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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

BRUNO ALESSIO NICHELE

ANÁLISE ACERCA DA (IN)APLICABILIDADE DAS MEDIDAS ATÍPICAS


POSSIBILITADAS PELO ARTIGO 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, NO ÂMBITO DAS AÇÕES DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA

Araranguá
2022
BRUNO ALESSIO NICHELE

ANÁLISE ACERCA DA (IN)APLICABILIDADE DAS MEDIDAS ATÍPICAS


POSSIBILITADAS PELO ARTIGO 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, NO ÂMBITO DAS AÇÕES DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e sociedade.

Professora e orientadora Nádila da Silva Hassan, Esp.

Araranguá
2022
BRUNO ALESSIO NICHELE

ANÁLISE ACERCA DA (IN)APLICABILIDADE DAS MEDIDAS ATÍPICAS


POSSIBILITADAS PELO ARTIGO 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, NO ÂMBITO DAS AÇÕES DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Graduação em Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, 9 de dezembro de 2022.

NADILA DA SILVA Assinado de forma digital por NADILA


DA SILVA HASSAN:50621165034
HASSAN:50621165034 Dados: 2022.12.09 18:23:39 -03'00'
______________________________________________________
Professora e orientadora Nádila da Silva Hassan, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Professora Rejane da Silva Johansson, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Arnildo Steckert Junior, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

ANÁLISE ACERCA DA (IN)APLICABILIDADE DAS MEDIDAS ATÍPICAS


POSSIBILITADAS PELO ARTIGO 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, NO ÂMBITO DAS AÇÕES DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a
Orientadora de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em
caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Araranguá, 9 de dezembro de 2022.

____________________________________
BRUNO ALESSIO NICHELE
RESUMO

O presente trabalho tem como foco analisar a (in)aplicabilidade das medidas de suspensão da
carteira nacional de habilitação, do cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da
apreensão do passaporte do devedor em ações de cobrança, com fundamento no artigo 139,
inciso IV, do Código de Processo Civil de 2015.Para a elaboração, utilizou-se tanto da
pesquisa bibliográfica como da documental. O trabalho foi dividido em quatro capítulos: o
primeiro trata dos princípios constitucionais inseridos no ordenamento jurídico brasileiro; o
segundo, tem como finalidade a análise do processo de conhecimento, após, do cumprimento
de sentença e do processo de execução, e, na sequência, analisamos as diferenças entre o
cumprimento de sentença e o processo de execução; no terceiro, analisamos se são feridos
princípios e garantias assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro ao determinar-se as
supracitadas medidas, bem como identificamos quais os limites das medidas conferidas ao
magistrado como forma de garantir a efetividade do cumprimento da ordem; por fim, no
último capítulo, analisamos decisões judiciais proferidas acerca do tema. Concluiu-se que tais
medidas devem ser adotadas de forma subsidiária, apenas quando esgotados os meios de
execução típicos e quando constatada a má-fé do devedor, de modo a se ponderar a
proporcionalidade e a razoabilidade da decisão com a finalidade almejada por meio do
processo de execução.

Palavras-chave: Liberdade de locomoção. Dignidade da pessoa humana. Medidas


atípicas.
SUMMARY

The present paper focuses on analyzing the (in)applicability of the measures of suspension of
the national driver's license, cancellation of debit and credit cards and the seizure of the
debtor's passport in collection actions, based on article 139, item IV, of the Civil Procedure
Code of 2015. For the elaboration, both bibliographic and documentary research were used.
The work was divided into three chapters: the first deals with the constitutional principles
inserted in the Brazilian legal system; the second chapter aims to analyze the knowledge
process, after the execution of the sentence and the execution process, and, subsequently, we
analyze the differences between the execution of the sentence and the execution process;
finally, in the third, we analyze whether principles and guarantees guaranteed by the Brazilian
legal system are violated when determining the aforementioned measures, as well as
identifying the limits of the measures conferred on the magistrate as a way of guaranteeing the
effectiveness of compliance with the order.It was concluded that such measures should be
adopted in a subsidiary way, only when the typical means of execution are exhausted and
when the bad faith of the debtor is verified, in order to consider the proportionality and
reasonableness of the decision with the desired purpose through the execution process.

Keywords: Freedom of locomotion. Dignity of human person. Atypical measures.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 8
2 DOS PRINCÍPIOS INSERIDOS NO PROCESSO CIVIL .......................................... 12
2.1 DO CONCEITO DE PRINCÍPIO .................................................................................... 12
2.1.1 Princípio do devido processo legal ............................................................................. 13
2.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana................................................................ 14
2.1.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa ........................................................... 16
2.1.4 Princípio da razoável duração do processo .............................................................. 17
2.1.5 Princípio da proporcionalidade ................................................................................. 18
2.1.6 Princípio da boa-fé executiva e processual ............................................................... 19
2.1.7 Princípio da patrimonialidade ................................................................................... 20
2.1.8 Princípio da efetividade da execução ou do resultado ............................................. 22
2.1.9 Princípio da menor onerosidade do devedor ............................................................ 23
2.1.10 Princípio da disponibilidade da execução ................................................................. 24
3 DO PROCESSO DE CONHECIMENTO, DA FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA E DA EXECUÇÃO .......................................................................................... 26
3.1 DO PROCESSO DE CONHECIMENTO ....................................................................... 26
3.2 DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ......................................................................... 28
3.3 DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ................................................................................. 30
3.4 ARTIGO 139, INCISO IV, DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015,
NAS AÇÕES PECUNIÁRIAS ................................................................................................. 34
4 APLICAÇÃO DAS MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO DE
EXECUÇÃO CÍVEL.............................................................................................................. 38
4.1 CONFLITO COM OS PRINCÍPIOS E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS ........ 38
4.1.1 Da corrente instrumentalista...................................................................................... 41
4.1.2 Da corrente garantista ................................................................................................ 42
5 DECISÕES JUDICIAIS ACERCA DO TEMA............................................................. 44
5.1 DECISÕES DESFAVORÁVEIS..................................................................................... 44
5.1.1 Agravo de Instrumento n. 5013406-28.2021.8.24.0000do Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina ...................................................................................................... 44
5.1.2 Agravo de Instrumento n. 4027792-51.2019.8.24.0000 do Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina ...................................................................................................... 45
5.1.3 Agravo de Instrumento n. 5035194-35.2020.8.24.0000 do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina ........................................................................................................................ 46
5.1.4 Recurso Especial n. 1.896.421 de São Paulo ............................................................. 47
5.1.5 Agravo de instrumento n. 5008994-88.2020.8.24.0000do Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina ...................................................................................................... 48
5.2 DECISÕES FAVORÁVEIS ............................................................................................ 49
5.2.1 Agravo de Instrumento n. 4031481-06.2019.8.24.0000 do Tribunal de Justiça do
Estado de Santa Catarina ...................................................................................................... 49
5.2.2 Agravos de Instrumento n. 70084002286e n. 70084444538do Tribunal de
Justiçado Estado do Rio Grande do Sul ............................................................................... 50
5.2.3 Agravo de Instrumento n. 4004189-12.2020.8.24.0000do Tribunal de Justiça
Catarinense ............................................................................................................................. 51
5.2.4 Habeas Corpus n. 711.194 do Superior Tribunal de Justiça ................................... 52
5.2.5 Agravo Interno no Recurso em Mandado de Segurança n. 62.210 do Estado de
Minas Gerais ........................................................................................................................... 54
5.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N. 5.941 DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL ........................................................................................................... 55
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61
8

1 INTRODUÇÃO

Não é novidade que, no âmbito do poder judiciário brasileiro, inúmeras são as


demandas que tem como finalidade a cobrança de dívidas não adimplidas voluntariamente
pelo devedor. No entanto, a sua grande maioria, em que pese a presença do poder estatal, não
são adimplidas, seja ao final do processo de conhecimento, na fase de cumprimento de
sentença, ou ainda, na execução de títulos.
Diante de tais razões, como forma de assegurar a efetividade da prestação
jurisdicional, o artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil, inovou ao conferir ao
magistrado o poder amplo e genérico de, na condução do processo, “determinar todas as
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária” (BRASIL, CPC, 2015).
Ocorre que, com fundamento no supracitado dispositivo legal, alguns
magistrados, como forma de efetivação ao cumprimento de decisões judiciais, vêm
determinando de forma polêmica a suspensão da carteira nacional de habilitação, o
cancelamento dos cartões de débito e de crédito e a apreensão do passaporte do
devedor/executado no âmbito das ações de cobrança, além de outras medidas atípicas, como,
por exemplo, a proibição de participar de concursos públicos e de licitações.
Ademais, cumpre registrar que, além de o magistrado ter o poder de determinar as
referidas medidas, não previstas em Lei, de ofício, ou seja, sem a necessidade de qualquer
provocação da parte autora, o supracitado dispositivo legal não é regulado por qualquer outro
que expressamente determine o alcance de sua aplicação.
Logo, se mostra necessária a análise sobre o eventual conflito desse poder amplo e
genérico conferido ao magistrado em face dos princípios e das garantias fundamentais,
assegurados pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, sobretudo o direito
de liberdade de locomoção, previsto no artigo 5º, inciso XV, do referido Códex (BRASIL,
CRFB, 1988).
Diz-se isso, porque, além dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais
divergentes, o presente tema, desde a entrada em vigor do Código de Processo Civil, em 2015,
vem sendo foco de grandes debates entre operadores do Direito, pois, de um lado, há os que
defendem a inconstitucionalidade do dispositivo, e de outro, aqueles que afirmam que os
direitos e garantias previstos na Carta Magna não devem ser tratados como absolutos
(BRASIL, CPC, 2015).
9

Aqueles que defendem a inconstitucionalidade, no entanto, afirmam que a


determinação da suspensão da carteira nacional de habilitação, do cancelamento dos cartões
de débito e de crédito e da apreensão do passaporte do devedor/executado no âmbito das
ações de cobrança se trata de medida desproporcional e irrazoável, tendo em vista que, além
de não efetivar o cumprimento da decisão judicial, pune diretamente a pessoa do devedor e
não o seu patrimônio, ao mitigar seu direito de liberdade e de locomoção, ferindo o princípio
da dignidade da pessoa humana.
Como é sabido, a Constituição Federal de 1988 tem, dentre seus fundamentos
jurídicos e valores constitucionais da República Federativa do Brasil, o princípio da dignidade
da pessoa humana, presente no inciso III do artigo 1º, o qual garante a todos os indivíduos um
tratamento digno e de igualdade (BRASIL, CRFB, 1988).
Em corolário, o direito de locomoção, expressamente previsto no artigo 5º, inciso
XV, da Constituição Federal de 1988, garante que “é livre a locomoção no território nacional
em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele
sair com seus bens” (BRASIL, CRFB, 1988).
Outrossim, ainda do ponto de vista da inconstitucionalidade, tal corrente invoca o
artigo 805 do Novo Código de Processo Civil, por meio do qual se preceitua que deve
prevalecer o princípio da menor onerosidade ao devedor.
Portanto, de acordo com Marcus Vinicius Rios Gonçalves, segundo o supracitado
dispositivo legal, “o juiz deve conduzir o processo em busca da satisfação do credor, sem
ônus desnecessários ao devedor, cabendo a este quando invocar o art. 805, indicar outros
meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já
determinados” (2020, p. 1140).
Desse modo, de acordo com o entendimento daqueles que defendem a
inaplicabilidade e a inconstitucionalidade das medidas, a determinação de suspensão da
carteira nacional de habilitação, de cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da
apreensão do passaporte, além de não garantir a efetividade das decisões judiciais, mitigam os
direitos de liberdade e de locomoção do devedor e, consequentemente, ferem o princípio da
dignidade da pessoa humana, direitos e garantias presentes na Carta Magna de 1988.
Portanto, verifica-se que tais medidas, do ponto de vista daqueles que defendem a
inaplicabilidade e a inconstitucionalidade do dispositivo legal, além de não serem úteis ao
resultado do processo, não são proporcionais e razoáveis, na medida em que violam direitos
do devedor, inclusive, de índole constitucional, como a liberdade de locomoção e a dignidade
da pessoa humana.
10

Afinal, de acordo com aqueles que defendem a inaplicabilidade do dispositivo, em


que pese, nos termos do artigo 4º do Novo Código de Processo Civil, as partes terem o direito
de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, o magistrado, ao aplicar o
ordenamento jurídico, deve atender aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência, de acordo com o
artigo 8º do referido Códex (BRASIL, NCPC, 2015).
Por outro lado, aqueles que defendem a legalidade das referidas medidas, afirmam
que os princípios e as garantias constitucionais, tais como a liberdade de locomoção, não
devem ser considerados como absolutos, razão pela qual a determinação de suspensão da
Carteira Nacional de Habilitação, assim como a de cancelamento dos cartões de débito e de
crédito e de apreensão do passaporte do devedor é por eles considerada aplicável e
constitucional.
Logo, conforme leciona Sofia Dontos, “para alguns autores, toda e qualquer
restrição que não incida exclusivamente sobre o patrimônio do devedor será inconstitucional.
Para outros, a previsão é constitucional e consiste em meio hábil a resolver a problemática da
efetivação da tutela jurisdicional” (2018, p. 1).
Registra-se, ademais, que tramita no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 5.941, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), visando a declaração de inconstitucionalidade do artigo 139, inciso IV,
assim como do artigo 297, do artigo 390, parágrafo único, do artigo 400, parágrafo único, do
artigo 403, parágrafo único, do artigo 536, caput, e § 1º, e do artigo 773, todos do Código de
Processo Civil de 2015.
Isso porque, segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), parte autora da referida
ação, os supracitados dispositivos legais violam garantias constitucionais dos devedores,
como por exemplo o direito à liberdade de locomoção, previsto no artigo 5°, inciso XV, da
Constituição Federal de 1988, e, consequentemente, o princípio da dignidade da pessoa
humana.
Diante de tais razões, sobretudo no que toca as divergências doutrinárias e as
jurisprudenciais, mostra-se de suma importância a análise acerca da aplicabilidade e da
efetividade das medidas atípicas determinadas no âmbito das ações de cobrança, com fulcro
no supracitado dispositivo legal.
Para tanto, no decorrer do primeiro capítulo, identificamos os princípios
constitucionais inseridos no ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo relacionados ao
11

processo de execução e ao cumprimento de sentença, tais como o princípio do devido


processo legal, da dignidade da pessoa humana, da legalidade, da proporcionalidade e o da
boa-fé executiva e processual.
Já no segundo capítulo, analisamos o artigo 139, inciso IV, do Código de Processo
Civil, especialmente, em relação aos poderes conferidos ao magistrado, como a possibilidade
de suspensão da carteira nacional de habilitação, o cancelamento dos cartões de débito e de
crédito e a apreensão do passaporte do devedor em ações de cobrança, e após, avaliamos se
são feridos princípios e garantias assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro ao
determinar-se as supracitadas medidas e, caso positivo, identificaremos quais são eles.
No terceiro capítulo discorreu-se sobre os limites das medidas conferidas ao
magistrado como forma de garantir a efetividade do cumprimento da ordem judicial e se tais
medidas são de fato imprescindíveis para o cumprimento da ordem judicial e, caso negativo,
por quais poderiam ser substituídas para o alcance do fim almejado, sem que houvesse
desrespeito aos princípios e garantias constitucionais.
No quarto capítulo foram analisadas decisões proferidas pelos Tribunais de Justiça
Brasileiros acerca da (in)aplicabilidade das medidas de suspensão da carteira nacional de
habilitação, de cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da apreensão do passaporte
do devedor em ações de cobrança, com fundamento no artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil de 2015.
12

2 DOS PRINCÍPIOS INSERIDOS NO PROCESSO CIVIL

O presente capítulo, conforme mencionado anteriormente, tem como finalidade


analisar alguns dos princípios constitucionais e infraconstitucionais inseridos no direito
processual civil, e, em especial, no direito processual executório, bem como observar se as
medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil, estão de
acordo com o teor dos referidos princípios.
Para tanto, este capítulo foi dividido em dez subtítulos, e em cada um
realizaremos a análise de um princípio, a saber: (a) princípio do devido processo legal; (b)
princípio da dignidade da pessoa humana; (c)princípio da legalidade; (d) princípio do
contraditório e da ampla defesa; (e) princípio da razoável duração do processo; (f) princípio
da proporcionalidade; (g) princípio da boa-fé executiva processual; (h) princípio da
patrimonialidade; (i) princípio da efetividade da execução ou do resultado; (j) princípio da
menor onerosidade ao devedor; e (k) princípio da disponibilidade da execução.
Isso porque, embora existam outros princípios aplicáveis ao processo civil, os
acima citados estão relacionados com a aplicação das medidas atípicas previstas no artigo
139, inciso IV, do Código de Processo Civil, de forma congruente ou não, conforme
analisaremos no decorrer do presente capítulo.

2.1 DO CONCEITO DE PRINCÍPIO

Inicialmente, cumpre registrar que, nos termos do artigo 1º do Código de Processo


Civil de 2015, há subordinação das suas disposições em relação às dispostas na Constituição
Federal Brasileira, de 1988, tendo em vista que dispõe expressamente que o processo civil
será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, CPC, 2015).
Portanto, do referido dispositivo legal, extrai-se que o operador do Direito deve se
ater não só às normas e aos fundamentos expressamente previstos no Código de Processo
Civil, mas também aos previstos na Carta Magna, sobretudo, tendo como vetor das suas
decisões e parâmetros, os valores fundamentais, que, na Constituição Federal Brasileira de
1988, também estão representados pelos princípios constitucionais.
Os princípios, desse modo, são vetores que devem ser observados, tanto na
criação como também na aplicação de determinada norma, processual ou não, pelos
operadores do Direito, com a finalidade de assegurar que os direitos e as garantias sejam
13

respeitados na forma como estipulados, seja no dia a dia da sociedade, ou, ainda, no âmbito
do processo (DONIZETTI, 2019, p. 122).
Assim, os princípios são diretrizes gerais de todo o ordenamento jurídico
brasileiro, na medida que servem como vetores aos operadores do Direito, seja ao
fundamentar, ou, ainda, ao interpretar as demais normas previstas no ordenamento. Cumpre
registrar, outrossim, que os princípios se originam nos aspectos políticos, econômicos e
sociais da sociedade em que criados, tais como as demais fontes do ordenamento jurídico
correspondente, ou seja, são criados também com a finalidade de adequar a vida em
sociedade, seja no âmbito individual ou coletivo (DONIZETTI, 2019, p. 122).
Ainda, conforme ensina Veras, os princípios são “um enunciado que ocupa uma
posição de supremacia que vincula o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que
com eles estão interligados, e corresponde ao alicerce do sistema jurídico.” (2015, p. 11)
Portanto, considerando a importância da observância dos princípios
constitucionais e infraconstitucionais no dia a dia do poder judiciário brasileiro, demonstrada
está a necessidade da análise dos princípios aplicáveis ao Direito Processual Civil no presente
trabalho, sobretudo os aplicáveis nas demandas que tem como finalidade a cobrança de
dívidas.

2.1.1 Princípio do devido processo legal

Embora não esteja expressamente previsto no Código de Processo Civil de 2015,


o princípio do devido processo legal, também conhecido como princípio da legalidade, está
expressamente previsto no inciso LIV do artigo 5º da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, segundo o qual “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal” (BRASIL, CRFB, 1988).
Tal princípio é considerado como o postulado fundamental do processo, na
medida em que dele se originam e convergem todos os demais princípios e garantias
fundamentais processuais, tacitamente ou expressamente previstos no ordenamento jurídico
brasileiro. No entanto, o princípio do devido processo legal incide não só no processo, mas
também em toda e em qualquer atuação do poder estatal, e, ainda, na relação privada, isto é,
entre particulares (DONIZETTI, 2019, p. 126).
Portanto, o princípio do devido processo legal, conforme se extrai do supracitado
dispositivo legal, se aplica em todos os ramos do Direito, seja no âmbito penal, no
administrativo, no civil, ou, ainda, no tributário, entre outros. Tal princípio garante, em suma,
14

que ninguém será punido sem a observância do que está disposto na Lei, sejam direitos ou
obrigações impostas.
No mesmo sentido, acerca do princípio do devido processo legal, Gilmar Ferreira
Mendes e Paulo Gomes Branco ensinam que:

A ideia expressa no dispositivo é a de que somente a lei pode criar regras jurídicas
(Rechtsgesetze), no sentido de interferir na esfera jurídica dos indivíduos de forma
inovadora. Toda novidade modificativa do ordenamento jurídico está reservada à lei.
É inegável, nesse sentido, o conteúdo material da expressão “em virtude de lei” na
Constituição de 1988. A lei é a regra de direito (Rechtssatz) ou norma jurídica
(Rechtsnorm) que tem por objeto a condição jurídica dos cidadãos, ou seja, que é
capaz de interferir na esfera jurídica dos indivíduos, criando direitos e obrigações. A
lei deve ser igualmente geral e abstrata, uma disposição normativa válida em face de
todos os indivíduos (de forma impessoal) e que regule todos os casos que nela se
subsumam no presente e no futuro. Trata-se também de um conceito material de lei
como ratio e ethos do Estado de Direito, que leva em conta o conteúdo e a finalidade
do ato legislativo, sua conformidade a princípios e valores compartilhados em
sociedade, assim fortalecendo o necessário liame entre legalidade e legitimidade
(Mendes; Branco, 2021, p. 451).

Portanto, verifica-se que é observando o referido princípio, inclusive, que os


magistrados têm o poder de aplicar as medidas atípicas conferidas pelo artigo 139 do Código
de Processo Civil, tendo em vista que tal poder é expressamente conferido pela Lei, não
havendo que se falar em ofensa ao princípio do devido processo legal ou ao princípio da
legalidade.

2.1.2 Princípio da dignidade da pessoa humana

O princípio da dignidade da pessoa humana, expressamente presente no artigo 1º,


inciso III, da Constituição da República Federativa de 1988, diz respeito ao dever de o poder
estatal garantir ao cidadão, o respeito e as condições mínimas de sobrevivência, tratando
igualitariamente todos os indivíduos, sem distinção de qualquer natureza (BRASIL, CRFB,
1988).
De acordo com Barroso, o princípio da dignidade da pessoa humana constitui
parte dos direitos fundamentais, na medida em que funciona como fundamento normativo
para a a sua constituição, in verbis:

A dignidade humana é um valor fundamental. Valores, sejam políticos ou morais,


ingressam no mundo do Direito, assumindo, usualmente, a forma de princípios. A
dignidade, portanto, é um princípio jurídico de status constitucional. Como valor e
como princípio, a dignidade humana funciona tanto como justificação moral quanto
como fundamento normativo para os direitos fundamentais. Na verdade, ela
constitui parte do conteúdo dos direitos fundamentais (2020, p. 245).
15

Nesse sentido, extrai-se decisão do Egrégio Tribunal de Justiça catarinense,


decisão em que, observando-se o princípio da dignidade da pessoa humana, determinou-se a
manutenção da decisão que indeferiu o pedido de suspensão da carteira nacional de
habilitação do devedor, registrando-se que o mau uso do processo de execução deve ser
coibido, assim como a adoção de medidas coercitivas voltadas apenas contra a pessoa do
executado, in verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO - CNH.
PROVIDÊNCIA RECLAMADA QUE REFOGE À FINALIDADE DO
PROCESSO DE EXECUÇÃO: A SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO PELA
EXPROPRIAÇÃO DO PATRIMÔNIO DO EXECUTADO. ARTIGOS 789 E 824,
AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. MAU USO DO
PROCESSO DE EXECUÇÃO QUE DEVE SER COIBIDO, A TANTO
EQUIVALENDO A ADOÇÃO DE MEDIDA
COERCITIVA VOLTADA APENAS CONTRA A PESSOA DO EXECUTADO,
AO ARREPIO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
(ARTIGO 1º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). PRECEDENTES
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DA CÂMARA. RECURSO
DESPROVIDO. (SANTA CATARINA, TJSC, 2020a).

No mesmo sentido, colhe-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. DECISÃO SINGULAR QUE INDEFERIU PEDIDO DA
EXEQUENTE PARA SUSPENDER A CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO DO EXECUTADO. RECURSO DA EXEQUENTE. PLEITO
DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH).
MEDIDA QUE SE MOSTRA INADEQUADA PARA COMPELIR O DEVEDOR
AO PAGAMENTO DO DÉBITO. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE
LOCOMOÇÃO. ART. 5º, XV, da Constituição Federal. PRECEDENTES DESTA
CORTE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
"Na espécie, o requerimento de suspensão da carteira nacional de habilitação colide
com o princípio maior da dignidade da pessoa humana, vez que limita a prerrogativa
de livre locomoção, direito constitucionalmente assegurado (CRFB/1988, art. 5º,
XV). Ademais, a medida mostra-se incompatível com a natureza da obrigação
exigida (oriunda de dívida inadimplida representada por instrumento de cédula de
crédito bancário - empréstimo), a qual haveria de ser saldada por intermédio do
patrimônio do devedor, nos moldes do art. 789 do Diploma Processual"
(TJSC, Agravo de Instrumento n. 4031788-91.2018.8.24.0000, de Tubarão, rel. Des.
Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 12.2.2019). (SANTA
CATARINA, TJSC, 2019a).

Portanto, dos citados julgados, se extrai que, o magistrado deve observar, além
dos demais princípios aplicáveis ao caso concreto, o princípio da dignidade da pessoa
humana, de modo a assegurar o direito à liberdade de locomoção, assegurado pela
Constituição Federal de 1988.
16

2.1.3 Princípio do contraditório e da ampla defesa

O princípio do contraditório da ampla defesa está expressamente previsto no


artigo 7º do Código de Processo Civil, o qual preceitua que “é assegurada às partes paridade
de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar
pelo efetivo contraditório” (BRASIL, CPC, 2015).
No entanto, embora a regra seja que não será proferida decisão contra uma das
partes sem que ela seja previamente ouvida, tal previsão não é aplicada em relação à tutela
provisória de urgência, à tutela da evidência quando as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos
repetitivos ou em súmula vinculante, assim como quando se tratar de tutela da evidência de
pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, e,
ainda, em relação à decisão de expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou
para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, quando evidente o direito do autor, nos
termos do parágrafo único do artigo 9º do Código de Processo Civil (BRASIL, CPC, 2015).
No mesmo sentido, segundo o artigo 10 daquele Códex, “o Juiz não pode decidir,
em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado
às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício” (BRASIL, CPC, 2015).
Segundo Pedro Lenza, em observância ao princípio do contraditório e da ampla
defesa, o magistrado deve dar ciência aos réus da existência do processo, de tudo o que nele
acontece, e a de permitir-lhes que se manifestem, com a finalidade de apresentar as suas
razões, proporcionando, assim, condições adequadas para se manifestar, isto é, se defender, in
verbis:

Do contraditório resultam duas exigências: a de se dar ciência aos réus, executados e


interessados, da existência do processo, e aos litigantes de tudo o que nele se passa;
e a de permitir-lhes que se manifestem, que apresentem suas razões, que se oponham
à pretensão do adversário. O juiz tem de ouvir aquilo que os participantes do
processo têm a dizer, e, para tanto, é preciso dar-lhes oportunidade de se manifestar
e ciência do que se passa, pois, sem tal conhecimento, não terão condições
adequadas para se manifestar (2020, p. 1140).

Diante disso, conclui-se que o princípio do contraditório não é um princípio


específico do processo de execução, mas também se aplica aos processos em geral, em todos
os âmbitos, seja no Direito Civil, ou, ainda, no Direito Penal, de modo a assegurar que o réu
17

tenha ciência de todo o processo e que, assim, possa se defender como bem entender e lhe
convier.

2.1.4 Princípio da razoável duração do processo

O princípio da razoável duração do processo tem previsão expressa no inciso


LXXVIII do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o qual
dispõe que: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, CRFB,
1988).
No mesmo sentido que dispõe a Constituição da República Federativa do Brasil, o
artigo 4º do Código de Processo Civil, preceitua que: “as partes têm o direito de obter em
prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” (BRASIL, CPC,
2015).
E, ainda, o artigo 6º do Código de Processo Civil, acerca do princípio da razoável
duração do processo, preceitua que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si
para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva” (BRASIL, CPC,
2015).
Tais dispositivos, em síntese, visam conferir às partes a celeridade nas demandas,
judiciais ou extrajudiciais. No entanto, é de conhecimento comum que esse é justamente um
dos problemas mais recorrentes no dia a dia da justiça brasileira. Os julgamentos, em regra,
são demorados, e por isso, nem sempre, o resultado do processo é eficaz e satisfatório às
partes, o que faz com que as determinações de tais dispositivos se tornem verdadeira utopia.
Não se desconhece que, com o passar dos anos, foram realizadas alterações e
acréscimos na legislação, sobretudo, com a finalidade de alcançar uma solução rápida para os
conflitos, como, por exemplo, os poderes conferidos aos magistrados pelo artigo 139 do
Código do Processo Civil, contudo, ainda assim a celeridade no julgamento das demandas
ainda é um objetivo a ser alcançado.
Aliás, de acordo com o doutrinador Donizetti, dentre as medidas criadas para dar
maior celeridade às demandas e torná-las eficiente, podem ser citadas “[...] a extensão dos
casos em que cabe a concessão de tutelas de urgência, a possibilidade de solução concentrada
de casos idênticos e repetitivos, as súmulas vinculantes, a adoção de meios eletrônicos no
processo, a redução do número de recursos cabíveis” (2019, p. 139).
18

No entanto, sabe-se que o princípio da razoável duração do processo se aplica não


só aos juízes, que, no exercício de suas atividades, devem diligenciar para que o processo
tenha uma solução rápida, mas, em primeiro lugar, ao legislador, que deve editar leis que
acelerem o andamento dos processos, e, em segundo lugar, ao administrador, que deve zelar
pela manutenção adequada dos órgãos judiciários, aparelhando-os (DONIZETTI, 2019, p.
139).
Portanto, tanto o julgador, como o legislador e o administrador devem,
observando o princípio da razoável duração do processo, adotar medidas com a finalidade de
buscar os melhores resultados possíveis, com a maior celeridade e economia de esforços,
despesas e tempo (DONIZETTI, 2019, p. 139).
Nesse sentido, inclusive, colhe-se a seguinte decisão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL -


RESTRIÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO - UTILIZAÇÃO DO
RENAJUD - INDEFERIMENTO - PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO -
INCIDÊNCIA OBRIGATÓRIA - EFETIVIDADE DO PROCESSO -
OBSERVÂNCIA NECESSÁRIA - REFORMA DO DECISUM
"A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que incumbe ao
Poder Judiciário promover a razoável duração do processo em consonância com o
princípio da cooperação processual, além de impor medidas necessárias para a
solução satisfativa do feito (arts. 4º, 6º e 139, IV, todos do CPC/2015), mediante a
utilização de sistemas informatizados (sistemas Bacenjud, Renajud, Infojud,
Serasajud etc.) ou a expedição de ofício para as consultas e constrições necessárias e
suficientes" (REsp 1820838/RS, Min. Francisco Falcão). (SANTA CATARINA,
TJSC, 2022a).

Diante de tais razões, conclui-se que o princípio da razoável duração do processo


tem como finalidade não só conferir maior celeridade às demandas, judiciais ou extrajudiciais,
mas também tem ligação direta com o princípio da efetividade do processo, na medida em que
a observância da duração razoável é necessária para que ele seja eficiente e proteja os direitos
das partes.

2.1.5 Princípio da proporcionalidade

O princípio da proporcionalidade está previsto no artigo 8º do Código de Processo


Civil de 2015, o qual preceitua que “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da
pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade
e a eficiência” (BRASIL, CPC, 2015).
Conforme ensina Donizetti, o princípio da proporcionalidade, embora muitas
vezes tratado como sinônimo do princípio da razoabilidade, tem maior amplitude que aquele e
19

possui três sub-regras, quais sejam a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em


sentido estrito, in verbis:

A adequação assemelha-se à razoabilidade, ao passo que possui relação de causa e


efeito entre os objetivos e os meios utilizados para alcançá-lo. Será considerada
adequada a medida processual que fomentar a realização do fim almejado, ou seja,
que seja indispensável para o caso concreto.
A necessidade relaciona-se com o meio menos lesivo para se atingir o objetivo
pretendido. Na análise acerca da necessidade de determinada medida processual,
deve-se indagar sobre a existência de outra medida igualmente eficaz, mas com
efeitos menos gravosos para as partes e para o processo.
A análise da terceira sub-regra – proporcionalidade em sentido estrito – consiste em
uma ponderação entre os interesses envolvidos. Para que uma medida seja
considerada proporcional (em sentido estrito), os motivos que a fundamentam
devem superar a restrição imposta. Aqui se pode falar em “máxima efetividade e
mínima restrição” (2019, p. 139).

Ademais, vale ressaltar que, segundo os ensinamentos de Pedro Lenza, “o juiz


deve valer-se do princípio da proporcionalidade, sopesando as consequências que advirão do
deferimento ou do indeferimento da medida” (2021, p. 606). Ou seja, o magistrado sempre
deve analisar as particularidades do caso concreto, sobretudo, as consequências resultantes da
sua decisão, com a finalidade de concluir se a medida é proporcional ou não à consequência
advinda com a sua decisão.
Portanto, verifica-se que o princípio da proporcionalidade serve como parâmetro
aos magistrados, que, no julgamento das demandas, deverão, sempre, verificar se as medidas
e as decisões tomadas para proteger o direito do autor são proporcionais e razoáveis às
consequências causadas ao devedor.
É esse o ponto, inclusive, de debate entre os operadores do Direito, quando se
discute a proporcionalidade da mitigação do direito de locomoção em contrapartida ao direito
de ver a dívida adimplida, quando aplicadas medidas atípicas com fulcro no artigo 139 do
Código de Processo Civil.

2.1.6 Princípio da boa-fé executiva e processual

O princípio da boa-fé executiva e processual tem ligação com a honestidade e a


ética, de modo que os sujeitos do processo tenham conduta leal e que vise a solução do
conflito de forma célere e eficaz, observando os demais princípios aplicáveis ao direito
processual civil, sobretudo, à execução.
Nesse sentido, de acordo com o artigo 5º do Código de Processo Civil de 2015,
“aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-
fé”. E, ainda, observando-se o referido princípio, de acordo com o artigo 79 do Código de
20

Processo Civil, responderá por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou
interveniente (BRASIL, CPC, 2015).
Conforme ensina Donizetti, os deveres de boa-fé e de lealdade processual “[...]são
inerentes a todos aqueles que influenciam na condução do processo: magistrados, membros do
Ministério Público, partes, advogados, peritos, serventuários da justiça e testemunhas” (2019,
p. 271).
Dessa maneira, poderá o magistrado, com fundamento nos incisos do artigo 80 do
Código de Processo Civil, constatar a má-fé daquele que (a) deduzir pretensão ou defesa
contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; (b) alterar a verdade dos fatos; (c) usar do
processo para conseguir objetivo ilegal; (d) opuser resistência injustificada ao andamento do
processo; (e) proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; (f)
provocar incidente manifestamente infundado; e (g) interpuser recurso com intuito
manifestamente protelatório (BRASIL, CPC, 2015).
Constatando-se os mencionados atos de má-fé, como forma de punir a parte que
agiu de forma desleal, e com fulcro no artigo 81 do Código de Processo Civil, o magistrado
poderá adotar a seguinte medida:

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar


multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor
corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a
arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou
(BRASIL, CPC, 2015).

Portanto, verifica-se que o princípio da boa-fé executiva e processual diz respeito


ao dever de todas as partes do processo em agir de modo a buscar a solução do conflito de
forma célere e eficaz, deixando de adotar as condutas mencionadas nos incisos do artigo 80
do Código de Processo Civil.
Ressalta-se, inclusive, que, ao verificar que o credor age inobservando o princípio
da boa-fé, o magistrado poderá utilizar tal fato como fundamento para aplicar as medidas
atípicas possibilitadas pelo artigo 139 do Código de Processo Civil, com a finalidade de
garantir a satisfação da dívida.

2.1.7 Princípio da patrimonialidade

O princípio da patrimonialidade ou da responsabilidade patrimonial está


expressamente previsto no artigo 789 do Código de Processo Civil, segundo o qual, salvo as
21

restrições previstas em Lei, o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações (BRASIL, CPC, 2015).
Nesse sentido, o artigo 790 do Código de Processo Civil elenca os bens passíveis
de execução, a saber:

Art. 790. São sujeitos à execução os bens:


I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou
obrigação reipersecutória;
II - do sócio, nos termos da lei;
III - do devedor, ainda que em poder de terceiros;
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua
meação respondem pela dívida;
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do
reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores;
VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica
(BRASIL, CPC, 2015).

Assim, segundo o princípio da patrimonialidade, em regra, a execução será


sempre real, incidindo exclusivamente sobre o patrimônio do executado, e não em relação à
pessoa do devedor (DONIZETTI, 2019, p. 140).
Não se desconhece que, de acordo com o artigo 911 do Código de Processo Civil,
nos casos de não pagamento injustificado de pensão alimentícia, a prisão pode ser adotada
como meio de coerção do devedor (BRASIL, CPC, 2015).
No entanto, mesmo no caso de decretação de prisão em razão da inadimplência da
prestação alimentícia, não se pode falar em execução pessoal, tanto que o cumprimento da
pena não exime o devedor do pagamento da prestação ou o equivalente em dinheiro, seja das
obrigações vencidas ou das vincendas, conforme preceitua o artigo 528, § 5º, do Código de
Processo Civil (DONIZETTI, 2019, p. 140).
Nesse sentido, extrai-se do Tribunal de Justiça Catarinense decisão em que foi
reformada a decisão que indeferiu a concessão de medidas atípicas, como forma de garantir a
efetividade das decisões judiciais, para determinar a suspensão da Carteira Nacional de
Habilitação do devedor de alimentos, tendo em vista que comprovado o esgotamento dos
meios menos gravosos para cobrança da dívida:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


DECISÃO QUE INDEFERIU A SUSPENSÃO/APREENSÃO DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH) DO DEVEDOR. INSURGÊNCIA DA
CREDORA. PLEITO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO (CNH) DO DEVEDOR. ACOLHIMENTO. COMPROVADO O
ESGOTAMENTO DOS MEIOS MENOS GRAVOSOS PARA COBRANÇA DA
DÍVIDA. FIXAÇÃO DA MEDIDA COERCITIVA ATÍPICA QUE SE FAZ
NECESSÁRIA PARA GARANTIR A EFETIVIDADE DAS DECISÕES
JUDICIAIS. OBJETIVO DE COMPELIR O EXECUTADO A ADIMPLIR O
DÉBITO ALIMENTÍCIO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO
22

INTEGRAL. EXEGESE DO ART. 139, IV, DO CPC. DECISÃO REFORMADA.


No que se refere ao processo de execução, "pode o magistrado, assim, em vista do
princípio da atipicidade dos meios executivos, adotar medidas coercitivas indiretas
para induzir o executado a, de forma voluntária, ainda que não espontânea, cumprir
com o direito que lhe é exigido".
(RHC 99.606/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 13-11-
2018, DJe 20-11-2018). RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (SANTA
CATARINA, TJSC, 2020b).

Portanto, conclui-se que, de acordo com o princípio da patrimonialidade, em


regra, a execução incidirá exclusivamente sobre o patrimônio do executado, e não em relação
à pessoa do devedor.
É nesse sentido que Ribeiro ensina que “se a execução, de fato, é instaurada em
benefício do credor, é certo, também, que a atividade estatal recai sobre o patrimônio do
devedor, que por sua vez representa a garantia de satisfação do crédito” (2019, p. 475).
No entanto, verificando-se que o devedor age de má-fé, que se furta de todas as
maneiras ao cumprimento da obrigação, deve o magistrado condutor do processo de execução
adotar medidas coercitivas indiretas para induzir o executado a, de forma voluntária, ainda
que não espontânea, cumprir com o direito exigido, como, por exemplo, com a adoção das
medidas atípicas possibilitadas pelo artigo 139 do Código de Processo Civil.

2.1.8 Princípio da efetividade da execução ou do resultado

O princípio da efetividade da execução ou do resultado diz respeito, como o


próprio nome diz, à busca pela eficácia do processo, de modo a garantir ao detentor do direito
a satisfação da sua pretensão por meio do poder estatal. Contudo, acerca do referido princípio,
Elpídio Donizetti ensina que:

Embora se deva garantir ao credor tudo aquilo a que tem direito, nem sempre isso se
faz possível. Nas obrigações de fazer e não fazer, por exemplo, há um limite à
execução, segundo o qual ninguém pode ser coagido a prestar um fato; vale dizer,
por meio de atos coercitivos, impele-se o cumprimento da obrigação pelo devedor,
porém, inobservada a determinação judicial, não pode o Estado compelir
materialmente o devedor à prática ou à abstenção do ato (2019, p. 1038).

No entanto, acerca do referido princípio, extrai-se do Tribunal de Justiça


Catarinense o seguinte julgado, em que, observando-se o princípio da menor onerosidade, e a
fim de evitar dano grave ao devedor, o princípio da efetividade da execução foi relativizado, a
fim de manter a decisão que indeferiu o pedido de substituição da penhora em dinheiro por
seguro garantia, sobretudo, em razão da capacidade econômico-financeira do autor da ação,
instituição bancária de grande porte, vejamos:
23

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO


QUE REJEITOU A OFERTA DA APÓLICE DE SEGURO PARA GARANTIA
DO JUÍZO. RECURSO DO EXECUTADO.
OFERECIMENTO DE SEGURO GARANTIA. INVIABILIDADE. CABIMENTO
APENAS EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS. PRECEDENTES DO STJ E DESTA
CORTE. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA DE GRANDE PORTE COM NOTÓRIA
CAPACIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA PARA ARCAR COM A
CONSTRIÇÃO EM DINHEIRO.
"O princípio da menor onerosidade da execução não é absoluto, devendo ser
observado em consonância com o princípio da efetividade da execução,
preservando-se o interesse do credor. [...] A substituição da penhora em dinheiro por
seguro garantia, admitida na lei processual (CPC/2015, art. 835, § 2º), não constitui
direito absoluto do devedor, devendo prevalecer, em princípio, a ordem legal de
preferência estabelecida no art. 835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973). [...] a
substituição da penhora em dinheiro por fiança bancária ou seguro garantia judicial
deve ser admitida apenas em hipóteses excepcionais, a fim de evitar dano grave ao
devedor" (STJ, AgInt no AREsp n. 1.281.694/SC, rel. Min. Raul Araújo, Quarta
Turma, j. 5-9-2019). RECURSO DESPROVIDO. (SANTA CATARINA, TJSC,
2022b).

Desse modo, pode-se concluir que o princípio da efetividade da execução ou do


resultado busca conferir eficácia às decisões judiciais, de modo a garantir a proteção do
direito do autor, de forma célere e justa. No entanto, tal princípio não é absoluto, devendo ser
sopesado, por exemplo, com o princípio da menor onerosidade, de modo a analisar a
proporcionalidade e a razoabilidade das consequências das decisões.

2.1.9 Princípio da menor onerosidade do devedor

O princípio da menor onerosidade do devedor está expressamente previsto no


artigo 805 do Código de Processo Civil, segundo o qual “quando por vários meios o
exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso
para o executado” (BRASIL, CPC, 2015).
Ainda em observância ao princípio da menor onerosidade do devedor, outrossim,
o parágrafo único do artigo 805 do Código de Processo Civil, “ao executado que alegar ser a
medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos
onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados” (BRASIL, CPC,
2015).
Exemplo da aplicação desse princípio é, por exemplo, encontrado no artigo 891
do Código de Processo Civil, o qual preceitua que é a proibida a arrematação dos bens do
executado por preço vil, isto é, inferior ao estipulado pelo magistrado.
Isso porque, embora, de fato, existam devedores que se furtam de todas as
maneiras ao cumprimento da obrigação, existem aqueles que deixam de adimplir a dívida
24

involuntariamente, que realmente não detém recursos suficientes para cumprir aquilo a que se
obrigou (DONIZETTI, 2015, p. 141).
Nesse sentido, inclusive, colhe-se do Egrégio Tribunal de Justiça Catarinense,
decisão em que, aplicando-se o princípio da menor onerosidade do devedor e da
proporcionalidade, reconheceu que a adoção de medidas atípicas, tais como a suspensão da
carteira nacional de habilitação do executado, é medida subsidiária, devendo ser determinada
quando o devedor possui bens capazes de responder pela dívida, mas envida manobras para
evadir-se de sua responsabilidade patrimonial, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO


INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERIU PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CNH DO
EXECUTADO. RECURSO DO EXEQUENTE. PRETENSÃO INVIÁVEL.
MEDIDA ALMEJADA QUE É EXCEPCIONAL, SOMENTE ADMITIDA
QUANDO O DEVEDOR POSSUI BENS CAPAZES DE RESPONDER PELA
DÍVIDA MAS ENVIDA MANOBRAS PARA EVADIR-SE DE SUA
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL, O QUE NÃO É O CASO DOS AUTOS.
AGRAVADO QUE, AO QUE TUDO INDICA, NÃO POSSUI BENS QUE
SIRVAM À SATISFAÇÃO INTEGRAL DO DÉBITO. SUSPENSÃO DA CNH
DO DEVEDOR QUE NÃO ALCANÇARIA O FIM PRETENDIDO PELA LEI E
ASSUMIRIA INDEVIDO CARÁTER PUNITIVO. OBSERVÂNCIA AO
PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA EXECUÇÃO. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A adoção de meios executivos atípicos é
cabível desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua
patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio
de decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese
concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da
proporcionalidade" (STJ, REsp 1782418/RJ, rela. Mina. Nancy Andrighi, Terceira
Turma, j. 23.04.2019) (SANTA CATARINA, TJSC, 2021a).

Assim, em observância ao princípio da menor onerosidade do devedor, embora o


processo executivo deva, de fato, atenderão direito do credor, também deve ser menos
oneroso e prejudicial ao devedor, quando, em verdade, se verificar que ele não possui meios
para adimplir a dívida (DONIZETTI, 2019, p. 141). Tal princípio, portanto, limita a tutela
jurisdicional, protegendo a pessoa do devedor.

2.1.10 Princípio da disponibilidade da execução

Segundo o princípio da disponibilidade da execução, o credor não é obrigado a


promover a execução do crédito do qual é titular e, uma vez instaurado o processo executivo,
poderá desistir da sua continuidade, ou de alguma medida.
É nesse sentido que, de acordo com o artigo 775 do Código de Processo Civil, “o
exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida
executiva”, mesmo após a apresentação de impugnação e a oposição de embargos que versem
25

apenas sobre questões processuais, e independentemente da aquiescência da outra parte


(BRASIL, CPC, 2015).
Aliás, em atenção ao princípio da disponibilidade da execução, colhe-se
jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em que foi confirmada a decisão que
extinguiu o cumprimento de sentença em razão da desistência do autor, registrando-se a
prescindibilidade da anuência do devedor, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESISTÊNCIA DA


EXEQUENTE. HOMOLOGAÇÃO DO PEDIDO E EXTINÇÃO DO FEITO,
ANTES DA INTIMAÇÃO DA PARTE ADVERSA, NOS TERMOS DO ART. 485,
VIII, DO CPC. INSURGÊNCIA DO EXECUTADO. RENÚNCIA DA CREDORA
AO DIREITO MATERIAL. INSUBSISTÊNCIA. DIREITO DE DESISTIR DE
TODA A EXECUÇÃO OU DE APENAS ALGUMA MEDIDA EXECUTIVA
QUE NÃO IMPLICA NA RENÚNCIA AO DIREITO SOBRE O QUAL SE
FUNDA A AÇÃO. EXEGESE DO ART. 775 DO CPC. RECURSO CONHECIDO
E DESPROVIDO. "Ao contrário do que ocorre na fase de conhecimento, que em
razão da pretensão resistida autor e réu têm interesse no deslinde do feito, na
execução o credor é o beneficiário dos atos processuais tendentes à satisfação do
direito declarado, salvo se o devedor apontar algum vício no título apresentado, ou
seja, impugnada a pretensão de direito material. No caso concreto, nem sequer
houve oposição de embargos. Por isso, pelo princípio da disponibilidade, a
desistência da execução pelo credor prescindiu da anuência do devedor" (REsp
1500489/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, j. 26/11/2019). (SANTA
CATARINA, TJSC, 2020c).

Diante disso, conclui-se que, de acordo com o princípio da disponibilidade da


execução, o credor, a qualquer tempo, poderá desistir de toda a execução ou de apenas alguma
medida executiva, e que somente será necessário o consentimento da parte contrária para a
desistência da execução ou do cumprimento de sentença nos casos em que houver sido
apresentada impugnação ao cumprimento ou embargos à execução, que versem sobre
questões materiais, e não processuais.
26

3 DO PROCESSO DE CONHECIMENTO, DA FASE DE CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA E DA EXECUÇÃO

O presente capítulo foi dividido em quatro subtítulos: inicialmente, discorreremos


acerca do processo de conhecimento, após, sobre o cumprimento de sentença e o processo de
execução, e, por fim, analisaremos as diferenças entre o cumprimento de sentença e o
processo de execução, bem como a aplicação do inciso IV do artigo 139 do Código de
Processo Civil de 2015.
Isso porque, como já dissemos alhures, não é novidade que, no âmbito do poder
judiciário brasileiro, inúmeras são as demandas que tem como finalidade a cobrança de
dívidas, mas que, em que pese a presença do poder estatal, não são adimplidas pelo devedor,
seja ao final do processo de conhecimento, na fase de cumprimento de sentença, ou ainda, na
execução de títulos.
Assim, identificaremos quais os limites das medidas conferidas ao magistrado
como forma de garantir a efetividade do cumprimento da ordem judicial e se tais medidas são
de fato imprescindíveis para o cumprimento da ordem judicial e, caso negativo, por quais
poderiam ser substituídas para o alcance do fim almejado, sem que houvesse desrespeito aos
princípios e garantias constitucionais.
Registra-se que a parte especial do Código de Processo Civil de 2015, que se
encontra logo após a parte geral, é dividida pela seguinte ordem: “Do processo de
conhecimento e do cumprimento de sentença”, que vai do artigo 318 ao artigo 770; “Do
processo de execução”, que vai ao artigo 771 ao artigo 925, e; por fim, “Dos processos nos
Tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais”, que, por sua vez, vai do artigo
926 ao artigo 1.044 do referido Códex.

3.1 DO PROCESSO DE CONHECIMENTO

O processo de conhecimento, ao contrário do processo de execução, é um


caminho procedimental utilizado, como o próprio nome diz, para garantir (reconhecer) a
certeza jurídica sobre situação juridicamente relevante. No processo de conhecimento,
portanto, o credor busca que o Poder Judiciário, observando o procedimento previsto na
legislação, reconheça a existência de uma dívida, tornando-a, de fato, exigível juridicamente
em face do devedor, ora requerido.
É nesse sentido que o doutrinador Gonçalves ensina que a controvérsia não
resolvida pelas próprias partes é levada ao Poder Judiciário, que, por sua vez, após o regular
27

trâmite processual, e por meio do magistrado, dirá o direito, decidindo de qual lado está a
razão, se com a parte autora ou a parte ré, vejamos:

[...] o processo de conhecimento, ao qual o Código de Processo Civil dedica o Livro


I da Parte Especial, visa à aplicação do direito ao fato concreto. Isto é, visa dizer o
direito, indicando qual dos litigantes tem razão. Pressupõe a existência de uma
controvérsia, não dirimida entre os próprios envolvidos e que é levada a juízo por
algum deles. O juiz, depois de ouvir os interessados, e de observar o procedimento
estabelecido em lei, dirá o direito, aplicando-o ao caso concreto (2018, p. 16).

No caso da cobrança de dívidas, portanto, o autor da ação, ora credor, deve


ingressar com a ação e comprovar a existência da dívida, caso em que, se comprovada, o
magistrado, ao final, declarará se a razão está com o autor ou com o demandado,
reconhecendo ou não a exigibilidade da cobrança pretendida.
Isto é, o credor deve provocar a prestação jurisdicional, rompendo a inércia do
poder jurisdicional, e, no decorrer da marcha processual prevista em Lei, comprovar, seja por
meio de prova documental, ou ainda, por meio de prova testemunhal, a existência da dívida
feita pelo devedor.
Afinal, conforme preceitua o artigo 2º do Código de Processo Civil de 2015, "o
processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções
previstas em lei”, isto é, deve romper a inércia estatal (BRASIL, CPC, 2015).
Salienta-se que a petição inicial a ser apresentada pela parte autora, ora credora,
por óbvio, além de conter os documentos indispensáveis à propositura da ação, deverá
preencher os requisitos previstos no rol presente no artigo 319 do Código de Processo Civil de
2015, que diz:

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão,
o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de
mediação (BRASIL, CPC, 2015).

Registra-se que o processo de conhecimento que nos interessa é o de natureza


condenatória, o qual pode ter como finalidade reconhecer a obrigação de pagar determinada
quantia, ou de entregar coisa certa ou incerta, ou de cumprir obrigação de fazer ou não fazer,
que não foi cumprida de forma voluntária pelo devedor (GONÇALVES, 2018, p. 18).
28

Afinal, segundo Gonçalves, no processo de conhecimento de natureza


condenatória o autor ingressa com uma ação que tem como finalidade impor uma obrigação
ao requerido, que, por sua vez, caso comprovado que deveria e não a adimpliu a de forma
voluntária, será condenado a cumprir a obrigação devida, in verbis:

Há casos em que o processo tem natureza condenatória, nos quais o autor formula
uma pretensão de impor ao réu uma obrigação, que ele deveria ter satisfeito
voluntariamente, mas não satisfez e não quer satisfazer. A obrigação pode ser de
pagar determinada quantia, ou de entregar coisa certa ou incerta, ou de cumprir
obrigação de fazer ou não fazer. Nesse caso, a satisfação do credor não decorre
automaticamente da prolação da decisão definitiva, pois é preciso que o devedor
cumpra a ordem nela contida. Enquanto não há o cumprimento pelo devedor, a
obrigação remanesce insatisfeita. Se o devedor cumpre voluntariamente a sua
obrigação, não será preciso prosseguir, nem sequer terá início a fase de cumprimento
de sentença. Mas, se ele não o faz, é preciso solicitar ainda a intervenção do
Judiciário para que faça valer, para que torne concreto, aquilo que consta da decisão
judicial. Com isso, terá início a fase de cumprimento de sentença (2018, p.18).

Ao final do processo de conhecimento, portanto, caso o magistrado julgar


procedente o pedido do autor, reconhecendo a obrigação do demandado de pagar determinada
quantia, ou de entregar coisa certa ou incerta, ou de cumprir obrigação de fazer ou não fazer,
surgirá um título judicial, que, caso não cumprido voluntariamente pelo devedor, dentro do
prazo estipulado para tanto, dará ensejo à fase de cumprimento de sentença, mediante
requerimento do autor da demanda, ora credor, conforme veremos no decorrer do presente
capítulo.

3.2 DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

O cumprimento de sentença, por sua vez, é uma fase executiva que deriva do
processo de conhecimento, na medida em que surge, mediante requerimento do credor, após a
prolação de uma sentença condenatória, transitada em julgado, quando o devedor não cumpriu
a ordem judicial voluntariamente.
É nesse sentido que o § 1º do Código de Processo Civil de 2015, dispõe que "o
cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo,
far-se-á a requerimento do exequente” (BRASIL, CPC, 2015).
No mesmo sentido Humberto Theodoro Junior ensina que

O atual Código agora deixa expressa a necessidade de requerimento do exequente


para se dar início ao cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar
quantia certa, seja provisório ou definitivo (CPC/2015, art. 513, § 1º). Rejeita-se,
desta forma, o início do cumprimento da sentença por impulso oficial do juiz. Uma
vez, porém, requerido o cumprimento do julgado, pode essa atividade satisfativa
prosseguir até as últimas consequências por impulso oficial. [...]
29

Nota-se, contudo, que o atual Código, que foi expresso quanto à matéria na
disciplina do cumprimento de sentença relativa a obrigação de quantia certa,
silenciou-se, a seu respeito, quando regulou a execução de sentença relacionada às
obrigações de fazer, não fazer e entregar coisas. O que permitiria a conclusão, já
adotada em doutrina, de que nessas últimas hipóteses, a diligência de fazer cumprir a
condenação seria um consectário automático da própria sentença, a dispensar
qualquer impulso da parte vencedora (2020, p. 786).

De acordo com o artigo 515 do Código de Processo Civil de 2015, as espécies de


títulos executivos judiciais cujo cumprimento se dá aplicando os dispositivos referentes à fase
de cumprimento de sentença são os seguintes:

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
os artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante,
aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários
tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral;
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta
rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
X - (VETADO) (BRASIL, CPC, 2015. Grifo nosso).

A fase do cumprimento de sentença, nas ações de cobrança de dívida, tem como


finalidade, portanto, a satisfação do título judicial que não foi cumprido de forma voluntária
pelo devedor, ora requerido, isto é, que deixou decorrer o prazo previsto para tanto e não
cumpriu a determinação, embora devidamente intimado da sentença que contra si foi
proferida.
Assim, a fase do cumprimento de sentença é a continuação do processo de
conhecimento, podendo, ou não, ocorrer nos mesmos autos, mas sempre com a mesma relação
processual, de modo que não é necessário o ingresso em Juízo duas vezes, uma para que seja
reconhecido o direito e outra para que seja cumprido pelo devedor.
Diz-se que o cumprimento de sentença sempre ocorre com a mesma relação
processual porque, conforme o disposto no § 5º do Código de Processo Civil de 2015, “o
cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do
corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento” (BRASIL, CPC, 2015).
Quanto à competência para formular o requerimento de cumprimento de sentença,
o artigo 516 do Código de Processo Civil de 2015, dispõe que, em regra, será:

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:


I - os tribunais, nas causas de sua competência originária;
30

II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;


III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de
sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal
Marítimo (BRASIL, CPC, 2015).

No entanto, o parágrafo único do supracitado dispositivo legal, preceitua


excepcionalmente que nas hipóteses constantes dos incisos II e III, a parte autora “[...] poderá
optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os
bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer
ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de
origem [...]” (BRASIL, CPC, 2015).
Registra-se, ademais, que na fase de cumprimento de sentença não é necessária a
citação do demandado, justamente porque anteriormente, no processo de conhecimento, ele já
foi citado e tomou conhecimento da demanda que contra si foi instaurada. O réu, portanto, no
cumprimento de sentença, é intimado para cumprir a obrigação, e não citado novamente.
Nesse sentido, o § 2º do artigo 513 do Código de Processo Civil de 2015, dispõe
que o devedor será intimado para cumprir a sentença:

[...]
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos;
II - Por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria
Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese
do inciso IV;
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador
constituído nos autos
IV - Por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de
conhecimento (BRASIL, CPC, 2015).

Assim, verifica-se que a fase do cumprimento de sentença, nas ações de cobrança


de dívida, tem como finalidade a satisfação do título judicial que não foi cumprido de forma
voluntária pelo devedor, ora requerido, isto é, que deixou decorrer o prazo previsto para tanto
e não cumpriu a determinação, oportunidade em que o magistrado poderá adotar medidas
executórias, típicas ou não, em desfavor do patrimônio e do executado, com a finalidade o
compelir a cumprir a obrigação.

3.3 DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

No processo de execução, por outro lado, não é necessária a existência de um


processo de conhecimento, como no cumprimento de sentença. Nada impede, no entanto, que
a parte autora ajuíze um processo de conhecimento, com a finalidade de tornar o título
executivo extrajudicial que possui em judicial, conforme preceitua o artigo 785 do Código de
31

Processo Civil de 2015, o que, todavia, não é necessário, pois pode optar por ingressar com o
processo de execução.
Isso porque, no processo de execução, a parte autora, ora credora, detém um título
executivo extrajudicial, o qual deve corresponder à uma obrigação certa, líquida e exigível,
nos termos do que prevê o artigo 783 do Código de Processo Civil de 2015.
São títulos executivos extrajudiciais, de acordo com o artigo 784 do Código de
Processo Civil de 2015,

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:


I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por
conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de
garantia e aquele garantido por caução;
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel,
bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio
edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde
que documentalmente comprovadas;
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de
emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas
tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva (BRASIL, CPC, 2015).

Segundo o doutrinador Gonçalves, o título executivo é dotado de eficácia para


executar as medidas necessárias para o cumprimento de determinada pretensão, possibilitando
que a esfera patrimonial do devedor seja invadida, sendo, portanto, a sua existência o que
viabiliza o ajuizamento do processo de execução, tendo em vista que é o título que garante a
certeza do crédito e da sua exigibilidade (2018, p. 66).
Assim, segundo Gonçalves, para que o credor tenha interesse de agir e possa
ingressar com o processo de execução “[...] é necessário que o devedor se tenha tornado
inadimplente, isto é, não tenha satisfeito espontaneamente obrigação líquida, certa e exigível,
consubstanciada em título executivo. Sempre que o devedor satisfizer a obrigação, não haverá
como prosseguir a execução” (2018, p. 65).
No entanto, cumpre registrar que, de acordo com o artigo 771 do Código de
Processo Civil de 2015, as disposições do Livro II, que se refere ao processo de execução
fundada em título executivo extrajudicial, também se aplicam aos procedimentos especiais de
32

execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem


como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva (BRASIL,
CPC, 2015).
Registra-se, ademais, que, nos termos do inciso I do artigo 798 do Código de
Processo Civil, incumbe ao exequente ao ingressar com a ação de execução, instruir a petição
inicial como título executivo extrajudicial, com o demonstrativo do débito atualizado até a
data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa, bem como a
prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso, e a prova, se for o
caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o
cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a
contraprestação do exequente (BRASIL, CPC, 2015).
Além disso, deve o exequente, nos termos do que prevê o inciso II do supracitado
artigo, indicar a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder
ser realizada, assim como os nomes completos do exequente e do executado e seus números
de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, e,
ainda, os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível (BRASIL, CPC, 2015).
Segundo Gonçalves,

Na execução (seja no cumprimento de sentença, seja no processo de execução), a


atividade jurisdicional é diversa daquela do processo de conhecimento, pois o que se
pretende é fazer atuar, por meio de atos materiais, a norma concreta. Não se busca
elaborar o comando que regulará os casos submetidos à apreciação judicial, mas
fazer atuar esse comando, pela modificação da realidade sensível (2018, p. 20).

Afinal, os títulos executivos extrajudiciais contêm uma obrigação de cumprir


determinada obrigação, seja de pagar, de entregar coisa, de fazer ou, ainda, de não fazer, de
modo que se não for cumprida de forma voluntária pelo devedor, o credor poderá ajuizar a
competente ação de execução, e, consequentemente, o processo de execução, com a finalidade
de que a obrigação relacionada ao título executivo seja satisfeita (GONÇALVES, 2018, p.18).
Assim, embora quase que utópico atualmente, o processo de execução, seja qual
for a sua forma, deve precipuamente buscar a satisfação do credor, ora requerente, de modo a
lhe proporcionar o resultado que obteria caso o devedor tivesse adimplido a obrigação
voluntariamente (GONÇALVES, 2018, p. 18).
No entanto, há determinadas situações em que a execução se inviabiliza em razão
de incidentes materiais, tais como o perecimento da coisa (nas obrigações de dar), ou, ainda,
pessoais, como por exemplo a recusa do devedor em realizar determinada prestação de fazer,
caso seja de caráter personalíssimo, situações em que, atestado que o resultado equivalente
33

não será alcançado, a obrigação deverá ser convertida em perdas e danos (GONÇALVES,
2018, p. 18).
Com a finalidade de satisfazer a obrigação, o magistrado pode utilizar os
mecanismos de coerção e de sub-rogação. Aplicando os mecanismos de coerção, o Estado
impõe medidas de pressão, tais como a imposição de multa diária pelo atraso no pagamento.
Aplicando os mecanismos de sub-rogação, por outro lado, o Estado substitui-se ao devedor no
cumprimento da obrigação, como por exemplo a apreensão de bens, a venda em leilão judicial
e, com o resultado, efetua o pagamento ao exequente (GONÇALVES, 2018, p. 30)
Registra-se, no entanto, que, conforme expressa previsão do artigo 833 do Código
de Processo Civil de 2015, em regra, não estão sujeitos à execução, porquanto impenhoráveis
ou inalienáveis, os seguintes bens e valores:

Art. 833. São impenhoráveis:


I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência
do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades
comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de
elevado valor;
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as
quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal, ressalvado o § 2º;
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros
bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem
penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta)
salários-mínimos;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos
termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de
incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra (BRASIL, CPC, 2015).

No entanto, conforme a exceção prevista no § 1º do supracitado dispositivo, “a


impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive
àquela contraída para sua aquisição” (BRASIL, CPC, 2015).
Outrossim, a impenhorabilidade em relação aos vencimentos, aos subsídios, aos
soldos, aos salários, às remunerações, aos proventos de aposentadoria, às pensões, aos
pecúlios e aos montepios, bem como às quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e de sua família, aos ganhos de trabalhador autônomo e aos
34

honorários de profissional liberal, bem como à quantia depositada em caderneta de poupança,


até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos, não se aplica à hipótese de penhora para
pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, conforme expressa
previsão do § 2º do artigo 833 do Código de Processo Civil de 2015(BRASIL, CPC, 2015).
Por outro lado, nos termos do § 3º do artigo 833 do Código de Processo Civil de
2015, incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os
implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual
produtora rural (BRASIL, CPC, 2015).
Excetua-se a supracitada medida, contudo, quando os referidos bens tenham sido
objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando
respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou, ainda, previdenciária, conforme
consta na parte final do § 3º do artigo 833 do Código de Processo Civil de 2015(BRASIL,
CPC, 2015).

3.4 ARTIGO 139, INCISO IV, DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015,
NAS AÇÕES PECUNIÁRIAS

Inicialmente, cumpre registrar que o artigo 139 do Código de Processo Civil de


2015 prevê, além da aplicação das medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, deveres aos
magistrados na condução do processo, tais como assegurar às partes igualdade de tratamento,
a duração razoável do processo, assim como prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à
dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias, in verbis:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
II - velar pela duração razoável do processo;
III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir
postulações meramente protelatórias;
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas
ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio
de conciliadores e mediadores judiciais;
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova,
adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à
tutela do direito;
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial,
além da segurança interna dos fóruns e tribunais;
35

VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para


inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros
vícios processuais;
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o
Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros
legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 , e o
art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 , para, se for o caso, promover a
propositura da ação coletiva respectiva. Parágrafo único. A dilação de prazos
prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo
regular (BRASIL, CPC, 2015).

Registra-se, ademais, que, antes mesmo da inovação conferida pelo artigo 139,
inciso IV, do Código de Processo Civil, de 2015, o magistrado, na condução do processo de
execução, já poderia adotar medidas com a finalidade de impelir o devedor a cumprir a
obrigação não satisfeita voluntariamente.
Exemplo disso é o artigo 523 do Código de Processo Civil, que autoriza o
magistrado a, no caso de o devedor não efetuar o pagamento da dívida no prazo de 15
(quinze) dias, acrescer ao débito devido multa de dez por cento e, também, de honorários de
advogado de dez por cento, além de expedir mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os
atos de expropriação, vejamos:

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no


caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença
far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o
débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido
de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.
§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os
honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante.
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde
logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação
(BRASIL, CPC, 2015).

No entanto, tais medidas, na grande maioria dos casos, não são suficientes para
compelir o devedor a cumprir a obrigação devida, razão pela qual o Código de Processo Civil
de 2015 inovou ao, além das medidas executivas típicas, conferir ao magistrado o poder de
determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham
por objeto prestação pecuniária.
Além das medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil de 2015, há também as medidas atípicas nos artigos 297, 536, § 1º, e no artigo
773, todos do mesmo Códex, que podem ser adotadas pelo magistrado condutor do processo
para garantir a satisfação da obrigação devida, in verbis:
36

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para
efetivação da tutela provisória.
[...]
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação
de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.
§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras
medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas,
o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso
necessário, requisitar o auxílio de força policial.
[...]
Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados.

Embora existam os supracitados dispositivos, ainda assim o artigo 139, inciso IV,
do Código de Processo Civil de 2015, inovou ao conferir ao magistrado o poder amplo e
genérico de, na condução do processo, “determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária” (BRASIL, CPC, 2015).
Ora, com fundamento no supracitado dispositivo legal, alguns magistrados, como
forma de efetivação ao cumprimento de decisões judiciais, vêm determinando a suspensão da
carteira nacional de habilitação, o cancelamento dos cartões de débito e de crédito e a
apreensão do passaporte do devedor/executado no âmbito das ações de cobrança, além de
outras medidas executivas atípicas, como, por exemplo, a proibição de participação de
concursos públicos e de licitações.
Afinal, além de o magistrado ter o poder de determinar as referidas medidas de
ofício, ou seja, sem a necessidade de qualquer provocação da parte autora, o supracitado
dispositivo legal não é regulado por qualquer outro que expressamente determine o alcance de
sua aplicação.
Segundo Gonçalves,

Da leitura do dispositivo resulta que a lei muniu o juiz de poderes para valer-se não
apenas das medidas executivas típicas, expressamente previstas em lei, mas também
de quaisquer outras, que se mostrem efetivas, para alcançar o resultado pretendido.
Mas a esse poder deve contrapor-se a necessidade de observar o princípio da
proporcionalidade e da razoabilidade. Além disso, a medida deve guardar relação
com o objeto pretendido, mantendo com ele algum tipo de correlação. Não parece
razoável, assim, a prática de, no intuito de alcançar o cumprimento de obrigação
patrimonial, determinar-se a cassação do passaporte do devedor, ou a retenção de
sua carteira de habilitação, ressalvada a hipótese de eventual peculiaridade do caso
concreto (2018, p.159).

Bueno, Gouvêa, Fonseca e Bondioli, por sua vez, ensinam que "tipicidade
corresponde à exigência de previsão legal dos meios executórios. Atipicidade significa que,
37

além dos legalmente previstos, o juiz pode adotar outros meios coativos, de acordo com as
necessidades do caso concreto." (2020, p. 267).
O Enunciado n. 48 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados (ENFAM) preceitua que “o art. 139, IV, do CPC/2015 traduz um poder geral de
efetivação, permitindo a aplicação de medidas atípicas para garantir o cumprimento de
qualquer ordem judicial, inclusive no âmbito do cumprimento de sentença e no processo de
execução baseado em títulos extrajudiciais” (MAGITRADOS, 2022, p.5).
De igual maneira, o Enunciado n. 12 do Fórum Permanente de Processualistas
Civis (FPPC), prevê que as medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil, de 2015, são cabíveis tanto na fase de cumprimento de sentença como também
na execução de título executivo extrajudicial, mas devem ser aplicadas de forma subsidiária,
com a observação do contraditório, ainda que diferido, in verbis:

A aplicação das medidas atípicas sub-rogatórias e coercitivas é cabível em qualquer


obrigação no cumprimento de sentença ou execução de título executivo
extrajudicial. Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma subsidiária às
medidas tipificadas, com observação do contraditório, ainda que diferido, e por meio
de decisão à luz do art. 489, § 1º, I e II (CIVIS, 2022, p. 1).

Assim, segundo o doutrinador, primeiro devem ser adotadas pelo magistrado as


medidas típicas, isto é, as expressamente previstas na legislação, e, somente quando esgotados
todos os meios típicos e quando constatar a existência de indícios de que o devedor tem
recursos para cumprir a obrigação, deve o magistrado aplicar as medidas atípicas previstas no
artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil.
Afinal, de acordo com o disposto no artigo 8º do Código de Processo Civil de
2015, “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência” (BRASIL, CPC,
2015).
38

4 APLICAÇÃO DAS MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS NO PROCESSO DE


EXECUÇÃO CÍVEL

No decorrer do presente capítulo, analisaremos o artigo 139, inciso IV, do Código


de Processo Civil, especialmente, em relação aos poderes conferidos ao magistrado, como a
possibilidade de suspensão da carteira nacional de habilitação, de cancelamento dos cartões de
débito e de crédito e de apreensão do passaporte do devedor em ações de cobrança, e após,
avaliaremos se são feridos princípios e garantias assegurados pelo ordenamento jurídico
brasileiro ao determinar-se as supracitadas medidas e, caso positivo, identificaremos quais são
eles.
Além disso, identificaremos quais são os limites das medidas conferidas ao
magistrado como forma de garantir a efetividade do cumprimento da ordem judicial e se tais
medidas são de fato imprescindíveis para o cumprimento da ordem judicial e, caso negativo,
por quais poderiam ser substituídas para o alcance do fim almejado, sem que houvesse
desrespeito aos princípios e garantias constitucionais.

4.1 CONFLITO COM OS PRINCÍPIOS E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

Como é sabido, a Carta Magna de 1988 prevê inúmeros direitos e garantias a


todos os indivíduos, tais como à saúde, à dignidade, à educação, à vida, e à liberdade de
locomoção, e impõe ao Estado o dever de adotar medidas que visem a proteção e o respeito à
integridade, tanto física quanto moral, de todos os indivíduos.
É nesse sentido, inclusive, que o artigo 1º da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, prevê que a República Federativa do Brasil se constitui em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político
(BRASIL, CRFB, 2022).
Não é à toa que o preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, preceitua que o Estado Democrático é “[...] destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida [...]” (BRASIL, CRFB, 1988).
Segundo Boas,

O direito à vida, antes do direito à liberdade, é o maior dos direitos, colocado como
indisponível e oponível erga omnes, por excelência, a tal ponto que não se pode
39

emitir qualquer enunciado tendente à sua supressão. Ninguém pode negociar a


própria vida e, assim sendo, ninguém pode transferir ao Estado, o poder de dispor
sobre sua própria liberdade, irrenunciável que é. O direito à vida e à liberdade está
fora de qualquer pacto, são imprescritíveis, inalienáveis, insusceptíveis de qualquer
restrição. A vida, a liberdade e a saúde são inerentes à natureza humana (2015, p.
11).

Registra-se, ademais, que, nos termos do artigo 1º do Código de Processo Civil,


há subordinação das suas disposições em relação às dispostas na Constituição Federal
Brasileira, de 1988, visto que dispõe expressamente que o processo civil será ordenado,
disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos
na Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, CPC, 2015).
O Código de Processo Civil, de 2015, por outro lado, em seu artigo 139, inciso
IV, dispõe que incube ao juiz, na condução do processo, “determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária” (BRASIL, CPC, 2015).
O supracitado dispositivo legal permite, assim, que o magistrado, na condução do
processo, possa aplicar medidas atípicas como a apreensão do passaporte, o cancelamento dos
cartões de crédito e de débito e a suspensão do direito de dirigir do devedor, o que, de acordo
com uma parcela dos operadores do Direito, fere direitos e garantias asseguradas pelo
ordenamento jurídico brasileiro, tais como a dignidade da pessoa humana e a liberdade de
locomoção (BRASIL, CPC, 2015).
Por tais razões, se mostra necessária a análise sobre o eventual conflito desse
poder amplo e genérico conferido ao magistrado em face dos princípios e das garantias
fundamentais, assegurados pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
sobretudo o direito de liberdade de locomoção, previsto no artigo 5º, inciso XV, do referido
Códex (BRASIL, CRFB, 1988).
Diz-se isso, porque, além dos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais
divergentes, o presente tema, desde a entrada em vigor do Código de Processo Civil, em 2015,
vem sendo foco de grandes debates entre operadores do Direito, pois, de um lado, há os que
defendem a inconstitucionalidade do dispositivo, e de outro, aqueles que afirmam que os
direitos e garantias previstos na Carta Magna não devem ser tratados como absolutos
(BRASIL, CPC, 2015).
Acerca do direito à liberdade de locomoção ou liberdade de ir e vir, o artigo 5º,
inciso XV, da Constituição Federal de 1988, assim dispõe:
40

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
[...]
XV. é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens
(BRASIL, CRFB, 1988).

O direito à liberdade de locomoção, portanto, diz respeito à garantia inerente a


todas as pessoas de locomoção no território nacional, consistente em nele entrar, permanecer
ou dele sair com os seus bens.
Outro princípio que, segundo a corrente garantista também é ferido quando da
aplicação das medidas executivas atípicas, é o da dignidade da pessoa humana, expressamente
presente no artigo 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa de 1988, diz respeito
ao dever de o poder estatal garantir ao cidadão, o respeito e as condições mínimas de
sobrevivência, tratando igualitariamente todos os indivíduos, sem distinção de qualquer
natureza (BRASIL, CRFB, 1988).
De acordo com Barroso, o princípio da dignidade da pessoa humana constitui
parte dos direitos fundamentais, na medida em que funciona como fundamento normativo
para a a sua constituição. Segundo o doutrinador, “[...] como valor e como princípio, a
dignidade humana funciona tanto como justificação moral quanto como fundamento
normativo para os direitos fundamentais. Na verdade, ela constitui parte do conteúdo dos
direitos fundamentais” (2020, p. 245).
Em razão de tal conflito, inclusive, que tramita no Supremo Tribunal Federal a
Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5.941, com pedido de medida cautelar, proposta pelo
Partido dos Trabalhadores (PT), visando a declaração de inconstitucionalidade do artigo 139,
inciso IV, assim como do artigo 297, do artigo 390, parágrafo único, do artigo 400, parágrafo
único, do artigo 403, parágrafo único, do artigo 536, caput, e § 1º, e do artigo 773, todos do
Código de Processo Civil de 2015.
Isso porque, segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), parte autora da referida
ação, os supracitados dispositivos legais violam garantias constitucionais dos devedores,
como por exemplo o direito à liberdade de locomoção, previsto no artigo 5°, inciso XV, da
Constituição Federal de 1988, e, consequentemente, o princípio da dignidade da pessoa
humana.
41

4.1.1 Da corrente instrumentalista

Conforme já mencionado anteriormente, aqueles que defendem a legalidade das


referidas medidas, sustentam que os princípios e as garantias constitucionais, tais como a
liberdade de locomoção, não devem ser considerados como absolutos, razão pela qual a
determinação de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação, de cancelamento dos cartões
de crédito e de débito e de apreensão do passaporte do devedor é por eles considerada
aplicável e constitucional.
O doutrinador Neto, nesse sentido, entende pela legalidade da aplicação das
medidas atípicas com fundamento nos princípios da eficiência e da efetividade, quando a lei
não prevê expressamente mecanismos de efetivação das decisões judiciais ou quando,
existentes, se mostrarem insuficientes, sugerindo, contudo, que o juiz aplique os princípios da
cooperação, da proporcionalidade e da razoabilidade, alertando previamente as partes e
motivando a sua decisão (2016, p. 115).
Bueno, Gouvêa, Fonseca e Bondioli, no mesmo sentido, afirmam que os meios
executórios "[...] devem ser preferencialmente típicos. Entretanto, o princípio da efetividade
dos direitos fundamentais, associado ao princípio da menor onerosidade da execução para o
devedor, pode exigir o uso de meios atípicos, desde que necessários, adequados e
proporcionais" (2020, p. 284).
É nesse sentido que Bueno, Gouvêa, Fonseca e Bondioli ensinam que medidas
atípicas podem ser adotadas “[...] desde que esgotados os meios legalmente previstos,
observado o contraditório, respeitadas a dignidade da pessoa humana, a proporcionalidade
entre o meio imposto e o valor jurídico que se pretende proteger, a menor onerosidade e a
consistente fundamentação" (2020, p. 271).
Afinal, nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni, “a jurisdição não pode
significar mais apenas iuris dictio ou “dizer o direito”, […] mais do que direito à sentença, o
direito de ação hoje tem como corolário o direito ao meio executivo adequado” (2017, p. 1).
Diante de tais razões, verifica-se que, de acordo com a corrente instrumentalista,
isto é, de acordo com aqueles que defendem a aplicabilidade das medidas atípicas previstas no
artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil, tais medidas são necessárias ao fim a que
se destinam, quando comprovado que o devedor age de má-fé, assim como quando esgotados
todos os meios executivos típicos.
42

4.1.2 Da corrente garantista

A corrente garantista, isto é, que defende a inconstitucionalidade do artigo 139,


inciso IV, do Código de Processo Civil, afirma que a determinação da suspensão da carteira
nacional de habilitação e da apreensão do passaporte do devedor/executado no âmbito das
ações de cobrança se trata de medida desproporcional e irrazoável, tendo em vista que, além
de não efetivar o cumprimento da decisão judicial, pune diretamente a pessoa do devedor e
não o seu patrimônio, ao mitigar seu direito de liberdade e de locomoção, ferindo o princípio
da dignidade da pessoa humana.
Tais medidas, portanto, do ponto de vista daqueles que defendem a
inaplicabilidade e a inconstitucionalidade do supracitado dispositivo legal, além de não serem
úteis ao resultado do processo, não são proporcionais e razoáveis, na medida em que violam
direitos do devedor, inclusive, de índole constitucional, como a liberdade de locomoção e a
dignidade da pessoa humana.
Afinal, de acordo com aqueles que defendem a inaplicabilidade do dispositivo, em
que pese, nos termos do artigo 4º do Novo Código de Processo Civil, as partes terem o direito
de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, o magistrado, ao aplicar o
ordenamento jurídico, deve atender aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência, de acordo com o
artigo 8º do referido Códex (BRASIL, CPC, 2015).
Nesse sentido, Gonçalves afirma que a determinação de suspensão do passaporte
do devedor diretamente impede o deslocamento do devedor, violando os princípios
constitucionais da liberdade de locomoção e da legalidade, e, consequentemente, o disposto
no inciso XV do artigo 5° da Constituição Federal, vejamos:

[...] a decisão judicial que, no âmbito de ação de cobrança de duplicata, determina a


suspensão do passaporte do devedor e, diretamente, impede o deslocamento do
atingido, viola os princípios constitucionais da liberdade de locomoção e da
legalidade, independentemente da extensão desse impedimento.
Na verdade, segundo penso, considerando-se que a medida executiva significa
restrição de direito fundamental de caráter constitucional, sua viabilidade
condiciona-se à previsão legal específica, tal qual se verifica em âmbito penal, firme,
ademais, no que dispõe o inciso XV do artigo 5° da Constituição Federal, segundo o
qual ‘é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens’.
A meu juízo, raciocínio diverso pode conduzir à aceitação de que medidas
coercitivas, que por natureza voltam-se ao ‘convencimento’ do coagido ao
cumprimento da obrigação que lhe compete, sejam transformadas em medidas
punitivas, sancionatórias, impostas ao executado pelos descumprimentos, embaraços
e indignidades cometidas no curso do processo (GONÇALVES, 2018, p.159).
43

No mesmo sentido, de acordo com o entendimento de Marcus Vinicius Rios


Gonçalves (2020, 476), não se mostra razoável, “no intuito de alcançar o cumprimento de
obrigação patrimonial, determinar-se a cassação do passaporte do devedor, ou a retenção de
sua carteira de habilitação, ressalvada a hipótese de eventual peculiaridade do caso concreto”.
E ainda, de acordo com Daniel Amorim Assumpção Neves

A execução não é instrumento de exercício de vingança privada, como amplamente


afirmado, nada justificando que o executado sofra mais do que o estritamente
necessário na busca da satisfação do direito do exequente. Gravames desnecessários
à satisfação do direito devem ser evitados sempre que for possível satisfazer o
direito por meio da adoção de outros mecanismos (2018, p. 1068).

Logo, e conforme leciona Sofia Dontos, “para alguns autores, toda e qualquer
restrição que não incida exclusivamente sobre o patrimônio do devedor será inconstitucional.
Para outros, a previsão é constitucional e consiste em meio hábil a resolver a problemática da
efetivação da tutela jurisdicional” (2018, p. 1).
Assim, verifica-se que os conflitos de entendimento acerca da aplicabilidade ou
não das medidas executivas atípicas possibilitadas ao magistrado na condução do processo de
execução, com fundamento no artigo 139, inciso IV, do Código Processo Civil, ainda não
encontraram solução, sobretudo porque ainda se encontra pendente de julgamento a Ação
Direta de Inconstitucionalidade n. 5.941, com pedido de medida cautelar, que tramita no
Supremo Tribunal Federal, e foi proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT), visando a
declaração de inconstitucionalidade do artigo 139, inciso IV, assim como do artigo 297, do
artigo 390, parágrafo único, do artigo 400, parágrafo único, do artigo 403, parágrafo único, do
artigo 536, caput, e § 1º, e do artigo 773, todos do Código de Processo Civil de 2015.
44

5 DECISÕES JUDICIAIS ACERCA DO TEMA

Neste capítulo analisaremos decisões proferidas pelos Tribunais de Justiça


Brasileiros acerca da (in)aplicabilidade das medidas de suspensão da carteira nacional de
habilitação, de cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da apreensão do passaporte
do devedor em ações de cobrança, com fundamento no artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil de 2015.
A finalidade da análise das decisões é a de conferir quais são os limites das
medidas conferidas ao magistrado como forma de garantir a efetividade do cumprimento da
ordem judicial, bem como os requisitos para o seu deferimento, nos casos em concreto, de
acordo com o entendimento jurisprudencial pátrio.
Por fim, analisaremos o estado processual da Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 5.941, com pedido de medida cautelar, que tramita no Supremo
Tribunal Federal, e foi proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT), visando a declaração de
inconstitucionalidade do artigo 139, inciso IV, assim como do artigo 297, do artigo 390,
parágrafo único, do artigo 400, parágrafo único, do artigo 403, parágrafo único, do artigo 536,
caput, e § 1º, e do artigo 773, todos do Código de Processo Civil de 2015.

5.1 DECISÕES DESFAVORÁVEIS

Inicialmente, nos seguintes subtítulos, serão analisadas decisões judiciais


desfavoráveis à aplicação das medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do Código
de Processo Civil de 2015.

5.1.1 Agravo de Instrumento n. 5013406-28.2021.8.24.0000do Tribunal de Justiça do


Estado de Santa Catarina

Colhe-se do Egrégio Tribunal de Justiça Catarinense, decisão em que, aplicando-


se o princípio da menor onerosidade do devedor e da proporcionalidade, reconheceu que a
adoção de medidas atípicas, tais como a suspensão da carteira nacional de habilitação do
executado, é medida subsidiária, devendo ser determinada quando o devedor possui bens
capazes de responder pela dívida, mas envida manobras para evadir-se de sua
responsabilidade patrimonial, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO


INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERIU PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CNH DO
45

EXECUTADO. RECURSO DO EXEQUENTE. PRETENSÃO INVIÁVEL.


MEDIDA ALMEJADA QUE É EXCEPCIONAL, SOMENTE ADMITIDA
QUANDO O DEVEDOR POSSUI BENS CAPAZES DE RESPONDER PELA
DÍVIDA, MAS ENVIDA MANOBRAS PARA EVADIR-SE DE SUA
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL, O QUE NÃO É O CASO DOS AUTOS.
AGRAVADO QUE, AO QUE TUDO INDICA, NÃO POSSUI BENS QUE
SIRVAM À SATISFAÇÃO INTEGRAL DO DÉBITO. SUSPENSÃO DA CNH
DO DEVEDOR QUE NÃO ALCANÇARIA O FIM PRETENDIDO PELA LEI E
ASSUMIRIA INDEVIDO CARÁTER PUNITIVO. OBSERVÂNCIA AO
PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE DA EXECUÇÃO. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "A adoção de meios executivos atípicos é
cabível desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua
patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio
de decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese
concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da
proporcionalidade" (STJ, REsp 1782418/RJ, rela. Mina. Nancy Andrighi, Terceira
Turma, j. 23.04.2019) (SANTA CATARINA, TJSC, 2021b).

Do citado julgado, se extrai, portanto, que o magistrado deve observar, além dos
demais princípios aplicáveis ao caso concreto, o princípio da menor onerosidade do devedor,
com a finalidade de aplicar as medidas atípicas conferidas pelo artigo 139 do Código de
Processo Civil, somente em caráter subsidiários, ou seja, quando constatar que o devedor
possui bens capazes de responder pela dívida, mas adota manobras para evadir-se de sua
responsabilidade patrimonial.
Logo, de acordo com o referido entendimento jurisprudencial, o magistrado, sob
pena de não alcançar o fim pretendido pela lei e de assumir indevido caráter punitivo, não
deve aplicar as medidas atípicas conferidas pelo artigo 139 do Código de Processo Civil,
quando o devedor não possui bens que sirvam à satisfação integral do débito, sob pena de
ofender o princípio da menor onerosidade do devedor e da proporcionalidade.

5.1.2 Agravo de Instrumento n. 4027792-51.2019.8.24.0000 do Tribunal de Justiça do


Estado de Santa Catarina

Também do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, se extraem


jurisprudências recentes, não favoráveis à aplicação da suspensão da Carteira Nacional de
Habilitação, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. DECISÃO QUE


INDEFERIU PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO (CNH) DO EXECUTADO. PLEITO DE UTILIZAÇÃO DOS
MEIOS COERCITIVOS ELENCADOS NO ART. 139, IV, DO CPC, DIANTE
DO ESGOTAMENTO DOS MEIOS ORDINARIAMENTE PREVISTOS
IMPOSSIBILIDADE. MEDIDA QUE SE MOSTRA INEFICAZ. EXECUÇÃO
QUE DEVE RECAIR SOBRE O PATRIMÔNIO DO DEVEDOR.
PRECEDENTES. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
"MEDIDAS CONSISTENTES EM SUSPENSÃO DE CNH DO EXECUTADO,
OU BLOQUEIO DE SEU PASSAPORTE E CARTÕES DE CRÉDITO, ALÉM
46

DE VIOLAREM DIREITOS DO DEVEDOR, INCLUSIVE DE ÍNDOLE


CONSTITUCIONAL, A EXEMPLO DA LOCOMOÇÃO, NÃO GARANTEM
A SATISFAÇÃO DO CRÉDITO PERSEGUIDO E, AO CONTRÁRIO DO
DESEJADO, PÕE EM XEQUE A EFETIVIDADE DA MEDIDA, QUE
VERDADEIRAMENTE NÃO SE REVELA PROPORCIONAL AO FIM A
QUE SE DESTINA, HAJA VISTA QUE AGRIDE A PESSOA DO DEVEDOR,
NÃO SEU PATRIMÔNIO. [...]” (SANTA CATARINA, TJSC, 2021a).

No caso citado, a parte autora de um processo de execução interpôs agravo de


instrumento contra uma decisão interlocutória que indeferiu o pedido de suspensão da carteira
nacional de habilitação do requerido.
O Tribunal de Justiça catarinense, analisando a demanda, decidiu por manter a
decisão agravado, afirmando que a medida pleiteada se mostrava ineficaz ao fim a que se
destinava, porquanto, ao seu entender, não só a medida de suspensão da carteira nacional de
habilitação do executado, mas também o bloqueio do seu passaporte e dos seus cartões de
crédito, violam direitos do devedor, tais como o da liberdade de locomoção, não garantem a
satisfação do crédito e põe em xeque a efetividade da medida, que não se revela proporcional
ao fim a que se destina e que agride a pessoa do devedor, não o seu patrimônio.

5.1.3 Agravo de Instrumento n. 5035194-35.2020.8.24.0000 do Tribunal de Justiça de


Santa Catarina

No mesmo sentido, colhe-se também do Egrégio Tribunal de Justiça Catarinense,


jurisprudência, datada de 26 de janeiro de 2021. No caso em tela, a parte autora de um
cumprimento de sentença interpôs agravo de instrumento contra uma decisão interlocutória
que indeferiu o pedido de suspensão da carteira nacional de habilitação, de apreensão do
passaporte e de bloqueio do cartão de crédito em nome do agravado.
No entanto, o Tribunal de Justiça, de igual modo, optou por manter a decisão
agravada, sob o entendimento que a dificuldade de localização dos bens do executado e a
suspeita de ocultação, não justificam a adoção de medidas coercitivas, que não são razoáveis e
não guardam relação com o resultado almejado e com a responsabilidade patrimonial do
executado, pois a execução deve prosseguir de forma menos gravosa para o devedor, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


INTERLOCUTÓRIO QUE INDEFERIU PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CNH,
DE APREENSÃO DE PASSAPORTE E DE CANCELAMENTO DE
CARTÃO DE CRÉDITO EM NOME DO AGRAVADO. INSURGÊNCIA DA
EXEQUENTE. NÃO ACOLHIMENTO. A DIFICULDADE DE
LOCALIZAÇÃO DE BENS E A SUSPEITA DE OCULTAÇÃO, NÃO
JUSTIFICAM A ADOÇÃO DE MEDIDAS COERCITIVAS, POIS A
EXECUÇÃO DEVE PROSSEGUIR DE FORMA MENOS GRAVOSA PARA
O DEVEDOR. MEDIDAS COERCITIVAS ATÍPICAS QUE NÃO SE
47

REVELAM RAZOÁVEIS, NÃO GUARDAM RELAÇÃO COM O


RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO E COM A RESPONSABILIDADE
PATRIMONIAL DO DEVEDOR. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (SANTA CATARINA, TJSC, 2021c).

No caso em tela, portanto, verifica-se que o Egrégio Tribunal de Justiça de Santa


Catarina optou por manter as decisões agravadas, consistentes no indeferimento dos pedidos
de suspensão da carteira nacional de habilitação, de apreensão do passaporte e de bloqueio do
cartão de crédito em nome do devedor, em síntese, sob o entendimento que as medidas não
são razoáveis e proporcionais, tendo em vista que recaem sob a pessoa do devedor e não sob o
seu patrimônio, indo ao contrário da finalidade do processo de execução e ferindo o princípio
da patrimonialidade.

5.1.4 Recurso Especial n. 1.896.421 de São Paulo

Do Superior Tribunal de Justiça, de igual modo, extrai-se o seguinte julgado,


datado de 15 de abril de 2021, em que se decidiu pela manutenção de decisão que indeferiu a
aplicação das medidas atípicas, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


APLICAÇÃO DE MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS. ART. 139, IV, DO
CPC/15. CABIMENTO, EM TESE. DELINEAMENTO DE DIRETRIZES A
SEREM OBSERVADAS PARA SUA APLICAÇÃO.
1. Execução ajuizada em 17/9/2012. Recurso especial interposto em 7/10/2019.
Autos conclusos à Relatora em 21/10/2020.
2. O propósito recursal é definir se é possível, na hipótese, a adoção de medidas
executivas atípicas pelo juiz condutor do processo.
3. O Código de Processo Civil de 2015, a fim de garantir maior celeridade e
efetividade ao processo, positivou regra segundo a qual incumbe ao juiz determinar
todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias
para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por
objeto prestação pecuniária (art. 139, IV).
4. A interpretação sistemática do ordenamento jurídico revela, todavia, que tal
previsão legal não autoriza a adoção indiscriminada de qualquer medida executiva,
independentemente de balizas ou meios de controle efetivos.
5. De acordo com o entendimento do STJ, as modernas regras de processo, ainda
respaldadas pela busca da efetividade jurisdicional, em nenhuma circunstância
poderão se distanciar dos ditames constitucionais, apenas sendo possível a
implementação de comandos não discricionários ou que restrinjam direitos
individuais de forma razoável. Precedente específico.
6. A adoção de meios executivos atípicos é cabível desde que, verificando-se a
existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais
medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha
fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância
do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade.
7. Situação concreta em que as circunstâncias definidas neste julgamento não foram
devidamente sopesadas pelo Tribunal de origem, sendo de rigor a reforma do
julgado. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (DISTRITO FEDERAL, STJ, 2021a).
48

No presente caso, verifica-se o processo de execução foi ajuizado no ano de 2012,


e o Recurso Especial foi interposto no ano de 2019, isto é, após sete anos desde que ajuizada a
execução. Da análise do julgado, infere-se que o propósito do recurso era definir se é possível,
no caso, a adoção de medidas executivas atípicas pelo magistrado.
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, embora o artigo 139, inciso IV, do
Código de Processo Civil, possibilite que o magistrado condutor do processo possar adotar
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária, tal previsão não autoriza a adoção indiscriminada de qualquer medida executiva.
Isso porque, segundo o Tribunal, as regras do processo não poderão se distanciar
dos ditames constitucionais, de modo que é possível somente a implementação de medidas
que não sejam discricionárias ou, ainda, que restrinjam direitos individuais, razão pela qual
adoção de meios executivos atípicos somente é cabível quando constatada a existência de
indícios de que há patrimônio expropriável, subsidiariamente e por decisão fundamentada,
observando o contraditório, assim como a proporcionalidade.
No caso em tela, portanto, considerando que a situação concreta em que as
referidas circunstâncias não foram devidamente sopesadas pelo Tribunal de origem, o
Superior Tribunal de Justiça decidiu pela reforma do julgado.

5.1.5 Agravo de instrumento n. 5008994-88.2020.8.24.0000do Tribunal de Justiça do


Estado de Santa Catarina

Extrai-se decisão do Egrégio Tribunal de Justiça catarinense em que, observando-


se o princípio da dignidade da pessoa humana, determinou a manutenção da decisão que
indeferiu o pedido de suspensão da carteira nacional de habilitação, registrando que o mau uso
do processo de execução deve ser coibido, assim como a adoção de medida
coercitiva voltada apenas contra a pessoa do executado, in verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA EM FASE DE


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO - CNH.
PROVIDÊNCIA RECLAMADA QUE REFOGE À FINALIDADE DO
PROCESSO DE EXECUÇÃO: A SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO PELA
EXPROPRIAÇÃO DO PATRIMÔNIO DO EXECUTADO. ARTIGOS 789 E 824,
AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. MAU USO DO
PROCESSO DE EXECUÇÃO QUE DEVE SER COIBIDO, A TANTO
EQUIVALENDO A ADOÇÃO DE MEDIDA
COERCITIVA VOLTADA APENAS CONTRA A PESSOA DO EXECUTADO,
AO ARREPIO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
(ARTIGO 1º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). PRECEDENTES
49

DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DA CÂMARA. RECURSO


DESPROVIDO. (SANTA CATARINA, TJSC, 2020a).

No caso concreto, infere-se que, no âmbito de ação monitória ajuizada em fase de


cumprimento de sentença, o magistrado indeferiu o pleito de suspensão da carteira nacional
de habilitação do devedor, sustentando que a providência é contrária à finalidade do processo
de execução, que é a satisfação da obrigação por meio da expropriação do patrimônio do
executado.
O Tribunal, contudo, manteve a decisão, asseverando que, no presente caso, deve
ser observado o princípio da dignidade humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da
Constituição Federal de 1988, de modo que as medidas coercitivas não devem ser voltadas
para a pessoa do executado, sob pena de mau uso do processo de execução.

5.2 DECISÕES FAVORÁVEIS

Na sequência, nos seguintes subtítulos, serão analisadas decisões judiciais


favoráveis à aplicação das medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil de 2015.

5.2.1 Agravo de Instrumento n. 4031481-06.2019.8.24.0000 do Tribunal de Justiça do


Estado de Santa Catarina

Por outro lado, também do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, extrai-
se jurisprudência favorável à aplicação da medida atípica de suspensão da Carteira Nacional
de Habilitação do devedor no âmbito de ação de execução de alimentos, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


DECISÃO QUE DEFERIU O PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH) DO EXECUTADO, BEM COMO A
INSCRIÇÃO DO SEU NOME NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. INSURGÊNCIA DO EXECUTADO COM RELAÇÃO À
SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO.
POSSIBILIDADE. ESGOTAMENTO DE MEIOS COERCITIVOS. EXEGESE
DO ART. 139, INC. IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. SUSPENSÃO
CABÍVEL COMO FORMA DE IMPOR PAGAMENTO DA DÍVIDA. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.
Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, constatando-se que
as medidas coercitivas típicas restaram infrutíferas, remanescendo dívida
alimentar, é possível a aplicação de meios coercitivos atípicos, com o intuito de
dar efetividade ao feito, provocando o executado ao pagamento do débito.
Assim, levando em consideração que o cumprimento de sentença perdura há
anos, sem que tenha sido completamente satisfeita a obrigação imposta ao
Executado, possível a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH),
50

com o escopo de dar efetividade ao feito executivo. (SANTA CATARINA, TJSC,


2020d).

No caso em tela, verifica-se que o Tribunal de Justiça Catarinense decidiu por


manter a decisão que deferiu a medida de suspensão do devedor de alimentos, tendo em vista
que se constatou que as medidas coercitivas típicas foram anteriormente aplicadas pelo
magistrado, contudo restaram infrutíferas.
Além disso, ponderou o Tribunal que a ação de execução de alimentos já perdura
por anos, sem que a obrigação tenha sido integralmente cumprida pelo devedor, razão pela
qual a medida, aplicada com fundamento no artigo 139, inciso IV, do Código de Processo
Civil, se mostra adequada para a finalidade de dar efetividade à execução.

5.2.2 Agravos de Instrumento n. 70084002286e n. 70084444538do Tribunal de


Justiçado Estado do Rio Grande do Sul

No mesmo sentido, extrai-se do portal do Tribunal de Justiçado Estado do Rio


Grande do Sul, jurisprudência favorável à suspensão da Carteira Nacional de Habilitação e ao
bloqueio dos cartões de crédito do devedor, no âmbito da ação de execução de alimentos, in
verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. SUSPENSÃO


DA CNH E BLOQUEIO DOS CARTÕES DE CRÉDITO DO
DEVEDOR/AGRAVANTE. ADEQUAÇÃO.
Não há razões para mudar a orientação da decisão agravada, considerando que
o processo de execução tramita há mais de cinco anos, e não anda porque não se
localiza renda ou bens do devedor, para garantir e adimplir o débito. No
contexto, o deferimento da medida postulada está autorizado, inclusive na linha
da jurisprudência do STJ e da jurisprudência desta Corte. NEGARAM
PROVIMENTO. (RIO GRANDE DO SUL, TJRS, 2021a, grifo nosso)

No mesmo sentido, também do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio


Grande do Sul, extrai-se a seguinte jurisprudência em que o Tribunal manteve a medida de
suspensão da carteira nacional de habilitação do devedor de alimentos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. COERÇÃO


PESSOAL. SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO -
CNH. POSSIBILIDADE. [...]
2. Mérito. A presente execução de alimentos, sob o rito da coerção pessoal,
tramita desde 2017. Após a quitação parcial da dívida e a determinação de
intimação do devedor para saldar o débito remanescente, sob pena de prisão
civil, o executado não foi mais localizado. Nesse contexto, mostra-se justificada
a medida coercitiva de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação do
devedor de alimentos, como possibilita o art. 139, IV, do CPC, pois, quiçá
assim, tome consciência de sua obrigação alimentar. NEGARAM
PROVIMENTO. UNÂNIME. (RIO GRANDE DO SUL, TJRS, 2021b, grifo nosso).
51

Dos supracitados julgados, extrai-se que as medidas de suspensão da Carteira


Nacional de Habilitação e ao bloqueio dos cartões de crédito do devedor podem ser aplicadas
pelo magistrado, no curso do processo, para garantir o adimplemento da obrigação, quando o
processo tramita há um longo tempo, assim como quando o devedor, ora executado, não é
localizado para tanto.

5.2.3 Agravo de Instrumento n. 4004189-12.2020.8.24.0000do Tribunal de Justiça


Catarinense

Extrai-se do Tribunal de Justiça Catarinense decisão em que foi reformada a


decisão que indeferiu a concessão de medidas atípicas, como forma de garantir a efetividade
das decisões judiciais, para determinar a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação do
devedor de alimentos, tendo em vista que comprovado o esgotamento dos meios menos
gravosos para cobrança da dívida:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.


DECISÃO QUE INDEFERIU A SUSPENSÃO/APREENSÃO DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH) DO DEVEDOR. INSURGÊNCIA DA
CREDORA. PLEITO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO (CNH) DO DEVEDOR. ACOLHIMENTO. COMPROVADO O
ESGOTAMENTO DOS MEIOS MENOS GRAVOSOS PARA COBRANÇA DA
DÍVIDA. FIXAÇÃO DA MEDIDA COERCITIVA ATÍPICA QUE SE FAZ
NECESSÁRIA PARA GARANTIR A EFETIVIDADE DAS DECISÕES
JUDICIAIS. OBJETIVO DE COMPELIR O EXECUTADO A ADIMPLIR O
DÉBITO ALIMENTÍCIO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO
INTEGRAL. EXEGESE DO ART. 139, IV, DO CPC. DECISÃO REFORMADA.
No que se refere ao processo de execução, "pode o magistrado, assim, em vista do
princípio da atipicidade dos meios executivos, adotar medidas coercitivas indiretas
para induzir o executado a, de forma voluntária, ainda que não espontânea, cumprir
com o direito que lhe é exigido". (RHC 99.606/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, julgado em 13-11-2018, DJe 20-11-2018). RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (SANTA CATARINA, TJSC, 2020b).

Da análise do supracitado julgado, verifica-se que o Tribunal de Justiça do Estado


de Santa Catarina, aplicando o princípio da proteção integral, decidiu reformar a decisão de
primeiro grau para deferir o pleito de suspensão da carteira nacional de habilitação do
devedor, tendo em vista que restou comprovado o esgotamento dos meios menos gravosos
para cobrança da dívida, e que a fixação da medida coercitiva atípica que se faz necessária
para garantir que o executado realize o pagamento do débito alimentício.
52

5.2.4 Habeas Corpus n. 711.194 do Superior Tribunal de Justiça

Da consulta ao portal do Superior Tribunal de Justiça, extrai-se a seguinte


jurisprudência, em que a Corte, em julgamento proferido em 21 de junho de 2022, decidiu por
denegar o Habeas Corpus n. 711.194, por meio do qual a impetrante visava a devolução de
seu passaporte, apreendido nos autos de um processo de execução, havia dois anos:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS. DEVOLUÇÃO DE


PASSAPORTE APREENDIDO HÁ DOIS ANOS COMO MEDIDA COERCITIVA
ATÍPICA PARA COMPELIR DEVEDOR A ADIMPLIR OBRIGAÇÃO DE
PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA. DEFICIENTE INSTRUÇÃO DO
HABEAS CORPUS, QUE NÃO RETRATA A REALIDADE DOS FATOS
PROCESSUAIS. VIOLAÇÃO AOS DEVERES DE BOA-FÉ, ETICIDADE E
COOPERAÇÃO. INDISPENSABILIDADE DA INSTRUÇÃO ADEQUADA DO
WRIT. ÔNUS DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DAS
MEDIDAS EXECUTIVAS TÍPICAS. INUTILIDADE, INEFICÁCIA,
DESNECESSIDADE OU CARÁTER PENALIZADOR DA MEDIDA. ÔNUS
PROBATÓRIO DO DEVEDOR. POSSIBILIDADE DE PENHORA DE COTAS
SOCIAIS DAS PESSOAS JURÍDICAS DE QUE É SÓCIO O DEVEDOR.
INEXISTÊNCIA DE PROVA DA EXPRESSÃO ECONÔMICA,
DESEMBARAÇO E SUSCETIBILIDADE DE PENHORA. PENHORABILIDADE
NÃO DEDUTÍVEL DOS ELEMENTOS EXISTENTES, SOBRETUDO DIANTE
DA EXISTÊNCIA DE DIVERSAS OUTRAS EXECUÇÕES FISCAIS E
TRABALHISTAS. ÔNUS DA PROVA DO DEVEDOR. OFERECIMENTO À
PENHORA DE RENDIMENTOS DE APOSENTADORIA E PENSÃO.
INSIGNIFICÂNCIA NO CONTEXTO DA DÍVIDA, QUE, DESSE MODO,
SOMENTE SERIA ADIMPLIDA APÓS MAIS DE CINCO DÉCADAS.
IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DO PASSAPORTE SOB ESSE
FUNDAMENTO. MEDIDAS COERCITIVAS ATÍPICAS. MANUTENÇÃO DA
PATRIMONIALIDADE DA EXECUÇÃO. INCÔMODOS PESSOAIS AO
DEVEDOR QUE O CONVENÇAM A ADIMPLIR E NÃO SOFRER ESSAS
RESTRIÇÕES. POSSIBILIDADE. DURAÇÃO DA RESTRIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE PRÉ-FIXAÇÃO. MEDIDA QUE DEVE PERDURAR
PELO TEMPO NECESSÁRIO PARA VERIFICAÇÃO DA EFETIVIDADE DA
MEDIDA.
1- O propósito do presente habeas corpus é definir se é manifestamente ilegal ou
teratológico o acórdão que indeferiu o pedido de devolução do passaporte do
paciente, apreendido há dois anos como medida coercitiva atípica destinada a vencer
a sua renitência em adimplir obrigação de pagar quantia certa decorrente de
condenação em honorários advocatícios sucumbenciais, cuja execução se iniciou há
dezessete anos.
2- Conquanto não admita ampla dilação probatória, o habeas corpus deve ser
suficientemente instruído pelo paciente, a quem cabe, em homenagem aos deveres
de boa-fé, eticidade e cooperação, colacionar toda a prova documental necessária à
compreensão da controvérsia e à adequada reconstrução dos fatos relevantes ao
julgamento.
3- Ao paciente que pretende a retomada de seu passaporte apreendido como medida
coercitiva atípica, impõe-se o ônus de provar a inexistência de esgotamento das
medidas executivas típicas, de índole essencialmente patrimoniais e expropriatórias,
bem como que a medida coercitiva atípica deferida seria inútil, ineficaz,
desnecessária ou se revestiria de mera penalidade pelo inadimplemento da
obrigação.
4- Descabe cogitar a possibilidade de penhora de cotas sociais das pessoas jurídicas
de que o paciente é sócio, como razão suficiente para a devolução do passaporte do
devedor, sem que existam evidências de que as referidas cotas possuem expressão
53

econômica, estão livres e poderão ser objeto de penhora válida, ônus que igualmente
cabe ao paciente.
5- O oferecimento à penhora de parte dos rendimentos advindos de aposentadoria e
pensão por morte recebidos pelo devedor somente será relevante para o fim de
viabilizar o desbloqueio de seu passaporte se os valores obtidos a partir dessa
modalidade executiva forem suficientes para o adimplemento integral da obrigação
em tempo razoável.
6- As medidas coercitivas atípicas não modificam a natureza patrimonial da
execução, mas, ao revés, servem apenas para causar ao devedor determinados
incômodos pessoais que o convençam ser mais vantajoso adimplir a obrigação do
que sofrer as referidas restrições impostas pelo juiz, de modo que a retenção do
passaporte do devedor deve perdurar pelo tempo necessário para que se verifique, na
prática, a efetividade da medida e a sua capacidade de dobrar a renitência do
devedor, sobretudo quando existente indícios de ocultação de patrimônio.
7- Na hipótese em exame, os elementos obtidos neste habeas corpus e nos demais
processos e recursos que envolveram a paciente e os demais co-executados que
foram submetidos ao exame desta Corte demonstram que: (i) trata-se de dívida de
honorários advocatícios sucumbenciais inadimplida desde 2006, ou seja, há mais de
dezessete anos; (ii) o esgotamento das medidas executivas típicas está
suficientemente evidenciado; (iii) há indícios suficientes de ocultação patrimonial da
paciente e dos demais co-executados, sua filha e seu genro; (iv) é absolutamente
razoável inferir que as cotas sociais das pessoas jurídicas de que a paciente é sócia
não possuem expressão econômica, não estão livres e não são suscetíveis de
penhora, inclusive diante da existência de inúmeras outras execuções fiscais e
trabalhistas; (v) os rendimentos de aposentadoria e pensão oferecidos à penhora são
insignificantes diante do valor da dívida, que, nesse contexto, somente seria quitada
daqui a mais de cinquenta anos; (vi) o oferecimento de bem à penhora após
dezesseis anos de execução infrutífera, ainda que claramente insignificante diante de
seu contexto patrimonial e nitidamente insuficiente para adimplir a dívida, é
evidência de que a retenção do passaporte do devedor está lhe causando o necessário
incômodo pretendido por ocasião do deferimento da medida coercitiva atípica.
8- Ordem denegada. (DISTRITO FEDERAL, STJ, 2022).

Da análise do julgado, verifica-se que a medida de apreensão do passaporte da


devedora havia sido determinada há dois anos com a finalidade de compelir a executada a
adimplir obrigação de pagar quantia certa decorrente de condenação em honorários
advocatícios sucumbenciais, cuja execução já perdura há dezessete anos.
No caso em tela, portanto, a devedora buscava, por meio de Habeas Corpus, a
devolução de seu passaporte, sustentando ser manifestamente ilegal ou teratológico o acórdão
que indeferiu o pedido de devolução do documento apreendido havia dois anos como medida
coercitiva atípica destinada a fazer com que adimplisse a obrigação de pagar quantia certa,
cuja execução se iniciou há dezessete anos.
O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, ao decidir por denegar a ordem,
sustentou que é possível que medidas atípicas que causem incômodos pessoais ao devedor, de
modo a convencê-lo a adimplir e não sofrer essas restrições, sejam aplicadas pelo magistrado
na condução do processo.
54

Além disso, a Corte asseverou que as medidas devem perdurar pelo tempo
necessário para a verificação da sua efetividade, isto é, que não têm prazo de duração,
sobretudo quando existente indícios de ocultação de patrimônio por parte do devedor.
Ainda, ressaltou que aquele que pretende a revogação de medida coercitiva atípica
deve comprovar a inexistência de esgotamento das medidas executivas típicas, assim como
que a medida coercitiva atípica é inútil, ineficaz, desnecessária ou se reveste de penalidade.
No caso em tela, portanto, considerando que trata-se de dívida inadimplida há
mais de dezessete anos, que o esgotamento das medidas executivas típicas está evidenciado,
que há indícios suficientes de ocultação patrimonial, que os rendimentos de aposentadoria e
pensão oferecidos à penhora são insignificantes diante do valor da dívida, que o oferecimento
de bem à penhora após dezesseis anos de execução infrutífera é evidência de que a retenção
do passaporte do devedor está lhe causando o necessário incômodo pretendido por ocasião do
deferimento da medida coercitiva atípica, o Superior Tribunal de Justiça manteve a decisão
que apreendeu o passaporte da devedora.

5.2.5 Agravo Interno no Recurso em Mandado de Segurança n. 62.210 do Estado de


Minas Gerais

Também do Superior Tribunal de Justiça Brasileiro, extrai-se a seguinte


jurisprudência que se refere à decisão proferida em Agravo Interno no Recurso em Mandado
de Segurança, com origem no Estado de Minas Gerais, vejamos:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO DE
ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS. CONSTRIÇÃO DE VALORES DE
TERCEIRO, RELATIVOS AOS LUCROS QUE DEVERIAM SER
DISTRIBUÍDOS AO SÓCIO DEVEDOR DOS ALIMENTOS. MATÉRIA
ACOBERTADA PELA COISA JULGADA. PARTICIPAÇÃO DO TERCEIRO
EM PERÍCIA PARA APURAÇÃO DO LUCRO QUE DEIXOU DE SER
DISTRIBUÍDO. MATÉRIA ACOBERTADA PELA PRECLUSÃO. PENHORA
DOS VALORES RECEBIDOS PELO HOTEL MEDIANTE USO DE CARTÕES
DE DÉBITO E CRÉDITO. MEDIDA EXECUTIVA ATÍPICA. ART. 139, IV,
CPC/15. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS FIXADOS PELA
JURISPRUDÊNCIA. MEDIDA NECESSÁRIA NA HIPÓTESE.
1- O propósito recursal é definir se é manifestamente ilegal ou teratológica a decisão
judicial, proferida em execução de alimentos compensatórios de que a recorrente
não é parte, que determinou a penhora de 30% do saldo mensal decorrente das
transações realizadas via crédito ou débito pela recorrente, até a satisfação do valor
devido pelo sócio e correspondente ao lucro por ele acumulado junto à recorrente.
2- As questões relacionadas a possibilidade de constrição de bens de terceiro a partir
da execução dos alimentos compensatórios e da participação do terceiro na apuração
do valor do lucro não distribuído estão acobertadas, respectivamente, pela coisa
julgada e pela preclusão, sendo inviável o seu reexame no âmbito do mandado de
segurança e de seu correlato recurso.
55

3- Embora a medida sub-rogatória atípica decretada com base no art. 139, IV, do
CPC/15 seja drástica, tratou-se da medida efetivamente necessária diante das
peculiaridades da hipótese, em que existem inúmeros e fortes indícios de ocultação e
de transferência de patrimônio entre familiares, especialmente porque verificadas as
condições estabelecidas pela jurisprudência: existência de indícios de que o devedor
possua patrimônio expropriável, adoção das medidas em caráter subsidiário, decisão
com fundamentação adequada às especificidades da hipótese e observância do
contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade. Precedente.
4- O bloqueio de 30% apenas sobre recebíveis por cartões de crédito e débito se
revela razoável e proporcional, na medida em que se trata de uma das formas de
recebimento dos serviços prestados pela agravante (que recebe, também, por
transferências bancárias e dinheiro, por exemplo), correspondendo a percentual
apropriado e que bem equaliza a efetividade da tutela executiva sem
comprometimento da atividade empresarial.
5- Agravo interno desprovido. (DISTRITO FEDERAL, STJ, 2021).

Do referido julgado, infere-se que o agravante sustenta que a decisão que


determinou a penhora de 30% do saldo mensal decorrente das transações realizadas via
crédito e de débito pela recorrente, proprietária de um hotel, é manifestamente ilegal ou
teratológica, razão pela qual pugnou pela revogação da decisão.
O Superior Tribunal de Justiça decidiu desprover o Agravo Interno no Recurso em
Mandado de Segurança, fundamentando que embora a medida executiva atípica aplicada pelo
magistrado seja drástica, mostra-se necessária diante das peculiaridades da hipótese, pois
existem inúmeros e fortes indícios de ocultação e de transferência de patrimônio entre
familiares.
Além disso, segundo a Corte, estão comprovadas as condições estabelecidas pelo
entendimento jurisprudencial, quais sejam, a existência de indícios de patrimônio
expropriável, caráter subsidiário, decisão fundamentada e observância do contraditório e da
proporcionalidade, razão pela qual a medida de penhora de 30% do saldo mensal decorrente
das transações realizadas via crédito e de débito pela recorrente foi mantida pelo Superior
Tribunal de Justiça.

5.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N. 5.941 DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL

A Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5.941, com pedido de medida cautelar,


que tramita no Supremo Tribunal Federal, foi proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT),
visando a declaração de inconstitucionalidade do artigo 139, inciso IV, assim como do artigo
297, do artigo 390, parágrafo único, do artigo 400, parágrafo único, do artigo 403, parágrafo
único, do artigo 536, caput, e § 1º, e do artigo 773, todos do Código de Processo Civil de
2015.
56

Segundo o Partido dos Trabalhadores (PT), parte autora da referida ação, os


supracitados dispositivos legais violam garantias constitucionais dos devedores, como por
exemplo o direito à liberdade de locomoção, previsto no artigo 5°, inciso XV, da Constituição
Federal de 1988, e, consequentemente, o princípio da dignidade da pessoa humana.
Foi nesse sentido que, como parâmetro de controle à presente Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI), o requerente indicou os artigos 1º, inciso III, o artigo 5º, incisos
II, XV e LIV, o artigo 37, incisos I e XXI, o artigo 173, § 3º, e o artigo 175, caput, da
Constituição Federal de 1988.
No que se refere ao artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil de 2015, a
parte autora sustenta, em síntese, que:

[...] a adoção de técnica de execução indireta para incursão radical na esfera de


direitos do executado, notadamente direitos fundamentais, quando carente de
respaldo constitucional, não merece acolhimento, sob o risco de encerrar restrição
desproporcional, na medida em que não se justifica em defesa de nenhum outro
direito fundamental, e de atentar contra o devido processo legal, inserto no artigo 5º,
LIV, da Constituição (DISTRITO FEDERAL, STF, 2019).

Em decisão monocrática, datada de 1º de março de 2019, o Excelentíssimo Senhor


Ministro Luiz Fux, Relator, reconheceu que a matéria se reveste de grande relevância, em
especial para a ordem social e a segurança jurídica. Na referida decisão, com a finalidade de
que a decisão venha a ser tomada em caráter definitivo, o Excelentíssimo Senhor Ministro
aplicou o rito previsto no artigo 12 da Lei federal n. 9.868/1999, caso em que a liminar não é
analisada, e em que é julgado diretamente o mérito da ação proposta.
Da referida decisão monocrática, inclusive, extrai-se a referida ementa:

MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


DIREITO PROCESSUAL. ARTIGOS 139, IV; 297, CAPUT; 380, PARÁGRAFO
ÚNICO; 403, PARÁGRAFO ÚNICO, 536, CAPUT E § 1º; E 773, CAPUT, DA
LEI FEDERAL 13.105/2015 (CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). MEDIDAS
COERCITIVAS, INDUTIVAS OU SUB-ROGATÓRIAS CONSISTENTES NA
APREENSÃO DE CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO E/OU
SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR, A APREENSÃO DE PASSAPORTE, A
PROIBIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO E A PROIBIÇÃO
DE PARTICIPAÇÃO EM LICITAÇÃO PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE OFENSA
AOS ARTIGOS 1º, III; 5º, II, XV E LIV; 37, I E XXI; 173, § 3º; E 175, CAPUT,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO DO RITO DO ARTIGO 12 DA
LEI FEDERAL 9.868/1999. (DISTRITO FEDERAL, STF, 2019).

Após a referida decisão monocrática, a Presidência da República, devidamente


intimada, se manifestou pela improcedência do pedido, sustentando que as normas
questionadas fortalecem o direito fundamental à tutela executiva, na medida em que tem
como finalidade garantir não só um provimento jurisdicional que reconheça determinado
direito subjetivo, mas que também ofereça meios para satisfazê-lo.
57

A Câmara dos Deputados, por sua vez, aduziu que o Projeto de Lei n. 8.406/2010,
que deu origem à Lei n. 13.105/2015, foi realizado observando-se os trâmites constitucionais
e regimentais.
A Advocacia-Geral da União, no mérito, defendeu a constitucionalidade das
normas combatidas, ressaltando que, se observados os critérios da proporcionalidade e
respeito às garantias fundamentais, as normas se adequam ao texto constitucional.
O Senado Federal opinou pelo não conhecimento da ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores e, no mérito, de igual modo, se
manifestou pelo integral desprovimento dos pedidos.
Posteriormente, a parte autora requereu a rejeição das preliminares apontadas pela
Advocacia-Geral da União e, subsidiariamente, a concessão de prazo para regularização, com
fundamento no artigo 76 do Código de Processo Civil.
A Procuradoria-Geral da República, ao seu turno, opinou pela procedência do
pleito formulado pelo Partido dos Trabalhadores, para que, embora o magistrado continue
detendo o poder de aplicar, subsidiariamente e fundamentadamente, medidas atípicas de
caráter estritamente patrimonial, não mais possa adotar as que restrinjam as liberdades
individuais, tais como a apreensão de carteira nacional de habilitação e do passaporte, a
suspensão do direito de dirigir, a proibição de participação em certames e de licitações
públicas, de modo a evitar que invadam a esfera de autonomia pública e privada do devedor.
Em consulta ao portal do Supremo Tribunal Federal, verificou-se que a Ação
Direta de Inconstitucionalidade n. 5.941, até o presente momento, contudo, se encontra
pendente de julgamento.
58

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho de conclusão de curso teve como foco analisar a


(in)aplicabilidade das medidas de suspensão da carteira nacional de habilitação, de
cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da apreensão do passaporte do devedor em
ações de cobrança, com fundamento no artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil de
2015, e, para tanto, foi dividido em quatro capítulos e elaborado por meio de pesquisas
bibliográficas e documentais, tais como a doutrina, a legislação e a jurisprudência.
No primeiro capítulo, identificamos quais são os princípios constitucionais
inseridos no ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo os relacionados ao processo de
execução e ao cumprimento de sentença, bem como analisamos a aplicação, do ponto de vista
prático, em casos reais, realizando a busca ativa nas doutrinas e nas jurisprudências dos
Tribunais de Justiça Brasileiros.
Para tanto, o primeiro capítulo foi dividido em dez subtítulos, e em cada um
realizamos a análise de um princípio, a saber: (a) princípio do devido processo legal; (b)
princípio da dignidade da pessoa humana; (c) princípio da legalidade; (d) princípio do
contraditório e da ampla defesa; (e) princípio da razoável duração do processo; (f) princípio
da proporcionalidade; (g) princípio da boa-fé executiva processual; (h) princípio da
patrimonialidade; (i) princípio da efetividade da execução ou do resultado; (j) princípio da
menor onerosidade ao devedor; e (k) princípio da disponibilidade da execução.
Concluímos, no primeiro capítulo, que, em síntese, os referidos princípios,
aplicáveis tanto no processo de conhecimento, como no cumprimento de sentença e também
no processo de execução propriamente dito, devem ser observados pelo magistrado condutor
do processo desde o seu início e até mesmo após o seu desfecho, de modo a observar a
legalidade e a eficácia das medidas a serem tomadas no decorrer da marcha processual.
Já o segundo capítulo teve como finalidade a análise do processo de
conhecimento, após, do cumprimento de sentença e do processo de execução, de modo a
identificar as diferenças entre a fase de cumprimento de sentença e o processo de execução,
assim como analisamos as medidas conferidas pelo artigo 139, inciso IV, do Código de
Processo Civil, nas ações de prestação pecuniária.
Verificamos, no segundo capítulo, que o artigo 139 do Código de Processo Civil
de 2015 prevê, além da aplicação das medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, deveres aos
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magistrados na condução do processo, tais como assegurar às partes igualdade de tratamento,


a duração razoável do processo, assim como prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à
dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias, entre outros.
No terceiro capítulo, analisamos o artigo 139, inciso IV, do Código de Processo
Civil, especialmente, em relação aos poderes conferidos ao magistrado, como a possibilidade
de suspensão da carteira nacional de habilitação, o cancelamento dos cartões de débito e de
crédito e a apreensão do passaporte do devedor em ações de cobrança, e após, avaliamos se
são feridos princípios e garantias assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro ao
determinar-se as supracitadas medidas e, caso positivo, identificaremos quais são eles.
Além disso, identificamos quais os limites das medidas conferidas ao magistrado
como forma de garantir a efetividade do cumprimento da ordem judicial e se tais medidas são
de fato imprescindíveis para o cumprimento da ordem judicial e, caso negativo, por quais
poderiam ser substituídas para o alcance do fim almejado, sem que houvesse desrespeito aos
princípios e garantias constitucionais.
Por fim, no quarto capítulo, analisamos decisões proferidas pelos Tribunais de
Justiça Brasileiros acerca da (in)aplicabilidade das medidas de suspensão da carteira nacional
de habilitação, de cancelamento dos cartões de débito e de crédito e da apreensão do
passaporte do devedor em ações de cobrança, com fundamento no artigo 139, inciso IV, do
Código de Processo Civil de 2015.
Conforme observamos, embora os Tribunais de Justiça brasileiros estejam
decidindo de forma divergente acerca do tema, o Superior Tribunal de Justiça tem
compreendido que as medidas atípicas não são ilegais, desde que aplicadas de forma
subsidiária, ou seja, após esgotadas todas as medidas executivas típicas previstas
expressamente na legislação, por meio de decisão devidamente fundamentada, observando-o
contraditório, assim como a razoabilidade e a proporcionalidade entre o direito a ser
suprimido do devedor e a almejada eficácia da medidas.
Portanto, em síntese, as medidas a serem eventualmente aplicadas devem ser
consideradas adequadas ao fim a que se destinam, de modo que o magistrado deve observar,
além dos demais aplicáveis ao caso concreto, os princípios da razoabilidade, da
proporcionalidade e o da dignidade da pessoa humana, ponderando-os, de forma a garantir
que o processo de execução não se desvincule da finalidade almejada, que é o cumprimento
da obrigação que não foi adimplida voluntariamente.
Diante de tais razões, conclui-se que é aplicável a suspensão da carteira nacional
de habilitação e a apreensão do passaporte do devedor em ações de cobrança, embora
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princípios e garantias previstas no ordenamento jurídico brasileiro sejam parcialmente


suprimidos ao determinar-se medidas atípicas com base no artigo 139, inciso IV, do Código
de Processo Civil de 2015.
No entanto, o magistrado condutor do processo de execução, antes de determinar
a aplicação de medidas atípicas, com base no artigo 139, inciso IV, do Código de Processo
Civil de 2015, deve adotar as medidas típicas previstas na legislação, de modo a buscar que a
obrigação seja cumprida por um caminho menos oneroso ao devedor, com fundamento no
artigo 805 do mesmo Códex.
Assim, somente após esgotadas todas as medidas executivas típicas, quando o
magistrado verificar que o devedor age de má-fé, que se furta de todas as maneiras ao
cumprimento da obrigação, deve o magistrado condutor do processo de execução adotar
medidas coercitivas indiretas para induzir o executado a, de forma voluntária, ainda que não
espontânea, cumprir com o direito exigido, com a adoção das medidas atípicas possibilitadas
pelo artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil.
Logo, ainda que esgotadas todas as medidas executivas típicas no curso do
processo, mas constatado que o devedor, em verdade, não possui meios de cumprir com a
obrigação de forma voluntária, o magistrado não deverá adotar as medidas coercitivas
atípicas, pois somente serviriam para causar punição à pessoa do devedor.
Conclui-se, portanto, que a inovação conferida pelo artigo 139, inciso IV, do
Código de Processo Civil de 2015, quando aplicada da maneira correta, isto é, de forma
subsidiária, excepcional, fundamentada e observando-se a razoabilidade e a proporcionalidade
da medida a ser imposta, serve como um verdadeiro reforço ao acesso e à concretização da
justiça.
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