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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

MAURÍCIO MARTINS DA SILVA

NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE E SEUS POSSÍVEIS REFLEXOS


PARA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Braço do Norte
2021
MAURÍCIO MARTINS DA SILVA

NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE E SEUS POSSÍVEIS REFLEXOS


PARA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Direito da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Silvio Roberto Lisbôa, Esp.

Braço do Norte
2021
MAURÍCIO MARTINS DA SILVA

NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE E SEUS POSSÍVEIS REFLEXOS PARA


ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua forma
final pelo Curso de Direito da Universidade do
Sul de Santa Catarina.

Braço do Norte, 07 de dezembro de 2021.

______________________________________________________
Professor e orientador Silvio Roberto Lisbôa, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Francisco Luiz Goulart Lanzendorf
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Cristiano José da Rosa Berkenbrock
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dedico essa monografia a todos que me deram
apoio para seguir em frente, muitas vezes foi
difícil, mas sempre tinha alguém para me
apoiar. Muito obrigado meus pais, minha irmã,
minha namorada e por último, mas não menos
importante ao professor Lisbôa meu orientador.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus e a todos aqueles que, de forma direta ou indireta,


me motivaram a não desistir. Não poderia, aqui, citar todos os nomes daqueles que se fizeram
presentes nesta jornada, mas acredito que cada pessoa com quem convivo teve sua participação
especial nisso.
Dentre todas essas pessoas, destacam-se meus pais, minha irmã e minha namorada,
que sempre acreditaram na minha capacidade e, mesmo com suas rotinas diárias e demais
afazeres, reservaram um tempo especial para me motivar.
Não menos importante, os professores que eu tive desde o início da faculdade pois
sem eles nada disso aconteceria, agradeço em especial ao meu orientador, Silvio Roberto Lisbôa
que mesmo sem me conhecer aceitou me orientar e transmitir seus conhecimentos. Muito
obrigado!
“A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer.”
(Ruy Barbosa).
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apontar as alterações trazidas pela Lei nº
13.869/2019, mais conhecida como Lei de Abuso de autoridade, enfatizando seu reflexo na
atividade Policial Militar. A metodologia empregada foi bibliográfica expondo
posicionamentos doutrinários acerca do tema, que foi dividido em três capítulos, onde o
primeiro destinou-se a apresentar a evolução histórica do abuso de autoridade, o segundo tratou
de analisar a origem das Polícias Militares do Brasil, sua previsão constitucional e função social
que desempenha e por derradeiro o terceiro capítulo apresentou os reflexos que a Lei 13.869,
de 5 de setembro de 2019 nas atividades policiais militares. Com a pesquisa, concluiu-se que
houve algumas modificações que apenas especificaram o que a lei antiga trazia de forma geral
mas por ser uma lei recente, carece de estudos e elucidações deixando assim uma dúvida
doutrinária, se a nova lei trouxe avanços ou retrocessos para a atividade policial.

Palavras-chave: Policial. Abuso. Impactos.


ABSTRACT

This paper aims to point out the changes brought about by Law No. 13.869/2019, better known
as the Abuse of Authority Law, emphasizing its impact on the Military Police activity. The
methodology used was bibliographical exposing doctrinal positions on the subject, which was
divided into three chapters, where the first is intended to present the historical evolution of the
abuse of authority, the second deals with analyzing the origin of the Military Police in Brazil,
its prediction constitutional and social function that it performs and, finally, the third chapter
presents the reflexes that Law 13.869, of September 5, 2019, in the military police activities,
with the research, it was concluded that, as a recent law, it lacks studies and elucidation thus
leaving a doubt, whether the new law brought advances or setbacks not only for police activity
but for all areas.
Keywords: Cop. Abuse. Impacts.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
1.1 DELIMITAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ........................................ 11
1.2 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 12
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................ 13
1.3.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 13
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 13
1.4 DELINEAMENTO DE PESQUISA ........................................................................ 13
2 DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ACERCA DO ABUSO DE AUTORIDADE
.................................................................................................................................. 16
2.1 DA CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO DE 1824 ATÉ A CONSTITUIÇÃO DE 1988
.................................................................................................................................. 16
2.2 DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE LEI Nº 4.898/65 ................................... 19
2.2.1 PRINCIPAIS CRIMES PREVISTOS NA LEI 4.898/65 .................................... 20
2.2.2 DIREITO DE PETIÇÃO....................................................................................... 22
2.2.3 PENAS E SANÇÕES ............................................................................................. 24
2.2.4 PROCESSABILIDADE......................................................................................... 27
3 DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIADE LEI Nº 13.869/2019 ................ 28
3.1 HISTÓRICO E FINALIDADE DA LEI 13.869/2019............................................. 30
3.2 DIFERENÇA ENTRE ABUSO DE AUTORIDADE E ABUSO DE PODER E
CONCEITO DE AGENTE PÚBLICO .................................................................... 31
3.3 DISPOSITIVOS REVOGADOS E MODIFICADOS PELA LEI Nº 13.869/19 .... 33
3.4 DISPOSIÇÕES GERAIS DA LEI Nº 13.869/19 ..................................................... 36
3.5 SUJEITO ATIVO .................................................................................................... 38
3.6 DA AÇÃO PENAL .................................................................................................. 38
3.7 DO PROCEDIMENTO JUDICIAL......................................................................... 39
3.8 DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL.................................................................. 40
3.9 DOS CRIMES E DAS PENAS PREVISTOS NA LEI Nº 13.869/19 ..................... 40
3.10 EFEITOS DA CONDENAÇÃO .............................................................................. 43
4 NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE E SEUS POSSÍVEIS
REFLEXOS PARA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR ................................ 45
4.1 DAS POLÍCIAS MILITARES NO BRASIL .......................................................... 45
4.1.1 BREVE HISTÓRICO ............................................................................................ 45
4.1.2 MISSÃO CONSTITUCONAL.............................................................................. 47
4.1.3 DAS ATIVIDADES POLICIAIS.......................................................................... 50
4.2 INOVAÇÃO NA LEI Nº 13.869/19 E OS REFLEXOS NA ATIVIDADE DA
POLÍCIA MILITAR ................................................................................................ 53
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61
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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa analisar a Nova Lei de Abuso de Autoridade frente a atividade
policial militar e seus reflexos. A pesquisa em comento será de grande valia para o meio
acadêmico, por ser um tema bastante atual e de grande necessidade de entender.

1.1 DELIMITAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A força do Estado sempre esteve no comando das civilizações organizadas, poucas


fugindo deste modelo hierárquico de estruturação social. Acompanhado do imaginário do
Estado, a personificação desmembrou-se em diversos meios de controle, sendo monárquico,
oligárquico, republicano, ditatorial ou autoritário, mas a ilusão de superioridade àqueles que
estão a esse submetidos, estava constantemente presente. Dada a conjunção de forças do Estado,
ainda ocorre, abusos dos detentores do poder para com seus representados ou subordinados,
infelizmente, engana-se quem supõe que a democracia garante a imunidade aos abusos estatais.
Os constantes abusos do Estado culminaram na necessidade de criminalizar aquele que
é detentor do poder de julgar e condenar a todos. Antes inatingível no topo da hierarquia, agora
o Estado figura no polo passivo, lutando contra si mesmo para que se puna em razão do poder
que lhe é conferido. Mas por óbvio, como observado, se quem é o réu também é quem aplica a
reprimenda, não será esta a mais severa ou a mais odiosa que se buscará como resultado. A
figuração do Estado ou de seus agentes no polo passivo da demanda, modestamente apareceu
aos poucos, evoluindo do cível, até o criminal. De fato, a fantasiosa “punição” penal que o
Estado recebe, não se equivale ao dano sofrido pela vítima, dadas as proporções comparativas
entre o singular indivíduo e a intangível presença do Estado (ABRÃO, 2017).
O anseio populacional pela responsabilização daqueles que abusam de seu papel
enquanto agentes do Estado, fizeram com que os próprios representantes do povo formulassem
e aprovassem normas, leis ou outros meios de controle de tais atos. Demonstrando com isso
uma função social e aplicação igualitária do poder punitivo, demonstrando de que todos reponde
igualmente à lei e são por ela igualmente punidos pelo Estado.
Assim nasceu a primeira lei que tratava especificamente de abuso de autoridade, criada
em 1965, em pleno Regime Militar Governado pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco. A Lei Nº 4.898/65 regulava o Direito de Representação e o processo de
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Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade, porém tinha
penas mais leves. Com o passar do tempo, houve a necessidade de atualização dos dispositivos
que versavam sobre o abuso de autoridade, foi assim que no dia 5 de setembro de 2019 surgiu
a Lei Nº 13.869 atualizando o assunto e trazendo novas penas mais rígidas.
Ante o exposto, este trabalho monográfico desenvolver-se-á, especialmente, a partir da
problemática: Por ser recente, 1 ano de vigência, e com a escassez de estudos sobre a Lei Nº
13.869 – Nova lei de Abuso de Autoridade – se faz necessário a apresentação e a análise acerca
dos crimes, das penas e as sanções que a lei apresenta, comparando com a antiga lei de abuso
de autoridade, e com isso concluir se ajuda ou atrapalha a atividade da polícia Militar.

1.2 JUSTIFICATIVA

Inicialmente, a escolha do tema pesquisado se deu por afinidade à área criminal, e às


disciplinas de direito penal e direito processual penal, logo desde o início da graduação. Quanto
à importância da presente pesquisa, o abuso de autoridade é um tema muito importante a ser
falado, visto que, é uma lei recente e que trouxe muitos avanços para o ordenamento penal.
Este trabalho de conclusão de curso tem como principal objetivo apresentar os reflexos
da nova lei de abuso de autoridade, focado especialmente em Policiais Militares no exercício
de suas funções. Mas para tanto, primeiramente veremos a evolução histórica do abuso de
autoridade desde o início do império até a data que entrou em vigência a lei que rege o abuso
de autoridade atualmente, que completou um ano dia 01 de janeiro de 2020.
Logo após discorrer sobre a história do Abuso de autoridade, falaremos um pouco da
Polícia Militar no Brasil, que é uma das instituições mais respeitadas e mais efetivas da área de
segurança pública, sua previsão constitucional e função social que desempenha, é inegável a
importância do policiamento militar nas ruas, para garantir a ordem com patrulhamento
ostensivo preventivo e policiamento ostensivo repressivo.
Por derradeiro, veremos os reflexos da lei de abuso de autoridade na prática das
atividades da polícia militar, passando pelo poder de polícia e abuso de autoridade, os crimes e
sanções previstas na lei e as inovações que a lei trouxe, analisando apenas no contexto da Polícia
Militar, como dito anteriormente.
O último dispositivo legal sobre abuso de autoridade foi a Lei 4.898/65, revogada com
o advento da nova lei, alguns artigos do Código Penal, alterou a Lei da Prisão Temporária, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto da Advocacia e da OAB e a Lei de
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interceptação telefônica. Insta salientar que, a recente alteração da lei e não haver tantos estudos
acerca dela, buscou-se mostrar comentários à Lei, focando nas condutas abusivas que
caracterizam crime.
Todo trabalho foi desenvolvido aplicando as técnicas de pesquisa bibliográfica,
apresentando pontos de vistas de diversos doutrinadores referente ao assunto tratado em cada
capítulo, esse método é o primeiro passo para desenvolver sobre o assunto, ou seja, depois de
escolher o tema, há a necessidade de pesquisar sobre o assunto, apresentando também o
subjetivismo que pesquisa qualitativa traz. As fontes de pesquisa utilizadas foram, livros,
publicações de revistas, artigos e monografias, também foi utilizada a pesquisa documental em
legislação e jurisprudências.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 OBJETIVO GERAL

Pesquisar a respeito da Nova Lei de Abuso de Autoridade e analisar os reflexos na


atividade da Polícia Militar.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Discorrer acerca do delineamento histórico do abuso de autoridade, desde a Constituição


do Império até a Constituição Atual;
Apontar as inovações que a Lei 13.869/19 causou no ordenamento penal com a
revogação/modificação de alguns dispositivos do código penal e da Lei 4.898/65;
Apresentar a história da Polícia Militar no Brasil, a missão constitucional, as atividades
policiais e a os possíveis reflexos que a lei causou nessas atividades.

1.4 DELINEAMENTO DE PESQUISA

Definir os processos determinantes da execução da pesquisa e seu direcionamento,


visando indicar como será precedido a coleta de dados, a lógica teórica e a utilização de dados,
de modo a relacionar a teoria e fatos e as estratégias determinante das operações que serão
necessárias para o resultado da pesquisa. Nesse sentido, quanto ao delineamento “envolve os
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fundamentos metodológicos, a definição dos objetivos, o ambiente da pesquisa e a


determinação das técnicas de coleta e análise de dados.” (GIL, 2017).

1.4.1 Método
Quanto ao método de abordagem, a presente pesquisa classifica-se como dedutiva, visto
que iniciou com premissas gerais, do direito brasileiro e seu ordenamento jurídico e, ao final,
chegou a uma resposta específica. Esse conceito é esclarecido por Motta (2013, p. 86), “[...] o
pesquisador estabelece seu raciocínio de forma com que as primeiras considerações acerca do
problema sejam consideradas universais ou gerais para, em seguida, analisar o problema de
forma específica ou particular.”.

1.4.2 Tipo de pesquisa


A presente pesquisa pode ser classificada quanto ao nível, como bibliográfica,
documental e exploratória, visando conhecer como o tema em estudo é visto no ordenamento
jurídico brasileiro e no entendimento doutrinário, a fim de dar embasamento teórico à
investigação. Como pesquisa exploratória, Araújo conceitua como “aquela cujo planejamento
é bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos
ao fato estudado” (ARAÚJO, 2015 apud LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 12).
Quanto à abordagem, a presente pesquisa é qualitativa, devido à análise referente à Lei
de Abuso de Autoridade Lei nº 13.869/19, verificando críticas doutrinárias acerca do tema, e,
os requisitos exigidos para sua aplicação. A referida pesquisa de forma qualitativa tem
características e aspectos específicos, nesse sentido, de acordo com Minayo (2007, p. 21, apud
LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 28):
[...] se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado.
Ou seja, ela trabalha o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das
crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos é entendido aqui
como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas
por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade
vivida e partilhada com seus semelhantes.

Os procedimentos utilizados para coleta de dados foram os documentais e


bibliográficos, tendo em vista que será utilizado a legislação brasileira, Lei Nº 13.869/19,
Constituição Federal, Código Penal e o Código de Processo Penal. Para Rauen (1999, p. 29,
apud LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 18):
As fontes documentais podem ser de podem ser de primeira ou de segunda mão. Entre
os documentos de primeira mão podemos citar: arquivos públicos e privados, cartas,
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diários, fotografias, gravações, memorandos, regulamentos, ofícios, boletins, dentre


outros. Entre os documentos de segunda mão elencam-se: relatórios de pesquisa,
relatórios de empresa, tabelas, quadros, entre outros.

Ainda, sobre o procedimento, tem-se o bibliográfico, pois como fontes secundárias,


utilizar-se-á doutrina e jurisprudências, nesse sentido, a pesquisa “[...] se desenvolve tentando
explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos,
manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos etc.”. (LEONEL; MOTTA, 2011, p.112).

1.4.3 Procedimentos e instrumentos utilizados para coleta de dados


A pesquisa bibliográfica se deu por meio do estudo da legislação brasileira,
entendimentos doutrinários de obras relacionadas no levantamento bibliográfico e citadas nas
referências bibliográficas.
Por fim, vale ressaltar que ao longo da pesquisa outras fontes bibliográficas podem vir
a se mostrar suscetíveis de utilização, além de entendimentos jurisprudenciais e a legislação
brasileira.
No próximo capítulo apresenta-se um estudo sobre o a Legislação brasileira acerca do
Abuso de Autoridade, passando pelo contexto histórico com a promulgação da Constituição do
império de 1824 até a Lei Nº 13.869/19 – Nova Lei de Abuso de Autoridade.
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2 DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ACERCA DO ABUSO DE AUTORIDADE

A legislação brasileira acerca do abuso de autoridade é um marco na história desde sua


origem, com o Decreto-Lei 2.848/40 (Código Penal), como também na configuração do delito
de abuso de autoridade na Lei 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de
Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade, e agora, mais
do que nunca, com a Lei 13.869/19 (Lei de abuso de autoridade). Ambas as leis, mesmo editadas
em épocas políticas diferentes, evoluíram priorizando a proteção dos direitos individuais,
fortalecendo o papel do cidadão na representação judicial contra os atos de (ir)responsabilidade
administrativa, civil e penal, de autoridades constituídas. (BASTOS, 2019).
Neste capítulo apresenta-se um estudo sobre o a Legislação brasileira acerca do Abuso
de Autoridade, passando pelo contexto histórico com a promulgação da Constituição do império
de 1824 até a Lei Nº 13.869/19 – Nova Lei de Abuso de Autoridade.

2.1 DA CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO DE 1824 ATÉ A CONSTITUIÇÃO DE 1988

O abuso de autoridade vem desde a Constituição Política do Império, de 1824. O


diploma delimitava a atuação dos agentes do Estado. O inciso III do artigo 133 definia que “os
ministros de Estado serão responsáveis” por “abuso de poder”. Já o artigo 156 assentava,
expressamente que “todos os juízes, e os Oficiais de Justiça são responsáveis pelos abusos de
poder, e prevaricações, que cometerem no exercício de seus empregos”. (SIMONETTI, 2021).
Outra legislação a trazer a temática do abuso de autoridade foi o Código Penal do
Império do Brasil (primeiro Código Penal brasileiro) de 16 de dezembro de 1830, tal dispositivo
encontrava-se no art. 2º, §3º, conforme segue:
Art. 2º Julgar-se-á crime, ou delicto:
[...]
3º O abuso de poder, que consiste no uso do poder (conferido por Lei) contra os
interesses públicos, ou em prejuízo de particulares, sem que a utilidade pública o exija
(BRASIL, 1830).

Ainda na Carta Magna do Império previa, em seu artigo 179, inciso XXIX, que
“empregados públicos são responsáveis pelos atos abusivos e omissão que venham à cometer
no exercício de suas funções”, e, dando um salto no tempo, o Decreto Nº 847, de 11 de outubro
de 1890 (Código Penal dos Estados Unidos do Brasil), previa na secção VI, que versava sobre
o Excesso ou abuso de autoridade e usurpação de funções públicas, no art. 226 entende-se por
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abuso de poder ou abuso de autoridade, tinha como pena a suspensão do emprego por seis meses
a um anos, juntamente com as demais sanções que dos crimes acessórios, nos seguintes termos:

Art. 226. Exceder os limites da das funções próprias do emprego:


pena - de suspensão do emprego por seis mezes a um anno, além das mais em que
incorrer. (BRASIL, 1890)

Na Constituição Federal de 1891, cuidadosamente no artigo 72, parágrafo 9º estabeleceu


que era permitido ao povo, quem quer que seja, representar por petição, dirigida aos Poderes
Públicos, denúncias de abuso das autoridades e responsabilizá-los pelo ato praticado. Em
conformidade, a Constituição da segunda República manteve esses preceitos e foi além,
tratando de dispor sobre as punições do Presidente. (SIMONETTI, 2021).

Art. 175. O Poder Legislativo, na iminência de agressão estrangeira, ou na emergência


de insurreição armada, poderá autorizar o Presidente da República a declarar em
estado de sítio qualquer parte do território nacional, observando -se o seguinte:
[...]
§13º - O Presidente da República e demais autoridades serão responsabilizados, civil
ou criminalmente, pelos abusos que cometerem. (BRASIL, 1891).

Conforme Molossi (2020), os períodos mais turbulentos e com o maior índice de abuso
de poder/autoridade ocorreram na Era Vargas (mais precisamente no Estado Novo) e no período
de governo militar; períodos de suma importância histórica no país e que são relativamente
recentes, ambos ocorrendo no século XX. E o autor completa falando que, com exceção dos
artigos alheios em Constituições passadas e até mesmo na atual, além de uma lei ultrapassada,
o país não tinha uma ferramenta adequada para lidar com tal crime, aliás, nem era considerado
crime, pois a lei anterior não se inclinava, nem muito menos definia delitos ou práticas
funcionais abusivas; até a promulgação da Lei nº 13.869/19. (Molossi, 2020).
Abordando o direito de representação por petição, conta abusos praticados por agentes
públicos, a Constituição Federal de 1946, assegurava aos brasileiros e estrangeiros residentes
no país o direito de representação a quem tivesse sofrido abuso por parte de agentes públicos,
veja-se o artigo:

Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual
e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
§ 37 - É assegurado a quem quer que seja o direito de representar, mediante petição
dirigida aos Poderes Públicos, contra abusos de autoridades e promover a
responsabilidade delas. (BRASIL, 1946).

Posicionamento que se repetiu na Carta Magna de 1967 e mantido na Emenda


Constitucional nº1 de 17 de outubro de 1969, assegurando o direito de representação para
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defender direito ou abuso de autoridade, conforme previsto no art. 153, §3º da referida
legislação:

Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
§3º. É assegurado a qualquer pessoa o direito de representação e de petição aos
Poderes Públicos, em defesa de direito ou contra abuso de autoridade. (BRASIL,
1967)

Posterior ao Código Penal de 1940 que está vigente até os dias de hoje e anterior
promulgação das Constituições referidas acima, no dia 9 de dezembro de 1965, fora editada a
Lei nº 4.898, que trazia os abusos cometido por autoridades como crime. A lei 4.898/65, fez
uso quase que literal do projeto de lei nº 952 elaborado por Bilac Pinto que tratava de regula o
direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos
de abuso de autoridade, portanto, traz em seu texto, direitos garantidos às autoridades acusadas
de crime de abuso de autoridade, como a representação e processos de responsabilidade civil,
penal e administrativo. Além de estabelecer quais são os crimes sancionados pela Lei, e a forma
como a sanção ocorrerá, ou seja, o processo em todas as suas instâncias. (LIMA, 2020).
Não obstante a referida lei sofresse com problemas de aplicabilidade em sua real
finalidade, ela não deixa de ostentar relevância histórica, principalmente após a gradual abertura
governamental aos movimentos populares, com a restauração de direitos individuais, os quais
vieram a gerar embasamento para as conquistas mais recentes. (FABRI, 2020). Na seção
seguinte será melhor estudada esta lei.
Na Constituição Federal de 1988, atual Constituição da República Federativa do Brasil,
são poucos os dispositivos que versam sobre o abuso de autoridade. O principal está no Título
II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos, qual seja:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder; (BRASIL, 1988).

Observa-se que, a Constituição de 88 repetiu o disposto na Constituição de 67,


assegurando a qualquer pessoa brasileiro ou estrangeiro residente – entende-se por qualquer
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pessoa que se encontra em território nacional, residente ou não – o direito de provocar os


Poderes públicos pleiteando defesa de direito ou contra abuso de poder.
A Lei nº 4.898 de 9 de dezembro de 1965, Lei de Abuso de Autoridade, possibilitava,
desde meados da década de 60, que a vítima que tenha sofrido qualquer abuso por parte de um
agente público levasse o fato ao conhecimento da autoridade competente para o processamento
e responsabilização do autor. (HABIB, 2017). Segundo Capez (2014, p.23), por ter sido
elaborada em uma época autoritária na história do Brasil, a lei 4.898/65 teve um cunho
meramente simbólico, promocional e demagógico. Com o intuito de incriminar os chamados
abusos de poder e de ter um procedimento mais célere, acabou que, previu penas mais brandas,
passiveis de substituição por multa e de fácil prescrição.
Em 2017 foi colocado em pauta, com caráter de urgência, com a autoria do Senador
Randolfe Rodrigues (REDE/AP), o Projeto de Lei do Senado 85/2017, que após votação e
posterior aprovação, foi encaminhada para a Câmara dos Deputados, sendo convertida em
Projeto de Lei 7.596/2017, e como já é sabido, sancionada como Lei nº 13.869 de 05 de
setembro de 2019. (AGÊNCIA SENADO, 2019).
Havendo várias discussões acerca do tema, culminou em grandes mudanças, com novos
dispositivos sobre os excessos cometidos por agentes públicos, sendo servidor ou não, que ao
exercerem suas funções ou a pretexto de exercê-las, ultrapassem o poder que lhe são atribuídos.
Inclusive os policiais militares que são objeto desse trabalho.
Com isso, após sancionada, foi alvo de inúmeras conspirações e polêmicas por ocorrer
em um período muito turbulento na história brasileira, dando margem para argumentos como,
a Lei de abuso de autoridade foi criada com uma afronta a Operação Lava Jato, só que, em sua
essência técnica, não passa de uma lei absolutamente normal, sem nenhum vício Constitucional.

2.2 DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE LEI Nº 4.898/65

Atualmente, observa-se muitas críticas a nova lei de abuso de autoridade como se fosse
algo novo e que deste modo, em seu escopo rígido trazia elementos inovadores e bastantes
punitivos, mas na verdade já existia uma lei que tratava do assunto, só que por ser muito antiga,
pouco taxativa e muito menos punitiva, deixando quase irrisória sua aplicação. Deste modo,
viu- se a necessidade de uma nova lei mais firme e coesa para atender a sociedade.
Na verdade, a Lei de Abuso de autoridade, não é novidade no Brasil. No ano de 1965,
foi regida pela Lei 4898 que tratava do mesmo tema, apesar de que, na aplicabilidade dessa lei,
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durante 54 anos, foi considerada pela sociedade, como uma lei solta, branda, vazia, não punitiva
e não taxativa, além disso era tão destinada ao Poder Executivo. A nova Lei 13.869/2019, [...]
expandiu o texto da lei anterior, abarcando os poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e
inclusive o Ministério Público e as forças de segurança, ou seja, atinge diretamente todos os
agentes públicos do Brasil. (ALVES; ANGELO,2020).
De acordo com Souza (2016) a antiga Lei de Abuso de Autoridade retratava,
incoerentemente, a consagração de um significativo abuso de poder na evolução da legislação
penal brasileira. Uma das primeiras leis penais promulgadas após o golpe militar de 1964, com
designação de apelo popular. O diploma recebeu, desde então, apenas duas únicas
modificações, isto é, dois acréscimos, um em 1979, por pressão da advocacia, e outra em 1989,
em razão da edição da lei de prisão temporária. Em meados dos anos 1997, tentou-se uma
reforma quanto ao tema, mas acabou sendo abandonado por pressões corporativas de
autoridades de diversos segmentos. Mais tarde, houve uma relevante mobilização em 2008, a
partir de iniciativa do Supremo Tribunal Federal. A partir desse cenário surge o projeto do
deputado Raul Jungmann, de 11 de novembro de 2009, retomado recentemente com texto
substitutivo (projeto de lei 280/2016).
Essa seria a alavanca para a polêmica, pois no exato momento sociopolítico que se
passava o Brasil, sua aprovação passou a ser encarada como provocação por alguns integrantes
das instâncias formais de controle penal, ou seja, polícia, ministério público e magistratura, que
alegam ser isso uma tentativa de cerceamento a suas respectivas atuações. (SOUZA, 2016).
Nota-se que houve mudanças e novas tipificações penais significativas, taxando
condutas que devem ser consideradas abuso de autoridade e prevendo suas respectivas penas,
ademais, a nova lei expande tanto as condutas ditas como abusivas na legislação revogada,
como a quem se aplicam, incorporando servidores públicos e autoridades, civis e militares, do
Executivo, Legislativo e Judiciário, e membros do Ministério Público, Federal ou Estadual.
(FROZZI; PESSI, 2020).
.

2.2.1 PRINCIPAIS CRIMES PREVISTOS NA LEI 4.898/65

A primeira lei de abuso de autoridade brasileira foi sancionada em 9 de dezembro de


1965, tinha como objetivo amenizar os abusos que estavam sendo cometidos, em sua maioria,
por policiais na época em que o governo nacional era executado em regime de ditadura militar.
(BRASIL, 1965).
21

Composta de 29 artigos, a Lei nº 4.898/65 possibilitou o direito de representação e de


responsabilidade civil, administrativa e penal das autoridades que cometessem os abusos
regulados pela lei. Conforme os artigos 3º e 4º tornou-se cristalino o conceito de abuso de
autoridade.
Os crimes de Abuso de autoridade, exigem elementos específicos, tais como sujeito
ativo, que seja autoridade conf. Art. 5º (crimes próprios), e que haja com dolo específico.
Segundo Habib (2017) os crimes de abuso de autoridade, em síntese seriam: próprio; doloso;
comissivo; instantâneo; de atentado e por fim, que não admitem tentativa.
São os crimes que a doutrina classifica como comissivos e omissivos. Conforme os
ensinamentos de Prado (2014) o delito comissivo é aquele que se satisfaz com o simples agir
do sujeito ativo já o delito omissivo, é aquele que se amolda na omissão do sujeito ativo na
atividade legalmente exigida (omissivo próprio) ou a omissão de quem tinha o dever legal de
impedir o resultado (omissivo impróprio).
Na lei em comento tem-se um rol com 19 crimes divididos em dois artigos (3º, alíneas
a - j e 4º, alíneas a – i), no art. 4° tem-se tentados contra a liberdade (alíneas a – c), atentados
contra direitos em geral (alíneas d – f) e outras condutas (alíneas g – j).
Preliminarmente cumpre alertar que conforme Capez (2014), os crimes expostos no
art. 3º apresentam um rol exemplificativo, e de duvidosa constitucionalidade, por suposta ofensa
ao princípio da legalidade insculpida no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (BRASIL,
1965).

Para Habib (2017) há violação ao princípio da legalidade nos crimes descritos no art. 3º,
pois o legislador utilizou na descrição dos tipos penais, conceitos vagos e imprecisos, o que
dificulta sua interpretação, violando, o princípio da legalidade, da vertente taxatividade. Neste
sentido, Nucci (2008) sinaliza pela ofensa também ao princípio da taxatividade, pois segundo
o autor, os crimes descritos no aludido artigo, não descrevem convenientemente as condutas
típicas para a configuração do delito.
22

Em continuação às hipóteses anteriores, o artigo seguinte apresenta uma série de outras


condutas puníveis ao mesmo título:

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:


a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades
legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de
qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida
em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,
emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida
a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade
j) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança,
deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de
liberdade. (BRASIL, 1965).

Conforme Habib (2017), os delitos em suma, configuram violação de direitos


fundamentais do indivíduo, mas que ao contrário do art. 3º, foram previstos de forma taxativa.
A Lei também apresentava o procedimento a ser adotado para o protocolo, bem como o
decorrer da representação, com sanção não apenas no âmbito criminal, mas também cível e
administrativa (BRASIL, 1965). Sobre tais circunstâncias, são tratadas mais adiante quando das
comparações com a nova lei.
Acontece que com o passar dos anos essas disposições tornaram-se frágeis dentre a
realidade vivenciada pelos indivíduos, principalmente as sanções decorrentes do abuso de
autoridade, bem como as inovações processuais disponíveis no ordenamento jurídico. Com
isso, uma nova lei foi colocada em vigor, revogando-se completamente as disposições
anteriores. (KURIYAMA, 2021).

2.2.2 DIREITO DE PETIÇÃO

Vislumbrado na Magna Carta de 1215, o direito de petição nasceu por meio do right of
petition, na Inglaterra, consolidando-se no Bill of Rights de 1689. Consistia, nesse primeiro
momento, no simples direito de o Grande Conselho, depois o Parlamento, pedir que o Rei
23

sancionasse as leis. Fortaleceu-se na Constituição francesa de 1791 ao se ampliarem os


peticionários e o objeto da petição. (LENZA, 2020).
Segundo Silva (2007):

[...] o direito de petição define-se ‘como o direito que pertence a uma pessoa de
invocar a atenção dos poderes públicos sobre uma questão ou situação’, seja para
denunciar uma lesão concreta, e pedir a reorientação da situação, seja para solicitar
uma modificação do direito em vigor no sentido mais favorável à liberdade... Há, nele,
uma dimensão coletiva consistente na busca ou defesa de direitos ou interesses gerais
da coletividade.

O direito de petição é um instrumento constitucional, para a doutrina prevalecente, com


uma função esclarecedora de mão dupla, isto é, ora esclarece o Estado, ora o cidadão. É um
meio de mostrar à autoridade responsável que um dano (ofensa a direito, ilegalidade ou abuso
de poder) está se realizando. Obviamente, presume-se que autoridade não saiba, ou, se sabe,
não conhece seus efeitos. Seria uma tentativa, do cidadão, de levar ao conhecimento do Estado
que algo está acontecendo por consequência de sua ação ou omissão, porém contra sua vontade,
entendendo por vontade estatal o respeito aos direitos, a legalidade e o uso não abusivos do
poder. (VIEIRA, 2003)
Para Miranda (1968, p. 487) o direito de petição só é exercido quando o texto originado
não segue o rito processual, se segue os trâmites do processo, é ação, não petição. A petição
pode dirigir-se ao Poder Judiciário, mas com a natureza de requerimento administrativo, em
suas palavras: "Se alguém pede ao STF que altere o seu regimento interno exerce o direito de
petição [...]".
No entender de Canotilho (1996, p. 663) o direito de petição, assim como o direito de
resistência, é um meio de defesa não jurisdicional. Mas, ao conceituá-lo, não exclui sua
apreciação dos órgãos ou autoridades judiciárias, veja-se:

É um direito político que tanto se pode dirigir à defesa dos direitos pessoais (queixa,
reclamação) como à defesa da Constituição, das leis ou do interesse geral. Pode
exercer-se individual ou coletivamente perante quaisquer órgãos de soberania ou
autoridade.

Esse direito pode ser exercido por qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou
estrangeira, e independe do pagamento de taxas. Muito embora a Lei n. 4.898/65 (Lei de Abuso
de Autoridade, que regulamentava de modo formal e específico o direito de representação)
tenha sido revogada pela Lei n. 13.869/2019 (Nova Lei de Abuso de Autoridade), que, por sua
vez, não tratou sobre o direito de representação, entendemos que o instituto deve ser extraído
da própria Constituição. (LENZA, 2019).
24

Sobre o direito de representação contra o abuso de autoridade, duas informações iniciais:


pode ser exercido por qualquer pessoa, não é necessária a assistência de advogado. Conforme
o artigo 2º da revogada Lei 4898/65, o direito de representação será exercido por meio de
petição dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade
civil ou militar culpada, a respectiva sanção; dirigida ao Ministério Público que tiver
competência para iniciar processo crime contra a autoridade culpada, e por fim o parágrafo
único deste artigo nos mostra os elementos formais presentes na representação, são eles:
exposição do fato, qualificação do acusado e rol de testemunhas (máximo 3). (BRASIL, 1965).
O direito de representação difere da representação do ofendido nos crimes de ação penal
pública condicionada, pois os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública
incondicionada. (WESTPHAL, 2018).

2.2.3 PENAS E SANÇÕES

A Lei de Abuso de Autoridade foi criada em um período autoritário, com intuito


meramente simbólico, promocional e demagógico. A despeito de pretensamente incriminar os
chamados abusos de poder e de ter previsto um procedimento célere, na verdade cominou penas
insignificantes, passíveis de substituição por multa e facilmente alcançáveis pela prescrição. De
qualquer modo, a finalidade da Lei n.4.898/65 é prevenir os abusos praticados pelas
autoridades, no exercício de suas funções, ao mesmo tempo em que, por meio de sanções de
natureza administrativa, civil e penal, estabelece a necessária reprimenda. (CAPEZ, 2014).
A Lei de Abuso de Autoridade não constitui um diploma de natureza exclusivamente
penal, ao passo que regula o direito de representação, traz em seu bojo, dispositivos que
disciplinam também a responsabilidade dos agentes nas esferas civil e administrativa.
Nesta linha, Capez (2014) esclarece que, além de regular o direito de representação, a
Lei nº 4.898/65 define os crimes de abuso de autoridade e estabelece a forma de apuração das
responsabilidades administrativa, civil e penal. [...] De qualquer modo, a finalidade da Lei nº
4.898/65 é prevenir os abusos praticados pelas autoridades, no exercício de suas funções, ao
mesmo tempo em que, por meio de sanções de natureza administrativa, civil e penal,
estabelece a necessária reprimenda. (CAPEZ, 2014).
Ou seja, a Lei de Abuso de Autoridade enseja ao abusador a tríplice responsabilização.
Andreucci (2016) sinaliza no sentido de que além de ser tríplice a responsabilização do agente,
as sanções penais no caso de abuso de autoridade podem ser aplicadas autônoma ou
25

cumulativamente. Desde modo, as condutas tipificadas como abuso de autoridade, importam


simultaneamente ao abusador efeitos nas esferas: administrativa, civil e penal.
Referente às sanções, a lei 4.898/65, em seu art. 6º não se limita a sanções penais,
trazendo em seu bojo também sanções com caráter administrativo:

Art. 6º [...]
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso
cometido e consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com
perda de vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público. (BRASIL, 1965).

Como se observa, o parágrafo primeiro do aludido artigo elenca as sanções de natureza


administrativas que podem acarretar ao “abusador”, que variam desde sanções mais brandas
como advertência e repreensão, até medianas como suspensão do cargo por determinado
período e a mais severas como a destituição de função, demissão e demissão a bem do serviço
público.
Para que haja a responsabilização do agente público na esfera administrativa, salutar
mencionar que se faz necessário a instauração de procedimento administrativo, caso haja
legislação própria da respectiva carreira, como no caso dos Policiais militares do estado do
Paraná.
As sanções administrativas iniciam com advertência, forma mais branda à demissão a
bem do serviço público, sendo assim, a demissão a penalidade mais gravosa prevista na lei, e
consiste na perda do vínculo do servidor com a administração pública.
Na sanção administrativa de suspensão do cargo, função ou posto por prazo mínimo de
cinco dias e máximo de cento e oitenta dias, com perda de vencimentos proporcionais ao
período: “O agente deixa de exercer o cargo por um período determinado, sem percepção de
remuneração”. (GIRÃO, 2016).
Conforme Capez (2014), a sanção administrativa ou disciplinar por ser espécie
autônoma independe de processo civil ou criminal e, não condiciona/obriga a Administração
pública a aguardar o desfecho dos demais processos para sua solução. Podendo inclusive o
agente público ser responsabilizado em uma esfera, e inocentado em outra.
A Lei de Abuso de Autoridade trazia regramento da responsabilização do “abusador”
também na esfera cível, para tanto, o ofendido devia recorrer ao Poder Judiciário, que instruiria
o processo, sendo assegurado em todas as fases o contraditório e a ampla defesa que, ao término,
26

determinaria o valor a ser pago a título de indenização, seguindo o regramento constante do


Código de Processo Civil. (GIRÃO, 2016).
A sanção civil, conforme se depreende da leitura do art. 6º, § 2º, da Lei nº 4.898/65
“caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de
quinhentos a dez mil cruzeiros”. Ou seja, mensurava-se o valor possível do dano, ou não
havendo, um determinado valor. (BRASIL, 1965).
Capez (2014) nos orienta no sentido de que a prefixação do valor da indenização, em
face da mudança e desvalorização da moeda, tornou-se letra morta da lei. Todavia, permanecia
o agente responsável pelo abuso obrigado, à reparação civil do dano causado.
A responsabilização criminal, na Lei 4.898/65, encontrava-se no ao art. 6º, §3º, que era
aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal, prevendo as seguintes
sanções: multa de cem a cinco mil cruzeiros; detenção por dez dias a seis meses; perda do cargo
e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
(BRASIL, 1965).
Com o advento da Parte Geral do Código Penal, foi revogado o sistema anterior de
penas de multa. Todas as penas pecuniárias com valores expressos em cruzeiros, cruzados ou
qualquer outra unidade monetária tiveram esses valores suprimidos. Onde se lia “multa de x
cruzeiros”, leia-se agora apenas “multa”. Assim, a Lei de Abuso de Autoridade prevê a pena de
multa, não mais especificando qualquer valor. Este será obtido pelo novo critério do dia-multa,
de acordo com o que dispõem os arts. 49 e s. do CP. (WESTPHAL, 2020). A doutrina ainda
classifica como efeitos penais, a pena acessória aplicada à autoridade policial, civil ou militar
contida no §5º do art. 6º da Lei de Abuso de Autoridade.
Como bem esclarece Andreucci (2013) a lei ainda estabelece que se o “abusador” for
autoridade policial, seja ele civil ou militar independente da categoria, posto ou graduação,
poderá ser aplicada a sanção autônoma ou acessória de não poder exercer função de natureza
policial no município onde ocorrera o fato pelo período de um a cinco anos.
Destarte, após a vigência da Lei nº 7.209/84, que instituiu a nova Parte Geral do Código
Penal, teve-se a extinção das penas acessórias, de modo que tal previsão ainda expressa na Lei
de Abuso de Autoridade perdeu sua eficácia. Insta mencionar ainda o conteúdo a Súmula nº
171 do STJ que proibiu a substituição da pena privativa de liberdade por multa nos casos de
condenação por abuso de autoridade. (WESTPHAL, 2020).
Assim, observa que a área penal, a Lei de Abuso de Autoridade revogada, conservava
uma série de peculiaridades que merecem uma atenção e estudo pormenorizado e com o advento
da nova lei, agora mais do que nunca cabe esse estudo.
27

2.2.4 PROCESSABILIDADE

Em âmbito administrativo, a representação deve ser encaminhada à autoridade superior


àquela acusada de ter cometido o abuso, com competência legal para a aplicar a sanção
necessária, se for o caso, como por exemplo, se um juiz é acusado de ter abusado de seu poder,
encaminha-se a petição à Corregedoria Geral de Justiça (estadual, se o magistrado pertencer à
Justiça Estadual). (GIRÃO, 2016).
Já na esfera penal, em regra, o crime de abuso de autoridade será processado e julgado
pela Justiça Estadual, pois não faz parte do rol das infrações penais atribuídas pelo art. 109 da
Constituição Federal ao juízo federal, excepcionalmente, a competência poderá ser da Justiça
Comum Federal, isso ocorrerá quando o abuso de autoridade atingir bens, serviços e interesses
da União, das autarquias e fundações públicas. (GIRÃO, 2016).
O crime de abuso de autoridade praticado por funcionário público federal no exercício
de suas funcionais contra civis é de competência da Justiça Federal, ainda que trate de militar
membro das forças armadas, pois compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime
de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. (BRASÍLIA, STJ, 1996).
Sendo assim, se o crime for praticado por militar contra militar, a justiça competente
será a Justiça Militar, se se o crime for praticado por militar estadual contra civil, será
competente a justiça Estadual, por fim, se o militar for federal e o crime for cometido contra
civil, o STJ se manifestou pela competência da Justiça Federal. (GIRÃO, 2016).
28

3 DA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIADE LEI Nº 13.869/2019

A nova lei de abuso de autoridade passou a configurar os crimes cometidos por agentes
públicos que estejam no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abusem do poder
a eles conferidos. Bezerra (2020) explana que, segundo a doutrina majoritária, a Lei nº 4.898/65
carecia de atualização. Todavia, a Lei nº 13.869/19 não foi tão bem recepcionada por boa parte
da comunidade jurídica, tendo em vista que sua tramitação e posterior publicação se deu em
meio a escândalos de corrupção por parte de membros do Poder Público, notadamente, no
âmbito da denominada "operação lava-jato", circunstância que, no entendimento de muitos,
pode refletir como um instrumento de contenção às investigações envolvendo "crimes de
colarinho branco" do que puramente uma atualização necessária da legislação até então em
vigor.
Por fim o autor traz mais uma crítica acerca da antiga lei, comparando com a atual, e diz
que, o legislador, ao tipificar os crimes de forma vaga, com conteúdo indeterminado, buscou
abarcar diversas formas de abuso de autoridade, e, como consequência disso, violava o
Princípio da Taxatividade. Esse cenário, porém, não foi alterado com a novel Lei nº 13.869/19,
visto que também se utilizou da mesma técnica legislativa em muitos de seus tipos penais. Não
por outra razão, diversos dispositivos da nova lei foram vetados pelo Presidente da República
e, posteriormente, alguns destes vetos foram rejeitados pelo Congresso Nacional. (BEZERRA,
2020).
Conforme a lei determina constituem crime (previsão legal no artigo 9º ao 38) de abuso
de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem
ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, além de situações que revelem mero capricho ou
satisfação pessoal. (BRASIL, 2019). Para Nucci (2019), toda lei penal pode apresentar falhas
de redação em relação aos tipos penais incriminadores. Todavia, as falhas da lei anterior são
mais evidentes do que as da lei atual. Esta cristalizou que um abuso de autoridade somente
ocorre quando manifestamente excessiva foi a atitude do agente público.
O autor ainda segue afirmando que a lei anterior que foi editada na era da ditadura
militar, necessitava de uma reforma integral, tornando-a compatível com os tempos atuais.
Nesse prisma, é extremamente relevante destacar que os tipos penais da lei 4.898/65 não eram
taxativos como a atual. (NUCCI, 2019).
A atual lei tem um cunho muito mais “garantista” e “protetora” do que a legislação
passada, de acordo que, o agente público está “blindado” por elementos subjetivos específicos,
tornando assim, muito mais difícil de ser explorado e provado.
29

Esta lei, porém, dispõe que a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos
e provas não configura abuso de autoridade. Em outras palavras, as autoridades judiciárias
podem analisar algumas situações de maneira completamente diferente, podendo prender ou
liberar alguém. Não havendo abuso de autoridade do agente que prendeu, tampouco
prevaricação de quem soltou. (BRASIL, 2019).
Conforme explana Nucci (2020), grande parte dos membros do Ministério Público,
autoridades judiciárias e agentes de segurança pública atuam de maneira honesta, sem a
intenção de ultrapassar as linhas de seus poderes. Vale ressaltar que na lei passada, a
jurisprudência e aos doutrinadores fizeram as vezes para determinar que para configurar abuso
de autoridade o agente deve ter o ânimo de prejudicar alguém ou satisfazer a si mesmo. Como
aponta Castro (2020), a lei deixa claro a independência entre as esferas penal, civil e
administrativa. Sendo assim, para a instauração do Processo Administrativo Disciplinar contra
o agente público que cometeu crime se faz necessário a existência da ação penal para a
persecução penal da mesma natureza, não impedindo a ação de indenização para eventual
reparação dos danos causados pela conduta delitiva.
Com relação a ação civil Girão (2016, p. 23) elucida que, a Lei de abuso de autoridade
traz regramento da responsabilidade do “abusador” também na esfera cível, devendo o ofendido
provocar o Judiciário, que instruirá o processo, respeitando o contraditório e a ampla defesa, e
findado todo decorrer do processo, determinará o valor a ser pago a título de indenização,
respeitando o disposto no Código de Processo Civil.
Devido a independência entre as esferas, em regra a decisão em uma delas não faz coisa
julgada na outra. A exceção encontra-se no artigo 7º e 8º, conforme:
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não
se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas
questões tenham sido decididas no juízo criminal.

Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar,


a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito. (BRASIL, 2019).

Caso o juízo criminal verifique na prática do ato praticado, um estado de necessidade,


legitima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular do direito que
conforme o Código Penal são causas excludentes de ilicitude, a sentença fará coisa julgada nas
outras esferas, mas, referente às excludentes de culpabilidade, a lei não faz referência. Enfim,
estado presente umas dessas causas, todavia o agente não possa ser punido na esfera penal, não
30

há óbice para a indenização na esfera civil ou a devida punição na esfera administrativa, uma
vez que a ilicitude ainda reina.
Com relação aos policiais, a Constituição Federal de 1988 determinou que quando
executar a prisão, o agente deve identificar-se, assim como o agente que conduz o interrogatório
(artigo 5º, LXIV). A nova lei de abuso de autoridade trouxe um tipo penal incriminador visando
punir os que desobedecerem os mandamentos exposto, veja-se:

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de


sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório
em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao
preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função. (BRASIL, 2019)

Por fim, percebeu-se que a ideia dos parlamentares era causar temor e receio em agentes
policiais, membros do Ministério Público, Magistrados e outras carreiras de Estado, contudo,
percebe-se que a legislação se encontra no mesmo compasso da Constituição Federal.

3.1 HISTÓRICO E FINALIDADE DA LEI 13.869/2019

De acordo com Almeida Junior (2020), para entender perfeitamente a nova lei de abuso
de autoridade é necessário compreender o contexto anterior a ela, bem como o conjunto
normativo prévio, as causas, efeitos e o comparativo com a atual Lei.
A criação da nova lei de abuso de autoridade causou exaltação nos meios políticos,
acadêmicos e jurídicos, por acreditar que se tratava de algo novo e que possuía em seu escopo
rígido vários elementos inovadores e bastantes punitivos, mas na verdade já existia uma lei que
tratava do assunto, porém muito antiga, pouco taxativa e bem menos punitiva, deixando quase
desprezível sua aplicação. Desta forma, percebeu-se a necessidade de uma nova lei mais sólida
e coesa para atender a sociedade. (ALMEIDA JUNIOR, 2020).
No ano de 1965, foi regida pela Lei 4.898 que tratava do mesmo tema, porém a sua
aplicabilidade, durante 54 anos, foi considerada pela sociedade como uma lei branda e vazia,
que não conseguia taxar e muito menos punir. A Lei 13.869/2019 foi atualizada e atinge
diretamente todos os agentes públicos do Brasil conforme a passagem: expandiu o texto da lei
anterior, abarcando os poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e inclusive o Ministério
Público e as forças de segurança. (ALVES; ANGELO, 2020).
31

Conforme Capez (2011) a lei que regia o abuso de autoridade era a mesma instituída no
período da ditadura militar e durou até o ano de 2019, a lei tinha objetivo meramente simbólico,
promocional e demagógico, prevendo apenas punições insignificantes e passíveis de
substituição por multa que facilmente eram alcançadas pela prescrição.
De acordo com Nucci (2019) a lei anterior tinha necessidade de ser atualizada pois não
atendia mais as demandas vigentes, pois ela havia sido editada em plena ditadura militar. É
importante salientar que os tipos penais da antiga lei eram abertos e não taxativos, de acordo
com o Art.3º da lei anterior que dizia: “constitui abuso de autoridade qualquer atentado à
liberdade de locomoção”. Complementando ainda que seria adaptável a esse tipo de situação
todo e qualquer prisão preventiva decretada “sem justa causa” ou uma condução coercitiva
“fora das hipóteses legais”. Dessa forma, com a nova lei torna-se mais clara e taxativa. As falhas
na antiga lei eram mais claras quando comparadas a da legislação atual, porém não significa
que a atual não pode apresentar defeitos em sua redação.
Após ter sido aprovado no Congresso Nacional, o Presidente da República sancionou
dia 05/08/2019 esta lei nº 13.869/2019, 33 vetos, e no dia 24/09/2019 os parlamentares
derrubaram 18 desses 36 vetos.
Com essa derrubada, foram retirados 15 crimes dos previstos na lei, sendo eles: Executar
prisão ou busca e apreensão sem flagrante ou mandado; Fotografar ou filmar preso sem
consentimento; usar algemas sem necessidade; executar mandado de busca e apreensão com
mobilização desproporcional de aparato de segurança; instigar prática de crime para obter um
flagrante; omitir dados ou informações sobre fato judicialmente relevante e não sigiloso a uma
investigação, para prejudicar o investigado; deixar de corrigir erro conhecido em processo e
proibir ou dificultar a reunião pacífica de pessoas para fins legítimos. (AGÊNCIA SENADO,
2019)

3.2 DIFERENÇA ENTRE ABUSO DE AUTORIDADE E ABUSO DE PODER E


CONCEITO DE AGENTE PÚBLICO

O agente público é todo aquele que presta qualquer tipo de serviço ao Estado, que exerce
funções públicas, no sentido mais amplo possível dessa expressão, significando qualquer
atividade pública. A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) conceitua agente
público como “todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
32

mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. Trata-se,
pois, de um gênero. (BRASIL, 2012).
Paras os autores Matheus Carvalho e João Paulo de Oliveira (2017, p.5), Agentes
públicos são pessoas físicas que exercem atividade própria de Estado. Não importa se essa
atividade é remunerada ou não, se é permanente ou temporária. Todo qualquer que exerce
atividade própria de Estado é denominado de agente público. É evidente que agente público se
constitui em um gênero. As espécies que surgem de sua divisão, no entanto, não encontram
consenso na doutrina. Entendemos, no entanto, que o gênero Agente Público se subdivide nas
seguintes espécies: Agentes Políticos, Militares, Terceiros em colaboração com o Poder Público
e Servidores Estatais.

Abuso de Poder é o fenômeno que se verifica sempre que uma autoridade ou um agente
público embora competente para a prática de um ato ultrapassa os limites das suas atribuições
ou se desvia suas finalidades anteriormente delimitadas. Existem duas situações (modalidades):
a) ultrapassa seus limites que equivale a excesso de poder e b) desvia a finalidade anteriormente
prevista, equivalente a desvio de desvio de finalidade, sendo o que do abuso de poder nascem
o excesso de poder ou desvio de finalidade ou de poder. Destarte, o abuso de poder revela-se
através do excesso de poder, hipótese em que o agente público extrapola sua competência legal.
Logo, desvio de poder manifesta-se quando o agente público age com interesses distintos aos
princípios inerentes à administração, contrariando assim a finalidade pública.
Na hipótese de abuso de autoridade, existe a tipificação de condutas abusivas de poder
estipuladas como crimes sendo correto dizer que o abuso de autoridade é o abuso de poder
checado sob as normas penais. O abuso de autoridade engloba o abuso de poder, de acordo com
o disposto no artigo 1º, da lei nº 13.869/19, ao deixar claro que a lei define os crimes de abuso
de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído e no §1º termina dizendo
que as condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas
pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. (BRASIL, 2019).
O abuso de poder não caracteriza, apenas infração administrativa, pois é empregado na
esfera penal para descrever algumas condutas de abuso de autoridade, porém essas são muito
mais abrangentes do que o simples abuso de poder, quer pelo desvio, quer pelo excesso,
abrangendo outras condutas ilegais do agente público, levando-nos a conclusão de que o abuso
de autoridade engloba o abuso de poder, e este por seu turno, divide-se em desvio e excesso de
finalidade ou de poder.
33

Vale destacar que, segundo a Lei n. 13.869/19, considera autoridade para efeitos da lei
qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de
Território, compreendendo, mas não se limitando a servidores públicos e militares ou pessoas
a eles equiparadas; membros do Poder Legislativo; membros do Poder Executivo; membros do
Poder Judiciário; membros do Ministério Público e membros dos tribunais ou conselhos de
contas. (BRASIL, 2019)
E no parágrafo único do artigo 2º da nova lei manteve o que dizia na lei revogada e foi
além, deixando assim: “reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo”. (BRASIL, 2019).

3.3 DISPOSITIVOS REVOGADOS E MODIFICADOS PELA LEI Nº 13.869/19

O novo texto normativo trouxe mudanças e novas tipificações penais de impacto,


especificando condutas que devem ser consideradas abuso de autoridade e prevendo suas
respectivas punições. A nova lei amplia tanto as condutas descritas como abusivas na legislação
anterior, como a quem essas se aplicam, abrangendo servidores públicos e autoridades, tanto
civis quanto militares, dos três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário-, como também
dos membros do Ministério Público, sejam federais ou estaduais. (FROZI; PESSI, 2020).
A maior mudança que a Lei nº 13.869/2019 trouxe foi a revogação de toda a lei anterior
que tratava de abuso de autoridade, bem como o §2º do artigo 150 e o artigo 350 do Código
Penal.
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e
o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).
(BRASIL, 2019).

O art. 150 do Código Penal cuidava do crime de violação de domicílio. Por sua vez, o
§2º desse artigo, o qual foi revogado, trazia um aumento de pena relacionado ao servidor
público que violasse domicílio. No entanto, conforme explicado, a Nova Lei de Abuso de
Autoridade revogou essa disposição, porque transformou o crime de violação de domicílio
praticado por agente público em crime de abuso de autoridade. (FONTENELE, 2021)
Para dar lugar à previsão do § 2º do artigo 150 do Código Penal, o artigo 22 da Lei nº
13.869/2019 dispõe que “invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da
vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas
34

condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena –
detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”. (BRASIL, 2019).
Sobre esse ponto, é importante ter cuidado! O crime de violação de domicílio continua
existindo no Código Penal, mas quem o pratica é o particular, ao passo que o crime previsto
pelo artigo 22 da Lei nº 13.869/2019, apesar de também trazer conduta de violação à domicílio,
é um crime de abuso de autoridade e, para praticá-lo, é necessário um sujeito ativo qualificado.
Afinal, esse é um crime praticado somente por agentes públicos. (FONTENELE, 2021).
Sendo assim, o artigo 150 do Código Penal trata de crime de violação de domicílio
praticado por particular, de modo que, se for praticado por um agente público, ele não
responderá por esse artigo 150, mas sim pelo artigo 22 da Lei de Abuso. (FONTENELE, 2021).
Como dito, também foi revogado o artigo 350 do Código Penal e, em relação a esse, a
doutrina já dizia que tal artigo teria sido revogado tacitamente pela antiga lei de abuso. Mas, de
forma clara e expressa, foi somente a Nova Lei de Abuso de Autoridade que revogou esse
dispositivo. A conduta do artigo 350 do Código Penal, que cuidava do exercício arbitrário ou
abuso de poder, também se tornou crime de abuso de autoridade previsto no artigo 9º da nova
lei. (FONTENELE, 2021).
Art. 9º. Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade
com as hipóteses legais:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo
razoável, deixar de:
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade
provisória, quando manifestamente cabível;
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.
(BRASIL, 2019).

Previstas no artigo 40 da Lei nº 13.869/2019, as alterações feitas na Lei nº 7.960/89, Lei


da Prisão Temporária, implicaram na inclusão dos §§ 4º-A, 7º e 8º em seu artigo 2º, veja-se:
Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, passa a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 2º [...]
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão
temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá
ser libertado.
[...] § 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável
pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação
da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de
prisão temporária.” (NR). (BRASIL, 2019).

Em relação ao § 4º-A, deve-se ressaltar que, na prática, isso já era adotado normalmente,
antes mesmo de tal previsão, de modo que, nos mandados de prisão temporária, o juiz já
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colocava o prazo de duração da prisão. A única coisa que mudou é que agora isso está expresso
em lei. Essa exigência existe justamente porque, se desrespeitado o prazo, restará caracterizado
o abuso de autoridade, conforme dispõe o parágrafo único do, já mencionado, artigo 9º da Lei
nº 13.869/2019. (FONTENELE, 2021).
Sobre o §7º e §8º, para a doutrina majoritária, decorrido o prazo previsto no mandado
de prisão, o delegado, ou a autoridade policial responsável pela custódia, deve realizar a soltura
do detido independentemente do dia. O dia em que é realizada a prisão é considerado para fins
do cômputo do prazo de prisão.
Sobre as alterações promovidas na Lei nº 9.296/96, que é a lei que regulamenta a
interceptação telefônica, a Nova Lei de Abuso de Autoridade trouxe a seguinte previsão:
Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de
informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a


execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em
lei. (NR). (BRASIL, 2019).

Sobre isso, deve-se ressaltar que já era crime a questão da interceptação de


comunicações telefônicas, informática ou telemática, de modo que, pela Lei nº 13.869/2019,
foi incluída a escuta ambiental. Isso quer dizer que promover uma escuta ambiental não era
crime pelo texto original da Lei nº 9.296/96. Esse crime, portanto, foi incluído pela Nova Lei
de Abuso de Autoridade.
Ainda sobre as alterações promovidas pela Nova Lei de Abuso de Autoridade, insta citar
aquela realizada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Veja-se, então, o que prevê o
artigo 42 da Lei nº 13.869/2019:
Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 227-A:

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes
previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são
condicionados à ocorrência de reincidência.
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá
da pena aplicada na reincidência. (BRASIL, 2019).

Um ponto interessante que se nota a partir disso é que, se um agente público cometer
um crime do ECA com abuso de autoridade, ele responderá pelo ECA, e não pela Lei nº
13.869/2019. A própria Lei de Abuso, ao incluir no Estatuto o 227-A, deixa claro que se o crime
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do ECA for praticado com abuso de autoridade prevalecerá o ECA. Em suma: crimes do ECA
praticados por servidores públicos com abuso de autoridade estão sujeitos às regras do próprio
ECA, de modo que, para haver a perda do cargo, função ou mandato, terá que ter reincidência.
Sendo assim, no que tange ao ECA, este, com o advento do art. 227-A, impôs mais uma
condição para os crimes nele previstos, qual seja, para que ocorra a perda do cargo, função ou
mandato, é preciso que, além dessa condenação por tempo igual ou superior a 01 (um) ano, o
agente público seja também reincidente. Contudo, destaca-se: é irrelevante a pena aplicada
nessa reincidência, conforme prevê o seu parágrafo único.
E por último, mas não menos importante, as alterações feitas na Lei nº 8.906/94, que é
o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tem-se a inclusão, nesse estatuto, do
artigo 7º-B. Para entender, veja-se o que prevê o artigo 43 da Nova Lei de Abuso de Autoridade:
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar acrescida do seguinte
art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas)

Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos
incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (BRASIL, 2019).

Mais uma vez, o que é interessante é que esse crime do artigo 7º-B é um crime de abuso
de autoridade no seu conceito amplo, mas não é um crime da lei de abuso de autoridade. Até
porque, apesar de essa alteração ter sido feita pela Nova Lei de Abuso, o artigo foi incluído no
Estatuto da Ordem. Então, diz-se que é um crime de abuso de autoridade incluído no Estatuto
da OAB.

3.4 DISPOSIÇÕES GERAIS DA LEI Nº 13.869/19

O capítulo intitulado “Disposições Gerais” inaugura a Lei nº 13.869/19, já em seu artigo


1º, caput, a lei esclarece o seu objetivo e delimitando sua aplicação definindo os crimes de abuso
de autoridade e seus agentes. (SIQUEIRA, 2020)
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. (BRASIL, 2019).

Além de mostrar o propósito da lei, o caput do art. 1º elenca mais duas informações bem
importantes: o abuso de autoridade se trata de crime próprio e pode ser cometido fora do
exercício das funções. O crime pode ser considerado “próprio” porque a norma prescreve os
sujeitos específicos que possuem legitimidade ativa para praticar a conduta. Apenas os agentes
públicos podem cometer o abuso de autoridade, utilizando indevidamente o poder que é
atribuído a eles.
37

Interessante observar também que o abuso pode ocorrer no exercício da função pública
ou a pretexto de exercê-la. Isso significa que a pessoa investida de função pública pode utilizar
da sua posição para cometer um excesso, ultrapassando a razoabilidade e prejudicando terceiros
com a força do “status”. Um bom exemplo é o juiz fora da função que ameaça ou coage terceiros
para obter privilégios. (MICHÉIAS, 2019).
Seguindo em frente, temos o §1º: “As condutas descritas nesta Lei constituem crime de
abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal”. (BRASIL, 2019)
Este trecho da lei torna evidente que o abuso de autoridade é um crime de dolo
específico, que necessita de um elemento subjetivo do agente para ser configurado. A
autoridade que é sujeito ativo do crime, deve possuir a intenção manifesta (notória, inegável)
de prejudicar alguém, ou seja, causar algum tipo de dano, prejuízo, dor ou sofrimento para outra
pessoa através dos atos pertinentes à função pública ou baseando-se nela; Obter
vantagem: Conseguir para si ou para outrem algum tipo de proveito, benefício ou utilidade
através do uso incorreto da função pública ou baseando-se nela; Realizar capricho ou satisfação
pessoal: Atingir como finalidade um prazer interno decorrente do “status quo” das prerrogativas
do cargo ou função pública que ocupa. (MICHÉIAS, 2019).
A ação penal que pretende punir o sujeito por abuso de autoridade deve demonstrar,
portanto, que o agente praticou a conduta visando esses três resultados, tendo-os como objetivos
ou finalidade, logo, pode-se afirmar que o tipo penal não admite a modalidade culposa.
Finalmente o §2º diz que a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos
e provas não configura abuso de autoridade. Esta norma protege e garante a situação natural de
divergência na interpretação de leis e na avaliação de fatos ou provas por autoridades. É comum
ao Direito a atividade de interpretar um texto legal e dar sentido a ele, assim como é regular
observar os fatos e tentar enquadrá-los na lei. (MICHÉIAS, 2019).
Por este motivo, não há que se falar em abuso de autoridade quando uma determinada
autoridade age de maneira diversa de outra autoridade. Uma mesma prisão em flagrante pode
resultar na decretação de prisão preventiva ou no relaxamento de prisão a depender de como o
juiz enxerga a presença ou a ausência dos requisitos legais para firmar o ato. (MICHÉIAS,
2019).
Dentro deste campo interpretativo não é possível apontar um excesso ou uma
irregularidade no uso do poder, apenas o cumprimento da função, exatamente como a lei
determina que seja. A simples divergência de análise e apreciação sobre uma mesma situação
38

não se enquadra como abuso, podendo ser reapreciada ou rediscutida pelos meios adequados
previstos na legislação penal e processual penal. (MICHÉIAS, 2019).
Da leitura do dispositivo, pode-se extrair que o delito de abuso de autoridade admite
apenas a modalidade dolosa, posto que, exige finalidade específica para sua caracterização.
Logo, ausente o intento de prejudicar outrem, beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou satisfazer
capricho ou desejo pessoal, incabível punição. (SIQUEIRA, 2020).

3.5 SUJEITO ATIVO

Quem pode praticar os crimes previstos na Lei nº 13.869/19? De acordo com referida
lei o sujeito ativo é, qualquer agente público ou não, da administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, inclusive os que exerçam função transitória ou sem remuneração, conforme dispõe
o artigo 2º da atual Lei de Abuso de Autoridade:

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público,


servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território,
compreendendo, mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. (BRASIL, 2019).

3.6 DA AÇÃO PENAL

A ação penal dos delitos de abuso de autoridade é pública incondicionada, mantendo-se


a ação privada subsidiária da pública, com prazo de 6 (seis) meses contados da data em que se
esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia (Lei nº 13.869/2019, art. 3º), ou seja, o Estado
agirá de ofício, independentemente de provocação da vítima, seguindo a regra do Código Penal
(art.100). Entretanto, é prudente que o ofendido seja instado a pronunciar-se sobre os fatos
apurados, a fim de que sejam auferidos elementos que propiciem, minimamente, a instauração
da persecução penal, civil ou administrativa. Caso o Ministério Público permanecer inerte cabe
ação privada subsidiária no prazo de 6 meses, contado da data em que se esgotar o prazo para
oferecimento da denúncia. (BRASIL, 2019).
39

O art. 3º da Lei n. 13.869/19 dispõe que os crimes previstos na Lei são de ação penal
pública incondicionada (na qual a investigação pelos órgãos competentes e o oferecimento da
denúncia por parte do Ministério Público independem de qualquer provocação ou atuação da
eventual vítima).
Art. 3º. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.

§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação
como parte principal.

§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da


data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia. (BRASIL, 2019).

Portanto, os crimes da Lei de Abuso de Autoridade são perseguidos mediante ação penal
pública incondicionada. A queixa subsidiária pressupõe comprovada inércia do Ministério
Público, caracterizada pela inexistência de qualquer manifestação ministerial. (SAVI, 2019).

3.7 DO PROCEDIMENTO JUDICIAL

A nova legislação (Lei 13.869/19) não apresenta um procedimento especial para os


crimes nela previstos, apenas indicando a aplicação natural do Código de Processo Penal e da
Lei 9.099/95 naquilo que couber, ou seja, de acordo com as regras desses dois diplomas legais.
(CABETTE, 2020)
Se a pena máxima cominada abstratamente no tipo for igual ou superior a 4 (quatro)
anos, o procedimento será ordinário. (artigo 394, § 1º., i, CPP) mas se a pena máxima
abstratamente cominada não seja superior a 2 (dois) anos, será aplicado o procedimento
sumaríssimo, que corresponde àquele previsto na lei dos Juizados Especiais Criminais. (lei
9.099/95 c/c artigo 394, § 1º, iii, CPP). (MARQUES; MARQUES, 2020).
O Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos estados e da
União (CNPG) e o Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal
(GNCCRIM), a fim de contribuir com a atividade-fim dos membros do Ministério Público na
interpretação da Lei de Abuso de Autoridade (Lei n.º 13.869/2019), emitiram o enunciado 24
dizendo que:
Os crimes de abuso de autoridade com pena máxima superior a dois anos, salvo no
caso de foro por prerrogativa de função, são processados pelo rito dos crimes
funcionais, observando-se a defesa preliminar do art. 514 do CPP. (CNPG;
GNCCRIM; 2019).
40

Algumas autoridades são dotadas de foro por prerrogativa de função e nesses casos serão
aplicadas as normas procedimentais relativas aos processos de competência originária dos
respectivos tribunais. (Lei 8.038/90 – STF e STJ; e Lei 8.658/93 – TJ e TRF).
Na discussão sobre o procedimento a ser adotado, Souza (2020) adota o entendimento
de que os crimes que não são de menor potencial ofensivo previstos na Lei 13.869/2019 serão
processados pelo rito especial dos crimes funcionais, previsto no art. 513 e seguintes do Código
de Processo Penal que se notabiliza pela possibilidade de apresentação e resposta preliminar.
Não divergem dessa posição Greco e Cunha (2020), apontando a aplicação do
procedimento sumaríssimo (Lei 9.099/95) aos crimes de abuso de autoridade de menor
potencial e o procedimento especial dos crimes de responsabilidade de funcionário público para
os demais casos, salvo os de competência originária dos tribunais. Os autores fazem uma
observação relevante: o artigo 518, CPP estabelece que no caso dos crimes de responsabilidade
de funcionários públicos, no seguimento da instrução e julgamento serão aplicadas as regras do
rito ordinário.

3.8 DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

O Juizado Especial Criminal está previsto na Lei 9.099/95 (BRASIL, 1995) e é


promovido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o
julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras
de conexão e continência. (art.60 da Lei 9.099/95). (BRASIL, 2019).
Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)
anos, cumulada ou não com multa. (art.61 da Lei 9.099/95). (BRASIL, 2019).
Caso a pena máxima abstratamente cominada não seja superior a 2 (dois) anos, será
aplicado o procedimento sumaríssimo, que corresponde àquele previsto na Lei dos Juizados
Especiais Criminais para as infrações de menor potencial ofensivo (Lei 9.099/95 c/c artigo 394,
§ 1º., III, CPP). (BRASIL, 2019).

3.9 DOS CRIMES E DAS PENAS PREVISTOS NA LEI Nº 13.869/19

As penas da nova Lei de Abuso de Autoridade serão aplicadas independentemente das


sanções de natureza civil ou administrativas cabíveis (Lei nº 13.869/19, art. 6º). Vale lembrar
41

que a punição de condutas criminalizadas, por si só, independe do julgamento civil ou


administrativo.
As notícias de delitos previstos na nova Lei de Abuso de Autoridade que descreverem
falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração (Lei nº
13.869/19, art. 6º, parágrafo único), a fim de que esta, em observância à regra da oficialidade,
empreste marcha à apuração interna, até a sua conclusão. (CASTRO, 2020).
Conforme a lei determina, constituem crime (previsão legal do artigo 9º ao 38) de abuso
de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem
ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, além de situações que revelem mero capricho ou
satisfação pessoal. (BARSIL, 2019).
As penas privativas de liberdade cominadas na Lei nº 13.869/19, de um modo geral,
chegam ao patamar máximo de 2 (dois) a 4 (quatro) anos de detenção, que autorizam fiança
extrajudicial (CPP, art. 322). Há onze dispositivos abrangíveis pela Lei Federal n° 9.099/95
(delitos de menor potencial ofensivo), com expressa incidência consoante artigo 39 da nova lei.
Não há pena de reclusão prevista no novel diploma. (ACADEPOL, 2019).
São crimes de abuso de autoridade puníveis com detenção máxima de seis meses a dois
anos: Não comunicar prisão em flagrante ou temporária ao juiz; Não comunicar prisão à família
do preso; Não entregar ao preso, em 24 horas, a nota de culpa (documento contendo o motivo
da prisão, quem a efetuou e testemunhas); Prolongar prisão sem motivo, não executando o
alvará de soltura ou desrespeitando o prazo legal; Não se identificar como policial durante uma
captura; Não se identificar como policial durante um interrogatório; Interrogar à noite
(exceções: flagrante ou consentimento); Impedir encontro do preso com seu advogado; Impedir
que preso, réu ou investigado tenha seu advogado presente durante uma audiência e se
comunique com ele; Instaurar investigação de ação penal ou administrativa sem indício
(exceção: investigação preliminar sumária devidamente justificada); Prestar informação falsa
sobre investigação para prejudicar o investigado; Procrastinar investigação ou procedimento de
investigação; Negar ao investigado acesso a documentos relativos a etapas vencidas da
investigação; Exigir informação ou cumprimento de obrigação formal sem amparo legal; Usar
cargo para se eximir de obrigação ou obter vantagem; Pedir vista de processo judicial para
retardar o seu andamento e Atribuir culpa publicamente antes de formalizar uma acusação.
(BRASIL, 2019).
Por fim, são crimes punidos com detenção de um a quatro anos: Decretar prisão
fora das hipóteses legais; Não relaxar prisão ilegal; Não substituir prisão preventiva por outra
medida cautelar, quando couber; Não conceder liberdade provisória, quando couber; Não
42

deferir habeas corpus cabível; Decretar a condução coercitiva sem intimação prévia;
Constranger um preso a se exibir para a curiosidade pública; Constranger um preso a se
submeter a situação vexatória; Constranger o preso a produzir provas contra si ou contra outros;
Constranger a depor a pessoa que tem dever funcional de sigilo; Insistir em interrogatório de
quem optou por se manter calado; Insistir em interrogatório de quem exigiu a presença de um
advogado, enquanto não houver advogado presente; Impedir ou retardar um pleito do preso à
autoridade judiciária; Manter presos de diferentes sexos na mesma cela; Manter
criança/adolescente em cela com maiores de idade; Entrar ou permanecer em imóvel sem
autorização judicial (exceções: flagrante e socorro); Coagir alguém a franquear acesso a um
imóvel; Cumprir mandado de busca e apreensão entre 21h e 5h; Forjar flagrante; Alterar cena
de ocorrência; Eximir-se de responsabilidade por excesso cometido em investigação;
Constranger um hospital a admitir uma pessoa já morta para alterar a hora ou o local do crime;
Obter prova por meio ilícito; Usar prova mesmo tendo conhecimento de sua ilicitude; Divulgar
material gravado que não tenha relação com a investigação que o produziu, expondo a
intimidade e/ou ferindo a honra do investigado; Iniciar investigação contra pessoa sabidamente
inocente e Bloquear bens além do necessário para pagar dívidas". (BRASIL, 2019).
No tocante às penas, percebe-se que várias delas são até 2 anos, o que dá ao crime
um caráter de menor potencial ofensivo e outras possibilitam até a suspenção condicional do
processo. Com a intenção de melhorar o procedimento penal, a Lei de Abuso de Autoridade diz
que cabe indenização à vítima, a ser fixada na sentença penal, desde que o ofendido pleiteie seu
direito. (NUCCI, 2020).
Em caso de abuso de autoridade, deve o agente público ser punido tanto na esfera
criminal quanto na civil e administrativa. Por isso, a autoridade que tomar conhecimento da
prática de delito da Lei de Abuso de Autoridade deve comunicar o fato à autoridade
administrativa competente para a apuração do ocorrido. (BRASIL, 2019). As responsabilidades
civil e administrativa, conquanto independam da criminal, não se podem mais questionar sobre
a existência ou a autoria do fato quando tais questões tenham sido decididas no juízo criminal
(Lei nº 13.869/19, art. 7º). (BRASIL, 2019).
Portanto, se, no processo penal, o agente estatal for absolvido por inexistência do abuso,
por falta de prova da existência do abuso, por falta de prova de que o agente concorreu para o
abuso, por excludente de antijuridicidade, por erro de fato ou erro de proibição, a sentença
criminal repercutirá integralmente no âmbito funcional.
Ademais, como já mencionado anteriormente, faz coisa julgada em âmbito cível, assim
como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado
43

em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no


exercício regular de direito, em consonância com o artigo 8º da Lei nº 13.869/19, que
acompanha a disciplina do artigo 65 do Código de Processo Penal. (BRASIL, 2019)
Por outro lado, a insuficiência, a deficiência ou ineficiência, de provas para a
condenação criminal não repercutem na esfera administrativa, pois, para esta, a prova pode ser
suficiente para embasar uma punição menor, por falta de cumprimento do dever ou transgressão
disciplinar.

3.10 EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Constituem efeitos da condenação a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;


a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública pelo período de 1 (um) a 5
(cinco) anos e a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Estes dois últimos efeitos
são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são
automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença (Lei nº 13.869/2019, art. 4º,
I, II e III e parágrafo único). Vale lembrar que na Lei Orgânica da Polícia Paulista a prática do
abuso de poder constitui transgressão disciplinar (Lei Complementar nº 207/1979, art. 63,
XLIV). (ACADEPOL, 2019).
Quanto a Punibilidade? De acordo com a Lei, o sentenciado pode ser considerado inábil
para o exercício da função, mandato ou cargo público, pelo prazo de um a cinco anos, e de
acordo com a gravidade, incorrendo a perda desse (BRASIL, 2019). A inabilitação e a perda do
cargo, mandato ou função pública não tem efeitos automáticos. Para tanto, o juiz deve motivar
o porquê está imponto tal pena, sempre baseado no caso concreto. Outro requisito que deve ser
observado é o da reincidência específica, ou seja, deve haver uma condenação em seu desfavor
uma condenação criminal transitada em julgado por crime de abuso de autoridade. (PONTES,
2019).
Sobre os efeitos de condenação, fica o agente obrigado a indenizar o dano causado e, de
acordo com a gravidade, o agente será inabilitado para o exercício do cargo, mandato ou função
pública pelo prazo de 1 a 5 anos ou até a perda da função. Ainda há a previsão em lei de penas
restritivas de direitos substituindo as penas privativas de liberdade, podendo ser aplicadas de
forma autônoma ou cumulativa, firmado com a prestação de serviço comunitário, assim como
a suspenção do exercício de 1 a 6 meses, perdendo seus vencimentos e vantagens. (SOUZA,
2019).
44

No próximo capítulo apresenta-se um estudo da nova lei de abuso de autoridade e seus


possíveis reflexos para atividade policial militar.
45

4 NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE E SEUS POSSÍVEIS REFLEXOS


PARA ATIVIDADE POLICIAL MILITAR

Com a promulgação da Lei n° 13.869/2019, conforme já mencionado, houve mudanças


na caracterização das condutas do crime de abuso para as autoridades policiais. Iniciou -se a
discussão, principalmente da imprensa quais os procedimentos deveriam ser adotados pelos
agentes públicos e como essas autoridades passariam a ser enquadrados nos tipos penais
existentes na lei de Abuso de Autoridade.
Neste capítulo apresenta-se um estudo sobre as Polícias Militares brasileiras e as
inovações na lei nº 13.869/19 e os possíveis reflexos na atividade da polícia militar.

4.1 DAS POLÍCIAS MILITARES NO BRASIL

Hoje, conforme previsão constitucional, os policiais militares encontram-se subordinados


ao governador, que é a mais alta autoridade administrativa na área de segurança pública
estadual. As Polícias Militar fazem parte do Sistema de Segurança Pública no Brasil. São forças
policiais estaduais e do distrito federal, que tem como principal função de policiamento
ostensivo, preventivo e preservação da ordem pública. Sua existência está prevista na
Constituição Federal de 1988, no âmbito dos estados e Distrito Federal. (BRASIL, 1988).
Atualmente integram o Sistema único de Segurança Pública e são subordinadas às
Secretarias de Segurança Pública dos Estados e Distrito Federal. São custeadas por cada Estado-
Membro, ou pelo Distrito Federal como uma das unidades da Federação. O § 6º do artigo 144
da Constituição também informa que as PMs são forças auxiliares e reservas do Exército, que
pode, portanto, requisitar policiais, em caso de estado de emergência ou de sítio, para exercer
atividades diversas da área de segurança pública. A seguir, as origens históricas das instituições
policiais militares, detalharemos a sua finalidade constitucional, bem como as principais
funções exercidas no âmbito brasileiro. (AGÊNCIA SENADO, 2013)

4.1.1 BREVE HISTÓRICO

Para que se compreenda, portanto, o surgimento das Polícias Militares no Brasil, é


necessário entender um pouco do processo histórico do país. O Brasil foi colônia de Portugal e
as polícias foram trazidas pelos portugueses. Antes do século XIX, a Coroa Portuguesa utilizava
46

o exército para solucionar todas as questões atinentes à segurança e força. Assim, o surgimento
das Polícias Militares em nosso país, remonta à época do Brasil Colonial e a origem destas
tropas em cada estado federativo é fruto de um sistema implementado por Portugal, pouco antes
da chegada da Coroa ao território brasileiro, em 1808. (SODRÉ, 1979).
Inspirado no modelo francês que instituiu a denominada “Gendarmaria Nacional”, Dom
João criou, então, a Guarda Real de Polícia de Lisboa. Em 1808, a Coroa regressou para o
Brasil, a fim de estabelecer um governo mais próximo, já que havia diversos povos interessados
em nosso território (SODRÉ, 1979).
Assim, um ano após a chegada da corte lusitana, foi criado um corpo equivalente no Rio
de Janeiro, batizado de Divisão Militar da Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro, que
adotava o mesmo modelo de organização da guarda portuguesa, usava os mesmos trajes e armas
e já tinha estrutura militarizada, com companhias de infantaria e de cavalaria. (AGÊNCIA
SENADO, 2013).
O estabelecimento de uma força policial militar permanente na capital deu-se em função
do crescimento populacional do Rio de Janeiro e da necessidade de garantir a segurança da
nobreza recém-chegada de Portugal. Tal divisão foi criada na então capital Rio de Janeiro e
adotava o mesmo modelo de organização da guarda portuguesa. Utilizava os mesmos trajes,
armas e já tinha estrutura militarizada, com companhias de infantaria e de cavalaria. Porém, no
início do século 19, as cidades do interior do país também registravam aumento populacional
considerável, evidenciando a necessidade de manutenção da ordem pública. (SODRÉ, 1979).
Com isso, foram sendo criados corpos policiais nas províncias. Minas Gerais foi a primeira
(1811), seguida por Pará (1820), Bahia e Pernambuco (ambas em 1825). Pela formação e
estrutura, esses corpos policiais são os que mais se aproximam das atuais policiais militares
estaduais. (AGÊNCIA SENADO, 2013).
Foi apenas com a Proclamação da República, que os Corpos de Polícia receberam a
designação “militar” na nomenclatura, o que, com o tempo, delineou características peculiares
do efetivo, que já possuía traços do Exército, a força que servia de exemplo e inspiração.
(SODRÉ, 1979). A Constituição Republicana de 1891 foi o documento que determinou
pontualmente a subordinação dos Corpos Militares de Polícia aos estados. A partir de então, as
unidades milicianas ganharam forma e sofreram ajustes até determinarem a identidade que
possuem atualmente. Passando a ser conhecidos como Corpos Militares de Polícia.
Durante o regime militar, a polícia brasileira sofreu mais mudanças. As Polícias
Militares passaram a ser guiadas por uma classificação hierárquica única; foram extintas as
guardas civis e organizações similares existentes em algumas cidades; e, em 1967, foi criada a
47

Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM), subordinada ao Exército. Sob intervenção, as
polícias militares estaduais, passaram a ser comandadas por oficiais do Exército e serviram de
instrumento para combate aos opositores do regime. (Agência Senado, 2013).
Em outras palavras, o governo militar, entre 1964 e 1985, as Polícias Militares perderam
sua autonomia, pois neste período sofreram alterações estruturais e passaram a ser subordinadas
diretamente ao Exército Brasileiro, seguindo suas razões e maneiras de atuação. Todos as
unidades federadas adotaram o termo Polícia Militar, com exceção do Rio Grande do Sul, que
até hoje mantém o nome Brigada Militar em sua força policial. (BRASIL,2013).
Com o advento da Constituição de 1988, denominada de Constituição Cidadã, que
especificou a funções, as Polícias Militares, iniciaram um trabalho mais específico, já que suas
ações foram pormenorizadas em um dispositivo legal. Assim, conforme previsão constitucional
(CF/1988), os policiais militares encontram-se subordinados ao governador, que é a mais alta
autoridade administrativa na área de segurança pública estadual. (BRASIL, 1988).
Atualmente, as Polícias Militares compõem um grande sistema de segurança pública,
sendo a Corporação mais tradicional dentre as demais. Além de garantir ordem e paz social, as
Polícias Militares também se preocupam em assegurar direitos humanos em termos gerais e
participa de inúmeras questões sociais, influenciando na cultura e evolução da população.
A organização interna das Polícias Militares segue o modelo usado no Exército
Brasileiro, dividindo os profissionais em duas categorias: Os praças tendo como graduações o
Aspirante a oficial, Subtenente, 1º Sargento, 2º Sargento, 3º Sargento, Cabo e Soldado e os
oficiais, tendo como postos o Coronel, Tenente Coronel, Major, Capitão, Primeiro Tenente,
Segundo Tenente (SOUSA, 1986).
Souza (1986) observou que, de forma geral, os oficiais atuam mais em funções de
comando, enquanto as praças são responsáveis por executar as funções, em uma proximidade
maior com a população. Observando também que as Polícias Militares terminaram com mais
do que as funções específicas. Elas ganharam força, assumiram outros papéis e passaram a
compor e a colaborar com todo o sistema social estadual, trazendo resultados que vão muito
além do que promover segurança pública.

4.1.2 MISSÃO CONSTITUCONAL

A Constituição Federal de 1988 descreve em seu artigo 144, parágrafos 5º e 6º os


seguintes termos:
48

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:

[...] § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,
incumbe a execução de atividades de defesa civil.

[...] § 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e


reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (BRASIL, 2019,
online). (grifou-se)

O artigo 42 da Constituição Federal/1988 determina também que:

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,


instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (BRASIL, 2019, online).

Nota-se que, as polícias militares exercem uma função dupla. Ao mesmo tempo em que
são órgãos de segurança dos Estados, Distrito Federal e dos Territórios, são forças auxiliares e
reserva do Exército.
Desta forma, existem dentro das instituições de Polícias Militares, funções
constitucionais de que deverão zelar pela segurança interna, mais precisamente, o policiamento
ostensivo e repressivo, com técnicas e armamentos próprios (mormente não-letais), que lida
diretamente com o cidadão; e, ao mesmo tempo, ainda que ocasionalmente, ser força
militarizada subordinada ao Exército brasileiro (auxiliar e reserva), com equipamentos pesados,
de guerra (TEZA, 2011).
Hipólito e Tasca (2012), em seu livro, Superando o mito do espantalho: uma polícia
orientada para a resolução dos problemas de segurança pública, retratam bem o papel da polícia
militar na sociedade democrática de direito, como sendo uma instituição que representa o
principal braço do Estado na segurança pública. Destaca-se ainda, que o papel executado pela
Polícia Militar vai para além do combate à criminalidade, mas atua em uma série de situações
que não estão elencadas em normas criminais, cita-se como exemplo: o desastre, incêndios,
realização de partos, prestar socorro, organização de trânsito das cidades, segurança em eventos
públicos e privados e vigilância de preso.
Teza, (2011), ao abordar o tema referente à ordem pública, conceitua segurança pública
como sendo o estado anti-delitual, que resulta na observância dos preceitos tutelados pelos
códigos penais comuns e pela lei das contravenções penais com ações de polícia preventiva ou
repressiva típica, afastando assim de todo o perigo ou de todo mal que possa afetar a ordem
pública. Para que se tenha uma tranquilidade pública, isto é, o estado de ânimo tranquilo,
sossegado, sem preocupações nem incômodo, que traz as pessoas uma paz de espírito; e por
49

fim, a salubridade pública, que se refere ao que é saudável conforme as condições favoráveis
de vida, saúde, inclusive as decorrentes de calamidade pública, designando ainda, tem forças
de segurança pública que possam melhorar a sensação de segurança, melhorando as condições
de vida de seus habitantes (TEZA, 2011).
Outro importante assunto abordado pelos autores mencionados e de fundamental
importância para se compreender o papel da Polícia Militar, é manter seu monopólio nas
atividades de segurança pública, principalmente aquelas voltadas à atuação sobre pessoas, tendo
como outras forças, tais como Guardas Municipais e segurança privada um auxílio as
instituições policiais.
A atividade policial militar que antes da constituição de 1988 era restrita a atividade de
manutenção da ordem pública, após a promulgação do novo texto passa a compreender a
atividade de preservação da ordem pública em sentido amplo, com atribuições de manter,
restabelecer, atuar em caso de falência de outros órgãos de Estado e exercer a competência
residual, ou seja, competência constitucional não afeta aos outros órgãos de segurança pública
(TEZA, 2011).
O mesmo ocorreu com o designativo de policiamento ostensivo, que antes do texto
constitucional de 1988 estava restrito a atividade de fiscalização, e após a sua promulgação foi
substituído para polícia ostensiva, ampliando as atribuições da Polícia Militar. Com essa nova
atribuição de polícia ostensiva, o policiamento ostensivo passou a ser apenas uma fase da
atividade de polícia, que atualmente envolve o denominado ciclo completo de polícia,
compreendendo: ordem, consentimento, fiscalização e sanção.
Segundo Teza (2011), verifica-se que a Polícia Militar durante décadas vem se
adaptando às transformações sociais, passando por todos os modelos de policiamento, quais
sejam: modelo político, modelo profissional e atualmente chegando a atuação de polícia
comunitária, que trabalha com um policiamento de parceria e proximidade com a sociedade.
Desse modo, diante das mudanças trazidas pela Constituição de 1988 e frente as
mudanças sociais, pode-se concluir que a polícia sai daquele viés voltado apenas para o
policiamento repressivo, passando para um modelo de policiamento orientado para o problema,
como uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a polícia e a
sociedade com o objetivo de diminuir a criminalidade e melhorar as condições de vida da
população (TEZA, 2011).
50

4.1.3 DAS ATIVIDADES POLICIAIS

As Polícias Militares são instituições que possuem mais de duzentos anos de existência
e que tem demonstrado que tem uma grande importância no dia a dia da sociedade. Geralmente
é a ela que que o cidadão recorre quando está exposto a algum problema, principalmente aos
perigos de segurança pública (SODRÉ, 1979).
Verifica-se que no Brasil, são denominadas de Polícias Militares as forças de segurança
pública das Unidades Federativas e do Distrito Federal que têm por função primordial a
realização do policiamento preventivo, ostensivo e a preservação da ordem pública em
atendimento as disposições do artigo 144 da Constituição da República Federativa do Brasil,
de 1998. Subordinam-se aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Embora sua missão seja garantir a ordem da sociedade, o Policial Militar se expõe a uma série
de riscos como lesões corporais, estresse, invalidez permanente ou até mesmo morte durante o
exercício da profissão (TEZA, 2011).
A polícia é o setor da administração pública oficialmente responsável pelo exercício do
controle social e pela garantia da segurança pública. Por trás desses objetivos amplos podemos
pontuar algumas funções que são de responsabilidade da Polícias Militares nos Estados, Distrito
Federal e Territórios. Teza (2011) complementa:
Compete à Polícia Militar: planejar, organizar, dirigir, supervisionar, coordenar,
controlar e executar as ações de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública,
e ainda funções especificas, como:

-Executar, com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares às Forças Armadas,


o policiamento ostensivo fardado para prevenção e repressão dos ilícitos penais e
infrações definidas em lei, bem como as ações necessárias ao pronto restabelecimento
da ordem pública;

- Atuar de maneira preventiva, repressiva ou dissuasiva em locais ou áreas específicas


em que ocorra ou se presuma possível a perturbação da ordem pública;

- Exercer o policiamento ostensivo e a fiscalização de trânsito nas rodovias estaduais


e, no limite de sua competência, nas vias urbanas e rurais, além de outras ações
destinadas ao cumprimento da legislação de trânsito;

- Desempenhar nos limites de sua competência, a polícia administrativa do meio


ambiente, na fiscalização, constatação e autuação de infrações ambientais e outras
ações pertinentes, e colaborar com os demais órgãos ambientais na proteção do meio
ambiente;

- Proceder, nos termos da lei, à apuração das infrações penais de competência da


polícia judiciária militar;

- Planejar e realizar ações de inteligência destinadas à prevenção criminal e ao


exercício da polícia ostensiva e da preservação da ordem pública na esfera de sua
competência;
51

- Realizar a guarda externa de estabelecimentos penais e as missões de segurança de


dignitários em conformidade com a lei;

- Garantir o exercício do poder de polícia pelos Poderes e Órgãos Públicos do Estado,


especialmente os das áreas fazendária, sanitária, de uso e ocupação do solo, do
patrimônio cultural e do meio ambiente; e

- Efetuar o patrulhamento aéreo no âmbito de sua competência.

Aliados às funções específicas da Polícia Militar, tem-se recentemente a construção de


uma Polícia Cidadã. Essa filosofia de policiamento encontra-se os movimentos de diversas
instituições em prol da Segurança Pública, que cada dia crescem por todo o Brasil. É a
mobilização da sociedade civil em busca de soluções adequadas para combater o problema. O
preceito constitucional de que a Segurança Pública é direito e responsabilidade de todos,
fundamenta o apoio da sociedade civil. (TEZA, 2011).
A sistematização do ensino e da instrução deve ser fundamentada nos princípios
democráticos de liberdade e dos ideais de solidariedade humana, visando ao desenvolvimento
das qualidades e das aptidões intelectuais, psicológicas, físicas, éticas e morais inerentes às
atribuições funcionais do profissional de segurança pública. Dessa forma, seu devido preparo
para fazer cumprir a lei e garantir o exercício da cidadania deve ter como base a comunicação
interativa com feedback de mão dupla, o que provaria mudanças na cultura institucional.
(JESUS, 2020).
As Polícias Militares foram criadas sobre bases doutrinárias das Forças Armadas e aos
poucos vêm passando por transformações necessárias para atender as demandas cada vez mais
complexas. Ainda persiste, mesmo que em menor intensidade, um modelo de gestão que as
colocam em rota de colisão com a realidade contemporânea. Paulatinamente a lógica do
combate tem cedido espaço à aproximação. Este parece ser o caminho mais viável. (TEZA,
2011).
O novo cenário da segurança pública está exigindo um profissional com formação
específica e com conhecimento próprio, não se identificando com nenhum dos cursos hoje
existentes. O profissional de polícia deve resultar da simbiose do conhecimento de técnicas e
práticas policiais, com conteúdo afins existentes nas áreas do direito, administração, sociologia,
psicologia, pedagogia, filosofia, informática, comunicação social, relações públicas e outras.
Desenvolvendo um policial com uma visão multidisciplinar da sua atividade no âmbito da
segurança pública, capacitado a construir estratégias qualificadas, operações táticas apropriadas
e técnicas apuradas e modernas; sobretudo, um policial que tenha uma formação de polícia
(ROLIN, 2012).
52

Nesse contexto é preciso repensar e reordenar as forças de segurança pública,


direcionando-as à promoção da cidadania e afastando-as do juízo de autoproteção constante de
seus regulamentos. De acordo com Bulos (2012), a partir da Constituição Federal de 1988 a
segurança pública passa a ter um novo significado, uma vez que o estado democrático de direito
trouxe um novo sentimento de cidadania.
Relacionado ao tema cidadania, é importante compreender o significado de direitos
fundamentais, que não se confunde com garantias fundamentais. Com peculiar acurácia, Uadi
Lammêgo Bulos (2012, p. 522)) afirma que
Direitos fundamentais são o conjunto de normas, princípios, prerrogativas, deveres e
institutos, inerentes à soberania popular, que garantem a convivência pacífica, digna,
livre e igualitária, independentemente de credo, raça, origem, cor, condição
econômica ou status social. Sem os direitos fundamentais o homem não vive, não
convive, e, em alguns casos, não sobrevive. Os direitos fundamentais são conhecidos
sob os mais diferentes rótulos, tais como direitos humanos fundamentais, direitos
humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos,
direitos naturais, liberdades fundamentais, liberdades públicas etc.

Embora a pressão social recaia principalmente sobre a polícia, Rodrigues (2010),


pondera que a missão não cabe unicamente a ela. A correção das desigualdades históricas da
sociedade brasileira deve envolver o Estado como um todo, pois segurança não é apenas “coisa
de polícia”. Aliás, a própria Carta Política de 1988 preconiza no artigo 144 caput, que a
segurança pública além de ser um direito, é também responsabilidade de todos. Ligados a essa
filosofia em prol da Segurança Pública, destaca -se os Conselhos de Segurança dos Estados,
das cidades, dos bairros, dos povoados que cresceram e se uniram à Polícia Cidadã.
Organizações não governamentais que surgiram ajudam a Polícia Militar a evitar e prevenir
crimes. Exemplo disso são os sistemas de “disque denúncia” das Polícias, que recebem vários
telefonemas da sociedade (RODRIGUES, 2010).
Por fim, tem-se que os seguimentos religiosos que fazem campanhas em suas igrejas,
promovendo a paz e justiça entre as pessoas. A Igreja Católica na sua Campanha da
Fraternidade lançou uma temática pertinente que tem como lema “A paz é fruto da Justiça” e
que objetiva a promoção da igualdade, a ampliação do espaço da cidadania para todos com
programas de reforma institucional que vem colhendo bons frutos e auxiliando nas funções das
instituições Policiais Militares. (BRASIL, 2013). Fazer polícia, ao contrário de que muitos
apregoam, não consiste somente na colocação intuitiva de policiais e viaturas nas vias públicas.
Há outra dimensão, tão ou mais importante que esta, fundamentada no pensamento estratégico,
no planejamento das operações táticas e na otimização dos recursos humanos e materiais
(BULOS, 2012).
53

4.2 INOVAÇÃO NA LEI Nº 13.869/19 E OS REFLEXOS NA ATIVIDADE DA POLÍCIA


MILITAR

A nova lei de abuso de autoridade traz alguns tipos penais voltados a atividade policial
junto com o artigo da nova lei trago uma comparação com o artigo equivalente da lei revogada.
Começamos com o artigo 13 da Lei 13.869/19 (BRASIL, 2019), tem a ver com a prática de
constranger o preso à prática de algum ato não previsto em lei.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou


redução de sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro. (BRASIL, 2019).

Já na lei 4.898 (BRASIL, 1965) temos o artigo. 3º falando que:


Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
[...]
i) à incolumidade física do indivíduo;
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
[...]
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei. (BRASIL, 1965).

Na lei anterior - em seu artigo 3 - define como crime qualquer atentado à liberdade de
locomoção ou então a incolumidade física do indivíduo, o que revela um tipo penal
extremamente abrangente. Na nova lei, em seu artigo 13, há a definição de que para se
configurar o crime o constrangimento deve ser mediante violência, grave ameaça ou com a
redução de sua capacidade de resistência a adentrar em qualquer um desses três incisos.
(CANGUSSU, 2020).
O inciso I se aplica a exibição do preso ou de parte de seu corpo a curiosidade pública
(pressupondo que a exibição de pessoa algemada para a imprensa seria enquadrada nesse inciso)
e divulgação de fotos da pessoa presa em redes sociais (com o intuito de denigrir sua imagem
ou para satisfazer a curiosidade pública). Ressalto, porém, que não se configura como crime a
coleta de fotografias do detido para abastecimento de bancos de dados. (CANGUSSU, 2020).
Quanto aos incisos II e III, tem-se a submissão do preso a situação vexatória ou qualquer
outro constrangimento não previsto em lei. Cabe ao policial estrita atenção, pois em
determinadas situações aplica-se a Lei de Tortura ao invés da Lei de Abuso de Autoridade. O
terceiro inciso do artigo é sobre o respeito ao direito de qualquer pessoa de não produzir prova
contra si mesmo. (CANGUSSU, 2020).
54

O segundo artigo que citarei será o 22 da nova lei de abuso de autoridade, referindo-se
a entrada em domicílio.

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade


do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas
condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a
imóvel ou suas dependências;
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas)
ou antes das 5h (cinco horas).
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de
flagrante delito ou de desastre. (BRASIL, 2019).

Por outro lado, temos o inciso a alínea “b” do artigo 3º da antiga lei que de forma mais
resumida diz que:

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


[...]
b) à inviolabilidade do domicílio; (BRASIL, 1965).

A lei anterior caracterizava o crime como qualquer atentado contra a inviolabilidade do


domicílio, observando, naturalmente, as ressalvas constitucionais combinadas com o Art. 150
§ 3º do Código Penal ou então amparadas no entendimento do STF que, no RE 603616 com
repercussão geral julgado pelo STF em 2015, decidiu que “a entrada forçada em domicílio sem
mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões
que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito”. (BRASIL, SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, 2015).
Devem-se destacar os incisos I e III da nova lei, no primeiro caso é criminalizada a
coação da pessoa mediante violência ou grave ameaça para que ela permita que o agente adentre
na residência, sendo caracterizado como crime qualquer forma de atentado ao livre arbítrio para
a permissão da entrada na residência.
O artigo 16 da lei penaliza o agente público que deixa de se identificar no momento da
prisão (salientando que, no caso dos policiais militares, o uso do fardamento com o nome supre
esta identificação), sendo que, na entrega do Recibo de Preso no Distrito Policial, o detento terá
a qualificação do policial que o prendeu conforme determinado pelo Código de Processo Penal.
(CANGUSSU, 2020).

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de


sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório
em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao
preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função. (BRASIL, 2019).
55

Sob o aspecto policial, a Constituição Federal determina que o agente, ao executar a


prisão, identifique-se, assim como quem conduzir o interrogatório (art. 5º, LXIV). Por questão
absolutamente natural, surge o tipo penal incriminador: "art. 16. Deixar de identificar-se ou
identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante
sua detenção ou prisão: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo
único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si
mesmo falsa identidade, cargo ou função" (BRASIL, 2019). O tipo penal encontra-se em
perfeita harmonia com a norma constitucional. (NUCCI, 2019).
A Lei de 1965 já previa como crime qualquer atentado aos direitos e garantias legais
assegurados ao exercício profissional. O novo ordenamento jurídico especificou que a conduta
de privar o detido de falar com seu advogado se caracteriza como abuso de autoridade.

Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


[...]
i) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (BASIL, 1965).

Destaca-se que a nova Lei trouxe uma inovação no EOAB: em seu novo Art. 7º-B
criminaliza o agente que viola as prerrogativas previstas nos incisos II,III,IV,V e caput do Art.7º
deste estatuto. Dentre essa enumeração, ressalta-se o inciso III, o qual trata sobre o direito à
entrevista da pessoa presa pelo seu defensor.

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu
advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou
defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e
com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso
de audiência realizada por videoconferência. (BRASIL, 2019).

Então, cabe ao policial assegurar que a entrevista do preso ao seu advogado seja
realizada. O agente no local dos fatos é o responsável por deliberar sobre a segurança de
entrevista do defensor com o detido. Se perceber que não há condições de segurança para que
haja o parlatório, deve o agente conduzi-los a um local apropriado para que a conversa entre
defensor e defendido seja realizada. Caso o detento esteja algemado, em situações conforme
preconiza o Decreto 8.858/16, ou, ainda, a Súmula Vinculante número 11 do STF, o policial
não é obrigado a retirar as algemas para a entrevista do preso com seu defensor. (CANGUSSU,
2020).
56

No artigo 21 incrimina o agente que permite ou que mantém presos de ambos os sexos
na mesma cela ou em espaço de confinamento (o que inclui viaturas policiais quando forem
conduzidos presos de sexos diferentes).

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou
adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado
o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente).

Já a Lei antiga trouxe de uma forma mais geral ao dizer em seu artigo 4º que “Constitui
também abuso de autoridade: b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a
constrangimento não autorizado em lei” (BRASIL, 1965), quanto ao parágrafo único da nova
Lei, o legislador foi enfático na criminalização do agente, que mantém na cela adultos e
adolescentes ou ainda em ambiente inadequado (o que abrange a condução no guarda preso da
viatura).
O Art. 23 define como responsabilidade uma conduta similar quando o agente pratica o
crime de Fraude Processual previsto no Art. 347 do Código Penal. Neste artigo 23, porém,
inclui-se, além do juiz e perito (previstos no Art. 347), qualquer outra autoridade que esteja à
frente de um feito, seja ele administrativo ou criminal. Para caracterizar o crime, além da
inovação, é necessário que a finalidade seja de se eximir de responsabilidade, de responsabilizar
criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade. (CANGUSSU, 2020).

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de


processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no
curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para
desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo.

A lei de abuso de autoridade revogada em janeiro de 2020 não trazia nenhum dispositivo
que se equiparasse, assim como o artigo 23 da nova lei de abuso de autoridade que trata da
inovação artificiosa a fim de eximir-se da responsabilidade, o artigo 24 – que também não tem
dispositivos equivalentes – versa sobre “socorro” a vítima já em óbito fala que:

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de


instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito
já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua
apuração. (BRASIL, 2019).
57

A aplicação deste artigo se dá justamente visando o agente público que se utiliza da


violência ou grave ameaça para coagir o funcionário de instituição hospitalar a admitir pessoa
que já esteja em óbito. A finalidade do legislador, ao criar este tipo penal, foi prevenir que haja
qualquer adulteração no local do crime, ou seja, que não sofresse qualquer alteração que
trouxesse prejuízo à investigação criminal. (CANGUSSU, 2020).
Por último temos a obtenção de provas ilícitas conforme artigo da lei anterior “constitui
crime de abuso de autoridade qualquer atentado contra à inviolabilidade do domicílio, ao sigilo
de correspondência e por fim, constitui também abuso de autoridade submeter pessoas sob sua
guarda ou custódia a vexame ou constrangimento não autorizado por lei.” (BRASIL, 2019).

Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou


fiscalização, por meio manifestamente ilícito:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

A nova legislação criminaliza especificamente o agente que procede à obtenção de


prova em procedimento de investigação ou fiscalização por meio ilícito. O tema aplica-se ao
policial que obtém prova através do acesso ilegal ao telefone celular do detido ou abordado,
olhando seus aplicativos de mensagem, arquivo de fotos e vídeos ou se passando pelo abordado
durante ligações telefônicas. (CANGUSSU, 2020).
A nova lei de abuso de autoridade (Lei nº 13.869/2019), promulgada em 05 de setembro
de 2019 (BRASIL, 2019), trouxe, conforme já mencionado, a revogação expressa da antiga Lei
4.898/1965, introduzindo também modificações acentuadas na Lei de Prisão Temporária, na
Lei das Interceptações Telefônicas, no Código Penal e no Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil.
Em seu art. 4º, no inciso I, a aludida Lei traz a obrigação de compensação financeira
pelo dano causado pelo crime, onde o juiz deverá fixar na sentença o valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, a pedido do ofendido, e deve-se considerar os
prejuízos por ele sofridos (BRASIL, 2019). Já nos incisos II e III, quando uma autoridade for
enquadrada no crime de abuso, pela segunda vez, ou seja, for reincidente, serão desabilitados
para o exercício de cargo, mandato e função pública e sua consequente perda, dessa forma não
são automáticos e é o juiz quem deve declarar na sentença (BRASIL, 2019).
Torna-se necessário ressaltar que a lei proíbe os funcionários públicos de usarem seus
cargos, funções e mandatos eletivos por motivos de egoísmo pessoal para coibir ilegalmente
cidadãos a fim de prejudicar terceiros ou mesmo a si próprios ou a outrem. Interesses. Diante
dos inúmeros casos veiculados na mídia, além das circunstâncias não divulgadas ao público,
58

por falta de informação ou falta de intercâmbio de fatos, uma vez que vivemos em um País com
dimensões continentais, esteja correto a mudança da lei e aplicação correta aos filtros do direito
penal. (BRASIL, 2019).
O foco principal da nova lei está na atuação de agentes de segurança pública,
funcionários do poder judiciário e o ministério público, principalmente juízes e promotores. A
lei traz também a inovação da divulgação dos tipos de crimes que violam as prerrogativas dos
advogados. Vale ressaltar que Policiais, representantes do Ministério Público e do judiciário
criticaram fortemente a norma, uma vez que a história da lei está ligada à prisão de
parlamentares. E diante da exposição dessas autoridades públicas houve uma retaliação política
da maioria dos parlamentares, principalmente com as detenções na Operação Lava Jato que até
os dias de hoje possuem desdobramentos (FREITAS, 2019).
Outra inovação refere-se ao mandado de prisão, que conterá obrigatoriamente o tempo
de duração da prisão temporária, constituído no artigo da lei, o dia que o acusado deverá ser
libertado. Transcorrido o período do mandado de prisão, o responsável por custodiar o acusado
deverá, independentemente de qualquer nova ordem judicial, colocar em liberdade o preso,
ressalvando casos expressos em que a autoridade responsável pela custódia tiver comunicada a
prorrogação da prisão temporária ou convertido em prisão preventiva. A nova lei abarca os dias
do cumprimento do mandado de prisão na contagem do prazo de prisão temporária.
De acordo com a Lei 9.296/96 que retrata a interceptação das comunicações telefônicas
verifica-se a mudança da norma com relação ao servidor público, conforme já mencionado,
porém descreve-se abaixo novamente:

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de


informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça,
sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a


execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em
lei. (BRASIL, 1996).

De igual forma na lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente que traz


mudanças para os servidores públicos que praticarem alguma atividade ilícita, conforme o
artigo abaixo:

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do


Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes
previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são
condicionados à ocorrência de reincidência.
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá
da pena aplicada na reincidência. (BRASIL, 1990)
59

Ao se analisar o artigo 3º, do Capítulo III, da referida norma, tem-se que os crimes
previstos nesta lei são de ação penal pública incondicionada, sendo admitida ação privada se a
ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo,
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal. (BRASIL, 2019). Capez (2007) já havia
observado que a ação penal pública incondicionada à violação alcança imediatamente a ordem
social, cabendo somente ao Ministério Público promover a ação, ou seja, não é necessário a
autorização ou representação de ninguém O promotor de Justiça não tem um querer, mas um
dever de promover a denúncia em desfavor do agente público, quando for o caso.
Assim, é dever das autoridades, principalmente os Policiais Militares, se adequarem à
nova realidade que vivemos. Esses servidores públicos estavam sujeitos a uma lei do período
da ditadura, ao qual flexibilizava as ações das atividades policiais. Com o advento da nova
legislação, cabe o Comando da instituição, por meio de instruções, reciclagens e inclusão na
grade de cursos de formação trabalhar a nova norma para que o Policial não possa ser, por
desconhecimento da nova lei, penalizado em detrimento da nova lei. (FREITAS, 2019).
Apesar das várias alterações trazidas pela lei de abuso de autoridade, ficou mais
claro, com o detalhamento dos artigos, incisos e parágrafos o que realmente seja o abuso de
autoridade. O Policial Militar, preparado para qualquer adversidade do cotidiano, com certeza
estará com essa nova lei se adaptando e não incorrendo no crime da lei de abuso de autoridade.
Historicamente o agente de segurança pública foi moldado, considerando principalmente o
princípio da publicidade de seus atos, de mostrar à coletividade os agressores da sociedade.
Com a nova legislação essa publicidade se torna proibida, sendo vedada a divulgação de nomes
e imagens dos detidos ou presos, pois tais atos podem ser considerados como tratamento
vexatório ou constrangedor. (FREITAS, 2019). Conforme descrevem os artigos 5º, 17 e 18, do
Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), já vedava tal divulgação de menores, uma vez que é
dever de todos o zelo pelas crianças e adolescente por sua dignidade e preservar sua integridade
moral e psíquica, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, além de colocá-los a
salvo de qualquer tratamento vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 1990).
Destaca-se que a nova norma dispõe que o crime de abuso só sucederá se cometido
pelo servidor com o objetivo específico de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, por mero obstinação ou contentamento pessoal. Isto é se faz necessário o chamado
“dolo específico”, não havendo, mesmo que em tese, a figura culposa. Ou seja, o servidor
público tem que demonstrar de forma clara e visível a intenção dos intentos expressamente
60

definidos na lei, sob pena de ocorrer o crime. (FREITAS, 2019). Desse modo, os aparelhos de
incriminação deverão estar cercados de elementos robustos para atribuir o crime de abuso de
autoridade a alguém, sendo imprescindível a definição motivada do comportamento a que se
busca punição, aumentada de elementos adequados que confirmem, minimamente, a presença
do elemento subjetivo (dolo específico) e do especial fim de agir.
Assim, destaca-se que essa normatização trazida pela nova lei, especialmente
quanto à previsão expressa da “obrigação de dolo específico” e a “advertência sobre a
desavença na explicação da lei”, que o legislador adotou para, de certa forma, garantir a ação
dos órgãos judiciais e tornar mais robusta e legitima, a ação do agente público em defesa da
sociedade; principalmente os agentes da Segurança Pública, e em especial o policial militar que
na atividade de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, pois a Polícia Militar
preocupada com o combate aos atos ilícitos praticados, ou ainda em andamento, necessita
utilizar os meios necessários para o cumprimento da missão. (JESUS, 2020).
Ressalte-se que, o mero desacordo na explanação da norma ou no julgamento dos
fatos e provas, não pode ser considerado abuso, conforme prescreve o art. 2º, parágrafo 2º da
Lei de Abuso de Autoridade. (BRASIL, 2019). Observando-se ainda que, normalmente, as
ações de policiais militares não demonstram o ímpeto de causar mal, prejudicar outrem,
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, podendo ser consideradas simplesmente uma falta
disciplinar e não crime de abuso de autoridade.
De acordo com os autores mencionados, na análise da Lei de Abuso de Autoridade,
pode-se dizer que a nova norma está repleta de boas intenções para proteger as pessoas, ligando-
se ainda mais com o que traz a nossa Constituição Federal, chamada de Constituição Cidadã.
61

5 CONCLUSÃO

De 1965 até o ano de 2019 foi a Lei 4.898/65 quem disciplinou, integralmente, os crimes
de abuso de autoridade. Assim, a violência praticada no exercício da função ou a pretexto de
exercê-la deve encaixar-se em uma das figuras previstas na referida lei. Percebe-se que a Lei
de Abuso de Autoridade tem como objetivo a responsabilização daqueles agentes públicos que
extrapolam os limites das funções a eles atribuídas, buscando assim, tornar cada dia mais efetivo
o conceito de Estado de Direito, garantindo a superioridade das leis e da igualdade entre as
pessoas.
Nesse sentido, no presente trabalho foram apresentados os fundamentos da
responsabilidade dos agentes do Estado, fazendo um desenvolvimento histórico das leis sobre
o assunto. Há de ressaltar que a nova Lei de Abuso de Autoridade causou grande repercussão
no meio político, uma vez que a presente norma foi aprovada em meio a processos criminais,
principalmente para os atos de corrupção e devido à grande exploração dos meios de
comunicação das investigações e ações penais.
A nova norma trouxe destaque a crimes que estão mais suscetíveis a acontecer nas
atividades de funcionários públicos que atuam na linha de frente para combate aos crimes, tais
como agentes de segurança pública, magistratura e ministério público, e ainda regulamentar
certos institutos jurídicos relacionados à maioria dessas citadas. Ademais, um dos pontos de
embate é o fato da Lei de Abuso de Autoridade não criminalizar diretamente algumas condutas
imbuídas de violência, sobretudo física ou psicológica, antes punidas pela revogada Lei nº
4.898/1965, as quais permanecem objeto de outras infrações penais, sobretudo do Código Penal.
A presente pesquisa observou ainda que a missão constitucional da Polícia Militar é de
garantir a segurança e a ordem pública, cabendo a realização de ações de policiamento ostensivo
e preventivo, e ainda, atividades de polícia administrativa. E diante do cumprimento de tais
preceitos constitucionais o agente de segurança pública pode vir a ser responsabilizados, caso
descumpra alguma tipificação prevista na Lei de Abuso de Autoridade. Observa-se que os
agentes da segurança pública, que geralmente exercem o papel de representantes do Estado para
garantir a segurança da sociedade na linha de frente, estando expostos a perigos para manter a
ordem, muitas vezes são levados a se confrontar diretamente com parcelas da sociedade,
utilizando-se de força para cumprir a sua missão. Daí, é marcante o risco de cometimento de
atos que podem, ou não, ser caracterizados como abuso de poder.
Assim, torna-se relevante e merece uma especial análise sobre a aplicabilidade da Lei
de Abuso de Autoridade, diante da possibilidade da atuação do agente público, principalmente
62

os da segurança pública, no exercício da sua função constitucional, ser prejudicado pelo risco
de ser acusado de abuso de poder, resultando assim na inibição da atividade necessária à
segurança pública. No entanto, pode-se perceber nas disposições da nova Lei que, para se
confirmar que o agente público cometeu abuso de autoridade, são necessárias informações
precisas que confirmem, minimamente, a presença do elemento subjetivo o dolo específico por
parte do agente público e do especial fim de agir para que esse servidor possa ser punido.
Portanto, baseando-se nos autores pesquisados, conclui-se que os tipos penais
apresentados na nova lei instituem normas penais incriminadoras aos agentes da segurança
pública. No entanto, os agentes públicos da segurança pública, principalmente os policiais
militares podem ser beneficiados pela própria lei, uma vez que a falta de dolo por parte desses
servidores é excludente de ilicitude, principalmente considerando o imediatismo das ações
desses representantes do Estado, que geralmente não dispõem do lapso temporal que outras
categorias possuem para a solução de conflitos penais, e que geralmente são complexos.
O tema apresentado aborda observações doutrinarias relevantes para a uniformização
dos critérios objetivos que devem ser aplicados quando do confronto judicial com o tema,
colaborando para uma eficiente atuação das polícias militares, em harmonia com a segurança e
o bem-estar social. Por fim, corroborando com os autores citados no desenrolar desse trabalho
acadêmico, a nova lei possui boas intenções para proteger as pessoas contra o abuso de algumas
autoridades, sem esquecer que a parametricidade constitucional deve ser praticada por todos,
ou seja, “a lei é para todos”. A lei também tem a função de proteger os seus agentes (policiais,
juízes etc.) de possíveis acusações, uma vez que essa nova lei tem maior clareza, sobre o que
pode ou não ser considerado abuso de autoridade. É de suma importância destacar que, a nova
lei de abuso de autoridade trouxe muitas reflexões no meio jurídico e em alguns contextos não
foi muito bem aceita, contudo, devido a sua vigência recente ainda é impossível afirmar se esse
diploma legal trará avanços ou retrocessos.
Afirma-se por derradeiro, que o presente trabalho teve o escopo de colaborar, ainda que
de forma modesta, para a melhor compreensão sobre os reflexos que a Lei de Abuso de
Autoridade acarreta a atuação dos agentes públicos, com ênfase na segurança pública,
principalmente na atividade policial militar.
63

REFERÊNCIAS

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da sociedade. Consultor Jurídico, abril de 2017. Disponível em:
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nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei nº 8.069,
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(Código Penal). Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
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BRASIL. Polícia Militar tem origem no século 19. Disponível em:


https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2013/11/25/policias-militares-tem-origem-no-
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BRASIL. Polícia Militar tem origem no século 19. Disponível em:


https://corregedorias.gov.br/assuntos/perguntas-frequentes/direito-administrativo-disciplinar.
Acesso em 08 nov. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 630616/RO. Recurso


extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2. Inviolabilidade de
domicílio - art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de
crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado judicial para ingresso
forçado em residência em caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de
flagrância se protrai no tempo. 3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período
do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca é determinada por ordem judicial. Nos
demais casos - flagrante delito, desastre ou para prestar socorro-a Constituição não faz
exigência quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a posteriori. Necessidade de
preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da Constituição. Proteção contra
ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso
forçado em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A
inexistência de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo
fundamental. da garantia contra a inviolabilidade da casa (art. 5. XI, da CF) e deixaria de
proteger contra ingerências arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, artigo
11. 2. e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo 17, 1). O controle judicial a
posteriori decorre tanto da interpretação da Constituição, quanto da aplicação da proteção
consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao ordenamento
jurídico. Normas internacionais de caráter judicial que se incorporam à cláusula do devido
66

processo legal. 5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia
conforme o direito, é arbitrária. Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao
ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que havia elementos.
mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida. 6. Fixada a interpretação
de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período
noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que
indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso
concreto. Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de tráfico de drogas.
Negativa de provimento ao recurso. Recorrente: Paulo Roberto de Lima. Recorrido: Ministério
Público do Estado de Rondônia. Relatora: Min. Gilmar Mendes, 29 de novembro de 2015.
Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/864040028/recurso-extraordinario-
re-603616-ro-rondonia/inteiro-teor-864040034. Acesso em: 08 nov. 2021.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2012.

CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Abuso de autoridade e procedimento: desvelando o


complexo na pele do simples. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/07/14/abuso-de-autoridade-e-
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