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objectivos
objectivo geral
objectivos especificos
Conhecer os meios e institutos de defesa da Constituição
Conhecer e saber diferenciar diversos tipos de fiscalização de
inconstitucionalidade
Conhecer a composição do Conselho Constitucional, assim como sobre a revisao da
constituicao.
Garantias da Constituição
DOS ESTADOS DE SÍTIO E DE EMERGÊNCIA
segundo a lei no 1/2018 (constituicao da Republica de Mocambique) em relacao ao Estado de
sítio e de emergência, aborda nos artigos sitados abaixos:
Artigo 290
(Estado de sítio ou de emergência)
1. O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser declarados, no todo ou em parte do
território, nos casos de agressão efectiva ou eminente, de grave ameaça ou de perturbação da
ordem constitucional ou de calamidade pública.
2. A declaração do estado do sítio ou de emergência é fundamentada e especifica as liberdades e
garantias cujo exercício é suspenso ou limitado.
Artigo 291
(Pressupostos da opção de declaração)
A menor gravidade dos pressupostos da declaração determina a opção pelo estado de
emergência, devendo, em todo o caso, respeitar-se o princípio da proporcionalidade e limitar-se,
nomeadamente, quanto à extensão dos meios utilizados e quanto à duração, ao estritamente
necessário ao pronto restabelecimento da normalidade constitucional.
Artigo 292
(Duração)
O tempo de duração do estado de sítio ou de emergência não pode ultrapassar os trinta dias,
sendo prorrogável por iguais períodos até três, se persistirem as razões que determinaram a sua
declaração.
Artigo 293
(Processo de declaração)
1. Tendo declarado o estado de sítio ou de emergência, o Presidente da República submete à
Assembleia da República, no prazo de vinte e quatro horas, a declaração com a respectiva
fundamentação, para efeitos de ratificação.
2. Se a Assembleia da República não estiver em sessão é convocada em reunião extraordinária,
devendo reunir-se no prazo máximo de cinco dias.
3. A Assembleia da República delibera sobre a declaração no prazo máximo de quarenta e oito
horas, podendo continuar em sessão enquanto vigorar o estado de sítio ou de emergência.
Artigo 295
(Restrições das liberdades individuais)
Ao abrigo do estado de sítio ou de emergência podem ser tomadas as seguintes medidas
restritivas da liberdade das pessoas:
a) obrigação de permanência em local determinado;
b) detenção;
c) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
d) restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à
prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão.
e) busca e apreensão em domicílio;
f) suspensão de liberdade de reunião e manifestação;
g) requisição de bens e serviços.
Artigo 296
(Detenções)
As detenções que se efectuam ao abrigo do estado de sítio ou de emergência observam os
seguintes princípios:
a) deve ser notificado imediatamente um parente ou pessoa de confiança do detido por este
indicado, a quem se dá conhecimento do enquadramento legal, no prazo de cinco dias;
b) o nome do detido e o enquadramento legal da detenção são tornados públicos, no prazo de
cinco dias;
c) o detido é apresentado a juízo, no prazo máximo de dez dias.
Artigo 297
(Funcionamento dos órgãos de soberania)
A declaração do estado de sítio ou de emergência não pode afectar a aplicação da Constituição
quanto à competência, ao funcionamento dos órgãos de soberania e quanto aos direitos e
imunidades dos respectivos titulares ou membros.
Artigo 298
(Termo)
1. No termo do estado de sítio ou de emergência, o Presidente da República faz uma
comunicação à Assembleia da República com uma informação detalhada sobre as medidas
tomadas ao seu abrigo e a relação nominal dos cidadãos atingidos.
2. A cessação do estado de sítio ou de emergência faz cessar os seus efeitos, sem prejuízo da
responsabilidade por actos ilícitos cometidos pelos seus executores ou agentes.
V - A Inconstitucionalidade Parcial
Nem sempre a contradição entre o acto normativo e o parâmetro constitucional é uma
contradição total. Poderá acontecer que só uma norma ou algumas normas constantes dos actos
normativos estejam em desconformidade com as normas superiores da Constituição.
Nestes casos, a semelhança do que acontece com a nulidade parcial dos negócios jurídicos em
Direito privado e com a nulidade parcial dos administrativos, a inconstitucionalidade de uma
norma não conduz automaticamente à declaração da nulidade das restantes normas
(incomunicação da nulidade). Fala-se aqui de nulidade parcial dos actos normativos. Haverá
casos, porém, em que a nulidade parcial implicará a nulidade total. A nulidade parcial implicará a
nulidade total quando, em consequência da declaração de inconstitucionalidade de
uma norma, se reconheça que as normas restantes, conformes a Constituição, deixam de ter
qualquer significado autónomo (critério da dependência). Além disso, haverá uma nulidade total
quando opreceito inconstitucional fazia parte de uma regulamentação global à
qual emprestava sentido e justificação. Não são de afastar as hipóteses de inconstitucionalidade
limitada a um determinado lapso de tempo.
VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade:
actos normativos
O artigo 241 da Constituição define o Conselho Constitucional como órgão de soberania, ao qual
compete especialmente administrar a justiça em matérias de natureza jurídico constitucional.
Pareceria, em princípio, caber ao Conselho Constitucional o conhecimento de todas matérias
ligadas a violação da Constituição.
Contudo, o artigo 241 limita-se a definir a natureza deste órgão de soberania, e, em termos
genéricos, a sua área de competência em razão da matéria, não sendo legítimo, ainda que a sua
letra pudesse, erradamente, induzir a tal, dele derivar directamente atribuições ou competências
específicas.
Com efeito, é no artigo, 244 que se definem especificamente as competências do Conselho
Constitucional, estabelecendo na alínea
a) do seu n. º 1, a de apreciar e declarar a inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos
actos normativos dos órgãos do Estado.
Órgão jurisdicional especial é um tribunal criado com o propósito de conhecer das decisões
relativas à constitucionalidade das leis (tribunal constitucional na Áustria, na República Italiana e
na Alemanha);
Órgão jurisdicional comum é qualquer tribunal ordinário da ordem judicial (sistema norte
americano e português)
O Conselho Constitucional
I - Natureza
O órgão fiscalizador da constitucionalidade e da legalidade em Moçambique é o Conselho
Constitucional (CC). Constitucionalmente consagrado no título XI artigos 241 e seguintes da
Constituição da República (CRM) de 2004 e nas leis n.º 6/2006, de 02 de Agosto (lei orgânica do
Conselho Constitucional) e n.º 5/2008 de 09 de Julho (lei que faz uma alteração pontual da lei
6/2006, de 02 de Agosto).
Apesar da designação analisadas as competências (art. 241/1 e 244 CRM e o estatuto dos juízes
conselheiros (art. 242/2 CRM), O Conselho Constitucional é um órgão jurisdicional especial. É
um tribunal
constitucional.
Iniciou o seu funcionamento efectivo em finais de 2003, após a aprovação da sua Lei Orgânica, a
lei n.º 9/2003 de 22 de Outubro, facto que ocorreu treze anos depois da sua consagração
constitucional como órgão de soberania.
Actualmente, com o alargamento pelo n.º 02 do artigo 245 da Constituição de 2004 do elenco
das entidades com legitimidade para solicitar a declaração de inconstitucionalidade das leis ou de
ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado quando em confronto com o artigo 183 da
Constituição de 1990, e da criação de um órgão especializado para administrar a justiça em
matérias de natureza jurídico –constitucional, e o processo de desenvolvimento e
aprofundamento da cultura democrática em Moçambique há um incremento de pedidos de
fiscalização de apreciação e declaração de inconstitucionalidade e de legalidade.
II - Composição
Nos termos do artigo 242 da Constituição da República, o Conselho Constitucional é composto
por sete Juízes Conselheiros, designados nos seguintes termos:
a) Um Juíz Conselheiro nomeado pelo PR que é o Presidente do Conselho Constitucional ;
b) Cinco juízes designados pela AR segundo o critério de representação proporcional;
c) Um Juíz Conselheiro designado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial.
Os juízes do Conselho Constitucional são designados por um mandato de cinco anos, renovável
e gozam de garantia de independência, inamovibilidade, imparcialidade e irresponsabilidade.
Estão impedidos de desempenhar quaisquer outras funções públicas ou privadas, excepto a
actividade de docente ou de investigação jurídica ou outra de divulgação e publicação científica,
literária, artística e técnica, mediante autorização do respectivo órgão. Igualmente durante o
período de desempenho do cargo, fica suspenso o estatuto decorrente da filiação em partidos ou
associações políticas.
O Conselho Constitucional é composto por sete Juízes Conselheiros, designados nos seguintes
termos: (1) Um Juíz Conselheiro nomeado pelo PR que é o Presidente do Conselho
Constitucional ;
(2) Cinco juízes designados pela AR segundo o critério de representação proporcional; e (d) Um
Juíz Conselheiro designado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial.
REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO
Artigo 299
(Iniciativa)
1. As propostas de alteração da Constituição são da iniciativa do Presidente
da República ou de um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia da
República.
2. As propostas de alteração devem ser depositadas na Assembleia da
República até noventa dias antes do início do debate.
Artigo 300
(Limites materiais)
1. As leis de revisão constitucional têm de respeitar:
a) a independência, a soberania e a unidade do Estado;
b) a forma republicana de Governo;
c) a separação entre as confissões religiosas e o Estado;
d) os direitos, liberdades e garantias fundamentais;
e) o sufrágio universal, directo, secreto, pessoal, igual e periódico na
designação dos titulares electivos dos órgãos de soberania, das províncias e
do poder local;
f) o pluralismo de expressão e de organização política, incluindo partidos
políticos e o direito de oposição democrática;
g) a separação e interdependência dos órgãos de soberania;
h) a fiscalização da constitucionalidade;
i) a independência dos juízes;
j) a autonomia das autarquias locais;
k) os direitos dos trabalhadores e das associações sindicais;
l) as normas que regem a nacionalidade, não podendo ser alteradas para
restringir ou retirar direitos de cidadania.
2. As alterações das matérias constantes do número anterior são
obrigatoriamente sujeitas a referendo.
Artigo 301
(Tempo)
A Constituição só pode ser revista cinco anos depois da entrada em vigor da
última lei de revisão, salvo deliberação de assunção de poderes
extraordinários de revisão, aprovada por maioria de três quartos dos
deputados da Assembleia da República.
Artigo 302
(Limites circunstanciais)
Na vigência do estado de sítio ou do estado de emergência não pode ser
aprovada qualquer alteração da Constituição.
Artigo 303
(Votação e forma)
1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços
dos deputados da Assembleia da República.
2. As alterações da Constituição que forem aprovadas são reunidas numa
única lei de revisão.
3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de
revisão.
Artigo 304
(Alterações constitucionais)
1. As alterações da Constituição são inseridas no lugar próprio, mediante as
substituições, as supressões e os aditamentos necessários.
2. A Constituição, no seu novo texto, é publicada conjuntamente com a lei
de revisão.
Conclusao
chegado ao fim do presente trabalaho de opesquisa, dou a concluir que, Embora não sejam
tradicionalmente incluídos nos mecanismos de defesa da Constituição, têm também carácter
garantístico a ordenação constitucional de funções e o esquema de controlos enterorgânicos e
intra-orgânicos dos órgãos de soberania. O princípio da separação e interdependência dos órgãos
de soberania tem, assim, uma função de garantia da Constituição, pois os esquemas de
responsabilidade e controlo entre os vários órgãos transformam-se em relevantes factores de
observância da Constituição.
portanto A fiscalização da constitucionalidade, significa essencialmente uma coisa que a
Constituição é a lei básica do país e que toda a ordem jurídica deve ser conforme à ela. Ela é
corolário da consideração da Constituição como realidade normativa, isto é, como lei
fundamental da ordem jurídica.
A fiscalização da constitucionalidade traduz-se, assim, na garantia do respeito pela hierarquia
superior da Constituição. Ora, se a Constituição é a norma suprema do país, logo, todas as
demais normas a devem respeitar.
introducao
o presente trabalho do MÓDULO DE CIÊNCIA POLÍTICA, visa abordar de forma clara,
objectiva e detalhada, sobre"A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO
UNIVERSAL: EM PARTICULAR O PENSAMENTO POLÍTICO AFRICANO. Trazendo
assim aquilo que foi a contribuicao de grandes teóricos clássicos da Ciência Política como ee
o caso dos autores: Maquiavel; Hobbes; Locke; Rousseau; bem como o pensamento politico de
Severino Nguenha e o Pan-Africanismo e as suas influências para a evolução dessa ciência. tema
este de bastante importancia pois. conhecer o progresso dos pensadores clássicos da política se
impõe como uma forma de abranger as bases nas quais se consolidou o pensamento moderno,
tocando em temas e questões que vigoram até os dias actuais.
objectivos
Objectivos Gerais
comopreender sobre A HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO UNIVERSAL
objectivos Especificos
Descreve as ideias dos principais teóricos clássicos da Ciência Política;
compreender sobre O PENSAMENTO POLÍTICO AFRICANO.
verificar a influênciasdesses pensadores para a evolução dessa ciência
• Metodologia
Segundo Bonavides (2010: 38) apud Rafael (ISCED, p.13) afirma que: a Ciência Política possui
algumas dificuldades terminológicas que precisam ser visualizadas para construirmos mais
certezas em torno da sua constituição e aplicação. Destas dificuldades destacam-se:
• O carácter móvel e variável do vocabulário político;
• As variações semânticas dos termos de que se serve o cientista social de um país para
outro;
• Os casos distintos, por exemplo, os vários sentidos de democracia, que gera um caos aos
esforços de fixação conceitual.
Parece que lhe falta uma nomenclatura que permita às pessoas de um modo geral inteirar-se,
mesmo com dificuldades, em relação a certas definições conceituais inerentes, como quando se
fala de governo, nação, liberdade, democracia, que não se fixam numa única terminologia. Facto
que agrava uma compreensão mais usual para que as questões não recaiam apenas no meio
académico.
Principal Obra: O Príncipe, destacado na literatura política porque inova quanto ao olhar
acerca da realidade política. Esboça diversas situações que nos levam a entender como “os fins
justificam os meios”.
Destaca queo objectivo do governo é perpetuar-se no poder, não restringindo os meios
necessários para tal feito. O livro traz conselhos, reflexões e ponderações acerca de situações e
acções que envolvem as teias do poder.
Segundo estudiosos do pensamento de Maquiavel, o interesse maior da sua obra é a reunificação
da Itália. Por isso analisa os principados com aprofundamento e tenacidade, identificando suas
características, destacando aqueles que são mais ou menos passíveis de dominação.
Propõe formas de controlo e enfatiza as possibilidades de fortalecimento das leis. Embora a obra
não tenha gozado de grande reconhecimento durante o período de vida do autor, torna-se
posteriormente fonte de elogios ou controvérsias. No decorrer da história os nomes que
estiveram ligados a regimes absolutistas e totalitários sempre foram associados às ideias e
previsões já lançadas nas suas páginas.
Principais Conceitos: O príncipe deve ser o sujeito principal no encaminhamento da acção
política, porque é aquele que possui avirtude. E, por isso, conhece as situações, podendo
transferi-las ao seu benefício, ao favor dos seus interesses. Ele não espera que a sorte, a fortuna,
lhe agracie. Não se prende ao acaso, mas se este ocorre deve saber usar seu intento. Ser virtuoso
significa direccionar a vontade para um objectivo definido e não se dispersar em possibilidades
vagas.
Todavia a virtude é mais do que simples interesse, é uma espécie de energia que impulsiona
e motiva, o líder e os seus subordinados.
A fortuna, que é sinónimo de sorte e acaso, termina sendo o verdadeiro momento em que a
virtude se revela, pela sua aplicação, a direcção, ou melhor, o andamento para a obtenção dos
objectivos. O governante, ainda que não se confie na sorte, usa-a em favor da suacausa.
Maquiavel afirma que, dentre as qualidades inerentes a um governante, uma delas deve ser a
generosidade. Mas com certa ponderação, porque sempre se calcula o prejuízo ou o benefício
que certa reputação pode causar. Entre o amor e o medo dos súbditos.
Hobbes: O Leviatã
Thomas Hobbes (1588 - 1679), nasceu em Westport, Inglaterra. Filho de um vigário anglicano,
formou-se na Universidade de Oxford. Embora tenha tido uma educação presa aos princípios
Escolar: metafísica e lógica, interessou-se sempre por questões de ordem social, o que
reflectiu na publicação de suas obras políticas. Esteve sob o olhar severo das autoridades que o
acompanhavam ao longe por suspeitas dos seus ataques sobre o poder do papado. Manteve
politicamente convicções de cunho monarquistas e as imprimiu na elaboração das suas
obras. É um dos pensadores do século XVII ligado ao jus-naturalismo, dedicando-se, entre
outros conhecimentos, ao estudo do direito e à inserção deste na vida social do cidadão.
Enfrentou as críticas da Universidade de Oxford ao seu pensamento, que consideravam
ultrapassado.
Contexto Histórico: No século XVII consolidam-se algumas percepções e posturas em relação à
ciência e sua permanência na vida das pessoas de um modo geral. Mas ainda repercutem fortes
exigências religiosas, resistindo considerações em torno da submissão do Estado à autoridade da
Igreja. Hobbes pensa o contrário e não mede esforços para demonstrar a verdade na qual
amparava seu pensamento. Para ele o Estado não é criação da vontade de Deus, é um
artifício e deve ser tratado como tal.
Teoria Geral: Sua teoria procura centrar-se numa visão realista da vida, insistindo em pensar o
ser humano sem as ilusões habituais que lhe agregam. Buscando compreender a realidade social
e política através da natureza humana e das possibilidades de construção de um direito que possa
dar conta das verdadeiras necessidades sociais. Daí o carácter do seu racionalismo, que
pretende perceber a sociedade através do mecanicismo, ou seja, através das leis mecânicas da
natureza, que também são reveladoras das particularidades da natureza do ser humano. Sendo
adepto do Empirismo, Hobbes elabora uma filosofia materialista e mecanicista. Detém-se por
diversas vezes em considerações acerca da fisiologia e da acção de certos órgãos para explicar a
origem do conhecimento, dos sentimentos.
Partindo do pressuposto de que os seres humanos não possuem um instinto de sociabilidade, de
que não somos sociáveis por natureza, senão por acidente, por artifício, é que se reivindica a
necessidade de um contrato entre todos os indivíduos, em função do surgimento do Estado. O seu
realismo lhe rende a fama de ateu e diversas interpretações distorcidas dos seus verdadeiros
interesses.
Principal Obra: Sua obra principal é o Leviatã, na qual lança as bases de compreensão da
formação da sociedade civil, estabelecendo a melhor forma com a qual o Estado pode se manter
absoluto e firme diante das adversidades. Hobbes é o teórico que através de suas considerações
engendra a teoria segundo a qual o Estado originou-se do contrato, influenciando posteriormente
diversos autores. A metáfora do corpo serve-lhe de auxílio para identificar funções e
características inerentes aos órgãos, às instituições que compõem a estrutura do Estado. A
soberania é a alma, os magistrados são os nervos, os indivíduos prósperos são a força, os
conselheiros são a memória, as leis e a concórdia são a saúde, a sedição é a doença e a guerra
civil, a morte.
Principais Conceitos: A constatação mais definitiva que este autor possui é a de que em Estado
de Natureza todos os seres humanos são inimigos, pois as pessoas conviveriam sem a
autoridade, onde tudo seria de todos e por isso não existiria a propriedade. De um modo geral
as pessoas estariam procurando a sujeição do outro e em última instância, sua morte. Essa
condição tem como consequência a infelicidade generalizada. Assim, “o homem é o lobo do
próprio homem”. Frase célebre que nos impulsiona para sua teoria imediatamente. A guerra de
todos contra todos. Os seres humanos em estado natural são iguais, o que pareceria positivo,
repercute de outro modo a partir dessa compreensão de natureza humana. Somos iguais na nossa
capacidade de ultrapassar o outro, nas predisposições egoístas que mantemos em função da nossa
própria preservação.
A igualdade é que faz a nossa infelicidade porque repercute como igualdade para a guerra.
A força é saudada como necessária à auto conservação de cada um dentro das suas necessidades.
Mas nesta esfera não vale apenas ter maior força física, pois a astúcia tem grande
valia para as situações de risco. No caso da política, as alianças e os conchavos fazem com que
um indivíduo fraco fisicamente possa tornar-se muito forte. Por isso o direito também implica na
força para exercício do ordenamento.
Diante destas constatações cabe a renúncia mútua da sua condição natural e o encaminhamento
para o contrato que se inicia com a promessa do cumprimento por parte de todos. Há um
desdobramento em que a análise do Estado de Natureza nos conduz à compreensão da Natureza
do Estado. Para Hobbes, o pacto de renúncia às liberdades individuais é o anúncio da acção
que irá compor o contrato social. O pacto é a alienação de poderes, pelo qual o indivíduo
delega ao Estado suas predisposições, cada qual deixando de ser um obstáculo para o outro para
que todos possam manter intacta a sua auto preservação.
O que obriga as pessoas a compactuarem e a legitimar a autoridade política do contrato social é,
senão, o medo. A segurança e a paz só são estabelecidas diante da renúncia do direito que todos
possuem sobre todas as coisas.
Tal renúncia é em favor da constituição de um Estado e da liderança soberana de um governo.
Hobbes pensa a soberania como um elemento primordial para a construção do Estado. Neste
sentido, condena a divisão dos poderes, pois apenas um poder soberano seria necessário para
evitar a guerra, o conflito e até as dissonâncias.
O Estado é o Leviatã, um monstro bíblico que pela importância e força, submeteria todos ao
seu controle. Ele é um artifício e nesta artificialidade se concentra o grau da sua monstruosidade.
É a concretização de algo que excede a vontade e o poder dos homens de um modo geral e, por
isso, encaminha todos para a paz, obrigando-os a tal condição. O Estado surge para afastar o
medo e assegurar a auto preservação, estando acima dos interesses de cada cidadão e por isso
podendo garantir a paz.
Locke: A Propriedade
Aspectos Biográficos: John Locke (1632-1704) é outro pensador do século XVII. Aliás um
século bem expressivo em número de pensadores e teorias, que lança as bases para o empirismo
inglês e procura compreender o problema do surgimento do Estado. Nasceu na cidade de
Wrington, Inglaterra em uma família de comerciantes.
Dedicou-se não apenas à filosofia, mas às ciências naturais, à teologia, à medicina e à
anatomia. Embora não tenha expressado interesse pelas matemáticas e pela ciência de Galileu,
foi premiado com o título de Master of Arts. Membro da Royal Society de Londres, tornou-se
médico de um nobre chamado Ashley Cooper, conde de Shaffesbury, com quem dividiu muitas
das suas ideias políticas.
Tais transformações são acompanhadas de revoluções, como a revolução puritana, pela qual as
atitudes do monarca são postas em cheque pelo parlamento, anunciando uma mudança definitiva
na esfera política da Inglaterra. Outro grande facto presente neste período diz respeito à
revolução gloriosa em 1688, que procurou a derrubada do governo absolutista que havia sido
implantado, colocando em ascensão a política parlamentar. Foi a tomada de poder por
Guilherme de Orange, que fez com que o parlamento promulgasse a Carta de Direitos,
tornando este o órgão máximo da administração do Estado. A burguesia em ascensão liderava as
campanhas pela mudança do regime, assumindo o partidarismo liberal. O liberalismo
predominante implantava, assim, uma defesa explícita da liberdade individual em diversos
sectores da vida humana. É o advento da livre iniciativa que se estenderá até os
nossos dias desdobrando-se através da lógica do capital.
Teoria Geral: Locke é um pesquisador atento, interessando-se pela condição humana, por
desbravar os mistérios da natureza e do mundo, e desvendar o tipo de compreensão que se
estende a Deus. Seus pensamentos vão ter permanência nos ideais iluministas do século
posterior. Desenvolve uma teoria para melhorar o uso do intelecto, o entendimento do
mundo e sua interpretação. Afirma que todo conhecimento deriva da prática e que a
experiência constitui fonte e limite para o intelecto. Assim, aquilo que o espírito alcança é
objecto imediato da percepção e nesta se pauta o pensamento. Diz os pensadores, que antes da
experiência somos como uma folha em branco, uma tábua rasa, pois ela imprime nossas
percepções da realidade.
Há experiências que são internas e externas. As primeiras dizem respeito à reflexão e às
articulações do entendimento. As segundas dirigem-se à identificação de elementos: cores, sons,
sabores, o movimento, etc. A partir dessas experiências formulamos ideias e percepções distintas
da realidade, as representações são obtidas via percepção, mas vinculadas em última instância à
experiência. No fundo, nossas ideias originam-se daquilo que nos oferece os sentidos.
As ideias advindas da experiência podem ser simples, complexas e algumas que são
combinações destas duas. O que se diferencia é a postura do engenho. Ele é passivo diante das
ideias simples, ou activo com as complexas, produzindo sínteses, inspirando relações,
desenvolvendo análises.
Locke não admite que a origem das ideias seja algo inato ao ser humano, ou seja, que as ideias
permaneçam nos indivíduos desde o seu nascimento. Para ele tudo advém da experiência. Assim,
não nascemos com certas orientações, elas se constituem no contacto com
o mundo. A capacidade inata é fonte de preconceito conduzindo ao dogma individual.
Argumenta que é impossível existir algo inato sem que o indivíduo seja consciente disso. O
conhecimento diz respeito a uma aplicabilidade prática que nos remete à experiência. Mesmo as
ideias mais abstractas possuem uma validade no sentido de orientar as pessoas a se conduzirem
na sua vida. Percebe a filosofia com um fim prático, num sentido moral oferecendo as regras
racionais para a vida e a condução das acções. O autor destaca que nem mesmo a moral tem uma
origem permanente nas pessoas. Ela advém do conhecimento, da lida racional que os indivíduos
mantêm entre eles mesmos.
Locke aborda a questão do surgimento do Estado por uma via bem específica, que é o direito
natural. Para este autor o Estado nasce de um acordo no seio da sociedade civil. É uma tomada
de decisão que advém da experiência, do contacto e da consciência constituída pelos seres
humanos no decorrer do tempo. Através do seu empirismo a teoria do conhecimento e teoria
política desfrutam do mesmo princípio. Suas ideias expressam a teoria do constitucionalismo
liberal inglês.
Principal Obra: Destacam-se entre seus escritos os dois Tratados sobre o Governo, nos quais
critica a relação entre política e religião. Para este autor a política é verdadeiramente uma
invenção humana e não possui relação com elementos divinos. Há neste sentido uma crítica à
tradição dos reis e à condição na qual se preservava a política medieval. Ao situar a religião no
seu devido lugar estabelece, em sua perspectiva racionalista, a tolerância como o limite entre as
particularidades inerentes à dimensão da fé e o tipo de intervenção que estas devem exercer
sobre os indivíduos na sua vida social. Ao mesmo tempo distingue e delimita o que lhes cabe e o
que cabe ao Estado, dissociando-os profundamente.
Os ideais de Locke incidem na fundamentação da teoria do Estado liberal e na necessidade
da propriedade privada. Tais ideais fazem rejeitar qualquer forma de monarquia ou qualquer
estabelecimento de um poder absoluto. Toda sua teoria política visa a conciliação da liberdade
com a manutenção da ordem, fazendo com que o indivíduo se situe verdadeiramente enquanto
cidadão. E tal obra só é possível através do direito, das leis bem regidas e fundamentadas no
direito natural. Desse modo busca configurar as leis e os Estados em função de garantir o
respeito aos direitos naturais, pensando assim estar garantindo a própria vida e a possibilidade
da própria vida social, tornando-se este facto um único motivo de ser de um governo. Caso não
se assuma tal meta, o povo pode derrubar o governo para substituí-lo por outro mais competente.
Este carácter dos seus escritos sempre foi motivo e inspiração para os líderes revolucionários no
decorrer da história.
Principais Conceitos: O Estado natural é caracterizado antes de tudo pela abundância revelada
na natureza. A terra, os frutos e tudo o mais supre e garante a sobrevivência de todos os seres
humanos. A nossa relação directa com estes bens não apenas garante a auto preservação, mas
também a liberdade, a igualdade e a independência, tão necessárias à vida, sendo a propriedade
muito mais que a simples posse de algo. Mas bens tanto materiais como imateriais: a vida, a
saúde, a riqueza, a felicidade são alguns dos exemplos da propriedade.
A relação do indivíduo para com esta é mediada pelo trabalho. A dedicação ao trabalho repercute
na propriedade. E o direito ao fruto do trabalho é algo que nos deve ser assegurado. Tal condição
está até hoje como princípio básico do capitalismo liberal. Em estado de natureza somos bons e
vivemos em paz, diz Locke, porque estamos em posse da nossa propriedade.
A natureza é sempre exemplar, demonstra leis que possuem virtude e sentido. Apresenta uma
lógica calcada em causas e consequências e que podem ser apreendidas através da experiência do
indivíduo.
Desse modo, ela apresenta o sentido privilegiado para ilustrar o que deve ser a sociedade.
Ou melhor, Locke percebe que as leis da natureza apresentam o modelo para elaboração e
estabelecimento de preceitos para a vida social. O autor constata que as leis da razão condizem
com as leis da natureza. Observando a própria racionalidade percebemos que na natureza já se
encontra a experiência da qual necessitamos para a construção da vida social.
Contudo, neste estado natural não possuímos a garantia de que todos os indivíduos vão se pautar
por tais princípios. Se tivéssemos a garantia de que todos apenas se moveriam guiados pela
recta razão, nossos direitos não sofreriam qualquer risco. Mas, a partir do
momento que alguém se desvia deste sentido, de imediato temos o conflito. Embora seja
extremamente optimista com o estado de natureza, Locke, identifica um aspecto que reivindica a
presença da acção política. No estado natural não existe a certeza do compromisso, ou ao
menos o estabelecimento de regularidades das acções. Não há a punição como consequência
da infracção. Daí, a necessidade de institucionalização da defesa em prol do direito mútuo.
Rousseau: A Igualdade
Aspectos Biográficos: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em genebra, na Suíça. Desde
então a inconstância passou a prevalecer por toda sua juventude e boa parte da vida adulta.
Mantém em suas obras uma forte crítica à propriedade privada, considerando esta a fonte das
misérias na qual se prende a sociedade. Propõe uma vida simples em detrimento da
complexidade da vida social. Foge das rodas sociais e da hipocrisia característica dos recintos de
festa da sua época.
Contexto Histórico: Encontra-se num período da história marcado pelo optimismo intelectual, o
iluminismo, que proferia a razão como fonte de todos os benefícios da humanidade. O Século
XVIII é um período de entusiasmo, de grandes intelectuais, de uma vida pautada na elegância da
corte, consequentemente de vaidade e interesse pela posição social. A França é um dos
principais centros no qual tais ideais ajustam-se a uma condição revolucionária que pretendia
desfazer-se do antigo regime para implantar uma nova ordem. Tais inovações configuram a visão
de mundo da sociedade burguesa com seus lemas de Liberdade, igualdade e fraternidade.
Teoria Geral: Em alguns momentos a obra de Rousseau pode ser identificada como um diálogo
com os pensadores contratualistas do século XVII, em especial Hobbes. A constatação de
Rousseau é que o homem nasce bom e é corrompido pelos enlaces sociais. Através do contrato
social procura um Estado social legítimo que favoreça as potencialidades humanas. Porque deve
existir um ajuste bem delineado ao transformar os direitos naturais em direitos civis.
Principal Obra: A obra fundamental que traduz o seu pensamento é o Discurso sobre a Origem
e o Fundamento da Desigualdade entre os homens. Nela se apresenta a definição da natureza
humana, uma compreensão acerca dos desejos e das diversas nuances da imaginação, agindo
sobre nossa condição. Rousseau é um iluminista que se mantém na contracorrente e anuncia a
prepotência da razão, sobrecarregando nossas verdadeiras funções. Ele privilegia a importância e
o carácter fundamental que o homem simples conserva. Pois a felicidade se apresenta quando a
natureza interior corresponde ao exterior.
Através da preponderância da razão sobre os sentimentos o ser humano é colocado
inevitavelmente em situação de desconforto. Mas é ela que adapta o indivíduo na condição
humana vigente e no meio social e jurídico. Como o ser humano, ainda que não seja inclinável à
sociedade, desenvolveu seus germens submetendo-se às suas exigência e formalizações, esse
processo se constitui com as perdas das condições fundamentais, com a perda da igualdade. E a
adequação ao artifício, à complexidade, à vida degenerada. Rousseau foi leitor dos antigos
gregos e quando apura a ideia de contrato social imprime nas suas observações certas conquistas
que foram operadas por esta cultura e que degeneraram-se no decorrer da história, como é o caso
da democracia. Ele propõe uma democracia directa e não uma democracia representativa como a
que vivenciamos hoje em dia.
Principais Conceitos: Para Rousseau o estado de natureza constituíase por uma condição de
liberdade que motivava o indivíduo a uma existência natural e equilibrada. A natureza é uma de
suas paixões, tanto no que diz respeito ao interesse pela vida simples deste selvagem, regida pelo
contacto directo com as coisas e com o mundo, quanto pelo contacto mesmo com a vida rural e
os benefícios que esta oferece às pessoas em seus diversos momentos da vida. Associa esta
condição às experiências infantis, ingénuas e felizes. Experiências que possuem outra lógica,
outro modo de conhecer diferente daquele que é colocado como padrão e métrica. Há uma
bondade inerente à vida natural que é destruída com a sociedade. Ao homem natural falta a
abstracção, mas a ausência desta não constitui algo negativo, pelo contrário, lhe permite lidar
com as coisas na sua espontaneidade.
A humanidade se resume àqueles que lhe rodeiam. Convive bem com a solidão, sem lamentar
seu estado. Está inteiro e completo nas suas predisposições. O instinto o adapta à natureza. Em
alguns momentos o autor chega a afirmar que neste estado nos basta a alimentação, um par, e o
descanso, para a verdadeira vida. Como consequência dessa condição de plenitude, temos a
bondade, característica peculiar que o define. O “bom selvagem” é aquele que, por possuir a
bondade como inerente à sua condição, não sente qualquer disposição ou interesse em atacar o
outro. Há uma compaixão natural que o acompanha.
A análise de Rousseau recai sobre o estabelecimento da vida social que degenerou toda essa
ordem primeva. Para este autor a sociedade surge com o estabelecimento da propriedade privada.
É a propriedade a origem das desigualdades e da decomposição moral inerente aos dias
actuais. Os indivíduos tornam-se traiçoeiros, sórdidos, desonestos e transgressores em vista
deste modelo de sociedade. Tal desigualdade, pergunta o pensador, é autorizada pela lei natural?
A constatação a que chega revela que o homem nasce livre, e pelas
condições que se constituem no âmbito social passa a ser aprisionado.
O ponto nodal de sua crítica à sociedade é revelado pela sua repugnância à hipocrisia, muito
característica do seu tempo, presente nos salões e lugares de sociabilidade. O modo como as
pessoas se revestem de artifícios para estar neste ou naquele lugar, o que também revela uma
deficiência que se inicia desde o processo inicial de educação. O contrato social é saudado
como a forma com a qual se pode contrapor essa lógica instituída pela sociedade civil. A partir
dele a convenção do pacto é a saída possível para barrar o mal.
A ideia de contrato social implica num consenso que deve ser articulado entre os diversos
sectores, estendendo soberania ao governante e às directrizes do novo Estado.
Prevalece, a partir do contrato social, um Estado social legítimo que se aproxima cada vez mais
da vontade geral e também se afasta, consequentemente, da corrupção em vista desta condição.
O governante é visto como um funcionário a serviço do povo, um empregado que executa e
desempenha sua função sob os olhos daqueles que o empregam. Ele reconhece que a soberania
do povo é indivisível. O governo constituído é caracterizado como um corpo intermediário que
possui como função a vinculação entre súbditos e soberano. Deve dar conta da execução das leis,
fiscalizar a conservação da liberdade e implementar a igualdade entre os grupos da sociedade.
Tal governo deve resguardar a soberania que lhe foi entregue pela vontade do povo. Este é
o corpo político dos cidadãos e deve ser o núcleo central para o qual se voltam todas as atenções.
Soberano é o povo, sua vontade possui um carácter primordial para o ordenamento do Estado.
Dessa forma, devem-se escolher representantes e a melhor forma de governo. De início a tarefa
primordial à qual o governante precisa, se dedicar diz respeito à transição em que as pessoas
passam a adquirir a liberdade moral, reivindicada para que os indivíduos possam tornar-se
autónomos. Com o predomínio da vontade geral sobre as acções do Estado demarca-se o limite
entre o poder que é legítimo ao governante no exercício do seu cargo e aquele que emana do
povo. Assim, vontade geral sempre beneficia a sociedade. O povo elege, mas também pode
retirar do poder daquele que não corresponde a ela que, por exemplo, seja corrupto. Se a
vontade geral é o limite, também o povo é submisso às leis que expressam o geral e não os
condicionantes de grupos ou partidos. Rousseau reforça que, sendo o povo quem cria,
submete-se à vontade geral. A lei tornasse o fundamento essencial para a
associação civil. A liberdade concretiza-se como uma aquisição para a
vida feliz e verdadeiramente ajustada sem os grilhões que antes
açoitavam as pessoas.
Severino Elias Ngoenha teve o seu ponto de reflexão filosófica sobre a África a partir dos anos
90, altura em que o filósofo e teólogo camaronês Meinrad Hebga falava da necessidade de
ultrapassar a querela “filosofia-etnofilosofia”, que até então tinha dominado todo o debate em
torno da filosofia africana moderna e contemporânea. O primeiro a reagir a essa situação foi
Marcien Towa e, posteriormente, de forma decisiva, Paulin Hountondji, Eboussi Boulaga e
Odera Oruka. Mas sobretudo Hountondji que, no início dos anos 1970, apelou, aos intelectuais
africanos em geral e aos filósofos africanos de modo particular, ao sentido da responsabilidade
perante o continente nos seguintes termos: “Não podemos continuar a representar a comédia o
tempo inteiro. É chegado o tempo da responsabilidade teórica em África. (LOPES, 2018, p. 25).
A reflexão filosófica de Ngoenha nasce, contudo, num âmbito posterior a todo o debate que
existia em volta da existência ou não da filosofia africana. Ele se posiciona, por isso, acima das
questões do ubi (o lugar) e do unde (proveniência) da filosofia africana e se insere numa
perspectiva entre o quo (o objectivo) ou qua (o rumo, a orientação). A filosofia de Ngoenha
nasce, neste sentido, como uma “traversée” (Bidima), uma ponte na busca de respostas e de
alternativas para o futuro do nosso continente, uma vez traçadas as bases desta mesma reflexão
filosófica africana (Idem, 2018, p. 26).
Para Lopes (2018, p. 26), “a filosofia de Ngoenha nasce já como uma resposta concreta ou,
melhor ainda, como uma forma concreta de assumir a própria responsabilidade em relação ao
continente”. Foi esta exigência que constituiu sempre a sua preocupação filosófica fundamental,
“fazer da filosofia um horizonte prático concreto para questionar o futuro, dialogando com a
história universal em geral, com a história do continente africano e com a história dos PALOP de
modo particular”.
O trabalho filosófico proposto por Ngoenha, foi primeiro o de definir a filosofia africana, antes
de mais, como ética e como política. Estes constituem os dois horizontes práticos prioritários
que, a seu ver, bem explorados, são capazes de ajudar a trazer respostas concretas e saudáveis ao
drama da reconstrução da história e historicidade nos nossos países, hoje em dia, e de modo
particular em Moçambique.
Severino Ngoenha inicia o seu diálogo com a história da filosofia africana a partir da sua magna
obra Filosofia Africana: das Independências às Liberdades, obra que constitui o pano de fundo a
nossa reflexão no presente trabalho. Entretanto, é na obra Mukhatchanadas que ele apresenta, de
forma mais lúcida, global e madura, os seus temas prioritários, a sua posição m relação ao
pensamento africano em geral, e a filosofia africana em especial.
povo estava somente para alimentar e realizar a vontade dos outros, nós eramos apenas
instrumentos nas mãos dos que tinham o direito de programar e escolher o seu próprio futuro, o
nosso futuro definia-se em função do futuro deles” (NGOENHA, 1993, p.10).
Para Ngoenha, a filosofia africana começa naquilo que a Hountondji chamou, um trabalho de
etnologia com pretensão filosófica. É portanto legitimo que nos interroguemos sobre o estatuto
epistemológico e moral da etnologia. Para uma crítica exaustiva do uso etnológico da filosofia,
através de exame analítico da relação entre a história e a não-história. Para Europa “civilizada” o
chamado novo mundo é outro mundo: costumes selvagens, sem religião, espírito degradado. Os
povos sem escrita, sem arquivos e nem Estado. A história não diz respeito a todas as Nações, mas
simplesmente algumas: os que produzem, que trocam, em resumo, as nações que contam. “O
resto da humanidade é abandonado a não ser histórico. A etnologia desenvolveu-se como um
saber residual, definido negativamente em relação à história da Europa e da América do norte”
(Ngoenha, 1993, pp. 8).
Pan-africanismo
Conclusao
chegado ao fim do presente trabalho de pesquisa, dou a concluir que a construcao das ideias dos
principais teóricos clássicos da Ciência Política teve o seu inicio com o pensamento renascentista
de Maquiavel, que procurou configurar um realismo político, pelo qual justiça e moral não
constituem factores de restrição à acção política.
Hobbes centra-se numa visão realista da vida, insistindo em pensar o ser humano sem as ilusões
habituais que lhe agregam. Assume o surgimento do Estado pela necessidade que os seres
humanos possuem de sair do estado de natureza no qual a guerra é generalizada entre todos. A
construção do Estado é um recurso racional que liberta o homem de si mesmo. Locke é um
pesquisador atento interessando-se pela condição humana, por desbravar os mistérios da
natureza e do mundo. Ao dedicar-se em questões políticas assume a teoria contratualista como
aquela que pode explicar o surgimento da sociedade civil e atenta principalmente para a
importância das leis na efectivação do Estado.
Para Rousseau o contrato social procura um Estado social legítimo que favoreça as
potencialidades humanas. O diagnóstico deste pensador é que os homens teriam chegado a um
ponto em que os obstáculos à sua conservação excedem as forças que cada indivíduo dispõe
para manter-se em estado de preservação.
Referencias Bibliograficas
CHINGORE, Tiago Tendai (2020) “O Contributo de Severino Elias Ngoenha ao
Desenvolvimento da Filosofia Africana ”. In: O Curandeiro: Revista
Moçambicana de Filosofia
LOPES, Filomeno .(2018). Filodramática: Os PALOP, entre a filosofia e a crise de consciência
histórica.
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. (2003). Fundamentos de
Metodologia Científica. 5a Edição, editora ATLAS. São Paulo.