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Araranguá – SC
2019
DAVI DA ROSA GONÇALVES
Araranguá – SC
2019
Dedico este presente trabalho a Deus, a
qual devo todas as coisas, a meus pais
pelo incentivo em todos os momentos da
minha trajetória acadêmica, e de uma
forma geral, a todos que de alguma
maneira auxiliaram na minha formação.
AGRADECIMENTOS
The present work of course conclusion proposes to allow a critical reflection of the
reader in relation to art. 387, item IV, of the Code of Criminal Procedure, which states
that a sentence shall be given in the criminal court, the judge may set a minimum
amount to compensate for the damage caused by the offense, considering the
damage suffered by the offender, limiting this reflection specifically in cases of
judgments given in plenary. At first, we expose the illicit act, civil illicit, civil liability
and its evolution, objective and subjective civil liability, the duty to indemnify, criminal
illicit and criminal liability. In the second chapter, the types of judgments and their
reflexes are presented, as well as the judgments handed down in the Jury Court and
their characteristics, paying attention to the importance of the res judicata. In the third
and last chapter, we explain art. 387, IV of the Code of Criminal Procedure, which
establishes the possibility for the judge to set the minimum amount of indemnity in
the condemnatory criminal sentence, and we deal with the inapplicability of the
aforementioned paragraph in the proceedings submitted to the Jury Court. The
methodology used was the deductive method and the monographic procedure,
through bibliographic and documentary research.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9
2 ATO ILÍCITO..................................................................................................................... 11
2.1 ILÍCITO CIVIL ................................................................................................................ 11
2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO ................................................. 12
2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA ....................................... 17
2.4 DO DEVER DE INDENIZAR ....................................................................................... 20
2.5 ILÍCITO PENAL ............................................................................................................. 21
2.6 RESPONSABILIDADE PENAL ................................................................................. 22
3 AS SENTENÇAS E SEUS REFLEXOS....................................................................... 24
3.1 SENTENÇAS CÍVEIS ................................................................................................... 24
3.2 SENTENÇAS PENAIS ................................................................................................. 27
3.3 DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI E SUAS CARACTERÍSTICAS ................. 31
3.4 DA COISA JULGADA ................................................................................................... 38
4 DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO INDENIZATÓRIO NA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA ................................................................................................................. 41
4.1 A INAPLICABILIDADE DO ART. 387, INCISO IV, DO CÓDIDO DE PROCESSO
PENAL, NOS PROCESSOS SUBMETIDOS A JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO
JÚRI ......................................................................................................................................... 44
5 CONCLUSÃO................................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49
9
1 INTRODUÇÃO
2 ATO ILÍCITO
que havia vários dispositivos que tratavam da reparação de danos (SILVA, 1999, p.
65).
Entretanto, um dos mais famosos Códigos do Oriente Médio foi o de
Hamurabi, (escrito cerca de XVIII a. C), onde já estava sendo utilizada a lei de
Talião, nesse período, se perpetuava a responsabilidade pela ofensa e o castigo,
ficando sujeito a reparação do dano, na mesma forma que o autor tinha lesado a
vítima. Após o surgimento desse Código, passam a influências as demais
civilizações, chegando a Roma, onde foi outro período muito importante para a
responsabilidade civil (NORONHA, 2007, p. 528).
Com a criação do Poder Público em Roma, deu-se início a um marco, a
era da intervenção do poder estatal na sociedade, na qual a lei do talião era
utilizada, deixando de ser poder único e exclusivo dos grupos predominantes, e
passando a ter a legitimação pelo Estado.
Esse novo modelo de responsabilização por meio da retaliação, era
conhecido como vingança privada ou “vendetta”, onde regia-se a ideia de “olho por
olho, dente por dente”, todavia se o ato lesivo sofrido pela vítima fosse
caracterizado, acarretaria “a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido”
(GONÇALVES, 2014, p. 400).
O Poder Público, opinava apenas na forma em que a vítima poderia ter o
direito a retaliação, para compor no ofensor um dano idêntico ao que foi
experimentado. Com o passar dos anos e consequente o período em que vingou a
responsabilização pela vingança, passou-se a mudar os métodos de ressarcimento
das vítimas que começaram a passar de violência para prestações pecuniárias, e
assim o patrimônio do causador do dano era utilizado como forma de indenização
(DINIZ, 2009, p. 11).
Com o passar dos anos e com o surgimento da lei Aquilia, deu-se início a
um novo direito de responsabilização, quanto a reparação do dano, conforme
destaca o autor (VENOZA, 2009, p. 17), “Foi um plebiscito aprovado provavelmente
em fins do século III ou início do século II a. C., que possibilitou atribuir ao titular de
bens o direito de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem
tivesse destruído ou deteriorado seus bens”.
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praticadas por terceiro, e caso sejam lesadas, tem o total amparo na legislação para
buscar a indenização, onde esta indenização deverá ter a mesma proporção do
dano causado, tendo em vista que o direito de reparação está diretamente ligado a
conduta que o ocasionou o dano (2008, p. 27).
Na antijuricidade, o instituto da responsabilidade civil não tinha nada
parecido com esse modelo contemporâneo, tendo em vista que naquele tempo regia
a ideia de direito de vingança, onde a vítima teria a possibilidade da
responsabilização pelas próprias mãos, não sendo este responsabilizado pelos atos
praticados, pois a vingança era tida como direito de sansão punitiva (RIZZARDO,
2013, p. 28-29).
Segundo GONÇALVES, a reparação efetiva deve estar em
proporcionalidade com o bem jurídico lesado, coisa ou pessoa, que deve estar no
mesmo estado o qual se encontra antes de ser lesado, ou até mesmo podendo ser
na forma de pecúnia, restando o valor pago em equilíbrio com o direito violado,
sendo ele patrimonial ou moral, coisa que não acontecia no surgimento do instituto
da responsabilidade civil (2017, p. 19-20).
O instituto da responsabilidade civil é como se fosse uma trava, para que
os indivíduos vivam em sociedade sem causar nenhum tipo de prejuízo aos demais
indivíduos, pois em caso de prejuízo advindo de lesão cometida, caberá a
responsabilidade civil instituir a reparação, caso ela não existisse, ficaria as pessoas
livres para estabelecerem suas próprias regras (GABURRI; HIRONAKA; ARAÚJO,
2008, p. 28).
Neste contexto, os doutrinadores Gagliano e Pamplona Filho (2014, p.
53), utilizam a mesma linha de raciocínio, para eles um indivíduo que atua por meio
de um ato ilícito ocasionando uma violação a uma norma existente, terá como
consequência o dever de reparação pelo ato praticado, mesmo sendo uma norma
contratual ou legal.
Ainda assim, Fabio Ulhoa Coellho (2010, p. 266), preconiza em seus
ensinamentos que “a responsabilidade civil é a obrigação em que o sujeito ativo
pode exigir o pagamento de indenização do passivo por ter sofrido prejuízo imputado
a este último”.
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[...] aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para
terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu
comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, se for
verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o
comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, este tem
direito de ser indenizada por aquele.
À luz do dispositivo, creio ser possível assentarmos duas premissas que nos
servirão de suporte doutrinário. Primeira: não há responsabilidade, em
qualquer modalidade, sem violação de dever jurídico preexistente, uma vez
que responsabilidade pressupõe o descumprimento de uma obrigação.
Segunda para se identificar o responsável é necessário precisar o dever
jurídico violado e quem o descumpriu.
Por fim, o dever de indenizar está totalmente ligado ao dano sofrido, não
importando se a lesão ou dano advenha de direitos imateriais ou materiais, pois o
que tem maior relevância é a ocorrência do dano ou prejuízo sofrido pela vítima,
tendo em vista que sem violação a um direito tutelado jurisdicionalmente, não se
caracteriza a responsabilidade, e posteriormente o dever de indenizar.
O ato ilícito penal é praticado por aquele que, por ação ou omissão
culpável, viola direito tipificado em lei. Esse ato ilícito é tipificado pelo Direito Penal,
ou seja, só pratica o ato ilícito penal gerador de responsabilidade penal, a pessoa
que um tipo penal específico.
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levaram para que o juiz chegasse a uma conclusão final. Todavia, o seu direito ao
princípio do livre convencimento motivado, o magistrado terá que elencar as causas
as quais o levaram a ter tal raciocínio na busca pela sentença justa (TINOCO, 2019,
p. 20).
Agora, analisando o artigo 386 do Código de Processo Penal, que fala
sobre a sentença absolutória, no qual o juiz expor as razões pelas quais absolveu o
acusado, bem como as justificativas pelas quais o juiz imputou tal decisão, e se vai
incidir na responsabilidade civil.
trata-se das circunstâncias subjetivas dos artigos 20, 21, 22, 23, 26 e §1º do artigo
28, do Código de Processo Penal, sendo que nestes casos fica aberta a
possibilidade de ação frente a jurisdição civil (GRECO FILHO, 2013, p. 363).
Da mesma maneira que a sentença absolutória tem os requisitos a serem
cumpridos, a sentença condenatória, também não é diferente, sendo que esta
sentença é de um procedimento bastante complexo, onde deve ter um cronograma a
ser adotado para evitar futuras nulidades, e assim buscar uma sentença mais justa e
coerente, com a devida aplicação da pena, sendo que com essa sentença, poderá
ocasionar possibilidade de ingresso no civil em busca de ressarcimento (TÁVORA,
2014, p. 891).
No artigo 387 do Código de Processo Penal, preconiza os requisitos que
devem ser respeitados, como observar o contexto das atenuantes e agravantes,
disposto no texto legal do Código Penal, bem como também dispor sobre a pena
base a causa de aumento de pena, aplicando as penas de acordo com o referido
Código, dispondo sobre o regime pelo o qual o condenado deve pagar a sua pena,
fixar o valor mínimo para a reparação de danos, devendo assim todos esses
requisitos estar devidamente fundamentados (GRECO FILHO, 2013, p. 369).
área jurídica, porém caberá aos sete jurados, chamados de conselho de sentença
apreciar os fatos, e ao final responder os quesitos quanto ao crime e autoria. Já o
juiz de direito será quem vai gerenciar a condução do julgamento, no final prolatar a
sentença (OLIVEIRA, 2014, p. 717).
Segundo a Constituição Federal o júri popular tem a competência para
julgar os crimes dolosos contra a vida, crimes estes previstos nos artigos 121 a 126
do Código Penal, sendo homicídio, aborto, auxilio ou instigação ao suicídio e
infanticídio, e ainda há outros crimes que o dolo não é da morte do agente, e sim de
cometer outro crime, ocasionando a morte de alguém, neste cenário o criminoso não
irá a júri popular, pois não tem a competência do júri, tais crimes como, latrocínio,
extorsão seguida de morte, conforme prevalece entendimento na súmula 603, do
STF (GRECO FILHO, 2013, p. 438).
Vale ressaltar que, o Código de Processo Penal não assegura o júri
apenas nos crimes dolosos contra a vida, tendo em vista que em casos conexos
entre crime contra a vida e outras infrações, prevalecerá a competência do júri ao
viés do juiz originário em ambos os crimes, conforme podemos observar o artigo 78,
inciso I, do referido Código: “Na determinação da competência por conexão ou
continência, serão observadas as seguintes regras: I- no concurso entre a
competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a
competência do júri (OLIVEIRA, 2014, p. 719).
Frisa-se que no procedimento do Tribunal do Júri, tem duas fases em
separado, tendo a primeira como juízo do crime imputado, também conhecida como
fase de preparação do plenário, sendo dessa forma fases autônomas no processo, e
apesar de serem conexas, a decisão na primeira fase acarretará consequência na
subsequente (COELHO, 2018, p. 50).
Nessa primeira fase, a matéria principal a ser discutida é a razoabilidade
da parte acusatória perante ao Tribunal, tendo em vista que neste momento o juiz
vai analisar as provas trazidas ao processo, a fim de decidir se o caso em concreto
se trata de um crime doloso contra a vida, ou não. Dessa forma, tendo o fim dessa
fase a possibilidade de pronuncia, impronuncia, desclassificação ou absolvição
sumária, e em caso de pronuncia, passará o julgamento para a segunda fase, que é
a preparação de plenário (SANTIAGO, 2018, p. 35).
33
Nesta fase o magistrado fica incumbido de revelar a probabilidade dos fatos, e não a
certeza de que eles ocorreram. Porém apesar de não ter certeza dos fatos, nesta
fase o juiz utiliza o princípio in dubio pro societate, na dúvida deve pronunciar
(OLIVEIRA, 2014, p. 731).
Realizada o pronunciamento do acusado, passa-se a segunda fase do
júri, com fulcro no artigo 422 do Código de Processo Penal. O juiz presidente, irá
intimar o Ministério Público, bem como o querelante no caso de queixa crime, para
que arrolem as testemunhas que estarão em plenário, e proceder também a juntada
de documentos e em seguida será deliberado diligencia para que não gere nulidade
ou para esclarecer fatos que interfiram no presente julgamento (GRECO FILHO,
2013, p. 448).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
[...]
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Art. 5º [...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der
a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
[...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes; (BRASIL, CRFB, 2019).
princípios estão em conflito, visto que a própria Constituição Federal, descreve que
todo julgamento deve ser público, e ao mesmo tempo preconiza que tem que haver
o sigilo de votação (LUGAN, 2018, p. 8)
Existem doutrinadores que defendem o sigilo das votações no Tribunal do
Júri, conforme preconiza Lenio Luiz Streck (2001, p. 160):
Como podemos notar, existe uma grande preocupação dos autores, dos
jurados serem induzidos do seu voto, pelo simples fato de que podem sofrer
retaliações, especialmente quando o acusado, se tratar de pessoa conhecida na
sociedade e ter um grau de periculosidade alta. Este é um dos principais fatores que
levam aos doutrinadores defender o sigilo da votação.
Em se tratando do princípio da soberania dos vereditos, que nada mais é
do que o julgamento dos fatos pelos jurados, sendo que esta decisão não poderá ser
mais modificada por qualquer tribunal togado ou juiz de direito togado. No caso da
decisão dos jurados, ter infringido manifestamente as provas dos autos, caberá
apelação, mas esse recurso irá apenas buscar a nulidade do júri, solicitando que o
acusado seja julgado novamente por outro júri.
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Vale destacar que, para que não haja ofensa ao princípio da inocência, o
princípio da soberania dos vereditos não é absoluto, tendo em vista que se admite
em casos excepcionais, que o Tribunal de Justiça absolva o acusado, quando este
for claramente injustiçado, porém isso só acontecerá em caso de uma revisão
criminal (TÁVORA, 2014, p. 976).
tendo em vista que no mérito não houve conduta típica. Nesse sentido LOPES
JÚNIOR, “não há análise e julgamento sobre o mérito (ou seja, sobre o fato
processual ou caso penal), a decisão faz coisa julgada formal” (2014, p. 1147).
Diferentemente é na coisa julgada formal, na qual são aquelas sentenças
de mérito, nas quais não existe mais possibilidade de recurso, ficando imutável a
decisão e seus efeitos, sendo que sequer poderá entrar com outra ação sobre o
mesmo objeto ou causa. Esta modalidade de coisa julgada, tem como característica
o efeito erga omnes, tendo em vista que essa decisão se opera fora do processo e
atinge todas as pessoas. No caso de prolatada a decisão, irá resolver o conflito de
mérito, sendo o acusado absolvido ou condenado, e caso seja absolvido essa
decisão será imutável. Dessa forma na maior parte das vezes, após o caso concreto
ter sido resolvido e julgado na forma material, este será procedido na coisa julgada
formal (RANGEL, 2012, p. 166).
Não podemos confundir, no direito penal, a coisa julgada com preclusão,
visto que a coisa julgada é a decisão ou sentença que julga a pretensão punitiva do
mérito, ficando essa pretensão imutável. Já, a preclusão é a extinção de um fato
secundário do processo, que tem como objetivo a impossibilidade de
prosseguimento deste processo, embora poderá ser exercido em outro momento,
sendo que poderá ser rediscutido posteriormente pelo juiz (TÁVORA, 2014, p. 900).
Outrossim, a coisa julgada no direito civil, tem como característica a da
plenitude da decisão, se qualificando como definitiva e obrigatória, sendo esta uma
decisão com efeitos jurídicos, tornando-se uma decisão indiscutível, impossibilitando
que a mesma questão seja julgada outra vez.
Caso seja oposta novamente, deverá arguir que o assunto já foi apreciado
e que se tornou coisa julgada, efeito este chamado de negativo. Por outro lado,
também existe o efeito positivo, ocorre quando a indiscutibilidade da coisa julgada é
oposta novamente, em matéria incidental, onde neste caso o juiz deve apreciar de
forma vinculada a decisão do primeiro julgador (DIDIER JÚNIOR, 2016, p. 527).
Para que possamos ter um maior entendimento quanto aos efeitos
negativos e positivo da coisa julgada, o autor Ovídio Araújo Baptista da Silva,
preconiza:
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Vejamos que esse inciso, tem o intuito de simplificar e dar mais celeridade
e economia processual a reparação patrimonial da vítima, aproveitando a produção
probatória do processo penal e a respectiva cognição judicial do crime, tendo o
mesmo fato gerador da pretensão punitiva e da indenização civil, com o fim de
implementar a satisfação patrimonial e a reprimenda penal, sem a necessidade da
deflagração da ação indenizatória ou de um processo de liquidação.
Segundo o doutrinador Renato Brasileiro de Lima:
A fixação desse valor mínimo para a reparação dos danos causados pela
infração independe de pedido explícito, sem que se possa arguir eventual
violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e da inércia da
jurisdição. Ora, mesmo antes do advento da Lei nº 11.719/08, que deu nova
redação ao art. 387, IV, do CPP, o Código Penal já preceituava em seu art.
91, I, que é efeito automático de toda e qualquer sentença penal
condenatória transitada em julgado sujeitar o condenado à obrigação de
reparar o dano causado pelo delito. Por isso, não é necessário que conste
da peça acusatória tal pedido, vez que se trata de efeito genérico e
automático da condenação. Aplica-se, pois, o mesmo raciocínio do art. 387,
IV, do CPP: a fixação do valor mínimo da indenização é aí colocada como
parte integrante da sentença condenatória. Trata-se de efeito automático da
sentença condenatória, que só não deve ser fixado pelo juiz em duas
hipóteses: a) infração penal da qual não resulte prejuízo a vítima
determinada; b) não comprovação dos prejuízos sofridos pelo ofendido
(2013, p. 289-290).
A soberania das esferas penal e civil está relacionada com o Art. 387,
inciso IV, do Código de Processo Penal. Com efeito, essa soberania foi atenuada, no
sentido de que o próprio juiz criminal, no processo penal, poderá fixar o valor mínimo
indenizatório cível. Vale ressaltar que o valor da indenização, antes da reforma do
Código de Processo Penal, era de competência exclusiva do juiz do juízo cível. Ao
juiz criminal competia somente o trabalho de verificar os aspectos do direito penal,
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A ação civil ex delicto, é uma ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível,
a fim de obter indenização pelo dano causado pela infração penal, quando existente.
(NUCCI, 2016, p. 197).
Após a explanação do conteúdo da fixação do valor mínimo indenizatório
na sentença penal condenatória, passaremos para o subtópico seguinte no qual irá
descrever sobre:
Tribunal Júri, não só pela complexibilidade fática que geralmente envolve esses
fatos, mas também pela própria especificidade do ritual judiciário ali estabelecido.
Dentro desse tema, o autor nos remete as seguintes perguntas:
Vejamos que, o mesmo autor acredita que este artigo 387, inciso IV do
Código de Processo Penal é inviável no processo penal, que passa a ser também
um instrumento de tutela de interesses privados. Salienta ainda que não está
justificada pela economia processual e causa uma confusão lógica grave, tendo em
vista a natureza completamente distinta das pretensões (indenizatória e acusatória).
Representa uma completa violação dos princípios básicos do processo penal e, por
consequência, de toda e qualquer lógica jurídica que pretenda orientar o raciocínio e
a atividade judiciária nessa matéria. Desvirtua o processo penal para buscar a
satisfação de uma pretensão que é completamente alheia a sua função, estrutura e
princípios informadores (2016, p. 216).
O autor em uma de suas obras, aponta duas soluções em relação a essa
problemática da fixação do valor mínimo nos casos submetidos ao Tribunal do Júri,
quais sejam: Aceitar que indevidamente o juiz fixe um valor de indenização na
sentença condenatória, negando ao acusado possiblidades de defesa e usurpando o
poder decisório do conselho de sentença, ou simplesmente negar a validade
substancial do art. 387, inciso IV, do Código Processo Penal, nos processos
submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri (2014, p.1057).
Obviamente, a segunda solução é mais viável, devendo o juiz limitar-se
ao que foi decido pelos jurados, sem fixar qualquer valor a título indenizatório.
46
5 CONCLUSÃO
Destacamos que a Lei 11.719, de 2008 modificou o art. 387, inciso IV, do
Código de Processo Penal, atribuindo ao juiz criminal o poder de estabelecer um
valor mínimo para reparação do dano causado em decorrência de um ilícito penal.
Assim, diante das pesquisas realizadas, percebe-se que, apesar desse artigo ser
modificado a bastante tempo em nosso ordenamento jurídico, está longe de ser
pacífico, existindo diversas dúvidas e entendimentos.
Dentro deste contexto, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
tratou de analisar as desvantagens do art. 387, inciso IV do Código de Processo
Penal, trazida pela Lei 11.719, de 2008, na qual tem o intuito de simplificar e dar
mais celeridade e economia processual a reparação patrimonial da vítima, porém
deixou de observar os problemas em torno dos efeitos civis.
Finalmente, o que se extrai de tal estudo é levar o caro leitor a concordar
que em se tratando de leis jurídicas, todo procedimento ocorre lentamente, a ponto
de uma Lei de 2008, não se chegar a um consenso.
Aqui vale ressaltar que todo o empenho e coerência são bem-vindos, por
se tratar de leis que regerão sobre o futuro de cidadãos.
49
REFERÊNCIAS
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