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ISTA - INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA

Criado pelo Decreto Nº 24/07 do Conselho de Ministros, em 07 de Maio de 2007

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE DIREITO

GARANTIAS E CONTROLE DA CONSTITUICIONALIDADE

SURAYA ENGRÁCIA TAVARES

LUANDA/ VIANA

2023

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SURAYA ENGRÁCIA TAVARES

GARANTIAS E CONTROLE DA CONSTITUICIONALIDADE

1º Ano
Sala:
Turno: Manhã

Trabalho apresentado ao Instituto Superior Técnico


de Angola (ISTA) curso de Direito, para avaliação
na cadeira de Direito constitucional.

Docente:

LUANDA/ VIANA

2023

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INDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4
1.1. Problema de pesquisa ......................................................................................... 5

1.2. Objectivos........................................................................................................... 5

1.2.1. Objectivo geral ................................................................................................ 5

1.2.2. Objectivos específicos ..................................................................................... 5

1.3. Hipótese da pesquisa .......................................................................................... 5

1.4. Justificativa do tema ........................................................................................... 6

1.5 Modelo de pesquisa ............................................................................................. 6

2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA ......................................................................................... 7


2.1. Conceito de garantias constitucionais .................................................................... 7

2.1.1. Tipos de garantias constitucionais ...................................................................... 7

2.1.3. Caracterização das garantias constitucionais ...................................................... 9

2.2. Conceito de Controle de Constitucionalidade ..................................................... 11

2.2.1. Controle preventivo e repressivo ...................................................................... 12

2.2.2. Controle jurisdicional de constitucionalidade................................................... 12

2.2.2.1. Controle difuso .............................................................................................. 12

2.2.2.2. Controle concentrado ..................................................................................... 13

CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 15
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 16

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INTRODUÇÃO
Para conferir aplicabilidade fática aos princípios e garantias fundamentais
estabelecidos pela Constituição, faz-se necessário um mecanismo que garanta sua
prevalência em relação às normas secundárias do sistema jurídico.

O controle de constitucionalidade é um sistema de verificação da compatibilidade


de leis e actos normativos com a Constituição e tem como premissas a rigidez
constitucional e a supremacia da Constituição.

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1.1. Problema de pesquisa

Para Gil (1991, p. 29), problemas científicos podem ser formulados seguindo
algumas regras, tais como o: problema deve ser formulado como pergunta; ser claro e
preciso; ser empírico; ser susceptível de solução; e deve ser delimitado a uma dimensão
viável.

Partindo do conceito apresentado por Gil, formulamos a seguinte pergunta de


partida:

O que são garantias e controle da constituicionalidade?

1.2. Objectivos

“Se o problema é uma questão a investigar, objectivo é um resultado a alcançar”


(Vergara, 1997). O objectivo final, se alcançado, dá respaldo ao problema. Os objectivos
intermediários são metas que se devem ser construídas para se chegar ao objectivo final.

1.2.1. Objectivo geral

 Conhecer garantias e controle da constituicionalidade

1.2.2. Objectivos específicos

• Definir garantias e controle da constituicionalidade

• Classificar controle da constituicionalidade

• Caracterizar garantias e controle da constituicionalidade

1.3. Hipótese da pesquisa

Segundo Lakatos (2009, p.85), a hipótese é “a suposição de uma causa que visa
explicar provisoriamente um fenómeno até que os factos venham contradizer ou afirmar.

Partindo conceito apresentado por Lakatos, a pesquisa pretende testar a seguinte


hipótese:

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H1:. O controle da constitucionalidade é um pilar fundamental em um Estado de
Direito, assegurando que as leis e actos normativos estejam em conformidade com a
Constituição, esse controle é exercido por meio de diversas garantias e mecanismos.

H2:. As leis ou actos normativos em desconformidade com a Constituição são


considerados inconstitucionais e devem ser excluídos do ordenamento jurídico, fazendo
voltar o estado de harmonia anterior

1.4. Justificativa do tema

Segundo Vergara (1997), o autor do trabalho deve justificar seu estudo,


apontando-lhe contribuições de ordem prática e ao estado da arte na área em que está
buscando formação académica. Assim é preciso pontuar como os resultados da pesquisa
podem contribuir para a evolução do conhecimento teórico e da prática, no que diz
respeito especificamente ao objecto de estudo.

As razões de nosso interesse pela pesquisa sobre a relação entre a garantias e


controle da constituicionalidade foram decorrentes da necessidade de conhecer, de forma
mais aprofundada.

1.5 Modelo de pesquisa

A maneira pela qual um problema é concebido e estruturado, para ser investigado,


afectará os resultados da pesquisa, inclusive poderão ser alcançadas respostas diferentes.
Por isso a planificação da pesquisa não pode estar desconectada das respostas que o
pesquisador vislumbra encontrarem conformidade com o Chizotti, (2001), p. 11), “”.
Contudo, a pesquisa só existe com o apoio de procedimentos metodológicos adequados,
que permitam a aproximação ao objecto de estudo que são: Pesquisa bibliográfica;
Pesquisa descritiva; Estudo de caso.

Segundo Alves (2012, p. 42) “a pesquisa bibliográfica é quando um investigador


desenvolve a sua investigação a partir de um estudo já efectuado por outros
investigadores”. Na concepção de Andrade apud (Beuren, 2004, p.81), afirma que “s
pesquisa descritiva preocupa-se em observar os factos, registá-los, analisá-los, classificá-
los e interpretá-los, e o pesquisador não interfere neles”.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
2.1. Conceito de garantias constitucionais

As garantias constitucionais podem ser qualificadas, numa primeira abordagem,


como o “direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a protecção dos seus direitos”
CANOTILHO (1993), nomeadamente por via da disponibilização de meios processuais
visando esse objectivo.

Ou ainda, citando AMARAL (1986), no que se refere às garantias dos particulares


perante a Administração:

"As garantias são meios criados pela ordem jurídica com a finalidade de evitar ou
de sancionar quer violações do direito público objectivo, quer as ofensas dos
direitos subjectivos e dos interesses legítimos dos particulares, pela
Administração Pública” (AMARAL 1986).

As garantias representam, pois, a forma mais elevada e mais eficaz de defesa dos
direitos.

Assim, garantias constitucionais são os mecanismos que visam a protecção dos


direitos constitucionalmente consagrados e que visam dar-lhes efectividade. Têm,
segundo CANOTILHO (1993), , sobretudo uma natureza instrumental, já que
consubstanciam o direito de os cidadãos exigirem do Estado, em sentido lato, a protecção
dos seus direitos, e, simultaneamente, do conjunto dos meios processuais apropriados
para os concretizar, designadamente o direito de habeas corpus ou diversos princípios do
direito criminal, tais como nullum crimen sine lege, ou ne bis in idem.

2.1.1. Tipos de garantias constitucionais

Quanto a JOSÉ ANTÓNIO DA SILVA qualifica as garantias constitucionais


como as “instituições, determinações e procedimentos mediante os quais a própria
Constituição tutela a observância ou, em caso de inobservância, a reintegração dos
direitos fundamentais” SILVA (2006), .

Ainda segundo este Autor, poder-se-ia distribuir as garantias em geral por dois
grupos: as garantias constitucionais gerais, que se inseririam num grupo de mecanismos
utilizados para limitar o poder político, tal como as limitações ou resistência normativa
às alterações constitucionais ou o princípio da separação de poderes; e as garantias

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constitucionais especiais, que seriam mecanismos que limitariam os poderes políticos,
mas também os particulares, particularmente vocacionados para proteger a
inviolabilidade dos direitos fundamentais. Este tipo de garantias poderia subdividir-se
naquelas que se efectivariam no plano individual, tal como o princípio da protecção
judiciária, o direito à segurança, que incluiria o procedural due process, e “remédios
constitucionais”, como habeas corpus ou o habeas data. Num plano mais vasto,
considerar-se-ia, por exemplo, a acção popular ou o direito à greve.

Outros tipos de classificação de garantias constitucionais é possível discernir.


Assim, podemos falar de garantias sociais, políticas e jurídicas, neste ponto
acompanhando a lição de JELLINE(1981).

No entendimento deste Autor, cada garantia pode ser inserida num grupo ou tipo,
de acordo com a sua natureza específica. Deste modo, poderíamos distinguir entre:

A) Garantias sociais, relacionadas com a prestação social do Estado aos


particulares, fundamento para a adopção de políticas sociais gerais e políticas dotadas de
carácter compensatório com vista a proteger os estratos mais desfavorecidos da
população, mas também tendentes a intervir nas disfuncionalidades do mercado, na
promoção de acordos entre parceiros sociais, entre outras medidas, tudo com o objectivo
de assegurar a satisfação de necessidades básicas dos cidadãos, num curto prazo, e a
redistribuição de riqueza, como meta de médio ou longo prazo.

B) Garantias políticas, ligadas à organização do Estado e ao equilíbrio dos


poderes legislativo, judicial e executivo. Este tipo de garantias deve garantir a separação
de poderes por forma a proteger a liberdade dos cidadãos e ainda prever a existência de
fórmulas de participação dos mesmos na vida pública, direito de sufrágio activo e passivo,
participação política através do referendo, do direito de petição ou de acção popular,
sempre na perspectiva da participação dos cidadãos.

C)Garantias jurídicas, que correspondem à instrumentalização do direito


material. Mediante a utilização dos meios adequados, o cidadão obtém a tutela dos seus
direitos ameaçados ou lesados. Neste âmbito inserimos a figura da tutela jurisdicional
efectiva, que abordámos supra e toda uma vasta gama de acções destinadas a alcançar a
sua protecção e inseríveis no plano das garantias constitucionais procedimentais
subjectivas.

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Mas se qualificarmos como útil a classificação das garantias constitucionais de
acordo com os seus reflexos na comunidade, podemos dizer que garantias em sentido
restrito se traduzem nos meios que o Estado coloca à disposição dos cidadãos para efeito
de protecção dos direitos humanos. Por outro lado, garantias constitucionais em sentido
lato, e quiçá, impreciso, corresponderiam aos próprios direitos humanos, que são
anteriores à própria organização política, ou aos direitos fundamentais.

2.1.3. Caracterização das garantias constitucionais

Introduz-se deste modo a discussão de uma outra questão: quando falamos de


garantias falamos igualmente de direitos, ou trata-se de duas realidades diferentes?
Quando a doutrina menciona as “garantias”, nem sempre podemos estar seguros, de
imediato, acerca do sentido que se pretende utilizar. A doutrina alemã, por exemplo,
considera a existência das Einrichtungsgarantien, ou garantias institucionais, que se
subdividem em Institutionelle Garantien, ou garantias jurídico-públicas e
Institutsgarantie, as garantias jurídico-privadas. Este tipo de garantias constitucionais não
teria como destinatários as pessoas humanas, mas antes instituições; nelas se integrariam
a protecção constitucional da maternidade e da família, por exemplo, com reflexos apenas
indirectos nas pessoas humanas FELICIANO (2013) .

Informa FELICIANO, que o constitucionalismo latino-americano:

“tem se reportado às garantias constitucionais com ao menos três sentidos


diversos: ora como reconhecimento positivo-constitucional dos direitos
fundamentais (presumindo a origem supraestatal, inata e natural desses direitos,
restando à Constituição apenas reconhecê-los e assim garantilos na ordem
positiva), ora como formalidades que abrigam os cidadãos dos abusos de poder
pela autoridade pública (como, e.g., a necessidade de um processo público e
adversarial para a condenação criminal do réu), ora ainda como recursos jurídicos
destinados a tornar efetivos os direitos fundamentais” (FELICIANO,
2013, pp. 373 e 374,).

Alguma doutrina actual parece apresentar uma marcada tendência para tornar
indistintos os conceitos de “direito” e de “garantia”. O mesmo Autor considera que,
actualmente, “já não parece sequer adequado diferenciar entre direitos e garantias por
serem aqueles previstos em disposições “meramente declaratórias”, porque, em rigor, não
são: também servem à limitação do poder (como proibição de excesso), ou mesmo à sua

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constrição – e.g., nos direitos a prestações (como proibição de insuficiência) –,
directamente ou por mediações concretizadoras” FELICIANO (2013) .

Na verdade, em constituições como a angolana, a portuguesa e a brasileira, os


conceitos de direitos e garantias surgem emparelhados, como se fossem indistintos.
Contudo, SILVA(2006), embora fale do esbatimento das fronteiras entre direitos e
garantias, concede que estas últimas seriam direitos instrumentais cujo objectivo seria
titular um direito principal. Desta forma, o Autor rejeita que quando nos referimos a
direitos e garantias estejamos a falar do mesmo instituto.

JORGE MIRANDA, por outro lado, abordando especificamente a questão da


distinção entre direitos fundamentais e garantias fundamentais, sustenta de forma lapidar,
que:

“Os direitos declaram-se, as garantias estabelecem-se”.

E, em outra obra, JORGE MIRANDA observa que para se “saber então se


determinada norma se reporta a um direito ou a uma garantia institucional haverá que
indagar se ela estabelece uma faculdade de agir ou de exigir em favor de pessoas ou de
grupos, se coloca na respectiva esfera jurídica uma situação cativa que uma pessoa ou um
grupo possa exercer por si e invocar directamente perante outras entidades – hipótese em
que haverá um direito fundamental; ou se, pelo contrário, se confina a um sentido
organizatório objectivo, independentemente de uma atribuição ou de uma actividade
pessoal – caso em que haverá apenas uma garantia institucional” .

Acerca desta questão, GUSTAVO RABAY e GEORGES CARLOS F. M.


SEIGNER (2011), entendem o seguinte:

“Direitos: são prerrogativas legais que visam concretizar a convivência digna,


livre e igual de todas as pessoas. Representam, por si só, certos bens e vantagens
prescritos na norma constitucional. […] São também conhecidas como
disposições meramente declaratórias, pois apenas imprimem existência legal aos
direitos reconhecidos; Garantias: destinam-se a assegurar a fruição desses bens.
Os direitos são principais, as garantias são acessórias. […] São disposições
assecuratórias, pois se colocam em defesa dos direitos, limitando o poder do
Estado ou de outra pessoa. Em síntese, os direitos identificam-se pelo caráter
declaratório e enunciativo, ao passo que as garantias caracterizam se pelo seu
caráter instrumental”. (RABAY, SEIGNER, 2011, op. cit., p. 9)

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O nosso entendimento relativamente a esta questão é o seguinte: É certo que os
conceitos de direitos e garantias, embora sejam muitas vezes utilizados como sinónimos
e, como referido acima, sejam usados por diversas constituições aparentemente de forma
indistinta, apresentam, de facto, conteúdos diversos, se pretendermos ser
metodologicamente congruentes e rigorosos. Neste caso, podemos dizer que os direitos
correspondem a uma declaração de aptidão para agir ou exigir determinada conduta,
enquanto as garantias possuem um carácter instrumental, limitando o poder político e
situando-se num plano anterior aos direitos.

2.2. Conceito de Controle de Constitucionalidade

De acordo com MORAIS(2000), controle de constitucionalidade é a verificação


da “adequação (compatibilidade) de uma lei ou de um acto normativo, com a
Constituição, verificando seus requisitos formais e materiais.

KELSEN (2006) afirma que a inexistência de tal mecanismo retira a força


normativa ou vinculante da Constituição, já que permite a qualquer norma
infraconstitucional afastar sua aplicação no caso concreto que pretende regular. Luís
Roberto Barroso define o controle de constitucionalidade como a técnica de actuação da
supremacia da Constituição . Como paradigma de controle, a supremacia da Constituição
se manifesta com prescrições imperativas de natureza formal e material. A prescrição
formal está ligada ao facto de a Constituição ser a fonte primária da produção normativa,
estabelecendo competências e procedimentos para a elaboração dos atos normativos
inferiores. Já as prescrições de natureza material subordinam toda a actividade normativa
do Estado à conformidade com os princípios e regras da Constituição.

Existem várias formas de classificação do controle de constitucionalidade que


serão analisadas a seguir.

Controle político e jurisdicional Quanto ao órgão que realiza o controle de


constitucionalidade, este poderá ser classificado em controle político ou jurisdicional. No
primeiro sistema, o controle será realizado por um órgão de natureza política, sem função
jurisdicional. Não obstante ser exercido por um órgão constitucional, o controle não
deverá ser exercido baseado em critérios políticos, mas em critérios técnicos e jurídicos.

Paulo Bonavides ensina:

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Determinados sistemas constitucionais, reconhecendo que o controle de
constitucionalidade das leis tem efeitos políticos e confere ao órgão exercitante
uma posição de preeminência no Estado, cuidam mais adequado e aconselhável
cometê-lo a um corpo político normalmente distinto do Legislativo, do Executivo
e do Judiciário. Deixam assim de confiá-lo aos tribunais. (BONAVIDES, 2008,
p. 299).

2.2.1. Controle preventivo e repressivo

O controle de constitucionalidade poderá ser exercido em dois momentos: prévio


ou posterior à edição da lei. O controle prévio ocorre durante o processo de formação do
ato normativo, é incidente à elaboração da lei. Trata-se de um controle preventivo, que
busca evitar que leis inconstitucionais ingressem e produzam efeitos no mundo jurídico.

Já o controle repressivo, também denominado sucessivo, realiza-se quando o ato


normativo já está vigorando, visando à suspensão de sua eficácia. Em nosso ordenamento,
essa forma de controle se dará, em regra, pelo Poder Judiciário, de modo difuso ou
concentrado.

Sobre os diferentes momentos em que poderá ocorrer o controle, as palavras de


Iacyr de Aguilar Vieira:

Quanto ao momento em que ocorre o controle, há que se distinguir entre controle


preventivo e controle repressivo. O primeiro ocorre antes que se perfeccione o
ato legislativo. O controle repressivo ou sucessivo dá-se quando o ato normativo
já é um ato perfeito, pleno de eficácia jurídica. O primeiro é um controle a priori.
O segundo, um controle a posteriori. (VIEIRA, 1999, p. 42).

2.2.2. Controle jurisdicional de constitucionalidade

2.2.2.1. Controle difuso

O controle difuso, como já dito, teve sua origem nos Estados Unidos, no notável
julgamento de Marbury versus Madison pela Suprema Corte americana, em 1803,
correspondendo à própria origem do controle judicial em geral. consagrando-se como
uma via de defesa dos direitos constitucionais.

Veja-se a lição de Paulo Bonavides acerca do tema:

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O controle por via de exceção é de sua natureza o mais apto a prover a defesa do
cidadão contra os actos normativos do Poder, porquanto em toda demanda suscite
controvérsia constitucional sobre lesão de direitos individuais estará sempre
aberta a uma via recursal à parte ofendida. (BONAVIDES, 2008, p. 325).

O controle difuso é, portanto, um processo constitucional subjetivo, cuja função


precípua é a protecção de direitos subjetivos, ao passo que o processo constitucional
objectivo tem como principal função a preservação da ordem constitucional. Ressalta-se
ainda a possibilidade de decretação da inconstitucionalidade de ofício pelo magistrado no
exercício da função jurisdicional no controle difuso.

Zeno Veloso ensina:


No controle difuso, mesmo que as partes ou o Ministério Público não suscitem a
questão, até pelo princípio jura novit curia, deve o juiz observar o problema e, se
encontrar lei ou ato normativo contrário à Constituição, que tenha relação com a
causa, está na obrigação funcional de se manifestar, decretando a invalidade da
lei ou do ato normativo, determinando sua não-aplicação ao caso, objeto da
demanda. (VELOSO, 2003, p. 42).

Salienta-se, por oportuno, que nos tribunais, a inconstitucionalidade de uma lei ou


ato normativo só poderá ser declarada pela maioria absoluta do pleno ou dos membros do
órgão especial.

2.2.2.2. Controle concentrado

Paralelamente ao controle difuso, tem-se o controle jurisdicional concentrado,


também chamado de por via de ação direta ou por via principal.

Tal sistema de controle também é conhecido como austríaco, kelseniano ou


europeu e surgiu com a Constituição austríaca de 1920. Essa espécie de controle é
exercida por um órgão jurisdicional específico, uma corte ou tribunal constitucional, com
competência para julgar a ação de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo.

Sobre a competência para a realização do controle no sistema concentrado, as


palavras de Iacyr de Aguilar Vieira:

No sistema concentrado, a inconstitucionalidade e conseqüente invalidade e,


portanto, inaplicabilidade da lei não pode ser julgada e declarada por qualquer
juiz, como mera manifestação de seu poder e dever de interpretação e aplicação

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do direito “válido” nos casos concretos submetidos a sua competência
jurisdicional. Ao contrário, os juízes comuns – civis, penais, administrativos –
são incompetentes para conhecer, mesmo incidenter tantum e, portanto, com
eficácia limitada ao caso concreto, da validade das leis. (VIEIRA, 1999, p. 47).

Enquanto no controle difuso a averiguação da constitucionalidade de uma lei ou


ato normativo é uma questão prejudicial, incidental ao caso concreto, que interfere
diretamente na decisão de mérito a ser prolatada, no controle abstrato, a análise independe
da existência um caso concreto, o juízo de constitucionalidade é a questão principal, de
forma que “[...] cumpre ao tribunal manifestar-se acerca da validade de uma lei e,
consequentemente, sobre sua permanência ou não no sistema. Simetricamente, se a
hipótese for de omissão inconstitucional, o que se declara é a ilegitimidade da não-edição
da norma.” (BARROSO, 2006, p. 134).

Paulo Bonavides esclarece:


O sistema de controle por via de ação permite o controle da norma in abstracto
por meio de uma ação de inconstitucionalidade prevista formalmente no texto
constitucional. Trata-se, como se vê, ao contrário da via de exceção, de um
controle direto. Nesse caso, impugna-se perante determinado tribunal uma lei,
que poderá perder sua validade constitucional e consequentemente ser anulada
erga omnes (com relação a todos). (BONAVIDES, 2008, p. 307).

Tal sistema é, dessa forma, utilizado para se verificar a compatibilidade de uma


norma em tese com a Constituição, no caso de controle por acção, ou para se constatar a
inexistência de norma exigida pela Lei Suprema, no caso de controle por omissão. Assim,
a função primordial do controle concentrado é assegurar a unidade e harmonia do
ordenamento jurídico, extirpando as normas jurídicas que confrontarem com o texto
constitucional. No controle concentrado, a acção tem por objeto a própria questão
constitucional, a validade da norma em si ou a inércia inconstitucional, independendo da
existência de um litígio entre as partes, de uma situação concreta.

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CONCLUSÃO
As garantias constitucionais foram criadas como mecanismo para coibir o abuso
estatal ou ilegalidade cometida pelo coator protegendo os direitos fundamentais dos
indivíduos.

O controle constitucionalidade é de suma importância para que a garantia dos


direitos fundamentais seja efetivada e também para que garanta que a democracia e
políticas públicas do governo cheguem a população de maneira correta e justa.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANOTILHO, J.J. Gomes – Direito Constitucional, 6.ª ed. rev. Coimbra: Almedina, 1993

AMARAL, Diogo Freitas do, A evolução do direito administrativo em Portugal nos


últimos dez anos in Contencioso Administrativo. Braga: Livraria Cruz, 1986.

SILVA, José Afonso da – Comentário Contextual à Constituição. 2ª ed. São Paulo:


Malheiros, 2006.

JELLINEK, Georg – Teoría General del Estado. Traducción de la 2 ed. alemana y prologo
por FERNANDO de LOS RIOS. Buenos Aires; Albatros,1981.

FELICIANO, Guilherme Guimarães – Tutela Processual de Direitos Humanos


Fundamentais: Inflexões no “DueProcessOfLaw”. Tese orientada pela Professora
Doutora Paula Costa e Silva, especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor
em Ciências Jurídicas (Direito Processual Civil). Universidade de Lisboa, Faculdade de
Direito, 2013

MIRANDA, Jorge – Os parâmetros constitucionais da reforma do contencioso


administrativo. In Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 24

RABAY, Gustavo e F. M. SEIGNER, Georges Carlos, Teoria Geral das Garantias


Constitucionais, W. Educacional, Brasília, 2011.

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito: introdução à problemática científica do direito.


Tradução de J. Cretella Jr. E Agnes Cretella. 4. ed. rev. da tradução. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 22 ed. São Paulo: Malheiros, 2008.

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 2 ed.


São Paulo: Saraiva, 2006

VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3 ed. Belo Horizonte: Del


Rey Editora, 2003.

VIERA, Iacyr de Aguilar. O controle da constitucionalidade das leis: os diferentes


sistemas. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_141/r141_04.pdf. Acesso em: 13 de
junho de 2010.

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