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AO JUÍZO DA ___ VARA CRIMINAL DE ÓBIDOS/PA

Processo n° XXXXXXXX

EURINÁSIO DA SILVA ARRUDA, vulgo Piraíba, e FERREIRINHA DA SILVA,


vulgo Bacaba, ambos qualificados nos autos do processo em epígrafe, vem diante o Douto
Juízo, via conduto sua advogada que esta subscreve, com fulcro no artigo 593, inciso I, do
Código de Processo Penal, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

em razão da sentença proferida pelo juízo a quo, requerendo desde já o reconhecimento e


provimento da peça em tela, considerando os fatos e motivos que serão arguidos a seguir.

Termos em que,
Pede deferimento.

Óbidos/PA, 01 de novembro de 2021.

ADVOGADA
OAB/PA XXXX
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

Processo n° XXXXXXXXX
Origem: ____ª Vara Criminal da Comarca de Óbidos/PA
Ação Criminal
Apelantes: Eurinásio da Silva Arruda e Ferreirinha da Silva Sousa
Apelado: Justiça Pública

RAZÕES DE APELAÇÃO

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Pará


Colenda Câmara
Ínclitos Desembargadores

1. DA ADMISSIBILDIADE E TEMPESTIVIDADE

A legitimidade de interposição da apelação em tela decorre da sentença condenatória


prolatada pelo respeitável juízo a quo. Para mais, observa-se a tempestividade da presente peça,
tendo em vista que a legislação processual vigente estipula no caput do artigo 5931, o prazo de
05 (cinco) dias, contabilizados desde a data de intimação da sentença.

2. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Os apelantes solicitam os privilégios oriundos da Justiça Gratuita, por serem pobres na


acepção legal do termo, e não possuírem condições de arcar com as taxas e custas processuais
sem prejuízo próprio e de sua família. Nesse sentido, enuncia o artigo 5º, inciso LXXIV, da

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BRASIL. Decreto-Lei n°3.689/1941. Código de Processo Penal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
Constituição Federal de 1988 em que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos”2.

3. DOS FATOS

Os Apelantes foram presos em flagrante no município de Óbidos/PA, após a Polícia


Militar prossegui-los pela bacia do Rio Amazonas, em razão da suposta autoria dos crimes de
roubo e incêndio nas proximidades do terminal hidroviário da cidade de Santarém/PA.
Após a prisão, os Apelantes foram realocados na cadeia de Santarém/PA, sendo os
mesmos forçados, pela autoridade policial, a confessarem os efetivos crimes, nomeando como
mandante dos atos, o Sr. Jessé Otávio da Silva.
Em decorrência da intimação, as famílias de Eurinásio e Ferreirinha constituíram
advogado particular para que este realizasse ambas defesas. Todavia, o mesmo fora
impossibilitado de contatar seus clientes.
Diante do ocorrido, o Ministério Público ofereceu denúncia em face dos três supostos
criminosos, considerando apenas os elementos obtidos na investigação criminal. No entanto, o
procurador dos apelantes foi impedido de acessar tais informações sob a justificativa de que se
trataria de inquérito sigiloso.
Nesse contexto, o Juiz a qual fora encaminha a acusação determinou a citação dos
acusados por meio de publicação oficial no Diário de Justiça local, de modo que, em
contrapartida o advogado dos acusados apresentou preliminarmente a resposta à acusação, onde
alegou a incompetência territorial do juízo de Óbidos/PA, bem como a ilegalidade das alegações
feitas na delegacia e o desrespeito às garantias legais dos acusados no processo penal.
À vista disso, o Juiz indeferiu a defesa realizada e prosseguiu com o processo, dando
início a oitiva dos Apelantes, e condenando os mesmos pelos crimes tipificados nos artigos 157
e 250 do Código Penal, sendo a audiência efetuada após a resposta acusação.
Dessa forma, insatisfeitos com a decisão proferida pelo Juiz de primeira instância, os
Apelantes requerem desde já o reconhecimento e provimento da presente ação, para que seja
anulada a sentença condenatória, tendo em vista os fundamentos arguidos a seguir.

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
4. DO DIREITO

A. Da Incompetência do Juízo

Como fora supracitado, os atos criminosos com suposta autoria dos Apelantes,
ocorreram no terminal hidroviário do município de Santarém/PA, cabendo à esta comarca o
julgamento dos crimes efetivados, tendo em vista que na cidade de Óbidos/PA ocorrera apenas
a captura dos acusados.
Nesse âmbito, corrobora o Código de Processo Penal, em seu artigo 70, onde “a
competência será, de regra, determinada pelo lugar que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”3. Assim, requer desde já o
reconhecimento da incompetência do juízo da comarca de Óbidos/PA.

B. Do Desrespeito às Garantias Constitucionais dos Apelantes

À vista do arguido nos fatos, verifica-se a ilicitude do colhimento das confissões, tendo
em vista que os acusados foram forçados a admitirem um crime cujo não pertenciam à sua
autoria. Ademais, sabe-se que tal ocorrido viola os princípios constitucionais dos réus, uma vez
que, a Constituição da República Federativa do Brasil assegura em seu artigo 5º, inciso LXIII,
que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado”4.
Em virtude disso, pleiteia-se desde já a total desconsideração das confissões colhidas,
pois, estas se tratam de provas ilícitas, por infringirem as determinações legais ao serem
realizadas mediante coação por parte das autoridades policiais.

C. Da Ilegalidade dos Atos

Conforme o exposto, o patrono dos Apelantes encontrou-se impossibilitado de contatá-


los, sendo tal fato ilegal quando observado o artigo 7°, inciso III, da Lei n° 8.906, de 04 de julho

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BRASIL. Decreto-Lei n°3.689/1941. Código de Processo Penal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
de 19945, o qual prevê como direito inerente ao advogado a comunicação particular com seus
clientes, ainda que na ausência de procuração formal, quando estes se encontrarem detidos,
presos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, mesmo quando, se tratando de
locais considerados incomunicáveis.
Nesse contexto, preconiza o artigo 21 do Código de Processo Penal que “a
incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será
permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir”6, fato
que não se verificou no caso em tela, caracterizando a ofensa aos direitos dos Apelantes, bem
como os do advogado, que encontrou-se reprimido ao tentar exercer corretamente seu ofício.
Além disso, sabe-se que advogado constituído pelos Apelantes, não conseguiu
permissão para acessar os arquivos referentes ao inquérito policial, encontrando-se prejudicado
ao tentar constituir a defesa dos mesmos. Ainda, verifica-se que o Estatuto da Advocacia
estabelece também em seu artigo 7°, inciso XIV7, que é direito do advogado examinar os autos
de flagrante, investigações, e processos, ainda que na ausência de procuração.
Outrossim, nota-se que as acusações feitas pelo Ministério Público, baseiam-se apenas
nas informações adquiridas por meio do Inquérito Policial, deixando com que o advogado não
consiga informações suficientes para a elaboração da defesa. Ademais, sabe-se que não houve
material probatório recolhido, e as confissões utilizadas como instrumento da acusação, não
merecem relevância pois ocorreram em razão de coação policial. Com isso, verifica-se:

Súmula Vinculante nº 14 – Acesso de advogado ao inquérito


policial

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso


amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa. 8

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BRASIL. Lei n° 8.906/1994. Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm
6
BRASIL. Decreto-Lei n°3.689/1941. Código de Processo Penal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm
7
BRASIL. Lei n° 8.906/1994. Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm
8
(Publicação – Dje nº 26/2009, p. 1, em 9/2/2009)
Assim, considerando a ilegalidade dos atos efetivados durante o inquérito e o processo,
tendo em vista que o patrono constituído pelos Apelantes foi privado de seus direitos como
advogado, requer desde já o reconhecimento e provimento da presente peça apelatória.

5. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

A) Seja concedido os benefícios da justiça gratuita, tendo em vista o artigo


5°, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988;
B) Seja identificada a incompetência do Juízo do município de Óbidos/PA,
conforme o que prevê o artigo 70 do Código de Processo Penal;
C) Seja anulada a sentença condenatória proferida pelo Juiz de primeiro grau
em desfavor dos apelantes;
D) Sejam identificadas as ilegalidades ocorridas nos atos do inquérito e
processo;
E) Sejam os Apelantes absolvidos e libertos, em razão da insuficiência de
material probatório.

Óbidos/PA, 01 de novembro de 2021.

ADVOGADA
OAB/PA XXXX

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