amor de Fábio por mim,
fazendo-o extrapolar em paixão.
Nossa lua de mel foi uma brincadeira de Amor macio de envolta
com paixão bruta. Eu vivi sempre nos limites da felicidade e do gozo. Só a
saudade de vocês é que insistia sempre em arrancar-me muitas lágrimas...
─ Eu sei, nós também vertemos tantas lágrimas. Quanta saudade,

479
meu Deus!
Sorriu:
─ Ric, coitadinho, parecia um Zumbi!
A amiguinha abraçou-me com ternura e, morta de curiosidade, quis
saber:
─ Tu és muito criativa, mas diz-me: tu gostaste de brincar com o
jogo da argolinha?
Eu ri brejeira:
─ Na mimosinha é muito melhor! Com a TVC então! Mas não foi
ruim, não! E, depois de afeiçoar-me àquele tesão robusto que, no início me
causava desconforto, a TCC selvagem tornou-se um arraso e as
intromissões brutas ficaram tão boas – ri – que eu quis até a derrota de
Napoleão na célebre posição em que ele perdeu a guerra.
─ Derrota de Napoleão?
─ É. Ao sairmos da boate, altas horas, fizemos um passeio
agradável pela Av. Campos Elíseos e paramos sob o Arco do Triunfo. Ele
envolveu-me por trás cheio de carinhos e eu premiei-o com esfregação de
bundinha. – Ri – Encostou nela, ela esfrega mesmo! Éramos só nós na alta
madrugada, mas ficaríamos totalmente expostos sob o arco e isso me punha
o corpo todo em ebulição. Desafiei-o: “Sob o Arco do Triunfo? E se nós
comemorássemos o triunfo do nosso Amor”? Num átimo eu estava
envolvida, de soutien frouxo, que ele pôs no bolso, e as mãos empalmaram-
me com afagos, apertões, espremidas, desejo, desejo e mais desejo... Eu
fremia quando a calcinha caiu...
Ao me dobrar para catá-la... ele entrou... com força bruta e
fornicadas arrasadoras. Gozada aos extremos sob o Arco do Triunfo
naquela posição e transbordante de felicidade, eu queria dar-me de
presente. Ele costumava dar as quatro paradinhas clássicas para prostrar-
me de gozo e enquanto acumulava mais eflúvios de prazer para nova
explosão, ri: “Napoleão foi derrotado na batalha da argolinha e não teve
direito a Arco de Triunfo, não é”? Ele riu e disse com marotice: “E foi
catando calcinha, assim”! Ai, Meu Deus, como Napoleão, a argolinha foi
fisgada sem a menor chance e a minha bonaparte invadida profundamente
pela espada robusta. Napô gemia fundo a cada estocada bruta daquela
espada impiedosa e eu morria de rir: “O bandido teve o que merecia”! Ao
erguer a cabeça, avistei dois gendarmes vindo em nossa direção. Saímos
encostados à parede, para o lado oposto, vestimos a roupa e marchon nous!
Eu estava tão envolvida com a espada selvagem reverberando em
mim, e com a entalada bruta de Napoleão, que só fui sentir falta da calcinha
ao despir-me no hotel. Eu catara tesões sem conta, menos a calcinha. Mas

480
Napoleão não devia ser mesmo muito chegado à Josefine e às donzelas da
corte – ri – porque ele adorou a espada bruta.
Mamãe-amiguinha se mijava de rir e eu ri safada:
─ Foi uma experiência tão boa e divertida que já estamos pensando
em foder os grandes “heróis” da humanidade, de Hitler e Stalin a Átila e
Gêngis Kham no jogo da argolinha... – Ri – E por que não o Salomão
escravista e castrador de homens! Cento e oitenta mil forçados a trabalhar
de graça na construção do templo! Sem falar na alegria de foder os ladrões
do Petrolão a começar dos chefões...
É possível escolher ou revezar a argolinha se for só para diversão.
Nós temos duas juntinhas que facilitam o troca-troca. Para derrotar um
maldito histórico, porém, a alegria é dobrada.
O próximo vou querer que seja Júlio César: já estou imaginando
todas aquelas adagas dos sicários de Brutus enfiando-se na argolinha dele,
uma após a outra, e metendo-se rubicão adentro, apesar dos negaceios,
numa megatransa de entra-e-sai. A adaga de Brutus dando a estocada de
misericórdia... e César arriando: “Até tu, Brutus”?
Ah! Ele não merecia aquele discurso lindo que Shakespeare pôs na
boca de Marco Antônio! Soa como uma bruta mentira. César era deveras
ditador e bandido. O que ele fez por merecer é a ditadura da espada bruta
no seu rubicão. – Ri – Vou dobrar a rubicada do Brutus. Vou dar-lhe uma
contra-rubicada tão forte que ele vai gemer de gozo.
Morrendo de rir, a amiguinha comentou: Ridendo castigat mores.
Ridicularizar os costumes é realmente a melhor forma de criticá-los. Ao
que consta, os obcecados por poder e guerras não são muito afins das
mulheres. Alexandre teve o seu macho e sabe-se lá quantos o tiveram! O
próprio Júlio César é suspeito de veadagem. São os que não amam que
fazem a guerra e como passam a maior parte da vida longe das mulheres,
preparando armas e estratégias militares... – Riu – Espada bruta no Rubicão
é mesmo tudo o que eles merecem.

─ Quanta brincadeira impudica e deliciosa... Foram mesmo muitas


dormidas pequenas e brincadas grandes. Amar é mesmo brincar ou será um
mero descarrego de libido sem nenhuma graça. E, façanhuda, eu nem
preciso pedir a força máxima. Ele a aplica sempre, às vezes, até nas
palmadinhas que viram taponas. E eu não sou tola de pedir “menos”. Ele
tem a força do desejo e eu o desejo daquela força.
Creio que não sou menos tesuda do que tu. Ambas necessitamos da
força bruta de verdadeiros machos. Acho que todas necessitam... Só não
sabem bem o que é ou não têm, como a Alice de “De Olhos Bem

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Fechados”.
─ Então tu continuas a dar-lhe!
Eu estava embevecida:
─ Como poderia tirar este docinho da boquinha do meu Amor? Eu
adoro fazê-lo gozar e ele faz tudo para me dar prazer. E brincando de
revezar ou derrotar bandidos... – Ri – Derrotar Napoleão foi um delírio e
Júlio César e Salomão que me aguardem! Ele tem se esforçado naqueles
exercícios que tu me ensinaste e estamos tendo relação amorosa mais
longas e robustas como eu adoro.
Eu tenho flutuado em orgasmos múltiplos e carinhos... Com tantos
orgasmos, não custa nada satisfazer o homem carinhoso da nossa vida de
todas as maneiras que pudermos. – Ri – E a mulher foi feita para dar, não é?
E muito melhor do que dar é dar-se. E para um macho de pegada bruta? Eu
adoro dar-me todinha para tê-lo. E eu o sinto todo meu: na alma, no
coração, na mimosinha, no corpo, no frisson, na paixão, no frenesi pelo meu
macho, na cavalgada de prazer que me põe em êxtase, na explosão de gozo
que me abre o paraíso, nos braços carinhosos que me acolhem com carinho,
fazendo-me dormir o sono dos anjos, povoado de sonhos lindos... Não é por
isso que tu te dás para o teu homem?
─ Com certeza! Ele arrebatou-me a alma e o coração e estamos um
no outro, mas além do Amor por aquele Amadinho adorado, eu morria de
medo de que teu pai encontrasse na rua alguma cadela vadia, popozuda
como eu, e a seguisse. Ele sempre foi fascinado na minha bundinha e nos
meus seios.
Eu ri:
─ Eu sei como é porque minha bundinha e meus seios também são a
maior atração para amassos e Fábio é fascinado neles. Mas eu acho que
essa razão que tu mencionaste, evitar que o nosso homem vá procurar na rua
o que lhe negamos, também é muito importante. E bundinha dadivosa seria a
única vantagem das cadelas sobre nós. De bundinha com Amor, nós lhes
damos de dez a zero!
Darmos tudo o que ele deseja e sermos melhores do que as cadelas
da rua é o meio mais eficaz de mantê-lo afastado delas. E, com um pouco de
imaginação, dá para ter prazer e até orgasmos e, com a TCC ou a
brincadeirinha da argolinha, é um arraso de gozo e diversão e, quando
depois de muito negaceio, ele acerta a argolinha, eu trepido de frisson... E
Fábio é fascinado nas minhas “coisinhas lindas” e não se cansa de afagar-
me, beijar-me, lamber-me, morder-me, apertar-me. É como se estivesse
sempre lambendo a cria.
Mas eu também sou fascinada nas suas durezas e travamos

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verdadeiras disputas para ver quem afaga e faz mais carinhos, quem faz
mais cócegas e morde e lambe mais. Ai que atração por suas durezas... – Ri
– Aquela, então... A disputa é tão grande que tesões embrutecem e haja
coração... Estamos tão envolvidos que eu acredito que Fábio nunca me
trairá. Mas, memória genética à parte, por que as pessoas traem?
Mamãe riu:
─ Porque não amam ou não se satisfazem com o que têm. Em
pesquisa recente, a antropóloga Mirian Goldenberg descobriu que sessenta
por cento dos homens e quarenta e sete por cento das mulheres traem. –
Tornou a rir – Não é à toa que casamento está virando coisa de gay.
Em pesquisa anterior, Mirian afirma que “O homem é o único que se
percebe e é percebido como sujeito da traição e a mulher, até mesmo
quando trai, assume a posição de vítima”.
Segundo ela, os homens dizem trair porque, embora amem e
desejem as esposas, “não resistem ao instinto, à aventura, atração, vontade,
oportunidade, vocação. As mulheres dizem que traem por insatisfação com
o parceiro, auto-estima baixa, vingança ao ter sido traída, por não se
sentirem mais desejadas pelo marido ou por falta de atenção, conversa,
carinho, romance, intimidade”.
Vês? Os homens é que sentem vocação para trair, mesmo quando
amam as esposas. As mulheres traem quando são traídas ou mal amadas.
Todas essas queixas são clássicas, mas por que acontecem?
Friedrich Nietzsche observou que: “Os mesmos afetos, no homem e
na mulher, têm ritmo diferente: por isso o homem e a mulher não cessam de
se desentender”.
“Ritmo diferente!” O desequilíbrio crucial entre macho e fêmea é o
sexo. A mulher demora a chegar ao clímax, o qual pode até estender-se por
orgasmos múltiplos, (teu pai diz que eu sou uma festa de gozo), enquanto o
homem chega rápido e tem um só. Se no casamento, em que se presume
Amor, há esse desequilíbrio que, para o filósofo é incontornável, o que
dizer de uma relação de sexo livre? Só o Amor de paixão tórrida pode
contornar esse desequilíbrio como teu pai descobriu, mas no sexo livre não
há Amor nem paixão bruta porque a mulher é fácil, o Amor é raro e a
paixão bruta, mais rara ainda. E, no casamento, se não há Amor verdadeiro
e a paixão não é bruta, não há nada!
A desagregação do casal começa pelo homem. Se o sexo que faz não
satisfaz a mulher, ela se desestabiliza, fica irritadiça sem saber por que, tem
“dores de cabeça” e até passa a sentir aversão ao sexo, como acontece com
trinta e cinco por cento das mulheres segundo uma pesquisa antiga do HC e
já se fala em cinquenta por cento. É claro que ela se torna insuportável para

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o homem. Aí são dois sérios candidatos à traição.
Na verdade os homens só traem por um único motivo: as cadelas
vadias são mais interessantes do que a esposa, ou despertam expectativas,
especialmente a esposa chiliquenta, irritadiça, chata, não aconchegante, não
empolgante, insuportável... E quando a paixão se esvai... Mas eu descobri
que tinha cativado um Amor que era o melhor dos homens e o macho mais
fantástico, capaz de me enternecer a alma com Amor e o coração com
paixão bruta, levando-me ao relax completo. É uma conquista que renovo
cada dia, recebendo-o ou entregando-me sempre risonha, meiga, fresquinha,
sedutora, voluptuosa, fascinante e abrindo-lhe o coração cheio de ternura e
o aconchego e as pernas com muita volúpia, todinha doçura. Franqueei-lhe
coração e mente: sou um livro aberto que ele pode folhear à vontade,
prazerosamente, com um sorriso amplo em cada página, sem segredos, sem
amuos, sem páginas grudadas.
O sexo meio selvagem conquistou-me definitivamente, sentindo-me
em equilíbrio, mas quando ele me aplicou as “surras de pau” a balança
pendeu para o seu lado e eu fiquei desesperada para encontrar algo que
restabelecesse o equilíbrio. Encontrei-o no pompoarismo e nas danças
eróticas, do ventre e da “boquinha da garrafa”.
Foi assim que atingimos o equilíbrio muito próximo do perfeito,
tanto que nos tornamos deliciosamente necessitados um do outro: ele não
quer senão a mim porque está certo de não encontrar gozo semelhante em
outra mulher e eu não o trocaria por nada deste mundo pela mesma razão.
Nós não fazemos sexo: nós somos uma festa de corpos excitados e
brincamos e gozamos tanto, tanto, que a cópula chega a ser secundária, até
para ele, mas nós não a dispensamos porque aqueles Ts Grandões são
verdadeiras obras de arte amorosa e as minhas artes pompoir o inebriam de
prazer e gozo. Nós também temos um pacto implícito: uma disputa para ver
quem é capaz de dar mais Amor ao parceiro. Quando desejamos Amor, nós
o damos e quando amamos dar Amor é tão bom quanto receber.
Traidores e traídos são todos culpados: os homens por aprenderem
a fazer sexo com os cães ou prostitutas e não evoluírem e também por não
desenvolverem os bons instintos atávicos, especialmente os do Amor; as
mulheres, por acharem que basta um papel e uma aliança ou uma jura de
Amor para tê-los e para reclamar o “cumprimento da obrigação conjugal”,
ou seja, também não desenvolvem os bons instintos do Amor, não se tornam
verdadeiramente esposas ou namoradas. – Riu – Traição é coisa de não
iniciados no Amor de paixão bruta.
Quem “cumpre obrigação sexual” trai, com certeza, porque ele vai
querer fazer sexo sem obrigação. Já sexo como o dos cães (burocrático)

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não satisfaz a mulher e a mulher insatisfeita adquire todos os vícios e tem
chiliques que nem mesmo ela sabe por quê. Eu trairia alegremente todos os
machões que me foderam e, em pouco tempo, teria com qualquer deles uma
convivência cheia de confrontos, chiliques e ranhetices que nem eu saberia
explicar, mas venham cobrir-me de ouro para eu trair o Amor da minha
vida!

A amiguinha estava aflita por estripulias. Ela se deslumbrava com a


minha maturidade e sabia que, mesmo quando eu resvalava para o erotismo
sem-vergonha, não havia nenhum desrespeito, mas Amor e carinho por
quem me dera e amaciara a vida. Ela estava fascinada na brincadeira da
argolinha. Sabia que logo estaria rebolando na paixão bruta e queria algo
com que surpreender o macho da sua vida. Sorriu-me:
─ Já viraste minha mestra e eu quero saber tudo sobre as tuas
estripulias de Amor. Esse teste do bafômetro com brecadinhas... valsa
épica... derrota de Napoleão... jogo da argolinha... Então é expor a
argolinha e negacear?
Eu ri:
─ Também queres derrotar Napoleão! Ele merece. O importante é
tirares o teu da reta e rapidinho, se não pimba! Tens de rebolar para manter
a argolinha esquiva, mas também podes negacear a exposição, tentando
escafeder-te como uma variação do teu jogo da cadelinha contente. – Ri –
Também fiz a brincadeirinha da cadelinha contente, acabando no jogo da
argolinha, sempre balançando a bundinha e tentando fugir para aumentar a
esfregação, a excitação, a volúpia, a agarrada e o frisson da enfiada. Perder
é o nosso objetivo, claro, mas a graça está em dificultar a derrota ao
máximo fazendo o macho rebolar para encher-nos de excitação e nos
vencer. E perder para o Amor e ser submetida pelo Amor... o que é que
tem? Depois de estarmos afeiçoadas ao jogo, com uma argolinha robusta, a
disputa fica muito divertida e o gozo de enfiar e queimar a rosquinha é
incrível. Quando está tudo bem lubrificado e a vara toca com força no alvo,
a enfiada é gloriosa! E sempre podes escolher a argolinha ou fazer troca-
troca e até mudá-la depois de derrotar o bandido... O importante é fazer o
que ambos querem ou satisfazer o parceiro.
Ri deleitada:
─ Tu tens razão: pernas e coração abertos são tudo no Amor. Não
temos segredos nem incompreensões. Estamos sempre abertos a
entendimentos. E o fantástico é que se o outro quer, nós amamos. E se é
novidade mergulhamos de cabeça. O afeto é tanto que eu flutuo em Amor,
paixão, ternura, carinho, prazer, gozo, sempre aberta ao meu homem

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carinhoso, sempre exposta ao meu macho bravio... São afagos macios e
apertadas brutas; o ratinho procurando esconder-se nos meus buraquinhos,
mas, com o frisson, eu me contraio e ele não entra senão depois de muito
tentar; são frissons, pressão, prazer, fricção bruta, gozo excessivo e a paz
de braços ternos que me aquecem de ternura... Tudo com a alma livre de
tabus, pejos, medo ou culpa. É o Amor que preside nossas vidas e abre os
caminhos da paixão e da felicidade. Podes sossegar: tua filhinha está muito
bem casada, muito bem amada e muito bem transada. Não dispensamos
nenhuma brincadeira que possa dar gozo – Ri – Eu mereci o PhD em Amor
e sou digna da minha mestra.
É tanto gozo que me vejo na maior felicidade e rezo para que nunca
acabe. Meu Amor pelo Meu Amigão das Alturas também cresceu e eu me
pego rezando-Lhe para nos manter a saúde e a alegria de amar. Nunca rezei
tanto. Nunca amei tanto o Meu Deus. Devo até estar ficando chata – ri –
porque eu Lhe peço sempre a mesma coisa. Amar o nosso esposo, mesmo
com Amor tórrido, não é pecado. E tu me fizeste tão virtuosa que eu nunca
tenho pecados para Lhe confessar (estou sempre em paz com o próximo) e
rezo pedindo-Lhe que eternize nossa felicidade de amar e me perdoe se
cometo alguma falta ou me excedo no Amor. Mas creio que eu só recebo
Amor d’Ele porque minha felicidade parece cada dia maior.
As horas de passeios, entretenimento, visitas a museus, debates
culturais e de projetos para o futuro são puro enlevo e parecem nos prender
mais do que tudo. Não temos vazios, não temos solidões, não temos
tristezas. Estamos sempre ocupados na alegria de amar, de fazer Amor com
muita paixão ou de gerir a nossa vida. Os caminhos ásperos acabaram após
a minha caminhada pelo tapetão vermelho: tornaram-se lisos, luminosos e
floridos. – Sorri – É tanta luz! Acho que cheguei aos astros...
Mamãe deslumbrava-se com a minha maturidade e o sucesso da
minha união com Fábio. Parecia-lhe um casamento de corpo, alma, mente,
coração, desejo, ternura e carinho desmesurados. E tanta felicidade lhe
dava a certeza de ter papai sempre feliz para transá-la com força bruta. Ele
não tinha cabeça para nada se via uma de nós triste. À mamãe só restava
uma dúvida: olhou-me nos olhos e perguntou-me:
─ E o ciúme, filhinha, tu não tens tido ciúme dele?
─ Nada sério. Às vezes, sinto umas fisgadas no peito, quando ele
olha para uma mulher bonita, mas eu apelo para a minha razão e me
controlo. Eu aprendi muito com as lições de papai e com a tua história de
Amor e ciúme. E eu quero muito viver a linda história de Amor que papai
profetizou e ser feliz e fazer felizes a todos os que amo.
─ Eu brinco de cara amuada: “Com uma mulher como eu, a quem tu

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cantas tantas loas e em que te lambuzas com tanto gozo, ainda precisas olhar
para as cadelas”! Ele se desmancha em pedidos de perdão, afagando-me
tanto e jurando que a viu apenas como uma paisagem e me afaga o ego com
declarações de Amor eterno. Mas ele percebeu que meus amuos não
passavam de brincadeiras para ganhar beijos e declarações de Amor e
ficou deveras brincalhão.
Há dias, ele retrucou rindo: “Ah, tu sabes: quem tem o “pé de
boceteiro” mais lindo do mundo, sempre aberto para o meu deleite
exclusivo, com atrações irresistíveis como as tuas habilidades e o jogo da
argolinha, mais o SPA relaxante dos teus braços e do teu seio acolhedor,
iria fazer o que com uma “galinha profilática”, por mais bela que fosse? Ela
é linda? É, mas não mais do que tu e, certamente, não tem a tua beleza maior
que me encantou ainda mais do que a beleza fascinante que eu via: esse
coraçãozinho terno e sábio mais a destreza da tua mimosinha.
─ O meu riso cada dia mais fácil, transformou-se numa risada
estrondosa: A custo eu consegui capturar sua boca num beijo que jamais
esquecerei, lamentando não poder mais usar o charminho do amuo, mas
ontem quando ele se fixou num traseiro que era realmente uma belíssima
paisagem, eu lhe disse: “Podes admirá-la quanto quiseres, mas não te
esqueças de que os beijos e amassos são meus. Vais ter de pagar multa. E
vai pagando a primeira parcela”!
Ele riu:
─ E de quanto é a multa?
─ Dez beijos ardentes para me abrires toda e me tampares com
lagartixa, Tesões Grandões, cambalhotas. Tudo bruto!
Enquanto me afagava as orelhas para pagar a primeira parcela, ele
riu: “Considerando o encanto das tuas coisinhas lindas e que tens uma
bundinha mais linda do que a dela, a multa não é grande. Valeria até mais
uma espiadela naquela bunda, para ser multado em dobro, mas o teu ciúme
são desejos de beijos e intromissões brutas”. Sorri: “Isso é o que mais amo
no meu macho e procuro compensar o ciúme com o teu Amor, apelando
para a razão em lugar de cenas tolas. Eu confio em ti e não quero azedar a
nossa vida com ciúme, mas posso adoçá-la com Amor, não é”?
Ele sorriu de contentamento:
─ Falas sério, Amor? Sei que tu sempre terás ciúme porque eu
também tenho, mas com nossos meninos empolgantes quem vai querer
profilaxias? Vou pagar-te em dobro: o primeiro e o undécimo.
Ai, Meu Deus! Foram dois beijos que me fizeram arder toda em
fogo vivo e eu implorei: “Vamos correr para o hotel porque me destampaste
todinha e está-me invadindo um tsunami de desejos.” Ri: “ou tu me tampas

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para explodir os desejos ou serei eu a explodir”.
─ Nosso Amor não tem nada de sério. É só rir, brincar e gozar. Até
do ciúme. Nós estamos, sim, vivendo uma belíssima história de Amor e
paixão. Uma paixão tão grande que só pode ser fruto do Amor e que eu hei
de fazer tudo para que dure por toda a nossa vida. E sinto que o propósito
do Fábio é o mesmo. E o mais lindo é que ele não precisa fazer-me
declarações. Ele me inunda de Amor o tempo todo! Mas aquele coração
desencantou e só me fala de Amor – ri – até de forma safada.
Mamãe disse-me muito séria:
─ Deus também tem mesmo uma missão para ti. Devemos ser Suas
protegidas. Ele nos destinou a produzir Amor em prol da ressurreição da
doutrina de Jesus. O mundo dos homens (poder, ideologias, religiões) deu
em merda e Deus resolveu criar o mundo das mulheres (Amor, ternura,
cordialidade), mas as mulheres se deixaram corromper pelos mesmos
vícios dos homens. As mulheres que assumem a política não são nada
melhores do que eles. Por isso é preciso mudar tudo e recomeçar o mundo
desde o início, ensinando as mulheres a serem feminis e dignas e os homens
a serem machos dignos. Ele decidiu retomar o mundo a Satanás para
restaurar o Paraíso. Por isso nos enche de Amor e felicidade para que
possamos glorificá-Lo e sermos úteis aos Seus desígnios.
Creio que tu também já estás trabalhando no Seu projeto com tuas
amiguinhas e amiguinhos, inclusive Ric, ensinando-lhes os princípios de
uma vida digna e a amar. Foi Ele que fez teus caminhos se cruzarem com os
de Fábio e te induz a buscares a felicidade. Só os seres felizes podem gerar
Amor verdadeiro. E quando o conceberes no teu ventre... Quando somos
por Deus e quando estamos com Deus, Ele nos protege de Satanás e nos
induz a fazermos o certo, o justo, o bom, o digno e, sobre tudo, a amar e nos
dá a felicidade para gerarmos Amor. E é tão fácil: como tu sabes, é só por
no coração o objetivo de amar; é só ter um gesto de simpatia para todos.
Sorri-lhe:
─ Isso é muito provável porque o meu coração vive cheinho de
Amor e o Amor é Deus. Logo, meu coração está repleto de Deus. Mesmo
com os meninos e os homens que só pensavam em me foder, eu sempre fui
gentil e dei-lhes Amor. O machismo era defeito de educação, não era culpa
deles. Mas se lhes faltava o Amor, sobejava-lhes paixão e desejo por mim,
ainda que mal geridos. E ser desejada me encantava. Por isso amava-os e,
quando fiquei segura das minhas destrezas marciais e de controlar a
mimosinha, apenas fechando as pernas, eu dava-lhes Amor sem calcinha e
até nua. Quem sabe se sendo amados, aprendessem a amar. Só senti aversão
pela brutal cafajestice de Edu, mas, até extrapolar, ele recebeu Amor e até a

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minha nudez, e o melhor: não foi em vão. Ele regenerou-se. Então minha
missão é igual à tua: gerar Amor!
Mamãe sorriu:
─ Com certeza! Mas não é só no teu ventre, não, mas no coração das
pessoas como fazes com teus pactos. É a missão de todas as pessoas dignas
e de boa índole; dos que se impõem a dar Amor aos filhos em lugar de
tapas, ordens e proibições, como fez o pai do Bubu, estimulado pelo pacto;
de todos os que se decidem a alimentar o gene do Amor em detrimento do
gene do poder, do mandonismo.
Tu estás certa: teus machões poderão se redimir se assimilarem o
Amor que lhe deste e passarem a alimentar o gene do Amor e a repudiarem
o poder. Quem deles não estará lamentando a perda e se perguntando por
que te perdeu? Edu parecia um caso perdido, mas, mordido pelo teu Amor,
terá se perguntado por que não te transou... e se redimiu. O Amor que
recebemos (ainda que à revelia) impregna-se no corpo e no coração e
jamais se desvanece. Se o perdermos, vamos anelar por ele a vida toda. Ele
vence o desamor. Para Jesus, qualquer pessoa, digna ou bandida, que, de
alguma forma, fosse tocada pelo Amor, se converteria ao Amor como o
Edu. Essa é a razão de Jesus mandar-nos amar nossos inimigos e dar a outra
face.
Eu ri:
─ E eu dei-lhe o pé na bunda!
─ Jesus também chicoteou os vendilhões do templo. Quando as
pessoas teimam em ser más, têm de ser castigadas. E, como Jesus, tu não
tinhas alternativa: um estuprador! Se cedesses serias indigna e certamente te
tornarias promíscua, o que tolheria a tua felicidade e os teus préstimos a
Deus. Tu achas que terias conquistado o coração de Fábio se tu fosses a
dadivosa da universidade?
Eu me confrangi, abracei mamãe e disse:
─ Eu sou mesmo a mulher mais sortuda do mundo e o melhor é que
dar Amor é bom demais e gerar também, não é?
E com meiguice:
─ Tu providenciaste o meu bebezinho?
─ Vou fazer o teste hoje. Mas tu o terás! Será o bebezinho mais
amado do mundo, inclusive por Deus, porque ele também estará nos Seus
desígnios, com certeza!
Corri os olhos pela suíte:
─ A suíte ficou linda. Vocês capricharam na nova decoração. Há até
um bom espaço para eu dançar e fazer strip-teases para deixar o esposo da
minha alma a arder em desejo. E a janela deixa entrar a luz do luar. Ah, as

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noites de lua cheia! A deusa de mármore sob a luz mortiça da lua recebe de
repente um sopro de vida e põe-se a dançar, cheia de lascívia, para excitar
o seu homem... Que mais eu posso querer para nadar em felicidade? Como
poderia não amar? Como não gerar Amor?
Mamãe sorriu com ternura:
─ Enquanto estiveste fora, bateu-me uma saudade louca de ti e eu
rememorei toda a tua vida e estive revendo os álbuns de fotografias antigas.
Eu tive muita saudade daquela menininha linda que eu vestia de princesa
toda vaporosa para ser o encanto das nossas festas. Tu bem sabias do
encantamento que causavas nas pessoas e ficavas que eras só orgulho, toda
emproada. Desde então, sempre foste a maior atração das nossas festas! A
saudade foi tanta, que eu mandei vir a costureira que fez os teus vestidos de
casamento e do debu e pedi-lhe para fazer uma roupinha igualzinha à de
uma das fotografias que mais me encantou, nas tuas medidas atuais. Ficou
linda!
O Amor te tornou uma mulher exuberante e sedutora, mas para mim
continuas a criança que sempre adorei e essa roupinha trouxe-me de volta a
saudade louca de quando tu eras pequenina. Deixa-me lavar-te e passar-te
talquinho na bundinha, por Deus, e vestir-te para seduzires o teu homem
como eu te vestia para enfeitiçares nossos parentes e amigos. – Afagou a
própria barriga – Queira Deus que este bebezinho seja uma menina: sinto
tanta falta da menininha que tu foste. A saudade é tanta que acho que é Deus
a induzir-me para dar-Lhe outra menina como tu. O mundo dos homens deu
em merda e, ao descobrir nossos planos, embora tenha a eternidade, Ele
deu-se pressa em criar o mundo das mulheres com fulcro em Jesus. –
Sorriu – Depois eu vou buscar o teu homem para ti.
Eu abracei-a emocionada:
─ Deus te fez todinha de Sua matéria prima mais preciosa: Amor! –
Sorri – Vou saciar minha saudade da mãezinha de outrora.
─ Nisso nós também somos iguais: quando nós amamos e queremos,
amamos e queremos muito!
Mamãe despiu-me com ternura, como aquela mãezinha carinhosa da
minha infância, banhou-me e fez-me deitar de bundinha para cima e
empoou-me com talco. Depois me virou e pulverizou-me a barriguinha até
as virilhas. A minha infância invadiu-me a mente e eu sorria e batia palmas
como a menininha que eu fui. Vestiu-me aquele primor de vestidinho fofo e
fiquei igualzinha á menininha da foto, só que voluptuosa. Dividiu-me os
cabelos ao meio e prendeu-os, acima das orelhas, com lacinhos vermelhos,
tipo Maria Chiquinha. Pôs-me meias e sapatilhas de menina e, deslumbrada,
abraçou-me e beijou-me emocionada:

490
─ É a minha menininha!
Depois, levou-me para um grande espelho que ornava a suíte e
pediu-me que desse uma voltinha. Deslumbrei-me comigo própria e,
emocionada com o carinho da mamãe, pus-me a dançar. Mamãe estava
maravilhada da sua obra. A que gerara, criara, educara, enfeitara e, sobre
tudo, amava: disse-me com lágrimas nos olhos:
─ Se eu fosse um homem, filhinha, eu te prenderia no meu coração e
nunca te trocaria por nada deste mundo.
Envolvi-a nos braços:
─ Eu sei o que queres dizer, mamãe. Eu também conheço tua beleza,
inclusive nua, e sei das performances da tua mimosinha. Conheço também
teu coração, tua mente e tua alma. Por isso, eu sei muito bem porque papai
caiu de amores por ti e te é fiel como um cãozinho. Isso é o que me
tranquiliza em relação ao Fábio.
Mamãe derreteu-se em ternura:
─ Ele também está caidinho de amores por ti. Prepara-te, filhinha, tu
estás tão maravilhosa que poderias seduzir até uma estátua de pedra. Põe
todo o poder da tua sedução na tua dança. Encontrarás mimos no banheiro
que, com essa roupinha, são o nosso presente pela tua volta triunfal e pela
inauguração do teu ninho de Amor em grande estilo. Eu vou buscar o Fábio.
– Riu – Não precisas abafar os teus gemidos. Se os ouvirmos, saberemos
que estás bebendo no cálice da felicidade em grandes sorvos. Queremos
que vocês tenham uma fartada de felicidade. Abraçou-me cheia de ternura e
foi buscar o Fábio. Com uma carinha esplendorosa de felicidade, chamou-o
e disse-lhe, com um sorriso cheio de malícia:
─ Vai ver a tua mulher. Ela está ansiosa para te mostrar a suíte dela.

Karina aprimorava o seu estilo. Premiou-me com todo esse longo


capítulo, que dispensava edição, e um PS: “Já tenho o Macho que eu
mereço num Homem encantador; por isso, o texto segue purpúreo como a
paixão que me arde nas entranhas e eu hei de manter acesa todos os dias da
minha vida. A fascinação do Fábio por mim me deixa cada dia mais
deslumbrada com a garota que vocês fizeram de mim. Deus ajudou-os,
claro, mas vocês foram perfeitos! Estou pensando como recompensá-los.
Deus! Em dobro eu não conseguiria, mas dar o mesmo aos teus netinhos não
basta, não é?
Lancei a seguinte nota, enternecido:
─ Isso é o mínimo que esperamos de ti, especialmente em relação
aos teus filhos, mas também quero ver teu rostinho sempre risonho para me
fazer feliz e eu poder fazer a felicidade de tua mãe e ela fazer a de todos

491
nós...

Fábio é muito denodado e capaz. Passou a estudar à noite e


trabalhar de dia e, em um ano e meio, conseguira um promissor emprego
num importante escritório de engenharia, alugou um bom apartamento e
levou Karina para morarem juntos. Karina dava aulas de piano, dança e até
de strip-tease para mulheres e garotas que queriam seduzir seus maridos ou
namorados ou serem profissionais de casas noturnas, mas Fábio não
permitia que ela contribuísse para as despesas da casa. Ela poupava cada
centavo, depositando tudo num fundo de investimentos. Viviam
confortavelmente e, com suas economias que eu dobrei, Karina deu entrada
num belo terreno e Fábio fez o projeto da casa que receberá ampliações
futuras, quando nascerem os filhos... E a nave segue seu curso em águas
tranquilas e vento a favor...

Com a felicidade de Karina eu estava tranquilo. Tinha agora de


cuidar de Ricardinho. Estava com doze anos. Chamei-o para uma conversa
longa e séria. Ele já recebera bons conhecimentos sobre drogas, fumo e
bebidas. Também já sabia alguma coisa sobre AIDS. Disse-lhe:
─ Tu estás prestes a entrar na puberdade, ou seja, em breve tu serás
um adolescente. Talvez ainda demore um ano ou dois, mas não quero que tu
me apareças doente ou com uma garota grávida. Precisas saber de algumas
coisas importantes sobre sexo para não trombares de frente com a vida. É
natural que os meninos, ao entrarem na adolescência, sintam atração pelas
meninas e queiram namorá-las. Isso não quer dizer que tenhas de transar
com elas. Tenhas sempre em mente que tu não tens de provar nada a
ninguém. O sexo dá prazer, mas para ser realmente prazeroso é preciso que
se tenha desejo de fazê-lo. É preciso que o corpo o queira. É preciso que
haja a chamada atração sexual.
Todavia, os apelos sexuais são tão intensos nos meios de
comunicação que meninos de doze anos, e até menos, têm curiosidade em
aprender tudo sobre sexo e até em praticá-lo. Tu nunca foste proibido de
nada e também não serás proibido da prática do sexo quando sentires
necessidade de fazê-lo. Entretanto existem riscos muito sérios, nas relações
amorosas, que tens de evitar a qualquer custo, como o contágio de doenças
sexualmente transmissíveis: AIDS, hepatite, blenorragia, sífilis, etc. A
possibilidade de engravidares a menina também é certa se não te
precaveres. E tu não tens meios para ter, sustentar e educar um bebê, que
implica em uma responsabilidade muito grande e custos muito altos e ainda
tens muito que amadurecer para cuidares da tua vida. Não se deve gerar

492
uma criança de modo precário e largá-la na rua, como muita gente faz.
Repeti a aula sobre anatomia do aparelho reprodutor e fecundação,
exatamente como ensinara Karina e concluí:
─ Como vez, a finalidade essencial do sexo é gerar bebês, ou seja, a
reprodução humana, sem a qual a humanidade desapareceria ou nem teria
chegado a existir. Por isso, Deus (ou a natureza) proveu o ato da fecundação
de prazer. É, filho, as pessoas brincam de fazer bebês de mentirinha, só
pelo prazer. Mas para ser de mentirinha, é preciso impedir a fecundação.
─ E como é que se faz isso, papai?
Deixando de lado as profissionais (as prostitutas), tu vais encontrar
três tipos de garotas. As que trocam constantemente de parceiros: hoje estão
com um, amanhã, com outro... Essas buscam prazer. Querem apenas gozar,
ainda que com alguma ternura. Com essas, não transes sem camisinha em
hipótese nenhuma! O risco de contrair AIDS é altíssimo. Com esse tipo de
garota, deves evitar qualquer romance sério, porque não tens nenhuma
garantia de fidelidade. – Ri – É pegar, comer (com camisinha, de
preferência duas sobrepostas), e largar.
Há as que querem um romance mais ou menos longo, meses ou
mesmo alguns anos. Nesses casos, se houver certeza de fidelidade e
responsabilidade, ambos podem fazer exames para comprovarem que não
são soropositivos e fazerem sexo sem camisinha. Mas é preciso ter
confiança absoluta na fidelidade do parceiro, ou parceira, e o exame
laboratorial negativo. Todavia é absolutamente necessário usar um
anticoncepcional.
O terceiro tipo de garota é a que procura uma relação para a vida
toda, com Amor, ternura, projetos de vida, filhos, fidelidade conjugal... Mas
mesmo nesse caso deve haver o exame anti-AIDS.
─ Como Karina e Fábio, papai?
─ É, filho. Só que tua irmã casou virgem. Eu e tua mãe tínhamos
certeza de nunca ter tido AIDS e ela não teve nenhuma relação de risco
antes do casamento, nem com o Fábio, e pretendem que o casamento dure a
vida toda, na mais absoluta fidelidade conjugal. Karina é o melhor exemplo
do terceiro tipo de garota. A que procura Amor, ternura e uma comunhão de
vida, de projetos, de objetivos para toda a vida. É claro que o sexo é
importante, mas ela não o admite isoladamente desses objetivos. Garotas
como Karina são raríssimas.
─ Tu achas que eu devo procurar uma garota como Karina para ter
um romance?
─ Seria o ideal, mas hoje em dia, com tanta apelação erótica, a
virgindade já é tão difícil para as mulheres que, tradicionalmente, casavam

493
virgens, quanto mais para os homens! Além disso, encontrar uma garota
como Karina, nos dias de hoje, é uma missão quase impossível. Seria
preciso um dilúvio de bom senso na humanidade. Mas isso parece cada dia
mais distante.
Entretanto, ainda é cedo para transares, quanto mais para pensares
numa relação para a vida toda, mas se tiveres a ventura de um dia encontrar
uma garota como Karina trata de conquistá-la e segurá-la de todas as
formas possíveis, mesmo que ela não seja virgem, porque é muito difícil
teres uma segunda chance. Se isso acontecer antes de estares preparado
para assumires o controle da tua vida, podemos estudar um relacionamento
sexual e até um “pré-casamento” – se a garota estiver realmente doida por ti
– até que ambos possam constituir uma família de fato, com fidelidade e
com todos os cuidados contra a AIDS e a gravidez, claro!
Vocês teriam uma vida romântica, mas cada qual continuaria
morando em casa dos pais até que tu estivesses formado e com renda
decente. Como vez, isso ainda está muito longe. É para quando tiveres
barba na cara. Tu ainda tens muitos anos para encontrares a tua Karina. Mas
não cuides que será fácil encontrá-la. Eu levei muitos anos para encontrar a
tua mãe, que nem era virgem! Fábio teve muita sorte de encontrar a tua
irmã. Se ela não existisse, ele ainda teria muito que procurar. Naturalmente,
estou falando de uma garota que reúna todas as qualidades desejáveis numa
esposa: ternura, beleza, simplicidade, inteligência, cultura e fidelidade
absoluta. É também altamente desejável que não fume e não beba e não use
drogas. Fumo e drogas são insuportáveis e a bebida é tolerável se
moderada. É uma tarefa difícil, mas fascinante.
─ Seria um casamento como o de Karina!
─ Sim. Mas Fábio já tinha barba na cara e ainda tem um tempo para
arrumar sua vida e Karina tem três anos mais do que tu. Além disso, cabe
ao homem a responsabilidade pela manutenção da casa. Eu estou te dizendo
tudo isso para prevenir que tu me apareças com uma doença grave ou com
uma garota grávida ou as duas coisas. E também para saciar a curiosidade
natural que os jovens têm em relação ao sexo e que não percam tempo e
dinheiro atrás de revistas e livros pornográficos que não trazem nada de
útil.
Tu podes perfeitamente esperar até os quinze, dezesseis, dezessete
ou dezoito anos, ou mais, para começares a pensar nisso. Por enquanto, o
que tu deves fazer mesmo é estudar muito para te preparares para assumir o
controle da tua vida e a responsabilidade de manter uma família.
Podes também ir observando as garotas e seus procedimentos.
Convém ires fazendo amizades com muitas delas para melhor observá-las e

494
descobrir coisas sobre elas e aprenderes a identificar cada tipo. Karina
teve um longo aprendizado, analisando meninos, e até homens, até encontrar
o Fábio. Tornou-se craque em analisar as qualidades de um homem e,
quando descobriu Fábio, soube que estava nos braços do melhor homem
que ela poderia encontrar.
Quando, eventualmente, descobrires alguma com as qualidades que
eu enumerei e que tu desejes para ser a mãe dos teus filhos, trata de
conquistá-la, falar com seus pais e trazê-la aqui para nós a conhecermos e
estudar um meio de uni-los para sempre. Tu tens, na tua irmã e na tua mãe,
exemplos maravilhosos em que te espelhares. Entretanto, em qualquer
época que tu decidas transares, por achares importante para ti, não leves a
garota para trás de moitas ou lugares perigosos. Faça-o em casa dela, ou
traga-a para cá. É bom que vocês se aconselhem com os pais dela ou com
os teus, antes de transarem. E nunca esqueças de que responsabilidade e
prevenção são fundamentais.
Eu quero fazer de ti um homem de verdade. Mas ser um homem de
verdade não significa sair por aí comendo todas as fêmeas que encontrares.
Isso qualquer animal também faz. Um homem de verdade tem de ser capaz,
digno, correto e responsável pelos seus atos. O que eu espero de ti é que
escolhas os caminhos certos e faças tudo com responsabilidade e que não
esqueças de que aqui em casa é que tu encontras os teus melhores amigos e
conselheiros. Eu, tua mãe, tua irmã e, agora, também o Fábio, queremos o
melhor para ti e estamos sempre prontos para esclarecer qualquer dúvida
que tiveres. Tua irmã sempre me surpreendeu e já nos está dando lições de
vida. É-me lícito esperar mais de ti que és homem. É, filho, eu tenho muito
orgulho da tua irmã e espero orgulhar-me muito de ti.
Decerto tu tens reparado que dedicamos mais tempo e atenção à
educação da tua irmã, mas isso não significa que a amemos mais do que te
amamos. As meninas correm muito mais riscos do que os meninos e
precisam de instruções seguras para não ser severamente castigadas pela
vida no trato com os meninos e consigo próprias.
─ Eu sei, papai, mamãe me falou. Eu quero o bem de Karina e fico
feliz com o Amor que ela recebe.
Dei-lhe uma cópia impressa desta história até o capítulo anterior:
─ Aí tens um resumo da minha história com tua mãe, e a de Karina.
Com o que eu acabei de te dizer, deixa-te completamente informado sobre o
Amor e também sobre o sexo, o prazer e os seus perigos. Saberás como
identificares os vários tipos de garota: a promíscua, a amásia e a esposa
ideal. Tens exemplos de cantadas, de elogios, de declarações de amor e de
como praticar o sexo de maneira prazerosa e segura. Não haverá mais

495
porque teres qualquer curiosidade até que sintas necessidade de praticá-lo.
Tens também instruções sobre exercícios para fortalecer o músculo
do pênis e o do reto que tornam o ato sexual mais demorado e, se
contraídos ao mesmo tempo, podem inibir a ejaculação até quatro vezes,
prolongando mais ainda a transa, dando muito mais prazer à mulher, o
objetivo de um verdadeiro macho. Há também um exercício que aumenta a
intensidade e a duração do orgasmo, intensificando o teu prazer. Tens
alguma pergunta, filho?
─ Tenho, sim, papai. Existe algum meio de a gente ter prazer sexual
sozinho?
─ Existe, sim, filho. É a chamada masturbação, em linguagem culta.
Tu empalmas o pênis com a mão como se esta fosse uma vagina e fazes os
movimentos de vai-e-vem com a mão. Tu controlas a velocidade dos
movimentos e a pressão da mão sobre o pênis de acordo com o prazer que
sentires até que tenhas o orgasmo, mas o orgasmo só ocorre depois da
puberdade. Portanto, só o faças quando sentires necessidade. Não forces a
tua natureza. Deixa que as coisas aconteçam naturalmente.
Não te estou dando uma aula de sacanagem. Estou-te fornecendo
conhecimento para perceberes e entenderes a chegada da puberdade, livre
de tabus e preconceitos. Se tentares ser homem antes do tempo, poderás te
afligir. Tu ainda és criança e estás na idade de estudar e ler para enriquecer
tua sabedoria e conquistar uma menina digna de ti. Tu também terás de ser
digno dela.

496
EPÍLOGO

Estamos num dia de festa. Fábia, nossa filha mais nova e afilhada de
Karina e de Fábio, está completando cinco anos, dando seus shows de
dança e piano. Aprendeu com Karina que também a ensinou a ler e escrever
e são unidas como unha e carne. Anselmo também é muito afeiçoado à
Fábia e aprimora seus estudos ao piano. Muitos filhos do Amor têm nascido
no nosso pequeno mundo, nos últimos anos, e muitos estão para nascer.
Karina está com uma barriga de cinco meses e ensinou Fábia a amar
e a beijar o bebezinho que sairá do barrigão... Todas as amiguinhas de
Karina estão casadas e felizes, vendo suas barrigas crescerem, inclusive
Fátima que se encantou de Bubu e receberam as bênçãos do padre
Ambrósio, mesmo com a barriguinha anunciando Amor... Todas escolheram
seus pares dentro do nosso pequeno mundo. Nicete, a irmãzinha de Fábio,
continua fascinada por Jonas, o filho mais velho de Márcia, e tem a
barriguinha anunciando o segundo Amor.
E todas continuam mais amigas do que nunca. Márcia, Mirele e a
amiga Marilda também ostentam barrigas prenhes. Resolveram acrescentar
mais um aos preexistentes. Até Dona Jurema, mãe de Fátima, encheu-se de
cuidados médicos e, antes que a menopausa a impedisse, quis acrescentar
sua contribuição ao nosso pequeno mundo, exibindo orgulhosa sua
barriguinha de sete meses ao lado da filha também grávida. Aninha caiu de
amores pela ternura de Nic, amiguinho de Karina, e está radiante com a
barriguinha crescendo.
Todas se entusiasmaram com o sucesso na educação de Fábia, tão
fascinante quanto Karina, e com o sucesso na educação dos próprios filhos,
seguindo os nossos princípios. Com Fábia, descobriram que Karina não foi
um milagre ou um mero acaso, e que é possível educar uma criança com
criatividade, fora do horrendo patriarcalismo, e quiseram tentar mais uma
menina educada como Karina ou um menino educado como Ric para que
garotas e garotos encontrem seus parceiros ideais dentro do nosso pequeno
mundo. Se eles serão obrigados a sonhar sonhos de adulto, hão de poder
realizar seus sonhos com dignidade.
Ric traz garotas para transar em sua suíte. Procura por uma muito

497
meiga, mas já botou olhos cobiçosos na amiguinha mais nova de Karina que
está deitando peitos e bunda e curvas voluptuosas, como um pássaro
emplumando, tornando-se num repente um fascínio de garota. Karina
explodiu em júbilo quando ele lhe perguntou dela. Tanto ela quanto a mãe
vivem tramando pela felicidade de todos ao seu redor e dar em dobro tudo
o que recebem é seu objetivo maior. Quando ganhou a amizade de Cecília,
encantou-se com sua inteligência e meiguice: “Tão novinha, poderei moldá-
la numa esposa ideal para Ric”, pensou. E então... respondeu-lhe com um
sorriso muito meigo:
─ Tu gostas de Cecília?
─ Ela é deveras linda e sedutora. Devo ter estado muito abestalhado
com “ficantes” para não a ter notado. Estou tentado a cantá-la, sim, mas ela
é uma das tuas pupilas. O que é que tu achas?
─ Ela é uma ternurinha fascinada por ti. Tem cabecinha e
coraçãozinho lindos e tornou-se muito sedutora. Mas ela não é uma menina
para se cantar... É para se amar com todas as verdades da alma. Cuida para
não fazê-la chorar, porque eu me torno tua inimiga... Inimiga verdadeira!
Não lhe tires o cabacinho sem que estejas absolutamente seguro de que a
queres para a vida toda. – Riu – Nós somos muito unidas, mesmo contra
irmãozinhos muito amados, quando safados.
Sorriu meiguice:
─ Vocês formariam um lindo par e eu adoraria ser a madrinha do
casamento de vocês sob as bênçãos do Padre Ambrósio. Esse é um dos
sonhos mais queridos que eu embalo desde que ganhei sua amizade
verdadeira. Se tu queres saber, eu a eduquei para ser a tua mulher e a tua
fêmea, para te completar a vida.
─ Tu queres dizer que ela é virgem?... Que ela ainda não...
─ Claro! Cabacinho é uma vez só! E ela está a guardá-lo para o
homem da sua vida. É o seu presente de núpcias para o homem que a
encantar. Na verdade ela é totalmente virgem. Teve apenas um namorado e
platônico: tu. Ensinei-lhe tudo sobre sexualidade, mas ela está fascinada
para praticar contigo e prender-te na sua ternura para toda a vida. E ela já
tem cabacinho novo para substituir o original. Aquele, pompoir, que dura a
vida toda. E depois de deflorada vai avançar no treinamento: loucuras na
cama de que nenhuma das tuas “ficantes” é capaz, por mais fogosa que seja.
Se tu a amas deveras podem combinar, digamos: um “namoro
conjugal” para completar-se no futuro quando vocês tiverem amadurecido e
tiverem renda para manter um lar. Embora criança, tu és muito responsável,
inteligente, culto, tens planos e sabes o que queres da vida e ela também.
Não fora ela educada por mim, com a educação que eu recebi de mamãe e

498
de papai.
Eu suspirei por um menino como tu, desde antes da puberdade, a
quem eu pudesse premiar com minhas virtudes e meus mimos, mas... só
encontrei tudo em Fábio. Vocês, porém, embora crianças, são ambos vinho
de boa cepa, como diria o papai, e poderiam ter uma vida amorosa muito
intensa com os devidos cuidados para não engravidá-la antes da hora. No
tempo certo, receberiam as bênçãos do Padre Ambrósio e montariam casa –
sorriu – mas eu não abro mão de ser a madrinha de um enlace tão lindo.
Prepara-te, porém, para fazeres sexo selvagem, TVC, TVG e tudo o
mais que não podes fazer com cadelinhas e “ficantes”, porque elas
grudariam em ti como emplastros. Eu posso dizer isso de cátedra porque eu
sei o que são essas loucuras. Certamente, ela vai querer testar-te para saber
se és adequado para ela e Cecília quer fazer tudo direitinho. É virgem, mas
está escoladinha por mim. E eu dou educação completa: tudo o que eu
aprendo de mamãe e papai e minhas experiências com namoro e Fábio eu
repasso para as minhas amigas, além do livro de papai, claro!
O casamento para nós é namoro eterno. Consideramos “marido”
uma palavra muito formal, muito oficial, soa-nos como um palavrão. Para
nós, o nosso homem tem que ser o nosso eterno namorado. A ternura e a
atenção têm de ser o nosso ambiente conjugal, com ou sem papel passado.
O que nos importa são corações atados de nó cego: casamento de fato. De
todas nós, a única que perdeu a virgindade antes da união eterna foi Aninha,
mas foi por Amor, enganada por um menino cafajeste.
Cecília é a irmã mais nova de Gisele e acabou de ter a menarca,
mas está preparada para encantar a vida inteira de um homem e tu só tens de
amá-la e lhe ser fiel. Se concordares com tudo, assina com ela um pacto de
amizade verdadeira, comprometendo-te a amá-la eternamente e ela a ti e vai
fundo que ela está louquinha para ser tua.
─ Se ela é de fato fascinada por mim, tu já és nossa madrinha. Mas,
Meu Deus, tu me dás de mão beijada o que papai disse ser dificílimo de
alcançar. Como posso te compensar pelas informações preciosas e por teres
educado a mulher dos meus sonhos?
Karina estava realmente feliz ao sorrir-lhe:
─ Fazendo-a feliz para que tu o sejas e todos nós também o sejamos.
Tu tens uma menina realmente maravilhosa e não precisas nem cantá-la, mas
faz-lhe uma declaração de Amor sincera com os desejos do teu coração. É
tudo de que uma mulher precisa para abrir-se, dar-se e ser feliz.
Na festa estavam ambos enleados em abraços e beijos e, logo
depois da meia-noite, desapareceram. Foram para a suíte de Ric para o
teste da encoxada e sustentação da ereção e a menina virgem pedia mais

499
força até gemer alucinada num orgasmo que lhe tirou o juízo, a compostura
e a calcinha. Gritou: “Faz-me tua mulher! Queres-me nua”? Num átimo
estava peladinha e atirou-se nele toda fremente. Ele jogou-a na parede e ela
perdeu também a virgindade, o chão, a imaturidade de adolescente e a
solteirice, tudo o que a incomodava... Acabaram numa TVC tórrida e ela
sentiu-se uma mulher completa, iniciada no Amor, fascinada pela paixão
bruta e casada deveras com o homem da sua vida, tudo o que almejava. De
volta à festa eram ternura, sorrisos, abraços e beijos, esquecidos do mundo
ao redor. Atenta, Aline, que não perdia nenhum movimento, comentou rindo:
─ Cecília estava com a carinha de quem recebera uma declaração
de Amor muito significativa, mas reapareceu com uma carinha de
metidinha! Eu ri orgulhoso:
─ É que o nosso filho é um macho muito eficiente com meninas
especiais que sabem o que querem. Ele tocou-lhe o coração e a excitação e
formam um par perfeito.
De repente Aline deu um berro:
─ Olha aqueles dois pirralhinhos! A filhinha de Marilda mal
completou onze anos e o garoto tem apenas treze! Com que ternura se
comem! Aquilo vai ter Amor lá dentro!
Dito e feito. Mais um sorriso devorador e aconchegaram-se. A
menina tomou-lhe a mão afoita e cheia de meiguice, toda agitadinha.
Conversaram por vinte minutos. Ela sorriu deslumbrada e desapareceram.
Ao reaparecerem, Aline notou-lhe a carinha de quem tinha ganhado o
brinquedo da sua vida...
No nosso pequeno mundo todos são precocemente instruídos e
ninguém proibido. Recebem ensinamentos desde a mais tenra idade,
aprendem a serem dignos, respeitar direitos e a Lei de Deus e antecipar-se
em fazer aos outros o que querem que eles lhes façam, aprendendo a amar, a
fazer o bem e a fartar de Amor o amado.
Assim que aparecem os primeiros sinais da puberdade ou enjoam
dos brinquedos, aprendem tudo sobre sexualidade: sexo, amor, paixão e
prazeres, até os extremados, inclusive a ter genitais empolgantes. Aprendem
os prazeres e perigos do sexo e a namorar com dignidade, buscando o
casamento de fato e transcendental, com lealdade ao parceiro, para
comungarem a vida, não sacanagem. O sexo entra em suas vidas
naturalmente como um fato da vida, sem tabus ou preconceitos e todos são
livres para falar nele com naturalidade e dignidade.
Assim, não há o que temer pela dignidade do pretendido e, se o
Amor acontece, eles são livres para se testarem e até experimentarem se os
genitais são compatíveis. Se tudo converge e eles se empolgam só têm de se

500
brutalizar num casamento de fato.
Embora desejável o comprimento do pênis deixa de ser essencial,
porque, se a vagina é empolgante, não há necessidade de pênis bruto, mas a
menina pode recusar a conclusão do ato experimental se o pênis não for do
seu agrado e ela quiser tudo nos trinques. O pênis grande impede
penetrações brutas que possam ferir o útero.
Após os quatorze anos ou terem filhos, se o propósito de se darem
para a vida toda permanece inabalável, casam-se legalmente no civil e pelo
padre Ambrósio que é amado por todos. Parece incrível, mas ainda não
houve propósito quebrado. Todos se cativam pela ternura e é quando a
ternura é envolvente que se casam de fato e, confirmado, casam legalmente.
Todos se amam. Todos se dão. Todos são determinados. Ninguém manda em
ninguém e quem ousasse seria posto para escanteio. Chegam à puberdade
com um acervo de conhecimentos formidável, inclusive sobre sexualidade,
e se o Amor acontecer eles estão preparados para namorar com dignidade e
até para o casamento de fato, mesmo açodado como naquele casalzinho
ansioso pelos novos brinquedos.
Com a prática da sua educação, Karina criou com Fábia uma
espécie de escolinha infantil. À medida que aprende, Fábia vai ensinando
às amiguinhas e amiguinhos tudo o que Karina lhe ensina: cantorias para
aprenderem a ler e escrever e brincadeiras comuns a meninas e meninos.
Lendo com fluência, fazem leituras em grupo e declamam poesias.
Divertem-se com cultura a par de folguedos infantis.
Ao enjoarem das bonecas, as amiguinhas de Karina, aprenderam
com ela, sobre menarca e fecundação e tiveram a sexualidade
desenvolvida. Karina não lhes sonegava nada do que aprendia. Os meninos,
ao crescerem, iam se agrupando com meninos, sem abandonarem as
meninas que os iam ensinando como conquistarem meninas dignamente e
serem empolgantes, no que eram ajudadas por Ric que os ensinava a ser
homens dignos. Fábia e outras meninas seguiriam, com certeza, os passos
de Karina.
Aquela menininha com peitinhos que mal desabrochavam sabia o
que estava fazendo tal qual Cecília ou Karina e nunca faria filmes
pornográficos no banheiro do colégio. Era uma femeazinha completa e
digna, pronta para trocar de brinquedo na maior empolgação, mas com
certeza o menino também. Aqueles meninos alegrinhos estavam casados de
fato e teriam vida normal estudando, divertindo-se e manipulando os seus
novos brinquedos com aquela ternura que ressumava de suas carinhas.
Aline olhou ao redor:
─ Temos uma bela safra de barriguinhas prenhes – riu – até Dona

501
Jurema!
Ri:
─ Enciumada, é? Olha que fazemos outro!
Eram tantas barriguinhas embicando que eu comentei:
─ Fábia vai ter muitas amiguinhas e amiguinhos para ensinar a ler,
dançar, namorar, amar e a ter procedimentos corretos... Ela está nos saindo
uma nova Karina e até mais completa. Ela já é uma certeza, não um
experimento.
Aline sorriu deslumbrada:
─ O que não pode a educação com Amor e atenção! Amar será tão
mais fácil! Com tantos candidatos primorosamente educados e fascinados
pelo Amor, escolher parceiro será apenas uma questão de “o meu tipo
preferido”. – Sorriu embevecida – Acho que estamos formando o embrião
de um reino só de príncipes encantados e princesinhas fofas onde os
casamentos serão felizes para sempre... Se tu queres saber, eu estou com
ciúme, sim, mas é um ciúme bom.
Ela afundou no meu peito entre os meus braços e me puxou as mãos
sobre sua barriguinha:
─ É ciúme de tanta barriguinha se destacando e a minha estar tão
chatinha! É ciúme de tanta barriguinha produzindo Amor e sentir a minha
estéril. É ciúme de ver a barriguinha da Dona Jurema acariciada pelas mãos
do marido. É ciúme da barriga linda de Karina que logo parirá o nosso
netinho. É ciúme da carinha de metidinha de Cecília que, num futuro
próximo, gerará mais Amor, mais netinhos... É ciúme do rostinho daquela
menininha fofinha deslumbrada de Amor que também dará soldados para a
obra de Deus... E o mais fantástico, eles nem precisam se alistar: já nascem
soldados.
Se tu queres, põe alegria no meu rostinho, para me deixares com
cara de metidinha, e Amor no meu ventre para que esses amores que estão
nascendo tenham uma chance a mais para escolher os seus pares e gerarem
novos amores, mais netinhos, e mais mundos pequeninos de paz e Amor
para a glória de Deus... E o melhor: teremos um batalhão de Karinas para
educar novos amores. E eu... eu estou fértil e com uma fome insana de
emprenhar do Amadinho... Acho que é Deus induzindo-me a dar-lhe mais
uma Karina. Eu quero viver rodeada de netos, bisnetos, trinetos... e sempre
dando Amor e encantamento ao meu macho bravio...
Karina surpreendeu os dois pombinhos atracados num canto e
sorriu-lhes safada:
─ Vocês estão com uma carinha de bagunceiros... Andaram
desafiando o Amor, mas ele venceu...

502
Eles mijaram-se de rir e Cecília retrucou-lhe:
─ Nós estamos bagunceiros... Já lhe ouvi as lindezas do coração e
pactuamos nossas vidas e lhe dei a minha fortuna: ele já se adonou dos
meus “três vinténs”, mas o melhor – riu – é que ele quer-me levar junto.
Bênção, madrinha-amiguinha, devo-te a minha felicidade.
─ Não, afilhada-amiguinha, tu a deves ao Ric e ele a ti. E é uma
dívida para a vida toda. Um Amor tão lindo tem de transcender a própria
vida. E com corações tão ternos é muito fácil pagá-la todos os dias. A tese
do Amor de papai e mamãe está certa: Eu dou toda a minha ternura ao
Fábio e ele me retribui com tanta ternura que nossos cérebros e nossas
almas estão sempre fascinados com o Amor de nossos corações e produzem
quantidades maciças de hormônios do prazer. E o desejo é tão intenso e a
paixão tão avassaladora que chegamos a sufocar de gozo. E olhem que o
prazo de validade de nossa paixão já expirou pela quinta vez!
Quanto a dever, entre amigos e amigas não há débitos nem créditos a
compensar, aprendi com papai. Nós nos damos a nossa amizade, a nossa
lealdade, a nossa simpatia, nos ajudamos sem pensar em retribuição... No
teu caso o meu ganho foi triplo porque ajudei duas das pessoas que mais
amo e ganhei uma cunhadinha maravilhosa. Ter-te na família para toda a
vida... Meu Deus! É tão bom! Não vou perturbá-los mais. Eu os abençoo
para que tenham uma noite de núpcias muito feliz – riu moleca – com muitas
intromissões arrasadoras.
Cecília riu de orelha a orelha, às gargalhadas, e fez sua blague:
─ E encabaçadas portentosas. Hei de fazer-lhe as danças safadas
com torniquetes... Logo mais já dá, não é?
─ Dá. Se exagerares pode sangrar um pouco, mas nada grave.
Entretanto se sentires alguma dorzinha, “manera”. E se persistir algum
desconforto, procura um ginecologista.
Karina extravasava alegria e bom-humor e a felicidade que vivia a
tornou moleca como a mãe: cochichou-lhe ao ouvido com um sorriso muito
safado:
Faz-lhe a dança do ventre com encabaçadas, trepidação e brecadas
fortes que tu vais ver o que é bom para a tosse... – Gargalhou – Eu ganho
tanta porrada!

Terminaram os três abraçados enternecidos. A festa rolava com


shows deslumbrantes de muitas meninas, incluindo, Aline, Márcia, Karina,
Cecília e Fábia, com um não acabar de danças árabes, do ventre, dos sete
véus e até danças clássicas, acompanhadas ao piano por Anselmo. Quando
a festa chegava ao fim, Ric e Cecília escafederam-se para a suíte sem nem

503
dizer boa-noite, mas eu os detive de braços abertos, sorrindo:
─ Sei que estão apressados, mas hão de ter um segundinho para
mim. Quero abençoar a vossa união e rogar a Deus que também a abençoe e
dizer-te, filha, que és muito querida nesta casa e bem vinda ao seio da nossa
família. Bom sono, filhos, no aconchego de braços ternos – ri – mas só
depois da bagunça!
Eu tinha-os nos braços, mas apertei o abraço em torno de Cecília.
Disse-lhe sorrindo:
─ Antes de entregar-te, pede-lhe para fazer um pacto contigo,
prometendo casamento para toda a vida. Eu os quero atados de nó cego.
Vocês são dignos um do outro.
Ela sorriu encantamento, com os olhinhos úmidos:
Nós já fizemos um daqueles pactos de amizade com a determinação
de nos amarmos para toda a vida e, há pouco, realizamos um casamento
oficiado por mim – riu – antes de sacramentar o nosso Amor. Foi lindo e
significativo. Ric disse que o nosso casamento tinha de ser diferente de
todos: oficiado por mulher! Obrigada por tudo, papai! Estou muito
orgulhosa de me chamares de filha.
─ Eu também estou muito orgulhoso de ser chamado de papai por
uma menina tão meiga, mas há uma coisa que estás terminantemente
proibida de dizer nesta casa. É a única proibição, mas é sagrada.
Ela sorriu ao apertar-me o abraço e penitenciou-se:
─ Eu sei, foi um deslize meu. Perdoa-me. Nesta casa só há espaço
para a amizade e o Amor. Ninguém se obriga. Nem “respeito” tem guarida
aqui: ele não combina muito com amizade e Amor, não é?
─ Não mesmo! É só para formalidades... Se eu quisesse o teu
respeito eu diria: – Impostei a voz – “Bem vinda a esta casa, seja feliz”.
Quando muito te apertaria a mão e te faria sentir distanciamento e medo de
mim: Eu te imporia respeito. Mas eu quero é o teu Amor, a tua amizade, a
tua simpatia, o teu carinho de filha. Quero-te no meu coração como Ric e
quero estar no teu. E tu és inteligente e meiga. Queres o mesmo, não é?
Cecília acenou com a cabeça e eu prossegui:
─ Além do mais, respeito é uma palavra vazia, sem significado: a
gente não respeita, a gente tem Amor, amizade, simpatia, admiração,
cordialidade, encantamento, fascinação. E tudo isso inclui respeito, mas
respeito não contém nada disso. Usualmente, o respeito é imposto e implica
em temor, medo, repulsa, aversão, ódio. Está contido em sentimentos
opostos: não significa nada.
Karina reclamou da porta da sua suíte, onde ficou para pernoitar
com Fábio:

504
─ Não monopoliza os noivinhos, papai!
Riu moleca:
─ Eles têm muito que fazer antes de dormir. Vem cá, afilhadinha, ou
ele vai derreter ternura até o sol raiar.
Cecília já recebera de Aline as boas vindas a casa, ao seio da
família e ao seu coração: “eu amo a quem ama meus filhos e tu amas Ric de
paixão, sem falar no teu Amor fraterno por Karina e por Fábia”. Eu posso
ver nos teus olhinhos. Deu-lhe um abraço de mãe e beijou-a: “Que a
felicidade seja tua companheira para sempre, filha, e eu faço questão de ter
o teu Amor”. Também Fábio tinha desejado aos noivinhos “toda a
felicidade do mundo” e asseverou àquela menina encantada que ela era uma
joia rara e plenamente merecedora do Ric, que também era um menino
digno dela.
Que de emoções turbilhonavam o coraçãozinho daquela menina?
Surpreendeu-me pulando-me no pescoço com as pernas nos meus flancos e
beijando-me como Karina fazia. De olhinhos marejados, dizia:
─ Eu te amo! Eu te amo muito!
Emocionado, adverti-a sério:
─ Olha o respeito, menina!
E apertei mais o abraço, quase lhe estalando os ossos. Ela riu,
tomou-me o rosto entre as mãos e, com os olhinhos vertendo em contas,
beijou-me muito meiga e disse:
─ Eu te amo de verdade. Quero que tu sejas meu paizinho
maravilhoso e muito querido.
Quando foi ter com Karina levava os olhos marejados e eu... Eu já
sentia saudades daquele abraço... Um abraço que nem o seu mui respeitado
pai teria recebido. Eu tinha conquistado muito mais do que o respeito
daquela menina. Conquistara-lhe o Amor. E só o Amor transcende a vida.
Abraçou Karina com efusão:
─ Teu pai é maravilhoso e tua mãe é uma doçura!
Karina sorriu:
─ Eu vi tua empolgação com papai, igualzinha à minha. – Brincou –
Usa e abusa que ele tem ternura de montão, mamãe também, mas tu não vais
querer roubarmos, não é?
Cecília sorriu:
─ Tu sabes que seria impossível: o Amor nunca divide, só soma,
como me ensinaste. Mas eu vou somar! Ele me fascina e já o adotei como
meu paizinho muito querido e à tua mãezinha também. Vou dar-lhes tanto
Amor que hei de conquistar um lugar no pódio do Amor de vocês.
─ Então também és minha irmã. Que bom! No pódio tu já estás:

505
amiguinha, irmãzinha, cunhadinha, afilhadinha... Teremos corações atados
para toda a vida.
Muito marota, deu-lhe uma daquelas calcinhas sem fundo com uma
batazinha safada e cochichou-lhe muito séria:
─ Dança para o Ric e faz as safadezas que quiseres, mas não tira a
roupa, não!
Surpresa, Cecília examinou as indecências e disse-lhe, abraçando-a
novamente e mijando-se de rir:
─ Tu não prestas! Mas eu também não porque adorei a tua
lembrança. – Apertou-lhe o abraço – É uma graça divina ter o teu
coraçãozinho batendo junto ao meu. Eu devo-te a minha felicidade, sim, tu
me preparaste para ser a mulher ideal para o Ric. Sem ti eu não teria a
menor chance e tu me deste todas! Sou uma mulher completa graças a ti.
Fico te devendo essa. Felicidades para ti e para – acariciou-lhe o ventre –
esse bebezinho que há de ser lindo, saudável e muito safado com o Amor da
sua vida. – Riu – Vou dar-me ao teu irmão e entregar-me às suas safadezas,
mas não fico pelada, não!
Riu:
─ E ele terá de me dar uma razão muito boa se quiser me despir –
tornou a rir – mas o bom é que ele tem! E que razão!
Despediram-se às gargalhadas... Mas Karina deu-lhe uma
palmadinha carinhosa na bunda empurrando-a para dentro da suíte, dizendo-
lhe:
─ Fica com a minha que tem mais espaço para as tuas safadezas,
mas tens só vinte minutos para te preparares para o Ric. Depois disso eu o
libero para ti. Fica deslumbrante para o Amor.
Cecília foi banhar-se e por a roupinha de puta para deslumbrar o
seu amado. Sentia o Amor florescer de todos os lados e, mais do que nunca,
precisava ser amada, mas aprendera que Amor a gente dá e, fascinada, via
que mais recebia quanto mais dava.
Ao vestir aquelas exiguidades impudicas e mirar-se no espelho, viu-
se com apenas uma borboleta pousada no púbis e corou, mas resignou-se:
“Se é para dar mais Amor que volta multiplicado... E o homem que eu
ganhei tem tanto para dar... – Sorriu – Mas eu também”!
Aqueles simulacros de vestimenta davam reflexos purpúreos e
voluptuosos ao dourado da sua pele, aos seus peitos altaneiros de deusa
recém-deflorada e túrgidos de desejo, à bundinha popozuda que descia para
coxas deslumbrantes... Prendeu os cabelos longos em coque, para lançá-los
sobre o amado na hora do Amor, e sorriu: “Eu estou puta, mas haverá outra
mais deslumbrante”? Com o coração em festa, voltou a sorrir para si

506
mesma, murmurando: “Vamos ao Amor! Seja eu envolvida pelo Amor,
brutalizada pela paixão e inundada pelo prazer, num tsunami de gozo, como
me ensinou minha amiguinha”...
Karina, mesmo barrigudinha, foi esfregar-se no marido, ops,
namorado, depois de pedir licença ao bebezinho para a “visita” do papai; e
eu... eu vou semear o Amor no ventre abençoado de Aline para deixá-la
com carinha de metidinha e adormecer no seu seio de Amor, entre os seus
braços de carinho. Ela não falha e parirá mais Amor para ser o Amor de um
daqueles amores que nascerão de uma daquelas barriguinhas prenhes de
Amor.
“Ficantes” desinfetaram da nossa casa e creio que nunca mais
voltarão, mas novos amores e amigos verdadeiros somam-se aos
preexistentes e o nosso pequeno mundo de Amor e paz cresce.

Fim

507
Índice
Primeira parte – NASCIMENTO E EDUCAÇÃO DE
10
KARINA
Capítulo I – A MULHER IDEAL 11
Capítulo II – NASCIMENTO DE KARINA 15
Capítulo III – RICARDINHO 20
Capítulo IV – O PACTO 24
Capítulo V – SER SÁBIA 35
Capítulo VI – A CARTA 44
Capítulo VII – O ANIVERSÁRIO 53
Capítulo VIII – KARINA ROUBA A FESTA 56
Capítulo IX – AFICIONADA POR LIVROS 66
Capítulo X– A MENARCA 69
Segunda Parte – FORMAÇÃO SEXUAL DE KARINA 79
Capítulo XI – AMOR OU SEXO 80
Capítulo XII – A SEXUALIDADE DE KARINA 83
Capítulo XIII – SUBMISSÃO AO AMOR 92
Capítulo XIV - CONCEPÇÃO DE KARINA 118
Capítulo XV – AMOR É A FELICIDADE DE ESTAR
127
JUNTOS
Capítulo XVI – O PODER 136
Capítulo XVII – A NATUREZA DO AMOR 164
Capítulo XVIII – A TERNURA 186
Capítulo XIX – OS TESÕES GRANDÕES 229
Capítulo XX – CIÚME 268
Capítulo XXI – PATRIARCALISMO 283
Capítulo XXII – KARINA ESCRITORA 296
Capítulo XXIII – O MACHÃO 314

508
Capítulo XXIV – À PROCURA DO AMOR 343
Terceira Parte: - AO ENCONTRO DO AMOR 353
Capítulo XXV – NA FACULDADE 354
Capítulo XXVI – FÁBIO 376
Capítulo XXVII – AMOR VIRGEM 383
Capítulo XXVIII – RICARDINHO 410
Capítulo XXIX – O CASAMENTO 417
Capítulo XXX – LUA DE MEL 442
EPÍLOGO 497
Fim 507

509

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