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PEÇA XIV - POR MEMORIAIS, CASO FELIPE

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XX VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE VITÓRIA-ES

PROCESSO Nº: ...

FELIPE, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a JUSTIÇA PÚBLICA, por
seu advogado que esta lhe subscreve, vem, a honrosa presença de Vossa Excelência apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS com fundamento no art. 403, §3º do Código de
Processo Penal pelas razões de fatos e de direitos a seguir expostos:

DOS FATOS

Felipe, com 18 anos de idade, em um bar com outros amigos, conheceu Ana, linda jovem, por
quem se encantou. Após um bate-papo informal e troca de beijos, decidiram ir para um local mais
reservado. Nesse local trocaram carícias, e Ana, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal
com Felipe. Depois da noite juntos, ambos foram para suas residências, tendo antes trocado
telefones e contatos nas redes sociais.

No dia seguinte, Felipe, ao acessar a página de Ana na rede social, descobre que, apesar da
aparência adulta, esta possui apenas 13 (treze) anos de idade, tendo Felipe ficado em choque
com essa constatação. O seu medo foi corroborado com a chegada da notícia, em sua
residência, da denúncia movida por parte do Ministério Público Estadual, pois o pai de Ana, ao
descobrir o ocorrido, procurou a autoridade policial, narrando o fato. Por Ana ser inimputável e
contar, à época dos fatos, com 13 (treze) anos de idade, o Ministério Público Estadual denunciou
Felipe pela prática de dois crimes de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217- A, na forma
do artigo 69, ambos do Código Penal. O Parquet requereu o início de cumprimento de pena no
regime fechado, com base no artigo 2º, §1º, da lei 8.072/90, e o reconhecimento da agravante
da embriaguez preordenada, prevista no artigo 61, II, alínea “l”, do CP.

O processo teve início e prosseguimento na XX Vara Criminal da cidade de Vitória, no Estado do


Espírito Santo, local de residência do réu. Felipe, por ser réu primário, ter bons antecedentes e
residência fixa, respondeu ao processo em liberdade.

Na audiência de instrução e julgamento, a vítima afirmou que aquela foi a sua primeira noite, mas
que tinha o hábito de fugir de casa com as amigas para frequentar bares de adultos. As
testemunhas de acusação afirmaram que não viram os fatos e que não sabiam das fugas de Ana
para sair com as amigas. As testemunhas de defesa, amigos de Felipe, disseram que o
comportamento e a vestimenta da Ana eram incompatíveis com uma menina de 13 (treze) anos
e que qualquer pessoa acreditaria ser uma pessoa maior de 14 (quatorze) anos, e que Felipe
não estava embriagado quando conheceu Ana. O réu, em seu interrogatório, disse que se
interessou por Ana, por ser muito bonita e por estar bem vestida. Disse que não perguntou a sua
idade, pois acreditou que no local somente pudessem frequentar pessoas maiores de 18
(dezoito) anos. Corroborou que praticaram o sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de
forma espontânea e voluntária por ambos.

A prova pericial atestou que a menor não era virgem, mas não pôde afirmar que aquele ato sexual
foi o primeiro da vítima, pois a perícia foi realizada longos meses após o ato sexual.
DOS DIREITOS

O acusado está sendo processado pelo crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) em
concurso material (art. 69 do CP).

O acusado conheceu a vitima em uma balada e acabaram no decorrer da festa criando uma certa
intimidade, trocando beijos e caricias, em nenhum momento o réu chegou a perguntar a idade
da vitima pelo fato de o local ser frequentado por pessoas maiores de idade, deste modo pensou
que a mesma também era maior de idade, assim como as testemunhas afirmaram que também
acharam que a vitima era mais velha pelo comportamento e pelas vestimentas, no fim da noite
os dois manterão relações sexuais na modalidade oral e vaginal.

No dia seguinte o acusado veio descobrir por meio de uma rede social que a vitima tinha apenas
13 anos de idade, ficando o mesmo em estado de choque, pois, não tinha a minima ideia de tais
fatos. Desse modo, não resta dúvidas de que o acusado agiu em erro de tipo essencial escusável
previsto no art. 20 do CP, neste caso permite somente a punição por culpa mas o tipo penal
imputado ao réu não prevê forma culposa de modo que, a conduta é formalmente atípica.

Os crimes em que deixam vestígios exigem que sejam feito exame de corpo de delito nos termos
do art. 158 do CPP, para a produção de provas e configuração dar circunstâncias geradas pela
conduta. No exame pericial foi constatado que a menor não era virgem, mas não pode atestar
que foi a primeira relação apesar de assim ela ter dito em seu depoimento, pois, tal exame foi
feito meses depois e já não era mais possível averiguar tais fatos, mas afirmou ter o hábito de
fugir de casa com as amigas e frequentar bares adultos, desta forma, não se pode confirmar as
causas reais de sua condição.

Diante de tais fatos não resta dúvidas de que o acusado agiu em erro, não pensou em nenhum
momento que estava agindo contra a lei, praticando portanto, conduta atípica. Mas caso assim
não entenda Vossa Excelência que seja a pena fixada no minimo legal, pois o acusado é réu
primário, tem bons antecedentes e residência fixa, as circunstâncias judiciais estão ao seu favor.

Ainda nesse sentido, o parquet requereu o reconhecimento da agravante da embriaguez


preordenada, mas o acusado não se embriagou para praticar tais fatos, até porque não era sua
intenção praticar uma conduta tipica, o mesmo estava apenas se divertindo em um bar com seus
amigos. Os amigos do acusado que estava presente afirmaram este não estava embriagado, de
forma que, deve ser afastada a presença de tal agravante.

Mas, ao tempo do crime o acusado era menor de 21 anos, tinha apenas 18 anos e nesse caso
nos termos do art. 65, I do CP deverá incidir a atenuante da menoridade.

Deve também ser excluído o concurso de crimes do art. 69 do CP, pois, com o advento da lei 12.
015/2009, o crime de estupro de vulnerável e o de atentado violento ao pudor se tornaram um
tipo misto alternativo, devendo ser considerado um crime único.

Requereu ainda o ministério público que iniciasse o cumprimento da pena em regime fechado
pela por fazer o crime parte do rol do art. 1º da lei 8.072 sendo o crime hediondo, de forma que,
o art. 2º, §1º da mesma lei defende o inicio de cumprimento de pena em regime fechado. Ocorre
que, o STF já julgou tal dispositivo inconstitucional de acordo com o art. 33, §2º, "a" prevê regime
inicial fechado para crimes com pena superior a 8 anos, o que não é o caso, devendo então fixar
o regime inicial semi aberto para o acusado.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto requer seja a presente ação recebida e provida de forma que seja
reconhecida a atipicidade da conduta por erro de tipo essencial inevitável absolvendo o réu
sumariamente nos termos do art. 386, III do CPP. Caso não entenda Vossa Excelência dessa
forma, que seja a pena fixada no minimo legal reconhecendo as circunstâncias judiciais a favor
do acusado, excluindo o concurso de crimes por ser um tipo misto alternativo, afastando a
agravante de embriaguez preordenada e reconhecendo a atenuante de menoridade, fixando o
regime inicial de cumprimento de pena no regime semi aberto.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Vitória/ES, 15 de abril de 2014 Advogado – OAB

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