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INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR UNIVERSIDADE SANTA CECÍCLIA –

UNISANTA

ARTIGO CIENTÍFICO

COMO A SÚMULA VINCULANTE ESTÁ SENDO USADA COMO ATO NORMATIVO


E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A ESTABILIDADE JURÍDICA E ECONÔMICA.

MARCOS VINÍCIOS FIGUEIREDO PAIVA MEIRA

SANTOS

2022
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR UNIVERSIDADE SANTA CECÍCLIA –
UNISANTA

ARTIGO CIENTÍFICO

COMO A SÚMULA VINCULANTE ESTÁ SENDO USADA COMO ATO


NORMATIVO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A ESTABILIDADE JURÍDICA E
ECONÔMICA.

Artigo Científico apresentado ao Curso de Direito da Instituição de Ensino Superior


Universidade Santa Cecília, de Santos – São Paulo, sob a orientação da Doutora, Mestre e Advogada
Patricia Cristina Vasques de Souza Gorisch, com a finalidade de utilização para concretização do
Trabalho de Conclusão de Curso.

MARCOS VINÍCIOS FIGUEIREDO PAIVA MEIRA

SANTOS

2022
RESUMO:

O presente trabalho busca questionar a atual má utilização das Súmulas Vinculantes


indiretas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Foi realizada pesquisas sobre sua
história, atuais conceitos, forma e efeitos que poderão se suceder. Também foi
minunciosamente levantado as consequências jurídicas, sociais e econômicas que se
sucederão se nada for feito. Se realizou uma análise sobre o neojusnaturalismo defendido de
forma cesarista pelos integrantes da Corte Suprema. Mostrou o quão nocivo a vertente se
demonstrou face o desenvolvimento da civilização ocidental. Propôs intervenções
moderadoras para a problemática.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................5
1. CONTEXTO HISTÓRICO:............................................................................................5
1.1 NATUREZA FORMALÍSTICA DA SÚMULA VINCULANTE..........................6
1.1.1 Defesa da análise normativa da norma................................................................6
2. CAUSAS...............................................................................................................................8
2.1. CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DE SEU MAU USO............................................................9
2.2. REFLEXOS ECONÔMICOS..........................................................................................13
3. PROPOSITURA INTERVENCIONISTAS PARA O PROBLEMA..............................................14
CONCLUSÃO............................................................................................................................17
INTRODUÇÃO
A súmula vinculante é um instrumento amplamente utilizado para unificar de forma
absoluta o entendimento dos tribunais, estipulados diretamente ou indiretamente (via ADI),
sendo de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, seu objetivo visa centralizar
linhas de entendimento em matérias dispersas ou inexistentes, das quais a norma não
esclarece de forma unânime o norte a se seguir; ou seja, preencher lacunas das quais o
legislativo pode estabelecer claramente posteriormente.
O estudo visa analisar o impacto desse dispositivo dentro do universo social brasileiro,
observando a perspectiva econômica e jurídica, evidenciando os problemas de seu mau uso,
agravados pelas últimas composições ministeriais da corte suprema. O autor levanta um
questionamento sobre eventuais consequências que isso poderá seguir dentro da atual
fragilidade brasileira e, ademais, buscar uma reflexão que vise uma solução para a
problemática. 1

1. CONTEXTO HISTÓRICO:
Historicamente a administração central brasileira sempre desenvolveu seu
ordenamento jurídico com um parecer centralista, não deixando muito espaço para os estados
tutelarem suas leis com base na regionalidade, excluindo a possibilidade de formação de seus
respectivos códigos civis ou penais; gerando lacunas das quais somente o
legislativo/executivo (o último em casos de ditaduras) não conseguem preencher. Esse
embaraço normativo gerou dificuldades resolutivas das quais as respostas dependiam
extremamente do entendimento empírico de cada magistrado, deixando uma fraca “solução”
naturalmente contraditória nas lides em diferentes esferas e instâncias.
Houve sempre uma tentativa de implementação do instituto na ordenança legal no
país, aparecendo inicialmente a cogitação de sua criação desde a época do Império do Brasil.
Mas somente no ano de 2004 que o Congresso aprova a Emenda Constitucional nº 45/04, que
insere no art. 103- A da Constituição Federal os seguintes:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,


mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.

    § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas


determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e
a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica.

    § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou


cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.

    § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou


que indevidamente a aplicar, 2caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-
a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso¹.
1

2
1.1 NATUREZA FORMALÍSTICA DA SÚMULA VINCULANTE

Não há uma doutrina que fixa definitivamente uma via única em sua classificação
formalística interpretativa, então o autor dividiu em duas linhas didáticas, para melhor
sintetização da matéria, sendo elas:
Forma aplicativa estrita:
Estabelecida a partir das súmulas discutidas em plenário de natureza positivista, tem
como característica a natureza de civil law; ou seja, seu desenvolvimento é ligado pela análise
técnica normativa, dando pouco espaço para interpretações extravagantes, sendo elas
contrárias a previsão original real. Pode ser consultada diretamente e serve como amparo nas
brechas que a legislação apresenta. É a via direta e pragmática que foi pretendida desde o
momento de sua propositura enquanto emenda constitucional, por parte do poder legislativo.

Forma empírica ampla:


Desenvolvida pela corte a partir de conceitos empíricos, dá maior liberdade extensiva
ao magistrado perante a norma (mesmo que isso conflite diretamente com o que é
explicitamente taxativo), sua natureza é derivada da common law; em outros termos, a
abrangência da interpretação se sobrepõe perante a rigorosa observância do sentido originário
pretendido pelo legislador. Sendo a via mais usada atualmente, permite o judiciário legislar
indiretamente sobre qualquer assunto sem qualquer freio moderador.
Há uma implementação analítica indireta do instrumento quando se é buscado por
alguns temas em ações diretas de inconstitucionalidade; no caso, não há diretamente uma
súmula vinculante declarada, mas sim uma tentativa cesarista de ampliar os tentáculos
desenfreados fora da competência do judiciário, dando ar de falta de moralidade e excesso de
autoritarismo que será mais bem abordado nos próximos capítulos.

1.2 Defesa da análise normativa da norma

Como já esperado, a parcela esmagadora da corte e seus adeptos doutrinários


defendem que o ato de analisar livremente a lei é uma intervenção não normativa, visto que o
seu evolucionismo é defendido pela Constituição, calcado principalmente pela busca de
pacificação social. Porém a CF prevê as limitações de atuação para possíveis intervenções, e
indiscutivelmente nenhuma delas dá poder para retenção atributiva do legislativo, podemos
exemplificar tal pensamento em alguns casos:

Uma fala do ministro Alexandre de Moraes sobre a equiparação analítica entre a


homofobia e o racismo, dando resolução penal ao que antes era uma pauta social, durante
almoço no Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP):"Não há nada de legislar. O que há é a
aplicação da efetividade da Constituição, [que é] protetiva de uma minoria que no Brasil sofre
violência tão somente por sua orientação sexual [...]
O Brasil é o quarto país do mundo com maior índice de agressões a pessoas tão
somente em virtude de sua orientação sexual. Não é possível continuar com isso".3
A fala do ministro não é verdadeira, pois a discussão fere integralmente a legalidade
nos seguintes pontos:
- Não há relação histórica, legal ou significado gramatical sequer semelhante entre as duas
pautas;

3
- Houve interferência ilegal sobre as prerrogativas do Congresso em alterar, incluir ou excluir
tema no código penal;
- A delimitação do STF é a análise constitucional, não a discussão de matérias criminais.
- Ataque direto e autoritário ao princípio da legalidade, que define a locução nullum crimen
nulla poena sine previa lege; ou seja, não há crime sem lei anterior que o defina, nem há pena
sem prévia cominação legal;
-Conversão de tema extremamente delicado em um embrolho jurídico4.
A homofobia é um problema sério, sua resolução precisa ser buscada de forma
definitiva, os nossos representantes legislativos federativos precisam apreciar um caminho
liberal para consagrar a igualdade das garantias individuais mais básicas, baseando-se no rito
dos processos democráticos. Definitivamente não é pauta do judiciário tal decisão, visto que
não são consagrados em seus cargos para a representação popular, nem mesmo são
empossados para um mandato via votação direta, a realidade é que houve uma gambiarra
jurídica que infelizmente poderá ser mudada com uma simples aprovação de Emenda
Constitucional caso algum deputado demagogo queira apelar para as camadas mais
reacionárias da sociedade, tornando a legítima reivindicação em palanque político.
Um caso emblemático foi grotesco “inquérito das Fake News”, que foi instaurado para
teoricamente analisar frases, afirmações e opiniões expressamente contrárias a suprema corte
ou seus integrantes. Naturalmente um ataque expresso contra a liberdade de expressão, é de
natureza retrógada, invoca um sistema penal já ultrapassado e ainda por cima é absolutamente
vicioso, vejamos:
- O sustentáculo do inquérito se baseia em uma norma do regimento interno, “assassinando” o
devido processo legal;
- Não há base constitucional nenhuma para sua implementação;
- Utilização de um sistema processual inquisitório; isto é, onde quem denuncia é o mesmo que
investiga e julga, ultrapassado desde a Idade Média;
- Mesmo se houver condutas criminosas por parte dos envolvidos, não é de competência do
STF instaurar investigações;
- Abre margem para utilização dessa “quimera” jurídica como censura prévia sobre opiniões
contrárias “ao rei”;
- Absolutismo tirânico na indicação de investigados aleatoriamente, sendo o ponto mais
ultrajante a investigação de um comediante;
- Falta de materialidade formal para desenvolvimento de eventuais decisões.
Esse é o exemplo recente mais alarmante de ataque a democracia, uma vez que não há
respeito a nenhum dos pilares morais, éticos e constitucionais. Brilhantemente o economista
Murray N. Rothbard levanta uma afirmação concreta, que evidencia um comportamento:
“O que o Estado teme acima de tudo, obviamente, é
qualquer ameaça fundamental ao seu próprio poder e à
sua própria existência”.
ROTHBARD, Murray N. Anatomia do Estado. p.61.
Dando continuidade de seu pensamento, com base na perspectiva normativa:
Podemos testar a hipótese de que o Estado está amplamente interessado em proteger a
si próprio, e não seus súditos, ao questionar: qual categoria de crimes que o Estado persegue e
pune de forma mais dura – aqueles contra cidadãos privados ou aqueles contra ele próprio? Os
crimes mais graves no vocabulário do Estado são quase invariavelmente não agressões contra
indivíduos privados ou propriedades, mas sim ataques contra seu próprio bem-estar.
ROTHBARD, Murray N. Anatomia do Estado. p.63.

4
Outro caso sobre uso de provas ilícitas para fundamentar decisão sobre suspeição do
ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.

Podemos até discutir vícios cometidos pela Operação Lava Jato (embora em sua
totalidade, foi o único acerto das últimas décadas contra a corrupção), mas a decisão de
declarar a suspeição de Moro no caso do ex-presidente Lula foi um erro irreparável, pois o
ônus da decisão ficou a critério de prints publicados em um veículo de imprensa, violando
absolutamente a cadeia de custódia, o que leva aos seguintes pontos:

- Houve uso de prova inválida e ilícita, como não houve o rito técnico necessário, o corpo de
mensagens não somente não deveria produzir efeitos, mas sequer deveriam ser analisadas
dentro de um processo. Reconhecidamente indevida até pelo defensor da decisão ministro
Lewandowski quando afrontado sobre a absoluta imoralidade de seu voto:

“Podem ser ilícitas, mas, enfim, foram amplamente veiculadas e não foram contestadas “.

- Desrespeito ao amparo doutrinário sobre uso excepcional da prova ilícita, que dá a


possibilidade desta ser admita em casos de presunção de inocência e não para discussões
procedimentais.

- Atentado violento a estabilidade social, pois o resultado dessa decisão deu possibilidade a
outros réus condenados a partir da operação requerer por analogia a anulação das sentenças
extremamente fundamentadas.

- Deu o golpe final na já cambaleante Lava jato, sacramentando assim a infâmia tão
combatida pelos anseios sociais, dando ar de “Mãos Limpas” na luta contra a corrupção.

2. CAUSAS

Para fazer uma arguição sobre os motivos do comportamento, precisamos analisar as


raízes de um Estado forte, pois há uma relação intrínseca entre a “pseudoiluminação” e
dever de agir para resolução dos conflitos sociais, dando nos entes ministeriais uma
percepção esquizofrênica de que os problemas do mundo serão resolvidos em uma
“canetada”, Henry Thoreau já percebeu esse problema no século 19:

Outros- como a maioria dos legisladores, políticos, advogados, ministros e


funcionários públicos- servem ao Estado principalmente com seu intelecto, e, como
raramente fazem qualquer distinção moral, estão igualmente propensos a servir tanto ao
diabo, sem intenção de fazê-lo, quanto a Deus.
THOREAU, Henry David. Desobediência Civil. p.13.

Nosso país é reconhecidamente calcado em decisões fracassadas e seus resultados


catastróficos, fruto das inconsequências gerências sociais e econômicas vividas em todo
período republicano, levando o Brasil a ser sempre visto como uma verdadeira piada trágica
pelo resto do mundo. Há uma leitura errônea de que as mazelas sociais foram sempre
causadas por falta de ação por parte das autoridades, uma busca histórica revela que nunca
houve espaço para uma resolução natural a longo prazo, sendo sempre usado o caminho
decrépito da intromissão simplista para problemas complexos. Isso traz um ponto que sempre
é espinhoso para os ferrenhos defensores do estadismo, a linha da liberdade estabilizante e
uma tola intervenção, dos quais nenhum devaneio aristocrático conseguiu resolver de forma
minimamente aceitável.
2. CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DE SEU MAU USO

Neste capítulo vamos abordar alguma das preocupantes eventualidades criadas pela
vertente relativista, começando inicialmente pelos efeitos jurídicos:

-Desigualdade de direitos

A relativização das premissas liberais clássicas abre brechas de contragolpes


extremamente danosos para direitos individuais, mesmo quando pretendido o efeito contrário,
pois quando há a conjectura filosófica valorosamente abstrata de determinado argumento, dar-
se-á a possibilidade da mesma premissa argumentativa ao grupo que quer atingir objetivo
oposto ao proposto, cria-se instabilidades institucionais e possibilidades da transformação de
algo que a priori era certo em uma Via Crucis que retarda os avanços de igualitarismo na
sociedade.

Um exemplo que demonstra a rachadura jurídica foi quando houve o julgamento da


ADIn 4277 e da ADPF 132, época em que o STF deu um de seus maiores passos na
interpretação normativa, entendendo que era constitucional a extensão da união estável para
casais homoafetivos, sendo um caminho aberto para eventualmente possibilidade para o
casamento de pessoas do mesmo sexo.

Visto na época como um marco histórico, principalmente pelo demora por parte do
Legislativo de atender o anseio de direitos civis iguais pleiteados pela sociedade, o que pouco
se questionou foi a fragilidade da conquista, já que pode ser radicalmente anulada com uma
mudança do quadro ministerial para integrantes mais reacionários, também se a posteriori
houver uma emenda constitucional ou mesmo um entrave normativo que impeça expansão
das liberdades individuais gerados por demagogias populistas e conservadoras por parte dos
legisladores.

O ponto questionado não é a defesa das liberdades individuais civis, até pelo fato da
pretensão ser valorosa, mas não deu base de sustentação contra eventuais retaliações, o que
por felicidade ainda não aconteceu, mas quando tratamos de legalidade, quanto maior a
segurança e especificações melhor.

- Descrédito das leis

Nos últimos 10 anos, a informação de conceitos jurídicos difundiu-se graças a internet,


e aquilo que era matéria exclusiva das universidades espalhou-se para fácil acesso em “apenas
um click”, com isso, houve maior fiscalização dos populares contra os Poderes, sucedendo
uma percepção coletiva de que havia uma incongruência entre aquilo que era falado e o que
de fato era exercido, chegando ao ponto de haver abertamente defesas de rupturas
institucionais por uma boa parcela da população.

Isso é causado pela incapacidade dos ministros de observar o quão prejudicial está
sendo esse relativismo no uso do dispositivo, é extremamente razoável a insatisfação da
população, visto que há uma distorção real da previsão normativa que irá gerar a longo prazo
a fundamentação para a tão temida crise.

O grande orador, advogado e político Cícero já afirmava um ensinamento que se


aplica nesse caso:
“Porque as riquezas, o nome ilustre, o poderio, sem a
sabedoria que ensina os homens a se governar e dirigir os
outros, nada mais é do que uma vergonha e insolente
vaidade”.
CÍCERO. Da República. p.35 e 36

-Crescimento das vertentes radicais

Desde o início das grandes manifestações de 2013, abriu-se uma margem para que
vertentes radicais de ambos os lados políticos crescessem, iniciando um período de
polarizações e conflitos diretos nas diversas camadas da sociedade, muito disso se deve a
insatisfações das leis, agravadas principalmente pela impunibilidade criada pelas diversas
mudanças do entendimento constitucional do STF; um dos exemplos mais caricatos é a
mudança de entendimento sobre a prisão em 2ª instância, que no período de 10 anos a
temática foi pautada quatro vezes em plenário e com isso houve mudanças de compreensão
três vezes, sendo uma das decisões de caráter vinculante mais criticadas atualmente.

As lideranças políticas já perceberam essa fragilidade e as exploram de forma


interminável, sendo um dos poucos pontos de convergência entre os lados. Já existe linhas
expressas de intervenção militar para frear a intervenção do Poder Judiciário, chegando ao
ponto do atual presidente e diversos congressistas defenderem essa linha5.

Cícero já previa isso antes da transição do Senatus Populus Que Romanus para o
Imperii Romani:

“Ao triste resultado de tomar os cidadãos tão delicados e sombrios, que a


menor aparência de autoridade os irrita e exaspera a tal ponto que sonham com romper
as leis que desprezam, para se encontrarem livres de qualquer jogo”.

CÍCERO. Da República. p.44

-Possibilidade de eventuais catástrofes sociais

Para conclusão da temática social, o autor irá analisar o relativismo legal histórico, que
alterou diretamente a percepção do direito como um todo, sendo na maior parte deles fatos
extremamente negativos perante a contemporaneidade dos quais faziam parte e a necessidade
de reparo posterior:

-Revolução Francesa e a tomada da Bastilha:

Exalta-se com louvores esse marco na humanidade, principalmente pelos defensores


das teses pós-positivistas, mas pretensiosamente ignora-se a carnificina instaurada pelos
jacobinos após a maturação do movimento revolucionário. Inicialmente o processo derivou do
anseio legítimo sobre as discrepâncias jurídicas e administrativas do absolutismo francês e
consolidou-se após a queda da Bastilha (presídio símbolo do poderio real); entretanto, com o
decorrer do tempo perdeu-se em si mesmo, principalmente no período conhecido como O
Terror, este sendo liderados pelos Jacobinos, onde houve mais de 200.000 mortes e a

5
mudança de uma monarquia cambaleante para o despotismo imperial de Napoleão
Bonaparte6.

Esse período pode ser analisado pela progressão da argumentação política jacobina,
que a priori buscava um igualitarismo similar aos girondinos, mas posteriormente
contornaram a virtude liberal para um genocídio liderado pelo autocrata Robespierre, a
alcunha não é irreal, fundamentada principalmente pelo desrespeito prático das normas
positivadas na Carta Magna de 1789, onde nasceram as garantias fundamentais na perspectiva
jurídica normativa. Tal degeneração se deu principalmente pela tese da pacificação social feita
a decretos arbitrários, onde o simples questionamento resultaria em uma condenação sumária
à guilhotina, inclusive o próprio líder político foi vítima de sua própria filosofia.

Como já citado, a resolução dos problemas causados só iria aparecer após o


desprestígio da política jacobina, quando estes perderam a liderança central e a maioria no
parlamento, o golpe final nesse processo foi a ascensão de Napoleão como cônsul (1799),
defendida pela ala girondina, encerrando assim o período da Revolução Francesa. Vale
ressaltar que no final das contas, tirou-se um rei para dar lugar ao imperador.

-República de Weimar e a ascensão nazista

Após a derrota da Alemanha na 1º Guerra Mundial, decorreu a queda do 2º Reich e o


nascimento do parlamentarismo presidencialista, este designado historicamente como
República de Weimar. Neste período houve uma mudança constitucional extremamente
revolucionária até aquele momento, com o amparo de garantias fundamentais e sociais, porém
com o relativismo do afastamento da exigência em juízo, impossibilitando em vias de fato a
aplicabilidade real dos dispositivos7.

O país passou por diversas crises durante sua existência, consequentemente nunca
houve de fato a possibilidade de real solução para os problemas existentes, acentuados nos
seguintes tópicos:

- Inflação descontrolada, destacada pela desvalorização de 99,99% da moeda, causada pela


hiperinflação (resultado da interferência estatal na economia) e pagamento reparativo aos
aliados após o Tratado de Versalhes8;

- Desemprego em larga escala (cerca 10%), intensificado pela dificuldade de empreendimento


gerado pelos altos impostos e bancarrota das finanças pessoais do povo alemão.

- Quebra do orgulho nacional do alemão, sendo um dos principais pontos a proibição da


formação de um exército nacional devido a imposição do Tratado de Versalhes.

- Instabilidade institucional, dando espaço para o surgimento das vertentes nazistas e


comunistas, estes classicamente de cunho revolucionário.

Dando continuidade na análise, os vitoriosos deste processo foram os nazistas, que


perceberam que não seria pelas armas que atingiriam o poder, mas sim pelos meios
constitucionais9. Hitler em 1932 sobe ao cargo de chanceler, devido ao acordo do seu partido
com os conservadores, que acreditavam que fazendo isso, acalmariam a catástrofe social já
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9
existente. Após a morte do presidente Hindenburg, Hitler se autoproclama Führer e assume o
poder total da Alemanha, instituindo o 3º Reich, sendo “amparado” pela decrépita legislação,
não irei abordar de forma profunda as consequências desse erro histórico pois fugiria do foco
do estudo.

Muito se critica a vertente positivista como a grande responsável da ascensão e


perpetuação nazista, porém o que pouco se levanta é o extremo relativismo nas liberdades
individuais no período, a perpetuação do intervencionismo positivado já demonstra que o
respeito básico do liberalismo moderno foi destruído. Um exemplo atestado ocorreu em 1938,
quando foi decretado o desarmamento da comunidade judaica 10, preparando terreno para o
avanço das pautas antissemitas, com a cominação do extermínio em massa do povo judeu
(cerca de 2/3).

Tudo foi possível graças ao relativismo jurídico que visava uma evolução social para a
fragilizada população alemã, dando a possibilidade da implosão nazista no âmago
institucional. Copiamos esse sistema na Carta Magna de 1989, sem perceber que viveríamos
momentos obscuros na atualidade, com uma evolução gradual da insatisfação genuína da
população e uma eventual progressão ipsis litteris do processo alemão.

-Erros políticos/jurídicos que levaram ao golpe de 64

Muito se lembra do golpe militar e respectivas atrocidades, mas o que pouco se


percebe que isso só foi possível graças aos diversos deslizes que o Poder Legislativo e Poder
Judiciário cometeram, principalmente no tocante à insistência do intervencionismo
desenfreado e relativismo da interpretação constitucional na solução dos problemas nacionais.
Desde meados de 45, quando o ditador algoz, verdugo e terrorista Getúlio Vargas foi deposto,
a estabilidade do nosso país nunca retornou; ou seja, o cenário social de terra arrasada deu
possibilidade para devaneios paranoicos por parte das autoridades superiores, vejamos algum
desses fatos:

- O retorno de Vargas em 50 deu a possibilidade de maiores demagogias populistas, o agora


ex-ditador decretou o aumento do salário-mínimo em 100% (ideia desenvolvida pelo então
ministro João Goulart)11, dando um forte golpe na economia e potencializando a hiperinflação.

Também no período houve diversas sabotagens institucionais e assassinatos a mando


do fascista tupiniquim, sendo estes os atos de sua derrocada, quando em 1954 acarretou-se o
atentado da rua Tonelero, que visava tirar a vida do seu desafeto político Carlos Lacerda e
resultou na morte do Rubens Florentino Vaz. Em ato de desespero, o decrépito déspota
suicidou-se para atingir seu maior sonho, a “eternização” de um modelo político e econômico
apodrecido e vencido desde a Segunda Guerra Mundial;

- O intervencionismo econômico e desenvolvimentismo defendido por JK fez o Brasil


caminhar a passos longos ao colapso econômico, a construção de Brasília custou cerca de 68
bilhões de reais atuais (10% do PIB da época)12, sendo possível graças a realocação das verbas
administrativas e a impressão monetária adotado pelos defensores do keynesianismo. O
rombo criado pela megalomania custou ao Brasil a perpetuação da inflação até a
implementação do Real.

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Outro problema foi o desenvolvimento forçado das vias rodoviárias, desfalcando o
natural crescimento da malha ferroviária, fazendo que com isso as commodities (principal
parte da economia nacional) subissem de preço devido a dificuldade de transporte e
dificultando a balança comercial. As consequências ainda são sentidas, principalmente
manifestadas no transporte precário das mercadorias e aumento dos custos de venda.

- Alteração do regime presidencialista ocorrida na emenda nº4 de 1961, mudando de forma


cesarista o tipo de governo para o parlamentarismo, o golpe branco tinha como objetivo a
efetivação do João Goulart como presidente, que anteriormente era vice do Jânio Quadros13.
Havia uma oposição ferrenha ao ato de o efetivar, principalmente constatada na petulância de
boa parte da ala militar, abriu-se uma brecha relativista para a irrelevante tentativa da
manutenção do sistema democrático.

Além da decisão fracassada, o processo indiretamente deu maiores poderes aos


militares e após três anos resultou na tomada do poder por parte dos milicianos. Podemos
perceber que o Poder Judiciário fora figurante apagado nesse período, mas o núcleo relativista
já era empregado perante as outras forças, dando infelizmente um destino trágico na história
do nosso país.

3. REFLEXOS ECONÔMICOS

Agora podemos tratar diretamente dos efeitos econômicos já presentes, podendo ser
agravados pela intervenção do Poder Judiciário:

O país sempre foi cambaleante na balança comercial internacional, mas a


intensificação dessa derrocada se dá principalmente pela instabilidade criada pelo judiciário
devido ao descrédito das leis, basta pesquisar “STF Ibovespa” para ver o quanto as decisões
do órgão afetam drasticamente a economia do Brasil; assim sendo, a qualidade de vida da
população despenca e a desigualdade social se agrava, gerando crises e desconfianças que não
serão resolvidas em curto prazo.

Os investidores externos deixam de empreender devido a descrédito das instituições,


um Estado que não consegue fornecer estabilidade para seu funcionamento normalmente não
respeita a livre-iniciativa, podendo confiscar capital e propriedade privada em “uma canetada”
(ainda mais no Brasil onde há o dispositivo abstrato da função social da propriedade previsto
na Constituição). O Brasil configura hoje na posição de nº 133 no Economic Freedom,
ranking este que calcula o índice de liberdade econômica de 177 países no mundo. Nosso
resultado pífio chega a ser pior que Ucrânia, Djibouti, Burkina Faso, Benin, Lesoto, Comores,
Butão e Kiribati.14

Como a súmula vinculante ampla afeta diretamente o universo econômico, não há


contra-argumento que refute a exposição, o que há é uma defesa de maior importância da
resolução social face à econômica, difícil é explicar isso para um brasileiro que sequer
consegue colocar um prato de alimento em sua mesa.

Maquiavel, grande símbolo da diplomacia e estratégia política, aconselha os príncipes


a sempre defender uma estabilidade econômica para uma sociedade sóbria:

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Além disso deve providenciar para que seus cidadãos possam exercitar quietamente as
suas atividades, no comércio e na agricultura e em todas as outras atividades humanas; e que
não tema o cidadão de prover as suas possessões por temor de que lhe sejam tomadas, e o
outro de abrir um negócio por medo dos impostos, mas deve o príncipe propor prêmios a
quem queira fazer essas coisas e a qualquer um que pense, qualquer que seja o modo, em
ampliar a sua cidade ou o seu Estado.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. P. 102 e 103

A linha de raciocínio é complementada por Ludwig Von Mises, um dos maiores


economistas da história, professor de Nobéis e um dos patronos da Escola Austríaca:

O intervencionismo é um sistema contraditório e inadequado, mesmo sob o ponto de


vista de seus patrocinadores, que não pode ser executado com lógica e cuja introdução só
pode acarretar distúrbios no funcionamento uniforme da ordem social com base na
propriedade privada.
MISES, Ludwig Von. Crítica ao intervencionismo: estudo sobre a política econômica e a ideologia
atuais. P.134.

4. PROPOSITURA INTERVENCIONISTAS PARA O PROBLEMA

Após a exposição de toda problemática, seria extremamente relevante a propositura de


intervenções para solucionar o embate jurídico, o autor pretende conjecturar possíveis
soluções, sustentando-se com argumentações históricas e culturais. Depois de toda a
exposição dos fatos, é inaceitável que o Brasil caminhe a longos passos para qualquer tipo de
desmando institucional na balança de poder.

O desfecho de toda a análise dar-se-á em propostas previstas pelas vias


constitucionais, avaliemos:

1) Limitação de matéria a ser pleiteada pelo dispositivo

O maior problema de um judiciário centralista é o acúmulo desenfreado de poder


absoluto, naturalmente o fato rompe com o contrapeso pretendido em um Estado Democrático
de Direito; visto disso, a delimitação constitucional sobre as matérias a serem tuteladas é a via
mais fácil no presente momento, dessa forma o relativismo pernicioso representado na súmula
vinculante de forma empírica ampla seria esmagado por uma impetração taxativa de natureza
moderadora. Além de restituir a sobriedade jurídica, representaria um forte sinal para a
quietação dos anseios sociais e um demonstrativo de confiança para os investidores
internacionais.

As respectivas matérias que indiscutivelmente devem ser tuteladas pelo dispositivo


devem se limitar em:

- Temas/lacunas não explícitos (as) no âmbito processual, se delimitando


exclusivamente nos procedimentos e não na forma;

- Propostas para desafogamento do judiciário, podendo haver proposituras de acordos


cíveis e penais para diminuir a carga de processos, este expandido no caso de menor potencial
ofensivo (principalmente de indivíduos contra a ordem tributária);

- Nos casos em que pode haver mudanças sociais urgentes, pode-se haver a criação da
Carta Conselho, sendo um novo artifício interventivo moderado dos poderes. O STF
discutirá sobre determinada pauta e se aprovada por maioria simples, o assunto e respectivo
entendimento deverá ser explicitado em carta, sendo despachada para a Câmara dos
deputados, sendo acolhida pelo presidente da casa, passará por comissão legislativa e
posteriormente por plenário, que se aprovar por maioria absoluta será encaminhada para o
Senado Federal, devendo haver votação por maioria absoluta para a entrar em vigor.

É uma forma de haver o Sistema de Freios e Contrapesos sem interferir nas


competências constitucionais, colocando o judiciário como interlocutor dos anseios sociais
sem o caráter de despotismo que atualmente vigora na atual jurisprudência.

2) Extinção do dispositivo

É possível havendo nova Emenda Constitucional, sendo proposta mudança ou


revogação do texto estabelecido no art. 103-A, tirando assim o poder de natureza vinculante
do Supremo Tribunal Federal. Tal mudança não alteraria o instituto súmula, mas sim a
obrigatoriedade dos Poderes ou tribunais inferiores aderirem ao entendimento da Corte
Suprema, possivelmente poderia haver um período de instabilidade no andamento processual
de diversas naturezas; porém, com o tempo a estabilidade se daria pelas diversas
jurisprudências e doutrinas pacificadas, dando maior sobriedade e solidez na possível solução
dos problemas sociais.

A proposta é a mais defendida pelo autor, pois dependeria somente do Legislativo para
acontecer, sendo a forma mais tranquila de progressão, justamente por esses configuram-se
como os verdadeiros atuantes dos anseios sociais, haja visto que são eleitos em um sistema
democrático, havendo representação de diversas camadas da sociedade e seus respectivos
anseios.

Não haveria em vias de fato tamanha mudança nas estruturas do judiciário, como
argumentado acima, temos pilares dos quais nunca serão ultrapassados nas compreensões
monocráticas ou colegiadas, podendo haver queda de determinada decisão quando esta
destonar da legislação vigente via Mandado de segurança ou doutrina quando a parte lesada
recorrer para tribunal superior.

3) Nova constituição

Sendo a ideia mais ousada, seria possível após aprovação por meio de plebiscito e
convocação de Assembleia Constituinte, sendo posteriormente promulgada. Embora a mais
difícil de ocorrer, seria sem sombra de dúvidas é a melhor resolução de diversos problemas
existentes judicialmente e extrajudicialmente, visto que há inúmeros conceitos abstratos sobre
diversas normas, retenção de temas normalmente infraconstitucionais e desenvolvimento
centralista do poder nas mãos das autoridades superiores.

Já abordado incansavelmente pelo estudo, a centralização de poder sempre será uma


catástrofe ao longo prazo, principalmente em um país continental como o Brasil, que tem o
sistema federativo, mas desrespeita a federalização; melhor dizendo, dá poderes absolutos
para o Poder Executivo e Legislativo Federal na elaboração da vida social via códigos e fere
as diversas regionalidades culturais existentes no Brasil. O governo federal dos Estados
Unidos é atuante principalmente no âmbito tributário e constitucional, deixando a organização
dos códigos civis e penais para os estados decidirem as reais necessidades e direitos referentes
ao seu conteúdo.
Além disso, desde a vigência da Carta Magna de 1989, houve 110 emendas
constitucionais (média de 3,43 por ano), mostrando a transformação da Constituição em uma
verdadeira “colcha de retalhos”, não havendo busca pela estabilidade e ultrajando na
conversão da constância pretendida em uma indigna e tosca norma figurativa. Diversas
emendas tratam de assuntos que sequer deveriam ser previsões constitucionais, sendo alguns
exemplos:

-Proposição sobre função social da propriedade, nenhum país sério no mundo dispõe sobre tal
bizarrice;

- Previdência social, sendo normalmente tutelada internacionalmente por leis federais;

-Abordagem de prática desportiva, sendo extremamente esquisita sua previsão constitucional;

-A implementação do sistema misto do sistema financeiro nacional, valendo-se apenas do


caput em sua vigência, tendo todos os artigos sendo revogados por motivos óbvios;

- Assuntos relacionados ao desenvolvimento urbano, visto que como já abordado, somente a


regionalidade deveria discutir sobre porque vive aquela realidade, evitando assim extremas
burocracias e jogos de interesse político.

A título de curiosidade e comparação, a Constituição americana foi promulgada em


1787 e contém 7 artigos, havendo 27 emendas em toda sua história (média de 0,11 emendas
por ano ou uma a cada 9,1 anos).

No tocante ao âmbito jurídico, uma nova Constituição enxuta daria maiores


possibilidades para desenvolvimento de uma jurisdição mais sólida e duradoura,
impossibilitando incompatibilidades presentes principalmente no STF, que tem agido
institucionalmente por interesses no mínimo questionáveis. Haveria um desafogamento das
quantidades de processos que chegariam na Corte Suprema, atualmente a tramitação de
conflitos chega a 25.806 anualmente, ficando evidente a impossibilidade humana de resolução
no curto/médio prazo, podendo até haver decisões após a morte das partes, não podemos
esquecer casos como Ação Cível Ordinária 158, que demorou 62 anos para ser concluída. As
decisões judiciais tenderão à melhora, pois os magistrados poderão analisar com maiores
blandícias os fatores e fatos inclusos nos processos, proferindo sentenças mais sólidas devido
ao tempo de apreciação.

CONCLUSÃO

O dispositivo vinculante se desenvolveu de uma argumentação racionalista aceitável, a


busca pela unificação jurisprudencial pretendia conciliar as diversas contradições existentes
nas normas supralegais e infraconstitucionais, chegando ao norte mais próximo da expectativa
constitucional sobre determinada lide. O problema se dá quando a característica vinculante se
expande para outras temáticas que não competem ao âmbito do Poder Judiciário, dando uma
conotação de interferência ilegal sobre pautas que muitas das vezes são legítimas, mas que
graças aos desmandos, poderão ser radicalmente levadas para debates populistas nos
palanques políticos e transfiguradas em ataques das liberdades individuais.

Insistentemente impetra-se a tese de que não há normatização quando uma ADIN de


natureza vinculante é implementada, mas aos olhos da sobriedade o argumentos que
justificariam tal visão são no mínimo risíveis, pois beira o psicótico querer ver uma “linda
vestimenta no corpo de um rei nú”, mudar temas da sociedade civil de forma artificial e
esperar que isso não seja visto como legislar é testar a tolerância da população, além de
flagrantemente um ato autoritário e ilegítimo, o judiciário não é um ente que se constitui de
mandatos representativos.

Existem olhares caldados pelas raízes patrimonialistas que formaram nossa história
sobre o que seria o bem coletivo, as demandas de progresso que a sociedade precisa e
principalmente o dever de agir para resolver tais lides. A súmula vinculante (que como já
estudado, é um dispositivo legítimo) há muito se transformou em verdadeira aberração usada
para tais pretensões, evidenciando o tão flagrante devaneio de atuação de alguns ministros
com pensamento pequeno e limitado, que querem consertar os intermináveis problemas do
Brasil jogando gasolina em cima de uma mesa pegando fogo e esperando que este se apague.

A instituição STF é indiscutivelmente um dos pilares fundamentais para o bom


andamento da democracia, sendo figura principal para a defesa da Constituição e amparo dos
direitos básicos quando esses são desrespeitados, porém, não são eleitos ou recebem mandato
para a representação legislativa, isso por si só já mostra a aberração que se transformou a
atuação de determinados integrantes da corte.

Pode-se haver a argumentação de que a interferência é uma defesa constitucional,


porém a realidade se mostra nos golpes periódicos cesarista, sendo acompanhados pela
evidente insatisfação popular, há uma distância de realidade entre operadores do direito e as
camadas populares e isso pode custar muito caro para os pequenos progressos que obtivemos
como sociedade desde a retomada democrática pós-ditadura.

Após diversas abordagens do estudo, o autor do artigo ressalta que não defende
rupturas institucionais ou abordagens políticas apelativas, o pretendido é a reflexão profunda
há tempos postergadas por parte dos operadores do direito, poder exacerbado e seu mau uso
sempre abrem feridas das quais as camadas da sociedade não costumam perdoar, escolhendo
diversos meios de retaliação, sendo pelas vias institucionais ou não. O questionamento pode
ser levado como alarmismo, mas não nos esqueçamos que em 2020 houve um pequeno
protesto contra o STF que culminou em queima de fogos de artifício na direção do prédio da
Corte Suprema, coisa que nunca havia acontecido por parte de camadas civis na história do
nosso país, mesmo que atos isolados, todos os processos revolucionários nasceram em
pequenos grupos de agitadores; sendo assim, para evitar tamanha mancha na história
geracional, precisamos extinguir privilégios ultrajantes do nosso universo jurídico.

Os ministros já representam figuras contraditórias que perderam a moderação e


descrição normalmente exigidas para o cargo, sendo demonstrado que a população média já
conhece os nomes e perfis integrantes da corte, fato que nunca aconteceria em um momento
de estabilidade política. É extremamente necessário haver mudanças no instrumento, visto que
a característica vinculante transforma toda as normas do ordenamento jurídico brasileiro e
isso traz diversas incertezas e descrédito, insatisfação esta intensificada pela ambiguidade até
formalística do dispositivo, não dando sequer uma orientação principiológica fixa para o
desenvolvimento sereno de sua implementação.

Até mesmo em ambiente institucional saudável já é extremamente difícil a


implementação de determinadas ideias republicanas, visto que há sempre interesses
particulares dos diversos representantes, que normalmente são extremamente despreparados
para o cargo (isso quando não são corruptos), muitos não sabendo sequer identificar a
localidade de alguns estados brasileiros, fato este mostrado em uma matéria no extinto
programa CQC da emissora Bandeirantes.15

A ideia de normatização desenfreada acaba levando a impossibilidade de cumprimento


das sentenças e banalização das normas vigentes, um dos exemplos atuais desse tipo de
exposição é referente à violência contra as mulheres, vejamos:

-O Brasil figura em um dos países mais problemáticos no tocante à violência contra as


mulheres, sendo o 5º no mundo em mortes violentas da população feminina, houve diversas
tentativas de redução dos casos como a aprovação da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e
a inclusão do feminicídio no artigo 121 do DL nº 2.848 (Lei Ordinária 13104/2015), mas
infelizmente pouco se mudou nesse cenário, chegando ao ponto do aumento dessas
violências durante o período da pandemia 16.

-É difícil de prever o motivo específico sobre a ineficácia dessas leis, mas um dos pontos
em que mais se debate é sobre a falta de consentimento social sobre tamanha brutalidade,
chegando ao ponto de muitas mulheres desistirem da ação pela indiferença de algumas
autoridades perante os casos, resultando em agressões psicológicas e físicas que poderiam
ter sido evitadas, fora nos casos em que essas vítimas são assassinadas.

-A Teoria Tridimensional pode ser invocada para mostrar uma falha, Reale fundamentou o
valor como um dos pilares fundamentais para os fenômenos jurídicos, e no caso não houve
ainda a presença do requisito para a pacificação do problema social.

Por mais bem intencionado que seja o intermediário normativo, ele precisará
compreender os fenômenos culturais, sociais, étnicos e geopolíticos que envolve
determinada sociedade para atingir a pretensão legal. O Estado Democrático de Direito é
uma consequência histórica da busca de equidade e estabilidade social, que demandou
dezenas de séculos para ser finalmente compreendido nas diversas democracias europeias,
seria uma esquizofrenia intelectual exigir que um país aristocrático patrimonialista como o
Brasil avance diversas pautas em “uma só canetada”, principalmente pela formação do
nosso país, nosso processo de formação nacional tem 521 anos, sendo eles:

- 322 anos de colonialismo;

- 67 anos de império;

- Golpe republicano e dois mandatos ditatoriais com Deodoro e Floriano, somando 5 anos
no total;

- 36 anos de intercalação de poderes entre São Paulo e Minas, sendo extremamente


comum o voto cabresto neste período;

- Golpe de Vargas e 15 anos de ditadura;

- 19 anos de uma redemocratização capenga;

- Golpe militar e 21 anos de ditadura, com as primeiras eleições diretas sendo realizadas
em 1989;

15

16
- 32 anos de democracia extremamente fragilizada com diversos escândalos de corrupção
e descrédito das leis.

Só por uma simples constatação percebe-se que nosso país precisa de calma e
ponderação quando o assunto é formação cívica, principalmente entender as demandas e
problemáticas regionais. Podemos até fazer uma análise comparativa sobre o que Cícero
chama de arte e a filosofia do relativismo normativo impositivo:

Mas não é bastante ter uma arte qualquer sem praticá-la. Uma arte qualquer, pelo
menos, mesmo quando não se pratique, pode ser considerada como ciência; mas a virtude
afirma-se por completo na prática, e seu melhor uso consiste em governar a República e
converter em obras as palavras que se ouvem nas escolas.

Apenas há a dicotomia sobre a “arte” normativa, não há sequer verossimilhança


entre o que seja arte e a defesa dos interesses próprios.

Por fim, o autor finaliza sua colocação invocando algumas figuras históricas que
evidenciaram o quão discrepante era os interesses de suas instituições face à verdadeira
virtude, não demonstrando fragilidade na contraposição do establishment, abstendo-se do
comodismo de aceitar a segurança da conivência, rompendo com fervura com a
aristocracia intelectual à época, mudando a história do mundo apenas com as suas
palavras, seus nomes:

- Jesus Cristo;

- Saulo de Tarso;

- Sócrates;

- Matinho Lutero;

- João Calvino;

- Nicolau Copérnico;

- Charles Darwin;

- Nikola Tesla.

- Ludwig Von Mises.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

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súmula vinculante e o livre convencimento motivado do magistrado. Um breve ensaio sobre hipóteses
de inaplicabilidade. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 708, 13 jun. 2005.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/6884. Acesso em: 10 abr. 2022.
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Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/sumula-vinculante/#:~:text=Então%2C%20com%20o
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³Após fala de Bolsonaro, Alexandre de Moraes diz que STF não legisla e que enquadrar homofobia
como racismo protege minorias. G1 SP, 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/31/alexandre-de-moraes-diz-que-stf-nao-legisla-e-que-
enquadrar-homofobia-como-crime-de-racismo-protege-minorias.ghtml. Acessado em: 05/01/2022.
⁴ SOARES, Marcelo Rogério Medeiros Soares. STF legisla ao criminalizar a homofobia.
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