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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO


DE SANTA ROSA - RS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ(A) FEDERAL DA 1ª VARA FEDERAL DE SANTA ROSA (RS) -


SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio da Procuradora da República


signatária, com fundamento nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição da República
Federativa do Brasil, artigo 6º, inciso VII, alínea b, e inciso XIV, alínea g, da Lei Complementar nº
75/93, e artigo 1º, inciso I, da Lei nº 7.347/85, vem perante Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL


(com pedido de medida liminar)

contra

I) INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS


RENOVÁVEIS – IBAMA, Autarquia Federal vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente, com sede na Rua Miguel Teixeira, n° 126, Cidade Baixa, CEP 90050-
250, em Porto Alegre (RS);

II) ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, pessoa jurídica de direito público interno,
com sede na Av. Borges de Medeiros, n.º 1555 - 18º andar, CEP 90110-150, Porto
Alegre – RS;

III) FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL - FEPAM, Fundação


Pública vinculada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, com sede na Av.
Borges de Medeiros, nº 261 - 1º andar, CEP 90020-021, Porto Alegre – RS;

pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.


Procuradoria da República no Município de Santa Rosa
Avenida Expedicionário Weber, nº 550, 4º andar – CEP 98900-000 - Fone/Fax (55) 3511-3106lb
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I. DO OBJETO DA AÇÃO

A presente ação civil pública ambiental tem como finalidade a condenação dos
réus à elaboração e à execução de um projeto de recuperação das Áreas de Preservação
Permanente (APP) na margem do Rio Uruguai nos municípios da área de abrangência de atuação
da Procuradoria da República em Santa Rosa 1, a partir do exercício do poder de polícia
ambiental, nos termos do que dispõe o art. 72 da Lei nº 9.605/98, combinado com o art. 19 do
Decreto Presidencial nº 6.514/2008 e a Lei Estadual nº 9.519/92.

Além disso, a presente demanda objetiva combater a omissão dos réus,


compelindo-os a concretizar os mandamentos constitucionais e legais que determinam a
delimitação, o controle e a proteção das Áreas de Preservação Permanente, bem como a
desempenhar, de forma efetiva, o poder de polícia ambiental.

II. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

A Justiça Federal é competente para o processamento e julgamento desta ação


civil pública em razão de vários fatores.

Primeiro, porque tem como finalidade tutelar Área de Preservação Permanente


localizada em rio federal (Rio Uruguai), bem da União, o que evidencia, dessa forma, a
competência da Justiça Federal para a causa.

Segundo, porquanto o Ministério Público Federal, como instituição autônoma e


constitucionalmente responsável pela defesa dos direitos difusos (no caso, o meio ambiente), é a
parte proponente da demanda, o que revela, novamente, a competência da Justiça Federal para
conhecer da presente ação coletiva.

Terceiro, em razão da presença do IBAMA, autarquia federal, no polo passivo da


ação (inteligência do artigo 109, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil).

1 Municípios de Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso,
Crissiumal, Tiradentes do Sul.
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III. DA LEGITIMIDADE ATIVA

O artigo 127 da Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que


compete ao Ministério Público, instituição essencial à função jurisdicional, a defesa dos
interesses sociais e individuais indisponíveis. Fixada tal competência, a Carta Política dispõe, no
seu artigo 129, que:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(…)
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância
pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia.
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos.

Da leitura dos dispositivos constitucionais referidos, verifica-se, de forma


incontestável, que o Ministério Público Federal tem legitimidade ativa para ajuizar a presente
demanda que tem como finalidade proteger o meio ambiente.

IV. DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A legitimação passiva do IBAMA, do Estado do Rio Grande do Sul e da FEPAM


decorre das suas omissões em relação à proteção do meio ambiente, caracterizadas a partir do
descumprimento do poder de polícia ambiental, tendo em vista que não impediram a
degradação da mata ciliar do Rio Uruguai, não exercendo, dessa forma, a competência
constitucional prevista no art. 23, inciso VI2 e no art. 225.

Cumpre asseverar, por oportuno, que tal poder-dever é comum a todos os entes
federativos , sendo disciplinado, ainda, pela Lei Complementar nº 140/2011, pela Lei n.º
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2 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI- proteger o meio
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
3 Nesse sentido: AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LICENCIAMENTO
AMBIENTAL. ZONA DE AMORTECIMENTO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Em se tratando de proteção ao meio ambiente, não há falar em competência
exclusiva de um ente da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a
ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam
ocorrendo, bem como da competência para o licenciamento. 2. O domínio da área em que o dano ou o risco de
dano se manifesta é apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do parquet federal. Ademais, o
poder-dever de fiscalização dos outros entes deve ser exercido quando a atividade esteja, sem o devido
acompanhamento do órgão competente, causando danos ao meio ambiente. 3. A atividade fiscalizatória das
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6.938/81, pela Lei n.º 9.605/98 e pelas Leis Estaduais (RS) n.º 9.077/90 e n.º 10.330/94.

V. DA COMPETÊNCIA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA ROSA/RS

Os danos ambientais objeto da presente ação estão localizados nos Municípios


de Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso,
Crissiumal e Tiradentes do Sul, todos abrangidos pela jurisdição da Subseção Judiciária de Santa
Rosa (RS) e pela atribuição da Procuradoria da República no Município de Santa Rosa.

Portanto, a Subseção Judiciária de Santa Rosa (RS) é competente para processar


e julgar a causa.

VI – DOS FATOS

O Inquérito Civil Público nº 1.29.015.000050/2006-58 foi instaurado em 20 de


junho de 2006, na Procuradoria da República no Município de Santa Rosa, a partir das
declarações prestadas pelo Agente Florestal Regional da Secretaria Estadual do Meio Ambiente,
Cláudio Vicente Kroth, o qual relatou a existência de diversas construções irregulares em Área
de Preservação Permanente, a menos de 50 metros das margens do Rio Uruguai, em diversos
municípios pertencentes à Subseção Judiciária de Santa Rosa4.

Foi trazida, ainda, a informação de grave desmatamento que vem ocorrendo ao


longo dos anos na margem do Rio Uruguai, em razão da falta de fiscalização dos órgãos públicos
ambientais Federal e Estadual.

Veja-se o teor das informações prestadas:

“O depoente, Agente Florestal Regional da Secretaria Estadual do Meio Ambiente,

atividades nocivas ao meio ambiente concede ao IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer seu poder de
polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado em área cuja competência para o licenciamento seja do
município ou do estado. (…) Agravo regimental provido. (STJ, AgRg no REsp 1373302/CE, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/06/2013, DJe 19/06/2013)
4 Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso, Crissiumal, Tiradentes
do Sul, Esperança do Sul, Derrubadas, Barra do Guarita e Pinheirinho do Vale.
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com sede em Santa Rosa/RS declara que existem inúmeras residências situadas a
menos de 50 metros das margens do Rio Uruguai. QUE também as ilhas que
pertencem aos municípios de Porto Lucena, Porto Xavier e Porto Vera Cruz também
são exploradas por pessoas que praticam a agricultura e a pecuária. QUE não há
residência nessas ilhas, somente a prática daquelas atividades. QUE o Código
Florestal declara que são Áreas de Preservação Permanente APA, aquelas situadas
até 500 metros das margens do Rio Uruguai. Informa ainda, que foram firmados
vários TAC's com os moradores dessas áreas, nos quais constou a obrigação de que
fosse isolada a faixa de 50 metros a partir da margem do rio, esclarece que se havia
construções, essas foram mantidas, todavia, foram impedidas as construções de
novas casas. QUE decidiram fazer o isolamento da área em várias etapas,
começando pelos 50 metros. O objetivo era evitar problemas sociais, tendo em
vista que se tratava, na sua maioria, de pequenos agricultores. Assevera, contudo,
que existem grandes casas de veraneio de bom nível. QUE a SEMA e a PATRULHA
AMBIENTAL é que fazem a fiscalização desses 50 metros. QUE em alguns casos
em que houve descumprimento, foi ajuizada ACP. Informa que o CONAMA elaborou
a resolução nº 369, de MARÇO de 2006, a qual prevê a possibilidade da
regularização de obras consolidadas em Área de Preservação Permanente/APA, e
que ainda se está estudando a forma de aplicação do referido estatuto normativo.
QUE o IBAMA não tem participado dessa fiscalização. QUE se preocupa com o
dilema criado ao longo dos anos, entre a necessidade de preservação ambiental e o
problema social que causaria uma eventual desocupação daquela área.

Registre-se, como dito acima, que a mata ciliar tutelada nesta ação encontra-
se localizada em apenas oito dos Municípios citados (Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim,
Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso, Crissiumal, Tiradentes do Sul).

Visando instruir o expediente que deu origem ao ajuizamento da presente ação,


em 20/06/2006 este órgão ministerial, por meio do OF/CIRC/PRDC/PRM/SR/RS/Nº 581,
requisitou à Superintendência do IBAMA no Rio Grande do Sul que apurasse a notícia de
construções irregulares realizadas às margens do Rio Uruguai nos Municípios de Porto Lucena,
Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso, Crissiumal,
Tiradentes do Sul, Esperança do Sul, Derrubadas, Barra do Guarita e Pinheirinho do Vale (fl. 05).

Em 13 de setembro de 2006, a Superintendência do IBAMA encaminhou


resposta solicitando o prazo de 120 dias para o cumprimento da determinação, pois esse
seria o período necessário para a realização dos trabalhos de campo, em razão das escassas
condições operacionais para o levantamento (diárias, veículos e servidores), bem como em
razão da extensa distância a ser percorrida, que seria em torno de 220 Km (fls. 188/189).

Concedida a prorrogação para a realização dos estudos (fl. 190), mesmo após
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diversas vezes intimado, e transcorrido mais de 5 meses desde a solicitação de dilação de prazo,
o IBAMA não mais se pronunciou (fl. 192).

Com a finalidade de instruir o expediente administrativo, foi encaminhado,


também, o OF/CIRC/PRDC/PRM/SR/RS/Nº 580 às Promotorias de Justiça de Tenente Portela,
Santo Cristo, Crissiumal, Porto Xavier, Tucunduva e Santa Rosa, requisitando informações sobre a
eventual celebração de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC – cujo objeto seja relacionado
com a construção de residências ou outras edificações na margem do Rio Uruguai nas respectivas
áreas de atribuição das Promotorias (fls. 07/13).

Colacionado ao feito as respostas das Promotorias de Justiça das Comarcas de


Tenente Portela (fls. 42/85), Crissiumal (fls. 86/87), Porto Xavier (fls. 89/126), Santa Rosa (fls.
144/147) e Santo Cristo (fls. 148/187), verificou-se que na região foi celebrado um Termo de
Ajuste de Conduta coletivo, por volta do ano de 2000, no qual ficou estabelecido que os
moradores ribeirinhos deveriam manter isolada a área de 50 metros contados do leito do Rio
Uruguai, ou quando fora deste, da média das enchentes ordinárias, sendo vedado o acesso de
animais e pessoas ao rio.

A relação das pessoas que assinaram o TAC, pelo que se pôde apurar (fls.
65/68/, 98/105, 156/166, 170/176 e 180/187), contém aproximadamente 500 (quinhentos)
proprietários de habitações existentes sobre a área da mata ciliar, o que demonstra a gravidade
da degradação ambiental na margem do Rio Uruguai.

Posteriormente, em setembro de 2007, na sede da PRM Santa Rosa, foi


realizada reunião entre o Procurador da República, Dr. Flávio Pavlov, Cláudio Vicente Kroth,
Engenheiro Agrônomo do DEFAP (Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas) e
Luís Ernildo Maders, Capitão da Brigada Militar, para tratar da área de preservação permanente
do Rio Uruguai.

Na ocasião o Capitão da Brigada Militar reconheceu que a política implantada


no ano de 2000, por meio de TAC firmado entre os moradores ribeirinhos e o Ministério Público
Estadual, no sentido de estabelecer como meta inicial um isolamento de 50 metros da margem
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do Rio Uruguai, objetivando a reconstrução da vegetação típica de cada localidade, ainda que
contendo casos de desobediência contumaz, estava sendo bem sucedida. Apesar disso, o
representante da polícia ambiental apontou a existência de um grave problema no âmbito do Rio
Uruguai, qual seja, a presença de inúmeros portos clandestinos que são utilizados para (i) o
tráfico internacional de animais domésticos e silvestres, de drogas e armas, (ii) contrabando e
descaminho de mercadorias oriundas da Argentina e Paraguai (cigarros, pneus, combustíveis,
palanques de cerca, defensivos agrícolas, bebidas alcoólicas e carne bovina); bem como para
(iii) o transporte de mercadorias brasileiras furtadas para a República da Argentina (fls.
193/195).

Em 02 de outubro de 2007, o Procurador da República Dr. Flávio Pavlov e o


Capitão da Brigada Militar Luís Ernildo Maders, acompanhados por servidores do MPF e da
PATRAM, realizaram uma vistoria nas margens do Rio Uruguai, tendo por propósito averiguar a
situação das construções irregulares erguidas na mata ciliar e que contrariavam a legislação em
vigor. Na oportunidade, segundo consta da narrativa comprovada pelas filmagens e pelo
levantamento fotográfico, restou constatada a existência de vários imóveis construídos na
margem do rio, bem como se verificou a presença de grande número de pequenos barcos de
madeira, muitas vezes utilizados para o transporte de mercadorias contrabandeadas e drogas
através do rio (fls. 197/198).

Juntou-se aos autos CD enviado pela 3ª Companhia Ambiental da Brigada Militar


de Santa Rosa – PATRAM - contendo fotos e filmagens que demonstram a existência de diversas
obras e construções ilegais realizadas na margem do Rio Uruguai (fl. 201).

Na data de 03 de dezembro de 2007, na sede da PRM Santa Rosa, houve reunião


entre o Dr. Flávio Pavlov, Procurador da República, a Dra. Melissa Marchi Juchen, Promotora de
Justiça da Comarca de Santo Cristo/RS, Leonel Egídio Colossi, Prefeito Municipal de Alecrim/RS,
Delfor Barbieri, Prefeito Municipal de Porto Vera Cruz/RS, Jair Benke, Assessor Jurídico do
Município de Porto Vera Cruz/RS e João Américo Montini, Prefeito Municipal de Porto Lucena/RS,
para tratar da questão relativa à preservação da mata ciliar do Rio Uruguai. Nesta
oportunidade a Promotora de Justiça Melissa Marchi Juchen salientou que os Termos de
Ajustamento de Conduta até então assinados resultaram em apenas 20% de reflorestamento
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(fls. 209/213).

Posteriormente, em 10 de janeiro de 2008, na sede da Procuradoria da


República no Município de Santa Rosa, ocorreu nova reunião tendo como participantes o Dr.
Flávio Pavlov, Tarso Isaia, Chefe do Escritório Regional do IBAMA em Santa Maria, Cláudio Vicente
Kroth, Engenheiro Agrônomo do DEFAP e Vilson José da Silva Costa, Sargento da Brigada Militar.
Nesta oportunidade o Procurador da República ressaltou que o MPF estava planejando atuar de
forma mais severa para coibir as construções irregulares, sendo que os órgãos competentes
também deveriam adotar estratégias mais rigorosas com a finalidade de cumprir a legislação
ambiental. O representante do IBAMA esclareceu que, via de regra, as construções irregulares
existentes ao longo das margens do Rio Uruguai são realizadas por pessoas bem instruídas e de
posses, que não residem na localidade e buscam lazer. Por sua vez, o representante do
DEFAP/SEMA salientou que muitas das pessoas que ocupam áreas próximas ao Rio Uruguai não
são titulares das propriedades, sendo locatários, comodatários, cessionários ou arrendatários
(fls. 236/240).

Em decorrência dessa reunião, em 10 de janeiro de 2008, expediu-se


Recomendação ao Escritório Regional do IBAMA em Santa Maria, ao escritório do DEFAP em Santa
Rosa e à Companhia Ambiental da Brigada Militar, recomendando que a aprovação dos projetos
de recuperação ambiental, relativos às áreas destruídas ou com regeneração impedida
através de construções, fosse condicionada a prévia remoção ou demolição das construções
realizadas na mata ciliar do Rio Uruguai (fls. 241/246).

Em resposta, o órgão ambiental federal, por meio do Ofício nº 433/08-


GAB/SUPES/IBAMA/RS, diversamente do que havia informado anteriormente no sentido de que
realizaria vistoria ao longo do Rio Uruguai para identificar as construções ilegais, argumentou
que a competência para a realização dos referidos projetos seria do órgão ambiental estadual,
não cabendo ao Instituto atuar de forma supletiva. No entanto, mencionou que, em atenção às
decisões judiciais referentes às propostas de transação penal referendadas na Justiça Federal de
Santa Rosa, que determinaram ao IBAMA a realização de vistoria e emissão de laudo com relação
à execução e reparação de dano ambiental, o Instituto realizaria as vistorias e análise dos
referidos projetos, exclusivamente quanto àqueles contemplados nas ações penais, já
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devidamente informadas àquele Juízo (fls. 269/271).

Encaminhou-se ao IBAMA, ainda, o OF/CIRC/PRDC/PRM/SR/RS/Nº 116/2008


solicitando que a autarquia ambiental elaborasse um Parecer Técnico abordando questões
referentes à mata ciliar do Rio Uruguai (fl. 261).

Em resposta ao ofício, o IBAMA encaminhou o Parecer Técnico intitulado “Áreas


de Preservação Permanente – Intervenções e Supressões, de baixo Impacto Ambiental:
Excepcionalidade à Utilidade Pública e ao Interesse Social” (fls. 274/277), relatando, em
síntese, que: (grifou-se)

“(...) no caso específico da mata ciliar do rio Uruguai, não há, portanto, como
convalidar as obras, construções, descaracterizações de vegetação e demais
alterações promovidas por particulares, com fins privativos, nas terras que
estão inseridas no interior das Áreas de Preservação Permanente daquele
Importante manancial de domínio federal. Cabe, sim, determinar a retirada física
de tais obras, quando implantadas, e o abandono (não utilização do solo) das áreas
sob tais condições no caso da utilização não regulamentar destas áreas por
atividades agrícolas ou outras que se descaracterizem.(...)”

“(...) Ainda no caso específico da mata ciliar do rio Uruguai, deve ser salientado
que, do ponto de vista da recuperação do ambiente alterado, após a desocupação
das Áreas de Preservação Permanente, é salutar que se promova o mínimo possível
de intervenções humanas naquelas áreas, sendo desejável a recomposição do
ambiente a partir da sua própria capacidade de auto-regeneração. No entanto, tal
situação não prescinde de acompanhamento técnico, que avaliará regularmente
se o ambiente não atingiu um grau de descaracterização tal que necessite do
acréscimo de ações indutoras - neste caso a intervenção humana controlada -
visando acrescer meios para que a regeneração efetivamente ocorra (é o caso dos
plantios de enriquecimento); e, em decorrência, se restabeleça o fluxo gênico da
fauna e da flora, e se materialize o equilíbrio dinâmico do ambiente ora alterado.
(...)”

“(...) Apesar de estar muito alterada em sua configuração vegetal original, nem por
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isto a destinação legal da Área de Preservação Permanente ao longo do rio Uruguai


está em desacordo com a importância ambiental de sua preservação, manutenção e
possibilidades de recuperação. A intocabilidade e a vedação do uso econômico
direto daqueles espaços territoriais, bem como dos localizados ao longo dos
demais corpos hídricos existentes em sua bacia hidrográfica, e os próximos às
nascentes, é capaz de garantir, mesmo nesta situação, a geração de uma série
de benefícios sócio-ambientais. Tais benefícios podem ser analisados sob os
aspectos da importância da Área de Preservação Permanente como componente
físico do agroecossistema e em relação aos "serviços ecológicos" prestados pela flora
nela existente - incluindo todas as associações por ela proporcionada - com os seus
componentes bióticos e abióticos.
A vegetação existente na Área de Preservação Permanente do rio Uruguai, seja ela
arbórea, arbustiva ou graminácea, cumpre importante papel estabilizador do solo,
em decorrência do "emaranhado" de raízes das plantas, fator que evita a perda de
solo pela erosão laminar, "amortecendo" o efeito das chuvas (elimina o seu impacto
direto sobre o solo, e sua gradativa compactação); além disto, garante a sua
porosidade e promove a recarga dos aqüíferos, ao alimentar o lençol freático. A
vegetação ciliar, compondo a Área de Preservação Permanente do rio Uruguai, atua
como uma interface entre as áreas agrícolas e de pastagens com o ambiente
aquático; evita o escoamento superficial excessivo das águas das precipitações,
garantindo a estabilização de suas margens; atua como filtro ("sistema tamp
impedindo o carreamento de partículas de solo e de resíduos tóxicos (provenien /
R, das atividades agrícolas) para o leito do rio - fatores estes que, na ausência ou
redução da vegetação, podem intensificar os processos de poluição e de
assoreamento do manancial.(...)”

“(...) A imposição, aos particulares, da obrigatoriedade de preservar e de


recuperar a mata ciliar do rio Uruguai como um todo, e em especial a porção
correspondente à Área de Preservação Permanente, é, portanto, ação
imperiosa e inadiável a ser implementada por parte das autoridades de nosso
país. Toda e qualquer intervenção nestes espaços especialmente protegidos
(construções de casas, galpões, pesqueiros, portos, ancoradouros, atividades
agrícolas, etc) devem ser coibidas ou corrigidas.
A erradicação das atividades que continuam a colocar em risco a destinação
legal e a função ambiental cumprida pela Área de Preservação Permanente do
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rio Uruguai é condição básica para que, por um lado, sejam mantidos incólumes
os raros locais em que a ação humana ainda não alterou e comprometeu a
funcionalidade do ambiente; e, por outro, garanta que, através de ações
saneadoras — que incluem a demolição ou desfazimento das obras, a cessação
das atividades que estejam colocando em risco aqueles locais, e a
implementação de medidas regeneradoras, definidas com base em critérios
técnicos adequados — sejam restaurados e mantidos os benefícios sócio-
ambientais deles decorrentes. Estes benefícios serão usufruídos tanto pelos
proprietários das áreas quanto pelos demais proprietários de outras áreas
localizadas na bacia hidrográfica do rio Uruguai - e, em cadeia, também pelos
membros das comunidades vizinhas, e pela sociedade como um todo.”

Tendo por base os argumentos expostos no Ofício nº


433/08/GAB/SUPES/IBAMA/RS, que demonstra que o IBAMA/RS estaria tentando se omitir na
fiscalização das questões ambientais de sua atribuição, notadamente quanto às inúmeras
edificações irregulares na mata ciliar do Rio Uruguai, expediu-se a Recomendação nº 01/2008
à Superintendência Estadual do Ibama no Rio Grande do Sul, recomendando que o órgão
ambiental federal atuasse de forma eficaz na proteção das Áreas de Preservação Permanente
localizadas nas marges do Rio Uruguai (fls. 280/286).

Em 04 de setembro de 2008, a Superintendência do IBAMA, confirmando o


atendimento do teor da Recomendação nº 01/2008, informou que realizou vistorias em 16
propriedades, na semana de 09/06/2008 a 13/06/2008, nos Municípios de Alecrim e Porto Mauá,
em atendimento às decisões judiciais referentes às propostas de transação penal, no âmbito das
Ações Penais que tramitam na Justiça Federal de Santa Rosa, com a consequente emissão de
laudo com relação à execução de reparação dos danos ambientais.

Asseverou, ainda, com o objetivo de atender a Recomendação, que realizou


vistorias nas áreas rurais dos Municípios e que estaria preparando o levantamento
georreferenciado e aerofotogramétrico da área para a maior eficácia da fiscalização. (fls.
681/682).

Em 08 de agosto de 2008, o MPF oficiou à Fundação Estadual de Proteção


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Ambiental – FEPAM, solicitando que informasse se, nos anos de 2007 e 2008, houve pedidos de
licenciamento junto ao órgão ambiental quanto às edificações realizadas na mata ciliar do Rio
Uruguai, nos municípios da área de abrangência desta Procuradoria da República (fl. 579). A
FEPAM pronunciou-se encaminhando a Informação nº 1004/2008 – DEQAMB – Departamento de
Qualidade Ambiental, esclarecendo que não faz o licenciamento de edificações. Não obstante,
frisou que “Não poderiam ser entendidas como regulares atividades em área de APP, s.m.j.,
além das excepcionalidades previstas em legislação e regulamentos, quais sejam certas
tipologias listadas como utilidade pública, interesse social e supressão de vegetação de
baixo impacto (fl. 634).

No mesmo contexto, oficiou-se ao Escritório Regional do IBAMA em Santa Maria,


solicitando que informasse se, nos anos de 2007 e 2008, houve pedidos de licenciamento junto
ao órgão ambiental quanto às edificações realizadas na mata ciliar do Rio Uruguai, nos
municípios da área de abrangência desta Procuradoria da República (fl. 579). Este Escritório
Regional encaminhou resposta informando que no âmbito de sua atribuição não foram emitidas
licenças ou autorizações para a realização de edificações ou quaisquer outras obras ou
atividades na área de preservação permanente do Rio Uruguai, em nenhum dos municípios
referidos pelo MPF. Destacou, no entanto, que encaminhou a referida solicitação ao Núcleo de
Licenciamento Ambiental da Superintendência Estadual do IBAMA no Rio Grande do Sul para
verificação da existência de algum procedimento no âmbito daquele órgão (fl. 582).

Em 11 de setembro de 2008 aportou nesta PRM o Ofício nº 872/08-


GAB/SUPES/IBAMA/RS, informando que no âmbito da Superintendência Estadual do IBAMA existia
apenas um procedimento, que se referia ao projeto de construção de acessos públicos ao Rio
Uruguai, no Município de Porto Vera Cruz (construção de acesso a embarcações, instalação de
sanitários, bebedouros, mesas etc.). Encaminhou anexa a Informação Técnica nº 01/2008/NLA-
SUPES/RS, na qual relatou que, em razão dos dados apresentados não era possível determinar
com precisão a dimensão e impactos decorrentes do empreendimento. Destacou que o
empreendimento era previsto na Resolução CONAMA 369/07 como uma das situações
excepcionadas na norma. Ressaltou que a respectiva autorização, se acaso concedida, deveria
ser emitida pelo IBAMA, em caso de licenciamento conduzido pela Autarquia, ou pelo DEFAP,
se não houvesse necessidade de licenciamento ambiental ou mesmo conduzido pela FEPAM (fls.
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609/622).

Para melhor subsidiar a atuação ministerial, foram solicitados pareceres


técnicos à 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF (fls. 592/593) e ao próprio IBAMA (fls.
607/608) sobre as construções irregulares na mata ciliar do Rio Uruguai e os danos ambientais
que possuem efeitos diretos no manancial, levando-se em consideração a distância da margem
do rio.

O IBAMA acostou aos autos o parecer técnico de fls. 707/716, no qual afirma
que a “intensidade e os efeitos dos danos ambientais em andamento na bacia hidrográfica do
rio Uruguai devem ser estancados pela priorização de ações saneadoras; estas devem ser
impostas pelo poder público, em nome da sociedade, às minorias que, por suas formas de agir e
de se apropriar do bem comum que é o meio ambiente, causam tais danos.”

Por sua vez, a 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF enviou a


informação técnica n° 129 – 4º CCR, na qual fez acurada análise das questões relativas a
produção de dano em potencial de obras irregulares nas margens do Rio Uruguai, mencionando
que a necessidade da presença da vegetação ciliar é inquestionável, não só pelas suas
funções locais mas também pela qualidade de vida da população que esta sob a influência de
uma bacia hidrográfica (fls. 731/735).

Em 24 de março de 2014 expediu-se nova Recomendação à Superintendência


Regional do IBAMA para que promovesse a fiscalização e autuação dos proprietários de
construções irregulares na APP na margem do Rio Uruguai aplicando as penalidades cabíveis,
inclusive o desfazimento (demolição) das construções irregulares (fls. 746/752).

Por meio do OF 02023.000887/2014-15 RS/GABIN/IBAMA aquela


Superintendência Regional informou que as operações de fiscalização do IBAMA seguem as
diretrizes estabelecidas no Plano Nacional Anual de Proteção Ambiental - PNAP, de modo que não
compete aos Superintendentes estaduais o estabelecimento de quais ações de fiscalização serão
realizadas prioritariamente. Relatou que, em relação às ações civis públicas ajuizadas pelo MPF,
o IBAMA entende que deve atuar na condição de interessado (art. 50, CPC). Por fim, disse
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concordar em orientar o Estado e os Municípios na elaboração dos Projetos de Recuperação das


Áreas Degradadas (PRADs), mas que não é de sua competência aprovar e acompanhar a execução
desses PRADs (fls. 755/758).

Da narrativa acima, a qual tornou-se necessária a fim de descrever com clareza


os acontecimentos que vem ocorrendo ao longo dos anos em relação à ocupação irregular da
mata ciliar do Rio Uruguai, vislumbra-se que tanto as tentativas de formalização de Termo de
Ajustamento de Conduta junto aos moradores ribeirinhos – ainda que inadequadas às vistas
da legislação - quanto a efetiva fiscalização e autuação dos proprietários de construções
irregulares na APP na margem do Rio Uruguai, restaram frustradas uma vez que os réus não
vêm cumprindo a contento suas atribuições de polícia ambiental (fls. 755/758).

Ressalte-se que durante o trâmite do Inquérito Civil Público foram tomadas


todas as medidas administrativas cabíveis, a exemplo das várias reuniões realizadas entre o MPF
e os órgãos ambientais estadual e federal (fls. 193/195, 209/213, 236/240, 253/257, 640/643 e
656/660). Também foram expedidas recomendações (fls. 280/286 e 746/752), além de muitos
outros requerimentos visando à execução de uma efetiva fiscalização na Área de Preservação
Permanente na margem do Rio Uruguai.

Não obstante isso, transcorridos quase 10 (dez) anos da abertura do


Inquérito Civil Público, os deveres do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e da Brigada Militar Ambiental, da FEPAM e do IBAMA, de
fiscalização e aplicação das sanções legais cabíveis não foram sequer iniciadas.

Durante o trâmite do Inquérito Civil ficou amplamente constatado que, em


desrespeito ao ordenamento jurídico ambiental, inúmeras pessoas ocuparam a Área de
Preservação Permanente ao longo da margem do Rio Uruguai nos municípios da área de
abrangência de atuação desta Procuradoria da República, desequilibrando o ecossistema da mata
ciliar e poluindo o Rio Uruguai com os dejetos oriundos de quase 500 (quinhentas) moradias
construídas.

Evidencia-se, assim, a responsabilidade do Estado do Rio Grande do Sul, através


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da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e da Brigada Militar Ambiental, da FEPAM e do


IBAMA, tendo suas omissões contribuído sobremaneira para a ocorrência dos danos relatados nos
autos, em decorrência da desídia de terem permitido as ocupações e quedarem-se inertes na
imprescindível realização da atividade fiscalizatória.

Em razão dos fatos aqui narrados e das inúmeras tentativas realizadas com o
objetivo de solucionar o grave problema ambiental no Rio Uruguai, as quais se mostraram
infrutíferas devido ao descaso do Poder Público, não restou outra alternativa ao Ministério
Público Federal senão ajuizar a presente Ação Civil Pública.

VII. DA CONSTATAÇÃO DA CONSTRUÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE – MATA CILIAR DO RIO URUGUAI

No caso em análise, a grave violação ao meio ambiente caracteriza-se, como


bem demonstra o Inquérito Civil Público que instrui a inicial, pela destruição de mata ciliar
(Área de Preservação Permanente) do Rio Uruguai para a construção de casas, em sua quase
totalidade, imóveis de veraneio destinados ao uso exclusivo de seus proprietários para
lazer, e sem qualquer planejamento hidrossanitário e ambiental.

As fotos abaixo demonstram a omissão da fiscalização dos órgãos ambientais,


bem como mostram claramente a degradação desenfreada que ocorre na mata ciliar dentro
do limite de 500 quinhentos metros na margem Rio Uruguai.

Algumas delas, como demonstram os relatórios da PATRAM, estão localizadas


muito próximas do rio, a bem menos que 50 metros da margem, inclusive com canais para o
lançamento de barcos particulares diretamente dos galpões construídos na APP (CD Vistoria Rio
Uruguai, fl. 208):

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1. Imóveis localizados no Município de ALECRIM:

Relatório 85-A-06 - fotos 26, 28, 30 e 31

Vistoria 038b - foto 2 Vistoria 043D - foto 2 Vistoria 043D - foto 1

2. Imóveis localizados no Município de PORTO LUCENA:

Relatório 07 e 08-06 – foto 039 Relatório 054-06 - foto 031 Relatório 054-06 - foto 030

3. Imóveis localizados no Município de PORTO VERA CRUZ:

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Vistoria 089 – foto 1 Vistoria 089 – foto 2 Relatório 005-06 – foto 004

Além dessas fotos, fazem parte do Inquérito Civil Público outros Cds (fls. 198,
201, 208 e 225) contendo imagens de construções irregulares na Área de Preservação
Permanente do Rio Uruguai, registradas pelo MPF, pelo MP Estadual e pela 3ª Companhia
Ambiental da Brigada Militar.

É do conhecimento de todos na região que, além da destruição frequente da


qual tem sido alvo nos últimos anos, a margem do Rio Uruguai ainda recebe alta carga de
efluentes domésticos (esgotos) e grande quantidade de resíduos sólidos.

A mata ciliar do Rio Uruguai é considerada Área de Preservação Permanente e


possui proteção prevista no art. 4º, da Lei nº 12.651/2012 e no art. 3º da Resolução CONAMA nº
303, de março de 2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de áreas de
preservação permanente:

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:


I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal,
com largura mínima, de:
a) trinta metros, para o curso d'água com menos de dez metros de largura;
b) cinquenta metros, para o curso d'água com dez a cinquenta metros de largura;
c) cem metros, para o curso d'água com cinquenta a duzentos metros de largura;
d) duzentos metros, para o curso d'água com duzentos a seiscentos metros de
largura;
e) quinhentos metros, para o curso d'água com mais de seiscentos metros de
largura;

As matas ciliares são formações florestais que ocorrem ao longo dos cursos
d'água e no entorno de lagos e nascentes, sendo sua preservação indispensável, não só pelas suas
funções locais, mas também para garantir a qualidade de vida da população que está sob a
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influência da bacia hidrográfica.

São áreas que cumprem importante função hidrográfica e ecológica. Permitem


a manutenção da quantidade e qualidade da água, a retenção de nutrientes liberados pelo
ecossistema e a proteção do solo contra o processo erosivo, por meio da estabilização das
margens dos rios por meio da malha de raízes que produz ao longo do leito, atuando como filtro
biológico retendo sedimentos, nutrientes e, até mesmo, poluentes das águas.

Conforme dispõe o art. 2º, II, da Resolução CONAMA nº 302, as áreas de


preservação permanente têm função ambiental de “preservar os recursos hídricos, a paisagem,
a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem estar das populações humanas”.

Inaceitável, portanto, que os demandados, diante da importância da mata ciliar


do Rio Uruguai e da legislação ambiental existente, deixem de exercer suas atribuições de
fiscalização ambiental na área, que, inclusive, caracteriza-se como sensível 5, uma vez que faz
divisa com a República Argentina.

VIII. DA TUTELA DA MATA CILIAR DO RIO URUGUAI – ÁREA DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE

Como visto, a mata ciliar de um rio desempenha importante função no meio


ambiente, de tal forma que deve ser rigorosamente preservada, para que permaneça intocável,
permitindo o natural desenvolvimento da fauna e da flora.

Daí surge a necessidade de efetiva atuação dos órgãos responsáveis pela


fiscalização ambiental no sentido de proteger a mata ciliar do Rio Uruguai, Área de Preservação

5 A questão da segurança da área da mata ciliar do Rio Uruguai, local de constante prática de ilícitos na região,
propiciados, não raras vezes, em razão da existência de galpões ilegais construídos e escondidos na mata, foi assunto
tratado em reunião ocorrida na sede da Procuradoria da República em Santa Rosa, em 16 de outubro de 2008, na qual
participaram o Procurador da República Dr. Flávio Pavlov, o General Geraldo Gomes de Mattos Filho, Comandante da
Artilharia Divisionária 3ª DE, o General Haroldo Assad Carneiro, Comandante da 6ª Brigada de Infantaria Blindada, o
Capitão Jeferson Meneses da Silva, representante do 19º Regimento de Cavalaria Mecanizado, o Major Manoel Ricardo
Santos Barros, do Comando da Artilharia Divisionária/3ª DE de Cruz Alta, o Major Hélcio Miranda Duque Botelho do
Comando da 6ºª Brigada e o Aspirante José Alex Bento, Capelão Militar da Artilharia Divisionária/3ª DE.
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Permanente.

A Área de Preservação Permanente, nos termos do que dispõe o art. 3º, do novo
Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos,
a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Já o art. 4º do novo Código Florestal dispõe:


Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas,
para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima
de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros; (…).

Segundo o Código Florestal, portanto, considera-se Área de Preservação


Permanente a faixa de 500 metros ao longo do rio que tenha largura superior a 600 metros, como
no caso do Rio Uruguai, a contar do nível mais alto em faixa marginal.

No que se refere à supressão de Áreas de Preservação Permanente, o antigo


Código Florestal já dispunha, em seu art. 4º, que esta somente poderia ser autorizada em caso
de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto.

O novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) manteve proibida a supressão de


vegetação em Área de Preservação Permanente, ressalvando novamente apenas as hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental, devidamente justificadas.
Confira-se:

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Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser


mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título,
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação
Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é
obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos
autorizados previstos nesta Lei.
§ 2º A obrigação prevista no § 1º tem natureza real e é transmitida ao sucessor no
caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
§ 3º No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de
2008, é vedada a concessão de novas autorizações de supressão de vegetação
enquanto não cumpridas as obrigações previstas no § 1º.

Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de


Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública,
de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas e restingas
somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.
§ 2º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação
Permanente de que tratam os incisos VI e VII do caput do art. 4º poderá ser
autorizada, excepcionalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal
esteja comprometida, para execução de obras habitacionais e de urbanização,
inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas
urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda.
§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução,
em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da
defesa civil destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.
§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras
intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das previstas nesta Lei.

Por sua vez, o seu artigo 3º, incisos VIII, IX e X, dispõem sobre os conceitos de
utilidade pública, interesse social e atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:

“VIII - utilidade pública:


a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de
transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo
urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia,
telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de
competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como
mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das
funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder
Executivo federal;

IX - interesse social:
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a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais


como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de
invasoras e proteção de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou
posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não
descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental
da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades
educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas,
observadas as condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas,
observadas as condições estabelecidas na Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de
efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e
essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em
procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo
federal;

X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:


a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando
necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a
obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo
agroflorestal sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água,
quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades
quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o
abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos
previstos na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de
mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de
acesso a recursos genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros
produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem
prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar,
incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não
descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função
ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo
impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

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Na esfera estadual, o art. 23 da Lei nº 9.519/92 (Código Florestal do Estado do


RS) é taxativo:

“Art. 23 - É proibida a supressão parcial ou total das matas ciliares e da vegetação


de preservação permanente definida em lei e reserva florestal do artigo 9º desta
Lei, salvo quando necessário à execução de obras, planos ou projetos de utilidade
pública ou interesse social, mediante a elaboração prévia da EIA-RIMA e
licenciamento do órgão competente e Lei própria.”

Diante do exposto, verifica-se que todas aquelas construções que existem nas
margens do Rio Uruguai em uma distância de até 500 metros da margem encontram-se
irregularmente edificadas em Área de Preservação Permanente (mata ciliar), especialmente
se considerarmos suas finalidades.

Nessa esteira de raciocínio, verifica-se que a regularização das construções se


revela impossível, uma vez que não representam obras de utilidade pública, interesse social ou
mesmo caracterizam-se como atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental. Como já
mencionado, trata-se de aproximadamente 500 residências, das quais a grande maioria tem
por finalidade apenas proporcionar lazer aos proprietários.

A Lei n. 6.938/81, dispondo sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus


fins e mecanismos de formulação e aplicação, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente,
sendo um de seus órgãos o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), ao qual, como órgão
consultivo e deliberativo, foi outorgada a atribuição de deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida (art. 6º, II, da Lei 6.938/1981).

Com essa finalidade, o CONAMA, através da Resolução nº 303/2002,


estabeleceu os parâmetros, definições e limites referentes às Áreas de Preservação Permanente,
definindo as faixas marginais dos rios como APP.

Através da Resolução n. 369/2006, dispôs sobre os casos excepcionais, de


utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou
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supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP:

Seção I - Das Disposições Gerais


Art. 1º Esta Resolução define os casos excepcionais em que o órgão ambiental
competente pode autorizar a intervenção ou supressão de vegetação em Área de
Preservação Permanente - APP para a implantação de obras, planos, atividades
ou projetos de utilidade pública ou interesse social, ou para a realização de
ações consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental.

Art. 2º O órgão ambiental competente somente poderá autorizar a intervenção ou


supressão de vegetação em APP, devidamente caracterizada e motivada mediante
procedimento administrativo autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previstos
nesta resolução e noutras normas federais, estaduais e municipais aplicáveis, bem
como no Plano Diretor, Zoneamento Ecológico-Econômico e Plano de Manejo das Uni-
dades de Conservação, se existentes, nos seguintes casos:
I - utilidade pública:
(…)
II - interesse social:
(…)
III - intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo impacto ambien-
tal, observados os parâmetros desta Resolução.

Está claro, portanto, que a ocupação ocorrida ao longo da margem do Rio


Uruguai está totalmente dissociada da legislação de regência e a omissão dos réus permitiu o
agravamento da situação, cooperando para que as ocupações acontecessem livremente, sem a
devida oposição, o que levou à grave situação atual.

Imprescindível, assim, a necessária atuação do réus para que fiscalizem e


autuem as inúmeras edificações irregulares na mata ciliar do Rio Uruguai, que,
continuadamente, causaram e ainda causam dano ambiental de grandes proporções.

IX – DA OMISSÃO DOS RÉUS NO EFETIVO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA AM-


BIENTAL

Conforme determina o art. 23, inciso VI, da Constituição da República


Federativa do Brasil, é competência comum dos órgãos da União, dos Estados e dos Municípios
proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas .

Por sua vez, a Lei n° 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

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Ambiente, estabelece, em seu art. 2°, a necessidade de preservação, controle, planejamento e


fiscalização dos usos dos recursos ambientais. Veja-se:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes
princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio
ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e
a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio
ambiente.

O denominado Sistema Nacional do Meio Ambiente, criado pela lei acima


mencionada, é constituído pelos órgãos e entidades dos entes federados que são responsáveis
pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente, especificamente por fiscalizar, preservar e
conservar o uso sustentável dos recursos naturais.6

Já a Lei nº 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas a serem


aplicadas nas hipóteses de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e impõe aos órgãos
integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente, executores da Política Nacional do Meio
Ambiente, a atribuição de lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo
em matéria ambiental (art. 70, §1º).

6 A Lei Federal n° 6.938/81 no Art. 6º dispõe: Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e
melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.
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A Lei Complementar nº 140/2012, por sua vez, em seu art. 3º, inciso I, prevê
que constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, no exercício da competência comum, proteger, defender e conservar o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e
eficiente.

E, mais adiante, essa mesma norma, no art. 17, § 3º, estabelece que qualquer
um dos entes federativos, no exercício da atribuição comum, pode realizar “a fiscalização da
conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor (...)”.

Nesse contexto vislumbra-se que compete aos demandados, de forma individual


ou conjunta, o exercício efetivo do poder de polícia ambiental com a finalidade de prevenir e
repreender infrações ambientais.

Há de se esclarecer que o poder de polícia ambiental ocorrerá de forma mais


efetiva quando for realizado de forma preventiva. Afinal de contas, a eficiência do poder de
polícia ambiental está diretamente relacionada com a tempestividade de seu exercício, uma vez
que predomina como regente do Direito Ambiental o princípio da prevenção. Logo, deve-se
reputar ineficiente o exercício do poder de polícia não só quando já ocorrido o dano ambiental,
mas também quando pendente por tempo desproporcional a sua ameaça iminente.

A par da exigência de tempestividade, o princípio da eficiência administrativa


exige que o exercício do poder de polícia ocorra mediante a utilização dos instrumentos legais e
necessários para neutralizar a ameaça do dano ambiental.

Nesse sentido, o art. 72, da Lei n° 9.605/98, que dispõe sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, elenca
um conjunto de medidas administrativas a serem aplicadas por ocasião do exercício do poder de
polícia ambiental. Veja-se:

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções,

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observado o disposto no art. 6º7:


I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
X – (VETADO)
XI - restritiva de direitos.

Feitas essas considerações, passa-se a analisar, de forma específica, a


responsabilidade dos réus pela atual situação da mata ciliar do Rio Uruguai, decorrente,
principalmente, da omissão do efetivo exercício do poder de polícia ambiental.

Como se verifica da leitura do art. 2º, da Lei nº 7.735/89 (lei de criação do


IBAMA), compete à autarquia federal o exercício das seguintes atribuições:

Art. 2º É criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis – IBAMA, autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito
público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente, com a finalidade de: (Redação dada pela Lei nº 11.516, 2007)
I - exercer o poder de polícia ambiental; (Incluído pela Lei nº 11.516, 2007)
II - executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às
atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade
ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização,
monitoramento e controle ambiental, observadas as diretrizes emanadas do
Ministério do Meio Ambiente; e (Incluído pela Lei nº 11.516, 2007)
III - executar as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a
legislação ambiental vigente. (Incluído pela Lei nº 11.516, 2007)

No caso em análise, a necessidade de atuação efetiva do IBAMA por meio


exercício do poder de polícia está claramente demonstrada, tendo em vista que os elementos
constantes do Inquérito Civil Público são suficientes para provar a inexistência de fiscalização
na APP da margem do Rio Uruguai.

7 Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:


I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o
meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
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Ressalte-se, porquanto imperioso, que o IBAMA tem pleno conhecimento da


gravidade da degradação ambiental existente e, a pedido deste órgão ministerial, informou que
daria início no ano de 2008 à realização de vistorias na APP (fls. 188/189).

Malgrado não ter levado adiante o levantamento ao qual havia se proposto, em


várias manifestações técnicas constatou a gravidade dos danos ambientais causados à bacia
hidrográfica do Rio Uruguai, bem como sinalizou no sentido de serem necessárias
intervenções que visem à cessação dos danos e à recomposição do meio ambiente já
degradado.

Diante da importância dessas manifestações, pede-se vênia para citá-las


novamente:
“(...) A imposição, aos particulares, da obrigatoriedade de preservar e de
recuperar a mata ciliar do rio Uruguai como um todo, e em especial a porção
correspondente à Área de Preservação Permanente, é, portanto, ação
imperiosa e inadiável a ser implementada por parte das autoridades de nosso
país. Toda e qualquer intervenção nestes espaços especialmente protegidos
(construções de casas, galpões, pesqueiros, portos, ancoradouros, atividades
agrícolas, etc) devem ser coibidas ou corrigidas.
A erradicação das atividades que continuam a colocar em risco a destinação
legal e a função ambiental cumprida pela Área de Preservação Permanente do
rio Uruguai é condição básica para que, por um lado, sejam mantidos incólumes
os raros locais em que a ação humana ainda não alterou e comprometeu a
funcionalidade do ambiente; e, por outro, garanta que, através de ações
saneadoras — que incluem a demolição ou desfazimento das obras, a cessação
das atividades que—estejam colocando em risco aqueles locais, e a
implementação de medidas regeneradoras, definidas com base em critérios
técnicos adequados — sejam restaurados e mantidos os benefícios sócio-
ambientais deles decorrentes. Estes benefícios serão usufruídos tanto pelos
proprietários das áreas quanto pelos demais proprietários de outras áreas
localizadas na bacia hidrográfica do rio Uruguai - e, em cadeia, também pelos
membros das comunidades vizinhas, e pela sociedade como um todo.” (fls.
274/277)

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“(...) a intensidade e os efeitos dos danos ambientais em andamento na bacia


hidrográfica do rio Uruguai devem ser estancados pela priorização de ações
saneadoras; estas devem ser impostas pelo poder público, em nome da
sociedade, às minorias que, por suas formas de agir e de se apropriar do bem
comum que é o meio ambiente, causam tais danos.” (fls. 707/716)

Importante destacar, ainda, ao contrário do que quer fazer crer o IBAMA, que
no caso em análise a responsabilidade pela fiscalização da Área de Preservação Permanente do
Rio Uruguai pertence a todos os órgãos que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente,
independentemente da eventual atribuição para a realização de licenciamento ambiental ou de
projetos para a recuperação da área degradada.

Corroborando este entendimento, judiciosos os acórdãos abaixo do SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ZONA DE AMORTECIMENTO DO PARQUE NACIONAL DE
JERICOACOARA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Em se tratando de proteção ao meio ambiente, não há falar em competência
exclusiva de um ente da federação para promover medidas protetivas. Impõe-se
amplo aparato de fiscalização a ser exercido pelos quatro entes federados,
independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo, bem
como da competência para o licenciamento.
2. O domínio da área em que o dano ou o risco de dano se manifesta é apenas um
dos critérios definidores da legitimidade para agir do parquet federal. Ademais, o
poder-dever de fiscalização dos outros entes deve ser exercido quando a
atividade esteja, sem o devido acompanhamento do órgão competente, causando
danos ao meio ambiente.
3. A atividade fiscalizatória das atividades nocivas ao meio ambiente concede ao
IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer seu poder de polícia
administrativa, ainda que o bem esteja situado em área cuja competência para o
licenciamento seja do município ou do estado.
4. Definida a controvérsia em sentido contrário à posição adotada no aresto
estadual, deve ser provido o agravo regimental para dar provimento ao recurso

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especial, reconhecer a legitimidade do Ministério Público Federal e determinar o


regular prosseguimento da ação.
Agravo regimental provido. (STJ, AgRg no REsp 1373302/CE, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/06/2013, DJe 19/06/2013);

PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - MULTA - CONFLITO DE


ATRIBUIÇÕES COMUNS - OMISSÃO DE ÓRGÃO ESTADUAL - POTENCIALIDADE DE DANO
AMBIENTAL A BEM DA UNIÃO - FISCALIZAÇÃO DO IBAMA - POSSIBILIDADE.
1. Havendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da
licença ambiental, pode o IBAMA exercer o seu poder de polícia administrativa,
pois não há confundir competência para licenciar com competência para
fiscalizar.
2. A contrariedade à norma pode ser anterior ou superveniente à outorga da
licença, portanto a aplicação da sanção não está necessariamente vinculada à
esfera do ente federal que a outorgou.
3. O pacto federativo atribuiu competência aos quatro entes da federação para
proteger o meio ambiente através da fiscalização.
4. A competência constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos do meio
ambiente das diversas esferas da federação, inclusive o art. 76 da Lei Federal n.
9.605/98 prevê a possibilidade de atuação concomitante dos integrantes do
SISNAMA.
5. Atividade desenvolvida com risco de dano ambiental a bem da União pode ser
fiscalizada pelo IBAMA, ainda que a competência para licenciar seja de outro
ente federado. Agravo regimental provido. (STJ, AgRg no REsp 711.405/PR, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/04/2009, DJe
15/05/2009).

Há de se esclarecer, por oportuno, que essa omissão no exercício do poder de


polícia ambiental não é apenas do IBAMA, mas também do Estado do Rio Grande do Sul e da
FEPAM que, ao longo dos anos, ficaram inertes perante as sucessivas construções e ocupações
irregulares realizadas no interior da área da mata ciliar do Rio Uruguai.

De acordo com as disposições da Lei Estadual nº 9.077/90 (Institui a Fundação


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Estadual de Proteção Ambiental) e da Lei Estadual nº 10.330/94 (Dispõe sobre a organização do


Sistema Estadual de Proteção Ambiental - SISEPRA), compete à FEPAM e aos demais órgãos que
compõem o SISEPRA a preservação, fiscalização e o monitoramento do meio ambiente por meio
do exercício do poder de polícia. Veja-se:

Lei Estadual nº 9.077/90

Art. 2º - Para atingir seus objetivos compete à FEPAM:


I - diagnosticar, acompanhar e controlar a qualidade do meio ambiente;
II - prevenir, combater e controlar a poluição em todas as suas formas;
III - propor programas que visem implementar a Política de Meio Ambiente no
Estado;
IV - exercer a fiscalização e licenciar atividades e empreendimentos que possam
gerar impacto ambiental, bem como notificar, autuar e aplicar as penas cabíveis,
no exercício do poder de polícia;
V - propor projetos de legislação ambiental, fiscalizar o cumprimento das normas
pertinentes e aplicar penalidades;
VI - propor planos e diretrizes regionais objetivando a manutenção da qualidade
ambiental;
VII - proteger os processos ecológicos essenciais, obras e monumentos
paisagísticos, históricos e naturais;
VIII - manter sistema de documentação e divulgação de conhecimentos técnicos
referentes à área ambiental;
IX - divulgar regularmente à comunidade diagnóstico e prognóstico da qualidade
ambiental no Estado;
X - assistir tecnicamente os municípios, movimentos comunitários e entidades de
caráter cultural, científico e educacional, com finalidades ecológicas nas questões
referentes à proteção ambiental;
XI - desenvolver atividades educacionais visando a compreensão social dos
problemas ambientais;
XII - treinar pessoal para o exercício de funções inerentes a sua área de atuação;
desenvolver pesquisas e estudos de caráter ambiental;
XIII - executar outras atividades compatíveis com suas finalidades.

Lei Estadual nº 10.330/94


Art. 9º - Aos órgãos executivos do meio ambiente, bem como às entidades a eles
vinculadas, conforme as atribuições legais pertinentes, compete:
(...)
III - adotar medidas, nas diferentes áreas de ação pública e junto ao setor privado,
para manter e promover o equilíbrio ecológico e a melhoria da qualidade ambiental,
prevenindo a degradação em todas as suas formas, impedindo ou mitigando impactos
ambientais negativos e recuperando o meio ambiente degradado;
(...)
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IX - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;
X - proteger e preservar a biodiversidade;
XI - proteger, de modo permanente, dentre outros:
a) os olhos d’água, as nascentes, os mananciais, vegetações ciliares, marismas e
manguezais;
b) as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como aquelas
que sirvam como local de pouso ou
reprodução de migratórios;
c) as áreas estuarinas, as dunas e restingas;
d) as paisagens notáveis definidas por lei;
e) as cavidades naturais subterrâneas;
f) as unidades de conservação, obedecidas as disposições legais pertinentes;
g) a vegetação de qualquer espécie destinada a impedir ou atenuar os impactos
ambientais negativos, conforme critérios
fixados pela legislação regulamentar;
h) os sambaquis e sítios arqueológicos e paleontológicos;
i) as encostas íngremes e morros testemunhos;
(...)
XV - promover medidas administrativas e tomar providências para as medidas
judiciais de responsabilidade dos causadores de poluição ou degradação ambiental;
(...)
XXII - fiscalizar obras, atividades, processos produtivos e empreendimentos que,
direta ou indiretamente, possam causar degradação do meio ambiente;
(...)
XXV - exigir daquele que utilizar ou explorar recursos naturais a recuperação do
meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica determinada pelo órgão
público competente, na forma da lei, bem como a recuperação, pelo responsável, da
vegetação adequada nas áreas protegidas, sem prejuízo das sanções cabíveis;
(…)
Art. 16 - A Secretaria responsável pelo meio ambiente, através de seu órgão
executivo, coordenará as atividades de planejamento, controle, fiscalização,
recuperação, proteção e preservação ambiental no âmbito das ações do Governo do
Estado.
(...)

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Art. 26 - A Polícia Ostensiva de Proteção Ambiental será exercida pela Brigada Militar
nos estritos limites da Lei.
Parágrafo único - As ações da Brigada Militar deverão, de preferência, atender ao
princípio da prevenção, objetivando impedir possíveis infrações relacionadas com o
meio ambiente.

Art. 27 - Para o exercício de suas atribuições, compete também à Brigada Militar:


I - auxiliar na guarda das áreas de preservação permanente e unidades de
conservação;
II - atuar em apoio aos órgãos envolvidos com a defesa e preservação do meio
ambiente, garantindo-lhes o exercício do poder de polícia, do qual, por lei, são
detentores;
III - lavrar autos de constatação, encaminhando-os ao órgão ambiental competente.

A ausência do efetivo exercício do poder de polícia ambiental pelos réus deu


causa e estimulou as construções irregulares ao longo da APP do Rio Uruguai, não obstante, ao
longo dos anos, esse órgão ministerial ter requisitado suas atuações.

Se a ausência ou ineficiência do exercício do poder de polícia é causa para


estimular construções irregulares ao longo da APP, surge a possibilidade de se vindicar
judicialmente o cumprimento dessa atribuição por parte dos réus. O controle judicial dos atos da
administração pública não se direciona apenas em face de atos comissivos, podendo se debruçar
também sobre a omissão administrativa.

A necessidade de observância do princípio da eficiência administrativa leva à


inexorável conclusão de ser possível impor judicialmente aos demandados o desempenho
eficiente e tempestivo do poder de polícia, de forma a prevenir e reprimir o ato lesivo ao meio
ambiente.

Nesse sentido, elucidativos os acórdãos abaixo do Tribunal Regional Federal da


4ª Região:

AMBIENTAL. UNIDADE DE CONSERVAÇÃO. ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE CARIJÓS. DECRETO

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94.656/87. OCUPAÇÃO IRREGULAR POR PARTICULARES. OMISSÃO DO ÓRGÃO


AMBIENTAL. REGIME DAS CONSTRUÇÕES E EDIFICAÇÕES FEITAS PELOS PARTICULARES.
MEDIDAS PARA IMPLEMENTAR E CONSOLIDAR A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO.
RESPONSABILIDADE E OMISSÃO DO IBAMA. CONDENAÇÃO DOS RÉUS. ELABORAÇÃO
DE PLANO DE AÇÃO E FISCALIZAÇÃO NA ÁREA. PARCIAL PROVIMENTO ÀS APELAÇÕES
DO MPF E DO IBAMA. 1- (...). 2- (...). 3- As providências adotadas pelo Ibama se
mostraram insuficientes para consolidar a estação ecológica e cumprir suas
atribuições de proteção, polícia e fiscalização ambientais naquela unidade de
conservação. Omissão administrativa que se reconhece. 4- (...). 5- (…). 6-
Mantida a condenação do Ibama a adotar medidas administrativas e judiciais
necessárias para implantação e consolidação da estação ecológica.
Reconhecimento de que os órgãos ambientais estão obrigados a adotar as
providências cabíveis para proteção do meio ambiente e das unidades de
conservação sob sua responsabilidade, já que estas são bens públicos e
patrimônio das gerações presentes e futuras, não submetidos à vontade ou aos
desejos do administrador, mas vinculados a regime jurídico especial, com
amparo constitucional no artigo 225-§ 1º-III da Constituição, que impõe ao Poder
Público "definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção". 7- (...). 8-
Reconhecimento de que não há espaço para discrição do administrador em
aplicar a legislação ambiental ou exercer o poder de polícia ambiental em
espaços ambientais especialmente protegidos, estando integralmente submetido
às prescrições da Lei 9.605/98 (que trata de crimes e infrações ambientais) e da
Lei 9.985/00 (que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza). Provimento parcial da apelação do MPF para condenar o Ibama a
elaborar plano específico de ação e de fiscalização naquela estação ecológica, de
modo a adotar as medidas administrativas e/ou judiciais que sejam necessárias
para atender o que for necessário à sua proteção, recuperação e consolidação
como estação ecológica. 9- Desprovimento da apelação do particular. Parcial
provimento às apelações do MPF e do Ibama. (TRF4, AC 5010478-15.2010.404.7200,
Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Candido Alfredo Silva Leal Junior, juntado aos
autos em 24/01/2014);

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS. CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ATUAÇÃO DO IBAMA. A preservação ambiental,
consoante art. 225 da CF, constitui um dever fundamental, que não se resume
apenas a um mandamento de ordem negativa, consistente na não degradação,
mas possui também uma disposição de cunho positivo, que impõe a todos - Poder
Público e coletividade - a prática de atos tendentes a recuperar, restaurar e
defender o ambiente ecologicamente equilibrado. A imposição de multa, no caso
concreto, se justifica na intenção de impelir o IBAMA a exercer, de forma
efetiva, o seu poder de polícia e adotar medidas de fiscalização a fim de não
permitir novas construções e invasões na área de preservação ambiental em
questão. O fato da atuação do IBAMA já estar prevista em lei, não impede a
ordenação judicial para o devido cumprimento de suas competências. Restou
demonstrada a verossimilhança da alegação da existência de dano ambiental,
consubstanciada em construção em área de preservação permanente, caracterizada
por restinga e manguezal. Por outro lado, o perigo de dano irreparável ou de difícil
reparação, no ponto, decorre da própria iminência do dano ambiental a ser
provocado por novas obras, supressão de vegetação ou nova interferência na área de
restinga, o qual deve ser prevenido impondo-se restrições ao uso do imóvel. (TRF4,
AG 5014571-53.2011.404.0000, Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Vilson Darós,
juntado aos autos em 12/12/2011).

Por derradeiro, ressalte-se que, no caso concreto, a questão da fiscalização


da APP não visa unicamente a salvaguarda do direito ao meio ambiente, mas, também, irá
cumprir importante função social de proteção da própria população ribeirinha que, não raras
vezes, é atingida pelas enchentes do Rio Uruguai, o que acaba por lhes ocasionar prejuízos
de ordem material e colocar em risco suas vidas.8

Dessa forma, diante de todos os elementos constantes do Inquérito Civil Público

8 “Enchente volta a atingir Porto Mauá – Hoje pela manhã o nível estava 14.95 metros acima do normal.
Às oito horas da manhã desta quarta-feira, 01, o Rio Uruguai em Porto Mauá atingiu o nível de 14,95 metros acima do
normal, média de 55% superior ao registrado em Itapiranga/SC, que atingiu 9,5 metros, às 4 horas da madrugada,
percentual jamais registrado desde 199-p, o máximo de diferença havia sido de 46%.
Vilson Winkler, assessor de comunicação da Prefeitura de Porto Mauá, estima que o nível das águas possa chegar aos 16
metros, pois deverá estabilizar o crescimento por volta das 20 horas. Comerciantes iniciaram na tarde de ontem a
retirada dos mobiliários. Até o momento a Defesa Ciovil não divulgou o número de atingidos. Em porto vera cruz o
nível chegou a 9 metros acima do nível normal. Em ambos os municípios a travessia de barca está cancelada.”
<Disponível na internet via http://www.jornalnoroeste.com.br/noticias/porto-maua/enchente-volta-a-atingir-porto-maua .
Em 02 de set. 2014>
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anexo, bem como dos fundamentos jurídicos acima delineados, não há dúvida acerca da
necessidade de o Poder Judiciário compelir os réus a exercerem concretamente o poder de
polícia ambiental de forma eficiente, com a utilização dos instrumentos previstos no art. 72 da
Lei 9.605/98, preservando a higidez ambiental da mata ciliar do Rio Uruguai e garantindo a
todos, inclusive às futuras gerações, um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

X - DA PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

Como é sabido, o art. 12 da Lei nº 7.347/85 autoriza “o juiz a conceder


mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.” Por sua vez, o
seu art. 19 dispõe que “aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo
Civil, aprovado pela Lei nº 5.689, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas
disposições.”

Dessa forma, nos termos do que dispõem os dispositivos legais citados, bem
como o art. 273, do CPC, o MPF requer sejam antecipados os efeitos da tutela pretendida,
porquanto presentes os requisitos necessários ao seu deferimento. Veja-se.

A prova inequívoca da verossimilhança das alegações encontra-se


consubstanciada nos seguintes fatos que podem ser constatados a partir da análise do Inquérito
Civil Público anexo:

i) a existência de edificações realizadas por particulares na Área de


Preservação Permanente da mata ciliar do Rio Uruguai;

ii) as construções foram realizadas sem a elaboração de plano ambiental de


conservação e uso da APP;

iii) as construções geram danos ambientais capazes de poluir o solo e a água


do rio, bem como de assoreá-lo;

iv) tais construções e irregularidades foram realizadas com o conhecimento


dos réus;
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v) os réus, embora cientes das graves irregularidades, não desempenharam a


contento o poder de polícia ambiental, de modo e evitar e/ou reprimir os
danos ambientais causados à Área de Preservação Permanente;

vi) tais construções somente se desenvolveram diante da inércia dos réus no


exercício eficiente do poder de polícia, o que acaba por estimular novas
construções na APP;

vii) compete aos réus, de forma isolada ou conjunta, o exercício do poder de


polícia ambiental na Área de Preservação Permanente do Rio Uruguai, com a
utilização dos instrumentos previstos no art. 72 da Lei 9.605/98.

Por sua vez, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação


evidencia-se pela necessidade urgente e inadiável de se fazer cessar a grave violação ambiental
à Área de Preservação Permanente do Rio Uruguai. Em outras palavras, tendo em vista que as
lesões apontadas acima renovam-se a cada dia, a demora da prestação jurisdicional irá acarretar
danos irreparáveis ao meio ambiente.

Ressalte-se que, por diversas vezes, os próprios réus, ao longo do trâmite do


Inquérito Civil, manifestaram preocupação com o aumento da degradação ambiental e com o
desempenho de atividades poluidoras na APP, danos que podem ser irrecuperáveis.

Assim, nos termos do que dispõem os arts. 12, da Lei nº 7.347/85 e os arts. 273 e
461, §§3º e 4º do CPC, o MPF requer a antecipação dos efeitos da tutela pretendida, nos termos
abaixo delineados, a fim de se evitar a ocorrência de novos e maiores danos ao meio ambiente.

XI - DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, o Ministério Público Federal requer:

a) após distribuída e recebida a presente petição inicial, seja deferido,


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inaudita altera parte, o pedido de antecipação dos efeitos da tutela, determinando-se aos réus:

a.1) que não concedam licença ambiental a qualquer atividade, construção ou


instalação a ser desenvolvida na APP na margem do Rio Uruguai nos municípios
da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa 9, salvo nos termos
especificados em lei;

a.2) que, de forma isolada ou em conjunto, realizem o mapeamento da área de


APP na margem do Rio Uruguai nos municípios da área de abrangência de
atuação da PRM Santa Rosa, pelo menos na distância de 500 metros a contar da
zona marginal do rio (art. 4º, da Lei nº 12.651/2012), no prazo máximo de 120
(cento e vinte dias), sob pena de multa a ser por Vossa Excelência estipulada,
por cada dia de atraso;

a.3) que, no desempenho de seu poder de polícia ambiental, realizem


fiscalização ostensiva e ininterrupta em toda a APP na margem do Rio Uruguai
nos municípios da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa, sob pena
de multa diária por descumprimento, no sentido de:

i) evitar novas construções ou edificações;

ii) notificar os proprietários das construções existentes e realizar a sua


demolição (art. 72, inciso VIII, da Lei nº 9.605/98), após regular trâmite de
procedimento administrativo;

iii) interromper toda e qualquer atividade que não estiver autorizada nos
termos da legislação ambiental, realizando, para tanto, interdições, embargos
e demolições, bem como aplicando multas (art. 72, incisos II, III, VII, VIII e IX,
da Lei nº 9.605/98), após regular trâmite de procedimento administrativo;

a.4) que, com a finalidade de demonstrar o cumprimento das obrigações acima


9 Municípios de Porto Lucena, Porto Vera Cruz, Alecrim, Porto Mauá, Novo Machado, Doutor Maurício Cardoso,
Crissiumal, Tiradentes do Sul.
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mencionadas, apresentem relatório bimestral a esse Juízo demonstrando todas


as atividades realizadas, sob pena de multa a ser estipulada por Vossa
Excelência por descumprimento;

a.5) que, de forma isolada ou em conjunto, no prazo de 60 dias, afixem e


mantenham placas ao longo da APP na margem do Rio Uruguai nos municípios
da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa, a uma distância mínima
de 3 km entre cada uma delas, a ser submetida a aprovação desse Juízo, após
manifestação do MPF, contendo a seguinte mensagem: “ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE – PROIBIDO EDIFICAR OU PROMOVER QUALQUER MODIFICAÇÃO NO
LOCAL”, sob pena de multa a ser estipulada por Vossa Excelência por
descumprimento;

b) seja determinada a citação dos réus para, querendo, apresentarem defesa;

c) a confirmação da tutela liminar e a procedência dos pedidos adiante


arrolados, determinando-se aos réus:

c.1) que, de forma solidária, por meio do exercício do poder de polícia


ambiental, restabeleçam a higidez da Área de Preservação Permanente na
margem do Rio Uruguai, nos municípios da área de atuação da PRM Santa Rosa,
a partir do resultado apurado em Plano para Recuperação da Área Degradada
(PRAD) a ser elaborado;

c.2) que não concedam licença ambiental a qualquer atividade, construção ou


instalação a ser desenvolvida na APP na margem do Rio Uruguai nos municípios
da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa, salvo nos termos
especificados em lei;

c.3) que, no desempenho de seu poder de polícia ambiental, realizem


fiscalização ostensiva e ininterrupta em toda a APP na margem do Rio Uruguai
nos municípios da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa, sob pena
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de multa diária por descumprimento, no sentido de:

i) evitar novas construções ou edificações;

ii) notificar os proprietários das construções existentes e realizar a sua


demolição (art. 72, inciso VIII, da Lei n.º 9.605/98), após regular trâmite de
procedimento administrativo;

iii) interromper toda e qualquer atividade que não estiver autorizada nos
termos da legislação ambiental, realizando, para tanto, interdições, embargos
e demolições, bem como aplicando multas (art. 72, incisos II, III, VII, VIII e IX,
da Lei nº 9.605/98), após regular trâmite de procedimento administrativo;

c.4) que, com a finalidade de demonstrar o cumprimento das obrigações acima


mencionadas, apresentem relatório bimestral a esse Juízo demonstrando todas
as atividades realizadas, sob pena de multa a ser estipulada por Vossa
Excelência por descumprimento;

c.5) que, de forma isolada ou em conjunto, no prazo de 60 dias, afixem e


mantenham placas ao longo da APP na margem do Rio Uruguai nos municípios
da área de abrangência de atuação da PRM Santa Rosa, a uma distância mínima
de 3 km entre cada uma delas, a ser submetida a aprovação desse Juízo, após
manifestação do MPF, contendo a seguinte mensagem: “ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE – PROIBIDO EDIFICAR OU PROMOVER QUALQUER MODIFICAÇÃO NO
LOCAL”, sob pena de multa a ser estipulada por Vossa Excelência por
descumprimento;

d) a condenação dos réus ao pagamento de custas e demais despesas judiciais.

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Protesta, por fim, por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente pela juntada ulterior de documentos e pela produção de prova pericial e
testemunhal.

Atribui-se à causa, para fins meramente fiscais, o valor de R$ 100.000,00 (cem


mil reais).

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Documento eletrônico assinado digitalmente por LETICIA CARAPETO BENRDT, Procurador(a) da
República, em 14/12/2014 às 16h33min.
Este documento é certificado conforme a MP 2200-2/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas
Brasileira - ICP-Brasil.

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