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202100925
TEXTO 1
I. Introdução:
Para que uma lei seja definida como “corretamente feita”, é necessário que ela cumpra
quatro requisitos, sendo eles:
c) Se cumpriu o “devido processo legislativo”, expressão está que surgiu nos acórdãos do
STF, onde não há clareza sobre seu significado e sua natureza jurídica.
No ano de 2015, no julgamento da ADI n° 5.127, o devido processo legal ganha um novo
sentido, sendo um “direito fundamental de titularidade difusa”. De acordo com a ministra
Rosa Weber, significa “um direto que tem todos os cidadãos de não sofrer interferência, na
sua esfera privada de interesses, senão mediante normas jurídicas produzidas em
conformidade com o procedimento constitucionalmente determinado” (p. 149). Assim sendo,
trata-se de respeito aos trâmites e procedimentos previstos na Constituição para a aprovação
de determinada espécie legislativa. Logo, seria uma garantia do parlamentar e do cidadão de
que as leis sejam elaboradas de forma adequada, regular e correta.
Disseminar o controle das leis em formação aos juízes representaria uma distorção no
desenho institucional de controle dos agentes políticos, gerando assim insegurança jurídica. A
ideia de que o devido processo legal é um direito difuso apenas amplia o controle judicial no
processo legislativo, mudando a arena dos debates parlamentares, tendo em vista que é
utilizado por aqueles que, durante a deliberação legislativa, saem “perdedores”.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela
A quinta objeção diz respeito acerca do possível aumento do custo decisório, isso porque,
“se tal controle de constitucionalidade impuser padrões de deliberação muito exigentes, a
capacidade do parlamento para responder às demandas sociais podem ser prejudicadas”, o que
implica no engessamento do legislativo.
“Por isso, no lugar de uma postura apegada a ritos rígidos, que
desconsidera a instrumentalidade das formas, o caminho mais
promissor para aperfeiçoar a qualidade do processo legislativo é o de
incrementar a justificação das escolhas legislativas, a partir da
apresentação das razões substanciais capazes de eliminar as dúvidas
quanto à higidez da decisão legislativa. Assim, o eventual controle
deve recair sobre tais razões (NASCIMENTO, 2019).”
PERGUNTA:
A justificação das escolhas legislativas pode ser considerada como um novo tipo de
controle judicial? Quem julgará essas justificativas? No fim o judiciário não poderá discordar
de determinada justificativa, baseando-se em seus interesses e ideais e defini-la como
inconstitucional?
TEXTO 2
Dessa maneira, “uma pesquisa de opinião promovida pela revista Veja antes do início
dos trabalhos constituintes revelou que 60% dos constituintes preferiam a adoção de uma
Carta Constitucional concisa (Veja, 4/2/1987)” (GOMES, p. 193). Além dessa apuração,
pode-se perceber uma gama de preferências originárias da maioria dos constituintes que não
foram atendidas na CRFB/88. Segundo a interpretação neo-institucionalista isso ocorreu pois
o resultado da Constituição se deu por influência de diversos procedimentos definidos durante
a Assembleia Nacional Constituinte, tendo em vista que o resultado da Constituição não pode
ser justificado apenas baseando-se nas preferências individuais originais dos atores
constituintes. Logo, além das preferências individuais, é preciso atender a forma de
organização dos trabalhos legislativos para entender o resultado da CRFB/88. Portanto, os
atores políticos também tomam por base o quadro institucional que maximiza a realização de
seus interesses.
Nesse sentido, o que justifica o tempo gasto e o tamanho da Constituição é a influência
de duas formas diferentes de organização dos trabalhos legislativos em uma mesma
Assembleia Constituinte, o que afeta nas escolhas de um mesmo grupo de parlamentares.
Portanto, a escolha das normas internas no começo da Assembleia Nacional Constituinte
compactuou para um processo descentralizado de organização dos trabalhos legislativos, da
mesma maneira que centralizou a votação em uma única comissão que não reproduzia a
representação do plenário.
O que parece não ter sido previsto no tempo da aprovação do Regimento Interno é que
a Comissão de Sistematização não iria aceitar as propostas alternativas de Cabral que se
assemelhavam mais aos ideais da maioria dos membros do Plenário. Assim sendo, a extensão
do Projeto-A encaminhou consigo um problema de conteúdo, demonstrando ser muito mais
progressistas do que os atores constituintes prefeririam. Além de que o Projeto-A foi resultado
da predominância estratégica dos autores progressistas juntamente com sua maioria na
Comissão de Sistematização.
Na oportunidade, a separação das forças conservadoras deu uma melhor posição aos
progressistas no momento de prostração do Regimento Interno. A Comissão de
Sistematização continha uma sobre representação das forças progressistas em comparação ao
Plenário. Está sobre representação se deu pela escolha estratégica dos membros progressistas
pelo líder do PMDB, o senador Mário Covas, uma vez que os líderes partidários eram
responsáveis por indicar seus parlamentares para compor as comissões, tendo em vista a
proporcionalidade partidária da representação na Assembleia Nacional Constituinte. Usa-se
como exemplo para explicitar a diferença das escolhas dos membros da Comissão de
Sistematização em comparação com as do Plenário, as votações nominais, uma vez que nestas
a preferência da maioria dos membros da Comissão de Sistematização foi oposta àquela
atingida pelo Plenário. Por exemplo, quanto aos resultados da segunda votação da emenda do
presidencialismo: “no Plenário, 62% dos constituintes votaram pela aprovação da emenda
presidencialista, ao passo que apenas 42% dos membros da Comissão de Sistematização
votaram pela aprovação da emenda” (GOMES, p. 204).