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INTERNACIONAL
4. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
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2018
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Pontos do edital abrangidos: 2.3 Aspectos penais do Protocolo de São Luís (Decreto nº 3.468/2000). 2.4
Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional (Convenção de Palermo); Decreto nº
5.015/2004. 2.5 Decreto nº 5.017/2004 (protocolo adicional à convenção das Nações Unidas contra o crime
organizado transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial
mulheres e crianças). 2.6 Atribuições do Departamento de Polícia Federal para questões decorrentes de
tratados internacionais. (...) 7 Cooperação internacional: espécies e procedimentos. 8 Cooperação policial
internacional. 9 Cooperação jurídica internacional em matéria penal. (...) 11 Decreto nº 154/1991 12 Decreto
nº 3.468/2000. 13 Decreto nº 5.015/2004. 14 Decreto nº 5.016/2004. 15 Decreto nº 5.017/2004. 16 Decreto
nº5.687/2006. 17 Decreto nº 5.941/2006. 18 Decreto nº 6.340/2008. 19 Decreto nº 8.833/2016.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................................... 4
CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................. 7
EXTRADIÇÃO ............................................................................................................................................................................ 23
1. INTRODUÇÃO
CONTEXTUALIZAÇÃO
A transnacionalidade é uma das principais marcas da criminalidade do século XX. Com a
aceleração da globalização, principalmente após a Guerra Fria, o trânsito internacional de bens
(lícitos e ilícitos) e de pessoas (criminosos e inocentes) intensificou-se bastante. Crimes cometidos,
antes somente na seara doméstica, passaram a ocorrer para além das fronteiras nacionais. Os
países então se deparam com a necessidade de colher provas em território estrangeiro, de localizar
as testemunhas e foragidos internacionais, de identificar capital alocado em paraísos fiscais, entre
outras questões.
No entanto, sabemos que a soberania dos países limita os atos investigativos e processuais
exercidos por suas autoridades ao seu próprio território. Não é possível, por exemplo, que a
polícia brasileira prenda um indivíduo no território espanhol, tampouco que um juiz brasileiro
solicite dados bancários a uma instituição financeira das Ilhas Cayman.
Diante dessa nova realidade, o sucesso das persecuções penais domésticas passa a depender de
instrumentos de auxílio mútuo entre os países, por meio dos quais autoridades persecutórias de
Assim, podemos conceituar a cooperação internacional em matéria penal como o meio pelo qual
autoridades de um estado soberano auxiliam autoridades de outro estado soberano, no exercício
da sua persecução penal.
Considerando o conteúdo do edital e o retrospecto das provas anteriores, neste resumo trataremos
dos instrumentos de cooperação internacional em matéria penal e os atos normativos internos e
internacionais que cuidam do assunto.
i. Em matéria penal;
Pode também ser classificada em ativa (país solicita ajuda) e passiva (país recebe solicitação de
ajuda).
2. Direito Internacional Penal: conjunto de normas que visa a reprimir os atos que
configuram crimes internacionais (ex. o TPI é uma entidade própria do direito internacional
a) auxílio direto;
b) carta rogatória;
d) extradição;
e) transferência e execução;
independentemente de qualquer acordo, com base apenas em normas internas. Assim, nenhum
dos instrumentos acima depende da existência de tratado entre os países para serem utilizados.
INTRODUÇÃO
O Brasil é signatário de diversos acordos bilaterais e multilaterais de cooperação internacional em
matéria penal. No edital da Polícia Federal (2021), são trazidos os seguintes diplomas
internacionais (representados pelos decretos promulgadores – ou seja, todos foram assinados, ratificados e
promulgados pelo nosso país):
• Decreto nº 5.016/2004 (Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
• Decreto nº 5.017/2004 (Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças);
Neste tópico estudaremos, dentre esses atos, apenas os principais, que possuem maiores chances
de serem cobrados na sua prova.
CONVENÇÃO DE PALERMO
INTRODUÇÃO
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, ou UNTOC na sigla
em inglês, adotada em Nova York, em 15 de novembro de 2000, chamada de Convenção de
Palermo, foi assinada e ratificada pelo Brasil. No plano interno, a Convenção foi promulgada pelo
Decreto 5.015, de 12/03/2004, estando em vigor desde então.
A UNTOC surge como um meio de união de forças entre Estados soberanos para a prevenção e o
combate mais eficaz ao crime organizado transnacional (art. 1º).
Em suma, pode-se dizer que a Convenção tem como disposições principais: (a) dispositivos que
trazem compromisso de criação, pelos países membros, de determinadas normas domésticas
relativas à criminalização de condutas (mandados de criminalização), alcance de jurisdição e
Como não é possível que sejam criados tipos penais diretamente por meio de atos internacionais
(violação do princípio da legalidade, na sua vertente lex populi), é comum que, em tratados que versem
sobre matéria criminal, sejam previstos mandados de criminalização, ou seja, dispositivos por
meio dos quais os Estados Partes comprometem-se a adotar medidas legislativas ou outras que
sejam necessárias para caracterizar como infração penal, em seus ordenamentos jurídicos internos,
determinadas condutas.
A Convenção de Palermo trouxe vários dispositivos nesse sentido, por meio dos quais os Estados
Partes comprometem-se a adotar medidas para:
Uma das inovações da Convenção de Palermo foi a fixação de um conceito do que é um grupo
Atenção: é importante acrescentar que o STF já decidiu que, o conceito de organização criminosa
que está positivado no art. 2º da Convenção de Palermo não era apto, para, antes da entrada em
considerar por organização criminosa, fato que inviabilizaria a aplicação do conceito dado pela
Convenção de Palermo, para a promoção de responsabilização de acusados das práticas dos
crimes posteriores de lavagem de capitais. Os bispos também não poderiam ser responsabilizados
por lavagem de capitais tendo como antecedentes os demais crimes praticados (fraudes), na
medida em que estes não constavam do rol taxativo da Lei de Lavagem.
A Convenção de Palermo dispõe também sobre os meios especiais de obtenção de prova, medidas
de proteção a vítimas, testemunhas, peritos e réus colaboradores além de medidas de
indisponibilidade patrimonial. Nesse âmbito, podemos destacar os seguintes dispositivos:
c) medidas de proteção para vítimas (arts. 24.4 e 25), testemunhas (art. 24) e colaboradores (art.
26.4);
d) normas sobre indisponibilidade, perdimento e cooperação para confisco de ativos, assim como
sobre sua destinação (art. 12 a 14).
PROTOCOLOS ADICIONAIS
A Convenção de Palermo é complementada por três protocolos adicionais. Reiteramos que o Basil
assinou os três protocolos. Todos eles também já foram promulgados. São eles:
CONVENÇÃO DE MÉRIDA
A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, de 2003, ou UNCAC na sigla em inglês,
chamada de Convenção de Mérida, adotada em Nova York, em 31 de outubro de 2003, foi
assinada e ratificada pelo Brasil. No plano interno, a Convenção foi promulgada pelo Decreto nº
5.687, de 31/01/2003, estando em vigor desde então.
A UNCAC surgiu a partir da preocupação dos países com o combate e a prevenção da corrupção,
considerada um mal para a “estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer as
instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça e ao comprometer o desenvolvimento
sustentável e o Estado de Direito” que “deixou de ser um problema local para converter-se em um
fenômeno transnacional que afeta todas as sociedades e economias” (preâmbulo).
A finalidade da convenção é: (a) promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais
eficaz e eficientemente a corrupção; (b) promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a
assistência técnica na prevenção e na luta contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos; (c)
promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos assuntos e dos bens
públicos (art. 1).
ÂMBITO DE APLICAÇÃO
A UNCAC aplica-se “à prevenção, à investigação e à instrução judicial da corrupção e do
“embargo preventivo” (houve um erro de tradução na versão em português do tratado. Sequestro/arresto
seria a tradução correta), da apreensão, do confisco e da restituição do produto de delitos” (art. 3,
1).
Atenção: para a aplicação da Convenção, a menos que haja disposição em contrário, não será
necessário que os delitos enunciados nela produzam dano ou prejuízo patrimonial ao Estado (art.
3, 2).
ESTRUTURA DA CONVENÇÃO
COAF
Prevê o art. 7º, 1, “b”, da Convenção, que cada Estado Parte “(...) considerará a possibilidade de
criar um serviço de informação financeira que funcione como centro nacional de coleta, análise e
difusão de informação relativa a eventuais atividades de lavagem de dinheiro”.
A Convenção de Viena surgiu a partir da preocupação dos países com “a magnitude e a crescente
tendência da produção, da demanda e do tráfico ilícitos de entorpecentes e de substâncias
psicotrópicas, que representam uma grave ameaça à saúde e ao bem-estar dos seres humanos e
que têm efeitos nefastos sobre as bases econômicas, culturais e políticas da sociedade”
(considerações da convenção).
A Convenção ainda associa o tráfico de drogas à exploração infantil e a outras atividades ilícitas
que “minam as economias lícitas de ameaçam a estabilidade, a segurança e a soberania dos
Estados”.
A finalidade da Convenção é “promover a cooperação entre as Partes a fim de que se possa fazer
frente, com maior eficiência, aos diversos aspectos do tráfico ilícito de entorpecentes e de
substâncias psicotrópicas que tenham dimensão internacional” (art. 1).
Os Estados Partes comprometeram-se a caracterizar como delitos penais em seu direito interno: o
tráfico de entorpecentes; o cultivo de sementes de ópio, de arbusto de coca e da planta canabis
com a finalidade de produzir entorpecentes; fabricação, transporte e utilização de equipamento
destinado à produção de droga; financiamento gestão e organização do tráfico; lavagem de
capitais decorrente do tráfico de drogas, dentre outras condutas.
3. entrega vigiada;
4. extradição;
7. medidas para evitar o desvio das substâncias utilizadas com Frequência na Fabricação
Ilícita de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas (obs.: o controle dos produtos químicos
utilizados como insumos para a produção de drogas é feito pela Polícia Federal – trata-se de um dos
exemplos de sua atuação de polícia administrativa);
8. medidas para erradicar o cultivo ilícito de plantas das quais se extraem entorpecentes e
para eliminar a demanda ilícita de entorpecentes e de substâncias psicotrópicas;
10. cooperação para eliminar o tráfico ilícito por mar, de acordo com o estabelecido no direito
internacional do mar;
11. cooperação a fim de suprimir a utilização dos serviços postais para o tráfico ilícito.
CARTA ROGATÓRIA
Carta rogatória é um instrumento de cooperação jurídica internacional, por meio do qual uma
autoridade judiciária de um Estado estrangeiro solicita que o Poder Judiciário de outro país
pratique determinado ato processual em seu território, com a finalidade de instruir um processo
judicial em curso.
OBJETO
As cartas rogatórias podem ter por objeto atos processuais decisórios ou não decisórios de caráter
não executório.
para o cumprimento das medidas executórias não é a carta rogatória, mas sim, a homologação de
sentença estrangeira.
ESPÉCIES
As rogatórias podem ser:
ROGATÓRIA PASSIVA
A carta rogatória passiva, em regra, antes de ser cumprida no Brasil, precisa receber um
exequatur, que é exarado pelo STJ (art. 105, I, i, da CF/88).
Por meio do exequatur, o STJ verifica se o ato processual solicitado pela autoridade judiciária
estrangeira é compatível com o ordenamento brasileiro. Caso seja, o Tribunal concede o
exequatur, que significa “cumpra-se”.
Após o exequatur concedido pelo STJ à carta rogatória, esta será cumprida por um juiz federal
(art. 216-V do RISTJ).
O RISTJ apenas impõe que não será concedido exequatur à carta rogatória que ofender a
soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem pública (art. 216-P).
Segundo o art. 784, caput, do CPP, as cartas rogatórias passivas só serão cumpridas se o crime,
segundo a lei brasileira, for passível de extradição.
Cumprida a carta rogatória ou verificada a impossibilidade de seu cumprimento (ex.: pessoa a ser
interrogada faleceu), será devolvida ao Presidente do Tribunal no prazo de dez dias, e ele a
remeterá, em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações
Exteriores, à autoridade estrangeira de origem (Art. 216-X do RISTJ).
ROGATÓRIA ATIVA
As cartas rogatórias ativas devem ser expedidas pelo juízo brasileiro responsável pela prática do
ato ao Ministro da Justiça (art. 783 do CPP), a quem cabe dar continuidade ao trâmite até o
recebimento pelo país estrangeiro. Não há muito o que falar sobre a rogatória ativa, tendo em vista
que a maior parte do procedimento ocorre no país estrangeiro e é regulado pelas suas próprias
leis.
TRÂMITE
O trâmite das cartas rogatórias depende da existência ou não de tratado internacional entre o país
rogante o país rogado.
Atenção: o recebimento da carta rogatória por meio da autoridade central competente ou pela via
diplomática garante-lhe a autenticidade, inclusive quanto à tradução para a língua brasileira,
dispensando-se ajuramentação, autenticação ou qualquer procedimento de legalização (art. 41 do
CPC e art. 782 do CPP).
Os critérios para a homologação são estabelecidos pelo direito interno e pelos tratados de que o
Estado faça parte.
No que se refere à homologação de sentenças estrangeiras, o Brasil adota o mesmo sistema das
cartas rogatórias, ou seja, o da delibação. A competência para homologação também é do STJ (art.
105, I, i, da CF/88), a quem cabe tão somente verificar os requisitos para que o pronunciamento
judicial estrangeiro produza efeitos no Brasil.
O procedimento para homologação de sentenças estrangeiras está previsto no CP (art. 9º), no CPP
(art. 780 a 782 e 787 a 790) e no RISTJ (Art. 216-A a 216-N). Subsidiariamente, pode ser aplicado o
regramento do NCPC (art. 960 a 965).
Para que haja a homologação da sentença penal estrangeira, é necessário que ela já tenha
transitado em julgado.
Atenção: no caso das sentenças cíveis, o STJ entende que não é necessário o trânsito em julgado,
mas tão somente que sejam eficazes no país de origem (STJ. Corte Especial. SEC 14812-EX, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2018 - Info 626).
A ação deve ser proposta pelo MPF, através da procuradoria-Geral da República, perante o STJ e
conta com a citação do réu que poderá apresentar contestação.
Obs.: para gerar reincidência, não é necessário que a condenação no estrangeiro seja homologada
pelo STJ. A simples condenação por crime cometido no estrangeiro produz reincidência.
AUXÍLIO DIRETO
Trata-se do mecanismo de cooperação destinado ao cumprimento de pedidos que não decorram
diretamente de decisão judicial estrangeria e que, portanto, não se sujeitem meramente ao juízo de
delibação do STJ (art. 28 do CPC).
Vou tentar explicar de maneira mais didática. Vamos supor que o FBI, nos EUA, deseje que seja
realizada uma colheita de amostra biológica de um investigado que se encontra foragido no Brasil.
Ele tem duas opções descritas a seguir.
a) Carta rogatória: é mais demorada e mais complexa. Como vimos, serve para cumprir atos
judiciais. Portanto, é necessário que o FBI obtenha uma decisão de um juiz americano que
autorize a realização da prova e que expeça a rogatória. Passa pelo trâmite diplomático ou
por via de autoridade central e vai ao STJ (exequatur) antes de ir ao juízo de primeira
instância para cumprimento. No entanto, o lado bom é que o juízo no STJ é somente
delibatório (sem exame do mérito da pretensão), pois aplica-se o princípio da confiança na
jurisdição estrangeria.
b) Auxílio direto: é mais rápido. Normalmente tramita por meio de autoridades centrais. O
FBI pode expedir diretamente o pedido ao Brasil, por meio de autoridades centrais ou por
Atenção: a marca distintiva, portanto, entre o auxílio direto e a carta rogatória é se o juízo será de
mera delibação (STJ) e nesse sentido, prevê o RISTJ: “art. 216-T. § 2º Os pedidos de cooperação jurídica
internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem juízo deliberatório do Superior Tribunal de
Justiça, ainda que denominados de carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da
Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto. (Incluído pela Emenda
Regimental n. 18, de 2014)”.
Não erre: o STJ não concede exequatur à cooperação por auxílio direto.
PERGUNTA: qual a competência para apreciar a ação judicial em que se pedem as providências
solicitadas por meio do auxílio direto? É da justiça federal de primeira instância, seja porque a
União é parte, por meio do órgão que representa ao juízo, seja porque a ação destina-se a cumprir
tratado do qual o Brasil é parte (artigo 109, incisos I, III e V, da CF/88).
EXTRADIÇÃO
A extradição é regulamentada pelos art. 81 a 99 da lei de migração, pelos art. 262 a 280 do Dec. nº
9.199/2017 (regulamenta a lei de migração) e pelo art. 207 a 214 do RISTF.
Ex.: BILLY comete crime nos EUA e foge para o Brasil. EUA pede a extradição de BILLY ao Brasil para que
lá seja processado.
Apesar de o conceito inicial dado pela Lei de Migração não ter sido expresso, também é possível a
extradição caso o extraditando esteja sendo objeto de procedimento investigativo (art. 83).
Atenção: somente Estados soberanos podem pedir a extradição. Organizações internacionais não
podem. E o Tribunal Penal Internacional – TPI? No caso do TPI, não se trata de extradição, mas de
“entrega” (surrender). Há uma diferença entre os institutos. A extradição dá-se entre Estados
soberanos e a entrega, de um Estado soberano para um Tribunal Internacional. Inclusive, segundo
a doutrina, apesar de não ser possível a extradição de brasileiro nato, a “entrega” é sim possível.
A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para
esse fim, sendo sua rotina de comunicação realizada pelo órgão competente do Poder Executivo
em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes (art. 81, §2° e 1º).
Atenção: o pedido de extradição (passiva), assim como o pedido de prisão cautelar para fins de
extradição é decidido pelo STF, conforme previsão do art. 102, I, "g", da CF/1988.
Segundo o art. 82. da Lei de Migração, a extradição não será concedida nos seguintes casos:
STF: O requisito da dupla tipicidade exige que o fato pelo qual está
sendo acusado o extraditando seja simultaneamente considerado
crime no Estado de origem e no Brasil no momento em que ele foi
praticado. (STF. 2ª Turma. PPE 732 QO/DF, Rel. Min. Celso de Mello,
julgado em 11/11/2014 - Info 767)
STF: As hipóteses previstas na lei nas quais a extradição é proibida podem ser expandidas pela
jurisprudência para atender ao respeito a outros direitos fundamentais do extraditando. Brasil
deve negar a extradição se houver possibilidade concreta de o Estado requerente condenar o
extraditando a prisão perpétua ou a pena de morte, sanções que são expressamente proibidas pela
Constituição brasileira (art. 5º, XLVII). Além disso, é possível negar a extradição se houver uma
excessiva abertura dos tipos penais no Estado requerente, o que viola o princípio da legalidade
(art. 5º, XXXIX, da CF/88) (STF. 2ª Turma. Ext 1428/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/5/2019
- Info 939).
PRISÃO CAUTELAR
O pedido de prisão cautelar pode ser feito pelo Estado estrangeiro por correio, fax, mensagem
a) via diplomática;
PERGUNTA: então a Interpol tem legitimidade para requerer a prisão para fins de extradição?
SIM, desde que o pedido seja acompanhado de documentação comprobatória da existência de
ordem de prisão proferida por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de tratado, com a
promessa de reciprocidade recebida por via diplomática. Essa previsão encontra-se expressa no
art. 84, §2º da Lei de Migração. O STF já havia referendado essa possibilidade quando da égide do
Estatuto do Estrangeiro, que continha previsão semelhante em seu art. 82, §2º, com redação dada
pela Lei 12.878/2013 (STF. 2ª Turma. PPE 732 QO/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/11/2014
- Info 767). Portanto, muito cuidado: a INTERPOL, por ser organização internacional, jamais terá
legitimidade para requerer a extradição. No entanto, possui legitimidade para requerer a prisão
A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final pela autoridade judiciária
competente quanto à legalidade do pedido de extradição.
a) prisão albergue; ou
Atenção: trata-se de uma inovação da Lei de Migração, tendo em vista que o revogado Estatuto do
Estrangeiro dizia que a prisão deveria perdurar até o julgamento final do STF, “não sendo
admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue” (art. 84, parágrafo
único, da Lei nº 6.815/80).
Se esse pedido se referir ao mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em cujo território a
infração foi cometida.
a) o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a
lei brasileira;
Atenção: a preferência diz respeito a quem receberá primeiro o extraditando. O segundo pedido
não ficará prejudicado. O STF julgará ambos. O que ocorre é que o extraditando será entregue ao
Estado que detém a preferência. Após o cumprimento da pena ou a absolvição, o extraditando será
entregue ao segundo Estado requerente.
c) seja advertido de que tem direito ao processo judicial de extradição e à proteção que tal
direito encerra.
Mesmo com a concordância do extraditando, o pedido ainda será decidido pelo STF!
STF: Mesmo com a concordância do extraditando em ser entregue ao país requerente, não estão
dispensadas as formalidades da extradição. O STF tem o? dever de efetuar o controle da
legalidade sobre a postulação formulada pelo Estado requerente (STF. 1ª Turma. Ext 1468, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 13/12/2016 e STF. 2ª Turma. Ext 1407, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
15/12/2015).
O pedido que possa originar processo de extradição em face de Estado estrangeiro deverá ser
encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo órgão do Poder
Judiciário responsável pela condenação ou pelo processo penal que fundamenta o pedido.
Assim, compete:
O pedido deverá ser instruído com cópia autêntica ou com o original da sentença condenatória ou
da decisão penal proferida; conterá indicações precisas sobre o local, a data, a natureza e as
circunstâncias do fato criminoso e a identidade do extraditando e será acompanhado de cópia dos
textos legais sobre o crime, a competência, a pena e a prescrição.
O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão competente do
Poder Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade, será
encaminhado ao STF.
Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do STF sobre sua legalidade e
procedência, não cabendo recurso da decisão.
Ao receber o pedido, o Ministro Relator no STF designará dia e hora para o interrogatório do
extraditando e, conforme o caso, e nomeará curador ou advogado, se não o extraditando não tiver.
Não estando o processo devidamente instruído, o STF, a requerimento do MPF, poderá converter
o julgamento em diligência para suprir a falta. O MPF terá prazo improrrogável de 60 dias para
suprir essa falta, após o qual o pedido será julgado independentemente da diligência. Vale
ressaltar que esse prazo será contado da data de notificação à missão diplomática do Estado
requerente.
Atenção: se o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado no Brasil, por crime
punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da
conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvadas as hipóteses de liberação
antecipada pelo Poder Judiciário e de determinação da transferência da pessoa condenada (que
estudaremos a seguir).
Atenção: a entrega do extraditando será adiada, se a efetivação da medida puser em risco sua vida
em virtude de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial.
A decisão do STF sobre a extradição é irrecorrível e faz coisa julgada, não comportando novo
pedido baseado no mesmo fato. Cabem apenas embargos de declaração. No entanto, os embargos
não impedem a efetivação da extradição.
a) não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;
b) computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
d) não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro estado que o reclame;
No item “a” está consagrado o princípio da especialidade (art. 96, I, da Lei de Migração). Segundo
Extradição supletiva: pedido de extensão, formulado no processo já em trâmite, para que sejam
ampliar os efeitos da extradição a novos delitos.
Ex. JOHN estava sendo investigado por tráfico de drogas e formação de organização criminosa nos EUA. Em
2014, as autoridades americanas descobriram que JOHN, com medo de ser preso, fugiu para o Brasil,
passando a morar em Porto Alegre e formularam pedido de extradição ao Brasil. Ocorre que as investigações
avançaram e, em 2015, descobriu-se que JOHN também havia praticado alguns homicídios enquanto
participava da organização criminosa. Diante disso as autoridades americanas podem formular pedido de
extensão para ampliar os efeitos da extradição aos novos delitos descobertos.
Atenção: só é necessário o pedido supletivo se os crimes tiverem sido cometidos antes do pedido
de extradição. Novos delitos poderão ser julgados normalmente pelo estado requerente.
OUTROS PONTOS
Os objetos e instrumentos do crime que estiverem no Brasil também deverão ser entregues?
SIM. A entrega do extraditando, respeitado o direito de terceiro, será feita com os objetos e
instrumentos do crime encontrados em seu poder.
O apenado poderá progredir para o regime semiaberto, mesmo havendo uma ordem de extradição
ainda não cumprida. Segundo decidiu o STF, o fato de estar pendente a extradição do estrangeiro
não é motivo suficiente para impedir a sua progressão de regime. STF. Plenário. Ext 947
QO/República do Paraguai, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 28/5/2014 (Info 748).
Trocando em miúdos, o que ocorre é que o país requerente, ao invés de pedir que a pessoa
condenada lhe seja entregue para cumprir pena no seu território, solicita que a pena seja cumprida
no território brasileiro.
Ex.: EUA condena JOÃO DA SILVA à pena de prisão, por ter cometido homicídio no território americano.
JOÃO foge para o Brasil. Como não podem pedir a extradição de JOÃO, que é brasileiro nato, os EUA pedem
que JOÃO cumpra, no Brasil, a pena imposta por juiz americano.
c) a duração da condenação a cumprir ou que restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um)
ano, na data de apresentação do pedido ao Estado da condenação;
d) o fato que originou a condenação constituir infração penal perante a lei de ambas as partes;
a) via diplomática; ou
Atenção: o pedido será recebido pelo órgão competente do Poder Executivo e, após exame da
presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos na lei de migração ou em tratado,
será encaminhado ao STJ para decisão quanto à homologação. Aqui, a competência é do STJ e não
do STF!
Não preenchidos os pressupostos, o pedido será arquivado mediante decisão fundamentada, sem
prejuízo da possibilidade de renovação do pedido, devidamente instruído, uma vez superado o
óbice apontado.
Atenção: nos casos de transferência de execução da pena, a execução penal será de competência da
Justiça Federal.
Para tanto, é preciso que o condenado expresse seu interesse nesse sentido, a fim de cumprir
pena a ele imposta pelo Estado brasileiro por sentença transitada em julgado.
A transferência de pessoa condenada no Brasil pode ser concedida juntamente com a aplicação de
medida de impedimento de reingresso em território nacional.
a) o condenado no território de uma das partes for nacional ou tiver residência habitual ou
vínculo pessoal no território da outra parte que justifique a transferência;
c) a duração da condenação a cumprir ou que restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um)
ano, na data de apresentação do pedido ao Estado da condenação;
d) o fato que originou a condenação constituir infração penal perante a lei de ambos os
Estados;
Atenção: não se procederá à transferência quando inadmitida a extradição. Muito cuidado, pois,
esse requisito vale para a transferência de pessoa condenada, mas não para a transferência de
execução da pena!
Atenção: nos casos de transferência de pessoa condenada, a execução penal será de competência
da Justiça Federal.
Se o ato se destinar diretamente a produzir prova que será utilizada atual ou futuramente em
processo penal, a cooperação jurídica é o caminho mais adequado. Se o ato não se destinar
diretamente à produção de prova, a cooperação policial poderá ser utilizada.
Ex.: entrevistar uma pessoa com vistas a descobrir a possível localização de um suspeito – cooperação
policial.
A cooperação policial internacional pode se dar por meio de contato direito entre as polícias dos
países (normalmente ocorre por meio das adidâncias policiais no estrangeiro) ou por meio da
Interpol.
Cada país membro possui em seu território um Escritório Central Nacional – ECN, representado
por um órgão encarregado do cumprimento da lei, que serve como ponto de contato com os
demais ECNs e com a Secretaria Geral da Interpol. No Brasil, nós temos o ECN- Brasília, órgão
componente da estrutura da Polícia Federal.
Existem atualmente oito espécies. Esses são seus nomes e suas finalidades:
7. Difusão laranja: avisar sobre um evento, uma pessoa, um objeto ou um processo que
represente uma ameaça séria e iminente à segurança pública.
8. Aviso especial da INTERPOL - Conselho de Segurança das Nações Unidas: Emitido para
grupos e indivíduos que são alvos dos Comitês de Sanções do Conselho de Segurança das
Nações Unidas.
REFERÊNCIAS
Todos os seis volumes desta coleção consistem em resumos extraídos das seguintes fontes:
Direito internacional público e privado / Paulo Henrique Gonçalves Portela – 9ª edição – Salvador: Editora
Juspodvm, 2017.
Curso de direito internacional público / Valério de Oliveira Mazzouli – 13ª edição – Rio de Janeiro: Forense,
2020.
Direito internacional público: curso elementar / Francisco Rezek. – 17. ed. – São Paulo: Saraiva, 2018.
Resumo do TRF5.