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EXCELENTÍSSIMO SENHOR (...

) JUIZ DE DIREITO DO Ú NICO OFÍCIO CRIMINAL DA


COMARCA DE (...) – MS.

“Se é certo que os indícios nã o merecem a excomunhã o maior, nã o menos correto é


assentar-se a insuficiência em se tratando de prova necessá ria a embasar uma condenaçã o
criminal”. (STF – Min. Marco Aurélio - HC 97.781/PR)

Autos do Processo de Có digo nº (...)

PARTE E ADVOGADO, comparecem com lhaneza e acatamento perante sua Excelência,


inconformada com a r. sentença (folhas 132-140), interpor o presente RECURSO DE
APELAÇÃO, a fim de que a matéria seja novamente apreciada e, desta feita pelo ad quem.
Aguarda merecer deferimento – 16 de maio de 2.022.
VINÍCIUS MENDONÇA DE BRITTO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

ILUSTRES JULGADORES,

RAZÕES DE APELAÇÃO

O provimento do presente recurso é imperativo das razõ es fá ticas e de seus alicerces, eis
que a r decisã o recorrida nã o fez a necessá ria Justiça, devendo para tanto ser retocada,
face à s razõ es fá ticas e secundados pelos pedidos, darã o azo ao requerimento final, na
forma que se explana:
O Parquet ofereceu denú ncia contra XXXX, com o incurso no tipo penal descrito no art. 21
do Decreto-Lei nº 3.688/41, com incidência das disposiçõ es da Lei Federal nº 11.340/06.
Durante a instruçã o, foram ouvidos a testemunha, a vítima e o Acusado.
Apó s analise, o Magistrado de Parede julgou procedente a pretensã o punitiva deduzida
pelo Agente Parquetiano para CONDENAR o denunciado XXX, nas sanções do art. 147,
caput do Código Penal e art. 21 do Decreto-Lei n.º 3.688/41.
Pois bem, objetivando-se evitar a repetiçã o inó cua da mesma fundamentaçã o por meio de
palavras diferentes (tautologia jurídica), utiliza-se o Apelante, da técnica da fundamentaçã o
utilizando da expressã o Iura Novit Curia, indo direto ao ponto nevrá lgico e aríete do
presente.
Primeiramente, em relaçã o a preliminar de nulidade da sentença em relaçã o ao crime
entabulado no art. 147, caput do Có digo Penal, pois, conforme se vê da denú ncia (ITENS H
e I), o pró prio Agente Parquetiano EXCLUIU O CRIME DE AMEAÇA.
Se inexiste denú ncia contra este fato, nã o pode haver condenaçã o, sendo a sentença ultra
petita.
Noutro giro, mesmo nã o tendo o Parquet se desincumbido de seu ô nus é de se ter que, nã o
há qualquer elemento de prova conclusiva produzida em juízo ou fora dele, que
fundamente um decreto condenató rio contra o Acusado, pois ausente a Autoria e a
Materialidade.
Na liçã o de Carrara, “a prova para se condenar deve ser certa como a lógica e exata
como a matemática”. A existência de meras probabilidades, possibilidades e presunçõ es,
nã o autorizam um juízo de desvalor da conduta, de modo que nã o se pode falar na certeza
de ocorrência do crime narrado na peça acusató ria, sendo, portanto, inequívoco caso de
absolviçã o do Acusado.
Há , pura ausência de riqueza de detalhes, para condenaçã o.
O Pró prio Agente Parquetiano se perde em suas alegaçõ es finais ao utilizar o famoso Ctrl C
+ Ctrl V, conforme se vê do primeiro pará grafo das folhas 123, ao dizer que: “De acordo
com as provas coligidas aos autos, as partes tiveram uma discussão e Antônio ameaçou
Solange dizendo que iria matá-la. Em seguida o denunciado jogou a vítima sobre a cama e
passou a desferir socos contra a cabeça de sua convivente, tendo a vítima mordido o tórax do
denunciado para tentar impedir que ele continuasse com as agressões.”
Veja sua Excelência, nã o existe Antônio ou Solange, e muito menos o caso ocorreu no
quarto.
Com todo respeito ao Agente Parquetiano, estamos tratando da liberdade de uma pessoa
que está sendo injustamente acusado por uma coisa que nã o o fez.
O PROCESSO PENAL NÃO PODE SER LEVADO NA BRINCADEIRA.
Adentrando ao caso telado, o Acusado apenas tentou impedir uma agressã o da vítima para
com sua mã e, segurando a vítima com moderaçã o, para que nã o a lesionasse.
Neste caminhar, deve-se firmar o entendimento de que a injusta agressã o repelida com
meios moderados e necessá rios, AUTORIZA O RECONHECIMENTO DA EXCLUDENTE DE
ILICITUDE.
O caso é de se reconhecer a excludente de ilicitude.
Em momento algum houve o animus laedendi, ônus este que cabia a vítima demonstrar,
pois, no que concerne à Autoria, constata-se que os elementos de prova constantes no
caderno processual relevaram um contexto de desentendimentos físicos mú tuos.
A única testemunha, senhora de idade e mã e do Acusado disse tanto na delegacia (folhas
35) como em juízo (arquivo audiovisual), que a vítima tentou agredi-la, sendo salva pelo
Acusado que precisou intervir, utilizando dos meios moderados para repelir a injusta e
atual agressã o de sua nora contra sua pessoa, tendo seu filho apenas segurado nos braços e
as mã os da vítima, para que essa nã o lhe agredisse.
No presente caso, a palavra da vítima se faz isolada nos autos, nã o encontrando
respaldo em nenhum outro elemento probató rio, visto que os personagens que estavam
presentes no dia dos fatos, nã o confirmam a versã o ululante da vítima.
Fá cil perceber, que a vítima registrou boletim de ocorrência por raiva, pois, veja das folhas
39 que a vítima muda sua versão na delegacia, como também, informa que não realizou
o corpo de delito, como não possui fotos da lesão. E mais à frente continua: NÃO TEM
INTERESSE EM PROSSEGUIR COM AS INVESTIGAÇÕES.
Se a palavra da vítima, que é essencial, mostra-se divergente, contraditó ria e ausente da
materialidade (lesã o), as provas amealhadas dã o suporte a duas versõ es verossímeis, ante
a existência de dú vida, deve ser aplicado o princípio do in dubio pro reo.
É dado incontroverso, que a palavra da vítima, deve ser recebida com extrema reserva,
haja vista, que possui em mira incriminar o Acusado, agindo por vingança, criando uma
realidade fictícia, logo inexistente.
Ora, nã o se trata de desconsiderar a palavra da vítima, porém deve ser apoiada em outras
provas, mesmo indiciá rias, o que nã o é caso em tela, uma vez que a palavra da vítima
depende de apoio, já que sua palavra, além de contraditória, também nã o é absoluta,
cedendo espaço, quando isolada, no conjunto probató rio, diante dos princípios da
Presunçã o de Inocência e da Busca da Verdade Real.
Por tal fato, exige-se que a versã o da vítima seja firme, segura e coerentes, o que nã o
ocorreu na espécie.
Neste sentir, nã o comprovado satisfatoriamente a Autoria delitiva imputada ao Acusado, de
rigor a prolaçã o de um decreto absolutó rio, por insuficiência de provas.
Traz à baila, uma coletâ nea de julgados que se amoldam à realidade fá tica da açã o, senã o
vejamos:
APELAÇÃ O CRIMINAL DEFENSIVA - AMEAÇA E VIAS DE FATO NO CONTEXTO DAS
RELAÇÕ ES DOMÉ STICAS - NULIDADE DA SENTENÇA QUANTO A CONDENAÇÃ O PELO
CRIME DE AMEAÇA - REJEITADA - DENÚ NCIA QUE CLARAMENTE NARROU A SUPOSTA
CONDUTA - PLEITO ABSOLVIÇÃO - POSSIBILIDADE – ELEMENTOS COLHIDOS EM JUÍZO
QUE NÃO CORROBORAM A PALAVRA DA VÍTIMA - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO PARA ABSOLVER O RÉU NA FORMA DO ART. 386, VII, DO CPP. Rejeita-se a
arguiçã o de nulidade da sentença quanto a condenaçã o pelo crime de ameaça, pois a
denú ncia claramente descreveu essa suposta conduta delitiva. Como cediço, nos delitos
praticados em ambiente doméstico e familiar, a palavra da vítima possui especial
relevâ ncia quando corroborada por outros elementos probató rios acostados aos autos. No
caso, versã o da vítima restou isolada, sendo que o dolo do apelante em agredir a vítima nã o
restou suficientemente provado, nem a suposta ameaça com um faca restou cabalmente
provada. Assim, na existência de dú vida razoá vel, deve ser aplicado o princípio in dubio pro
reo, sendo de rigor a absolviçã o do apelante na forma do art. 386, VII, do CPP. Por
unanimidade, deram parcial provimento ao apelo defensivo para o fim de absolver D.A. da
S. na forma do art. 386, VII, do CPP, especialmente em homenagem ao princípio do in dubio
pro reo, nos termos do voto do Relator. (TJMS - 1ª Câmara Criminal - Apelação Criminal
nº 0000712-04.2019.8.12.0005 - Comarca de Aquidauana - Relator (a): Des. Jonas
Hass Silva Júnior)
APELAÇÃ O CRIMINAL DO MINISTÉ RIO PÚ BLICO. VIOLÊ NCIA DOMÉ STICA E FAMILIAR
CONTRA MULHER. AMEAÇA, ROUBO E VIAS DE FATO. PLEITO CONDENATÓ RIO.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃ O MANTIDA.
PREQUESTIONAMENTO. RECURSO CONHECIDO E NÃ O PROVIDO. CONTRA O PARECER.
(TJMS; ACr 0021175-42.2020.8.12.0001; 3ª Câ mara Criminal; Rel. Des. Jairo Roberto de
Quadros; DJMS 30/03/2021)
“Restando demonstrado que o agente agiu acobertado pela excludente de ilicitude da
legítima defesa, reagindo a injusta agressã o ao seu patrimô nio e fazendo uso moderado dos
meios necessá rios para afastar a referida agressã o, imperativa a absolviçã o. Recurso
provido.” (TJMS; ACr 0001415-26.2016.8.12.0041; Segunda Câ mara Criminal; Rel. Des. Ruy
Celso Barbosa Florence; DJMS 01/11/2018; Pá g. 114)
"[...] Apesar de a palavra da vítima ter especial relevâ ncia nos crimes praticados no â mbito
de violência doméstica e familiar, estando o depoimento da ofendida isolado nos autos
e a versão do acusado compatível com outras provas produzidas em juízo, de modo
que a autoria reste duvidosa, impõe-se a absolvição do agente, aplicando-se o princípio
in dubio pro reo. 3. Preliminar rejeitada. Apelo provido." (Processo nº 2008.09.1.010785-3
(466987), 2ª Turma Criminal do TJDF, Rel. Arnoldo Camanho de Assis. unâ nime, DJe
01.12.2010).
"As declarações da vítima devem ser recebidas com cuidado, considerando-se que sua
atençã o expectante pode ser transformadora da realidade, viciando-se pelo desejo de
reconhecer e ocasionando erros judiciá rios." (JUTACRIM, 71:306).
“APELAÇÃ O CRIME - AMEAÇA E PERTURBAÇÃ O DA TRANQUILIDADE - VIOLÊ NCIA
DOMÉ STICA – RECURSO DA DEFESA - PEDIDO DE ABSOLVIÇÃ O - ACOLHIMENTO -
PALAVRA DA VÍTIMA ISOLADA NOS AUTOS – AUSÊNCIA DE PROVAS CONTUNDENTES
ACERCA DA MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS – INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO IN
DUBIO PRO REO – ABSOLVIÇÃ O COM FUNDAMENTO NO ARTIGO 386, INCISO VII, DO
CÓ DIGO DE PROCESSO PENAL - RECURSO PROVIDO.” (TJPR - 1ª C. Criminal, AC nº
0000404-71.2016.8.16.0098, Rel. Des. Antô nio Loyola Vieira, julgado em 04.10.2018).
APELAÇÃ O CRIMINAL. VIOLÊ NCIA DOMÉ STICA. LESÃ O CORPORAL. VIAS DE FATO.
PROVAS INSUFICIENTES. ABSOLVIÇÃ O. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. (TJRO -
ApCrim n. 1014636-24.2017.822.0501, Data de Julgamento: 08/08/2019, Data de
Publicaçã o: 14/08/2019)
Havendo prova no sentido de que a açã o do Acusado se dera sob o manto da EXCLUDENTE
DE ILICITUDE, porque demonstrados os requisitos exigidos para a sua configuraçã o
(agressã o injusta e atual), utilizando dos meios necessá rios e moderados “animus
defendendi”, de rigor é a absolviçã o.
Se a pró pria vítima, disse que nã o tinha mais interesse em prosseguir com as investigaçõ es,
torna-se duvidosa sua versão, transformando o caderno processual num cená rio
nebuloso. E, sabe-se, porque, a vítima nã o quis realizar o exame de corpo de delito ? Por
que, não existiu.
DOS REQUERIMENTOS
Pelo Joeirado, requer:
O reconhecimento da nulidade da sentença por julgamento ultra petita entabulado no art.
147, caput do Có digo Penal, uma vez que o pró prio Agente Parquetiano ao oferecer a
denú ncia, EXCLUIU O CRIME DE AMEAÇA conforme se vê dos ITENS H e I de seus
pedidos.
Ao final, seja julgado improcedente a Denú ncia, com a absolviçã o do Acusado, ante a
ausência de autoria e dolo, devendo ser aplicado a Excludente de Ilicitude.
Que advenha toda a plenitude requestada !
Justiça é desejo firme e contínuo de dar a cada um o que lhe é devido.
Aquidauana – Mato Grosso do Sul, 16 de maio de 2.022.
VINÍCIUS MENDONÇA DE BRITTO – OAB/MS

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