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UNISA-UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

Nome: Perla Paulo Pires RA 2239019- Lab Penal

Prof Maurício Manso

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO


TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE SÃO PAULO-SP

Autos nº xxx.xxx.xxx

Cristiano Fulano de Tal, já qualificado nos autos


do processo criminal em epígrafe que lhe move o Ministério Público Estadual,
por seu advogado que esta subscreve, não se conformando com a respeitável
decisão de pronúncia à fl. xx, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fulcro
no artigo 581, IV, do Código de Processo Penal.
Desde já, requer o recorrente que o presente instrumento seja recebido,
processado e, na hipótese de Vossa Excelência não considerar os argumentos
e manter a Sentença de pronúncia, que seja encaminhado ao Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo.

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, xx do mês de xxxx.

Advogado: Beltrano de Tal

OAB/SP xxx.xxx
RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Recorrente: Cristiano Fulano de Tal.

Recorrido: Ministério Público de São Paulo.

Autos nº: xxx.xxx.xxx.

Egrégio Tribunal de Justiça,

Colenda Câmara,

Ínclitos Desembargadores,

Douta Procuradoria de Justiça

Em que pese a respeitável decisão do


Excelentíssimo Juiz de Direito a quo, não merece prosperar a pronúncia do
recorrente pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas, vejamos:

I – SÍNTESE DO OCORRIDO

Narra na inicial acusatória que o denunciado, no


dia 8/5/2012, no período compreendido entre 19h00 e 19h30min, nas
proximidades da rua Paulo Chaves, casa 32, no bairro Aricanduva, São Paulo –
SP, o denunciado, Cristiano, brasileiro, solteiro, ajudante de pintor, residente no
mesmo endereço informado acima, imbuído de inequívoco animus necandi,
utilizando-se de um facão, golpeou João cinco vezes, causando-lhe a lesão
descrita no laudo de exame de corpo de delito, a qual foi a causa eficiente de
sua morte. Que o delito foi cometido mediante meio cruel, causando intenso e
desnecessário sofrimento à vítima. Que o crime foi, ainda, praticado de surpresa,
recurso que dificultou a defesa da vítima, culminando em seu óbito.
A denúncia foi recebida, em 20/8/2012, pelo juiz da 1ª vara do júri da capital, que
determinou a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no
prazo de 10 dias. Na resposta, o acusado alegou que havia agido para se
defender, juntou comprovante de residência e sua folha penal bem como arrolou
uma testemunha, qualificando-a e requerendo sua intimação. O Ministério
Público não se opôs à juntada dos documentos e, no dia e hora marcados,
procedeu-se à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
defesa, nesta ordem.

A acusação arrolou Pedro, que informou que conhecia Cristiano havia 5 anos e
que o acusado tinha o hábito de beber, comumente se embriagando e causando
confusão nos bares da cidade.

A defesa arrolou Francisco, irmão do réu e único a presenciar o fato, o qual foi
ouvido com a concordância da acusação e sem o compromisso legal, tendo
afirmado em juízo que presenciou o fato ocorrido no dia 8/5/2012,
aproximadamente às 19h00, no interior da casa; que ao encontrar seu irmão o
avisou de que havia uma pessoa subtraindo madeira e telhas de sua residência.
Diante disso, Cristiano dirigiu-se ao local onde o larápio estava. Chegando lá,
Cristiano, de posse de um facão, mandou que o ladrão parasse com o que estava
fazendo, tendo o ladrão o desafiado e, de posse de um pé-de-cabra, caminhado
em sua direção. Imediatamente, Cristiano tentou desferir alguns golpes no
ladrão, que, ao ser atingido, tombou ao solo.

Por fim, Cristiano, ao ser interrogado em juízo, disse que a acusação não era
verdadeira, porque havia atuado para se defender da iminente agressão por
parte da vítima. Disse, ainda, que, apesar de ter tentado desferir cinco golpes na
vítima, somente a atingiu no quinto golpe, momento em que a vítima caiu.

Ressalta-se que o laudo cadavérico indicou a existência de apenas uma lesão


no corpo da vítima, na altura do peito, e apontou como causa mortis hemorragia
no pulmão, em consequência de ação perfurocortante.

Com base nestes fatos o Ministério Público,


ofereceu denúncia, em face do acusado, que foi incurso, “in tese”, no art. 121, §
2.º, incisos III e IV, do Código Penal.
Porém, o acusado agiu em legítima defesa,
conforme provaremos adiante, bem como ante ao que será comprovado em
instrução processual a posteriori.

II – FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Inicialmente cumpre esclarecer que o


denunciado é pessoa íntegra, primária, reside em endereço fixo, mora na
residência onde ocorreram os fatos há mais de 5 (cinco) anos, jamais teve
participação em qualquer tipo de delito, sendo pessoa honesta e voltada para
o trabalho. É verdade que o réu ora em questão, tinha o hábito em consumir
bebidas alcoólica em suas horas de folga, ou seja, após seu expediente de
trabalho e que por 2 (duas) vezes envolveu-se em desentendimento em um
comércio local (bar), informação verídica anuída pelo próprio acusado, das
quais já se passaram mais de 2 (dois) anos, fatos irrelevantes para a atual
contenda.
Porém vejamos, o Juiz entendeu haver indícios
de autoria e estar configurada a materialidade do crime, comprovada por meio
do laudo de exame de corpo de delito (cadavérico), bem como pelos
depoimentos colhidos no curso da instrução, e pronunciou o acusado, na própria
audiência, pelo crime previsto no art. 121, § 2.º, incisos III e IV, do Código Penal,
a fim de que fosse submetido a julgamento pelo júri popular. Por fim, determinou
que o réu deveria permanecer em liberdade, já que esteve solto durante toda a
instrução, haja vista a ausência dos requisitos para a prisão preventiva, além de
ser primário e possuir bons antecedentes.

Neste mesmo raciocínio, esclareço que o


denunciado agiu em defesa própria, quando foi alertado por seu irmão de
prenome “Francisco” que teria um gatuno furtando de sua casa, telhas e
madeiras, desprovendo-a de seu telhado; que o acusado temendo pela própria
segurança deslocou-se até sua casa e constatou um desconhecido fazendo a
retirada dos materiais acima mencionados; que foi dada voz para que parasse
com aquele ilícito, porém o sujeito de forma inesperada, foi na direção de
Cristiano com intuito de ofender sua integridade física com uso de uma
ferramenta, vulgarmente conhecida como “pé de cabra” e para se defender
Cristiano fez uso de meios de fortuna que possuía no momento da injusta
agressão sofrida, para repeli seu agressor, este desferiu 5 (cinco) golpes no
indivíduo, vindo acertar somente na quinta vez. Cessada a injusta agressão,
Cristiano se conteve e acionou a polícia militar, via 190, sendo acionado o
resgate médico para o ferido por policiais, que foi socorrido ao pronto-socorro
mais próximo, recebeu o atendimento médico, porém no dia seguinte, não
resistiu devido ao ferimento e complicações de saúde pré-existentes e evoluiu
a óbito.
Há que se esclarecer que o denunciado é réu
primário, nunca se envolvera com qualquer ilícito anteriormente, possui
endereço fixo e trabalha fichado em uma empresa de construção civil, que tal
fatalidade ocorreu em defesa de seu patrimônio, o que representa que não tinha
o “animus necandi” para perpetração de nenhum crime.
Todavia, em razão da já salientada
primariedade e de seus bons antecedentes, o acusado faz jus à aplicação
da legítima defesa com previsão legal do artigo 25 e inciso II, artigo 23 do
CP, bem como também tem o caso em comento, repercussão no artigo
188 do CC.
Neste caso, prevê o CPP em seu
artigo 415, IV, que o juiz absolverá desde logo o acusado quando o fato não for
punível, havendo excludente de ilicitude, isto é, a exclusão do próprio crime.
Destarte, incabível e errônea a decisão de pronúncia, que desde logo deveria
absolver sumariamente o recorrente.

III – PEDIDOS

Ante o exposto, requer que seja conhecido e


provido o presente recurso em sentido estrito, para que haja a devida reforma,
impronunciando do acusado, pela legitima defesa, desde logo absolver
sumariamente em razão da existência da excludente de ilicitude, conforme os
artigos 25 e inciso II do art. 23 do CP c/c artigo 188 do Código Civil e art. 415,
inciso IV do CPP.

Nestes termos, pede deferimento.


São Paulo, xx de maio de xxxx.

Advogado: Beltrano de Tal.

OAB/SP Nº xxx.xxx

São Paulo, 06 de maio de 2021.

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