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PEÇA 2010.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DO


TRIBUNAL DO JURI DA COMARCA DE ... 

Processo n. ...

HELENA, já devidamente qualificada nos autos em epígrafe, através de seu advogado que esta
subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por não se conformar com
a decisão de fl. ..., interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, nos termos do art.
581, IV, do Código de Processo Penal. 

Nestes termos, requer seja recebido o recurso e procedido o juízo de retratação, nos termos
do art. 589, do Código de Processo Penal. Caso mantida a decisão, requer seja o recurso
encaminhado ao Tribunal de Justiça, com as razões já inclusas, para o seu devido
processamento. 

        Nestes termos, 
      
        Pede deferimento,

        Local ..., data ...

        Advogado, OAB, n. ...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

Recorrente: Helena
Recorrido: Justiça Pública

Processo n. ...

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Egrégio Tribunal de Justiça

Colenda Câmara

I- DOS FATOS
No dia 17 de junho de 2010, uma criança recém-nascida é vista boiando em um córrego e, ao
ser resgatada, não possuía mais vida. 

A autoridade policial representou pela decretação de interceptação telefônica da linha de


telefone móvel de Helena. 

O Ministério Público denunciou a recorrente pela prática do crime previsto no art. 123 do
Código Penal. 

Durante a ação penal foi juntado aos autos o laudo de necropsia realizado no corpo da criança.
A prova técnica concluiu que a criança já nascera morta. 

Durante a instrução, a testemunha Lia trouxe nova informação, que não mencionara quando
ouvida na fase inquisitorial. Disse, em outras palavras que tivera com a mãe da criança, Helena
contou que tomou substância abortiva. 

Interrogada, a recorrente negou os fatos. 

Encerrada a instrução, o magistrado prolatou sentença de pronúncia, pronunciando a


recorrente pela prática do crime previsto no art. 124 do Código Penal. 

II- DO DIREITO

A) DAS PRELIMINARES 

A.1) Da nulidade da sentença de pronúncia

O Ministério Público ofereceu denúncia contra a recorrente pela prática do delito previsto no
art. 123 do Código Penal. O Magistrado proferiu decisão pronunciando a recorrente pela
prática do art. 124 do Código Penal. Todavia, a decisão de pronúncia deve ser anulada. 

Conforme se observa nos autos, a testemunha Lia trouxe nova informação, que não consta na
denúncia, no sentido de que a recorrente teria contado que ingeriu substância abortiva, razão
pela qual o Magistrado proferiu decisão de pronúncia pela prática do crime previsto no art.
124 do Código Penal. 

Todavia, o Magistrado violou o disposto no art. 411, §3º, do Código de Processo Penal, c/c o
art. 384 do Código de Processo Penal, já que, tendo em vista o surgimento de fato novo
durante a instrução criminal, deveria ter concedido vista para o Ministério Público aditar a
denúncia, nos termos do art. 384 do Código de Processo Penal. 

Logo, deve ser declarada a nulidade da decisão de pronúncia. 

A.2) Da prova ilícita

A autoridade policial representou pela interceptação telefônica, o que foi deferido pelo
Magistrado. Todavia, trata-s de prova ilícita. 

O crime de infanticídio, previsto no art. 123 do Código Penal, é apenado com detenção.
Todavia, nos termos do art. 2º, III, da Lei n. 9.296/96, somente é admitida a interceptação
telefônica se o fato investigado constituir infração penal apenada com reclusão. Além disso, o
crime de aborto, previsto no art. 124 do Código Penal, também é apenado com detenção.
Logo, trata-se de prova ilícita. 

Além disso, a autoridade policial representou pela interceptação telefônica porque "estava
desconfiado" de que a recorrente estaria envolvida na morte da criança. Logo, não poderia ser
admitida a interceptação telefônica, porque não havia indícios razoáveis da autoria ou
participação da recorrente na morte a criança, nos termos do art. 2º, I, da lei n. 9.296/96. 

Por fim, a autoridade policial não esgotou todos os meios de investigação antes de representar
pela interceptação telefônica, violando o disposto no art. 2º, II, da Lei n. 9.296/96. 

Logo, a interceptação telefônica se trata de prova ilícita, devendo ser desentranhada dos
autos, nos termos do art. 157 do Código de Processo Penal.

A.3) Da prova ilícita por derivação

A autoridade policial tomou conhecimento da testemunha Lia a partir da


interceptação telefônica ilícita. Logo, o testemunho de Lia se trata de prova ilícita por
derivação, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do art. 157, §1º, do Código de
Processo Penal. 

B) DO MÉRITO

B.1) Da materialidade

Durante a ação penal, foi juntado aos autos laudo de necropsia realizado no corpo da criança.
A prova técnica concluiu que a criança já nascera morta. Todavia, não há prova da
materialidade do crime de aborto, uma vez que a perícia não apontou que a criança faleceu
em decorrência de eventual ingestão de substância abortiva. 

Logo, a recorrente deverá ser absolvida sumariamente, nos termos do art. 415, I, do Código de
Processo Penal, ou sucessivamente, ser impronunciada, nos termos do art. 414 do Código de
Processo Penal. 

B.2) Da autoria

A recorrente sempre negou todos os fatos. O magistrado se baseou na interceptação


telefônica e no testemunho de Lia para proferir a sentença de pronúncia. 

Todavia, conforme referido acima, a interceptação telefônica e a testemunha são provas


ilícitas, devendo ser desentranhadas dos autos, nos termos do art. 157 do Código de Processo
Penal. 
Assim, não havendo mais nenhum elemento de prova acerca da autoria, deveria o Magistrado
proferir sentença de impronúncia ou de absolvição sumária. 

Logo, a recorrente requer seja reformada a decisão para o fim de que seja proferida decisão de
absolvição sumária ou, sucessivamente, de impronúncia. 

III- DO PEDIDO

Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, com a REFORMA DA
DECISÃO DE 1º GRAU, para o fim de que:

a) seja declarada a nulidade da decisão de pronúncia; 

b) seja declarada a ilicitude e nulidade da interceptação telefônica, devendo ser


desentranhada dos autos, nos termos do art. 157 do Código de Processo Penal. 

c) seja declarada a ilicitude e nulidade do testemunho de Lia, porque se trata de prova ilícita
por derivação, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do art. 157, §1º, do Código
de Processo Penal.

d) seja a recorrente absolvida sumariamente, com base no art. 415, II, do Código de Processo
Penal.

e) seja a recorrente impronunciada, nos termos do art. 414 do Código de Processo Penal.

Local ..., data ...

Advogado. OAB n. ... 

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