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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DO

TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE PORTO ALEGRE, ESTADO DO RIO GRANDE


DO SUL

Processo nº XXXXXXXXXXXXXXXXXX

ANDRÉ MEDEIROS, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu procurador
infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, interpor o presente

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

com base no artigo 581, IV, do Código de Processo Penal.

I. OS FATOS

O recorrente foi pronunciado por tentativa de aborto, conforme artigo 126, caput, c/c
artigo 14, II, ambos do Código Penal, vez que comprara remédio abortivo a fim de que sua
namorada Bainca Lanuce fizesse uso. Na audiência de instrução foram ouvidas as testemunhas e
a namorada, assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As partes
apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a conclusão do feito proferindo, após,
decisão de pronúncia, sendo as partes intimadas da decisão em 18/06/2018.

II. O DIREITO

a) DA PRESCRIÇÃO

Considerando que o réu foi pronunciado com fundamento no artigo 126 c/c 14, II do
CP, a pena máxima para este delito seria de 04 anos que, com base no artigo 109, IV do CP,
prescreveria em 08 anos. Todavia, o réu, na data dos fatos, era menor de 21 anos, já que nasceu
em 01/01/1996, e os fatos foram praticados em 03/01/14, ocasião em que o prazo prescricional
será diminuído pela metade, perfazendo em 04 anos, conforme artigo 115 do CP. À vista disso,
uma vez que entre a data do recebimento da denúncia, 22/01/2014 e a decisão confirmatória de
pronúncia, 18/06/2018, passaram-se mais de quatro anos. Desta forma, a extinção da
punibilidade do réu deve ser reconhecida, conforme artigo 107, inciso IV do CP e art. 415,
inciso IV do CPP, não havendo responsabilidade penal a ser imputada ao recorrente.

b) DA NULIDADE POR AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DE PROPOSTA DE


SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Considerando que o crime imputado ao recorrente possui pena prevista de 01 a 04 anos,


é possível a proposta de suspensão condicional do processo. De acordo com o Art. 89 da Lei no
9.099/95, independente de o crime ser ou não de menor potencial ofensivo, ainda que doloso
contra a vida, em sendo a pena mínima prevista de até oito ano, preenchidos os demais
requisitos legais, cabível a proposta de suspensão condicional do processo.

No caso, André era primário e não respondia a qualquer outra ação penal, não havendo
motivação razoável para que não fosse oferecida a proposta do instituto despenalizador. Com a
suspensão condicional do processo, sequer haveria que se falar em instrução e pronúncia, então
deveria ser anulada a decisão de pronúncia, encaminhando-se os autos ao Ministério Público
para manifestação sobre a proposta do benefício.

c) DA NULIDADE POR INFRINGÊNCIA AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

Após as alegações finais das partes, foram juntados documentos aos autos relevantes
para o julgamento da causa, tendo o magistrado, de imediato, sem dar vistas às partes, proferido
decisão de pronúncia considerando a documentação apresentada. Diante disso, houve violação
ao princípio da ampla defesa e do contraditório, já que a defesa não teve acesso a provas que
foram acostadas ao procedimento.

III. MÉRITO

a) DO CRIME IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO

O recorrente foi denunciado com incurso nas sanções previstas dos artigos 126, caput
c/c artigo 14, II, ambos do CP, acusado de comprar substância abortiva a fim de que sua
namorada fizesse uso. Supostamente, com a intenção de matar o feto, sendo após, pronunciado
nestes termos.
Entretanto, houve informação da equipe médico hospitalar que, na verdade, a namorada
do recorrente nunca esteve grávida, e que apenas possuía um cisto que fora expelido para fora.
Logo, não se tratava de um feto. Diante desse argumento que fundamenta a tese do crime
impossível por ineficácia absoluta do objeto, não há que se falar em tentativa de aborto, vez que
inexistia bem jurídico a ser tutelado.

Portanto, de acordo com o artigo 17 do Código Penal, a conduta do recorrente é atípica,


não incidindo a responsabilização pela tentativa, devendo este ser absolvido com fulcro no
artigo 415, III do Código de Processo Penal.

IV. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer seja provido o recurso com a reforma da decisão, a fim de que:

a) ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva;

b) anulação da decisão de pronúncia;

c) absolvição sumária, nos termos do Art. 415, inciso III, do CPP.

Por oportuno, requer seja recebido o recurso e procedido o juízo de retratação, nos
termos do artigo 589 do Código do Processo Penal. Caso mantida a decisão, requer que os autos
sejam submetidos, já com as inclusas razões, ao Tribunal do Estado do Rio de Grande do Sul.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio Grande do Sul, 25/06/2018.

Advogada Gleice Genaro (DRE 117226935)

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