Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE ABERTA UNICED

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade

Nome: Janete Lobua James Pedro

Quelimane
2022

1
UNIVERSIDADE ABERTA UNICED
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade

Trabalho de carácter avaliativo, a ser submetido na


plataforma da UNISCED, na Faculdade de Direito,
no curso de Licenciatura em Direito, na Cadeira de
Direito Constitucional.

Quelimane

2022

2
Índice

1. Introdução ............................................................................................................................4
1.1. Objectivos .....................................................................................................................5
1.1.1. Objectivo geral ..........................................................................................................5
1.1.2. Objectivos específicos ...............................................................................................5
1.1. Metodologia ..................................................................................................................5
2. Desenvolvimento teórico ......................................................................................................6
2.1. Fiscalização da constitucionalidade ...............................................................................6
2.2. Processos de fiscalização da constitucionalidade ...........................................................6
2.2.1. Fiscalização preventiva ..............................................................................................7
2.2.1.1. Objecto do controlo e legitimidade .........................................................................7
2.2.1.2. Prazos e tramitação ................................................................................................7
2.2.1.3. Decisões e seus efeitos ...........................................................................................9
2.3. Fiscalização abstracta sucessiva .................................................................................. 10
2.3.1. Objecto do controlo e legitimidade .......................................................................... 10
2.3.2. Prazos e tramitação .................................................................................................. 11
2.3.3. Decisões e seus efeitos............................................................................................. 12
2.4. Fiscalização concreta .................................................................................................. 12
2.4.1. Objecto do controlo e legitimidade .......................................................................... 13
2.4.2. Prazos e tramitação .................................................................................................. 14
2.4.3. Decisões e seus efeitos............................................................................................. 15
2.5. Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão ...................................................... 16
2.5.1. Processos de fiscalização da legalidade .................................................................... 17
3. Conclusão .......................................................................................................................... 18
Referências bibliográficas ......................................................................................................... 19

3
1. Introdução

O presente trabalho surge em conformidade do módulo de Direito Constitucional, ministrada


pela UnISCED em Quelimane e tem como tema: Fiscalização da Constitucionalidade e da
Legalidade.

A constituição como norma suprema do ordenamento jurídico não tem valor enquanto não
houver entidades com poderes para fazer valer essa qualidade de norma suprema do
ordenamento jurídico, (Manhice, 2022, p. 2). É justamente por esse facto que a própria
constituição estabelece várias formas destinadas a garantir que seja salvaguardada a sua
supremacia, fixando bases que garantam o cumprimento das suas normas, incluindo no processo
de feitura das normas ordinárias que devem obediência à Constituição, (Manhice, 2022, p. 3).
Juntamente com essas bases, também foram estabelecidas várias formas de fiscalização da
constitucionalidade para garantir que normas já aprovadas possam ser submetidas ao crivo da
constituição.

Portanto, sempre que se entender que uma norma é contrária à Constituição, seguindo os mais
restritos procedimentos de acesso à justiça constitucional, pode ser feito o pedido de fiscalização
da constitucionalidade, nas suas várias vertentes, entre as quais, no que interessa para o presente
caso, a fiscalização sucessiva concreta e/ou fiscalização sucessiva abstracta da
constitucionalidade (apenas a fiscalização sucessiva, seja abstracta ou concreta, é que interessa
para o presente artigo, visto que para os casos de fiscalização preventiva a actividade de
fiscalização é feita antes de a norma entrar em vigor no ordenamento jurídico, o que retira a
possibilidade de na pendência da fiscalização seja revogada ou derrogada a norma em escrutínio,
por ser impossível derrogar ou revogar uma norma que ainda não está em vigor). Nesse âmbito,
várias situações podem justificar que no momento da apreciação sucessiva concreta e
fiscalização sucessiva abstracta da constitucionalidade e da legalidade, a Lei, o regime jurídico
ou as próprias disposições legais, objecto da fiscalização, sofram alteração, revogação,
derrogação, reforma ou alteração.

Nesse âmbito, colocam-se questões sobre quais são as teorias que dominam nessa matéria e,
especificamente, saber qual é o alcance dos efeitos da revogação, derrogação ou reforma e quais
são os efeitos da declaração de inconstitucionalidade de uma norma. A isso, também, se junta a

4
questão sobre qual tem sido a orientação da jurisprudência constitucional moçambicana a
respeito da matéria e a segurança jurídica desse posicionamento face às teorias aplicáveis à
matéria, na perspectiva do Direito Comparado, considerando a predominância dos mesmos
princípios ou teorias sobre a matéria.

1.1.Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Analisar o processo de Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade.

1.1.2. Objectivos específicos

 Identificar o objecto do controlo e legitimidade da Fiscalização preventiva, concreta, sucessa;


 Discutir em torno da fiscalização da constitucionalidade no âmbito da violação da
Constituição do objectivo de defesa da Ordem Constitucional;

1.1.Metodologia

Para realização do presente trabalho, foi adoptado o método de pesquisa bibliográfica. A


pesquisa bibliográfica é uma das mais comuns entre os estudantes, sendo obrigatória em todos os
trabalhos científicos. Com ela, é feito uma colecta de dados a partir de artigos, livros e revistas
científicas para utilizar como citações.

Para Lima e Mioto (2007), “a pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de


procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser
aleatório” (p.32).

Portanto, esse é um dos métodos de pesquisa que serve como embasamento para todos os
assuntos pesquisados, analisando variáveis que um problema pode ter, comparando as opiniões e
teses de diferentes autores que falem sobre o mesmo assunto. Depois disso, o aluno faz as suas
análises e conclusões sobre o tema.

5
2. Desenvolvimento teórico

2.1.Fiscalização da constitucionalidade

Segundo Jorge Bacelar Gouveia, “a fiscalização da constitucionalidade é a adopção de


instrumentos funcionalmente aptos à verificação das situações de violação da Constituição,
levados a cabo no âmbito de competências específicas que apenas têm esse fito, é o sinal mais
forte da confirmação do objectivo de defesa da Ordem Constitucional, o que vem a acontecer
com a fiscalização da constitucionalidade” (António, 2012, p.67).

Parafraseando Canotilho, (2003) o aperfeiçoamento da aplicação concreta e exteriorização


material do Direito Constitucional está muitas vezes dependente de uma boa actividade de
interpretação da Lei pelas instituições jurídicas desde o próprio parlamento, cuja actividade
legislativa encontra limites na Constituição, até aos tribunais, cuja actividade de aplicação da lei
aos casos concretos também não deve ofender a Constituição o que exige, em toda a extensão da
actuação dessas instituições, a necessidade de sempre tomar como base, na sua orientação e
limite, a Constituição da República, enquanto lei suprema do ordenamento jurídico.

Para procurar uma boa abordagem do assunto, importa, em primeira linha, identificar os efeitos
da revogação, derrogação e alteração de uma norma, por um lado, e os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma, por outro. Igualmente, é importante definir
qual é o paradigma da teoria da inutilidade de uma decisão de mérito, nos termos da
jurisprudência constitucional moçambicana, como também se mostra relevante uma breve
análise comparativa entre o ordenamento jurídico português e o moçambicano quanto ao
tratamento do assunto. A identificação do efeito de cada forma de eliminação da norma no
ordenamento jurídico é determinante para aferir a lógica da necessidade ou não de apreciação de
uma norma já revogada, derrogada ou alterada.

2.2.Processos de fiscalização da constitucionalidade

“A fiscalização da constitucionalidade de normas é realizada pelo Tribunal Constitucional por


três diferentes modos, a que correspondem outras tantas espécies de processos”. (Miranda, 2022,
p.99)

6
2.2.1. Fiscalização preventiva

O primeiro é o da fiscalização preventiva, isto é, efectuada antes mesmo de os diplomas serem


publicados e entrarem em vigor. Este controlo encontra-se previsto no artigo 278º da
Constituição, mas a ele só podem ser sujeitas as normas mais importantes da ordem jurídica.

2.2.1.1.Objecto do controlo e legitimidade

A requerimento do Presidente da República, o Tribunal Constitucional aprecia preventivamente


as normas constantes de tratados internacionais que tenham sido submetidos ao Presidente da
República para ratificação, de diplomas da Assembleia da República ou do Governo que lhe
tenham sido enviados para promulgação como lei ou decreto-lei e de acordos internacionais que
lhe tenham sido remetidos para assinatura, (Manhice, 2022, p. 25). Tratando-se de normas
constantes de decreto legislativo regional, pode requerer a fiscalização preventiva o respectivo
Representante da República. No caso de normas constantes de decretos da Assembleia da
República que tenham sido enviados ao Presidente da República para promulgação como leis
orgânicas, o controlo também pode ser requerido pelo Primeiro-Ministro ou por um quinto dos
Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções, (Manhice, 2022, p. 21).

O controlo da constitucionalidade em fiscalização preventiva incide sobre as normas indicadas


como objecto do pedido, devendo o requerente também especificar as normas ou os princípios
constitucionais violados (nº 1 do artigo 51º da LTC). De acordo com o princípio do pedido, o
Tribunal só pode declarar a inconstitucionalidade de normas cuja apreciação tenha sido
requerida, mas pode fazê-lo com fundamento em normas ou princípios constitucionais que não
aqueles cuja violação foi invocada (nº 5 do artigo 51º da LTC).

2.2.1.2.Prazos e tramitação

A fiscalização preventiva deve ser requerida no prazo de oito dias (contados de forma contínua
artigos 56º, nº 1 e 57º, nº 1, da LTC), a contar da data da recepção do diploma, no caso de o
requerente ser o Presidente da República ou um Representante da República, ou a contar da data
em que o Presidente da Assembleia da República dê conhecimento ao Primeiro-Ministro e aos
grupos parlamentares do envio ao Presidente da República de decreto para promulgação como lei

7
orgânica, no caso de o requerente ser o Primeiro-Ministro ou um quinto dos Deputados à
Assembleia da República.

O Tribunal tem entendido que, no caso de o requerente ser um Representante da República,


acresce ao prazo acima referido a dilação de dois dias prevista no nº 4 do artigo 56º da LTC.

O Tribunal Constitucional deve pronunciar-se sobre o pedido no prazo de vinte e cinco dias,
prazo que pode ser encurtado pelo Presidente da República por motivo de urgência (nº 8 do
artigo 278º da Constituição).

Após a entrada na secretaria, o processo é apresentado ao Presidente do Tribunal Constitucional


para, no prazo de um dia, proceder à sua admissão, notificar o autor para suprir deficiências (o
requerente deve proceder ao seu suprimento no prazo de dois dias) ou submeter os autos ao
plenário, caso entenda que o pedido não deva ser admitido, devendo o Tribunal decidir no prazo
de dois dias e, no caso de decisão de não admissão do pedido, notificar o requerente (artigos 57º
e 52ºda LTC).

Admitido o processo e não havendo deficiências a suprir, procede-se, no prazo de um dia, à


distribuição, por sorteio, a um relator (nº 1 do artigo 58º da LTC) e à notificação do órgão de que
emanou a norma impugnada para, querendo, responder ao pedido, no prazo de três dias (artigo
54º da LTC).

O relator deve elaborar um memorando no prazo de cinco dias “contendo o enunciado das
questões sobre que o Tribunal deverá pronunciar-se e da solução que para elas propõe, com
indicação sumária dos respectivos fundamentos”, que a secretaria entrega a todos os juízes
acompanhado de cópia do pedido e da resposta (nº s 2 e 3 do artigo 58º da LTC).

Após receber cópia do memorando, o Presidente procede à inscrição do processo na ordem do


dia da sessão plenária, no prazo de dez dias desde o recebimento do pedido. A decisão não deve
ser proferida antes de decorridos dois dias sobre a entrega das cópias do memorando a todos os
juízes (artigo 59º, nº s 1 e 2, da LTC).

8
Uma vez concluída a discussão e tomada a decisão, o processo é entregue ao relator ou, no caso
de este ficar vencido, ao juiz que deva substituí-lo para elaboração do acórdão, no prazo de sete
dias, após o que se procede à sua assinatura (nº 3 do artigo 59º da LOC).

Todos os prazos relativos à tramitação do processo são encurtados pelo Presidente do Tribunal
quando o Presidente da República tenha encurtado o prazo para o Tribunal Constitucional se
pronunciar (artigo 60º da COT).

2.2.1.3.Decisões e seus efeitos

Nos processos de fiscalização preventiva, para além das decisões de natureza processual
nomeadamente, de não conhecimento do pedido o Tribunal Constitucional profere dois tipos de
decisões: pronuncia-se pela inconstitucionalidade (total ou parcial) ou não se pronuncia pela
inconstitucionalidade de cada norma submetida a juízo, (Miranda, 2022, p.12).

Quando o Tribunal se pronuncia pela inconstitucionalidade, o Presidente da República ou o


Representante da República são obrigados a vetar o correspondente diploma e a devolvê-lo ao
órgão que o aprovou, tendo este último de se conformar com a decisão do Tribunal.

Se o diploma for alterado pelo órgão que o aprovou e expurgada a norma ou normas entendidas
como inconstitucionais, ou, no caso de se tratar da Assembleia da República ou das Assembleias
Legislativas das regiões autónomas, o diploma for confirmado por maioria qualificada de dois
terços (artigo 279º da Constituição), apesar do julgamento de inconstitucionalidade, o Presidente
da República ou o Representante da República têm a faculdade de o promulgar ou assinar. Tal
não impede que o Tribunal Constitucional venha mais tarde a julgar inconstitucionais essas
normas, no âmbito das outras formas de fiscalização da constitucionalidade.

Por outro lado, se o diploma for reformulado, não se limitando a expurgar as normas que o
Tribunal Constitucional julgou inconstitucionais, o Presidente da República ou o Representante
da República, conforme os casos, podem requerer novamente a fiscalização preventiva de
qualquer das suas normas (nº 3 do artigo 279º da Constituição).

No caso de o Tribunal Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade de normas


constantes de tratados internacionais, o Presidente da República limita-se a comunicar à

9
Assembleia da República que não pode proceder à sua ratificação. O tratado pode ser de novo
aprovado pela Assembleia da República, por maioria de dois terços, ficando o Presidente da
República com a faculdade de o ratificar (nº 4 do artigo 279º da Constituição).

Quando o Tribunal não se pronuncia pela inconstitucionalidade, o Presidente da República ou o


Representante da República, consoante o caso, devem promulgar ou assinar o diploma, podendo,
no entanto, exercer o direito de veto político, contando-se o respectivo prazo desde a publicação
da decisão do Tribunal Constitucional (artigo 136º, nº s 1 e 4 e artigo 233º, nº 2, da
Constituição).

2.3.Fiscalização abstracta sucessiva

O segundo dos modos de controlo da constitucionalidade pelo Tribunal Constitucional é o da


chamada fiscalização abstracta sucessiva, assim designada por ser levada a cabo
independentemente de qualquer aplicação concreta (isto é, para resolução de um caso ou litígio
concreto) da norma objecto de apreciação, (Miranda, 2022, p.34)

2.3.1. Objecto do controlo e legitimidade

Encontram-se sujeitas a este tipo de fiscalização todas e quaisquer normas do ordenamento


jurídico português, desde as constantes de leis até às contidas num simples regulamento
autárquico.

Podem requerer esta fiscalização o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da


República, o Primeiro-Ministro, o Provedor da Justiça, o Procurador-Geral da República, um
décimo dos Deputados à Assembleia da República, e também, quando estiver em causa a
violação de direitos das regiões autónomas, os Representantes da República, as Assembleias
Legislativas das regiões autónomas, os respectivos presidentes ou um décimo dos seus
deputados, bem como os Presidentes dos Governos Regionais (artigo 281º, nº 2, da
Constituição). Têm ainda legitimidade para iniciar este tipo de fiscalização os juízes do Tribunal
Constitucional e o representante do Ministério Público junto deste Tribunal relativamente às
normas julgadas inconstitucionais em três casos de fiscalização concreta (artigo 281º, nº 3, da
Constituição, e artigo 82º da LTC). Não se trata, pois, de uma faculdade reconhecida aos

10
cidadãos em geral, os quais unicamente dispõem, assim, da possibilidade de solicitar a qualquer
das entidades referidas que a exerça.

2.3.2. Prazos e tramitação

Não existe prazo para requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização abstracta sucessiva
(artigo 62º, nº 1, da LTC).

O procedimento inicia-se com a entrega de um requerimento dirigido ao Presidente do Tribunal


Constitucional, especificando as normas cuja apreciação se requer e as normas ou princípios
constitucionais violados, estando o Tribunal vinculado pelo “princípio do pedido” quanto às
normas impugnadas (artigo 51º, nº s 1 e 5, da LTC). Se após a admissão de um pedido de
fiscalização abstracta sucessiva vierem a ser admitidos outros com objecto idêntico, procede-se à
incorporação destes pedidos no primeiro (artigo 64º, nº 1, da LTC).

Uma vez recebido pela secretaria, o pedido é apresentado ao Presidente do Tribunal no prazo de
cinco dias, para que, no prazo de dez dias, decida sobre a sua admissão, notificação do autor para
suprir deficiências ou submissão dos autos a sessão plenária caso entenda que o pedido não deve
ser admitido (artigo 62º, nº 2, da LTC). Neste último caso, o Presidente manda entregar cópia do
requerimento aos restantes juízes, o Tribunal reúne em sessão plenária e decide no prazo de dez
dias (artigo 52º, nº s 2 e 3, da LTC).

No caso de admissão do pedido, o Presidente do Tribunal notifica o órgão de que tiver emanado
a norma impugnada para, se o desejar, sobre ele se pronunciar no prazo de trinta dias (artigo 54º
da LTC). Decorrido o referido prazo é entregue cópia dos autos aos juízes, acompanhada da
resposta (se a houver), de um memorando do Presidente do Tribunal ou do Vice-Presidente, por
delegação daquele, onde “são formuladas as questões prévias e de fundo a que o Tribunal há-de
responder” e de outros elementos documentais reputados de interesse (artigo 63º, nº 1, da LTC).

Após quinze dias, pelo menos, desde a entrega do memorando, este é submetido a debate, fixa-se
a orientação do Tribunal sobre as questões a resolver, procede-se à distribuição do processo a um
relator, por sorteio, ou, por decisão do Tribunal, ao Presidente (artigo 63º, nº 2, da LTC). O
relator elabora, no prazo de quarenta dias, um projecto de acórdão, de acordo com a orientação
fixada pelo Tribunal, são entregues cópias desse projecto aos restantes juízes e o Presidente do

11
Tribunal inscreve o processo na tabela na sessão plenária, decorridos, pelo menos, quinze dias
desde a distribuição das cópias (artigo 65º, nº s 1 e 2 da LTC).

Os prazos acima referidos podem ser encurtados até metade “quando ponderosas razões o
justifiquem”, por decisão do Presidente, ouvido o Tribunal (artigo 65º, nº 3, da LTC).

Nos processos de fiscalização abstracta sucessiva, os prazos suspendem-se durante as férias


judiciais (artigo 56º, nº 1, da LTC).

2.3.3. Decisões e seus efeitos

Nos processos de fiscalização abstracta sucessiva, o Tribunal Constitucional decide no sentido da


inconstitucionalidade (total ou parcial) ou não inconstitucionalidade de cada norma submetida a
juízo.

Vindo o Tribunal Constitucional a concluir pela inconstitucionalidade da norma (ou normas) cuja
apreciação lhe foi requerida, a decisão tem força obrigatória geral, o que significa que a norma é
eliminada da ordem jurídica, não podendo mais ser aplicada, seja pelos tribunais, seja pela
administração pública, seja pelos simples particulares. Alguns dos problemas específicos que
este regime levanta são equacionados e resolvidos pelo artigo 282º da Constituição.

A decisão de não declaração de inconstitucionalidade não faz caso julgado, pelo que o Tribunal
não fica impedido, em sede de fiscalização abstracta ou de fiscalização concreta, de voltar a
apreciar e decidir no sentido da inconstitucionalidade de uma norma anteriormente não declarada
inconstitucional.

2.4.Fiscalização concreta

O terceiro modo através do qual o Tribunal Constitucional pode ser chamado a exercer o
controlo da constitucionalidade das normas jurídicas é o da denominada fiscalização concreta,
assim designada por ocorrer justamente a propósito da aplicação, pelos tribunais, da norma
questionada a um caso concreto, (Miranda, 2022, p.31)

12
2.4.1. Objecto do controlo e legitimidade

A fiscalização concreta cabe, em primeira linha, ao tribunal perante o qual o caso se encontra
pendente, uma vez que, nos termos do artigo 204º da Constituição, todos os tribunais portugueses
têm competência para apreciar a conformidade com a Constituição das normas que hajam de
aplicar, e têm mesmo o dever de não aplicar aquelas que considerem inconstitucionais.

Contudo, das decisões dos tribunais “comuns” que decidam questões de constitucionalidade,
cabe recurso, nos termos previstos nos artigos 280º da Constituição e 70º da LTC, restrito à
apreciação dessa questão, para o Tribunal Constitucional.

O recurso tem por objecto decisões judiciais que recusem a aplicação de uma norma com
fundamento em inconstitucionalidade, que apliquem norma arguida de inconstitucional pelas
partes, ou que apliquem norma já anteriormente julgada inconstitucional pelo próprio Tribunal
Constitucional ou pela Comissão Constitucional [artigo 70º, nº 1, alíneas a), b), g) e h), da LTC].

É este recurso que abre aos cidadãos em geral a possibilidade de acesso ao Tribunal
Constitucional. O recurso pode ser interposto directamente para o Tribunal Constitucional
quando incidir sobre decisão judicial que aplique uma norma já anteriormente julgada
inconstitucional pelo próprio Tribunal Constitucional ou pela Comissão Constitucional ou que
recuse a aplicação de uma norma com fundamento em inconstitucionalidade. Contudo, quando se
trate de decisão que aplique uma norma cuja inconstitucionalidade foi suscitada, sem êxito, no
processo, só após a exaustão dos recursos ordinários é admitido o recurso para o Tribunal
Constitucional (artigo 70º, nºs 2 e 5, da LTC). Quando os recursos para o Tribunal
Constitucional não sejam admitidos nos tribunais “comuns” onde se suscitaram as questões de
constitucionalidade, podem as partes apresentar reclamação, que é decidida pelo próprio
Tribunal Constitucional.

A legitimidade para recorrer para o Tribunal Constitucional, no âmbito da fiscalização concreta


pertence, para além dos particulares, ao Ministério Público, sendo este recurso obrigatório
quando estejam em causa normas constantes dos mais importantes diplomas normativos, isto é,
de convenções internacionais, actos legislativos ou decretos regulamentares (artigo 72º, nº s 3 e
4, da LTC).

13
2.4.2. Prazos e tramitação

O requerimento de recurso é apresentado por meio de requerimento, no prazo de dez dias a


contar desde a notificação da decisão de que se recorre (artigo 75º da LTC), devendo conter as
indicações previstas no artigo 75º-A da LTC.

Compete ao tribunal que tiver proferido a decisão recorrida apreciar a admissão do respectivo
recurso (artigo 76º, nº 1, da LTC), tomando uma de três decisões: admissão, não admissão, ou
convite a prestar indicações em falta. A decisão de admissão não vincula o Tribunal
Constitucional.

No caso de não admissão do recurso, o recorrente pode reclamar para o Tribunal Constitucional,
no prazo de 10 dias (artigos 76º, nº 4, e 69º da LTC).

Quando estejam em falta indicações exigidas pelo artigo 75º-A da LTC, o juiz do tribunal a quo
convida o requerente a completá-las, no prazo de 10 dias (nº 5 do mesmo artigo). Caso o
requerente não responda ou não preste todas as indicações, o recurso não é admitido, sendo esta
decisão susceptível de reclamação para o Tribunal Constitucional (artigos 76º, nº 4, e 77º da
LTC). Se, pelo contrário, o requerente prestar todas as indicações necessárias, o recurso deve ser
admitido.

Admitido o processo pelo juiz do tribunal que proferiu a decisão, o processo é enviado ao
Tribunal Constitucional. O processo é distribuído, por sorteio, e objecto de um exame preliminar
pelo relator, que pode proferir decisão sumária (no caso de a questão a decidir ser simples ou no
caso de entender que não pode conhecer-se do objecto do recurso) ou ordenar a produção de
alegações, no prazo de trinta dias (artigos 78º-A, nº 1, e 79º da LTC).

Da decisão sumária cabe reclamação para a conferência, no prazo de dez dias (artigo 78º-A, nº 3,
da LTC). A decisão da conferência sobre as reclamações é definitiva e caso decida que deve
conhecer-se do objecto do recurso ou ordene o seu prosseguimento, o recorrente é notificado
para apresentar alegações (artigo 78º-A, nº s 4 e 5, da LTC).

14
Decorrido o prazo para apresentar as alegações, o juiz relator elabora, no prazo de trinta dias, um
memorando ou projecto de acórdão, e o projecto vai com vista aos juízes que ainda não o tenham
examinado, pelo prazo de dez dias (artigos 79º-A, nº 1, e 79º-B, nº 1, da LTC).

Nos processos de fiscalização concreta, o Tribunal Constitucional julga normalmente em secção


(artigo 70º, nº 1, da LTC). Porém, o Presidente, com a concordância do Tribunal, pode
determinar que o julgamento seja feito em plenário, quando tal seja justificado em função da
questão a decidir ou para evitar divergências jurisprudenciais (artigo 79º-A da LTC).

Segue-se a discussão e a formação da decisão acerca das questões constantes do memorando,


sendo então o processo concluso ao relator ou a juiz que deva substituí-lo, no caso de este ter
ficado vencido para elaboração do acórdão, no prazo de trinta dias (artigo 79º-B, nº 2, da LTC).

Caso uma das secções venha a julgar uma questão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade em
sentido divergente de jurisprudência anterior do Tribunal, cabe recurso para o plenário (artigo
79º-D da LTC).

Os prazos acima referidos são reduzidos a metade nos processos referidos no artigo 43º, nº s 3 e
5, da LTC, e naqueles em que estiverem em causa direitos, liberdades e garantias pessoais (artigo
79º-B, nº 3, da LTC).

Quanto aos poderes de cognição, o Tribunal está vinculado pelo “princípio do pedido” quanto às
normas que a decisão recorrida, conforme os casos, tenha aplicado ou recusado aplicar, mas já
não quanto ao fundamento (artigo 79º-C da LTC).

2.4.3. Decisões e seus efeitos

As decisões do Tribunal Constitucional nos processos de fiscalização concreta podem ser de


provimento (ordenam a reformulação da decisão recorrida) ou de não provimento (confirmam a
decisão recorrida), cabendo ao tribunal recorrido aplicar, na decisão do caso, as conclusões que o
acórdão do Tribunal Constitucional imponha.

No caso de provimento (total ou parcial), os autos baixam ao tribunal a quo para que este
reformule ou mande reformular a decisão, de acordo com o julgamento do Tribunal
Constitucional sobre a questão da inconstitucionalidade (artigo 80º, nº 2, da LTC).

15
Quando a decisão seja de não provimento, a decisão recorrida torna-se definitiva no que diz
respeito à questão da inconstitucionalidade (artigo 80º, nº 4, da LTC). No caso de o Tribunal
Constitucional fixar uma interpretação da norma que a decisão recorrida tiver aplicado ou que
recusou aplicar, de forma a evitar que haja inconstitucionalidade, a norma deve ser aplicada com
essa interpretação no processo em causa, vinculando o tribunal recorrido (artigo 80º, nº 3, da
LTC).

Em qualquer das situações possíveis seja recurso de decisão que não aplicou uma norma por
julgá-la inconstitucional ou recurso de decisão que não atendeu a impugnação da
constitucionalidade de uma norma e a aplicou, a decisão do Tribunal Constitucional não tem
força obrigatória geral, ou seja, só vale no processo judicial em que é proferida (artigo 80º, nº 1,
LTC).

Caso o Tribunal Constitucional venha a julgar inconstitucional a mesma norma em três casos
concretos diferentes, fica aberta a possibilidade de vir a apreciá-la em processo de fiscalização
abstracta, normalmente a requerimento do Ministério Público (artigos 281º, nº 3, da Constituição,
e 82º da LTC), e a decisão que aí declare a inconstitucionalidade dessa norma tem força
obrigatória geral.

2.5.Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão

Em matéria de fiscalização da constitucionalidade, a competência do Tribunal Constitucional não


se restringe ao controlo de normas jurídicas, pois a Constituição indo aqui além do que é usual
em diplomas análogos lhe atribuiu também o poder de examinar os casos de
inconstitucionalidade por omissão, isto é, de “apreciar e verificar o não cumprimento da
Constituição por omissão das medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas
constitucionais” (artigo 283º da Constituição).

O processo seguido para tanto é semelhante ao da fiscalização abstracta sucessiva da


constitucionalidade; mas, dado o grande melindre de que se reveste o problema das “omissões
legislativas” e o exercício desta importante competência do Tribunal Constitucional, tal processo
só pode ser desencadeado pelo Presidente da República ou pelo Provedor de Justiça, ou, ainda,

16
quando estejam em causa os direitos de uma região autónoma, pelo presidente da respectiva
Assembleia Legislativa.

Se o Tribunal Constitucional concluir pela existência de uma omissão, não pode ele, porém,
editar a norma ou normas em falta, nem sequer ordenar ao órgão para tanto competente que o
faça: uma ou outra coisa seriam contrárias à sua índole de órgão jurisdicional. O Tribunal
limitar-se-á, sim, a “verificar” a existência de inconstitucionalidade por omissão, e a “dar
conhecimento” disso àquele órgão legislativo, (Miranda, 2022, p. 13).

2.5.1. Processos de fiscalização da legalidade

O procedimento de fiscalização da legalidade de normas por violação de lei de valor reforçado,


do estatuto de uma região autónoma (por parte de normas de diploma regional) ou de direitos de
uma região autónoma consagrados no respectivo estatuto (por parte de normas de diploma
emanado dos órgãos de soberania) é idêntico ao da fiscalização da constitucionalidade (como
decorre dos artigos 280º e 281º da Constituição), com exclusão da fiscalização preventiva, que
não é aí admitida, e do controlo por omissão, que não faria aí sentido.

Uma outra hipótese, próxima da fiscalização da legalidade, ocorre em controlo concreto: das
decisões dos restantes tribunais que recusem a aplicação de norma constante de acto legislativo
com fundamento na sua contrariedade com uma convenção internacional, cabe recurso para o
Tribunal Constitucional, obrigatório para o Ministério Público, restrito às questões de natureza
jurídico-constitucional e jurídico-internacional implicadas na decisão recorrida [artigos 70º, nº 1,
alínea i), e 71º, nº 2, da LTC].

17
3. Conclusão

A primeira grande conclusão que se retira desta abordagem é a de que a teoria dos efeitos da
inconstitucionalidade, embora esteja, doutrinalmente, mais ou menos evoluída, na prática ainda
encontra muitas barreiras na sua fixação pelos Estados para a melhor eficácia da existência das
normas constitucionais.

Igualmente, tanto em Portugal como em Moçambique, o efeito da declaração de


inconstitucionalidade tem uma lógica sui generis e o desenvolvimento prático da sua
implementação depende muito da orientação que é fixada e aprofundada pela jurisprudência.
Neste caso, conforme amplamente se demonstrou, a possibilidade de apreciação de
inconstitucionalidade de normas revogadas é permitida em Portugal considerando a lógica do
efeito da declaração de inconstitucionalidade e o efeito da revogação que pode não eliminar
todos os vícios que a norma criou quando vigorou, desde que preenchidos os pressupostos
lógicos referidos.

Contudo, orientação diversa tem o Conselho Constitucional da República de Moçambique, pois


sempre que a norma tiver sido derrogada ou tiver sido já revogada, abinitio, declara não haver
importância para uma decisão de mérito sem discorrer sobre a importância ou não da eliminação
dos efeitos da inconstitucionalidade ou ilegalidade da norma, considerando ao facto de que a
declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade tem efeito prospectivo – ex tunc e pode ser
preponderante na eliminação do mal que foi criado pela inconstitucionalidade ou ilegalidade, o
que no nosso entender, constitui um desamparo constitucional.

Por conseguinte, urge uma nova orientação na fiscalização da constitucionalidade para garantir
que uma norma que seja inconstitucional ou ilegal e que tenha produzido efeitos e a sua
revogação não tenha eliminado os efeitos que ainda podem ser eliminados, o que pressupõe,
como já referido, a existência de um interesse relevante na eliminação dos efeitos da
inconstitucionalidade ou ilegalidade.

18
Referências bibliográficas

António, C. (2012). Estudos de Direito Constitucional Moçambicano – Contributos para a


reflexão. CFJJ-FDUEM-ISCTEM, Maputo.

Canotilho, J. J. G. (2003). Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, 7ª Edição,


págs. 890.

Lima, T. C. S., & Mioto, R. C. T. (2007). Procedimentos metodológicos na construção do


conhecimento científico:A pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis, 10(esp.), 37-45.SÁ LV.
Oliveira RA de. Autonomia: uma abordagem interdisciplinar. Saúde, Ética & Justiça.12(1/2):5-
14
Manhice, N. (2022). A Fiscalização da Constitucionalidade e da Legalidade de Normas
Revogadas. Disponível em: < https://www.asg.co.mz/a-fiscalizacao-da-constitucionalidade-e-da-
legalidade-de-normas-revogadas/>. Acesso em: 12.08.22

Miranda, J. (2022). A Fiscalização da Constitucionalidade, 2ª Edição Revista e Actualizada,


Almedina, págs.104.

Decretos

Cf. BR nº 35, I Série, 4º Suplemento, de 31 de Agosto de 2007.

Cf. BR nº 52, I Série, 2º Suplemento, de 28 de Dezembro de 2007.

Cf. BR nº 63, I Série, de 29 de Março de 2018.

Cf. BR nº 021, I Série, de 26 de Maio de 2010.

BR nº 222, I Série, de 19 de Novembro de 2020.

19

Você também pode gostar