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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS

Murilo Mendes Mainardes; Direito – 9º Período

Direito Processual Constitucional


Prof.º Elcio Domingues da Silva

QUESTÃO 01 - A Constituição da República Federativa do Brasil apresenta um


extenso catálogo de direitos e garantias fundamentais, tanto individuais como coletivos,
sendo que tais normas definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata, por expressa previsão constitucional. O texto constitucional também é claro ao
prever que direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte. Por ocasião da promulgação da
Emenda Constitucional de no 45, em 2004, a Constituição passou a contar com um §
3o, em seu artigo 5o, que apresenta a seguinte redação: "Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais". Logo após a promulgação da
Constituição, em 1988, o Brasil ratificou diversos tratados internacionais de direitos
humanos, dentre os quais se destaca a Convenção Americana de Direitos Humanos,
também chamada de Pacto de San José da Costa Rica (tratado que foi internalizado no
ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto no 678/1992), sendo certo que sua
aprovação não observou o quórum qualificado atualmente previsto pelo art. 5o, § 3o, da
Constituição (mesmo porque tal previsão legal sequer existia).
Com base na descrição acima a respeito da Convenção Americana de Direitos Humanos
e segundo a orientação do Supremo Tribunal Federal descreva sobre o status jurídico
que normas sobre direitos humanos detém antes e depois da Emenda Constitucional 45.

Resposta: Anteriormente à Emenda Constitucional 45/2004, as disposições de


direitos humanos presentes em acordos internacionais ratificados pelo Brasil não
possuíam caráter constitucional, portanto, não eram comparáveis às emendas
constitucionais; doravante a promulgação da referida Emenda, as convenções
internacionais e tratados sobre direitos humanos que passaram a serem aprovados pelo
Congresso Nacional, em conformidade com os requisitos de quórum qualificado,
presentes no artigo 5º, parágrafo 3º da CF/88, se tornaram homólogos às emendas
constitucionais, desempenhando o mesmo valor normativo, com a conseguinte
aplicação imediata e direta no ordenamento jurídico.
O STF salienta em julgados a relevância dos direitos humanos previstos em
tratados internacionais ratificados pelo país, até mesmo quando em conflito com normas
infraconstitucionais.
QUESTÃO 02 - Um país tem uma Constituição que prevê a prisão como pena para
todos os tipos de crimes, inclusive os crimes de menor potencial ofensivo. Com o passar
dos anos, surgem diversas críticas sobre a eficácia do sistema prisional e a necessidade
de se encontrar outras formas de punição que não sejam tão severas. Diante disso, surge
a discussão sobre a possibilidade de se aplicar a pena de multa como alternativa à
prisão, mesmo para crimes considerados graves. Seria possível essa mudança através de
uma mutação constitucional?

Resposta: A aplicação da pena de multa ao invés da prisão, principalmente para


crimes graves, não pode ocorrer por intermédio mutação constitucional; a mutação é
realizada por meio de interpretações e práticas que modificam o sentido e o alcance dos
dispositivos constitucionais, sem a necessidade de uma emenda formal. Ainda, a
mudança proposta no enunciado contraria cláusula pétrea da CF/88, que estabelece que
a pena de prisão só pode ser aplicada nos casos previstos em lei e com estrita
observância aos direitos fundamentais, ademais, o mesmo corpo prevê que a aplicação
da pena de multa é restrita aos crimes de menor potencial ofensivo. Logo, a referida
mudança apenas poderia ocorrer por meio de uma emenda constitucional, seguindo os
procedimentos previstos na Constituição para a alteração do seu texto. Isso significa que
seria necessário que a emenda fosse apresentada por um terço dos membros da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, discutida e aprovada em duas votações em cada
uma das Casas do Congresso Nacional, com um quórum qualificado de três quintos dos
votos dos respectivos membros, e promulgada pelo Presidente da República.

QUESTÃO 03 – Um grupo de parlamentares está discutindo a possibilidade de retirar


alguns direitos fundamentais previstos na Constituição do país, alegando que eles geram
custos financeiros elevados para o Estado e prejudicam o desenvolvimento econômico.
No entanto, outros parlamentares argumentam que esses direitos são fundamentais para
garantir a dignidade humana e representam o consenso democrático mínimo de um
Estado de Direito. Como resolver essa questão?

Resposta: A preservação dos direitos fundamentais é essencial para o Estado de


Direito democrático e representa a base da ordem jurídica de um país; a retirada de
direitos fundamentais previstos na Constituição não deve ser tomada sem minuciosa
análise, a qual envolve debates públicos, que devem atentar sobre os custos financeiros
e os princípios e valores fundamentais de um Estado de Direito Democrático.
A diminuição de direitos fundamentais previstos na Constituição deve ser uma
medida excepcional e somente deve ser tomada após uma avaliação cuidadosa de seus
impactos e uma ampla discussão pública sobre o assunto. O Estado deve buscar
soluções criativas e inovadoras que permitam a proteção dos direitos fundamentais sem
comprometer o desenvolvimento econômico do país.

QUESTÃO 04 – O Congresso Nacional apresentou uma proposta de emenda


constitucional para suprimir a cláusula pétrea que garante a separação dos poderes. A
proposta argumenta que a separação dos poderes é uma ideia ultrapassada que impede o
país de avançar em questões importantes, como a luta contra a corrupção e a tomada de
decisões mais eficientes. No entanto, a proposta causou grande controvérsia e mobilizou
diversas entidades da sociedade civil em defesa da manutenção da cláusula. Com base
na situação problema acima descreva as limitações de alteração da Constituição em
relação aos seus aspectos formais, circunstanciais e materiais.

Resposta: Em relação aos aspectos formais, a Constituição estabelece que as


propostas de emendas constitucionais devem ser apresentadas por um terço dos
membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, ou pelo Presidente da
República. Além disso, a proposta deve ser discutida e aprovada em duas votações em
cada uma das Casas do Congresso Nacional, com um quórum qualificado de três
quintos dos votos dos respectivos membros. Por fim, a emenda constitucional deve ser
promulgada pelo Presidente da República e incorporada ao texto da Constituição.
Ao que concerne aos aspectos circunstanciais, a Constituição estabelece que não
podem ser objeto de emenda constitucional as cláusulas pétreas, que são os dispositivos
fundamentais que garantem a integridade e a estabilidade da ordem constitucional. A
separação dos poderes, por exemplo, é uma cláusula pétrea prevista na Constituição, e,
portanto, não pode ser suprimida ou modificada por meio de emenda constitucional.
Consoante aos aspectos materiais, a Constituição estabelece limitações para a
alteração de determinados temas, como os direitos e garantias individuais e os direitos
sociais. Esses temas são considerados fundamentais para a proteção da dignidade da
pessoa humana e para a construção de uma sociedade justa e solidária, e, por isso, a
Constituição estabelece que qualquer emenda constitucional que os modifique deve
respeitar o núcleo essencial desses direitos e garantias.
Por fim, a proposta de emenda constitucional que suprime a cláusula pétrea que
garante a separação dos poderes, apresentada pelo Congresso Nacional, não respeita as
limitações constitucionais estabelecidas em relação aos aspectos formais e
circunstanciais. Além disso, a supressão da cláusula pétrea que garante a separação dos
poderes pode afetar o núcleo essencial da proteção constitucional dos direitos e
garantias individuais, uma vez que a separação dos poderes é um mecanismo
fundamental para a garantia da independência e imparcialidade do Poder Judiciário.

QUESTÃO 05 – Uma empresa de construção civil, que atua em diversos


municípios do país, está em processo de expansão e planeja iniciar novos projetos em
uma cidade específica. No entanto, ao fazer uma pesquisa sobre as leis e regulamentos
locais, a empresa percebe que há uma falta de clareza e previsibilidade nas normas
aplicáveis à construção civil naquela cidade. Além disso, há decisões judiciais
conflitantes sobre a interpretação dessas normas, o que aumenta a incerteza e o risco
legal para a empresa. Diante desse cenário, a empresa precisa decidir se deve prosseguir
com os planos de expansão naquela cidade, correndo o risco de enfrentar processos
judiciais e sanções legais, ou se deve buscar uma alternativa mais segura em outra
localidade, sacrificando oportunidades de negócios e investimentos. Da análise do
presente caso descreva os aspectos teóricos essenciais que envolve a temática da
segurança jurídica.

Resposta: Deve observar o princípio da segurança jurídica, que se refere na


garantia de que as normas jurídicas são claras, previsíveis, estáveis e aplicáveis de
forma uniforme, proporcionando aos indivíduos a certeza de que seus direitos e
obrigações serão respeitados e protegidos pelo Estado. Quanto a empresa de construção
civil, a falta de clareza e previsibilidade nas normas aplicáveis à construção civil
naquela cidade, aliada às decisões judiciais conflitantes sobre a interpretação dessas
normas, gera uma situação de incerteza e risco para a empresa. Isso pode afetar a
capacidade da empresa de tomar decisões informadas e investir em novos projetos, uma
vez que a possibilidade de enfrentar processos judiciais e sanções legais pode prejudicar
sua atividade econômica.
A segurança jurídica é essencial para a proteção dos direitos fundamentais e para
o desenvolvimento econômico e social de um país. Quando as normas jurídicas são
claras e previsíveis, os indivíduos e as empresas podem planejar suas ações e
investimentos com maior segurança e confiança, contribuindo para o desenvolvimento
da economia e para a geração de empregos e renda. Por outro lado, a falta de segurança
jurídica pode gerar insegurança e instabilidade, desestimulando investimentos e
afetando negativamente o ambiente de negócios. Além disso, pode gerar desigualdade
entre os cidadãos, uma vez que aqueles que possuem mais recursos financeiros e
jurídicos podem se beneficiar de decisões judiciais favoráveis, enquanto aqueles que
não possuem esses recursos podem ser prejudicados.
Portanto, é fundamental que o Estado atue para garantir a segurança jurídica, por
meio da elaboração de normas claras e previsíveis, da uniformização da jurisprudência e
da proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos e das empresas. Isso contribui
para a construção de um ambiente jurídico saudável e favorável ao desenvolvimento
econômico e social do país.

QUESTÃO 06 – Um servidor público, que trabalha há 25 anos em um órgão


público, recebe uma notificação informando que seu cargo será extinto em razão de uma
reforma administrativa em curso no Estado. O servidor, que está a apenas cinco anos da
aposentadoria, entende que possui direito adquirido ao seu cargo e remuneração, e que a
extinção do cargo viola esse direito. No entanto, o Estado sustenta que a reforma
administrativa é necessária para reduzir gastos e melhorar a eficiência do serviço
público, e que a extinção do cargo não fere o direito adquirido do servidor. Diante desse
impasse, como se resolve a questão do direito adquirido do servidor público?
Resposta: Se servidor acentuar que sua aposentadoria está próxima e que,
portanto, a extinção da carga prejudique seu direito adquirido, é importante que ele
apresente sua situação ao órgão responsável pela reforma administrativa, buscando uma
solução que possa garantir seus direitos. Há a possibilidade de o servidor ser
remanejado para outro cargo ou setor do órgão público, de modo a garantir sua
estabilidade e continuidade de emprego, pois se torna indispensável que o Estado e o
servidor busquem soluções que possam conciliar os envolvidos, garantindo ao mesmo
tempo a estabilidade do servidor e a eficiência do serviço público. Os servidores
estáveis com cargos extintos são imediatamente postos em disponibilidade. Essa
proteção do vínculo empregatício garante que continuem recebendo uma remuneração
proporcional ao tempo de serviço até que sejam reaproveitados em outra função. Vide o
decreto nº 3.151, de 23 de agosto de 1999, artigo 5º.

QUESTÃO 07 – Uma pessoa é acusada de ter cometido um crime e é levada a


julgamento. Durante o processo, a defesa alega que a acusação não apresentou provas
suficientes para comprovar a culpabilidade do réu, mas o juiz decide condená-lo sem
dar oportunidade para que a defesa apresente novas provas ou argumentos. A defesa,
então, alega que houve violação do devido processo legal, em especial do direito ao
contraditório e à ampla defesa. Diante desse impasse, como se resolve a questão do
respeito ao devido processo legal?
Resposta: O devido processo legal é composto pela ampla defesa e o
contraditório, previsto no art. 5º, LV, da CF/88, se trata de garantia formal e material,
dado a exibição de provas, fundamentos e justificativas. O Magistrado não poderá
impedir o benefício fundamental da defesa, do contrário, deve recorrer da decisão se
observados vícios processuais, requerendo a nulidade. Acentua-se que a magistratura
deve buscar a exatidão dos fatos materiais respeitando aos direitos fundamentais do
processo.

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