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QUESTÃO PRÁTICA

Mário de Britto foi denunciado pela prática de homicídio. Segundo o


Ministério Público, o acusado passava por uma ponte, ocasião em que
encontrou a vítima Dionísio, seu suposto pai. Começaram então a
discutir, ocasião em que Mário teria disparado tiros contra a vítima,
tiros estes que a levaram a óbito. Durante a instrução, foram ouvidas
08 testemunhas de acusação e 08 testemunhas de defesa. As
testemunhas de acusação foram unânimes em destacar a animosidade
existente entre acusado e a vítima, que negava ser pai do acusado.
Também disseram que havia ação de investigação de paternidade em
andamento. As testemunhas assistiram a tudo de uma distância de
cerca de um quilometro e não puderam precisar maiores detalhes da
luta entre ambos. Já as testemunhas de defesa disseram que o acusado
simplesmente se defendeu do avanço da vítima, que vinha em sua
direção empunhando uma espada. Disseram ainda que Mário estava
no chão quando disparou os tiros contra a vítima, que estava em cima
dele. Informaram, por fim, que o acusado e a vítima já brigavam há
bastante tempo e que as discussões e agressões entre eles eram
constantes. O acusado, em seu interrogatório, apresentou a mesma
versão das testemunhas de defesa, embora tenha sido ouvido na
audiência antes delas. Mário foi denunciado por homicídio consumado
qualificado em razão da surpresa à vítima, que impossibilitou a sua
defesa, com fundamento no art. 121, §2º, inciso IV, do CP. Elabore a
peça cabível em favor de Mário.

QUAL A PEÇA – Memoriais

Cliente – Mário de Britto


Crime – Homicídio qualificado – artigo 121, §º, inciso IV do CP – pena
12 a 30 anos
Ação Penal – Pública Incondicionada
Rito – Júri – crime doloso contra a vida CF artigo 5º, inciso XXXVIII,
alínea “d”.
Suspensão Condicional do Processo (artigo 89 da lei 9099/95)
– Não é cabível (pena mínima 12 anos) é superior a 01 ano.
Momento Processual – Finda a instrução, a acusação pugnou pela
pronúncia do réu nos termos da denúncia.
ESTRUTURANDO A PEÇA

Peça – Memoriais – art. 403, §3º do CPP, c/c art. 394, §5º, do CPP.

Competência

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA


DO JÚRI DA COMARCA ____

(espaço 05 linhas)

PROCESSO Nº ____

MARIO DE BRITTO, já devidamente


qualificado nos autos da ação penal, que lhe move a Justiça Pública por
suposta infração ao artigo 121, §2º, inciso IV do Código Penal, por seu
advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à Vossa
Excelência apresentar MEMORIAIS com fundamento legal no artigo
art. 403, §3º do CPP, c/c o art. 394, §5º, do CPP, pelos motivos de
fato e de direito a seguir expostos:

PRELIMINARMENTE

O acusado foi interrogado antes das


testemunhas, o que configura nulidade processual, vejamos:

A oitiva das testemunhas deve preceder o


interrogatório do réu, conforme expressa determinação legal contida
no artigo 411 do CPP, estabelecendo a ordem de realização dos atos
da audiência de instrução no rito do Júri.
No presente caso, entretanto, por primeiro foi
interrogado o acusado, para somente após proceder-se à oitiva das
testemunhas, o que contraria o mencionado preceito processual e
configura cerceamento de defesa, em afronta ao art. 5º, inciso LV da
CF, além de acarretar nulidade processual, em evidente prejuízo ao
réu, nos termos do artigo 564, inc. IV do CP.

Portanto, de rigor a decretação da nulidade


processual a partir da audiência de instrução.

NO MÉRITO

Deve o réu ser absolvido sumariamente, eis


que agiu em legítima defesa, conforme se demonstrará a seguir:

Consoante os arts. 23, inciso II e 25, ambos do


Código Penal age acobertado pela excludente de ilicitude da legítima
defesa quem “Usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

No presente caso, restou devidamente


comprovado que o acusado agiu em legítima defesa, repelindo injusta
agressão por parte da vítima.

De fato, as testemunhas de defesa foram


incisivas ao afirmar que o réu simplesmente se defendeu do ataque da
vítima que empunhava uma espada e partiu em sua direção. Segundo
elas, ainda, o acusado estava no chão ao desferir os tiros contra o
ofendido, o qual estava em cima do réu.

Tal versão encontra pleno respaldo no


interrogatório judicial do réu.
Portanto, verificada, de forma cabal e
induvidosa, a incidência da aludida causa excludente de ilicitude da
legítima defesa, requer-se a absolvição sumária do acusado, com
fundamento legal no artigo 415, inciso IV do CPP.

Caso não seja esse o entendimento, há que ser


afastada a qualificadora prevista no §2º, inciso IV do artigo 121 do CP,
posto que manifestamente impertinente.

No caso em tela, a vítima deu início a agressão


e não houve qualquer surpresa, na medida em que o ofendido e o réu
brigavam há bastante tempo, sendo constantes as discussões e
desentendimentos anteriores entre eles, afastando a possibilidade de
incidência da aludida qualificadora, razão pela qual se requer o
afastamento.
Por fim, deve ser concedido ao acusado o
direito de aguardar o julgamento em liberdade.

CONCLUSÃO E PEDIDO

Diante do exposto, requer-se, em preliminar, a


anulação do processo a partir da audiência de instrução. Caso não seja
esse o entendido, requer-se a absolvição sumária do réu pelo
reconhecimento da excludente de ilicitude da legítima defesa e,
subsidiariamente, o afastamento da qualificadora prevista no inciso IV
do §2º do artigo 121 do CP, bem como a concessão ao acusado do
direito de aguardar o julgamento em liberdade.

Local e Data.

Advogado.....
OAB n.......

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