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Processo nº XXXXXXXXXXXXXXXXXX
ANDRÉ MEDEIROS, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu procurador
infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, interpor o presente
I. OS FATOS
O recorrente foi pronunciado por tentativa de aborto, conforme artigo 126, caput, c/c
artigo 14, II, ambos do Código Penal, vez que comprara remédio abortivo a fim de que sua
namorada Bainca Lanuce fizesse uso. Na audiência de instrução foram ouvidas as testemunhas e
a namorada, assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As partes
apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a conclusão do feito proferindo, após,
decisão de pronúncia, sendo as partes intimadas da decisão em 18/06/2018.
II. O DIREITO
a) DA PRESCRIÇÃO
Considerando que o réu foi pronunciado com fundamento no artigo 126 c/c 14, II do
CP, a pena máxima para este delito seria de 04 anos que, com base no artigo 109, IV do CP,
prescreveria em 08 anos. Todavia, o réu, na data dos fatos, era menor de 21 anos, já que nasceu
em 01/01/1996, e os fatos foram praticados em 03/01/14, ocasião em que o prazo prescricional
será diminuído pela metade, perfazendo em 04 anos, conforme artigo 115 do CP. À vista disso,
uma vez que entre a data do recebimento da denúncia, 22/01/2014 e a decisão confirmatória de
pronúncia, 18/06/2018, passaram-se mais de quatro anos. Desta forma, a extinção da
punibilidade do réu deve ser reconhecida, conforme artigo 107, inciso IV do CP e art. 415,
inciso IV do CPP, não havendo responsabilidade penal a ser imputada ao recorrente.
No caso, André era primário e não respondia a qualquer outra ação penal, não havendo
motivação razoável para que não fosse oferecida a proposta do instituto despenalizador. Com a
suspensão condicional do processo, sequer haveria que se falar em instrução e pronúncia, então
deveria ser anulada a decisão de pronúncia, encaminhando-se os autos ao Ministério Público
para manifestação sobre a proposta do benefício.
Após as alegações finais das partes, foram juntados documentos aos autos relevantes
para o julgamento da causa, tendo o magistrado, de imediato, sem dar vistas às partes, proferido
decisão de pronúncia considerando a documentação apresentada. Diante disso, houve violação
ao princípio da ampla defesa e do contraditório, já que a defesa não teve acesso a provas que
foram acostadas ao procedimento.
III. MÉRITO
O recorrente foi denunciado com incurso nas sanções previstas dos artigos 126, caput
c/c artigo 14, II, ambos do CP, acusado de comprar substância abortiva a fim de que sua
namorada fizesse uso. Supostamente, com a intenção de matar o feto, sendo após, pronunciado
nestes termos.
Entretanto, houve informação da equipe médico hospitalar que, na verdade, a namorada
do recorrente nunca esteve grávida, e que apenas possuía um cisto que fora expelido para fora.
Logo, não se tratava de um feto. Diante desse argumento que fundamenta a tese do crime
impossível por ineficácia absoluta do objeto, não há que se falar em tentativa de aborto, vez que
inexistia bem jurídico a ser tutelado.
Ante o exposto, requer seja provido o recurso com a reforma da decisão, a fim de que:
Por oportuno, requer seja recebido o recurso e procedido o juízo de retratação, nos
termos do artigo 589 do Código do Processo Penal. Caso mantida a decisão, requer que os autos
sejam submetidos, já com as inclusas razões, ao Tribunal do Estado do Rio de Grande do Sul.
Nestes termos,
Pede deferimento.