Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANDRIELI DA COSTA
Florianópolis/SC
2022
Andrieli da Costa
Florianópolis/SC
2022
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Marines e Lauri, pelos bons exemplos e valores que regem minha vida.
Ao meu amor, Allan Giovani, pelo apoio e amor incondicional. Sem você a realização
deste sonho não seria possível.
Ao Irineu, pelo companheirismo e por renovar minhas energias e meu ânimo
diariamente.
Às minhas melhores amigas, Emily e Priscila, a quem tanto prezo e respeito. Obrigada
por tornar esta jornada mais leve.
À professora orientadora, pelo incentivo, paciência e empenho na elaboração deste
trabalho.
À Granter, por todo apoio.
A todos os colegas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste
trabalho.
Deixe-me dizer em que acredito: no direito do
homem de trabalhar como quiser, de gastar o que
ganha, de ser dono de suas propriedades e de ter o
Estado para lhe servir e não como seu dono. Essa
é a essência de um país livre, e dessas liberdades
dependem todas as outras.
Margaret Thatcher
RESUMO
O presente trabalho teve como temas a pejotização e os Sistemas de Informação, sendo seu
objetivo verificar se haveria pejotização na contratação de profissionais atuantes no processo
de desenvolvimento de Sistemas de Informação e se esta era utilizada como meio de fraudar a
Relação de Emprego. A investigação se faz importante quando se observa que contratações de
profissionais que exercem atividades na área ocorrem de forma atípica, sem o reconhecimento
do vínculo empregatício, mesmo as partes estando cientes das normas e garantias advindas
através do Direito do Trabalho. Assim, o método de pesquisa adotado foi o de Estudo de
Caso, o qual buscou demonstrar como esta prática está arraigada neste ramo e qual é a
percepção dos envolvidos.
The current work had as themes the pejotização and the Information Systems, being the main
objective to verify if there would be pejotização on the hiring of professionals
acting in the process of development of Information Systems and if it has been used as a way
to defrauding the employment relationship. The investigation becames important when
it is observed that the hiring of professionals that realize activities in that field occurs in an
unusual way, without the recognition of the labor bond, even though the involved parts being
aware about the laws and guarantees arised from the Labor Law. Thereby, the research
method adopted was the Case Study, which aims to show how this practice is entrenched in
this field and what is the perception of those involved.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................10
2 PROFISSIONAIS ATUANTES NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO......................................................................................................................12
2.1 DO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO..................................13
2.2 DA CONTRATAÇÃO E DOS PROFISSIONAIS ATUANTES NO
DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO...............................................21
3 A PEJOTIZAÇÃO COMO FRAUDE À RELAÇÃO DE EMPREGO...........................28
3.1 DA PEJOTIZAÇÃO...........................................................................................................28
3.2 DA FRAUDE À RELAÇÃO DE EMPREGO....................................................................31
3.2.1 Dos Requisitos da Relação de Emprego.......................................................................33
3.2.2 Dos Princípios do Direito do Trabalho.........................................................................37
4 A PEJOTIZAÇÃO NA CONTRAÇÃO DE PROFISSIONAIS ATUANTES NO
DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO COMO MEIO DE
FRAUDE À RELAÇÃO DE EMPREGO.............................................................................42
4.1 DO ESTUDO DE CASO COM PROFISSIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DE
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO.............................................................................................42
4.2 DA FRAUDE À RELAÇÃO DE EMPREGO NA CONTRATAÇÃO DE
PROFISSIONAIS ATUANTES NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO E A PEJOTIZAÇÃO.....................................................................................53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................58
REFERÊNCIAS......................................................................................................................61
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO.................................................................66
APÊNDICE B – GRÁFICOS DAS RESPOSTAS OBJETIVAS.........................................76
APÊNDICE C – QUADROS DAS RESPOSTAS DISCURSIVAS.....................................90
10
1 INTRODUÇÃO
Porém, para melhor elucidação dos fatos, a pesquisa focou nos profissionais que atuam
como analistas e desenvolvedores de Sistemas de Informação e não, em todas as categorias
envolvidas no processo. Logo, por meio do Estudo de Caso buscou-se compreender como a
prática é utilizada neste ramo de atuação e qual é a percepção dos profissionais.
Este estudo encontra-se dividido de modo que cada capítulo se destina a atender um
objetivo específico. O capítulo 02 (dois) propõe-se a analisar o desenvolvimento de Sistemas
de Informação, suas etapas típicas de elaboração e os métodos procedimentais. Ainda, busca-
se identificar os profissionais envolvidos para compreender suas funções e características.
A seguir, no capítulo 03 (três) aborda-se a pejotização como fraude à Relação de
Emprego, destacando as questões conceituais e principiológicas envolvidas, bem como
trazendo as implicações jurídicas desta prática, tanto aquelas voltadas à área trabalhista como
aquelas relacionadas à seara penal.
Por fim, no capítulo 04 (quatro) descreve-se a existência da pejotização como meio de
fraude à Relação de Emprego na contratação dos profissionais público-alvo do estudo. Neste
capítulo, apresenta-se a análise e discussão dos resultados obtidos no Estudo de Caso, como
também os dados da pesquisa sobre pejotização à luz dessas categorias.
Justifica-se o estudo por se tratar de uma temática atual e controvertida, cujo conteúdo
é relevante não somente para os empregados e empregadores, mas também para outros
profissionais envolvidos, como aquelas atuantes nas áreas de Ciências Contábeis e do Direito.
Propôs-se a desenvolver o trabalho com embasamento no método indutivo e, quanto
ao método de procedimento, a execução utilizou o monográfico, também chamado de estudo
de caso. O instrumento utilizado para a coleta de dados consiste em um questionário
semiestruturado elaborado no Google Forms, cujo conteúdo foi desenvolvido pela
pesquisadora com auxílio de sua orientadora, com direcionamento aos profissionais desta área
que já tiveram a experiência de atuação como pessoa jurídica.
As técnicas de pesquisa utilizadas foram a descritiva e a exploratória, por meio de
pesquisa bibliográfica, físicas e virtuais, com análise de doutrinas, legislações e
jurisprudências da Justiça do Trabalho.
12
como “[…] o conjunto total de tecnologias que permitem a produção, o acesso e a propagação de informações,
assim como tecnologias que permitem a comunicação entre pessoas. Em todas as possíveis aplicações de TICs, o
principal objetivo é proporcionar o acesso à automação da informação e comunicação.”
3 Castells (2000, p. 46) enfatiza o papel da informação na sociedade. “[…] afirmo que informação, em seu
sentido mais amplo, por exemplo, como comunicação de conhecimentos, foi crucial a todas as sociedades,
inclusive à Europa medieval que era culturalmente estruturada e, até certo ponto, unificada pelo escolasticismo,
ou seja, no geral uma infraestrutura intelectual. Ao contrário, o termo informacional indica o atributo de uma
forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação
tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas condições tecnológicas surgidas
nesse período histórico.”
14
possibilita a interação das mais diversas áreas do saber. Ademais, a autora observa que há uma
relação entre informação e poder, à medida que se encontra em vantagem aquele que detém o
controle desta e do conhecimento.
A partir disso, percebe-se que em conjunto com o conhecimento, constituem
ferramentas de desenvolvimento e crescimento da sociedade. Logo, para a compreensão da
temática, é importante diferenciar tais elementos.
Os dados são matéria-prima da informação e representam fatos do mundo real, mas
isoladamente são desprovidos de significado. Após o processamento dos dados brutos tem-se
a produção de informações e estas são providas de significado e podem servir de base na
tomada de decisões (PRADO; SOUZA, 2014, p. 11).
É a partir de interpretações das informações que se produz o conhecimento, o qual
consiste em “[…] um método de transformação que envolve informações, meios (objetos) e
pessoas e se desenvolve por aprendizagem com base em experiências anteriores, acúmulo de
informações e vivências adquiridas com o tempo” (PRADO; SOUZA, 2014, p. 05).
Os Sistemas de Informação surgem, portanto, da necessidade de gerenciamento
adequado e eficiente dos dados, de modo a transformá-los em informações aptas a gerar
conhecimento.
De modo geral, um sistema pode ser definido como
Já um Sistema de Informação, por sua vez, pode ser conceituado como um conjunto de
elementos que atuam na coleta ou captação de dados brutos (entrada), processamento
(transformação dos dados em resultados úteis), armazenamento (guardam-se os dados e
informações para disponibilização futura) e distribuição de informação (saída), de forma
organizada e coordenada, tornando-as aptas a auxiliarem na tomada de decisões (PRADO;
SOUZA, 2014, p. 05).
Kenneth e Jane (2001, p. 04) contribuem com esse conceito ao declarar que um
Sistema de Informação pode ser compreendido como um conjunto de componentes inter-
relacionados que atuam na coleta ou recuperação, processamento, armazenamento e
15
4 Segundo Maitino Neto (2016, p. 10), o IEEE – Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos define
Engenharia de Software como “[…] a aplicação de uma abordagem sistemática, disciplinada e quantificável de
desenvolvimento, operação e manutenção do software, além do estudo dessas abordagens.”
5 Quanto ao conceito de software, Maitino Neto (2016, p. 10) apresenta 03 (três) definições: software como (i)
instruções que, quando executadas, produzem a função desejada, (ii) estruturas de dados que possibilitam que os
programas manipulem a informação e (iii) documentação relativa ao sistema.
6 Define-se touchscreen como uma “[…] tela sensível ao toque que, em dispositivos eletrônicos (celulares,
tablets, televisores etc.) ativa as funcionalidades desses aparelhos pelo toque com os dedos, ou com outro
mecanismo capaz de produzir o mesmo efeito. Disponível em: https://www.dicio.com.br/touch-screen/. Acesso
em: 27 dez. 2021.
16
instruções que executam sobre a camada do hardware. Os principais componentes dessa camada são: Sistema
Operacional (SO) e software aplicativos. Software aplicativo permite que os usuários executem tarefas
específicas em uma camada acima do SO.”
9 Oberleitner e Silva (2020, p. 241) citam o conceito de banco de dados criado por Medeiros (2013) que
determina que um banco de dados consiste em “[…] um conjunto de dados com certas características, com a
finalidade de armazenamento persistente dos dados e dotado de mecanismos de manipulação para a obtenção de
informações e recuperação de dados posteriormente dentro de um sistema de informação.”
17
10 Segundo Wazlawick (2013, p. 5), “[…] o engenheiro de software é o profissional responsável por especificar
os processos de planejamento, de gerência e de produção. É responsável por avaliar e acompanhar o
desenvolvimento dos projetos, no intuito de verificar se o processo está sendo executado de forma eficiente e
efetiva.”
11 Prado e Souza (2014, p. 122) explicam os motivos pelos quais os modelos tradicionais não são adequados
quando utilizados no desenvolvimento do software, pois “[…] os problemas mais encontrados são: projetos reais
que quase nunca seguem o fluxo sequencial de desenvolvimento proposto pelo modelo; usuário com dificuldade
para definir todos os requisitos de negócios; e entrega que pode ser demorada, sobretudo quando existe erro de
entendimento e de especificação do projeto. Este modelo é o paradigma mais antigo da engenharia de software,
mas muitas organizações ainda o utilizam, devido a sua simplicidade e facilidade.”
12 Quanto ao método ágil, Prado e Souza (2014, p. 123) destacam que este método “[…] encoraja estruturas e
atitudes de equipes com pro-atividade, enfatiza a rápida entrega do software, dá menos importância à elaboração
da documentação, adota o cliente como parte da equipe de desenvolvimento, reconhece que o planejamento, em
um mundo de constantes mudanças, tem seus limites e que o plano de projeto deve ser flexível para atendê-las.”
18
que o aluno realize a matrícula nas disciplinas do semestre; que o professor lance as notas das
atividades realizadas com a turma; ou ainda, que os coordenadores verifiquem os dados
referentes à aprovação, reprovação e trancamento de matrículas em um certo período
(BEZERRA, 2007, p. 21).
Já os não funcionais, conforme explica Maitino Neto (2016, p. 34), referem-se às
propriedades do sistema, como o desempenho, armazenamento, restrições de entrada e saída,
memória, segurança e usabilidade.
Nesta etapa de análise dos requisitos, o analista realiza um estudo minucioso dos
dados levantados na etapa anterior, a fim de criar modelos de representação do sistema que
será desenvolvido. O objetivo é, portanto, construir uma estratégia, um modelo de solução
para o problema, o qual deve ser validado e verificado. Assim, tem-se como objetivo da
validação, assegurar que o sistema atenda às necessidades dos usuários, e como objetivo da
verificação, identificar se os modelos foram elaborados de acordo com os requisitos
estipulados (BEZERRA, 2007, p. 24-25).
Produz-se, no final desta etapa, um documento contendo as especificações dos
requisitos, formando uma espécie de contrato entre o solicitante e os desenvolvedores
(MAITINO NETO, 2016, p. 34).
Na sequência, inicia-se a terceira tarefa que consiste na elaboração do projeto, sendo
este “[…] o processo pelo qual os requisitos são traduzidos numa representação do software”
(MAITINO NETO, 2016, p. 35).
Nesta etapa, faz-se a definição de como o sistema funcionará para atender aos
requisitos mapeados, considerando os recursos tecnológicos existentes. Descreve-se de forma
computacional as suas funcionalidades, de acordo com o que foi planejado na etapa de análise
(BEZERRA, 2007, p. 26).
Utilizando a analogia citada por João (2018, p. 119), em se tratando da construção de
uma casa, o projeto seria a planta da construção, pois aborda os componentes que precisam
ser construídos, com as suas devidas especificações.
Concluída a etapa, inicia-se a fase de implementação, na qual se tem a codificação, ou
seja, a transformação do projeto em um código executável por meio de linguagens de
programação (BEZERRA, 2007, p. 26).
As linguagens de programação, podem ser definidas como
20
o conhecimento técnico sobre TI, como também noções básicas acerca do negócio abordado
no Sistema de Informação a ser desenvolvido.
O projetista, por sua vez, é o responsável por trabalhar com os modelos produzidos na
etapa de análise, adicionando-lhes aspectos tecnológicos (BEZERRA, 2007, p. 29). Isso
significa que o projetista complementa o trabalho no analista, adicionando questões técnicas
para especificar como o Sistema de Informação será construído para atender os objetivos
levantados na etapa de análise. Assim, é fundamental que o profissional possua domínio sobre
técnicas de projeto e das tecnologias utilizadas naquela implementação.
O arquiteto de software elabora a estrutura do sistema, tomando decisões quanto aos
subsistemas que o compõem, suas interfaces e tecnologias aplicáveis. Este profissional
costuma atuar em conjunto com o gerente de projetos na priorização, organização e definição
de questões técnicas.
Na figura do programador, também chamado de desenvolvedor,13 tem-se o responsável
por escrever o código-fonte do Sistema de Informação. Este é o profissional incumbido pela
implementação, ou seja, por transformar os requisitos levantados em um produto
(WAZLAWICK, 2013, p. 82).
Logo, pode-se afirmar que o programador utiliza os modelos de representações criados
pelos analistas e projetistas para desenvolver ou adaptar um Sistema de Informação, de modo
a produzir os resultados pretendidos pelo cliente (STAIR; REYNOLDS, 2015, p. 79).
Assim, “[…] como um empreiteiro, que constrói novos edifícios ou reforma um
edifício já existente, o programador pega os planos do analista de sistemas e constrói ou
modifica o programa, conforme necessário” (STAIR, REYNOLDS, 2015, p. 542).
O processo de desenvolvimento é finalizado com os avaliadores de qualidade. Estes
profissionais são os responsáveis por garantir que o produto desenvolvido esteja de acordo
com as especificações e objetivos do cliente.
No grupo de avaliadores de qualidade tem-se a figura do testador, o profissional que
efetivamente realiza os testes no sistema, a fim de identificar se o produto pode ser aprovado e
disponibilizado aos usuários. Se, eventualmente, este agente identificar inconformidades,
produz-se um relatório descrevendo os erros encontrados, o qual é encaminhado aos
13Na CBO (2010, p. 485) tem-se a definição de que estes profissionais desenvolvem “[…] sistemas e aplicações,
determinando interface gráfica, critérios ergonômicos de navegação, montagem da estrutura de banco de dados e
codificação de programas; projetam, implantam e realizam manutenção de sistemas e aplicações; selecionam
recursos de trabalho, tais como metodologias de desenvolvimento de sistemas, linguagem de programação e
ferramentas de desenvolvimento. Planejam etapas e ações de trabalho”.
24
[…] a graduação, além de não ser valorizada neste meio também não traz muitos
diferenciais ao perfil técnico do profissional, o que ‘formaliza’ e ‘oficializa’ os
conhecimentos e habilidades do profissional de TI são as certificações e a
experiência prática (SCHUSTER, 2008, p. 42, destaque do autor).
Florianópolis é contemplada pelos municípios de Águas Mornas, Alfredo Wagner, Angelina, Antônio Carlos,
Biguaçu, Canelinha, Florianópolis, Garopaba, Governador Celso Ramos, Palhoça, Paulo Lopes, Rancho
Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São José e Tijucas.
18 BRASIL. Medida Provisória n° 1.091, de 30 de dezembro de 2021. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-1.091-de-30-de-dezembro-de-2021-371512885. Acesso
em: 20 fev. 2022.
26
[…] trabalhador contratado por tempo indeterminado, com carteira assinada e todas
as garantias legais e benefícios assegurados pela CLT, com parte do salário
negociado registrado em carteira e parte recebido como reembolso de despesas
(AZEVEDO; TONELLI, 2009, p. 04).
19 A CLT prevê em seus artigos 2°. e 3°. os requisitos para caracterização da Relação de Emprego, quais sejam:
alteridade, pessoa física, pessoalidade, onerosidade, habitualidade e subordinação.
20 BRASIL. Decreto-Lei nº. 5.452 de 1 de maio de 1943. Aprova a CLT.
21 Segundo Gehringer (2008) esta é “[…] a abreviação de “CLT Flexível”, expressão que não consta em lei
alguma. É apenas uma interpretação – duvidosa – que algumas empresas fizeram do artigo da CLT que permite
considerar como salário os gastos com alimentação, habitação, vestuário e outras despesas. Só que essa
flexibilização está sendo feita de duas maneiras. Uma, defensável, é de incorporar esses gastos ao salário e
recolher os encargos sobre o valor total. Outra, discutível, é o pagamento “por fora”. O funcionário é registrado
por 60% do salário combinado, e o restante é reembolsado por meio de notas fiscais de combustíveis ou
restaurantes. Assim, o funcionário perde em FGTS, 13º e férias, mas paga menos INSS e Imposto de Renda. Por
seu lado, a empresa economiza nos encargos e ainda melhora a lucratividade porque os gastos são contabilizados
como despesas, reduzindo o lucro tributável. O sistema dá a impressão de não infringir nenhum dispositivo legal,
mas representa um risco trabalhista para a empresa, no caso de futuramente um funcionário demandar
judicialmente a diferença referente aos encargos.” (Destaques do autor). Disponível em:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI6292-15230,00-
AS+VANTAGENS+E+OS+PROBLEMAS+DA+CLT+FLEX.html. Acesso em: 10 jan. 2022.
27
salário do empregado. Assim, a parte salarial recebida a título de ajuda de custos não gera a
incidência destes.
Outra forma de burlar o Contrato de Trabalho é a contratação na modalidade de
cooperado, na qual os trabalhadores são contratados através de Cooperativas de Trabalho para
atuarem em empresas tomadoras de serviço. Nestes casos, conforme dispõe a Lei nº.
8.949/1994,22 nas relações entre a cooperativa e os cooperados ou entre estes e a tomadora,
não há vínculo empregatício, e é justamente esta a vantagem buscada pela modalidade.
Nesta espécie de contratação, o trabalhador efetua o pagamento de um valor simbólico
como forma de aquisição de uma cota de participação inicial para se tornar cooperado. A
Cooperativa de Trabalho, por sua vez, é a responsável pela administração e mediação da
relação entre o profissional cooperado e a empresa tomadora de serviços, sendo remunerada
por seus serviços administrativos (SALATTI, 2005, p. 19-21).
E ainda, outra modalidade observada foi a contratação como prestador de serviços.
Aqui o trabalhador constitui uma pessoa jurídica e, nessa qualidade, presta serviço ao
contratante. Ao término do serviço prestado faz-se a emissão da nota fiscal no valor
correspondente, o qual geralmente é estipulado por projeto ou por horas de trabalho.
Nota-se por meio destes estudos, que muitas dessas formas de contratação são
utilizadas com o intuito de mascarar a verdadeira relação jurídica existente entre as partes: o
vínculo empregatício, o que caracteriza fraude à Relação de Emprego.
No próximo capítulo abordar-se-á a modalidade de fraude à Relação de Emprego
chamada de pejotização, a qual decorre da exigência por parte do empregador de que o
indivíduo constitua uma pessoa jurídica para nesta condição, prestar-lhe serviços, de modo a
mascarar a Relação de Emprego existente, já que estão presentes os elementos para
caracterizá-lo como empregado.
22BRASIL. Lei nº. 8.949 de 9 de dezembro de 1994. Acrescenta parágrafo ao artigo 442 da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) para declarar a inexistência de vínculo empregatício entre as cooperativas e seus
associados. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8949.htm. Acesso em: 17 dez. 2021.
28
3.1 DA PEJOTIZAÇÃO
23 De acordo com o relatório de Movimentação Processual 2021 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), o
reconhecimento de Relação de Emprego ocupa a 17° (décima sétima) posição no Top 20 dos assuntos mais
recorrentes. Disponível em: http://www.tst.jus.br/documents/18640430/24361510/MP+2021.pdf/bb64b78e-a4f1-
be10-318b-852a0c398472?t=1615569306077. Acesso em: 24 dez. 2021.
24 Inicialmente cabe destacar que a pejotização não deve ser confundida com terceirização, pois esta é uma
prática legal, quando realizada de acordo com os requisitos estipulados em lei, cujo conceito encontra-se no
artigo 4º.-A da Lei nº. 6.019 de 1974, com redação alterada pela Lei nº. 13.467 de 2017. Na terceirização a
empresa tomadora contrata uma empresa terceirizante para fornecer mão de obra para a prestação de um
determinado serviço, seja ele relacionado à atividade-meio ou fim da contratante. Nestes casos, os empregados
são devidamente registrados sob o regime de contratação celetista, mantendo vínculo empregatício com a
empresa terceirizante. Ainda, é importante destacar que a contratação realizada pela tomadora é de uma
prestação de serviços e não de um empregado determinado. Logo, na terceirização os requisitos de pessoalidade
e subordinação não estão presentes na relação tomadora e empregado.
29
Pereira (2013, p. 77) destaca que a partir desta previsão legal, muitos empregadores
passaram a se utilizar da contratação de profissionais intelectuais por meio do instituto da
pessoa jurídica como meio de descaracterizar a Relação de Emprego. Porém, como observado
por Carvalho (2019, p.10) a realidade atual do mercado de trabalho brasileiro demonstra que
tal prática deixou de ser uma exclusividade do trabalho intelectual, sendo recorrente em vários
ramos de negócios.
Embora empregadores se utilizem deste dispositivo para conferir legalidade à prática
da pejotização, deve-se destacar que a sua aplicabilidade se limita aos fins tributários e
previdenciários, não fornecendo qualquer amparo legal para legitimar a contratação de
profissionais como pessoa jurídica, quando estiverem presentes os requisitos para a
celebração de um Contrato de Emprego, independentemente da natureza do trabalho: manual,
técnico ou intelectual.
25 BRASIL. Lei nº. 11.196/2005, de 21 de novembro de 2005. Institui o Regime Especial de Tributação para a
Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação – REPES, o Regime Especial de Aquisição
de Bens de Capital para Empresas Exportadoras – RECAP e o Programa de Inclusão Digital; dispõe sobre
incentivos fiscais para a inovação tecnológica; altera o Decreto-Lei n°. 288, de 28 de fevereiro de 1967, o
Decreto n°. 70.235, de 6 de março de 1972, o Decreto-Lei n°. 2.287, de 23 de julho de 1986, as Leis n°. 4.502,
de 30 de novembro de 1964, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.245, de 18 de outubro de 1991, 8.387, de 30 de
dezembro de 1991, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 8.987, de 13 de fevereiro de
1995, 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, 9.249, de 26 de dezembro de 1995, 9.250, de 26 de dezembro de 1995,
9.311, de 24 de outubro de 1996, 9.317, de 5 de dezembro de 1996, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 9.718, de
27 de novembro de 1998, 10.336, de 19 de dezembro de 2001, 10.438, de 26 de abril de 2002, 10.485, de 3 de
julho de 2002, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.755, de 3 de novembro de 2003, 10.833, de 29 de
dezembro de 2003, 10.865, de 30 de abril de 2004, 10.925, de 23 de julho de 2004, 10.931, de 2 de agosto de
2004, 11.033, de 21 de dezembro de 2004, 11.051, de 29 de dezembro de 2004, 11.053, de 29 de dezembro de
2004, 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, 11.128, de 28 de junho de 2005, e a Medida Provisória n°. 2.199-14, de
24 de agosto de 2001; revoga a Lei n°. 8.661, de 2 de junho de 1993, e dispositivos das Leis n°. 8.668, de 25 de
junho de 1993, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.755, de 3 de novembro
de 2003, 10.865, de 30 de abril de 2004, 10.931, de 2 de agosto de 2004, e da Medida Provisória n°. 2.158-35, de
24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
26 Segundo Romar (2018, p. 117) o trabalho intelectual é “[…] aquele que supõe uma especial cultura científica
Como bem aponta Calmon (2006), o intuito da norma não é o de legitimar ações
contrárias à legislação fiscal ou trabalhista, mas sim esclarecer e orientar os agentes de
fiscalização para que no exercício de suas funções, não desconsiderem a personalidade
jurídica de sociedades legalmente para tributá-las como pessoas físicas. E destaca que
seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela
legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
este equiparado que lhe prestem serviços.
31
30 Explica Pereira (2013, p. 37) que nas Relações de Trabalho lato sensu tem-se todos os vínculos jurídicos
referentes à prestação de serviços por uma pessoa natural a outrem, em troca de um pagamento ou uma
contraprestação.
31 Nas lições de La Cueva (apud PEREIRA, 2013, p. 44), a Relação de Emprego “[…] é a situação jurídica
objetiva criada entre um trabalhador e um empregador pela prestação de um trabalho subordinado, qualquer que
seja o ato ou a causa que lhe tenha dado origem, em virtude da qual se aplica ao trabalhador um estatuto
objetivo, integrado pelos princípios, instituições e normas do Direito do Trabalho, das convenções internacionais,
dos contratos coletivos e suas normas supletivas”.
32
artifício que tem por objetivo afastar as regras trabalhistas para que os direitos não sejam
aplicados ao profissional, o qual deveria ser reconhecido como empregado.
Carvalho (2010, p. 62), ao abordar a questão da flexibilização 32 dos direitos
trabalhistas e a sua correlação com a pejotização dispõe que
[…] sob o pretexto de modernização das relações de trabalho é que se insere uma
das novas modalidades de flexibilização, que resulta na descaracterização do vínculo
de emprego e que se constitui na contratação de sociedades (PJ) para substituir o
contrato de emprego. São as empresas do ‘eu sozinho’ ou ‘PJs’ ou ‘pejotização’
como comumente vem sendo denominadas. (Destaques da autora).
32 Cassar (2020, p. 476) apresenta a globalização e a crise econômica como responsáveis pelas flexibilizações
dos direitos trabalhistas, pois o mercado interno tornou-se mais frágil e para que possa competir com o mercado
externo foi necessário aumentar a produtividade e reduzir os custos. Destaca que a redução de custos iniciou com
os trabalhadores, os quais tiveram direitos flexibilizados e até mesmo suprimidos.
33 Conforme explica Rodrigues (2015, p. 56-57) “[…] muitas vezes ‘verdadeiros empregados’ são obrigados a
constituir uma empresa para que possam prestar serviços. Em vez de celebrarem contratos de trabalho, são
obrigados a formalizar um contrato de natureza civil ou comercial. A criação de uma empresa (‘PJ’) torna-se o
meio imprescindível para a contratação do trabalhador. Diante de tal obrigação o trabalhador, que necessita de
um trabalho para a sua subsistência, acaba por aceitar as regras definidas pela empresa. Sem escolha, ele
concorda ou fica sem trabalho” (Destaque da autora).
33
34Segundo Alves (apud SILVA, 2018, p. 18) a precarização “[…] é um processo social de conteúdo histórico-
político concreto, de natureza complexa, desigual e combinada, que atinge o mundo do trabalho, principalmente
setores mais organizados da classe do proletariado. É difícil falarmos de precarização de trabalhadores
proletários que sempre viveram à margem da seguridade social e da legislação previdenciário-trabalhista. A
precarização possui um significado concreto: ela atinge o núcleo organizado do mundo do trabalho que
conseguiu instituir, a partir da luta política e social de classe, alguma forma de controle sobre suas condições de
existência através de mediações jurídico-políticas. Ela atinge, portanto, a base social e política do movimento
socialista que se constituiu no século XX. A precarização atinge os proletários sujeitos de direitos e que hoje são
vítimas da ‘flexibilização do trabalho’, sendo usurpados pelo poder das coisas ou pelas leis de mercado”
(Destaques do autor).
35Versão em português disponível em: https://www.legistrab.com.br/recomendacao-oit-198-relativa-a-relacao-de-
A partir da análise e identificação dos requisitos36 previstos nos artigos 2°. e 3°. da
CLT, e ainda, com fulcro no artigo 9°. do mesmo diploma legal, pode ocorrer a decretação de
nulidade de uma pactuada relação civil e, dessa forma, gerar o reconhecimento de um vínculo
empregatício. Assim, os elementos caracterizadores da Relação de Emprego são: a pessoa
física/ pessoalidade, não eventualidade, onerosidade, subordinação e alteridade.
O requisito da pessoa física determina que o trabalho seja prestado por uma pessoa
física ou também chamada de pessoa natural. Afinal, como destaca Delgado (2020, p. 346), o
Direito do Trabalho se importa com a prestação de serviços pactuada por uma pessoa física,
visto que os bens jurídicos e éticos tutelados pelo Direito, tais como o direito à vida, à saúde,
à integridade física e psíquica, à segurança, à igualdade, o bem-estar e o lazer, aplicam-se as
pessoas físicas e em regra, não são usufruídos por pessoas jurídicas.
O requisito da pessoalidade complementa o da pessoa física, incluindo-lhe a
característica da infungibilidade no que diz respeito à pessoa do empregado. Diante disso,
tem-se que o trabalho é realizado por uma pessoa física, a qual não pode, por escolha própria,
ser substituída por outro empregado durante a realização da prestação de serviços, pois o
empregador a contratou por suas qualificações e habilidades técnicas ou pessoais.
Conforme explica Cassar (2020, p. 251), o Contrato de Emprego é intransmissível e os
serviços devem ser executados pela pessoa física escolhida pelo empregador, não permitindo
que o contratado, como bem entender, mande outra pessoa para executar os serviços.
Todavia, é importante destacar que o empregado pode ser substituído por outro, desde
que por escolha do empregador ou com o consentimento deste, pois pessoalidade não
significa exclusividade. Assim, em situações específicas e com aquiescência do empregador
poderá ocorrer a substituição do empregado.
Ademais, o caráter intuitu personae37se aplica apenas à figura do empregado, visto que
pelo princípio da despersonalização do empregador, o vínculo do empregado é com o
empreendimento e não com a pessoa do empregador. Logo, não há pessoalidade em relação a
este (RESENDE, 2020, p. 181).
O requisito da não eventualidade envolve divergências doutrinárias, jurisprudenciais e
também nos textos legais. Cassar (2020, p. 267) explica que a interpretação da expressão
36 Delgado (2020, p. 346) utiliza o termo ‘elementos fático-jurídicos’ para abordar os requisitos da Relação de
Emprego. Explica que “[…]esses elementos ocorrem no mundo dos fatos, existindo independentemente do
Direito (devendo, por isso, ser tidos como elementos fáticos). Em face da sua relevância sociojurídica, são eles,
porém, captados pelo Direito, que lhes confere efeitos compatíveis (por isso devendo, em consequência, ser
chamados de elementos fático-jurídicos)”.
37 O termo significa ‘em razão/consideração da pessoa/à pessoa’. Disponível em: http://www.enciclopedia-
“serviços de natureza não eventual” referida no artigo 3°. da CLT deve ser realizada sob a
ótica do empregador para identificar se aquele tipo de serviço ou mão de obra é de
necessidade permanente ou acidental para a empresa.
Nesse sentido, Resende (2020, p. 182) destaca que mesmo que o trabalho seja
realizado por um curto período determinado, se a atividade possuir caráter permanente na
dinâmica da empresa, será considerada como não eventual. Assim, o empregado não precisa
trabalhar todos os dias para caracterizar a habitualidade, basta que a atividade se repita
naturalmente junto ao tomador.
Contribuindo à discussão, Delgado (2020, p. 349) obtempera que “[…] para que haja
relação empregatícia é necessário que o trabalho prestado tenha caráter de permanência (ainda
que por um curto período determinado), não se qualificando como trabalho esporádico”.
Portanto, pode-se considerar um serviço como não eventual quando há a necessidade
de prestação permanente para o empreendimento, seja de forma contínua ou intermitente.
Já o requisito da onerosidade38 determina que haja uma contraprestação paga pelo
empregador para o trabalho realizado. Logo, quando serviços são prestados a título gratuito
não há Relação de Emprego, mas sim, Relação de Trabalho, se preenchidos os requisitos que
caracterizam o trabalho voluntário.
Dessa forma, tem-se que o Contrato de Emprego é sinalagmático, pois há
reciprocidade de direitos e deveres. Pois, o dever do empregado é disponibilizar a sua força de
trabalho, e assim, o direito do empregador é de exigir tal prestação. Do mesmo modo, o
empregador tem o dever de o remunerar pelos serviços, e o empregado tem o direito de exigir
o pagamento (CISNEIROS, 2016, p. 36).
A subordinação, por sua vez, é um dos principais elementos para caracterização da
Relação de Emprego. Embora haja a subordinação de natureza técnica 39e também a
econômica40, a que está presente na Relação de Emprego é a jurídica ou também chamada de
hierárquica.
38 Como destaca Resende (2020, p. 187) “[…] frise-se, entretanto, que o caráter lucrativo ou não do
empreendimento do empregador não é, por si só, determinante para definir o requisito. Com efeito, em uma
instituição beneficente, por exemplo, podem existir tanto empregados (que laboram, portanto, com intenção
onerosa), quanto voluntários, que prestam serviços de forma graciosa”.
39 Cassar (2020, p. 256) explica que a subordinação técnica utiliza-se da premissa de que o empresário possui
subsistência do trabalhador, visto que este depende economicamente do patrão para sobreviver.
36
41 Barros (apud DANTAS, 2013, p. 17), destaca que “[…] esse poder de comando do empregador não precisa ser
exercido de forma constante, tampouco torna-se necessária a vigilância técnica contínua dos trabalhos efetuados,
mesmo porque, em relação aos trabalhadores intelectuais, ela é difícil de ocorrer. O importante é que haja a
possibilidade de o empregador dar ordens, comandar, dirigir e fiscalizar a atividade do empregado. Em linhas
gerais, o que interessa é a possibilidade que assiste ao empregador de intervir na atividade do empregado. Por
isso, nem sempre a subordinação jurídica se manifesta pela submissão a horário ou pelo controle direto do
cumprimento de ordens”.
42 Wülfing (2014, p. 274) explica que teletrabalho é “[…] modalidade especial de trabalho a distância que se
utiliza dos meios telemáticos e informatizados para a realização e para transmissão das atividades laborais, bem
como, para fins de controle, comando e supervisão do trabalho alheio (Artigo 6. da CLT)”.
43 Artigo 6°. Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no
domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação
de emprego. Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se
equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do
trabalho alheio (BRASIL, 1943).
37
Por fim, tem-se o requisito da alteridade, previsto implicitamente no artigo 2°. da CLT,
o qual determina que os riscos do negócio se aplicam ao empregador, pois o empregado
trabalha por conta alheia.
Cassar (2020, p. 272) explica que o sucesso de um empreendimento está condicionado
a uma série de fatores e não depende somente de sorte. Assim, quem corre os riscos do
negócio é sempre o empregador, pois se o empregado correr o risco, empregado não será.
A partir do exposto, pode-se concluir que a configuração do vínculo empregatício
ocorre por meio da verificação da situação fática para identificar a presença dos requisitos da
Relação de Emprego. Logo, nas relações onde há trabalho realizado por pessoa física de
forma pessoal, subordinada, onerosa, habitual e com risco do negócio aplicável ao
empregador, há, de fato, uma Relação de Emprego.
É neste momento de verificação da realidade que surge a necessidade de estudo e
aplicação dos Princípios do Direito do Trabalho.
Para o Direito do Trabalho, o princípio mais importante e que transmite a sua essência
é o princípio da proteção. Isso porque diferentemente das relações contratuais civis na qual
há, em tese, igualdade entre as partes, no Direito do Trabalho há uma clara desigualdade entre
os contratantes. Por isso, “[…] o fundamento do Princípio da Proteção relaciona-se com a
44Artigo 8°. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais,
decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais
de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
público (BRASIL, 1943).
38
própria razão de ser do direito do trabalho, qual seja, a proteção do sujeito vulnerável da
relação (empregado) e a busca por um equilíbrio na relação trabalhista” (CASSAR, 2020, p.
171).
No entendimento de Américo Plá Rodriguez, 45 o princípio da proteção é tratado como
gênero do qual decorrem 03 (três) espécies: I) prevalência da norma mais favorável; II)
prevalência da condição mais benéfica e III) in dubio, pro misero (apud DELGADO, 2020,
238).
No que se refere ao subprincípio da prevalência da norma mais favorável, a regra
própria do Direito do Trabalho determina que havendo conflito de normas aplicáveis ao caso,
deve prevalecer a mais favorável ao empregado, independentemente da hierarquia formal
(RESENDE, 2020, p 104).
A identificação da norma mais favorável segue o critério da Teoria do
Conglobamento,46 por meio da qual determina-se que existindo 02 (duas) regras conflitantes,
o operador do direito deve realizar um balanceamento dos elementos negativos e positivos
para identificar aquela que em sua totalidade é a mais favorável ao empregado para a aplicar
em sua integralidade.
Já o subprincípio da prevalência da condição mais benéfica visa a preservação das
circunstâncias vantajosas conferidas ao empregado ao longo do contrato, de modo que estas
prevalecem obre a situação posterior, pois, constituem-se como direito adquirido
(DELGADO, 2020, p. 242).
E por fim, de acordo com o subprincípio do in dubio, pro misero ou pro operario, o
qual tem inspiração no princípio jurídico-penal do in dubio pro reo, determina-se que diante
de uma norma que comporte mais de uma interpretação, deve-se aplicar aquela mais favorável
ao empregado (RESENDE, 2020, p 104).
Assim, explica Cassar (2020, p. 184) que “[…] quando emergir da norma dúvida a
respeito de sua interpretação, desde que seja razoável, o exegeta deverá optar por aquela que
beneficiar o hipossuficiente” (Destaques da autora).
45 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. São Paulo: Ltr, 1993. p.42-43.
46 Nas palavras de Delgado (2020, p. 210), “[…] o operador jurídico deve buscar a regra mais favorável
enfocando globalmente o conjunto de regras componentes do sistema, discriminando, no máximo, os preceitos
em função da matéria, de modo a não perder, ao longo desse processo, o caráter sistemático da ordem jurídica e
os sentidos lógico e teleológico básicos que sempre devem informar o fenômeno do Direito (teoria do
conglobamento)”.
39
47 Segundo Resende (2020, p, 111) “[…] diante da flagrante incompatibilidade entre o contrato formal e a
realidade fática encontrada, cabe ao operador do direito (Juiz e Auditor Fiscal do Trabalho, principalmente), em
homenagem ao princípio da primazia da realidade, e com base no supramencionado artigo 9º. da CLT, afastar a
máscara e exigir a conformação dos fatos à figura legal respectiva.”
48 Delgado (2020, p. 248) utiliza “princípio do contrato realidade” como nomenclatura alternativa para o
princípio da primazia da realidade. Já, Cassar (2020, p. 189-190) entende que não podem ser tratados como
sinônimos, pois correspondem a institutos distintos. O contrato realidade consiste em uma teoria sobre a natureza
da Relação de Emprego e a primazia da realidade é um princípio do Direito do Trabalho.
40
autonomia da vontade das partes para que o patamar mínimo civilizatório seja respeitado e
não possa ser negociado, visto que as normas do direito do trabalho são de natureza cogente.
Nas palavras de Delgado (2020 p. 241), de acordo com este princípio “[…] as regras
justrabalhistas são, desse modo, essencialmente imperativas, não podendo, de maneira geral,
ter sua regência contratual afastada pela simples manifestação de vontade das partes.”
Já o princípio da indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas (ou irrenunciabilidade), 49
consiste em uma projeção do princípio da imperatividade e determina que os direitos
trabalhistas são, em regra, irrenunciáveis, indisponíveis e inderrogáveis, de modo que estes
não se encontram no âmbito da livre disposição pelo empregado (RESENDE, 2020, p. 117).
Neste sentido, Cassar (2020, p. 223) complementa que a
49Conforme explica Resende (2020, p. 118) “[…] este princípio é importante para proteger o empregado que, no
mais das vezes, é coagido pelo empregador mediante os mais variados estratagemas, sempre no sentido de
renunciar a direitos e, consequentemente, reduzir os custos do negócio empresarial. Dessa forma, ao passo que o
ordenamento não permite ao empregado dispor destes direitos, acaba por protegê-lo da supremacia do
empregador na relação que se estabelece entre ambos”.
41
50 Súmula nº. 212 do TST – DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVA (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003: O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o
despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção
favorável ao empregado. Disponível em: https://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/1168/Sumulas. Acesso em:
20 fev. 2022.
42
principais concorrentes do WhatsApp. Ele apresenta funções semelhantes às dos demais nomes do gênero,
permitindo envio e recebimento de conteúdos em texto, vídeo, áudio e imagem por meio de um pacote de dados
ou de uma conexão Wi-Fi”. Disponível em: https://canaltech.com.br/apps/o-que-e-telegram/. Acesso em: 23 jan.
2022.
43
Apenas 01 (um) participante informou não atuar mais na área; 01 (um) relatou exercer
a profissão como Cooperado; 01 (um) indicou ser contratado como Terceirizado e 02 (dois)
responderam que atuam sob outros regimes diversos, não listados no rol de opções. 55
Observou-se ainda que a maior incidência de atuação se encontra na modalidade de pessoa
jurídica, a qual obteve 09 (nove) indicações, superando a celetista que representou 08 (oito)
respostas.
Fazendo um recorte de gênero, das 05 (cinco) mulheres que participaram da pesquisa,
02 (duas) atuam como celetista, 02 (duas) como pessoa jurídica e 01 (uma) como cooperada.
Sabe-se que a presença feminina neste ramo de negócio é inferior 56 à masculina, o que de
certa forma justifica a disparidade do número de respostas no questionário. Todavia, apesar de
ser uma amostragem modesta, a pesquisa demonstrou que a maioria das mulheres atuam por
meio de contratos atípicos.
Também buscou-se identificar aqueles que já atuaram como celetista neste ramo de
negócio. Observou-se que 20 (vinte) dos participantes já tiveram essa experiência de atuação,
enquanto que 02 (dois) indicaram nunca ter atuado nesta modalidade. Esta é uma questão
importante, pois permite identificar que a maioria dos participantes desta pesquisa possuem
ambas as experiências, o que possibilita o posicionamento mais profundo sobre questões que
envolvem as Relações de Trabalho.
Quanto ao tempo de atuação como pessoa jurídica, 07 (sete) informaram o exercício
de até 01 (um) ano; 08 (oito) relataram entre 02 (dois) e 05 (cinco) anos; 05 (cinco) apontaram
a opção 06 (seis) e 08 (oito) anos; e 02 (dois) mencionam mais de 12 (doze) anos, o que
demonstra que os profissionais utilizam esse modo de contratação também em atuações de
médio e longo prazo.
Adentrando especificamente na forma de atuação, procurou-se identificar se houve
possibilidade de escolha por parte do profissional para ser efetivamente um empregado em
vez de um prestador de serviços. Constata-se que para 12 (doze) não foi ofertada a
contratação como celetista, de modo a demonstrar que na maioria dos casos houve imposição
55 As opções eram: Não estou atuando na área, Autônomo, Celetista, Cooperado, Estagiário, Pessoa Jurídica (PJ),
Servidor público, Temporário, Terceirizado e Outro.
56 De acordo com a publicação do portal Feito para Ela, “[…] nos últimos cinco anos, a participação feminina na
área de TI cresceu 60% – passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil em 2019, segundo dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Mas, ainda assim, elas representam apenas 20% dos
profissionais de tecnologia do país.” Disponível em: https://feitoparaela.com.br/2021/06/15/cresce-o-numero-de-
mulheres-nas-areas-de-tecnologia-da-informacao/#:~:text=Nos%20%C3%Baltimos%20cinco%20anos%2C
%20a,profissionais%20de%20tecnologia%20do%20pa%C3%AD. Acesso em: 23 jan. 2022.
45
por parte do empregador. Todavia, 10 (dez) afirmaram que houve possibilidade de escolha, o
que comprova que não raras vezes, o próprio profissional analisou as condições propostas e
optou pela contratação que lhe pareceu mais vantajosa.
A seguir, buscou-se identificar o momento da pejotização. Assim, quando
questionados sobre a criação da pessoa jurídica, 10 (dez) informaram que já possuíam a
empresa registrada quando foram contratados para atuarem nesta modalidade; 11 (onze)
indicaram que a constituição ocorreu por ser uma exigência do empregador para a
contratação; e apenas 01 (um) mencionou ter constituído como uma imposição para manter o
vínculo de emprego diante da alteração no regime.
Chama a atenção que dos 10 (dez) participantes que relataram já possuir a empresa
registrada quando foram contratados para atuarem como pessoa jurídica, 05 (cinco)
mencionaram na questão anterior sobre a possibilidade de escolha do regime de contratação
que não houve proposta para atuação como celetista. Logo, se não possuíssem a empresa
registrada, teriam que a criar para ser contratados.
No que se refere à forma de constituição da pessoa jurídica, 01 (um) relatou ter uma
Empresa de Pequeno Porte (EPP); 08 (oito) informaram possuir Microempresa (ME); e 13
(treze) mencionaram a atuação como Microempreendedor Individual (MEI).
As respostas desta questão vão ao encontro do que havia sido estudado por Carvalho
(2019, p. 14): a criação do MEI contribuiu, de certa forma, para a intensificação da prática da
pejotização, pois
Todavia, há exceções contratuais que já oferecem alguns incentivos, os quais por lei
não seriam obrigatórios no contrato de prestação de serviços, conforme segue: licença
maternidade/estabilidade, férias e auxílio educacional (cursos, livros, eventos educacionais)
foram mencionados em 03 (três) contratos, a participação nos lucros esteve presente em 02
(duas) respostas e o 13° (décimo terceiro) salário, plano odontológico e previdência privada
com uma incidência cada. A opção: Outros, foi mencionada em 02 (duas) respostas.
Do mesmo modo, no que se refere à previsão contratual de responsabilização da
contratante em caso de acidente ou lesão envolvendo o trabalho, 20 (vinte) responderam que
não havia tal previsão e 02 (dois) apontaram a existência desta.
Assim, a questão abordou o tema saúde57do profissional, a qual requer atenção porque
revela a não proteção dos profissionais atuantes como pessoa jurídica, pois não estão
amparados pelo Direito do Trabalho, tampouco pelo contrato firmado.
Também foram realizados questionamentos a fim de analisar as características da
prestação de serviços, de modo a identificar elementos que indicam a presença dos requisitos
caracterizadores da Relação de Emprego.
Iniciando pela pessoalidade, quando questionados sobre a possibilidade de se fazer
substituir na execução das atividades por conta própria, 19 (dezenove) relataram não ser
possível a substituição, enquanto que 03 (três) indicaram que poderiam solicitar que outra
pessoa realizasse a prestação de serviços em seu lugar.
Ao questioná-los sobre a realização de prestação de serviços para outras empresas, 12
(doze) responderam não possuir atividades secundárias, mantendo vínculo exclusivo com a
empresa contratante e 10 (dez) afirmam que também realizavam prestações de serviços para
outras empresas.
Esta questão demonstrou que a maioria dos profissionais possuíam a atuação como
pessoa jurídica apenas na empresa contratante, o que constitui um indício da pejotização.
Todavia, a ausência de exclusividade dos demais participantes, por si só, não descaracteriza
57 Castro (2013b, p. 17) observou que “[…] a ideia de que todo profissional de TI trabalha muito, vira noites,
emenda feriados e pula férias é tão introjetada que muitos dos entrevistados e entrevistadas assumem isso como
um ethos do setor, ao invés de relacionarem essa desestruturação das jornadas como consequência da forma
como o trabalho é organizado nas empresas.”. A partir disso, percebe-se que as longas jornadas de trabalho
sentados em frente a um computador, somadas à pressão exercida nos profissionais, tanto nas questões
envolvendo prazos de entregas de projetos quanto pelo próprio mercado de trabalho, o qual exige profissionais
atualizados e antenados sobre as novas tecnologias, pode resultar no desenvolvimento de problemas físicos de
saúde e também quadros de estresse que afetam a saúde mental do profissional. Contribuindo ao tema, destacam
Kilimnik, Dias e Jamil (2011) que “[…] pesquisas recentes mostram a realidade desse profissional: manchetes
como “Profissional de TI é o mais estressado” (INFO, 2006) e “75% dos profissionais de TI estão estressados”
(IT WEB, 2007) vem sendo divulgados em sites especializados da área a cada dia com maior frequência.
(Destaques dos autores).
47
em vez de celetista. Observa-se, portanto, que apesar de toda proteção conferida para as
mulheres na atuação celetista, a maioria apresentou preferência pelo regime atípico.
Ao término do questionário encontravam-se 03 (três) questões discursivas não
obrigatórias, as quais foram criadas no intuito de ampliar a liberdade de expressão dos
profissionais. (APÊNDICE C).
A primeira pergunta era para opinarem sobre a contratação de analistas e
desenvolvedores de Sistemas de Informação como pessoa jurídica. Esta questão foi
respondida por 11 (onze) participantes, que de modo geral, abordarem tanto os aspectos
negativos quanto os positivos sobre tal contrato atípico.
Em 1 (uma) das respostas, o profissional indicou que considera que deveria haver a
liberdade de escolha para que cada um pudesse optar pela contratação que lhe parecesse mais
vantajosa.
Outro participante explicou que as vantagens de tal modelo estão relacionadas às
condições de cada indivíduo, de modo que se o profissional souber negociar um valor superior
ao recebido como celetista, possuir uma boa reserva financeira e souber gerir os recursos, a
atuação como pessoa jurídica pode ser vantajosa.
Neste mesmo sentido, outra resposta apontou que considera tal modelo de contratação
como uma opção válida em qualquer profissão, desde que seja feita uma boa negociação com
a contratante para receber um valor que supere no mínimo 30% (trinta por cento) do valor
pago a um empregado.
Outro profissional mencionou que a contratação como pessoa jurídica foi um meio
encontrado pelos empregadores para sonegação de impostos e, a partir disso, torna-se possível
o pagamento de uma remuneração superior aos profissionais. Assim, destacou que muitos
aderem a tal regime visando apenas maior remuneração, de modo a abrir mão de todos os
benefícios que teriam como celetista.
Também houve uma resposta que resumiu este modelo de contratação como
exploração, sem, contudo, apresentar maiores detalhes sobre tal posicionamento. Por outro
lado, outro participante trouxe o entendimento de que tal modelo é justo e flexível. Essas 02
(duas) respostas evidenciam a polarização de concepções sobre a pejotização.
Em outra participação se abordou a questão da insegurança presente neste contrato
atípico. Destacou-se que apesar de lucrativo, tal modelo de atuação é mais suscetível à
instabilidade do mercado, podendo resultar na ausência de serviços.
50
reforçaram esses aspectos, destacando que consideram o modelo engessado, com muitos
encargos, oneroso e burocrático.
Em outra participação, apresentou-se o entendimento de que as empresas
supervalorizam os benefícios da CLT para justificar baixos salários. Também houve um
participante que relatou não vislumbrar nenhuma vantagem no modelo celetista, mesmo
possuindo uma atuação de mais de 15 (quinze) anos sob tal regime.
Ainda, um profissional informou que a CLT só atrapalha, mas não apresentou maiores
detalhes sobre tal posicionamento. Do mesmo modo, em outra participação de caráter
abstrato, indicou-se que em algumas situações a legislação prejudica o contratante e o
contratado, mas não se especificou quais seriam essas situações.
Por fim, a última participação apontou a CLT com um “[…] resquício antiquado da
Era Vargas”, que apesar de possuir boas intenções de proteção do trabalhador, encontra-se
ultrapassada. Inclusive, tal resposta apresento o Direito do Trabalho como um dos principais
responsáveis pelo baixo crescimento da economia nacional nas últimas décadas, vez que
dificulta a contratação de profissionais de modo a encarecer a mão de obra e afastar
investimentos externos. Este participante abordou ainda a insegurança jurídica na seara
trabalhista como uma crítica à Justiça do Trabalho, considerada por ele como cara e
ineficiente.
Por derradeiro, a última questão possibilitou que compartilhassem experiências na
atuação como pessoa jurídica. Esta pergunta recebeu 07 (sete) respostas, sendo que em 02
(duas) delas foram citados aspetos negativos e em 05 (cinco) pontos favoráveis.
Das 02 (duas) abordagens negativas, 01 (uma) mencionou que no regime de pessoa
jurídica se tem a ilusão de se ter uma empresa e de ser empreendedor, pois na verdade há
subordinação com a empresa contratante. Na outra resposta, o participante indicou possuir
duas atuações neste regime, utilizando-se do termo péssima para descrever a primeira
experiência, sem, contudo, trazer maiores detalhes deste exercício. Porém, quando atuou pela
segunda vez, este profissional considerou ter sido vantajoso.
Das 05 (cinco) abordagens favoráveis, em 01 (uma) delas o participante mencionou
que atuava como pessoa jurídica para uma empresa do exterior com escritório no Brasil.
Segundo ele, o pagamento foi estipulado em dólar, o que resultou um valor que supera de 03
(três) a 04 (quatro) vezes o salário pago para um empregado do mesmo nível no modelo
celetista. Relatou que com o recebimento de maiores rendimentos foi possível arcar com
todos os benefícios que teria ao ser contratado como celetista.
52
Neste mesmo sentido, outro profissional informou a vantagem de fazer a gestão dos
próprios recursos, pois considera que ajuda o profissional a se policiar financeiramente.
Destacou ainda, que o volume financeiro maior durante o ano permite fazer outras aplicações,
já que não há a garantia do FGTS.
Também houve um participante que indicou que se considera livre para oferecer o seu
melhor para todos e que tal liberdade torna o mercado mais saudável.
Outras 02 (duas) respostas abordaram de modo semelhante o espírito neoliberal e o
anseio pela menor interferência do Estado. Um (01) deles informou que um dos motivos que o
levaram a gostar da atuação como pessoa jurídica foi a possibilidade de tirar da mão do
governo e realizar alguns controles por conta própria, tais como a aposentadoria e o FGTS.
O outro considerou a experiência que teve como muito boa, pois pôde receber todo o
valor acordado sem a necessidade de aguardar a administração de parte de sua remuneração
pelo Estado, a qual, segundo ele, é utilizada pelo governo para realização de proselitismo
social e político. Assim, destacou que quando os valores são devolvidos ao trabalhador, já se
encontram defasados em razão da inflação.
A partir das respostas obtidas nas questões discursivas foi possível perceber que a
pejotização é um tema que divide opiniões nesta área. De um lado, visualizam-se profissionais
que identificam vantagens na atuação como pessoa jurídica, sejam elas de aspecto financeiro
ou de cunho ideológico, e de outro, estão presentes aqueles que consideram tal modalidade de
contratação injusta e prejudicial ao empregado, vez que afasta direitos trabalhistas deste
profissional.
Do mesmo modo, há uma divisão de posicionamentos a respeito da legislação
trabalhista. Enquanto alguns profissionais a consideram importante para garantir a proteção
do empregado diante da exploração do empregador, outros entendem que tal modelo
encontra-se ultrapassado, sendo engessado e retrógrado, de modo que não mais atende aos
anseios destes profissionais.
A pejotização tem sido observada no mercado de trabalho como um todo, mas como
vislumbrado no resultado da pesquisa, apresenta destaque na área de análise e
desenvolvimento de Sistemas de Informação.
Carvalho (2019, p. 07) observou que “[…] o segmento dos trabalhadores em TI é um
dos que mais flexibilizam os contratos de trabalho e, especialmente, praticam a pejotização
como contratação alternativa ao assalariamento dito ‘típico’ (celetista).” (Destaque do autor).
Nesta acepção, Salatti realizou uma pesquisa59 nos anos de 2003 e 2004 em empresas
nacionais de micro, pequeno e médio porte da região metropolitana de Campinas – SP que
atuam neste ramo. A pesquisadora identificou a utilização de diversas formas atípicas de
contrato, tais como, cooperativa, pessoa jurídica, pseudo-sócio e estagiário, sendo que a
modalidade de contratação como pessoa jurídica representou 36% (trinta e seis por cento) das
contratações.
Posteriormente, Carvalho (2019, p. 07) analisou a pesquisa realizada pela Associação
dos Profissionais de Informática (APInfo) entre os meses de maio e agosto de 2014, na qual
identificou que 71% (setenta e um por cento) dos profissionais atuavam sob o regime
celetista, enquanto que 15% (quinze por cento) possuíam contratos de pessoa jurídica. Os
outros 14% (quatorze por cento) dividiam-se entre as modalidades: CLT-Flex, Estágio,
Cooperativa e Autônomos.
Após quase 20 (vinte) anos da pesquisa de Salatti, percebe-se que a utilização de
Contratos alternativos permaneceu de forma muito presente no setor de análise e
desenvolvimento de Sistemas de Informação. Inclusive, observa-se que há uma cultura de
normalidade, pois utilizam-se de anúncios explícitos sobre vagas de trabalho vinculadas aos
contratos atípicos, inúmeros fóruns de discussão na internet e canais no youtube60 que
abordam vantagens e desvantagens de cada tipo de contratação.
Ainda, um dos sites61 utilizados pelos profissionais de TI para discussão de temáticas
envolvendo este ramo do mercado, disponibiliza uma planilha 62 na qual é possível inserir
dados e calcular qual o formato de contratação mais vantajosa.
59 Os resultados obtidos demonstraram que havia maior incidência de contratação na modalidade de pessoa
jurídica, no total de 36% (trinta e seis por cento), seguida pelo contrato de estágio, com 17% (dezessete por
cento), depois o contrato de cooperado com 14% (quatorze por cento) e sócios com 4% (quatro por cento). O
celetista apresentou um total de 28% (vinte e oito por cento) e 1% (um por cento) para autônomos e informais.
60 De acordo com o site Canal Tech “[…] o YouTube foi fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim
em fevereiro de 2005, nos Estados Unidos. Comprado pela Google em 2006, o site permite que os usuários
compartilhem vídeos e interajam com seus autores através de comentários”. Disponível em:
https://canaltech.com.br/empresa/youtube/. Acesso em: 27 jan. 2022.
61 Associação dos Profissionais de Informática – ApInfo. O ponto de encontro dos profissionais de informática.
O que se observou foi que a princípio, a pejotização aparenta gerar benefícios mútuos:
a redução de encargos empregatícios para o empregador e o aumento de rendimentos líquidos
para o profissional, o que faz com que – na prática – seja vista com bons olhos por ambos os
contratantes, principalmente nos casos em que há alta remuneração.
Salatti (2005, p. 98) realizou um comparativo dos encargos sociais de cada modalidade
de contratação e percebeu que a celetista é aquela que resulta em maiores custos para a
empresa contratante, representando cerca de 65,47% (sessenta e cinco, vírgula quarenta e sete
por cento) da remuneração bruta do empregado, enquanto que no caso da contratação como
pessoa jurídica, o custo chega a ser 0 (zero), evidenciando o motivo pelo qual os
empregadores se utilizam da pejotização.
63 Citação extraída da entrevista concedida para a Agência FAPESP em 12 de fevereiro de 2010. Disponível em:
https://agencia.fapesp.br/contradicao-trabalhista/11767/. Acesso em: 24 jan. 2022.
55
64A pesquisa analisou dados de 2008 a 2016, mas para analistas de sistemas/desenvolvimento as Reclamatórias
Trabalhistas foram identificadas a partir do ano de 2013 e para administradores, programadores e suportes de TI
a partir do ano de 2012.
57
65 “VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PEJOTIZAÇÃO. A criação de ‘empresa de fachada’, apenas para que fosse
concretizada a contratação (fenômeno chamado pejotização é muito comum no âmbito dos profissionais de TI –
Tecnologia da Informação). Por certo que os empregados aderem a tal situação visando a salários melhores, mas
a Justiça do Trabalho não pode chancelar o mascaramento da relação jurídica, ainda que, indiretamente, tenha
acarretado algum benefício para as partes. Não se pode deixar de invocar o princípio da irrenunciabilidade, o
qual tem por efeito a inafastabilidade de sua aplicação pela vontade dos interessados. Por conseguinte, não
estava ao alvedrio das partes afastar a existência do contrato de trabalho por sua mera vontade. Configurados
todos os elementos dos arts. 2° e 3° da CLT, devido é o reconhecimento do vínculo empregatício entre os
litigantes. Recurso conhecido e parcialmente provido.” (Destaque do autor). Disponível em: https://trt-
10.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24323507/recurso-ordinario-ro-793201002010007-df-00793-2010-020-10-
00-7-ro-trt-10/inteiro-teor-24323508. Acesso em: 23 jan. 2022.
66 “VÍNCULO DE EMPREGO. CONTRATAÇÃO COMO PESSOA JURÍDICA. A pejotização, caracterizada
pela contratação de trabalhador como pessoa jurídica, permite a diminuição dos encargos sociais dos
empregadores, além da redução dos preços e melhor competitividade com os concorrentes, o que denota a
relação com o fenômeno do dumping social e, consequente, desrespeito aos padrões mínimos trabalhistas
defendidos na órbita internacional pela Organização Internacional do Trabalho, com consequências funestas para
o trabalhador, que não veem assegurados direitos como FGTS, décimo terceiro salário, produtividade, férias,
sem olvidar da não limitação da carga horária de trabalho, ausência do descanso remunerado, da contração de
seguro de vida e acidentes, impossibilidade de gozo das garantias de emprego, enfim, falta de amparo às regras
da CLT. No caso dos autos, o conjunto probatório deixa evidente a contratação do trabalhador como analista de
sistemas, por meio da constituição de empresa com sua genitora, encontrando-se presentes, à luz do artigo 9º da
CLT e do princípio da primazia da realidade, os requisitos insertos nos artigos 2º e 3º da CLT. Recurso da
primeira ré parcialmente provido.” Disponível em:
https://trt-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24926924/recurso-ordinario-ro-11768120115010064-rj-trt-1. Acesso
em: 23 jan. 2022.
58
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
realidade atual do mercado de trabalho? O Estado ainda deve agir como o Grande Pai
regulando de forma tão intensa as relações trabalhistas? Os profissionais deveriam ter mais
autonomia para gerir determinados recursos, assumindo responsabilidades para si quanto a
alguns aspectos do seu futuro? Mantê-los na ilegalidade não se torna mais prejudicial do que
buscar meios de legalizá-los e regulamentá-los?
Nota-se que o clima contemporâneo de polarização ideológica por vezes impede, ou
ao menos suscita empecilhos para um alinhamento de ideias que convirjam para uma melhor
adaptação à realidade do trabalho face aos novos desafios do mercado.
O maniqueísmo presente nas discussões ideológicas cria óbices à evolução das
Relações de Trabalho, uma vez que buscam opor o empregador e o empregado em trincheiras
opostas. No entanto, o fato é que ambas as partes são codependentes, pois tanto o trabalhador
– carente de possibilidades promissoras para o empreendedorismo – depende do empregador,
quanto este depende da mão de obra da classe trabalhadora, bem como do poder de consumo
que essa massa representa.
A partir disso, espera-se que este Estudo de Caso contribua na difusão de ideias, de
modo que, se busque soluções que atendam aos anseios da preponderância dos profissionais,
sem, contudo, causar a precarização das relações.
Almeja-se ainda que surjam novas oportunidades analíticas relevantes, de modo a
contribuir e complementar este estudo, visando inclusive responder aos novos
questionamentos que surgiram a partir desta pesquisa.
61
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Marcia Carvalho de; TONELLI, Maria José. Diferentes Vínculos de Trabalho
entre Trabalhadores Qualificados Brasileiros. XXXIII Encontro da ANPAD. São Paulo,
2009. Disponível em: http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/45/GPR2233.pdf. Acesso
em: 29 nov. 2021.
BATISTA, Isabel de Oliveira; SILVA, Patrick Luiz Martins. A pejotização sob o prisma dos
princípios do direito do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v.
83, n°. 2, p. 171-194, abr./jun. 2017. Disponível em:
https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/110133. Acesso em: 23 jan. 2022.
BEZERRA, Eduardo. Princípios de análise e projeto de sistemas com UML. 3°. Rio de
Janeiro. Editora Campus, 2007.
BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações: CBO – 2010 – 3°. Ed. Brasília: MTE,
SPPE, 2010.
CALMON, Sacha Navarro Coêlho. Os contribuintes e a Lei nº. 11.196. Valor Econômico,
15/02/2006, Legislação & Tributos. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/457578/noticia.htm?sequence=1. Acesso
em: 05 jan. 2021.
CARVALHO, André Luis de. Pejotização: a empresa individual como força de trabalho.
Curitiba: CRV, 2019. Livro digital.
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho: de acordo com a reforma trabalhista. 17°.
Ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020.
______. A gestão informal de contratos atípicos: o caso dos PJ’s do setor de TI. In:
ARAÚJO, Ângela Maria Carneiro de; NUNES, Jordão Horta. (Org.). Trabalho, trajetórias e
identidades: qualificações, deslocamentos e crises. São Paulo: Annablume, 2015a, v. 1, p. 57-
71. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/franciscovargas/files/2019/10/2.-A-Gest
%C3%A3o-Informal-de-Contratos-At%C3%ADpicos-O-Caso-dos-PJs-do-Setor-de-TI.pdf.
Acesso em: 23 jan. 2022.
CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho sintetizado. 1°. Ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2016.
JOÃO, Belmiro Nascimento. Sistemas de informação. 2°. Ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2018.
63
KILIMNIK, Zélia Miranda; DIAS, Sheila Mara Oliveira; JAMIL, George Leal. Fatores de
pressão no trabalho e comprometimento com a carreira: um estudo com profissionais de
tecnologia da informação. Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 11, n°. 2, jul-dez
2012, artigo 7. Disponível em: https://doi.org/10.5329/RESI.2012.1102007. Acesso em 23
jan. 2022.
MALDONADO, José Carlos et al. Introdução ao teste de software (versão 2004-01). [S.l:
s.n°.], 2004. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001562797. Acesso em: 29 nov.
2021.
MORENO Jr. Valter de Assis; CAVAZOTTE, Flávia de Souza Costa Neves; FARIAS,
Eduardo de. Carreira e relações de trabalho na prestação de serviços de tecnologia da
informação: a visão dos profissionais de TI e seus gerentes. JISTEM: Journal of Information
Systems and Technology Management, vol. 6°., n°. 3, 2009. Universidade de São Paulo,
Brasil. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jistm/a/7MLrrMR8MqSgfxmqtDxYWPg/?
lang=pt. Acesso em: 29 nov. 2021.
PEREIRA, Leone. Pejotização: o trabalhador como pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva,
2013.
RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8°. Ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.
64
RODRIGUES, Rosane Aparecida. Fraude às relações de emprego. São Paulo: LTr, 2015.
ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do trabalho esquematizado. 5°. Ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018.
Brasil. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, São Paulo, v. 21, 2021. DOI:
10.20396/rho.v21i00.8657662. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8657662. Acesso em: 29
nov. 2021.
WAZLAWICK, Raul Sidnei. Engenharia de software: conceitos e práticas. 1°. Ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.
Quadro 1 – Exemplos de respostas sobre a opinião referente à contratação como pessoa jurídica
Resposta 7 Para mim é a melhor opção, uma vez que você decide
o que fazer com o valor bruto recebido, desde que
pague normalmente os custo [sic] de uma empresa,
isso te dá liberdade financeira.
Resposta 1 Só atrapalha.