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Aula 21

PC-RJ (Delegado) Reta Final - 2021


(Pós-Edital) Em PDF

Autor:
Isabella Pires

04 de Outubro de 2021

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Isabella Pires
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Sumário

Considerações Iniciais ......................................................................................................................... 3

Direito Penal ...................................................................................................................................... 3

1 - Pílulas Estratégicas de Doutrina ............................................................................................................... 4

1. Conceitos Relevantes.................................................................................................................................................... 4

2. Culpabilidade ................................................................................................................................................................ 5

3. Teorias sobre a culpabilidade ....................................................................................................................................... 7

3. Elementos da culpabilidade ........................................................................................................................................ 14

3.1. Imputabilidade......................................................................................................................................................... 14

3.2. Potencial consciência da ilicitude ............................................................................................................................ 15

3.3. Exigibilidade de conduta diversa ............................................................................................................................. 17

4. Causas excludentes da culpabilidade ......................................................................................................................... 17

4.1. Inimputabilidade...................................................................................................................................................... 18

4.2. Coação Moral Irresistível ......................................................................................................................................... 28

5. Causas supralegais de exclusão da culpabilidade ....................................................................................................... 32

2 - Vade-Mécum Estratégico – ..................................................................................................................... 33

3 – Questões Comentadas............................................................................................................................ 35

Legislação Civil Especial ..................................................................................................................... 41

1 - Pílulas Estratégicas de Doutrina ............................................................................................................. 41

1. Considerações............................................................................................................................................................. 42

2. Aplicação do Estatuto ................................................................................................................................................. 43

3. Direitos do Idoso......................................................................................................................................................... 47

4. Ministério Público ....................................................................................................................................................... 56

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5. Proteção judicial dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos .............................................................. 58

6. Fundo Nacional do Idoso ............................................................................................................................................ 59

7. Jurisprudência Correlata ............................................................................................................................................. 60

2 - Vade-Mécum Estratégico ........................................................................................................................ 62

3 – Questões Comentadas:........................................................................................................................... 70

Considerações Finais ......................................................................................................................... 73

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RETA FINAL PCERJ
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Olá, queridas alunas e queridos alunos! Como estão os estudos por aí?

Continuaremos nossa caminhada rumo à sua aprovação!!

Hoje, nosso PDF abordará as seguintes matérias:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO

Direito Penal Teoria do Crime – Culpabilidade. - Incidência altíssima.

Legislação Estatuto do idoso (Lei 10.741/2003). - Incidência alta.


Civil Especial
-Terceiro tópico de maior incidência.

Vamos lá?

DIREITO PENAL
Nosso foco de estudo, de hoje será o seguinte ponto do edital:

PONTO 2 e PONTO 4: Culpabilidade.

Colegas, vamos adentrar, efetivamente, no estudo dos nossos temas de hoje. Como já
mencionamos nas aulas anteriores, o assunto sobre culpabilidade faz parte do tema de Teoria do
Crime, que é o campeão de incidência nas provas objetivas de Direito Penal para o cargo de
Delegado de Polícia.

Não bastasse alta incidência, a matéria tem um alto custo-benefício, porque o estudo da Teoria
do Crime o ajuda a entender a estrutura do Direito Penal como um todo.

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Em razão das características do ponto em comento, o estudo contará com Pílulas Estratégicas de
Doutrina, Excertos do Vade-mécum Estratégico e Questões Comentadas, que já dão a base
suficiente para enfrentar as questões da prova objetiva.

1 - PÍLULAS ESTRATÉGICAS DE DOUTRINA

Faremos nosso estudo de Legislação Extravagante em Reta Final a partir, principalmente, das
Aulas do Professor Michael Procópio, no Curso Regular, extraindo conceitos, classificações e o
instrumental teórico necessário à compreensão e melhor assimilação (e memorização) dos
diplomas normativos.

Chamo a atenção de vocês para o fato de que, eventuais observações ou considerações a serem
feitas por mim, estarão identificadas com a presente formatação sombreada.

Vejamos as lições fornecidas pelo Professor Michael Procópio (Aula 05 – Direito Penal):

1. Conceitos Relevantes

Culpabilidade é o juízo de reprovação ou censura, consistindo no terceiro substrato do conceito


analítico de crime, consoante preconiza a teoria tripartida. A culpabilidade pode ser compreendida
em um aspecto formal e em um aspecto material:

I.Culpabilidade formal: é o juízo de reprovação realizado pelo legislador, de forma abstrata, para
fixação das sanções criminais, inclusive no que se refere aos limites máximo e mínimo das penas.
É feita uma análise de censura para fixação das penas abstratamente cominadas a cada uma delas.
II.Culpabilidade material: é o julgamento da reprovação do fato que é realizada pelo juiz, em
relação ao caso concreto, para a fixação da pena. É um dos critérios a serem levados em conta
para a individualização da sanção penal.

Sua previsão está expressa no artigo 59 do Código Penal, que traz as chamadas circunstâncias
judiciais para a fixação da pena-base, na primeira das três fases da dosimetria. Referidas
circunstâncias também são analisadas para a fixação do regime inicial de cumprimento de pena,
da possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos ou
pena de multa, bem como para escolha das penas cominadas de forma alternativa. Vale a leitura
do referido dispositivo:

O Professor Cláudio Brandão ensina que, enquanto a tipicidade e a antijuridicidade se


relacionam ao fato, a culpabilidade se refere ao autor do fato. Culpabilidade do autor
seria uma culpabilidade do caráter ou da decisão de vida e levaria em conta a conduta
social e a personalidade do agente, por exemplo.

Põe-se, então, a seguinte controvérsia, a culpabilidade é do autor ou do fato?

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Prevalece que a culpabilidade é do fato, apesar de seus elementos estarem relacionados à


pessoa do autor. A culpabilidade constitui-se da imputabilidade, da potencial consciência da ilicitude
e da exigibilidade de conduta diversa. Referidos elementos são relacionados à pessoa, ao sujeito
ativo da conduta. Entretanto, o autor só deve ser reprovado enquanto agente da conduta, por
aquilo que ele fez ou deixou de fazer.

As condições pessoais do agente são consideradas para a dosimetria da pena, mas não
podem determinar a reprovabilidade do ato. Deste modo, a censurabilidade relaciona-se ao fato
praticado pelo agente, sendo que ele deve ser analisado como o sujeito do fato. A reprovação,
portanto, se dá em relação à gravidade da conduta praticada pelo agente, seja ela omissiva ou
comissiva.

Luiz Flávio Gomes, por sua vez, defende que o que interessa para o Direito Penal do Fato é o juízo
de censura sobre os fatos, sendo que as características do autor são reservadas para fixação da
pena, nos termos do artigo 59 do Código Penal. Assim, afasta-se o Direito Penal do Autor, que não
é aceito atualmente, por defender a punição e a responsabilização do homem por aquilo que ele é,
e não pela ação ou omissão que ele exteriorizou.

Em suma:

➢ Culpabilidade do autor: juízo de reprovação que recai sobre o autor, em virtude de sua
conduta e com base em sua capacidade de se autodeterminar.
➢ Culpabilidade do fato: é o juízo de reprovação do homem por aquilo que ele fez, a censura
recai sobre a conduta praticada pelo agente. Adotada pela doutrina majoritária.

2. Culpabilidade

Ao estudar a teoria da conduta, vimos que atualmente se adota a base finalista. Contudo, é
importante entender as alterações por que passou a conceituação da culpabilidade, bem como seus
elementos, conforme os juristas estudavam o enfoque que se daria à ação ou à conduta.

A teoria clássica da conduta, denominada de causalista, entendia que ela deveria ser
compreendida de forma objetiva. Deste modo, a análise do elemento subjetivo fica apenas para a
culpabilidade.

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No neokantismo, ainda que a conduta passe a contar com elementos subjetivos, o dolo e a culpa
continuam a ser estudados na culpabilidade, que passa a contar, para a maioria dos seus
partidários, com um novo elemento, a inexigibilidade de conduta diversa.

Por fim, o finalismo ensejou a migração do dolo e da culpa do substrato da culpabilidade para o
substrato do fato típico. A conduta humana, que sempre é dotada de alguma finalidade, não pode
ser compreendida sem o seu elemento subjetivo.

Deste modo, a conduta passa a ser vista em seu conjunto, sendo que, para haver relevância penal,
deve ser dolosa ou culposa. A culpabilidade deixa, então, de contar com os elementos
subjetivos (dolo ou culpa), passando a ser integrada pela potencial consciência da ilicitude,
a imputabilidade e a exigibilidade da conduta diversa.

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Essa estrutura passa a ser usada como base pela grande maioria da doutrina, mesmo que haja
algumas modificações pontuais, como no caso do funcionalismo de Roxin 1, que adiciona o elemento
“necessidade de pena”, ao lado da culpabilidade, para responsabilização penal.

Estudada essa relação entre as teorias da conduta e a culpabilidade, cumpre então conhecer as
teorias da culpabilidade, que variam conforme se compreendem a conduta e os elementos que
devem compor o juízo de censura.

3. Teorias sobre a culpabilidade

O estudo da culpabilidade foi se alterando, conforme a doutrina passou a conceber a ação ou a


conduta de forma diversa. As teorias da conduta, portanto, estão relacionadas com as teorias sobre
a culpabilidade. Estudemos cada uma delas.

Teoria psicológica da culpabilidade

A teoria psicológica concebe a culpabilidade como a relação psíquica entre o autor e o resultado,
na forma de dolo ou culpa. Possui como único pressuposto a imputabilidade, ou seja, parte do
ponto inicial de que é necessária a imputabilidade, para só então se analisar o dolo ou a
culpa do agente. Parte dos causalistas considerava o dolo como normativo, já que seria seu
elemento a atual consciência da ilicitude, ou seja, que, no momento da conduta dolosa, o agente
atuasse com vontade, conhecimento e atual consciência da ilicitude. Franz von Liszt, por sua vez,
considerava que a consciência da ilicitude não era relevante para o Direito Penal.

1
ROXIN, Claus. Derecho Penal, Parte General, Tomo I. Fundamentos. La Estructura de la Teoria del Delito.
Traduccion y notas Diego-Manuel Luzón Peña (Director), Miguel Díaz y García Conlledo, Javier de Vicente Remesal.
Madrid: Civitas, 1997, Reimp. 2008, p.794.

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A teoria psicológica foi adotada na época em que adotada a teoria causalista da conduta, e,
portanto, o fato típico não possuía como elemento o dolo nem a culpa. Deste modo, a culpabilidade
era composta do dolo ou da culpa, sendo que a imputabilidade do agente era seu pressuposto.
Deixou de ser adotada com o advento da teoria finalista. Antes, porém, já foi confrontada pela teoria
psicológico-normativa, compatível com a teoria neokantista da conduta e que veremos a seguir.

Teoria psicológico-normativa ou normativa da culpabilidade

A teoria psicológico-normativa foi concebida por Reinhard Frank, após o reconhecimento da


existência de elementos normativos e subjetivos no tipo penal. Segundo essa teoria, a
culpabilidade possui como elementos o dolo ou a culpa, a imputabilidade e a exigibilidade de
conduta diversa. Referida teoria, assim como a psicológica, entende que o dolo e a culpa integram
a culpabilidade. Entretanto, passa a aceitar a existência de elementos subjetivos no tipo penal.
Portanto, possui compatibilidade com a teoria neokantista da conduta.

Em relação à teoria psicológica da culpabilidade, uma grande diferença da teoria psicológico-


normativa é a inserção da inexigibilidade de conduta diversa como um novo elemento. Referido
elemento advém da teoria da normalidade das circunstâncias, de Frank, que preconiza só ser
culpável determinada conduta desde que pudéssemos, naquelas circunstâncias, exigir uma
conduta diferente do agente. A inexigibilidade de conduta diversa é um elemento normativo,
somando-se aos demais elementos, que são psicológicos e consistem no dolo e na culpa. Por isso,
a teoria possui tal denominação, psicológico-normativa.

A inclusão da inexigibilidade de conduta diversa possuiu como finalidade solucionar questões como
a do sujeito que, apesar de atuar com dolo ou culpa e ser imputável, não deveria ser considerado
responsável pelo delito, ou seja, não deveria ser punido criminalmente. É o caso da coação moral
irresistível, que justifica a ausência de responsabilização criminal, mesmo que o agente atue
com dolo e seja imputável. O dolo, segundo a teoria psicológico-normativa da culpabilidade, seria
normativo, em razão de pertencer à culpabilidade e, assim, ter como seu conteúdo a atual
consciência da ilicitude. Só se pode imputar a um agente uma conduta, a título de dolo, se ele
possuía consciência, à época, de que seu comportamento era antijurídico, caso contrário, não há
o elemento subjetivo da conduta.

Com a concepção do dolo como integrado pela consciência da atual da ilicitude, bem como com a
inserção da inexigibilidade de conduta diversa como elemento da culpabilidade, esta deixa de ser
mero elemento psicológico que conecta a conduta praticada pelo agente e o agente do fato (a
censurabilidade do sujeito por aquilo que ele fez). A análise da culpabilidade passa por elementos
normativos, ou seja, pela relação do agente com relação à norma. Isto é, é necessário que ele tenha
consciência atual da ilicitude e não se possa exigir dele conduta diversa.

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Teoria normativa pura ou estrita da culpabilidade

A teoria normativa pura ou estrita da culpabilidade foi elaborada com o advento da teoria finalista
da conduta, preconizada por Welzel. A teoria finalista passa a entender que a conduta humana é
o exercício de uma atividade final, ou seja, funde na conduta a vontade e a finalidade. Com isso,
o dolo e a culpa passam a integrar o fato típico, deixando de ser elemento da culpabilidade. Essa
foi a grande modificação na teoria da ação que vai influenciar diretamente a concepção da
culpabilidade, por desprovê-la do elemento psicológico, ou seja, do dolo e da culpa.

Com isso, a culpabilidade deixa de ser psicológica, já que o dolo e a culpa são concebidos como
elementos do fato típico. Seu conteúdo, então, fica sendo puramente normativo, isto é,
exclusivamente o juízo de reprovabilidade ou censurabilidade da conduta praticada pelo
autor. Daí a denominação de teoria normativa pura. Com a migração do dolo e da culpa para o fato
típico, restam como elementos da culpabilidade: a imputabilidade, a exigibilidade de conduta
diversa e a potencial consciência da ilicitude.

Outra diferença desta teoria, em relação à teoria psicológica, é que basta que a consciência da
ilicitude seja potencial, não sendo mais necessário que seja atual. Isto significa que se exige que
o agente tenha condições de entender que a sua conduta contraria as normas do ordenamento
jurídico, ou seja, que atua de forma ilícita. Não é necessário que o sujeito efetivamente saiba,
no momento da sua atuação, que atua de forma antijurídica. Basta a consciência potencial, isto
é, que se demonstre que ele possuía condições de saber que sua conduta era contrária ao que
determinam as leis.

Portanto, a consciência da ilicitude deixa de ser elemento do dolo para se manter como
elemento autônomo da culpabilidade, enquanto o dolo passa a integrar o fato típico.

Por fim, cumpre entender como a teoria normativa pura da culpabilidade entende as chamadas
descriminantes putativas. Vimos na aula passada que as descriminantes são as causas
excludentes de ilicitude, enquanto putativo é um termo derivado do latim que significa suposto ou
imaginado.

Deste modo, concluímos que a descriminante putativa é a suposição do agente sobre a


configuração de uma causa que exclui a ilicitude do seu comportamento. Esta imaginação do
agente, equivocada, pode ocorrer em virtude de falsa percepção da realidade ou por motivo
de interpretação incorreta da norma. As descriminantes putativas decorrentes de erro sobre os
pressupostos fáticos são tratadas como erro de proibição, assim como as que decorrem da
equivocada interpretação do tipo permissivo pelo agente. Deste modo, tanto faz se o agente
interpreta a realidade de forma equivocada e se imagina acobertado pela legítima defesa, como se
o agente interpreta mal a abrangência da norma que prevê a legítima defesa como excludente de
ilicitude. Em ambos os casos, estaríamos diante de um erro de proibição.

Portanto, para essa teoria, todo erro que diz respeito à ilicitude da conduta (seja por erro de
representação quanto aos fatos que lhe são pressupostos, seja por má interpretação da norma), é
considerado um erro de proibição, já que a consciência da ilicitude integra a culpabilidade.

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Essa concepção sobre as dirimentes putativas possui consequência prática. Em todos os casos
de dirimentes putativas, o tratamento a ser dado deve ser o mesmo do erro de proibição. Deste
modo, se a conduta do agente for inevitável ou escusável, haverá isenção de pena, por exclusão
da culpabilidade. Se a sua conduta for evitável ou inescusável, a pena deve ser diminuída de um
sexto a um terço.

Teoria limitada da culpabilidade

A teoria limitada da culpabilidade possui os mesmos fundamentos teóricos da teoria normativo pura,
sendo, para alguns, uma vertente da normativa pura. Também se concebem como elementos da
culpabilidade a imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência
da ilicitude. Sua grande diferenciação com a teoria normativa pura se restringe à natureza
jurídica das descriminantes putativas sobre os fatos, ou seja, aquelas que decorrem da
incorreta percepção da realidade pelo agente.

Vejamos como a teoria limitada da culpabilidade diferencia as descriminantes putativas:

✓ O erro sobre os fatos, nas descriminantes putativas, é tratado como erro de tipo, um
erro de tipo permissivo. Se inevitável, exclui a tipicidade. Se evitável, possibilita a punição
da conduta a título de culpa, se a lei previr a modalidade culposa do delito;
✓ Por sua vez, se o agente acreditar estar acobertado por uma causa excludente da
ilicitude por incorreta interpretação da norma, temos uma descriminante putativa por
erro de proibição ou, como também podemos denominá-lo, um erro de proibição
indireto. Também pode ser denominado de erro de permissão. Se a conduta for inevitável,
há isenção de pena, por exclusão da culpabilidade. Se a conduta for evitável, a pena deve
ser diminuída de um sexto a um terço.

A teoria limitada da culpabilidade, portanto, diferencia a descriminante putativa de acordo com a


espécie de erro em que incorre o agente.

Quanto à culpabilidade, o Código Penal adota a teoria limitada.

Nota-se, da leitura do artigo 20, § 2º, que o tratamento de erro de tipo é reservado às hipóteses de
descriminante putativa em que o autor supõe situação de fato inexistente, ou seja, só se trata
como erro de tipo a descriminante putativa em que o erro recai sobre os seus pressupostos
fáticos (entendimento majoritário):

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Teoria extremada sui generis da culpabilidade

Sua diferenciação com a teoria normativa pura e com a teoria limitada da culpabilidade também se
refere à natureza jurídica das descriminantes putativas sobre os fatos. Tal como as outras
duas, entende serem elementos da culpabilidade: a imputabilidade, a exigibilidade de conduta
diversa e a potencial consciência da ilicitude.

Entretanto, concebe que o tratamento da descriminante putativa decorrente da equivocada


percepção da realidade deve depender de ser tal erro evitável ou não. Deste modo, o erro
sobre a excludente de ilicitude com base nos pressupostos fáticas possui natureza jurídica diversa,
caso seja considerado escusável ou inescusável. Vejamos:

✓ Se o erro for inevitável, entende como a teoria extremada, com isenção de pena do
agente. O tratamento é o de erro de proibição.
✓ Se for evitável, segue o entendimento da teoria limitada, excluindo o dolo e punindo o
fato a título de culpa. Deste modo, segue as consequências do erro de tipo.

do erro do agente sobre os pressupostos fáticos das excludentes de iliticute.

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Atenção: o entendimento majoritário é de que houve a adoção da teoria limitada da culpabilidade


por nosso ordenamento jurídico.

Uma última observação, em maio de 2020 procedi a uma revisão na nomenclatura das teorias,
adotando a posição de Luiz Regis Prado2. Há várias denominações utilizadas. Fernando Capez,
por exemplo, denomina a teoria estrita da culpabilidade como também teoria extremada 3, enquanto
Rogério Sanchez Cunha4, em sua obra, usa o termo teoria extremada da culpabilidade para
denominar a teoria normativa pura.

Teoria da coculpabilidade

A teoria da coculpabilidade possui base na concepção do estudioso prussiano Jean-Paul Marat,


que viveu no tempo da Revolução Francesa. Marat defendeu que os indivíduos marginalizados

2
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral e parte especial. Luiz Regis Prado. 18 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020, p. 211-214.

3
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral (arts. 1º a 120). 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

4
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral. Arts. 1º ao 120. Volume Único. 2 ed. Salvador:
Edição JusPodivm, 2014, p. 256-257.

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na sociedade, por terem seus direitos fundamentais desrespeitados, não podem se sujeitar às
sanções que as leis prescrevem. Deste modo, o Estado apenas poderia deles exigir a
obediência à lei após lhes garantir a satisfação de suas necessidades, com respeito aos seus
direitos naturais.

Com raízes nesta concepção, o jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni elabora a teoria da
coculpabilidade, segundo a qual o Estado deve compartilhar com os sujeitos excluídos e
marginalizados da sociedade parte da responsabilidade pelos atos que se imputam a eles.
As condições de vida em que inseridos os membros marginalizados da sociedade limitariam sua
liberdade de escolha, tornando a sociedade corresponsável pelos seus atos.

A teoria da coculpabilidade não serviria, nestes termos, para impedir a imputação da conduta ao
agente, excluindo sua culpabilidade. Sua função seria partilhar a responsabilização entre ele e
a sociedade, o que determinaria que sua pena fosse diferenciada em relação a um sujeito que teve
ótimas condições de vida, com seus direitos respeitados e o mínimo existencial garantido. Há uma
possibilidade de sua incidência no Direito Penal Brasileiro, já que o Código Penal prevê uma
atenuante genérica na dosimetria da pena:

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante,


anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.

Referida atenuante, a ser considerada na segunda fase da dosimetria, possibilita ao juiz a análise
das condições de vida do agente, sendo uma porta para a adoção da teoria da coculpabilidade na
diminuição da sanção penal em caso de marginalização do sujeito. A possibilidade de adoção da
coculpabilidade já foi analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, como se verifica pelo
excerto do seguinte precedente:

“(...) ATENUANTE GENÉRICA. ART. 66 DO CÓDIGO PENAL. COCULPABILIDADE. NECESSIDADE DE


REEXAME DE FATOS E PROVAS. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. A atenuante genérica prevista no
art. 66 do Código Penal pode se valer da teoria da coculpabilidade como embasamento, pois
trata-se de previsão genérica, que permite ao magistrado considerar qualquer fato relevante -
anterior ou posterior à prática da conduta delitiva - mesmo que não expressamente previsto
em lei, para reduzir a sanção imposta ao réu; 2. No caso destes autos não há elementos pré-
constituídos que permitam afirmar que a conduta criminosa decorreu, ao menos em parte, de
negligência estatal, de modo que a aplicação do benefício pleiteado depende de aprofundado
exame dos fatos e provas coligidos ao longo da instrução para que se modifique o entendimento
da Corte de origem acerca da inaplicabilidade da atenuante. Tal providência, porém, não se
coaduna com os estreitos limites do habeas corpus. 3. Habeas corpus não conhecido.”
(STJ, HC 411243/PE, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 19/12/2017).

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3. Elementos da culpabilidade

Como vimos, o Código Penal adota a teoria limitada da culpabilidade, que possui os mesmos
elementos da teoria normativa pura. Deste modo, seus elementos são:

• Imputabilidade;
• Potencial consciência da ilicitude;
• Exigibilidade de conduta diversa.

Referidos elementos devem estar presentes ao tempo do crime, que, segundo a teoria da atividade,
considera-se praticado quando o agente pratica o comportamento típico, seja ele comissivo ou
omissivo. Por isso, do ponto de vista do juiz, a análise será sempre retroativa, buscando verificar
o preenchimento dos pressupostos à época do crime. Vamos, então, estudar um a um cada uma
das partes que integram a culpabilidade.

3.1. Imputabilidade

A imputabilidade é a capacidade de se atribuir a alguém a responsabilidade por uma conduta típica


e ilícita.

Podemos conceituar a imputabilidade como a capacidade de compreender o caráter ilícito da


conduta e determinar-se conforme esse entendimento. De igual modo, se a pessoa souber que
seu comportamento é ilícito, mas não conseguir evitar sua prática, por não ser capaz de se
determinar conforme sua consciência e compreensão, não será tipo por imputável. Hans Welzel
entende que a imputabilidade é composta de dois momentos, o momento cognoscitivo ou
intelectual e o momento volitivo:

✓ Momento cognoscitivo: é a compreensão do agente acerca da conduta que pratica, da sua


tipicidade e da sua ilicitude. É a capacidade de entender;
✓ Momento volitivo: é a determinação da sua vontade, orientando sua conduta conforme sua
finalidade e compreensão. É a capacidade de querer.

A imputabilidade é presumida em relação a todos os sujeitos, sendo excluída se demonstrada


uma causa excludente da culpabilidade. Então, em regra, todo agente é imputável.

Há alguns critérios que podem ser adotados para a aferição da culpabilidade:

✓ Biológico: a imputabilidade é aferida de acordo com o desenvolvimento mental, levando em


conta eventual doença mental ou a idade do indivíduo.

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✓ Psicológico: determina que a imputabilidade deve ser constatada a partir da capacidade de


entendimento e autodeterminação da pessoa, isto é, de sua capacidade de compreender o
caráter ilícito do fato e de se comportar de acordo com esse entendimento.

✓ Biopsicológico: é o critério que combina os dois anteriores. Consideram-se, para


determinação da imputabilidade, tanto a condição mental quanto a capacidade de
entendimento e autodeterminação do sujeito. Este critério, mais amplo, possui três requisitos
para que determinada pessoa seja considerada imputável:
a) Causal: exige-se a inexistência de doença mental ou de desenvolvimento mental
incompleto ou retardado;
b) Consequencial: o agente deve possuir a capacidade de entender (momento
cognitivo) e da capacidade de querer (momento volitivo). O sujeito deve entender o que faz
e ser capaz de se determinar conforme seu entendimento;
c) Cronológico: exige que a imputabilidade seja constada ao tempo do crime, ou seja,
no momento da ação ou omissão do sujeito (teoria da atividade para a definição do tempo
do crime).

Como regra, o Código Penal adota o critério biopsicológico.

Veremos, entretanto, que o Código Penal, apesar de em regra acolher o critério biopsicológico,
também adota o biológico, segundo a doutrina, quando se refere à inimputabilidade dos menores
de 18 anos de idade.

3.2. Potencial consciência da ilicitude

A potencial consciência da ilicitude é a capacidade do agente de compreender que sua conduta


é reprovável. Exige-se que o agente seja capaz de entender, ao tempo da sua ação ou omissão,
que sua conduta viola a norma jurídica, sendo censurável pela sociedade em que vive.

Não se exige que se comprove que o agente compreendeu, ao tempo do crime, que é o da sua
conduta, o caráter ilícito do que praticava. Basta que seja plenamente capaz de compreender,
ou seja, que se demonstre de que naquele momento era capaz de compreender o caráter
ilícito do que praticava.

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Não é necessário o conhecimento técnico pelo agente. Basta, portanto, a chamada


valoração paralela na esfera do profano, conforme expressão usada por Mezger5. A
valoração paralela é aquela realizada pelo leigo que, mesmo sem conhecimento
técnico-jurídico, possui capacidade de entender o que é lícito e aquilo que não é, em
decorrência da sua convivência social.

A valoração é paralela pois é feita ao lado do juízo eminentemente jurídico. Sua esfera é a do
profano, pois não é a do Direito. É o âmbito do leigo, com recurso a aspectos morais, sociais,
escolares, culturais, religiosos, dentre outros. Por isso, consideram-se essas condições do sujeito
para valorar se ele possuía ou não condições de entender a reprovabilidade.

Não devemos confundir a exigência de potencial consciência da ilicitude com a possibilidade de o


agente declarar que desconhecia a lei. A ignorância a respeito da existência da lei, também
chamada de erro de direito, não é causa de exclusão da culpabilidade, pois, como diz o adágio
latino, ignorantia legis neminem excusat, ou seja, a ignorância da lei não escusa ninguém.

Entretanto, no caso das contravenções penais, existe norma específica, situada no artigo 8º da
Lei das Contravenções Penais:

Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusaveis, a


pena pode deixar de ser aplicada.

Portanto, apenas no caso de contravenções penais, a ignorância sobre a lei, se for escusável ou
desculpável, pode ensejar a não aplicação de pena pelo juiz.

Entretanto, a ignorância sobre a lei é causa atenuante da pena:

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

(...)

II - o desconhecimento da lei;

Portanto, ainda que o desconhecimento da existência da lei não exclua a culpabilidade em relação
à prática de um crime, deve ser considerado na segunda fase da dosimetria.

5
Mezger, Edmund. Derecho Penal. Libro de Estudio. Parte General. Santiago: Ediciones Olejnik, 2019, p. 204.

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3.3. Exigibilidade de conduta diversa

Exige-se, para que o agente seja culpável, que tenha a possibilidade de atuar de acordo com o que
o ordenamento jurídico prescreve, o que deve ser analisado no momento da sua ação ou
omissão (teoria da atividade).

Se não for possível exigir do sujeito um comportamento diferente, sua ação ou omissão não é
reprovável e, deste modo, fica afastada a sua culpabilidade. Não se deve punir condutas que não
poderiam ser evitadas.

O jurista Reinhart Frank defende que a normalidade das circunstâncias concomitantes, ou seja,
a normalidade das circunstâncias em que o sujeito autua é um elemento da culpabilidade 6. Desse
modo, a as circunstâncias em que o agente atua deve acarretar a valoração da sua culpabilidade,
com a possibilidade de sua exclusão em determinados casos. Frank conclui, então, que a
culpabilidade pode ser excluída se as circunstâncias representam um perigo para o autor ou para
terceira pessoa e a ação ilícita pode salvá-los7.

Sua concepção ficou conhecida como teoria da normalidade das circunstâncias. A culpabilidade
passa a contar, com sua teoria, com a exigibilidade de conduta diversa.

Entretanto, cumpre destacar que Frank adotava a concepção da teoria psicológico-normativa da


conduta, não adotada pelo nosso Código Penal, mas é destacada pela doutrina por buscar limitar
o ius puniendi com base em uma culpabilidade voltada à individualidade do agente.

4. Causas excludentes da culpabilidade

Vamos estudar as causas que excluem a culpabilidade, também denominadas de exculpantes ou


dirimentes. São exculpantes previstas na lei: as hipóteses de inimputabilidade; o erro de
proibição; a coação moral irresistível e a obediência a ordem não manifestamente ilegal.

6
FRANK, Reinhard. Derecho Penal. Sobre la estructura del concepto de culpabilidade. Buenos Aires: B de F, 2011, p.
41.

7
FRANK, Reinhard. Derecho Penal. Sobre la estructura del concepto de culpabilidade. Buenos Aires: B de F, 2011, p.
41.

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ELEMENTOS DA CULPABILIDADE EXCLUDENTES


Imputabilidade Hipóteses de inimputabilidade
Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição inescusável
Exigibilidade de conduta diversa Coação moral irresistível

Obediência a ordem não manifestamente ilegal

Além disso, enfrentaremos o tema sobre a possibilidade de reconhecimento de causas


supralegais, ou seja, não previstas expressamente na lei, que excluam a culpabilidade.

4.1. Inimputabilidade

A inimputabilidade, conforme se nota da própria denominação, é a exculpante relacionada à falta


de imputabilidade. A imputabilidade pode ser afastada em virtude das seguintes causas:

✓ Doença mental ou anomalia psíquica;


✓ Desenvolvimento mental incompleto;
✓ Desenvolvimento mental retardado e
✓ Embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior.

Passemos ao estudo de casa uma dessas causas:

➢ Doença mental ou anomalia psíquica: é a anomalia ou perturbação que atinge o aspecto


mental ou psíquico do sujeito. Essa situação que acomete o agente o impede de
compreender o caráter ilícito do que faz ou de determinar-se de acordo com o seu
entendimento. O Código Penal prevê essa hipótese no seu artigo 26, caput:

A doença mental envolve esquizofrenia, neurose, paranoias e demais outras desordens


psíquicas, além de enfermidades de outras espécies que possam retirar a capacidade de
compreensão e de vontade, como um delírio decorrente de febre muito alta.

Pode também ser considerada doença mental a dependência de drogas, se atingir um nível que
acometa a capacidade do agente, envolvendo os momentos volitivo e cognitivo. Isto deve ser
aferido em perícia médica específica. Ademais, a embriaguez patológica, que também retire do
sujeito sua capacidade de compreender o caráter ilícito de sua conduta ou de se comportar
consoante seu entendimento, pode ensejar o afastamento da imputabilidade, por doença mental.

Com relação a esta causa de inimputabilidade, o Código Penal adotou o critério biopsicológico.
Isto porque não basta a doença mental. É necessário, concomitantemente, que ela elimine a
capacidade de entender e de querer.

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O inimputável por doença mental deve ser processado e, ao final, o juiz profere uma sentença
absolutória imprópria. A medida de segurança se funda na periculosidade do indivíduo.

É possível, ainda, que a anomalia mental ou psíquica não retire totalmente a capacidade do sujeito
de entender que sua conduta é ilícita e se determinar de acordo com essa compreensão. Pode ser
que o estado mental do sujeito não o deixe plenamente incapaz de entender e de querer. Neste
caso, ele é chamado semi-imputável ou fronteiriço. O parágrafo único do artigo 26 do Código
Penal prevê a redução de pena, de um a dois terços, para esses casos:

➔ A escolha da fração do redutor, de um terço e dois terços, pode ter como critério o grau de
perturbação da saúde mental ou da incompletude do desenvolvimento mental do agente.

Entretanto, há uma outra possibilidade de sanção


a penal para o sujeito. A pena, em vez de ser
reduzida, pode ser substituída por medida de segurança, nos termos do artigo 98 do Código Penal:

Substituição da pena por medida de segurança para o semi-imputável

Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o


condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser
substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um)
a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.

Percebam que a sanção penal será a pena, com a diminuição de um a dois terços, ou a medida de
segurança.

➢ Desenvolvimento mental retardado: é o estado mental que não guarda proporção com a
idade cronológica do agente. Verifica-se quando o sujeito não se desenvolveu, no âmbito
mental, como seria esperado para o seu estágio físico de vida. As consequências e
características são as mesmas para o caso acima estudado, de doença mental ou anomalia
psíquica. Aqui, o critério adotado pelo Código Penal também foi o biopsicológico.

O sujeito deve ser denunciado, processado e ao final sofrer uma absolvição imprópria. Isto é,
deve ser imposta a ele uma medida de segurança, baseada em sua periculosidade (o agente, por
ser inimputável, não apresentou conduta dotada de culpabilidade)..

➢ Desenvolvimento mental incompleto: é a inimputabilidade em razão da idade.


Considera-se aqui o desenvolvimento das faculdades mentais ainda não ter se concluído,
em razão da idade do sujeito. Alguns autores também entendem que o desenvolvimento
mental pode não ter se completado em razão da falta de convívio social, o que seria o caso
dos indígenas, que analisaremos adiante

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No caso da inimputabilidade em razão da idade, a Constituição da República adotou o critério


exclusivamente biológico. Não importa se o sujeito já tem capacidade de compreender e de
querer, caso não tenha atingido a idade mínima estabelecida para se atingir o grau de maturidade,
que foi fixada de forma absoluta. Se o agente for menos de 18 anos de idade, será sempre
inimputável. É o que prevê o artigo 228 da nossa Lei Fundamental:

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às


normas da legislação especial.

Frise-se que este limite etário para a inimputabilidade está sendo questionado pela sociedade, com
discussão no Congresso Nacional sobre sua alteração. De todo modo, essa questão passa pelo
exame do Direito Constitucional, sobre ser ou não possível a sua modificação pelo Poder
Constituinte Derivado Reformador. Isto porque,e caso se compreenda que o artigo 228 institui um
direito ou garantia fundamental, sua modificação esbarra na proibição consistente na natureza de
cláusula pétrea. Caso se compreenda que não se trata de direito fundamental, sua alteração é
possível por meio de emenda constitucional. O menor de 18 anos ao tempo do cometimento do
delito não deve ser sequer denunciado e, se o for, a denúncia deve ser rejeitada pelo juiz, ante a
total inimputabilidade. Ele estará sujeito, contudo, às normas do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).

No caso dos adolescentes, serão submetidos a medidas socioeducativas. Às crianças que


praticarem ato infracional serão impostas as medidas específicas de proteção. Esta imposição
não será realizada no juízo criminal, sendo que a coautoria entre um adulto e um adolescente levará
à cisão do processo e do julgamento, devendo apenas o primeiro ser processado criminalmente

O Tribunal Penal Internacional, instituído pelo Estatuto de Roma, por sua vez, limita a
imputabilidade a quem possua ao menos 18 anos de idade ao tempo da prática do crime. É o que
prevê o artigo 26 do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002, que promulgou referido tratado
no Brasil:

Artigo 26

Exclusão da Jurisdição Relativamente a Menores de 18 anos

O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime,
não tenham ainda completado 18 anos de idade.

➢ Embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior: a embriaguez,


quando completa, desde que decorrente de caso fortuito ou força maior, afasta a
imputabilidade do agente. Neste caso, considera-se que o agente não tinha a capacidade
de entender e de querer nem no início de sua ação, quando ingeriu a substância que
o entorpeceu, nem quando realizou efetivamente a conduta típica. Isto porque a própria
embriaguez decorreu de caso fortuito ou força maior, ou seja, foi acidental.

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Os conceitos de caso fortuito e força maior variam na doutrina, razão pela qual vamos conceituá-
los conjuntamente como o evento natural ou o ato humano imprevisível e inevitável. Neste caso, o
sujeito não recebe sanção penal, por não haver previsão de imposição neste caso. Se
processado, o sujeito deve ser absolvido, pois a ausência de culpabilidade impede a configuração
do crime.

Em suma, para a configuração desta dirimente, são necessários os seguintes pressupostos:

• Causal: a embriaguez deve ter origem em um caso fortuito ou força maior;


• Consequencial: a embriaguez deve retirar do agente sua capacidade de entender o
caráter ilícito do fato e se comportar de acordo com seu entendimento;
• Quantitativo: a embriaguez deve ser completa;
• Cronológico: a embriaguez deve7 estar presente ao tempo da prática do crime, ou
seja, da ação ou da omissão do agente.

Embriaguez

Embora já analisada a embriaguez no que se refere à hipótese de configuração de excludente da


causalidade, por inimputabilidade, cumpre estudar a relação entre a prática delitiva e o estado de
embriaguez. A explicação aqui relatada também é matéria de Medicina Legal! Então, atenção.

De início, é interessante anotar que a embriaguez possui algumas fases, representadas pela
seguinte escada:

Estudemos cada uma delas:

• Fase da excitação: representada pelo macaco, destaca-se pelo menor controle do


agente sobre seus mecanismos de autocontenção. É marcada pela euforia e
inconveniência, com perda de equilíbrio e velocidade de resposta pelo reflexo.

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• Fase da depressão: representada pelo leão, é marcada pela agressividade do


agente. O agente se torna mais irritável e mais propenso à confusão dos seus
pensamentos, com tendência a se deprimir.
• Fase do sono: representada pelo porco, é marcada pela perda do controle do sujeito
sobre seu corpo, inclusive as funções fisiológicas. Deste modo, passa a um estado de
dormência. Neste caso, a possibilidade seria de cometimento de crimes por omissão.

Com relação às espécies de embriaguez e as diferentes consequências para o Direito Penal, temos
o seguinte esquema:

Passamos agora ao estudo de cada uma das espécies de embriaguez.

A embriaguez pode ser patológica, ou seja, decorrer de uma situação de dependência doentia,
retirando a capacidade do agente. Neste caso, deve ser tratada como doença mental e, deste
modo, como excludente da culpabilidade, podendo levar à absolvição imprópria, com a imposição
de medida de segurança. Isto se houver a incapacidade de compreensão do caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com este entendimento (critério biopsicológico). Se for o caso de
redução da capacidade do agente de entender e de querer, será ele considerado semi-imputável e,
assim, terá sua pena reduzida de um a dois terços ou substituída por medida de segurança.

A embriaguez pode ser acidental, ou seja, decorrer de caso fortuito ou força maior. Neste caso, o
sujeito não possuiu escolha quando do momento da bebida, pois a consumiu em decorrência
de uma situação de caso fortuito ou de força maior. Foi um evento ou um ato humano, em qualquer
dos casos imprevisível e inevitável, que o levou a ficar embriagado. Se a embriaguez acidental for

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completa, como vimos, o sujeito será considerado inimputável e, deste modo, a culpabilidade será
eliminada.

Por outro lado, se a embriaguez acidental for incompleta, ainda haverá culpabilidade na conduta
do indivíduo. Ou seja, sua conduta será considerada socialmente reprovável, mas com
consideração desta questão na dosimetria da pena. Será considerada a redução na sua capacidade
de cognição e de vontade. Deste modo, incidirá uma causa de diminuição de pena:

Se a embriaguez for voluntária ou culposa, não sendo acidental, não implicará na


inimputabilidade do agente. É o que prevê o artigo 28, inciso II, do Código Penal.

Por fim, a embriaguez preordenada é aquela em que o agente consome bebida alcoólica ou
substância de efeitos análogos com o escopo,1 com o objetivo de praticar determinada infração
penal. Neste caso, além de não excluída a imputabilidade, a conduta do sujeito é mais reprovável,
razão pela qual incide uma agravante:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:

(...)

II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

l) em estado de embriaguez preordenada.

✓ Entretanto, como se pode punir um sujeito que, ao tempo da ação ou da omissão,


estava embriagado? É possível considerá-lo imputável?

A tal respeito, há a teoria da actio libera in causa, tratada, dentre outros, pelo jurista Samuel von
Pufendorf. Segundo essa teoria, devemos considerar a consciência do agente quanto ao ato
anteriormente praticado, consistente na decisão de ingerir a substância alcoólica, seja
visando ao estado de embriaguez, seja de forma culposa. O ato posterior, de prática do delito,
decorre do ato anterior, que foi praticado com consciência e imputabilidade.

Portanto, consideramos imputável o agente, estando dotado capacidade de entender o


caráter ilícito do fato e de se comportar conforme seu entendimento, porque o momento de
análise é aquele em que ele ingeriu a substância. Entretanto, o tempo do crime é o da conduta,
ou seja, da ação ou omissão. Neste momento, o sujeito está embriagado. Considera-se, portanto,
que a ação foi livre na sua causa, ou seja, lá no ato antecedente, no momento em que o sujeito
decidiu pela ingestão da substância e sabia, ou tinha condição de saber, a possibilidade de cometer
um crime.

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Vejamos um precedente do STJ em que foi enfrentado o tema da embriaguez e da imputabilidade:

“3. Nos termos do art. 28, II, do Código Penal, é cediço que a embriaguez
voluntária ou culposa do agente não exclui a culpabilidade, sendo ele
responsável pelos seus atos mesmo que, ao tempo da ação ou da omissão,
era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Aplica-se a teoria da
actio libera in causa, ou seja, considera-se imputável quem se coloca em
estado de inconsciência ou de incapacidade de autocontrole, de forma
dolosa ou culposa, e, nessa situação, comete delito. (...)”

(AgInt no REsp 1548520/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe
22/06/2016).

“(...) 3. Dada a adoção da teoria da actio libera in causa pelo Código Penal,
somente a embriaguez completa, decorrente de caso fortuito ou força maior que reduza
ou anule a capacidade de discernimento do agente quanto ao caráter ilícito de sua
conduta, é causa de redução ou exclusão da responsabilidade penal nos termos dos
§§ 1º e 2º do art. 28 do Diploma Repressor. (...)” (STJ, AgRg no REsp 1247201/DF, Rel.
Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 01/06/2018).

Vale anotar, por fim, que para alguns a hipótese seria um resquício de responsabilidade penal
objetiva, de constitucionalidade questionável. De todo modo, sua aceitação prevalece na
jurisprudência.

A emoção e a paixão

O Código Penal é expresso ao determinar que a paixão e a emoção não tornam o sujeito
inimputável. Deste modo, subsiste a responsabilidade penal se o sujeito estiver acometido por um
deles. A emoção é um estado passageiro e súbito, abrangendo a ira. A paixão, por sua vez, é um
estado mais perene e contínuo, lento. É comum, infelizmente, a notícia de crimes passionais, como
assassinatos de ex-cônjuges.

Entretanto, a emoção pode ser utilizada como causa de diminuição de pena, nos casos de
homicídio doloso e lesões corporais dolosas. Estudaremos estas hipóteses ao adentrarmos a
Parte Especial do Código Penal. Entretanto, já podemos registrar que essas hipóteses de
minorantes estão previstas no artigo 121, § 1º, e no artigo 129, § 4º, todos do Código Penal, em
relação ao homicídio e às lesões corporais, respectivamente.

Em relação aos outros crimes, pode incidir a atenuante da pena, prevista no artigo 65, inciso III,
alínea “c”:

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Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
(...)
III - ter o agente:
(...)
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima;

A paixão, por sua vez, segundo alguns doutrinadores, pode se transformar em doença mental.
Se o agente possuir doença mental, esta será a causa de sua imputabilidade, caso lhe retire a
capacidade de compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este
entendimento. O estado passional, por sua vez, ainda que seja arrebatador e que tire o indivíduo
de sua normalidade, como o que o leva a um ciúme anormal, não exclui a sua imputabilidade.

Os indígenas

A regra, como foi dito, é de que todos os indivíduos sejam considerados imputáveis. Alguns
doutrinadores apontam, entretanto, que os indígenas podem ser considerados inimputáveis, caso
haja um laudo pericial, consistente em exame antropológico, que assim o determine. O caso
seria de desenvolvimento mental incompleto, já que a falta de seu convívio social, fora dos
limites de seu povo, poderia influenciar na sua compreensão do mundo dito civilizado, ou
da sociedade não-indígena.

Outros doutrinadores entendem que, no caso do indígena não integrado, teremos um indivíduo
imputável. Admitem, no entanto, a hipótese de falta de potencial consciência da ilicitude ou a
configuração de inexigibilidade de conduta diversa. Esta corrente visa a superar o entendimento de
desenvolvimento mental incompleto, já que o índio, mesmo que não integrado, possui capacidade
tal qual o não índio. O que ocorre é que o sujeito que nasce em um povo indígena sem contato com
os não-índios possui valores e visão de mundo diversos.

Cabe destacar que o Estatuto do Índio, Lei nº 6.001/73, prevê algumas disposições sobre a matéria
penal:

Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na
sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.
Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção serão cumpridas, se possível, em regime
especial de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios
mais próximos da habitação do condenado.

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Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de
sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel
ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

Com relação à atenuação da pena, o STJ já decidiu que só entende possível sua aplicação em
caso de índio não integrado:

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE INCÊNDIO.


INDÍGENA INTEGRADO À SOCIEDADE BRASILEIRA. PLEITO DE APLICAÇÃO DA
ATENUANTE DO ART. 56, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 6.001/73. IMPOSSIBILIDADE.
1. Este Tribunal Superior possui entendimento firmado de que o art. 56, parágrafo
único, da Lei nº 6.001/76 (Estatuto do Índio), a embasar a pretensão de atenuação
da reprimenda, somente se destina à proteção do silvícola não integrado à
comunhão nacional; ou seja, esse dispositivo legal não pode ser aplicado em favor do
indígena já adaptado à sociedade brasileira. 2. Agravo regimental a que se nega
provimento.”

(STJ, AgRg no REsp 1361948/PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, DJe
16/09/2013).

Ademais, no caso de aplicação, pelos grupos tribais, de pena considerada cruel, a conduta
ultrapassa o permissivo do artigo 57 do Estatuto do Índio. Neste sentido, o STJ já decidiu:

“HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. TORTURA. CRIME EM RAZÃO DE


COSTUMES INDÍGENAS. DISPUTA DE TERRAS INDÍGENAS. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. TIPICIDADE. ORDEM NÃO CONHECIDA. 1. Compete à Justiça
Federal o processamento e o julgamento da ação penal quando a motivação do delito
envolve questões intrínsecas de direitos e cultura indígenas, como ocorre na hipótese.
2. Nos termos do art. 57 do Estatuto do Índio, não é permitido aos líderes de grupos
tribais a imposição de sanções de caráter cruel ou infamante, nem de pena de morte
contra seus membros, sendo típica, portanto, a conduta que impôs à vítima intenso
sofrimento físico, como forma de aplicar castigo. 3. Fixado pelas instâncias
ordinárias, com amplo arrimo no acervo probatório, que a vítima - indígena sob sua
autoridade - foi submetida a intenso sofrimento físico, não há como ilidir essa conclusão,
pois demandaria revolvimento de provas e fatos, não condizente com a via estreita do
remédio constitucional, que possui rito célere e desprovido de dilação probatória. 4.
Habeas corpus não conhecido.”

(STJ, HC 208634/RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 23/06/2006)

Por fim, quanto à constatação da imputabilidade do índio no processo penal, o STF já decidiu ser
dispensável o laudo pericial, consistente em exame antropológico, se houver outros elementos
nos autos que demonstrem que o índio possui capacidade de compreender o caráter ilícito do fato
e de se comportar conforme este entendimento:

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Aula 21

“EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIMES DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES,


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E PORTE ILEGAL DE ARMA PRATICADOS POR
ÍNDIO. LAUDO ANTROPOLÓGICO. DESNECESSIDADE. ATENUAÇÃO DA PENA E
REGIME DE SEMILIBERDADE. 1. Índio condenado pelos crimes de tráfico de
entorpecentes, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo. É dispensável
o exame antropológico destinado a aferir o grau de integração do paciente na
sociedade se o Juiz afirma sua imputabilidade plena com fundamento na avaliação
do grau de escolaridade, da fluência na língua portuguesa e do nível de liderança
exercida na quadrilha, entre outros elementos de convicção. Precedente. 2.
Atenuação da pena (artigo 56 do Estatuto do Índio). Pretensão atendida na sentença.
Prejudicialidade. 3. Regime de semiliberdade previsto no parágrafo único do artigo 56 da
Lei n. 6.001/73. Direito conferido pela simples condição de se tratar de indígena. Ordem
concedida, em parte.”

(STF, HC 85198/MA, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, Julgamento em 17/11/2005).

Erro de proibição

Um dos elementos da culpabilidade, como visto acima, é a consciência da ilicitude.

A causa excludente da culpabilidade que se refere à falta de potencial consciência da


ilicitude é o erro de proibição. O erro de proibição é a incorreta interpretação da norma pelo
agente, que o impede de entender que sua conduta está abrangida pela vedação da norma. É o
erro sobre a reprovabilidade ou a proibição de sua conduta.

O erro de proibição, consistente na má interpretação da norma pelo agente, que o leva a não
compreender que sua conduta é censurável, pode ser direto ou indireto:

✓ O erro de proibição direto é aquele em que o agente interpreta a própria norma penal de
forma incorreta, imaginando que sua conduta não é alcançada pela lei penal incriminadora.
✓ O erro de proibição indireto, também denominado descriminante putativa por erro de
proibição ou erro de permissão, que ocorre quando o agente interpreta a norma que prevê
uma excludente de ilicitude de forma errada, pensando que está acobertado, sem
efetivamente estar.

Com relação às consequências do erro de proibição, os efeitos dependem de ser ou não evitável.
Isto porque, com a adoção da teoria limitada da culpabilidade, basta a potencial consciência da
ilicitude, não sendo necessária a consciência atual. Por isso, só o erro inevitável, escusável ou
desculpável afasta a culpabilidade.

Se o erro for inevitável, desculpável ou escusável, o agente não responde criminalmente. Há


isenção de pena, por falta de potencial consciência de ilicitude e, por consequência, ausência da

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culpabilidade. Caso o erro seja evitável, indesculpável ou inescusável, a pena deve ser
diminuída de um sexto a um terço.

O erro é evitável se ele poderia ter sido evitado com maior diligência. A pena deve ser
diminuída porque, no caso a culpabilidade do agente é menor, sendo que a pena deve ser fixada
na medida de sua culpabilidade.

O erro é considerado evitável quando o agente poderia, nas circunstâncias em que praticou sua
conduta, poderia ter ou atingir tal consciência. Deste modo, a própria lei define que devemos
considerar as próprias condições do agente e as circunstâncias em que agiu ou se omitiu.
Por isso, consideramos inviável a adoção do critério do homem médio. É o próprio indivíduo que
deve ser analisado para constatação se lhe era possível ter ou não consciência da reprovabilidade
ou da proibição da sua conduta.

4.2. Coação Moral Irresistível

A exigibilidade de conduta diversa é um dos elementos da culpabilidade. Não se pode exigir conduta
diversa do agente quando ele age sob coação moral irresistível ou em razão de obediência
hierárquica.

Vejamos no esquema abaixo as duas hipóteses legais de inexigibilidade de conduta diversa:

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A coação moral irresistível é o emprego de grave ameaça para que determinada pessoa atue,
de forma dolosa ou culposa, conforme se ordena a ela. É o emprego da chamada vis relativa, a
promessa de realizar algum mal ao sujeito, o que o leva a se submeter à vontade de outrem. A
coação moral deve ser irresistível, ou seja, aquela à qual o agente só pode sucumbir. Caso o agente
possa não ceder ou resistir à ameaça, a coação moral será considerada resistível, o que não exclui
a culpabilidade.

Não se admite que a coação seja realizada pela sociedade, mas apenas de sujeito determinado ou
de um grupo de pessoas. A imputabilidade é do agente coator, e não do coato, que, no caso de não
poder resistir à ameaça, não possuirá culpabilidade.

O coator pode responder pelo crime praticado pelo coato em concurso com o crime de tortura.
Há também de hipótese de responder somente pelo crime praticado pelo coato, com a pena
agravada, nos termos do artigo 62, II, do Código Penal:

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:

(...)

II - coage ou induz outrem à execução material do crime;

No caso de coação moral resistível, não haverá exclusão da culpabilidade. Isto porque se
poderia exigir conduta diversa do agente, que poderia resistir à coação. Entretanto, o Código Penal
prevê a consideração da circunstância na dosimetria da pena, com a incidência de uma
atenuante:

Circunstâncias atenuantes

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Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

(...)

III - ter o agente:

(...)

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem


de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto
da vítima;

Em suma, são as consequências da coação moral, caso seja resistível ou irresistível:

No caso de coação física, o sujeito não terá agido de forma livre e consciente. Seu
movimento corporal terá sido determinado por outrem, o que exclui sua conduta. Deste
modo, não há crime, por não haver sequer fato típico. A coação física irresistível é
causa excludente da própria conduta.

Obediência hierárquica

A exigibilidade de conduta diversa também pode ser afastada em caso de obediência hierárquica.
Essa excludente da culpabilidade incide quando o agente age sob uma ordem, proferida por uma
superior hierárquico, que não seja manifestamente ilegal.

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A relação de hierarquia deve ser de direito público, não abrangendo a superioridade moral,
religiosa ou de poder familiar. Não implica na inexigibilidade de conduta diversa, de igual modo, a
hierarquia de relações de trabalho, em sociedades empresárias. É necessário que haja um superior
e um subordinado, ambos com vínculo com a Administração Pública e submetidos à mesma
cadeia hierárquica.

Ademais, a ordem não pode ser manifestamente ilegal. Se a ordem não tiver aparência de
legalidade, o agente não terá afastada a sua responsabilidade criminal, configurando-se a
culpabilidade da sua conduta.

O subordinado deve agir em cumprimento à ordem, acreditando que ela é legal e que
age conforme o direito.

Por fim, o subordinado deve proceder ao estrito cumprimento da ordem. Se ele agir além da
ordem que recebeu, será responsável por seu excesso, caso ilícito. A excludente de culpabilidade,
decorrente da obediência à ordem não manifestamente ilegal, só acoberta a conduta do agente que
aja efetivamente nos limites da manifestação de vontade do seu superior hierárquico.

Percebam que deve ser responsabilizado o superior hierárquico, como autor da ordem, pela
conduta praticada pelo subordinado. Assim como no caso da coação, o autor é considerado
mediato, ou seja, aquele que atua por trás, usando de uma pessoa sem culpabilidade (por coação
moral irresistível ou obediência hierárquica. A autoria mediata deve ser estudada na aula sobre
concurso de pessoas.

Caso a ordem seja considerada manifestamente ilegal, a conduta do agente será censurável
e, assim, ficará configurada a culpabilidade. O Código Penal, contudo, prevê uma atenuante da
pena para o caso:

Circunstâncias atenuantes

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

(...)

III - ter o agente:

(...)

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem


de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato
injusto da vítima;

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Podemos visualizar as consequências de o agente atuar sob a ordem de superior hierárquico,


seja ela manifestamente ilegal ou não:

5. Causas supralegais de exclusão da culpabilidade

Existe controvérsia na doutrina a respeito da possibilidade de reconhecimento de outras causas


dirimentes além das previstas expressamente em lei. Contudo, a posição majoritária é a seguinte:

✓ Rol exemplificativo (numerus apertus) das causas de exclusão da culpabilidade: as


causas de exclusão da culpabilidade são previstas em lei por um rol exemplificativo, o que
dá abertura à consideração de causas supralegais. A exigibilidade de conduta diversa é
a porta de entrada de causas supralegais, consistente em uma espécie de cláusula geral
de configuração da culpabilidade.

O Direito Penal não pode punir, por não ser reprovável, qualquer conduta se, em tais circunstâncias,
não se poderia exigir comportamento diverso do agente. Essas situações não se limitam aos casos
de obediência hierárquica e coação moral irresistível. É o entendimento que vem sendo adotado
pelo STJ.

São exemplos enumerados pela doutrina:

➢ Desobediência Civil: é a conduta de se insurgir contra a ordem estabelecida para luta por
um direito humano ou fundamental. Tem o escopo de representar um protesto contra
determinado estado de coisas na sociedade, não devendo acarretar danos graves para sua
configuração.

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➢ Cláusula de consciência: é a justificativa para descumprimento de determinado dever com


base religiosa, moral ou filosófica. Baseia-se na crença do agente, justificando sua conduta
de contrariar a ordem jurídica. Sua admissão é feita com ressalvas. Seria a justificativa de
quem se recusa à convocação militar.

➢ Situação financeira da sociedade empresária e crimes tributários: a situação financeira


de uma determinada pessoa jurídica tem sido invocada para justificar o não recolhimento de
determinados tributos.

Assim, encerramos o conteúdo desta aula. Vale, então, relembrar, em um esquema, os elementos
que compõe o crime, em uma concepção tripartida de delito:

2 - VADE-MÉCUM ESTRATÉGICO –

Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,


isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-AP 2017)

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Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência
da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
consciência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-AP 2017)

Coação irresistível e obediência hierárquica (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-PA 2016) (PC-SE 2018)

TÍTULO III
DA IMPUTABILIDADE PENAL

"O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia


instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele
previsto". (REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, j. 23/06/2020, DJe
30/06/2020)

Inimputáveis

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-CE 2015) (PC-ES 2019) (PC-GO 2017) (PC-PI 2018)

Redução de pena

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-PI 2018)

Menores de dezoito anos

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Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às


normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Emoção e paixão

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Embriaguez

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.


(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(PC-SP 2018)

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito
ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente
de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

3 – QUESTÕES COMENTADAS

As questões comentadas a seguir expostas também foram extraídas da Aula 05 de Direito Penal
do Professor Michael Procópio.

1. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2013
Sujeito foi abordado pela polícia quando se encontrava na direção de veículo automotor, em plena
via pública, apresentando sinais de alteração da capacidade psicomotora por embriaguez completa,
de acordo com os procedimentos previstos na Resolução n.º 432/13 – CONTRAN, a saber: exame
clínico conclusivo firmado por médicos e constatação pelo agente de trânsito. No flagrante, Sujeito
admitiu que, embora o uso de bebida alcoólica tivesse sido fruto de vontade livre, ele pensou que
a ingestão de meia taça de vinho não iria causar mal, não cuidando assim de perguntar ao médico
que receitara o remédio por ele ingerido uma hora antes do fato, conforme sugerido na bula que
lera, se tal medicamento podia interagir com álcool. Restou evidenciado na investigação que o
medicamento utilizado por Sujeito, embora não fosse do tipo de causar dependência, podia

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potencializar os efeitos do álcool, produzindo resultado idêntico ao de embriaguez completa; e que


o exame de sangue a que ele se submetera ao sair da delegacia, em laboratório particular de
renome, mostrou ser a quantidade de álcool por litro de sangue de Sujeito bem inferior ao limite
mínimo (seis decigramas) legal.
De acordo com os dados fornecidos, assinale a alternativa que mais bem reveste a conduta
perpetrada por Sujeito.
a) Inimputabilidade decorrente da ignorância.
b) Erro de tipo (ele devia ter consultado o médico) e, assim, ele só poderia responder pelo crime a
título de culpa.
c) Erro de proibição por não ter consultado o médico.
d) Isenção de pena por perdão judicial.
e) Está acobertada por obstáculo invencível à condenação porque a ingestão do medicamento
afastou a chamada actio libera in causa.

Comentários:

A alternativa B é a correta e gabarito da questão. Embora, a princípio, nos pareça um caso de


excludente da culpabilidade, a situação fática retrata um erro de tipo. Isso porque o agente se
equivocou quanto ao mundo exterior, interpretando de forma incorreta, ao ingerir medicamento e
logo depois ingerir bebida alcoólica, achando que não ia lhe causar mal.

2. VUNESP/ Delegado de Polícia/2018

O Direito Penal trabalha com a necessidade de se apurar a responsabilidade subjetiva


para punir o autor do crime. No que concerne à responsabilidade objetiva, o Direito Penal

a) admite-a excepcionalmente, quando estabelece os crimes omissivos próprios.

b) admite-a excepcionalmente, quando estabelece a figura dos garantes nos crimes


comissivos por omissão.

c) admite-a excepcionalmente, quando determina a punição do coautor particular nos


crimes cometidos por funcionários públicos.

d) não a admite, em hipótese alguma.

e) admite-a excepcionalmente, quando pune aquele que agiu em estado de completa


embriaguez culposa.

Comentários:

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Apesar de o Direito Penal, em regra, não admitir a responsabilidade objetiva, quando o agente se
embriaga de forma culposa, será responsabilizado por qualquer crime que vier a cometer. Isto
porque ele optou por ingerir álcool ou consumir outra substância entorpecente, sendo plenamente
culpável (exceto nas situações em que a embriaguez se der por ocorrência de caso fortuito ou força
maior).

Há algumas críticas a tal posicionamento majoritário. De toda forma, a teoria adotada pela doutrina,
em tais casos, é a actio libera in causa, em que se considera a culpabilidade do sujeito no momento
em que ele se embriaga.

Posto isso, a alternativa E está correta e é o gabarito da questão.

3. CESPE/Delegado de Polícia Federal/2018

Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva
a ser julgada com base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais
superiores a respeito de exclusão da culpabilidade, concurso de agentes, prescrição e
crime contra o patrimônio.

Arnaldo, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares
quando foi abordado por dois indivíduos fortemente armados, que ameaçaram os
ocupantes do veículo e exigiram de Arnaldo o fornecimento de determinada senha para
a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente atendido. Nessa
situação, o uso da senha pelos indivíduos para eventual prática criminosa excluirá a
culpabilidade de Arnaldo.

Comentários:

O item está correto. É o que prevê o artigo 22 do Código Penal:

“Art. 22 – Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem,


não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem”

A inexigibilidade de conduta diversa exclui a culpabilidade, sendo que suas duas hipóteses legais
são as de coação moral irresistível e de obediência hierárquica.

4. CESPE/Delegado de Polícia Federal/2018

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Em cada item seguinte, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva
a ser julgada com base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais
superiores a respeito de exclusão da culpabilidade, concurso de agentes, prescrição e
crime contra o patrimônio.

Bruna, de vinte e quatro anos de idade, processada e julgada pela prática do crime de
latrocínio, foi absolvida ao final do julgamento, por ter sido considerada inimputável,
apesar de sua periculosidade. Nessa situação, mesmo tendo Bruna sido absolvida, o juiz
pode impor-lhe medida de segurança.

Comentários:

O item está correto. Se Bruna for considerada inimputável por estar acometida de doença mental,
que a deixava, ao tempo do crime, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento, o juiz deve absolvê-la por ausência de
culpabilidade. Entretanto, referida sentença é denominada absolutória imprópria, pois deve ser
imposta à ré uma medida de segurança.

É o que prevê o artigo 386, parágrafo único, do Código de Processo Penal:

“Parágrafo único – Na sentença absolutória, o juiz:

(…)

III – aplicará medida de segurança, se cabível.”

O artigo 97 do Código Penal, por sua vez, prevê a imposição de medida de segurança ao réu
inimputável:

“Art. 97 – Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se,
todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo
a tratamento ambulatorial.”

5. CESPE/TJ-PA/Juiz de Direito/2019

De acordo com o finalismo defendido por Hans Welzel, o dolo é

a) Natural; a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de


conduta diversa são os elementos da culpabilidade.

b) Normativo; a imputabilidade e o dolo normativo são os únicos elementos da


culpabilidade.

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c) Normativo; a imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa são os únicos


elementos da culpabilidade.

d) Natural; a imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa são os únicos elementos


da culpabilidade.

e) Normativo; a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de


conduta diversa são os elementos da culpabilidade.

Comentários:

A alternativa A está correta. De acordo com a teoria finalista, a conduta humana é o exercício de
uma atividade final, ou seja, funde na conduta a vontade e a finalidade. Com isso, o dolo e a culpa
passam a integrar o fato típico, deixando de ser elemento da culpabilidade. Com isso, a
culpabilidade deixa de ser psicológica, já que o dolo e a culpa são concebidos como elementos do
fato típico. Seu conteúdo, então, fica sendo puramente normativo, isto é, exclusivamente o
juízo de reprovabilidade ou censurabilidade da conduta praticada pelo autor. Com a migração
do dolo e da culpa para o fato típico, restam como elementos da culpabilidade a imputabilidade, a
exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude.

6. FGV/ Analista do Ministério Público (MPE AL/2018

Em seu primeiro evento na faculdade, Rodrigo ingeriu, com a intenção de comemorar,


grande quantidade de bebida alcoólica. Apesar de não ter intenção, a grande quantidade
de álcool fez com que ficasse embriagado e, em razão desse estado, acabou por iniciar
discussão desnecessária e causar lesão corporal grave em José, ao desferir contra ele
dois socos.

Todas as informações acima são confirmadas em procedimento de investigação criminal.

Ao analisar as conclusões do procedimento caberá ao Promotor de Justiça reconhecer

a) a ausência de culpabilidade do agente diante da situação de embriaguez culposa.

b) a ausência de culpabilidade do agente em razão da embriaguez completa,


proveniente de caso fortuito, aplicando-se medida de segurança.

c) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, inclusive com presença da agravante


da embriaguez pré-ordenada.

d) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, pois a embriaguez foi culposa, não
sendo possível imputar a agravante da embriaguez pré-ordenada.

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e) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, pois a embriaguez foi voluntária, não
sendo possível imputar a agravante da embriaguez pré-ordenada.

Comentários:

a) a ausência de culpabilidade do agente diante da situação de embriaguez culposa.

Sabendo-se que a embriaguez, em regra, não ocasiona a inimputabilidade do agente, ele


responderá pelo crime quando a embriaguez for culposa ou dolosa. É o que prevê o artigo 28, II,
do CP:

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

(...)

Embriaguez

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

Logo, por ser o agente imputável, a alternativa A é incorreta.

b) a ausência de culpabilidade do agente em razão da embriaguez completa, proveniente de


caso fortuito, aplicando-se medida de segurança.

A situação de embriaguez de Rodrigo não ocorreu por fato alheio à sua vontade. Deste modo,
não se trata de embriaguez acidental, mas sim voluntária. Como prevê o artigo 28, II, do CP, acima
transcrito, a embriaguez culposa não afasta a imputabilidade.

Destarte, é incorreta a alternativa B.

c) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, inclusive com presença da agravante da


embriaguez pré-ordenada.

Não ocorreu embriaguez preordenada, tendo em vista que para a sua configuração é necessário
que o agente faça a ingestão de álcool a fim de praticar o crime.

Deste modo, está errada a alternativa C.

d) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, pois a embriaguez foi culposa, não sendo
possível imputar a agravante da embriaguez pré-ordenada.

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A conduta de Rodrigo foi típica, ilícita e culpável. A causa de sua embriaguez não é apta a afastar
sua imputabilidade, haja vista que se trata de embriaguez culposa, nos termos do acima transcrito
artigo 28, II, do CP. O enunciado deixa claro que o agente não tinha intenção de se embriagar, não
podendo se falar em embriaguez preordenada. Deste modo, a alternativa D está correta e é o
gabarito da questão.

e) a existência de conduta típica, ilícita e culpável, pois a embriaguez foi voluntária, não sendo
possível imputar a agravante da embriaguez pré-ordenada.

Como já comentado nas alternativas anteriores, há conduta típica, ilícita a culpável. Todavia, a
embriaguez não foi voluntária, mas culposa. Por isso, a alternativa E está errada.

LEGISLAÇÃO CIVIL ESPECIAL


Iremos estudar o seguinte ponto do seu edital:

Direito Penal – PONTO 5: Estatuto do idoso (Lei n° 10.741/2003).


Direito Civil – PONTO 3: Estatuto do Idoso. (Lei nº10.741/03).

Aqui temos um tema de grandíssima importância e com um grande curso benefício. Ao estudarmos
os crimes e o rito de processamento do Estatuto do Idoso, estaremos estudando um tema que já
caiu 9 vezes nas provas de Delegado nos últimos 5 anos.

Ao estudarmos as demais disposições previstas no estatuto, estaremos estudando um tópico de


direito civil que é o terceiro mais incidente em relação às legislações civis especiais.

Não se inicia a construção de uma casa pelo telhado, não é mesmo?! Então nada melhor do que
começar o nosso estudo de reta final consolidando uma estrutura teórica.

Assim, nosso ponto de hoje abrangerá: Pílulas Estratégicas de Doutrina, Vade-mécum


Estratégico e Questões Comentadas, não havendo a necessidade de tópico destacado para a
jurisprudência, porque o nosso Vade-mécum já contempla de forma satisfatória.

1 - PÍLULAS ESTRATÉGICAS DE DOUTRINA

Faremos nosso estudo de a partir da Aula 16 do Professor Paulo Sousa, do Curso Regular de
Legislação Civil Especial, extraindo conceitos, classificações e o instrumental teórico necessário à
compreensão e melhor assimilação (e memorização) dos diplomas normativos.

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1. Considerações

Quanto ao idoso, dois dispositivos constitucionais versam sobre eles. Primeiro, o art.
229 diz claramente que “os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pais na velhice, carência ou enfermidade”. Esse artigo constitucional remete a uma
regra bastante antiga e consolidada do Direito de Família, qual seja a reciprocidade
do dever de alimentar, presente no art. 1.696 do CC/2002, mas geralmente pensada
no prisma ascendente-descendente apenas, por razões cronológicas óbvias.

No entanto, a reciprocidade pressupõe igualmente que os descendentes também prestem


os alimentos aos ascendentes que não puderem provê-los autonomamente, ou seja, os
alimentos também se aplicam no prisma descendente-ascendente. É o respeito da geração mais
nova pelos esforços feitos pela geração que lhe antecedeu. Na sequência, o art. 230 também
pretende dar proteção à pessoa idosa:

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida.

§1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus


lares.

§2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes
coletivos urbanos.

Essa é a base de sustentação do EI. Obviamente, a disposição constitucional, como não poderia
ser diferente, é bastante ampla, sendo que a norma constitucional necessita claramente de
densificação normativa no plano infraconstitucional. A utilização dos dois artigos, art. 229 e art.
230, em conjunto com os demais princípios constitucionais, consegue resolver conflitos de normas
e criar boa parte da proteção à pessoa idosa.

A partir dessa interpretação sistêmica da CF/1988, é possível visualizar que, para a aplicação do
Estatuto, levam-se em conta os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da
solidariedade.

O Estatuto do Idoso volta-se à proteção da pessoa que conta com mais de 60 anos,
independentemente de suas condições biopsicossociológicas; se capaz ou incapaz, se
deficiente ou não, se aparente a idade ou não. Esses elementos são irrelevantes para a
aplicação do microssistema especial.

Excepcionalmente, o EI leva em consideração esses aspectos. A regra, portanto, é que idoso é


aquele que conta com mais de 60 anos, mas aspectos etários diferenciados podem ser aplicáveis
e critérios outros que não o meramente etário também. Preste atenção nas exceções, pois elas

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são frequentes nas provas! Quando o simples fato de ter mais de 60 anos não significa a
possibilidade de fruir dos benefícios legais?

60 anos
• Regra geral

65 anos
• Art. 34: benefício da prestação continuada da LOAS
• Art. 39: gratuidade no transporte coletivo urbano e semiurbano

60 anos + baixa renda


• Art. 40: descontos ou vagas gratuitas no transporte interestadual para idosos cuja renda
é inferior a 2 salários mínimos

65 anos + baixa renda


• Art. 34: benefício de 1 salário mínimo para idoso que não possui meios para prover sua
subsistência

Quanto às parte penal do assuntos, traremos apenas no VME.

2. Aplicação do Estatuto

O art. 1º do EI deixa claro que suas regras são aplicáveis a todas as pessoas maiores de 60 anos,
independentemente de sua condição biopsicossociológica. Tal se faz porque, de maneira
bastante superficial, pressupõe-se que a pessoa idosa é hipossuficiente em relação às
demais, em seus mais diversos aspectos.

O Direito precisa de marcos temporais objetivos para conseguir aplicar determinados


conceitos, espécies e estatutos legislativos específicos. O ponto central, porém, continua
sendo que os idosos são reputados hipossuficientes, assim como as crianças e adolescentes (daí
o ECA), os consumidores (daí o CDC), os jovens (daí o Estatuto da Juventude), as pessoas com
deficiência (daí o EPD). Por isso, merecem proteção especial do Estado.

Alguns indicam que poderia se verificar, em dadas situações, certa vulnerabilidade


agravada. Por exemplo, o caso de um consumidor idoso, que é vulnerável pela
aplicação do CDC e igualmente vulnerável pela aplicação do EI. Pela
combinação do CDC e do EI, o consumidor idoso constituiria uma categoria
nova, o vulnerável agravado, ou hipossuficiente agravado, porque é
duplamente penalizado numa relação jurídica, sendo ao mesmo tempo
consumidor e idoso.

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Por isso, o EI chega a prever, de maneira programática, no art. 70, que o Poder Público pode criar
varas especializadas e exclusivas do idoso. Apesar de o EI ser antigo, o Estado ainda não
chegou a operacionalizar essa norma. Tivemos a implantação da primeira Vara Federal específica
para o idoso, em 2005, pelo TRF da 4ª Região em Maringá/PR. Anos depois, o TJ/PA instalou o 1º
Juizado Especial Cível e Criminal do Idoso, em Belém.

Mas, um dispositivo voltado ao Poder Judiciário sobreleva. O art. 71 assegura prioridade


na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e
diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade
igual ou superior a 60 anos, em qualquer instância.

O interessado na obtenção da prioridade deve fazer prova da idade à


autoridade judiciária competente para decidir o feito. Para operacionalizar
esse direito, o §1º determina que essa informação seja anotada em local visível nos
autos do processo.

Essa prioridade não vale apenas para os processos judiciais, mas também se
estende aos processos e procedimentos na Administração Pública em geral,
incluindo empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento
preferencial junto à Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos
Serviços de Assistência Judiciária (§3º).

Nesse atendimento, será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com
a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis. Curiosamente, a prioridade não
cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge ou companheiro
supérstite, maior de 60 anos (§2º). Ademais, conforme o §5º, dentre os processos de idosos, dar-
se-á prioridade especial aos maiores de 80 anos, os “superidosos”, segundo alguns.

O EI deve ser aplicado de maneira bastante ampla pela sociedade. O art. 3º


estabelece que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar os direitos aos idosos. Não há hierarquia ou prevalência
entre cada um dos núcleos designados pelo dispositivo. O Estado é tão
responsável quanto a família; a sociedade é tão responsável quanto a
comunidade.

É evidente que os membros da família, tendo em vista a família constituir os laços mais fortes,
próximos e importantes da pessoa, serão primeiramente chamados à assistência do próprio familiar.
É por isso que um dos tipos penais criados pelo EI, presente no art. 98 – abandonar idoso em
instituição de cuidado, como asilo, hospital e assemelhados, ou não prover suas necessidades
básicas e fundamentais – volta-se evidentemente à família. Isso, porém, não exime os demais de
velar pelo cumprimento dos direitos do idoso.

Essa priorização do idoso nas relações sociais, porém, não se analisa genericamente, pois os
incisos do parágrafo único desse artigo elencam detalhadamente, entre outros, o que se entende
por prioridade ao idoso.

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É necessário dar atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos


órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população. Por isso, a
criação de guichês preferenciais e senhas preferenciais em numerosas instituições,
bem como a priorização, ainda que sem guichê específico, no atendimento em locais
que não contem com atendimento destacado.

Essa priorização vai ao encontro do que já previa a Lei 10.048/2000, que trata
exatamente da priorização de atendimento das pessoas. A redação original do art. 1º dessa Lei, na
esteira do diploma constitucional, priorizava idosos com mais de 65 anos de idade. Sua redação,
porém, foi alterada pelo EI em 2003 e novamente alterada em 2015 pelo Estatuto da Pessoa Com
Deficiência – EPD. Veja as mudanças:

Art. 1º (original) Art. 1º (atualizado)


As pessoas portadoras de deficiência As pessoas com deficiência, os idosos
física, os idosos com idade igual ou com idade igual ou superior a 60 anos,
superior a 65 anos, as gestantes, as as gestantes, as lactantes, as pessoas
lactantes e as pessoas acompanhadas com crianças de colo e os obesos terão
por crianças de colo terão atendimento atendimento prioritário, nos termos
prioritário, nos termos desta Lei. desta Lei.

Haverá preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas,


bem como na destinação de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao
idoso. Além disso, em postura pedagógica, deve haver o estabelecimento de mecanismos que
favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais
de envelhecimento.

Quanto à relação do idoso com as demais pessoas, deve-se viabilizar formas


alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais
gerações. Ou seja, o EI não pretende criar “guetos” para os idosos, mas
integrá-los à sociedade, de modo que tenham convivência contínua e
respeitosa. Por isso, a sociedade deve priorizar o atendimento do idoso por
sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a
possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência.

Tendo em vista o decréscimo paulatino da saúde humana com o natural envelhecimento, o Estado
deve promover a capacitação e a reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e
gerontologia e na prestação de serviços aos idosos. Igualmente, deve ser plena a garantia de
acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

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Como eu disse anteriormente, essas regras de priorização não excluem outras e são meramente
exemplificativas.

Em resumo, eis as garantias trazidas pelo EI, em seu art. 3º

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e


privados prestadores de serviços à população
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas
específicas
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a
proteção ao idoso
IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do
idoso com as demais gerações

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento


do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de
manutenção da própria sobrevivência

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e


gerontologia e na prestação de serviços aos idosos

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações


de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda

A Lei 13.466/2017, ao incluir o §2º, determinou que dentre os idosos, é assegurada prioridade
especial aos maiores de 80 anos, atendendo-se suas necessidades sempre preferencialmente
em relação aos demais idosos.

Se não bastasse a previsão do art. 3º deixar bastante claro a amplitude da proteção ao idoso, o art.
4º, §1º, ainda reafirma que é dever de todos prevenir a ameaça ou a violação aos direitos do idoso,

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sem que isso signifique a exclusão da prevenção decorrente dos princípios pela Lei adotados. O
violador, seja pessoa física ou jurídica, será responsabilizado na forma da lei, segundo o art. 5º.

De modo a fortalecer a proteção do idoso, o art. 6º estabelece que todo cidadão tem
o dever de comunicar às autoridades qualquer violação aos direitos do idoso
que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. A maioria da doutrina
estabelece que a ordem legal é inapropriada, sendo que qualquer pessoa
poderá fazê-lo. Do contrário, afirma-se, cria-se verdadeiro dever juridicamente
tutelável quanto à omissão sobre violações do direito do idoso que poderiam
configurar omissão do particular em alertar a autoridade pública.

Deveria ser interpretado esse artigo, portanto, em consonância com o art. 5º, §3º, do Código de
Processo Penal, que estabelece que qualquer pessoa do povo pode (e não deve) alertar a
autoridade, seja policial, seja o MP, quanto a infrações cometidas. Obviamente, isso não se aplica
ao servidor público, submetido a regramento específico, ou ao servidor público que tenha o
dever de zelar pelo idoso, igualmente submetido a legislação própria.

Para acompanhar e zelar pelo cumprimento dessas regras, o art. 7º


encarrega os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e
Municipais do Idoso, previstos na Lei 8.842/1994 e regulamentos por
Decreto. Esses Conselhos se assemelham, em larga medida aos
Conselhos Tutelares, ainda que estes tenham maior visibilidade social,
dada sua antiguidade.

3. Direitos do Idoso

De modo a tornar mais palpáveis os direitos do idoso, o EI elenca numerosos direitos dados aos
maiores de 60 anos a partir do art. 8º. Esse artigo dispõe que o envelhecimento é um direito
personalíssimo e a sua proteção um direito social. Por se tratar de direito social, é obrigação do
Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais
públicas que permitam envelhecimento saudável e em condições de dignidade, assegura o art. 9º.

Assim, o envelhecimento – qualificado, diga-se de passagem, como saudável


e digno – torna-se direito fundamental. Trata-se de direito com assento
constitucional, no art. 3º, inc. IV, da CF/1988, que veda qualquer discriminação
por idade, sendo que o envelhecimento ainda constitui um direito humano,
conforme o art. 25, §1º, da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

O envelhecimento digno é direito personalíssimo, individual, constitucional,


fundamental e humano, portanto. Não é necessário, assim, traçar as diferenças, no plano técnico-
dogmático, entre essas categorias de direitos, como é comum no Direito Constitucional, dado que

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o envelhecimento se encontra textualmente presente em diversos diplomas legais (Declaração


Universal, CF/1988 e Lei infraconstitucional).

O envelhecimento torna-se, em realidade, a reafirmação de outros tantos


princípios fundamentais, como o direito à vida, a à saúde e a dignidade humana,
porque a velhice é extremamente dificultada ou mesmo impossível sem que esses
outros princípios e os direitos que deles derivam sejam adequadamente
cumpridos.

De maneira mais evidente, a velhice digna depende de um sistema de saúde adequado,


que consiga fazer frente aos anseios das pessoas em idade mais jovem. Ou seja, o
envelhecimento digno se mostra como um termômetro sobre a adequabilidade no
cumprimento dos demais direitos fundamentais numa dada sociedade. Uma sociedade sem
idosos ou com idosos que vivem sem dignidade é uma sociedade que não respeita os
direitos fundamentais de sua população desde jovem.

Quebram-se também, com a obrigação do art. 9º, barreiras de cunho operacional, que esbarrariam
em discussões sobre que Poder deve fazer o quê em matéria de direito do idoso. Frequentemente
o próprio Montesquieu é chamado a responder conflitos entre Poderes beligerantes. O Estatuto,
porém, furtou-se a essa discussão, estabelecendo que é “dever do Estado”.

A. Direito a liberdade, respeito e dignidade

Quanto aos direitos relativos à liberdade, ao respeito e à dignidade, o art. 10, em larga medida,
apenas frisa direitos que são aplicáveis a todo e qualquer cidadão. Não obstante, o §1º especifica,
no detalhe, que o direito à liberdade dos idosos compreende, entre outros, os seguintes aspectos:

I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,


ressalvadas as restrições legais

II – opinião e expressão

III – crença e culto religioso

IV – prática de esportes e de diversões

V – participação na vida familiar e comunitária

VI – participação na vida política, na forma da lei

VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação

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O respeito ao idoso, prevê o §2º, consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças,
dos espaços e dos objetos pessoais. Já o §3º, no mesmo sentido de repetição de direitos amplos,
estabelece que é dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

B. Direito aos alimentos

Já quanto aos alimentos o EI remete a prestação alimentar à lei civil. De qualquer


sorte, o art. 12 estabelece que a obrigação alimentar é solidária, podendo o
idoso optar entre os prestadores, independentemente um do outro.
Obviamente, essa prestação, a partir de uma lógica de raciocínio
cronológica, se voltará aos filhos da pessoa idosa; são esses filhos que
serão chamados de maneira solidária e à escolha do idoso.

É possível, em caso de conflito, celebrar acordo com os alimentantes. Nesses casos, o


EI, no art. 13, permite que as transações relativas aos alimentos sejam celebradas
perante o Promotor de Justiça ou o Defensor Público, que as referendará. Com a
assinatura do Promotor ou do Defensor, a transação passa a ter efeito de título
executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil.

Essa é uma situação bastante peculiar na prática, especialmente para os Defensores


Públicos, que, a despeito de sua vinculação à Defensoria Pública, não deixam de ser advogados a
atuar em favor de uma das partes. Sua atuação, aqui, transborda o caso particular, numa proteção
social semelhante à do MP.

Ademais, se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o


seu sustento, deve o Poder Público fazê-lo através da assistência social, a LOAS (Lei
8.742/1993) Não pode, porém, o idoso ficar desamparado, sem recursos mínimos para se sustentar.

C. Direito à saúde

Em relação à saúde, um ponto certamente mais sensível aos idosos, em vista de sua peculiar
condição física derivada da contribuição à sociedade por elevado período de tempo, o EI tem regras
protetivas, como era de se esperar. Para tanto, o art. 15 assegura atenção integral à saúde do
idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, incluindo a
atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

Por isso, é comum vermos determinadas medidas do SUS que têm foco e atenção preferencial aos
grupos mais vulneráveis em relação aos aspectos que envolvem a saúde: profissionais da saúde,
gestantes, crianças e idosos. Não à toa, as campanhas de vacinação contra a gripe, por exemplo,
geralmente envolvem esses quatro grupos prioritários.

Para tornar mais clara a forma de se prover essa atenção especial aos idosos, o §1º prevê que a
prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:

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Cadastramento da população idosa em base territorial

Atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios

Unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e


gerontologia social

Reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das sequelas


decorrentes do agravo da saúde

Atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população necessitada e


impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições
públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder
Público, nos meios urbano e rural

Especificamente quanto ao último caso, a Lei 10.424/2002 acrescentou alguns dispositivos à Lei do
SUS para incluir o atendimento domiciliar, no art. 19-I, parágrafos. Em três parágrafos, a Lei
determina que o atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por
indicação médica, com expressa concordância do paciente e de sua família.

Essa atenção domiciliar será realizada por equipes multidisciplinares que atuarão nos níveis da
medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora. O atendimento e a internação domiciliares incluem
procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência social,
entre outros necessários ao cuidado integral dos pacientes em seu domicílio.

O art. 15 do EI ainda obriga o Estado a fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos,


especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Se o idoso tiver sua condição agravada
por deficiência ou limitação incapacitante, terá atendimento especializado, aduz o §4º.

Dispositivo polêmico e que gerou uma alteração profunda na Lei dos Planos de
Saúde – LPS vem no §3º do art. 15. Segundo ele, é vedada a discriminação do
idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão
da idade.

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Como a aplicação do EI se dá a partir dos 60 anos, os planos de saúde ficaram proibidos de


estabelecer níveis de aumento (que não pela inflação autorizada pela ANS), para os maiores de
60 anos. Assim, o último “gatilho” de aumento dos planos tem de ocorrer antes dos 60 anos do
segurado de saúde, sob pena de violação do EI.

Além disso, veda-se que o idoso enfermo seja obrigado a comparecer pessoalmente perante
os órgãos públicos, o que violaria sua dignidade. No entanto, quando necessário for, o §5º,
incisos, prevê que caso seja interesse do Poder Público, o agente estatal promoverá o contato
necessário com o idoso em sua residência, ou, se o interessado for o próprio idoso, este se
fará representar por procurador.

Isso é comum no caso de verificação de que a pessoa idosa beneficiária do INSS continua viva.
Nesses casos, deve haver atendimento domiciliar pela perícia médica do INSS ou pelo serviço
público ou privado – contratado ou conveniado – de saúde que integre o SUS, para expedição do
laudo de saúde necessário ao exercício de seus direitos sociais e de isenção tributária.

Ademais, desde 2017 prevê o §7º que em todo atendimento de saúde, os maiores de 80 anos
terão preferência especial sobre os demais idosos, exceto em caso de emergência.

Quando em estabelecimento de saúde, o idoso tem direito a acompanhante em


tempo integral, devendo o órgão providenciar as condições adequadas para a sua
permanência. Excepcionalmente, apenas, o profissional de saúde poderá impedir o
acompanhamento, mas mediante justificativa por escrito, segundo o art. 16, parágrafo
único.

De qualquer forma, a escolha dos tratamentos médicos não é obstada pela idade
da pessoa; se plenamente capaz, o idoso é quem optará pelo tratamento de saúde que lhe
for reputado mais favorável. Se incapacitado, o art. 17, parágrafo único, prevê que essa escolha
caberá, em ordem:

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I – pelo curador, quando o idoso for interditado

II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contatado em
tempo hábil

III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para
consulta a curador ou familiar

IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que
deverá comunicar o fato ao Ministério Público

Se houver suspeita de violência praticada contra o idoso, o art. 19 torna


obrigatório que os serviços de saúde públicos e privados notifiquem a
autoridade sanitária, a Polícia, o MP e os Conselhos Municipal, Estadual e
Nacional do Idoso. A violência abrange qualquer ação ou omissão
praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou
sofrimento físico ou psicológico.

D. De educação, esporte, cultura e lazer

Como a integração adequada do idoso à sociedade depende de um conhecimento mútuo


intergeracional, o EI tem previsões específicas para promover a coexistência entre idosos e não-
idosos.

Por isso, o art. 21, §1º, obriga o Estado a prover cursos especiais para idosos que incluam conteúdo
relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua
integração à vida moderna. Igualmente, terão os idosos direito à meia entrada (ao menos 50%
de desconto) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem
como o acesso preferencial aos respectivos locais, consoante regra expressa do art. 23.

Por outro lado, devem eles participar de comemorações públicas para que transmitam seus
conhecimentos e vivências às demais gerações, para preservar a memória e a identidade
culturais (art. 21, §2º). Mas não só, pois os currículos mínimos dos diversos níveis de ensino devem
ter conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de
forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria (art. 22).

Além disso, dispõe o art. 25 que as Instituições de Educação Superior – IES ofertarão às pessoas
idosas, na perspectiva da educação ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais
ou a distância, constituídos por atividades formais e não formais. O poder público ainda apoiará a
criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e
periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada
a natural redução da capacidade visual.

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E. De profissionalização e trabalho

Quanto à inserção dos idosos no mercado de trabalho, em que pese se compreender


que já contribuíram eles sobremaneira para com a sociedade, a idade não pode
significar, por si só, sua exclusão. Por isso, o art. 27 do EI veda, na admissão do idoso
em qualquer trabalho, a discriminação e a fixação de limite máximo de idade,
inclusive para concursos.

Por um lado, há a ressalva aos casos em que a natureza do cargo exigir a


discriminação por idade, mas isso deve ser excepcional e justificada pelo empregador,
público ou privado. É o que acontece com frequência em concursos públicos da área de
segurança pública, na qual se exige compleição física mais robusta, justificando a restrição de idade
para ingresso.

Por fim, o parágrafo único do art. 27 prevê que o primeiro critério de desempate em concurso
público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.

F. Da previdência social

Cessadas suas atividades laborais, é direito do idoso ter previdência social compatível. Por isso,
os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social – RGPS
devem observar critérios que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram
contribuição. Para evitar que isso não seja cumprido, o art. 29, parágrafo único, define que os
benefícios serão reajustados na mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata.

Qual é essa data-base? Segundo o art. 32, trata-se do Dia Mundial do Trabalho, 1º de maio, tanto
para aposentados, quanto para pensionistas. Nada impede, porém, que a data-base seja
antecipada, a critério do Poder Público.

G. Da assistência social

Para além da Previdência Social, é direito do idoso Assistência Social adequada. Ela se fará de
acordo com a Lei 8.742/1993, a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, o EI e o SUS, em
conjunto.

Caso o idoso não possa ser ou não tenha condições de ser cuidado em casa,
pela família, poderá permanecer em entidades de longa permanência. Em
qualquer caso, porém, as entidades são obrigadas a firmar contrato de prestação de
serviços com a pessoa idosa abrigada (art. 35). Caso o idoso participe no custeio
de entidade filantrópica ou casa-lar, o valor dispendido não poderá ser superior
a 70% do benefício previdenciário ou de assistência social percebido.

De qualquer sorte, o acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo
familiar, caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais, na literalidade do art. 36.

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Importa salientar que, apesar dos benefícios assistenciais se estenderem a todos os idosos, o art.
34 estabelece uma exceção. Os idosos que não possuam meios de prover sua subsistência,
nem de a ter provida por sua família, têm direito ao benefício mensal de um salário-mínimo,
nos termos da LOAS. No entanto, esse benefício só vale para os idosos a partir de 65
(sessenta e cinco) anos. Ou seja, as regras gerais assistenciais valem para todos os idosos, mas
essa somente para os maiores de 65 anos!

De qualquer forma, prevê o parágrafo único, o benefício já concedido a qualquer


membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do
cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS. No entanto, houve
ampliação desse dispositivo por decisão do STF, que entendeu que o referido
artigo deve abranger qualquer benefício, e não apenas o benefício do caput, para
fins de aplicação da LOAS.

H. Da habitação

A despeito de seu abrigamento, os idosos gozam de outra proteção a seu direito de habitação. O
art. 38 prevê que nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados, o idoso goza de
prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria. Para isso, deve-se observar:

Reserva de pelo menos 3% das unidades habitacionais residenciais para atendimento


aos idosos

Implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso

Eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade


ao idoso

Critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e


pensão

As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos devem situar-se,


preferencialmente, no pavimento térreo

I. Do transporte

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Outra exceção importante em relação à idade mínima para aplicação do EI às pessoas é o direito
ao transporte. Isso porque o art. 39 regulamenta a gratuidade dos transportes coletivos públicos
urbanos e semiurbanos aos maiores de 65 anos. Essa regra é excepcionada sob duas
perspectivas:

1. Sujeito
• Art. 39, §3º: pessoas entre 60 e 65 anos podem obter o benefício, a critério da legislação
local

2. Objeto
• Art. 39, caput: serviços seletivos e especiais, prestados paralelamente aos serviços
regulares (como os serviços de vans)

Para fazer valer o benefício, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que
faça prova de sua idade.

Quanto ao sistema de transporte coletivo interestadual, o art. 40 estabelece:

1. A reserva de 2 vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 salários-mínimos

2. Desconto de no mínimo 50% no valor das passagens para os idosos que excederem as vagas gratuitas,
com renda igual ou inferior a 2 salários-mínimos

Além da isenção no transporte, os idosos ainda gozam de preferência no uso do transporte


coletivo público urbano e semiurbano. Prevê o art. 39, §2º, que nos veículos de transporte
coletivo devem ser reservados 10% dos assentos para os idosos, devidamente identificados
com a placa de reservado preferencialmente para eles.

A preferência ainda se aplica, segundo o art. 41, ao estabelecimento de 5% das vagas nos
estacionamentos públicos e privados aos idosos, as quais deverão ser posicionadas de forma
a garantir a melhor comodidade a eles. Ela ainda se estende à prioridade do idoso nos
procedimentos de embarque e desembarque nos veículos do sistema de transporte coletivo.

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10% dos assentos

• No transporte coletivo público urbano e semiurbano

5% das vagas

• Nos estacionamentos públicos e privados, posicionadas da maneira mais cômoda

4. Ministério Público

As funções do Ministério Público previstas no EI são exercidas nos termos da respectiva Lei
Orgânica.

Deixa claro o art. 75 que nos processos e procedimentos em que não for parte,
atuará obrigatoriamente o MP na defesa dos direitos e interesses de que cuida
o EI. Nesses casos, o órgão tem vista dos autos depois das partes, podendo juntar
documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os recursos
cabíveis.

Como de hábito, a intimação do MP, em qualquer caso, é feita pessoalmente, prevê


o art. 76. A falta de intervenção do MP acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. O art. 78 ainda estabelece que as
manifestações processuais do representante do MP deverão ser fundamentadas.

Ademais, estabelece o art. 74 que compete ao MP:

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I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses
difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de


designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em
todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco

III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto
no EI

IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas


no EI, quando necessário ou o interesse público justificar

V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo

• a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não


comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva,
inclusive pela Polícia
• b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,
estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções
e diligências

c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas

VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito


policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso

VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis

VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de


que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias
à remoção de irregularidades porventura verificadas

IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e
de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições

X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos na Lei

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A legitimação do MP para as ações cíveis supramencionadas não impede a de terceiros, nas


mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei. Igualmente, as atribuições MP constantes do EI não
excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições do MP. Igualmente, o órgão
do MP, no exercício de suas funções, tem livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso.

5. Proteção judicial dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos

O Capítulo III do EI ainda estabelece procedimento específico para a proteção dos


direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos relativamente aos idosos. Reza o
art. 79 que são regidos pelo EI as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:

I – acesso às ações e serviços de saúde


II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com
limitação incapacitante
III – atendimento especializado ao idoso portador de doença
infectocontagiosa
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso

Obviamente que essas hipóteses não excluem da proteção judicial outros interesses
difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso,
protegidos em lei. O art. 80, à semelhança do CDC, estabelece foro especial para o
idoso. As ações previstas no Capítulo III do EI serão propostas no foro do domicílio
do idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos
Tribunais Superiores.

Segundo o art. 81 são legitimados, concorrentemente, para propor as ações cíveis fundadas
em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos:

A União, os Estados, o Distrito Federal e os


O Ministério Público
Municípios

As associações legalmente constituídas há pelo menos 1 ano e que incluam entre os fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização
da assembleia, se houver prévia autorização estatutária

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Admite-se litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na


defesa dos interesses e direitos de que cuida o EI (§1º), sempre visando à proteção integral do
idoso. Igualmente, de modo a evitar prejuízo à proteção do idoso por associação desidiosa, em
caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público
ou outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa (§2º). No mesmo sentido, mesmo que a
desídia seja da própria pessoa idosa, prevê o art. 87 que decorridos 60 dias do trânsito em
julgado da sentença condenatória favorável sem que a pessoa promova a execução, o MP o
fará, facultada igual iniciativa aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo o polo
ativo, em caso de inércia desse órgão.

Caso na ação se solicite multa diária por descumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, por exemplo, o art. 84 estabelece que esses valores reverterão ao Fundo do
Idoso, onde houver, ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social,
ficando vinculados ao atendimento ao idoso.

Quando transitar em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz
determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil
e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão, esclarece o art. 86.

De maneira incomum, o art. 88 aduz que nas ações do Capítulo III do EI, não haverá adiantamento
de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas. E, logicamente,
não há sucumbência ao MP, dada a natureza do órgão.

6. Fundo Nacional do Idoso

O Fundo Nacional do Idoso – FNI, instituído pela Lei 12.312/2010 financia os programas e as ações
relativas ao idoso com vistas a assegurar os seus direitos sociais e criar condições para promover
sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Esse fundo tem como receita,
segundo o art. 1º, parágrafo único da lei do FNI:

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I - os recursos que, em conformidade com o art. 115 da Lei 10.741/2003, foram destinados ao
Fundo Nacional de Assistência Social, para aplicação em programas e ações relativos ao idoso;

II - as contribuições referidas nos arts. 2º e 3º desta Lei, que lhe forem destinadas;

III - os recursos que lhe forem destinados no orçamento da União;

IV - contribuições dos governos e organismos estrangeiros e internacionais;

V - o resultado de aplicações do governo e organismo estrangeiros e internacionais;

VI - o resultado de aplicações no mercado financeiro, observada a legislação pertinente;

VII - outros recursos que lhe forem destinados.

Essa lei ainda altera a Lei 9.250/1995, a Lei do Imposto de Renda – LIR, incluindo
mais uma dedução do IRPF. O art. 11 dessa Lei prevê que o imposto de renda
devido na declaração deve ser calculado mediante a utilização da tabela que prevê
parcela dedutível do imposto. As deduções do imposto podem incluir, segundo
o art. 12, inc. I, da LIR, as contribuições feitas aos Fundos controlados pelos
Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente e pelos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional do Idoso.

Adicionalmente, o art. 3º da Lei do FNI permite à pessoa jurídica deduzir do imposto de renda
devido, em cada período de apuração, o total das doações feitas aos Fundos Nacional, Estaduais
ou Municipais do Idoso devidamente comprovadas, vedada a dedução como despesa operacional.

7. Jurisprudência Correlata

JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
O STF deu interpretação conforme a Constituição ao art. 94 do EI, suprimindo a expressão “do
Código Penal e”. Assim, o dispositivo deve ser lido assim: “Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei,
cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento
previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as
disposições do Código de Processo Penal”.

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Isso porque a aplicação da Lei 9.099/1995, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis – LJEC e Criminais,
congrui tanto direito penal material quanto direito penal processual, pelo que se poderia pensar que
a aplicação da LJEC traria abrandamento das regras penais para o ofensor. O STF entendeu que
somente a parte processual da LJEC é aplicável subsidiariamente ao EI, com a celerização
do procedimento em favor do idoso, mas não a aplicação de medidas despenalizadoras para
o ofensor, como a transação penal e a conciliação:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 39 E 94 DA LEI


10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). RESTRIÇÃO À GRATUIDADE DO
TRANSPORTE COLETIVO. SERVIÇOS DE TRANSPORTE SELETIVOS E ESPECIAIS.
APLICABILIDADE DOS PROCEDIMENTOS PREVISTOS NA LEI 9.099/1995 AOS
CRIMES COMETIDOS CONTRA IDOSOS. Art. 94 da Lei n. 10.741/2003: interpretação
conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, para suprimir a expressão "do
Código Penal e". Aplicação apenas do procedimento sumaríssimo previsto na Lei n.
9.099/95: benefício do idoso com a celeridade processual. Impossibilidade de aplicação
de quaisquer medidas despenalizadoras e de interpretação benéfica ao autor do crime.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar
interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da Lei
n. 10.741/2003 (ADI 3096, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em
16/06/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-02
PP-00358 RTJ VOL-00216-01 PP-00204).

Algumas cidades brasileiras, notadamente as dotadas de maior infraestrutura turística, têm linhas
de transporte coletivo de turismo. Essas linhas habitualmente passam pelos pontos turísticos mais
tradicionais, oportunizando ao visitante conhecer a cidade de maneira mais célere e confortável,
através do sistema de embarque e desembarque múltiplo (hop-on hop-off city tour system).

No entanto, não gozam os idosos de gratuidade nesse tipo de transporte, por aplicação do art. 39
do EI, que excepciona os serviços seletivos e especiais, prestados paralelamente aos serviços
regulares da gratuidade legal.

O STJ, no entanto, interpretou extensivamente o art. 23 do EI, que estabelece desconto de 50%
aos idosos nas atividades culturais e de lazer, incluindo aí o serviço dessas linhas ônibus
de turismo urbano. Igualmente, determinou-se que os maiores de 65 anos também tenham acesso
preferencial:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL


BUSCA A ISENÇÃO OU A REDUÇÃO DO VALOR DA TARIFA, EM NO MÍNIMO 50%,
AOS USUÁRIOS DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO QUE POSSUEM IDADE DE
65 ANOS OU MAIS NA LINHA DE TURISMO DA CIDADE DE CURITIBA. BENEFÍCIOS
ESTABELECIDOS NOS ARTIGOS 39 E 23 DO ESTATUTO DO IDOSO.

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PROCEDÊNCIA. 1. In casu, o Tribunal a quo, ao delinear a moldura fática da vexata


quaestio, evidenciou que o serviço de transporte prestado é destinado ao lazer. 2.
Tratando-se de serviço diretamente vinculado ao lazer - visita a pontos turísticos da
cidade -, o idoso faz jus à benesse legal relativa ao desconto de 50% (cinquenta por
cento) no valor do ingresso. Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça,
importa registrar que a Lei 10.741/03, que instituiu o Estatuto do Idoso, previu no seu art.
23 descontos de pelo menos 50% nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais (Art. 23 -
A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será mediante descontos de
pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais).
Precedentes do STJ. 3. Recurso Especial provido, para assegurar o desconto tarifário
previsto no Estatuto do Idoso. (REsp 1512087/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 24/10/2016).

2 - VADE-MÉCUM ESTRATÉGICO

Passaremos agora ao estudo da parte penal do Estatuto do Idoso:

TÍTULO V
DO ACESSO À JUSTIÇA
CAPÍTULO III
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS
INDISPONÍVEIS OU HOMOGÊNEOS

Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser


fundamentadas.

Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:

(PC-SE 2018)

I – acesso às ações e serviços de saúde;

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(PC-SE 2018)

II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante;

(PC-SE 2018)

III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa;

(PC-SE 2018)

IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.

(PC-SE 2018)

Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros
interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso,
protegidos em lei.

Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça
Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.

(PC-SE 2018)

Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais
indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:

I – o Ministério Público;

II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

III – a Ordem dos Advogados do Brasil;

IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre
os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a
autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.

§ 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos


Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

§ 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério


Público ou outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.

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Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as
espécies de ação pertinentes.

Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei,
caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.

Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao adimplemento.

§ 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do


provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.

§ 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária ao réu,


independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando
prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor,
mas será devida desde o dia em que se houver configurado.

Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver,
ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao
atendimento ao idoso.

Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da
decisão serão exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia daquele.

Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz
determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil
e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.

Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória


favorável ao idoso sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
Público, facultada, igual iniciativa aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo o
pólo ativo, em caso de inércia desse órgão.

Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas.

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O art. 88 do Estatuto do Idoso, que prevê a possibilidade de pagamento das custas processuais ao
final do processo, aplica-se somente às ações referentes a interesses difusos, coletivos e individuais
indisponíveis ou homogêneos. (AgRg no AREsp 625324/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa,
Primeira Turma, Julgado em 02/06/2015,DJE 16/06/2015)

Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.

Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do Ministério
Público, prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-
lhe os elementos de convicção.

Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas funções,
quando tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação pública contra
idoso ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem encaminhar as peças
pertinentes ao Ministério Público, para as providências cabíveis.

Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes
as certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.

Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou
perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.

§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência


de fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o seu
arquivamento, fazendo-o fundamentadamente.

§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão remetidos, sob


pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério
Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público.

§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho Superior do Ministério
Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as associações
legitimadas poderão apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados ou anexados
às peças de informação.

§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público


de homologar a promoção de arquivamento, será designado outro membro do Ministério Público
para o ajuizamento da ação.

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TÍTULO VI
DOS CRIMES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho
de 1985.

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4
(quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e,
subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo
Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF)

(PC-MA 2018) (PC-SE 2018)

CAPÍTULO II
DOS CRIMES EM ESPÉCIE

Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes
aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-PE 2016)

§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa


idosa, por qualquer motivo.

(PC-PE 2016)

§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.

(PC-PE 2016)

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Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em
situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem
justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-PE 2016)

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de


natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
==ae741==

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

(PC-PE 2016)

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a
condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis,
quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:

Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-MA 2018) (PC-PE 2016)

§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

(PC-MA 2018) (PC-PE 2016)

§ 2o Se resulta a morte:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

(PC-PE 2016)

Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

(PC-PE 2016)

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

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II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;

III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem
justa causa, a pessoa idosa;

IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida na ação civil a que alude esta Lei;

V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil


objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.

Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-PE 2016)

Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do
idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

(PC-PE 2016) (PC-SE 2018) (PF 2018)


Para a conduta de desviar bens do idoso, prevista no art. 102 da Lei n. 10.741/2003, não
há necessidade de prévia posse por parte do agente, restrita à hipótese de apropriação.
(REsp 1358865/RS, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 04/09/2014,
DJe 23/09/2014)

Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em
outorgar procuração à entidade de atendimento:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-PE 2016)

Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão
do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou
ressarcimento de dívida:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.

(PC-PE 2016)

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Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens
depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:

Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

(PC-PE 2016)

Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins
de administração de bens ou deles dispor livremente:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

(PC-PE 2016)

Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a
devida representação legal:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

(PC-PE 2016)

TÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro
agente fiscalizador:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

(PC-PE 2016)

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3 – QUESTÕES COMENTADAS:

As questões a seguir dispostas também foram extraídas da Aula 16 do Curso Regular do Professor
Paulo Sousa.

1. (CONSULPLAN / TJ-MG - 2018) Em 1º de outubro de 2003 foi promulgada a Lei nº 10.741


que instituiu o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos às pessoas com idade igual
ou superior a 60 (sessenta) anos. A respeito dos direitos fundamentais, analise as
afirmativas a seguir.

I. O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social.


II. Os alimentos são prestados ao idoso na forma da lei civil e de forma solidária entre os
prestadores.
III. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a fixação de limite máximo
de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.
IV. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos é assegurada, pelo princípio da assistência integral,
a gratuidade a todos os meios de transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos.
Estão corretas as afirmativas
a) I, II, III e IV.
b) I e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas

Comentários

O item I está correto, e é exatamente o que dispõe o art. 8º do Estatuto: “O envelhecimento é um


direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação
vigente”.

O item II está correto, e diz respeito à prestação de alimentos ao idoso. A obrigação decorre da
aplicação cumulativa dos arts. 11 (“Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil”) e
12 (“A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores”.) do Estatuto
do Idoso.

O item III está correto, de acordo com o art. 27: “Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou
emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos,
ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir”.

O item IV está incorreto, pois afirma que a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e
semiurbanos é irrestrita. Porém, o art. 38 do Estatuto do Idoso apresenta exceções. Conforme
dispõe o art. 38: “Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos
transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais,
quando prestados paralelamente aos serviços regulares.”

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Assim, conclui-se que as afirmativas I, II e III são verdadeiras, restando como correta apenas a
alternativa C.

2. (MPE-BA / MPE-BA - 2018) Quanto ao Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), prevalece,


no STJ, o entendimento de que:

a) O Estatuto do Idoso impôs a criação da fonte de custeio para que idosos tenham acesso à
gratuidade no transporte público coletivo urbano.
b) Por falta de previsão legal, não é possível a concessão de prisão domiciliar a idoso preso em
razão do inadimplemento de obrigação alimentícia.
c) É legítima a rescisão de plano de saúde em razão da alta sinistralidade do contrato, caracterizada
pela idade avançada dos segurados.
d) O art. 1 da lei nº 10.741/2003 não alterou o art. 115 do Código Penal, que prevê a redução do
prazo prescricional para o agente com mais de 70 anos na data da prolação da sentença
condenatória.
e) A lei nº 10.741/2003 não atribuiu natureza solidária à obrigação de prestar alimentos quando os
credores forem idosos.

Comentários

A alternativa A está incorreta, de acordo com o STJ: “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.


TRANSPORTE COLETIVO URBANO. IDOSOS. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC.
INOCORRÊNCIA. LEGISLAÇÃO LOCAL. SÚMULA 280/STF. INVIABILIDADE. CONTRATO DE
PERMISSÃO. ALTERAÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. VERIFICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. OFENSA AO ATO JURÍDICO PERFEITO. INEXISTÊNCIA.
Contudo, vale ressaltar que o Estatuto do Idoso não impôs a criação da fonte de custeio e, ainda,
afastou a exigência de tal fonte (REsp 916.675/RJ, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/11/2008, DJe 03/12/2008)”

A alternativa B está incorreta, novamente, segundo o STJ: “HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL.
OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA. CUMPRIMENTO DA PENA. ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
REGIME SEMI-ABERTO. LEI DE EXECUÇÕES PENAIS. INAPLICABILIDADE. PRISÃO
DOMICILIAR. IDADE AVANÇADA E SAÚDE PRECÁRIA. Em regra, não se aplicam as normas da
Lei de Execuções Penais à prisão civil, vez que possuem fundamentos e natureza jurídica diversos.
Em homenagem às circunstâncias do caso concreto, é possível a concessão de prisão domiciliar
ao devedor de pensão alimentícia (HC 35.171/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2004, DJ 23/08/2004, p. 227)

A alternativa C está incorreta, mais uma vez, conforme a Corte: “DIREITO DO CONSUMIDOR.
ESTATUTO DO IDOSO. PLANOS DE SAÚDE. RESCISÃO DE PLANO DE SAÚDE EM RAZÃO DA
ALTA SINISTRALIDADE DO CONTRATO, CARACTERIZADA PELA IDADE AVANÇADA DOS
SEGURADOS. VEDAÇÃO. No contrato de seguro em grupo, o estipulante é mandatário dos
segurados, sendo parte ilegítima para figurar no polo passivo da ação de cobrança. Precedentes.
Veda-se a discriminação do idoso em razão da idade, nos termos do art. 15, §3º, do Estatuto do
Idoso, o que impede especificamente o reajuste das mensalidades dos planos de saúde sob

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alegação de alta sinistralidade do grupo, decorrente da maior concentração dos segurados nas
faixas etárias mais avançadas; essa vedação não envolve, todavia, os demais reajustes permitidos
em lei, os quais ficam garantidos às empresas prestadoras de planos de saúde, sempre ressalvada
a abusividade (REsp 1106557/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 16/09/2010, DJe 21/10/2010)”.

A alternativa D está correta, de acordo com o STJ: “AVENTADA APLICABILIDADE DO


ESTATUTO DO IDOSO. NECESSIDADE DE ADOÇÃO DO LIMITE DE IDADE DE 60 (SESSENTA)
ANOS PARA FINS DE REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. NÃO ALTERAÇÃO DO CÓDIGO
PENAL PELA LEI N.º 10.741/2003. DESPROVIMENTO DO RECURSO. O Estatuto do Idoso, ao
considerar como idosa a pessoa a partir de 60 (sessenta) anos de idade, não alterou o artigo 115
do Código Penal, que prevê a redução do prazo prescricional apenas quando o acusado é maior
de 70 (setenta) anos de idade ao tempo da sentença condenatória. Precedentes do STJ e do STF.
Não tendo transcorrido 8 (oito) anos entre os marcos interruptivos do prazo prescricional, inviável o
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, como pretendido na impetração (HC
284.456/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe
29/04/2014)”.

A alternativa E está incorreta, dada a literalidade do art. 12: “A obrigação alimentar é solidária,
podendo o idoso optar entre os prestadores”.

3. (FCC / TJ-SC - 2017) A favor do idoso, a prestação alimentar, na forma de lei civil, é

a) devida pelos descendentes, ascendentes, cônjuge e colaterais até o quarto grau, nesta ordem.
b) devida pelos filhos, não podendo o idoso demandar um deles excluindo os demais, que tiverem
condições financeiras.
c) devida apenas pelos filhos ou pelo cônjuge, excluindo-se os colaterais de qualquer grau.
d) devida pelos filhos, exceto se provado abandono afetivo deles na infância.
e) solidária, podendo ele optar entre os prestadores.

Comentários

A alternativa A está incorreta, na forma do art. 1.696: “O direito à prestação de alimentos é


recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros” e do art. 1.697: “Na falta dos ascendentes cabe a
obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim
germanos como unilaterais”. Ou seja, os alimentos são devidos até o segundo grau na linha
colateral.

A alternativa B está incorreta, conforme o art. 1.698: “Se o parente, que deve alimentos em primeiro
lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os
de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer
na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide”. Vale lembrar que a obrigação alimentar é divisível.

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A alternativa C está incorreta, já que o art. 1.697 é claro ao colacionar também os colaterais até o
segundo grau como devedores de alimentos.

A alternativa D está incorreta, apesar da polêmica e de decisões em contrário, já que, na lei, não
há tal exceção.

A alternativa E está correta, dada a previsão do art. 12 do Estatuto do Idoso: “A obrigação alimentar
é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores”. A regra é exceção à prevista no CC/2002,
que não adotada a solidariedade, de maneira expressa

4. (FUNRIO / PGM-Itupeva-SP - 2016) De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei nº.


10.741/03) o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um:

a) direito peculiar
b) direito homogêneo
c) direito coletivo
d) direito individual
e) direito social.

Comentários

As alternativas A, B, C e D estão incorretas, conforme o art. 8º, citado infra.

A alternativa E está correta, na literalidade do art. 8º: “O envelhecimento é um direito


personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, despeço-me por hoje!

Estamos um passo mais perto da sua aprovação como Delegado de Polícia!!

Qualquer dúvida, sugestão ou feedback, você pode me encontrar no seguinte e-mail:

Raissaaraujo.r@gmail.com

Até mais!!

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