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1ª CÂMARA CRIMINAL
“2º FATO: Ato contínuo, nas mesmas circunstâncias de tempo, horário e local, o
denunciado BRUNO DA SILVA STEFANES RAMOS, prevalecendo-se da
relação doméstica e familiar, com violência de gênero, aproveitando-se do
relacionamento íntimo de afeto e de relações domésticas e familiares havidos com
a vítima, agindo com vontade livre e consciente, portanto, dolosamente, ofendeu a
integridade física de sua ex-companheira Debora Santos de Oliveira, ao pegá-la
pelo pescoço na tentativa de aplicar-lhe um golpe de ‘mata-leão’; ao lesionar
tanto o polegar, quanto a mão esquerda com um facão; ao desferir contra ela
chutes, derrubando-a ao chão; bem como ao agredi-la, após a queda, causando as
seguintes lesões: ‘ferida corto-contusa na mão; primeiro dedo da mão esquerda
com dois pontos simples de aproximação de bordos; escoriação na palma da mão
esquerda com 1,5 cm; equimose periorbitária esquerda verde-arroxeada;
equimoses na face lateral e posterior da coxa direita (várias) medindo até 3,5 cm
de coloração verde-arroxeada; escoriação e equimose do joelho direito;
escoriações na mucosa interna do lábio inferior’.
Ofertadas contrarrazões (mov. 149.1-AP), a Procuradoria de Justiça, em parecer subscrito pela Promotora
de Justiça convocada JULIANA GONÇALVES KRAUSE, recomendou o “parcial conhecimento do
apelo (a isenção de custas processuais é matéria afeta ao Juízo da Execução) e, na parte conhecida, seu
parcial provimento, a fim de afastar, apenas em relação ao delito de lesão corporal qualificada pelas
razões do gênero feminino, a agravante da violência doméstica (art. 61, II, ‘f’, CP)” (mov. 13.1).
3. No que diz com a resposta penal, não se pode acolher a pretensão de reconhecimento da atenuante da
confissão espontânea, uma vez que o Apelante permaneceu em silêncio na etapa pré-processual (mov.
1.15-AP) e, ao ser interrogado em Juízo, negou as práticas delitivas (mov. 115.4-AP).
No tocante à lesão corporal qualificada (CP, art. 129-§13), todavia, a existência de relações domésticas
ou familiares entre o agente e a vítima do gênero feminino integra o preceito primário do delito (CP, art.
121-§2ºA-I), merecendo acolhida, assim, a pretensão de afastamento dessa circunstância.
4. Por fim, não se pode conhecer do pedido de concessão da justiça gratuita, uma vez que a “análise da
miserabilidade do Condenado, visando à inexigibilidade do pagamento das custas, deve ser feita pelo
[5] [6]
Juízo das Execuções” , consoante reiteradamente tem decidido este Órgão Julgador .
ANTE O EXPOSTO:
O julgamento foi presidido pela Desembargadora Lidia Maejima, com voto, e dele participaram
Desembargador Telmo Cherem (relator) e Desembargador Miguel Kfouri Neto.
[1] Aplicou-se o princípio da consunção no tocante ao delito de invasão de domicílio (fato 1), relativamente ao crime de ameaça (fato
2).
[2] AgRg nos EDcl nos EDcl no AREsp nº 1.685.253/PE, 5ª Turma, Relator: Min. JOEL ILAN PACIORNIK, DJe 24.05.2021.
[5] AgRg no AREsp nº 1.371.623/SC, 6ª Turma, Relatora: Min. LAURITA VAZ, DJe 29.4.2019.
[6] v. g.: AC nº 373-54.2018.8.16.0139, Relator: Des. MIGUEL KFOURI NETO, DJe 9.5.2022; AC nº 974-39.2020.8.16.0091,
Relator: Des. NILSON MIZUTA, DJe 14.5.2022; e AC nº 14399-61.2018.8.16.0170, Relator: Des. ADALBERTO JORGE XISTO
PEREIRA, DJe 9.5.2022.