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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE ______ – ESTADO

Processo nº: xxxxxx-xx.x.xx.xxx

THIAGO, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, por


intermédio de seu advogado que esta subscreve, conforme procuração anexa, vem,
respeitosamente perante Vossa Excelência, oferecer:

RESPOSTA À ACUSAÇÃO
com fundamento no artigo 396 e 396-A do Código de Processo Penal pelos motivos
de fato e de direito a seguir aduzidos.

1. DOS FATOS

De acordo com o narrado na Inicial acusatória, no dia, o Acusado ofendeu a


integridade corporal de sua companheira, causando-lhe lesões corporais, tendo
iniciado as agressões após breve desentendimento com a vítima.

Afirma ainda o Parquet, que o Acusado ameaçou causar mal injusto e grave à
vítima e seus filhos, dizendo que iria matá-los. Dessa forma, pugna o Ministério
Público pela condenação do Acusado nas penas dos artigos 147 e 129, § 9º, ambos
do Código Penal c/c art. 5º da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).

2. DO MÉRITO

2.1. Da Legítima defesa

Cumpre esclarecer Excelência, que a peça acusatória traz grave omissão quanto à
descrição dos acontecimentos. E essa lacuna, por si só, é capaz de colocar por
terra toda pretensão condenatória.
A lesão perpetrada, conforme atestada pelo auto de exame de lesão corporal ás fls.
09 do inquérito policial, foi de natureza leve e superficial, proveniente de gesto
defensivo do

Acusado. A ofendida, na verdade, no meio de uma discussão acalorada, partiu para


tentar desfechar um tapa na cara do Réu, conforme vislumbra-se em seu
interrogatório em sede policial (fls. 15). Nessa ocasião, obviamente procurando
defender-se, esse tentou afastá-la da agressão empurrando-a para trás. Todavia, a
força empregada na reação defensiva provocou as marcas que foram verificadas no
exame de lesão corporal citado acima.

Vejamos Excelência o esclarecimento que o Acusado traz no curso das


investigações:

[...] Que enquanto o interrogando fazia sua bolsa, Ana passou a agredi-lo dando
tapas na cara e empurrão; [...] Que em dado momento deu um empurrão em Ana
Carolina, não caiu; toda vez em que empurrava Ana, ela voltava e tentava agredir o
interrogando. (Interrogatório do Acusado – folhas 14/15 IP).

Nesse sentido, é altamente ilustrativo o seguinte julgado:

APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.


MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. LEGÍTIMA DEFESA.
ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE.

Se a dinâmica dos fatos narrados pelo suposto ofensor e vítima, assim como o
laudo pericial, demonstram que esta última primeiro agrediu o réu, o qual passou a
agir em legitima defesa, utilizando-se moderadamente dos meios necessários, é de
se manter a sentença que a reconheceu. Recurso conhecido e não provido. (TJDF;
Rec 2012.05.1.001862-4; Ac. 773.946; Segunda Turma Criminal; Rel. Des. Souza e
Ávila; DJDFTE 02/04/2014)

Nesse contexto, tendo-se em conta que o Réu agiu almejando defender-se da


agressão em liça e, mais, utilizando-se moderadamente dos meios (empurrão),
necessário se faz aplicar a excludente da ilicitude da legítima defesa.
2.2. Ausência de dolo – Do suposto crime de Ameaça.

O Réu jamais tivera a intenção de praticar o ato que lhe foi imputado, no caso a
ameaça de morte. Outras desavenças entre o casal ocorreram e, do mesmo modo,
palavras dessa ordem foram desferidas de um para o outro.

[...] Que durante o tempo que moraram juntos sempre discutiram, sendo a
convivência muito difícil. (Interrogatório do Acusado – folhas 14/15 IP).

Ademais, a ofendida em seu termo de declaração nos autos do IP ás fls. 06, relata:

[...] Que por volta das 20 horas quando Mateus chegou em casa bêbado e fazendo
bagunça.

É consabido que a embriaguez voluntária não isenta o agente de ser


responsabilizado penalmente. ( CP, art. 28, inc. II). Não se discute isso. No entanto,
concernente ao dolo essa regra penal deve ser sopesada com outras circunstâncias
fáticas.

O crime em espécie somente ocorre com a intenção dolosa do agente. Ora, se a


investigação inquestionavelmente demonstra a embriaguez do Acusado, isso reflete,
nesse caso específico, na ausência de dolo. Explicamos.

O estado de ebriedade certamente traduz ausência de lucidez ao conteúdo


expressado. Insistimos. Não estamos querendo dizer que a embriaguez isenta o
agente da pena. Não é isso. O que estamos a dizer é que o crime pode até existir (o
que não acreditamos). Todavia, nesse determinado caso em estudo, a norma penal
reclama o ato volitivo doloso; uma vontade consciente de perpetrar o crime.

Com esse mesmíssimo enfoque, vejamos o magistério de Cleber Masson:

“Igual raciocínio se aplica à ameaça proferida pelo ébrio. A embriaguez, como se


sabe, não exclui a imputabilidade penal ( CP, art. 28, inc. II). Em algumas situações,
subsiste o crime, pois o estado de embriaguez pode causar temor ainda maior à
vítima; em outros casos, todavia, retira completamente a credibilidade da ameaça,
levando a atipicidade do fato. “ (MASSON, Cleber Rogério. Direito penal
esquematizado: parte especial. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2010, p. 223) (grifo meu)
Nesse diapasão, impende destacar as lições de Luiz Regis Prado:

“De semelhante, tampouco pode ser havida como séria a ameaça realizada em
estado de embriaguez. “ (PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 9ª
Ed. São Paulo: RT, 2010, vol. 2, p. 274)

O delito de ameaça não restou configurado em suas elementares. Nesse sentido,


Guilherme de Souza Nucci, acerca da figura típica em debate:

Elemento subjetivo:

Em uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível que as pessoas


troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo,
como forma de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de
preencher o tipo penal. (...). NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal
Comentado. 9. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. P. 684.

Excelência, para justificar a condenação pelo crime previsto no artigo 147 do Código
Penal, é necessário que a ameaça seja idônea, sem qualquer animosidade entre a
vítima e o acusado.

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE AMEAÇA - INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA -


APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO 'IN DUBIO PRO REO' - ABSOLVIÇÃO. - Diante da
fragilidade da prova produzida em desfavor do acusado, impõe-se a sua absolvição,
em atendimento ao princípio do 'in dubio pro reo'. (TJ-MG - APR:
10558120018186001 MG, Relator: Beatriz Pinheiro Caires, Data de Julgamento:
05/06/2014, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
18/06/2014) RECURSO CRIME. AMEAÇA. ART. 147 DO CP. INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. ELEMENTARES DO TIPO PENAL NÃO CONFIGURADAS. SENTENÇA
CONDENATÓRIA REFORMADA. Não resultou claro que o réu, efetivamente, tenha
ameaçado a vítima, diante das versões conflitantes apresentadas, resolvendo-se a
dúvida em favor dele. Ademais, não demonstrada a seriedade da ameaça, que não
produziu intimidação penalmente relevante. A dúvida é ainda agravada pela
existência de prévio desentendimento entre as partes, relacionado com o namoro
entre o réu e a filha da vítima. APELAÇÃO PROVIDA. (Recurso Crime Nº
71003729654, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Volcir Antônio
Casal, Julgado em 25/06/2012). (grifo nosso)

Com clareza percebe-se que o contexto narrado na denúncia ocorrera quando


ambos estavam com ânimos alterados. E isso, sem qualquer dúvida, afasta a
lucidez das palavras e, via de consequência, a vontade de praticar o ato delituoso.
Em arremate, por mais esse motivo não assiste razão ao Ministério Público.

3. DOS PEDIDOS

Diante o exposto a zelosa defesa requer a Vossa Excelência:

A ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do denunciado SPIDER DE CARVALHO e a TOTAL


IMPROCEDÊNCIA da denúncia, com fundamento no artigo 397, inciso I e III, do
Código de Processo Penal, visto a manifesta excludente de ilicitude de legítima
defesa no suposto crime de lesão corporal e ausência de dolo no suposto crime de
ameaça.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado
OAB/RJ

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