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06/10/2023 18:05

Não vale como certidão.

Natureza : Auditoria Militar

Juiz:

Sentença

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


PODER JUDICIÁRIO

SENTENÇA

PROCESSO N
AÇÃO : 11037 - Ação Penal Militar - Procedimento Ordinário
Requerente: MINISTERIO PUBLICO DE
Requerido:
Vistos e etc.
O Ministério Público Estadual ofereceu
denúncia em desfavor de e
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, devidamente
qualificados nos autos, sustentando, em síntese,
que no dia 10 de junho de 2019, na parte da
tarde, no Bairro Popular, Boa Esperança, os
policiais receberam denúncia anônima de que a
vítima portava arma de fogo
e efetuava disparos em via pública, por isso, os
denunciados realizaram um cerco policial a fim de
prendê-lo, desferindo-lhe vários tiros, tendo
dois deles o acertado, sendo que um atingiu as
costas, região dorsal esquerda, ocasionado-lhe a
morte, conforme laudo cadavérico.
Conforme depoimento de fl. 13, o irmão da
vítima informou que os policiais disseram que não
era para ninguém ficar na rua, pois teria tiro.
Ainda durante a tarde, após a vítima fugir
para a mata, os policiais a procuraram por
lá, porém, ao anoitecer, continuaram seu
patrulhamento nas proximidades, até que populares
entraram em contato informando que Ramon havia
saído da mata e tentava se homiziar em algumas
residências.
Assim, os denunciados saíram em diligências e
encontraram a vítima próxima ao Campestre Clube,
dando-lhe voz de prisão, porém ele continuou em
fuga, e, em determinado momento, quando tentava
pular o muro, foi atingido pelos tiros dos
denunciados que acertaram a vítima no ante braço
direito e nas costas, região dorsal esquerda.
Com a peça acusatória seguiu o apostilado
inquisitivo, contendo: Portaria (fl. 06); Boletim
unificado (fls. 13/17); Auto de apreensão de arma
de fogo (fl. 27); Auto de resistência (fl. 53);
Auto de apreensão (fls. 72; 74); Auto de
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constatação de eficiência de arma de fogo (fls.


73/75); Laudo de exame cadavérico (fls. 79/81);
Laudo de exame de local de crime (fls. 83/90);
Laudo de exame de local (fls. 91/96); Relatório
final do inquérito (fls. 97/98).
Laudo de exame de armas de fogo (fls.
159/164).
Decisão recebendo a denúncia (fl. 181).
Resposta à acusação (fls. 209/211).
Em AIJ, foi realizada a oitiva de seis
testemunhas e interrogados os acusados (fls.
286/288).
Em sede de alegações finais, o IRMP e a
defesa pugnaram pela absolvição (fls.
290/292;346/355).
É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO.
Inexistem preliminares a enfrentar, nulidades
a sanar ou irregularidades a suprimir,
desfrutando a relação processual de instauração e
desenvolvimento válido e regular, razão pela
qual, restando presentes as condições da ação e
os pressupostos processuais, dou por saneado o
feito.
Cuida-se de ação penal pública plena, cuja
pretensão deduzida na peça inicial tem como
suporte, a violação de crime doloso contra a
vida. Desta feita, cabe ao Juiz Singular decidir
tão somente se deve, ou não, ser o réu submetido
a julgamento pelo Tribunal Popular do Júri, juízo
natural dos crimes dolosos contra a vida, por
força de determinação constitucional.

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DO MÉRITO.
O Titular da Ação Penal deduz a pretensão
punitiva estatal no sentido de ver condenado os
réus
como incurso no artigo 121, na forma do
art. 14, II, na forma do art. 29, caput, todos do
Código Penal.
Consigno referido preceptivo:
“Art. 121 do Código Penal - Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(…)
Art. 14 do Código Penal - Diz-se o crime:
II - tentado, quando, iniciada a
execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do
agente.
(…)
Art. 29 do Código Penal - Quem, de
qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.”

Restou apurado, que após denúncias anônimas,


os policiais militares foram informados que a
vítima estaria efetuando diversos disparos de
arma de fogo em via pública.
Ao encontro da vítima, inciou-se a
perseguição, tendo esta efetuado disparos contra
os policiais, de forma desordenada, motivo pelo
qual conseguiu se desvencilhar até uma zona de
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plantio.
Em razão do perigo, os policiais recuaram,
quando receberam denúncias de moradores acerca da
localização do procurado.
Reiniciada a perseguição, após investida do
acusado, o policial atingiu a
vítima com dois disparos de arma de fogo, na
região lombar esquerda e no braço esquerdo,
tendo-o levado a óbito.
Em juízo, o acusado permaneceu
em silêncio, tendo o réu Calebe Rezende
confirmado ter efetuado os disparos contra a
vítima.
Do interrogatório:

"(…) Que houve vários confrontos e que a


Força Tática chegou depois; (…); Que
quando começou anoitecer, a Força Tática
recuou; que algum morador denunciou que
Ramon estava pulando uma casa; que se
espalharam para fazer um cerco; que houve
dois confrontos; que escutou uma mulher
gritando desesperada; que um sargento
teve o primeiro contato e pediu para ele
parar; que ele se abrigou em uma casa e
saiu pulando; que recebeu eles com
disparos; que quase conseguiram pegar
Ramon quando ele saiu da casa de Vanusa
(…); Que falou para largar a arma;
que Ramon foi pra cima e ele deu os
disparos; que tentou dar os primeiros
socorros; que deu 2 disparos; que o
primeiro pegou no braço e o segundo pegou
nas costas; que é treinado para dar dois

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disparos rápidos; que no primeiro


disparo, já tinha rodado e o
segundo pegou nas costas; que ele estava
na rua e no muro; que Ramon não
morreu na hora (…)"
Por ocasião da audiência de instrução e
julgamento, foram ouvidas as testemunhas, que
narraram:

"(…) Que no dia dos fatos, chegou em casa


no seu carro, fechou a garagem e foi
preparar a janta; que logo em seguida,
viu luzes acesas no seu portão e foi
verificar; que ao sair na varanda viu os
policiais militares, que disseram que um
indivíduo poderia estar escondido na
residência; ela olhou por toda a casa,
mas não o encontrou; que instantes
depois, ela ouviu barulhos de telha
quebrando e saiu para ver o que se
tratava, nesse momento se deparou frente
a frente com , que estava
empreendendo fuga; que nem olhou
para ela, só passou correndo por ela e
pulou o muro para a casa do lado; que ela
imediatamente gritou os policiais
militares, que seguiram em busca de
Ramon; que não viu se estava armado
naquele momento; que instantes depois
passou a ouvir barulhos semelhantes a
disparo de arma de fogo e ficou sabendo
logo em seguida que havia sido
atingido por disparos, não sabendo mais
detalhes (…)"

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"(…) Que confirma os fatos narrados


perante a autoridade policial; que Ramon
chegou dando tiros para cima, na Popular;
que chegou a polícia; que Ramon estava
drogado; que os policiais chegaram e
começaram a perseguir , deram tiros
e Ramon não se entregou; que Ramon morreu
na mata; que escutou bastantes disparos
(…); Que não estava aguentando
manter o vício; que já estava começando a
mexer nas coisas dos outros (…); Que
ficou sabendo que estava com uma
garrucha (…); Que chegou a apontar
a arma para o depoente; que conversou com
ele, mas ele não ouviu (…)"

:
"(…) Que conheceu ; que morava
próximo ao depoente (…); Que estava
alterado e efetuando disparos; Que
escutou o gritando e dando tiro
(…); Que a Força Tática chegou procurando
a vítima; que escutou cerca de dois
disparos ou mais (…)"

é:
"(…) Que estava próximo à residência de
Ramon; que estava atirando contra a
viatura; que era tarde (…); Que quando
escutou o segundo disparo, foi para
dentro de casa; que os policiais mandavam
parar; que correu em direção ao
cafezal quando a viatura estava chegando
perto dele; que os policiais não deixavam
eles saírem de casa; que pulou o
portão do CRAS (…)"
Analisando detidamente os autos, observa-se
dos depoimentos prestados, que a vítima efetuou
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disparos contra os policiais durante a


perseguição.
Diante da postura adotada pelos acusados,
observa-se que a conduta dos policiais militares
não se mostrou excessiva, visto que estes, bem
como os moradores que transitavam ou residiam na
localidade, corriam riscos com as investidas da
vítima.
Quanto a conduta da vítima, restou apurado
pelas provas angariadas aos autos, que era
usuário de drogas e estava praticando furtos na
localidade a fim de sustentar o vício em
substâncias entorpecentes.
Restou, ainda, do depoimento do irmão da
vítima, o, que n
estava sob efeito de drogas e descontrolado,
tendo chego a apontar a arma para o depoente.
DA LEGÍTIMA DEFESA:
É consabido que a legítima defesa é causa de
exclusão de ilicitude (art. 23, II, CP),
portanto, quando comprovada não há crime. Assim,
entende-se por legítima defesa:
"Art. 25 do Código Penal - Entende-se em
legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem."
Como bem aponta, para que haja legítima
defesa é preciso que o meio empregado repila
agressão injusta, de forma moderada, o que, in
casu, restou demonstrado, na medida que a ação
empregada pela vítima colocava em risco não

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somente os policiais militares, bem como


a comunidade local, visto que Ramon estava sob
efeitos de drogas e disparava desordenadamente.
Nesse sentido, analisando detidamente os
autos, observo que os réus estão amparados pela
excludente de ilicitude, na medida em que agiram
em legítima defesa e sob o estrito cumprimento do
dever legal.
Em caso semelhante:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE UMA DAS CONDIÇÕES
DA AÇÃO. ABORDAGEM POLICIAL. MORTE DO
ASSALTANTE. LEGÍTIMA DEFESA CONFIGURADA.
RECURSO MINISTERIAL IMPROVIDO. Não
extrapolam os limites da conduta
policiais que, agindo em legítima defesa,
realizam disparos contra assaltante que
se encontra na posse de duas armas de
fogo, restando evidente a situação de
legítima defesa, a ensejar a exclusão de
ilicitude da ação perpetrada. Recurso
improvido. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e
discutidos estes autos, acorda a 2ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, em conhecer do recurso e
negar-lhe provimento, nos termos do voto
do Relator. Fortaleza, 22 de agosto de
2018. FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE
VASCONCELOS Relator
(TJ-CE - RSE: XXXXX20088060001 CE XXXXX-
08.2008.8.06.0001, Relator: FRANCISCO
MARTONIO PONTES DE VASCONCELOS, Data de
Julgamento: 22/08/2018, 2ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 22/08/2018)

É consabido, que na sentença de pronúncia

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impera o Princípio in dubio pro societate,


devendo o magistrado se afastar do julgamento de
mérito da ação, sob pena de invadir a competência
do Tribunal Popular. Todavia, há de se consignar,
que diante da comprovação concreta e induvidosa
da inocência do réu ou presente causas de
excludentes de ilicitude ou culpabilidade, cabe
ao Estado-Juiz decretar sua absolvição, ante a
ausência do intento delituoso.
No caso sub examine, não restam dúvidas
quanto a conduta perpetrada em defesa do corpo
policial e de terceiros da sociedade, portanto
imperiosa é a absolvição.
Mesmo que a conduta tenha ocasionado a morte
da vítima, não restou constatado o animus dos
agentes em alcançar tal resultado.
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido
feito pelo Ministério Público, e ABSOLVO os
acusados
, com fulcro no artigo 397, I, do Código de
Processo Penal.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Transitado em julgado, arquivem-se os autos.

J , 14 de outubro de 2022.

JUIZ DE DIREITO
Dispositivo
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido
feito pelo Ministério Público, e ABSOLVO os
acusados

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, com fulcro no artigo 397, I, do Código de


Processo Penal.

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