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GRUPO SER EDUCACIONAL

SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR PIAUIENSE – SESPI


FACULDADE UNINASSAU – UNIDADE PARNAÍBA
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MATEUS COUTINHO

INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS: PROBLEMA DA QUANTIFICAÇÃO

PARNAÍBA-PI
2022
MATEUS COUTINHO

INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS: PROBLEMA DA QUANTIFICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


submetido à coordenação do curso de
Bacharelado em Direito da Faculdade
UNINASSAU - Unidade Parnaíba, como
requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Msc. Bruno Carvalho


Neves

PARNAÍBA-PI
2022
MATEUS COUTINHO

INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS: PROBLEMA DA QUANTIFICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


submetido à coordenação do curso de
Bacharelado em Direito da Faculdade
UNINASSAU - Unidade Parnaíba, como
requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof: Bruno Carvalho Neves

Parnaíba (PI), ____ de __________de 2022.

Banca Examinadora:

___________________________________________________
Prof.

____________________________________________________
Profº. Esp

____________________________________________________
Prof. Esp.
RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade analisar os critérios adotados pelos


magistrados na quantificação da indenização por dano moral. Que concerne o
polêmico tema da reparação civil dos danos morais, especialmente os requisitos para
sua quantificação. Em sentido amplo, o dano moral consiste na lesão que não produz
qualquer efeito patrimonial. Em sentido estrito, resulta da agressão aos bens que
integram a personalidade, da violação aos direitos da pessoa humana. Em suma, os
elementos da responsabilidade civil, principalmente no que tange o dano moral, pois
quando se fala em quantificação de dano ele é mais controvertido do que o dano
material que é facilmente calculado de acordo com as perda e danos enquanto que o
outro é com relação moral atingida, portanto cada um mensura o que lhe foi atingido,
cabendo nesse caso aos magistrados aplicar a indenização mais justa possível de
acordo com sua interpretação ao caso concreto, buscando tão somente compensar e
não punir o agressor. O problema da quantificação do dano moral na reparação
pecuniária do dano, possui duplo caráter: compensatório para vitima e punitivo para
ofensor. Sendo constatado que dificuldade do arbitramento do dano moral reside na
inexistência de critério legislativos. Assim é que a doutrina e a jurisprudência têm
procurado encontrar soluções e traçar alguns parâmetros desempenhando um
importante papel neste sentido.

Palavras-chave: Dano Moral, Problema da quantificação do dano, critérios objetivos e


subjetivos do dano moral.
ABSTRACT

The following work aims to analyze the criteria adopted by magistrates in the
quantification of compensation for moral damage. Concerning the controversial issue of
civil compensation for moral damages, especially the requirements for its
quantification. In a broad sense, moral damage consists of injury that does not produce
any patrimonial effect. In the strict sense, it results from the aggression to the goods
that make up the personality, from the violation of the rights of the human person. In
short, the elements of civil liability, especially with regard to moral damage, because
when it comes to quantification of damage, it is more controversial than material
damage, which is easily calculated according to losses and damages, while the other is
with moral relation reached, therefore each one measures what was reached, in this
case it is up to the magistrates to apply the fairest possible compensation according to
their interpretation to the concrete case, seeking only to compensate and not punish
the aggressor. The problem of quantification of moral damage in the pecuniary
compensation of moral damage that has a double character: compensatory for the
victim and punitive for the offender. It was found that the difficulty of arbitrating moral
damage lies in the lack of legislative criteria. Thus, the doctrine and jurisprudence have
sought to find solutions and outline some parameters, playing an important role in this
regard.

Keywords: Moral Damage, Problem of Damage Quantification, Objective and


subjective criteria of moral damage.
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, sou grato a meu Deus, mediante a Jesus Cristo, por todos
vocês, porque em todo mundo está sendo anunciada a fé que me motivou e me motiva
a ser melhor a cada dia. A minha mãe que é a mulher guerreira batalhadora que estar
sempre ao meu lado, mostrando o caminho certo a seguir. Aos amigos e amigas que
estão me incentivando acreditar nos meus sonhos e aos professores que
desempenham a função primordial e que estão trabalhando para uma sociedade mais
justa e igualitária. Meus mais sinceros agradecimentos.
Dedico este trabalho a Deus e a minha
família, aos amigos, professores do curso e
ao professor orientador.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 9
2 QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL .................................................. 14
2.1 Conceito de Dano Moral ......................................................................... 14
2.2 Natureza Jurídica e Finalidade Precípua do Dano Moral........................ 16
2.3 A Quantificação do Dano Moral............................................................... 18
2.4 Critérios objetivos para Fixação do Quantum Indenizatório............,....... 20
2.5 A Aplicação dos Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade......... 22
3 LIQUIDAÇÃO JUDICIAL DO DANO ...................................................... 23
3.1 Vontade da Lei x Vontade do Juiz............................................................ 24
4 CONCLUSÃO ......................................................................................... 27
5 REFERÊNCIAL TEORICO...................................................................... 28
6 ANEXOS.................................................................................................. 28
9

01. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade identificar quais os critérios são


utilizados pelos magistrados, para quantificação indenizatória no dano moral,
estabelecido no art.944 CC. Partindo da hipótese de que não existem critérios
objetivos, nem regras pré definidas de valor nos julgamentos em questão.
Identificando assim que a responsabilidade civil como importante instituto
jurídico na proteção das pessoas. Investigando os critérios seguidos pelos
magistrados na quantificação.
Dissertando sobre a postura dos tribunais quanto a falta de
uniformidade da jurisprudência além de elencar a bibliografia sobre o assunto.
No Brasil a constituição de 1988 pacificou o entendimento, originando na
doutrina, teorias sobre as funções da repação civil, quais constatou-se: função
compensatória, punitiva, eclética, além do enriquecimento ilícito. Procurou-se
identificar os critérios utilizados pelo juiz na quantificação do dano moral.
A convivência humana em sociedade preza pela a harmonia, o
respeito, a solidariedade para o equilíbrio social e emocional. Assim, quando
for rompida o equilíbrio nos deparamos com questões morais. E a
responsabilidade civil é um instituto jurídico, que vem representando no direito
pátrio, importante instrumento para a proteção desse bem que é a moral das
pessoas.
O conceito de responsabilidade civil, é delineado por diversos autores,
como sendo fato de alguém se constituir garantidor de algo, por ato seu
praticado contra ou pessoa. Assim, na maioria das vezes, no dever de
indenizar. Maria Helena Diniz (2018), nesse sentido, conceitua:

“Responsabilidade” tem origem no latim respondere,


significando o fato de alguém ter se constituído garantidor de
algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, formula
pela qual se vinculava, no direito romano o devedor nos
contratos verbais.

A vontade da lei está na norma jurídica, a vontade do juiz está na sua


interpretação. O desembargador Ruy Rosado de Aguiar Júnior, em publicação
10

na revista AJURIS, 1989, assim descreve ação do juiz e sua vontade na


conclusão judicial.

O Juiz não é servo da lei, nem escravo de sua vontade, mas


submetido ao ordenamento jurídico vigente, que é um sistema
aberto afeiçoado aos fins e valores que a sociedade quer
atingir e preservar, no pressuposto indeclinável de que essa
ordem aspira à justiça. (AGUIAR Junior, 1989).

Na atualidade o posicionamento dos magistrados, nas ações


indenizatórias por danos morais, tem permanecido no tocante ensinamento de
Bobbio: “interpretação da lei fundada na intenção do legislador.” Ou seja,
interpretação que é utilizada até os nossos dias. (BOBBIO, 1995, p84)
Este tema é de extrema importância, no que tange a quantia
estabelecida pelos magistrados nos julgamentos de processos de indenização
por dano moral tem sido insatisfatória quanto à compensação e a punibilidade
e, em muitas situações, subtende-se a necessidade de apelação ao Supremo
Tribunal de Justiça (STJ) que sejam resguardados os princípios constitucionais
(equidade, proporcionalidade e razoabilidade). Qual é o grande problema: está
sob quais critérios os magistrados devem optar para quantificação da
indenização por dano moral.
Assim, o papel dos magistrado é de extrema importância, nesse
análise de fatores objetivos e subjetivos. Seu livre arbítrio, os critério utilizados
dentro de cada caso. A preocupação com o enriquecimento ilícito ou sem
causa, são agruras que, incomodam todos os magistrados, pois se deparam
quantificando sentimento extramente subjetivos, como a dor impingida pela
ofensa injusta, a alguém.
Isso chama bastante atenção pelo fato da inexistência de critérios
objetivos estabelecidos por lei a serem seguidos pelos magistrados, a
necessidade de moderação na quantificação do montante indenizatório do
dano moral e uniformização da jurisprudência no sentido de critérios objetivos
na liquidação judicial. O estabelecimento de regras específicas favorecerá os
magistrados a seguir critério justo e eficaz. O fato de haver parâmetros de
tabelamento não uniformiza a quantificação. Os critérios oferecidos pela lei
ficam à mercê da exegese judicial, a doutrina sugere o estabelecimento de
11

critérios comuns para a liquidação da sentença. Têm-se em tela a prevalência


da lei ou da doutrina na conclusão processual.
Diante da lacuna existente no direito positivo brasileiro, no que
concerne ao quantum indenizatório por dano moral, não poderia essa questão,
pela importância revestida, ser vencida pelos negativistas, frente a natural
dificuldade de mensuração valorativa.
Apesar de saber das dificuldades em se obter de forma clara o
conjunto de critérios pela peculiaridade de cada caso, mas por entender
haverem fatores basilares que norteiam a pesquisa jurídica, o trabalho busca,
na ampla doutrina e jurisprudência do STJ, identificar de maneira mais clara e
abrangente, possíveis fundamentos, que por não haver regra positivada a
respeito, formam o convencimento do juiz.
Portanto, na composição desta pesquisa trará significantes frutos,
devido a importância temática, relevante saber na aplicação e elaboração de
argumentos no exercício acadêmico e prático. A uniformização de
jurisprudências é um desafio enfrentado nos tribunais na atualidade. Serão
apresentadas doutrinas e jurisprudências que propõem a solução desta
problemática. O desenvolvimento desta pesquisa, objetiva como ganho social
evidenciar a importância da reparação civil digna ao ofendido por outrem e não
a punição. Principalmente, validar os princípios básicos de toda jurisdição
brasileira.
Toda proposta de pesquisa emerge de uma problemática da
quantificação do dano moral, preocupando está todo universo jurídico em
virtude do número cada vez maior de demandas reparatórias, sem que exista
qualquer supedâneo constitucional ou infraconstitucional para o seu
arbitramento.
O critério da tarifação não possui qualquer aplicação no sistema
normativo pátrio. Isso porque, dando-se conhecimento antecipado de valores
prefixados, as pessoas podem analisar a consequência do ato ilícito e
confrontar com as benesses, que, em contrapartida, poderiam obter.

Nos termos do artigo 946 do Código Civil, é que prevalece o critério do


arbitramento pelo juiz, por meio do qual determina-se que as perdas e danos
sejam apuradas nas modalidades de: liquidação por artigos; e por arbitramento,
12

sendo esta a forma mais recomendada para a quantificação de danos


extrapatrimoniais.

Vale ressaltar que, conquanto tenha-se conferido ao magistrado a


prerrogativa de fixar a verba indenizatória, segundo critérios escolhidos
livremente, este deverá ater-se sempre aos princípios gerais de direito,
costumes, e, principalmente, às peculiaridades de cada caso concreto, de
modo a evitar que a repercussão econômica da indenização não se converta
em enriquecimento ilícito de uma das partes, ou ainda, que o valor seja tão
ínfimo, que se torne inexpressivo.

À falta de critérios objetivos predeterminados em lei, tem a doutrina e


jurisprudência elencado algumas regras a serem seguidas pelo órgão
jurisdicional quando do momento do arbitramento, para que se atinja de forma
justa, proporcional e razoável o caráter dúplice desejado pela norma
constitucional que assegura a reparação por dano moral, qual seja: atenuar o
sofrimento da vítima e atuar concomitantemente como sanção ao ofensor de
modo a desestimular condutas ilícitas à direitos de ordem extrapatrimonial.

Em apertada síntese, são duas as etapas para fixação


do quantum indenizatório a título de reparação por danos morais, a saber:
estabelecimento de um valor básico para a indenização, levando-se em
consideração o interesse jurídico lesado e análise e consideração das
circunstâncias do evento danoso, para fixação definitiva do valor da
indenização, de forma a atender o comando normativo de arbitramento
equitativo pelo juiz.

O tema é polêmico e controverso. E é a razão por essa analise tentar


converter todo essa estrutura que já perdura há anos no cenário forense. Com
o crescente acesso de informações por meios comunicação, a sociedade
contemporânea passou a ser mais conhecedora de seus direitos e a reivindicá-
los. Consequentemente houve crescente e expressivo aumento das ações
indenizatórias por danos morais. Atinente aos valores das indenizações
corresponderem aos danos sofridos, torna-se abstrato o fato de não poder o
julgador mensurar a dor sofrida em sua totalidade. Caracteriza-se sob forma de
13

compensação à dor sofrida e punição ao ofensor. Suscitar equidade é o


desafio. O uso do método bifásico tem prevalecido nos julgados pelo STJ

Outro ponto importante que iremos analisar, é enriquecimento sem


causa, quando uma pessoa interpõe um processo de dano moral e propõe um
valor exorbitante criando assim uma indústria do dano moral. Nesse sentido,
Humberto explica:

Entretanto, no afã de evitar a “indústria do dano moral” e impedir


condenações exorbitantes, um limite é sempre imposto pelos tribunais:
o valor da indenização não deve motivar o enriquecimento sem causa
para a vítima. Simetricamente, algo igual ou assemelhado ocorre na
jurisprudência norte-americana, para a qual seria ofensiva à garantia
constitucional da due process clause, a indenização punitiva
exorbitante, que não guardasse “nenhuma proporção com o dano
efetivamente sofrido pela vítima” e tampouco seguisse “as diretrizes
fixadas em julgados anteriores” (DANO MORA, Humberto costa,
s/d.p150)

Há vários problemas que angustiam o desenvolvimento econômico e


social do país, no difícil quadro da recessão ora vivida pelo Brasil. O dano
maior é, sem dúvida, contra o desemprego, consequência imediata da
estagnação da economia. A solução é uma só: o estímulo à iniciativa privada
para que os investimentos reaqueçam a economia. A resposta, porém, é a
dificuldade dos agentes de produção conviverem com o chamado “custo
Brasil”, que, no risco dos encargos fiscais, sociais e trabalhistas, transformasse
numa barreira de difícil transposição por quem se interesse por investir nas
fontes de produção.
Não é preciso ser economista nem cientista político para saber que,
numa economia liberal, só a perspectiva de lucro estimula a ampliação dos
investimentos nas fontes produtoras de bens e serviços. O capital privado não
é suicida e, por isso, foge do risco da estagnação. Se a perspectiva, além de
não ser de lucro, é de prejuízo e esterilização dos recursos investidos, a fuga
dos capitais do país é a única via encontrada.
Pretende-se voltar este trabalho para as decisões que são tomadas
pelos tribunais sobre quantificação do dano moral, com o objetivo de pesquisar
sobre a responsabilidade civil no contexto da atual realidade e fazer uma
14

análise de como ela ocorre na prática, como o dano é quantificado e quais os


processos podem ser diferentes.

02 QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL

2.1 Conceito de Dano moral

Como afirma Carlos Roberto Gonçalves, “Dano moral é o que atinge o


ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que
integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a
imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da
Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza,
vexame e humilhação”.

No intuito de evitar abusos e excessos, e melhor configurar o dano


moral, recomenda Sérgio Cavalieri:

[...] o dano moral não está necessariamente vinculado a


alguma reação psíquica da vítima. Pode haver ofensa à
dignidade da pessoa humana sem dor; vexame, sofrimento,
assim como pode haver dor; vexame e sofrimento sem violação
da dignidade. Dor; vexame, sofrimento e humilhação podem
ser consequências, e não causas. Assim como a febre é o
efeito de uma agressão orgânica, a reação psíquica da vítima
só pode ser considerada dano moral quando tiver por causa
uma agressão à sua dignidade. (CAVALIERI, 2012, p.89).

Na configuração do dano, afirma Fatima Zanetti:

Há consenso na doutrina que a fixação do valor da reparação


por dano moral deve levar em conta os seguintes requisitos: a
gravidade do fato, a extensão do dano, a compensação da
vítima, o não favorecimento do enriquecimento sem causa, o
caráter pedagógico e a capacidade econômica do ofensor. A
jurisprudência, na mesma trilha argumentativa, também
menciona, no geral, esses requisitos e, por vezes, chega a
acrescentar como fator restritivo na fixação do valor da
reparação a vedação do enriquecimento ilícito. (ZANETTI,2009,
p.15).

Configurado o dano, outro ponto de discussão se forma: o caráter da


reparação do dano. A doutrina entende ser duas formas, compensatório e
punitivo. Segundo Carlos Roberto Gonçalves:
15

Tem prevalecido, no entanto, o entendimento de que a


reparação pecuniária do dano moral tem duplo caráter: 11
compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor. Ao
mesmo tempo que serve de lenitivo, de consolo, de uma
espécie de compensação para atenuação do sofrimento
havido, atua como sanção ao lesante, como fator de
desestímulo, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à
personalidade de outrem. (GONÇALVES, 2012, p.368).

Igualmente relevante a defesa de Fátima Zanetti quanto ao caráter de


reparação do dano:

Predomina, explícita ou implicitamente, a ideia de que esse


tipo de reparação deve ter apenas caráter compensatório da
vítima, negando o caráter pedagógico sob o fundamento de
que não se pode banalizar esse tipo de direito, o que se daria
com a fixação de valores elevados e serviria de estímulo para a
busca de indenização milionárias pela via judicial. (ZANETTI,
2009, p.15).
Ainda quanto à reparação do dano, evidencia-se os modos de
reparação segundo Maria Helena Diniz:

O modo de reparação do dano implicaria uma determinação do


conteúdo dessa reparação. É o dano moral indenizável
independentemente da maior ou menor extensão do prejuízo
econômico, embora deveria ser proporcional a ele. A reparação
do dano moral tem, sob uma perspectiva funcional, um caráter
satisfatório para a vítima e lesados e punitivo para o ofensor.
(DINIZ,2018, p.132).
Diz Maria Helena Diniz, que:

Não se pode negar que a reparação pecuniária do dano moral


é um misto de pena e de satisfação compensatória, tendo
função: a) penal, ou punitiva, constituindo uma sanção imposta
ao ofensor, visando a diminuição de seu patrimônio, pela
indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da
pessoa — integridade física, moral e intelectual — não poderá
ser violado impunemente, subtraindo-se o seu ofensor às
consequências de seu ato por não serem reparáveis; e b)
satisfatória ou compensatória, pois, como o dano moral
constitui um menoscabo a interesses jurídicos
extrapatrimoniais, provocando sentimentos que não têm preço,
a reparação pecuniária visa proporcionar ao prejudicado uma
satisfação que atenue a ofensa causada. (DINIZ,2018, p.131).
E também que:

Não se trata, como vimos, de uma indenização de sua dor, da


perda de sua tranquilidade ou prazer de viver, mas de uma
compensação pelo dano e injustiça que sofreu, suscetível de
proporcionar uma vantagem ao ofendido, pois ele poderá, com
16

a soma de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações


materiais ou ideais que repute convenientes, atenuando assim,
em parte, seu sofrimento. (DINIZ,2018, p.132).
Indiscutível é, na responsabilidade civil o dever de indenizar. A doutrina
e os tribunais acordam neste quesito. Aprecia-se a exemplo:

Indenizar significa reparar o dano causado à vítima,


integralmente. Se possível, restaurando o statu quo ante isto é,
devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da
ocorrência do ato ilícito. Todavia, como na maioria dos casos
se torna impossível tal desiderato, busca-se uma compensação
em forma de pagamento de uma indenização monetária.
(GONÇALVES, 2012, p.334). A indenização por danos morais
é uma compensação pecuniária por sofrimentos de grande
intensidade, pela tormentosa dor experimentada pela vítima em
alguns eventos danosos. (COELHO, 2012, p. 826).
Configurado o dano, o artigo 944 do Código Civil determina que a
indenização se mede pela extensão do dano.

Diante disso questiona-se sob os critérios que os magistrados optam


para a quantificação da indenização por dano moral?

Fato firmado pelo Ministro Paulo Tarso Sanseverino:


A questão relativa à reparação dos danos extrapatrimoniais,
especialmente a quantificação da indenização correspondente,
constitui um dos problemas mais delicados da prática forense
na atualidade, em face da dificuldade de fixação de critérios
objetivos para o seu arbitramento.

2.2 Natureza Jurídica e Finalidade Precípua do Dano Moral

A natureza jurídica da reparação do dano moral tem sido motivo de


discussões no nosso ordenamento jurídico, pois é notório que a reposição
natural na ofensa a direitos extrapatrimoniais da pessoa não é possível, pois
não há a possibilidade de ser restituída ao status quo ante.
Sobre o tema ensina o ilustre professor PABLO STOLZE GAGLIANO:

Na reparação do dano moral, o dinheiro não desempenha


função de equivalência, como no dano material, mas, sim,
função satisfatória. Quando a vítima reclama a reparação
pecuniária em virtude do dano moral que recai, por exemplo,
em sua honra, nome profissional e família, não está
definitivamente pedindo o chamado pretium doloris, mas
apenas que se lhe propicie uma forma de atenuar, de modo
razoável, as consequências do prejuízo sofrido, ao mesmo
tempo em que pretende a punição do lesante. Dessa forma,
resta claro que a natureza jurídica da reparação do dano
moral é sancionadora (como consequência de um ato ilícito),
17

mas não se materializa através de uma “pena civil”, e sim por


meio de uma compensação material ao lesado, sem prejuízo,
obviamente, das outras funções acessórias da reparação civil.

É importante salientar o fato de vários autores pontuarem que não


existe unanimidade sobre a natureza jurídica da indenização por danos
morais, surgindo 3 correntes doutrinárias e jurisprudenciais sobre a
controvérsia, sobre tais correntes ensina FLÁVIO TARTUCE em sua obra:

1º Corrente: A indenização por danos morais tem o mero


intuito reparatório ou compensatório, sem qualquer caráter
disciplinador ou pedagógico. Essa tese encontrasse superada
na jurisprudência, pois a indenização deve ser encarada mais
do que uma mera reparação.
2º Corrente: A indenização tem um caráter punitivo ou
disciplinador, tese adotada nos Estados Unidos da América,
com o conceito de punitive damages. Essa corrente não vinha
sendo bem aceita pela nossa jurisprudência, que identificava
perigos na sua aplicação. Porém, nos últimos tempos, tem
crescido o número de adeptos a essa teoria. Aqui estaria a
teoria do desestímulo, desenvolvida, no Brasil, por Carlos
Alberto Bittar (Reparação civil…, 1994, p. 219226).
3º Corrente: A indenização por dano moral está revestida de
um caráter principal reparatório e de um caráter pedagógico
ou disciplinador acessório, visando a coibir novas condutas.
Mas esse caráter acessório somente existirá se estiver
acompanhado do principal.

Essa última corrente tem prevalecido na jurisprudência nacional, pois


no ordenamento jurídico brasileiro seguindo a doutrina e jurisprudência atual,
vem-se visualizando a duplicidade da reparação do dano extrapatrimonial sob
o fundamento de que, na fixação do quantum  indenizatório, afora da
satisfação compensatória do ofendido, deve ser levado em conta um
sancionamento do ofensor, como meio de se punir a prática do ato ilícito,
tanto no sentido de retribuir danos passados quanto para evitar danos morais
futuros.
Seguindo a última corrente, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu:

Responsabilidade civil – Dano moral – Valor da indenização.


O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ com o
escopo de atender a sua dupla função: reparar o dano
buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor, para
que não volte a reincidir. Fixação de valor que não observa
regra fixa, oscilando de acordo com os contornos fáticos e
circunstanciais. 4. Recurso especial parcialmente provido”
(STJ,  REsp 604.801/RS, Recurso especial, 2003/01800314,
Ministra Eliana Calmon T2 – Segunda Turma 23.03.2004, DJ
07.03.2005, p. 214).

Não obstante a decisão acima citada, em alguns outros julgados


recentes, o mesmo Superior Tribunal de Justiça, vem usando outra
18

expressão, qual seja o caráter educativo. Partindo dessa ideia, segue a


ementa:

Direito civil – Responsabilidade civil – Hospital – Ação de


indenização – Dano moral – Erro médico – Sequelas estéticas
e psicológicas permanentes – Conjunto probatório – Montante
indenizatório – Razoabilidade – Súmula 7/STJ –
Prequestionamento – Ausência –Embargos de declaração –
Omissão e contradição inexistentes. Rejeitam-se os
embargos de declaração quando inexistentes qualquer
omissão, obscuridade ou contradição na decisão embargada.
O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como
violados constitui requisito de admissibilidade do recurso
especial. É defeso o reexame de provas em sede de recurso
especial. Na revisão do valor arbitrado a título de dano moral
não se mensura a dor, o sofrimento, mas tão somente se
avalia a proporcionalidade do valor fixado ante as
circunstâncias verificadas nos autos, o poder econômico do
ofensor e o caráter educativo da sanção. Recurso especial
não conhecido” (STJ,  REsp 665.425/AM, 3.ª Turma, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 26.04.2005, DJ 16.05.2005, p. 348).

Nessa mesma linha, mas mencionando o caráter punitivo da


indenização por danos morais, pronunciou o Supremo Tribunal Federal:

“Responsabilidade civil objetiva do poder público – Elementos


estruturais. (…) – Teoria do risco administrativo. Fato danoso
para o ofendido, resultante de atuação de servidor público no
desempenho de atividade médica. Procedimento executado
em hospital público. Dano moral. Ressarcibilidade. Dupla
função da indenização civil por dano moral (reparação-
sanção): a) caráter punitivo ou inibitório (exemplara or
punitive damages) e b) natureza compensatória ou
reparatória” (STF,  AI 455.846, Rel. Min. Celso de Mello,
Informativo n. 364)

2.3 A Quantificação do Dano Moral

Na responsabilidade civil, quando se condena o ofensor ao pagamento


de um quantum indenizatório, de cunho eminentemente reparador ou
satisfativo, o que se busca é a reposição do bem perdido.

No caso dos danos morais, como já visto é indubitável que o valor da


indenização, representada em dinheiro, não tem função reparadora, própria
dos danos matérias. Até porque não há como se estabelecer equivalência entre
o dano moral e o ressarcimento.
19

O que se busca, no arbitramento do dano moral, não é atribuir um


preço a dor sofrida, mas sim uma forma de compensação pelos sofrimentos
causados pelo agente do ato ilícito.

Não há meios de se quantificar o prejuízo da dor, pois tal sentimento é


insuscetível de ser mensurado. A indenização do dano moral tem, na verdade
uma nítida função compensatória ou satisfatória, proporcionando ao lesado
uma satisfação que atenue a ofensa causada. Não se trata de uma indenização
de sua dor, mas de uma compensação pelo dano e injustiça que sofreu, uma
soma em dinheiro que possa atenuar, ao menos em parte, o sofrimento
causado, uma forma de proporcionar uma vantagem ao ofendido.

Assim a lição de Guilherme couto de castro;

“O arbitramento não tem como objetivo pagar ou indenizar, na


feição etimológica (in + damnum), de retirar o dano. Não se
trata de aferir o preço da dor: o objetivo é trazer algum bem a
quem sofreu o mal já consumado, que não se pode desfazer.
Cuida-se de conceder benefício apto a, de certo modo, permitir
um alivio á vítima, ajudando-a a desligar-se do sofrimento ou
da ofensa á dignidade e à honra.”

E é essa função compensatória que afasta a tese da impossibilidade de


reparação do dano moral.

É indiscutível que na reparação por danos morais vessa-se a


compensação ou reparação satisfativa a ser dada aquilo que o agente fez ao
prejudicado, diferentemente da reparação danos patrimoniais, em que se tem a
reposição em espécie ou em dinheiro pelo valor equivalente.

E ao lado da função compensatória, a doutrina e jurisprudência pátrias


em sua maioria, também reconhecem a função punitiva do ressarcimento do
dano moral.

Assim é que tem prevalecido o entendimento de que a reparação do


dano moral tem duplo caráter: compensatório para a vítima e punitivo para
ofensor. Ao mesmo tempo que serve de compensação para atenuação do
sofrimento havido, atua como sanção ao causador do dano, tendo esta sanção
uma finalidade preventiva, de evitar que o agente volte a praticar atos lesivos e
uma finalidade repressiva, de evitar que a conduta indevida compense.
20

Tem prevalecido, no entanto, o entendimento de que a


reparação pecuniária do dano moral tem duplo caráter:
compensatório para a vítima e punitivo para o ofensor. Ao
mesmo tempo que serve de lenitivo, de consolo, de uma
espécie de compensação para atenuação do sofrimento
havido, atua como sanção ao lesante, como fator de
desestímulo, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à
personalidade de outrem. (GONÇALVES, 2012, p.368).

No entanto, a questão do caráter punitivo da reparação do dano moral


não é pacifica na doutrina, sendo levantadas críticas à adoção da função
expiatória no valor fixado pelo juiz.

A maior crítica que se faz é a de que não há pena sem prévia fixação
de lei, sob pena de ofender a garantia constitucional do nulla poena sine
legede, (art. 5° XXXIX). Cabe ao direito penal e não ao direito privado reprimir
as condutas que, na ordem geral, se tornam nocivas ao interesse coletivo.

Portanto, a nosso ver é certo que a finalidade precípua do


ressarcimento dos danos não é punir o responsável, mas sim compensar a
vítima da lesão sofrida. Mas é inegável que o quantum indenizatório arbitrado,
que implicará na diminuição do patrimônio do ofensor, acarreta um resultado
educativo a este, levando-o à elaboração da ideia de que será punido a cada
dano que perpetrar.

Assim, ao lado do caráter compensatório, a reparação pecuniária do


dano moral possui igualmente um sentido punitivo, contendo uma ideia de
função preventiva, exercendo importante papel na pedagogia da aprendizagem
social.

Mas é certo também que o julgador deve observar tal caráter punitivo
com ressalvas, tendo sempre em conta que a função precípua da indenização
é compensar a lesão e não castigar o causador do dano e propiciar ao ofendido
um enriquecimento sem causa.

2.4 Critérios objetivos para Fixação do Quantum Indenizatório

Por se tratar de lesão ao direito da personalidade, o dano moral recebe


um meio de atenuação do sofrimento do ofendido e não um preço. O que torna
a sua quantificação mais complexa, pois requer a aplicação do princípio da
21

satisfação compensatória que por sua vez envolve o princípio da


proporcionalidade.

Assim, na ausência de padrões e critérios definidos para a


quantificação do dano moral, cabe o juiz o arbitramento da indenização.
Competindo ao magistrado, com prudência e moderação, fixar o quantum
debeatur do dano moral, valor este que deve ser especificamente
fundamentado, de modo a afastar qual quer nodoa de puro arbítrio do juiz. Ou
seja, com base na gravidade do dano e na situação econômica do ofensor.
Sendo este analisado pelas cortes de justiça, órgão responsável pela missão
de uniformizar a aplicação do direito infraconstitucional.

Primeiramente, na fixação do dano moral, deve estar sempre presente


a razoabilidade. Razoável é aquilo que é sensato, moderador que guarda uma
certa proporcionalidade. Como ensina Sérgio Cavalieri, “razoabilidade é o
critério que permite cotejar meios e fins, causas e consequências de modo a
aferir a lógica da decisão” bem como o ilustre doutrinar informa

“Para que a decisão seja razoável é necessário que a


conclusão nela estabelecida seja adequada aos motivos que a
determinaram; que os meios escolhidos sejam compatíveis
com os fins visados; que a sanção seja proporcional ao dano”
Assim é que a indenização deve ser proporcional ao dano. A quantia
estabelecida deve ser suficiente para reparar o dano, não podendo importar em
enriquecimento sem causa para o ofendido. Também não pode o quantum ser
fixado em valor vil, inexpressivo, não atendendo ao fim compensatório.

Enfim o valor da indenização não deve ser nem tão grande que se
converta em fonte de enriquecimento sem causa, nem tão pequeno que se
torne inexpressivo.

O código civil não estabelece critérios fixos para sua quantificação


ficando o magistrado incumbido de arbitrá-la. Um dos meios mais eficientes de
quantificar o dano moral é o arbitramento pelo juiz feito conforme seu prudente
arbítrio com base é analisado pelas cortes de justiça, órgão responsável pela
missão de uniformizar a aplicação do direto infraconstitucional.

Esse arbitramento, conforme Maria Helena Diniz, se deve pautar em


dois critérios: um de ordem subjetiva, pelo qual o juiz deverá examinar a
22

posição social ou política do ofendido e do ofensor, a intensidade dos ânimos


leadere (anomo de ofender) determinado pela culpa ou dolo; e outro de ordem
objetiva, como a situação econômica do ofensor e do ofendido, o risco criado
com a ação ou omissão, a gravidade e a repercussão da ofensa.

O Novo Código Civil, em seu artigo 944, estabelece que “a indenização


se mede pela extensão do dano”. E, no parágrafo único do citado dispositivo
dano poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. “verifica-se, da
análise do dispositivo, a adoção pelo legislador dos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade na valoração da indenização.

Como já visto, após a constituição de1988 não há mais nenhum valor


legal prefixado, nenhuma tabela ou tarifa a ser observado pelo juiz na tarefa de
fixar da indenização pelo dano moral.

Sempre com a ideia da proporcionalidade, da razoabilidade e do bom


senso, doutrina e jurisprudência buscam traçar alguns parâmetros para a difícil
e importante tarefa da quantificação do dano moral.

São utilizados como parâmetros pela doutrina e jurisprudência, na


generalidade dos casos, algumas recomendações da lei de imprensa (Artigo
53) e do código Brasileiro de Telecomunicações (artigo 84), como a situação
repercussão da ofensa; o grau de culpa e a situação econômica do ofensor e
as circunstâncias que envolvem os fatos.

2.5 A Aplicação dos Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade.

Segundo Pedro Lenza, trata-se de princípio extremamente importante


especialmente na situação de colisão entre valores constitucionalizados. Como
parâmetros, podemos destacar a necessidade de preenchimento de três
importantes elementos:

a) Necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a


adoção da medida que possa restringir direitos só se
legitima se indispensável para o caso concreto e não se
puder substituí-la por outra menos gravosa
b) Adequação: também chamado de pertinência ou
idoneidade, quer significar que o meio escolhido deve
atingir o objetivo perquirido;
23

c) Proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida


necessária a adequada, deve-se investigar se o ato
praticado, em termos de realização do objetivo pretendido,
supera a restrição a outros valores constitucionalizados.
Podemos falar em máxima efetividade e mínima restrição.
(LENZA, 2012.P.159)
Este princípio constitucional apresenta-se como sustentação no
superior tribunal de justiça, quanto aos julgados conclusivos no tocante aos
danos morais.
O princípio da razoabilidade pauta-se nos princípios gerais da justiça e
liberdade, almejando o equilíbrio entre o exercício do poder e a preservação
dos direitos dos cidadãos, promovendo harmonia social e evitando atos
arbitrários isolados. Contribui para que no ordenamento jurídico haja razão,
moderação, equilíbrio e harmonia, ideais para o bem comum.
Princípio da proporcionalidade aciona, em casos de conflito entre
princípios constitucionais, que haja ponderação de valores fundamentados na
proporcionalidade e razoabilidade, objetivando a preservação da dignidade da
pessoa humana.

03. LIQUIDAÇÃO JUDICIAL DO DANO


Seja por titulo judicial, seja por titulo extrajudicial, todo devedor tem por
efeito da obrigação, de pagar o devido. Se se trata de coisa certa, cumpre-lhe
efetuar a entrega. Se de quantia certa, solvê-la mediante o pagamento da
soma devida. Assim para que se cumpra coativamente, terá de passar por uma
operação material ou objetiva.
Mais quando se trata de ressarcimento de perdas e danos o campo é
mais largo, e a reparação nem sempre é possível, ou mesmo viável,
dependendo da natureza do dano. Ou pode não ser “concebível”, com se
exprime Yvez Chartier, que lembra hipóteses de dano à pessoa da vítima
(perda de um membro ou órgão do corpo), ou a destruição de coisa
insubstituível (destruição de um Van Gogh). Em casos tais, não há falar em
reparação em espécie.
Em certos casos, a reparação em espécie pode dar-se, como nas
hipóteses lembradas por Yves Chartier como por Philippe Malaurie: publicação
da decisão condenatória, direito de resposta, difusão de desmentido pela
televisão. Não sendo possível nem concebível a reparação em espécie, que
24

muitas vezes pode implicar constrangimento pessoal, substitui-se o conceito de


“restabelecer uma situação”, pelo de proporcionar uma “compensação” à
vítima. Somente no caso de se não poder cumprirem espécie é que se
converte a res debita em perdas e danos
Em termos gerais, e como técnica de orientação, o que se estabelece, e os
tribunais reconhecem, é a distinção entre obrigações que representam débito de dinheiro
e as dívidas de valor. No primeiro caso, o devedor libera-se mediante uma soma
traduzida aritmeticamente em uma cifra; na dívida de valor o pagamento há de ser uma
contraprestação obediente à oscilação da moeda. Neste caso, o credor somente receberá
a satisfação do débito se o devedor lhe fizer a traditio não de uma expressão matemática
da dívida, porém de uma quantia que corresponda aos bens que vai adquirir, ou que já
adquiriu. A distinção entre debito de valore e debito di valuta é o único meio de, numa
época dominada pela onda inflacionária, proporcionar ao credor um pagamento que
corresponda ao valor atualizado da obrigação. Em matéria de liquidação das obrigações
oriundas da responsabilidade civil, o valor das perdas e danos é considerado como
dívida de valor, e sendo assim, é sujeito à correção monetária.
3.1 INDEXAÇÃO
O critério de valoração dos créditos mediante indexação constitui
técnica, a cada dia mais frequente, de se defender o credor contra o crescente
aviltamento do poder aquisitivo da moeda, corroída pela inflação, com que o
nosso país, como aliás outros de grande porte, vêm lutando como sendo o mal
endêmico de nossa época. Muito embora as mais ricas fontes versem a
correção monetária nas obrigações convencionais, os mesmos princípios são
aplicáveis nas que visam ao ressarcimento dos danos como expressão
financeira na responsabilidade civil. Sendo a obrigação resultante de sentença
condenatória, sem que fique estabelecida precisamente a quantia a que está
sujeito o devedor, há que proceder à sua liquidação, seguindo-se uma das
modalidades prescritas no Código de Processo Civil: por cálculo do contador
(arts. 509, § 2º, e 524, §§ 1º a 5º); por arbitramento (art. 509, I); por artigos (art.
509, II).

A liquidação por cálculo do contador, já extinta pelas sucessivas


reformas operadas no CPC/1973, desde 1992, não foi reproduzida no
CPC/2015, transferindo-se para o início da fase de cumprimento de
25

sentença a apresentação de cálculos pelo credor, sob a forma de


memória discriminada de sua composição
A segunda (liquidação por arbitramento), mais complexa, quando haja
necessidade do auxílio de um perito que elabora o laudo, valendo-se de
informações, de dados, de conhecimentos ou de elementos de aferição
material, já conhecidos ou de obtenção direta (CPC, arts. 509, I, e 510).
Finalmente, no CPC/2015, há a previsão da “liquidação pelo
procedimento comum” (arts. 509, II, e 511), correspondente à
liquidação por artigos do CPC/1973 16 . Procede-se à liquidação pelo
procedimento comum quando houver necessidade de alegar e provar
fato novo, assumindo esta modalidade de liquidação, feições de um
verdadeiro processo de conhecimento, com “a intimação do
requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados
a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no
prazo de 15 (quinze) dias” (CPC, art. 511).
Tem cabida esta modalidade de liquidação, na responsabilidade civil
quando o julgado na ação indenizatória estabelece as bases da condenação
deixando, porém, a quantificação das perdas e danos na dependência de
serem provados fatos novos como e.g., o custo de restabelecimento do status
quo da coisa deteriorada ou destruída.
3.2 Perdas e danos
Sobrepondo-se a qualquer modalidade de liquidação de obrigação, o
Código Civil estatui a regra genérica dos efeitos da obrigação, que tanto se
invocam nas que se definem ex contractu, quanto nas ex delicto.
O devedor sujeitando-se às perdas e danos, deve-as às inteiras,
compreendendo o damnum emergens e o lucrum cessans. Na categoria do
dano emergente situa-se aquilo que o ofendido efetivamente perdeu em
consequência do fato danoso. Na classe do lucro cessante, aquilo que
razoavelmente deixou de ganhar, e o jurisconsulto Paulus enunciava: quantum
mihi abest, quantunque lucrare potui (Digesto, Liv. 46, Tít. VIII, fr. 13).
Acerca do dano pela perda de uma chance e a dificuldade de
sua liquidação, v. item 37, supra.
Em qualquer caso, todavia, somente terá direito ao ressarcimento ao dano
direto e concreto; e a o dano indireto somente se produzido por causalidade
necessária. O dano indireto ou remoto, como o dano hipotético, não pode ser objeto
de indenização, ainda que o fato gerador seja o procedimento doloso do reus debendi.
É também princípio capital, em termos de liquidação das obrigações,
que não pode ela transformar-se em motivo de enriquecimento. Apura-se o
26

quantitativo do ressarcimento inspirado no critério de evitar o dano (de damno


vitando), não porém para proporcionar à vítima um lucro (de lucro capiendo).
Ontologicamente subordina-se ao fundamento de restabelecer o equilíbrio
rompido, e destina-se a evitar o prejuízo. Há de cobrir a totalidade do prejuízo,
porém limita-se a ele. A razão está em que, no próprio étimo da “indenização”,
vem a ideia de colocar alguma coisa no lugar daquilo de que a vítima foi
despojada, em razão do “dano”. Se se ressarce o dano, não se lhe pode aditar
mais do que pelo dano foi desfalcado o ofendido. No caso de a prestação em
espécie ser viável (res in loco rei), cabe ao prejudicado persegui-la acrescida
dos juros . Não sendo possível a obtenção específica dares debita, a vítima faz
jus a um valor que a substitua em toda plenitude.
Faz-se referência à possibilidade de as partes estipularem
contratualmente cláusula penal 19 . Esta irá determinar a
prefixação de indenização devida em caso de inexecução
completa da obrigação, de alguma cláusula especial ou
simplesmente de mora, podendo, assim, a cláusula penal ter
caráter compensatório ou moratório (art. 409 do Código Civil).
Ao estabelecer o valor das perdas e danos, a cláusula penal
não poderá determinar valor maior do que o da obrigação
principal (art. 412 do Código Civil), devendo a penalidade ser
reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver
sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a
finalidade do negócio (art. 413 do Código Civil). Além disso, o
parágrafo único do art. 416 do Código Civil ressalta que, “ainda
que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode
o credor exigir indenização suplementar se assim não foi
convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da
indenização, competindo ao credor provar o prejuízo
excedente”.
O Superior Tribunal de Justiça, ao analisar a cumulação de cláusula
penal moratória com a indenização por perdas e danos, entende que a
cobrança da multa não interfere na responsabilidade do devedor de indenizar
os prejuízos a que sua mora der causa.
Cumpre, todavia, observar que não se reconhece ao reus credendi
uma faculdade de converter a obrigação em alternativa. O que constitui o
debitum é o que está in obligatione. A liquidação consistirá em traduzir o dano
em prestação pecuniária, e é o mais frequente, porque as mais das vezes não
será viável a recomposição da coisa ou a prestação do fato especificamente.
Sobre isto, estabelecem-se algumas normas em torno das quais cabe formular
observações especiais, como se fará mais adiante.
27

Reponsabilidade civil por dano moral


Entra aqui, desde logo, a vexata quaestio da indenização do dano
moral. A responsabilidade civil por dano moral já foi objeto neste trabalho.
Cabe agora cogitar da sua liquidação.
Sustentando a tese da responsabilidade civil por dano moral, enunciei
a diversidade conceitual relativamente a que a indenização por dano material
consiste na ideia de sub-rogar a coisa no seu equivalente, ao passo que em se
tratando de dano moral o que predomina é a finalidade compensatória. A dizê-
lo noutros termos, na indenização por dano material, a ideia-força tem em vista
que existe um “prejuízo” no correspectivo da diminuição ou do não incremento
do patrimônio, enquanto a do dano moral repousa na existência de mágoa
sofrida pela vítima . À determinação do “prejuízo de afeição”, cumpre ter em
vista o limite do razoável, a fim de que não se enverede pelo rumo das
pretensões absurdas.
No tocante à própria vítima, a questão é mais simples cabendo ao juiz
apreciar até onde o lesado é atingido além do dano material que sofreu. Onde
a matéria se complica é quando um terceiro pretende a indenização por dano
moral, em consequência da lesão sofrida por outrem (o pai em relação ao filho,
deste em relação àquele, do marido quanto à mulher e vice-versa). Nesse
sentido o autor refere-se:
O primeiro elemento a considerar é o grau do relacionamento
entre a vítima e o demandante. O segundo, são as
circunstâncias de fato, se os cônjuges, posto não legalmente
separados, o estão de fato; se o filho é rompido com o pai; e
outras circunstâncias de fato ponderáveis. Em terceiro lugar, o
que inspira o juiz é a existência de “dor real e profunda” a que
se referem Mazeaud e Tunc, circunstância esta que Yves
Chartier qualifica como “necessariamente subjetiva”.

Deixando de lado a tese do cabimento da responsabilidade civil por


dano moral, que constitui matéria de prova como se exprime Wilson Melo da
Silva, os autores controvertiam em torno da reparação, desde a ideia de uma
indenização meramente simbólica de “um franco”, até a concessão de quantia
vultosa que propicie à vítima os meios de compensar o sofrimento. Não seria
mesmo possível dizer que a uma dada ofensa corresponderia um certo padrão
28

pecuniário, ou chegar-se à recusa de reparação pelo fato de não ser a dor


conversível em dinheiro.
O Caio Mario da Silva sustenta na obra Instituições de Direito Civil (vol.
2, n. 176), na reparação por dano moral estão conjugados dois motivos, ou
duas concausas:
I) punição ao infrator pelo fato de haver ofendido um bem
jurídico da vítima, posto que imaterial; II) pôr nas mãos do
ofendido uma soma que não é o pretium doloris, porém o meio
de lhe oferecer a oportunidade de conseguir uma satisfação de
qualquer espécie, seja de ordem intelectual ou moral, seja
mesmo de cunho material o que pode ser obtido “no fato” de
saber que esta soma em dinheiro pode amenizar a amargura
da ofensa e de qualquer maneira o desejo de vingança 29 . A
isso é de acrescer que na reparação por dano moral insere-se
a solidariedade social à vítima.

Na ausência de um padrão ou de uma contraprestação, que dê o


correspectivo da mágoa, o que prevalece, é o critério de atribuir ao juiz o arbitramento
da indenização. O Anteprojeto de Código de Obrigações de 1941, ao deixar ao juiz o
poder de fixar a reparação, fazia-o acompanhar da recomendação de que seria
“moderadamente arbitrada” (art. 181). Em meu Projeto de Obrigações de 1965
mantive o mesmo princípio segundo o qual no caso de dano simplesmente moral, o
juiz arbitrará moderada e equitativamente a indenização (art. 879). O Código Civil,
abrangendo no conceito amplo de ato ilícito o dano ainda que exclusivamente moral
(art. 186), não cogita de sua limitação nem recomenda seja moderado o
ressarcimento. Isto não impede que o juiz assim proceda, pois se é certo, como visto
acima, que a indenização, em termos gerais, não pode ter o objetivo de provocar o
enriquecimento ou proporcionar ao ofendido um avantaja mento, por mais forte razão
deve ser equitativa a reparação do dano moral para que se não converta o sofrimento
em móvel de captação de lucro (de lucro capiendo).
Atualmente, algumas decisões do STJ têm aplicado o chamado método
bifásico no arbitramento do dano moral, que, na determinação do quantum debeatur,
parte numa primeira fase do patamar de indenização normalmente atribuído àquele
grupo de casos, para, já na segunda fase, ajustar a indenização com base nas
circunstâncias do caso concreto e no interesse jurídico lesado.
Após a promulgação do Código de Processo Civil de 2015, de acordo com a
previsão constante do art. 292, inc. V, o valor da causa, que deverá constar da petição
inicial ou da reconvenção, será o valor pretendido na ação indenizatória, mesmo no
caso de dano moral. Com essa mudança, o valor do dano moral, cuja estipulação
usualmente se deixava a cargo do magistrado, deverá ser previamente estimado pelo
29

autor da demanda, o que tem suscitado controvérsias, com decisões que admitem o
pedido genérico de dano moral.
Além dos casos especiais de reparação do dano moral que examinarei em
seguida, cabe lembrar que a jurisprudência dos tribunais por muito tempo se dividiu.
Ora considerava que onde havia indenização por dano material descabia reparação de
dano moral; ora admitia a acumulação; ora excluía a reparação pelo sofrimento se
dele não decorresse nenhum dano material (STF. In: Revista Forense. vol. 138, p.
452); ora concedia indenização no caso em que o lesado não podia vincular o fato a
qualquer ideia de prejuízo material (Súmula do STF, verbete n. 491, in verbis: “É
indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça
trabalho remunerado”). O fundamento em hipótese desta natureza assenta em que o
filho menor, posto não contribua para a economia doméstica, constitui um valor
econômico em potencial (STF, Revista Trimestral de Jurisprudência, 42/378; 47/279).
A não acumulação do dano material com dano moral foi por muito tempo sustentada
na jurisprudência (STF. In: ADCOAS. 1985, n. 104.316).
Permite-se, na atualidade, a cumulação de indenizações por
danos morais e materiais. A mudança de orientação resultou
de gradativa evolução jurisprudencial, que culminou na edição
da Súmula n. 37 do STJ, in verbis: “São cumuláveis as
indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato”. Na mesma direção, quanto ao dano estético, eis
a Súmula n. 387 do STJ: “É lícita a cumulação das
indenizações de dano estético e dano moral”. Em face do
Código Civil de 1916, o grande escolho a que se apegavam os
adversários da indenização por dano moral era a ausência de
uma disposição genérica, que a conceda. Contra este
argumento, insurgia-se Clóvis Beviláqua, com fundamento no
art. 76, conforme visto e desenvolvido em o Capítulo IV, supra.
O argumento deixou de subsistir, uma vez que a Constituição de 1988 admitiu,
em mais de uma passagem, o princípio da reparação do dano moral (art. 5º,
alíneas V e X). 251.
3.1 Liquidação de Indenizações por Danos Morais

A compensação pecuniária domina as condenações por danos morais


em razão da própria natureza desse tipo de dano, onde o estabelecimento de
valores tabelados é inviável, em razão da dificuldade em se fixar o chamado
preço da dor.
Dois são os sistemas para a reparação pecuniária dos danos morais: o
sistema tarifário e o sistema aberto.
No primeiro caso há uma prefixação legal ou jurisprudencial do
quantum indenizatório, aplicando o juiz a regra prevista para cada caso
30

concreto, seguindo o limite estabelecido para cada situação de per se. É o


sistema de quantificação utilizado por alguns países da Commom law.
O sistema aberto, por sua vez, permite ao magistrado a competência
para fixar o valor da indenização de acordo com a sua convicção sendo esse o
sistema utilizado no Brasil.
Critérios de Liquidação de Indenizações por Danos Morais
Como dito alhures, no Brasil se confere ao magistrado ampla
discricionariedade para fixação do valor da indenização, devendo o quantum
ser por ele arbitrado.
É o que se pode inferir da leitura do art. 475 – C, do CPC, notadamente
da leitura de seu inciso II:
Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando:
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) I – determinado pela
sentença ou convencionado pelas partes; (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005) II – o exigir a natureza do objeto da
liquidação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

Da leitura desse preceptivo se pode inferir que o objeto da liquidação


da reparação pecuniária do dano moral é uma importância que compensa uma
lesão extrapatrimonial sofrida, sendo certo que, simples cálculos ou os artigos
não são condizentes para a espécie.
13.1 A Prova Pericial na Quantificação por Arbitramento
O art. 475-D, do CPC estabelece:
Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz
nomeará o perito e fixará o prazo para a entrega do laudo.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) Parágrafo único.
Apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes
manifestar-se no prazo de dez dias, o juiz proferirá decisão ou
designará, se necessário, audiência. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)

A ser feita uma interpretação literal do dispositivo, pode-se chegar à


ideia equivocada de que a prova pericial é imprescindível à liquidação por
arbitramento.
Em relação ao dano moral, a prova pericial, em regra será de nenhuma
valia, visto que inexistem dados materiais a serem apurados para a efetivação
da liquidação. O juiz deve valer-se, portanto, de parâmetros sugeridos pelas
partes, ou mesmo adotados de acordo com sua consciência e noção de
31

equidade. Portanto, em se tratando de dano moral, o juiz deve fixar o quantum


condenatório já na decisão cognitiva que o reconheceu.

04 VONTADE DA LEI X VONTADE DO JUIZ

Infere-se que é de suma importância a interpretação do juiz na


conclusão da sentença judicial. Para que haja equidade faz-se necessário boa
interpretação da norma legal para esclarecer seu significado; demonstrar
alcance social, e que, o conflito, pode ser resolvido conforme os fins sociais da
norma, concretizando valores que levam ao bem comum.
Nas ações indenizatórias por danos morais, são necessárias, conforme
dito nos capítulos anteriores, grande demanda de interpretação judicial da
norma. Paira sempre a ambiguidade: interpretação lógica interna ou externa? A
vontade da lei ou a vontade do juiz? Apreende-se que a interpretação lógica
permite resolver contradições entre termos numa norma juíridica. A vontade do
juiz está na sua interpretação. O desembardador Ruy Rosado de Aguiar Junior,
em publicação na revista AJURIS, 1989, assim descreve a ação do juiz e sua
vontade na conclusão judicial:
[...] o Juiz não é servo da lei, nem escravo de sua
vontade, mas submetido ao ordenamento jurídico vigente, que
é um sistema aberto afeiçoado aos fins e valores que a
sociedade quer atingir e preservar, no pressuposto indeclinável
de que essa ordem aspira à justiça. (AGUIAR Junior, 1989).

Em relação à interpretação por parte do juiz:


O intérprete não é um ser solto no espaço, liberto de todas as
peias, capaz de pôr a ordem jurídica entre parênteses. Ele atua
com a ordem jurídica, fazendo-a viva no caso concreto.
Inserido no ambiente social onde vive, tem o dever de perceber
e preservar os valores sociais imanentes dessa comunidade,
tratando de realizá-los. (AGUIAR Junior, 1989). E que: Não
pode fazer prevalecer a sua vontade a esses valores. Não lhe
cabe sobrepor-se aos sentimentos médios da sociedade em
geral e da comunidade jurídica em 41 particular, que mais o
fiscalizam nas suas decisões quanto mais democrático o
regime. Não pode ele, ao decidir, ignorar os padrões ou
critérios que delas advêm, em favor de suas concepções
pessoais. (AGUIAR Junior, 1989).

Na atualidade o posicionamento dos magistrados, nas ações


indenizatórias por danos morais, tem permanecido no tocante à escola de
exegese, segundo o ensinamento de Bobbio: “Interpretação da lei fundada na
32

intenção do legislador. Trata-se de uma concepção da interpretação que tem


uma grande importância na história e prática da jurisprudência, sendo acatada
até os nossos dias”. (BOBBIO,1995. p. 84-88).
Quanto à escola de livre interpretação, este mecanismo faz-se
presente na rotina dos tribunais, devido lacunas nos dispositivos legais, a
exemplo o tema em evidência: valoração dos danos morais. Atenta-se à
jurisprudência da 7ª turma do TST, recurso AIRR 1224002620055170007,
quanto à matéria interpretativa:
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA -
EXECUÇÃO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - JUROS
DE MORA - TERMO INICIAL - INTERPRETAÇÃO DO TÍTULO
EXECUTIVO - EXEGESE DO ART. 39, § 1º, DA LEI Nº
8.177/91. A discussão estabelecida nos autos refere-se à
interpretação do título executivo, a atrair a incidência da
Orientação Jurisprudencial nº 123 da SBDI-2 do TST. Diante da
consignação do título executivo no sentido de que o
"pagamento deve ser realizado no prazo de oito dias, a partir
dos quais passará a incidir juros e correção monetária, com
base no art. 39 da Lei 8.177/91", a Corte regional assentou, na
fase executiva, que o termo inicial para incidência dos juros
moratórios seria a data do ajuizamento da reclamação
trabalhista, a partir da literal exegese do art. 39, § 1º, da Lei nº
8.177/91. Entendeu a Corte regional, entretanto, que os juros
de mora, evidentemente, só iriam incidir caso a parte não
cumprisse a obrigação de pagar no prazo de oito dias contado
do trânsito em julgado da decisão. A recorrente, por outro lado,
pretende interpretar o título no sentido de que os juros de mora
somente correriam a partir do oitavo dia posterior à sentença.
Assim, fica evidente que, além de se tratar de matéria
interpretativa, tal interpretação perpassa necessariamente a
exegese da legislação infraconstitucional regente da matéria e
expressamente invocada pelo título exequendo. Ressalte-se
que o art. 39, § 1º, da Lei nº 8.177/91 firma que, com relação
às indenizações por dano moral, incidem juros de mora desde
a data do ajuizamento da reclamação trabalhista, entendimento
interpretado na Súmula nº 439 do TST. Logo, além de tratar-se
de controvérsia de caráter interpretativo do título executivo e da
legislação infraconstitucional, revela-se desarrazoada a
pretensão da agravante de atribuir à sentença exequenda a
determinação de incidência dos juros a partir da decisão
condenatória. Ausente violação direta e literal dos arts. 5º,
XXXVI, e 60, § 4º, IV, da Constituição Federal. Agravo de
instrumento desprovido. 42 (TST - AIRR:
1224002620055170007, Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello
Filho, Data de Julgamento: 03/02/2016, 7ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 19/02/2016).
Nos órgãos jurisdicionais, são apuradas posturas que vão de encontro
à vontade da lei, a exemplo em questões ambientais de recomposição vegetal;
33

em revisão criminal, os magistrados posicionam-se pela vontade da lei, na


maioria das ações. Fato relevante é quando há embate entre advogado e juiz
devido petição inicial, com fundamento legal questionado pelo magistrado, que
resulta, por parte do juiz, posicionar-se contra o autor nas audiências. Ajuíza-se
que ao formulador da ação compete necessariamente um profundo estudo para
harmonizar fatos e lei. Quando a petição está duvidosa em seu embasamento
legal, em consonância aos fatos, induz a livre interpretação do juiz.
Ao juiz compete a interpretação da ação. Pertinente são os
ensinamentos do Desembargador Fernando A. V. Damasceno Recurso
Ordinário RO 2087200901310008 DF 02087-2009-013-10-00-8 RO (TRT-10)
Não é omissão o Juízo não retrucar todos os fundamentos
expendidos pelas partes ou deixar de analisar individualmente
todos os elementos probatórios dos autos. A sentença é um ato
de vontade do Juiz, como órgão do Estado. Decorre de um
prévio ato de inteligência com o objetivo de solucionar todos os
pedidos, analisando as causas de pedir, se mais de uma
houver. Existindo vários fundamentos (raciocínio lógico para
chegar-se a uma conclusão), o Juiz não está obrigado a refutar
todos eles. A sentença não é um diálogo entre o magistrado e
as partes. Adotado um fundamento lógico que solucione o
binômio 'causa de pedir/pedido' inexiste omissão.” (Des.
Fernando A. V. Damasceno. 2012).

Depreende-se que, nas ações indenizatórias por danos morais, no


tocante à sua valoração, após a análise e interpretação judicial da lei e dos
fatos; por não haver valores e critérios fixos; existência de lacunas no
ordenamento jurídico e ciente de análise caso a caso, prevalece a vontade do
juiz consoante com a lei.
05 CONCLUSÃO
O tema é polêmico e controverso. Perdura há anos no cenário forense.
Com o crescente acesso de informações por meios comunicação, a sociedade
contemporânea passou a ser mais conhecedora de seus direitos e a reivindicá-
los. Consequentemente houve crescente e expressivo aumento das ações
indenizatórias por danos morais.
Atinente aos valores das indenizações corresponderem aos danos
sofridos, torna-se abstrato o fato de não poder o julgador mensurar a dor
sofrida em sua totalidade. Caracteriza-se sob forma de compensação à dor
sofrida e punição ao ofensor. Suscitar equidade é o desafio.
34

O uso do método bifásico tem prevalecido nos julgados pelo STJ. A


Constituição Federal é parâmetro constante nas ações pertinentes ao tema
pelas garantias de direitos à dignidade humana, resguardando a inviolabilidade
e a individualidade para o bom convívio social. Constituição e doutrina são
conectadas na proteção à dignidade humana e interligados quanto à reparação
do delito comprovados.
Expressivo é a conduta do juiz na análise das ações indenizatórias por
danos morais. A ele incumbe o valor final da sentença. Ciente do artigo 507 do
CPC, inconveniente torna-se prática controversa. A subjetividade em seu
caráter emocional e a imparcialidade judicial resultará em sentença equitativa.
Eloquente deve ser o advogado na formulação da ação. O estudo
criterioso, aprofundado e sólido no uso da lei e jurisprudência, permitirá ao juiz
melhor entendimento e interpretação do fato, dirimindo confrontos. Discutível é
a inquirição de que prevalece a lei ou a vontade do juiz na conclusão judicial.
Fato é que prevalece a vontade do juiz congruente com a lei.
O Direito não é algo fixo e concluso para ser aplicado quando há fato
admissível de intervenção judicial. No ordenamento jurídico, o juiz como autor
da sentença, tem o dever de portar-se como conclusão de conflitos. A
valoração dos danos morais permanece à mercê da vontade da lei e do juiz. As
lacunas na lei facultam as diversidades quantitativas. Unificação jurisprudencial
é relevante, desde que realizadas sem longo espaço de tempo. Agir com
equidade é quesito firmado.

06 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico adotado nesta pesquisa se baseou em diversos


artigos e livros já publicados na internet sobre responsabilidade civil e
problemática do quantum do dano moral, nas quais podemos citar autores
como Nehemia Domingos de Melo, Freitas a Bevilaqua, Diogo Lima Trugilho e
Humberto Theodoro Junior.
Na qual estes mesmos autores têm diversos de livros e artigos
publicados sobre a responsabilidade civil e quantificação do dano moral e seus
benéficos e o peso gigante da jurisprudência e nas soluções dos litígios na
seara civil.
35

07 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS

História da reparabilidade do dano moral: de Freitas a Bevilaqua, 1 ed. / Diogo


Lima Trugilho. - Belo Horizonte : Initia Via, 2015.
Dano Moral: Problemática - Do Cabimento à Fixação do Quantum – 17
novembro 2010
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vol. 7. 32ª ed. São Paulo. Saraiva.2018.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Obrigações e Responsabilidade
Civil. Vol.2. 5ª ed. São Paulo. Saraiva. p.826 – 872.
Dano moral / Humberto Theodoro Júnior – 8. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, 2016.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8356/A-problematica-do-
arbitramento-e-quantificacao-do-dano-moral-no-sistema-juridico-brasileiro
36

https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-124/prescricao-nas-demandas-
reparatorias-acidentarias-trabalhistas/
[BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229
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ANDRADE, Ronaldo Alves de. Dano Moral e sua valoração. 2ª ed. Ed. Atlas. São
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CONJUR. Revista Consultor Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.
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TEPENDINO, Gustavo. Temas do Direito Civil. 4ª ed. p. 25 a 62. Ed. Renovar. Rio de
Janeiro. 2008.
37

ZANETTI, Fátima. A problemática da fixação do valor da reparação por dano moral.


Ed. LTR. São Paulo. 2009. 45
SALIBA, José Carlos Maia. A escola de exegese. Disponível em:
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ZOVICO, Marcelo Luis Rolando. A hermenêutica e a resolução dos conflitos no
Direito. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/ teste/arqs/
cp063036.pdf Acesso em setembro de 2018

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