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URGENTE
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com fulcro nos arts. 127, caput, e 129, III e V
da CRFB, propõe
em face de
I. PRELIMINARES
Para o cumprimento de suas atribuições, foi-lhe conferida, no artigo 129, incisos III e V da
Constituição, a prerrogativa de promover o Inquérito Civil (IC) e a Ação Civil Pública (ACP), para
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos, bem como para defender judicialmente os direitos e interesses dos povos indígenas.
No mesmo sentido, a Lei Complementar nº 75/93, no artigo 5º, inciso III, alínea “e”,
estabelece como função institucional do Ministério Público da União a defesa dos direitos e
interesses coletivos, entre eles os dos povos indígenas.
No artigo 6º, inciso VII, alíneas “b” e “c”, descreve a titularidade do Ministério Público
Federal para instaurar o inquérito civil e propor ação civil pública em defesa do patrimônio público
e social, do meio ambiente, dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, além da proteção dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos,
relativos às comunidades indígenas.
Semelhante disposição encontra-se no artigo 1º, inciso IV, da Lei 7.347/85, legitimando,
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pois, a atuação deste Ministério Público Federal e o cabimento da presente Ação Civil Pública.
A legitimidade passiva de IVAN ROGERIO ROMA decorre do fato de ser ele o responsável
pela obra irregular, conforme apurado pelo Relatório Técnico 012/4ªCIAPMPA/BPMPA/2021, de
2 de fevereiro de 2021, e Auto de Infração da SEMA/MT de nº 21203048, notificado ao requerido
em 4 de fevereiro de 2021.
A competência para processar e julgar esta ação é da Justiça Federal (art. 109, I e XI, da
CRFB/88), por se tratar de “disputa sobre direitos indígenas” (acesso à água), cumulada com grave
dano ambiental em rio federal (o rio Tarumã se estende a território estrangeiro, Bolívia, nos termos
do art. 20, III, da CRFB/88).
Ademais, a mera presença do Ministério Público Federal como autor da ação, agindo
estritamente dentro do campo de atuação delimitado pela Constituição Federal e legislação
infraconstitucional, atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar a ação:
ZAVASCKI, 06/12/2004)
https://www.rdnews.com.br/judiciario/indigenas-denunciam-poluicao-em-rio-
causada-por-garimpo-ilegal-na-fronteira/139239
https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2021/01/20/povo-chiquitano-
denuncia-crime-ambiental-em-area-de-preservacao-permanente-em-mt.ghtml
https://youtu.be/HmX_V5O7RdI
para apuração dos fatos, tendo sido atendido em 23 de fevereiro de 2021, com o IPL 2021.0006547
(ePol) / 1000388-44.2021.4.01.3601 (PJe).
8. Importante destacar o vínculo direto entre a obra irregular e a diminuição do fluxo do Rio
Tarumã em prejuízo dos indígenas, uma vez que a fiscalização partiu justamente da aldeia para
verificar, ao longo do rio, a origem do problema. Neste sentido (grifos nossos):
(…)
10. O Código de Águas (Decreto 24.643/34) trata do dever de desobstrução de cursos d’água,
estabelecendo uma obrigação primária ao particular e subsidiária ao Poder Público:
CAPÍTULO V - DESOBSTRUÇÃO
Art. 53. Os utentes das águas públicas de uso comum ou os proprietários marginais são obrigados a
se abster de fatos que prejudiquem ou embaracem o regime e o curso das águas, e a navegação ou
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flutuação exceto se para tais fatos forem especialmente autorizados por alguma concessão.
Parágrafo único. Pela infração do disposto neste artigo, os contraventores, além das multas
estabelecidas nos regulamentos administrativos, são obrigados a remover os obstáculos produzidos.
Na sua falta, a remoção será feita a custa dos mesmos pela administração pública.
Art. 54. Os proprietários marginais de águas públicas são obrigados a remover os obstáculos que
tenham origem nos seus prédios e sejam nocivos aos fins indicados no artigo precendente.
Parágrafo único. Si, intimados, os proprietários marginais não cumprirem a obrigação que lhes é
imposta pelo presente artigo, de igual forma serão passíveis das multas estabelecidas pelos
regulamentos administrativos, e a custa dos mesmos, a administração pública fará a remoção dos
obstáculos.
(…)
Art. 84. Os proprietários marginais das correntes são obrigados a se abster de fatos que possam
embaraçar o livre curso das águas, e a remover os obstáculos a este livre curso, quando eles tiverem
origem nos seus prédios, de modo a evitar prejuízo de terceiros, que não fôr proveniente de legítima
aplicação das águas.
Parágrafo único. O serviço de remoção do obstáculo será feito à custa do proprietário a quem ela
incumba, quando este não queira fazê-lo, respondendo ainda o proprietário pelas perdas e danos que
causar, bem como pelas multas que lhe forem impostas nos regulamentos administrativos.
11. É pacífico na jurisprudência que o poluidor pode ser condenado, de forma cumulativa, a
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obrigação de fazer (reparar o dano), não fazer (abster-se de poluir) e de pagar (indenizar). Neste
sentido (grifos nossos):
STJ, Súmula 629. Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer
ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.
2) Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de
Área de Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar
plenamente e de indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de
responsabilidade civil objetiva.
STJ. Jurisprudência em Teses, Ed. 119: Responsabilidade por dano ambiental
12. Assim sendo, conforme já apontado nesta inicial, devido à urgência da matéria e buscando-
se viabilizar com a máxima celeridade possível a efetiva desobstrução do rio Tarumã, o Parquet
pleiteia nesta Ação Civil Pública tão somente a demolição da obra irregular e
desassoreamento / desaterramento da área pertinente para normalização do fluxo de água,
reservando-se a discutir eventuais indenizações em outros processos.
3) Não há direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente, não existindo permissão ao
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9) Não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente.
STJ, Jurisprudência em Teses, Ed. 119: Responsabilidade por Dano Ambiental
Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
Súmula n. 613/STJ
14. Assim sendo, é defeso ao requerido invocar argumentos referentes a suposta estabilização
da situação atual para se escusar de seu dever de reparar o dano ambiental.
15. Nos termos dos art. 294 e seguintes do CPC, a concessão da tutela provisória de urgência,
seja de natureza cautelar, seja de natureza satisfativa, exige a presença de elementos que
evidenciem a “a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo”, podendo ser “concedida liminarmente ou após justificação prévia”.
prejudicados.
18. Quanto ao periculum in mora (risco ao resultado útil do processo), os Chiquitanos, a cada
dia, se veem privados do acesso à água, prejudicando sobremaneira não apenas sua subsistência,
como também seus modos de criar, fazer e viver, o que, ao fim e ao cabo, tende a inviabilizar a
própria existência da comunidade, tanto quanto se prolongue no tempo o atual estado de coisas.
19. Assim, a tutela provisória ora requerida trata-se de urgente medida de natureza antecipada,
que visa a restringir o livre exercício de atividade exploratória pelo requerido, criando uma
obrigação de fazer cujo adimplemento deve se dar da forma mais expedita possível.
1
Valor arbitrado, considerando-se o dano provocado à população indígena com a obra irregular.